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pe rtaxey Refer tere Um guia completo de Ce CIM REL SD Cty oe] Ope c8 Cs) ee Crt] My re a FNS AAI) 5 Fi Tere a Beta ue ru Wi ee SH ae AJUDAVAM OS FARAOS A SER CAO BERS: aS MOLDOU 0 OCIDENTE Lo ee a aaa COM OS ESCRAVOS Newton preelinisn sms eens cae io ehdestek genet Fat Ca Pes, ‘oo i Ce ed Cans Om, Inert ftob Gus9. prc tame it, ee ear Seesmic oe Se tga apenas a Bigs recente int Se Sta Ove {aca Sampo rh Dar aun ee ss Seer Eien lnte Ors scnzetrsOesicame nae ec es REE eRe TARR ee oe reed Sm eco me tpi ton Be sr ata Sia pu Den be | rat orp a aan Coit eee eer are ee eee Base tebe ee ‘em ossowouraento Cowenon too fs i ies Maske eee ee oe eae (eee a | Tastes rf Ci Seine | Soe ln tr tase ot keto geroh NissoOgire na sl co Cie crater aera Fawr http: / /www.portaldetonando.com.br ee UMA VEZ UM HOMEM BRINCOU DE DEUS Assim que virar a pigina, prepare-se para mergulhar num. mundo de aventuras extraordinarias, seres colossais, deuses oderosos ¢ vingativos - ¢ algumas aberragdes. Na presente edigio especial de SUPERINTERESSANTE, vocé vai conhecer as historias primitivas e a cultura de 7 povos. Foi uma escolha ar- bitraria, Ebote arbitréria nisso. Qualquer agrupamento huma- ‘no que se mantém coeso por muito tempo cria sua mitologia. (Os ianomamis téma sua, assim como os aborigenes da Austré- lia, os esquimés eos chineses. E vocé nfo encontrar nenhuma delas nesta revista, Nem judeus e drabes, que deram origem a 3 religides monotefstas. No entanto, eles estdo aqui Nés temos habilidades que so comuns a todas as culturas, como. milsica, a caga, o desenho ou a escultura. E temos eren- «gas. Fo que nos torna humanos, Por que, desde o alvorecer da historia, procuramos divindades e herdis? Talvez porque uma caracteristica da humanidade seja buscar uma explicagao para © fato de estarmos aqui, de sermos o que somos. De encontrar nossa sintonia com 0 mundo natural, Nas palavras de um sé- bio, 0 americano Joseph Campbell: “Os mitos antigos foram, concebidos para harmonizar a mente ¢ corpo. Eram meios de colocar 0 rumo da vida em acordo com o rumo da natureza”. O que une celtas, egipcios, gregos, indianos, todos nés, en- fim, € que os deuses mitolégicos 86 podem existir por uma boa razdo: uma vez, em algum lugar, um homem os imaginou. Boa leitura. OS EDITORES LS 6 Oe FORCAS SOBRE-HUMANAS HISTORIAS CONTADAS EM TODOS. OS CANTOS DO PLANETA ples acc) DEUSES CRIADOS A IMAGEM. lesb ait SIU es) 20 &% INDIANOS UM PANTEAO COM MILHARES Date 9 Ps Roa ote yA UMA PEQUENA AJUDA DOS DEUSES NO CAMINHO DO OUTRO MUNDO. Soa a Coy _. _LENDAS DE UM POVO GUERREIRO QUE See Rollo ocn Ue n es) Se cee a ENROL TNH] D ~ OS DEUSES QUE SE ALIMENTAVAM De UY et Se AFRICANOS IVT Ke)sXelU ee NINDS LT WULO sates sta es) Lb) ape Lee ae easy eae hv) e LENDAS QUE COMECAM ANTES DE CRISTO. ESEGUEM PELA IDADE MEDIA Brome cte tn Rue CW Cao SEJA HUMANO, SEJA HERO! PSICOLOGIA : ARQUETIPOS: 0 NOSSO PROGRAMA BASICO Newton http: / /www.portaldetonando.com.br méeTerra ‘Anaturezafolo primeio objeto de eulto da humanidade 6 mrroLocia Newton FORCAS SOBRE-HUMANAS http: / /www.portaldetonando.com.br HISTORIAS CONTADAS EM TODOS OS CANTOS DO PLANETA PoR WAGNER GUTIERREZ BARREIRA Ao redor de uma fogueira, milhares de anos atrés, no tempo livre que separava o fim das tarefas do dia da hora de dormir, os homens primitivos comecaram a contar historias. Com elas, tentavam encontrar respostas para 0 que nao conseguiam compreender. Por que 0 Sol, a Lua eas estrelas surgem e somem no céul? Quem comandava os raios e as tempestades? O que acontece depois que morremos? Como isso tudo que me rodeia apareceu’ Por que estou aqui? A base da mitologia € o esforgo permanente e con- tinuo de entender 0 mundo e o proprio homem. Hist6rias maravilhosas passaram de geraglo a gera- Gio e, 4 medida que foram contadas e recontadas, fomaram-se mais complexas, ganharam novos personagens e variantes. Explicag0es para fenome- icos adquiriram uma dimensio sublime. io hd nenhum grupo cultural ou étnico na Terra que nao associe a origem do mundo, dos seres hu- manos, das plantas, dos animais e dos acidentes geogréficos a uma forca superior, sobre-humana. Deuses e her6is convivem com a humanidade desde aurora de nossa espécie. F essas histérias, que no tem antores, continuam a nos encantar. Os mitos afiavam 0 pensamento abstrato, esta- vam presentes e alimentavam o cotidiano. Por que fazer um ritual de sepultamento em vez de abando- nar um morto pelo caminho? Exemplos pré-hist6- ricos: em Altamira, na Espanha, homens primitivos (ou nem tanto) pintavam suas cagadas nas caver- nas. Na Africa, estatuetas representavam mulheres de nddegas e seios fartos. Para muitos arquedlogos antropélogos, as pinturas evocam o sagrado em busea de melhor sorte e protegio na préxima caca- da, Aestdtua éum simbolo da Mae Terra, uma deu sa da fertilidade e, para muitas culturas, a forga motriz que deu origem ao mundo. Povos de todo o planeta forjam seus herdis e deu- ses de acordo com o que tém a mo. Os nérdicos do norte da Europa achavam que o mundo comecara no embate, em um grande campo de gelo, do calor contra o frio. Para os gregos, os deuses viviam ‘numa montanha, assim como para os indianos. (Os habitantes do oeste da Africa imaginavam que a origem do mundo era um grande ovo eésmico (as- sim como 0s chineses). O homem pré-colombiano nasceu do milho. Em outras culturasele veio da ar- gila, da madeira, do barro ou do sopro divino, Em muitas delas, foi dificil chegar & humanidade, e os deuses criaram e destrufram virios prototipos. Ao mesmo tempo, os personagens mitolégicos lidam com sentimentos muito humanos, como a raiva, 0 ciime, a vergonha, a culpa - sejam deuses, sejam heerdis ou mortais. Nao por acaso, a psicologia e a psicandlise foram buscar em histérias ancestrais ‘exemplos para suas hipsteses. O suigo Carl Gustav miroLocia 7 PRE-HISTORIA Imagens de cacadas que evocam o sagrado: uma ligagao que vem de longe 1875-1961) defendia a existéncia do “inconsciente cole: ‘uma grande heranca de imagens e simbolos que cada um, de nds carrega, tal como um DNA (leia mais sobre Jung na pagina 62). O préprio Sigmund Freud (1856-1939), 0 pai da psicanalise, usou o mito de Eipo como motivo em seus textos. A propdsito, relagdes incestuosas sao abundantes na mitologia, € a destruicdo do pai pelo filho, um tema recorrente. MITOSVIVos Arrelago com os deuses em geral é bem complicada para os shumanos. Eles sio seres superiores que ajudam os homens, Ihe dio aluz do Sol, conhecimento e sabedoria. Mas também tem uma edlera divina, Imagens de dilivios e inundagdes aparecem em historias da Africa, do Oriente Médio, nas Américas, no sul eno leste da Asia e na Europa. Punigdes aos humanos sto fre quentes, e muitas delas projetam o fim dos tempos, das narra- tivas astecas as indianas, cada uma a sua maneira, © estudo da mitologia ganhou um impulso extraordinario, no século 20, quando antropélogos, e nao conquistadores, to ‘maram contato com sociedades nao contaminadas com hist6- rias alheias. Eo Brasil teve parte importante nisso. O antrop6: logo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009), que veio ao pais para tomar parte na fundacio da Universidade de Sao Paulo, 8 mirToLocia nna década de 1930, estudou os indios bo- roros no Mato Grosso e tomou nota de toda uma mitologia que seguia viva. Lé- vi-Strauss, um dos criadores do estrutu- ralismo, registrou mais de 800 mitos de povos da América do Sul e do Norte. E considerado um dos maiores intelectuais do século passado. Com certa licenca poética: um mito. Para ele, as narrativas ancestrais tentam dar resposta as con- tradigdes da experiencia humana. Outro gigante do estudo de mitos, 0 americano Joseph Campbell (1904-1987) acreditava que as narrativas nao existiam, para dar sentido a vida. “O mito o ajuda a colocar sua mente em contato com a experiéncia de estar vivo. Ele Ihe diz. 0 que a experiéneia & Casamento, por exemplo, O que é 0 casamento? O mito Ihe dirs o que é0 casamento. fa reuniio da diade separada. Originalmente voces ‘eram um, Vocés agora sao dois no mun- do”, explicou ao jornalista Bill Moyers em uma célebre série para a TV puiblica dos EUA que depois virou livro (0 Poder do Mito, Editora Palas Athena). Parece complicado? Ainda nas_palavras de Campbell: “Mitologias sto historias so- bre sabedoria de vida”. mrrosecoripiano Os mitos esto misturados & historia Epor vezes acabam influenciando o des- tino dos povos. Veja a guerra de Troia, por exemplo, Os deuses tomavam parti do de gregos e troianos, mesmo com a ordem explicita de Zeus para que nio se ‘metessem nos destinos humanos. Quan- do Virgilio escreveu a Eneida, 0 poeta romano deu um jeito de ligar o derrota- do principe Eneas a génese de seus patri- cios em seu épico. F do troiano Eneas que vem a descendéncia que culmina nos gémeos Romulo € Remo, que fun- dam Roma depois de passarem a infancia sendo amamentados por uma loba. ‘Um dos mitos astecas previa o aparecimento de grandes ho- mens brancos. Quando Hernan Cortés chegou a0 que hoje €0 México, com um punhado de homens, acabou confundido com deuses pelos locais, na opiniio de muitos especialistas, Talvez seja uma boa explicagio para o fato de ter subjugado todo um império com tao pouea gente. As armas de fogo, para ‘osastecas, podem ter sido interpretadas como um relagao com o divino. E a reduzida cavalaria espanhola pode ter derivado numa imagem de seres hibridos, com 4 patas e 2 braces. A propria lenda do rei Arthur, baseada em antigas historias, orais celtas, foi usada para afirmar o carster britinico diante de invasores da ilha (ainda que existam sinais de que sua his- {dria tomava por base uma cli romano, esses, sim, entre os primeiros invasores do que se tornowa Inglaterra). Arthur era ‘osimbolo, ao mesmo tempo, de um herbi e de um patriota. Mas 0 que vale, mesmo, para as narrativas mitologicas, é que, passados milhares de anos, 0 ser humano ainda é cativado ppor tuma boa historia, Fé disso que se trata: com suas grandes Giferencas para explicar nossa existéncia, os mitos nos ajudam a organizar nossa vida, sio exemplos. E isso comeca jé na in- fancia quando ouvimos os primeiros contos de fadas. Para o especialista Joseph Campbell, tais histérias tm um grande sentido: “Sao mitos para criangas”. miroLocia 9 CRIADOS A IMAGEM DOS TEXTO lLuSTRACOES DANYAEL LOPES: ohare Cent ae Exon uae eNom einen ney ike 0) a ENE TI RCO UE CORe Oa Leet Cc eS ou cegeetuke oltay Brvnnrtcntrsnt inte ia ey etd Be io mesmo PTT OCA irene arent Reno MEET oor uO Og kor Remotes erent scum renen Nvztg Circe erent Pteceiemae cmt tat) Cora cee eeu Ne Net eu ote tco EDUARDO SZKLARZ ot racas aos grandes poctas épicos, como Homero ¢ Hesiod, Peer nee ener er eee meer ene tet eeteceeen iy one poctas apresentavamas divindades. “Segundo Pltao, Pentre scree ern Brando, professor de lingua e literatura gregqSda UPMGcA Seer acter ence cet Preaeenraer te eter ert eal Serrano tee enae ee Seon rere as Brite erence en eee erties ee ee eer eer aera ease tern cet cs Ponte ee ey nests man erect een werner erect tm Poeun ‘gregos comeca com etre Cc) Croco nets DoE tey ‘eseu fitho Urano oie Pacer ni een its Goes Pleats Crees Un) Deere eo) e 12titas, que Pour) Cenc poeacy deuses do Olimpo, Cy Bret feet Sorc erent) Eros oTartaro, Gala se cree Ce Otnico quese peutic Seca Poetic ieeemcr ts) Peter rate cc on fentelg dos tits eassumiu ree ce oreet a d cera g@ueRRacosmica O texto que definea genealogia dos deuses, divindades eherdis tem dono. A maior parte do conhecimento que chegou a.n6s sobre a mitologia grega ¢ fruto da pena do poeta Hesiodo, que no século 7 ou 8 a.C. reuniu o pantedo em sua Teogonia. Hesiodo busca a origem dos tempos - “em primeiro lugar, 0 Caos passou a existir” é 0 verso que abre seu livro - e conta como no comego havia Gaia (a Terra), Tartaro (o inferno), Eros (o desejo), Erebo (a escuridao do inferno) ea Noite (a escuridao da Terra). Urano, que reinava antes de ser destronado pelos titds, era filho de Gaia, ¢ inaugurou uma era de muitos incestos mitolégicos. No mesmo periodo surgem Montanhas, Mares, o Eter eo Dia. © fim de Urano traz.outra situagdo que se tornard recorren- tena mitologia grega:o filho que vence o pai. Os tits reinavam absolutos na Terra, uma nova geragio de deuses estavano po- der. F trataram de povoar o planeta. A monogamia nfo era regra ¢ a diizia de titas se dividia entre & J entidades femininas e masculinas que variavam seus parceiros. Cronos se ca- sou com sua irma Reia e deu origem & FILHOS linhagem que mais tarde ocuparia 0 monte Olimpo. Hipérion, um dos tits, que foi pai de Hélio, deus do Sol, ¢ Fos, a au- maram rora. A geragdo dos filhos dos titas per mea toda a mitologiafatura Os Pais [Amie de Cronos, Gaia, havia profeti- zado que tal como seu pai, Urano, ele A seria morto pelo préprio filho. A histé- f ria, mesmo entre os grandes deuses, se ‘Uma das situagdes repetia. Com medo, em sua cidadela no recorrentes na monte Othrys, Cronos devorou cada um mitologia mostra dos seus 5 filhos tao logo sairam do ven- ‘a veri ilhos tredaesposa, Rela nfo gostou nada disso é ¢ armou um plano: quando nasceu 0 fi- comune oan ThoZeus, elao enviou aitha de Creta para em geral com protegé-lo do pai. Envolveu uma pedra a ajuda