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SOCIEDADES ANÔNIMAS

A presente matéria visa orientar às Sociedades Anônimas acerca das publicações legais
de atas, convocações, anúncios e demonstrações financeiras.

Procuramos destacar aspectos práticos e de âmbito geral, tais como prazos a serem
observados, obrigatoriedade das publicações e casos em que as mesmas são
dispensadas, jornais para a veiculação dos atos societários, bem como os caracteres
gráficos mínimos permitidos por lei.

Vale ressaltar que a presente matéria trata das normas gerais da Lei n. 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, com as modificações objeto da Lei n. 9.457, de 05 de maio de 1997,
e da Lei n. 10.303, de 31 de outubro de 2001, aplicáveis às sociedades anônimas em
geral.

Cabe a cada S/A verificar as normas específicas aplicáveis ao seu caso em particular,
sem prejuízo das normas gerais. Assim sendo, as Instituições Financeiras e demais
entidades autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, deverão observar as
normas específicas expedidas por esse órgão. Assim também deverão proceder as
companhias abertas, observando as normas específicas emanadas pela Comissão de
Valores Mobiliários – CVM.

Publicações Legais ordenadas pela Lei n. 6.404/76 às Sociedades Anônimas

Edital de Convocação: A convocação far-se-á mediante anúncio publicado por três


vezes, no mínimo, contendo, além do local, data e hora da assembléia, a ordem do dia,
e, no caso de reforma do estatuto, a indicação da matéria. (art.124).

1a. Convocação: Na companhia fechada com 8 dias de antecedência, no mínimo,


contado o prazo da publicação do primeiro anúncio e na companhia aberta com 15 dias
de antecedência.

2a. Convocação: Não se realizando a Assembléia, deve ser publicado novo anúncio. Na
companhia fechada com 5 dias de antecedência e na companhia aberta com 8 dias de
antecedência.

Cabe ressaltar, que não se admite anúncios prevendo desde logo a 2a. convocação. Deve
ser publicado novo anúncio.

Dispensa da publicação: A Assembléia que reunir a totalidade dos acionistas está


dispensada da publicação do edital (art. 124 § 4o.). Atentar para o dispositivo legal que
se refere a "todos os acionistas", e não apenas aos que possuem "direito de voto".

Aviso aos Acionistas: Os administradores devem comunicar, até 1 (um) mês antes da
data marcada para a realização da assembléia geral ordinária, por anúncios publicados
por três vezes, no mínimo, que se acham à disposição dos acionistas os documentos
referidos no art. 133.

Dispensa da publicação:
a) a assembléia geral que reunir a totalidade dos acionistas está dispensada da
publicação dos anúncios (art.133 § 4o).); ou

b) a empresa que publicar o Balanço e demonstrações financeiras até 1 (um) mês antes
da data marcada para a realização da assembléia geral ordinária (art.133 § 5o.)

Balanço: O Balanço e demais Demonstrações Financeiras deverão ser publicados até 5


dias antes da Assembléia Geral Ordinária (art. 133 § 3o). A assembléia geral que reunir
a totalidade dos acionistas poderá considerar sanada a inobservância do referido prazo,
mas é obrigatória a publicação dos documentos antes da realização da assembléia (art.
133 § 4o).

Atas: Todas as Atas de Assembléias Gerais de Acionistas deverão ser publicadas.

Extrato de Ata - Tem-se observado a publicação de extrato de ata lavrada na forma


sumária, ou seja, a publicação de um "resumo" do "resumo". Isto é inadmissível.
Somente quando a ata é completa, plena, lavrada sob a forma tradicional, discorrendo
sobre todos os fatos ocorridos, aí sim, é permitido extrair um extrato para a publicação,
ou seja, um texto mais resumido, conciso, com o sumário dos fatos ocorridos e das
deliberações tomadas. O legislador é claro quando diz no art. 130 § 1o. que a ata poderá
ser lavrada na forma de sumário dos fatos ocorridos, e conter a transcrição apenas das
deliberações tomadas. E, no mesmo art. 130 § 3o. diz que, se a ata não for lavrada na
forma permitida pelo § 1o., poderá ser publicado apenas o seu extrato, com o sumário
dos fatos ocorridos e a transcrição das deliberações tomadas. Portanto, apenas para a
ata que não foi lavrada na forma de sumário, é facultada a publicação de um
extrato.

O Prof. Modesto Carvalhosa (Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, 2o. vol., pgs.
757/758, 2003) discorrendo acerca de tal dispositivo legal afirma que "Não pode ser
publicado extrato de ata sumária – Ainda que pareça despicienda a repetição do texto
claro da lei a respeito, torna-se indispensável ressaltar que é absolutamente ilegal a
publicação de extrato de ata submetida ao regime sumário".

É importante frisar, que a faculdade dada pelo legislador para as sociedades anônimas
publicarem um extrato de ata, refere-se única e exclusivamente às atas de Assembléias
Gerais de Acionistas. Tal faculdade não se estende às atas de Reuniões do Conselho de
Administração. Estas, quando contiverem deliberação destinada a produzir efeitos
perante terceiros, deverão ser publicadas na íntegra.

Artigo 294

A companhia fechada que tiver menos de 20 (vinte) acionistas, com patrimônio líquido
inferior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) poderá:

- convocar assembléia geral por anúncio entregue a todos os acionistas,contra recibo,


com a antecedência prevista no art. 124, ou seja, está dispensada de publicar o edital de
convocação; e

- deixar de publicar o Balanço e demais Demonstrações Financeiras de que trata o art.


133.
O disposto neste artigo não se aplica à companhia controladora de grupo de sociedades,
ou a ela filiadas, ou seja, suas controladas e coligadas.

Cabe lembrar que a dispensa de publicação a que se refere o art. 294, limita-se tão
somente ao edital de convocação e ao balanço. Note-se que o referido artigo não
menciona os avisos pondo à disposição dos acionistas os documentos a que se refere o
art.133. Portanto, conforme entendimento de longa data da Procuradoria da Junta
Comercial do Estado de São Paulo esses avisos deverão ser publicados.

Jornais de veiculação das publicações legais

As publicações ordenadas pela Lei das S/A serão feitas no órgão oficial da União ou do
Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar em que esteja situada a sede da
companhia, e em outro jornal de grande circulação editado na localidade em que está
situada a sede da companhia (art. 289). Vale ressaltar que as publicações legais
(convocações, anúncios, demonstrações financeiras e atas) das S/A cuja sede é, por
exemplo, no Estado de São Paulo, deverão ser feitas:

- no órgão oficial do Estado, ou seja, obrigatoriamente no Diário Oficial do Estado de


São Paulo, não se admitindo Diário Oficial da União, e

- em outro jornal de grande circulação editado na localidade em que está situada a


sede da companhia. Entende-se por "jornal" o que se publica, no mínimo, cinco dias na
semana, a exemplo do próprio Diário Oficial do Estado de São Paulo que tem cinco
publicações semanais.

E por "grande circulação" entende-se o jornal cuja distribuição é feita na localidade em


que é editado de forma regular e de fácil acesso aos acionistas.

Caracteres gráficos nas publicações legais

A Lei n. 8.639 de 31/03/93 disciplinou o uso de caracteres nas publicações obrigatórias.


O tipo de letra deve ser, no mínimo, de corpo seis, e o título deve ser do tipo doze ou
maior.

O não-cumprimento dessa determinação será objeto de exigência pela Junta Comercial,


conforme disposto no art.57 do Decreto n. 1.800/96.

Em São Paulo, de acordo com a Portaria Jucesp n. 73/98, somente serão aceitas as
publicações legais em jornais de grande circulação que utilizarem corpo de letra no
mínimo de corpo seis, com entrelinhamento mínimo de seis e meio. Não serão aceitas
publicações com caracteres condensados. As publicações a serem feitas no Diário
Oficial do Estado de São Paulo continuam obedecendo aos padrões vigentes naquele
órgão, conforme Portaria 002 de 18 de fevereiro de 2.000 da Imprensa Oficial do Estado
S/A, em seu artigo 2o. que reza o seguinte: I – o nome da empresa deverá constar de
linha (s) única (s) de abertura, não recorrido, com corpo mínimo de 12, negrito; II – o
CNPJ, título da matéria (ata, relatório da diretoria, etc.) e o restante do material será no
corpo mínimo de sete, com entrelinhamento mínimo de 7/8 (sete sobre oito).
Do exercício social e das demonstrações
contábeis

Resumo: Estamos diante de uma nova etapa na área empresarial e contábil, ou seja, a
Lei nº 11.638, de 28 dezembro de 2007 e o Decreto 6.022/2007 trouxeram varias
mudanças no campo da escrituração e das demonstrações financeiras das sociedades
anônimas e nas sociedades de grande porte. A fim de expressar, periodicamente, a real
situação do empresário, e bem como o seu desempenho, estabeleceu-se a necessidade de
aprimoramento do levantamento do exercício social e da demonstração contábil e
financeira da sociedade. Inclusive com a criação do Sistema Público de Escrituração
Digital.

