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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – CCSo


CURSO: CIÊNCIAS ECONÔMICAS TURNO: VESPERTINO – 3º Período
DISCIPLINA: MARXISTA I

CONCEITOS ELEMENTENTARES NA OBRA


O CAPITAL, de Karl Marx

São Luis - MA

2010

INTRODUÇÃO
Base e Superestrutura

A seguir, transcrevemos dois trechos da obra de Karl Marx onde ele discorre sobre Base e
Superestrutura.

O primeiro trecho encontra-se no Prefácio de “Para a Crítica da Economia Política”, escrito em


1859.

Nesse prefácio Marx explica como começou seu interesse pela Economia e que após profundas
investigações ele chegou a um “resultado geral”:

“Na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes
da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas
forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade,
a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas
formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social,
política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social
que determina a sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da
sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão
jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas de
desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma
época de revolução social. Com a transformação do fundamento econômico revoluciona-se, mais devagar ou mais
depressa, toda a imensa superestrutura.”

http://www2.cddc.vt.edu/marxists/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm. Acessado em 12 de março de 2010

Mais adiante no prefácio, Marx refere-se aos modos de produção asiático, antigo, feudal e o
burguês, como épocas progressivas da formação econômica e social e observa que nenhuma formação
social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém, e jamais
aparecem relações de produção novas e superiores antes de amadurecerem no seio da própria
sociedade antiga as condições materiais para a sua existência.

O segundo trecho é encontrado na obra O Capital, Livro Terceiro (O processo global de produção
capitalista), volume VI:

“A forma econômica específica na qual trabalho não-pago se extorque dos produtores imediatos exige a
relação de domínio e sujeição tal como nasce diretamente da própria produção e, em retorno, age sobre ela de
maneira determinante. Aí se fundamenta toda a estrutura da comunidade econômica – oriunda das próprias
relações de produção - e, por conseguinte, a estrutura política que lhe é própria. É sempre nessa relação direta
entre os proprietários dos meios de produção e os produtores imediatos (a forma dessa relação sempre
corresponde naturalmente a dado nível de desenvolvimento dos métodos de trabalho e da produtividade social do
trabalho) que encontramos o recôndito segredo, a base oculta da construção social toda, por isso, da forma política
das relações de soberania e dependência, em suma, da forma especifica do Estado numa época dada.

MARX, Karl. O capital: critica da economia política, livro terceiro: o processo global de produção capitalista, volume
VI. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. (pág. 1047)

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Nesse trecho, observamos que o Estado e as formas jurídicas, por exemplo, são
determinadas pela estrutura econômica. Quanto a essa questão, ainda no Livro Terceiro da obra
O Capital, Marx explica:
[...] O mesmo acontece com um senhor de escravos que comprou um negro; a propriedade sobre o negro
não lhe parece obtida por meio da instituição da escravatura como tal, e sim pelo ato comercial de compra e venda.
Mas não é a venda que cria esse direito, apenas o transfere. É necessário que o direito exista antes de poder
tornar-se objeto de venda: uma venda não pode produzi-lo, nem um venda uma série dessas vendas,
continuamente repetidas. Geraram esse direito as relações de produção. Quando chegam a um ponto em que a
mudança é inevitável, a fonte material desse direito, econômica e historicamente legitimada, oriunda do processo de
formação da vida social, desaparece junto com todas as transações que ele justifica.

MARX, Karl. O capital: critica da economia política, livro terceiro: o processo global de produção capitalista, volume
VI. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. (pág. 1028)

[...] Vimos que o processo capitalista de produção é forma historicamente determinada do processo social
de produção. Este abrange a produção das condições materiais da vida humana e ao mesmo tempo é o processo
que se desenvolve dentro de relações de produção específicas, histórico-econômicas, produzindo e reproduzindo
essas relações de produção e, por conseguinte, os agentes desse processo, no contexto deles: as condições
materiais de existência e as relações recíprocas, isto é, a forma econômica particular de sociedade que lhes
corresponde. É que o conjunto das relações que os agentes da produção, produzindo dentro delas, mantém entre si
com a natureza constitui justamente a sociedade, considerada em sua estrutura econômica. Como todos os
anteriores, o processo capitalista de produção se efetua em certas condições materiais que ao mesmo
tempo servem de suporte a determinadas relações sociais contraídas pelos indivíduos no processo de
reprodução da vida.

MARX, Karl. O capital: critica da economia política, livro terceiro: o processo global de produção capitalista, volume
VI. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. (pág. 1082)

Produção, consumo, distribuição e troca

Produção e consumo

A produção é também imediatamente consumo. Duplo consumo, subjetivo e objetivo: o indivíduo


que, ao produzir, está desenvolvendo as suas capacidades, está também dispendendo-as, isto é,
consome-as no ato da produção, tal como na procriação natural se consomem forças vitais. Em segundo
lugar: consumo dos meios de produção utilizados, os quais se desgastam e se dissolvem em parte (como
na combustão, por exemplo) nos seus elementos naturais; do mesmo modo, as matérias-primas
utilizadas perdem a sua forma e a sua constituição naturais: são consumidas. Portanto, em todos os seus
momentos, o próprio ato da produção é também um ato de consumo. Aliás, os economistas admitem-no.
Chamam consumo produtivo à produção que corresponde diretamente ao consumo e ao consumo que
coincide imediatamente com a produção.
O consumo é também imediatamente produção do mesmo modo que, na natureza, o consumo
dos elementos e substâncias químicas é a produção das plantas. E claro que na nutrição, por exemplo -
que é uma forma particular do consumo - o homem produz o seu próprio corpo. Isto é válido para toda a
espécie de consumo que, por qualquer forma, produza o homem. Produção consumidora. Porém -
objetam os economistas -esta produção equivalente ao consumo é uma segunda produção, surgida da
destruição do produto da primeira.

A produção engenda o consumo:


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a) Fornecendo-lhe o modo de consumo
b) determinando o modo de consumo;
c) provocando no consumidor a necessidade de produtos que ela criou originariamente como
objetos. Por conseguinte, produz o objeto de consumo, o modo de consumo e o impulso para consumir.
Pelo seu lado, o consumo [cria] a disposição do produtor, solicitando-o como necessidade
animada duma finalidade (a produção).

•Produção e Distribuição

A estrutura da distribuição é completamente determinada pela estrutura da produção. A própria


distribuição é um produto da produção, tanto no que se refere ao seu objeto (pois só se podem distribuir
os resultados da produção) como no que se refere à sua forma (posto que o modo determinado de
participação na produção determina as formas particulares da distribuição, isto é: a forma sob a qual se
participa na distribuição).
Para o indivíduo isolado, a distribuição aparece naturaImente como uma lei social que determina a
sua posição no seio da produção, isto é: no quadro em que produz e que, portanto, precede a produção.
Ao nascer, o indivíduo não tem capital nem propriedade agrária; logo que nasce é condenado, pela
distribuição social, ao trabalho assalariado. Na realidade, o próprio fato de a tal ser condenado, resulta do
fato de o capital e a propriedade agrária serem agentes autônomos da produção.
Mesmo à escala das sociedades na sua globalidade, a distribuição parece preceder e determinar,
até certo ponto, a produção - surge, de certo modo, como um fato pré-econômico. Um povo conquistador
reparte a terra entre os conquistadores; deste modo impõe uma certa repartição e uma forma dada de
propriedade agrária: determina, desse modo, a produção. Ou então reduz os conquistados à escravatura,
e baseia a sua produção no trabalho escravo. Ou então, um povo revolucionário pode parcelarizar a
grande propriedade territorial e, mediante esta nova distribuição, dar um caráter novo à produção. Ou
então, a legislação pode perpetuar a propriedade agrária nas mãos de certas famílias; ou faz do trabalho
um privilégio hereditário para fixar num regime de castas. Em todos estes exemplos, extraídos da história,
a estrutura da distribuição não parece ser determinada pela produção; pelo contrário, é a produção que
parece ser estruturada e determinada pela distribuição.

