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O que faz a histéria oral diferente’ Alessandro Portelli Tradugdo: Maria Therezinha Janine Ribeiro Revisdo técnica: Dea Ribeiro Fenelon “Sim”, disse Mrs. Oliver, “e enti quando vieram falar sobre isto muito tempo depois, haviam encontrado a solugo que eles proprios tinham criado. Aquilo néo é excessivamente henéfico, 62” “Isto & benéfico” disse Poirot... “é importante conhecer certos fatos que tém se arrastado na meméria do povo embora sem que saibam exatamente de que fato se trata, por que aconteceu ou 0 que levou a isso. Mas eles podem facilmente saber alo que ndo sabemos & que néo temos meios de aprender. Assim nisso tem havido memérias guiando para teorias: Agatha Christie Elefantes podem lembrar Suas pesquisas histdricas, entretanto, ndo se situavam tanto entre livros como entre homens; pois os primeiros eram lamentavelmente extguos em seus t6picos favoritos; ao passo que encontrou velhos muntcipes, e ainda mais suas esposas, ricas naquele legendério saber, tdo sem valor para a verdadeira historia. Sempre que, em seguida, acontecia deparar-se com uma familia genuinamente alema, comodamente agasalhada em sua casa de fazenda de teto baixo, sobre um sicdmoro expandido, considerava a situagao como um pequeno volume afivelado de letras géticas, e 0 estudava com o zelo de um alfarrabista’’. Washington Irving Rip Van Winkle * Uma primeira versio, “Sulla specifita della storia orale”, apareceu em Primo Maggio, 13 (Milano, Itélia, 1979), pp. 54-60; foi reimpressa como “On the peculiaridades of oral history”, em History Workshop Joumal, 12 (Oxford, England, 1981), pp. 96-107. ** NT. Aqui também poderia ser traduzido figurativamente como trabalho de uma traga de biblioteca. Proj. Histéria, Sao Paulo, (14), fev. 1997 25 Memorias levando a teorias Um espectro esté assombrando 0s muros da academia: 0 espectro da hist6ria oral. A comunidade intelectual italiana, sempre suspeitosa das novidades de fora - ¢ ainda se apressou a por de lado a assim to subserviente para “descobertas estrangeiras” historia oral antes de procurar entendé-la ¢ saber como usé-la. O método empregado foi o de imputar a historia oral pretensdes que esta nao possuia, de modo a deixar a mente de todos a vontade para recusé-las. Por exemplo, La Repubblica, 0 jomal diario mais intelectual ¢ internacionalmente orientado, precipitou-se a destituir “descrigdes populares € os pacotes artificiais da hist6ria oral em que as coisas parecem mover © 0 coisa falar por clas mesmas”, sem se deter em explicar que nao s . mas sim 0 pove (nao obstante © povo sempre ter sido considerado como “coisa”) que a hist6ria oral espera que “se movimente e fale por si mesmo”! Parece se temer que uma vez aberlos os portées da oralidade, a escrita (¢ a racio- nalidade junto com ela) sera varrida como que por uma massa espontinea incontrolavel de fluidos, material amorfo. Mas esta atitude cegs nos para 0 fato de que nosso temor respeitoso de escrever tenha distorcido nossa percepgao de linguagem e comunicagio até 0 ponto em que ndo mais se entendem quer a oralidade quer a propria natureza da escrita, Na realidade, as fontes escritas ¢ orais nao séo mutuamente excludentes. Elas tém em comum caracteristicas aut6nomas ¢ fungdes especifi “as que somente uma ou outra pode preencher (ou que um conjunto de fontes preenche melhor que a outra) interpretativos diferentes ¢ especiticos. Mas a de- Desta forma. requercm instrumentos. > © a supervalorizacdo das fontes orais terminam por cancelar as qualidade: precia especificas, tornando estas fontcs ou meros suportes para fontes tradicionais escritas, ou cura iluséria para todas as docngas. Este capitulo tentard sugerir algum dos caminhos nos quais histéria oral ¢ diferente, intrinsecamente ¢, portanto, wtil, especificamente A oralidade das fontes orais Fontes orais sao fontes orais. Os académicos esti querendo admitir que 0 docu- mento real ¢ 0 teipe gravado; mas quase tudo fica para o trabalho das transcrigoes, ¢ 1 Beniamino, P. La Republica, outubro de 26 Proj. Historia, Sao Paulo, (14), fer. 1997 somente os transcritos so publicados.’ Ocasionalmente, tcipes so realmente destruidos: um caso simbélico da destruigao da palavra falada. A transcrigao transforma objctos auditivos em visuais, 0 que inevitavelmente im- plica mudangas ¢ interpretagao. A eficdcia diferente de gravagdes, quando comparadas a transcrigdes — para propésitos de sala de aula, por exemplo — pode somente ser apre- ciada por experiéncia direta. Esta ¢ uma razdio por que creio ser desnecessério dar Jo aos novos e mais fechados métodos de wanscrigao. A expectativa da io substituir o teipe para propésitos cientificos ¢ equivalente a fazer critica de arte em reprodugées, ou critica literaria em traduges. A mais literal uadugao ¢ dificil- mente a melhor, ¢ uma tradugio verdadeiramente fiel sempre implica certa quantidade de invengao, O mesmo pode ser verdade para a transcrigao de fontes orais. Siva aten A desatengao 2 oralidade das fontes orais tem sustentagao direta na teoria interpre S orais tativa. O primeiro aspecto que é usualmente destacado & sobre a origem: as font dio-nos informagées sobre © povo iletrado ou grupos sociais cuja histéria escrita é ou falha ou distorcida, Outro aspecto diz respeito ao contedo: a vida didria ¢ a cultura material destas pessoas ¢ grupos. Entrctanto, nfo ha referéncias especfficas a fontes orais. Cartas de emigrantes. por cxemplo, tém a mesma origem ¢ teor, mas foram es- critas. Por outro lado, muitos projetos de hist6ria oral tém coletado entrevistas com membros de grupos sociais que usam a escrita, ¢ dizem respeito a t6picos usualmente cobertos por material de arquivo de escrita padrdo. Nao obstante, a origem ¢ a satisfagio nao sao suficientes para distinguir fontes orais do leque de fontes utilizadas pela histéria social em geral; assim, muitas teorias da histéria oral sao de fato teorias de histéria social como um todo.* Na busca de um fator discernente, podemos conseqiientemente recuar para meto- dizar. Nao ¢ provavel que necessitemos repetir que a escrita representa a linguagem quase exclusivamente por meio de tragos scgmentirios (grafemas, sflabas, palavras ¢ sentengas), Mas a linguagem também € composta por outro conjunto de tragos, que nao 2 Uma excegio italiana & 0 Instituto Emesto De Martina, uma organizagio radical independente de pesqui que publicou “arquivos sonoros” em discos long-playing desde meados dos anos 60 — sem que houvesse qualquer noticia no establishment cultural, Ver Coggiola, F. “L'ativité dell Instituto Emesto de Martino”, In: Carpitella, D. (ed). L’emomusicologia in Idlia, Palermo, Placcovio, 1975, pp. 265-70. sediada em M 1 Luisa Passerini (‘Sull utilité ¢ il danno delle fontiorali per la storia”, Introdugao a Passerini, L. (ed.). Storia Orale. Vita quotidiana e cultura materiale delle classi subalterne, Torino, Rosemberg ¢ Sellier, 1978) discute o relacionamento da histéria social. Proj. Histéria, Sda Paulo, (14), fev. 1997 27 podem ser contidos dentro de um nico segmento, mas também sao portadores do significado. A fileira de tom e volume ¢ 0 ritmo do discurso popular carregam implicitos significados e conotagGes sociais irreproduziveis na escrita — a nao ser, e entéo de modo inadequado ¢ nao facilmente acessfvel, como notagdo musical.‘ A mesma afirmativa pode ter consideraveis significagdes contraditorias, de acordo com a entonagdo do re- lator, que pode ser represcntado objetivamente na transcri¢éo, mas somente descrito aproximadamente nas proprias palavras do transcritor. A fim de tomar a transcrigéo legivel, 6 usualmente necessario inserir sinais de pontuacdo, sempre, mais ou menos, adicao arbitraria do transcritor. A pontuagdo indica pausas distribuidas de acordo com regras gramaticais: cada sinal tem um lugar conven- cional, significaciio ¢ comprimento. Estes quase nunca coincidem com os ritmos e pau- sas do sujeito falante, ¢, portanto, terminam por confinar 0 discurso dentro de regras gramaticais ¢ légicas nao necessariamente seguidas por ele. A posigao e 0 exato com- primento da pausa tém uma importante fungdo no entendimento do significado do dis- curso, pausas gramaticais regulares tendem a organizar o que € dito em torno de um modelo referencial basicamente explicativo, a0 passo que pausas de posigéo ¢ compri- mento irregulares acentuam o contetido emocional, e pausas ritmicas muito pesadas Jembram o estilo de narrativas épicas. Muitos narradores desviam-se de um tipo de ritmo para outro na mesma entrevista, quando sua atitude em relagdo 4 matéria em discussio muda. Naturalmente, isto pode somente ser percebido se se ouve, nio se se Ie. Pode-se notar uma situagéo similar em relagdo 4 velocidade do discurso ¢ suas mudangas durante a entrevista. Nao h4 regras fixas de interpretagdo: diminuigao de ritmo pode significar tanto énfase maior como maior dificuldade, ¢ a aceleragéo pode mostrar um descjo de escorregar sobre certos pontos também como maior familiaridade ou facilidade, Em todos 0s casos, a andlise de mudangas na velocidade deve ser com- binada com andlises ritmicas. Mudangas sao, entretanto, a norma no discurso, enquanto que a regularidade é a norma da escrita (a impressa mais de todas) ¢ a norma presumida da leitura: variagdes so introduzidas pelo leitor e nao pelo texto em si. 4 Sobre a notagao musical como reprodugéo de sons de discurso, ver Marini, G. “Musica popolare ¢ parlato popolare urbano”, In: Circolo Gianni Bosio (ed.). I giorgi cantati. Milano, Mazzotta, 1978, pp. 32-4; e Lomax, A. Folk song styles and culture. Washington D.C., American Association for the Advan- centment of Sciences, 1968, publication n° 88, que discute a representagio eletrénica de estilos vocais. 