Palavras-chave:. Escrituração – Demonstrações Contábéis e financeiras –– Sociedade


anônima - Sistema Público de Escrituração digital

Résumé: Nous sommes en avant d´´une nouvelle étape dans le secteur d´´entreprise et
comptable, c´´est-à-dire, la Loi n° 11.638, 28 de décembre de 2007 et du Décret
6,022/2007 a apporté varie des changements dans le champ de la comptabilité et des
démonstrations financières des sociétés anonymes et dans les sociétés de grand
transport. Afin d´´exprimer, périodiquement, la réelle situation de l´´entrepreneur, et
ainsi que sa performance, la nécessité a établi d´´amélioration de l´´enquête de l
´´exercice social et de la démonstration comptable et financière de la société. De même
avec la création du Système Public de Comptabilité Digitale.

Most clef: Comptabilité - Démonstrations Contábéis et financières - Société anonyme -


Système Public de Comptabilité digitale.

Sumário: 1. Disposições Gerais - Introdução – 2. Sistemas legislativos do Exercício


Social e das Demonstrações Contábeis – 3. Instrumentos de escrituração mercantil; 3.1.
Livros em papel; 3.2. Fichas; 3.3. Microfilmagem; 3.4. Livros Digitais – 4. Espécies de
Livros Empresariais; 4.1. Os Livros Contábeis; 4.1.1. Livro Razão; 4.1.2. Livro-diário;
4.1.3) Livro Balancetes Diários e Balanços – 4.2. Os Livros Fiscais; 4.2.1. Registro de
Inventário; 4.2.2. Registro de Entradas; 4.2.3. Registro de Saídas; 4.2.5. Registro de
Controle da Produção e do Estoque; 4.2.6. Registro de Utilização de Documentos
Fiscais e Termos de Ocorrência; 4.2.7. Registro de Apuração de ICMS; 4.2.8. Livro de
Movimentação de Combustível (LMC); 4.2.9. Registro de Duplicatas; 4.2.10. O livro de
apuração do lucro real (LALUR); 4.2.11. Outros Livros fiscais – 4.3 Os livros Sociais;
4.3.1. Perda, extravio ou inutilização de livros fiscais; 4.3.2. Formalidades e
obrigações acessórias inerentes aos Livros Fiscais; 4.4. Livros Facultativos – 5.
Requisitos intrínsecos e extrínsecos – 6. Os Métodos e o Valor probante da escrituração;
6.1. Os métodos ou formas da escrituração; 6.2. Valor probante da escrituração – 7.
Sistema Público de Escrituração Digital; 7.1. Usuários do SPED; 7.2. Competência da
Secretaria da Receita Federal; 7.3. Função do SPED; 7.4. Acesso às informações do
SPED – 8. Funções da escrituração – 9. Conservação da escrituração – 10.
Conseqüência da irregularidade na escrituração – 11. Exibição dos livros empresariais;
11.1. Exibição judicial dos Livros empresariais; Exibição administrativa dos Livros
empresariais – 12. Obrigatoriedade e reponsabilidade do contabilista – 13. Filiais – 14.
Demonstrações contábeis; 14.1. O balanço patrimonial; 14.1.1. Ativo; 14.1.2. Passivo;
14.2. A demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; 14.3. A demonstração do
resultado do exercício; 14.3. A demonstração dos fluxos de caixa; 14.4. A
demonstração do valor adicionado no caso de companhia aberta; 14.5. As
conseqüências para a falta das demonstrações contábeis periódicas são as seguintes –
15. Divulgações das demonstrações contábeis - 16. Referencias Bibliográficas

1.Disposições Gerais - Introdução

No Direito empresarial, Escrituração é o nome que a legislação escolheu para expressar


o ato de se efetuarem os lançamentos em contas, geralmente para fins contábeis,
posteriormente compilados em livros e fichas. Assim, Escrituração é o conjunto de
lançamentos contábeis. A Escrituração completa é composta pelos lançamentos
contábeis e pelas demonstrações financeiras elaboradas no encerramento de cada
exercício social [01], sendo inclusive indivisível a escrituração "se os fatos que resultam
dos lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de uma parte e outros lhe são
contrários, mas ambos serão considerados em conjunto como uma unidade" (art. 380, do
CPC).

Contudo, a expressão Escrituração é criticada por Eliseu Martins [02], pois a expressão
mais ajustada para o Capítulo IV do Livro sobre Direito de Empresas seria chamá-lo de
Exercício Social e Demonstrações Contábeis.

Tanto as sociedades empresárias como os empresários individuais estão obrigados a


seguir um sistema de contabilidade [03], mecanizado ou eletrônica com, base na
escrituração uniforme de seus livros em correspondência com a documentação
respectiva, e a levantar anualmente balanço patrimonial e o resultado econômico. [04]

Devemos expor que o empresário sem um sistema que demonstre o exercício social e as
demonstrações contábeis é uma entidade sem memória, sem identidade e sem as
mínimas condições de sobrevivência ou de planejar seu crescimento. Impossibilitada de
elaborar demonstrativos contábeis por falta de lastro na escrituração, por certo
encontrará dificuldades em obter fomento creditício em instituições financeiras ou de
preencher uma simples informação cadastral [05], bem como não possibilita ao
empresário avaliar o acerto das decisões administrativas e negociais tomadas, bem como
os rumos a serem seguidos.

Assim, a lista mais comum de vantagens de uma entidade para manter escrituração
contábil, são as seguintes:

I)Oferece maior controle financeiro e econômico à entidade;

II)Comprova em juízo fatos cujas provas dependam de perícia contábil.

III)Contestação de reclamatórias trabalhistas quando as provas a serem apresentadas


dependam de perícia contábil;

IV)Imprescindível no requerimento de recuperação judicial (Lei 11.101/2005);


V)Evita que sejam consideradas fraudulentas as próprias falências, sujeitando os sócios
ou titulares ás penalidades da Lei que rege a matéria;

VI)Base de apuração de lucro tributável e possibilidade de compensação de prejuízos


fiscais acumulados;

VII)Facilita acesso ás linhas de crédito;

VIII)Distribuição de lucros como alternativa de diminuição de carga tributária;

IX)Prova a sócios que se retiram da sociedade a verdadeira situação patrimonial, para


fins de apuração de haveres ou venda de participação;

X)Prova, em juízo, a situação patrimonial na hipótese de questões que possam existir


entre herdeiros e sucessores de sócio falecido;

XI)Para o administrador, supre exigência do Novo Código Civil Brasileiro quanto á


prestação de contas (art. 1.020).

Portanto, até pela obviedade das vantagens acima listadas, a contabilidade deve ser
considerada sempre uma ferramenta imprescindível à gestão de qualquer entidade,
cabendo ao administrador, sócios ou representantes implementarem a escrituração
através de contabilista devidamente habilitado.

A matéria sobre o Exercício Social e as Demonstrações Contábeis está disciplina nos


artigos 1.179 a 1.195, do Código Cível e em outros diplomas legais. [06]

A Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007, que Altera e revoga dispositivos da Lei no


6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e
estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de
demonstrações financeiras, determina que:

Art. 3º Aplicam-se às sociedades de grande porte, ainda que não constituídas sob a
forma de sociedades por ações, as disposições da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de
1976, sobre escrituração e elaboração de demonstrações financeiras e a obrigatoriedade
de auditoria independente por auditor registrado na Comissão de Valores Mobiliários.

Parágrafo único. Considera-se de grande porte, para os fins exclusivos desta Lei, a
sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social
anterior, ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais)
ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais).

