Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
“- E pelo que respeita às palavras, sem dúvida que não diferem nada do discurso não cantado, quanto
deverem ser expressas segundo os modelos que há pouco referimos, e da mesma exacta maneira?
- É exacto.
- E certamente as harmonias e o ritmo devem acompanhar as palavras?
- Como não?”
Platão, A República, 398d, 11ª ed., Lisboa, Fundação Calouste de Gulbenkian
! !
do retorno do seu impacto junto do eleitorado.”, proponho um breve olhar sobre aspectos
estabelecer uma relação sobre variados pontos de interesse na relação entre a música e o
temas são propostos vários tipos de análise, dependendo também da informação fornecida a
tempo da entrega. Este projecto pretende apenas ser um resumo sobre a vasta temática no
O poder de persuasão da música e a sua utilização política quotidiana também pode ser
identificado através de “temas de campanha” e “hinos partidários”, verdadeiras bandas-sonoras da
vida política, empenhando as estruturas internas, criando laços emocionais comuns, e tornando-
se também parte da imagem e cultura partidária. Segundo Brown, a Música serve principalmente
como um instrumento cooperativo dentro dos grupos sociais, encorajando tanto a harmonia
interna pelo bem comum, como da solidariedade colectiva quando confrontados com conflitos
internos. (Brown, 2000a, 2003). Fora deste contexto, a música funciona noutros planos, pois não
só possui uma componente relacional, de proximidade, importante para o marketing interno, de
reforço e manutenção dos relacionamentos existentes pelo fortalecimento do espírito de grupo,
como externamente, na esfera transaccional, influencia a decisão final dos eleitores, pela sua
participação na criação simbólica dos partidos ou candidatos.
A música é também uma componente importante em todo o tipo de propaganda, incluída tanto na
mensagem política como na religiosa. Tornou-se comum a utilização da música em políticas
culturais de Estado, no sentido da preservação, reforço da identidade nacional e a limitação da
influência da cultura de massa geralmente caracterizado como não-tradicional, não-elitista,
produzido em massa, popular, comercial e homogeneizado (McQuail, 2000), bem como, num dos
seus extremos, um factor importante na formulação de sentimentos patrióticos na opinião pública.
Regressando aos domínio da comunicação política, surgem por exemplos de utilização da música
nos concertos que acompanham os comícios e adicionam uma componente mais cultural à
política, na associação pública de artistas famosos com candidatos ou partidos, tornando os
admiradores em potenciais votantes, na maior importância da presença dos políticos nas festas
sociais, no aumento do número de concertos oferecidos às populações em anos eleitorais, nos
temas presentes nos sites partidários, nos hinos em forma de videoclips no YouTube, etc.
Vários destes exemplos surgiram na campanha de Obama em 2008, com o seu Hino de
Campanha e vídeo no YouTube que obteve milhões de visualizações, concertos de campanha
Num momento da história em que as conquistas eleitorais exigem a dedicação total de diversos
actores em “palcos de representação” mais expostos que nunca às opiniões dos eleitores, a
necessidade de utilizar ferramentas que manipulem a emoção e obtenham vantagem sobre a
razão “o pathos sobre o logos”, sublinha a importância da música no marketing político.
Os Hinos partidários
Pretendendo sempre integrar a mensagem musical com a textual, um tema ou hino pode compilar
o mais importante do conteúdo ideológico, político e prático, sublinhando os lemas e frases de
ordem, criando um facilitador de memória para os pontos chave da comunicação externa. A
música serve como um acrescento à linguagem que reforça emotivamente os valores, virtudes e
comportamentos normativos. Ferramentas musicais como o ritmo, repetição e a polifonia,
aumentam efectivamente o significado e a memorização de mensagens linguísticas. (Richman,
2000).
Através desta ferramenta, é potenciada uma maior eficiência na comunicação e uma maior
definição na interpretação das mensagens, tanto do emissor como do receptor. Uma obra musical
pode adquirir ainda mais significado ao incluir texto verbal, referências a períodos históricos,
actividades e funções sociais, culturas, subculturas, regiões geográficas, identidades sociais,
dilatando assim os limites da comunicação. (Brown, 2006)
O desenvolvimento natural dos Partidos Políticos levou à necessidade de criação de símbolos que
os diferenciassem, tornando-se mais comum a utilização de siglas, bandeira, hinos, cores, etc.
