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Resumo
O objetivo deste artigo é discutir como a base de dados de Propriedade Industrial pode
subsidiar o processo de formulação de estratégias empresariais focadas no
desenvolvimento regional. Atualmente, está se discutindo muito sobre o papel da
inteligência competitiva como ferramenta de apoio ao desenvolvimento de estratégias
corporativas. Esta é uma fase de intensa disponibilidade e acesso à informação, mas obter
as informações que apóiem o planejamento estratégico já é uma questão que requer um
pouco mais de trabalho e pesquisa. Existem, tanto no Brasil como em várias partes do
mundo, bases de dados sobre propriedade industrial que servem como fonte de informação
para apoiar as ações de cunho estratégico. Contudo, no caso brasileiro não é utilizada de
forma adequada e eficaz, ou seja, com a mesma freqüência que é utilizada nos países
desenvolvidos. Em se tratando de modelos de gestão que possam promover o
desenvolvimento regional, como por exemplo, os Arranjos Produtivos Locais, que possuem
como uma característica marcante à vocação da região para determinadas atividades
econômicas, o monitoramento da base de dados sobre propriedade industrial pode ser uma
fonte importante de informação como, por exemplo, o acompanhamento do progresso e
tendências da atividade-chave da região, a identificação dos principais concorrentes e seus
respectivos mercados de ação, conhecimento de novas tecnologias que possam agregar a
produção e fomentar a inovação de processos e produtos. Nesse contexto, existe, no Brasil,
a base de dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI, onde é possível
realizar pesquisas, de forma gratuita (internet e local) como, por exemplo, sobre os
depósitos de patentes, averbações de contratos de transferência de tecnologia, e, registro
de marcas. Portanto, é uma ferramenta muito interessante que pode auxiliar o planejamento
estratégico de determinadas regiões, de forma a subsidiar o processo de inteligência
competitiva.
1. Introdução
Muitos pesquisadores acreditam que a civilização atual está vivenciando a era da
informação e do conhecimento. É notório que as informações estão cada vez mais
difundidas e socialmente mais acessíveis. Nos negócios também é possível observar este
fenômeno, as empresas possuem acesso a dados e informações de diversas fontes e com
distintas importâncias.
Problema Níveis
Organizacional Organizacional
Conhecimento Trabalhadores
do Conhecimento
Operações, Funcionários da
Produção e Serviço Produção e Serviços
Produção Finanças/ Vendas/ Recursos
Contabilidade Marketing Humanos
Nesse contexto, a inteligência competitiva é uma ferramenta que está sendo muito
discutida atualmente, talvez este seja um fenômeno emergente por três fatores essenciais: i)
o atual contexto competitivo do mercado mundial, cada vez mais acirrado e disputado; ii)
avanço significativo na área de Tecnologia e Sistemas de Informação (TI e SI); e, iii)
abundância e maior facilidade de acesso às informações.
De acordo com Santos et. al (2004), a inteligência competitiva pode ser considerada
um método de prospecção de curto prazo. É um processo ético que utiliza informações
públicas sobre tendências, eventos e atores fora das fronteiras da organização. Este
processo visa subsidiar a tomada de decisão e contribuir para que as metas sejam
atingidas.
Nesse sentido, Moresi (2001) destaca a contribuição da teoria dos sistemas e da teoria
da contingência para o atual estágio do desenvolvimento da inteligência competitiva, onde
afirma que estas teorias apresentam um esquema conceitual voltado à análise do ambiente
complexo e dinâmico, caracterizado pelas relações entre variáveis e atores de alta
significação para a organização.
Análise da concorrência é cada vez mais eminente para as empresas. Porter (1986)
defende a utilização de “dados inteligentes” para ser utilizado como base da análise da
concorrência. É muito provável que os dados necessários para este tipo de análise não
estão em uma única fonte, e nem podem ser colhidos num único esforço. Esse é um
processo que deve ser constante, pouco a pouco, ao longo de um período de tempo. Para
Porter (1989), qualquer tecnologia envolvida em uma empresa pode causar um impacto
significativo sobre a concorrência.
3. Aspectos Metodológicos
Está pesquisa é de caráter qualitativo, através de uma investigação do tipo
bibliográfica exploratória. De acordo com Cervo e Bervian (2002), a pesquisa exploratória
auxilia na formulação de hipóteses significativas para posteriores pesquisas e têm como
objetivo familiarizar-se com o fenômeno e descobrir novas idéias.
Por outro lado, nos países desenvolvidos existe um interesse muito grande pelas
informações contidas nessas bases de dados. É possível ter acesso a registros de marcas,
depósitos de patentes, e, desenhos técnicos referentes aos mais diversos segmentos de
mercado, empresas, tecnologias, estado da técnica, e, muito mais. (SUSTER, 2005). Então,
por que a incidência pela procura na base de dados sobre patentes não é uma prática
comum entre os empresários e “empreendedores” brasileiros?