Inicialmente poder-se-ia indagar da não obrigatoriedade da publicação das


demonstrações contábeis,, pois o artigo 3º da Lei 11.638/07 é expresso no sentido de
que as sociedades de grande porte devem observar as regras da Lei das S/A no que
tange à elaboração e escrituração das demonstrações financeiras. Muito embora a regra
que determina a publicação das demonstrações esteja inserida em um dos parágrafos do
artigo 176 da Lei das S/A, que trata da elaboração das demonstrações financeiras, não
há que se falar que a publicação das demonstrações financeiras esteja inserida dentro do
processo de sua elaboração, que são duas atividades completamente distintas e
inconfundíveis.

Não obstante as considerações acima apresentadas é imprescindível destacar que,


embora a nova lei não obrigue expressamente as sociedades de grande porte a publicar
suas demonstrações financeiras, a publicação ou a divulgação de tais informações, por
quaisquer meios, inclusive eletrônicos (tais como websites), é extremamente positiva,
uma vez que a transparência apresenta-se como uma das medidas que mais agregam
valor à empresa no campo da governança corporativa, especialmente perante
investidores potenciais, institucionais e estrangeiros, consumidores, credores,
fornecedores, empregados, governos e a sociedade em geral. Por fim, vale mencionar
que, caso as sociedades de grande porte optem pela publicação ou a divulgação
voluntária de suas demonstrações financeiras, estas devem seguir os parâmetros
exigidos pela legislação em vigor.

Sem deixar de acompanhar a intensa movimentação do mercado após a edição da Lei


11.638, veio a Comissão de Valores Mobiliários [07], em Consulta Pública lançada no dia
14 de janeiro de 2008, informar em caráter preliminar que

embora não haja menção expressa à obrigatoriedade de publicação dessas


demonstrações financeiras...", orienta pelo atendimento às regras de transparência já
editadas. Não discrepa o ente regulador do entendimento esposado neste artigo.
Reconhece apenas a inexistência de menção ao verbo "publicar" na lei nova sem
contestar que a lei alvo da modificação, anterior, já o menciona expressamente.
Derivará da Consulta Pública aberta até o próximo dia 25 um ato normativo para regular
os efeitos da novel legislação. Certamente oferecerá mais elementos para reflexão
dentro da polêmica instaurada.

2.Sistemas legislativos do Exercício Social e das Demonstrações Contábeis

As legislações atuais instituem três sistemas de demonstrar o exercício social e


contábeis, o francês, o suíço e o germânico.

a) O sistema francês é o adotado pelo Brasil. A Lei impõe o número de livros


obrigatórios, a denominação e as regras de escrituração [08]; b) O sistema suíço é adotado
pela Inglaterra, onde a lei obriga o empresário a ter livros, mas deixa livre a espécie
destes e o método de escritura; e c) O sistema germânico é adotado na Alemanha. A lei
impõe certos livros como obrigatórios, mas libera o método de escrituração.

3.Instrumentos de escrituração mercantil

O mecanismo de escrituração deve obedecer a um sistema de contabilidade o qual se


refere a um conjunto de elementos interconectados harmonicamente, de modo a formar
um todo organizado visando interpretar e registrar os fenômenos que afetam o
patrimônio de uma entidade, dando norma para a representação gráfica dos mesmos. [09]

O sistema de contabilidade deverá ser mecanizado ou digitalizado por meio eletrônico.


A autenticação de instrumentos de escrituração dos empresários e das sociedades
empresárias é disciplinada pela Instrução Normativa nº nº 102, de 25 de abril de 2006,
sem prejuízo da legislação específica aplicável à matéria.

As disposições desta Instrução Normativa aplicam-se às filiais, sucursais ou agências,


no País, do empresário ou sociedade autorizado a funcionar no País, com sede em país
estrangeiro (artigo 1º).

Segundo o artigo 2º da Instrução Normativa nº 102, de 25 de abril de 2006 pode


elaborado em: I - livros em papel; II - conjunto de fichas avulsas (artigo 1.180, do
Código Civil); III - conjunto de fichas ou folhas contínuas (artigo 1.180, do Código
Civil); IV - livros em microfichas geradas através de microfilmagem de saída direta do
computador (COM); V - livros digitais.

3.1. Livros em papel

De acordo com De Plácido e Silva a expressão livro

é o vocábulo usado para designar (…) toda coleção de cadernos, impressos,


manuscritos, protegidos exteriormente por duas capas. Segundo o método de sua
confecção, os livros são brocados ou encadernados. Livros brocardos são ligeiramente
costurados ou grampeados, enfeixados em capas flexíveis e de pouca resistência. Livros
encadernados são os que se costuram com maior firmeza e segurança, sendo protegidos
por capas, geralmente duras, e de maior resistência.

O livro não poderá ser dividido em volumes, podendo, em relação a um mesmo período,
ser escriturado mais de um livro, de acordo com as necessidades do empresário ou da
sociedade empresária. A numeração das folhas ou páginas de cada livro observará
ordem seqüencial única, iniciando se pelo numeral um, incluído na seqüência da
escrituração o balanço patrimonial e o de resultado econômico, quando for o caso
(artigo 4º, parágrafos 2º e 3º, da Instrução Normativa nº 102/2006).

Existindo erro ou omissão de algum dado obrigatório do termo de abertura e/ou


encerramento, no livro em papel, poderá ser feita ressalva na própria folha ou página, a
qual deverá ser assinada pelos mesmos signatários do termo e homologada pelo
autenticador do instrumento pela Junta Comercial, mediante termo de homologação por
esse datado e assinado. A retificação de lançamento feito com erro, em livro já
autenticado pela Junta Comercial, deverá ser efetuada nos livros de escrituração do
exercício em que foi constatada a sua ocorrência, observadas as Normas Brasileiras de
Contabilidade, não podendo o livro já autenticado ser substituído por outro, de mesmo
número ou não, contendo a escrituração retificada (artigo 5º, da Instrução Normativa nº
102/2006).

3.2. Fichas

O Código Civil permite que os livros em papel venham a ser substituídos por fichas ou
formulários avulsos ou contínuos por aqueles que adotavam escrituração mecanizada ou
eletrônica (artigo 1.180), desde que obedeçam as formalidades legais. [10]
A adoção de fichas de escrituração não dispensa o uso de livro diário para o lançamento
do balanço patrimonial e do de resultado econômico, ao qual deve ser atribuído o
número subseqüente ao do livro diário escriturado em fichas (artigo 4º, parágrafo 1º, da
Instrução Normativa nº 102/2006).

As fichas que substituírem os livros, para o caso de escrituração mecanizada ou


eletrônica, poderão ser contínuas, em forma de sanfona, em blocos, com subdivisões
numeradas mecânica ou tipograficamente por dobras, sendo vedado o destaque ou
ruptura das mesmas ou avulsas, as quais serão numeradas tipograficamente (artigo 8º,
da Instrução Normativa nº 102/2006).

3.3. Microfilmagem

É admissível a microfilmagem da escrituração, observada a disciplina da Lei 5.433/68,


regulamentada pelo Decreto nº 64.398/69. Poderá ser utilizado como sistema se houver
comunicação à Junta Comercial no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o termino de
cada livro ou conjunto de fichas, com as indicações que os identifique para efeitos de
controle. Para produzirem efeitos legais, os traslados e as cópias deverão estar assinados
pelo responsável da organização ou do estabelecimento detentor do filme negativo e
pelo contador, e obrigatoriamente autenticado em cartório, por meio de carimbo aposto
em cada folha ou mediante termo próprio.

O sistema de microfilmagem, como instrumento de escrituração, poderá ser utilizada


pelas companhias e em relação aos livros sociais de que trata o art. 100 da Lei nº 6.404,
de 15 de dezembro de 1976. No caso das companhias abertas, aplicar-se-ão, ainda, as
normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, apenas para os livros dos
incisos I a III do art. 100 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. As microfichas,
como instrumento de escrituração, deverão atender os requisitos constantes do Anexo I
da Instrução Normativa nº 102/2006. (artigo 16, da Instrução Normativa nº 102/2006).

3.4. Livros Digitais

Segundo a Wikipédia [11] o livro digital ou E-book

é um livro em formato digital que pode ser lido em equipamentos eletrônicos tais como
computadores, PDAs ou até mesmo celulares que suportem esse recurso. Um e-book por
ser um método de armazenamento de pouco custo e de fácil acesso devido à propagação
da internet nas escolas. Pode ser vendido ou até mesmo disponibilizado para download
em alguns portais de internet gratuitos. Os e-books são facilmente transportados em
disquetes, CD-ROMs e pen-drives.

