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Os Genes São DNA

1
1.1 Introdução dupla hélice e pareiam umas com as outras por meio de
pontes de hidrogênio, formando somente os pares A-T ou
1.2 O DNA É o Material Genético das Bactérias G-C.
• A transformação bacteriana forneceu a primeira prova de • O diâmetro da dupla hélice é de 20 Å, havendo uma volta
que o DNA é o material genético das bactérias. As pro- completa a cada 34 Å, com cada volta composta por dez
priedades genéticas podem ser transferidas de uma linha- pares de bases.
gem bacteriana para outra, extraindo-se o DNA da primei- • A dupla hélice forma um sulco maior (largo) e outro me-
ra linhagem e adicionando-o à segunda. nor (estreito).
1.3 O DNA É o Material Genético dos Vírus 1.7 A Replicação do DNA É Semiconservativa
• A infecção por fagos provou que o DNA é o material gené- • O experimento de Meselson-Stahl empregou marcação por
tico dos vírus. Quando o DNA e as proteínas de bacterió- densidade para provar que uma única cadeia polinucleotí-
fagos são marcados com diferentes isótopos radioativos, dica é a unidade de DNA que é conservada durante a repli-
apenas o DNA é transmitido para a progênie de fagos pro- cação.
duzida pelas bactérias infectadas. • Cada fita de um duplex de DNA atua como molde na sínte-
se de uma fita filha.
1.4 O DNA É o Material Genético das Células Animais • As seqüências das fitas filhas são determinadas pelo pa-
• O DNA pode ser utilizado para introduzir novas carac- reamento de bases complementares com as fitas paren-
terísticas genéticas em células animais ou em animais tais separadas.
inteiros.
• Em alguns vírus, o material genético é RNA. 1.8 As Fitas de DNA São Separadas na Forquilha de Re-
plicação
1.5 As Cadeias Polinucleotídicas Possuem Bases Nitro- • A replicação do DNA é realizada por um complexo enzimá-
genadas Ligadas a um Esqueleto de Açúcar-Fosfato tico que separa as fitas parentais e sintetiza as fitas fi-
• Um nucleosídeo consiste em uma base de purina ou piri- lhas.
midina ligada à posição 1 de um açúcar do tipo pentose. • A forquilha de replicação é o ponto onde as fitas paren-
• As posições no anel de ribose são designadas por um após- tais são separadas.
trofo (’) para distingui-las. • As enzimas que sintetizam DNA são denominadas DNA po-
• A diferença entre o DNA e o RNA está no grupamento da limerases; as enzimas que sintetizam RNA são denomina-
posição 2’ do açúcar. O DNA possui um açúcar do tipo das RNA polimerases.
desoxirribose (2’-H); o RNA tem um açúcar do tipo ribose • Nucleases são enzimas que degradam ácidos nucléicos;
(2’-OH). estas incluem DNAases e RNAases e podem ser divididas
• Um nucleotídeo consiste em um nucleosídeo ligado ao em endonucleases e exonucleases.
grupamento fosfato tanto na posição 5’ ou 3’ da
(desoxi)ribose.
1.9 A Informação Genética Pode Ser Fornecida pelo DNA
• Resíduos sucessivos de (desoxi)ribose de uma cadeia po-
ou RNA
linucleotídica são ligados por um grupamento fosfato en- • Os genes celulares são de DNA, embora vírus e viróides
tre a posição 3’ de um açúcar e a posição 5’ do açúcar possam apresentar genomas de RNA.
adjacente. • O DNA é convertido em RNA pela transcrição, e o RNA
• Uma das extremidades da cadeia (convencionalmente, a pode ser convertido em DNA pela transcrição reversa.
esquerda) possui uma extremidade 5’ livre, e a outra, uma • A tradução do RNA em proteína é unidirecional.
extremidade 3’ livre. 1.10 Os Ácidos Nucléicos Hibridizam-se por Pareamento
• O DNA contém as quatro bases: adenina, guanina, citosi- de Bases
na e timina; o RNA possui uracila, ao invés de timina.
• O aquecimento promove a separação das duas fitas de um
1.6 O DNA É uma Dupla Hélice DNA duplex.
• A forma B do DNA é uma dupla hélice consistindo em duas • A Tm é o ponto médio da faixa de temperatura de desnatu-
cadeias polinucleotídicas de sentido antiparalelo. ração.
• As bases nitrogenadas de cada cadeia são anéis planos de • Fitas simples complementares podem renaturar quando a
purinas ou pirimidinas que se projetam para o interior da temperatura é reduzida.

Continua na próxima página


2 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

• A desnaturação e a renaturação/hibridização po- • As mutações diretas inativam um gene, e as mu-


dem ocorrer entre combinações de DNA-DNA, tações reversas (ou revertentes) revertem seus
DNA-RNA ou RNA-RNA e podem ser intermole- efeitos.
culares ou intramoleculares. • As inserções podem ser revertidas pela deleção
• A capacidade de duas preparações de ácidos nu- do material inserido, e as deleções não são re-
cléicos de fita simples hibridizarem é uma me- vertidas.
dida de suas complementaridades. • A supressão ocorre quando uma mutação em um
segundo gene anula o efeito da mutação do pri-
1.11 As Mutações Modificam a Seqüência do DNA meiro gene.
• Todas as mutações consistem em modificações
na seqüência do DNA.
1.14 As Mutações São Concentradas em
• Mutações podem ocorrer espontaneamente ou
Hotspots
serem induzidas por agentes mutagênicos. • A freqüência de uma mutação em qualquer par
de bases é determinada por uma flutuação esta-
1.12 As Mutações Podem Afetar Pares de Bases tística, exceto nos hotspots (“sítios quentes”),
Únicos ou Seqüências mais Longas onde a freqüência é aumentada em pelo menos
uma ordem de grandeza.
• Uma mutação pontual altera um único par de
bases. 1.15 Muitos Hotspots Resultam de Bases
• Mutações pontuais podem ser causadas pela con- Modificadas
versão química de uma base em outra, ou por • Uma causa comum de ocorrência de hotspots é a
erros que ocorrem durante a replicação. presença da base modificada 5-metilcitosina, que
• Uma transição substitui um par de bases G-C é espontaneamente desaminada, originando ti-
por um par de bases A-T, ou vice-versa. mina.
• Uma transversão substitui uma purina por uma
pirimidina, tal como a modificação A-T em T-A. 1.16 Alguns Agentes Hereditários São
• Inserções são o tipo mais comum de mutação e extremamente Pequenos
resultam da movimentação de elementos de • Alguns agentes hereditários muito pequenos não
transposição. codificam proteínas e consistem em RNA ou pro-
teína com propriedades hereditárias.
1.13 Os Efeitos das Mutações Podem Ser
Revertidos 1.17 Resumo

1.1 Introdução nucléicos que compreendem o genoma pode con-


ter um grande número de genes. Genomas de seres
A natureza hereditária de todo o organismo vivo é vivos podem conter de menos de 500 genes (no
definida por seu genoma, que consiste em uma lon- caso de um micoplasma, um tipo de bactéria) até
ga seqüência de ácido nucléico, que fornece a in- mais de 25.000, em um ser humano.
formação necessária para construir o organismo. Uti- Neste capítulo, analisaremos as propriedades dos
lizamos o termo “informação”, porque o genoma genes no que se refere à sua construção molecular
por si só não desempenha qualquer papel ativo na básica. A FIGURA 1.1 resume os estágios de transi-
construção do organismo: na realidade, é a seqüên- ção a partir do conceito histórico do gene até a de-
cia das subunidades individuais (bases) do ácido finição moderna do genoma.
nucléico que determina as características hereditá- Um genoma consiste no conjunto completo de
rias. Por meio de uma complexa série de intera- cromossomos de qualquer organismo em particu-
ções, essa seqüência é utilizada para produzir todas lar. Este compreende, portanto, uma série de mo-
as proteínas do organismo no momento e local apro- léculas de DNA (uma para cada cromossomo), cada
priados. As proteínas fazem parte da estrutura do uma contendo muitos genes. A definição final de
organismo, ou apresentam a capacidade de cons- um genoma está na determinação da seqüência de
truir as estruturas, ou ainda realizam as reações me- DNA de cada cromossomo.
tabólicas necessárias à vida. A primeira definição de gene como uma unidade
O genoma contém o conjunto completo da in- funcional se seguiu à descoberta de que genes indivi-
formação hereditária para qualquer organismo. Fi- duais eram responsáveis pela produção de proteínas
sicamente, o genoma pode ser dividido em algu- específicas. A diferença na natureza química entre o
mas moléculas diferentes de ácidos nucléicos. Fun- DNA do gene e o seu produto protéico levou ao con-
cionalmente este pode ser dividido em genes. Cada ceito de que um gene codifica uma proteína. Isso, por
gene corresponde a uma seqüência no interior do sua vez, levou à descoberta de um aparato complexo
ácido nucléico, a qual representa uma única proteí- que permite à seqüência de DNA de um gene origi-
na. Cada uma das diferentes moléculas de ácidos nar a seqüência de aminoácidos de uma proteína.
1.2 O DNA É O MATERIAL GENÉTICO DAS BACTÉRIAS 3

Principais eventos no século da genética A partir da demonstração de que um gene con-


1850
siste em DNA, e que o cromossomo consiste em
1865 Genes são fatores particulados
um longo segmento de DNA representando mui-
1871 Descoberta dos ácidos nucléicos tos genes, podemos passar para a organização geral
1903 Cromossomos são as unidades da hereditariedade do genoma no que se refere à sua seqüência de
1910 Os genes localizam-se em cromossomos DNA. No Capítulo 3 – O Gene Interrompido –,
1913 Os cromossomos são arranjos lineares de genes
abordaremos em maior detalhe a organização do
1900 gene e a sua representação na forma de proteínas.
1927 Mutações são alterações físicas nos genes
No Capítulo 4 – O Conteúdo do Genoma –, con-
1931 A recombinação ocorre por crossing over sideraremos o número total de genes e, no Capítu-
1944 O DNA é o material genético lo 6 – Agrupamentos e Repetições –, discutiremos
1945 Um gene codifica uma proteína outros componentes do genoma e a manutenção
1951 Primeira seqüência de uma proteína
de sua organização.
1950
1953 O DNA é uma dupla hélice
1958 A replicação do DNA é semiconservativa
1961 O código genético é composto de trincas 1.2 O DNA É o Material Genético
1977 Os genes eucarióticos são interrompidos das Bactérias
2000 1977 O DNA pode ser seqüenciado
Conceitos Essenciais
1995 Genomas bacterianos são seqüenciados
• A transformação bacteriana forneceu a primeira prova
2001 O genoma humano é seqüenciado de que o DNA é o material genético das bactérias. As
propriedades genéticas podem ser transferidas de uma
FIGURA 1.1 Uma breve história da genética. linhagem bacteriana para outra, extraindo-se o DNA da
primeira linhagem e adicionando-o à segunda.