28 Proj. Historia, Sao Paulo, (14), fev. 1997 Isto nao € uma questdo de pureza filolégica. Tragos que nao podem ser contidos dentro de segmento s&o 0 local (nao exclusivo, mas muito importante) das fungdes narrativas essenciais: eles revelam as emogées do narrador, sua participagao na historia ea forma pela qual a hist6ria 0 afetou. Isto sempre envolve atitudes de que quem fala podia nao estar apto (ou desejar) a se expressar de outro modo, ou elementos nao totalmente dentro de seu controle. Abolindo estes, tornamos insipido 0 contetido emo- cional do discurso inclinado para a equanimidade ¢ objetividade do documento escrito Isto € mais verdadeiro quando informantes do povo esto envolvidos: eles podem ser pobres em vocabuldrio, mas sempre mais ricos em variagdes de matizes, volume e entonagao que os oradores da classe média, os quais aprendem a imitar no discurso a monotonia da escrita” A histéria oral como narrativa As fontes hist6ricas orais séo fontes narrativas. Daf a andlise dos materiais da historia oral dever se avaliar a partir de algumas categorias gerais desenvolvidas pela teoria narrativa na literatura e no folclore. Isto é tao verdadeiro no testemunho recolhido ‘em entrevistas livres quanto nos materiais de folclore organizados de modo mais formal. Por exemplo, algumas narrativas contém recursos na “velocidade” da narragdo, isto 6 na propor¢do entre a duragéo dos eventos descritos ¢ a duracdo da narragao. Um informante pode relatar em poucas palavras experiéncias que duraram longo tempo ou discorrer minuciosamente sobre breves episddios. Estas oscilagées sao significativas, embora nao possamos estabelecer uma norma geral de interpretagao: apoiar-se em um epis6dio pode ser um caminho para salientar sua importancia, mas também pode ser uma estratégia para desviar a atengao de outros pontos mais delicados. Em todos os casos, hd uma relacao entre a velocidade da narragdo ¢ a intengao do narrador. O mesmo pode ser dito de outras categorias entre aquelas claboradas por Gérard Genette, tais como “distancia” ou “perspectiva” que definem a posigao do narrador com relagao a hist6ria® 5 Ver Labov, W. “The Logic of Non-Standard English”. In: Kampf. L. e Lauter, P. (eds.). The politics of literature. New York, Random House, 1970, pp. 194-244 sobre as qualidades expressivas de discursos ndo-padronizados. 6 Neste artigo, uso estes termos como foram definidos ¢ utilizados por Gérard Genette, em Figures II, (Paris, Seuil, 1972). Proj. Histéria, Sdo Paulo, (14), fev. 1997 29 4 wadigao da narrativa popular. Fontes orais de classes nao hegem@nicas siio ligadas Nesta tradigao as distingSes enue géneros de narrativa sao percebidas diferentemente da tradi¢ao cscrita das classes educadas. Isto é verdade na distingaéo genérica enue narrativas “factu: c¢ “artisticas”, entre “eventos” ¢ sentimento ou imaginagao. En- quanto a percepgdo de um registro como “verdade” é relevante tanto para a Ienda como al ¢ para a memoria hist6rica, nao ha géneros de hist6ria oral para a experi¢ncia pe: especificamente destinados a transmitirem informagoes histéricas; as narrativas histori- cas, poéticas e miticas sempre se tomam inextricavelmente misturadas.” O resultado siio narrativas nas quais a fronteira entre o que toma o lugar fora do narrador ¢ o que acontcce dentro, entre © que diz, respeito ao individual ¢ 0 que diz. respeito ao grupo, pode se tomar mais cnganosa que os géneros escritos estabelecidos, de modo que a “yerdade” pessoal possa coincidir com a “imaginagdo” compartilhada. Cada um destes fatores pod ou menor presenga de materiais formalizados (provérbios, cangées, formulas ¢ esteres- lipos) pode medir © grau no qual um ponto de vista coletivo existe dentro da narrativa € 0 dialeto sao. sempre r reyelado por agentes formais ¢ estilisticos. A maior do individuo. Estes descompassos entre a linguagem padra sinal de um tipo de controle que os expositores tém sobre sua fala. ‘Uma estrutura recorrente Upica 6 aquela na qual a linguagem standard é usada de S OU ancdotas singclas, um extremo ao outro, enquanto 0 dialcto brota em digress coincidindo com um enyolvimento mais pessoal do narrador ou (como quando as ocor- réncias de dialeto coincidem com linguagem formalizada) a intrusdo da memoria cole- tiva. De outro lado, a linguagem padriio pode emergir em um