Vous êtes sur la page 1sur 15

Os Desafinados

- Estamos ouvindo Glória Baker. Quem viveu no final dos anos 60 conhece muito bem a voz
dessa brasileirinha que sempre esteve entre nós através do grupo "Os Desafinados".
- Aliás, gravou 3 LPs com eles.
- Exatamente isso.

- Maravilhosa.
- Glória Baker faleceu semana passada num desastre de automóvel em Basel, na Suíça.

- Alô. É ele. Opa! Tudo bom? Lembro. O que você manda? Pois é, rapaz... eu ouvi. Que
negócio terrível né? Sei... Ah, bacana. Tenho, tenho muita coisa. Tenho um monte de
gravação, um monte de imagem inédita, tudo daquele tempo.

- Bom esse sax né?


- Não tá reconhecendo não?
- Não, quem é?
- Meu filho Ronaldo, porra!
- Ronaldo? Aquele "pixote" [menino] tá assim?
- Você precisa ver o mulheril em cima dele. Cara, até parece eu e meus tempos...
- Tá bom de dar proxa né? "Meu garoto... meu garoto..." Parabéns! O Dico te ligou?
- O que ele quer?
- Marcar um encontro lá no Manolo. Prestar uma homenagem à Glória. Sei não viu.

- Eu fico esperando você me ligar então? Tá falado? ... Vai rolar! Vai rolar! Aqui, olha. Estes
que eram os caras, olha. "Os Desafinados"...

- Davi! Bora, pô!


- Calma, eu tô indo!

- Por favor, o cônsul Carlos José tá me esperando.


- Ele está ocupado no momento. Com quem eu estou falando?
- Com o Paulo César Schmidt de Medeiros.
- Um momento. Com licença.
- Ah, não tem como negar que você é filho da Mônica! Até no atraso! Eu esperava você mais
cedo.
- É, mas... dá tempo?
- Agora? Olha o quanto de gente tem aí. Muitos instrumentistas. Vocês têm um vocalista, não
têm?
- Não, não. A turma aqui é tudo instrumental.
- Mas não dá pra arrumar um?
- Um vocalista?
- "Uma"... Seria melhor ainda!

- Vou dizer pra vocês qual o grande problema da Bossa Nova na minha opinião. Eu acho que é
muita... "tardinha", "bonitinho", "barquinho", porra é muito "inho"... Entendeu porra? Tinha que
pegar essa música aí dar um waaa pra dar uma porra!
- Que "waa", Dico? Que papo é esse? Tá parecendo um papagaio falando... chega de fossa...
- Não tô falando mal da Bossa... só que uma temática socialmente um pouco mais forte não ia
fazer mal, muito pelo contrário...
- Dico, Dico, eu não sou crítico, eu sou músico, tá? Vai fazer seu filme... e me devolve o disco
que te emprestei...
- Não esquenta. Tu tá falando isso pra caralho tem 4 dias... Eu só queria dizer que a arte é
produto da nossa qualificação como sociedade. Tá me ouvindo aqui, Joaquim? A arte é produto
da nossa qualificação como sociedade...
- Dico, tá muito chato! Toma um café aí!
- Eu não quero café! Mas eu comeria alguma coisa...
- Oi, pai.
- Vai, vamos lá. Não. É um "fá".

[Música "Quero Você]

Quero você
como as águas precisam do mar.
Sem ter você,
desespero vendo o tempo passar.
Quero o teu carinho impossível
diferente,
como tudo o que vem de você.
No infinito dos teus olhos encontrarei
a paz perdida.
Olha pra mim
e verás quanta coisa ocultei.
Foi triste sim,
de saudades mil tormentos passei.
Chega pertinho e confessa
que também sente falta de mim.
Sei que voltou pra ficar,
afinal encontrou seu lugar...

[falas em inglês]

- Parabéns. Parabéns. Parabéns... Olha, foi muito bom. Pode ficar tranquilo. Já tá tomada uma
posição. Assim que tiver o dinheiro, eu te ligo.

