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DIREITO AGRÁRIO
Professor : Valmir César Pozzetti

I – GÊNESE HISTÓRICA DO DIREITO AGRÁRIO

A propriedade nasce com o homem, que a utiliza como fator de


.sobrevivência

A gênese do direito agrário ocorre exatamente no momento em que o


homem abandona a condição de nômade e passa a ser sedentário. Surge a
necessidade de retirar o sustento da terra, deixando de extrair aquilo Qquea
terra já apresentava. Assim, o homem passa a exercer a atividade agrária.

A atividade agrária é aquela dotada do elemento “ruralidade”, que vem


sempre preso à idéia de espaço fundiário, em que se deva desenvolver uma
atividade de produção eóu conservação de recursos naturais, vinculando-se,
pois, à noção de trato da terra, do que é ager, ou rus.

O que uma atividade agrária antes revela, são os labores ponteantes no


setor primário da economia, aquela que induz à tarefa de obtenção de
gêneros de consumo ou matéria-prima, justo em razão de um imóvel rural,
prédio rústico.

Os exercícios da produção primária vivem afeitos, assim, a uma porção de


terra, que venha atender às necessidades alimentares do produtor ou de
terceiros e que promova o aparecimento de outros materiais serventes à
especificação de bens diversos.

O caráter rurícola só não atinge a exploração mineradora – ínsita, também à


terra, mas que vai abranger riquezas do subsolo, distintos dos recursos do
solo e acessórias deste, que são fatores de aparato do elemento ruralidade.

O Estatuto da Terra – ET, ao cuidar do fenômeno extrativista faz menção,


apenas, ao extrativismo vegetal e animal, instante em que respeitou,
inclusive, o mister de especializada legislação sobre as forças extrativistas
minerais, como as minas, jazidas e certos potenciais hidráulicos.

Sob o aspecto da ativação produtora primária, com natureza rural, teremos


que considerar só o campo que se abre às explorações da superfície terreal,
ligadas à lavoura, à pecuária, ao extrativismo vegetal e animal, à
hortifrutigranjeira ou aos processos daí miscigenados. Excepcionalmente,
porém, a ação produtiva de segundo grau, isto é, a de beneficiamento e
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transformação dos frutos da terra que, por essência, se acha atada ao setor
secundário da economia, pode consubstanciar um exercício agrário.

1. BREVE HISTÓRICO E CÓDIGO DE HAMMURABI

O DIREITO AGRÁRIO BRASILEIRO TEM ORIGEM NA LEGISLAÇÃO


PORTUGUESA, JÁ QUE AS ORDENAÇÕES DO REINO, NOTADAMENTE AS
ORDENAÇÕES FILIPINAS, VIGORAVAM INTEGRALMENTE NO BRASIL

REMONTA AOS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO : O PRIMEIRO IMPULSO DO


HOMEM FOI RETIRAR DA TERRA ALIMENTOS NECESSÁRIOS À SUA
SOBREVIVÊNCIA.

APÓS A ORGANIZAÇÃO EM SOCIEDADE (TRIBOS) TORNOU-SE


IMPRESCINDÍVEL CRIAR NORMAS PARA REGULAR AS RELAÇÕES ENTRE
OS HOMENS.

INICIA-SE COM DECÁLOGO DE MOISÉS E EVOLUI-SE ATÉ OS DIAS DE


HOJE.

O PRIMEIRO CÓDIGO AGRÁRIO DA HUMANIDADE é O CÓDIGO DE


HAMMURABI (SÉC XVII a. C – 1794 a 1750), DO POVO BABILÔNICO.

O REI HAMMURABI, CONSIDERADO COMO REI DE JUSTIÇA, FOI UM


GUERREIRO NOTÁVEL E UM GRANDE REFORMADOR DO DIREITO E DA
ORDEM SOCIAL DE SEU PAÍS. O IRAQUE ATINGIU O SEU APOGEU EM SEU
GOVERNO. REGULOU O EUFRATES E CONSTRUIU CANAIS DE IRRIGAÇÃO
QUE ATIVARAM A PRODUÇÃO AGRÍCOLA, MARCANDO A HEGEMONIA DO
SEU POVO.

O CÓDIGO POSSUI 282 ARTIGOS, COM 65 TEMAS DE DIREITO AGRÁRIO :

- CAP. V – TRATAVA DA LOCAÇÃO E CULTIVO DOS FUNDOS


RÚSTICOS;
- CAP XII – CUIDAVA DO EMPRÉSTIMO E LOCAÇÃO DE BOIS;
- CAP XIV REFERIA-SE À TIPIFICAÇÃO DELITUOSA DA MORTE
HUMANA
PELA CHIFRADA DE UM BOI;
- CAP XVI – REGIA A SITUAÇÃO DOS AGRICULTORES;
- CAP XVII TRATAVA DOS PASTORES.
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- § 43. “SE ELE NÃO CULTIVOU O CAMPO E O DEIXOU ÁRIDO,


DARÁ AO SEU PROPRIETÁRIO O GRÃO CORRESPONDENTE À
PRODUÇÃO DO SEU VIZINHO, E ALÉM DISSO, AFOFA-LA-Á A
TERRA E DESTORROARÁ A TERRA QUE DEIXOU BALDIA E
DEVOLVERÁ AO PROPRIETÁRIO DO CAMPO”.

§ 48. “SE UM HOMEM LIVRE TEM SOBRE SI UMA DIVIDA E O SEU


CAMPO FOI INUNDADO, OU A TORRENTE CARREGOU, OU POR
FALTA DE ÁGUA NÃO CRESCEU GRÃO NO CAMPO; NAQUELE ANO
ELE NÃO DARÁ GRÃO A SEU CREDOR, ELE ANULARÁ O SEU
CONTRATO E NÃO PAGARÁ OS JUROS DAQUELE ANO;”

§ 257. “SE UM HOMEM LIVRE CONTRATOU UM TRABALHADOR


RURAL, DAR-LHE-Á OITO GUR DE GRÃO POR ANO”.

*GUR” – MEDIDA DE CAPACIDADE CORRESPONDENTE A 300 LITROS,


NO PERÍODO BABILÔNICO.

EM 45 a C, O POVO ROMANO TAMBÉM TRAZ SUA CONTRIBUIÇÃO AO


DIREITO AGRÁRIO COM A EDIÇÃO DA LEI DAS XII TÁBUAS :

- TÁBUA SEGUNDA – “9.SE ALGUÉM, SEM RAZÃO, CORTOU


ARVORES DE OUTREM, QUE SEJA CONDENADO A INDENIZAR À
RAZÃO DE 25 ASSES POR ARVORES CORTADAS”.

- TÁBUA SEXTA- “5. AS TERRAS SERÃO ADQUIRIDAS POR


USUCAPIÃO DEPOIS DE DOIS ANOS DA POSSE, AS COISA MÓVEIS,
DEPOIS DE UM ANO”; ***
“7. SE UMA COISA É LITIGIOSA, QUE O
PRETOR A ENTREGUE PROVISORIAMENTE ÀQUELE QUE DETÉM A
POSSE.

*** VEREMOS ADIANTE QUE ESSE INSTITUTO ORIGINOU O USUCAPIÃO


AGRÁRIO, ORDINÁRIO E EXTRAORDINÁRIO.
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HISTÓRICO DO DIREITO AGRÁRIO NO BRASIL

REMONTA À FORMAÇÃO HISTÓRICA DO TERRITÓRIO BRASILEIRO

EM 07.07.1494 OS REIS DA ESPANHA (D. FERNANDO E IZABEL) E DE


PORTUGAL (D. JOÃO) FIRMARAM ACORDO DIVIDINDO AS TERRAS DO
MUNDO, ATRAVÉS DO TRATADO DE TORDESILHAS – HOMOLOGADO PELA
BULA PAPA JULIO II.

CABRAL FEZ UM DESCOBRIMENTO MERAMENTE SIMBÓLICO PQ AS


TERRAS JÁ PERTENCIAM A PORTUGAL

MAIS TARDE PERCEBEU-SE QUE AS TERRAS BRASILEIRAS ERAM


CONTINENTAIS, PRODUTIVAS E QUE PRECISAVAM SER OCUPADAS PARA
GARANTIR A PROPRIEDADE DE PORTUGAL.

NOS ANOS 30 DO SÉC XVI O REI DE PORTUGAL MANDA MARTIM AFONSO


DE SOUZA PARA PARTILHAR E COLONIZAR E ESTABELECER DOMÍNIO
ÚTIL PARA ASSENTAR OS COLONOS NAS TERRAS BRASILEIRAS, COM O
OBJETIVO DE QUE O COLONO ASSENTADO PUDESSE EXPLORA-LA.

A ESSE REGIME DEU-SE O NOME DE SESMARIAS, QUE SIGNIFICAVA


A CESSÃO DE TERRAS A IMIGRANTES, PARA COLONIZAÇÃO E
EXPLORAÇÃO. A PROPRIEDADE CONTINUAVA A SER DA COROA.

ESTE INSTITUTO FOI ADOTADO POR PORTUGAL EM 1.375 PARA


ASSENTAR O HOMEM NO CAMPO E AUMENTAR A PRODUTIVIDADE,
DESESTIMULANDO A OCIOSIDADE DAS TERRAS. ENTRETANTO, AS
DIFERENÇAS REGIONAIS ENTRE PORTUGAL E O BRASIL NÃO FORAM
LEVADAS EM CONTA.

MAIS TARDE O GOVERNO GERAL DO BRASIL FOI DESMEMBRADO EM


CAPITANIAS HEREDITÁRIAS, MANTENDO O REGIME DE SESMARIAS.

O SESMEIRO RECEBIA A TERRA COMO SE FOSSE SUA E TINHA O PODER


POLÍTICO E ECONÔMICO SOBRE ELA.

PARA QUE O COLONO PUDESSE OBTER O DIREITO DE SE TORNAR UM


SESMEIRO, TINHA QUE SE DISPOR A PLANTAR E FIXAR-SE NA TERRA
(OCUPAR E EXPLORAR) EFETIVAMENTE E DEFENDE-LA DO
ESTRANGEIRO.
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SE O SESMEIRO NÃO CUMPRISSE AS REGRAS, RESILIA-SE O CONTRATO


E A SESMARIA ERA DEVOLVIDA À COROA E O GOVERNADOR ASSUMIA A
POSSE AS REDISTRIBUÍA. SURGIU AQUI O INSTITUTO DAS TERRAS
DEVOLUTAS (TERRAS DEVOLVIDAS AO PATRIMÔNIO DO REI), ÀS QUAIS
ERAM REPASSADAS PARA OUTRO COLONO, COM O INTUITO DE MANTER
POSSE DO TERRITÓRIO BRASILEIRO.

ASSIM, O FUNDAMENTO DA PROPRIEDADE RURAL, NO BRASIL, É O


REGIME DA SESMARIA, QUE SE TORNOU A BASE DE COLONIZAÇÃO,
CUJOS EFEITOS JURÍDICOS ATÉ HOJE SE SENTE.

DURANTE 300 ANOS, APÓS 1.500, PERDUROU NO BRASIL O REGIME DE


SESMARIAS, GERANDO MUITA CORRUPÇÃO; POIS NO ATO DA
CONCESSÃO DAS TERRAS, ELAS ERAM FEITAS AOS QUE TINHAM
ACHEGO À COROA, ONDE SE DEU LUGAR A GRANDES LATIFÚNDIOS
IMPRODUTIVOS, QUE GERARAM VÁRIOS PROBLEMAS SOCIAIS E
DESCONTENTAMENTO GERAL DE COLONOS : A TERRA PASSADA AOS
FIDALGOS, NÃO PRODUZIAM, DE MODO QUE COMEÇARAM A SURGIR
CAMPESINOS E POSSEIROS AO LONGO DA COSTA DO TERRITÓRIO
BRASILEIRO.

EM 17.07.1822 REVOGOU-SE A LEGISLAÇÃO DAS SESMARIAS, POUCO


ANTES DA INDEPENDÊNCIA. DURANTE ALGUNS ANOS O BRASIL FICOU
SEM LEGISLAÇÃO FUNDIÁRIA, TORNANDO CAÓTICA A VIDA DOS
CAMPONESES NO BRASIL, DANDO INICIO À POSSES E OCUPAÇÃO
ILEGAL DE TERRAS, ABANDONO DE TERRAS, ETC.

SÓ EM 18.09.1850, ATRAVÉS DA AÇÃO DE D. PEDRO É QUE SURGE A LEI


DE TERRAS - LEI nº 601/50: PRIMEIRO ESTATUTO AGRÁRIO BRASILEIRO,
CUJOS OBJETIVOS ERAM :

1 - ESTABELECER REGRAS PARA RECONHECER DIREITOS, COM O


CUIDADO DE NÃO RECONHECER DIREITOS DE INVASOR ILEGAL;
2 - LEGALIZAR A SITUAÇÃO DOMINIAL DO SESMEIRO;
3 - TECER REGRAS PARA LEGALIZAR A TITULAÇÃO DE OUTROS
DETENTORES DE IMÓVEIS RURAIS, A OUTROS TÍTULOS;
4 - ESTABELECER REGRAS DE LEGITIMAÇÃO DE POSSE.

COM A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, AS TERRAS NÃO PARTICULARES


PASSARAM DA COROA PORTUGUESA PARA A COROA BRASILEIRA E SE
TORNARAM PATRIMÔNIO DO IMPERADOR, QUE PASSOU A SER O
GRANDE LATIFUNDIÁRIO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO.

E O IMPERADOR, D. PEDRO, ABUSOU DISSO. EXEMPLOS :


1) QUANDO À PRINCESA ISABEL FOI CASAR-SE, DEU COMO DOTE AO
CONDE “DAM” A ILHA DE SÃO SEBASTIÃO, CHAMADA DE ILHA BELA DA
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PRINCESA, CUJO NOME HOJE É “ILHA BELA”, SITUADO NO LITORAL SUL


DO PAIS;
2) DEU DE PRESENTE DE CASAMENTO AOS NUBENTES EUROPEUS DE
FAMÍLIA AUSTRÍACA E ALEMÃ, UMA ÁREA AO NORTE DO ESTADO DE
SANTA CATARINA, ONDE HOJE ESTÁ A CIDADE DE “JOINVILLE”,
CONHECIDA COMO A CIDADE DOS PRÍNCIPES, ONDE SE INSTALAOU A
MAIOR PARTE DOS IMIGRANTES AUSTRÍACOS E ALEMÃES.

APÓS A PROCLAMAÇÃO DA REPUBLICA, A CF/1891, EM SEU ARTIGO 64


TRANSFERIU TODAS AS TERRAS DEVOLUTAS - QUE NÃO IMPLICAVAM EM
COLOCAR EM RISCO A SEGURANÇA NACIONAL - AO PATRIMÔNIO DOS
ESTADOS. ALGUNS ESTADOS AINDA NÃO EXISTENTES, NÃO RECEBERAM
TERRAS. O ACRE, QUE AINDA ERA TERRITÓRIO BOLIVIANO, NÃO
RECEBEU.

ALGUNS ESTADOS TRANSFERIRAM PARTE DESTAS TERRAS AOS SEUS


MUNICÍPIOS. O ESTADO DE SÃO PAULO FOI UM DELES

NOS IDOS DE 1950 O BRASIL SE ENCONTRA DA


SEGUINTE FORMA :
- INSATISFAÇÃO GERAL DOS CAMPONESES, CRIAÇÃO DE
VÁRIOS SINDICATOS RURAIS, IGREJA CATÓLICA ATUANTE
E CRESCIMENTO DO PARTIDO COMUNISTA.
- EM 1959 COM O ADVENTO DA REVOLUÇÃO CUBANA
FORTALECE-SE O MOVIMENTO DE REFORMA AGRÁRIA NO
BRASIL, QUE SE INTENSIFICA A PARTIR DE 1.960.
- EM 31.03.1964 GOLPE MILITAR ANIQUILA O MOVIMENTO
RURALISTA COM A PROMESSA DE REFORMA AGRÁRIA;

- EM 30.11.1964 SURGE O ESTATUTO DA TERRA (ET) – LEI 4.504,


QUE É INCORPORADO PELA CF/88.

CONTEÚDO do ET :

- FUNÇÃO SOCIAL (ACESSO DE TODOS À


PROPRIEDADE RURAL; BEM-ESTAR DOS QUE
LABUTAM NA TERRA; MANTER A PRODUTIVIDADE;
CONSERVAR RECURSOS NATURAIS, ETC..)