Os livros digitais deverão necessariamente ser assinados por contabilista, pelo


empresário individual ou pelo administrador da sociedade empresaria, com certificado
digital [12], de segurança mínima tipo A#, de acordo com as regras do IPC Brasil.
Também deverão ser autenticados, pelas juntas comerciais, com certificado digital de
segurança mínima A#, inserido em cada autenticação, selo cronológico digital.

As Juntas Comerciais deverão inserir, anualmente, no conjunto de hash [13] dos livros
digitais autenticados, selo cronológico digital. Serão transmitidos às juntas comerciais
via Internet ou entregues em CD/DVD regravável ou em pen drives.
4.Espécies de Livros Empresariais

Analisando as espécies de livros a partir dos manuais de contabilidade chegamos à


conclusão que eles estão divididos em livros contábeis, livros fiscais, livros sociais e por
necessidades administrativas. [14]

Contudo, pelo prisma jurídico podemos afirmar que os livros empresariais se dividem
em duas categorias: a) obrigatórios que se subdividem em comuns e especiais; e b)
facultativos.

Segundo Fabio Ulhoa Coelho [15] os livros empresariais obrigatórios são aqueles cuja
escrituração é imposta ao empresário a sua ausência traz conseqüências sancionadoras
(inclusive no campo penal). Os livros Comuns são os livros obrigatórios cuja
escrituração é imposta a todos os empresários, indistintamente. Já os livros Especiais
são aqueles cuja escrituração é imposta apenas a uma determinada categoria de
exercentes de atividade empresarial.

Os livros facultativos são os que o empresário e a sociedade escritura com vistas a um


melhor controle sobre seus negócios e cuja ausência não importa nenhuma sanção.

Na escrituração dos empresários e das sociedades encontramos vários livros que não são
propriamente contábeis e, sim, fiscais, sociais e, ainda, por necessidade administrativa.

4.1.Os Livros Contábeis

Segundo os manuais de Contabilidade os livros contábeis são os livros Diários e os


livros Razões. [16]

Segundo informações obtidas no site da Receita Federal "a partir de 1º/01/1992, tornou-
se obrigatória, para as pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, a escrituração
e a manutenção do livro Razão ou fichas utilizados para resumir e totalizar, por conta ou
sub-conta, os lançamentos efetuados no Diário, mantidas as demais exigências e
condições previstas na legislação. A escrituração deverá ser individualizada,
obedecendo-se a ordem cronológica das operações (RIR/1999, art. 259, que incorporou
as Leis nº 8.218, de 1991, art. 14, e nº 8.383, de 1991, art. 62)". [17]

Faz-se necessário demonstra a diferença entre livro Razão e o livro diário.

4.1.1. Livro Razão [18]

O livro Razão consiste no agrupamento de valores em contas de mesma natureza e de


forma racional. O Livro Razão é de grande utilidade para contabilidade porque registra
o movimento de todas as contas.

Na Contabilidade moderna, o livro Razão é escriturado em fichas. Assim, neste livro


existe um controle individualizado para cada conta. Em verdade, existe uma folha de
razão para cada conta, onde todos os eventos passíveis de registros contábeis são
efetuados.

4.1.2. Livro-diário [19]


Segundo Sérgio de Iudícius [20] o Livro Diário é um livro no qual são registradas todas
as operações contabilizáveis de uma entidade, em ordem cronológica e com observância
de certas regras".

O livro-diário tradicional pode ser substituído por fichas (contínuas, em forma de


sanfona, soltas ou avulsas). Porém, a adoção desse sistema não exclui o empresário de
obediência aos requisitos intrínsecos, previstos na lei fiscal e empresarial para o livro-
diário.

Este livro registra os fatos contábeis em partidas dobradas na ordem rigorosamente


cronológica do dia, mês e ano. O livro diário deve ser encardenado com folhas
numeradas seguidamente, sendo que os registros deverão ser feitos diariamente. Quem
empregar escrituração mecanizada poderá substituir o Diário por fichas seguidamente
numeradas.

Os livros ou fichas (Diário) deverão conter termos de abertura e de encerramento, a ser


submetidos à autenticação do órgão competente no Registro Público de Empresas
Mercantis (Junta Comercial).

Os Elementos Essenciais do Lançamento no Livro Diário manuscrito são: 1º - local e


data; 2º - conta ou contas debitadas; 3º - conta ou contas creditadas; 4º - Histórico da
operação; 5º - valor da operação e; 6º - Total da partida dobrada. Para o livro-diário
mecanizado são: 1º - Código da conta; 2º - data; 3º - nº do documento; 4º - Histórico; 5º
- valor do débito; 6º - valor do crédito; 7º - Total do débito e; 8º - Total do crédito. [21]

Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo


ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo
empresário ou sociedade empresaria (parágrafo 2º, art. 1.184, do Código Civil).

Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais não excedam o período de 30


dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede
do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regularmente autenticados,
para registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita
verificação (parágrafo 1º, art. 1.184, do Código Civil).

Segundo De Plácido e Silva [22] "os livros de escrituração, propriamente, são o Diário, de
uso obrigatório, o Razão, que serve de índice ao Diário".

Assim, a base de toda contabilidade de um empresário ou de uma sociedade é o Livro


Diário que representa o registro histórico de todos os acontecimentos de ordem
empresarial, que se tenham verificado na atividade empresarial.

Entretanto, a legislação civil determina que apenas o livro Diário é obrigatório para
todos os empresários e sociedades empresárias, ressalvado os sujeitos abrangidos pela
Lei Complementar nº 123/06 que trata do Super Simples ou Simples Nacional.

Se o empresário individual possuir receita Bruta anual de R$36.000,00 (tinta e seis mil
reais) estará dispensado de escrituração por força do art. 1.179 c/c 970 do Código Civil
e pelo Estatuto do Super Simples. Já se enquadrar como a Microempresa e da Empresa
de Pequeno Porte terá apenas como livro obrigatório o livro-caixa. Desta forma, não se
pode concordar com a indagação de que o Diário é obrigatório para todos os
empresários. [23]

4.1.3) Livro Balancetes Diários e Balanços

O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos


poderá substituir o Livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as
mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele.

O livro Balancetes Diários e Balanços serão escriturados de modo que registre (art.
1186 do Código Civil): I - a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis,
pelo respectivo saldo, em forma de balancetes diários; II - o balanço patrimonial e o de
resultado econômico, no encerramento do exercício.

Este livro deve consignar, em ordem cronológica de dia, mês e ano, a movimentação
diária das contas, discriminando em relação a cada uma delas, o saldo anterior; os
débitos e os créditos do dia e; o saldo resultante com indicação dos credores e
devedores. [24] De acordo com Mario Sergio Milani [25] a adoção de fichas não dispensa o
livro para o lançamento patrimonial e do de resultado econômico.

4.2.Os Livros Fiscais [26]

Podemos classificar como livros fiscais os que se encarregam de armazenar todos os


fatos relacionados com as atividades fiscais do empresário e da sociedade. É através
deles que as informações são extraídas, destinando-se para aqueles que delas
necessitarem.

Um dos interessados nessas informações é o Estado, pois, é através destas informações


que ele exerce sua atividade de policiar parte do grandioso vulto econômico gerado
pelas entidades econômicas. Por isso que é o próprio instituidor dos livros, no intuito de
acompanhar no dia-a-dia todas as transações realizadas pelas empresas.

É através dos livros fiscais que o fisco verifica todas as transações dos empresários e
das sociedades, conferindo todos os registros efetuados pela empresa, retificando-os ou
ratificando-os conforme constatações.

4.2.1. Registro de Inventário

Neste livro o empresário realiza o lançamento dos saldos das mercadorias e materiais
não comercializados ou consumidos durante o exercício comercial, ou seja, esse livro
serve para registrar o inventário de todos os itens pertencentes ao empresário ou
sociedade na data do encerramento das demonstrações contábeis.

Alguns cuidados e observações devem ser tomados quando nos referimos a este livro,
entre eles: verificar a autenticação do livro no órgão competente; verificar se os
registros das mercadorias de entrada foram todos realizados; verificar cálculos; etc.