•Troca e Circulação

A circulação propriamente dita ou não é mais do que um momento determinado da troca, ou é a


troca considerada na sua totalidade. Na medida em que a troca não é mais do que um momento
mediador entre, por um lado, a produção e a distribuição que aquela determina e, por outro lado, o
consumo - e dado que o próprio consumo aparece também como um momento da produção - é evidente
que a troca se inclui na produção, e é também um seu momento.
Em primeiro lugar, é evidente que a permuta de atividades e capacidades que ocorre no interior
da produção faz diretamente parte desta última - é até um dos seus elementos essenciais. Em segundo
lugar, o mesmo se aplica à troca de produtos, pois esta é um meio que permite fornecer o produto
acabado, destinado ao consumo imediato. No que até agora vimos, a troca é um ato incluído na

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produção. Em terceiro lugar, a chamada exchange entre dealers é, dada a sua organização,
completamente determinada pela produção; representa uma atividade produtiva.
Somente na sua última fase - no momento em que o produto é trocado para ser consumido
imediatamente - é que a troca se apresenta independente e exterior à produção e, por assim dizer,
indiferente a esta. Porém observamos que: 1) não existe troca sem divisão do trabalho, quer esta seja
natural, quer seja um resultado histórico; 2) a troca privada pressupõe a produção privada; 3) a
intensidade da troca, assim como a sua extensão e a sua estrutura, são determinadas pelo
desenvolvimento e pela estrutura da produção. Por exemplo, a troca entre a cidade e o campo, a troca
no campo, na cidade, etc. Portanto, a produção compreende e determina diretamente a troca em todas
as suas formas.
A conclusão a que chegamos não é de que a produção, a distribuição, a troca e o consumo são
idênticos; concluímos, sim, que cada um deles é um elemento de um todo, e representa diversidade no
seio da unidade.

Concreto Pensado

O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações e, por isso, é a unidade do


diverso. Aparece no pensamento como processo de síntese, como resultado, e não como ponto de
partida, embora seja o verdadeiro ponto de partida, e, portanto, também, o ponto de partida da intuição e
da representação. No primeiro caso, a representação plena é volatilizada numa determinação abstrata;
no segundo caso, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto pela via do
pensamento. Eis por que Hegel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento que,
partindo de si mesmo se concentra em si mesmo, se aprofunda em si mesmo e se movimenta por si
mesmo; ao passo que o método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto é, para o
pensamento, apenas a maneira de se apropriar do concreto, de o reproduzir na forma de concreto
pensado; porém, não é este de modo nenhum o processo de gênese do concreto em si.
Para a consistência filosófica - que considera que o pensamento que concebe é o homem real, e
que, portanto, o mundo só é real quando concebido - para esta consciência, é o movimento das
categorias que lhe aparece com um verdadeiro ato de produção (o qual recebe do exterior um pequeno
impulso, coisa que esta consciência só muito a contra gosto admite) que produz o mundo. Isto é exato
(embora aqui nos vamos encontrar com uma nova tautologia), na medida em que a totalidade concreta,
enquanto totalidade do pensamento, enquanto concreto do pensamento é in fact um produto do
pensamento, do ato de conceber; não é de modo nenhum, porém, produto do conceito que pensa e se
gera a si próprio e que atua fora e acima da intuição e da representação; pelo contrário, é um produto do
trabalho de elaboração, que transforma a intuição e a representação em conceitos. O todo, tal como
aparece na mente como um todo pensamento, é produto da mente que pensa e se apropria do mundo do
único modo que lhe é possível

O CAPITAL

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[MARX, Karl. O Capital: crítica da economia politica: livro I / tradução de Reginaldo
Santa’Anna – 26ª ed – Rio de Janeiro: Civilizacao Brasileira, 2008.

I. A Mercadoria
1. Os dois fatores da mercadoria: valor-de-uso e valor (substância e quantidade do valor)

Mercadoria: forma elementar


A riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em “imensa acumulação
de mercadorias” e a mercadoria, isoladamente considera, é a forma elementar dessa riqueza. A
mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz
necessidades humanas. (pág. 57)

Valor-de-uso
A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Essa utilidade, porém, não paira no ar.
Determinada pelas propriedades materialmente inerentes à mercadoria, só existe através delas. A
própria mercadoria, como ferro, trigo, diamante etc., é, por isso, um valor-de-uso, um bem. Esse caráter
da mercadoria não depende da quantidade de trabalho empregado para obter suas qualidades úteis. Ao
se considerarem valores-de-uso, sempre se pressupõe quantidades definidas, como uma dúzia de
relógios, um metro de linho, uma tonelada de ferro. O valor de uso realiza-se somente no uso ou no
consumo. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social
desta. Na forma de sociedade a ser por nós examinada, eles constituem, ao mesmo tempo, os
portadores materiais do — valor-de-troca. (pág. 58)

Valor-de-troca
O valor-de-troca revela-se, de início, na relação quantitativa entre valores de uso de espécies
diferentes, na proporção em que se trocam, relação que muda constantemente no tempo e no espaço.
Por isso o valor de troca parece algo casual, e puramente relativo, e, portanto, uma contradição em
termos, um valor de troca imanente à mercadoria. Vejamos a coisa mais de perto.
Os valores de troca vigentes da mesma mercadoria expressam, todos, um significado igual;
segundo: o valor de troca só pode ser a maneira de expressar-se, a forma de manifestação de uma
substância que dele se pode distinguir. (pág. 58)

Trabalho humano concreto e trabalho humano abstrato


Se prescindirmos do valor de uso da mercadoria, só lhe resta ainda uma propriedade, a de ser
produto do trabalho. Mas então, o produto do trabalho já terá passado por uma transmutação. Pondo de
lado seu valor-de-uso, abstraímos, também, das formas e elementos materiais que fazem dele um valor
de uso. Ele não é mais mesa, casa, fio ou qualquer outra coisa útil. Sumiram todas as qualidades
materiais. Também não é mais produto do trabalho do marceneiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de
qualquer outra forma de trabalho produtivo. Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho,
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também desaparece o caráter útil dos trabalhos neles corporificados; desvanecem-se, portanto, as
diferentes formas de trabalho concreto, elas não mais se distinguem umas das outras, mas reduzem-se,
todas, a uma única espécie de trabalho, o trabalho humano abstrato. (pág. 60)