dialeto narrativo quando se relaciona com (cmas mais profundamente conectados com a esfera publica, tal como a politica. Outra vez, isto pode significar simultaneamente um grau de consciéncia maior ou menor de indiferenga ou um processo de “conquista” de uma forma mais “educada” S Por outro lado, a dialetizagaio de expresso comegando com participagao em politic: 7 Sobre distingdes de género a respeito de navativa oral e folelGrica, ver Ben-Amos, D. Catégoties analy liques et genres populares. Poérique, 19, 1974, pp. 268-93; © Vansina, J. Oral tradition, Varmonds worth, Middlesex, Penguin Books, 1973 [1961] 8 Por exemplo, Gaetano Bondoni, ativista comunista de Roma falow sobre sua familia © sua comunidade preferencialmente em dialeto, mas mudou para uma forma mais estandartizada de italiano assim que quis reafirmar sua fidelidade ao partido, O desvio mostrou que, embora ele aceitasse as decises do as diretas, Sua recoréncia ao idioma signifi- x Circolo Gianni Bosio. J giomi canta partido, elas permaneciam diferentes de suas experié cava: “Nao hé nada que voot possa fazer sobre isto”. pp. 58-6. 30 Proj. Historia, Sdo Paulo, (14), fev. 1997 jade do discurso tradicional e do caminho de termos técnicos pode ser sinal da vitali pelo qual os narradores se cmpenham cm ampliar a area expressiva de sua cultura Eventos e significados A primeira coisa que torna a hist6ria oral diferente, portanto, 6 aquela que nos conta menos sobre eventos que sobre significados. Isso nao implica que a hist6ria oral nao tenha validade factual. Entrevistas sempre revclam eventos desconhecidos ou as- pectos desconhecidos de eventos conhecidos: clas sempre langam nova luz sobre arcas inexploradas da vida didria das classes nZio hegem@nicas. Deste ponto de vista, 0 tinico problema colocado pelas fontes orais ¢ aquele da verificagdo (ao qual retornarei na proxima secgao). Mas 0 tnico e preci que nenhuma outra fonte possui cm medida igual, ¢ a subjctividade do expositor. Sea 0 contraria so elemento que as fontes orais tém sobre o historiador, € aproximacao para a busca 6 suficientemente ampla e articulada, uma se se pode emergir. Fontes orais contam-nos nao da subjetividade de um grupo ou cla apenas © que 0 povo fez, mas o que queria fazer, 0 que acreditava estar fazendo ¢ 0 que agora pensa que fez. Fontes orais podem nao adicionar muito ao que sabemos, por exemplo, © custo material de uma greve para os trabalhadores envolvidos; mas con- tam-nos bastante sobre seus custos psicolégicos. Emprestando uma categoria literaria dos formalistas russos, podemos dizer que fontes orais, especialmente de grupos nao- hegemGnicos, sio uma integracdo muito titil de outras fontes tio distantes quanto a fabula — a seqiiéncia légica, causal da histéria ~ alcanga, mas clas se tornam Gnicas © necessirias por causa do scu enredo — 0 caminho no qual os matcriais da hist6ria sao organivados pelos narradores de forma a conti-la” A construgao da narrativa revela um grande empenho na relagio do relator com a sua hist6ria, Subjetivamente, faz tanto parte da hist6ria quanto os “fatos” mais visiveis. O que os informantes acreditam ¢ na verdade em um faro hist6rico (isto , 0 fato no qual cles créem), tanto como naquilo que realmente aconteccu, Quando trabalhadores em Terni colocam mal um evento crucial de sua hist6ria (a morte de Luigi Trastulli), de uma 9 Sobre fabula © conspiragao, vor Tomasevskij, B. “Sjuzetnoe postrocnie™, In; Teorija literature. Poetika. Moscow/l.cningrado, 1928. Tradugio italiana: “La construzione dell intteccio”. In: Todoroy, T. (ed). Lformalisti russi, Turim, Einaudi, 1968; publicado como Théorie de la littérature. Paris, Seuil, 1965, Proj. Histiria, Sao Paulo, (14), fev, 1997 3 data € contexto para outro, isto nao langa diividas na atual cronologia, mas forga-nos a rearranjar nossa interpretagao de uma fase inteira da historia da cidade. Quando um velho lider de tropa, também em Temi, imagina uma hist6ria sobre como ele quase conseguiu reverter a estratégia do Partido Comunista, apés a Segunda Grande Guerra, nao revisamos nossas reconstrugdes de debates politicos dentro da esquerda, mas apren- demos a extensao do custo real de certas decisées para aqueles militantes ativos que tiveram de enterrar no subconsciente suas necessidades e desejo de revolugio. Quando descobrimos que historias similares s4o contadas em outras partes do pais, reconhecemos um complexo legendério meio-formado no qual os “devaneios senis” de um velho ho- mem desapontado revelam muito sobre a hist6ria do seu partido, ndo contada na ex- tenstio e memérias Iticidas de seus Iideres oficiais.'