Um gene é uma unidade codificadora A idéia de que o material genético é um ácido nu-
Gene Natureza química cléico tem suas raízes na descoberta da transforma-
ção, em 1928. A bactéria pneumococo mata camun-
DNA Seqüência de nucleotídeos dongos causando-lhes pneumonia. A virulência
desta bactéria é determinada por seu polissacarídeo
capsular. Esse é um componente de superfície que
RNA Seqüência de nucleotídeos permite à bactéria escapar da destruição pelo hos-
pedeiro. Muitos tipos (I, II e III) de pneumococo
apresentam diferentes polissacarídeos capsulares.
Estes possuem uma aparência lisa (S, do inglês smoo-
Proteína Seqüência de aminoácidos th). Cada um dos tipos lisos de pneumococo pode
originar variantes que não produzem o polissacarí-
FIGURA 1.2 Um gene codifica um RNA, o qual pode codificar
uma proteína.
deo capsular. Essas bactérias têm uma superfície
rugosa (R, do inglês rough) (consistindo no mate-
rial que se encontra abaixo do polissacarídeo cap-
A compreensão acerca do processo pelo qual um sular). Estas são avirulentas. Não são capazes de
gene é expresso nos permite fazer uma definição matar os camundongos, pois a ausência do polissa-
mais rigorosa de sua natureza. A FIGURA 1.2 apre- carídeo permite ao animal destruí-las.
senta o tema base deste livro. Um gene é uma se- Quando bactérias lisas são mortas por tratamen-
qüência de DNA que produz outro ácido nucléico, to térmico, elas perdem a capacidade de causar da-
o RNA. O DNA possui duas fitas de ácido nucléi- nos ao animal. No entanto, bactérias S mortas pelo
co, e o RNA possui apenas uma fita. A seqüência calor misturadas a bactérias variantes R ineficazes
do RNA é determinada pela seqüência do DNA. produzem um efeito bastante diferente daquele
(De fato, ela é idêntica a uma das fitas de DNA.) obtido por cada uma isoladamente. A FIGURA 1.3
Em muitos, mas não em todos, casos, o RNA é mostra que quando estas são injetadas simulta-
utilizado para a dirigir a produção de uma proteí- neamente em um animal, o camundongo morre
na. Assim, um gene é uma seqüência de DNA que em decorrência de uma infecção pneumocócica.
codifica um RNA; em genes que codificam proteínas, Bactérias virulentas S podem ser recuperadas do
o RNA, por sua vez, codifica a proteína. camundongo morto.
4 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

Transformação de bactérias animal. A purificação do princípio transformante,


em 1944, revelou que se tratava do ácido desoxir-
Tipos de pneumococos Injeção de células Resultado
ribonucléico (DNA).
Com cápsula S vivas Morre
Aparência
lisa (S)
S mortas Vive
pelo calor
R vivas Vive 1.3 O DNA É o Material Genético
dos Vírus
Sem cápsula S mortas pelo calor Morre
Aparência R vivas Conceitos Essenciais
rugosa (R) • A infecção por fagos provou que o DNA é o material
genético dos vírus. Quando o DNA e as proteínas de
FIGURA 1.3 Bactérias do tipo S mortas pelo calor, ou bactérias bacteriófagos são marcados com diferentes isótopos ra-
vivas do tipo R não matam os camundongos, mas a injeção dioativos, apenas o DNA é transmitido para a progênie
simultânea de ambas pode matar os camundongos tão eficien- de fagos produzida pelas bactérias infectadas.
temente quanto células do tipo S vivas.

A partir da demonstração de que o DNA era o ma-


terial genético das bactérias, o próximo passo foi
O princípio transformante é o DNA demonstrar que o DNA era o material genético de
Camundongo injetado com
um sistema bastante diferente. O fago T2 é um ví-
bactérias S mortas pelo calor rus que infecta a bactéria Escherichia coli. Quando
e bactérias R vivas partículas do fago (vírus) são adicionadas às bacté-
rias, estas as adsorvem em sua superfície externa,
parte do material penetra na bactéria e, após cer-
ca de 20 minutos, cada bactéria se rompe (sofre
Bactérias S vivas
recuperadas do lise), liberando um grande número da progênie
camundongo morto de fagos.
DNA A FIGURA 1.5 ilustra os resultados de um expe-
extraído rimento realizado em 1952, no qual bactérias fo-
ram infectadas com fagos T2, os quais haviam sido
marcados radioativamente ou em seu DNA (com
Transformação 32P), ou em seu componente protéico (com 35S).
Bactérias R Bactérias S
As bactérias infectadas foram agitadas em um ho-
FIGURA 1.4 O DNA das bactérias do tipo S pode transformar as mogeneizador, e duas frações foram separadas por
bactérias do tipo R em bactérias do mesmo tipo S.
centrifugação. Uma fração continha os capsídeos
vazios dos fagos que foram liberados da superfície
das bactérias; a outra consistia nas próprias bacté-
rias infectadas.
Neste experimento, as bactérias S mortas eram A maior parte da marcação de 32P estava pre-
do tipo III. As bactérias R vivas eras derivadas do sente nas bactérias infectadas. A progênie de partí-
tipo II. As bactérias virulentas recuperadas da in- culas virais produzidas pela infecção continha ~30%
fecção mista apresentavam um envoltório liso do da marcação original de 32P. A progênie recebeu
tipo III. Assim, alguma propriedade das bactérias S muito pouco – menos de 1 % – da proteína conti-
do tipo III mortas podia transformar as bactérias R da na população original de fagos. Os capsídeos
vivas, de tal forma que eram capazes de sintetizar o virais consistem em proteínas e, portanto, apresen-
polissacarídeo capsular do tipo III, tornando-se vi- tavam a marcação com 35S radioativo. Portanto, este
rulentas. experimento mostrou diretamente que apenas o
A FIGURA 1.4 ilustra a identificação do compo- DNA dos fagos parentais entra nas bactérias e en-
nente das bactérias mortas que é responsável pela tão se torna parte da progênie viral, o que corres-
transformação. Este foi denominado princípio ponde exatamente ao padrão de hereditariedade es-
transformante. Ele foi purificado por meio do de- perado para o material genético.
senvolvimento de um sistema livre de células, no Um fago se reproduz comandando a maquina-
qual extratos das bactérias S mortas podiam ser adi- ria de uma célula hospedeira infectada, no sentido
cionados às bactérias R vivas antes da injeção no de que esta produza mais cópias suas. O fago pos-
1.4 O DNA É O MATERIAL GENÉTICO DAS CÉLULAS ANIMAIS 5

Apenas DNA é herdado pela progênie de fagos A transfecção introduz DNA novo em células
Bactérias infectadas com Células que não possuem o gene TK não
32
fagos marcados P no DNA conseguem produzir timidina-quinase e morrem
na ausência de timidina

35S na Proteína
Separação dos capsídeos
e das bactérias

As bactérias
infectadas Adição do Células mortas
contêm 70% DNA TK + Células vivas
Os capsídeos da marca
contêm 80% da de 32P
marca de 35S Partículas virais da
progênie são separadas
A progênie
de fagos têm
30% da marca
de 32P
e menos de Colônia de
1% da marca células TK +
de 35S Algumas células incorporam o gene TK;
descendentes de uma célula transfectada se
FIGURA 1.5 O material genético do fago T2 é DNA. acumulam, originando uma colônia

FIGURA 1.6 Células eucarióticas podem adquirir um novo fe-


nótipo como resultado de transfecção pela adição de DNA.
sui um material genético cujo comportamento é
análogo ao apresentado por genomas celulares: seus
traços são reproduzidos de forma fiel e são subme-
tidos às mesmas regras que governam a hereditarie- realizados em células eucarióticas, são um equiva-
dade. O caso do T2 reforça a conclusão geral de lente direto da transformação bacteriana. O DNA
que o DNA é o material genético, sendo este parte que é introduzido na célula receptora se torna par-
do genoma de uma célula ou de um vírus. te do seu material genético e é herdado da mesma
forma que qualquer outra parte. Sua expressão con-
fere um novo traço às células (síntese de timidina-
quinase, no exemplo da Figura 1.6). Inicialmente,
1.4 O DNA É o Material Genético esses experimentos foram bem-sucedidos apenas
das Células Animais com células individuais, adaptadas ao crescimento
em meio de cultura. Desde então, no entanto, DNA
Conceitos Essenciais foi introduzido em óvulos de camundongos por
• O DNA pode ser utilizado para introduzir novas carac- microinjeção, tornando-se uma parte estável do ma-
terísticas genéticas em células animais ou em animais
inteiros.
terial genético do camundongo.
• Em alguns vírus, o material genético é RNA. Tais experimentos mostram diretamente que
além do DNA ser o material genético de eucario-
tos, ele pode ser transferido entre diferentes espécies e
Quando DNA é adicionado a populações de célu- ainda permanecer funcional.
las eucarióticas em cultura, o ácido nucléico entra O material genético de todos os organismos co-
na célula e, em algumas delas, resulta na produção nhecidos e de muitos vírus é o DNA. Entretanto,
de novas proteínas. Quando um DNA purificado é alguns vírus usam um tipo alternativo de ácido nu-
usado, sua incorporação leva à produção de uma cléico, o ácido ribonucléico (RNA), como material
proteína em particular. A FIGURA 1.6 representa um genético. Assim, o princípio geral em relação à na-
dos sistemas-padrão. tureza do material genético é tal que este é sempre
Apesar de, por razões históricas, esses experi- um ácido nucléico, o DNA, exceto nos casos dos
mentos serem denominados transfecção, quando vírus de RNA.
6 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