- Pô, essa graninha caiu do céu hein?


- "A thousand dollars"... podia ter sido melhor, podia ter sido melhor... mas já deu pra faturar um
dinheirinho!
- Por isso que eu gosto de americano: é pá-pum, não tem conversa!
- É... mas... fico com uma sensação esquisita...
- Por que?
- Sei lá. Tô com saudade da música. Agora ele é dono da música. A música é dele!
- Ah, mas o nosso nome é que vai aparecer. Pensa só, se essa música estourar nas paradas,
ele vai querer recuperar a grana. Americano é foda!

- Dessa vez você exagerou!


- Que isso? São coisas pequenas, coisas do dia-a-dia! Não "encrespar" [dar problema] com
uma mercadoria dessa né?
- Eu já deixei problema contigo alguma vez?
- Não.
- Só que tem o seguinte... Vou precisar dum negócio seu aí... uma grana pra uma
viagem. Te pago na volta. Senão a gente vai descontando nesse esquema, entendeu?
- Não vai querer que eu assine sua carteira, né chefe? ["assinar carteira"=registrar trabalhador]
- Sério. Isso aqui, a grana tem que sair agora, entendeu? Porque a viagem pra Nova York é
agora!
- NOW?
- É.

- Tô grávida... do Mário.
- Do Mário?! Glorinha, como é que você me faz uma coisa dessas?
- Antes com ele né... ninguém vai poder dizer que te enganei!
- Você nunca jurou amor eterno mesmo né...? Mas também não achava que era uma
coisa tão passageira... quer dizer que fiquei na mão? Corneado pelo próprio corno?
- Para com isso. Para com isso... Aproveita que você vai pra Nova York... dá uma arejada. Fica
mais moderno!

- Fecha os olhos. Fecha os olhos, seu teimoso!


- O que é, Lu?
- Pode abrir.
- O que é isso?
- Onde você arrumou esse dinheiro?
- Segredo.
- Tô falando sério, Lu. Onde você arrumou isso?
- Consegui.
- Como?
- Consegui... pedi emprestado...
- Pra quem?
- Ai, Joaquim!
- Eu só quero saber! Onde você arrumou isso?
- Eu vendi aquela coleção de gravuras que o vovô me deu. Deu uma bela duma grana!
- Você tá louca, Luiza? Aquilo é uma raridade, a gente não tem nada certo nessa viagem...
- Joaquim, Joaquim! Meu amor, seu momento é esse! Essas coisas não se repetem na vida
não!
- Mas você quer que eu viaje e te deixe aqui assim?
- É!
- Claro que não, pô! Eu fico preocupado!
- Mas não fique... não fique... pensamento positivo. Vai dar tudo certo!
- Oi Idalina. Mamãe tá bem?
- Como Deus quer né...
- Sabe que olhando assim, eu tô te achando bem gostosa...
- Tá ficando maluco?!
- Uma hora dessa eu vou te pegar na cozinha de jeito!
- Você me respeite!

- Vou viajar pra Nova York também, mãe. Não, não precisa ficar preocupada. A Idalina tá
aqui. Daqui a pouco eu volto. Vou comprar minha câmera. Claro que é mais barato. Só com o
dinheiro que vou economizar no aluguel vou comprar minha passagem. A senhora não acha
que é uma boa economia?

- Manolito! Pra beber! Comemorar! Um conhaque? Mais caro? Preço de custo?


- Aí, o Dico me deu uma ideia. Vai comprar uma câmera em NY eu também vou comprar um
negócio também. Em vez de levar um baixo acústico, vou comprar um "fender jazz bass"! Ih,
vai ser da pesada! E fica mais fácil de carregar.
- Ah, não sei não, Geraldo. O acústico, o som é sempre melhor né.
- Preconceito. Eu já ouvi o som, é da pesada. Fica tranquilo, eu não dou furo não, rapaz!
Agora... olha, não fica com ciúme não. Você é meu parceiro, meu companheirão. Além de tudo
é bem mais bonito.