° Acreditariamos nas fontes orais? Fontes orais sio aceitaveis mas com uma credibilidade diferente. A importancia do testemunho oral pode se situar nao em sua aderéncia ao fato, mas de preferéncia em seu afastamento dele, como imaginaga4o, simbolismo e desejo de emergir. Por isso, nao ha “falsas” fontes orais. Uma vez que tenhamos checado sua credibilidade factual com todos os critérios estabelecidos do criticismo filolégico e verificagaéo factual, que sao requeridos por todos os tipos de fontes em qualquer circunstancia, a diversidade da hist6ria oral consiste no fato de que afirmativas “erradas” sao ainda psicologicamente “corretas”, € que esta verdade pode ser igualmente téo importante quanto registros fac- tuais confidveis. Naturalmente, isto ndo quer dizer que aceitemos 0 preconceito dominante que vé a credibilidade factual como monopélio dos documentos escritos. Constantemente, do- cumentos escritos so somente a transmisséo sem controle de fontes orais no identi- ficadas (como no caso do relato da morte de Trastulli, que comega: “De acordo com informacao oral obtida...”). A passagem destas “Ur-fontes” para 0 documento escrito € sempre 0 resultado de processos que nao tém credibilidade cientifica e estéo freqiien- temente carregados com tendéncias de classe. Em gravagées de julgamentos (ao menos na Italia, onde nenhum valor legal € dado ao teipe gravado ou a transcrigGes taquigra- ficas), 0 que efetivamente € registrado nao so as palavras realmente ditas pelas teste- 10 Estas hist6rias foram discutidas nos capitulos 1 ¢ 6. 32 Proj. Histéria, Sado Paulo, (14), fev. 1997 munhas, mas um sumério ditado pelo juiz para o escrivao. A distorcao inerente em tal procedimento fica além da avaliagao, especialmente quando os narradores originalmente se expressaram em dialeto. Mesmo assim, muitos historiadores que viram seus narizes para fontes orais aceitam essas transcrigdes legais sem as questionarem. Numa medida menor (gragas ao freqiiente uso da taquigrafia) isto se aplica a gravagdes parlamentares, minutas de reuniGes e convengées ¢ entrevistas reportadas em jomais: todas as fontes que sao legitima e largamente usadas em pesquisas hist6ricas standard. Um sub-produto deste preconceito é a insisténcia de que as fontes orais se situam distantes dos eventos e, por isso, submetem-se a distorgao da meméria imperfeita. Na verdade, este problema existe para muitos documentos escritos, comumente elaborados algum tempo apés 0 evento ao qual se referem, e sempre por ndo-participantes. As fontes orais podiam compensar a distancia cronolégica com um envolvimento pessoal mais intimo. Enquanto as memérias escritas de politicos ou de Ifderes dos trabalhadores sao usualmente creditadas até prova em contrério, elas séo tao distantes de alguns as- s histori s, € somente es- pectos do evento que relataram como so muitas entrevis condem sua dependéncia ao tempo assumindo a forma imutdvel de um “texto”. Por outro lado, narradores orais tém dentro de sua cultura certas ajudas para a memoria. Muitas hist6rias sao contadas repetidas vezes ou discutidas com membros da comuni- dade; a narrativa formalizada, mesmo a métrica, pode ajudar a preservar uma versio textual de um evento. De fato, nado se deve esquecer que informantes orais podem também ser versados em letras. Tiberio Ducci, um antigo lider da liga de tratabalhadores rurais de Genzano, nas colinas romanas, pode ser atfpico: além de lembrar sua propria experiéncia, cle também havia pesquisado os arquivos locais. Mas muitos informantes Iéem livros e jornais, ouvem radio e TV, escutam sermées e discursos politicos e guardam didrios, cartas, recortes e dlbuns de fotografias. A fala e a escrita, por muitos séculos, nao existiram separadamente: se muitas fontes escritas sao baseadas na oralidade, a oralidade moderna, por si, estA saturada de escrita. Mas 0 realmente importante € ndo ser a memoria apenas um depositdrio passivo de fatos, mas também um processo ativo de criagao de significagdes. Assim, a utilidade especifica das fontes orais para 0 historiador repousa nao tanto em suas habilidades de preservar oO passado quanto nas muitas mudangas forjadas pela memoria. Estas modi- ficagdes revelam o esforgo dos narradores em buscar sentido no passado e dar forma as suas vidas, e colocar a entrevista e a narragéo em seu contexto histérico. Proj. Histéria, Sao Paulo, (14), fev. 1997 33 Mudangas que tenham subscqiientemente tomado lugar na consciéncia subjetiva ‘io-econdmi pessoal do narrador, ou cm sua situagao s . podem afetar, se nao o relato de eventos anteriores, pelo menos a avaliagdo ¢ 0 “colorido” da historia, Muitas pessoas so reticentes, por exemplo, quando vao descrever formas ilegais de luta, tais como sabotagem, Isso nao significa que clas nao