1.5 As Cadeias Polinucleotídicas Cada ácido nucléico contém quatro tipos de ba-
ses. As duas purinas, adenina e guanina, estão pre-
Possuem Bases Nitrogenadas sentes no DNA e no RNA. No DNA, as duas piri-
Ligadas a um Esqueleto de midinas são citosina e timina; no RNA, a uracila é
Açúcar-Fosfato encontrada no lugar da timina. A única diferença
entre uracila e timina é a presença de um metil na
Conceitos Essenciais posição C5. As bases são em geral referidas por ini-
• Um nucleosídeo consiste em uma base de purina ou ciais. O DNA contém A, G, C e T; o RNA contém
pirimidina ligada à posição 1 de um açúcar do tipo
pentose.
A, G, C e U.
• As posições no anel de ribose são designadas por um O nucleotídeo terminal em uma extremidade
apóstrofo (’) para distingui-las. da cadeia possui um grupamento 5´ livre; e o nu-
• A diferença entre o DNA e o RNA está no grupamento
da posição 2’ do açúcar. O DNA possui um açúcar do
cleotídeo terminal na outra extremidade possui um
tipo desoxirribose (2’-H); o RNA tem um açúcar do tipo grupamento 3´ livre. Convencionou-se redigir as
ribose (2’-OH). seqüências de DNA na direção 5´ para 3´ – isto é,
• Um nucleotídeo consiste em um nucleosídeo ligado ao
grupamento fosfato tanto na posição 5’ ou 3’ da
a partir da extremidade 5´, à esquerda, para a ter-
(desoxi)ribose. minação 3´, à direita.
• Resíduos sucessivos de (desoxi)ribose de uma cadeia
polinucleotídica são ligados por um grupamento fosfa-
to entre a posição 3’ de um açúcar e a posição 5’ do
açúcar adjacente.
• Uma das extremidades da cadeia (convencionalmente, 1.6 O DNA É uma Dupla Hélice
a esquerda) possui uma extremidade 5’ livre, e a outra,
uma extremidade 3’ livre.
• O DNA contém as quatro bases: adenina, guanina, citosi- Conceitos Essenciais
na e timina; o RNA possui uracila, ao invés de timina. • A forma B do DNA é uma dupla hélice consistindo em
duas cadeias polinucleotídicas de sentido antiparalelo.
• As bases nitrogenadas de cada cadeia são anéis planos
de purinas ou pirimidinas que se projetam para o inte-
O bloco constituinte básico dos ácidos nucléicos é rior da dupla hélice e pareiam umas com as outras por
o nucleotídeo, o qual possui três componentes: meio de pontes de hidrogênio, formando somente os
pares A-T ou G-C.
• Uma base nitrogenada, • O diâmetro da dupla hélice é de 20 Å, havendo uma
volta completa a cada 34 Å, com cada volta composta
• um açúcar, e por dez pares de bases.
• um fosfato. • A dupla hélice forma um sulco maior (largo) e outro
menor (estreito).
A base nitrogenada é um anel de purina ou pi-
rimidina. A base é unida à posição 1 de um açúcar
do tipo pentose por uma ligação glicosídica a par- A observação de que as bases estavam presentes em
tir do N1 das pirimidinas ou N9 das purinas. Para diferentes quantidades em DNAs de diferentes es-
eliminar ambigüidades entre os sistemas de nume- pécies levou ao conceito de que a seqüência de bases
ração dos anéis heterocíclicos e do açúcar, as posi- é a forma pela qual a informação genética é transmi-
ções na pentose são designadas pelo apóstrofo (´). tida. Por volta dos anos 1950, o conceito de infor-
Os ácidos nucléicos são denominados de acor- mação genética era comum: os dois problemas im-
do com o tipo de açúcar; o DNA possui uma 2´- postos referiam-se a como trabalhar na estrutura
desoxirribose; o RNA possui ribose. A diferença está do ácido nucléico e a explicar de que maneira uma
no fato de o açúcar no RNA apresentar um grupa- seqüência de bases no DNA podia representar a se-
mento OH na posição 2´ do anel de pentose. O qüência de aminoácidos de uma proteína.
açúcar pode ser ligado por suas posições 5´ ou 3´ a A convergência de três conceitos levou à cons-
um grupamento fosfato. trução do modelo de dupla hélice do DNA pro-
Um ácido nucléico consiste em uma longa ca- posto por Watson e Crick, em 1953:
deia de nucleotídeos. A FIGURA 1.7 mostra que o • Dados de difração de raios X revelaram que
esqueleto da cadeia polinucleotídica consiste em o DNA possuía a forma de uma hélice regu-
uma série alternada de resíduos de pentose (açú- lar, apresentando uma volta completa a cada
car) e de fosfato. Essa cadeia é construída pela liga- 34 Å (3,4 nm), com um diâmetro de ~20 Å
ção da posição 5´ do anel de pentose à posição 3´ (2nm). Uma vez que a distância entre nu-
do anel da próxima pentose, por meio do grupa- cleotídeos adjacentes é de 3,4 Å, deveriam
mento fosfato. Assim, o esqueleto de açúcar-fosfa- haver 10 nucleotídeos por volta.
to consiste em ligações fosfodiéster 5´-3´. As bases • A densidade do DNA sugere que a hélice
nitrogenadas “salientam-se” a partir do esqueleto. deve conter duas cadeias polinucleotídicas.
1.6 O DNA É UMA DUPLA HÉLICE 7

O diâmetro constante da hélice pode ser Um polinucleotídeo apresenta uma estrutura repetitiva
explicado se as bases em cada cadeia estive- 5’
rem voltadas para o interior e restrinjam-se O
de tal forma que uma purina está sempre O P O
em oposição a uma pirimidina, evitando o O Subunidade de
pareamento de purina-purina (muito largo) H2C O nucleotídeo
e pirimidina-pirimidina (muito estreito).
• Independente das quantidades absolutas de
O
cada base, a proporção de G é sempre igual Base de pirimidina
à proporção de C no DNA, e a proporção O P O
O
de A é sempre a mesma de T. Assim, a com- Esqueleto de
H2C O
posição de qualquer DNA pode ser descrita açúcar-fosfato
pela proporção de suas bases, isto é G + C. Base de purina
O
Essa proporção varia de 26 a 74% nas dife-
Ligações O P O
rentes espécies. O
fosfodiéster 5’-3’
Watson e Crick propuseram que as duas ca- H2 C O
deias, polinucleotídicas na dupla hélice se asso-
ciavam por pontes de hidrogênio entre as bases ni- O
trogenadas. G pode formar especificamente pon- 3’
tes de hidrogênio apenas com C, e A pode for-
mar especificamente com T. Essas reações são des- FIGURA 1.7 Uma cadeia polinucleotídica consiste em uma série de liga-
critas como pareamento de bases, e as bases pa- ções de açúcar-fosfato 5’-3’ que forma um esqueleto a partir do qual as
bases se projetam.
readas (G com C, ou A com T) são ditas com-
plementares.
O modelo propôs ainda que as duas cadeias po-
linucleotídicas corriam em direções opostas (anti-
paralelas), como ilustrado na FIGURA 1.8. Obser-
A dupla hélice apresenta largura constante
vando-se ao longo da hélice, uma fita corre na dire-
ção 5´ para 3´, e a outra, de 3´ para 5´. Ponte de hidrogênio 3´
DNA H
O esqueleto de açúcar-fosfato situa-se na face o
H3C O H N N H
externa e apresenta cargas negativas nos grupamen- 5´
tos fosfato. Quando o DNA está em solução in vi- o H T N H N A N o
tro, as cargas são neutralizadas pela ligação de íons N N Os fosfatos
metálicos, tipicamente Na+. Na célula, proteínas O H têm carga
negativa
carregadas positivamente contribuem com parte da H
força de neutralização. Essas proteínas desempe- H N H O N H
nham um importante papel na determinação da or- NG H N
o H C N o
ganização do DNA na célula. N N
As bases encontram-se voltadas para o interior. O H N
Estas são estruturas planas, que se dispõem aos pa- H
res, perpendiculares ao eixo da hélice. Consideran- H O
do a dupla hélice como uma escada em espiral, os N N o
o
pares de bases seriam os degraus, conforme ilustra- ESQUELETO N A N H N T H
do esquematicamente na FIGURA 1.9. Prosseguin- DE AÇÚCAR-
H N HN H O CH3
do ao longo da hélice, as bases estão empilhadas FOSFATO
H
umas sobre as outras, semelhante a uma pilha de N H O
pratos. N N
o o
Cada par de bases é rotado em aproximadamente N G N H N C H
36o ao redor do eixo da hélice, em relação ao próxi- H N 5´
o O H H N
mo par. Assim, ~10 pares de bases formam uma H

volta completa de 360o. A torção das duas fitas for- O interior é hidrofóbico
ma uma dupla hélice contendo um sulco menor
FIGURA 1.8 A dupla hélice mantém uma largura constante, porque as purinas sempre se
(~12 Å de largura) e um sulco maior (~22 Å de posicionam frente a pirimidinas nos pares de bases complementares A-T e G-C. A seqüência
largura), como pode ser visto no modelo em escala na figura é T-A, C-G, A-T, G-C.
8 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

Pares de bases planos conectam as fitas de DNA da FIGURA 1.10. A dupla hélice é dextrógira; as vol-
tas se dão no sentido horário ao longo do eixo da
hélice. Essas características representam o modelo
aceito para o que é conhecido como forma B do
DNA.
É importante notar que a forma B representa
5′ uma média, e não uma estrutura precisamente es-
3′ pecificada. A estrutura do DNA pode sofrer altera-
C
G ções locais. Se esta apresenta mais bases por voltas é
denominada superenovelada; se apresenta menos
C G
bases por volta é denominada relaxada. O enovela-
mento local pode ser afetado pela conformação glo-
T bal da dupla hélice de DNA no espaço ou pela liga-
A
ção de proteínas em sítios específicos.
G
5′
3′
Açúcar Base Fosfato
1.7 A Replicação do DNA É
FIGURA 1.9 Os pares de bases planos estão perpendiculares ao
Semiconservativa
esqueleto de açúcar-fosfato.
Conceitos Essenciais
• O experimento de Meselson-Stahl empregou marcação
por densidade para provar que uma única cadeia poli-
nucleotídica é a unidade de DNA que é conservada du-
rante a replicação.
• Cada fita de um duplex de DNA atua como molde na
A dupla hélice de DNA possui dois sulcos
síntese de uma fita filha.
• As seqüências das fitas filhas são determinadas pelo
pareamento de bases complementares com as fitas pa-
rentais separadas.

Diâmetro de 20 Å
É crucial que o material genético seja reproduzido
de forma precisa. As duas fitas polinucleotídicas são
ligadas apenas por pontes de hidrogênio; assim, são
La

capazes de se separar sem requerer quebras de liga-


rgu

ções covalentes. A especificidade do pareamento de


ra
de

bases sugere que cada uma das fitas parentais se-


34 Å por volta da hélice
12

paradas possa agir como fita molde na síntese de


Sulco menor
Å

uma fita filha complementar. A FIGURA 1.11 mos-


La tra o princípio pelo qual uma fita filha é monta-
rg da sobre cada uma das fitas parentais. A seqüên-
ur
a
de cia da fita filha é determinada pela fita parental,
22
Å um A na fita parental promove a colocação de
Sulco maior
um T na fita filha, um G parental direciona a in-
corporação de um C na fita filha, e assim suces-
sivamente.
A parte superior da Figura 1.11 ilustra um du-
FIGURA 1.10 As duas fitas de DNA formam uma dupla hélice. plex parental (não-replicado) que consiste nas duas
Photo© Photodisc. fitas parentais originais. A parte inferior mostra os
dois dúplices filhos que estão sendo produzidos por
meio do pareamento de bases complementares.
Cada um dos dúplices filhos possui uma seqüência
idêntica à parental original, contendo uma fita pa-
1.8 AS FITAS DE DNA SÃO SEPARADAS NA FORQUILHA DE REPLICAÇÃO 9

O pareamento de bases é responsável As fitas simples de DNA são as unidades conservadas


pela especificidade da replicação
DNA parental Geração 1 Geração 2
T A Replicação
em meio de HÍBRIDO
C G densidade
leve HÍBRIDO
A T LEVE
PESADO
G C
G LEVE
C HÍBRIDO
As fitas
A parentais T
Análise de densidade HÍBRIDO
T A são
T A
deseno-
C veladas Leve Leve Leve
G C G
Híbrido Híbrido Híbrido
A T Pesado Pesado Pesado
A T

G C G C FIGURA 1.12 A replicação do DNA é semiconservativa.

