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No entanto, o ensaio de tração é considerado o teste mecânico que apresenta a melhor
relação entre informações obtidas e custo/complexidade de ensaio. Apesar deste teste possa
ser realizado em condições bem distintas daquelas nas quais o material será requisitado, os
parâmetros obtidos deste ensaio são o ponto de partida para a caracterização e especificação.
Isto pode ser visto, esquematicamente, pelo gráfico contido na figura 1.13.
1.7.1.1 – Módulo de elas ticidade (E): fornece uma indicação da rigidez do material,
sendo inversamente proporcional à temperatura e pouco dependente de pequenas variações na
composição química de elementos cristalinos (como por exemplo nos aços). Segundo a
expressão simplificada da lei de Hooke (equação 1.13), o módulo de elasticidade pode ser
expresso como sendo:
σ
E= (1.15)
ε
Onde σ é a tensão na qual se obtém a deformação real ε. Esta deformação deve ser medida
por meio de extensômetros para se evitar que a deformação do sistema de testes altere os
valores do módulo de elasticidade medidos.
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1.7.1.2 – Módulo de elas ticidade trans vers al (G): corresponde à rigidez do material
quando submetido a um carregamento de cisalhamento, calculado por uma expressão
semelhante à expressão (1.15):
τ
G= (1.16)
γ
Onde τ e γ são as tensão e a respectiva deformação
cisalhante que sofre o CP.
ε2 ε
ν =− =− 3 (1.17)
ε1 ε1
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aproximadamente igual à sua área inicial (Ays ≈ A0), o que leva à definição de limite de
escoamento como sendo igual ao expresso pela equação 1.18.
Fys Fys
σ ys (= LE ) = ≅ (1.18)
Ays A0
onde Fys é a força exercida pelo sistema de testes sobre o CP de área inicial A0.
Fi Fi A0 Fi A0 A
σi = = ⋅ = ⋅ = Si ⋅ 0 (1.19)
Ai Ai A0 A0 Ai Ai
onde Fi é a força atual sobre o CP de tração que apresenta uma área instantânea Ai, menor do
que a área inicial A0. Porém da definição de deformação convencional, dada pela equação 1.8:
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L0⋅ A0 = L1⋅A1 = Li⋅Ai
(1.21)
(Li/L0) = (A0/Ai)
Da mesma maneira, pode ser descrita a relação entre a deformação rela e convencional (ou de
engenharia) a partir da equação (1.12):
= ln (1 + e )
Li
ε = ln (1.23)
L0
O aluno deve notar que as duas equações para transformar tensão e deformação de
engenharia (S e e), baseadas nas dimensões iniciais do CP (L0 e A0), para as respectivas
tensões e deformações verdadeiras (σ e ε) somente são válidas quando têm-se distribuição
homogênea de deformações e constância de volume.
Uma curva tensão-deformação verdadeira pode ser construída ponto a ponto a partir
das equações (1.22) e (1.23) até a estricção, a partir deste ponto a determinação da tensão e
deformação verdadeiras deve ser feita experimentalmente. A figura 1.16 mostra a comparação
entre curvas tensão-deformação real e convencional de um aço AISI 4140, laminado a quente.
F igura 1.16 – Curvas tensão-deformação convencional (de engenharia) e real para um aço AISI 1020,
Dowling (1993) e AISI 4140, Boyer (1990).
19
F igura 1.17
– Curva
tensão-
deformação
convencional
(o u d e
engenharia)
para um aço
baixo
carbono,
Boyer
(1990).
20
F igura 1.19 – Curva tensão-deformação real de um aço baixo carbono, Boyer (1990).
1.7.2.2 – Coeficiente de encruamento (n) e cons tante plás tica de res is tência (K):
Dentre as equações utilizadas para modelar o formato da curva tensão-deformação no regime
plástico, destacam-se as seguintes:
• equação de Hollomon
σ = Kεn (1.24)
• equação de Swift
σ = K(ε0 + ε)n (1.25)
• equação de Ludwink
σ = σ0 +Kεn (1.26)
• equação de Voce
σ = a + (b-a) [1-exp(-nε)] (1.27)
o aluno deve notar que todas as equações estão relacionando tensões reais (σ) com
deformações reais (ε).