O art. 1.187 do Código Civil reformulou a função do livro Registro de Inventário,


estabelecendo que na coleta dos elementos para o inventário serão observados os
critérios de avaliação a seguir determinados:
I - os bens destinados à exploração da atividade serão avaliados pelo custo de aquisição,
devendo, na avaliação dos que se desgastam ou depreciam com o uso, pela ação do
tempo ou outros fatores, atender-se à desvalorização respectiva, criando-se fundos de
amortização para assegurar-lhes a substituição ou a conservação do valor;

II - os valores mobiliários, matéria-prima, bens destinados à alienação, ou que


constituem produtos ou artigos da indústria ou comércio da empresa podem ser
estimados pelo custo de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre que
este seja inferior ao preço de custo, e quando o preço corrente ou venal estiver acima do
valor do custo de aquisição, ou fabricação, e os bens forem avaliados pelo preço
corrente, a diferença entre este e o preço de custo não será levada em conta para a
distribuição de lucros, nem para as percentagens referentes a fundos de reserva;

III - o valor das ações e dos títulos de renda fixa pode ser determinado com base na
respectiva cotação da Bolsa de Valores; os não cotados e as participações não acionárias
serão considerados pelo seu valor de aquisição;

IV - os créditos serão considerados de conformidade com o presumível valor de


realização, não se levando em conta os prescritos ou de difícil liquidação, salvo se
houver, quanto aos últimos, previsão equivalente.

Entre os valores do ativo podem figurar, desde que se preceda, anualmente, à sua
amortização: (a) as despesas de instalação da sociedade, até o limite correspondente a
dez por cento do capital social; b) os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima,
no período antecedente ao início das operações sociais, à taxa não superior a doze por
cento ao ano, fixada no estatuto; c) a quantia efetivamente paga a título de aviamento de
estabelecimento adquirido pelo empresário ou sociedade. [27]

Segundo Cesare Vivante [28] "não é necessário que o livro de inventários forme um livro
próprio e autônomo, ele efetivamente figura por vezes, nas pequenas empresas, antes de
qualquer outra verba do no exercício no livro diário."

4.2.2. Registro de Entradas

Este livro registra todas as aquisições realizadas pelo empresário e sociedade. Todas as
mercadorias (gerando crédito fiscal ou não), e principalmente as em regime de
Substituição Tributária.

Em uma coluna especifica, deve se efetuar o registro do imposto sobre operações


relativas à circulação de mercadorias e sobre a prestação de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicações (ICMS).

As principais observações realizadas neste são as referentes aos cálculos dos impostos,
se houve aproveitamento intempestivo do crédito fiscal, duplicidade de lançamentos de
entradas, aproveitamento de créditos fiscais sem o documento original (quando contém
apenas a xérox), falta de registro de documento fiscal, etc.

4.2.3. Registro de Saídas


No registro de saídas temos os lançamentos oriundos das operações de vendas de
mercadorias, com débito do ICMS realizados pelo empresário e sociedade. Este
registro, em contrapartida com os registros de entradas, são os originários da apuração
entre os débitos e créditos fiscais, resultando no montante de impostos que o empresário
e a sociedade vai recolher.

Este livro é dividido por colunas para registro da data da operação da venda, a
quantidade de mercadorias vendidas, a descrição dos produtos, a alíquotas do ICMS e o
valor do imposto. As observações aqui realizadas devem ser, praticamente, as mesmas a
serem realizadas nos livros de registros de entradas.

4.2.5. Registro de Controle da Produção e do Estoque

O livro de Registro e Controle da Produção e do Estoque é obrigatório para as indústrias


e estabelecimentos equiparados, estabelecido pelo Regulamento do IPI, com o objetivo
de promover o controle de produção e do estoque. Neste livro, são registrados os
estoques de produtos para revenda, os estoques de material de escritório, material de
limpeza e demais produtos existentes no estabelecimento. [29]

4.2.6. Registro de Utilização de Documentos Fiscais e Termos de Ocorrência

Um dos livros mais importantes para a fiscalização ou auditagem de uma empresa, pois,
é nele que ficam registradas as informações correspondentes à última fiscalização. Nele
podem ser observadas informações como, por exemplo, se o empresário e a sociedade
gozam de regime especial concedido ou exigido pela repartição fazendária, os
resultados da última fiscalização, quais as contas que foram verificadas, os livros
examinados, tipos de infrações cometidas pelo contribuinte, etc, ou seja, o livro é
utilizado para os registros de auditorias fiscais realizadas na empresa. Logo, quando
ocorrência uma fiscalização na empresa, devem ser registrados pela autoridade fiscal a
data, os livros que foram verificados, eventuais multas aplicadas o empresário e a
sociedade, bem como outras ocorrências de ordem fiscal.

4.2.7. Registro de Apuração de ICMS

O livro de registro de apuração do ICMS é o livro encarregado da conta corrente do


ICMS. Pelos registros de créditos e débitos que realizamos nele, podemos apurar o
saldo da conta corrente, verificando se este é devedor ou credor, e se o empresário e a
sociedade terá imposto a recolher ou saldo a transferir ao próximo período.

Algumas observações devem ser feitas, como: a autenticação obrigatória pela


autoridade competente; verificar se os transportes dos livros de registro de entrada e
saída estão corretos, bem como seus saldos; conferir os valores a serem recolhidos e as
guias de recolhimento dos respectivos impostos; entre outros.

4.2.8. Livro de Movimentação de Combustível (LMC)

O LMC destina-se ao registro diário, pelo posto revendedor de combustíveis líquidos e


gasosos, dos estoques e de movimentação de compra e venda de gasolina, óleo diesel,
querosene iluminante, álcool etílico hidratado carburante, mistura
metanol/etanol/gasolina e gás automotivo. Este livro foi instituído pela Portaria 26/92
do Departamento Nacional de Combustíveis. [30]

4.2.9. Registro de Duplicatas

É o livro obrigatório, segundo o artigo 19 da Lei de Duplicatas, para os empresários que


adotem o regime de vendas ou prestações de serviços com extração de fatura e emissão
de correspondente duplicata. Nesse livro, serão escrituradas, cronologicamente, todas as
duplicatas emitidas, com o número de ordem, data e valor das faturas originais e data de
sua expedição; o nome e domicílio do comprador; anotações das reformas; prorrogações
e outras circunstâncias necessárias. Deve ser autenticado pela Junta Comercial.

4.2.10. O livro de apuração do lucro real (LALUR) [31]

O livro de Apuração do Lucro Real (LALUR) existe para assegurar a separação entre a
escrituração comercial e a fiscal, prevista no parágrafo 2° do art. 177 da Lei n° 6.404/76
(Lei 6.404/76).

As disposições da lei tributária ou de legislação especial sobre atividade que constitui o


objeto da companhia que conduzam à utilização de métodos ou critérios contábeis
diferentes ou à elaboração de outras demonstrações não elidem a obrigação de elaborar,
para todos os fins desta Lei, demonstrações financeiras em consonância com o disposto
no caput deste artigo e deverão ser alternativamente observadas mediante registro:

I – em livros auxiliares, sem modificação da escrituração mercantil; ou

II – no caso da elaboração das demonstrações para fins tributários, na escrituração


mercantil, desde que sejam efetuados em seguida lançamentos contábeis adicionais que
assegurem a preparação e a divulgação de demonstrações financeiras com observância
do disposto no caput deste artigo, devendo ser essas demonstrações auditadas por
auditor independente registrado na Comissão de Valores Mobiliários.

No LALUR, a pessoa jurídica deverá: a) lançar os ajustes do lucro líquido do período-


base (apurado na escrituração comercial), necessários para a determinação do lucro real
(base de cálculo do Imposto de Renda); b) transcrever a demonstração do lucro
real; c) manter os registros de controle dos prejuízos fiscais a compensar em períodos-
base subseqüentes, do lucro inflacionário a realizar, da depreciação acelerada
incentivada, da exaustão mineral com base na receita bruta, bem como dos demais
valores que devam influenciar a determinação do lucro real de períodos-base futuros e
não constem da escrituração comercial; d) O LALUR não precisa ser autenticado por
qualquer órgão oficial.