Fita filha Fita filha


brida e a outra metade é inteiramente leve (as duas
FIGURA 1.11 O pareamento de bases fornece o mecanismo de
replicação do DNA. fitas são azuis).
As fitas individuais desses dúplices são inteiramente
pesadas ou leves. Esse padrão foi confirmado experi-
mentalmente pelo experimento de Meselson-Stahl
rental e uma recém-sintetizada. A estrutura do DNA em 1958, que acompanhou a replicação do DNA
carrega a informação necessária para perpetuar a sua por três gerações de crescimento de E. coli. Quan-
seqüência. do o DNA era extraído das bactérias e sua densi-
As conseqüências desse modo de replicação são dade medida por centrifugação, o DNA origina-
ilustradas na FIGURA 1.12. O duplex parental é re- va bandas correspondentes à sua densidade –
plicado, formando dois dúplices filhos, cada um pesada para o parental, híbrida na primeira gera-
consistindo em uma fita parental e uma fita filha ção e metade híbrida e metade leve na segunda
(recém-sintetizada). A unidade conservada de uma geração.
geração para a próxima é uma das duas fitas indivi-
duais que compreendiam o duplex parental. Esse com-
portamento é denominado replicação semiconser-
vativa. 1.8 As Fitas de DNA São Separadas
A Figura 1.12 ilustra a predição desse modelo. na Forquilha de Replicação
Se o DNA parental carrega uma marca de densida-
de “pesada” devido ao organismo ter sido cultivado Conceitos Essenciais
em um meio contendo um isótopo apropriado (por • A replicação do DNA é realizada por um complexo enzi-
mático que separa as fitas parentais e sintetiza as fitas
exemplo, 15N), suas fitas podem ser diferenciadas filhas.
daquelas que são sintetizadas quando o organismo • A forquilha de replicação é o ponto onde as fitas pa-
é transferido para um meio contendo isótopos nor- rentais são separadas.
• As enzimas que sintetizam DNA são denominadas DNA
mais “leves”. polimerases; as enzimas que sintetizam RNA são deno-
O DNA parental, consiste em um duplex com minadas RNA polimerases.
duas fitas pesadas (vermelhas). Após uma geração • Nucleases são enzimas que degradam ácidos nucléicos;
estas incluem DNAases e RNAases e podem ser dividi-
de crescimento em meio leve, o duplex de DNA das em endonucleases e exonucleases.
apresenta densidade “híbrida” – que consiste em
uma fita parental pesada (vermelha) e uma fita fi-
lha leve (azul). Após uma segunda geração, as duas A replicação requer a separação das duas fitas do
fitas de cada duplex híbrido foram separadas. Cada duplex parental. No entanto, a ruptura da estrutu-
uma recebe uma complementar leve, de forma que ra é apenas transiente, sendo revertida à medida
agora metade dos dúplices de DNA permanece hí- que o duplex filho é formado. Somente um peque-
10 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

Uma forquilha de replicação move-se ao longo do DNA polimerases sintetizam DNA e as RNA polimera-
ses sintetizam RNA.
A degradação de ácidos nucléicos também re-
quer enzimas específicas: desoxirribonucleases
(DNAases) degradam DNA e ribonucleases
DNA parental
(RNAases) degradam RNA. As nucleases são
DNAs replicados agrupadas nas classes gerais de exonucleases e en-
Forquilha de replicação donucleases:
FIGURA 1.13 A forquilha de replicação é a região do DNA na • As endonucleases clivam ligações no interior
qual há uma transição entre o duplex parental desenovelado e
os dúplices filhos recém-sintetizados. de moléculas de RNA ou DNA, gerando
fragmentos distintos. Algumas DNAases cli-
vam as duas fitas de um duplex de DNA no
sítio-alvo, e outras clivam apenas uma das
Endonucleases atacam ligações internas duas fitas. As endonucleases estão envolvi-
das em reações de clivagem conforme apre-
Ligação quebrada
sentado na FIGURA 1.14.
• As exonucleases removem sucessivos resíduos
individuais da extremidade da molécula, ge-
rando mononucleotídeos. Elas sempre atuam
FIGURA 1.14 Uma endonuclease cliva uma ligação no interior em uma única fita de ácido nucléico, sendo
de um ácido nucléico. Esse exemplo mostra uma enzima que que cada exonuclease prossegue em uma di-
ataca uma fita de um duplex de DNA.
reção específica, isto é, a partir da extremi-
dade 5’ ou 3’, prosseguindo em direção à
outra extremidade. Tais enzimas estão en-
Exonucleases degradam a partir das extremidades volvidas em reações que aparam as extremi-
dades, como mostrado na FIGURA 1.15.

1.9 A Informação Genética Pode Ser


FIGURA 1.15 Uma exonuclease remove uma base de cada vez, Fornecida pelo DNA ou RNA
clivando a última ligação em uma cadeia polinucleotídica.
Conceitos Essenciais
• Os genes celulares são de DNA, embora vírus e viróides
possam apresentar genomas de RNA.
• O DNA é convertido em RNA pela transcrição, e o RNA
no segmento do duplex de DNA é separado em pode ser convertido em DNA pela transcrição reversa.
• A tradução do RNA em proteína é unidirecional.
fitas simples, em qualquer momento.
A estrutura helicoidal de uma molécula de DNA
envolvida na replicação é ilustrada na FIGURA 1.13.
O dogma central define o paradigma da biologia
A região não replicada consiste no duplex parental,
molecular. Os genes são perpetuados como seqüên-
que se abre na região replicada, onde os dois dúpli-
cias de ácidos nucléicos, mas atuam sendo expres-
ces filhos se formaram. A estrutura em dupla hélice
sos sob a forma de proteínas. A replicação é res-
é rompida na junção entre as duas regiões, a qual é
ponsável pela herança da informação genética. A
denominada forquilha de replicação. A replicação
transcrição e a tradução são responsáveis pela con-
envolve a movimentação da forquilha de replica-
versão dessa informação de uma forma para outra.
ção ao longo do DNA parental; assim, ocorre um
A FIGURA 1.16 ilustra os papéis da replicação,
desenovelamento contínuo das fitas parentais e um
da transcrição e da tradução, vistas pela perspectiva
enovelamento dos dúplices filhos.
do dogma central:
A síntese de ácidos nucléicos é catalisada por
enzimas específicas, que reconhecem o molde e rea- • A perpetuação do ácido nucléico pode envolver
lizam a tarefa de catalisar a adição de subunidades tanto DNA ou RNA como material genético.
à cadeia polinucleotídica que está sendo sintetiza- As células utilizam apenas DNA. Alguns ví-
da. As enzimas são denominadas de acordo com o rus usam RNA, e a replicação do RNA viral
tipo de cadeia que está sendo sintetizada: as DNA ocorre na célula infectada.
1.9 A INFORMAÇÃO GENÉTICA PODE SER FORNECIDA PELO DNA OU RNA 11

O dogma central descreve o fluxo da informação Os ácidos nucléicos replicam-se


por meio de fitas complementares

DNA Molde de fita


dupla Fita antiga
Replicação Fitas novas
Transcrição Transcrição
reversa Fita antiga

A replicação gera dois dúplices filhos,


RNA
cada um contendo uma fita parental e
Replicação uma fita recém-sintetizada
Tradução Molde de
fita simples

Proteína

A fita simples parental A fita complementar


FIGURA 1.16 O dogma central afirma que a informação no é usada para sintetizar é usada para sintetizar
ácido nucléico pode ser perpetuada ou transferida, mas a trans- a fita complementar uma cópia da fita parental
ferência de informação em proteína é irreversível.
FIGURA 1.17 Ácidos nucléicos de fita dupla e de fita simples
replicam-se pela síntese de fitas complementares, dirigida pe-
las regras do pareamento de bases.

• A expressão da informação genética celular é


geralmente unidirecional. A transcrição do
DNA gera moléculas de RNA que podem estáveis de fita dupla ou o uso de ácidos nucléicos
ser usadas em seguida apenas para gerar se- de fita dupla somente como um estágio transitório.
qüências de proteínas; via de regra, os RNAs A restrição em relação à transferência unidire-
não podem ser recuperados e usados como cional de DNA para RNA não é absoluta. Esta é
informação genética. A tradução do RNA superada pelos retrovírus, cujos genomas consis-
em proteínas é sempre irreversível. tem em moléculas de RNA de fita simples. Duran-
Esses mecanismos são igualmente efetivos em te o ciclo infectivo, o RNA é convertido pelo pro-
relação à informação genética de procariotos e de cesso de transcrição reversa em um DNA de fita
eucariotos e para a informação carreada por vírus. simples, o qual é, por sua vez, convertido em um
Os genomas de todos os seres vivos consistem em DNA de fita dupla. Esse duplex de DNA torna-se
um duplex de DNA. Vírus têm genomas que con- parte do genoma da célula, sendo herdado como
sistem em DNA ou RNA, havendo exemplos de qualquer outro gene. Assim, a transcrição reversa per-
cada um dos tipos, que são fitas duplas (fd) ou fitas mite que uma seqüência de RNA seja recuperada e
simples (fs). Detalhes do mecanismo usado para re- utilizada como informação genética.
plicar o ácido nucléico variam dentre os sistemas A existência da replicação de RNA e da trans-
virais, mas o princípio da replicação via síntese de crição reversa estabelece o princípio geral de que a
fitas complementares é o mesmo, como ilustrado informação sob a forma de seqüências de qualquer
na FIGURA 1.17. um dos tipos de ácido nucléico pode ser convertida no
Os genomas celulares reproduzem o DNA pelo outro tipo. No entanto, durante o curso habitual
mecanismo de replicação semiconservativa. Os ge- dos eventos, a célula baseia-se nos processos de re-
nomas virais de fita dupla, DNA ou RNA, tam- plicação do DNA, de transcrição e de tradução. En-
bém se replicam usando as fitas individuais do du- tretanto, em ocasiões raras (possivelmente media-
plex como moldes para a síntese das fitas comple- das por um vírus de RNA), a informação de um
mentares. RNA celular é convertida em DNA e inserida no
Os vírus com genomas de fita simples usam a genoma. Embora a transcrição reversa não desem-
fita simples como molde para sintetizar uma fita penhe um papel nas operações regulares da célula, esta
complementar; essa fita complementar é, por sua torna-se um mecanismo de potencial importância
vez, utilizada para sintetizar o seu complemento, quando consideramos a evolução do genoma.
que é, obviamente, idêntico à fita original. A repli- Os mesmos princípios são seguidos na perpe-
cação pode envolver a formação de intermediários tuação da informação genética de genomas enor-
12 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