das maes. com roupa de bebé para fingir que era 0 recém-nascido, devidamente devorada oes Por Cronos, que achou que assim se li- vrara do sexto filho. zeUSTOMaO PODER \ HERA ‘O pequeno Zeus cresceu na ilha de Creta rodeado de ninfas ‘Amuthere rma de Zeus ficou até que uma delas, Amaltea, the revelou que ele era filho de Ge ora da dvisao do mundo Cronos e que papai comera seus itmozinhos. Quando se tor depois que os deuses venceram nou adulto, Metis (Prudéncia) Ihe explicou como resgatar os guerra contra os tas. Acabou irmaos do ventre de Cronos usando um néctar magico, Dito € como a deusa do casamento € Eas ec doccidme. Amalor parte cas : disfargado, Zeus entregou ao pai uma taca. Alguns goles Wistorins sobre Hera a mostra bastaram para Cronos vomitar todos os filhos - transforma buscando vinganga das rivals dos em adultos. E no eram deuses quaisquer. De sua boca 12 mrronocia brotaram Postidon, Hera, Hades, Heéstia e Deméter, que jun- taram forgas numa batalha que hoje se conhece como Guerra Césmica ou Titanomaguia. Sozinhos, os deuses nao eram pareo paraotitas, mas Zeus libertou os ciclopes, que viviam no Sub- mundo desde os tempos em que foram exilados por Urano. Eles eram excelentes ferreiros ecriaram armas magicas para os deuses. Zeus ganhow os raios do eéu. Hades, um capacete que a tornava invisivel. Poséidon, um tridente com o qual podia provocar tempestades e terremotos. Coma vit6ria dos deuses, Cronos foi exilado no Tértaro, uma regio povoada por monstros e guardada pelos hecatonquiros, ‘0 seus préprios filhos, os gigantes de 100 bracos. Um dos I deres dos titas era Atlas. Nascido de um tita e uma ninfa, Atlas governava Atlantida. Os deuses decidiram puni-lo e acabar ‘com toda sua raca. Enviaram uma inundacio e a ilha foi varri ‘da do mapa, mas ele continuou lutando. Quando afinal os titts foram derrotados, os deuses fizeram Atlas carregar 0 céu para sempre, “O globo celestial as vezes é confundido coma Terra”, registra Philip Wilkinson no livro Myths © Legends (“Mitos & Lendas”, sem tradugdo no Brasil). Seja o que o for, esta 14: em. cima dos ombros de Atlas, que viron sindnimo de mapa e di nome a uma cadeia de montanhas no Marrocos Era a hora do sossego, do descanso dos guerreiros? Que nada. Os deuses foram desafiados primeiro pelos Gigantes, também filhos de Gaia, que estava furiosa pelo destino dos ti- 1s, Os deuses ganharam mais uma e despacharam os Gigantes para o fundo dos vuledes na guerra que se tornou conhecida como Gigantomaquia, Tempos depois foi a vez de Tifon, o deus dos ventos, uma criatura gigantesca cheia de cabecas, bracos pernas, também incitado por Gaia a encarar Zeus. O monstro jogava pedras no deus. O contra-ataque foi uma chuva de raios nas peciras, Elas voltaram & origem e nocautearam Tifon. M tum que foi para o Tértaro. vipanooLimPo (Os novos poderosos trataram de dividir os butins da guerra. Zeus tornot-se, € claro, 0 chefe do pedaco, o deus supremo, ‘que comandava 0 céu ¢ 0s trovoes. Poséidon virou senhor dos ‘oceanos€o tiltimo irmao homem, Hades, mandava no mundo dos mortos. As irmas Héstia e Deméter ficaram com a Terra, mantendoa tradicao feminina que vem de Gaia quando se tra~ tadesse assunto. E Hera? Ela nao ficou com nenhum reino. Mas Se casou com Zeus. A morada escolhida foi a montanha mais alta do mundo, 6 monte Olimpo, Para se alimentar, mel eam brosia, 0 mais doce dos doces. A vida no Olimpo milo era nem um pouco parecida como céu catélico, repleto de santos e marcado pela bondade e pela vir- tude. Zeus encarnava os arquétipos da paixto, do poder e do julgamento. S6 ele era capaz de controlar uma familia rebelde irresponsavel como aquela. Ai de quem desafiasse suas leis, pois poderia levar uma descarga de seu raio, Mas a lideranca \ GREGOS ZEUS Ete era o senhor de todos os deuses. Seu poder vinha dos raios, fabricados para ele pelos ciclopes. Tafa sua muther e irma, Hera, com deusas, ninfas ‘emortais. Era orel dos disfarces esua descendéncia marcou os ‘grandes eventos na Terra. miroLocia 13 Newton http:/ /www.portaldetonando.com.br noo tomava um modelo de comportamento. Zeus \ AFRODITE era um deus namoradeiro, Nao hesitava em se me Afitha de Urano tamorfosear no que fosse para conquistar um novo nasceu da espuma amor. le conquistou Europa, por exemplo, na pele omar. Suabeleza deum touro (do relacionamento, nasceram Sarpe perfelta serviude, fonte de inspiracao don, que lutou em Troia, e Minos, rei de Creta € sepa woatad a artae? dono do Minotauro). A princesa de Esparta, Leda, ‘Ninguém resistia a0 foi seduzida pelo deus na forma de um ganso (um seucharmeeela dos filhos da dupla era ninguém menos que Helena setornou uma das de Troia, a mulher mais bela de seu tempo). Quan- deusas mals poderosas do Olimpo. Era vaidosa do a forma de bicho nao servia, ele usava outros congue! truques. Se encontrava com amantes na prisio vi- rando chuva de ouro. Para Alemena, ele aparece como se fosse 0 marido da moga. Da relagao com Leto nasceram os gémeos Artemis (a deusa das amazonas) e Apolo (deus do Sol). ‘Com filhos as duizias, nfo ¢ de estranhar que a descendéncia de Zeus tenha ocupado o protagonis- ‘mo das maiores aventuras da mitologia grega. Sio suas filhas as Musas, as Gragas, 0 herdi Perseu. Hera vivia magoada com as traigoes ese vingava em quem podia: nas amantes. Leto acabou banida, lo, depois que foi transformada em vaca, recebeu um ‘mosca de Hera que nunca mais a deixou em paz. A deusa também buscava vinganga nos bastardos. Deixou o heréi Heracles louco - num acesso, ele ‘matou a mulher ¢ 0s flhos — e perseguiu Dionisio. Cansada da petulincia de Zeus, Hera se uniu aos outros irmiios numa revolta contra 0 marido. En- quanto o lider dormia, eles 0 ataram a cama com correias de couro cru. Deram 100 nés para que no se movesse, Zeus ameagou maté-los, mas nada po- dia fazer com 0 raio fora do alcance. Enquanto 03 deuses discutiam quem tomaria seu lugar, a nerei- da (ninfa do mar) Tetis previu uma guerra civil no Climpo ¢ chamou o gigante de 100 mios Briareo, que no teve dificuldade para desatar os nése liber taro chefe. Que, evidentemente, nao estava feliz Como Hera havia tramado a conspiragio, Zeus deixon-a dependurada no céu com um bracelete de couro em cada mao ¢ um peso em cada perna, $6 a soltou depois que todos juraram no se rebelar ou- tra vez, Poséidon e Apolo também receberam cas- tigo: foram enviados como lacaios para Troia © construiram as muralhas da cidade. Os outros deu- ses foram perdoados, por agirem sob coacao. avipaposHomens Nao ha explicagio tinica para o surgimento do homem grego. Sabe-se pela Teogonia de Hesfodo que as tentativas de criar os seres humanos, ou 14 mrrotocia \ POSEIDON Os gregos vivian emithas ou perto da costa, Por isso Poséidon, o deus doar, era um dos mais poderosos de seu panteso. Ele era capazde criar tempestades eterrematos ficou famoso por sua violencia, GREGOS simplesmente 05 mortais, como eram conhecidos, no foram poucas. Quando Cronos era o mandachuva, viveu-se uma Era de Ouro, um tempo de paz e tranquilidade. E ele criou para esse cendrio uma Raca de Ouro, Eles viviam em total sintoni entre si, com os animais e, claro, com os titas - e Cronos, que comia os filhos, era reverenciado por ser um rei justo e gene- roso. Nao precisavam trabalhar, pois podiam coletar tudo de que necessitavam, Nao envelheciam, nunca ficavam doentes. Quando morriam, era como se estivessem dormindo, e seus, espiritos estdo espalhados pela Terra até hoje. Depois de der- rotar Cronos, Zeus criou a Raga de Prata. Fles também viviam muito tempo, a infaneia durava 100 anos. Mas as vezes mor- riam tdo logo se tornavam adultos. Eram briguentos, pouco inteligentes e, para seu azar, nfo faziam reveréncias aos deu- ses. Foram para o destino-padrio da dissidéncia naquela épo- ca: direto para o Submundo. ‘Zeus fez. mais uma tentativa e criow a Raga de Bronze. Eles uusavam armaduras ¢ ferramentas de bronze eeram mais inte- ligentes que os predecessores, mas acabaram se matando. Destino: Submundo. O chefe dos deuses tentou mais algumas vveres até chegar & Raca de Ferro, Gente que trabalhava duro sabia dividir o mundo entre o bem e o mal. Eles foram imedia- tamente acolhidos por um tita que durante a Guerra Césmica no se unin a seus irmaos contra os deuses, Prometeu. © tita ensinou aos homens os segredos da navegagao ¢ da medicina e mostrou como sacrificar animais e oferecer parte deles aos deuses. Numa ocasiao, quando um touro foi sacrifi- cado ¢ ninguém sabia com que parte presentear os deuses, Prometeu enroloua carne com a pele do bicho eembrulhou os ‘03808 numa bola de gordura. Zeus escolheu 0s ossos. Ficou tio decepeionado e furioso que se negou a dar 0 fogo aos homens. Prometeu, entio, resolveu roubs-lo dos deuses (veja abaixo). vmeancape zeus Prometeu nto foi o nico a sofrer a fliria de Zeus pelo roubo do fogo divino. Imediatamente ele elaborou duas vingancas contra os humanos. Ele pediu @ Hades que criasse a primeira OROUBO DOFOGO Prometeufolatéa roubo.Acorrentouo nuaratortura.(Os Por fim, ocentauro fornathadodeus _titanumarocha,na__-médicosdehoje —_Quiron se ofereceu Hadeselevou para fronteirada Terra sabemqueofigado para trocar de lugar aTerraumachama comoCaos.Uma__capazdeserene- _comotita. Zeusse fescondidanotalode Aguiachegavacom —_gerar) ‘comoveu etrans- uma planta. Os osolebicava ‘Aagoniade formou ocentauro hhumanostiveram _pedacos deseu Prometeudurou em constelacao. 0 comoaquecersuas figadoatéoentar-_milharesdeanose herbi Héracles (que ‘casas, preparar decer. 0 6rgaose _sGhaviaumjeitode em Roma virouo comidaefugirda _regeneravaanoitee ele sairdali:encon- _conhecido Hércules) escuridao, MasZeus aavevoltavanodia traralguémpara_ __seencarregoude no gostou do sequinte paraconti-ficaremseulugar. _ matar a agua. mirotocia 15 \ APOLO. Eraum deus belo e controverso. Patronodos arqueiros, costumava causar darios aos hhumanos, mas ao mesmo tempo cerao deus da misica e das artes, Tinha uma irma gémea, ‘adeusa Artemis. Com tempo, fo identificado com o Sol, 16 myrrozocia mulher. (F isso mesmo, até ento, para a mitologia grega, a aventura humana era exclusivamente masculina,) Ela se cha- mava Pandora, Fra linda, porque Atena e outras deusas a en- cheram de beleza. O deus Hermes a ensinow a enganar. Pan- dora se casou com o filho de Prometeu e veio para a terra. Os deuses the deram muitos presentes, entre eles uma jarra. Quando abriu 0 que passon a histéria como “a caixa de Pan- dora”, todos os males, doencas e desastres se espalharam pela ‘Terra eos huumanos foram condenados a uma vida miserével. Mas no fundo da jarra havia a tinica boa noticia: a esperanga. ‘Aoutra vinganca de Zeus foi mais direta, Ele resolveu escor- ragara raga humana da face da Terra, Para tanto, criou um di- luivio, Alertado por seu pai, Prometeu, Deucaliao e sua mulher, Pirra (filha de Epimeteu e Pandora - ¢ portanto neta e nora do tita), construiram uma area, tal como Noé fez no relato biblico, Quancio as éguas baixaram, o casal foi a Delfos para agradecer Tita Temis. La, ela disse que jogassem por tris do ombro os cossos de seus antepassados. Hes nao entenderam de primeira, ‘mas depois concluiram que Temis se referia a Gaia, a Mae Ter 1a (sempre ela). Pegaram as pedras do chao e jogaram para tris. De.cada pedra nasceu um humano. Deucalido gerava ho- ‘mens e Pra, mulheres. Assim, os humanos brotaram do soto, ea Terra foi repovoada, osamanres De aFRopITe Lembra-se que Cronos jogou os genitais de Urano no mar? Seu sangue gerou ninfas, gigantes e as firas, e seu sexo virou ‘uma espuma branca, de onde surgiu Afrodite, a deusa do amor, do desejo e da sexualidade, Sedutora, ciumenta, cheia deamantes, Airodite era tanto a personificacio do amor como da beleza, e devolvia esses atributos a quem a venerava. Ela se casou com Hefesto (deus do fogo eto como um dos mais eios, do pantedo grego) ¢ lhe foi eternamenteinfiel. Nao hesitava em oubar amantes e tinha citime de quem desafiasse sua formo- sura, Com Hermes (deus do comércio), Afrodite deu luz Her ‘mafrodito, que tinha os dois sexos — daf otermo que se usa até hoje na medicina. Afrodite foi para a cama com Ares (deus da guerra) e Dionisio (deus do vinho e do delirio), além do prin Cipe troiano Anquises. Mas sua grande paixdo foi o jovem bo nitio Adonis, com quem teve 3 filhos: dois lindos mortaise um mortal feioso chamado Priapo - to promiscuo que os deuses barraram sua entrada no Olimpo. Priapo batizou um distirbio da sexualidade que existe até hoje. ‘O romance com Adonis comegou por acaso. Belo dia, a es- posa do rei Ciniras, de Chipre, disse que sua filha Esmirna era ‘mais linda que Afrodite. A deusa nao deixou por menos: fez ‘com que a jovem se apaixonasse pelo pai e entrasse sorrateira na cama dele, quando o velho estava bébado. "Ao descobrir que seria pai e av6 do futuro bebé, o rei perseguiu Esmirna até alto de uma montanha, onde Afrodite a transformou numa ‘irvore de mirra. Com um golpe de espada, ori cortowa érvo- re em duas metades, De lf saiu AdOnis”, de acordo com o es- critor britanico Robert Graves no livro The Greek Myths (“Os Mitos Gregos”, sem tradugio em portugués) ‘Arrependida da travessura, Afrodite escondeu o bebé num cofre e 0 entregou a Perséfone (a rainha da morte) para que 0 ‘guardasse. Curiosa, Perséfone abriu o cofre e ficou tio encan- tada com Adonis que fez dele seu amante. Afrodite, entio, pe- din ajuda a Zeus, mas foi como dar um tiro no pé: ao saber que ela gostava de Adonis, o lider dos deuses se recusou a ser juiz, do ¢aso e passou a bola para um tribunal presidido pela musa Calfope. 