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O INTELECTUAL/PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA FUNÇÃO SOCIAL1

Efrain Maciel e Silva2

Resumo: Estudando um dos referenciais do Grupo de Estudo e Pesquisa em História da Educação Física e do
Esporte, Antonio Gramsci, buscamos auxílio em seu conceito de intelectual, para fazermos algumas reflexões
sobre a função social do professor de Educação Física. O autor tem um conceito mais amplo de intelectual
sobrepondo ao entendimento popular no qual o intelectual é alguém ligado só com as coisas do intelecto e da
razão. Neste sentido quando nos referimos ao intelectual/professor de Educação Física, queremos nos referir a
sua função na sociedade como intelectual, pois para Gramsci todos somos intelectuais, ainda que nem todos os
homens desempenhem tal função. Ao analisarmos o intelectual/professor de Educação Física, torna-se possível
repensar e reformular condições e tradições históricas que têm impedido que os educadores assumam sua função
de intelectual e como profissionais ativos/reflexivos, e como um agente transformador na nossa sociedade. Não
somente analisar o intelectual/professor, mas também contextualizar, em termos normativos e políticos, as
funções sociais concretas que os mesmos desempenham. Assim, torna-se possível especificar melhor as
diferentes relações que os professores de Educação Física têm com o seu trabalho e com a sociedade na qual tal
trabalho se desenvolve.

Introdução

O presente trabalho começou a ser formulado a partir das discussões feitas no Grupo
de Estudo e Pesquisa em História da Educação Física e do Esporte (GEPHEFE), que tem
como um dos referenciais teóricos Antonio Gramsci3. É pois, em Gramsci que buscaremos
auxílio para formular algumas reflexões acerca do professor de Educação Física.
Estudando este autor, podemos perceber que o que diferencia uma profissão da outra
não é o trabalho manual ou intelectual, pois “em qualquer trabalho físico, mesmo no mais
mecânico e degradado, existe um mínimo de qualificação técnica, isto é, um mínimo de
atividade intelectual criadora” (GRAMSCI: 1985, p.10). Mas qual sua relação com a
Educação Física? Convenhamos, se toda atividade exige a capacidade intelectual, não faz
sentido a distinção entre aulas práticas e aulas teóricas em Educação Física, pois este professor

1
Trabalho orientado pelo professor José Luiz Finocchio da UFMS.
2
Acadêmico de graduação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, membro do Grupo de Estudo e
Pesquisa em História da Educação Física e do Esporte (GEPHEFE). E-mail: efrainmaciel@boletimef.org
3
“Filósofo, jornalista e socialista italiano, viveu no começo do século passado na Itália fascista de Mussolini. Sua
obra, em parte desenvolvida no longo cárcere que Mussolini lhe impôs, constitui-se numa teoria política que pode
ser considerada como uma das grandes contribuições filosóficas contemporâneas à crítica e à luta social pela
transformação da sociedade capitalista” (MORAES, 2000).
mesmo desenvolvendo uma aula mais prática, também estará trabalhando a questão intelectual
de seus alunos. Assim, neste artigo, tentarei fazer algumas considerações sobre a função social
que este professor desenvolve na escola, a qual está organicamente ligado.
A categoria de intelectual gramsciana fornecerá uma base teórica para podermos
examinar a atividade do professor de Educação Física. Com estes subsídios faremos um
questionamento das condições ideológicas e econômicas sob as quais os intelectuais, como um
grupo social, precisam trabalhar a fim de atuarem como seres humanos reflexivos e
transformadores da sociedade. Tentando buscar, aqui, a importância do papel do professor de
Educação Física, que não pode ser reduzido ao mero treino em habilidades práticas, mas
envolve a educação de uma nova classe de intelectuais, fundamental para o desenvolvimento
da sociedade.
Neste sentido quando nos referimos ao intelectual/professor de Educação Física,
queremos nos referir a sua função na sociedade como intelectual. Mas como assim
intelectual/professor? À frente iremos tentar esclarecer esta dúvida, já que concordamos com
Gramsci quando nos diz que “o problema é complexo por causa das várias formas que, até
nossos dias, assumiu o processo histórico real, de formação das diversas categorias
intelectuais” (GRAMSCI: 1985, p.7).