Os genomas apresentam uma 1.10 Os Ácidos Nucléicos


grande variação de tamanho
Número de Pares de
Hibridizam-se por Pareamento
Genoma genes bases de Bases
Organismos
Plantas <50.000 <1011 Conceitos Essenciais
Mamíferos 30.000 ~3 x 109 • O aquecimento promove a separação das duas fitas de
Vermes 14.000 ~108 um DNA duplex.
Moscas 12.000 1,6 x 108 • A Tm é o ponto médio da faixa de temperatura de des-
Fungos 6.000 1,3 x 107 naturação.
Bactérias 2–4.000 <107
Micoplasmas 500 <106 • Fitas simples complementares podem renaturar quando
a temperatura é reduzida.
Vírus de fdDNA • A desnaturação e a renaturação/hibridização podem
Varíola <300 187.000 ocorrer entre combinações de DNA-DNA, DNA-RNA ou
Papovavírus (SV40) ~6 5.226 RNA-RNA e podem ser intermoleculares ou intramo-
Fago T4 ~200 165.000 leculares.
• A capacidade de duas preparações de ácidos nucléicos
Vírus de fsDNA de fita simples hibridizarem é uma medida de suas com-
Parvovírus 5 5.000 plementaridades.
Fago ϕX174 11 5.387
Vírus de fdRNA
Reovírus 22 23.000 Uma propriedade crucial da dupla hélice é a ca-
Vírus de fsRNA pacidade de separar-se sem romper as ligações co-
Coronavírus 7 20.000 valentes. Isso torna possível a separação e a reu-
Influenza 12 13.500
TMV 4 6.400 nião das duas fitas sob condições fisiológicas, em
Fago MS2 4 3.569 velocidades (muito rápidas) necessárias à manu-
STNV 1 1.300
tenção das funções genéticas. A especificidade de
Viróides processo é determinada pelo pareamento de ba-
RNA PSTV 0 359
ses complementares.
O conceito de pareamento de bases é central para
F IGURA 1.18 A quantidade de ácido nucléico no genoma varia
em uma escala enorme. todos os processos envolvendo ácidos nucléicos. A rup-
tura dos pares de bases é um aspecto crucial da função
de uma molécula de fita dupla, enquanto a capacida-
de de formar pares de bases é essencial à atividade de
um ácido nucléico de fita simples. A FIGURA 1.19
mostra que o pareamento de bases permite que áci-
mes de plantas ou anfíbios, de pequenos genomas dos nucléicos de fita simples formem uma estrutu-
como de micoplasmas, ou ainda informações ge- ra em duplex.
néticas menores de vírus de RNA ou DNA. A FI-
GURA 1.18 resume alguns exemplos que ilustram a • Uma região de duplex intramolecular pode
variação de tipos e tamanhos de genomas. ser formada pelo pareamento de bases en-
Ao longo de toda a gama de organismos, cujo tre duas seqüências complementares que
conteúdo total dos genomas varia em uma ordem fazem parte de uma molécula de fita sim-
de até 100.000 vezes, um princípio comum preva- ples.
lece: O DNA codifica todas as proteínas que a(s) • Uma molécula de fita simples pode parear
célula(s) do organismo devem sintetizar, e as proteí- suas bases com uma molécula de fita sim-
nas, por sua vez, (direta ou indiretamente) fornecem ples complementar independente, forman-
as funções necessárias à sobrevivência. Um princípio do um duplex intermolecular.
similar descreve a função da informação genética
dos vírus, sejam de DNA ou RNA: O ácido nucléi- A formação de regiões de duplex a partir de áci-
co codifica a(s) proteína(s) necessária(s) para empaco- dos nucléicos de fita simples é mais importante para
tar o genoma e também para quaisquer outras funções o RNA, embora DNAs de fita simples também exis-
adicionais àquelas fornecidas pela célula hospedeira, tam (em genomas virais). O pareamento de bases
necessárias à reprodução viral durante seu ciclo infec- entre fitas simples complementares independentes
tivo. (O menor vírus – o vírus satélite da necrose não é restrito a DNA-DNA ou RNA-RNA, po-
do tabaco [STNV] – não se replica independente- dendo ocorrer também entre uma molécula de
mente. Ele requer a presença simultânea de um ví- DNA e uma molécula de RNA.
rus “auxiliar” – o vírus da necrose do tabaco [TNV] A ausência de ligações covalentes entre fitas com-
– que é um vírus normalmente infeccioso.) plementares permite a manipulação do DNA in
1.10 OS ÁCIDOS NUCLÉICOS HIBRIDIZAM-SE POR PAREAMENTO DE BASES 13

Tanto o DNA como o RNA podem formar dúplices O DNA pode ser desnaturado e renaturado

DNA DNA de fita


DNA dupla

Pareamento Desnaturação
intramolecular no
interior do RNA DNA de fita
RNA Simples
Pareamento RNA longo
intermolecular RNA curto
entre RNAs
longos e curtos
Renaturação
FIGURA 1.19 O pareamento de bases ocorre no duplex de DNA
e também em interações intra- e intermoleculares no RNA (ou DNA
DNA) de fita simples.
renaturado

FIGURA 1.20 Fitas simples de DNA desnaturado podem ser


renaturadas, originando a forma de duplex.
vitro. As forças não-covalentes que estabilizam a
dupla hélice são rompidas pelo aquecimento ou pela
exposição a baixas concentrações de sal. As duas
fitas de uma dupla hélice separam-se completamente mente, as fitas simples do DNA em solução encon-
quando as pontes de hidrogênio entre elas são des- tram-se aleatoriamente; se suas seqüências forem
feitas. complementares, as duas fitas pareiam suas bases e
O processo de separação das fitas é denomina- geram uma região curta de dupla hélice. Em segui-
do desnaturação ou (mais coloquialmente) fusão. da, a região de pareamento de bases estende-se ao
(O termo “desnaturação” é também utilizado para longo da molécula por um efeito semelhante a um
descrever a perda da estrutura verdadeira de uma zíper, formando uma longa molécula de duplex. A
proteína; este é um termo geral e implica que a con- renaturação da dupla hélice restaura as propriedades
formação natural de uma macromolécula foi con- originais perdidas quando o DNA foi desnaturado.
vertida em alguma outra forma.) A renaturação descreve a reação entre duas se-
A desnaturação do DNA ocorre em uma faixa qüências complementares que foram separadas por
estreita de temperatura e promove modificações desnaturação. Entretanto, a técnica pode ser esten-
profundas em muitas de suas propriedades físicas. dida para permitir que duas seqüências complemen-
O ponto médio da faixa de temperatura na qual as tares de quaisquer ácidos nucléicos reajam entre si
fitas de DNA se separam é denominado temperatu- e formem estruturas em duplex. Isso algumas é ve-
ra de fusão (Tm) (do inglês: melting temperature). zes chamado de anelamento, embora a reação seja
Essa temperatura é dependente da proporção de geralmente descrita como hibridização, sempre que
pares de bases G-C. Uma vez que o par G-C apre- ácidos nucléicos de diferentes origens estão envol-
senta três pontes de hidrogênio, é mais estável que vidos, como no caso quando uma das preparações
um par A-T, que apresenta apenas duas pontes de consiste em DNA, e a outra, em RNA. A capacida-
hidrogênio. Quanto maior o conteúdo de pares de de de duas preparações de ácidos nucléicos hibridiza-
bases G-C, maior será a energia necessária para se- rem constitui um teste preciso de sua complementari-
parar as duas fitas. Em solução, sob condições fi- dade, visto que apenas seqüências complementares po-
siológicas, um DNA que contém 40% de G-C – um dem forma uma estrutura em duplex.
valor típico de genomas de mamíferos – se desnatura O princípio da reação de hibridização baseia-se
a uma Tm de cerca de 87oC. Assim, o duplex de DNA na exposição de duas preparações de ácidos nucléi-
é estável em temperaturas existentes na célula. cos de fita simples uma à outra, medindo-se em
A desnaturação do DNA é reversível sob condi- seguida a quantidade de material em fita dupla for-
ções apropriadas. A capacidade das duas fitas com- mado. A FIGURA 1.21 ilustra um procedimento no
plementares separadas formarem novamente uma qual uma preparação de DNA é desnaturada e as
dupla hélice é denominada renaturação. A renatu- fitas simples são adsorvidas a um filtro. Então, uma
ração depende do pareamento de bases específico segunda preparação de DNA (ou RNA) desnatura-
entre as fitas complementares. A FIGURA 1.20 mos- do é adicionada. O filtro é tratado de forma que a
tra que a reação ocorre em dois estágios. Inicial- segunda preparação pode adsorver-se a ele somen-
14 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

O ensaio em filtro mede a complementaridade ção na seqüência de uma proteína, podemos con-
cluir que o DNA codifica aquela proteína. Além
disso, uma modificação no fenótipo do organismo
O DNA é desnaturado O DNA é desnaturado
e adsorvido ao filtro em solução pode permitir-nos identificar a função da proteína.
A existência de muitas mutações em um gene pode
possibilitar a comparação entre as muitas formas
variantes de uma dada proteína, e uma análise de-
talhada pode ser usada para identificar as regiões
da proteína responsáveis por funções enzimáticas
O filtro é mergulhado na solução individuais, ou outras funções.
Todos os organismos estão sujeitos a um certo
número de mutações como resultado de operações
celulares normais ou interações aleatórias com o am-
biente. Essas são denominadas mutações espontâ-
neas; a sua taxa de ocorrência é característica de
O DNA ligado ao filtro é medido um determinado organismo, sendo algumas vezes
denominada nível basal. As mutações são eventos
raros e, obviamente, aquelas que causam danos em
um gene são selecionadas negativamente durante a
evolução. Assim, é difícil obter-se grandes núme-
ros de mutantes espontâneos para um estudo, a
partir de populações naturais.
FIGURA 1.21 A hibridização no filtro estabelece se uma solu-
A ocorrência de mutações pode ser aumentada
ção de DNA (ou RNA) desnaturado contém seqüências comple- pelo tratamento com determinados compostos.
mentares às fitas imobilizadas no filtro. Estes são chamados de compostos mutagênicos, e
as modificações que causam são referidas como
mutações induzidas. A maioria dos compostos mu-
te se for capaz de parear suas bases com o DNA tagênicos atua diretamente devido a sua capacidade
que foi inicialmente adsorvido. Geralmente, a se- de modificar uma determinada base do DNA, ou de
gunda preparação é marcada radioativamente, de incorporar-se ao ácido nucléico. A eficiência de um
maneira que a reação pode ser medida pela quanti- composto mutagênico é avaliada pelo aumento da taxa
dade de marcação radioativa retida pelo filtro. de mutações em relação aos níveis basais. A partir do
A extensão da hibridização entre dois ácidos nu- uso de compostos mutagênicos, tornou-se possível a
cléicos de fita simples é determinada por sua com- indução de muitas modificações em qualquer gene.
plementaridade. Duas seqüências não precisam ser Mutações espontâneas que inativam a função
perfeitamente complementares para hibridizarem. Se gênica ocorrem em bacteriófagos e bactérias em uma
estas forem bastante relacionadas, mas não idênti- taxa relativamente constante de 3-4 x 10-3 por ge-
cas, um duplex imperfeito é formado, no qual o noma, por geração. Dada a grande variação no ta-
pareamento de bases é interrompido nas posições manho dos genomas entre bacteriófagos e bacté-
onde as duas fitas não são correspondentes. rias, essa taxa corresponde a grandes diferenças na
taxa de mutação por par de bases. Isso sugere que a
taxa global de mutações esteve sujeita a forças sele-
tivas que equilibraram os efeitos deletérios da maio-
1.11 As Mutações Modificam a ria das mutações e os efeitos vantajosos de algumas
Seqüência do DNA mutações. Essa conclusão é reforçada pela observa-
ção de que um microrganismo do domínio Archaea,
Conceitos Essenciais que habita ambientes em condições extremas de
• Todas as mutações consistem em modificações na se- temperatura e acidez (condições que normalmente
qüência do DNA.
• Mutações podem ocorrer espontaneamente ou serem
danificariam o DNA), não apresenta uma taxa ele-
induzidas por agentes mutagênicos. vada de mutação e, de fato, tem uma taxa um pou-
co abaixo da taxa média.
A FIGURA 1.22 mostra que a taxa de mutações em
As mutações fornecem evidências decisivas de que bactérias corresponde a cerca de 10-6 eventos por ló-
o DNA é o material genético. Quando uma modi- cus, por geração, ou a uma taxa média de 10-9 a 10-10
ficação na seqüência de DNA provoca uma altera- de modificação por par de bases, por geração. A taxa
1.12 AS MUTAÇÕES PODEM AFETAR PARES DE BASES ÚNICOS OU SEQÜÊNCIAS MAIS LONGAS 15