0 veredicto: Afrodite e Perséfone teriam o mesmo di reito sobre Adonis - uma por té-1o parido e a outra por té-lo salvado. Assim, a juiza dividiu o ano em 3 partes. Ad&nis pas saria uma delas com Afrodite, a outra com Perséfone e na ter- ceira podria descansar das deusas insacidveis. Ofendida, Per- séfone reclamou com Ares, dizendo que sua amante secreta Afrodite queria trocé-lo por um reles mortal. Ares ficou indig- nado. Tomow a forma de javali e matou Adonis com uma chi- frada enquanto o jovem cagava. Do sangue do mancebo brota- ram anémonas, e sua alma descendeu ao Tértaro, AcuasRatvosas Zeuse Afrodite eram temperamentais, é verdade. Mas pare~ ciam bichos de pelticia se comparados a Poseidon, o senhor dos mares. Quando a humanidade o irritava, ele chacoalhava otridente com tanta forga que produzia maremotos e inunda- ‘gdes. A verdade é que Poséidon nunca se sentiu muito satiset tocomo reino das diguas, e por isso tinha uma relaco compli ‘cada com Zeus, Assim como o irmio, seu apetite sexual era infinito: vivia atrés de ninfas, sereias e humanas, mas final- mente aquietou 0 facho a0 se easar com a nereida Anfitrita. O ) Rainha das cotheitas, teve sua flha Persé- fone sequestrada pelo deus Hades. Deméter anunciou que retirariaafertit- dadedaterraesé ‘gente e viveu preso ‘mudou de dela ino labirinto criado quando teve afitha pelore Mines, até devotta, por ‘ser morto pelo ‘8meses ao ano. ateniense Teseu. serpentes no berco do bebé logo depois do parto. Mas 0 pequeno estrangulou as viboras. Nao € toa que se tornaria 0 mais e¢lebre her6i da mitologia clissica. Mas citime, mesmo, Hera sentia de Apolo filho de Zeus com a amante Leto. Nao bastasse a pinta de gala, o garoto manejava arco e flecha eain da tocava uma lira de 7 cordas nos banquetes dos ddeuses, Para conquistar a ninfa Driope, ele se trans~ formou em tartaruga. A donzela colocow o animal sobre 0 peito ¢ levou um susto ao vé-lo se transfor- mar numa serpente, que a penetrou. Apolo se apai- xonou até por um homem: Jacinto, cortejado tam ‘bém pelo poeta Tamiris. Para se livrar do poeta, Apolo disse as Musas que o concorrente se gabava de cantar melhor do que elas. Vingativas, elas Ihe retiraram a voz, a visio ¢ a meméria para tocar harpa. Foi o fim de Tamiris. Mas o Vento do Oeste ‘também se apaixonou por Jacinto e sentin citime de Apolo, Num dia em que 0 deus ensinava o jovem, alancar um disco, 0 Vento do Oeste agarrou 0 ob- jeto em pleno voo, langou-o de volta contra o cra- nio de Jacinto ¢ 0 matou. De seu sangue, entio, nascet a flor que leva seu nome. 18 mrroLocia OLaBiRmTO Attragédia de Minos, filho de Zeus ¢ Europa, co- megou quando sua esposa, Pasffae, sentiu uma queda por um touro. Ela pediu ao artista Dédalo que fizesse uma vaca de madeira. Escondida lé den- tro, Pasifae teve um encontro carnal como bicho e engendrot.o Minotauro, um monstro com corpo de homem e cabeca de touro, Minos trancafiouabesta num labirinto. A cada 9 anos, os atenienses envia. vam 7 rapazes e 7 mogas ao Minotauro por terem matado Androgeu, filo de Minos. O principe Teseu se ofereceu como voluntério para lutar contra o bi- cho. O destino era certo: seria devorado pelo mons. tro. Mas Teseu conquistou a jovem Ariadne, a filha de Minos. E ganhou dela um novelo de Ia. Teseu prendeu.a ponta do novelo na entrada do labirinto. Aleangou a guarida do monstro, matou-o e seguit. fio atéa saida, “A vitoria de Teseu, uma vitoria do engenho e da civilizagio sobre um povo brutal e pouco sofisticado, reflete o desprezo que os gregos ‘mostrariam depois por outras civilizagoes”, diz Su- san Wise Bauer no livro Historia del Mundo Anti- guo (sem tradugzo no Brasil) ROMA O SINCRETISMO ROMANO COMO OS LATINOS ABSORVERAM os deuses gregos por EDUARDO SZKLARZ A purtir do século 2a.C., 08, deuses gregos foram absorvi- dios pela cultura romana e ga- nharam novos nomes. Zeus foi chamado de piter, Dio- nisio se converten em Baco, Postidon viron Netuno, Ato: dite virow Venus, Artemis se tornou Diana, © assim por diante. A propria origem de Roma tem relacao com a mni- tologia grega: Eneas, oprinet pe derrotado de Troia, do mortal Anchises com a deusa Venus, fez uma longa jornada até ay margens do rio ‘Tibre e foi o fundador da es- tirpe dos romanos, inclusive dos gémeos Romulo e Remo, ‘que mais tarde fundariam a ‘cidade de Roma, “A analogia dos deuses no foi complicada porque os dois povos eram indo-enropeus. 34 havia sincretismo dos dois lados", diz Jacyntho Lins Brando, professor de lingua e literatura gregas da UFMG. Assim, Zeus e /ipiter correspondiam ao deus indo-europeu do.cén. Tan To que o nome Zeus tem a mesma raizdo latim dies (“dia”), Bsses termos remetem a Dyeus (deus do ‘én, jluminado e brithante) — 0 pai dos deuses. no ppantelo indo-europen, Isso explica por que 0s 10. ‘manos diziam “dyeus pater”, que derivou para pier, o nome do deus em latim. pepeety HeRanca piel) HeEROIS TROIaNOS hho APY Eneas, 0 principe fugitivo de Troia, foi o responsavel pelo surgimento da estirpe que, mais tarde, com Romulo e Remo, fundaria Roma. Os romanos também in- corporaram os deuses. dos etruscos, que viviam no cen tro da Italia, A mitologia cetrusca gravitava em torno de uma triad: Tinia (regente dos ‘eéus), Uni (deusa do Cosmos) eMenrva (rainha da satiedo- +a), Fin Roma, essa trinca se converteu em lipiter, Juno € Minerva, Mesmo assim, os uses nfo tinham um tinico ceaniter. Sua historia variava em cada cidade, inclusive dentro do mesmo pais, Hoje, estamos acostumados a pen sarque cada deus € de um jet toe que cada religiio tem seu deus. Na Antiguidade era bem diferente, “Nao havin uniformidade nas_religides Glassieas, pois elas nunca ti- ‘veram um livro sagrado, Por tanto, no havia histéria ofi- cial”, diz lacyntho, Sem 0 monoteismo ea ex- clusividade religiosa, as pes soas frequentavam eultos muito mais abertos, Pro- va disso € 0 edificio Panteon, que os romanos construiram para abrigar todos os deuses. Os con flitos 86 comegaram quando Roma adotou o cristia- mismo, noséculo 4, Osstiditos do império or que deveriam adotar 56 0 deus *Eles diziam: vooé pode ser crist2o, mas ‘vena tarnbém a festa de Zeus”, diz Jaeyntho, mrrotocia 19 AS OCT principe que ELT Re rastNCLN sr Coes Pe ue cee Tay anette oeeeeun iy Errata Euan eae) ey Reeeer id ences (oar See Core vaieect Sati tha do rei do rere ta Piguet eens pelo deménio de 10 erent! orcs Crore) ety Sec Cenniny eect Peery Ct) etn ee ane panteao com milhares de DIVINDADES Pee eaee TC rTEy Qs trenmecetert ited Fieger ates emp ene Tcy texto sagrado, como a Biblia Cire veces erties) Perreerer ecen ned Peete ec ee meno) Parteerieenco net ete’ retort ene es cnn coment nT glorificando uma divindade, Were eee nose toy eronmrert tantirs Perens ee ener nd fonerey ere neccon teres tam Breer eee ee ces eco Recent een TO eee ene een et ee ae eMC Cannon ner nad Pee en em a enn ons Poet) Pr ee ne ce enna es cada uma das 4 brotou de seu corpo, que foi esquartejado. Da eee Ree een een ee ea artistas, comerciantes e fazendeiros nasceram de sas COxas e, PO Re Mee eee ttc ed Pot enhe e eu ete es ree eee on cnn scone Peano cecu ee eu ene OU een Tea Se oun LT ne Recon or sins ‘uma companheira (soa familiar para voce?) DeUSeS PRIMITIVOS ‘O povo que trouxe/ luz as primeiras divindades da India foram (0 arianos (nada a ver com Adolph Hitler e a supremacia dos bbrancos alemées}, que migraram da Asia Central para o sub- continente, Seus mitos sobre deuses que controlavam as forcas dda natureza einfluenciavam os humanos foram registrados nos ‘Vedas. H4 uma enorme profusto de textos sobre deuses na [n- dia. Os Vedas tornaram seus personagens populares porque foram escritos em sanscrito, uma linguagem que era compre- ‘endida em varias regides. O chefto era Indra, que controlava 0s troves ea chuva, Ele ganhow a supremacia sobre os outros ‘deuses ao vencer um desafio. Certa vez, Vritra a serpente das secas, engoliu as aguas césmicas e as devolveu em form Mas os homens sio especialmente gratos a Surys que trouxe luz, conhecimento e vida ao mundo, ‘yao céu em sua carruagem de uma roda s6 puxada p o deus da manha, que espalhava 0 calordo de Sury: A mulher de Surya era Sanjana, mas ela literal aguentava o brilho do maridao, transformou-se num se mandou para a floresta. Quando Surya a encontrou, uum garanhao e fez um monte de filhos com ela. Depois, topa diminuir seu britho e viveram felizes no paraiso. Um brigto nesse firmamento primordial era Vayu, di ‘ventos. Fle percien parte de seus poderes depois que foi so do monte Meru, a morada dos védicos, tal como 0 C era.a casa das divindades gregas. Ele atacou a montana, 1 {oi repelido por Garuda, 0 rei dos passaros, metade hom metade dguia - to grande que tampava o Sol e com asas imitavam o vento, O poderoso Vayu arrancou a topo da mor tanha e 0 jogou no mar. Essa é a origem da itha de Sri Lank. ‘Quem faziaa ligagdo entre os humanos eos deuses era Agni, uma figura de 3 eabecas que simbolizava o fogo. Os indianos so cremados porque acreditam que a fumaca leva suas almas para o céu coma ajuda de Agni. O deus de3 cabecas teria nas- ido 3 vezes: a1* na dgua, como 0 Sol que aparece no oceano; a 2* noar, na forma de um raio, ea 3*na Terra, como fogo. Filho da densa da Terra com o deus do céu, Agni ficou tao furioso com a sequeéncia de nascimentos que simplesmente comeu os pais. Os templos oferecem a ele manteiga clarificada, que ele pega com uma de suas 3 linguas. TeMPOCIRCULAR A criagio tem tantas historias quanto 0 mimero de deuses indianos. Mas, depois dos védiicos, quem conquistou o poder no céu foi turma liderada por Brahma, um deus de 4 cabecas, que representavam as castas hindus, 05 4 livros Vedas e os pontos cardeais, Ele, ao lado de outras duas divindades, Shiva 22 mrrotocia Omensageiro dos ‘deuses eresponsavel pela conexao entre eles eos seres hhumanos. Costuma ser representadono auge dajuventude, Ja que seu fogo é ‘apagado e depois aceso todas os as. Namaloria dos relatos, costuma ser § SHIVA Em oposicio ede forma complementara Vishnu, representa o poder de destruicdo do Universo, ecessaria para que haja lum novo renascimento~ esse pader de encerrar tum ciclo para criar outro também fazdele o deus datransformacéo, € Vishnu, so os mais cultuados ea base do hinduismo. Todas as histérias envol ‘vem a nogio de tempo circular, por isso alguns deuses nascem e depois dao & luz propria mae. Mas sempre persiste a nogdo de que o Universo éfinito, vai aca- bar um dia para dar lugar a uma nova ceriacio, um novo Universo. Nocomeco dos tempos, Brahma, ose- hor da cria¢o, espalhou sua luz pelo Universo ese tornoua esséneia de tudo 0 que nele existe. Ele também cuidava do tempo. Um dia desua vida equivalea 4,3 bilhes de anos humanos. Quando esse periodo acaba, o ciclo da criagdo comega outra vez. E assim vai, para sempre Como quase tudo na india, a historia co ‘meca com Brahma meditando. Ele ima~ INDIANOS ) { VISHNU Responsével por roteger e conservar aordem césmica do Universo, Quando ver a0 mundo fisico, usa diversas formas, chamadas avatares =sao seres humanos, animais ‘ou uma combinacéo entre os dols. Sua cconsorte 6 Lakshm ddeusa da prosperi dade, da riquezae dabeleza, E muito Popular entre os Indianos. ginava como o Universo poderia ser. Mas ignorava como trans formar pensamento em existencia e descartou o projeto: foi dat que nasceu a Noite. Masa Noite comegou a parir filhos tao ne- gros quanto ela, que se transformaram nos primeiros demo nios. Quando essas criaturas passaram a se multiplicar, Brah- ma recomegou o processo de criagao. Ele criow 0 Sol eas estrelas, um contrapeso para a escuridao da Noite. Depois fez. todos os deuses do panteio hindu para compensar a multidao de deménios. Um dos seres que apare ceram era uma criatura maravilhosa chamada Vak (0 Mundo). Brahma se enamorou dela e fizeram amor. Durante a relac2o, eles mudavam de forma 0 tempo todo e produziram todas as espécies de animais que vivem na Terra. Outra verso mostra Vak relutante a transar com Brahma - nfo custa lembrar, ela era filha dele. Como ele insistiu, Vak se transformou em cervo se mandou. Ela foi capturada, mas o deus ndo foi capaz de cengravidé-la com sua semente, que cai no chao, dando ori- gem ao homem e a mulher. miTotocia 23 24 Newton http: / /www.portaldetonando.com.br Como Brahma mudou sua imagem para criar as formas de vvida, ele € onipresente. Mas também tem uma casa para cha- ‘mar de sua, na montanha sagrada de Meru, o umbigo do mun: do e centro do Cosmo, que fica no Himalaia (a morada da neve). E lé que nasce o também sagrado rio Ganges, nos quais 6s indianos se banham até hoje em busca de purificagao, SHIVa, OPODeEROSO Shiva, que ao lado de Brahma e Vishnu forma a triade supre- mado hinduismo, é um deus bem controverso ¢ complexo. Ele representa, a0 mesmo tempo, a destruiglo e a criagio. Como seus humores variam muito, ele recebeu ao longo do tempo mais de 1000 epitetos, de “grande deus” a “Kaala”, a morte. Para aplacar sua fra, os humanos resolveram