Através destes símbolos comuns, representa-se o herança e uma importante parte da cultura
partidária, sendo os conteúdos linguísticos (mais directamente interpretáveis) parte dos estatutos
do Partido, votados normalmente em congresso. No exemplo do Partido Socialista, segundo o nº
4 do Artigo 2º que define a Sigla, Símbolo, Bandeira e Hino, “O hino do PS é a “Internacional”,
com letra em português e na versão aprovada pelo Partido.” (Estatutos do Partido Socialista -
Referências Internet 2). No caso do CDS/PP, o Artigo 3° que define os Símbolos, lê-se “São
símbolos do Partido Popular o emblema, a bandeira e o hino. A aprovação do emblema, da
bandeira e do hino do Partido é da exclusiva competência do congresso.” (Estatutos CDS-PP -
Referências Internet 3)
À primeira vista as diferenças ideológicas representadas na letras dos hinos dos partidos de
direita e de esquerda não são assim tão grandes. Apesar de três dos quatro partidos de Esquerda
Com o desejo de utilizar uma interpretação não só da perspectiva do receptor como também da
do emissor, tendo em conta os vários contextos e possíveis codificações por diferentes sujeitos,
tentando identificar quem são os vários tipos de emissores e receptores, para melhor perceber em
que casos se passa a mensagem de uma forma mais eficaz e os vários níveis (emotivos,
cognitivos, colectivos) deste relacionamento, procurei entrar em contacto não só com os autores e
intérpretes recentes dos temas, como com os responsáveis pela comunicação do partido, de
forma a poder focar as suas várias intenções, já que a abordagem procurou ser efectuada sob
uma perspectiva funcional da música numa análise sociomusicológica dinâmica.
Infelizmente, sobretudo devido à escassez de tempo provocada pela quadra festiva que
acompanhou uma parte da investigação deste breve trabalho, as respostas por parte dos partidos
foram escassas, tendo alguns temas ficado limitados à interpretação dos textos e das músicas. No
campo musical, procurei também alargar a análise a géneros musicais ou tendências
identificáveis, libertando uma parte da análise dos ritmos, harmonias, melodias, tempos, volumes
de âmbito puramente musicológico. Sempre que possível incluí uma referência ao contexto
sociocultural do tema.
Os seis Partidos Políticos inicialmente contactados por correio electrónico foram: Partido
Socialista (P.S.), Partido Social Democrata (P.S.D.), Partido Popular (C.D.S.- P.P.), Bloco de
Esquerda (B.E.), Partido Comunista Português (P.C.P.) e Partido Comunista dos Trabalhadores
Portugueses (PCTP-MRPP).
O e-mail enviado para os gabinetes de comunicação e relações públicas dos partidos apenas foi
respondido pelo PCTP-MRPP e pelo Bloco de Esquerda. A esses dois partidos foi enviado um
outro e-mail com um pedido de informações alargado, tendo apenas o BE respondido e tendo
acedido a uma curta entrevista. A limitação de tempo limitou a recolha de informação e a posterior
análise que desequilibrou qualquer tentativa de comparação entre certas características dos
temas.
Parece-me também pertinente enquadrar o tema “A Internacional”, pois é referido por 4 dos 6
Partidos em análise e é o hino oficial de 3 deles (P.S., P.C.P. e P.C.T.P. - M.R.P.P.) aqui
apresentados, diferenciando no entanto as estrofes, a serem analisadas, em cada uma das
versões.
Segundo Ruben de Carvalho, “A Internacional foi composta em 1888 por Pierre Degeyter, um
operário anarquista de origem belga, que transformou o poema escrito em 1870 por Eugéne
Pottier, um membro da Comuna de Paris, em música. É fundamentalmente a partir de 1896, após
a realização do congresso do Partido Operário Francês realizado nesse ano em Lille e durante o
A análise dos temas será realizada a partir de uma adaptação livre da hierarquia musical e
semântica proposta por Brown (2006:15) incluindo alguns elementos não referidos pelo autor e
excluindo outros, principalmente dentro da teoria musical (escalas, intervalos, harmonias, acordes,
modos, motivos, etc.) condensando esses elementos ou referindo-os de uma forma sucinta.