As taxas de mutação aumentam O ácido nitroso desamina a citosina,


com o tamanho do alvo convertendo-a em uracila

H
H Taxa de mutação H
N C CITOSINA
H H N
O Qualquer par H
N N
H
N
H de bases N N
G
O
N
N
1 em 109–1010
N gerações Ácido O
H N
nitroso
H
U URACILA O
....A T C G G A C T T A C C G G T T A.... Qualquer gene
G N N
1 em 105–106 H
....T A G C C T G A A T G G C C A A T.... gerações O
Replicação
U
mutante
O genoma A
C
1 em 300
gerações tipo selvagem
G

FIGURA 1.22 Um par de bases é mutado com uma taxa de FIGURA 1.23 Mutações podem ser induzidas por modificação
10-9–10-10 por geração, um gene de 1.000 pares de bases é química em uma base.
mutado a ~10-6 por geração, e o genoma bacteriano é mutado
a 3 x 10-3 por geração.

base errada em uma cadeia polinucleotídica


em pares de bases individuais varia amplamente, em durante a síntese do DNA.
uma escala de 10.000 vezes. Não temos medidas pre-
Mutações pontuais podem ser classificadas em
cisas da taxa de mutação em eucariotos, apesar de, em
dois tipos, dependendo da natureza da modifica-
geral, considerarmos que é similar àquela encontrada
ção quando uma base é substituída por outra:
em bactérias por lócus, por geração.
• A classe mais comum é a transição, que cor-
responde à substituição de uma pirimidina por
outra, ou de uma purina por outra. Isso troca
1.12 As Mutações Podem Afetar um par G-C por um par A-T, ou vice-versa.
Pares de Bases Únicos ou • A classe menos comum é a transversão, na
Seqüências mais Longas qual uma purina é trocada por uma pirimi-
dina, ou vice-versa. Assim, um par A-T se
Conceitos Essenciais torna um par T-A ou C-G.
• Uma mutação pontual altera um único par de bases.
• Mutações pontuais podem ser causadas pela conversão Os efeitos do ácido nitroso são um exemplo clás-
química de uma base em outra, ou por erros que ocor- sico de uma transição causada pela conversão quí-
rem durante a replicação.
• Uma transição substitui um par de bases G-C por um mica de uma base em outra. A FIGURA 1.23 mostra
par de bases A-T, ou vice-versa. que o ácido nitroso realiza uma desaminação oxi-
• Uma transversão substitui uma purina por uma pirimi- dativa que converte a citosina em uracila. No ciclo
dina, tal como a modificação A-T em T-A.
• Inserções são o tipo mais comum de mutação e resul- de replicação após a transição, U pareia com um A,
tam da movimentação de elementos de transposição. ao invés do G, que pareava com o C original. Des-
sa forma, o par C-G é substituído por um par T-A,
quando A parear com T no próximo ciclo de replica-
Qualquer par de bases de DNA pode ser mutado. Uma
ção. (O ácido nitroso também desamina a adenina,
mutação pontual modifica apenas um único par
causando uma transição reversa de A-T para G-C.)
de bases e pode ser causada por qualquer um dos
Transições também podem ser causadas pelo pa-
dois tipos de eventos:
reamento incorreto de bases, quando membros pou-
• Modificações químicas do DNA provocam co comuns se pareiam, desobedecendo às restrições
diretamente a troca de uma base por outra usuais dos pares de Watson-Crick. O pareamento in-
diferente. correto geralmente é uma aberração resultante da in-
• Um mau funcionamento durante a replica- corporação de uma base anormal com propriedades
ção do DNA promove a inserção de uma ambíguas de pareamento no DNA. A FIGURA 1.24
16 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

BrdU provoca a troca do par A-T por um G-C As mutações pontuais foram consideradas du-
rante um longo tempo como a principal forma de
CH3
modificação de genes individuais. No entanto, sa-
C O
HC C bemos que as inserções de segmentos de material
HH
N N N adicional são bastante freqüentes. A fonte de mate-
C H
N
C C N rial inserido normalmente corresponde a elemen-
Açúcar O
HC C CH tos transponíveis, que são seqüências de DNA ca-
Par T-A N N
pazes de se mover de um sítio para o outro (Ver
BrdU pareia-se com A Açúcar
Capítulo 21, Transposons, e Capítulo 22, Retroví-
na replicação rus e Retrotransposons). Uma inserção geralmente
Br abole a atividade de um gene. Quando tais inser-
C O ções ocorrem, deleções de parte ou de todo o ma-
HC C
H H terial inserido, e algumas vezes de regiões adjacen-
N N N
C H
C C N
tes, podem ocorrer subseqüentemente.
O N Uma diferença significativa entre mutações pon-
Açúcar CH
HC C N tuais e inserções/deleções é que a freqüência de mu-
N
tações pontuais pode ser aumentada por compos-
Par BrdU-A Açúcar tos mutagênicos, e a ocorrência de modificações
A mudança de ceto para enol permite a BrdU parear com G causadas por elementos transponíveis não é afeta-
Br Br da. No entanto, inserções e deleções podem tam-
C O
Mudança ceto-enol C OH bém ocorrer por outros mecanismos – por exem-
HC C HC C
plo, aqueles envolvendo erros durante replicação
N N N N
C H C ou recombinação –, apesar de, provavelmente, se-
Açúcar O Açúcar O rem menos comuns. Além destes, uma classe de
BrdU pareia-se com G compostos mutagênicos denominados acridinas in-
na replicação troduz inserções e deleções (muito pequenas).

Br
C O Par BrdU-G
HC C H
N N O 1.13 Os Efeitos das Mutações Podem
C
O
HN C C N Ser Revertidos
Açúcar CH
H C C
N N N Conceitos Essenciais
H • As mutações diretas inativam um gene, e as mutações
Açúcar reversas (ou revertentes) revertem seus efeitos.
• As inserções podem ser revertidas pela deleção do mate-
FIGURA 1.24 Mutações podem ser induzidas pela incorporação de rial inserido, ao passo que as deleções não são revertidas.
análogos de bases no DNA. • A supressão ocorre quando uma mutação em um segun-
do gene anula o efeito da mutação do primeiro gene.

ilustra o exemplo da bromouracila (BrdU), um aná-


logo de timina que contém um átomo de bromo A FIGURA 1.25 mostra que o isolamento de rever-
no lugar do grupo metil da timina. A BrdU é in- tentes é uma característica importante que distin-
corporada no DNA no lugar da timina. Entretan- gue as mutações pontuais e inserções das deleções:
to, essa base apresenta propriedades ambíguas de
• Uma mutação pontual pode ser revertida
pareamento, devido à presença do átomo de bro-
pela restauração da seqüência original ou
mo que permite a ocorrência de uma mudança na
pelo ganho de uma mutação compensatória
qual a base altera sua estrutura de um grupo ceto
em outro local do gene.
(=O) para uma forma enol (-OH). A forma enol
• Uma inserção de material adicional pode ser
pode parear com guanina, o que leva à substituição
revertida pela deleção do material inserido.
do par original A-T por um par G-C.
• Uma deleção de parte de um gene não pode
O pareamento incorreto pode ocorrer tanto du-
ser revertida.
rante a incorporação original da base ou no ciclo
de replicação subseqüente. A transição é induzida Mutações que inativam um gene são denomi-
com uma certa probabilidade a cada ciclo replicati- nadas mutações diretas. Seus efeitos são revertidos
vo; por isso, a incorporação de BrdU tem efeitos por mutações reversas, que são dois tipos: rever-
continuados na seqüência de DNA. sões verdadeiras ou reversões de segundo sítio.
1.14 AS MUTAÇÕES SÃO CONCENTRADAS EM HOTSPOTS 17

Algumas mutações podem ser revertidas Mutações também podem ocorrer em outros ge-
nes, de modo a contornar os efeitos da mutação no
ATCGGACTTACCGGTTA
TAGCCTGAATGGCCAAT gene original. Esse efeito é denominado supressão.
Mutações Um lócus no qual uma mutação suprime o efeito
pontuais de uma mutação em outro lócus é chamado de su-
pressor.
ATCGGAC0ACCGGTTA
TAGCCTGAGTGGCCAAT
Reversão
1.14 As Mutações São Concentradas
ATCGGACTTACCGGTTA em Hotspots
TAGCCTGAATGGCCAAT
Conceitos Essenciais
ATCGGACTTACCGGTTA
• A freqüência de uma mutação em qualquer par de bases
TAGCCTGAATGGCCAAT é determinada por uma flutuação estatística, exceto
Inserção nos hotspots (“sítios quentes”), onde a freqüência é
aumentada em pelo menos uma ordem de grandeza.