- E aí?
- Não tem aí.
- Como não? O que disseram?
- Que o elenco tá completo. Pronto.
- O que? Não tinha a jogada do cara do Itamaraty? [tipo "MOFAT" na Coreia]
- Geraldo, não tem Itamaraty. Quem escolhe é o gringo!
- O gringo é o que estava mais empolgado! O cara comprou "Eu Quero Você" sem pistolão
nenhum. Quem te falou isso?
- O cônsul me mostrou a lista.
- Foda-se. Não deu, não deu. Até que é melhor, a gente tá muito cru ainda.
- Que muito cru!? Tinha gente pior! Lembra lá do sabadaga... sei lá! Deve tá lá na lista agora.
- Davi, nem fala mal tá? Eu acho que foi esse seu inglesinho de araque que fudeu a gente!

- Ei! Estou no telefone! Ah, deixa pra lá...

- Aí. Quer saber? Vamos pra NY na marra! Joaquim, Joaquim... é o teu momento, é o teu
momento. O gringo se amarrou na sua música.
- Na nossa música né?
- Vamos embora!
- É na meada que a gente cresce. Vou jogar minha passagem no lixo não! Ó, vou na frente, e
compro os ingressos pro Carnegie Hall. Vamo ou não vamo?
- É isso! Nova York!
- Aqui vamos nóóóóóssss!!!

- Ih lá! O Dico já comprou! Marcou o território também. Aqui é dele.


- Vamos embora, gente.
- Ih, só duas camas?
- Depois a gente vê. O Dico tá lá esperando!

- Rapaz, tá congelando tudo aqui embaixo. Vai quebrar!


- É que como somos da tribo do "saco liso", sentimos muito mais frio.
- Como assim?
- Eles têm muitos pelos aqui embaixo.
- Como você sabe disso?
- Davi. Davi me disse.
- Eu? Ô Quim! Tá com a mão limpa aí?
- Não, obrigado. Nós, não. Nós somos uma espécie diferente. Devido à adaptação aos trópicos,
temos poucos pelos. Daí o termo: "sacos lisos"!

- Vocês podem observar que o cavalheiro faz a curva sem sequer inclinar o corpo. Reparou na
elegância? Sistema de aquecimento interno!

- Dico! Dico! New York!


- Tá na hora. Vamo embora?
- Não consegui os tickets.
- O que? Como assim? É piada!
- 3 dias que tô vindo aqui. Tô plantado aqui faz 3 dias. Sério, Quim. Não consegui.
- Tá bom, tá bom. Passa pra cá!
- Não consegui! A cidade toda querendo ver esse show. Não consegui.
- Sério?
- Desculpa. Não foi falta de tentativa. Desculpa. Tô aqui há 3 dias tentando. Tudo "sold out" aí!
- Será possível que viemos do Rio de Janeiro até aqui pra não poder entrar?
- Então acho melhor eu ir entrando...
- Entrar pra onde?
- É porque eu consegui um... tinha um japonês que tava vendendo...
- Não!
- Tinha um... aí eu...
- Tá certo. Tá certo. Não dá pra entrar, o show é aqui então! Liga essa câmera aí. Vamos tocar!
- Não vamos ficar parados no frio né!

- Olha os caras...

[falas em inglês]

- Aquilo gringo é... (gay) não?


- Ahhh esse galo põe ovo! hahaha Olha a pinta da figura!

- Ó, não vai esquecer de mim. Se tiver um pra mim eu tô dentro!


- E eu vou esquecer de você?
- Ih rapaz, que maravilha!
- Presente do americano... que cidade louca, que cidade louca...
- Porra, sensacional!
- Nem acredito que estou aqui. Vocês tocaram muito!

- Americano é diferente né.