- DEVERES DO PODER PÚBLICO (PROMOVER


CONDIÇÕES AO TRABALHADOR RURAL : ACESSO A
TERRA, JUSTA REMUNERAÇÃO, BENEFÍCIOS SOCIAIS,
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ASSEGURAR A POSSE ÀS POPULAÇÕES INDÍGENAS,


DESENVOLVER POLITICA AGRÍCOLA) ETC

2. CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO


“É O RAMO DO DIREITO PUBLICO, COM CONTEÚDO ESPECIAL E
PRÓPRIO PARA ATINGIR A JUSTIÇA SOCIAL ATRAVÉS DO
DESENVOLVIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA TERRA, COM O OBJETIVO
FINAL DE ATINGIR O ‘BEM COMUM’. (ROBERTO J PUGLIESE)

É O CONJUNTO DE PRINCÍPIOS E NORMAS DE DIREITO PÚBLICO E DE


DIREITO PRIVADO QUE VISA A DISCIPLINAR AS RELAÇÕES
EMERGENTES DA ATIVIDADE RURAL, COM BASE NA FUNÇÃO SOCIAL
DA TERRA. (SODERO, F. PEREIRA)

2.1 – OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO

IMPORTANTE FRISAR QUE, SEGUNDO LARANJEIRA1, A ATIVIDADE


AGRÁRIA É AQUELA ORIUNDA DA ATIVIDADE RURÍCOLA E ENTRE
ESTAS DESTACAM-SE AS SEGUINTES ATIVIDADES :

a) EXPLORAÇÃO RURAL – SÃO AS OPERAÇÕES TENDENTES À


OBTENÇÃO DOS PRODUTOS PRIMÁRIOS, OU SEJA, DE
CONSEGUIMENTO DOS FRUTOS DO SOLO E ACESSÓRIOS DESTE,
ESTA É ATIVIDADE AGRÁRIA TÍPICA, POR EXCELÊNCIA, QUE SE
RETRATA NOS EXERCÍCIOS DA LAVOURA, DA PECUÁRIA, DO
EXTRATIVISMO VEGETAL E ANIMAL E HORTIGRANJEARIA (AVES,
ABELHAS, HORTALIÇAS, FLORES, FRUTAS, PEIXES, ETC.).

b) CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS – MÉTODOS DE


CONSERVAÇÃO DO SOLO : FECHAMENTO DE VASSOROCAS,
EVITAR A LIXIVIAZAÇAO, PROVOCAR A FERTILIDADE DE
TERRENOS (DRENAGEM, ONDULAÇÕES), ASSEGURAR A
DESSENDENTAÇAO DOS REBANHOS (FEITURA DE TANQUES,
BARRAGENS E ABERTURA DE CACIMBAS) ; ATACAR AS PRAGAS
DO PLANTIO E AS DOENÇAS DOS ANIMAIS (DEDETIZAÇÃO E
VACINAÇÃO), RESGUARDAR OS PRODUTOS COLHIDOS E
COLETADOS E OS SUBPRODUTOS (ARMAZENAMENTO,
ENSILAGEM, FRIGORIFICAÇÃO) OU SALVAGUARDAR AS ESPÉCIES

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LARANJEIRA, Raimundo. Propedêutica do Direito Agrário. São Paulo, LTR , 1975.
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VALIOSAS DA FAUNA E FLORA EXISTENTES NO SEU PRÉDIO


RÚSTICO.

c) ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA FUNDIÁRIO – SISTEMA DE


COLONIZAÇÃO, COM DIVISÃO EQUITATIVA DA TERRA PARA QUE
SE POSSA VIABILIZAR A DINAMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE
GÊNEROS ALIMENTÍCIOS, PERMITINDO AOS BRASILEIROS, A
OCUPAÇÃO PERMANENTE DE ESPAÇOS VAZIOS OU DE
REDISTRIBUIÇÃO TERREAL AO MENOS FAVORECIDOS.

ENTÃO O OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO SÃO TODOS OS FATOS


JURÍDICOS QUE EMERGEM DO CAMPO :

a) ATIVIDADE AGRÁRIA;
b) ESTRUTURA AGRÁRIA;
c) EMPRESA AGRÁRIA;
d) POLÍTICA AGRÁRIA;

O OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO ENGLOBA TRÊS ASPECTOS :

a) ATIVIDADE IMEDIATA – O HOMEM NO USO DOS RECURSOS


NATURAIS;
b) OBJETIVOS E INSTRUMENTOS – EXTRATIVISMO, CAÇA, PESCA,
AGRICULTURA E PECUÁRIA;
c) ATIVIDADES CONEXAS – PROCESSOS INDUSTRIAIS E ATIVIDADE DE
TRANSPORTE DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

AUTONOMIA DO DIREITO AGRÁRIO


O DIREITO AGRÁRIO GOZA DE AUTONOMIA SOB OS
SEGUINTES ASPECTOS : LEGISLATIVO, CIENTÍFICO,
DIDÁTICO E JURISDICIONAL.

AUTONOMIA LEGISLATIVA – A EC Nº 10/64 INICIA A


AUTONOMIA LEGISLATIVA NO BRASIL E É SEGUIDA DO
ESTATUTO DAS TERRAS – LEI Nº 4.504, DE 30.11.1964. O
DIREITO AGRÁRIO HOJE, ESTÁ INSERTO NA CF/88:

Art. 5º . Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
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liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos


termos seguintes :
(...)
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
os casos previstos nesta Constituição;
(...)
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei,
desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora
para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento.

Art. 22 – Compete privativamente à união legislar sobre :


I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
II – desapropriação.

Capitulo III - Da Política Agrícola e Fundiária e da


Reforma Agrária (art. 184 a 191, CF/88)

Art. 184 - Compete à União desapropriar por interesse social,


para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja
cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização
em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor
real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo
ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.

Art. 185 - São insuscetíveis de desapropriação para fins de


reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei,
desde que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
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Parágrafo único - A lei garantirá tratamento especial à


propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos
requisitos relativos a sua função social.

Art. 186 - A função social é cumprida quando a propriedade rural


atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
(...)

Art. 187 - A política agrícola será planejada e executada na forma


da lei, com a participação efetiva do setor de produção,
envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos
setores de comercialização, de armazenamento e de transportes,
levando em conta, especialmente:
(...)
Art. 188 - A destinação de terras públicas e devolutas será
compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de
reforma agrária.

Art. 189 - Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela


reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de
uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos.

Art. 190 - A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento


de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e
estabelecerá os casos que dependerão de autorização do
Congresso Nacional. Regulado pela Lei 5.709/71

Art. 191 - Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou


urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem
oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade
Parágrafo único - Os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião.
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Direito agrário e sistema de organização e funcionamento do Instituto Brasileiro de


Reforma Agrária - L-004.947-1966
Capítulo I
Disposições Preliminares
Art. 1º - Esta Lei estabelece normas de Direito Agrário e de ordenamento,
disciplinação, fiscalização e controle dos atos e fatos administrativos relativos ao
planejamento e à implantação da Reforma Agrária, na forma do que dispõe a Lei nº
4.504, de 30 de novembro de 1964.

AUTONOMIA CIENTÍFICA – TEM NORMAS PRÓPRIAS E


PRINCÍPIOS DIFERENCIADOS DOS DEMAIS RAMOS DO
DIREITO. O operador de direito foi buscar a pesquisa e os
anseios da população para legislar sobre direito agrário. Esta
cientificidade é autônoma; eis que trata-se de pesquisas
realizadas com os anseios do homem do campo.

3.1 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

A doutrina apresenta como princípios do direito agrário :

1) Princípio do monopólio legislativo da União (CF/88, art. 22, § 1º) -


Somente a União, sob pena de inconstitucionalidade pode legislar
sobre matéria agrária; pois o objetivo é gerar uniformidade em todo
o território nacional;

2) Princípio da sobreposição do uso ao título - o simples título não


legitima nem mantém regular a situação do titular da terra na
medida em que a política agrícola e fundiária exige produtividade. O
uso prepondera sobre o título. (art. 185, II; 186, III e 196, CF/88; art.
5º caput, c/c art. 184 CF/88);

3) Princípio da Função Social da propriedade – quando a


propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, os requisitos
estabelecidos no artigo 186, CF/88 e artigo 2º e 12 do ET.

4) Princípio da Dicotomia - compreende política de reforma (agrária)


e política de desenvolvimento (política agrícola);
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5) Princípio das Normas de Ordem Pública – as normas do direito


agrário são normas cogentes, impositivas, objetivando dar
efetividade à função social da propriedade (art. 5º, XXIII, CF/88), ou
seja, o interesse coletivo se sobrepõe ao individual.

6) Principio da Reformulação da Estrutura Fundiária - a


reformulação da estrutura fundiária é uma necessidade constante. )
§ 1º do art.1º da Lei 4.504/64 : “considera-se reforma agrária o
conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da
terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim
de atender aos princípios de justiça e ao aumento da
produtividade”).

7) Princípio do Comunitarismo – visa o fortalecimento do espírito


comunitário, através de cooperativas e associações (art. 187, vI,
CF/88);

8) Principio do Combate – tem por objetivo combater ao latifúndio,


ao minifúndio, ao êxodo rural, à exploração predatória e aos
mercenários da terra;

9) Princípio da Privatização – trata-se de principio constitucional


que visa a privatização (alienação e concessão) dos imóveis rurais
públicos para pessoa físicas e jurídica, a fim de que produzam e
desenvolvam atividades agropastoris e empresas agrícolas (arts.
188 e 190, CF/88);

10) Princípio da proteção à Propriedade Familiar, à pequena e à


media propriedade; proibi-se a desapropriação para fins de reforma
agrária, da pequena e media propriedade rural, bem como a
pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela família (art.
185, CF/88), e também insuscetível de penhora (art. 5º, XXVII)

11) Princípio do fortalecimento da Empresa Agrária – de acordo


com o art. 4º, VI do ET, “Empresa Rural é o empreendimento de
pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore
econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de
rendimento econômico da região em que se situe e que explore
área mínima agricultável do imóvel segundo padrões fixados,
pública e previamente pelo Poder Executivo. Para esse fim,
equiparam às áreas cultivadas, as pastagens, as matas naturais e
artificiais e as áreas ocupadas com benfeitoria”. Devem ser
garantidos insumos ao amplo desenvolvimento da empresa agrária,
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tais como mecanização agrícola (art. 78), assistência financeira e


creditícia (art. 81 a 83), industrialização e beneficiamento dos
produtos agrícolas (art. 87 e 88), eletrificação rural e obras de infra-
estrutura (art. 84), entre outras.

12) Princípio da proteção da propriedade Indígena - é o principio


constitucional da proteção das terras indígenas (art. 231, § 1º,
CF/88: “são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por
eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas
atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos
recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos,
costumes e tradições”.
A remoção dos índios das referidas terras só pode ser feita quando
necessária à soberania nacional ou em caso de catástrofe ou
epidemia, e desde que autorizado ad referundum pelo Congresso
Nacional (art. 231, § 5º, CF/88)

13) Principio do Dimensionamento Eficaz das áreas exploráveis; é


necessário uma dimensão mínima de propriedade rural que
assegure ao trabalhador e à sua família subsistência digna e
progresso econômico. Observe-se que, para fins de usucapião
houve uma duplicação da área de 25 a 50 hectares (art. 191, CF/88),

14) Princípio da proteção do trabalhador rural – trata-se de principio


constitucional na medida em que a função social é cumprida
quando a exploração no imóvel rural favoreça o bem-estar dos
trabalhadores (art. 186, § 4º).

15) Princípio da Proteção ao Meio Ambiente – de todos os


princípios, talvez o mais importante para a atualidade seja o do
meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, CF/88). Só
haverá o cumprimento da função social do imóvel rural quando
ocorre a “utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente (art. 186, II, CF/88)

AUTONOMIA DIDÁTICA – A MAIORIA DAS UNIVERSIDADES JÁ


POSSUI A DISCIPLINA NA SUA MATRIZ CURRICULAR.
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AUTONOMIA JURISDICIONAL –
CF/88 Seção VIII – Dos Tribunais e Juízes do Estado.
Art. 126. para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de
Justiça proporá a criação de varas especializadas, com
competência exclusiva para as questões agrárias;
Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente
prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local
do litígio.

Obs : Redação dada pela EC 45/2004

AINDA É TÍMIDA E A ÚNICA ATIVIDADE REPRESENTATIVA,


COMO ATIVIDADE JURISDICIONAL ESPECIALIZADA, ESTÁ NO
AMAZONAS : VEMAQA – VARA DO MEIO AMBIENTE E
QUESTÕES AGRÁRIAS

3.2 -NATUREZA JURÍDICA DO D.A.

EMBORA ALGUNS DOUTRINADORES SE POSICIONEM EM


AFIRMAR A DICOTOMIA DO DIREITO AGRÁRIO, É POSIÇÃO DA
MAIORIA DELES DE QUE O D.A É RAMO DO DIREITO PÚBLICO
EM RAZÃO DE QUE HÁ O PREDOMÍNIO DAS NORMAS DE
ORDEM PÚBLICA SOBRE AS DE DIREITO PRIVADO E QUE, ATÉ
NAS DISCIPLINAS DOS CONTRATOS AGRÁRIOS, ONDE A
VONTADE DAS PARTES TEM O SEU MAIOR ESPAÇO, A
AUTONOMIA PRIVADA É QUASE NENHUMA, EM FACE DAS
NORMAS IMPERATIVAS IMPREGNADAS NO DECRETO nº 59.566,
DE 14.11.1966 - Regulamentos do Estatuto da Terra e Direito Agrário : Dos
Contratos: Essência e Fundamentos; Dos Contratos Agrários ; Do Arrendamento e
suas Modalidades; Da Parceria e suas Modalidades; Do Uso Temporário da Terra e
suas Limitações; Dos Direitos e dos Deveres; Dos Arrendadores e dos Arrendatários -
Dos Parceiros-Outorgantes e dos Parceiros-Outorgados; Do Crédito; Do Acesso ao
Crédito; Das Condições Especiais do ; Dos Incentivos; Do Registro e do Controle dos
Contratos Agrários; Dos Registros Cadastrais; Do Controle e Fiscalização dos
Contratos; Das Disposições Gerais e Transitórias; Do Ajustamento e Adaptações dos
Contratos em Vigor; Das Formas de Transição de Uso Temporário; Das Disposições
Finais
15

POR OPORTUNO, VALE REGISTRAR QUE O PRINCÍPIO DA


FUNÇÃO SOCIAL DA TERRA, É O MAIOR PRECEITO A
SUBORDINAR O DIREITO DE PROPRIEDADE E O MAIS
RELEVANTE PRECEITO DE ORDEM PÚBLICA IMPREGNADO
NO ORDENAMENTO JURÍDICO AGRÁRIO.

4. FONTES DO DIREITO AGRÁRIO

CONSTITUEM FONTE DO D.A :

a) LEI : expressão nacional e objetiva do direito. Regra que


emana de um órgão especializado, sancionada pelo Poder
Público.
b) OS COSTUMES: conjunto de regras uniformes, gerais e
constantes que se impõe a todos os membros da coletividade,
com tal autoridade, que a infração delas importa uma viva
desaprovação das partes dos outros indivíduos e certo
incômodo íntimo. É o padrão de comportamento sancionado
pela sociedade que o adotou.
c) A DOUTRINA: o conjunto de soluções às questões de
direito, ministradas pelos jurisconsultos, pressupondo
objetividade, metodização. É trabalho cientifico.
d) A JURISPRUDÊNCIA: conjunto de soluções elaboradas
pelos juízes às questões jurídicas, harmonizando as decisões
dos tribunais.

SÃO TAMBÉM MENCIONADAS PELOS DOUTRINADORES AS


SEGUINTES FONTES MATERIAIS :

a ) A REALIDADE SOCIAL, ISTO É, O CONJUNTO DE FATOS


SOCIAIS QUE CONTRIBUEM PARA A FORMAÇÃO DO
CONTEÚDO DE DIREITO;

b) OS VALORES QUE O DIREITO PROCURA REALIZAR,


FUNDAMENTALMENTE, SINTETIZADOS NO CONCEITO AMPLO
DE JUSTIÇA;
16

4.1 - RELAÇÃO DO DIREITO AGRÁRIO COM


OUTROS RAMOS DO DIREITO

DIREITO CONSTITUCIONAL – ART. 5º, XXXIII; ART. 170, III;


ART. 184 E SEGUINTES

DIREITO CIVIL : ESTÁ UM POUCO DISTANCIADO, EM VIRTUDE


DE O DIR. AGRÁRIO TRATAR DOS CONTRATOS DE
ARRENDAMENTO, PARCERIA, MEAÇÃO, ETC. RESTOU-LHE
SOMENTE DISCIPLINAR O DIREITO À PROPRIEDADE (USAR,
E FRUIR), SERVIDÃO, HIPOTECA E CONDOMÍNIO.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL : AÇÕES POSSESSÓRIAS,


USUCAPIÃO DE TERRAS PARTICULARES, DIVISÃO E
DEMARCAÇÃO DE TERRAS PRIVADAS, RITO REFERENTE ÀS
QUESTÕES DE ARRENDAMENTO RURAL.

DIREITO PENAL : CAÇA, PESCA, FLORESTA, ROUBO DE


GADO, ETC... (ABIGEATO: ROUBO DE ANIMAIS; SUPRESSÃO
OU ALTERAÇÃO DE MARCAS DE ANIMAIS; MODIFICAÇÃO DE
LIMITES OU USURPAÇÃO DE ÁGUAS, ETC.)

DIREITO DO TRABALHO RURAL E DIREITO PROCESSUAL DO


TRABALHO;

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO : FAO – FIELD AND


AGRICULTURAL ORGANIZATION – CRIADO PELA ONU PARA
TRATAR DE ASSUNTOS LIGADOS À ALIMENTAÇÃO E À
AGRICULTURA EM TODO O MUNDO.

DIREITO COMERCIAL : EMPRESA RURAL, PENHOR RURAL,


PENHOR MERCANTIL, COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS
RURAIS.(ALGUNS INSTITUTOS, HOJE TRATADOS PELO DIREITO DE
EMPRESA, COM O ADVENTO DO NCCB)

DIREITO PREVIDENCIÁRIO : ESTABELECE A OBRIGAÇÃO DE


O COMPRADOR DO PRODUTOR RURAL RECOLHER O INSS
SOBRE OS PRODUTOS COMERCIALIZADOS POR ELE.
17

O segurado especial está dispensado do pagamento de


contribuições?
A responsabilidade pelo recolhimento da contribuição previdenciária
do segurado especial é do adquirente, consumidor, consignatário ou
cooperativa (por subrogação), salvo quando ele comercializa sua produção
no exterior ou diretamente no varejo, ao consumidor, ao consumidor
pessoa física, ao produtor rural pessoa física ou a outro segurado
especial.
A contribuição do segurado especial é calculada em 2,1% da renda
obtida pela venda da sua produção, que tem a seguinte destinação: 2,0%
para a Seguridade Social e 0,1% para o financiamento das prestações por
acidente do trabalho.

DIREITO TRIBUTÁRIO : ESTABELECE OBRIGAÇÕES


TRIBUTÁRIAS – ITR : IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ART. 49,
ESTATUTO DA TERRA; art. 153, VI e §4º CF/88); ITCMD :IMPOSTO SOBRE
TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO (ART. 155, I, CF/88); ITBI
– IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO INTER VIVOS (ART. 156,II,
CF/88); IMPOSTO DE RENDA ( ART. 153, II, CF/88)

5. DIREITO AGRÁRIO COMPARADO


As revoluções sociais em determinado momento marcaram a história e
influenciaram o sistema de produção agrícola no planeta.

Alguns países, como a antiga União Soviética, China e Leste Europeu,


implantaram um sistema coletivista, onde a terra é do Estado e, como bem do
Estado, ela é de todos. Outros países como a França, Inglaterra, Alemanha e
outros, onde vigem o sistema capitalista, entenderam que a terra deveria ser
propriedade particular, para estimular-se a produção, cumprindo sua função
social e que a “terra” tem conceito de bem de utilidade publica.