Valor e valor-de-troca
Na própria relação de permuta das mercadorias, seu valor de troca revela-se, de todo,
independente de seu valor de uso. Pondo-se de lado o valor de uso dos produtos do trabalho, obtém-se
seu valor como acaba de ser definido. O que se evidencia comum na relação de permuta ou no valor-de-
troca é, portanto o valor das mercadorias. Mais adiante, voltaremos a tratar do valor de troca como o
modo necessário de expressar-se o valor ou a forma de este manifestar-se. (pág. 60)

A forma simples de valor do valor de uma mercadoria se contém em sua relação de valor ou de
troca com outra mercadoria diferente. O valor da mercadoria A expressa-se qualitativamente por meio da
permutabilidade direta da mercadoria B com a mercadoria A. É expresso quantitativamente através da
permutabilidade de determinada quantidade da mercadoria B com quantidade da mercadoria A. Em
outras palavras, o valor de uma mercadoria assume expressão fora dela, ao manifestar-se como valor de
troca. De acordo com habito consagrado, se disse, no começo deste capítulo, que a mercadoria é valor
de uso e valor de troca. Mas isto, a rigor, não é verdadeiro. A mercadoria é valor de uso ou objeto útil e
“valor”. Ela revela seu duplo caráter, o que ela é realmente, quando, como valor, dispõe de uma forma de
manifestação diferente da forma natural dela, a forma de valor de troca; ela nunca possui essa forma,
isoladamente considerada, mas apenas na relação de valor ou de troca com uma segunda mercadoria
diferente. (pág. 82)

Medindo a grandeza de um valor


Um valor de uso ou um bem só possui, portanto, valor, porque nele está corporificado,
materializado, trabalho humano abstrato. Como medir a grandeza de seu valor? Por meio da quantidade
da “substância criadora de valor” nele contida, o trabalho. A quantidade de trabalho por sua vez, mede-se
pelo tempo de sua duração, e o tempo de trabalho, por frações do tempo, como hora, dia etc. (pág. 60)

Tempo de trabalho socialmente necessário


Se o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho gasta durante sua
produção, poderia parecer que, quanto mais preguiçoso ou inábil um ser humano, tanto maior o valor de
sua mercadoria, pois ele precisa de mais tempo para acabá-la. Todavia, o trabalho que constitui a
substância dos valores é o trabalho humano homogêneo, dispêndio de idêntica força de trabalho. [...]
cada uma dessas forças individuais de trabalho se equipara às demais, na medida em que possua o
caráter de uma força média de trabalho social e atue como essa força média, precisando, portanto
apenas do tempo de trabalho em media necessário ou socialmente necessário para a produção de uma
mercadoria. Tempo de trabalho socialmente necessário é o tempo de trabalho requerido para produzir-se
um valor de uso qualquer, nas condições de produção socialmente normais existentes e com o grau
social médio de destreza e intensidade do trabalho. (pág. 61)

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Grandeza de valor e força produtiva
A grandeza de valor de uma mercadoria permaneceria, portanto, constante, caso permanecesse
também constante o tempo de trabalho necessário para sua produção. Este muda, porém, com cada
mudança na força produtiva do trabalho. A força produtiva do trabalho é determinada por meio de
circunstâncias diversas, entre outras pelo grau médio de habilidade dos trabalhadores, o nível de
desenvolvimento da ciência e sua aplicabilidade tecnológica, a combinação social do processo de
produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais. (pág. 62)

Outras observações
•Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor.
É o que sucede quando sua utilidade para o ser humano não decorre do trabalho. Exemplos: o
ar, a terra virgem, seus pastos naturais, a madeira que cresce espontaneamente na selva etc.

•Uma coisa pode ser valor de uso e produto do trabalho humano sem ser mercadoria
Quem com seu produto, satisfaz a própria necessidade, gera valor de uso, mas não mercadoria.
Para criar mercadoria, é mister não só produzir valor de uso, mas produzi-lo para outros, dar
origem a valor de uso social.

•Nenhuma coisa pode ser valor se não é objeto útil; se não é útil, tampouco o será o trabalho nela
contido, o qual não conta como trabalho e, por isso, não cria nenhum valor. (pág. 62 e 63)

2. O duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria

Trabalho útil
O casaco é valor de uso que satisfaz uma necessidade particular. Para produzi-lo, precisa-se de
certo tipo de atividade produtiva, determinada por seu fim, modo de operar, objeto sobre que opera, seus
meios e seu resultado. Chamamos simplesmente de trabalho útil aquele cuja utilidade se patenteia no
valor de uso do seu produto ou cujo produto é um valor de uso. [...] Está, portanto, claro: o valor de uso
de cada mercadoria representa determinada atividade produtiva subordinada a um fim, isto é, um
trabalho útil particular. (pág. 63)

Trabalho abstrato
Pondo-se de lado o desígnio da atividade produtiva e, em conseqüência, o caráter útil do trabalho,
resta-lhe apenas ser um dispêndio de força humana de trabalho. O trabalho do alfaiate e o do tecelão,
embora atividades produtivas qualitativamente diferentes, são ambos trabalho humano produtivo do
cérebro, músculos, nervos, mãos etc., e desse modo, são ambos trabalho humano.
[...] o trabalho do alfaiate e o do tecelão são os elementos que criam valores de uso, casaco e
linho, exatamente por força de suas qualidades diferente. Só são substância do valor do casaco e do

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valor do linho quando se põem de lado suas qualidades particulares, restando a ambos apenas uma
única e mesma qualidade, a de serem trabalho humano. (pág. 67)
[...] todo trabalho é, de um lado, dispêndio de força humana no sentido fisiológico, e, nessa
qualidade de trabalho humano igual ou abstrato, cria o valor das mercadorias. Todo trabalho, por outro
lado, é dispêndio de força humana de trabalho, sob forma especial, para um determinado fim, e nessa
qualidade de trabalho útil e concreto, produz valores de uso. (pág. 68)

3. A forma do valor ou o valor de troca


Valor de troca como manifestação do valor
As mercadorias, recordemos, só encarnam valor na medida em que são expressões de uma
mesma substância social, o trabalho humano; seu valor é, portanto, uma realidade apenas social, só
podendo manifestar-se, evidentemente, na relação social em que uma mercadoria se troca por outra.
Partimos do valor-de-troca ou da relação de troca das mercadorias, para chegar ao valor aí escondido.
(pág. 69)

Desenvolvimento da expressão de valor: forma simples do valor


Importa realizar o que jamais tentou fazer a economia burguesa, isto é, elucidar a gênese da
forma dinheiro. Para isso, é mister acompanhar o desenvolvimento da expressão do valor contida na
relação de valor existente entre as mercadorias, partindo da manifestação mais simples e mais apagada
até chegar à esplendente forma dinheiro. Assim, desaparecerá o véu misterioso que envolve o dinheiro.
(pág. 70)

A) a forma simples, singular ou fortuita do valor


A mais simples relação de valor é, evidentemente, a que se estabelece entre uma mercadoria e
qualquer outra mercadoria de espécie diferente. A relação de valor entre duas mercadorias é, portanto, a
expressão mais simples de uma mercadoria. (pág. 70)