Um Entendimento de Intelectual Segundo Gramsci

Em nossa sociedade quando falamos em intelectual, logo vem a figura de uma pessoa
culta e inteligente, que faz suas atividades com a razão, este entendimento distorcido de
intelectual, no qual aparece em nossa cultura e em nossos dicionários, faz uma dicotomia entre
“corpo e mente”, não levando em conta que o cérebro humano é uma parte de seu corpo e que
o ser humano é uma unidade corpórea (SANTIN, 1989). Mas não queremos refazer esta
discussão, pois procuramos um entendimento mais amplo do termo, assim
"Quando se faz distinção entre intelectuais e não-intelectuais, refere-se, na
realidade, tão-somente à imediata função social da categoria profissional dos
intelectuais, isto é, leva-se em conta a direção sobre a qual incide o peso maior
da atividade profissional específica, se na elaboração intelectual ou se no
esforço muscular-nervoso. Isso significa que, se se pode falar de intelectuais, é
impossível falar de não-intelectuais, porque não existe não-intelectuais. Mas a
própria relação entre esforço da elaboração intelectual-cerebral e o esforço
muscular-nervoso não é sempre igual; por isso, existem graus diversos de
atividade específica intelectual” (GRAMSCI: 1985, p.11).
Para Gramsci todos somos intelectuais, mas nem todos desempenhamos a função de
intelectual na sociedade. Não tendo consciência de sua função na sociedade, o professor
distancia-se de seu papel de organizar, sistematizar e mesmo elaborar o pensamento do grupo
social ao qual está organicamente ligado. Trata-se de um grupo que tem em mãos o “poder”,
ou “privilégio”, ou “força” de direção dentro da sociedade, capaz de conduzir a mesma. A este
intelectual Gramsci chama de orgânico, isto é, aquele que nasce, cresce, movimenta-se dentro
das bases; representa as bases e não perde o vínculo de ligação entre ele, o intelectual, e o
grupo que representa; compartilha dos problemas enfrentados pela sociedade e tenta
interpretá-los, difundindo, assim, sua ideologia para que esta se torne cada vez mais
hegemônica.
Nem sempre é fácil ter uma concepção de mundo que seja própria; normalmente
aceita-se a concepção tradicional criada ou imposta por outros ou assume a do grupo social em
que vive. É preferível que se continue assim ou é preferível elaborar a própria concepção do
mundo, ser guia de si mesmo e não aceitar passiva e dolentemente que nossa personalidade
seja formada a partir de fora (GRAMSCI, 1985).
Não vamos aprofundar esta questão aqui, mas, podemos dizer que Gramsci aponta para
uma análise crítica da própria concepção de mundo que significa criar uma “consciência do
que realmente somos”; isto contribui para a formação de uma nova cultura, novos costumes e
novos valores mais expressivos da realidade. Criar nova cultura também não significa sempre
e só descobrir coisas novas mas, sobretudo, socializar as já existentes para que sejam
purificadas pela prática.
O intelectual é aquele que faz novas descobertas e tenta difundi-las após a sua analise
crítica. A atitude crítica e o apontamento de soluções viáveis frente aos problemas fazem parte
da personalidade do intelectual.
O problema de “criar um novo tipo de intelectual radica-se no fato de desenvolver
criticamente a manifestação intelectual - que em todos existe, num certo grau de evolução -”,
modificando a sua relação com o esforço muscular-nervoso num novo equilíbrio e
conseguindo que “este, como elemento de atividade prática geral que renova perpetuamente o
mundo físico e social, se converta no fundamento de uma nova e integral concepção do
mundo” (GRAMSCI, 1985).

Considerações Acerca da Função Social do Intelectual/Professor de Educação Física