Assim, seguindo a França, o Brasil adotou que a terra pode ser propriedade
privada, individual, mas ela tem que cumprir sua função social. Este é o
requisito sine qua non para que a terra continue na condição de propriedade
privada.

O direito de propriedade nas constituições européias não apresenta a


mesma conotação que lhe é dada no Direito brasileiro; contudo, sem
deixar de reconhecê-lo como um dos direitos fundamentais inerentes
ao homem, em regra, colocando-o em ordem de prioridade distante do
direito à vida e à liberdade.
18

A) A Constituição Portuguesa de 1.976 :

Art. 62. “a todos é garantido o direito de propriedade privada e a sua


transmissão em vida ou por morte, nos termos da Constituição. A
requisição e a expropriação por utilidade só podem ser efetuadas
com base na lei e mediante o pagamento de justa indenização”.

B) A Constituição Espanhola de 1978 :

Art. 33. “Se reconece el derecho a La propriedad privada y a La


herancia. La función social de estos derechos delimitaria su
contenido, de acuerdo com lãs leyes. Nadie podrá ser privado de
sus bienes y derechos sino por causa justificada de utilidad
pública o interes social, mediante La correspondiente indenización y
de conformidad com lo dispuesto por lãs leyes.”

C) A Lei fundamental da Alemanha de 1949 :


Art. 14. “A propriedade e o direito de sucessão são garantidos. A
sua natureza e os seus limites são regulados por lei. A propriedade
obriga o seu uso, deve ao mesmo tempo servir o bem-estar geral.
19

II – A REFORMA AGRÁRIA – NOÇÕES GERAIS

1. INTRODUÇAO, CONCEITO E FASES


1.1 Introdução
A Reforma Agrária é um dos mais importantes institutos do Direito Agrário. A
origem do Direito Agrário no Brasil advém do regime de “sesmarias”
extremamente caótica e que não deu certo em Portugal, seu país de origem. O
longo período de ausência de leis reguladoras de formas aquisitivas de terras,
oportunizou tanto a concentração de terras em mãos de poucos, como a
proliferação de minifúndios, igualmente nocivos, porque a produção em,
pequena escala não atende a função social.

1.2 -Conceito :
Reformar é a junção do vocábulo re + formare que significa dar nova forma,
refazer, restaurar.

Desta forma, o Direito Agrário tem um compromisso com a transformação,


devendo preocupar-se com a reforma agrária, que se traduz na reformulação
da estrutura fundiária.

O Estatuto da Terra, no § 1º do artigo 1º, traz a seguinte definição de Reforma


Agrária :
§ 1º - Considera-se Reforma Agrária o conjunto de
medidas que visem a promover melhor distribuição da
terra, mediante modificações no regime de sua posse e
uso, a fim de atender aos princípios da justiça social e
ao aumento de produtividade.

Em virtude deste comando legal e do art. 186 da CF/88, o Estatuto da Terra nos
apresenta em seu Título II, as diretrizes para a Reforma Agrária:
Art. 16. A Reforma Agrária visa estabelecer um sistema
de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso
da terra, capaz de promover a justiça social, o progresso
e o bem estar do trabalhador rural e o desenvolvimento
econômico do país, com a gradual extinção do
minifúndio e do latifúndio.
20

Parágrafo Único. O Instituto Brasileiro de Reforma


Agrária será o órgão competente para promover e
coordenar a execução dessa reforma, observadas as
normas gerais da presente Lei e do seu regulamento.
Art. 17. O acesso à propriedade rural será promovido
mediante a distribuição ou redistribuição de terras, pela
execução de qualquer das seguintes medidas :
a) desapropriação por interesse social;
b) doação;
c) compra e venda;
d) arrecadação dos bens vagos;
e) reversão à posse do Poder Público de terras de
sua propriedade, indevidamente ocupadas e exploradas,
a qualquer título, por terceiros;
f) herança ou legado

1.3 – Fases

Conforme vimos, a Reforma Agrária no Brasil, passou por diversas fases,


desde as Sesmarias. Após estas, o intenso movimento e a luta dos
campesinos começa a pressionar o estado e a formação de movimentos
populares pressionou o Estado a editar o Estatuto da Terra, Entretanto, é
preciso observar o regime político de cada país para se estabelecer essas
diretrizes.

Nos dias de hoje, a Constituição Federal e o Estatuto da Terra regem o


procedimento da reforma agrária. Para realizá-la, a melhor doutrina defende
que há dois métodos para se fazer a Reforma Agrária :

a) o coletivista – consiste na nacionalização da terra, passando a


propriedade para o Estado. Fundado este, na doutrina socialista, segundo
a qual os meios de produção são do Estado, cabendo ao campesino
apenas o direito de uso;

b) o privatista (ou individualista) – consiste na admissão da existência da


propriedade privada, onde a terra é de quem trabalha, seja pequeno,
médio ou grande produtor, que convivem harmoniosamente (doutrina de
Aristóteles)

Objetivos da Reforma Agrária - Está contido no artigo 16 do


Estatuto da Terra:
Art. 16 – A Reforma Agrária visa estabelecer um sistema
de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso
da terra, capaz de promover a justiça social, o progresso
e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento
21

econômico do País, com gradual extermínio do


minifúndio e do latifúndio.

2 - A PROPRIEDADE PERANTE A CF/88 e A LEI CIVIL

O DIREITO DE PROPRIEDADE TÊM DIVERSOS REFLEXOS POLÍTICOS,


VEZ QUE INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DOS POVOS.

É PELO TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DISPENSADO AO DIREITO DE


PROPRIEDADE QUE SENTIREMOS A ANATOMIA DO ESTADO, OS
PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE O REGEM : SE CAPITALISTA OU
SOCIALISTA, E COM TODOS OS PORMENORES JURÍDICOS,
ECONÔMICOS, POLÍTICOS E SOCIAIS DAÍ EVIDENCIADOS.

“DA QUEDA DO MURO DE BERLIM E DO DESMANTELAMENTO DO


IMPÉRIO COMUNISTA RUSSO SOPRAM VENTOS LIBERAIS EM TODO O
MUNDO. O ESTADO TODO PODEROSO E PROPRIETÁRIO DE TODOS OS
BENS E QUE PRESERVA APENAS O INTERESSE COLETIVO, EM
DETRIMENTO DOS DIREITOS E INTERESSES INDIVIDUAIS, PERDE A
SOBREVIVÊNCIA”. (UADI LAMMÊGO BULOS)

O DIREITO DE PROPRIEDADE JÁ CONSTAVA NAS ENCÍCLICAS PAPAIS :

“O DIREITO DE PROPRIEDADE PRIVADA, MESMO SOBRE BENS


PRODUTIVOS, TEM VALOR PERMANENTE PELA SIMPLES RAZÃO DE
SER UM DIREITO NATURAL FUNDADO SOBRE A PRIORIDADE
ONTOLÓGICA E FINAL DE CADA SER HUMANO EM RELAÇÃO À
SOCIEDADE. SERIA, ALIÁS, INÚTIL INSISTIR NA LIVRE DISPOSIÇÃO
DOS MEIOS INDISPENSÁVEIS PARA SE AFIRMAR. AO CONTRÁRIO A
HISTÓRIA E A EXPERIÊNCIA PROVAM QUE NOS REGIMES POLÍTICOS
QUE NÃO SE RECONHECE O DIREITO À PROPRIEDADE PRIVADA
SOBRE OS BENS PRODUTIVOS, SÃO OPRIMIDAS OU SUFOCADAS AS
EXPRESSÕES FUNDAMENTAIS DA LIBERDADE. É LEGÍTIMO CONCLUIR
QUE ESTAS ENCONTRAM NAQUELE DIREITO, GARANTIA E
INCENTIVO”. (ENCÍCLICA MATER E MAGISTER – PAPA JOÃO XXIII).

ONTOLOGIA JURÍDICA – CIÊNCIA QUE ESTUDA A ESSÊNCIA DO DIREITO,


INVESTIGANDO O QUE É “DIREITO” PARA FORMULAR UM CONCEITO.
22

O DIREITO DE PROPRIEDADE TEM PAPEL ESPECIAL NA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL BRASILEIRA, ONDE É ELEVADO À CATEGORIA DE UM
DIREITO IMATERIAL DA PERSONALIDADE HUMANA, UM VALOR
SUPERIOR AO VALOR JURÍDICO, QUE TEM POR OBJETIVO LEVAR O
HOMEM À ATINGIR A FELICIDADE.

O DIREITO AGRÁRIO DEFENDE A TEORIA DE QUE A PROPRIEDADE É


UM DIREITO OBJETIVO : QUE EM SI é UM DIREITO NATURAL QUE
NECESSITA CUMPRIR SUA FUNÇÃO SOCIAL. JÁ O DIREITO CIVIL
ACOLHE A TEORIA DE QUE A PROPRIEDADE é UM DIREITO SUBJETIVO,
DIREITO DO CIDADÃO DE USAR E DE FRUIR DA COISA.
(ESTABELECER A DIFERENÇA ENTRE DIREITO OBJETIVO E
SUBJETIVO)

OS DOUTRINADORES DISTINGUEM DUAS HIPÓTESES NO TOCANTE À


PROPRIEDADE :

1) TUDO QUE GIRA EM TORNO DO BEM-ESTAR SOCIAL É DIREITO


AGRÁRIO.
2) TUDO QUE GIRA EM TORNO DO ECONÔMICO É DIREITO REAL.

O CÓDIGO CIVIL DISCIPLINA ALGUMAS QUESTÕES SOBRE PROPRIEDADE


NOS ARTIGOS 524 A 673. ENTRETANTO, É EM SEU TÍTULO III – DA
PROPRIEDADE - A PARTIR DO ART. 1.228, QUE SE EFETIVA O DIREITO DA
PROPRIEDADE.

2.1. PROPRIEDADE NO TEXTO CONSTITUCIONAL - ESTÁ INSERTO :

ART. 5º - TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI, SEM


DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA, GARANTINDO-SE
AOS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS RESIDENTES NO
PAÍS, A INVIOLABILIDADE DO DIREITO À VIDA, À
LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À
PROPRIEDADE, NOS SEGUINTES TERMOS :

XXII – É GARANTIDO O DIREITO DE PROPRIEDADE(ARTS.


1228 A 1368 CC)

XXIII – A PROPRIEDADE ATENDERÁ A SUA FUNÇÃO


SOCIAL;(ART. 186, CF)

XXIV – A LEI ESTABELECERÁ O PROCEDIMENTO PARA A


DESAPROPRIAÇÃO POR NECESSIDADE OU UTILIDADE PÚBLICA,
OU POR INTERESSE SOCIAL, MEDIANTE JUSTA E PRÉVIA
23

INDENIZAÇÃO EM DINHEIRO, RESSALVADOS OS CASOS


PREVISTOS NESTA CONSTITUIÇÃO;

XXV – NO CASO DE IMINENTE PERIGO PÚBLICO, A


AUTORIDADE COMPETENTE PODERÁ USAR DE
PROPRIEDADE PARTICULAR, ASSEGURADA AO
PROPRIETÁRIO INDENIZAÇÃO ULTERIOR, SE HOUVER
DANO; (RESPONSABILIDADE CIVIL)

XXVI – A PEQUENA PROPRIEDADE RURAL, ASSIM


DEFINIDA EM LEI, DESDE QUE TRABALHADA PELA
FAMÍLIA, NÃO SERÁ OBJETO DE PENHORA PARA
PAGAMENTO DE DÉBITOS DECORRENTES DE SUA
ATIVIDADE PRODUTIVA, DISPONDO A LEI SOBRE OS
MEIOS DE FINANCIAR O SEU DESENVOLVIMENTO. (ET –
LEI 4.504/64)

ART. 184 – COMPETE À UNIÃO DESAPROPRIAR POR


INTERESSE SOCIAL, PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA, O
IMÓVEL RURAL QUE NÃO ESTEJA CUMPRINDO SUA
FUNÇÃO SOCIAL, MEDIANTE PRÉVIA E JUSTA
INDENIZAÇÃO EM TÍTULOS DA DÍVIDA AGRÁRIA, COM
CLÁUSULA DE PRESERVAÇÃO DO VALOR REAL,
RESGATÁVEIS NO PRAZO DE ATÉ VINTE ANOS, A PARTIR
DO SEGUNDO ANO DE SUA EMISSÃO, E CUJA UTILIZAÇÃO
SERÁ DEFINIDA EM LEI.(Lei nº 8.629/93)
§ 1º - AS BENFEITORIAS ÚTEIS SERÃO INDENIZADAS EM
DINHEIRO.
§ 2º - O DECRETO QUE DECLARAR O IMÓVEL COMO DE
INTERESSE SOCIAL, PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA,
AUTORIZA A UNIÃO A PROPOR AÇÃO DE
DESAPROPRIAÇÃO.
§ 3º - CABE À LEI COMPLEMENTAR ESTABELECER
PROCEDIMENTO CONTRADITÓRIO ESPECIAL, DE RITO
SUMÁRIO, PARA O PROCESSO JUDICIAL DE
DESAPROPRIAÇÃO.(LC 76/93 e 88/96)
§ 4º - O ORÇAMENTO FIXARÁ ANUALMENTE O VOLUME
TOTAL DE TÍTULOS DA DÍVIDA AGRÁRIA, ASSIM COMO O
MONTANTE DE RECURSOS PARA ATENDER AO
PROGRAMA DE REFORMA AGRÁRIA NO EXERCÍCIO;
§ 5º - SÃO ISENTAS DE IMPOSTOS FEDERAIS, ESTADUAIS E
MUNICIPAIS AS OPERAÇÕES DE TRANSFERÊNCIAS DE
IMÓVEIS DESAPROPRIADOS PARA FINS DE REFORMA
AGRÁRIA.
24

Benfeitorias – são obras e despesas que se fazem em um


bem imóvel ou móvel para conservá-lo, melhorá-lo ou
embelezá-lo.

Benfeitorias úteis – são as que visam aumentar ou facilitar o


uso do bem, apesar de não serem necessárias (ex:
instalação de aparelhos sanitários modernos, construção de
uma garagem);

Benfeitorias Necessárias – são as que são indispensáveis à


conservação do bem, para impedir a deterioração (ex:
serviços realizados no alicerce da casa que cedeu);

Benfeitorias Voluptuárias – são as de mero deleite ou


recreio, têm escopo tão somente dar comodidade àquele que
as fez, não tendo qualquer utilidade por serem obras para
embelezar a coisa (ex: construção de piscina numa casa
particular , decoração luxuosa num aposento, ...);

(LC 76/93 e 88/96 – PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO; IN


36/2006 DO INCRA: CRITÉRIOS PARA REFORMA AGRÁRIA)

ART. 185 – SÃO INSUSCETÍVEIS DE DESAPROPRIAÇÃO


PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA :

I – A PEQUENA E MÉDIA PROPRIEDADE RURAL, ASSIM


DEFINIDA EM LEI, DESDE QUE SEU PROPRIETÁRIO NÃO
POSSUA OUTRA;
II – A PROPRIEDADE PRODUTIVA;
PARÁGRAFO ÚNICO - A LEI GARANTIRÁ TRATAMENTO
ESPECIAL À PROPRIEDADE PRODUTIVA E FIXARÁ
NORMAS PARA O CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS
RELATIVOS À SUA FUNÇÃO SOCIAL. (ET)

ART. 186 – A FUNÇÃO SOCIAL É CUMPRIDA QUANDO A


PROPRIEDADE RURAL ATENDE, SIMULTANEAMENTE,
SEGUNDO CRITÉRIO E GRAUS DE EXIGÊNCIA
ESTABELECIDOS EM LEI, AOS SEGUINTES REQUISITOS :
I – APROVEITAMENTO RACIONAL E ADEQUADO;
II – UTILIZAÇÃO ADEQUADA DOS RECURSOS NATURAIS
DISPONÍVEIS E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE;
III – OBSERVÂNCIA DAS DISPOSIÇÕES QUE REGULAM AS
RELAÇÕES DE TRABALHO;
25

IV – EXPLORAÇÃO QUE FAVOREÇA O BEM-ESTAR DOS


PROPRIETÁRIOS E DOS TRABALHADORES. (ET)

ART. 189 – OS BENEFICIÁRIOS DA DISTRIBUIÇÃO DE


IMÓVEIS RURAIS PELA REFORMA AGRÁRIA RECEBERÃO
TÍTULOS DE DOMÍNIO OU DE CONCESSÃO DE USO,
INEGOCIÁVEIS PELO PRAZO DE DEZ ANOS.
PARÁGRAFO ÚNICO – O TÍTULO DE DOMÍNIO E A
CONCESSÃO DE USO SERÃO CONFERIDOS AO HOMEM OU
À MULHER, OU A AMBOS, INDEPENDENTEMENTE DO
ESTADO CIVIL, NOS TERMOS E CONDIÇÕES PREVISTOS
EM LEI.

ART. 190 – A LEI REGULARÁ E LIMITARÁ A AQUISIÇÃO OU


ARRENDAMENTO DE PROPRIEDADE RURAL POR PESSOA
FÍSICA OU JURÍDICA ESTRANGEIRA E ESTABELECERÁ OS
CASOS QUE DEPENDERÃO DE AUTORIZAÇÃO DO
CONGRESSO NACIONAL.
(LEI 5.709/71 E DL 74.965/74)

ART. 191 – AQUELE QUE, NÃO SENDO PROPRIETÁRIO DE


IMÓVEL RURAL OU URBANO, POSSUA COMO SEU, POR
CINCO ANOS ININTERRUPTOS, SEM OPOSIÇÃO, ÁREA DE
TERRA, EM ZONA RURAL, NÃO SUPERIOR A CINQÜENTA
HECTARES, TORNANDO-A PRODUTIVA POR SEU
TRABALHO OU DE SUA FAMÍLIA, TENDO NELA MORADIA,
ADQUIRIR-LHE-Á A PROPRIEDADE. (LEI 5.709/71-USUCAPIÃO
PRÓ-LABORE)

PARÁGRAFO ÚNICO – OS IMÓVEIS PÚBLICOS NÃO SERÃO


ADQUIRIDOS POR USUCAPIÃO.