se lembrem dos casos, claramente, mas que tem havido uma mudanga em suas opinides politicas, circunstincias pessoais, ou na linha de scu partido. Atos considerados legitimos ¢ mesmo normais ou necessarios no passado podem ser vistos agora como inaccitaveis ¢ literalmente postos fora da tradi¢ao. Ne ondem € no fato que os fizeram esconder mais que no que cles contaram. Sics casos, a informagio mais preciosa pode estar no que os informantes es Freqiicntemente, cntretanto, os narradores so capazcs de reconstruir suas atitudes Este é 0 caso com os trabalhadores da fabrica de Terni ao admitirem que violentas represilia , podiam ter sido contraprodu- passadas mesmo quando nao mais coincidem com as suas atuz contra 0s & cutivos responsiveis, por dispensa em massa em 199 centes, mas ainda as recordaram com grande lucidez porque clas pareccram tteis © apropriadas no momento da ocorréncia, Num dos mais importantes testemunhos orais de nosso tempo, A auobiografia de Malcolm X, 0 narrador descreve muito vividamente como sua mente Uabalhava antes de alcangar sua atual conscitncia, ¢ entio julgar seu proprio passado pelas normas atuais de sua consciéncia politica ¢ religiosa. Se a entre- 0 vista 6 conduzida habilidosamente ¢ seus propdsitos siio claros para os narradores, 6 impossivel para eles fazerem uma distingao entre o proprio passado ¢ 0 presente, ¢ objetivar © passado em si como diferente do presente, Nestes casos ~ Malcolm X, de novo, ¢ tipico — a ironia é a principal forma narrativa: dois diferentes standard Guco (ou politico, ou religiosos) ¢ narrativo interferem ¢ se sobrepdem, ¢ a tensao entre eles da forma ao narrar a histéria. Por outro lado, podemos também nos encontrar com narradores cuja consciéncia parece ter sido capturada em momentos climaticos de suas experiéncias pessoais: certos membros da Resisténcia, ou veteranos de guerra, ¢ talvez alguns militantes estudantis dos anos 60, Fregiientemente, estes individuos séo absorvidos integralmente pela tota- me cadéncias ¢ fra- lidade do evento his rico do qual participaram, € scu relato 2 seologia de épicos. A distingao cntre um estilo Cpico ou irdnico implica uma distingso entre perspectivas hist6ricas, que deviam ser levadas cm consideragdo em nossa inter~ pretacdo do testemunho. 34 Proj. Historia, So Paulo, (14). fev. 1997 Objetividade Fontes orais nao sao objetivas. Isto naturalmente se aplica para qualquer fonte, cmbora a sacralidade da escrita sempre nos leve a esquecer isto, Mas a ndo-objetividade propria das fontes orais jaz em caractet icas increntes, as mais importantes sendo que elas sao artificiais, varidveis © parciais. A introdugao de Alex Haley para A antobiografia de Malcolm X descreve como Malcolm desviou sua abordagem narrativa nZo espontancamente, mas porque 0 ques- tionamento do entrevistador 6 afastou da imagem cxclusivamente publica ¢ oficial dele ¢ da Nagao do Isla que ele estava tentando projetar, [sso ilustra 0 fato que os documentos de hist6ria oral sao sempre 0 resultado de um relacionamento, de um projeto compar- tilhado no qual ambos, o entrevistador e 0 entrevistado, séo envolvidos, mesmo se nao harmoniosamente. Documentos escritos sao fixos, eles existem tenhamos ou nao ciéncia deles, ¢ niio mudam uma vez que os tenhamos encontrado. Testemunho oral é apenas quisas © chamem para a existéncia. A condigéio para so; para fontes orais é a transmissao: uma diferenga um recurso potencial até que p cxisténcia da fonte escrita € a emi similar aquela descrita por Roman Jakobson ¢ Piotr Bogatyrev centre os processos cria- tivos do folclore ¢ aqueles da literatura.'' O contetido da fonte escrita é independente das nec quisador; & um texto estavel, que nao pode ser apenas interpretado. O contetido das fontes orais, por outro lado, depende largamente do que os entrevistadores poem em idades © hipsteses do pes- termos das quest6es, didlogos ¢ relagdes pessoais. E 0 pesqi ide, em primeiro lugar, que haverd uma entrevista. Pes- quisadores sempre introduzem distorgdvs especilicas: informantes contam-lhes 0 que créem eles queiram ouvir ¢ assim revelam quem cles pensam que © pesquisador é. De outro lado, entrevistas rigidamente estruturadas podem excluir elementos cuja existéncia ador que de ‘conhecidas previamente para o entrevistador ¢ nao contempla- as tendem a confirmar a moldura de refe- ou relevancia fossem des das nas quest6es inventariadas. Tais cnuevis réncia prévia do historiador. O primeiro requisito, por isso, ¢ que 0 pesquisador “accite” 0 informante e dé prioridade ao que ela ou ele deseje contar de preferéncia ao que 0 pesquisador quer ouvir, reservando algumas questdes nao respondidas para mais tarde ou para outra en- 