20 metros de linho = 1 casaco

Os dois pólos da expressão do valor: a forma relativa do valor e a forma equivalente


Duas mercadorias diferentes, A e B — em nosso exemplo, linho e casaco —representam,
evidentemente, dois papéis distintos. O linho expressa seu valor no casaco, que serve de material para
expressão de valor. O papel da primeira mercadoria é ativo; o desempenhado pela segunda, passivo. O
valor da primeira mercadoria apresenta-se como valor relativo; ela se encontra sob a forma relativa do
valor. A segunda mercadoria tem a função de equivalente ou se acha sob a forma de equivalente. (pág.
70)
Na mesma expressão do valor, a mesma mercadoria não pode aparecer, ao mesmo tempo, sob
as duas formas. Elas se repelem polarmente. (pág. 71)
Valor cristalizado na forma objeto

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Quando o casaco, como figura de valor, é equiparado ao linho, iguala-se o trabalho inserido
naquele com o contido neste. Por esse meio indireto, diz-se que o trabalho do tecelão, ao tecer valor, não
possui nenhuma característica que o diferencie do trabalho do alfaiate, sendo portanto, trabalho humano
abstrato.[...] a força humana de trabalho em ação ou o trabalho humano cria valor, mas não é valor. Vem
a ser valor, torna-se valor, quando se cristaliza na forma de um objeto. [...] na relação de valor com o
linho, considera-se o casaco, por ser uma valor, qualitativamente igual ao linho, coisa da mesma
natureza. O casaco, nessa relação, passa por coisa através da qual se manifesta o valor, ou que
representa o valor por meio de sua forma física palpável. O casaco, o corpo dessa mercadoria, é um
simples valor de uso. (Pág. 72 e 73)

Na relação de valor, em que o casaco constitui o equivalente do linho, a figura do casaco é


considerada a materialização do valor. O valor da mercadoria linho é expresso pelo corpo da mercadoria
casaco, o valor de uma mercadoria pelo valor de uso de outra. (pág. 74)

Influência da variação da produtividade sobre a expressão do valor

I — Varia o valor do linho, ficando constante o do casaco: o valor relativo da mercadoria A, isto é,
seu valor expresso na mercadoria B, aumenta ou diminui na razão direta do valor da mercadoria A, desde
que permaneça constante o valor da mercadoria B.
II — Constante o valor do linho; variável, o do casaco: permanecendo constante o valor da
mercadoria A, aumenta ou diminui seu valor relativo, seu valor expresso na mercadoria B, na razão
inversa da variação do valor de B.
III — As quantidades de trabalho necessárias para a produção do linho e do casaco variam
simultaneamente no mesmo sentido e na mesma proporção: permanecerão constantes seus valores
relativos.
IV — Os tempos de trabalho necessários para produzir, respectivamente, linho e casaco, e,
portanto, seus valores, variam simultaneamente na mesma direção, mas em grau diferente, ou em
sentidos opostos: basta utilizar as hipóteses compreendidas nos itens I, II e III. (pág. 76)

Equivalente como expressão quantitativa de uma coisa


Quando um tipo de mercadoria, casaco, serve de equivalente a outro tipo, linho, ostentando assim
a propriedade de ser diretamente permutável pelo linho, não se estabelece, em conseqüência, a
proporção em que serão trocadas. Esta depende, dada a magnitude do valor do linho, da grandeza do
valor o casaco. Desempenhe o casaco a função de equivalente, e o linho, a de valor relativo, ou, ao
contrário, o linho, a de equivalente, e o casaco, a de valor relativo — o valor do casaco continua, como
dantes, determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua produção, independente, portanto da forma
do valor. Mas, quando a mercadoria casaco ocupa, na expressão de valor, a posição de equivalente, seu
valor não adquiri nenhuma expressão quantitativa. Ao contrário, passa a ser a expressão não de um
valor, mas de uma coisa. (pág. 78)
O caráter enigmático da forma equivalente

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A forma relativa do valor de uma mercadoria (o linho) expressa seu valor por meio de algo
totalmente diverso do seu corpo e de suas propriedades (o casaco); essa expressão está assim
indicando que oculta uma relação social. O oposto sucede com a forma de equivalente. Ela consiste
justamente em que o objeto material, a mercadoria, como o casaco, no seu estado concreto, expressa
valor, possuindo de modo natural, portanto, forma de valor. Ora, as propriedades de uma coisa não se
originam de suas relações com outras, mas antes se patenteiam nessas relações; por isso, parece que o
casaco tem, por natureza a forma de equivalente, do mesmo modo que possui as propriedades de ter
peso ou de conservar calor. Daí o caráter enigmático da forma de equivalente, o qual só desperta a
atenção do economista político, deformado pela visão burguesa, depois que essa forma surge, acabada,
como dinheiro. (pág.80)

Forma mercadoria
Em todos os estágios sociais, o produto do trabalho é valor de uso; mas só um período
determinado do desenvolvimento histórico, em que se representa o trabalho despendido na produção de
uma coisa útil como propriedade “objetiva”, inerente a essa coisa, isto é, como seu valor, é que
transforma o produto do trabalho em mercadoria.

B) Forma total ou extensiva do valor


A forma simples de valor converte-se, por si mesma, numa forma mais completa. Na verdade, ela
expressa o valor de uma mercadoria A apenas numa mercadoria de outra espécie. Pouco importa qual
seja a espécie dessa segunda mercadoria, se casaco, ferro ou trigo etc. À medida que estabelece
relações de valor com esta ou aquela espécie de mercadoria, A adquire diversas expressões simples de
valor. O número das possíveis expressões de valor dessa única mercadoria só é limitado pelo número
das mercadorias que lhe são diferentes, sua expressão singular de valor converte-se numa serie de
expressões simples de valor, sempre ampliável. (pág. 84)

z da mercadoria A = u da mercadoria B ou = v da mercadoria C, ou = w da mercadoria D,


ou = x da mercadoria E ou = etc.

(20 metros de linho = 1 casaco ou = 10 quilos de chá ou = 40 quilos de café ou = 1 quarta de


trigo, ou = 2 onças de ouro ou = ½ tonelada de ferro ou = etc.)

Forma extensiva do valor relativo


O valor de uma mercadoria, do linho, por exemplo, está agora expresso em inúmeros outros
elementos do mundo das mercadorias. O corpo de qualquer outra mercadoria torna-se o espelho onde se
reflete o valor do linho. Desse modo, esse valor, pela primeira vez, se revela efetivamente massa de
trabalho humano homogêneo. O trabalho que o cria se revela expressamente igual a qualquer outro.
Através da fora extensiva em que manifesta seu valor, está o linho, agora, em relação social não só com
uma mercadoria isolada de espécie diferente, mas também com todo o mundo das mercadorias.
A forma de equivalente particular

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Cada mercadoria, casaco, chá, trigo, ferro etc., é considerada equivalente na expressão do valor
do linho e, portanto, encarnação de valor. A forma natural de cada uma dessas mercadorias é uma forma
de equivalente particular, junto a muitas outras. Do mesmo modo, as variadas, determinadas, concretas e
úteis espécies de trabalho, contidas nos corpos das diferentes mercadorias, consideram-se, agora,
formas particulares de efetivação ou de manifestação do trabalho humano em geral.