log σ 1 − log σ 2
n= (1.28)
logε 1− log ε 2
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que também pode ser escrita de outra forma, utilizando-se as equações (1.19), (1.20) e (1.23),
F l
log 2 2
F1 l1
n=
l2
log (1.29)
l0
log
l
log 1
l0
n = εUTS (1.30)
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dσ/dε = K n ε(n-1) = n (K εn)/ε
(1.36)
dσ/dε = n σ / ε
O valor de K também pode ser calculado com base em uma fórmula facilmente
deduzível, conforme abaixo:
σ = S⋅(1+e) ;
ε = ln(1+e) ou exp(ε) = (1+e) (1.38)
σ = S ⋅ exp(ε)
Porém:
σ = K εn (1.39)
Substituindo (1.38) em (1.39),
S ⋅ exp(ε) = K εn
(1.40)
K = S ⋅ exp(ε) ⋅ ε-n
w w
ln ln
ε Re al − l arg ura w0 w0
R= = = (1.42)
ε Re al − espessura t L ⋅w
ln ln 0 0
t0 L⋅w
R=
(R 0o
+ 2 ⋅ R45 + R90
o o ) , anisotropia normal. (1.43)
4
∆R =
( R0 − 2 ⋅ R45 + R90
o o o ) , anisotropia planar. (1.44)
4
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Maiores detalhes sobre o ensaio de tração podem ser obtidos no anexo I desta apostila.
Na lista de exercícios (item 1.11) estão dispostas algumas tabelas com valores das variáveis
aqui discutidas para alguns materiais testados em tração.
σ1 ≥ σys (1.45)
σ1 − σ 3
τ 2 = τ máx ≥ (1.46)
2
Onde σ1 é a maior tensão principal e σ3 é a menor.
Observando as condições de escoamento de um ensaio de tração têm-se:
• σ1≠0 (=σys)
• σ2=σ3=0
o que oferece o critério de escoamento, conforme a equação 1.47:
σ ys
τ 2 = τ máx ≥ , ou (1.47)
2
24
(σ1 - σ3) ≥σ ys (1.48)
d U = F⋅ d l (1.49)
li = l0(1+e1) ∴ dl = l0e1
(1.50)
σ = F/A ∴ F=σ1⋅A0
Neste caso utiliza-se A0, pois a alteração da área da secção reta é muito pequena para
considerar as correções citadas no item 1.7. Agrupando os termos da equação (1.50) e
integrando-a, por unidade de volume, obtêm-se:
εf
lf
U Total = ∫ F ⋅ dl = A0l0 ∫ σ 1dε1 (1.51)
l0
0
considerando o cálculo da equação (1.51) por unidade de volume (dividi-se por A0⋅ l0) e
considera-se válida a lei de Hooke (equação 1.13), faz-se a integração, obtendo-se:
εf
1
U Total = ∫ σ 1dε1 = σ 1ε f (1.52)
0
2
Somando as respectivas energias nos outros dois eixos, considerando que estas não
causem interferência mútua, pode-se obter:
εf
σ 1ε f = (σ 1ε1 ⋅ σ 2ε 2 ⋅σ 3ε 3 )
1 1
U Total = ∫ σ 1dε1 = (1.53)
0
2 2
Pode-se demonstrar, matematicamente que a equação acima (1.53) pode ser expressa
como sendo a soma de um termo correlacionado somente com as tensões hidrostáticas e outro
termo correlacionado com as tensões desviatórias (vide figura 1.8).
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• Energia hidrostática (UoH):
1 − 2ν
U 0D = (σ 1 + σ 2 + σ 3 )2 (1.54)
6E
U 0D =
1 +ν
6E
[
(σ1 − σ 2 )2 + (σ 1 − σ 3 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 ] (1.55)
O critério elaborado por von Mises, admite que o material inicie deformação plástica
quando a energia elástica de distorção por unidade de volume (UoD – equação 1.55) atinge um
valor limite que é característico do material. Considerando o ensaio de tração e aplicando-se
os valores de tensão de escoamento na equação (1.55), vêm:
1 +ν
U 0D =σ ys
2
( ) (1.56)
6E
Igualando esta equação à expressão da energia de distorção, obtêm-se a expressão para o
critério de escoamento de von Mises:
1
(σ1 − σ 2 )2 + (σ 1 − σ 3 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 ≥ σ ys (1.57)
2
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Os reais valores de tensão, onde ocorre o escoamento dos materiais metálicos, situam-
se, em média, entre as regiões definidas pelos critérios de Tresca e de von Mises, de acordo
com o gráfico apresentado por Dowling (figura 1.21) e por Meyers e Chawla (figura 1.22).
Figura 1.21.a –
Previsão de
escoamento no
estado plano de
tensão para várias
classes de materiais
metálicos, Dowling
(1993).
F igura 1.21.b –
Comportamento sob
escoamento de alguns
materiais comparando com
os três critérios de
escoamento deste item,
Meyers & Chawla (1984).
