O excesso de leitura tira do espírito toda a elasticidade, da mesma maneira que uma pressão contínua tira a elasticidade de uma mola. Os eruditos são aqueles que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores da espécie humana são aqueles que as leram diretamente no livro do mundo. Assim uma pessoa só deve ler quando a fonte de seus pensamentos próprios seca, o que ocorre com bastante freqüência mesmo entre as melhores cabeças. Quem pensa por si mesmo só chega a conhecer as autoridades que comprovam suas opiniões caso elas sirvam apenas para fortalecer seu pensamento próprio, enquanto o filósofo que tira suas idéias dos livros tem essas autoridades como ponto de partida. A construção de quem pensa por si mesmo é como a criação de um ser humano vivo. O pensador científico precisa de muitos conhecimentos e, por isso, de muita leitura. Seu espírito, no entanto, é suficientemente forte para dominar tudo isso, assimilá-lo, incorporá-lo ao sistema de seus pensamentos, subordinando o que lê ao conjunto orgânico e coeso de sua compreensão abrangente, em contínuo desenvolvimento. Em resumo, é preciso que não se leia demais para que o espírito não se acostume com a substituição e desaprenda a pensar, ou seja, para que não se acostume com trilhas já percorridas e para que o passo do pensamento alheio não provoque uma estranheza em relação a nosso próprio modo de andar.