ATCGGACTTXXXXXACCGGTTA
TAGCCTGAAYYYYYTGGCCAAT
Até agora lidamos com mutações em relação às
Reversão por
deleção mudanças individuais na seqüência do DNA que
influenciam a atividade da unidade genética na qual
ATCGGACTTACCGGTTA
TAGCCTGAATGGCCAAT
estas ocorrem. Quando consideramos as mutações
no que tange à inativação do gene, a maioria dos
ATCGGACTTACCGGTTA genes de uma espécie revela taxas mais ou menos
TAGCCTGAATGGCCAAT similares de mutação em relação ao seu tamanho.
Isso sugere que o gene pode ser considerado como
um alvo de mutação, e que danos em qualquer par-
ATCGGACGGTTA te de um gene podem abolir sua função. Como re-
TAGCCTGCCAAT sultado, a suscetibilidade à mutação é aproximada-
mente proporcional ao tamanho do gene. Ao con-
Nenhuma reversão é possível
siderarmos os sítios de mutações no interior da se-
FIGURA 1.25 Mutações pontuais e inserções podem ser rever-
qüência de DNA: todos os pares de bases em um
tidas, mas deleções não são revertidas. gene são igualmente suscetíveis, ou existem alguns
mais prováveis de serem mutados que outros?
O que acontece quando isolamos um grande
número de mutações independentes em um mes-
mo gene? Muitos mutantes são obtidos. Cada um é
Uma reversão exata da mutação original é cha- resultado de um evento mutacional individual.
mada de reversão verdadeira. Assim, se um par A- Então, o sítio de cada mutação é determinado. A
T foi substituído por um par G-C, uma outra mu- maioria das mutações ocorrerá em sítios diferentes,
tação que restaure o par A-T irá regenerar exata- mas algumas ocorrerão na mesma posição. Duas
mente a seqüência selvagem. mutações independentemente isoladas em um mes-
O segundo tipo de mutação reversa – a rever- mo sítio podem corresponder exatamente à mesma
são de segundo sítio – pode ocorrer em outro local alteração no DNA (neste caso, o mesmo evento mu-
no gene e seu efeito compensa a primeira mutação. tacional ocorreu em mais de uma ocasião), ou po-
Por exemplo, uma modificação de um aminoácido dem corresponder a modificações diferentes (três
em uma proteína pode abolir a função de um gene, mutações pontuais diferentes são possíveis para cada
mas uma segunda alteração pode compensar a pri- par de bases).
meira e restaurar a atividade da proteína. O histograma da FIGURA 1.26 revela a freqüên-
Uma mutação direta resulta de qualquer mu- cia com a qual mutações são encontradas em cada
dança que inative um gene; uma mutação rever- par de bases do gene lacI de E. coli. A probabilida-
sa deve restaurar a função de uma proteína dani- de estatística de mais de uma mutação ocorrer em
ficada por uma mutação direta em particular. A um sítio particular é dada pela cinética de acerto alea-
taxa de mutação reversa é correspondentemente tório (como observado na distribuição de Poisson).
inferior à de mutação direta, tipicamente na or- Assim, alguns sítios apresentarão uma, duas ou três
dem de ~10. mutações, e outros, nenhuma. Alguns sítios apre-
18 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

Um hotspot tem um aumento de A desaminação espontânea altera uma base


> 10 vezes em mutações
Citosina H 5-metilci- CH3 H

Número de mutações
40 N tosina N
H H
30 N N N N
20 O O

10
CH3
Uracila Timina
50 100 150 200 250 300 pb O O
Distância ao longo do gene N N N N
H H
FIGURA 1.26 Mutações espontâneas ocorrem ao longo do gene O O
lacI de E. coli, mas estão concentradas em um hotspot.
FIGURA 1.27 A desaminação da citosina produz uracila, e a
desaminação da 5-metilcitosina produz timina.

sentam números muito maiores de mutações que o


esperado para uma distribuição aleatória; tais sítios
apresentam 10 ou mesmo 100 vezes mais muta- reação, o grupamento amino é substituído por um
ções que o predito para acertos casuais. Esses sítios grupo ceto. Lembre-se de que a desaminação de
são chamados de sítios quentes (do inglês: hotspots). uma citosina gera uracila (ver Figura 1.23). A FI-
GURA 1.27 compara essa reação com a desaminação
Mutações espontâneas podem ocorrer em hotspots
e diferentes agentes mutagênicos atuar sobre dife- da 5-metilcitosina, onde a desaminação gera uma
rentes hotspots. timina. O efeito no DNA é a geração de pares de
bases G-U e G-T, respectivamente, promovendo o
pareamento incorreto entre os parceiros.
Todos os organismos possuem sistemas de re-
paro que corrigem os pareamentos incorretos de
1.15 Muitos Hotspots Resultam de bases por meio da remoção e da substituição de uma
Bases Modificadas das bases. A atuação desses sistemas determina se
os pares incorretos, tais como G-U e G-T, resulta-
Conceitos Essenciais
rão em mutações.
• Uma causa comum de ocorrência de hotspots é a pre-
sença da base modificada 5-metilcitosina, que é es- A FIGURA 1.28 mostra que as conseqüências da
pontaneamente desaminada, originando timina. desaminação são diferentes para 5-metilcitosina e
citosina. A desaminação da (rara) 5-metilcitosina
provoca uma mutação, ao passo que a desaminação
Uma das principais causas de mutação espontânea da citosina, que é mais comum, não tem esse efei-
é decorrente da presença de bases incomuns no to. Isso acontece porque os sistemas de reparo são
DNA. Além das quatro bases inseridas no DNA muito mais eficientes no reconhecimento de G-U
quando este é sintetizado, bases modificadas são que de G-T.
algumas vezes encontradas. Este nome reflete sua E. coli contém uma enzima, uracila-DNA-gli-
origem; estas são produzidas pela modificação quí- cosidase, que remove resíduos de uracila do DNA
mica de uma das quatro bases já presentes no DNA. (ver Seção 20.5, A Inversão de Bases É Utilizada
A base modificada mais comum é a 5-metilcitosi- por Metilases e Glicosilases). Essa atividade deixa
na, a qual é gerada por uma enzima metilase que um resíduo de G não-pareado, e então um “siste-
adiciona um grupo metil a certos resíduos de cito- ma de reparo” insere uma base C, a qual se torna o
sina, em sítios específicos no DNA. seu par. O resultado líquido dessas reações é a res-
Os sítios que contêm 5-metilcitosina correspon- tauração da seqüência original de DNA. Esse siste-
dem a hotspots de mutações pontuais espontâneas ma protege o DNA contra as conseqüências da de-
em E. coli. Em cada caso, a mutação assume a for- saminação espontânea da citosina. (Esse sistema não
ma de uma transição de G-C para A-T. Os hotspots é, no entanto, ativo o suficiente para impedir os
não são encontrados em linhagens de E coli inca- efeitos do nível aumentado de desaminação provo-
pazes de metilar a citosina. cado pelo ácido nitroso; ver Figura 1.23.)
A razão para a existência de hotspots deve-se ao Observe que a desaminação da 5-metilcitosina
fato de as bases citosinas sofrerem desaminação es- origina timina. Este processo cria um par de bases
pontânea com uma freqüência considerável. Nessa incorreto, G-T. Se o erro não for corrigido antes
1.16 ALGUNS AGENTES HEREDITÁRIOS SÃO EXTREMAMENTE PEQUENOS 19

A remoção da uracila impede mutações Isso torna o estado de 5-metilcitosina um determi-


nante particularmente importante de mutações em
C Me C células animais.
G G A importância dos sistemas de reparo na redu-
Desaminação oxidativa ção da taxa de mutações é enfatizada pelos efeitos
Me-C é substituída por T C é substituída por U decorrentes da eliminação da enzima MBD4 de
T U
camundongo, uma glicosilase que remove T (ou U)
G G de pares formados incorretamente com G. O resul-
tado é o aumento, com um fator de 3×, da taxa de
T A uracila é removida
mutação nos sítios CpG. (Esse efeito não é ainda
G G
maior porque MBD4 é apenas um dos vários siste-
A citosina é inserida
mas que atuam em pares incorretos G-T; podemos
T C imaginar que a eliminação de todos os sistemas
aumentaria muito mais a taxa de mutações.)
G G
Replicação A atuação desses sistemas traz uma luz interes-
sante em relação ao uso de T no DNA comparado
ao uso de U no RNA. Talvez essa propriedade este-
C C
ja relacionada à necessidade de estabilidade da se-
G G qüência no caso do DNA; o uso de T implica que
e
T C quaisquer desaminações em C são imediatamente
reconhecidas, pois geram uma base (U), a qual em
A G
T pareia com A geral não está presente no DNA. Isso aumenta mui-
to a eficiência com a qual os sistemas de reparo po-
Mutação Não há mutação dem atuar (se comparado à situação onde estes de-
vem reconhecer erros G-T, os quais podem ser pro-
FIGURA 1.28 A desaminação da 5-metilcitosina produz timina
(por transição C-G para T-A); a desaminação da citosina produz duzidos também por situações onde a remoção do
uracila (que normalmente é removida e então é substituída por T não seria a resposta adequada). Além disso, a li-
citosina). gação fosfodiéster do esqueleto é mais lábil quando
a base é U.

do próximo ciclo de replicação, ocorrerá uma mu-


tação. Na replicação seguinte, as bases incorretas 1.16 Alguns Agentes Hereditários
do par G-T serão separadas e formarão pares com São extremamente Pequenos
novas bases, produzindo um par G-C selvagem e
um par mutante A-T. Conceitos Essenciais
A desaminação da 5-metilcitosina é a causa mais • Alguns agentes hereditários muito pequenos não codi-
ficam proteínas e consistem em RNA ou proteína com
comum de formação de pares G-T incorretos no propriedades hereditárias.
DNA. Sistemas de reparo que atuam em erros do
tipo G-T tendem a repor o T por um C (ao invés
da reposição alternativa de repor o G por um A), o Viróides são agentes infecciosos que causam doen-
que ajuda a reduzir a taxa de mutação (ver Seção ças em plantas superiores. Estes correspondem a mo-
20.7, O Controle da Direção do Reparo de Parea- léculas muito pequenas e circulares de RNA. Dife-
mentos Incorretos). No entanto, esses sistemas não rentemente dos vírus – para os quais os agentes in-
são tão efetivos quanto a remoção do U do par G- fecciosos correspondem a um vírion, um genoma
U incorreto. Assim, a desaminação da 5-metilcito- encapsulado em um envoltório protéico –, o RNA
sina promove mutações com muito mais freqüên- do viróide é, ele mesmo, o agente infeccioso. O viróide
cia que a desaminação da citosina. consiste somente em RNA, que exibe um extenso,
A 5-metilcitosina também cria hotspots no DNA porém imperfeito, pareamento de bases, e assume
eucariótico. Isto é comum em dinucleotídeos CpG uma forma de bastão característica, como mostra-
que estão concentrados em regiões denominadas do na FIGURA 1.29. Mutações que interferem com
ilhas CpG (ver Seção 24.19, Ilhas CpG São Alvos a estrutura de bastão reduzem a sua infectividade.
Regulatórios). Embora a 5-metilcitosina correspon- Um RNA de viróide consiste em uma única es-
da a apenas cerca de 1% das bases do DNA huma- pécie molecular, a qual é replicada de forma autô-
no, sítios contendo esta base modificada são res- noma nas células infectadas. Sua seqüência é preci-
ponsáveis por ~30% de todas as mutações pontuais. samente perpetuada em seus descendentes. Virói-
20 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