O aluno deve perceber que os critérios de escoamento são todos baseados nos valores
de tensões, conforme conceito de estado de tensões em um ponto apresentado no item 1.2.
Portanto, é possível que um material possua uma distribuição de tensões que causa
escoamento (deformação plástica) somente em algumas regiões ou pontos de seu volume.
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1.8.4 – Tensão e Deformação efetiv as
Dois estados de tensão são mecanicamente equivalentes quando produzem o mesmo
efeito em um material, com relação à deformação ou conformação plástica deste. A maneira
mais simples de comparar dois estados de tensão é pelos critérios de escoamento. Se dois
estados de tensão diferentes, por exemplo àqueles representados pelos respectivos tensores de
tensão (1) e (2) abaixo, são suficientes para iniciar a deformação plástica, segundo um critério
de escoamento, então estes estados são semelhantes. Deve-se notar que é possível que dois
estados produzam o mesmo efeito, no caso início de deformação plástica, mesmo que os
valores de tensões foram todos diferentes entre si (σi1≠σi2 e τij1≠τij2).
(1) (2)
Neste caso, como o efeito de ambos os estados (no caso o limiar de deformação
plástica) é mecanicamente igual, então se diz que estes estados são mecanicamente similares
ou efetivamente iguais. A definição mais usual para a tensões e deformações efetivas é a
fornecida com base nas considerações de energia de distorção oferecida por von Mises e
expressa pelas equações (1.59) e (1.60).
σe =
1
(σ 1 − σ 2 )2 + (σ1 − σ 3 )2 + (σ 2 − σ 3 )2 (1.59)
2
dε e =
2
(dε1 − dε 2 )2 + (dε 2 − dε 3 )2 + (dε 3 − dε 3 )2 (1.60)
3
a equação acima (1.60) pode ser simplificada, admitindo-se que o produto entre deformações
pode ser desprezado, para a seguinte forma:
dε e =
2
3
2 2
(
dε1 + dε 2 + dε 3
2
) (1.61)
εe =
2 2
3
(
ε1 + ε2 + ε 3
2 2
) (1.62)
εi = εi − εi
Plástico Total Elástica
(1.63)
como os termos de deformação elástica são, geralmente, muito pequenos então aproxima-se
os valores de deformação das equações de cálculo da deformação efetiva como sendo a
deformação total do material.
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1.9 – Relações entre tensão e deformação no regime plástico
As relações entre tensão e deformação no regime plástico são semelhantes àquelas
para o regime elástico, mas com duas grandes distinções:
• as deformações envolvidas sempre devem ser calculadas pela definição de deformação
verdadeira – equação (1.12), feita por meio do logaritmo da diferença entre a
dimensão final e inicial (ε=ln li/l0), no regime plástico não vale a aproximação de que
a deformação real é praticamente igual à deformação convencional (ε≠e);
• a deformação plástica final depende da história do carregamento mecânico a que foi
submetido a peça/componente.
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As seguintes equações, devidas à Levy-Mises, correlacionam tensões e deformações
plásticas:
1. Es tado de tens ões : tensões de tração provocam a ruptura antes que tensões de
compressão, assim a capacidade de deformação máxima aumenta quanto
maiores forem as componentes de compressão ou quanto mais compressiva for
a tensão efetiva aplicada ao componente e/ou peça (equação 1.59). Além disso,
em todos os processos de deformação ocorrem perdas devido ao atrito e
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movimento de internos de defeitos (discordâncias nos metais) que aumenta o
esforço de conformação e, conseqüentemente, a dificuldade de deformação.
1.11 – Bibliografia
Os livros destacados com um ponto (•) são recomendados como livros-texto deste
capítulo da disciplina.
BOYER, H.; Atlas of s tres s -s train curves . ASM International, 2nd printing, Materials
Park, 1990.
• DIETER, G. E.; Mechanical Metallurgy. SI Metric edition. McGraw Hill, Singapore,
1988. (existe uma versão anterior que foi traduzida para o português)
DOWLING, N.E.; Mechanical Behavior of Materials . Prentice-Hall Inc., Englewood
Cliffs, 1993.
HELMAN, H.; CETLIN, P.R.; Fundamentos da Conformação Mecânica dos
Metais . Editora Guanabara Dois, 19__.
MOURA BRANCO, C.A.G; Mecânica dos Materiais . Fundação Caloustre
Gulbenkian, 2a edição, Porto, 1994.
MEYERS, M.A.; CHAWLA, K.K.; Principles of Mechanical Metallurgy. Prentice-
Hall Inc., Englewood Cliffs, 1984.
• SCHAEFFER, L.; Conformação Mecânica. Imprensa Livre Editora, Porto Alegre,
1999.
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