2.2. PROPRIEDADE NO CÓDIGO CIVIL

ART. 1.228 - O PROPRIETÁRIO TEM A FACULDADE DE


USAR, GOZAR E DISPOR DA COISA, E O DIREITO DE
REAVÊ-LA DO PODER DE QUEM QUER QUE
INJUSTAMENTE A POSSUA OU DETENHA.
§ 1º - O DIREITO DE PROPRIEDADE DEVE SER EXERCIDO
EM CONSONÂNCIA COM AS FINALIDADES ECONÔMICAS E
SOCIAIS DE MODO QUE SEJAM PRESERVADOS, DE
CONFORMIDADE COM O ESTABELECIDO EM LEI ESPECIAL,
A FLORA, A FAUNA, AS BELEZAS NATURAIS, O EQUILÍBRIO
26

ECOLÓGICO E O PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO,


BEM COMO EVITADA A POLUIÇÃO DO AR E DAS ÁGUAS.

OBS AO CAPUT : TER A FACULDADE SIGNIFICA UM


DIREITO SUBJETIVO – O PROPRIETÁRIO RECLAMA SE
QUISER. NESTE CASO, A NEGLIGÊNCIA DO PROPRIETÁRIO
IMPLICA EM RENÚNCIA DO DIREITO DE PROPRIEDADE.

O LEGISLADOR CIVIL PREFERIU ABOLIR O TERMO


“DOMÍNIO” INTRODUZIDO NO REGIME DE SESMARIAS,
PARA ESTABELECER O TERMO “PROPRIEDADE”.

CONCLUI-SE QUE, QUE O DIREITO DE PROPRIEDADE


APRESENTA DOIS ASPECTOS IMPORTANTES QUANTO À
FUNCIONALIDADE : O SOCIAL (CF) E O ECONÔMICO (CC)

2.2.1 - RESTRIÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE

O DIREITO CIVIL TAMBÉM REGULAMENTA CERTOS INSTITUTOS QUE


INTERFEREM NA ORDEM RURAL :

SERVIDÃO – DE PASSAGEM (ARTS. 1.285 CC),


Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública,
nascente ou porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal,
constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será
judicialmente fixado, se necessário.
§ 1º Sofrerá o constrangimento o vizinho cujo imóvel mais natural e
facilmente se prestar à passagem.
§ 2º Se ocorrer alienação parcial do prédio, de modo que uma das
partes perca o acesso a via pública, nascente ou porto, o proprietário
da outra deve tolerar a passagem.
§ 3º Aplica-se o disposto no parágrafo antecedente ainda quando,
antes da alienação, existia passagem através de imóvel vizinho, não
estando o proprietário deste constrangido, depois, a dar uma outra.

DE UTILIDADE (ARTS. 1.378 e 1.386 DO CC);


Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante,
e grava o prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se
mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, o
subseqüente registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Art. 1.386. As servidões prediais são indivisíveis, e subsistem, no caso


de divisão dos imóveis, em benefício de cada uma das porções do
prédio dominante, e continuam a gravar cada uma das do prédio
27

serviente, salvo se, por natureza, ou destino, só se aplicarem a certa


parte de um ou de outro.

DE AQUEDUTO (ARTS. 1.293),


Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia
indenização aos proprietários prejudicados, construir canais, através
de prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito,
indispensáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde que não
cause prejuízo considerável à agricultura e à indústria, bem como
para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a
drenagem de terrenos.

§ 1º Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a


ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração
ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras
destinadas a canalizá-las.
§ 2º O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a
canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou
quintais.
§ 3º O aqueduto será construído de maneira que cause o menor
prejuízo aos proprietários dos imóveis vizinhos, e a expensas do seu
dono, a quem incumbem também as despesas de conservação.

ALÉM DISSO, OUTRAS LEGISLAÇÕES TAMBÉM RESTRINGEM O


DIREITO DE PROPRIEDADE : AO LONGO DAS VIAS FÉRREAS (ART. 163
DECRETO 15.763); À MARGEM DOS RIOS PÚBLICOS (ART. 151 CÓDIGO
DE ÁGUAS); EM DERREDOR DOS AEROPORTOS E AERÓDROMOS
(ARTS. 43 A 46 DA LEI 7.565 – COD. DE AERONÁUTICA). HIPOTECA –
ARTS. 1473 a 1.505 CCB)

CONDOMÍNIO – INDIVISIBILIDADE (ARTS. 504 e 1322 CC)


O CONDOMINIO, TIDO COMO COMUNHÃO, COMPOSSE OU CO-
PROPRIEDADE, NADA MAIS É QUE O EXERCÍCIO DA POSSE OU
PROPRIEDADE, POR DIVERSOS TITULARES, SOBRE A MESMA COISA.
LOGO, O OBJETO DO CONDOMINIO É UMA FRAÇAO IDEAL, QUE
CORRESPONDE À EXTENSAO DO DIREITO REAL DE CADA TITULAR.

A INDIVISIBULIDADE DO CONDOMINIO DIZ RESPEITO AO FATO DE CADA


FRAÇAO IDEAL SER INFERIOR À PARCELA MÍNIMA (MÓDULO)
NECESSÁRIA PARA A SUBSISTÊNCIA DO PROPRIETÁRIO E SUA FAMILIA.

3. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE


28

Está prevista no art. 5º e 186 da CF/88, conforme já estudado anteriormente.

O Estatuto da Terra também traz algumas ponderações sobre a Reforma


Agrária, estabelecendo que a função social da propriedade é de suma
importância para que o particular mantenha em sua posse, a sua
propriedade e que, não atendida ela essa função, o Poder Público estará
extinguindo o direito a essa propriedade, pelo seu possuidor original :

“Art. 12. à propriedade privada cabe intrinsecamente


uma função social e seu uso é condicionado ao bem-
estar coletivo previsto na Constituição Federal e
caracterizado em Lei.

Art. 13. O Poder público promoverá a gradativa extinção


das formas de ocupação e de exploração da terra que
contrariem sua função social.

4 – REFORMA e POLÍTICA AGRÁRIA (Agrícola)


A própria CF/88 estabelece a distinção entre reforma agrária e política
agrária, em seu art. 187, § 2º, ao normatizar que : “serão compatibilizadas as
ações de política agrícola e de reforma agrária”.

Segundo Alexandre de Moraes2, “Reforma Agrária deve ser entendida como


um conjunto de notas e planejamentos estatais mediante intervenção do
Estado na economia agrícola com a finalidade de promover a repartição da
propriedade e renda fundiária (...)”

Segundo o professor Raimundo Laranjeira3 “Política Agrária é uma ciência


plataformal de intermediação, desde que procura analisar, depurar e
sintetizar os dados colhidos na investigação socioeconômica pelo Poder
Público”.

A política Agrícola tem sua definição no Estatuto da Terra, no § 2º do


artigo 1º:
Art. 1º (omissis)
(...)
§ 2º Entende-se por Política Agrícola o conjunto de
providências de amparo à propriedade da terra, que se
destinem a orientar, no interesse da economia rural, as
atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-
lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o
processo de industrialização do país.

2
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, Atlas, 1999, p/588. São Paulo.
3
Propedêutica do Direito Agrário. São Paulo. LTr, 1975, p.174e
29

A Constituição Federal também apresenta previsão legal sobre a Política


Agrícola :
Art. 187 - A política agrícola será planejada e executada
na forma da lei, com a participação efetiva do setor de
produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais,
bem como dos setores de comercialização, de
armazenamento e de transportes, levando em conta,
especialmente:

I - os instrumentos creditícios e fiscais;


II - os preços compatíveis com os custos de produção e a
garantia de comercialização;
III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
IV - a assistência técnica e extensão rural;
V - o seguro agrícola;
VI - o cooperativismo;
VII - a eletrificação rural e irrigação;
VIII - a habitação para o trabalhador rural.
§ 1º - Incluem-se no planejamento agrícola as atividades
agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
§ 2º - Serão compatibilizadas as ações de política agrícola
e de reforma agrária.

Art. 188 - A destinação de terras públicas e devolutas será


compatibilizada com a política agrícola e com o plano
nacional de reforma agrária.

§ 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer título, de


terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos
hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por
interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional. (Lei 9.636 de 15.05.1998)

§ 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as


alienações ou as concessões de terras públicas para fins
de reforma agrária.

Assim, a Política Agrícola é o conjunto de princípios fundamentais e de


regras disciplinadoras do desenvolvimento do setor agrícola, previstos no
art. 187, CF/88 e na Lei nº 8.171/91, quais sejam : instrumentos creditícios e
fiscais; seguro agrícola; cooperativismo; eletrificação rural e irrigação, entre
outros.

5. TERRAS PASSIVEIS DE REFORMA AGRÁRIA


30

O Estatuto da Terra (Lei 4.504/64) artigo 9º, destacou, em linha


de prioridade as terras públicas destinadas à reforma agrária
como as de propriedade da União que não tenham destinação
específica, as terras reservadas ao Poder Público para serviços
ou obras de qualquer natureza, ressalvadas as pertinentes à
segurança nacional, desde que o órgão competente considere sua
utilização econômica compatível com a atividade principal, sob
forma de exploração agrícola, bem como as terras devolutas da
União, Estados e Municípios.

Já no seu artigo 12, o Estatuto da Terra estabelece que, no


tocante “à propriedade privada da terra cabe intrinsecamente
uma função social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo
previsto na Constituição Federal e nesta Lei”.

Interessante a inteligência do artigo 15 do ET :

Art. 15. A implantação da Reforma Agrária em terras particulares


será feita em caráter prioritário, quando se tratar de zonas críticas
ou de tensão social”.

O acesso à terra sob a ótica do ET está previsto em seu artigo


17:

Art. 17. o acesso à propriedade rural será promovido mediante


distribuição de terras , pela execução de qualquer das seguintes
medidas :
a) desapropriação por interesse social;
b) doação;
c) compra e venda;
d) arrecadação dos bens vagos;
e) reversão à posse do Poder Público, de terras de sua propriedade,
indevidamente ocupadas e exploradas, a qualquer título, por
terceiros;
f) herança ou legado.

Conforme vimos anteriormente no artigo 184 da CF/88.são aquelas


terras que não estão cumprindo sua função social e, assim, serão
desapropriadas por interesse social.
31

Segundo o artigo 18 do ET, a desapropriação por interesse social tem


por fim :
a) condicionar o uso da terra à sua função social;
b) promover a justa e adequada distribuição da
propriedade;
c) obrigar a exploração racional da terra;
d) permitir a recuperação social e econômica da região;
e) estimular pesquisa pioneiras, experimentação,
demonstração e assistência técnica;
f) efetuar obras de renovação, melhoria e valorização
dos recursos naturais;
g) incrementar a eletrificação e a industrialização no
meio rural;
h) facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à
flora ou outros recursos naturais, a fim de preservá-
los de atividades predatórias.

Artigos 184 e 185 da CF/88 (já visto anteriormente) estabelecem quais


são as terras passiveis de desapropriação.

III – CARACTERISTICAS E DIMENSÕES DO IMOVEL RURAL

1 – DEFINIÇÃO DE IMÓVEL RURAL

Para a maioria dos doutrinadores, se o imóvel for destinado para


moradia, comércio ou à industria, ele é urbano; se for destinado à
agricultura ou pecuária, ele é rural e também é chamado de “rústico”.

Neste sentido o art. 4º, inciso I, da lei nº 8.629/93 estabelece o


seguinte critério :

Art. 4º- Para efeitos desta Lei conceituam-se :


I –Imóvel Rural – o prédio rústico de área contínua , qualquer que seja a
sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola,
pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial.”

Assim, segundo a jurisprudência dominante, os sítios ou chácaras de


recreio são considerados imóveis urbanos e são tributados pelo IPTU.
32

Pois bem, o legislador pátrio classificou os imóveis rurais da


seguinte forma :
1 – Propriedade familiar;
2 – Módulo Rural
3 - Módulo Fiscal
4 - Minifúndio;
5 – Latifúndio;

1.1 – PROPRIEDADE FAMILIAR


Segundo o inciso II do artigo 4º do Estatuto da Terra considera-se :

Art. 4. Para efeitos desta Lei, definem-se :


(...)
II. “Propriedade Familiar o imóvel que, direta e pessoalmente
for explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorvendo
toda a força do trabalho, garantido-lhes a subsistência e o
progresso social e econômico, com área máxima fixada para
cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado
por terceiros.”

Assim, a propriedade familiar caracteriza-se pelos seguintes


elementos :
1. exploração direta e pessoal por uma família, absorvendo-
lhe toda a força de trabalho;
2. área de um módulo rural, vale dizer, compatível com o
tipo de exploração, conforme a região;
3. possibilidade de eventual ajuda de terceiros.

1.2 – MÓDULO RURAL (FRAÇÃO MÍNIMA DE PARCELAMENTO)

Paulo Tormin o define como “a área de terra que, trabalhada direta e


pessoalmente por uma família de composição média, com auxílio
apenas eventual de terceiro, se revela necessária para a subsistência e
ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo social e econômico da
referida família.”

Conforme inteligência do art. 4º, inciso III do ET, a área do módulo


rural é a mesma fixada para a propriedade familiar :

Art. 4o. Para efeitos desta Lei, definem-se :


(...)
III – “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso
anterior.
33

Desta forma, tem-se que modulo rural é a medida adotada para o


imóvel rural classificado como “propriedade familiar”. Para aclarar um
pouco mais, o Decreto nº 55.891/65, trouxe-nos a seguinte informação :
“Art. 11. O módulo rural, definido no inciso III do art. 4º do
Estatuto da Terra, tem como finalidade primordial estabelecer
uma unidade de medida que exprima a interdependência entre
a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma
e condições de seu aproveitamento econômico.

Parágrafo Único. A fixação do dimensionamento econômico do


imóvel que, para cada zona de características ecológicas e
econômicas homogêneas e para os diversos tipos de
exploração, representará o módulo, será feita em função : a) da
localização e dos meios de acesso do imóvel em relação aos
grandes mercados; b) das características ecológicas das áreas
em que se situam; c) dos tipos de exploração predominantes
na respectiva zona”.

Diante da definição legal, pode-se dizer que o


módulo rural apresenta 6 (seis) características que o identificam :
1) é uma medida de área;
2) suficiente para absorver a mão-de-obra do agricultor e
sua família’
3) varia de acordo com a região do país;
4) varia de acordo com o tipo de exploração da terra;
5) deve possibilitar uma renda mínima ao homem que
nele trabalha – salário mínimo;
6) deve permitir o progresso social ao homem que o
habita.

O art. 5º do ET determina que a dimensão da área dos módulos de


propriedades rurais será fixada na conformidade com as
características econômicas e ecológicas homogêneas, de cada zona,
de acordo com os tipos de exploração rural que nela possam ocorrer.

Quem estabelece a área em hectare de módulo rural de cada região


do país é o INCRA, que já mapeou a área e concluiu que no país
existem 242 regiões e sub-regiões, considerando sua homogeneidade
e características econômicas e ecológicas, e que a exploração da terra
pode ser agrupada em 5 tipos diferentes.

E, segundo o tipo de exploração ou atividade rural, o módulo será


denominado de :
34

a) exploração hortigranjeira, inclusive a pecuária de pequeno


porte (plantação de tomate, alface, cenoura, etc.;
b) lavoura permanente (plantação de café, parreira e outros
que produza durante vários anos);
c) lavoura temporária (plantação sazonal - de milho, arroz,
feijão, etc);
d) exploração pecuária: de médio porte ou grande porte : boi ,
cavalo, etc.;
e) exploração florestal (plantação de árvores para corte :
eucalipto e acácia-negra).

Dessa forma, o cálculo para a fixação do módulo rural, que é de


competência do INCRA, se faz através dos dados cadastrais
fornecidos pelo proprietário ou possuidor do imóvel. Segundo Barros,
“existem 1.210 tipos diferentes de módulo rural, sendo o menor deles
de 2 (dois) hectares, e o maior, de 120 (cento e vinte) hectares”.4

1.3 – MÓDULO FISCAL

Tal modalidade não consta no rol de propriedades rurais contidas no


artigo 4º do Estatuto da Terra. Lei nº 4.504/64.

É uma espécie de módulo rural criado pela Lei nº 6.476/79. Surgiu


para estabelecer regras para o lançamento e a tributação do ITR. No
entanto o legislador, através da Lei nº 8.847/94, abandonou o
parâmetro do módulo fiscal como base de cálculo para tributar o ITR,
retornando ao parâmetro do “hectare”.

Assim, o módulo fiscal ganhou outra função importante : estabelecer


o conceito de pequena, média e grande propriedade para efeito de
desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária.

A diferença entre módulo rural e módulo fiscal é que o primeiro é


calculado para cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o tipo
de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de
localização; enquanto que o segundo é estabelecido para cada
município, e procura refletir a área mediana dos Módulos rurais dos
imóveis rurais do município.

4
BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário, Vol 1. p.33. Livraria do Advogado.Porto alegre.
2007.
35

O Estatuto da Terra, no capitulo I – Da Tributação da Terra, nos


artigos 48 e 49 fala sobre o ITR e no artigo 50 assim se pronuncia :

Art. 50. Para cálculo do imposto, aplicar-se-á sobre o valor da


terra nua, constante da declaração para cadastro, e não
impugnado pelo órgão competente, ou resultante de
avaliação, a alíquota correspondente ao número de módulos
fiscais do imóvel, de acordo com a tabela adiante :
(...) omissis

1.4 - MINIFÚNDIO

MINIFÚNDIO – Também denominado de parvifúndio em alguns países


estrangeiros, ele se caracteriza por uma porção de terra tão pequena
que dificulta o seu próprio desenvolvimento. O minifúndio está
definido no inciso IV, do art. 4º do ET: que o define como o imóvel rural
de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar. Segundo
Paulo Tormim, minifúndio :

“é a gleba de terra que, embora bem trabalhada pelo


proprietário com sua família, e, eventualmente com a
ajuda de terceiro, se revela insuficiente para o sustento e
o progresso social e econômico do mesmo conjunto
familiar”.

Art. 4. Para efeitos desta Lei, definem-se :


(...)
IV. “minifúndio”, o imóvel rural de área e possibilidades
inferiores às da propriedade familiar.