chamé-lo de Shiva, o auspicioso. Quando Shiva surgiu, j4 mostrou de cara aque veio, O mito conta que Brahma e Vishnu estavam envol- ‘vidos numa longa discussio sobre quem mandava mais, quem era o deus supremo, No meio da querela surgit na frente dos: dois um gigantesco pilar de fogo na forma de um falo. Era to grande que desaparecia entre as nuvens, e sua base estava fir- ‘memente enterrada no chio, Brahma se transformou em gan- so e foi para o céu procuraro fim daquelefalo. Vishnu virou um. javalie comegou a escavar o cho para fazer a mesma coisa no sentido inverso até o Submundo, em busca das raizes. Mas nenhum dos dois encontrou o que procurava e voltaram paraa Terra, Nesse instante surgiu Shiva. Os deuses reconhe- ceram que estavam diante de algo muito poderoso e encerra- rama discussio sobre quem mandava mais. A partir daquele instante, 0s 3 passaram a comandar 0 Universo. Ele é representado com 3 olhos: dois para 0 Sol ¢ a Lua e 0 terceiro simbolizando a sabedoria. Esse costuma ficar fechado. ‘Mas, quando Shiva resolve abri-lo, sai de baixo. E 0 poder para destruir todo 0 mal. Ele também é adorado na forma de linga, uum falo gigante, ou dangando, para representar o movimento do Universo, Esta cercado por linguas de fogo e seus passos servem para aliviar os sofrimentos da humanidade. Fle danca nas costas de um pobre ando, simbolo da ignorancia.. Um dos mitos sobre Shiva mostra como ndo é muito inteli- gente deixar o deus furioso (como em quase tudo que diz res- peito & mitologia indiana, essa é uma de varias vers0es). Ele entrou de penetra numa festa de Daksha, filho de Brahma, que procurava um noivo para afilha Sati. Shiva pegoua grinalda da ‘moga ¢ eles acabaram se casando. Mas 0 sogrdo ndo gostava mesmo do deus. Tempos depois, resolveu sacrificar um cavalo e convidou todos os deuses (dado ‘tamanho do panteio indiano, imagine s6 que festio). Todos, ‘menos um: Shiva, Ele nao era bem-visto em cerimdnias de sa- crificio. Sua mulher, Sati, ficou desconsolada. Com a ajuda de alguns auxiliares, o deus entdo armou um barraco, Até os sa- cerdotes foram devorados. O cavalo se transformou num cer- ‘vo € vou para o céu, mas Shiva 0 perseguiu. MITOLOGIAa \ GANESHA Filho de Shivae Mahadevi, ‘adeusa mae. E representado ‘como um garote com cabeca deelefante. Esta sempre presente nas portas de templos eresidéncias porque 6 tido como um removedor de obstéculos, Também & considerado fonte de prosperidade e fortuna BuDa Buda éumafigura _deuses segurarama histéricaea9* crianga, que deu 7 encarnacio de ppassos ecomeou Vishnu. Aconcepeao afalar, lembraocristia-’ —Emsuaforma rismo:sua mae humana ele erao sonhoucomum principe Gautama, elefante branco que vivia cercado de segurandouma flor \uxoe beleza. Mas deldtusnatromba. durante um passeio Quandoelenasceu, viuador, avelhicee suamaeopariu _adoenga, aban- pelo lade docorpo. donouo palacioe Brahmaeoutres _viveu7 anos na floresta, meditando ‘em busca da lumi- nagio. Certavvez, sentou-se sob uma figueira paraentender 0 sofrimento. Os deuses se alegraram ‘no céu, mas Mara, 0 deus damorte eda seducao,tentou distra-to sem sucesso, Depois de 49 dias, Gautama Na perseguico, uma gota de suor surgin na testa de Shiva e cai: no solo. Dali surgit: um bicho peludo e de olhos vermelhos que assustou até os deuses. Era a Doenga, que levavaa dor para onde fosse, Brahma fez um meio de campo com o deus coléri- coe permitiu que participasse de ceriménias de sacrificio. Em retribuigio, Shiva partiu a Doenca em varios pedagos. Assim, 0s paves sofrem com rachaduras na crista, a terra pode ficar osavaTaResDeVIsHnU salgada e o gad, cego. Para os homens, sobrou a febre. ‘Ao contrério do parceiro Shiva, Vishnu ¢ um deus benevo- lente, preocupado em proteger a humanidade. Sempre que as forgas do mal colocavam a Terra em perigo, Vishnu descia dos céus, Ele tomava a forma de avatares, ou encarnacées, e fe7, {sso muitas vezes. Na primeira vez foi na forma de um peixe, 0 Matsya. O humano Manu salvou o deus de ser comido por pei- xes maiores, 0 alimentou e o devolveu ao mar quando ele se tomou muito, muito grande. Depois, ele apareceu a Manu € pediu que ele construtsse uma grande arca e guardasse um monte de sementes dentro dela para escapar de um diltvio (voce jéviu essa histéria antes?) Ele também é um deus arguto. Num de seus avatares, volta Terra, que estava dominada por Kali, uma deménia, na forma de um ando chamado Vamana. Fle convence Kali a Ihe dar a ‘quantidade de terra que poderia cobrit com 3 passos. A mal- vada ri € concede o pedido. Mas imediatamente Vamana se transforma num gigante e com seus 3 passos da volta na Ter- +2 toda ea retoms para os deuses e para a humanidade. ‘Mas Vishnu também reencarna em Krishna (uma historia que vocé lerd adiante), Buda (veja no quadro nesta pdgina) e Rama, A trajetéria de Rama é contada no Ramayana, escrito entre 500 € 100 a.C,, em 24 mil versos. ‘A obra é um exemplo de como os indianos lidam com seu conjunto de relatos populares: além de fornecer informagbes, € personagens que alimentam o imagindrio, o livro também funciona como uma das bases da religido hinduista, e até hoje ja iluminagao ‘esetornou Buda, 0 luminado. Brahma ‘entdo o incentivou a debxaraflorestae iniciar uma prega- ‘g20. 0 budismo, que hasceu de uma costela do hin- duismo,tornou-se uma reigiao que se espathou pelo sul daAsiaaté chegar 0 Japao. INDIANOS \ BRAHMA Parte da trindade maior hindu, 60 criador do Universo =oumethor, dos ‘muitos universos ciclicos. Alguns relatos oapre- ‘sentam surgindo do lumbigo de Vishnu, Outros apontam que apareceu de Um ovo de ouro ‘chamado Hiranyagarbha. mirotocia 25 figis percorrem largos trechos do pais para repetir a rota que —+-e—< n> > o-- — teria sido tracada pelo principe. “Na india nunca existiu uma separagdo entre mitologia efilosofia,traduzida por nds como religito”, afirma Aghorananda Saraswati, professor de ioga peuses brasileiro e historiador especializado em histéria e mitologia da india. “Mitologia efilosofia se apoiam mutuamente, dando Que coeréncia ou validando seus pontos de vista, tentando explicar mupam de forma simbélica conceitos abstratos e facilitando um pro- cesso de educagio popular.” TODOO vacasacrapa Tempo “algm de um vasto pantedo, a mitologia da fndia inelui os ‘mais variados tipos de seres, e muitos deles encarnam e reen. WB carnam com regularidade”, explica Devdutt Pattanaik, um médico indiano especializado nos relatos orais de seu pais. “Os As divindades seres humanos nao s2o considerados tao superiores aos ani- ganham novas ‘mais quanto na tradigio ocidental. Todos tém seu valor e ape versdes para sua nas aparecem em diferentes graus de evolucao.” arigen agit Entre os animais mais populares e recorrentes nos relatos, esto a vaca, 0 bilfalo, o cisne ea cobra. A vaca, como se sabe, éum animal sagrado que nio pode ser molestado na india. No sistema de castas que ainda vigora na sociedade indiana, avaca & considerada mais “pura” até do que 0s brimanes (indivi- v9 ep e— duos pertencentes & casta mais elevada, dos sacerdotes) - por isso, ndo pode ser morta nem ferida e tem passe livre para cir cular pelas ruas sem ser incomodada. Seu leite, sua urinaeaté relatos orais milenares foram transcritos ‘mesmo suas fezes so utilizados em rituais de purificagio. em sanscrito a partir do século 6 a.C., € Alguns autores relacionam 0 respeito a vaca aos habitos ali-_ desde ento muitas das deidades conti- ‘mentares dos indianos, Basicamente vegetarianos, a vacaéum nuam se subdividindo, ganhando novas precioso provedor de proteinas e calorias com seu leite. Em _versdes para suas origens. um grande geral, tabus alimentares tém relagio coma preservagio daes- _caleidose6pio vivo e em constante mu- pécie, Para os defensores dessa visio, o veto a carne de porco tacio”, diz Hugh Flick, historiador entre judeus ¢ mugulmanos foi a forma encontrada para que _ professor de estudos religiosos da Uni- esses povos ndo se contaminassem. Se ainda hoje a carne de versidade Yale. porco exige sérios cuidados na hora de cozinhar, imagine os si riscos que trazia milhares de anos atrés. opeUSBRINcaLHaO ‘Masa vaca é um entre centenas de elementos sagrados. Mes- Voce se lembra que Vishnu volta € ‘mo as plantas on as pedras tém sua importancia ~ para nfo meia baixava na Terra para livrar a hu- falar da 4gua; o rio Ganges ¢ um nascedouro de entidades. As_-manidade dos perigos? Pois a 8* encar- deidades regulam os elementos do cénedaTerra, oSolealua, nacio foi Krishna, Adulto, ele derrotou a dgua e 0 fogo. Tém filhos entre si, personalidade prépriae demdnios e ajudou a vencer guerras. trajetorias que incluem grandes batalhas épicas, feltos heroi- Suas historias estio no Mahabharata, cose traigées. Blas geralmente se agrupamem torno dechefes, considerado 0 mais longo poema do deidades mais fortes que orientam o comportamento do gru- mundo. Dentro do épico est 0 Bhaga- ‘po. Para os indianos, essa multidao de entidades convive lado vad Gita, que contémos principios-cha lado com o mundo fisico. Ese comporta de forma humana. ve do hindufsmo, entre os quais 05 con- Amitologia indiana é tao vasta ecomplexa quanto o proprio ceitos morais que as pessoas devem pais, Existem centenas de deuses, semideuses, herdis, génios, perseguir, chamados de dharma (nada, nninfas e demnios, eos relatos a respeito da origemdecada um ou tudo a ver com Lost). Krishna € 0 deles sio variados. Essa mirfade de personagens circula por Adorvel. Eas histérias de sua infancia o diversos universos ciclicos, divididos em varios mundos. “Os _ mostram mais como um menino traves- caleidoscopio em constante mutacao. 26 mrroLocia ‘80 do que como um deus poderoso (ain- da que desde moleque mostrasse volta ¢ meia seus poderes). O garoto gostava mesmo era de roubar manteiga, Sempre ‘que fazia isso criava a maior meleca nos arredores e dava bolas dela aseus amigos ‘ow aos macacos na floresta — isso quando ainda s6 engatinhava. Quando ficou um pouco mais velho, esticou a travessura para a casa dos vizinhos. Depois que uma vizinha reclamou com sua mie, ele foi amarrado a um pilio. Quando virou um jovem, trocou a manteiga pelas garotas, as gopis. Como qualquer adolescente ‘que tivesse a oportunidade, uma ver. viu um bando de meninas tomando banho no rio Yamuma e sumiu com as roupas delas, $6 concordou em devolver as pe~ as quando, uma a uma, elas sairam da INDIANOS { DURGA Deusa guerreira, cagadora feroz, dedeménios, aparece sempre cavalgando.um {edo ou um tigre. Dependendo da representacdo, temde 1218 Dragos, e em cada tum deles carrega armas dadas ela por varios, outros deuses, 44gua com as miios levantadas, em silica, Krishna virou um, grande amante. Todas as mulheres do pedaco estavam apaixo- nadas por ele. No outono ele tocava sta flauta e todas escapa- ‘vam paraa floresta dispostas a encontr-lo, atéas casadas. Ali, passavam a noite dancando com Krishna. Ele aproveitava sempre dava um jeito de sumir com uma delas. A favorita de Krishna, desde a infancia, era Radha, e 0s relatos miticos mos~ ‘tram um amor incondiefonal entre 03 dois © heréi continuou sua saga quando adulto enfrentando ini- migos e demOnios. Um belo dia, cansado das batalhas, senta se embaixo de uma érvore para descansar. Um cagador que passa por ali o confunde com um cervo e acerta uma flecha na sola de seu pé (a tinica parte de seu corpo que nao era invulne- vel). Eo fim do Adoravel. Libertado do seu corpo, ele volta ‘20 c&u para assumir sua condigao de deus. Agora espera-se a volta de Shiva 4 Terra em sua 10* encarna- «ao. Fle vird como Kalki quando a atual era estiver préxima do fim, Montado em seu cavalo branco, irs destruir 08 maus ere- novar o mundo. E tudo vai recomecar mais uma vez. mirotocia 27 cra FUR U NOLO ado Suen wba Ue ao! ae Peat yea setae ty ee ers ee Ree Ce Pesce tees net weer ern ener uty eo eenerentetey Pree Meena ra ierec seer et Recreate! entender por que os poderosos Resta coneo ean Coe wt Procinemetacs tats Pat Frirecretetetee nto Te Cele Panic Rie ire wor Pett Ree ete rt EGIPCIOS barbicha postica, Pores Gites Ques eM eurd Cera eerie Pert Poesia men ee ong porexceléncia cs Poet er cas fe once Coo cates Rte rece perce od Ree ‘Tudo poraqui era um grande oceano primitivo, eele precisava Peete Cr cere mere Cement dar formaa todas as coisas. Encontrou uma ilha pedregosa que Prete te eee eee ae ee ne ere er PoE eee ices Deere eet OER ee ected Peres eT ee NCO CoM ane enn eet Coe ee OR ar eon eee teen lagrimas, nasceram os primeiros humanos. Os deuses encon- Cerny ae eee ene nee TT oe erent rere en enn Pe Cree ee ener aR as eee ee Ona ener sn? dias extras num jogo com o deus Thot ¢ deu a luz-as maiores ree eee cee LU td 30 FamiLiacompiicapa Se os deuses egipcios fossem uma familia, ela seria pra ld de disfuncional, Pegue o deus Seth. Matou € dlesmembrou o irmao Osiris. 