Sempre que possível serão especialmente focalizados elementos de ordem simbólica, emocional,
social, histórico, bem como géneros e contextos musicais, influências de repertório,
instrumentação, entre outros, pela sua importância no enquadramento geral.
Devido à anteriormente referida falta de resposta por parte dos Partidos, a análise dos temas
utilizados ou referidos em fontes oficiais na internet, foi reforçada. Para organizar a informação
recolhida e respectiva análise, optei por colocar os Partidos por ordem de votação nas eleições
legislativas de 2009.
Nos estatutos do Partido Socialista o nº 4 do Artigo 2º que define a Sigla, Símbolo, Bandeira e
Hino, “O hino do PS é a “Internacional”, com letra em português e na versão aprovada pelo
Partido.” (Regulamento PS). No site oficial do Partido Socialista (www.ps.pt) não existe nenhuma
referência à letra oficial, no entanto através na internet encontram-se duas fontes, uma delas
através de um mp3 (http://folk.ntnu.no/makarov/temporary_url_20070929kldcg/internationale-
pt.mp3) que tornam provável que seja esta a letra oficial do Hino oficial do Partido Socialista
Português.
Título: A Internacional
Letra: Partido Socialista
Música: Pierre Degeyter
Duração: 3’28
Análise Genérica
Não tendo obtido informação de quando data esta versão, é no entanto visível uma suavização da
mensagem nas estrofes, que mantendo referências à luta e renunciar ao passado servil, refere a
paz através do trabalho na segunda estrofe, e mais à frente no primeiro verso da quinta estrofe,
“Nunca mais no campo de batalha” . A igualdade social e o contrato social é também referido, na
terceira estrofe, juntamente com elementos históricos anteriores como o primeiro verso da quarta
estrofe, “Já fomos Grécia e fomos Roma”.
O abandono de certas expressões comuns à esquerda radical, ilustram uma aproximação ao
centro por parte da mensagem do hino.
A análise do contexto histórico e autoria original da música e letra já foi anteriormente referida.
Não obtivemos informações relativas ao processo de elaboração, discussão e aprovação da nova
versão.
Sendo apresentados para download no site do Partido dois hinos (www.psd.pt), nenhum deles é
referido nos estatutos do partido, sendo o Símbolo do partido, segundo o quarto artigo dos
Estatutos de Partido Social Democrata, Aprovados XXVIII Congresso, em Março de 2006, “1. O
símbolo do Partido é formado por três setas, de cor preta, vermelha e branca, que representam os
valores fundamentais da Social-Democracia: a liberdade, a igualdade e a solidariedade. 2. O PPD/
PSD adopta como sua a cor de laranja.” (Estatudos Nacionais do PSD - Referências Internet 5)
Pela falta de informação recolhida, aproveitaram-se os possíveis recursos para análise, sendo o
segundo tema sucintamente analisado.
Mais recentemente para a campanha das Eleições Legislativas em 2005, foi composto o tema
“Menino Guerreiro” que não é referido no site do PSD
Paz, Pão, Povo e Liberdade, Com toda a tua vontade, Tens a liberdade,
Todos sempre unidos no Tu ganhaste a liberdade. Dá a mão ao teu irmão,
caminho da verdade. (bis) Pelo bem da nossa gente,
Paz, Pão, Povo e Liberdade, Construindo sempre em frente.
Cantam povo canta, Todos sempre unidos no
Por um Portugal em Paz, caminho da verdade. (bis) Paz, Pão, Povo e Liberdade,
Por uma democracia, Todos sempre unidos no
Por um nascer de um novo dia. Cantam povo canta, caminho da verdade. (bis)
Canta sempre e sem temer,
Cantam povo canta, No caminho da vitória,
Trabalhando pelo Pão, P’ra fazer a nossa história.
Nós vamos fazer um país novo, é o desafio, Anda vem daí junta-te a mim,
Mão na mão, há-de nascer Crescer para ganhar. Às vezes é preciso dizer não,
vontade, Porque agora é urgente dizer
Assim vamos todos cantar povo, Anda vem daí, sim.