Os intelectuais orgânicos são as "células vivas" dentro da comunidade; a escola é a


principal encarregada de sua formação. O intelectual tem a missão de formular e levar até as
massas e difundir as ideologias, elevando assim o nível cultural. O intelectual/professor de
Educação Física representa a união entre “teoria e prática”.
Orgânico, para Gramsci, é aquele que está junto, trabalha em conjunto, movimenta-se,
relaciona-se com aqueles que representa; não está separado. Os intelectuais não formam um
grupo a parte. Os intelectuais são encarregados pela elaboração e pela difusão das novas
concepções de mundo, das novas ideologias. A principal função do intelectual/professor, além
de ser a de elaborar novas idéias, é ser o elo de ligação entre estrutura e superestrutura
ideológica. Esta última só é válida se for “historicamente orgânica, isto é, necessária a uma
certa estrutura”. Dizendo de outra forma, só é válida se for historicamente orgânica,
necessária, que nasceu com um objetivo. Assim como uma ideologia também são os
intelectuais: se não movimentarem-se organicamente, a exemplo de um organismo vivo, na
concepção de Gramsci, serão inúteis, sem nenhuma validade; as ideologias que produzem
terão a mesma validade, isto é, nenhuma. Isto porque não tem vínculo orgânico; o intelectual
perde o sentido. As ideologias produzidas pelos intelectuais desligados das massas são
qualificadas por Gramsci de “elocubraçõezinhas individuais”.
Intelectuais, em Gramsci, está intimamente ligado com o conjunto de sua teoria, em
especial, o conceito de hegemonia4. Intelectuais e hegemonia relacionam-se mutuamente, ou

4
Aqui não queremos discutir o conceito de hegemonia em Gramsci, para um aprofundamento deste assunto
sugerimos a leitura das obras: Concepção Dialética da História, Cadernos do Cárcere, Os Intelectuais e a
Organização da Cultura, Cartas do Cárcere, e outras obras onde o autor aprofunda este conceito.
melhor, os intelectuais são “funcionários” de uma classe que aspire a hegemonia, a direção. O
intelectual, além de formular a ideologia da classe que representa, é encarregado de sua
difusão, para que a ideologia se torne hegemônica.
O professor de Educação Física tendo consciência dessa função de transformação ou
manutenção de nossa sociedade, poderá desenvolver em suas aulas, reflexões acerca dos
movimentos realizados, como por exemplo, em um esporte qualquer ao mandar seus alunos
jogarem simplesmente, sem uma discussão do por que do jogo ou como será tal jogo, este
estará simplesmente reproduzindo um conhecimento que foi historicamente construído pelo
homem. Já ao discutir com seus alunos o por que do jogo, por que das regras, quais se aplicam
aquele contexto, como será este jogo, o que vale ou não, etc, o intelectual/professor poderá
estar interferindo intimamente na formação desta nova classe de intelectuais, pois se “existe
uma cultura corporal, resultado de conhecimentos socialmente produzidos e historicamente
acumulados pela humanidade que necessitam ser retraçados e transmitidos para os alunos na
escola” (COLETIVO DE AUTORES: 1992, p.39), esta tem que passar pela análise crítica do
intelectual/professor, que é quem faz as novas descobertas e tenta difundi-las entre seus
alunos, mas este não pode interferir diretamente nas decisões, pois deve apontar só quando
necessário soluções viáveis frente aos problemas propostos em suas aulas.
Todo este artigo seria desnecessário se já tivéssemos algum modelo de atuação, pronto
e acabado, para transmitirmos como um receituário, não sendo este nosso objetivo, todo nosso
esforço concentra-se no intelectual/professor de Educação Física, para que este tome
consciência de seu papel em nossa sociedade, como formador de uma nova classe de
intelectuais, fundamental para a construção de uma sociedade mais justa.
Assim acreditamos que estes intelectuais possam exercer uma posição contra­
hegemônica das práticas materiais e ideológicas que reproduzem os privilégios de poucos e a
subordinação social e econômica de muitos. Pois estes professores podem contribuir para a
manutenção de determinada concepção de mundo ou para modificá-la, isto é, para tornar reais
novas formas de pensamento, fornecendo as habilidades pedagógicas/motoras e políticas que
são necessárias para novas maneiras de pensar a Educação Física e a sociedade.
Referencias Bibliográfica

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo:


Cortez, 1992.

GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. São Paulo: Círculo do


Livro, 1985.

MORAES, Raquel de Almeida. Gramsci e a Questão da Cultura. Enciclopédia de Filosofia


da Educação, 2000. Disponível em: <http://www.educacao.pro.br/gramsci.htm>. Acesso em:
07 set. 2001.

SANTIN, Silvino. Uma Busca da Filosofia do Corpo. Kinesis, Santa Maria, v.5, n.1, p.63-90,
1989.

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