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LÍNGUA E EDUCAÇÃO EM TIMOR-LESTE

Sinto-me orgulhosa por poder dizer que Timor-Leste é a minha casa, e privilegiada
por poder desempenhar o meu papel no desenvolvimento desta jovem nação. Defendo
apaixonadamente o avanço dos direitos das mulheres e crianças, que são os segmentos
mais preciosos da nossa sociedade, embora também sejam os mais vulneráveis.
Descendo de uma longa linhagem de professores, e eu própria sou professora de
formação. Enquanto Embaixadora da Boa Vontade para a Educação, motiva-me o
desejo de ver as crianças de Timor-Leste colherem os benefícios de uma educação de
qualidade, tal como aquela que tive a boa sorte de desfrutar, habilitando-as, desta
forma, a contribuir de forma significativa para o crescimento e desenvolvimento da
sua terra natal, agora independente.

Enquanto estudante e amante de línguas, tenho uma profunda apreciação pelo papel
desempenhado pela língua na nossa definição enquanto indivíduos e membros de uma
sociedade e nação. Timor-Leste é uma sociedade poliglota, e a maioria dos seus
cidadãos fala até quatro línguas, entre as quais se incluem a língua materna (uma das
16 línguas nacionais faladas no país), o Tétum (a língua franca e língua co-oficial), o
Indonésio e o Português. O rico panorama linguístico de Timor-Leste tem potencial
para servir como um recurso único e precioso no futuro do país. No entanto, na
ausência de políticas claras, particularmente no sector educacional, que tenham em
conta o melhor da experiência internacional e se baseiem -se numa avaliação honesta
das capacidades actuais, as questões linguísticas permanecem como um obstáculo
para que as crianças adquiram capacidades básicas de literacia, fundamentais para a
aprendizagem no futuro.

A política e a prática educacionais actuais promovem o uso das duas línguas oficiais
(Tétum e Português) nas classes iniciais, com o Português a assumir o papel de língua
de instrução principal a partir do 3º ou 4º anos. No entanto, o sistema actual não apoia
a aprendizagem na língua materna da criança, uma vez que o Tétum é a língua
materna apenas de um pequeno número de timorenses. Além disso, o
desenvolvimento da fluência na Língua Portuguesa é associado a um prestígio e
importância consideravelmente maiores do que no caso do Tétum, tanto na presente
abordagem para a avaliação das competências dos professores, quanto no
desenvolvimento curricular e nos programas de formação de professores.

As lições e resultados provenientes de diversas iniciativas locais e de estudos


internacionais, na área da Educação Básica, demonstraram a superioridade do uso da
língua materna ou da primeira língua na melhoria dos resultados educacionais e na
promoção da Educação para Todos. Por exemplo, sabemos que as crianças aprendem
a ler com maior rapidez caso o façam na sua primeira língua. A UNESCO advoga a
adopção de programas de Educação Multilingue Baseados na Língua Materna, em
decorrência de pesquisas mundiais demonstrando que as crianças que aprendem a ler
e escrever na sua língua materna aprendem a falar, ler e escrever uma segunda ou
terceira línguas com maior rapidez do que aquelas que foram ensinadas desde o início
numa segunda ou terceira língua. O desenvolvimento cognitivo, emocional e social da
criança também é melhorado quando ela é educada na língua falada em casa, durante
os anos iniciais da escola primária.
O presente governo alcançou alguns marcos significativos na área da Educação,
particularmente no que diz respeito à descentralização da prestação de serviços e à
definição de algumas políticas e estruturas legais cruciais para o sector (Política
Nacional de Educação, Decreto-Lei da Educação Básica, etc.). Instituiu também um
sistema de nove anos de escolaridade gratuita e a obrigatoriedade da escola básica
para todos, o que constitui um passo fundamental no caminho para o alcance do
segundo Objectivo do Desenvolvimento do Milénio: a educação primária universal
para todos os timorenses, meninos e meninas. No entanto, a ausência de uma política
para a língua na Educação, a qual estabeleça de forma clara e consistente orientações
para o uso da língua nas salas de aula durante os nove anos iniciais de escolaridade,
ameaça seriamente as hipóteses do Ministério da Educação oferecer uma educação de
qualidade às crianças desta nação.

O facto do Tétum ser a língua franca dentre as línguas nacionais timorenses não
significa que o nosso povo possa automaticamente e instintivamente saber como falar,
ler e escrever correctamente neste idioma. Afinal, é apenas agora, num Timor-Leste
independente e pela primeira vez na sua história, que os cidadãos deste país têm a
oportunidade e o direito de afirmar a sua identidade única ao adoptar a(s) sua (s)
língua (s) nacional (is). Acredito firmemente que, enquanto o Tétum e as demais
línguas nacionais deste país não tiverem lugar, ou na melhor das possibilidades, um
nível inferior no sistema educacional de Timor-Leste, estaremos fadados a falhar no
nosso dever de prover uma base vital para a futura aprendizagem das nossas crianças,
condenando-as, desta forma, à pobreza enquanto nação.

O relatório do Secretário-Geral da UN ao Conselho de Segurança em Fevereiro de


2010 faz abundantes referências à necessidade do governo de investir mais no Tétum,
uma vez que se trata da principal língua de comunicação em massa e de um símbolo
da identidade nacional. O relatório relaciona o desenvolvimento e a promoção do
Tétum com a capacidade do governo de oferecer uma educação de qualidade a todas
as crianças do país.

A Comissão Nacional de Educação por mim presidida estabeleceu, a pedido do


Ministério da Educação, um Grupo de Trabalho sobre a Lingua na Educação, o qual
supervisionará o processo de elaboração de uma Política Nacional de Lingua na
Educação, até o final de 2010. Este Grupo de Trabalho trabalhará em colaboração
próxima com um grupo de especialistas internacionais em política linguística e
realizará consultas com intervenientes na área da Educação no país, incluindo
professores, estudantes e funcionários do Ministério da Educação. Ao formular a
política que será apresentada ao governo, levará em conta o trabalho da UNESCO ao
promover a educação multilingue baseada na língua materna, e também os resultados,
a pesquisa empírica e as recomendações apresentados numa série de conferências
nacionais e internacionais, incluindo a “Conferência Nacional de Educação Bilingue”
organizada pelo Ministério da Educação em Abril de 2008.

O Ministério da Educação deve ser congratulado por ter dado início a este processo
vital de formulação de políticas, e eu sinto-me honrada por me ter sido confiada a
tarefa de orientar este trabalho tão importante.

Kirsty Sword Gusmão


Abril, 2010

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