20 metros
= de
1 casaco
=10 libras de chá
linho
=40 libras de café
= 1 quarter de trigo
=2 onças de ouro
= 1/2 tonelada de
= ferro
= x mercadoria A
etc. mercadoria

C) Forma geral do valor

As mercadorias expressam, agora, seus valores de maneira simples, isto é, numa única
mercadoria e de igual modo, isto é na mesma mercadoria. É uma forma de valor simples, comum a todas
as mercadorias, portanto, geral.
[...] a forma que aparece depois, C, expressa os valores do mundo as mercadorias numa única e
mesma mercadoria, adrede separada, por exemplo, o linho, e representa os valores de todas as
mercadorias através de sua igualdade como linho. Então o valor de cada mercadoria, igualado ao linho,
se distingue não só do valor de uso dela mas de qualquer valor de uso e justamente por isso se exprime
de maneira comum a todas as mercadoria. Daí ser esta forma que primeiro relaciona as mercadorias,
como valores, umas com as outras, fazendo-as revelarem-se, reciprocamente, valores de troca.
[...] o valor de uma mercadoria só adquire expressão geral porque todas as outras mercadorias
exprimem seu valor através do mesmo equivalente, e toda nova espécie de mercadoria tem de fazer o
mesmo.
[...] igualadas, agora, ao linho, todas as mercadorias revelam-se não só qualitativamente iguais,
como valores, mas também quantitativamente comparáveis, como magnitudes de valor. (pág. 88)

D) Forma dinheiro do valor


A forma de equivalente geral é, em suma, forma de valor. Pode, portanto ocorrer a qualquer
mercadoria. Por outro lado, uma mercadoria só assume forma de equivalente geral por estar e enquanto
estiver destacada como equivalente por todas as outras mercadorias. E só a partir do momento em que
esse destaque se limita, terminantemente, a uma determinada mercadoria, adquire a forma unitária do
valor relativo do mundo das mercadorias consistência objetiva e validade social universal.

12
Então, mercadoria determinada, com cuja forma natural se identifica socialmente a forma
equivalente, torna-se mercadoria-dinheiro, funciona como dinheiro. [...] Determinada mercadoria, o ouro,
conquista essa posição privilegiada entre as mercadorias que figuram na forma B, como equivalentes
singulares, e, na forma C, expressam, em comum, no linho seu valor relativo. Substituindo, na forma C, o
linho pela mercadoria ouro, temos:

2
= onças
20 de ouro
metros de
= linho
= 1 casaco
=10 libras de
= chá
=40 libras de
= café
1 quarter de
trigo
1/2 tonelada
de ferro
x mercadoria
A

Forma preço
A expressão simples e relativa do valor de uma mercadoria, por exemplo, o linho, através de uma
mercadoria que já esteja exercendo a função de mercadoria-dinheiro, por exemplo, por exemplo, o ouro,
é a forma preço. Daí a forma preço do linho:

20 metros de linho = 2 onças de ouro


Ou, se, em linguagem monetária, 2 libras esterlinas for o nome de 2 onças de ouro,
20 metros de linho = 2 libras esterlinas (pág. 92)

O fetichismo da mercadoria: seu segredo

Coisificação
À primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente compreensível. Analisando-
a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheio de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas. (pág. 92)
O caráter misterioso que o produto do trabalho apresenta ao assumir a forma de mercadoria,
donde provém? Dessa própria forma, claro. A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob a
forma da igualdade dos produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da duração, do dispêndio
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da força humana de trabalho, toma a forma de quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente,
as relações entre os produtores, nas quais se afirma o caráter social dos seus trabalhos, assumem a
forma de relação social entre os produtos do trabalho.
A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho
dos homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos
produtos do trabalho. Através dessa dissimulação, os produtos do trabalho se tornam mercadorias,
coisas sociais, com propriedades perceptíveis e imperceptíveis aos sentidos. [...] uma relação social
definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica relação entre coisas. Chamo a
isso de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como
mercadorias. É inseparável da produção de mercadorias.
[...] os homens não estabelecem relações entre os produtos do seu trabalho como valores por
considerá-los simples aparência material de trabalho humano de igual natureza. Ao contrário. Ao igualar,
na permuta, como valores, seus diferentes produtos, igualam seus trabalhos diferentes, de acordo com
sua qualidade comum de trabalho humano. Fazem isto sem o saber. (pág. 96)
O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer quando as condições práticas das
atividades cotidianas do homem representem, normalmente, relações racionais claras entre os homens e
entre estes e a natureza. A estrutura do processo vital da sociedade, isto é, do processo da produção
material, só pode desprender-se do seu véu nebuloso e místico no dia em que for obra de homens
livremente associados, submetida a seu controle consciente e planejado. (pág. 101)

Fetichismo: Personificacao
As mercadorias não podem por si mesmas ir ao mercado e se trocar. Devemos, portanto, voltar a
vista para seus guardiões, os possuidores de mercadorias. As mercadorias são coisas e,
conseqüentemente, não opõem resistência ao homem. Se elas não se submetem a ele de boa vontade,
ele pode usar de violência, em outras palavras, tomá-las. Para que essas coisas se refiram umas às
outras como mercadorias, é necessário que os seus guardiões se relacionem entre si como pessoas, cuja
vontade reside nessas coisas, de tal modo que um, somente de acordo com a vontade do outro, portanto
cada um apenas mediante um ato de vontade comum a ambos, se aproprie da mercadoria alheia
enquanto aliena a própria. Eles devem, portanto, reconhecer-se reciprocamente como proprietários
privados

II - O processo de troca
Não é com sés pés que as mercadorias vão ao mercado, nem se trocam por decisão própria. [...]
as pessoas, aqui, só existem, reciprocamente, na função de representantes de mercadorias e, portanto,
de donos de mercadorias. No curso de nossa investigação, veremos, em geral, que os papeis
econômicos desempenhados pelas pessoas constituem apenas personificação das relações econômicas
que elas representam, ao se confrontarem.
Para o proprietário, a mercadoria que possui não tem nenhum valor de uso direto. Do contrário,
não a levaria ao mercado. Ela tem valor de uso para outros. Para ele, só tem diretamente um valor de
uso, o de ser depositaria de valor e, assim, meio de troca. Por isso, quer aliená-la por mercadoria cujo

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valor de uso lhe satisfaça. Todas têm, portanto, de mudar de mão. Mas essa mudança de mãos constitui
sua troca, e sua troca as relaciona umas com as outras como valores e realiza-as como valores. As
mercadorias têm de realizar-se como valores, antes de poderem realizar-se como valores de uso.
(Pág. 110)

Dinheiro e magnitude de valor


Sabe-se que ouro é dinheiro, sendo, portanto, permutável com todas as outras mercadorias, mas
nem por isso se sabe quanto valem, por exemplo, 10 quilos de ouro. Como qualquer mercadoria, o
dinheiro só pode exprimir sua magnitude de valor de modo relativo em outras mercadorias. Seu próprio
valor é determinado pelo tempo de trabalho exigido para suja produção e expressa-se na quantidade
(que cristalize o mesmo tempo de trabalho) de qualquer mercadoria. A verificação da magnitude de seu
valor relativo ocorre em sua fonte de produção, por meio de troca direta. Quando entra em circulação,
como dinheiro, seu valor já está fixado.