Este fato nos faz refletir sobre um aspecto que é muito trivial em pesquisas nacionais,
ou seja, as comparações e bechmarking realizadas entre empresas nacionais e
multinacionais. Por que no Brasil as empresas com até 3 anos de vida possuem uma das
mais altas taxas de falência do mundo? O que os empreendedores dos países
desenvolvidos estão fazendo de diferente? Será que os “empreendedores” nacionais estão
estruturando de forma adequada os seus planos de negócio? Será que fazem algum plano?
Além disso, entre os casos de organizações já “consolidadas” no mercado: será que essas
empresas possuem o costume de pesquisar as bases de dados do INPI. Será que
conhecem esse recurso informacional? Será que utilizam as informações do banco de
dados do INPI e dos demais escritórios de patentes internacionais de forma estratégica para
o negócio?
Essa mesma reflexão pode ser feita nas questões relacionadas ao desenvolvimento
regional. Como utilizar as informações contidas nas bases de dados do INPI e demais
entidades relacionadas à Propriedade Industrial para promover a indústria local? De que
forma essas informações podem agregar na concepção do planejamento estratégico da
região e das suas, respectivas, organizações.
Por outro lado, existem outros serviços oferecidos pelo INPI que geralmente é utilizado
quando há um interesse ou necessidade por informações mais aprofundadas e densas
sobre alguma área específica ou sobre determinada patente, marca e desenho de algum
concorrente em especial. Esses serviços são realizados pelo pessoal interno (INPI), são
técnicos e especialistas que realizam a investigação sobre determinados objetos de
pesquisa, onde é cobrada uma taxa que não é nada absurdo em termos de valores
monetários. Além disso, é possível obter uma cópia da patente, com toda sua descrição,
desenhos (se tiver), dados sobre o inventor, data de validade, etc.
No caso da base de dados do INPI, existe uma informação indireta que pode ser
coletada e utilizada de forma estratégica – a Informação de Mercado. Dentre as empresas
que utilizam a base de patentes, é provável que uma grande maioria não usa este recurso
de forma adequada, ou seja, não aproveita de maneira a subsidiar o plano estratégico da
empresa.
Segundo relatório produzido sob a chancela do BNDES (1998), o Brasil exporta cerca
de US$ 1,5 bilhão de calçados por ano, sendo quase 70% desse montante destinado aos
EUA, conforme Figura 4. Portanto, naturalmente o mercado americano deve ser
constantemente vigiado, sendo imprescindível o monitoramento da base de patentes
americana. É interessante investigar o “terreno” e o mercado do concorrente, por exemplo,
investigar as bases de patentes da Itália e Espanha (EPO) e da China, bem como seus
principais mercados, o americano (USPTO), japonês (JPO) e europeu (EPO).
6. Considerações Finais
Os empreendedores e empresas brasileiras precisam tomar suas decisões com base
em informações cada vez mais fundamentadas, a fim de minimizar as incertezas, conhecer
os riscos e criarem condições empresariais sustentáveis. No Brasil, os empresários carecem
de uma atitude pró-ativa frente ao mercado e as tendências internacionais. Os planos,
geralmente, são concebidos de forma reativa, ou seja, para reagir frente a determinados
fatos e conjunturas. É necessária uma mudança de atitude dos empreendedores brasileiros.
Existem diversas fontes que fornecem as informações necessárias para tomar boas
decisões, no tempo exato e de forma correta. Algumas fontes possuem acesso fácil e
gratuito. Mas apesar de todos esses recursos informacionais, ainda não existe de forma
efetiva e difundida a elaboração de processos de inteligência nas organizações. Pesquisas
apontam que esta realidade esta mudando, onde cada vez é maior o número de empresas
nacionais que estão desenvolvendo seus processos de inteligência competitiva e
tecnológica.
Nesse mesmo contexto, esse raciocínio estratégico pode ser levado à prática através
de políticas de desenvolvimento regional. Determinadas regiões que possuem vocações
industriais e econômicas precisam desenvolver essa cultura da inteligência para sustentar
suas decisões.
Em se tratando das informações que podem ser obtidas através da base de patentes,
marcas e desenhos do INPI, e demais entidades internacionais (USPTO, EPO, JPO), pode-
se afirmar que este trabalho não tem a pretensão de esgotar as questões que envolvem o
tema. Existe um campo vasto a ser percorrido na investigação das informações desse
gênero e que abarcam as questões estratégicas de inteligência competitiva.
Em fim, com este artigo tentou-se reforçar a luz do conhecimento à importância das
informações contidas nos registros de Propriedade Industrial para o processo de inteligência
competitiva e, conseqüentemente, na formulação de estratégias corporativas e regionais.
Num futuro próximo, espera-se que a realidade brasileira com relação a esse tema,
Informação Estratégica a partir da Base de Propriedade Industrial, seja mais favorável e
efetiva na concepção de uma indústria nacional forte e sustentável.
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