O Lucro real é o lucro líquido apurado na escrituração contábil, com observância das
normas da legislação comercial, ajustado no LALUR pelas adições, exclusões e
compensações prescritas ou autorizadas pela legislação tributária, a saber:

I. adições: a) custos, despesas, encargos, perdas, provisões, participações e quaisquer


outros valores deduzidos na apuração do lucro líquido e que, de acordo com a legislação
do Imposto de Renda, não sejam dedutíveis na determinação do lucro real; b)
resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores não incluídos na apuração
do lucro líquido e que, de acordo com a legislação do Imposto de renda, devam ser
computados na determinação do lucro real;

II. exclusões: a) resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores incluídos


na apuração do lucro líquido e que, de acordo com a legislação do Imposto de Renda,
não sejam computados no lucro real; b) valores cuja dedução seja autorizada pela
legislação do Imposto de Renda e que, pela sua natureza exclusivamente fiscal, não
tenham sido computados na apuração do lucro líquido. c) compensação de prejuízos
fiscais de períodos-base anteriores, respeitados os limites e demais normas pertinentes.

4.2.11 Outros Livros fiscais

Além desses, existem outros livros fiscais, exigidos pelo fisco da União, do Estadual, do
Distrito Federal e do Município. Entre eles destacamos: O livro de apuração do IPI;
livro de apuração do imposto sobre serviço; o registro de impressão de documentos
fiscais; o registro de empregados; Controle bancários; e outros.

4.3.Os livros Sociais

A companhia deve ter, além dos livros obrigatórios contábeis e fiscais para qualquer
empresário, os seguintes revestidos das mesmas formalidades legais:

a ) Livros de "registro de Ações nominativas" para inscrição, anotação ou averbação


devendo conter os seguintes dados:

-do nome do acionista e do número das suas ações;

-das entradas ou prestações de capital realizado;

-das conversões de ações, de uma em outra espécie ou classe;

-do resgate, reembolso e amortização das ações, ou de sua aquisição pela companhia;

-das mutações operadas pela alienação ou transferência de ações;

-do penhor, usufruto, fideicomisso, da alienação fiduciária em garantia ou de qualquer


ônus que grave as ações ou obste sua negociação.

b)O livro de "transferência de Ações Nominativas", para lançamento dos termos de


transferência, que deverão ser assinados pelo cedente e pelo cessionário ou seus
legítimos representantes.

c)O livro de "Registro de Partes Beneficiárias Nominativas" e o de "Transferência de


Partes Beneficiárias Nominativas", se tiverem sido emitidas, observando-se, em ambos,
no que couber, o disposto nos números I e II deste artigo.

d)O livro de Atas das Assembléias Gerais é obrigatório nas sociedades anônimas como
estipula o artigo 100, IV da Lei 6.404/76 e também nas sociedades limitadas que
tenham mais de 10 sócios e facultativo para as que tenham menos de 10 sócios, em
virtude da previsão do art. 1.075, do Código Civil. Este livro tem como finalidade
registrar os trabalhos e deliberações da assembléia de acionistas ou sócios.

e)O livro de Presença dos Acionistas este livro é obrigatório para as sociedades
anônimas.

f)Os livros de Atas das Reuniões do Conselho de Administração se houver, e de Atas


das Reuniões de Diretoria este livro é obrigatório para as sociedades anônimas como se
refere os artigos 100 e 149 da Lei 6.404/76. Nas sociedades limitadas, é facultativo,
estando previsto no art. 1.062 do Códigio Civil, que prevê para a posse do administrador
da sociedade limitada quando da sua designação se faz em ato separado, ou seja, não se
faz por meio de previsão constante do próprio ato constitutivo.

g)O livro de Atas e Pareceres do Conselho Fiscal previsto no art. 100, VII, da Lei
6.404/76, é obrigatório para as sociedades anônimas que, por força do artigo 161 da
referida lei, tem conselho fiscal. Por outro lado, previsto nos artigos 1.067 a 1.069 do
Código Civil, é obrigatório para as sociedades cujos atos constitutivos prevejam um
Conselho Fiscal (art. 1.066, do Código Civil). Neste livro se lavra a posse dos membros
efetivos e suplentes do Conselho fiscal, bem como o resultado dos exames trimestrais
dos livros e papeis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, com como o parecer
sobre os negócios e as operações sociedade do exercício em que servirem, tomando por
base o balanço patrimonial e do resultado econômico, devidamente apresentado à
assembléia geral.

4.3.1. Perda, extravio ou inutilização de livros fiscais

Ocorrendo extravio, deterioração ou destruição de livros, fichas, documentos ou papéis


de interesse da escrituração, a pessoa jurídica fará publicar, em jornal de grande
circulação do local de seu estabelecimento, aviso concernente ao fato e deste dará
minuciosa informação, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, ao órgão competente de
Registro do Comércio, remetendo cópia ao órgão da Secretaria da Receita Federal de
sua jurisdição.

A legalização de novos livros ou fichas só será providenciada depois de observada as


citadas formalidades

O contribuinte deverá: 1º - Efetuar a imediata publicação da ocorrência em jornal de


circulação em todo o Estado; 2º - Comunicar por escrito à repartição fiscal de sua
circunscrição em 15 dias, a contar da ocorrência da seguinte forma: a) mencionar a
espécie, o número de ordem e demais características do livro; b) informar o período a
que se referir à escrituração do livro; c) declarar expressamente a possibilidade ou não
de se refazer a escrituração em 45 dias; d) informar a existência ou não de débito de
imposto, qual o período e o valor (se existir); e) anexar as publicações no jornal e no
Diário Oficial.

É evidente que se a perda ocorreu por má-fé ou mero descuido do empresário, se deixou
os livros se deteriorarem por conta de circunstância evitável, não poderá jamais se
escusar sob o escudo do art. 10, do Decreto-Lei 486/69 [32] e art. 264, do Regulamento
do Imposto de Renda. [33]
4.3.2. Formalidades e obrigações acessórias inerentes aos Livros Fiscais

De acordo com o Regulamento do Imposto Sobre Operações Relativas à Circulação de


Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação – RICMS, em relação às obrigações acessórias
relativas à confecção e manuseio dos livros fiscais:

Art. 119. São obrigações do contribuinte:

I - inscrever-se na repartição fiscal antes do início de suas atividades, na forma


estabelecida nos arts. 120 a 122;

II - solicitar autorização da repartição fiscal competente, para imprimir ou mandar


imprimir documento fiscal;

III - solicitar à repartição fiscal competente a autenticação de livros e documentos


fiscais, antes de sua utilização;

IV - manter em seu poder, devidamente registrados na repartição fiscal do seu


domicílio, os livros e documentos fiscais até que ocorra a decadência dos créditos
tributários decorrentes das operações a que se refiram, observado o seguinte:

a) em se tratando de livros, o prazo se contará a partir do último lançamento nele


consignado, quando obedecido o prazo legal de escrituração;

b) em se tratando de documento fiscal, o prazo ocorrerá a partir da data de sua emissão;

V - exibir ou entregar ao Fisco, quando exigido ou solicitado, os livros e/ou documentos


fiscais, assim como outros elementos auxiliares relacionados com sua condição de
contribuinte;

VI - remeter à repartição fiscal de seu domicílio, quando de início e todas as vezes em


que houver substituição, comunicação contendo dados do responsável pela sua escrita
contábil;

VII - comunicar à repartição fazendária as alterações contratuais e estatutárias, bem


como as mudanças de domicílio fiscal, venda, fusão, cisão, transformação,
incorporação, sucessão motivada pela morte do titular, transferência de estabelecimento,
encerramento ou suspensão de atividade, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas após a
ocorrência do fato, observado o disposto no art. 123;

VIII - escriturar os livros e emitir documentos fiscais, observadas as disposições


constantes dos Capítulos próprios deste Regulamento;

XI - exibir a outro contribuinte a FIC, nas operações que com ele realizar;

XIII - comunicar imediatamente à repartição fiscal de seu domicílio o extravio ou


perecimento de livros e documentos fiscais, bem como o roubo ou inutilização do
equipamento ECF, observado o disposto nos §§ 1º e 2º deste artigo;
XV - cumprir todas as exigências fiscais previstas na legislação tributária;

Art. 268. Os livros fiscais, que serão impressos e de folhas numeradas tipograficamente,
em ordem crescente, só serão usados depois de visados pela repartição do domicílio
fiscal do contribuinte.

1º Os livros fiscais terão suas folhas encadernadas, de forma a impedir sua substituição.