Cantar paz, cantar pão, Junta-te a mim,
liberdade. Fazer um país, Nós somos um rio,
E eu vou dizer sim. (Bis) que não vai parar,
Desencanto e desilusão, é o desafio,
se quisermos vamos por-lhes Temos o direito à esperança, Crescer para ganhar.
fim, Agora é preciso acreditar,
Às vezes é preciso dizer não, Vão soprar os ventos da Anda vem daí,
Porque agora é urgente dizer mudança, Junta-te a mim,
sim. Somos nós que os faremos Fazer um país,
soprar, E eu vou dizer sim. (bis)
Nós somos um rio,
que não vai parar, Trazes o futuro em tua mão,
Análise Genérica:
São fortes as referências à esperança de um país novo e ao “desencanto e desilusão” que se
preciso contrariar pelos “ventos de mudança” e o desafio do “futuro em tua mão”. É também várias
vezes referido nas estrofes e no refrão que “é urgente dizer sim”.
Música claramente de inspiração europeia, usando o violino e melodias tradicionais do norte da
Europa.
3- CDS-PP
Hino do CDS-PP
Música e interpretação: Dina
Letra: Rosa Lobato Faria
Duração: 5’07
Para a voz de Portugal ser junta a tua voz à nossa voz Para a voz de Portugal ser
maior e vamos cantando. (BIS) maior
junta a tua voz à minha voz junta a tua voz à nossa voz
e vamos cantando. (BIS) O orgulho de nascer português e vamos cantando. (BIS)
a vontade de vencer outra vez
Toda força que guardamos na cada um que aqui vier trará Toda força que guardamos na
mão mais dez mão
solidários numa mesma canção com a força que guardamos na solidários numa mesma canção
e faremos um País que tem mão e faremos um País que tem
razão. solidários numa mesma canção razão.
e faremos um País que tem
Para a voz de Portugal ser razão.
maior
Análise Genérica:
No Hino oficial do CDS-PP, a estrutura dos versos de Rosa Lobato Faria propõem uma repetição
mais circular que nos restantes temas apresentados. O que podemos considerar refrão é um
terceto que repete o desejo da “voz de Portugal ser maior” através do juntar das vozes (luta) que
irão cantando. Existe uma segunda parte do refrão que refere a necessidade de união entre força
e a solidariedade para fazer um “País que tem razão.” Uma terceira parte que não pode ser
Bloco de Esquerda
O Bloco de Esquerda não possui um hino de partido, mantendo no entanto uma permanência na
referencia militante ao hino “A Internacional”. Ao longo da sua existência tiveram vários hinos de
campanha. Desde 1999 os encerramentos de comícios e convenções é feito ao som do tema
“Maré Alta” de Sérgio Godinho. Nas Legislativas de 2005 utilizaram como hino de campanha o
tema Mudar de Vida de António Variações, numa interpretação do grupo Humanos. Já nas
Presidenciais em 2006 com Francisco Louça como candidato, foi utilizado um tema instrumental
de Nuno Rebelo que “sendo original não foi composto propositadamente para a campanha”. Em
2009 criaram pela primeira vez um tema de raiz que serviu de hino para as campanhas de 2009 –
“Está na hora”
Graças à troca de correio electrónico finalizados por uma entrevista telefónica com Jorge Costa,
responsável do Bloco de Esquerda nesta área, grande parte das questões colocadas na
metodologia da pesquisa foram referidas, ajudando a fazer crer que com a colaboração de mais
elementos e informações sobre a visão de pelo menos parte do “Emissor” no sentido lato do
termo, se encontrariam mais facilmente elementos analisáveis entre a cultura política do Partido,
seu posicionamento, segmentação, simbologia, etc. O interesse na procura de informações e
referências inerentes à mensagem e à sua interpretação pela parte de quem a cria ou ajuda a
criar (neste caso um tema para as Campanhas em 2009), é muito importante se se quer atingir o
objectivo inicial deste curto trabalho. Como atrás foi referido, as perguntas abaixo resumidas e
organizadas, foram enviadas num segundo e-mail enviado directamente a Jorge Costa, tendo as
respostas, sido recolhidas por telefone.