Desta forma, busca-se a extinção dos minifúndios já existentes,


posto que essa forma de organização não oferece condição bastante
de exploração suficiente para o sustento do proprietário e de sua
família. O ideal é substituição gradativa dos minifúndios pela
propriedade familiar; eis que esse não gerará a criação de empregos

1.5 - LATIFÚNDIO

LATIFÚNDIO – é o imóvel rural que, tendo área igual ou superior ao


módulo, é mantido inexplorado, explorado incorretamente, ou que tem
dimensão incompatível com a justa distribuição da terra.
36

No Brasil há dois tipos de latifúndio :Latifúndio por extensão


(territorial) e, Latifúndio por exploração (não explorado ou explorado
de forma incorreta).
O artigo 4º do E T estabeleceu os seus limites :

Art. 4º. Para os efeitos desta Lei, definem-se


(...)
V – Latifúndio, o imóvel rural que :
a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do art. 46, § 11º,
alínea b, desta Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas,
sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine;
b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo
área igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade
rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades
físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos,
ou seja deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a
vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural (...)”.

O Decreto nº 84.685, de 06.05.80, que regulamentou a Lei nº 6.746/79, em


seu artigo 22 estabeleceu nova conceituação ao latifúndio, dispondo o
seguinte :
Art. 22. Para efeito do art. 4º, inc. IV e V, e no art. 46, § 1º, alínea
b, da Lei 4.504/64, considera-se :
I – (...)
II – Latifúndio, o imóvel rural que :
a) exceda a seiscentas vezes o módulo fiscal calculado na
forma do art. 5º;
b) não excedendo o limite referido no inciso anterior e tendo
dimensão igual ou superior um módulo a um módulo fiscal,
seja mantido inexplorado em relação às possibilidades
físicas, econômicas e sociais do meio, com fins
especulativos, ou seja, deficiente e inadequadamente
explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de
empresa rural.

Assim, o legislador classificou o latifúndio em duas espécies : a) por


extensão - tamanho do imóvel = 600 vezes o módulo fiscal e, b) por
exploração – pelo mau uso da terra, pela não-exploração.

1.6 - EMPRESA RURAL


37

A empresa Rural destaca-se como instrumento da Política Agrícola e


não apenas de reforma agrária .

A empresa rural é uma unidade de produção para uma comunidade


mais ampla que a da propriedade familiar; eis que na empresa rural
deve-se associar os seguintes elementos : terra, capital, técnica e
trabalho, tudo dirigido organicamente a um fim econômico.

A fundamentação e definição legal pode ser observada no Estatuto da


Terra :
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se :
(...)
VI – “Empresa Rural” é o empreendimento de pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, que explore atividade econômica, e
racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento
econômico...(Vetado)*... da região em que se situe e que
explore área mínima agricultável do imóvel segundo padrões
fixados, pública e previamente, pelo Poder Executivo. Para
esse fim, equiparam-se às áreas cultivadas, as pastagens, as
matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com
benfeitorias

• o texto vetado dispunha: “igual ou superior ao da média”

O Decreto nº 55.891/65 definiu os requisitos para que o imóvel rural


venha a ser caracterizado como “empresa rural”:
“Art. 25. O imóvel rural será classificado como empresa rural,
na forma do inciso III do art. 5º desde que sua exploração
esteja sendo realizada em obediência às seguintes exigências
e de acordo com a Instrução referida no parágrafo 3º do art. 14:

I – que a área utilizável nas várias explorações represente


porcentagem igual ou superior a 50% da sua área agricultável,
equiparando-se, para esse fim, às áreas cultivadas, as
pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas
com benfeitorias;
II – que obtenha rendimento médio, nas várias atividades de
exploração, igual ou superior aos mínimos fixados em tabela
própria, periodicamente revista e amplamente divulgada;
III – que adote práticas conservacionistas e que empregue no
mínimo a tecnologia de uso corrente nas zonas em que se
situe;
IV – que mantenha as condições de administração e as formas
de exploração social estabelecidas como mínimas para cada
região (...)”
38

A empresa rural deve ser registrada no INCRA e no órgão competente


obedecendo ao disposto nos arts. 45 e 985 do Novo Código Civil
brasileiro.

1.7 – CLASSIFICAÇAO DOUTRINÁRIA DE


PROPRIEDADE RURAL
A doutrina e a Lei 8.629/93 ainda faz menção sobre à seguinte
classificação da propriedade :

a) Pequena Propriedade – “imóvel rural de área compreendida


entre 1 a 4 módulos fiscais”. Art. 4º, II, da Lei 8.629/93, que só
definiu o tamanho da área, deixando de lado o componente
familiar ínsito na regra constitucional de sua
impenhorabilidade ditada no inc. XXVI do art. 5º CF/88;
b) Média Propriedade - “imóvel rural de área superior a 4 até 15
módulos fiscais”. Art. 4º, III, da Lei 8.629/93, que também só
definiu o tamanho da área, deixando de lado o componente
familiar ínsito na regra constitucional de sua
impenhorabilidade ditada no inc. XXVI do art. 5º CF/88;

2 - CADASTRO RURAL REGISTRO JUNTO AO INCRA

O cadastro rural foi implantado no Brasil através do art. 46 do ET e


regulamentado pelo art. 26 e segs. do Decreto nº 55.891/65. A Lei 5.868
de 12/12/1972 criou o sistema de Cadastro rural. Diz o ET :

Art. 46. O INCRA promoverá levantamentos, com utilização, nos


casos indicados, dos meios previstos no Capitulo II do Título I, para
elaboração do cadastro dos imóveis rurais em todo o país,
mencionando :

I – Dados para a caracterização dos imóveis rurais com indicação :


a) do proprietário e de sua família;
b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e da forma de
administração;
c) da localização geográfica;
39

d) da área com descrição das linhas de divisas e nome dos


respectivos confrontantes;
e) das dimensões das testadas por vias públicas;
f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equipamentos e das
instalações existentes discriminadamente;

II – natureza das vias de acesso e respectivas distancias dos


centros demográficos mais próximos com população; :
a) até 5.000 habitantes
(...) omissis
III – condições de exploração e do uso da terra indicando :
a) as percentagens da superfície total de cerrados, matas,
pastagens, glebas de cultivo (especificamente em exploração e
inexploração) e em áreas inaproveitáveis.
(...) omissis

Em 1.965, foram criados diversos mecanismos para executar a


Reforma Agrária e o Estatuto da Terra criou o IBRA (Instituto Brasileiro
De Reforma Agrária) para esse fim específico.

Entretanto, em 1.969 o governo militar detectou vários problemas de


corrupção civil junto a esse órgão, e ele foi substituído, em 1.971, pelo
INCRA, que ficou vinculado ao Ministério da Agricultura e não mais à
Presidência da República.

Apesar da estrutura letal e da importância de implementar o cadastro


imediatamente e mantê-lo atualizado a cada 05 anos, o primeiro
cadastramento ocorreu em 1965, o segundo em 1972, o terceiro em
1978 e quarto e último em 19935.

O cadastro rural foi criado com a finalidade de desvendar a natureza


específica e global dos imóveis rurais do País

2.1 - OBJETIVOS DO CADASTRO RURAL (ART. 46, ET)

Os objetivos do cadastramento do Imóvel rural era o de obter


informações econômicas e sociais para poder gerar informações
fiscais. Assim, os objetivos se agrupam da seguinte forma :

1) levantar dados para caracterização dos imóveis rurais com a


indicação : a) do proprietário e de sua família; b) dos títulos de
5
OPTIZ, Silvia. Curso de Direito Agrário, Ed. Saraiva, São Paulo, 2009.
40

domínio, da natureza da posse e da forma de administração; c) da


localização geográfica; d) da área com descrição das linhas de divisa
e nome dos respectivos confrontantes; e)das dimensões das testadas
para vias públicas; f) do valor das terras, das benfeitorias, dos
equipamentos e das instalações existentes discriminadamente;

2) descobrir a natureza e condições das vias de acesso e respectivas


distâncias dos centros demográficos mais próximos com populações
entre 5.000 a 100.000 habitantes;

3) descobrir condições de exploração e do uso, indicando :


a) as percentagens de superfície total em cerrados, matas,
pastagens, cultivo e áreas inaproveitáveis;
b) os tipos de cultivo e de criação as formas de proteção e
comercialização dos produtos;
c) os sistemas de contrato de trabalho, com discriminação de
arrendatários, parceiros e trabalhadores rurais;
d) as práticas conservacionistas empregadas e o grau de
mecanização;
e) os volumes e os índices médios relativos à produção obtida;
f) as condições para o beneficiamento dos produtos agropecuários.

4) Reestruturar o cálculo do Imposto Territorial Rural, cuja


informação tem conexão direta com a Receita Federal.

2.1.1 - ESPÉCIES DE CADASTRO RURAL

a) de imóveis rurais; (conhecimento ao Estado dos imóveis


existentes)
b) de proprietários rurais; (conhecimento ao Estado da concentração de
Terras nas mãos de nacionais e estrangeiros)
c) de arrendatários e parceiros;(conhecimento ao Estado sobre a
situação de terceiros nas propriedades e possibilitar-lhes os
benefícios do crédito agrícola)
d) de terras públicas; (conhecimento ao Estado das terras da União,
estado, Distrito Federal e Municípios)
e) fiscal de imóvel rural.(conhecimento ao Estado, para tributar)

2.1.2 - INSCRIÇÃO NO CADASTRO RURAL


41

Se opera através do formulário CAFIR – Cadastro Fiscal de Imóveis


Rurais, do Ministério da Fazenda – Secretaria da Receita Federal, que
deve ser preenchido e declarado pelo possuidor da terra e que contém
todos os dados necessários para o cadastramento e atualização do
imóvel.

3. POLÍTICA DE TRIBUTAÇÃO FUNDIÁRIA


O tributo básico que incide sobre os imóveis rurais, atualmente é o
ITR – Imposto Territorial rural, previsto no art. 29 do CTN e art. 153, VI
da CF/88, cuja competência é da União Federal.

Os critérios adotados para o cálculo do ITR é o da progressividade e


regressividade, levando-se em conta os seguintes fatores : a) o valor
da terra nua, b)a área do imóvel rural; c) o grau de utilização da terra
na exploração agrícola, pecuária e florestal; .d) o grau de eficiência
obtido nas diferentes explorações, e e) a área total no país, do
conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário.

Assim, conforme artigo 49, ET, quanto menos produtiva for a


propriedade, ela paga mais impostos; e quanto mais produtiva for,
pagará menos impostos.

Art. 49. As normas gerais para a fixação do imposto sobre a propriedade territorial rural
obedecerão a critérios de progressividade e regressividade, levando-se em conta os seguintes
fatores:

I - o valor da terra nua; (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979)

II - a área do imóvel rural; (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979)

III - o grau de utilização da terra na exploração agrícola, pecuária e florestal;

IV - o grau de eficiência obtido nas diferentes explorações;

V - a área total, no País, do conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário.

§ 1º Os fatores mencionados neste artigo serão estabelecidos com base nas informações
apresentadas pelos proprietários, titulares do domínio útil ou possuidores, a qualquer título, de
imóveis rurais, obrigados a prestar declaração para cadastro, nos prazos e segundo normas
fixadas na regulamentação desta Lei.

§ 2º O órgão responsável pelo lançamento do imposto poderá efetuar o levantamento e a


revisão das declarações prestadas pelos proprietários, titulares do domínio útil ou possuidores, a
qualquer título, de imóveis rurais, procedendo-se a verificações "in loco" se necessário.
42

§ 3º As declarações previstas no parágrafo primeiro serão apresentadas sob inteira


responsabilidade dos proprietários, titulares do domínio útil ou possuidores, a qualquer título, de
imóvel rural, e, no caso de dolo ou má-fé, os obrigará ao pagamento em dobro dos tributos
devidos, além das multas decorrentes e das despesas com as verificações necessárias.

§ 4º Fica facultado ao órgão responsável pelo lançamento, quando houver omissão dos
proprietários, titulares do domínio útil ou possuidores, a qualquer título, de imóvel rural, na
prestação da declaração para cadastro, proceder ao lançamento do imposto com a utilização de
dados indiciários, além da cobrança de multas e despesas necessárias à apuração dos referidos
dados.

A Lei nº 11.205/2005 que regulamenta o inciso III do § 4º do art. 153 da


CF, possibilitou que a Secretária da Receita Federal firmar convênio
com os municípios e o Distrito Federal, delegando-lhes atribuições de
fiscalização, lançamento de crédito tributário e cobrança do ITR. A IN
nº 642 de 12.04.2006 delineia o modelo de convênio.

IMUNIDADES DO ITR : Art. 153, § 4º - não incidirá sobre as pequenas


propriedades rurais quando seu proprietário as explore só ou com sua
família, desde que não possua outra. A Lei 9.393/96 define o que são
“pequenas propriedades”.

ISENÇÕES DO ITR – a Lei 9.393/96 em seu art. 3º enumera as


isenções do ITR :a) Imóveis destinados à Reforma Agrária e, b) o
conjunto de imóveis de um mesmo proprietário que não ultrapassem
os limites de 100 ha (Amazônia Ocidental e Pantanal), 50 há, ......

EXECUÇÃO FISCAL DO ITR – É a forma de cobrança judicial do


tributo. O procedimento está descrito na Lei Federal nº 11.250/05 e na
IN SRF nº 643 de 12 abril de 2006. O Título executivo é a certidão de
dívida ativa, que tem força de liquidez e certeza.

DEFESA DO CONTRIBUINTE – ocorre por duas vias : a administrativa


e a judicial.

4. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA AGRÍCOLA

Conforme já vimos anteriormente o desenvolvimento agrícola se faz


através do acesso e da distribuição da terra de forma eqüitativa, com o
objetivo de fazê-la produzir, a bem de todos.
43

Neste sentido, o mecanismo utilizado pelo Estado é o de fomentar a


Política Agrícola, visando a estimular o aproveitamento da
propriedade, em toda a sua capacidade produtiva.

IV – CONTRATOS AGRÁRIOS

1. Conceito

Contrato é toda fonte de obrigação; é o acordo de vontades que


tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos.

Consoante à sua natureza jurídica, os contratos agrários são


bilaterais (sinaligmáticos), onerosos (com acréscimo ou
diminuiçao do patrimônio), consensuais (acordo de vontades),
não solenes (não exige-se forma, podendo, inclusive, ser verbal),
principais (tem existência própria e não dependem da celebração
de outro contrato), individuais (as vontades são individualmente
consideradas), impessoais (prestação pode ser cumprida pelo
obrigado ou por terceiro), definitivos e de trato sucessivo (seu
objeto não á apenas o cumprimento de um contrato e as
prestações se prolongam no tempo por atos reiterados ; eis que a
execução do mesmo só se cumprirá em evento futuro).

2. Aspectos Gerais dos Contratos Agrícolas

Os contratos agrários estão sujeitos aos requisitos comuns dos


contratos : acordo de vontades, objeto lícito e capacidade das
partes.

Além disso estão sujeitos aos Princípios da : Autonomia da


Vontade, Supremacia da Ordem Pública; do Consensualismo; da
obrigatoriedade e revisão dos Contratos; da proteção de quem
trabalha na terra; da conservação dos recursos naturais e
proteção do meio ambiente.
44

Assim, um dos instrumentos que o Estado utiliza para atingir a


função social da propriedade é a utilização dos contratos agrários
de forma correta; ou seja, os contratos agrários constituem meios
indiretos de intervenção do Estado na busca da função social da
propriedade.

3. Crédito Rural, Seguro Agrícola e


Cooperativismo

3.1 - CRÉDITO RURAL


É extremamente relevante para a Política Agrícola.e, sem o crédito
rural a Política Agrícola não existiria.

A Lei 4.829/65 (regulamentada pelo Decreto nº 58.380/66, art. 2º)


definiu-o como :
Art. 1º . Crédito Rural é o suprimento de recursos
financeiros por entidades públicas e estabelecimentos de
crédito particulares a produtores rurais ou às suas
cooperativas para aplicação nos objetivos indicados na
legislação em vigor”.

A existência e fundamento legal do crédito Rural encontra guarida na


CF/88:
Art. 187 - A política agrícola será planejada e executada na forma
da lei, com a participação efetiva do setor de produção,
envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos
setores de comercialização, de armazenamento e de transportes,
levando em conta, especialmente:

I - os instrumentos creditícios e fiscais;


(...)

OBJETIVOS DO CRÉDITO RURAL

Estão contidos no artigo 48 da Lei nº 8.171/91 :

Art. 48 - O crédito rural, instrumento de financiamento


da atividade rural, será suprido por todos os agentes
financeiros sem discriminação entre eles, mediante
45

aplicação compulsória, recursos próprios livres,


dotações das operações oficiais de crédito, fundos e
quaisquer outros recursos, com os seguintes objetivos :

I – estimular os investimentos rurais para produção,


extrativismo não predatório, armazenamento,
beneficiamento e instalação de agroindústria, sendo
esta, quando realizada por produtor rural ou suas
formas associativas;
II – favorecer o custeio oportuno e adequado da
produção, do extrativismo não predatório e da
comercialização de produtos agropecuários;
III – incentivar a introdução de métodos racionais no
sistema de produção, visando o aumento da
produtividade, à melhoria do padrão de vida das
populações rurais e à adequada conservação do solo e
preservação do meio ambiente;
IV – vetado
V – propiciar, através de modalidade de crédito
fundiário, a aquisição e regularização de terras pelos
pequenos produtores, posseiros e arrendatários e
trabalhadores rurais;
VI – desenvolver atividades florestais e pesqueiras.

ÓRGÃOS INTEGRANTES DO CRÉDITO RURAL e ORIGEM


DOS RECURSOS

Órgãos Integrantes : O Conselho Monetário Nacional, é o colegiado


criado por lei para sistematizar a ordem monetária nacional e
responsável por fixar diretrizes do crédito agrário, especialmente na
avaliação, origem e dotação de recursos a serem aplicados; na
expedição de diretrizes e instruções; critérios seletivos e de prioridade
e fixação e ampliação dos programas.
A execução das deliberações do Conselho Monetário Nacional fica a
cargo do Banco Central do Brasil; entretanto, o art. 48 da lei 8.171/91,
estabelece que “todos os agentes financeiros sem disciriminação
entre eles”comporiam o sistema de financiamento da produção rural.
46

Origem dos Recursos : Como é uma exigência Constitucional, o


crédito agrário precisa ser fundado em recursos, para que sua
implementação seja efetiva. Logo, ele deve constar diretamente no
orçamento da União sob a rubrica de recursos diretos ou ainda, a
União pode determinar através de seus órgãos diretivos do crédito
rural, que os agentes financeiros aloquem recursos para esta
finalidade, mediante aplicação compulsória, recursos próprios livres,
fundos ou quaisquer outros recursos disponíveis.