0 “Titio Picadinho” ~ ‘que tal o apelido? ~ detestava o sobrinho Horus, primogenito de Osfris com a deusa isis. Num belo dia, Seth xingou fsis de prostituta. Horus, tomando as dores da mae, foitirarsatisfagGes. Tio e sobrinho sairam no brago. Isis, vendo o fiho em desvanta- ‘gem, atirou um arpdo contra Seth, Mas a deusa ti nha pontaria ruim e acertou Horus, que, furioso, decapitou a progenitora. A seguir, na maior adre- nalina, castrou o tio, mas teve um dos olhos furados pelo punhal de Seth, Resultado do entrevero: Horus ficou caolho. isis, sem cabega, ganhou uma sobres- salente, s6 que retirada de vaca. E 0 encrenqueiro Seth, sem os testiculos, ficou para titio no pantedo dos grandes deus do Egito antigo, [As historias da mitologia egipcia sfo quase sem- pre assim: extravagantes, coloridas, muitas vezes violentas como um filme do Martin Scorsese. Era mrIroLocia f OsiRIs E isis (Os irmaos gémeos eram casados, Osiris erao deus da fertilidade e associado ao Nilo. Ori fot criado com as Lagrimas delsis, depois que o marido foi ddespedacado pelo irmao Seth. ‘Adeusa, simbolo da materni- dade, reconstrulu Osiris, +0 BRIGa cosmica em FamiLia BA) As historias do pantedio egipcio s&io extravagantes e coloridas e muitas vezes tao violentas quanto um filme de Martin Scorsese. +80% ‘também um povinho pra lé de estranho. Vocé ira se sentir num baile de méscaras no meio deles: isis, ‘com, voce sabe, a tal cabeca bovina. Ré, com uma baita carranca de touro. Hérus, com uma cara de falco, e Thot, comuma de tbis, uma ave do rio Nilo. (Omais normal, Amon, s6 tinha uma exética barbi- cha postica.) “O estudo do antigo Egito nos sub- merge num mundo patadoxal e fascinante”, diz 0 egiptélogo espanhol Francis J. Vilar. Egito possuia, mais de 2 mil deuses, dos quais 114 principais, Como ‘e quando surgiu essa galeria de figuracas incriveis? ‘Além de Atum, os principais deuses egipcios eram. R4, Khepra, Ptah, Shu, Geb, Osiris, isis, Horus, Seth, Néftis, Thot, Hathor e Amon, A patota divina estava longe de ser decorativa. Os deuses eram, para a mentalidade egipcia, manifestagdes particulares ‘de um principio supremo, e com o tempo muitos ofuscaram Atum na devogio popular. “Para usar ‘uma palavra da moda, os deuses seriam ‘avatares””, dizo professor Antonio Brancaglion Jr. Mais ou me- ‘nos como no hinduismo, ou no Second Life. EGIPCIOS \ THOT DeuSses POP Odescobridor da quimica, O destino de {sis e Osiris era o de ser pop. No Egito antigo, da matematica, da geometria poucos deuses foram tio amados pela populagao quanto eles. e damisia, Rezaatenda que Na Antiguidade latina, granjearam fama gragas ao ensalo De inventou a forma das piramides. Iside et Osiride (“Sobre isis e Osiris”), de Plutarco (46-120). rose pa Hoje tal veneragio seria escandalosa: Isis e Ostis ~ apesar de a irmdos gtmeos, flhos do velho deus Geb ~ se casaram entre daaveli. si. O inceto era visto de forma branda pelos egipcios. Os tex- tos sagrados, como os Textos das Pirdmides e os Textos dos Saredfagos (os egipcios nao tinham uma escritura tinica), mencionam varios casais de deuses formados por pares de gé- meos. 0 incesto divino acabou dando respaldo a varios casai- zinhos deirmios entrea realeza, como ofaraé Tutmosis 2”, por volta de 1500 a.C., cuja esposa era airma Hatshepsut. Ou entio a rainha Cle6patra 7 (70-30 a.C.),casada com o irmao. Segundo os Textos dos Sarcofagos, Osiris era o deus do amor familiar. Era também o deus da geracio da vida, associa~ do as terrasférteis e negras do Egito. Ja [sis, além de simbolizar a maternidade, tinha um ladinho mistico. Eraa deusa da ma- gia. Sob a aparéncia de casal perfeito, porém, no faltaram. rrusgas na relagio conjugal. Osiris pulou a cerca, dormindo ‘com sua outra irma, Néftis. [sis - como boa Amélia, do samba de Mario Lago - 0 perdoou. “Desculpe-me, isis, me enganei: achei que fosse vocé na cama”, foi a desculpa esfarrapada do deus, Osiris também tinha uma velha rixa com o irmao Seth. Seth matou Osiris e desmembrou o corpo dele em 14 pedagos, {que foram dados aos crocodilos do Fgito. [sis chorou tanto que de suas lagrimas nasceu o rio Nilo. Desesperada, procurou em vio os restos mortais do marido, mas sé encontrou intacto... © penis. (O que ¢ do homem o bicho nao come, certo?) Mas a poderosa deusa ndo se den por vencida, e com sua magica re~ construiu 0 corpo do morto. Depois, temendo o vingativo Seth, no contou para ninguém onde o enterrou, Politica e religiao andavam de mos dadas, o que nao é de estranhar. O povo acreditava que o Egito fosse uma terra sa sgrada, Tudo ali tinha a bengio dos deuses, em especial osiste- ‘ma politico-religioso, “Para os egipcios, a sociedade ideal era sum reflexo de uma ordem divina”, escreve o egiptologo Barry J. Kemp em Ancient Egypt: Anatomy of a Civilisation (“Egito Antigo”, inédito no Brasil, 1992). $6 um exemplo: a fundacio do Fgito era explicada pelo mito do casamento entre os irmaos gémeos Isis e Osiris, Nao, leitor, nfo é sacanagem. A unificagio dos reinos do Alto e do Baixo Egito — origem do Egito antigo -, em 3150 a.C., foi simbolizada pelo incesto. O faraé também era divinizado. “Parte humano, parte div no, ele era um intermedirio entre os deuses € 0s seres huma- nos”, diz Antonio Brancaglion Ir. Segundo a crenea, o farad seria uma encarnacio de Hérus em vida e, apés a morte, uma encarnacio de Osiris. Sé um detalhe: 0 termo “faraé” ~ de origem hebraica e bfblica - cus~ tou a entrar no vocabulério egipcio. Nos primeiros dois milé- miroLocia 31 nios, o termo para designar o chefe de Estado era Per-aa, uma palavra que significava “habitante do grande palécio”. “Os deuses conferiram prestigio nao s6 ao faraé mas também a0 clero e as cidades”, diz losé Carlos Calazans, professor de ci- éncia das religides da Universidade Lus6fona do Porto. Cada regio tinha os seus deuses de preferéncia. Em Heliépolis, adorava-se sobretudo Ra, Em Tebas, Amon, Em Mentis, Ptah € Hathor. Essas cidades viraram fervilhantes centros de pere- grinagio, enquanto quea multidao de deuses fomentava feiras € festas populares, além de um intenso comércio de amuletos ce imagens, diz a professora de hist6ria antiga da Universidad ‘Autonoma de Madrid Elisa Castel Ronda, autora ce Los Sacer- dotes en el Antiguo Egipto, de 1998, inédito no Brasil. TeMPLOSFecHaDos © povio, contudo, tinha especial adoragfo ao faraé (ou & rainha, quando o cargo de governante era ocupado por mu- Iheres, como foio caso de Hatshepsut ou Cledpatra 7). Farads, e rainhas eram uma espécie de “paizdes” e “miezonas” do pais. A vida religiosa sempre girava em torno deles. No Fgito, os templos nao eram abertos ao publico. “Nao cram lugares de devocdo popular, mas, sim, da realizaglo dos ritos pelo fara6. Os ritos serviam para manter a harmonia do Cosmos”, diz Brancaglion Jr. Como faraé no podia ~ obvia ‘mente - estar em varios templos ao mesmo tempo, delegava a fungi aos sacerdotes. No cerimonial faraonico, os sacerdotes entravam mais ou menos como funcionérios terceirizados. O simbolo do faraé era aesfinge. O corpo de leio em repousoe a cabega humana, sempre placida, simbolizavam a harmonia ‘entre a forga (do leSo) ea sabedoria (do ser humano),sinteti zadas no governante. “A autoridade espiritual e 0 poder tem- poral nfo estavam separados como fungdes diferenciadas”, escreveu sobre sso o orientalista francés René Guénon em Au- torité Spitituelle et Pouvoir Temporel (“Autoridade Espiritual Poder Temporal”, de 1929). ‘Tudo isso funcionava bem na teoria, Jé na prética... Ahist6- ria politica egipcia foi um constante jogo de xadrez entre 0 faraé, os militares e os sacerdotes. Nesse jogo, os deuses eram pedes. Os sacerdotes, sobretudo, eram mestres de estratégia. O prestigio do clero variava muito, dependendo da divindade a que servia, Sacerdotes de {sis eram muito amados e respei- tados por sua sabedoria. Segundo Plutarco, por exemplo, 0 fildsofo e matemstico Pitsgoras foi instruido na Escola de He- 2 tidpolis, ligada aos mistérios da deusa fss. Contudo, oseu po- \ ANUBIS Seu rosto tinha uma coloracao der politico era quase nulo. Em contrapartida, os sacerdotes de Amon constitufam uma elite poderosa e temida. (s sacerdotes de Amon administravam os templos mais ri- ‘escura, prépria dos corpos putre- cos do git, como os de Luxor e Karak, Disretamente, nos feos ua vee, aparecisob bastidores, influencivarn ou manipulavam fads, e também forma decto cuentho cm faziam conchavos com os generais do norte e do sul para a Sabmrundo Sesrvertes, guardSo manutengo da estabilidade politica do reino. A cidade de Te- das necrépoles e das tumbas. 32 mIToLocia EGIPCIOS \ HORUS foci eee aaheqa de faleto rum corpo humana. Oseatpeosacred man aucceus sines reese an Seu olho, o Wadjet, etn ua ee amuletos do Egito. \ SETH S rigurasinistraque combateu Horus, trac deus docats td deserto, Horus mato sath ue setomov odes de Submundo. bas, centro irradiador do culto desse deus, serviu de paleo a imimeras intrigas politicas, “O sacerdé- cio egipcio nao esteve livre de corrupeao”, escreve Elisa Castel Ronda em Los Sacerdotes en el Antiguo Egipto. Em Tebas, sacerdotes corruptos emitiam. licencas de cargos sacerdotais em troca de ouro, pedras preciosas ou favores politicos. mumias (tema da morte estava constantemente presen- tena vida do egipeio. Mas nao havia nada de mor- bido nessa atitude. “O egipeio era fanerario. Isso nao quer dizer que ele fosse funesto”, observa Brancaglion Ir. Nao & toa, quando a gente pensa no Egito antigo, vem & mente sarc6fagos e mimias. Rezaa lenda que a primeira miimia do Egito foiade Osiris, embalsamada pelo pitoresco deus Aniibis. Para oegipcio médio, a vida terrestre era uma mera passagem & Outra Vida. Numa analogia, seria como passarde nivel num videogame, Se num videogame a gente coleciona tokens e ‘vidas’, o egipeio da An- tiguidade abastecia 0 timulo com utensilios pesso- ais, roupas, joias, preparando-se para a viagem 20 além, A tumba era um entreposto dos mundos ter- restre e celeste. “Quando se entra numa tumba egipcia, altima coisa que se vé éa morte. Ea vida que se prolonga”, nota Brancaglion Ir. Os caixdes, ‘muitas vezes, eram simples caixas retangulares de madeira decoradas com olhos (para que o morto puidesse ver). Também havia frequentemente uma porta falsa, para que o espirito do morto pudesse entrar e sair do caixdo. Tudo para ficar bem a von- tade. Havia inclusive um livro para guiar 0 morto ‘nos meandros do Alem: o famoso Livro dos Mor- tos. “Era 0 Guia Michelin para 0 outro mundo”, brinca Brancaglion Jr. Seu titulo original, contudo, era “Livro para sair & luz do dia”, bem menos fan- tasmagérico, (Colocar “morte” no titulo foi ideia de um editor alemao do século 19, que publicou uma selegZo dos textos em 1842.) ‘Tudo isso parece extico e provoca estranheza, Mas € 36 uma questio de percepeio. Na verdade, diz Antonio Brancaglion Jr., 0s egipcios foram a primeira sociedade humanista da histéria, “A men- sagem do Fgito antigo € que o homem pode se di- vinizar”, conelui o professor. As historias dos deu- ses egipeios, to divinamente humanas, ou tao humanamente divinas, dio prova disso. A inteli- ‘géncia humana, para a mitologia egipeia, é um re- flexo da inteligéncia divina, mitTotogia 33 QUE taal Merrie Wp Zr Rea) DE UM POVO GUERREIRO ” REVELOU NOVOS MUNDOr FON eRO ga INS $3 Preece eee ed premiera ate neeene Roecontine iets pilhagens. Hi quem defenda eens unter renner ee ts Retention cere Poetic enerns) lerwcn tr me NCaCoe ainda que mais pareca uma crs Segre ncn imaginava ser a personificacao da barbarie havia uma Cee Monn Prem arattur tec ag Prsstd Mie teeta ist) Pree igen transformou em uma literatura Prono Nee en Recon eT cere se Peete ee Cen rc re ere ee teey snes oe eto keene Reber once y cnet cement a derreter. Asgotas formaram um gigantesco monstro de gelo, Srremeett nes care ter terre Ucn eRe cn seucorpo, ele comegou a suar. Ede seusuor outros dois gigan- eee i eee eon cao Pierce are ere renter Ey redor continuaya derretendo e deu forma a Audhumia, uma vaca, que alimentou os gigantes com seu leite. Com sede, a ee reenact ure tence Pee an ee ree sc aU ‘chamado Bor, que se easout com Bestla. Fles tiveram 3 filhos, (din, Vil e Vé, 0s primeiros deuses nérdicos. Os 3 deuses jun ent eee hen uae m ne Borer arent ree Rene Rn Steen ence ees Pee eo eee Coors construir Valhala— Bune oar em Asgard, 0 Pics Cotev) eee Cec ean ett Coreen Croc ta mee rea oe C mars Cetoas humanidade, Cece Cu yer eS das formulas Dery Sy eet Poe Psi dos naufragios eons Ss 22 Las opeuscaoLHO Ele tinha longos cabelos e barbas de cor prateada.. Usava um cajado € um chapelio de bico eOnico. Nao, no se trata do mago Gandalf, o Cinzento, de O Senhor dos Anéis. O deus Odin - pois € dele que ‘estamos falando - tinha um aspectoamedrontador, ao contririo do benigno personagem criado por IRR, Tolkien, Odin estava mais para lider de gan- gue de motoqueiros. Era alto e forte como um gi- gante. De feigoes pétreas, tinha um olho s6. Reza a mitologia nérdica que o deus, num arroubo de ma~ cheza (ou insensatez, dependendo), arrancara 0 ‘outro olho com as préprias mios. A sua “Harley-David- son” eraum cavalo cor de fogo, Sleipnir, um possante mons- trengo de 8 patas, Odin era 0 senhor dos deuses nérdicos. Em Asgard, a Terra dos Deu- ses, todos o tratavam com res- peito e deferéncia. Todos, me- nos 0 endiabrado Loki. Apesar da origem divina, Loki provo- cava consternagdo em Asgard, € rninguém entendia por que raios Odin nao mandava enforeé-lo. ‘As més Iinguas diziam que os dois eram irmaos. © cavalo Sleipnir havia sido presente do capetinha. Certo dia, porém, Odin estava fazendo magica - seu hobby ~ e, entre risadinhas ‘maliciosas, Loki disse que aqui- Joera coisa de mulher. Pra