- Ah, eu sou de Niterói né!
- Então. Completamente diferente.
- Diferentaço! As pessoas não se falam, as pessoas não se olham!
- Cidade grande também né...
- Entendeu? Não é que não se falam... elas não se olham! Acho isso esquisito, não sei cara...
Isso aqui me lembra Antonione... isso aqui é Antonione, porra, é a incomunicabilidade, essa
solidão... é gente pra caramba, mas ao mesmo tempo não........ tô com umas ideias novas aí, tô
pensando em fazer meu filme "Plano Sequência"...
- Plano Sequência é lento, Dico! Filme de ação!
- Não é um filme de ação. Tem ação, mas não é um filme de ação!
- Tá bom, o filme é teu...
- Não, o filme é meu, mas a trilha é sua, a gente tava fazendo, quereo que você pense isso
comigo... mas que isso aqui é esquisito... sei lá... tô sentindo algo estranho...
- Escuta! É lá! Vem, vem!

[Música "Copacabana"]

Copacabana princesinha do mar,


Pelas manhãs tu és a vida a cantar,
E a tardinha o sol poente,
Deixa sempre uma saudade,
Na gente

Copacabana o mar eterno cantor,


Ao te beijar, ficou perdido de amor,
E hoje vive a murmurar, só a tí,
Copacabana eu hei de amar

- Te vi outro dia na porta do teatro, não era você?


- Brasileira! Então tá certo!
- A vida me trouxe cedo pro mundo, e o Brasil ficou menor pra mim. Tem tanta coisa pra
aprender fora de lá... e o mundo tá aí ó, mudando a cada minuto.
- Que isso? Vai fumar isso assim? Aqui no meio da rua? É liberado?
- Não, é rapidinho. É só tomar cuidado. Só um "have a nice day"!

- Tchau. Esse negócio de subway... vamo andando, vai!


- Você conhece Brasília?
- Não. Quero dizer, de fotografia... já vi...
- Sabe que eu sou fascinada pela ideia de Brasília? Não sei, dá uma sensação de convivência
com o futuro, passando por cima do presente. Muito doido Brasília! Você não acha?
- Isso é o Brasil né...
- É, mas da mesma forma que me fascina, me assusta também. Não sei, eu preciso
do presente. Do agora, assim. Sabe o que mais me faz sentir o Brasil de verdade?
- O que?
- "Carinhoso", do Pixinguinha. Taí. Isso é que é o Brasil pra mim: "Carinhoso"!

Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.
Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor...

- É aqui?
- É. É aqui que eu moro. Não quer subir?
- Mas já amanheceu! Nem vi passar! Eu vou indo...
- Sabe o que eu acho?
- O que?
- Que você não vai embora.

- E aí, Dico!
- E aí, parceiro!
- Bom dia.
- Bom dia. Tô indo embora. Arrumei um lugar pra ficar, com uns amigos da minha mãe. Tô
dando baixa no hotel. Cadê o Quim? Tem que ligar pro Bill.
- Que Bill?
- Bill que você tá falando é qual? Aquele que comeu o seu "chibill"?
- Fica de piada aí... Eu tô falando sério! Tem que ligar pro Bill. Não bobeia não.
- Pode deixar, eu falo com ele.
- Esse aqui é o telefone de onde eu vou ficar. Qualquer coisa vocês me ligam.
- Isso aqui é um "1" ou é um "7"?
- É um "8"!
- Puta que pariu!
- Ah, Gera! Lembrei aqui cara! Teu fender jazz bass. Tu vai encontrar ele na 48, esquina com
Times Square. Nome da loja: Sammesh.
- Se mexe?
- Se mexe você! Sammesh. Vai lá!
- Aí parceiro! Valeu!
- Me ajuda aqui. Seu vagabundo! Não acorda nunca!
- Tchau, Dico!
- Viado!