Exigência para Concessão : Segundo art. 60 da Lei 8.171/91, algumas


exigências devem ser respeitadas pelo pretendente e pelo financiador :

1) o tomador deve ser idôneo, (a entidade financeira é que fará essa


pesquisa)
2) o tomador deve se submeter à fiscalização da entidade
financiadora,(como os juros remuneratórios são mais baixos que o
mercado, trata-se de uma atividade subsidiada que deve ser fiscalizada.
Neste sentido o crédito passou a ser liberado diretamente ao agricultor ou
por intermédio de sua associação, para evitar fraudes)
3) a liberação de acordo deve ser concomitante com o ciclo
da atividade e da capacidade de ampliação do
financiamento,(exigência para se evitar que o produtor desvie a
aplicação do recurso)
4) deve haver ajustamento de prazo e épocas de reembolso
de acordo com a natureza da operação, capacidade de
pagamento e épocas de comercialização.(permissibilidade de
pagamento de acordo em épocas diferentes, de acordo com a colheita, não
constituirá o produtor em mora)

ESPÉCIES DE CRÉDITO RURAL


O crédito rural é classificado em 4 tipos diferentes, de acordo com sua
finalidade :

a) custeio - destinado a cobrir despesas normais, ou custos, de um ou


mais períodos de produção agrícola ou pecuária. É o empréstimo ao
produtor rural para cobrir as despesas de uma plantação de soja,
milho, arroz, etc, desde o preparo a terá até a colheita.

b) investimento - destinado à formação de capital fixo ou semifixo em


bens ou serviços, cuja utilização se realize no curso de várias safras.
47

Ex: empréstimo para aquisição de máquina colheitadeira ou para


construção de silo.

c) comercialização – destinado a cobrir despesas posteriores à


colheita, permitindo ao produtor rural manter-se sem a necessidade da
venda de sua produção por preço baixo.Ele pode ser concedido
isoladamente ou em conjunto com o custeio.

d)industrialização – destinado à transformação da matéria-prima


diretamente pelo produtor rural. EX; beneficiamento do arroz,
formação de sementes ou mudas, etc.

3.2 - SEGURO AGRÍCOLA


O artigo 73 do ET, combinado com os arts. 187, inc. V da CF e inc. XIII
do art. 4º da lei nº 8.171,de 17.01.91, estabelece que a Política Agrícola
será planejada levando em conta a necessidade de seguro agrícola.

Neste mesmo sentido a Lei 10.823 de 19.12.2003, regulamentada pelo


Decreto nº 5.121, de 29.06.2004, dispõe sobre a subvenção econômica
ao prêmio do seguro rural. Desta forma, o seguro agrícola se constitui
em um dos mais importante elementos da política Agrícola.

O Seguro Agrícola é um negócio jurídico que, via de regra, vem sendo


celebrado mediante simples cláusula de adesão inserida na própria
cédula de crédito rural, emitida nas operações de custeio,
estabelecendo uma relação jurídica nova entre o mutuário e o Banco
Central do Brasil, que é o administrador desse Programa. Ao contrário
dos seguros comuns, esse seguro não se formaliza por apólice.

A Instituição desta modalidade de seguro surgiu com a Lei nº 5.969/73,


sob a denominação de “Programa de Garantia da Atividade
Agropecuária” – PROAGRO; a qual estabeleceu que o objetivo do
programa era exonerar o produtor rural de obrigações financeiras
relativas a operações de crédito, cuja liquidação fosse dificultada pela
ocorrência de fenômenos naturais, pragas e doenças que atingissem
bens, rebanhos e plantações.

O Conselho Monetário Nacional é que tem competência para legislar


sobre o PROAGRO e ele administrado pelo Banco Central do Brasil.
Varias normas tem surgido para compatibilizar o PROAGRO aos
48

objetivos da política Agrícola.. Assim, os objetivos do PROAGRO, hoje,


são os seguintes :

I - exonerar o produtor rural das obrigações financeiras


relativas a operações de crédito rural de custeio, cuja
liquidação seja dificultada pela ocorrência de fenômenos
naturais, pragas, doenças que atinjam bens, rebanhos e
plantações;

II - indenizar recursos próprios utilizados pelo produtor rural


em custeio rural, quando ocorrerem perdas em virtude dos
eventos citados no inciso anterior

Os recursos que sustentam o programa são captados no adicional


(“premio” pago pelos segurados); dotação orçamentária da União ao
Programa; das receitas auferida pela aplicações destes recursos e, de
outros recursos que vierem a ser alocados ao PROAGRO.

3.3 - COOPERATIVISMO

O ET incluiu em seus arts. 79 e 80 que o cooperativismo seria mais um


instrumento da política agrícola.

Art. 79. A Cooperativa Integral de Reforma Agrária (CIRA) contará com a contribuição
financeira do Poder Público, através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, durante o período
de implantação dos respectivos projetos.

§ 1° A contribuição financeira referida neste artigo será feita de acordo com o vulto do
empreendimento, a possibilidade de obtenção de crédito, empréstimo ou financiamento externo e
outras facilidades.

§ 2º A Cooperativa Integral de Reforma Agrária terá um Delegado indicado pelo Instituto


Brasileiro de Reforma Agrária, integrante do Conselho de Administração, sem direito a voto, com a
função de prestar assistência técnico-administrativa à Diretoria e de orientar e fiscalizar a aplicação
de recursos que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária tiver destinado à entidade cooperativa.

§ 3º Às cooperativas assim constituídas será permitida a contratação de gerentes não-


cooperados na forma de lei.

§ 4º A participação direta do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária na constituição, instalação


e desenvolvimento da Cooperativa Integral de Reforma Agrária, quando constituir contribuição
financeira, será feita com recursos do Fundo Nacional de Reforma Agrária, na forma de
investimentos sem recuperação direta, considerada a finalidade social e econômica desses
investimentos. Quando se tratar de assistência creditícia, tal participação será feita por intermédio
49

do Banco Nacional de Crédito Cooperativo, de acordo com normas traçadas pela entidade
coordenadora do crédito rural.

§ 5º A Contribuição do Estado será feita pela Cooperativa Integral de Reforma Agrária, levada
à conta de um Fundo de Implantação da própria cooperativa.

§ 6° Quando o empreendimento resultante do projeto de Reforma Agrária tiver condições de


vida autônoma, sua emancipação será declarada pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária,
cessando as funções do Delegado de que trata o § 2° deste artigo e incorporando-se ao patrimônio
da cooperativa o Fundo requerido no parágrafo anterior.

§ 7º O Estatuto da Cooperativa integral de Reforma Agrária deverá determinar a incorporação


ao Banco Nacional de Crédito Cooperativo do remanescente patrimonial, no caso de dissolução da
sociedade.

§ 8º Além da sua designação qualitativa, a Cooperativa Integral de Reforma Agrária adotará a


denominação que o respectivo Estatuto estabelecer.

§ 9º As cooperativas já existentes nas áreas prioritárias poderão transformar-se em


Cooperativas Integradas de Reforma Agrária, a critério do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária.

§ 10. O disposto nesta seção aplica-se, no que couber, às demais cooperativas, inclusive às
destinadas a atividades extrativas.

Art. 80. O órgão referido no artigo 74 deverá promover a expansão do sistema cooperativista,
prestando, quando necessário, assistência técnica, financeira e comercial às cooperativas visando
à capacidade e ao treinamento dos cooperados para garantir a implantação dos serviços
administrativos, técnicos, comerciais e industriais.

Além disso, a CF/88 estimulou o cooperativismo ao afastar dele a


ingerência do Poder Público em sua constituição e funcionamento (art.
5º, XVIII), ao estimular a sua criação (art. 174, §§ 2º, 3º e 4º). A CF/88,
em seu art. 187 deu destaque ao cooperativismo ao inseri-lo como um
dos instrumentos da Política Agrícola.

A “Lei Agrícola”, lei nº 8.171/91, também contempla o cooperativismo


como um dos instrumentos de política agrícola.

No tocante às cooperativas, a Lei nº 5764/71, assim dispõe :

Art. 4º. As cooperativas são sociedades de pessoas, com


forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não
sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços ao
associados, distinguindo-se das demais sociedades.

Não entraremos aqui, na essência do processo de cooperativas; eis


que isso faz parte do Curriculum da disciplina Direito de Empresa, já
visto em oportunidade pretérita.
50

a. ESPÉCIES DE CONTRATOS RURAIS.

Os contratos rurais estão tipificados na lei nº 4.947 de 05/04/1966, art.


13 e no art. 92 do ET.

Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso
ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária,
sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa, nos
termos desta Lei.

§ 1° O proprietário garantirá ao arrendatário ou parceiro o uso e gozo do imóvel arrendado ou


cedido em parceria.

§ 2º Os preços de arrendamento e de parceria fixados em contrato ...Vetado.. serão


reajustados periodicamente, de acordo com os índices aprovados pelo Conselho Nacional de
Economia. Nos casos em que ocorra exploração de produtos com preço oficialmente fixado, a
relação entre os preços reajustados e os iniciais não pode ultrapassar a relação entre o novo preço
fixado para os produtos e o respectivo preço na época do contrato, obedecidas as normas do
Regulamento desta Lei.

§ 3º No caso de alienação do imóvel arrendado, o arrendatário terá preferência para adquiri-lo


em igualdade de condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento da venda, a fim de que
possa exercitar o direito de perempção dentro de trinta dias, a contar da notificação judicial ou
comprovadamente efetuada, mediante recibo.

§ 4° O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá, depositando o preço, haver para
si o imóvel arrendado, se o requerer no prazo de seis meses, a contar da transcrição do ato de
alienação no Registro de Imóveis.

§ 5º A alienação ou a imposição de ônus real ao imóvel não interrompe a vigência dos


contratos de arrendamento ou de parceria ficando o adquirente sub-rogado nos direitos e
obrigações do alienante.

§ 6º O inadimplemento das obrigações assumidas por qualquer das partes dará lugar,
facultativamente, à rescisão do contrato de arrendamento ou de parceria. observado o disposto em
lei.
51

§ 7º Qualquer simulação ou fraude do proprietário nos contratos de arrendamento ou de


parceria, em que o preço seja satisfeito em produtos agrícolas, dará ao arrendatário ou ao parceiro
o direito de pagar pelas taxas mínimas vigorantes na região para cada tipo de contrato.

§ 8º Para prova dos contratos previstos neste artigo, será permitida a produção de
testemunhas. A ausência de contrato não poderá elidir a aplicação dos princípios estabelecidos
neste Capítulo e nas normas regulamentares.

§ 9º Para solução dos casos omissos na presente Lei, prevalecerá o disposto no Código Civil.

A doutrina os classifica como Contratos Agrários Nominados ou


Típicos e Contratos Agrários Inominados ou Atípicos.

CONTRATOS AGRÁRIOS NOMINADOS OU TÍPICOS

Contratos nominados são os que tem designação própria. Contratos


típicos são os que estão tipificados e/ou regulados em lei, ou seja, os
que tem o seu perfil traçados pela lei

Os contratos típicos não requerem muitas cláusulas; eis que todas as


normas regulamentadoras estabelecidas pelo legislador passam a
integrá-lo. Diferente dos atípicos que, deverão ter as cláusulas
minuciosamente estipuladas no contrato.

Assim, os contratos agrários típicos conceituados pelos artigos 3º e


4º do Decreto nº 59.566/66, são o arrendamento e a parceria rural :

5 - ARRENDAMENTO RURAL
Estabelece o Decreto nº 59.566/66

“Art. 3º. Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma


pessoa se obriga a ceder à outra, por determinado tempo ou não,
o uso e o gozo do imóvel rural, parte ou partes do mesmo,
incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com
o objetivo de nele ser exercida a atividade de exploração agrícola,
pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista, mediante certa
retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei.
§ 1º Subarrendamento é o contrato pelo qual o Arrendatário
transfere a outrem, no todo ou em parte, os direitos e obrigações
do contrato de arrendamento.
52

Ressalte-se que no contrato de arrendamento, todas as vantagens


e riscos do empreendimento são do arrendatário; enquanto que o
arrendador colhe vantagem fixa, certa, não aleatória : o preço do
arrendamento expresso em dinheiro; por isso este tipo de contrato é
chamado de contrato comutativo; eis que envolve prestações certas e
determinadas

O art. 95 do ET também disciplina o Arrendamento rural.

Art. 95. Quanto ao arrendamento rural, observar-se-ão os seguintes princípios:

I - os prazos de arrendamento terminarão sempre depois de ultimada a colheita, inclusive a de


plantas forrageiras temporárias cultiváveis. No caso de retardamento da colheita por motivo de
força maior, considerar-se-ão esses prazos prorrogados nas mesmas condições, até sua
ultimação;

II - presume-se feito, no prazo mínimo de três anos, o arrendamento por tempo indeterminado,
observada a regra do item anterior;

III - o arrendatário que iniciar qualquer cultura cujos frutos não possam ser colhidos antes de
terminado o prazo de arrendamento deverá ajustar previamente com o locador do solo a forma
pela qual serão eles repartidos;
IV - em igualdade de condições com estranhos, o arrendatário terá preferência à renovação
do arrendamento, devendo o proprietário, até seis meses antes do vencimento do contrato, fazer-
lhe a competente notificação das propostas existentes. Não se verificando a notificação, o contrato
considera-se automaticamente renovado, desde que o locatário, nos trinta dias seguintes, não
manifeste sua desistência ou formule nova proposta, tudo mediante simples registro de suas
declarações no competente Registro de Títulos e Documentos;
V - os direitos assegurados no inciso anterior não prevalecerão se, no prazo de seis meses
antes do vencimento do contrato, o proprietário, por via de notificação, declarar sua intenção de
retomar o imóvel para explorá-lo diretamente ou através de descendente seu;

III - o arrendatário, para iniciar qualquer cultura cujos frutos não possam ser recolhidos antes
de terminado o prazo de arrendamento, deverá ajustar, previamente, com o arrendador a forma de
pagamento do uso da terra por esse prazo excedente; (Redação dada pela Lei nº 11.443, de
2007).

IV - em igualdade de condições com estranhos, o arrendatário terá


preferência à renovação do arrendamento, devendo o proprietário, até 6 (seis)
meses antes do vencimento do contrato, fazer-lhe a competente notificação
extrajudicial das propostas existentes. Não se verificando a notificação
extrajudicial, o contrato considera-se automaticamente renovado, desde que o
arrendador, nos 30 (trinta) dias seguintes, não manifeste sua desistência ou
formule nova proposta, tudo mediante simples registro de suas declarações no
competente Registro de Títulos e Documentos; (Redação dada pela Lei nº 11.443,
de 2007).
53

V - os direitos assegurados no inciso IV do caput deste artigo não


prevalecerão se, no prazo de 6 (seis) meses antes do vencimento do contrato, o
proprietário, por via de notificação extrajudicial, declarar sua intenção de retomar o
imóvel para explorá-lo diretamente ou por intermédio de descendente seu;
(Redação dada pela Lei nº 11.443, de 2007).

VI - sem expresso consentimento do proprietário é vedado o subarrendamento;

VII - poderá ser acertada, entre o proprietário e arrendatário, cláusula que permita a
substituição de área arrendada por outra equivalente no mesmo imóvel rural, desde que
respeitadas as condições de arrendamento e os direitos do arrendatário;

VIII - o arrendatário, ao termo do contrato, tem direito à indenização das benfeitorias


necessárias e úteis, será indenizado das benfeitorias voluptuárias quando autorizadas pelo locador
do solo. Enquanto o arrendatário não seja indenizado das benfeitorias necessárias e úteis, poderá
permanecer no imóvel, no uso e gôzo das vantagens por ele oferecidas, nos termos do contrato de
arrendamento e nas disposições do inciso I;

VIII - o arrendatário, ao termo do contrato, tem direito à indenização das benfeitorias


necessárias e úteis; será indenizado das benfeitorias voluptuárias quando autorizadas pelo
proprietário do solo; e, enquanto o arrendatário não for indenizado das benfeitorias necessárias e
úteis, poderá permanecer no imóvel, no uso e gozo das vantagens por ele oferecidas, nos termos
do contrato de arrendamento e das disposições do inciso I deste artigo; (Redação dada pela Lei nº
11.443, de 2007).

IX - constando do contrato de arrendamento animais de cria, de corte ou de trabalho, cuja


forma de restituição não tenha sido expressamente regulada, o arrendatário é obrigado, findo ou
rescindido o contrato, a restituí-los em igual número, espécie e valor;

X - o arrendatário não responderá por qualquer deterioração ou prejuízo a que não tiver dado
causa;

XI - na regulamentação desta Lei, serão complementadas as seguintes condições que,


obrigatoriamente, constarão dos contratos de arrendamento:

a) limites dos preços de aluguel e formas de pagamento em dinheiro ou no seu equivalente


em produtos colhidos;
b) prazos mínimos de locação e limites de vigência para os vários tipos de atividades
agrícolas;

a) limites da remuneração e formas de pagamento em dinheiro ou no seu equivalente em


produtos; (Redação dada pela Lei nº 11.443, de 2007).

b) prazos mínimos de arrendamento e limites de vigência para os vários tipos


de atividades agrícolas; (Redação dada pela Lei nº 11.443, de 2007).

c) bases para as renovações convencionadas;

d) formas de extinção ou rescisão;

e) direito e formas de indenização ajustadas quanto às benfeitorias realizadas;


54

XII - o preço do arrendamento, sob qualquer forma de pagamento, não poderá ser superior a
quinze por cento do valor cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que entrarem na
composição do contrato, salvo se o arrendamento for parcial e recair apenas em glebas
selecionadas para fins de exploração intensiva de alta rentabilidade, caso em que o preço poderá ir
até o limite de trinta por cento;

XII - a remuneração do arrendamento, sob qualquer forma de pagamento, não poderá ser
superior a 15% (quinze por cento) do valor cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que
entrarem na composição do contrato, salvo se o arrendamento for parcial e recair apenas em
glebas selecionadas para fins de exploração intensiva de alta rentabilidade, caso em que a
remuneração poderá ir até o limite de 30% (trinta por cento) (Redação dada pela Lei nº 11.443, de
2007).