10
!
Está na Hora de fazer a luta Está na Hora de fazer a luta Está na Hora de fazer a luta
toda. (bis) toda. (bis) toda. (bis)
Juntar forças é perder o medo, Juntar forças é perder o medo, Está na hora, Esta Força
Não é cedo, Não é cedo, Não é cedo, Esta Força
Juntar forças, solidariedade, Juntar forças, solidariedade, Se agiganta (?) na Herança e
Não é tarde. Não é tarde. continua, a luta continua.
Quem decide o preço deste Quem decide o preço deste Está na Hora de fazer a luta
chão, chão, toda. (bis)
E das vidas que aqui estão, E das vidas que aqui estão,
Quem decide a vida ser assim? Quem decide a vida ser assim?
Sempre assim. Sempre assim.
A primeira pergunta é relativa ao tema de campanha criado em 2009 para as três eleições que
decorreram durante o ano, Europeias, Autárquicas e Legislativas. Quanto ao contexto em que o
tema surgiu, Jorge Costa explicou que fazer um tema original de raiz surgiu da vontade e
necessidade de “deixar de recorrer sempre ao mesmo leque de canções” nas actividades do
partidárias. Todo o processo de produção do tema surgiu graças à participação militante e
voluntária, em toda a escala, da composição, à interpretação instrumental e vocal. Pedro
Rodrigues esteve encarregado de todo o processo de composição e arranjos a quem se juntou
Sérgio Vitorino. Todo o processo musical não teve intervenção criativa do Bloco de Esquerda. No
caso da letra foi também produzida por Pedro Rodrigues e Sérgio Vitorino, desta vez em estreita
ligação com o próprio Jorge Costa do Bloco de Esquerda. Foi elaborada com base numa colagem
de vários slogans usados pelo B.E. em campanhas anteriores, chegando-se a um texto final que
juntamente com a música criou a versão final do tema usado nas Campanhas de 2009.
Aos objectivos a nível da mensagem do tema da parte do Bloco, Jorge Costa respondeu que
pretendia Ser um apelo à mobilização, não só ao voto como à participação política e à intervenção
social. Os pontos positivos e negativos que identificam no tema, forma resumidos como, “É uma
música que propõe a ser cantada, é fácil de interpretar e faz referência a campanhas anteriores,
encarna o espírito de festa” e que “É também positivo recordar que não foi um encomenda mas
uma participação militante e voluntária.”. O único ponto negativo referido foi “Devido ao pouco
tempo de preparação (composição, arranjos, ensaios, etc.) e de produção musical (gravação,
mistura, masterização, etc.) o resultado final sofreu um bocado”. De notar que as referências a
campanhas anteriores na letra do partido pode ter um efeito duplo e até complementar na criação
da herança cultural colectiva, bem como na memorização de pontos chaves da mensagem política
interna.
A pergunta seguinte referia os outros temas que utilizados em actividades, o exemplo que tinha
sido dado em resposta ao primeiro e-mail enviado, fora o tema “Maré Alta” de Sérgio Godinho
usado no encerramento dos comícios e convenções. O tema “Maré Alta” é reconhecido
juntamente com tantos outros temas de Zeca Afonso e outros autores e intérpretes seus
contemporâneos, que produziram canções com conteúdos e estatuto de esquerda, onde está
11
!
presente a vivência e a cultura revolucionária do 25 de Abril, uma identificação histórica da luta
popular de uma época.
A última pergunta era referente à versão d’A Internacional reconhecida pelo Bloco de Esquerda,
sendo clarificado que o explicado que não existe uma versão oficial do tema, mas pela vital
importância histórica do tema no movimento operário, sendo ele “um verdadeiro hino mundial à
fraternidade universal, ao socialismo e à luta no derrube do capitalismo”, e pelos militantes
espontaneamente o cantarem em vários contextos políticos o Bloco refere A Internacional como
uma referência simbólica, deixando a versão da letra cantada por cada um à sua livre e
expontânea vontade, sendo todas elas bem recebidas pelo partido.