11 Jakohson, R. © Bogatyrey, P. “le Folklore ~ forme spécifique de création”. In: Jakobson, R. Questions de poétique, Paris, Scuil, 1973, pp. 59 Proj. Histdria, Sao Paulo, (14). fev. 1997 35 trevista, A comunicagao sempre funciona de ambos os lados. Os entrevistados estao sempre, embora talvez discretamente, estudando os entrevistadores que os “estudam”. Os historiadores podem reconhecer este fato e tirar dele vantagens, em vez de experi- mentar eliminé-lo em raz4o de uma neutralidade impossivel (e talvez. indesejavel). © resultado final da entrevista € 0 produto de ambos, narrador ¢ pesquisador, Quan- do as entrevistas, como € freqiientemente 0 caso, sao arrumadas para a public: io tem lugar: o texto da 0, omitindo inteiramente a voz do entrevistador, uma sutil distor as respostas sem as questocs, dando a impressio que determinado narrador dira as mesmas coisas, nao importando as circunstancias — em outras palavras, a imprcssdo que uma pessoa falando € to estivel ¢ repetitiva como um documento escrito, Quando a voz do pesquisador é cortada, a voz. do narrador € distorcida. testemunho oral, de fato, nunca é igual duas vezes. Isto é uma caracteristica de todas as comunicacécs orais, mas € especialmente verdadeira das formas relativamente autobiograficas ou hist6ricas fornecidas em en- ndo estruturadas, tais como declaragde: trevista. Até 0 mesmo entrevistador apresenta diferentes versGes do mesmo’ narrador em tempos diversos. Quando os dois passam a se conhecer melhor, a “vigilancia” do narrador pode ser atenuada. A subordinacao de classe — experimentando identificar 0 que 0 narrador pensa ser o interesse do entrevistador — pode ser recolocada por maior independéncia ou por melhor compreensao dos propésitos da entrevista, Ou uma en- trevista prévia pode ter simplesmente despertado memGérias que sao ento contadas em encontros posteriores. O fato de que entrevistas com a mesma pessoa possam ser continuadas indefini- damente guia-nos para a quest4o da imperfeigdo inerente as fontes orais. E impossivel exaurir a memoria completa de um tnico informante, dados extrafdos de cada entrevista sao sempre 0 resultado de uma selegao produzida pelo relacionamento miuituo. Pesquisa hist6rica com fontes orais, por isso, sempre tém a natureza inconclusa de um trabalho em andamento, De modo a mergulhar em todas as fontes orais possiveis para as greves de Terni de 1949 a 1953, devia-se entrevistar em profundidade mil pessoas: qualquer exemplo seria somente to confidvel quanto os métodos de amostra utifizados e nunca garantiriam contra-omitir narradores de “qualidade” cujo testemunho isolado podia ser digno de dez selecionados estatisticamente. O inconcluso de fontes orais afeta todas as outras fontes. Dado que nenhuma pes- quisa (concernente ao tempo histérico para 0 qual as memérias de vida sao validas) € completa, a menos que se tenha exaurido tanto as fontes orais como as escritas, ¢ as primeiras so inesgotaveis, a meta ideal de ir através de “todas” as fontes possiveis se 36 Proj. Histéria, Sao Paulo, (14), fev. 1997 torna impossivel. O trabalho hist6rico que se utiliza de fontes orais é infindavel, dada a natureza das fontes; 0 trabalho histérico que exclui fontes orais (quando validas) é€ incompleto por defini Quem fala na historia oral? A historia oral nao reside onde as classes operirias falam por si proprias. A afir- magdo contraria, naturalmente, nao seria totalmente infundada: 0 relato de uma greve nas palavras ¢ memérias de trabalhadores, ao invés daqueles da policia e da (sempre inamistosa) imprensa, obviamente ajuda (embora nao automaticamente) a equilibrar a distorcdo implicita naquelas fontes. Fontes orais sao condigdo neces para a hist6ria das classes nado hegeménicas, elas so menos necessdrias (embora de ‘ria (nao suficiente) nenhum modo iniiteis) para a hist6ria das classes dominantes, que t@m tido controle sobre a escrita e deixaram atris de si um registro escrito muito mais abundantc. Nao obstante, 0 controle do discurso hist6rico permanece firmemente nas maos do historiador. E 0 historiador que seleciona as pessoas que scrio entrevistadas, que con- tribui para a moldagem do testemunho colocando as questées e reagindo as respostas; © que dé ao testemunho sua forma e contexto finais (mesmo se apenas em termos de montagem e transcrigdo). Embora accitando que a classe operaria fale através da hist6ria oral, 6 claro que a classe nao fala no abstrato, mas fala para 0 historiador, com o historiador e, uma vez que 0 material é publicado, através do historiador. Na verdade as coisas podem também ser pensadas de outra maneira. O historiador pode validar o discurso dele ou dela “ventriculizando-o” através