XIII - a todo aquele que ocupar, sob qualquer forma de arrendamento, por mais de cinco anos,
um imóvel rural desapropriado, em área prioritária de Reforma Agrária, é assegurado o direito
preferencial de acesso à terra ..Vetado...

Art. 95-A. Fica instituído o Programa de Arrendamento Rural, destinado ao atendimento


complementar de acesso à terra por parte dos trabalhadores rurais qualificados para participar do
Programa Nacional de Reforma Agrária, na forma estabelecida em regulamento.(Incluído pela
Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001) (Regulamento)

Parágrafo único. Os imóveis que integrarem o Programa de Arrendamento Rural não serão
objeto de desapropriação para fins de reforma agrária enquanto se mantiverem arrendados, desde
que atendam aos requisitos estabelecidos em regulamento. (Incluído pela Medida Provisória nº
2.183-56, de 2001)

6 - PARCERIA RURAL

Estabelece o Decreto nº 59.566/66


Art. 4º Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se
obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso
específico de imóvel rural, de parte ou partes do mesmo,
incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com
o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração de
exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa vegetal ou
mista; e ou lhe entrega animais para cria, recria, invernagem,
engorda ou extração de matérias-primas de origem animal,
mediante partilha de riscos do caso fortuito e da força maior do
empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos
nas proporções que estipularem, observados os limites
percentuais da lei (art. 96, VI do Estatuto da Terra).

Diferentemente do arrendamento, no contrato de parceria, há uma


partilha dos riscos (prejuízos) e das vantagens entre ambos os
parceiros : tanto o parceiro-outorgante como o parceiro outorgado só
55

terão as vantagens após a partilha dos frutos, produtos ou lucros, se


os houver.

No tocante à quota de parceria, estabelece o art. 96, VI, ä” a “g” do ET:

Art. 96. Na parceria agrícola, pecuária,


agro-industrial e extrativa, observar-se-ão os
seguintes princípios:

I - o prazo dos contratos de parceria,


desde que não convencionados pelas partes,
será no mínimo de três anos, assegurado ao
parceiro o direito à conclusão da colheita,
pendente, observada a norma constante do
inciso I, do artigo 95;

II - expirado o prazo, se o proprietário não


quiser explorar diretamente a terra por conta
própria, o parceiro em igualdade de condições
com estranhos, terá preferência para firmar
novo contrato de parceria;

III - as despesas com o tratamento e


criação dos animais, não havendo acordo em
contrário, correrão por conta do parceiro
tratador e criador;

IV - o proprietário assegurará ao parceiro


que residir no imóvel rural, e para atender ao
uso exclusivo da família deste, casa de moradia
higiênica e área suficiente para horta e criação
de animais de pequeno porte;

V - no Regulamento desta Lei, serão


complementadas, conforme o caso, as
seguintes condições, que constarão,
obrigatoriamente, dos contratos de parceria
agrícola, pecuária, agro-industrial ou extrativa:

a) quota-limite do proprietário na
participação dos frutos, segundo a natureza de
56

atividade agropecuária e facilidades oferecidas


ao parceiro;

b) prazos mínimos de duração e os


limites de vigência segundo os vários tipos de
atividade agrícola;

c) bases para as renovações


convencionadas;

d) formas de extinção ou rescisão;

e) direitos e obrigações quanto às


indenizações por benfeitorias levantadas com
consentimento do proprietário e aos danos
substanciais causados pelo parceiro, por
práticas predatórias na área de exploração ou
nas benfeitorias, nos equipamentos,
ferramentas e implementos agrícolas a ele
cedidos;

f) direito e oportunidade de dispor sobre


os frutos repartidos;

VI - na participação dos frutos da


parceria, a quota do proprietário não poderá ser
superior a:

a) 20% (vinte por cento), quando


concorrer apenas com a terra nua;

b) 25% (vinte e cinco por cento), quando


concorrer com a terra preparada;

c) 30% (trinta por cento), quando


concorrer com a terra preparada e moradia;

d) 40% (quarenta por cento), caso


concorra com o conjunto básico de
benfeitorias, constituído especialmente de casa
de moradia, galpões, banheiro para gado,
cercas, valas ou currais, conforme o caso
e) 50% (cinqüenta por cento), caso concorra
com a terra preparada e o conjunto básico de
57

benfeitorias enumeradas na alínea d deste


inciso e mais o fornecimento de máquinas e
implementos agrícolas, para atender aos tratos
culturais, bem como as sementes e animais de
tração, e, no caso de parceria pecuária, com
animais de cria em proporção superior a 50%
(cinqüenta por cento) do número total de
cabeças objeto de parceria;

f) 75% (setenta e cinco por cento), nas


zonas de pecuária ultra-extensiva em que forem
os animais de cria em proporção superior a
25% (vinte e cinco por cento) do rebanho e
onde se adotarem a meação do leite e a
comissão mínima de 5% (cinco por cento) por
animal vendido;

g) nos casos não previstos nas alíneas


anteriores, a quota adicional do proprietário
será fixada com base em percentagem máxima
de dez por cento do valor das benfeitorias ou
dos bens postos à disposição do parceiro;

VII - aplicam-se à parceria agrícola,


pecuária, agropecuária, agro-industrial ou
extrativa as normas pertinentes ao
arrendamento rural, no que couber, bem como
as regras do contrato de sociedade, no que não
estiver regulado pela presente Lei.

Parágrafo único. Os contratos que


prevejam o pagamento do trabalhador, parte em
dinheiro e parte percentual na lavoura
cultivada, ou gado tratado, são considerados
simples locação de serviço, regulada pela
legislação trabalhista, sempre que a direção
dos trabalhos seja de inteira e exclusiva
responsabilidade do proprietário, locatário do
serviço a quem cabe todo o risco,
assegurando-se ao locador, pelo menos, a
percepção do salário-mínimo no cômputo das
duas parcelas.
58

VIII - o proprietário poderá sempre cobrar


do parceiro, pelo seu preço de custo, o valor de
fertilizantes e inseticidas fornecidos no
percentual que corresponder à participação
deste, em qualquer das modalidades previstas
nas alíneas do inciso VI do caput deste artigo

IX - nos casos não previstos nas alíneas


do inciso VI do caput deste artigo, a quota
adicional do proprietário será fixada com base
em percentagem máxima de 10% (dez por
cento) do valor das benfeitorias ou dos bens
postos à disposição do parceiro.

§ 1o Parceria rural é o contrato agrário


pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra,
por tempo determinado ou não, o uso
específico de imóvel rural, de parte ou partes
dele, incluindo, ou não, benfeitorias, outros
bens e/ou facilidades, com o objetivo de nele
ser exercida atividade de exploração agrícola,
pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou
mista; e/ou lhe entrega animais para cria, recria,
invernagem, engorda ou extração de matérias-
primas de origem animal, mediante partilha,
isolada ou cumulativamente, dos seguintes
riscos:

I - caso fortuito e de força maior do


empreendimento rural;

II - dos frutos, produtos ou lucros


havidos nas proporções que estipularem,
observados os limites percentuais
estabelecidos no inciso VI do caput deste
artigo;

III - variações de preço dos frutos obtidos


na exploração do empreendimento rural.

§ 2o As partes contratantes poderão


estabelecer a prefixação, em quantidade ou
volume, do montante da participação do
59

proprietário, desde que, ao final do contrato,


seja realizado o ajustamento do percentual
pertencente ao proprietário, de acordo com a
produção.

§ 3o Eventual adiantamento do montante


prefixado não descaracteriza o contrato de
parceria.

§ 4o Os contratos que prevejam o


pagamento do trabalhador, parte em dinheiro e
parte em percentual na lavoura cultivada ou em
gado tratado, são considerados simples
locação de serviço, regulada pela legislação
trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos
seja de inteira e exclusiva responsabilidade do
proprietário, locatário do serviço a quem cabe
todo o risco, assegurando-se ao locador, pelo
menos, a percepção do salário mínimo no
cômputo das 2 (duas) parcelas.

§ 5o O disposto neste artigo não se


aplica aos contratos de parceria agroindustrial,
de aves e suínos, que serão regulados por lei
específica.

CONTRATOS AGRÁRIOS INOMINADOS OU ATÍPICOS

São aqueles que resultam de um acordo de vontades entre as partes,


não tendo suas características e requisitos definidos e, para que sejam
válidos, basta : consenso, que as partes sejam livres e capazes, que
seu objeto seja lícito, possível, determinável e suscetível de valoração
econômica. Além disso, exige-se que este contrato especifique
minuciosamente os direitos e obrigações de cada parte.

Acerca dos contratos atípicos, o art. 39 do Decreto 59.566/66 assim


dispõe :
60

“Art. 39. Quando o uso ou posse temporário da terra for


exercido por qualquer outra modalidade contratual, diversa
dos contratos de arrendamento e parceria, serão observadas
pelo proprietário do imóvel as mesmas regras aplicáveis a
arrendatários e parceiros, e, em especial a condição
estabelecida no art. 38, supra.”

A doutrina entende que são exemplos de contratos agrários atípicos


os contratos de comodato, de empreitada, etc...

7 - COMODATO
A palavra Comodato tem origem no latim , “commodatum”,
empréstimo e do verbo “commodare”: emprestar.
Segundo Washington de Barros6, comodato “é contrato unilateral ,
gratuito , pelo qual alguém entrega a outrem coisa infungível , para ser
usada temporariamente e depois restituída”.

Assim, é um contrato unilateral porque obriga tão-somente o


comodatário ; gratuito ( “Gratuitum debet esse commodatum” ) porque
somente o comodatário é favorecido; real porque se realiza pela
tradição, ou seja, entrega da coisa; e não-solene, pois a lei não exige
forma especial para sua validade, podendo ser utilizada até a forma
verbal .

Quem entrega a coisa infungível é o comodante, quem a usa é o


comodatário. Assim, o comodatário rural poderá ser um pequeno
agricultor ou pecuarista, um agregado, ex-trabalhador rural, que
embora gratuitamente, exerce uma atividade laborativa, com o plantio
de certas culturas, criação de gado, até mesmo para o sustento
próprio e de sua família, onde o prazo de restituição do bem imóvel
rural deverá pelas circunstâncias, obedecer prazos mínimos, ou até
mesmo, quando for o caso, a ultimação e término da colheita.

Desta forma o comodato rural deve ser visto como uma alternativa de
evitar a ociosidade da terra, em caso de ausencia de arrendamento ou
parceria rural, evitando até mesmo invasões e a própria
desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária , pois
o comodatário, poderá em um campo degradado realizar o plantio de
milho, e após, devolve-lo semeado, ou até mesmo, receber um campo

6
Citado por Coelho, José Fernando Luiz, in “Contratos Agrários – Uma Visão Neo-Agrarista”.p.87. Juruá.
Curutiba. 2008.
61

sujo para pecuária, e o restituir roçado. Por derradeiro, é preciso frisar


que o comodato rural é um contrato atípico.

8 - EMPREITADA
Empreitada é o contrato mediante o qual uma das partes (o
empreiteiro) se obriga a realizar uma obra específica, pessoalmente ou
por intermédio de terceiros, cobrando uma remuneração a ser paga
pela outra parte (proprietário da obra), sem vínculo de subordinação.

A direção do trabalho é do próprio empreiteiro, assumindo este os


riscos da obra.

Na empreitada não importa o rigor do tempo de duração da obra, o


objeto não é a simples prestação de serviços, mas a obra em si.
Assim, neste tipo de contrato a remuneração não está vinculada ao
tempo, mas à conclusão da obra. São exemplos de empreitada agrícola
o desmatamento de determinada área, a construção de um açude, a
gramagem ou revitalização de um pasto, etc...

OBS : o próximo item de nosso Plano de Ensino (Empresa rural) já


discutimos no item reforma agrária de nosso estudo.

V. DIREITO AGRÁRIO PROCESSUAL

5.1 - O INSTITUTO DA DISCRIMINAÇÃO DE TERRAS


Ao longo do período da história do Brasil, o propriedade rural passou por
diversas fases : A fase colonial, onde as terras descobertas foram
incorporadas ao Patrimônio da Coroa Portuguesa, depois à Coroa
Brasileira e desta, à União, que também repassou parte delas aos Estados.

Mesmo assim, persistiu um problema : o desconhecimento, no vasto


território brasileiro do que seria terras públicas e terras dos particulares.

Vale lembrar que a passagem destas terras para as mãos do particulares


obedeceu a procedimentos adotados pelo governo : sesmarias e a posse
legitimada por ação governamental, etc.
62

O critério adotado pelas Constituições Republicanas acerca das terras


devolutas, possibilitou que cada estado-Membro viesse a editar normas
próprias para definir o que seriam terras públicas e terras que seriam
passadas ao domínio particular.

A Lei das terras nº 601/1850, em seu artigo 10 assim estabeleceu :

Art. 10. O governo proverá o modo prático de estremar o domínio público


do particular, segundo as regras acima estabelecida, incumbindo a sua
execução às autoridades administrativas, que julgar mais convenientes
fazendo decidir por árbitros a questão e dúvidas de fato, e dando de suas
próprias decisões recursos para Presidente da Província, do qual o
haverá também, para o governo.

Dessa forma, passou-se a ter uma instância administrativa capaz de


decidir quais terras seriam de domínio público e quais seriam de
domínio particular.

Entretanto somente em 05.09.1946, através do Decreto 9.760 é que as


terras devolutas passam a ter um disciplinamento mais nítido,
destacando a existência de duas instâncias : a administrativa e a
judicial, dando inicio a dois procedimentos discriminatórios :
administrativo e judicial.

O Estatuto da Terra- Lei nº 4.504/64, cuidou de instituir o procedimento


de discriminação de terras :
Art. 11 O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária fica
investido de poderes de representação da União, para
promover a discriminação das terras devolutas federais,
restabelecida a instância administrativa disciplinada
pelo Decreto – Lei nº 9.760 de 05.09.1946, e com
autoridade para reconhecer as posses legitimas
manifestadas através de cultura efetiva e morada
habitual, bem como incorporar ao patrimônio público as
terras devolutas federais ilegalmente ocupadas e as que
se encontrarem desocupadas
(...)
§ 2º Tanto quanto possível, o Instituto Brasileiro de
Reforma Agrária imprimirá ao instituto das “terras
devolutas” orientação tendente a harmonizar as
peculiaridades regionais com os altos interesses do
desbravamento através da colonização racional visando
erradicar os males do minifúndio e do latifúndio.

O procedimento judicial para discriminação de terras devolutas está regulado


pela Lei nº 6.383, de 1976. e o processo judicial, nos artigos. 18 e 23:
63

Art. 18 – O Instituto Nacional de Colonização e Reforma


Agrária - INCRA fica investido de poderes de
representação da União, para promover a discriminação
judicial das terras devolutas da União.

5.1.2 - PROCEDIMENTOS E REQUISITOS PARA A


DESAPROPRIAÇÃO

O procedimento para desapropriação, previsto no art. 184 da CF/88


foi regulamentado através da Leis 76/93 e 88/96, garantindo-se ao
proprietário expropriado o devido processo legal.

Competência para desapropriar para fins de Reforma Agrária : da


União, através de seu órgão executor : INCRA. Significa dizer que os
Estados, Distrito Federal e Municípios não podem desapropriar para
fins de reforma agrária (podem adquiri imóveis e distribuir conforme
entenderem, mas a desapropriação para fins de reforma agrária é de
competência exclusiva da União.

Prévio Procedimento Administrativo : não basta que o INCRA


pretenda desapropriar a propriedade improdutiva, para que se possa
ajuizar a ação de desapropriação. Há necessidade de que se instaure
um prévio procedimento administrativo no próprio órgão, para que ele
possa aferir se efetivamente o imóvel é grande e/ou improdutivo, nos
termos da lei 8.629 de 25.02.93. Procedimento que culminará com
decreto do Presidente da República, declarando o imóvel de interesse
social, para fins de reforma agrária.

A cópia desse Decreto publicado no DOU se constituirá prova do


bom direito do poder expropriante, para ajuizamento da medida
cautelar de vistoria e avaliação, preparatória da ação de
desapropriação propriamente dita.

PRAZO PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO : A


LC 76/93, em seu art. 3º estabelece que a ação será ajuizada no prazo
64

de 2 (dois) anos, contados da publicação do decreto declaratório no


DOU. Este prazo é decadencial e ocorrerá a perda de validade do ato
administrativo; entretanto, se as condições do imóvel se manter, o
INCRA poderá abrir novo procedimento administrativo e reiniciar o
processo.

Tramitação da Ação de Desapropriação : na Justiça Federal. Neste


sentido o Conselho da Justiça Federal (órgão diretivo superior da
Justiça Federal) autorizou na sessão de maio de 2001 que cada
Tribunal Regional crie varas especializadas no intuito de especializar e
agilizar os julgamentos de ações por desapropriação para fins de
reforma agrária, por interesse social.

CONTEÚDO DA PETIÇÃO INICIAL DE DESAPROPRIAÇÃO: Conforme


art. 5º da LC 76/93, a ação de desapropriação é uma ação especial e
além dos requisitos do CPC deverá conter :

a) texto do decreto declaratório de desapropriação por interesse


social publicado no DOU;
b) certidões atualizadas de domínio e de ônus do imóvel;
documento cadastral do imóvel; (saber quem é o proprietário)
c) laudo de vistoria e avaliação administrativa, que conterá
necessariamente :
- descrição do imóvel, por meio de suas plantas geral e de
situação, e memorial descritivo da área objeto da ação;
- relação das benfeitorias úteis, necessárias e voluptuárias
(por mero prazer), das culturas e pastos naturais e artificiais,
da cobertura florestal, seja natural ou decorrente de
reflorestamento, e dos semoventes;
- discriminadamente os valores de avaliação da terra nua e
das benfeitorias indenizáveis
d) comprovante de lançamento dos Títulos da Dívida Agrária
correspondente ao valor ofertado para o pagamento da terra nua e o
comprovante de depósito em banco ou outro estabelecimento, à
disposição do juízo, correspondente ao valor ofertado para
pagamento das benfeitorias úteis e necessárias.(acrescentado pela
Lei 88/93).