2º O "visto" será gratuito e aposto em seguida ao termo de abertura lavrado pelo


contribuinte, juntamente com a apresentação do livro anterior a ser encerrado, desde que
não se trate de início de atividade.

3º Para os efeitos do parágrafo anterior, os livros a serem encerrados serão exibidos à


repartição competente do Fisco dentro de 05 (cinco) dias, contados da data do último
lançamento

4.4.Livros facultativos

Estes livros não são obrigatoriamente exigidos pelas leis comerciais, fiscais ou
trabalhistas, e instituídos, voluntariamente, pelos empresários. Nesta razão, são os que
podem ser dispensados. E desse modo, não se entendem nem obrigatórios nem
necessários. Há livros que, não sendo obrigatórios mostram-se necessários, pois
auxiliam o empresário e a sociedade empresária a melhor exercer as suas atividades.

O artigo 7º do Decreto-Lei 486/69 permite ao empresário ou a sociedade empresaria


qualquer livro de escrituração que julgue conveniente adotar, segundo a natureza e o
volume de seus negócios, à autenticação pela junta Comercial, desde que observe as
mesmas exigências listadas para o livro Diário. O artigo 1.179, parágrafo 2º do Código
Civil, é harmônico, afirmando que o número e a espécie de livros ficam a critério dos
interessados, desde que atendam às exigências da escrituração obrigatória. [34]

A gravação de assembléias e reuniões e o


direito de fiscalização nas sociedades
anônimas

Não obstante a casuística própria das sociedades anônimas, a demandar do operador do


direito a percuciente análise das características do empreendimento, da estrutura do
capital e das próprias relações entre os acionistas, é inegável que a Lei n° 6.404, de
15/12/1976, dispôs sobre o direito de fiscalização dos acionistas de forma praticamente
uniforme, tanto para as companhias fechadas quanto para as abertas.
Em garantia da higidez e da própria coerência lógico-jurídica da existência e do
funcionamento das sociedades anônimas, o legislador estatuiu no art. 109 da Lei das
S/A os chamados direitos essenciais dos acionistas, que, por sua natureza fundamental,
são indisponíveis.

O direito de fiscalizar os negócios sociais, previsto no inciso III do aludido dispositivo


legal, por seu turno, representa, talvez, a mais significativa contrapartida ao princípio
geral e inarredável de que o acionista deve submeter-se à vontade da maioria. Isto
porque, se aplicada à generalidade de situações, de forma indiscriminada, a regra da
prevalência pura e simples da vontade da maioria acionária acarretaria evidentes abusos,
pondo em risco o próprio direito fundamental à propriedade (Constituição Federal, art.
5o, inciso XXII), que, como se sabe, também serve de princípio geral norteador da
atividade econômica (art. 170, inciso II).

Aliás, as convergências entre as sociedades anônimas e o Estado, ambos tomados em


sua concepção mais moderna, já foram objeto de estudo pela doutrina, com nítidos
reflexos constitucionais e infraconstitucionais, concluindo-se que a estrutura orgânica
das companhias, com a distinção dos órgãos deliberante, executivo e fiscalizador,
reproduz, no direito privado, a divisão de poderes do direito constitucional, com o
consectário de sua indelegabilidade.

A razão de ser dessa e de todas as demais garantias legais constituídas em prol dos
acionistas minoritários não é outra, senão o reconhecimento formal da necessidade de
criação de instrumentos, ainda que mínimos, contra as iniqüidades próprias do nosso
arcabouço jurídico e da realidade política e econômica vigente no âmbito das sociedades
anônimas.

Por maior que seja o apego do operador do direito e da própria sociedade aos modelos
alienígenas, não se pode esquecer que o direito, por ser uma ciência social, tem sua
concepção, evolução e aplicação necessariamente jungida à realidade social vigente,
conforme, aliás, não deixa dúvida nossa Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei
n° 4.657, de 04/09/1942, art. 5o).

Não se pode negar que o sistema jurídico pátrio construído em torno das sociedades
anônimas, não obstante os notórios avanços empreendidos nos últimos anos,
particularmente aqueles introduzidos pela Lei n° 10.303, de 31/10/2001, ainda é
perverso no tocante aos direitos dos acionistas minoritários, o que, não raro, gera
perplexidades dentro e fora do Brasil. Em tal contexto, o modelo jurídico-societário
brasileiro, por influências políticas diversas, tem se revelado pouco adaptado ou pouco
adaptável à realidade em vigor no seio das sociedades anônimas.

Modesto Carvalhosa afirma que os direitos individuais dos acionistas, fixados nas
legislações específicas das sociedades anônimas dos diversos países, refletem a
concepção política do constitucionalismo (note-se, novamente, o nítido liame entre o
direito societário e o direito constitucional), representando a Lei n° 6.404/76 a adoção
do chamado "institucionalismo empresarial" entre nós, com o predomínio da maioria em
detrimento da minoria (Comentários à Lei das Sociedades Anônimas: Lei n° 6.404, de
15 de dezembro de 1976, São Paulo, Saraiva, 1997, volume 2).
Exsurge desse quadro de desigualdade existente entre acionistas controladores e
minoritários a imperiosa necessidade de intervenção estatal para atenuação das
diferenças. Tal intervenção, que pode se dar no âmbito legislativo ou, em sendo
necessário, na esfera judicial, é fundada no interesse público e na função social das
sociedades anônimas (Lei n° 6.404, de 15/12/1976, art. 116, parágrafo único, c/c arts.
5o, inciso XXIII, e 170, inciso III, da Constituição Federal), bem como no próprio
respeito ao exercício pleno dos direitos e garantias individuais previstos na Carta
Magna, entre eles o direito de igualdade (art. 5o, caput), o direito de informação (art. 5o,
inciso XIV), o direito de propriedade (art. 5o, inciso XXII) e outros que, embora não
estejam expressamente previstos no texto constitucional, não podem ser dela excluídos,
quando decorrentes do regime e dos princípios adotados pela própria Constituição
Federal (art. 5o, § 2o).

Esta é a gênese de um direito societário efetivamente protetivo dos interesses


econômicos, políticos e sociais dos investidores, fundado, como visto, em bases
constitucionais:

"À lei das sociedades por ações – e de resto, qualquer disposição


legislativa que trate sobre sociedades privadas – não é dado o
privilégio de estabelecer critérios de participação acionária ou de
dispor sobre decisões intersócios em prejuízo dos princípios e regras
constitucionais reservadas à proteção dos direitos pessoais. São
inseparáveis os direitos individuais dos acionistas – minoritários em
especial – dos direitos fundamentais previstos na Constituição, sendo
aqueles inspirados nestes.

(...)

Em virtude da proteção aos direitos individuais dos acionistas,


previstos na legislação societária, fortalecidos pela ampliação que se
faz da aplicação dos direitos fundamentais constitucionais, conclui-se
que todos os sócios de uma sociedade por ações encontram-se em pé de
igualdade em termos de direitos e obrigações.

(...)

Estabelecidas as regras que guarnecem o direito essencial do acionista


de fiscalizar o andamento dos negócios sociais, sendo este (direito
essencial legalmente previsto) equiparado aos direitos individuais
políticos; e a garantia de que o acionista deve ser tratado, na ordem
econômica, com a dignidade reclamada na Constituição em dois
dispositivos e, ainda, o tratamento isonômico ao acionista
minoritário, no exercício da fiscalização, temos que qualquer
alteração neste lineamento contraria disposições constitucionais, seja
esta modificação decorrente da manifestação legislação ou mesmo de
atitudes dos acionistas detêm o controle/administração da sociedade."
(Acionista Minoritário na Sociedade Anônima: Direito de Fiscalização:
Uma Abordagem Não-Dogmática, Carlos Alberto Benke, Porto Alegre,
Livraria do Advogado, 2003).

O direito de fiscalização vem a ser, em tal contexto, o principal instrumento de defesa


do acionista minoritário, sendo as assembléias gerais a sede própria ao exercício desse
direito essencial, e para que elas se desenvolvam validamente e objetivem os seus fins
há de ser observado o denominado método assemblear, que tem por função precípua
ensejar a formação da vontade social.
Requisito essencial do método assemblear é que seja assegurado ao acionista a plena
informação sobre os assuntos a serem deliberados, bem como o exercício do
contraditório em relação às matérias debatidas para a formação da vontade social. O
contraditório, aliás, não por acaso, tem status constitucional, figurando no elenco dos
direitos e garantias fundamentais (Constituição Federal, art. 5o, inciso LV), o que,
novamente, evidencia a gênese constitucional dos direitos dos acionistas, em particular
o de fiscalização da gestão dos negócios sociais, previsto no art. 109, inciso III, da Lei
das S/A.