que! (Odin, enfurecido, moeu Loki de pancada, A mitologia ¢ a reli- {gio dos vikings - povos de ori- ‘gem germénica que povoaram o norte da Europa, principalmente as regides da Suécia, da Noruega, da Dinamarca e da Islandia - stio mescladas de ele- ‘mentos de encantamento e violencia, com uma pi- tada de fatalismo. “E uma f€ nio-revelada, sem uma data histérica de comego”, diz 0 professor Johnni Langer, que leciona histéria medieval na UMA €o autor de Deuses, Monstros, Herdis: En- saios de Mitologia e Religido Viking. ‘a eLFoseFapas 4 fé nérdica nfo possufa um livro sagrado ou dogma principal”, afirma Johnni Langer. Era uma religido livre como o vento do norte europeu. Ete- 36 mrroLocia uma, ReLIGIaO Para os FORTeS A Quando morriam, os guerreiros vikings tinham lugar cativo no Valhala, o paraiso dos nérdicos. Os velhos, mesmo os bons, seguiam para o inferno. tb, lirica. Nao haviam templos, ¢ 05 ritos eram feitos junto a cachoeiras, campos e bosques. “Viking era © termo usado para designar os guerreiros nérdi- cos. Posteriormente, passou a designar a civilizacao como.um todo”, esclarece Johnni. ‘A mitologia ndrdica sobreviveu gracas sobretudo ‘0s Eddas, coletneas em prosa e poesia de narrati- xvas orais preservadas na Islandia. E é uma delicia. A religido viking parece saida de um RPG, & la Dun- ‘geons and Dragons. Era uma religiio povoada de clfos, fadas, monstros e gigantes. Ede deuses, claro. Freya - uma Gisele Bindchen de eternos 17 anos ~ era a deusa da beleza. O sisudo Heimdall guardava atento a ponte em forma de arco-iris que ligava Asgard e Midgard (0 mundo humano: a Terra). Tyr, co deus da gloria, era um eximio guerreiro, apesat de maneta (0 Jobo Fenrir comera um de seus bragos). J4 0 deus boa-praca Freyr era o guardiao do mundo subterrineo dos andes. (Adivi~ nhe onde Tolkien foi buscar inspiragio para sua trilogia?) asvaLquinias A sociedade nérdica era do- ‘minada pelos valores aristocré- ticos da casta guerreira, Isso se refletia na religito viking. Os guerreiros que morriam em combate renasciam em Asgard, a Terra dos Deuses, ¢ passavam a morar no palicio de Valhala, construfdo por Odin. L4, eram acompanhados por belas esen- suis jovens - as Valquirias -, com vinho e iguarias Avontade, Tudo liberado. O Valhala era uma espé- cie de spa dos heréis, Nao era propriamente uma religido para os fracos. “Os que morrem de doen- «as, velhice ou acidentes vio para os subterrdneos do reino de Hel”, diz Johnni Langer.Os subterra- neos eram lugarzinhos ingratos, mais ou menos como as cavernas do Tértaro na mitologia grega. O elitismo religioso também estava presente nas ceri~ monias funerdrias vikings. Nobres ¢ guerrciros eram cremados dentro de seu navio, Por sua vez, 0 enterro dos corpos era visto com desdém, condi- zente com fazendeiros e pequenos artesios - gente hhonesta, mas ndo muito valente, na opiniao da eli~ \ LOKI E HEL Em Asgard, a ‘monatonia era (quebrada pelo travesso deus Loki. Ele pregava pecas einsuttava) ‘os outros deuses. Depois de uma série de roubos eassassinatas, foi condenado apassara eternidade rhuma caverna. Sua filha, Hel, ganhou dos outros deuses o pior dos trabathos: vigiar 0 reino subterréneo dos mortos pecadores. A LENDA DE BEOWULF E provavel que vocé tenha visto o filme. CO guerreiro Beowulf, Ip, dos Geats, ajuda o rel dinamarqués [57 Hrothgar ase tivrar do monstruoso Grendel, o devorador de homens, que ccostumava atacar 0 palacio em busca de Comida. Amae de Grendel, enfurecida, busca vinganca, mas oherdia segue até seu esconderijo,no fundo de um tago. Numa tonga uta para penetrar a pele ‘grossa eescamosa dacriatura, Beowulf grande tesouro se triunfa. Ahistéria do enfurece quando um filme acaba aqui. joven rouba uma Beowulf ndo.Ele _tacade sua colecao, reinaporS0.anos _Elepretendedestruir entreosGeatsaté os Geats e Beowulf que,jévelho, seve —_encarausando um diantedeum novo _escudo de erro para desafio. Um dragao_suportar ofogo que queguardavaum —_saidobicho. NORDICOS abocanhado pelo ‘dragao, maso ‘guerrelro Wiglato salva. Ovenenodo 9] halite do dragao, 7 porém,oenfraquece %@] ele morre, nao sem antes dar suas armas eseu tesouro a0jovern Wiglaf. mITOLoGia 37 J FRIGGA Nopanteao nérdico, QrHoR ‘oposto mais alto ‘poder, Thor éa entre as mulheres representacao do erao de Frigga, amor eda miseri- esposade Odin. cérdia. Com seu Chefiavaas Vatqui- indefectivel ria Para se recu~ mmartelo, gostava pperar da perda do deesmigalhar 0 fitho Balder, se cranio dos tornouarainha da ‘gigantes mais fertiidade, Cuidar do imalvados. nnascimento dos seres humanos tornou-se uma terapia ocupa- cional para. deusa enlutada. tendrdica, “Contudo, o esteredtipo do viking como ‘um bérbaro primitivo é falso”, diz Johnni Langer. No livro Os Vikings: Histéria de uma Fascinante Civilizagao (Editora Hemus, 2004), 0 historiador Johannes Brondsted mostra que a sociedade nordi- ca era bem mais sofisticada do que se imagina. O vestuério, as ferramentas ¢ as habitagbes vikings ceram to ou mais refinadas do que as existentes en. tGo no resto da Europa, Segundo a historiadora americana Jenny Jochens, a mulher também tinha uma importancia destacada na sociedade. “Elas controlavam propriedades rurais e pequenos nego cios. Participavam da confeccao das velas dos na: vios", escreveu Jenny no artigo La Femme Viking en Avance sur Son Temps, da revista Temas Medie- vales (2004). Era comum a presenga de profetisas no povo nérdico. Seriam mulheres que teriam um ‘vinculo espiritual direto com a deusa Frigga Runas ‘A adoracio entre os vikings no era restrita aos ‘deuses. Um exemplo: segundo os historiadores Mi- randa e Stephen Aldenhouse-Green, a Islandia pos- sua a figura do godi, andloga & dos druidas celtas, ‘como escrevem em The Quest for the Shaman: Sha 38 muITOLoGia pe-Shifters, Sorcerers and Spirit-Healers of An- cient Europe, de 2005. Os godi eram magos, espe- cialistas nas artes divinatérias das runas (simbolos do antigo alfabeto germénico). Contudo, a figura do sacerdote profissional nio existia na sociedade vi- king, Tal papel era circunstancial. “O povo também adorava 0s espiritos da terra”, diz Johnni Langer. Essascriaturas sutis, chamadas landvaettir, habita- vam 0s bosques ¢ as florestas. “As cabecinhas de dragio que adornavam os navios vikings estavam associadas a esses espiritos”, observa Langer. ‘Como da para ver, era uma religido até que paci- fica. Para deixar um viking espumando de odio, contudo, bastava pronunciar uma palavrinha: “eristio” .O cristianismo, muito contrério a cosmo- visto politeista viking, inspirava ddio e temor nos barbaros do norte, que tentaram em vao destruir 2 religito de Jesus Cristo, Entre os séculos 8 e 9, 08 vikings empreenderam uma série de ataquesa mos~ teiros do norte da Europa, em especial na regio {nglesa da Nortimbria. Nao era uma guerra santa. Fra pura pilhagem, Ironicamente, a visio de mundo dos cristdos europeus era to mégica quanto a dos vikings. Segundo as Crénicas Anglo-Saxdnicas, cescritas por um andnimo monge, oataque viking a0 \ BALDER E HOOR, Odin tinha dois thos, Balder eHoor, Balder era ofitho predileto, ‘o deus da beleza e do equllbrio. Hoor, cego e melo atrapathado, tinha fama de perdido. Balder tinha um segredo: nao possufa resistencia ao veneno extraldo do visco, uma planta comum na, Escandinavia, efoi morto por Loki. NORDICOS ‘mosteiro inglés de Lindisfarne, em 793 ~ data con: 11da inauguracao da civilizagio viking -, foi antecedido por uma séries de eventos premonité- rios e magicos. “Ventos terriveis. Relampagos cor- tavam o céu. Dragdes dancavam insolentes no ar € cuspiam fogo”, escreveu o assombrado monge. PaGanismo (O mundo cristo, porém, acabou por derrotar os destemidos guerreiros nérdicos. A pa dacal veioem 1066, quando o rei viking noruegués Harald Har~ drada foi derrotado na Inglaterra. “O paganismo ja nao oferecia os mesmos vinculos sobrenaturais, confortos materiais e satisfagdes cotidianas ao ho- ‘mem do norte”, diz Johnni Langer. Bra o fim dos deuses? Nao, senhor! Odin & companhia nose de- ram por veneidos tao fi jente, “No século 15, ainda haviam adoradores de Odin, que foram per- seguidos pela Inquisigdo”, diz Jonni Langer. Na lingua inglesa, os deuses nérdicos sobrevivem até hoje no calendario semanal: Tuesday (terga-feira) é uma homenagem a Tyr, Wednesday (quarta) a Odin, Thursday (quinta) a Thor, e Friday (sexta) ‘uma justa homenagem a bela Freya, Sobrevivem também na cultura pop, como mostra 0 autor Christopher Knowles em Nossos Deuses Sao Su- per-Herdis (Cultrix, 2009). Enquanto nao vier 0 Ragnarok, os deuses do norte ainda vao dar 0 que falar. Com muito som, beleza e ftria, € claro. RacnaROK A “contaminagao” da mitologia nérdica pelo cristianismo esté presente no Ragnarok: uma bata- Tha que vai ocorrer no fim do Cosmos (tal como 0 apocalipse biblico). E a tinica lenda nérdica que ‘corre no futuro ¢ comeca com a morte de Balder, filho amado de Odin eFrigga, numa trama do (quem sais?) deus Loki e seus aliados, ‘Amorte de Balder tem reflexos imediatos na Ter- ra, Tudo comeca a piorar. O inverno dura 3 anos {nteiros, os homens matam seus parentes, 0s lobos comem a Lua, as florestas secam. Deuses, hamanos, ‘monstros, todas as formas de vida se engalfinham ‘numa batalha que acaba sem vencedores. Porfim, 0 aos que antecedeu a criacio retorna. Uma imensa fogueira queima tudo, e a Terra é, enfim, engolida pelo oceano. No final, a Terra ressurge. Um casal de humanos, Life Lifthrasir, comeca a repovoar o pla- neta, Balder volta do submundo ese torna o regen- te de todo 0 Universo. 0 ciclo nérdico recomeca, ‘num novo tempo sem maldade. miTotocia 39 Aece corte eee a ae Pour cer re Solin aes eee Ber apie Pe ceetee een Bane eae ee ee Pore na re Tanase peer ieee, ts rae eer eae Shees eee Civiee poe tsdau eae nee Stee nn ed pe RLU UL) roar) EDUARDO SZKLARZ llusTRacoes ESTUDIO HELLYEAH SST ree a eco Tne Or cea aen Pr eerste eect enone een et sy eee BPS ere ro omer Cor) ate ce ea ene Renee ey Urner rN aoe ee este ee ce PCO eNO ee Coc ae ere eee Te eer maias, mexicas e astecas eerie omenmecnsenict retire keta ine) Cidade do México foi erguida em cima de um antig processes ener eet ; sangrento desejo para pacificar Rengemeestn teed tiny ee ener Ret tte aS a reo Peer ks itg cobre wirios séculos de historia, "Subjace alimento para as divindades. oes, linguas eestilosartstios da reg ieee Reoerontl CSyeesmiorustsae \ HURACAN deus docéueodeus omar, Citrate rstveram cares eee ore een atetnhe So queaiesorm sense titacdn opr Ii eaten peep arent treason Weare os@émeos [A mitologia maia tem uma arvore do mundo que néo fica devendo para sua congénere de Avatar. Ela éo simbolo da concepcdo do Universo. As suas raizes cestio fincadas na Xibalba, o Submundo, Seus galhos mais altos s20 0s paraisos. Os deuses tinham dois fills gemeos, Hun e Vucub Hunahpu. Eles gastavam a maior parte do tempo brincando e jogando bola, mas eram tao barulhentos que in comodaram os donos da Xibalba, que cenviaram mensageiros desafiando a du pla para uma partida. FE claro que quem fez.as regras do jogo foi o pessoal do Submundo. Primeiro ‘mandaram os gémeos sentar num ban: cco, mas oassento era to quente que eles pularam dali rapidinho. Depois, os man- daram para uma regido de Xibalba cha 42 mrroLocia ‘mada Casa da Noite. Eless6 tinham dois charutos e uma tocha para iluminar o lugar. Na manha seguinte, os chefbes pediram. 