III – O dinheiro ou a circulação das mercadorias


1. Medida dos valores
A primeira função do ouro consiste em fornecer às mercadorias o material para exprimirem o valor
ou em representar os valores das mercadorias como grandezas que têm a mesma denominação,
qualitativamente iguais e quantitativamente comparáveis. Assim, exerce a função de medida universal
dos valores e só por meio desta função o ouro, a mercadoria equivalente especifica, se torna dinheiro. [...]
O dinheiro, como medida de valor, é a forma necessária de manifestar-se a medida imanente do valor
das mercadorias, o tempo de trabalho.

Preço
A expressão do valor de uma mercadoria em ouro é sua forma dinheiro ou seu preço. Uma
equação apenas — por exemplo, 1 tonelada de ferro=2 onças de ouro — basta, agora, para representar
o valor do ferro de maneira socialmente valida. Como forma de valor, o preço ou a forma dinheiro das
mercadorias se distingue da sua forma corpórea, real e tangível. O preço é a forma puramente ideal ou
mental. [...] o responsável pela mercadoria tem, por isso, de lhe emprestar a língua ou de pôr-lhe
etiqueta, anunciando seu preço ao mundo exterior. (pág. 122)
O preço é a designação monetária do trabalho corporificado na mercadoria. (pág. 128)

Dinheiro como estalão de preços


As mercadorias, com preços determinados, apresentam-se sob a forma: a da mercadoria A = x de
ouro, b da mercadoria B = z de ouro, c da mercadoria C = y de ouro etc., em que a, b e c representam
quantidades determinadas das mercadorias A, B e; x, y, z, determinadas quantidades de ouro. Os valores
das mercadorias transformaram-se, assim, em diferentes quantidades imaginárias de ouro, portanto em
magnitudes de ouro, em grandezas homogêneas, apesar da imensa variedade de formas corpóreas.
Comparam-se como se fosse essas diferentes quantidades de ouro e medem-se entre si, desenvolvendo-
se a necessidade técnica de relacioná-las com uma quantidade fixa de ouro, a qual sirva de unidade de

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medida. Essa unidade se subdivide, depois, em partes alíquotas, e se torna padrão. Medida de valores e
estalão dos preços são duas funções inteiramente diversas desempenhadas pelo dinheiro. É medida dos
valores por ser a encarnação social do trabalho humano, estalão de preços, por ser um peso fixo de
metal. (pág. 125)

2. Meio de circulação
a) A metamorfose das mercadorias
O processo de troca realiza a circulação social das coisas, ao transferir as mercadorias daquelas
para quem são não valores de uso para aqueles perante quem são valores de uso. Ao chegar ao destino
em que serve de valor de uso, a mercadoria saiu da esfera da troca para entrar na esfera do consumo.
Só a primeira nos interessa aqui. Temos, portanto, de observar todo o processo do ponto de vista da
forma, apenas, isto é, examinar a mudança de forma ou metamorfose das mercadorias, através da qual
se processo a circulação social das coisas. (pág. 131)
As mercadorias, tal como são, entram no processo de troca. Este produz uma bifurcação da
mercadoria em mercadoria e dinheiro, estabelecendo entre estes uma oposição externa em que se
patenteia a oposição, imanente à mercadoria, entre valor de uso e valor. Na oposição externa, as
mercadorias se confrontam, como valores de uso, com o dinheiro, como valor de troca. (pág. 131 e 132)
Acompanhemos agora um possuidor qualquer de mercadorias, por exemplo, nosso velho
conhecido tecelão de linho, à cena do processo de intercâmbio, ao mercado. Sua mercadoria, 20 varas
de linho, tem preço determinado. Seu preço é 2 libras esterlinas. Ele a troca por 2 libras esterlinas e,
homem de velha cepa, troca as 2 libras esterlinas, por sua vez, por uma Bíblia familiar do mesmo preço.
O linho, para ele apenas mercadoria, portador de valor, é alienado por ouro, sua figura de valor; e dessa
figura volta a ser alienado por outra mercadoria, a Bíblia, que, porém, como objeto de uso, deve ir para a
casa do tecelão e lá satisfazer às necessidades de edificação. O processo de troca da mercadoria opera-
se, portanto, por meio de duas metamorfoses opostas e reciprocamente complementares — a mercadoria
converte-se em dinheiro e o dinheiro reconverte-se em mercadoria. As fases dessa transformação
constituem atos do dono da mercadoria: venda, troca da mercadoria por dinheiro; compra, troca do
dinheiro por mercadoria e unidade de ambas as transações: vender para comprar.
Contemplando agora o resultado final do negócio, o tecelão de linho possui uma Bíblia, em vez de
linho, em vez de sua mercadoria original outra do mesmo valor, mas de utilidade diferente. Do mesmo
modo, ele se apropria de seus outros meios de subsistência e de produção. (pág. 132)
Para ele, todo o processo possibilitou-lhe apenas trocar o trabalho do seu trabalho por produto do
trabalho alheio, enfim, permutar produtos.
No processo de troca sucedem as seguintes mudanças de forma:

Mercadoria — Dinheiro —
Mercadoria
M D
M

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De acordo com o conteúdo material, o resultado de todo o processo é troca de mercadoria (M) por
mercadoria (M), circulação do trabalho social materializado, e, atingido esse resultado, chega o processo
a seu fim.

M—D
Primeira metamorfose da mercadoria ou venda. O salto do valor da mercadoria, do corpo da
mercadoria para o corpo do ouro, é, como o designei em outro lugar, o salto mortal da mercadoria. Caso
ele falhe, não é a mercadoria que é depenada, mas sim o possuidor dela. (pág. 133)