- 4 dias fora, cara! Onde é que você tava? A gente tava preocupado com você. Onde é que
você tava??
- Ah... in heaven!
- Podia ter mandado notícia do "heaven", mané!
- Ué! Comprou?? Que beleza! Geraldão de baixo elétrico!
- Resolvi a sequência do assassinato...
- É? Fala...
- Espera. Você tá indo também?
- "Também" por que?
- Porque o PC foi pra casa de uns amigos da mãe...
- Ah é? Tem nada não. Vamos todo mundo arrumar malinha, que eu arrumei um lugar pra
gente ficar!
- É? Vamo pra onde hein?
- Pra onde? Pro palácio de uma princesa...
- E a princesa sabe que a gente tá indo?
- Of course, my friend! Eu sou doido, mas não sou maluco!
- Joaquim! Deu um susto na gente!
- Ô, meu galinhão favorito! Eu tava no céu, meu amigo! Não conseguia pensar em mais nada!
Era tudo que eu precisava e não sabia!
- É muito cara-de-pau! Vem cá, me explica essa história direito! Tá muito mal contada...
- Ô Quim!
- Que coisa horrível! Cadê a loção? Tá um fedor horroroso esse banheiro!

- Dico, copião tá uma merda. Tem que mandar lavar. Aqui. Tá tudo assim. O negativo pode
estar bom. A gente pode selecionar o que tá bom e mandar pro laboratório.
- Tá, vamos fazer isso aí. Alô? É ele. Oi? Desculpa, não tô te ouvindo, repete... agora tô.
- Dico, tenho um lance aqui que pode ajudar muito a vender o especial.
- Ah é? O que é?
- O filho da Glória tá chegando no Rio! Já pensou? Isso dá um grande gancho pro jornalismo.
Se chama Tony Goldfaber.
- Goldfaber...
- Já pensou? O problema é que eu tô sem equipe pra fazer isso. Meu prazo tá apertadíssimo.
- Mas então... por que é que a gente não resolve aqui mesmo, pela minha produtora?
- Aí é que tá o "pulo do gato".
- Posso fazer uns depoimentos do pessoal dos Desafinados... pensa aí, de repente, um show
de reencontro, uma coisa assim. São todos meus amigos de infância. Eu falo com eles.
- Mas olha. Com autorização, direito de imagem e o escambau (tudo).

- Fala, Rey Charles! Tudo bom? Em terra de cego, quem tem ouvido é rei!
- Manolo! Tranquilo?
- Só assim mesmo pra vocês aparecerem...
- Ih, olha aí quem tá aí! Ih, rapaz! Como é que tá?
- Tudo bem?
- E aí negão?

- E aí?
- Tamo vendo essa coisa linda...
- Vai beber alguma coisa, senhor?
- Quero um conhaque. Na conta do Manolo esse aí.
- Traz mais um e põe na conta dele também.
- Vamos dar uma geral na conta do Manolo...
- Andei pensando esses dias. Na verdade a gente nunca se separou né? Porque ficou um
negócio forte, bonito entre a gente né?
- Coisa de viado né!
- Você também podia ter se tornado um arquiteto como eu. O cinema te engoliu e a música me
abandonou.
- Voltando aquele papo. Eu tava pensando em relembrar o nosso encontro com a Glória,
com uma conversa filmada. Fazer um filme, um DVD. Porque eu tenho todo aquele
material do tempo dos Desafinados. A gente podia pensar nisso, o que vocês acham?
- Por mim tudo bem. Você pode fazer, você tem o material.
- Tá meio "esculhambado". Tô tentando recuperar isso aí com o pessoal da televisão.
- Essa história de TV sempre rola um grana danada, mas estão sempre fudendo a gente com a
história do cachê né?
- A gente pode fazer isso aqui mesmo. Posso dar um toque pro meu assistente trazer a
câmera.
- Vai nessa.
- Ah não, espera aí. O sinal aqui tá uma merda. Eu vou falar ali...
- É o mesmo. É igualzinho!
- Essa história de celular que não pega...
- Continua a mesma figurinha... Não mudou nada!
- Ó o jeitão dele, disfarçando!
- Caio, tudo bom? Escuta, pega uma câmera e se manda pra cá. Pro Manolo, porra! Não, acho
que... bom, traz 2 mil... mas tem que ser já.

- É. O tempo é cruel...
- Você tá com quantos anos, PC?
- Sei lá. Eu sou do tempo que tinha muito mais gente viva.
- Muito mais. E bota gente nisso!
- Glória... a primeira imagem que me vem na cabeça é dela abrindo a porta pra gente de blusa
vermelha... uau!