4 tocha eo tabaco de volta. A tocha tinha se apagado eos cha. rutos, bem, 0s charutos foram fumados, Furiosos, sentencia~ ram Hun e Vutcub & morte, les foram trucidados num saldo de jogo de bola. Hun Hunahpu foi devidamente fatiado e exibido hnuma arvore. Nasceram ali 3 frutos, as primeiras cabacas de {que se tem noticia. Uma moga chamada Xquic, que vivia na Xibatba, fot dar uma espiada na drvore. Quando tentou colher ‘um fruto, ofino Hun Hunahpu deu-Ihe uma cusparada een sgravidou. Seu pai, furioso, a sentenciou a morte também. Mas ela escapou do castigo e foi viver com a sogra. E ali nasceram ‘mais dois gemeos, Huunahpu e Xbalanque (calma, vocé nfo ests endo Cem Anos de Solidao, de Gabriel Garcia Marquez). osGémeos(PaRTe 2) {A figura mitol6gica de irmaos gemeos com poderes magicos écomum em muitas culturas, Para os maias, os ingenuose co- rajosos Hunahpu e Xbalanque, os Herdis Gémeos, arrumaram 6 terreno para a chegada dos homens. Outra vez, a luta era Contra os Senhores do Submundo, a temivel Xibalba. Eles fo- ram obrigados a passar cada noite em um lugar diferente, cheios de perigo, numa aventura mortal, ¢ enfrentaram a Casa da Noite, a das Laminas, do Jaguar, do Fogo, do Frio e, final- mente, a dos Morcegos. A cada manha, uma partida de bola ritual contra os donos do pedago. ‘Na Casa da Noite, eles se lembraram do destino do pai e do tio, que fumaram o tabaco e se deram mak: usaram pirilampos pata iluminar o cendrfo ese esconderam dentro de cachimbos. Mas, na tiltima noite, Hunahpu botou a cabega para fora do enconderijo efi degolado por um morcego. Xbalanque nao se apertou. Esculpiu outra cabega para o irmio eseguiram juntos ‘para 0 jogo contra as criaturas da Xibalba. E foi um partidago. Os Herdis Gémeos usaram a cabeca de Hunahpu como bola no comego, Depois, Xbalanque jogou a cabega longe. Um coelho f trouxe de volta eele a colou em cima do pescoco do mano. O jogo seguiu com uma bola de verdade. Os gemeos ganharam. Claro, os poderosos do Submundo ficaram furiosos com 0 truque. Ea vinganca foi uma aula de sutileza: eozinharam 08 irmfos, enterraram seus 0360s ejogaram o que sobrou num rio. ‘Mas nao é que 6 dias depois os gémeos apareceram no pedaco, denovo? Ese gabando de terem descoberto a formula para vol- tardo mundo dos mortos, Os donos de Xibalba, claro, duvida- ram dos espertalhdes. Xbalanque no se fez de rogado. Arran~ cou 0 coracao do irmao na hora ¢ o mandou levantar. Até 0 ovo de Xibalba ficou admirado, E pediu que o gémeo fizesse a mesma coisa com ele. O pedido fol atendido imediatamente. (Os irmaos cortaram a eabega de todos, mas no os trouxeram devolta vida. Quando voltaram para a Terra, foram transfor- mados no Sol e na Lua. Agora, sim, o homem poderia ser in ventado num cendrio mais tranquilo. PRE-COLOMBIANOS SACRIFICIOS HUMANOS { CATEQUIL Os sacrificios ccompensar os governoeacatedral num aso. 0.corpo )) Deus inca do rato hhumanos esto deuses,quetinham catélicaserviu60 _rolavaescada ‘edotrovao, tem mais, presentesem todas usadoopréprio __milcoracdes abaixo da pirdmide aver com fertilidade as culturas pré- sangueparacriaros humanosnafesta ritual. Os guerreiros do quecomoclima, colombianasda ——humanos.Ehaja_ de inauguracao. inimigos que Era responsavel, ‘AméricaCentral. __sangue. Templo Atécnicaconsistia. —_-morriamnoaltar de pelo nascimento Osastecasetodas Malor,dedicadoao —emfuraropeitoda _sacrifico tinhamum dos gémeos. asculturasqueos deus Sol ehoje vitimacomuma —_consolo: os astecas Podia se introduzir recederam acredi- encravadono facadeobsidiana. _achavam que, ‘numa mulher quando tavamqueasdivin- coragaodaCidade Ocoragaoeraentdo _depoiseles vivian elafazia amor com dades precisavam do México, no arrancado,ofere- para sempre, na ‘omarido e gerar dois desangueparase Z6calo, apragaque _cido ao deus de forma de bel cembrises. alimentaroupara abrigaopalaciodo _plantdoequelmado flores. acriacaoDoHomem Os deuses americanos ja existiam, Mas de que adianta ser uma divindade se nao existe ninguém para acreditar em seus poderes? Com essa ideia na cabeca, dois deuses maias, de acordo com 0 Popol ‘Vuh, resolveram criara humanidade. Gucumatz era ‘deus do mar e conversou com seu parceiro Hura- cin, o dono do céu. A primeira tentativa foi um fas co, Eles nao conseguiam nem falar o nome dos deu- ses (ok, as palavras do vocabulério da América Central daqueles tempos sto dificeis de pronunciar até hoje). S6 grunhiam. Entio foram transformados nos primeiros animais sobre a Terra ‘A segunda tentativa usou argila. Parecia um pou co melhor, 0 tinico problema era que os homens se dissolviam na agua, além de serem meio tortos e claudicantes. Os deuses ficaram bem frustrados. Fo/ am procurar ajuda com Xpiyacoc e Xmucane, bons espiritos que eram ainda mais velhos do que eles. A sugestdo: fagam os homens de madeira e as mulhe- res de junco, Eles tinham um tremendo defeito: nao honravam seus deuses. A solugio foi a mais manjada de todas: infeliz com os homens? E s6 mandar uma inundagio e acabar com a raga. E assim foi feito, Mas Huracén perseverou, Amassou milho branco ¢ amarelo até formar uma pasta. Com ela, criou os primeiros 4 homens, mas pereebeu que eles eram inteligentes demais. Entao soprou uma neblina em seus olhos para que s6 enxergassem de perto e nun- ca tentassem virar deuses. Quando acordaram, de- ram de cara com 4 mulheres, que se tornaram suas esposas. Desses casais descenderam os povos da ‘América Central. Mas tinha um problema. Eles nao sabiam fazer fogo, e foram pedir que os deuses Ihes ensinassem o segredo. Eles toparam, mas com uma condigio: em retribuigio, queriam receber sacrifi- cios de seres humanos. mirotocia 43 crviLizacao Se os deuses recebiam coragdes arrancados do peito, em tr0- caofereceram para as culturas da América Central civilizagbes avangadas que se sucederam na regio até serem destruidas pelos conguistadores espanhis no que o médico e antropélo~ {go Jared Diamond chamou de “armas, germes e ago”. O.calen~ dario maia tinha 365 dias, divididos em ciclos de 20 dias e fol ‘eriado no século 6. Fram capazes de prever eclipses e serviam para marcar dias festivos. E, claro, eram fonte de poder. "As pirdmides também sfo uma marca em comum, Nesses grandes edificios religiosos era onde costumavam ocorrer 08 sacrificios humanos. A agricultura do tabaco, do milho ¢ do cacau também foi presente divino. ‘Uma das lendas a respeito da engenhosidade dos astecas ¢ sobre a fundagao de sua capital. No século 12, quem reinavanna regio eramos toltecas. Quando a civilizaglo entrou em colap- 0, 08 ancestrais dos astecas rumaram para o sul em busca de im novo lugar para viver. Desorientados, receberam a ajuda ‘de Huitzilopochtli, o deus do Sol e da guerra, que acabara de vencer uma batalha contra sua irma Lua e seus outros 400 ir- ‘mos (as estrelas) que queriam matar sua mie. ‘A jornada durou 200 anos. Quando eles pensavam que ja~ ‘mais encontrariam um lugar para viver, deram de cara com ‘uma ilha pantanosa no meio do lago Texcoco. Bra um lugarzi- mnho bem ruim, Mas ees viram uma aguia em cima de um cac- to comendo umas frutas vermelhas. A dguia representava 0 proprio deus do Sol. A fruta vermelha, 0 coragio. Huitzilopo~ thtli avisou para sua turma: é aqui que seré construida sua ci dade, “Mexica sera aqui, disse o deus. F foi lé que ergueram ‘Tenochtitlan, “o lugar do fruto do cacto”. ra um belo desafio. Construir uma cidade no meio de um Tigo. Pots foi o que eles fizeram. Imagine Veneza. A cidade as- teea era cortada por canais, que serviam de vias de tréfego para ‘9s moradores, Calgadas e pontes ajudavam os pedestresache- {gar aos templos e aos mercados. Caminhos suspensos evavam 4 plantagbes na periferia. Quando 0s espanhois liderados por Hernan Cortés chegaram ali, em 1519, Tenochtitlan era uma das maiores, se nio a maior, cidade do mundo, com pelo me- ‘nos 250 mil habitantes. Foi uma surpresa para os visitantes. Povosposanpes ‘A América do Sul conviven com grandes civilizagdes nos Ul \ IXTAB timos 3 milénios. A maior parte delas escolheu o territério ) Deusa maia do suicitio, mais inéspito para florescer: a cordilheira dos Andes, na regio costumava ser representada onde hoje ficam o Peru, 0 Chile, a Bolivia e o Equador. A pri ‘com um anel preto sobre a ‘meira culturaa habitar a regio, segundo os arquedlogos, foia bochecha, simboto da ‘chavin, 850 anos antes de Cristo. Novos povos e seus impérios decomposigao. Seus sequidores foram se sucedendo na mesma regito até chegar ao esplendor acreditavam que o suicidio era ‘uma forma honrada de morrer. dos incas, 0 reino dominante quando da descoberta da costa ‘Quem escothia esse caminho sul-americana do Pacifico pelos espanhdis. Os povos andinos subia ao Paraiso. desenvolveram colossos arquitetOnicos, eram grandes escul- 44 miroLocia tores ¢ joalheiros, faziam roupas sofisticadas e abriam estra- das, mas no conseguiram criar uma escrita, o que prejudica a avaliagdo de seus mitos. Restaram aos especialistas analisar as imagens impressas em folhas de ouro e prata. Quer dizer, as imagens que sobraram, pois os conquistadores europeus tra taram de derreter tudo 0 que puderam. Os incas surgiram como império em 1230, na regifo de ‘Tiahuanaco, na atual Bolivia. Seus ideres julgavam-se descen- dentes de Inti, o deus Sol. Outra versdo do mito de origem lo- caliza 0s primeiros incas em Cuzco, no Peru. Ali, surgiram das ‘cavernas 3 irmos e3 irmas, que ensinaram aos reis como de- veriam vestir roupas de ouro, casar com as irmas eerguer tem- pplos nas montanhas mais altas da cordilheira. O chef era “Manco Capac, casado com a irma Mama Ocllo. Foram eles que deram inicio & dinastia dos incas. Inti era o principal deus, mas no pantedo inca havia espago para Viracocha, o deus que deu origem a tudo, a deusa da fer~ tilidade llyap’a ea deusa da Lua Mama Kylia. A lenda que mais fascinava os espanhidis, no entanto, era ade El Dorado (“o ho- mem de ouro”). Era uma tradicZo: 0s novos reis incas eram ccobertos de pé de ouro e levados ao centro de um lago, onde faziam oferendas aos deuses joganido mais ouro na égua. No jmaginério dos europeus, o homem de ouro deu lugar rapida~ ‘mentea toda uma cidade dourada, que jamais foi encontrada, LaGRImasDODeUS (0 des que ero 08 homens fot Com Tiki race emergiu das éguas do lago Titicaca e criou uma raga dé gigan- tes. Como acontece na maioria dos mitos de origem, ele ndo ficou feliz com a invencio € mandou uma inundaga@\pgra, literalmente, eeabar coma tal raga. Depois, usou alguns €1Nos do lago para criar a humanidade. No lugar dums6 povo, fez, varios. Cada um falava uma lingua, tinha seusfPéprios costu- mes e comidas. Viracocha os espalhou pelo mun. Uma va riagHo da lenda de Viracocha diz que ele, depois de eriar 0s, {neas, resolveu dar uma olhada na invencio. Se fantasiou de ‘mendigo e ficou em meio ao povo, ensinando a melhor manei- ra de viver e fazendo alguns milagres. Mas muita gente nao dava bola para o deus e assim ele voltou para sua casa nas es- trelas cheio de légrimas nos olhos. Eafirmou que um dia suas igrimas causariam uma nova inundagéo, tal quala que mata- 120s gigantes, para destruir todaa humanidade. Entre os deuses prediletos dos incas estio Mama Cocha (a ddeusa do mar) e Paca Mama (a Mae Terra). Paca era casada com, Inti, o deus Sol, e costumava ser representada nua, por vezes, com uum bebé na barriga. Fm outra lenda, mais atual, Paca ‘Mama se casa com Pachacamac, o deus do fogo e do raio. Jun- tos les criaram as estrelas,o Sol, a Lua eo mundo, A conexdo. entre os deuses e os mortais era feita pelo simpatico deus Chui cchu, oarco-itis, representado por um dragao de duas cabecas Ele era uma espécie de mensageiro entre o céu ea terra, PRE-COLOMBIANOS VIRACOCHA (deus inca Viracocha surglu das Aquas do ago Titicaca para criar uma raca de gigantes. Masa tentatva fracassou, Depois, usou seixos para criar ‘ahumanidade, Resolveu dar uma espiada na criacao endo {gostou do que vu. Por isso, choraaté hoje mirotocia 45 osterreiros de dois continentes WAGNER GUTIERREZ BARREIRA ESTUDIO HELLYEAH Nao ¢ ficil englobar toda a mitologia african: humanidade, a diversidade cultural e geogréfica do continente é enorme. Ha grandes impérios no norte, ‘como 0s egipcios € 0s povos e, ainda hoje, so nomades. endeirds e cacadores, Mas todos tém explicacdes paraa criacdo do mundo. is ou sacerdotes, que ligam o homem, a natureza , qualquer que sejaa cultura, A base das narrativas africanas éa natureza e a agao das forcas naturais sobre os homens. AFRICANOS rs Oe eo Ecc nreey Gree Carn Cut aceny Core Seem eras Entre todas as mitologias antigas, aque mais seaproximado Brasil é a africana. Os eseravos trazidos da Africa trouxeran para as Américas suas manifestagies religiosas, E elas Se espa Tharam pelo continente. Alguns exemplos: a Santeria eubatta, © vodu no Haiti ¢ o candomblé por aqui evocam deuses mile otigincirios da tradicto dos iorubas, vindos de Benin e ram. as prineipais ‘etnias escravizadas, Cerca de 500 anos antes de Cristo, a Afri jd tinha impérios, grandes cidades e uma arte sofisticada, ¢s~ pecialmente a feita com metais, como 0 bronze e 0 ouro. O genial artista espanhol Pablo Picasso costumava eontar que a luz que gerou o cubismo ao visitar uma exposi¢io de arte africana em Pari mego do século passado. Com excegd do Egito, 0s povos africanos nao dominavam a escrita, Seus mitos eram transmitidos de pai para filho pela tradicio oral, A arte que represent: ontinente foi chave usada para o mundo ocidentall mergulhar na riqueza eu tural dos herdeiros dos primeiros Homo sapiens, igéria, no oeste afrieano, e que for fa 05 deuses e heréis do ILUNGA Em Angola, Chibinda llunga é um principe cacador, ancestral dos rels lubas. Um dia, arainha de Lunda, CHIBINDA \ {ue descendia da cobra césmica {que ajudou acriar o mundo, o viu na florestae ficou apaivonada. Eles se casaram e Chibinda prometeu aos anciaos que nunca derramaria sangue humano. 