Na análise do tema é de assinalar a repetição de cinco palavras no refrão e estrofes (Não, Agora,
Cedo, Hora e Tarde), a presença da ideia da Luta, da Força e Solidariedade. Na análise musical é
clara a modernidade da estrutura do tema e dos arranjos, recorrendo a elementos canalizadores
para um ambiente festivo.
Como apoio à análise do hino e temas do PCP, foram usados dois artigos publicados por Ruben
de Carvalho, cabeça de lista da CDU à Câmara Municipal de Lisboa em 2009 e programador,
organizador da Festa do Avante! e conhecido pelo seu interesse em etnomusicologia.
Título: A Internacional
Letra: Partido Comunista Português
Música: Pierre Degeyter
Arranjos: Pedro Osório
Duração: 2’29
12
!
inicia com uma redobrada referência à fome e na quadra seguinte à subsistência através da
produção na segunda estrofe, enquanto que a mesma expressão “ó produtores”, na versão do
P.C.T.P. só aparece na quarta estrofe. É também comum a ambos os hinos, ao fim dos “Senhores”
aqui referidos como “Messias, Deus, chefes supremos”.
O outro tema considerado neste artigo de Rúben de Carvalho fala sobre “a autoria de Avante
Camarada! do “compositor e intérprete português Luís Cília que a compôs durante o seu exílio em
Paris em 1967, explicitamente destinada a ser transmitida pela Rádio Portugal Livre (...) a canção
foi incluída no disco “Canções Portuguesas”, interpretadas por Luísa Basto “acompanhada pela
orquestra Ecran Azul”, editado em Moscovo pela editora Melodia em 1967.
Foi esta versão frequentemente transmitida pela Rádio Portugal Livre que se tornou conhecida em
Portugal, sendo nas vésperas do 25 de Abril de 1974 um dos mais populares temas da resistência
anti-fascista. Após a Revolução dos Cravos, Luísa Basto, regressada a Portugal, gravou nova
versão para a editora Sassetti (Zip Zip 30064/S) com arranjos e direcção de Pedro Osório,
reflectindo claramente a sonoridade das baladas que haviam celebrizado o programa televisivo
“Zip Zip” e conheceriam grande expansão nos anos de 74, 75 e 76.
Seria o mesmo Pedro Osório que, tal como para A Internacional, realizaria os novos arranjos da
gravação de 1981 que contaram com a participação de uma orquestra de 25 figuras e as vozes de
Luísa Basto, Carlos Alberto Moniz, Carlos Mendes, Fernando Tordo, Maria do Amparo, Samuel e
do próprio Pedro Osório.” (Ruben de Carvalho - 2001)
13
!
Título: Carvalhesa
Música: Tradicional
Duração: 6’12
Num outro artigo publicado na internet em 2001 descreve pormenorizadamente, a criação do tema
“Carvalhesa”. “Em Março de 1985 a Comissão Política do CC do PCP criou um grupo de trabalho
com o objectivo de se tentar criar um tema musical para a campanha eleitoral para as eleições
legislativas desse ano e que desse identidade sonora às diversas manifestações, desde os carros
de som até aos indicativos de tempos de antena. A primeira ideia dessa equipa foi a de encontrar
um tema de música tradicional portuguesa a que se pudesse dar um tratamento instrumental no
estilo do que entretanto se começara a chamar MPP, Música Popular Portuguesa. Vivia-se então
um momento de grande criatividade em termos de música popular, na esteira de Zeca Afonso e
Sérgio Godinho, os trabalhos dos Trovante, de Júlio Pereira, de Fausto tinham criado uma
sonoridade tão nova quanto portuguesa e que conseguia um resultado inteiramente
surpreendente: conquistava público em todo o País e em todas as áreas culturais. Pelas suas
raízes no folclore despertava eco nas audiências culturalmente fixadas em raízes e padrões rurais
com a mesma facilidade com que desencadeava o entusiasmo de plateias juvenis que de bom
grado trocavam a batida rock por surpreendentes linhas rítmicas bebidas em adufes e Zés-
Pereiras.” Com referência aos “temas tradicionais que Lopes-Graça harmonizara para o Coro da
Academia de Amadores de Música, (...)optou-se em primeiro lugar por uma conhecidíssima
melodia, a do «Canta, camarada, canta».” uma “canção de contrabandistas transmontanos” que
adquirira um “cunho claramente progressista, não apenas pelo facto de a Lopes-Graça se dever a
sua divulgação, mas também pelo uso do vocativo «camarada». A ideia era que o arranjo fosse
puramente instrumental, mas defrontou-se a dificuldade de a melodia possuir letra tradicional e
bem conhecida entre os democratas - sendo praticamente inevitável que a sua execução coral
acabasse a generalizar-se.” com algumas passagens mais polémicas como «eu hei-de morrer de
um tiro/ou de uma faca de ponta» ou «quem há-de temer a guerra/sendo um homem como eu
sou».