O vendedor substitui sua mercadoria por ouro; o comprador, seu ouro por mercadoria. O que se
percebe é o fenômeno de mercadoria e ouro, 20 metros de linho e 2 libras esterlinas, mudarem de mão e
de lugar, isto é, sua troca. Mas por que coisa se troca a mercadoria? Por sua própria figura geral de valor.
E o ouro? Por uma figura particular de seu valor de uso.
Por que o ouro defronta-se com o linho como dinheiro? Porque o seu preço, 2 libras esterlinas ou
sua denominação monetária, já o refere ao ouro como dinheiro. Ocorre o abandono da forma mercadoria,
ao ser alienada a mercadoria, isto é, no momento em que seu valor de uso atrai, de fato, o ouro que
existia antes, de maneira puramente ideal, em seu preço. A realização do preço, ou da forma ideal do
valor da mercadoria, é, por isso, a realização simultânea e oposta do valor de uso ideal do dinheiro; a
transformação da mercadoria em dinheiro é, ao mesmo tempo, transformação de dinheiro em
mercadoria. É um processo único encerrando duas operações: venda, para o possuidor da mercadoria;
compra, para o dono do dinheiro. Em outras palavras, venda é compra, M — D é ao mesmo tempo D —
M. (pág. 135)
A primeira metamorfose de uma mercadoria, a conversão da forma mercadoria em dinheiro, é
sempre a segunda metamorfose oposta de outra mercadoria, a reconversão da forma dinheiro em
mercadoria. (pág. 137)
D—M
Metamorfose segunda ou final da mercadoria: compra. Por ser a figura alienada de todas as
outras mercadorias ou o produto da sua alienação geral, é o dinheiro a mercadoria absolutamente
alienável. Ele lê todos os preços ao revés e se reflete, assim, em todos os corpos das mercadorias como
o material ofertado à sua própria conversão em mercadoria. Ao mesmo tempo, os preços, os olhos
amorosos com que as mercadorias piscam ao dinheiro, mostram o limite de sua capacidade de
transformação, isto é, sua própria quantidade. Como a mercadoria desaparece ao converter-se em
dinheiro, não se reconhece no dinheiro como chegou às mãos de seu possuidor ou o que transformou-se
nele. Qualquer que seja sua origem, “não cheira”. Se por um lado representa mercadoria vendida, por
outro representa mercadorias compráveis.
D — M, a compra, é ao mesmo tempo venda, M — D; a última metamorfose de uma mercadoria é,
por isso, simultaneamente, a primeira metamorfose de outra mercadoria. (pág. 137)
As duas fases ou movimentos opostos da metamorfose das mercadorias formam um circuito:
forma mercadoria, abandono da forma mercadoria, volta à forma mercadoria. [...] as duas metamorfoses

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que formam o circuito de uma mercadoria constituem, ao mesmo tempo, as metamorfoses parciais
opostas de duas outras mercadorias. (pág. 138)
O conjunto de todos os circuitos constitui a circulação das mercadorias. (pág. 139)

b) O curso do dinheiro
A metamorfose por meio da qual se realiza o intercâmbio dos produtos do trabalho, M — D — M
exige que o mesmo valor, na forma de mercadoria constitua o ponto de partida do processo e volte ao
mesmo ponto também na forma de mercadoria. Por isso, o movimento das mercadorias constitui um
circuito. Por outro lado, a forma desse movimento impede o dinheiro de percorrer um circuito. O resultado
é o distanciamento constante do dinheiro de seu ponto de partida e não o retorno a esse mesmo ponto.
Enquanto o vendedor mantiver consigo a figura transformada de sua mercadoria, o dinheiro, a
mercadoria encontra-se na fase da primeira metamorfose ou apenas percorreu a primeira metade de sua
circulação. Se o processo, vender para comprar, estiver completado, então também o dinheiro estará
outra vez afastado das mãos de seu proprietário original.

Dinheiro como meio de circulação


O curso do dinheiro é a repetição constante e monótona do mesmo processo. A mercadoria do
lado do vendedor, o dinheiro nas mãos do comprador, coma função de meio de compra. Cumpre essa
função ao realizar o preço da mercadoria. Realizando-o, a mercadoria se transfere das mãos do
vendedor para as do comprador, ao mesmo tempo que o dinheiro sai das mãos do comprador para as do
vendedor, para repetir o mesmo processo com outra mercadoria. [...] o resultado da circulação das
mercadorias, a reposição de uma mercadoria por outra, toma a aparência de ter sido conseqüência não
da mudança de forma das mercadorias, mas da função, desempenhada pelo dinheiro, de meio de
circulação, que põe a circular as mercadorias, inertes por natureza, transferindo-as das mãos em que não
são valores de uso para as mãos em que são valores de uso. (pág. 142)

Quanto dinheiro a esfera da circulação continuamente absorve.


Toda mercadoria, ao entrar em circulação, mudando, pela primeira vez, de forma, entra para dela
sair e ser substituída por outra. O dinheiro, ao contrário, sendo meio de circulação, permanece na esfera
da circulação, onde desempenha, continuamente, seu papel. Surge, assim, o problema de saber quanto
dinheiro absorve, constantemente, essa esfera.
Ocorrem todo dia num país, ao mesmo tempo e em lugares diferentes, muitas metamorfoses
parciais
De mercadorias, ou, em outras palavras, numerosas vendas e numerosas compras. Em seus
preços as mercadorias já estão equiparadas a determinadas quantidades imaginárias de dinheiro. Ora, a
forma direta de circulação que estamos observando confronta corporeamente dinheiro e mercadoria,
aquele no pólo da compra e está no pólo da venda. Por conseguinte, o montante de meios de circulação
exigido pela circulação do mundo das mercadorias já está determinado pela soma dos preços das

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mercadorias. De fato, o dinheiro representa apenas de modo real a soma de ouro já expressa idealmente
na soma dos preços das mercadorias. As duas somas são, portanto, necessariamente iguais. (pág. 144)
A quantidade total de dinheiro que funciona como meio de circulação, em cada período, é
determinada pela soma dos preços das mercadorias em circulação e pela velocidade com que se
sucedem as fases opostas das metamorfoses. (pág. 148)

c) A moeda. Os símbolos de valor


A forma de moeda assumida pelo dinheiro decorre de sua função de meio de circulação. O peso
de ouro, idealizado no preço ou nome em dinheiro das mercadorias, tem de confrontá-las na circulação,
objetivando em peças de ouro do mesmo nome, em moedas. A cunhagem, do mesmo modo que o
estalão de preços, torna-se atribuição do Estado.

Dinheiro simbólico
O próprio curso do dinheiro, ao separar o peso real do peso nominal da moeda, a existência
metálica desta de sua existência funcional, traz latente a possibilidade de o dinheiro metálico ser
substituído, em sua função de moeda, por senhas feitas de outro material, por meros símbolos. O papel
de dinheiro simbólico desempenhado pelas peças de prata e cobre, substituindo moedas de ouro,
encontra sua explicação histórica nos obstáculos técnicos à cunhagem de frações ínfimas de ouro e de
prata. [...] substituem o ouro nas faixas de circulação das mercadorias onde as moedas mudam de mãos
mais rapidamente, isto é, nas faixas onde compras e vendas em pequena escala se renovam sem
cessar. (pág. 153)

A existência autônoma do valor de troca da mercadoria é um elemento efêmero que a faz ser
imediatamente substituída por outra. Por isso, basta a existência apenas simbólica do dinheiro num
processo em que passa ininterruptamente de mão em mão. Sua existência funcional absorve por assim
dizer a material. [...] é necessário unicamente que o símbolo do dinheiro tenha a validade social própria
do dinheiro, e esta adquire-a o papel que o simboliza, através do curso forçado. (pág. 156)
Papel-moeda
O papel-moeda é um símbolo que representa ouro ou dinheiro. O papel-moeda representa
simbolicamente as mesmas quantidades de ouro em que se expressam idealmente os valores das
mercadorias, e esta é a única relação existente entre ele e esses valores. O papel só é símbolo de valor
por representar quantidade de ouro, a qual é quantidade de valor como todas as quantidades das outras
mercadorias. O Estado lança em circulação pedaços de papel que levam impressas as respectivas
denominações monetárias, como 1 libra esterlina, 5 libras esterlinas, etc. Ao circularem realmente em
lugar da quantia de ouro de mesma denominação, governam seu movimento apenas as leis do curso do
dinheiro. (pág. 154)