- Você toca também?


- Não, não toco nada. Eu faço cinema, sou cineasta.
- Ah é? Que ótimo! O cinema deve tá esquentando no Brasil né?

- Tava fazendo café. Alguém quer café?


- Eu quero.
- Café brasileiro?
- É.
- Forte?
- Você gosta forte?
- Fica à vontade aí.

- Aí Davi, me disse "bonjour" e tudo...


- Quem falou isso?
- A vizinha!
- Já tá de olho na vizinha?
- Entrega pra mim?
- Claro.
- Se não puder passar lá em casa, põe no correio.
- Não, eu vou lá ver a Luiza. Entrego pessoalmente.
- E aí, tudo pronto?
- Tá quase. Chegando a hora né. Só pegar a malinha e... Rio de Janeiro! E essa vizinha aí?
- É uma francesa maluca.
- Geraldo?
- Geraldo...

- Agora é de verdade, tô indo mesmo! Vê se aprende a tocar bateria nesse tempo que você vai
ficar aqui.
- Vê se toma um banho quando chegar lá!
- Isso. Vou tomar sim. Mas aproveita pra estudar bateria nesse tempo que você vai ficar em
Nova York. Vocês estão em Nova York, seus safadões! Nova York, porra! A gente se vê no
Brasil.

No infinito dos teus olhos encontrarei


a paz perdida.
Olha pra mim
e verás quanta coisa ocultei.
Foi triste sim,
de saudades mil tormentos passei.
Chega pertinho e confessa
que também sentiu falta de mim.
Sei que voltou pra ficar,
afinal encontrou seu lugar...

- O que ele disse?


- Ele fez a versão e registrou no nome dele também...

- O que ele tá dizendo?


- A letra tá completamente diferente.
- E mesmo assim ele vai ganhar metade da nossa metade?
- Claro. Ele comprou a música. Eu falei que isso ia acontecer.

- Vamos gravar amanhã.


- Então ficou pra amanhã.

- E aí?
- Tô puto nas calças!
- Não esquenta não... isso se resolve. Vai tomar um banho... pra relaxar!
- De água gelada... eu não vou não...
- Coragem, irmão...
- O boiler quebrou!
- Vamos celebrar, não seja um otário, é dia de festa, meu aniversário. Meu aniversário!
- Eu pensava que era no sábado!
- Eu sabia que você ia esquecer!
- Eu tava com o sábado na cabeça!
- Vamos brindar!
- Saúde!
- Twenty-five!
- Tá ficando velho...
- 1/4 de século!

- Cartão do Dico.
- Lê aí!
- Amigos queridos, por onde andam vocês? Afinal saiu a grana pro meu filme. Estou
animadíssimo e ansioso pela volta de vocês. Espero estar filmando dentro de 8 semanas.
Vamos trabalhar? As coisas aqui estão fervendo, em todos os sentidos. Voltem pra casa. O
lugar de vocês é aqui.
- Vem cá. Você acha que vai ficar aqui de graça também? Pode vir ajudar!
- Ele é um safado! O negócio dele é comer!
- Ah, agora falou tudo! Sabe o que me deu vontade de comer hoje? "Rabada com agrião"...
Não aguento mais esse negócio de falafel, pretzel, chega disso... eu quero é uma caipirinha...
- Toma um vinho por enquanto! Não reclama, bebe!

- Caramba, que surpresa! Como você tá? E essa barriga, como tá? 8 meses já? Nossa! Eu aqui
já virei picolé várias vezes... Tô precisando pegar uma onda em Ipanema. Ele tá aqui, Luiza. É,
tá mais velho do que ontem. Dá um beijo no Rio por mim!