Passaram então à consulta do livro «Cancioneiro Popular Português» de Michel Giacometti
(Círculo de Leitores. Lisboa, 1981) e uma semana decorrida «Carvalhesa» terá soado pela
primeira vez fora de Trás-os-Montes. “Em Julho desse ano gravou-se a primeira versão e editou-
se um maxi-single de vinyl. (...) O arranjo da «Carvalhesa» gravado em 1985 acompanhou a
actividade política do PCP em sucessivas campanhas eleitorais, na Festa do «Avante!», cujos
palcos sempre abre e encerra e dos quais se tornou verdadeiramente emblemática. (Ruben de
Carvalho, Julho 2001)
Graças a este testemunho, torna-se possível ter em conta as preocupações na criação do tema
de Campanha em 1985, um quarto de século depois. O entusiasmo por uma sonoridade
reconhecidamente de esquerda que se popularizava cada vez mais, as referências artísticas que
acompanhavam esse género, as vantagens políticas que o Partido poderia retirar desses factores
tão próximos culturalmente.
14
!
6- PARTIDO COMUNISTA DOS TRABALHADORES PORTUGUESES - PCTP-MRPP
Rui Mateus do gabinete de imprensa, referiu por e-mail que a “importância da música num partido
comunista como o nosso, é fundamental para divulgação das nossas ideias de classe, como por
exemplo as nossas pinturas murais e a nossa música, que representam a diferença entre a arte
oficial, burguesa, e a popular, arte que consideramos genuína, mesmo com contradições mas
mais próxima do povo. A nossa música reflecte este estado espirito, de luta e resistência por uma
sociedade mais justa, sem explorados e oprimidos.”
Título: A Internacional
Letra: P.C.T.P.
Música: Pierre Degeyter
Intérpretes: Coro Popular Horizonte é Vermelho
Duração: 4’10
Alguns conceitos chave como a A Terra e a Luta surgem pela repetição não só nos refrões como
fora deles. A existência e caracterização de uma Classe Oprimida (condenados da terra, multidão
escrava, operários, camponeses, humanidade...) e a sua Luta pela Liberdade (tábua rasa,
liberdade, o bem comum, Pão, Luz, um mundo novo, o sol brilhará para sempre!) face ao
Opressor (vulcão, escória vil, amos, deus, César, senhores, parasitas, vampiros negros, corvos,
lobos, chacais) é repetida em as estrofes, alterando-se apenas alguns elementos. O refrão faz o
resumo de toda a mensagem revolucionária. No sentido final obtemos uma luta em que em
conjunto os escravos e condenados se transformam em salvadores .
Esta versão será provavelmente a menos alterada desde a tradução da letra para Português, o
que confere com a ideologia partidária. Encontram-se também alguns elementos mais próximos
da propaganda do que da comunicação política.
De referir que o Coro Popular Horizonte é Vermelho, parte do Partido, interpreta não só o hino
como também outros temas do partido, tais como: “Canto de Luta”, “Vamos Lutar”, “O Povo em
Luta”, “Soldados” e “Honra a Ribeiro”.
15
!
CONCLUSÃO
A música não só ajuda a passar, memorizar e interiorizar as mensagens como é vital no processo
de integração colectiva e se reflecte na comunicação e na cultura política dos Partidos. Após a
análise dos Hinos Partidários e temas eleitorais, torna-se mais clara a correlação entre cultura
partidária e as manifestações musicais que utiliza como ferramentas artísticas.