do testemunho do narrador. Longe de desaparecer na objetividade das fontes, 0 historiador permanece importante a0 menos como um companhciro no didlogo, sempre como um “diretor de palco” da entrevista, ou como um “organizador” do testemunho. No lugar de descobrir fontes, partidarios da historia oral de certo modo as criam. Longe de se tornarem meros intérpretes do operariado, eles podem estar usando as palavras do povo, mas sao ainda responsdveis pela totalidade do discurso. Muito mais que documentos escritos, que freqiientemente carregam a aura impes- ituigdes que os editaram — mesmo se, naturalmente, compostos por indivi- duos, de quem sabemos pouco ou nada — as fontes orais envolvem o relato inteito em sua propria subjetividade. Junto a primeira pessoa do entrevistado se situa a primeira pessoa do historiador, sem o qual nao haveria entrevista. Ambos os discursos, do in- soal das ii Proj. Histéria, Séo Paulo, (14), fev. 1997 37 formante ¢ do historiador, séo em forma narrativa, que raramente € 0 caso dos docu- mentos de arquivo. Informantes so historiadores, de certo modo; e 0 historiador ¢, algumas vezes, uma parte da fonte. Escritores tradicionais de hist6ria apresentam-se usualmente no papel que a teoria literaria descreve como “narrador oniscicnte”. Eles relatam eventos dos quais nao fazem parte, ¢ que dominam intciramente ¢ de cima (acima da consci¢neia dos proprios par- licipantes), na terceira pessoa. Parecem ser imparciais ¢ desligados, nunca c1 trando na narraliva excew para fazer comentarios paralelos, 2 mancira de alguns novelistas do século XIX, A historia oral muda a forma de escrever da hist6ria da mesma maneira que a novela modema transformou a forma de escrever da ficgao Hiterdria: a mais im- portante mudanga ¢ que o narrador 6 agora cmpurrado para dentro da narrativa ¢ sc torna parte da historia. Constata-se n&o apenas desvio gramatical da terccira para a primeira pessoa, mas uma nova e integral atitude narrativa. O narrador é agora uma das personagens © 0 contar da hist6ria € parte da hist6ria que esté sendo contada, Isto implicitamente indica um envolvimento muito mais profundo, politico ¢ pessoal, que aquele do narrador ex- terno. Escrever hist6ria oral radical, cntio, nao ¢ mat¢ria de ideologia ou partidarismo subjetivo ou de escolher um conjunto de fontes no lugar de outro. Esta, com mais raziio, nga do historiador na hist6ria, no assumir a responsabilidade que o inerente na pres inscreve ou a inscreve no relato ¢ revela a historiografia como ato aut6nomo de narragao. Asicas. As escolhas politicas sc lornam menos visiveis © vocais, porém mais © mito que o historiador como individuo podia desaparecer na verdade objetiva das fontes operarias era parte da visio da militincia politica do mesmo modo que a aniquilagao de todos os papéis subjetivos do ativista de tempo integral, ¢ como a ab- sor¢do dentro de uma abstrata classe trabalhadora. Isto resultou cm irdnica similaridade 4 atitude tradicional que viu historiadores como nio cnvolvidos subjctivamente na his- t6ria que estavam escrevendo. Adeptos da hist6ria oral parecem se submeter a outros sujeitos do discurso, mas, de fato, o historiador comega cada vez menos a ser “inter- mediario” entre 0 operariado ¢ 0 Ieitor, ¢ cada vez mais scu protagonista. Ao escrever hist6ria, do mesmo modo que sucede cm literatura. 0 ato de sc enfocar . Em uma novela tal como Lord a fungéo do narrador ocasiona a fragmentagio dest Jim de Joseph Conrad, 0 personagenv/narrador Marlow pode contar somente 0 que ele proprio viu e ouviu; para contar a “histéria total”, ele ¢ forgado a colocar muitos outros “{nformantes” em scu conto. O mesmo acontece com historiadores que wabalham com 38 Proj. Historia, Sdo Paulo, (14), fev. 1997 fontes orais. Explicitamente entrando na historia, os historiadores devem permitir as fontes entrarem no conto com scus discursos aut6nomos. A historia oral nao tem sujeito unificado; é contada de uma multiplicidade de pontos de vista, ¢ a imparcialidade uadicionalmente reclamada pelos historiadores é substituida pela parcialidade do narrador. ialidade” aqui permancce simultanea- mente como “inconchusa” ¢ como “tomar partido”: a hist6ria oral nunca pode ser contada sem tomar partido, j4 que os “lados” existem dentro do contador. Endo importa 0 que ard s ¢ “fonte: tao dificilmente suas historias e crengas pessoais possam scr, historiadore: do mesmo “lado”, A confrontagao de suas diferentes parcialidades — controntagio como “conflito” © confrontagio como “busca pela unidade” ~ é uma das coisas que faz a hist6ria oral interessante. Proj. Histria, Sdo Paulo, (14), fev, 1997 39

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