Os genomas de viróides são de RNA

1
PSTV severo 30 60 90 120 150

AAA A AU
G A
G G A A C UAA A C UCG U G G U U C C U U G G U U C A C A C C U G C C U C CUG A G C A GA AA A G AA AG G C GG A GAAA U AC AAA AC A C A C AC U U CC C
A G A A G G C G G C U CG G G A G C U U C A G U C C C CGG G C C G G A G C G A U G G C A A A G G G G UG G G G G U G C C G CG G CG A G G A G C C CG G A A A AGG G U UU
C
U
C C U U G G U U G A C G C C A A G G U C C C G AU UU G U G G G A C G G G GCU U C G U UC AU U C UA U UU UU CGCC G AGCC CU C G A A GU C A GG GG C C C GG CU U C G C U GU C G U U U C C C C G CU C C C A C GG C G C C G C U C CU U G GG C C U U U U U U U A C U
U G C AA A A U A C CG C C CA A C GC C U UU C CU
U CU ACA U C AU CU G

359 330 300 270 240


AA U 210 180

1
PSTV suave 30 60 90 120 150

G A A AA A AU
GGA A CUAA A CUCGUGGUUCCU UGGUUC A C A CCUG CCUCCUG AG C AG A A A AG AA AG GC GG A GA A A U AC AA AC A C A C AC U U CC C
AG A AGG CGG CUCGG G A GCUUC AG UCC CCGGG CC GG AGCG A UGGC U A AGG GGUGGGG GUG CC GCGG CG AGG AG CCCG G A A A AGGGUUU
C
U
CCUUGG UUGA CGCC A A GGU CCCGAUUUGUGGGA CGGGGCUU CGUUUCUUU CUA CUUUUU CGCCA A
GAGCC CU CGA AGU C AGG GGCCC GG CUU CGCU GU CG GUU UC CCGCU CC C A C GG CGCC GC U CCUU GGGC CUUU UUUU A C U
U G A A U A C C C C CA A C GC C U UU CCU
U CU ACA UC AU CUG

359 330 300 270 240 210 180

+U A U

FIGURA 1.29 O RNA de PSTV é uma molécula circular que forma uma extensa estrutura em dupla fita, interrompida por muitas
alças internas. As formas severa e suave diferem em três sítios.

des são classificados em diferentes grupos. Um de- em ovelhas e cabras. A doença está relacionada às
terminado viróide é identificado como membro de doenças humanas kuru e síndrome de Creutzfeldt-
um grupo devido à similaridade da sua seqüência Jacob, que afetam a função cerebral.
com a seqüência de outros membros do grupo. Por O agente infeccioso do scrapie não contém ácido
exemplo, quatro viróides relacionados ao PSTV nucléico. Esse extraordinário agente é chamado de
(viróide do Tubérculo Afilado de Batata, do inglês príon (agente infeccioso proteináceo). Este corres-
potato spindle tuber viroid) apresentam de 70 a 83% ponde a uma glicoproteína hidrofóbica de 28 kDa,
de similaridade de seqüência com PSTV. Diferen- PrP. PrP é codificada por um gene celular (conser-
tes isolados de uma mesma linhagem de viróide vado nos mamíferos) que é expresso no cérebro nor-
variam entre si, e a modificação pode afetar o fenó- mal. A proteína é encontrada sob duas formas: o
tipo das células infectadas. Por exemplo, as linha- produto encontrado no cérebro normal é denomi-
gens suave e severa de PSTV diferem em três substi- nado PrPc e é totalmente degradado por proteases.
tuições de nucleotídeos. A proteína encontrada em cérebros infectados é
Os viróides se assemelham aos vírus por possuí- denominada PrPsc e é extremamente resistente à
rem genomas de ácidos nucléicos herdáveis. Assim, degradação por proteases. PrPc é convertida em PrPsc
preenchem os critérios em relação à informação gené- por uma modificação ou alteração conformacional
tica. Entretanto, os viróides, que por vezes são cha- que confere resistência a proteases, a qual ainda não
mados de patógenos subvirais, diferenciam-se dos ví- está completamente definida.
rus tanto na estrutura quanto na função. O RNA do O agente do scrapie, PrPsc deve, de algum forma,
viróide parece não ser traduzido em proteínas e, desta modificar a síntese do seu equivalente celular normal,
forma, não é capaz de codificar as funções necessárias tornando-o infeccioso, ao invés de inócuo (ver Seção
à sua sobrevivência. Essa situação leva a duas ques- 31.12, Príons Causam Doenças em Mamíferos). Ca-
tões: como o RNA do viróide é replicado e como o mundongos que não possuem o gene PrP não são in-
viróide afeta o fenótipo da célula vegetal infectada? fectados e não desenvolvem scrapie, demonstrando que
A replicação deve ser realizada pelas enzimas da PrP é essencial ao desenvolvimento da doença.
célula hospedeira, subvertidas de suas funções nor-
mais. A natureza herdável da seqüência do viróide
indica que o RNA do viróide atua como molde. 1.17 Resumo
Os viróides são presumivelmente patogênicos
porque interferem com os processos celulares nor- Dois experimentos clássicos provaram que o
mais. Esta ação é realizada de forma relativamente DNA é o material genético. O DNA isolado de
aleatória, por exemplo, seqüestrando uma enzima uma linhagem das bactérias pneumococos conferiu
essencial para a sua própria replicação, ou interferin- propriedades dessa linhagem em outra linhagem.
do com a produção de RNAs celulares necessários. Além disso, o DNA é o único componente que é
Alternativamente, os viróides podem se comportar herdado pela progênie de fagos a partir dos fagos
como moléculas regulatórias anormais, exercendo efei- parentais. O DNA pode ser usado para transfectar
tos particulares na expressão de genes individuais. novas propriedades em células eucarióticas.
Um agente ainda mais incomum é o scrapie – o O DNA é uma dupla hélice, consistindo em
causador de uma doença neurológica degenerativa fitas antiparalelas nas quais as unidades de nucleo-
REFERÊNCIAS 21

tídeos são unidas por ligações fosfodiéster 5´-3´. O Referências


esqueleto corresponde à porção externa; bases de
purinas ou de pirimidinas encontram-se empilha-
1.1 Introdução
das no interior aos pares, nos quais A é comple-
mentar a T e G é complementar a C. As fitas sepa- Revisões
ram-se e usam o pareamento de bases complemen- Cairns, J., Stent, G., and Watson, J. D. (1966). Phage and
tares para originar fitas filhas em uma replicação the Origins of Molecular Biology. Cold Spring Harbor
semiconservativa. O pareamento de bases comple- Symp. Quant. Biol.
mentares é também utilizado para transcrever um Judson, H. (1978). The Eighth Day of Creation. Knopf, New
York.
RNA representando uma das fitas do duplex de Olby, R. (1974). The Path to the Double Helix. MacMillan,
DNA. London.
Um segmento de DNA pode codificar uma pro-
teína. O código genético descreve a relação entre a 1.2 O DNA É o Material Genético das Bactérias
seqüência de DNA e a seqüência da proteína. Ape-
nas uma das duas fitas do DNA codifica a proteí- Artigos de pesquisa
na. Um códon consiste em três nucleotídeos que Avery, O. T., MacLeod, C. M., and McCarty, M. (1944).
representam um único aminoácido. Uma seqüên- Studies on the chemical nature of the substance indu-
cia codificadora de DNA consiste em uma série de cing transformation of pneumococcal types. J. Exp.
Med. 98, 451-460.
códons, os quais são lidos a partir de um ponto de Griffith, F. (1928). The significance of pneumococcal types.
iniciação fixo. Normalmente, apenas uma das três J. Hyg. 27, 113-159.
possíveis fases de leitura é traduzida em proteína.
Uma mutação é uma mudança na seqüência dos
1.3 O DNA É o Material Genético dos Vírus
pares de bases A-T e G-C no DNA. Uma mutação
em uma seqüência codificadora pode modificar a Artigo de pesquisa
seqüência de aminoácidos na proteína correspon- Hershey, A. D. and Chase, M. (1952). Independent func-
dente. Uma mudança de alteração de fase modifica tions of viral protein and nucleic acid in growth of bac-
a fase de leitura subseqüente pela inserção ou dele- teriophage J. Gen. Physiol. 36, 39-56.
ção de uma base; isso gera a codificação de uma
série inteiramente nova de aminoácidos após o sí- 1.4 O DNA É o Material Genético das
tio da mutação. Uma mutação pontual modifica Células Animais
apenas o aminoácido representado pelo códon onde
a mutação ocorre. As mutações pontuais podem ser Artigo de pesquisa
revertidas por mutações reversas da mutação origi- Pellicer, A., Wigler, M., Axel, R., and Silverstein, S. (1978).
The transfer and stable integration of the HSV thymi-
nal. Inserções podem ser revertidas pela perda do dine kinase gene into mouse cells. Cell 14, 133-141.
material inserido, e as deleções não são revertidas.
Mutações podem ser também suprimidas indireta-
mente, quando uma mutação em um gene diferen- 1.6 O DNA É uma Dupla Hélice
te compensa o defeito original. Artigos de pesquisa
A incidência natural de mutações é aumentada por Watson, J. D., and Crick, F. H. C. (1953). A structure for
compostos mutagênicos. Mutações podem ser con- DNA. Nature 171, 737-738.
centradas em hotspots. Um tipo de hotspot responsável Watson, J. D., and Crick, F. H. C. (1953). Genetic impli-
por algumas mutações pontuais é provocado pela de- cations of the structure of DNA. Nature 171, 964-967.
saminação da base modificada 5-metilcitosina. Wilkins, M. F. H., Stokes, A. R., and Wilson, H. R. (1953).
Molecular structure of DNA. Nature 171, 738-740.
Mutações ocorrem em uma taxa de ~10-6 por ló-
cus, por geração; as mutações reversas são mais raras.
Nem todas as mutações têm efeitos no fenótipo. 1.7 A Replicação do DNA É Semiconservativa
Apesar de toda a informação genética das célu- Revisão
las ser carreada pelo DNA, vírus apresentam geno- Holmes, F. (2001). Meselson, Stahl, and the Replication of
mas de fita dupla ou fita simples de DNA ou RNA. DNA: A History of the Most Beautiful Experiment in Bio-
Viróides são patógenos subvirais que consistem logy. Yale University Press, New Haven, CT.
apenas em pequenas moléculas circulares de RNA,
desprovidas de envoltório protetor. O RNA não co- Artigo de pesquisa
difica proteínas e o seu modo de perpetuação e de
Meselson, M. and Stahl, F. W. (1958). The replication of
patogênese é desconhecido. O scrapie consiste em DNA in E. coli. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 44, 671-
um agente infeccioso proteináceo. 682.
22 CAPÍTULO 1 OS GENES SÃO DNA

1.11 As Mutações Modificam a Seqüência 1.15 Muitos Hotspots Resultam de Bases


do DNA Modificadas
Revisões Artigos de pesquisa
Drake, J. W., Charlesworth, B., Charlesworth, D., and Coulondre, C. et al. (1978). Molecular basis of base subs-
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Grogan, D. W., Carver, G. T., and Drake, J. W. (2001). extremamente Pequenos
Genetic fidelity under harsh conditions: analysis of
spontaneous mutation in the thermoacidophilic archa- Revisões
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