Infelizmente a análise contida neste trabalho acabou por ficar mais no nível das intenções do que
no texto final, o objectivo proposto necessitaria de bem mais que as 3 semanas, ainda por cima
festivas, que lhe foram reservadas. No entanto, fica o interesse para futuros aprofundamentos
sobre o tema e subsequente pesquisa directa e bibliográfica, de alguma forma importante para o
conhecimento da diversidade das culturas políticas nacionais. Fica também uma vontade de tentar
olhar os fenómenos culturais numa perspectiva diferente, abrangendo uma maior parte da
informação possível para se poder tirar a conclusões mais acertadas.
“The power of music has been described from time immemorial in terms of its effects on people
(Orpheus), animals (the dolphins of Orion), plants (growth stimulation), and inanimate objects (the
walls of Jericho). (Brown, 2006)
16
!
Referências Bibliográficas
Brown, Steven and Ulrik Volgsten eds. (2006) “Music and Manipulation. On the Social Uses and
Social Control of Music”, New York, London: Berghahn Books.
Brown, S. (2000a). “Evolutionary models of music: from sexual selection to group selection” In
(2006) “Music and Manipulation. On the Social Uses and Social Control of Music”, New
York, London: Berghahn Books.
Campos, Luís Melo, (2007). A música e os músicos como problema sociológico, Revista Crítica
de Ciências Sociais, 78, Coimbra, CES.
Cuche, D. (2004). “A noção de Cultura nas Ciências Sociais” 2º ed. Lisboa, Fim do Século
Damásio, A. (1994). O Erro de Descartes - Emoção, Razão e Cérebro Humano, Mem Martins,
Publicações Europa-América
McQuail, D. (2000). McQuail’s Mass Communication Theory 4th ed. London: Sage Publications. In
“Music and Manipulation. On the Social Uses and Social Control of Music”, New
York, London: Berghahn Books.
Murray N. M. and Murray S. B., (1996). “Music and lyrics in commercials: A cross-cultural
comparison between commercials run in the Dominican Republic and in the United States.”
Journal of Advertising 25: 51-63 In (2006) “Music and Manipulation. On the Social Uses and
Social Control of Music”, New York, London: Berghahn Books.
Neves, José Soares, (1999), “Os Profissionais do Disco. um Estudo da Indústria Fonográfica em
Portugal”, Lisboa , Observatório das Actividades Culturais.
Novo, António Martinho, coord. técnica, (2002) “Os Estado das Artes, As Artes do Estado, Actas do
Encontro CCB 19 a 21 Abril 2001”, Lisboa ,Observatório das Actividades Culturais.
Richmond, B. (2000). “How music fixed 'nonsense' into significant formulas: On rhythm, repetition,
and meaning” In N.L. Wallin, B. Merker and S. Brown (eds.) The origins of Music, (pp
301-314). Cambridge, MA:MIT Press In (2006) “Music and Manipulation. On the Social Uses
and Social Control of Music”, New York, London: Berghahn Books.
Strandlberg, Örjan, Bengt-Arne Wallin, in (2006) “Music and Manipulation. On the Social Uses and
Social Control of Music”, New York, London: Berghahn Books.
17
!
Referências Internet:
- Barack Obama's 'Yes We Can' video. Neil McCormick asks whether an extraordinary pop video,
put together as unofficial viral marketing by hip hop producer Will.i.am, will put Barack Obama in
the White House. In the US presidential election, YouTube looks as if it will play a key role. The
video networking site is already providing what may be the biggest ever audience for a political
speech, 13 million and counting.
http://www.telegraph.co.uk/culture/music/3671190/Barack-Obamas-Yes-We-Can-video.html
- Barack and Michelle Obama thank John Legend for his contribution to their campaign.
In his video blog, musician John Legend shows the Obamas thanking him behind the scenes at the
pre-inauguration concert http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/northamerica/usa/
barackobama/4324022/Barack-and-Michelle-Obama-thank-John-Legend-for-his-contribution-to-
their-campaign.html
- Barack Obama had all the best tunes. With blue-collar hero Bruce Springsteen and hip hop
superstar Jay-Z on his side, Barack Obama rocked the vote, says Neil McCormick.
http://www.telegraph.co.uk/culture/music/3562918/Barack-Obama-had-all-the-best-tunes.html
18