- Oi Lu, que bom te ouvir! Obrigado, meu anjo! Eu também, mas... é caro né, não dá pra ficar
telefonando. Como você tá? E a Miranda? Muita saudade de vocês. A gente se mudou do
hotel. Pra casa daquele produtor, o que comprou a música. Exatamente. Eu tô bem, sem
problemas. Não, não... diferente, por que? Mas tô com saudades. Mas daqui a pouco eu tô
aí. Toma conta dela que já tô chegando. Tá bom. Também. Tá. Fica com Deus então. Tá. Um
beijo. Tá bom. Obrigado! Beijo! Tchau!

- Desculpa. Desculpa, eu queria ter te falado.


- E por que não falou?
- Porque eu não podia perder você, Glória!
- Como é que você sabia que ia me perder? Que desculpa covarde é essa?
- Não é desculpa, é verdade! Não fica com raiva de mim!
- Quem é que tá com raiva?
- Tá bom, eu fui egoísta. Eu vivi o que eu tava sentindo, Glória. Só isso. Nunca quis te magoar.
Nunca pensei que eu podia magoar você!
- Nunca pensou? Você nunca pensou? Volta pra casa.
- Para com isso...
- Volta pra casa. Tá tudo lá te esperando. Música, amores, filhos, natureza... Sabe que esse
sonho de ganhar a América pode virar um pesadelo? Vocês têm um país inteiro pra fazer...
volta! Volta pra lá!
- A gente pode arrumar um outro lugar pra ficar, não precisa falar assim comigo...

- Você quer mesmo que eu vá embora?


- Não sei...

- Puta que pariu... A gente marcou alguma coisa?


- Que horas são?
- Sei lá...
- Acordou agora? E tá todo mundo dormindo? A gente não tinha marcado pra ensaiar outra
música pra mostra pro Bill?
- Ih, é mesmo... vou jogar uma água no rosto.

- Dormi nada. Eu te amo.

- Algum de vocês pode me ajudar com esse tampo aqui, por favor? É só colocar pra lá.
Obrigada.

- Os meninos já ouviram falar em "Lady Godiva"? Não? Espero que não haja nenhum "Peeping
Tom" por aqui.

- Agora vocês vão ficar bem ceguinhos, e retribuir a hospitalidade da dona da casa, porque ela
precisa tomar um banho bem quente. OK?

- Joaquim. Pega a toalha pra mim?

[Música "Caminhos Cruzados"]

Quando um coração que está cansado de sofrer,


Encontra um coração também cansado de sofrer,
É tempo de se pensar,
Que o amor pode de repente chegar.
Quando existe alguém que tem saudade de outro alguém
E esse outro alguém não entender,
Deixa esse novo amor chegar,
Mesmo que depois seja imprescindível chorar.

- Você acha mesmo que é ela?


- Quer ver?
- Ver o que?
- Miranda, você acha que eu devo ir? Prova pra tua mãe. Dá uma mexidinha aí.
- Tá vendo? Não mexeu.
- É porque ela não quer que eu vá.
- É porque ela não quer que a chame de "Miranda". Miranda é sobrenome!
- Miranda é lindo!
- Depois, ela quer que você vá sim, senhor!
- Tá vendo, você falou "ela".
- Não muda de assunto, Joaquim! Chegou a sua vez! A gente vai ficar bem.
- Vamos mesmo?
- Eu te garanto.
- Eu amo você.
- Eu também. Amo muito!

- Ah, não dá mais não. Tá na hora de voltar. O bebê vai nascer daqui a pouco. Também tô me
sentindo culpado. Eu penso nisso o dia inteiro!
- Ah, que isso! Relaxa! Para com isso! Sabe de uma coisa? Eu queria mesmo era morar aqui!
Olha isso aqui! Um lugar que tem um lixo desses!
- Tira a mão daí! Isso é lixo!
- O lixo aqui é rico!
- É rico e sujo!
- Sujo nada. Vamos dar uma limpeza, eu forro ele, e vou dormir nele!
- Você não sabe quem sentou nisso. Vamos embora! Davi... vamos embora...
- Não, vamos levar esse sofá!
- Eu durmo no chão. Eu durmo no chão. Tá bom?
- Nesse frio, você vai dormir no chão? Esse sofá aqui tá uma beleza! Olha isso aqui!
- Oh! Aqui tem cadeira elétrica! Cadeira elétrica! Não é Niterói não!
- Que cadeira elétrica! Outro dia vi um cara levando uma TV no ombro! Pega aí. Ajuda aí! Bota
as compras aí em cima e vamos! Embora!
- A gente vai levar o sofá até em casa?
- Ah, é pertinho. Uma esquina, um quarteirão.
- Não vou fazer isso não. É muita humilhação! Dorme aí, mendigo!
- Pega aqui, Quim! Para com isso! Sofá novinho! Ô, Quim!