48 miToLocia oovoeacaLinna ara os iorubas, onde hoje fica a Nigéria, o deus do céu Olorum (0x Olodumare) mandou seu filo Obatala aqui para baixo com ‘a missdo de criar a Terra, Na bagagem, um saquinho de terra e ‘uma galinha de dedos. Mas o papai do céu mandou junto uma palmeira, Obatala tirou a terra do saquinho, a espalhou na dgua e assim formou o solo, Entio, botou a galinha no chao e ela, ‘como boa galinha, saiu por af ciscando. Cada arranhao no eho criou um vale ou uma colina da Africa. Com a base formada, Obatala, cujos atributos so a pureza, a honestidade e a paz, comegou a criar os homens usando ar- gla (um material presente no mito de criacao da humanidade em varias culturas). Depois, fundow Ife, a primeira cidade dos forubas. Bom, ¢ a palmeira? Ela foi um presente precioso de lorum. Os primeiros humanos tiraram dela 0 suco, 0 dleo eas nozes, a base para a sobrevivencia dos homens. ‘Uma versio presente em muitas mitologias africanas afirma que os primeiros humanos no tinham sexo, Por um tempo eles ficaram felizes, mas depois notaram que estava faltando algu- ma coisa. Ento, o deus supremo fez baixar os drgios sexuais masculino e feminino, s6 que eles eram entidades independen- tes, com vida propria (tem quem acredite que é assim até hoje) (Os humanos decidiram se dividir em dois times para tocar as tarefas do dia a dia e convidaram os sexos para se juntarem a cles num dos grupos. Foi o que aconteceu, ¢ dessa forma sur: sgiram os homens e as mulheres. O fim da historia: desde que se separam por género, os humanos 36 se metem em confusdo. Se para os forubas o mundo existe por causa da ajuda de uma galinha, outros povos africanos, como os dogons, do Mali, ‘acreditam que quem apareceu primeiro foi o ovo. Um grande ovo, que guardava a semente do Cosmo. Fle vibrou 7 vezes an- tes de liberar Nommo, o espirito da criagao, Ele e seus irmaos criaram o céu, a terra, a noite €0 dia e os seres humanos. aserPenTecosmica © mito da criagdo para os fons, do Daomé, comeca com a serpente eterna Aido-Hwedo e sua mulher, Mawu, a criadora de todas as coisas. Dela sairam outros deuses, tantos que ele no conseguia se lembrar do nome de todos. “A cobra oua ser~ pente é uma das criaturas mais disseminadas pela mitologia africana. O conceito de uma serpente césmica como forca pri- eva da criagio ¢ especialmente importante”, afirma oantro- pologo Roy Willis em Mitologias (Publifolha, 2006). Para arrumar tum canto para os humanos, Mawu cavalgou @ serpente cdsmica em busca de um lugar, ¢ desse passeio eles criaram a Terra na forma de uma cabaga, cercada de égua por todos os lados. As coisas daqui foram moldadas pelo ritmo da cobra, ¢ enquanto ela serpenteava vales e ros ganhavam for- ‘ma. E por isso que coisas da Terra sao curvas e onduladas ~ se~ guem o jeito de se locomover do deus-serpente. © cocd da cobra se transformou nas montanhas. Com o tempo, ficou tio duro que deu origem as pedras. Dentro dessas montanhas cexistem metais preciosos, o legado do deus para os homens. Parecia bom esse mundo, nfo? S6 tinha um problema: com, tantos minérios, pessoas, bichos e plantas, a Terra ficou pesa~ da ecomegou a afundar. Mawu pedi que o marido segurasse planeta, A serpente topou na hora. Preferia a dgua gelada ao calor abrasador da superficie. E ests Id até hoje. Quando tenta se enrolar no céu, aparece na forma de um arco-iris. Quando da uma mexidinha, costuma provocar um terremoto. Diz a Jenda que um dia o deus-cobra vai morder o proprio rabo e,, quando isso acontecer, o mundo vai afundar no mar, aaranHanumanista E possivel ser um heréi e um trapaceiro ao mesmo tempo? Pergunte ao povo achanti, de Gana, Para eles, a aranha Anan- se éuum simbolo de que o intelecto pode superar a forca fisica. Ela € uma espécie de intermediéria entre os homens ea deusa do céu, Nyame. Ela estava amuada porque, apesar de ser uma deusa criadora, estava longe de suas criaturas, e Ananse subia ce descia para a Terra usando sua tela para ver como as coisas estavam aqui embaixo. E levava os recados para a deusa. Cada vez.que descia ouvia uma reclamacio, Primeiro, de que 0s homens trabalhavam sem parar nos campos e nao tinham, tempo de descansar. Fla ajudou a providenciar a noite, para que eles pudessem dormir. Mas os homens ficaram com medo, do escuro, e entfo a deusa colocot a Lua no céu. Os reclamoes insistiram e disseram que sentiam muito, muito frio. Ea deu- sa inventou o Sol. Dai, claro, as coisas ficaram muito quentes para os humanos, ea aranha foi contar isso para a deusa, que mandow chuva para aplacar o calor, Foi tanta chuva que inun~ dou todos os campos, e de novo Ananse pediu a Nyame que resolvesse o problema, A deusa topou e tudo ficou bem. Mas o negécio da aranha Ananse era mesmo levar vantagem. E uma vez se deu bem com a deusa Nyame usando seu reper- torio de truques. A deusa era dona de todas as historias do mundo, ¢ a aranha resolveu comprar a colecio, Como paga- ‘mento, Nyame pediu uma vespa, uma piton (cobra africana do tamanho de uma sucuri) e um leopardo. A aranha enganou as vespas e as prendeu numa cabaga. Depois, foi encontrar aco bra levando um grande bastio. Disse que nao tinha ideia do tamanho dele e pediu que a piton a ajudasse. Quando a cobra se esticou no bastdo, Ananse a amarrou pelo rabo e pela cabe- a. Por fim, @ aranha cavou um pogo ¢ o cobriu com galhos e amos. Foi onde caiu 0 leopardo. Por isso, aarana é dona de todas as histdrias do mundo (desta que vocé Ie, inclusive) ‘Uma vez, um elefante entediado resolveu desatiar todos os animais para um concurso de cabegadas. F claro que todos de- ram um jeito de eair fora, menos aranha Ananse. A regra do jogo previa que a competicdo deveria durar 14 noites. Na pri- meira semana, o elefante daria as cabegadas. Na seguinte, se sobrevivesse, seria a vez da aranha. Na primeira noite, Ananse \ AFRICANOS O FERREIRO CELESTE Para os fons, do Benin, Gu erao ferreiro celeste, encarregado pelos deuses detornar aterra habitével para oshumanos. Ele osensinouamoldar oferro, a fazer ferramentas, tecer econs- truir casas. E ainda levaafama deter dado o arado para os hhumanos cultivarem a tera. miToLocia 49 —Ko= Exue fa vivian Juntos, mas tinham ‘espiritos bem dife- rentes féensinara ‘29s humanos 0s segredos damedi- cina eda profecia. Exuadorava uma trapaga. Certa vez, disse aif que ria arruiné-to. if respondeu que qualquer coisa que ‘acontecesse ale aconteceria para Exu. Numa noite, xu roubou um gato, cortou sua cabeca e escondeu os pedacos. Depols acordou lfaeambos sairam correndo dos ‘humanos. Subiram numa patmeira, mas osaldedes cortaram a arvore. Nolugar deencontré-los, deram de cara com uma pedrae uma, pocad'agua. Quando othavam para apedra (Ext), fieavam agoniados € ‘com calor. Mas, quando viraram para poca, tudo ‘mudou. 0 chefe sacou oquetinha acontecido e disse "Nés, da mundo, nos ccurvamos eos. adoramos' —W———_ SINCRETISMO NO BRASIL Qualquer brasileiro ja ‘ouviu falar de sinere- tismo, a mistura de ‘deuses das religides africanas com santos cat6licns. Ocurioso éa ‘quea palavra ver dos ‘gregos. Quer dizer federagao de Creta. Plutarcousoua expressao para dizer que os homens dela sabiam deixar as dife- 50 mrroLocia rengas de lado ese tnir pelo bem comum. De volta ao caso afro- brasileiro, osinere- tismo fol ojeito de manter 0s mitos vivos, pols asreligives afr canas eram reprimidas pelos sentiores de fescravos e, mais tarde, pela polica. Assim, femanja, a deusa das guas, ganhou um correspondente em Nossa Senhora, Oxalé, se identificou com Jesus Cristo, e assim pordiante. Mashavia ‘um problema. Que santo poderia ser Exu? Na Africa, ete é um deus sexista. cheio de ‘truques, Acabou sobrando o capeta. Na mitologia africana, ‘osconceltos de bem e Ustas, ndofaz relacionar Exua figuraruim, De acordo com alguns historiadores, 0 terreiro de candomblé éarecuperacao simb6lica da terra, africana, que 0s rnegros delxaram para tras ao se tornarem escravos. Hoje existe 3 milhoes de prati- cantes de religides africanas no Brasil, segundo o itimo ccenso (evariagdes ‘comoovoduea ssanterfa no Caribe) @ os terreiros funcionam Livremente, como qualquer templo.S6 ‘em Salvador eles passam de 2 mil. convidou um antilope & sua casa e ofereceu comida a cle. O elefante apareceu, mandou a cabecada e despachou o antilope para o outro mundo. Aaranha fez.a mesma coisa com outros animais até chegar a sua hora no jogo. Ento, pegou um martelo ¢ uma cunha, mirou bem no meio da cabega do elefante e ‘omatou com ums6 golpe. esPeRTezas Deexu Exu 60 reida confusio entre os homens ¢ os deuses iorubas. ta vez, ele resolven atazanar a vida de dois grandes amigos. Os dois tinham fazendas vizinhas, estavam sempre juntos ¢ a tiam as mesmas roupas. Tama- nha amizade era demais para Exu Ele imaginou um truque para separar a dupla. Vestiu um chapéu que era preto de um lado ebranco do outro, Botou um ¢ cchimbo atris da eabeca e um ca- jado nas costas e passou pela di visa das duas fazendas. Osdoisamigos, que concorda- ‘vam em tudo, comecaram a dis cutir sobre a cor do chapén e a direcdo para onde ia o viajante. © bate-boca cresceu tanto que chegou 20s ouvidos do rei do lu- ‘gar. Os dois foram convocados 20 Palicio e fiearam se acusando de Tmentiroso, até que apareceu Fxu, para dizer que, de fato, no cram mentirosos, apenas tolos. O rei ficou furioso com o deus mandou seus guerreiros atris dele. Por onde passava, Exu queimava as casas. Osmoradores tiravam delas o que podiam e 0 deus pedia para tomar conta dos objetos. Mas os dava de presente aqualquer um que passasse poral Dessa forma, oreino ficou pobre eo deus se vingou. Mas os homens no eram as tinicas vitimas dos truques de Exu, Os deuses também caiam neles, até ‘omais poderoso. Uma lenda afirma que Exu procu- rou 0 Deus Supremo para avisé-Io de que alguém. queria roubar sua plantacao de inhame. A noite, en- {rou no quarto do deus, roubou suas sandalias e foi colher o inhame, De manha, Exu avisou ao deus que —_—=66= conTos em eue omais e€SPERTO vence omais FORTE ‘Em vérias etnias africanas existem historias milenares nas quais a inteli- gencia supera a forea fisica. E muitos deuses fazem da esperteza sua principal arma contra os poderosos. —a— AFRICANOS sua horta tina sido roubada, mas que seria féeil encontrar 0 ladrao, pois ele deixara pegadas espa~ Ihadas na roca. Bastava encontrar o dono delas. ‘Todo mundo foi chamado, mas nenhum pé seen caixava na pegada gigantesca. Entao Exu sugeriu que, quem sabe, o proprio deus nao teria surrupia~ doo legume enquanto dormia. Claro quea marca na terra era dele, pois fora feita com a sua sanddlia, Para cast ‘gar Exu, disse que ele deveria se mandar do mundo. Toda noite, le 6 obrigado a subir a0 céue prestar contas do que aconte- ceu agui na Terra, Por isso é considerado 0 mensageiro dos deuses pelos iorubas, aLepree aTaRTaRuca Nao, voce nao vai ler aqui que a lebre e a tartaruga apos- taram corrida e a tartaruga venceu no final. Alenda africa~ haconta que, numa temporada brava de seca, totos os animais tentaram encontrar dgua, me~ nos a lebre, que no queria ser incomodada. A tartaruga esca rafuchou 0 leito seco do rio e ‘conseguiu achar uma poca. Os animais imaginaram quea lebre, preguigosae ladina, ten taria roubar a dgua ¢ resolve- ram ficar de guarda, Na primei- 1a noite, foi a vez da hiena. A lebre a enganou e saiu da poga carregando algumas cabagas. Na noite seguinte foi o turno do Jeao, igualmente enrolado pela Jebre. Atartaruga foia terceira Ela passou tum pegajoso cocd de passaro no casco € mergulhou no fundo da poga, Quando a lebre chegou, pensou que nao tinha nin- guém de guardaee resolveu que além de roubar égua ‘merecia tomar um banho. Logo que mergulhou, seus pés colaram no casco da tartaruga. Na manha seguinte, ela foi punida por todos os animais. Ok. Nao era a hist6ria da corrida, Mas de novo é uma mostra de como a inteligéncia e a calma podem veneer atributos fisicos, uma imagem que aparece constantemente nas hist6rias africanas mironocia 51 QUE COMEC rae CRISTO E Se aN PELA IDADE MEDIA Sones ue XCOKe ae oie z Terre cme peo ¥ si r a Cee b ren nese ORR ogee Rcd po ninatice So Prater Mn Okie emer nerscect nnn cree sc i Stnwsetey recog) cultura celta ficou restrta as ilhas que hoje formam a Gri Pen eye eco Orc MMM CMR ce LU os celtas fundaram reece ett renee Pecere nna Per re ei er etait emare ten teahice ton oes territorio que comeca nas ilhas _ bem (owacha que conhece). F a do rei Arthur. Deere eee non Cree ee te Uke anna pyre) Prenton) Ae MMR tr eee ee Sot Lestat neers reenter t cen es Mewar sy nce ket Pert een toe rod Peete ons Rear tr tre Monn nro ona Sort ce Cce r E c US eo Ce a Serr ma etna Oe KOM Ecc Lee Cee ee a Peer tes (Ue Tegoco ecco eee races pois. Masa base da historia era uma antiga lenda celta, ert ann cnr i tie) coc Etre eure econ oe cece ts Cen nses Cece eta) geen eee etuects freon rears Pech Cam caneC) Medb, arainha de ets Bestia Cotte Coens renorts Poretay oo vee Erosaig eecuea Prorene Ly COeenen tec Pores Nein Ciro er vvalos persequiue eer onsets sérios por dia com errr ct) ees — ocaopecutann ara os especialistas em mitologia celta, 0 relato de Tein BS Chuailgné é compavel A Iliada grega, com 6 heréi Cuchulain fazendo as vezes de Ulises. A hhist6ria costuma ser situada no século 1 da era cris~ td e faz parte de um grupo de relatos conhecido ‘como “Ciclo de Ulster”. A forma como ela sobrevi- ‘veu até nossos dias € significativa: em duas verses escritas, em prosa, compiladas nos séculos 12 € 14. Em geral, assim é mitologia celta que conhecemos: compilagdes realizadas na Idade Média a partir dos relatos orais de uma pequena parte do extenso ter- ritdrio ocupado por esse povo. Cuchulain & um grande her6i celta, mas nem ti- nnha esse nome quando nasceu. Fle se chamava Se danta eera filho do deus Lugh, o deus Sol dos irlan- deses e um grande guerreiro, Sua mie era a mortal Deichtine. Quando era apenas uum garoto, 0 rei de Ulster, Conchobar, convidou para uma festa na casa de Culann, o Ferreiro. Mas ele chegou tarde ¢ foi atacado pelo cao de guarda do ferreiro. O meni ‘no matou 0 cachorréo com as préprias mos € 0 dono da casa ficou inconsolavel. Para acalmd-Io, prometeu ele mesmo fazer a guarda da casa até que Oo ferreiro pudesse treinar outro cdo. Entdo, ganhou (o nome de Cuchulain, “o cachorro de Culann” © edo, para os celtas, era considerado um animal ‘a0 mesmo tempo forte ¢ leal ~ 0s principais atributos do nosso futuro heréi. Certa vez, Cuchulain dirigiu-se a Conchobar. Pe-

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