3. O dinheiro
É dinheiro a mercadoria que serve para medir o valor, e diretamente ou através de representante,
serve de meio de circulação. Por conseguinte, ouro (ou prata) é dinheiro. Desempenha o papel de

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dinheiro diretamente, quando tem de estar presente com sua materialidade metálica, como mercadoria
dinheiro, portanto, e não idealmente, como sucede em sua função de medida de valor, nem através de
representação por símbolos, como ocorre em sua função de meio de circulação. Desempenha o papel de
dinheiro diretamente ou por meio de representante, quando configura com exclusividade o valor ou a
única existência adequada do valor de troca das mercadorias em oposição à existência delas como
valores de uso. (pág. 156)

a) Entesouramento
A rotação contínua das duas metamorfoses opostas das mercadorias ou o incessante
revezamento da venda e da compra transparecem no curso ininterrupto do dinheiro, no seu movimento
continuo na circulação. Interrompida a serie de metamorfoses, não se complementando as vendas com
as compras, imobiliza-se o dinheiro ou transforma-se, como diz Boisguillebert, de móvel em imóvel, de
moeda corrente em dinheiro de modo geral.

Já nos primórdios do desenvolvimento da circulação das mercadorias desenvolvem-se a


necessidade e a paixão de reter o produto da primeira metamorfose, a forma modificada da mercadoria, a
crisálida áurea. Vendem-se mercadorias não para comprar mercadorias, mas para substituir a forma
mercadoria pela forma dinheiro.
De simples intermediação do metabolismo, essa mudança de forma torna-se fim em si mesma.
Impede-se a imagem transformada da mercadoria de funcionar como forma absolutamente alienável, de
caráter fugaz. O dinheiro petrifica-se, então, em tesouro e o vendedor de mercadorias torna-se
entesourador. (pág. 157)

Para reter o ouro com dinheiro ou fator de entesouramento, é mister impedi-lo de circular ou de
servir de meio de compra, quando se transforma em artigo de consumo. [...] Mas só pode tirar bem
dinheiro da circulação o que lhe dá em mercadoria, quanto mais produz, mais pode vender. Diligência,
poupança e avareza são suas virtudes cardeais; vender muito, comprar pouco, a suma de sua economia
política. (pág. 160)

b) Meio de pagamento
Dinheiro como meio de pagamento
Na forma direta de circulação de mercadorias, que vimos até agora, a mesma grandeza de valor
está sempre presente duplamente, mercadoria num pólo e dinheiro no pólo oposto. Os possuidores de
mercadorias, portanto entravam em contato apenas como representantes de equivalentes
reciprocamente presentes. Com o desenvolvimento da circulação de mercadorias, porém, desenvolvem-
se condições em que a alienação da mercadoria separa-se temporalmente da realização de seu preço.
Basta indicar aqui a mais simples dessas condições. Uma classe de mercadorias requer mais, outra
menos, tempo para ser produzida.
A produção de diversas mercadorias depende das diversas estações do ano. Uma mercadoria
nasce no lugar de seu mercado, outra tem de viajar para um mercado distante. Assim, um possuidor de

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mercadorias pode apresentar-se como vendedor antes que outro como comprador. Com constante
repetição das mesmas transações entre as mesmas pessoas, as condições de venda das mercadorias se
regulam pelas suas condições de produção. Por outro lado, vende-se o uso de certas classes de
mercadorias, por exemplo, uma casa, por determinado espaço de tempo. Somente após o decurso do
prazo fixado recebe o comprador realmente o valor de uso da mercadoria. Ele a compra, portanto, antes
de pagá-la. Um possuidor de mercadorias vende mercadorias que já existem, o outro compra como
simples representante do dinheiro ou como representante de dinheiro futuro. O vendedor torna-se credor,
o comprador, devedor. Como a metamorfose da mercadoria ou o desenvolvimento de sua forma valor se
altera aqui, o dinheiro assume outra função. Converte-se em meio de pagamento. (pág. 162)

Se observarmos agora a soma total do dinheiro em circulação durante dado período, verificamos
que, dada a velocidade de circulação do meio circulante e dos meios de pagamento, ela é igual à soma
dos preços das mercadorias a serem realizados mais a soma dos pagamentos vencidos menos os
pagamentos que se compensam e, finalmente, menos o número de giros que a mesma moeda descreve,
funcionando alternadamente como meio de circulação e como meio de pagamento. Assim, por exemplo,
o camponês vende seu grão por 2 libras esterlinas, que servem, desse modo, de meio circulante. No dia
do vencimento, ele paga com elas o linho que lhe forneceu o tecelão. As mesmas 2 libras esterlinas
funcionam agora como meio de pagamento. O tecelão, por sua vez, compra com elas uma Bíblia e paga
à vista — elas funcionam de novo como meio circulante — etc. Mesmo sendo dados os preços, a
velocidade de circulação de dinheiro e a economia dos pagamentos, já não coincidem a massa de
dinheiro que gira e a massa de mercadorias que circula durante um período, durante um dia, por
exemplo. Está em curso dinheiro que representa mercadorias retiradas há muito tempo de circulação.
Circulam mercadorias cujo equivalente em dinheiro só aparece no futuro. Por outro lado, os pagamentos
contraídos cada dia e os pagamentos que vencem nesse mesmo dia são grandezas absolutamente
incomensuráveis.

Dinheiro de crédito
O dinheiro de crédito decorre diretamente da função do dinheiro como meio de pagamento,
circulando certificados das dividas relativas às mercadorias vendidas, com o fim de transferir a outros o
direito de exigir o pagamento delas. (pág. 156)

c) O dinheiro universal
Ao sair da esfera interna de circulação, o dinheiro desprende-se das formas locais do padrão de
preços, moeda, moeda divisionária e signo de valor, e reassume a forma originária de barras dos metais
preciosos. No comércio mundial as mercadorias desdobram seu valor universalmente. Sua figura
autônoma de valor se defronta, portanto, aqui também com elas sob a forma de dinheiro mundial. É só no
mercado mundial que o dinheiro funciona plenamente como mercadoria, cuja forma natural é, ao mesmo
tempo, forma diretamente social de realização do trabalho humano em abstrato. Seu modo de existir
ajusta-se ao seu conceito. Na esfera interna de circulação pode servir como medida de valor e, portanto

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como dinheiro, somente uma mercadoria. No mercado mundial, há dupla medida do valor, o ouro e a
prata.
Conforme sucede com sua circulação interna, todo pais precisa de um fundo de reserva para a
circulação do mercado mundial. As funções das reservas entesouradas têm sua origem nas funções do
dinheiro: nas internas, de meio de circulação e de meio de pagamento, e nas externas, de dinheiro
universal. (pág. 171)
Os países onde a produção burguesa está bastante desenvolvida limitam as grandes reservas
entesouradas e concentradas nos bancos ao mínimo exigido para o desempenho das funções
específicas delas.

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