- Prefere ficar aqui no gelo...


- É melhor assim.
- É melhor pra quem, homem branco? Tá difícil hein!
- Claro, fica puxando a coberta!
- Eu fico puxando?? Ela deve ter outra coberta né? Vou lá perguntar se ela tem.
- Então vai.
- Quim, tava pensando no quentinho daquela cama... ahn? Com aquele corpinho
enroscadinho... coladinho assim no teu... tô te estranhando...
- Sossega, Davi! Porra! Não enche o saco!
- Eu não me responsabilizo por nada de anormal que aconteça hein!

- Oi Glória!
- Tá acordado ainda?
- Posso entrar? Você tem outro cobertor?
- Não, não tenho não. Quer tomar alguma coisinha pra esquentar? É bom.
- Pode ser. Sem cobertor, só assim mesmo né!
- Senta aí. Vou ver o que eu tenho aqui... mmm olha que ótimo! Uma cachacinha!

- O Joaquim ainda tá acordado?


- Não, já dormiu.
- Filho da puta!

- Porra, Gera! Tá molhando tudo aqui cara! Você tá apertando no lugar errado, tá vazando...
- Malandro fica só dando palpite... ajudar que é bom nada...
- Aí que beleza!
- Onde você tava?
- Fui resolver um negócio.
- Beleza!
- Mas tem notícia boa!
- Boa? Excelente!
- Fechamos com o jazz club. 3 noites! Segunda, terça e quarta!
- Aí Quim, as melhores noites lá!
- Pra mim não vai dar. Tô fora.
- Pra onde você vai?
- Marquei minha passagem pra amanhã.
- Como assim?
- Ah, não acredito!
- Tá na minha hora.
- Não não não... Quim, pelo amor de Deus! A gente tá aqui há 7 meses passando frio, fome,
problema... agora apareceu uma oportunidade pra gente tocar...
- Infelizmente a oportunidade apareceu tarde demais!
- Tá maluco?
- Eu preciso ir pô!
- Joaquim, a gente tem um projeto juntos.
- Não, Quim. Para de brincadeira. Que isso!
- Ué, cadê meu nome? O cara tirou meu nome?
- É, eu sei. Mas ele falou que vai consertar.
- Consertar? A música é minha!
- É nossa.
- Você não falou pra ele que isso é roubo?
- Ele garantiu que vai consertar. Você não fala que americano é foda? Confia!
- Quim, você só pode tá de sacanagem...
- Sacanagem nada. Minha filha vai nascer daqui a pouco e eu tô liso (sem dinheiro)!
- Eu também tô sem dinheiro, sem direitos...
- Mas eu encerrei a temporada. Desculpa. Eu preciso ir. Porra, esqueci o presenta da Miranda
na loja!
- Você tá fazendo isso por causa da Glória. Você tá puto comigo e tá querendo se vingar!
- Tá louco, Davi? Porra!
- Eu vou mesmo, brother... já volto.

- Não, você não pode ir lá agora. Eles podem voltar, é perigoso!


- Mas eu preciso pegar minhas coisas. Eu vou embora amanhã!

- Mas eles já deram o flagrante. Acho melhor você vir dormir aqui.
- O que dá pra fazer é o consulado comprar os bilhetes de volta e evitar que eles fiquem
presos. Mas não podem mais voltar aos Estados Unidos!
- Você é como eu né? Não sabe dizer adeus...

Vous aimerez peut-être aussi