OBS : ainda não é o preço e sim a oferta do preço; eis que


este pode ou não ser aceito judicialmente; eis que o preço
ofertado é uma avaliação administrativa feita pelo INCRA.
65

Estando em ordem, a petição inicial desapropriatória será distribuída a


um juiz federal da situação do imóvel que, de plano, em 48 horas :

a) mandará intimar o autor na posse do imóvel;


b) determinará a citação do expropriado para contestar o pedido e
indicar assistente técnico, se quiser; e
c) expedira mandado, ordenando averbação de ajuizamento da
ação no registro de imóveis expropriando, para conhecimento de
terceiros.

A determinação de imissão imediata na posse do imóvel foi trazida


pela Lei 88/93; eis que a União já emitiu o TDA e depositou o valor em
dinheiro das benfeitorias necessárias. O objetivo é tornar ágil, a
Reforma Agrária.

Deve-se observar o direito ao contraditório e a defesa dos


interessados (tais como herdeiros). Entretanto, a defesa se cingirá
apenas quanto ao valor da desapropriação; eis que o art. 9º da LC
76/93 não permite discussão sobre o interesse social. Entretanto,
entendemos que se o ato administrativo estiver eivado de vicio,
entendemos que o princípio constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV)
deve ser observado.

SENTENÇA DESAPROPRIATÓRIA – Como não se pode discutir no


processo o interesse social declarado pelo Decreto Presidencial, a sentença
transmitirá a propriedade para a União e fixará o valor da indenização em
TDA’s e dinheiro, conforme o caso.

Embora a Lei não o diga, mas a jurisprudência tem entendido que integra a
indenização, também, o valor de juros compensatórios (12% a.a, a partir da
imissão da posse) e juros moratórios (6% a.a. a partir do trânsito em julgado),
ambos plenamente cumuláveis

APELAÇÃO - Segue a regra do CPC, duplo efeito : suspensivo (tudo que foi
decidido na sentença está suspenso até nova decisão do órgão superior) e
devolutivo (processo é devolvido por inteiro ao segundo grau de jurisdição).
Entretanto, o conteúdo da sentença que transmite a propriedade à União não é
passível de recurso quanto ao mérito de desapropriação.

DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS DESAPROPRIADAS


66

Com o término do Processo de desapropriação por interesse social,


culminando com o registro do imóvel em nome da União, inicia-se a
fase de distribuição das terras.

O prazo para a distribuição é de 3 anos (Lei 8.629/93, art. 16),


contados da data do registro do título traslativo do domínio. A Lei não
prevê sanção ao INCRA se ele descumprir este prazo; por isso, há
várias discussões na doutrina em torno de, se o desapropriado pode
ou não, neste caso, requerer a nulidade do ato administrativo

O art. 19 da Lei nº 8.629/93 determina quem pode ser um potencial


beneficiário da propriedade desapropriada, e o faz na seguinte ordem
de preferência :

I – o desapropriado, ficando-lhe assegurada a preferência


para a parcela na qual se situe a sede do imóvel;
II – os que trabalham no imóvel desapropriado como
posseiros, assalariados, parceiros ou arrendatários;
III – os que trabalham como posseiros, assalariados,
parceiros ou arrendatários, em outros imóveis;
IV – os agricultores cujas propriedades não alcancem a
dimensão da propriedade familiar;
V – os agricultores cujas propriedades sejam,
comprovadamente, insuficientes para o sustento próprio e o
de sua família.
VI – obedecida à disposição legal (caso haja 2 posseiros em
iguais condições), terão preferência os chefes de famílias
mais numerosas, cujos membros se proponham a exercer a
atividade agrícola na área a ser distribuída;

A Lei afasta, expressamente, da condição de beneficários da reforma


agrária o proprietário rural que não se enquadra na ordem legal do art.
19, o servidor público ou empregado público a qualquer título e aquele
que já tenha sido beneficiado com o programa de reforma agrária.

OBS : O Estatuto da Terra (caput do art. 25) previa que as terras


desapropriadas eram vendidas aos beneficiários. Entretanto, a Lei nº
8.629/93, observando o art. 25 do ET, silenciou sobre a possibilidade
de venda e criou o título de domínio ou a concessão de uso, como
formas jurídicas de aquisição da propriedade desapropriada;
significando que a idéia do legislador é distribuir a terra de forma
gratuita.
67

OUTROS INSTITUTOS

Importante destacar que, como o CPC é legislação subsidiária


obrigatória, ele vai ser utilizado em todas as questões relativas ao
direito agrário; eis que este não possui um Direito Processual próprio.
Desta forma, o CPC será sempre o norte nas ações procedimentais de
Direito Agrário. Assim, as ações agrárias que podem gravar um imóvel
rural ou modificar-lhe a propriedade, buscam, em sua maioria,
subsidio no CPC. As ações a que nos propomos falar são : Penhor,
Posse, Usucapião, Servidão, anticrese, aquisição por estrangeiro,
desapropriação por interesse social, desapropriação por confisco e
usufruto.

5.2 - PENHOR

O penhor agrícola é uma das mais antigas medidas creditícias e teve


sempre a coisa como meio de se efetivar o pagamento do débito, onde
o credor é um mero possuidor a título precário; eis que não há a
transmissão material da coisa : a coisa dada em garantia fica em poder
do devedor. Está previsto no artigo 1442 a 1446 do CCB. A safra, em
regra, não existe; por isso o objeto deste penhor é uma garantia futura.
Mas desde o momento em que a semente cai na terra, toda a produção
fica vinculada ao pagamento da dívida decorrente do empréstimo.

O tratamento jurídico da penhora está previsto no Código Civil (arts.


1.431 a 1.446. e nas Leis nº 492 (de 1937) e nº 1.666 (de 1955). Além
disso, a Lei 9.393/1996 em seu artigo 18 estabelece procedimentos
para Penhora ou Arresto referente a dívida decorrente de crédito
tributário do ITR.

Podem ser objeto de Penhor Rural : a) colheitas pendentes ou em


vias de formação; b) os frutos armazenados (acondicionados para
venda, beneficiados ou não); c) madeira de matas preparada para o
corte ou em toras já serradas e lavrada; d) lenha cortada ou carvão
vegetal; e) máquinas e instrumentos agrícolas; f) animais que se criam
em pastoril; agrícola ou de laticínios. (arts. 1.442 a 1446 do CC)

5.3 - POSSE
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Segundo o artigo 1.196 do Código Civil, considera-se possuidor todo


aquele que tem de fato o exercício pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade.

Desta forma, na posse rural, empresta-se a capitulação do Código Civil


e o rito das ações a ela pertinente, seguindo-se o regramento do CPC,
no tocante ao devido processo legal.

5.4 - USUCAPIÃO ESPECIAL

A posse mansa, pacífica e ininterrupta, criadora de direito, foi


preocupação dos gregos, que os romanos aperfeiçoaram através do
usucapio.

O usucapião se consagrou por ser um instituto caracterizado por uma


forma de aquisição de propriedade, pela posse prolongada.

O usucapião rural (art. 1239, CC) é chamado de “usucapião especial”


exatamente para diferenciá-lo do usucapião comum ou urbano
(previsto no art. 1238 do CC :“aquele que, por 15 anos, sem
interrupção nem oposição , possuir como seu um imóvel, adquiri-lhe a
propriedade, independente de título e boa-fé, podendo requerer ao juiz
que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o
registro no CRI” – OBS: redução para 10 anos se estabelecer moradia
habitual no imóvel ou realizar obras ou serviços de caráter produtivo)

O objetivo dele é fixar o homem rural no campo. Também é chamado


de prólabore, uma vez que um dos requisitos deste instituto é o de
tornar a terra produtiva pelo trabalho do usucapiente, conforme se
extrai do artigo 191 da CF :
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural
ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos,
sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a
cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou
de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.
Parágrafo Único- Os imóveis públicos não serão adquiridos
por usucapião.
69

Sua tipificação (do usucapião), também, está capitulada nos artigos.


1.238 a 1.247 do Cód. Civil. Mas o rural, está tipificado no art. 1239 :

Art. 1239 – Aquele que, não sendo proprietário de imóvel


rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos
ininterruptos, sem oposição, área de terra na zona rural não
superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu
trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-
lhe-á a propriedade.

Assim, para que se adquira a propriedade pelo instituto do usucapião


especial rural, é necessário atender aos seguintes requisitos impostos
pela CF/88:

a) não ser o usucapiente, proprietário de imóvel rural ou urbano;


b) que a área seja exclusivamente rural;
c) que a área a usucapir não seja superior a 50 hectares;
d) que o usucapiente investido na posse esteja tornando a terra
produtiva por seu trabalho ou de sua família;
e) que o usucapiente tenha na terra a sua moradia.

O procedimento está previsto nos artigos 941 a 945 do CPC.

Art. 941 - Compete a ação de usucapião ao possuidor para que se lhe


declare, nos termos da lei, o domínio do imóvel ou a servidão predial.

Art. 942 - O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e


juntando planta do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome
estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por
edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado
quanto ao prazo o disposto no inciso IV do Art. 232. (Alterado pela L-
008.951-1994)

Art. 943 - Serão intimados por via postal, para que manifestem interesse
na causa, os representantes da Fazenda Pública da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. (Alterado pela L-
008.951-1994)

Art. 944 - Intervirá obrigatoriamente em todos os atos do processo o


Ministério Público.
70

Art. 945 - A sentença, que julgar procedente a ação, será transcrita,


mediante mandado, no registro de imóveis, satisfeitas as obrigações
fiscais.

Às normas processuais para requerer-se o usucapião, além do CPC,


aplica-se a Lei nº 6.969/81 que, embora tenha sido revogada na parte
material do usucapião, ainda vige no tocante

às normas processuais judiciais; eis que foram revogadas as


disposições processuais para se conquistar o usucapião através de
processo administrativo.

No tocante ao processo judicial para declaração de usucapião, deve-se


aplicar o estatuído na Lei 6.969/81, que é o seguinte :

1) requisitos da inicial – o autor da ação de usucapião especial


rural, respeitando os elementos formais do art. 282 do CPC,
deverá fundamentar seu pedido com a sustentação de que
a) não é proprietário de imóvel rural ou urbano;
b) que a posse é quinqüenária, ininterrupta e sem oposição e
que o imóvel está situado na zona rural;
c) que a área não é superior a 50 hectares;
d) que o imóvel foi tornado produtivo com seu trabalho ou
de sua família;
e) que tem sua moradia no imóvel;
f) não é imóvel público;
2) a individualização completa do imóvel usucapiendo de forma a
permitir sua transcrição no Registro de Imóveis; eis que,
diferentemente do usucapião comum (art. 942 CPC), não há
necessidade de se juntar a planta do imóvel.
3) O fornecimento de todos os elementos identificadores do imóvel
é ponto essencial para a perfeição do pedido;
4) A inicial deverá conter a citação pessoal daquele em cujo nome
esteja transcrito o imóvel, bem assim dos confinantes e, por
edital, dos réus ausentes, incertos e desconhecidos.
5) Deverá ser cientificados por carta, os representantes da Fazenda
Pública da União, do Estado e do Município, no prazo de 45 dias.
6) A inicial poderá ainda pedir o benefício da gratuidade de justiça.
7) Demais requisitos da inicial (Art. 282, CPC).
71

8) O Ministério Público intervirá obrigatoriamente em todos os atos


do processo.(art. 5º, § 5º da Lei 6.969/81)

O rito da ação de usucapião especial rural é o sumário (art. 275 CPC) e


a audiência inaugural não poderá ser em prazo inferior a 45 dias, tendo
em vista que as Fazendas Públicas serão citadas por carta e terão
prazo para se manifestarem em 45 dias (art.5º, § 3º, Lei 6.969/81).

5.5 - SERVIDÃO

O objetivo da servidão é proporcionar utilidade para o prédio


dominante e gravar o prédio serviente, pertencente a outro dono,
devendo a mesma ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis.

A servidão está tipificada no Código Civil, nos artigos 1.378 a 1.388. E


a servidão rural segue os mesmos preceitos ali instituídos.
Consequentemente, na forma processual será utilizada, por
empréstimo, a do CPC.

O art. 1379 do CC estabelece que adquirirá, por usucapião a servidão,


aquele que, por exercício incontestado, contínuo e de boa-fé, exercer
por dez anos uma servidão aparente.

5.6 - ANTICRESE

Prevista no art. 1506 do Cód. Civil, na anticrese entregar-se-á o imóvel


para exploração, a fim de perceber, em compensação da dívida, os
frutos e rendimentos que dela advier.

Art. 1506 – Pode o devedor ou outrem por ele, com a


entrega do imóvel ao credor, ceder-lhe o direito de
perceber, em compensação da dívida, os frutos e
rendimentos.

5.7 - AQUISIÇÃO DE IMÓVEL RURAL POR


ESTRANGEIROS

A CF/88 em seu artigo 190 assim disciplina :


72

Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de


propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e
estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso
Nacional.

O regramento está previsto na Lei nº 5.709, de 07 de outubro de 1.971.


Dentre as exigências mais importantes, encontra-se o requisito de que
o estrangeiro resida no território nacional e que a área de aquisição
não poderá exceder a 50 módulos :

Art. 1º O estrangeiro residente no País e a pessoa jurídica


estrangeira autorizada a funcionar no Brasil só poderão
adquirir imóvel rural na forma prevista nesta Lei.
§ 1º - Fica, todavia, sujeita o regime estabelecido por esta lei a
pessoa jurídica brasileira da qual participem, a qualquer título,
pessoas estrangeiras físicas ou jurídicas que tenham a maioria
do seu capital social e residam ou tenham sede no exterior.
§ 2º - As restrições estabelecidas nesta Lei não se aplicam aos
casos de sucessão legitima, ressalvado o disposto no art. 7º.

Art. 3º. A aquisição de imóvel rural por pessoa física estrangeira não
poderá exceder a 50 módulos de exploração indefinida em área
continua ou descontinua.

§ 1º. Quando se tratar de imóvel com área não superior a 3 módulos, a


aquisição será livre, independendo de qualquer autorização ou
licença, ressalvadas as exigências gerais determinadas em lei.

Art. 7º - A aquisição de imóvel situado em área considerada


indispensável à segurança nacional por pessoa estrangeira,
física ou jurídica, depende de assentimento prévio da
Secretaria-Geral do Conselho de Segurança Nacional.

Verifica-se, então, que este artigo 1º estabelece as seguintes condições ao


estrangeiro :
1) Residência no país; conceito de residência de estrangeiro no
país, estabelecida pelo art. 2º do Ato Complementar nº 45 de
30.01.1969 : permanência “definitiva”;
2) Limites de aquisição : até 03 módulos fiscais de exploração é
livre de restrição; mas é necessário ter a autorização e
acompanhamento do INCRA (art. 7º do Decreto 74.965/71);
3) De 3 a 50 módulos ; regras específicas;
4) Acima de 50 módulos : depende de ato do Presidente da
República;
73

5) Em um mesmo município ao estrangeiros (PF e PJ) não poderão


ter acima de 25% do território daquele;
6) Os estrangeiros de mesma nacionalidade não poderão possuir
acima de 40% dos 25% do ítem anterior, ou de 10% da área de
um município (art. 12 da Lei 5.709/71).

Os fundamentos justificadores da edição de medidas de limitação,


restrição na aquisição de imóvel rural por estrangeiro resumem-se em
três :

1) defesa da integridade do território nacional;


2) a segurança do Estado;
3) a justa distribuição da propriedade.

A Lei estabelece a obrigação dos cartórios de Registros de Imóveis,


sob pena de perda do cargo, de remeter à Corregedoria da Justiça dos
Estados a que estiverem subordinados e ao Ministério da Agricultura,
a relação das aquisições de áreas rurais por pessoas estrangeiras,
seja ela pessoa física ou jurídica.

A Lei nº 6.634/79 que dispõe sobre a Faixa de Fronteira, a qual, de


forma incisiva limita, restringe, condiciona e controla a aquisição por
estrangeiro, tanto de pessoa física como jurídica, de imóvel rural,
localizados na faixa de 150 km, de importância capital para a Região
Amazônica.

Desta forma, o estatuído no art. 5º da CF/88 sobre os direitos de


igualdade entre o cidadão brasileiro e o estrangeiro, não se pode
entender como direito de igualdade absoluta. O estatuído ali tem por
objetivo fixar como entendimento de igualdade de oportunidades, uma
vez que a CF/88 não busca igualdade absoluta, mas sim a efetiva
possibilidade de todos obterem o almejado em igualdade de
condições.

5.8 - DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE


SOCIAL

Já falamos sobre este item ao discorrer o capitulo da Reforma Agrária,


a qual é feito para atender a interesse social. Todo o procedimento
para a desapropriação para fins de reforma agrária já foi estudado ali.
74

- DESAPROPRIAÇÃO POR CONFISCO

Esta modalidade está prevista na CF/88 no artigo 243 :

Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem


localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão
imediatamente expropriadas e especificamente destinada
ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos
alimentícios e medicamentos, sem qualquer indenização
ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.

Na esteira da CF/88, a Lei nº 8.257 de 26/11/1991 e o Decreto nº 577/92,


também dispõem sobre os procedimentos para a expropriação das
glebas nas quais localizarem culturas ilegais de plantas psicotrópicas
e dá outras providências.

A mencionada proposição legislativa (Lei 8.257/91), em seu art. 1º,


assim destaca, repetindo o exposto no art. 243, CF/88 :

Art. 1º - As glebas de qualquer região do país onde forem localizadas


culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente
expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de
colonos para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos,
sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções prevista em lei, conforme art. 243 da Constituição Federal.

Já o art. 9º da Lei nº 8.629, de 1993, destaca que não será considerada


produtiva a propriedade em que ocorra pelo menos uma das seguintes
situações:

1) constatação de trabalho escravo ou utilização de mão-de-obra de


pessoa sujeita à situação análoga à de escravo em imóvel rural;
2) exploração de trabalho infantil;
3) existência de crime ambiental, nos termos da legislação
especial; e
4) presença de culturas ilegais de plantas psicotrópicas

5.10 – USUFRUTO
75

O usufruto pode recair sobre bens imóveis e, deve ser constituído


mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis. Empresta-se, no
caso de usufruto rural, o disposto nos artigos 1.390 a 1.410 do código
Civil, já estudado no pretérito, na disciplina de “Direito Civil”.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

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