Tal a importância atribuída pela lei à observância do direito essencial de fiscalização do


acionista que o seu descumprimento é, como se sabe, motivo suficiente em si mesmo
para ensejar a anulação das deliberações assim viciadas.

O desvirtuamento de todos os princípios e regras legais e constitucionais aqui invocados


pode revelar-se por vários meios, entre elas, por exemplo, a deliberada e sistemática
adoção de práticas cerceadoras das atividades dos Conselhos Fiscais e de Administração
no desempenho das suas funções fiscalizadoras.

A adoção de atas sumárias nas assembléias gerais, por exemplo, embora expressamente
autorizada pelo art. 130, § 1o, da Lei das S/A, constitui uma dessas práticas contrárias à
governança corporativa. Decorre ela, em regra, de imposição feita pelos acionistas
controladores em detrimento dos minoritários, muitas das vezes com o objetivo de
escamotear a verdade e omitir as minúcias das questões postas em debate nos conclaves,
servindo, portanto, de instrumento ao abuso de direito previsto na lei civil (Código
Civil, art. 187).

A absoluta relevância das atas assembleares pode ser aferida à luz da lição de Modesto
Carvalhosa:

"A ata, como documento necessário da sociedade anônima, relacionado


com os trabalhos da assembléia geral, possibilita o controle da
legalidade e legitimidade da sua instalação e das deliberações
havidas. Constitui, pois, a ata instrumento de certeza jurídica, na
medida em que registra as deliberações e a vontade social, permitindo
assim que seja ela oponível aos demais órgãos sociais e, por meio
destes, ao colégio acionário e, após publicada, a terceiros.

Permite, ademais, esse documento da assembléia que, contra a


instalação, as deliberações e a vontade majoritária, sejam opostas às
exceções de irregularidade e de nulidade pelos acionistas, presentes e
ausentes." (sic) (op. cit.)

E é em razão da relevância das atas das assembléias que o mesmo autor é crítico
ferrenho da adoção da forma sumária, que acarreta verdadeira incerteza jurídica,
abalando o pilar do princípio documental da assembléia:

"O direito vigente também se filia ao princípio documental da


assembléia, baseado na lista de presença (art. 127) e na ata da
reunião dos acionistas, que devem constar dos livros próprios (art.
100), não admitindo, portanto, os respectivos assentamentos em
documentos ou folhas apartadas o soltas.
E quanto ao regime de declarações da ata, não só adota a forma
sintética como exacerba profundamente esse regime, ao instituir a ata
sumária. Assim, temos que a ata, por deliberação majoritária, poderá
ser lavrada sem que dela conste o inteiro teor dos protestos e
representações de acionistas. A iniqüidade desse sistema de ata
sumária foi reiteradamente apontada, durante a tramitação do projeto e
agora, após a promulgação da lei, por um dos grandes comercialistas
brasileiros. [especificamente Waldirio Bulgarelli, op. cit., p. 153]

A lei vigente traz outra inovação. Quando a ata não for sumária – e somente nesta
hipótese -, poderá a administração publicar apenas o seu extrato. Trata-se, igualmente,
de preceito lesivo aos interesses dos acionistas minoritários.

A lei mantém o regime de publicidade, porém com essas restrições que impedem que a
ata reflita, ainda que sinteticamente, os trabalhos da assembléia. O princípio da
informação torna-se relativo, já que se submetem os trabalhos à censura prévia dos
controladores (...). (op. cit., grifos nossos)

E arremata, lapidarmente:

"Em uma lei que se arvorou em defensora das minorias, a ata sumária
representa, sem dúvida, a própria derrogação daquelas, na medida em
que não podem os sócios, discordantes valer-se do regime da
publicidade para manifestar seus pontos de vista e, assim,
eventualmente, aglutinar outros acionistas na defesa do interesse
social.

A ata sumária constitui, pois, expediente de perpetuação do grupo


controlador, na medida em que este passa a ter poderes legais de
censura sobre as manifestações dos minoritários.

É princípio fundamental dever a ata ser redigida de maneira que


permita àqueles que dela não participaram do conclave e à Justiça
apreciar os fatos que ocorreram na assembléia geral.

A adoção, em cada assembléia, da ata sumária, depende de decisão dos


controladores, que decidirão em causa própria ou na dos
administradores por ele eleitos.

Pergunta-se em que ponto a ata sumária supressora da manifestação dos


acionistas minoritários pode atender ao interesse social. Tal
expediente atende apenas aos interesses dos controladores que, ao
sonegarem o registro e a publicação das manifestações minoritárias,
estão, na realidade, contrariando aquele interesse." (op. cit.; grifos
nossos)

Diante desse contexto, a gravação magnética dos conclaves revela-se, à luz dos direitos
e garantias individuais previstos na Constituição Federal e também em consonância com
o direito essencial de fiscalização garantido pela Lei das S/A, como um legítimo
instrumento de defesa dos acionistas minoritários contra arbitrariedades, o qual sequer
depende de autorização assemblear ou tutela jurisdicional específica para ser colocado
em prática.
Isto porque dita gravação, ainda que realizada sem o conhecimento e consentimento dos
demais presentes às assembléias gerais, é absolutamente legal e legítima, por decorrer
de direito subjetivo do acionista, situado fora do campo das provas ilícitas.

A gravação implícita ou explícita de assembléia geral ou de reunião do outros órgãos


societários de natureza colegiada (conselho de administração e conselho fiscal) insere-se
no âmbito das gravações privadas de conversas entre pessoas, com o exclusivo intuito
de documentar seu conteúdo (princípio da certeza jurídica), não podendo se orientar
pelos mesmos fundamentos de direito que norteiam a controvertida interceptação
telefônica.

No tocante à interceptação telefônica, os Tribunais brasileiros têm-se orientado,


modernamente, pelo entendimento inaugurado no voto paradigmático do Ministro
Nelson Jobim, no julgamento do HC n. 75.338-8-RJ, em 11/03/98.

Dito voto tratou especificamente da situação em que um indivíduo realiza gravação


telefônica sem o conhecimento do seu interlocutor.

Naquele caso, entendeu o Exmo. Sr. Ministro que a gravação telefônica autorizada ou
feita por um dos interlocutores, sem o conhecimento da outra parte, é albergada por
excludente de ilicitude quando há investida criminosa desta última. Entende-se que o
direito à privacidade é sacrificado em prol da legítima defesa ou de outra excludente de
antijuridicidade.

A gravação explícita de conversa, podendo-se inserir nessa espécie a gravação de


assembléias gerais de acionistas e reuniões de conselho de administração e de conselho
fiscal, não merece análise no campo das provas ilícitas, assumindo, portanto, viés
inteiramente diverso.

Reputando-se ilícita a prova obtida através da violação do ordenamento jurídico,


teremos como exemplos de atos contrários ao direito, praticados com o objetivo de
produção de prova, entre outros, a invasão domiciliar, a violação do sigilo epistolar, a
quebra de segredo profissional, a subtração de documentos, a escuta clandestina e o
constrangimento físico ou moral na obtenção de confissões ou depoimentos
testemunhais.

Nessas hipóteses a gravação não configura o exercício regular de um direito


reconhecido. Tal não se verifica, entretanto, na hipótese de gravação dos conclaves
realizados no seio das sociedades anônimas, em que o direito reconhecido vem a ser o
de fiscalização dos negócios sociais pelo acionista, previsto na Lei das S/A e cuja
gênese está nos direitos e garantias fundamentais da Constituição Federal, gerando
direito subjetivo passível de ampla proteção. Além disto, a gravação dos debates e das
deliberações ocorridas no âmbito de qualquer órgão societário traz o benefício da
certeza jurídica, elemento fundamental à implementação do princípio documental
inerente a tais atos coletivos.

Verifique-se o entendimento do Supremo Tribunal Federal, manifestado no julgamento


do HC 74.678-1. O Excelso Pretório, com apoio na doutrina de Vicente Greco Filho,
assim se posicionou:
"(...) a gravação unilateral feita por um dos interlocutores com o
desconhecimento do outro, chamada por alguns de gravação clandestina
ou ambiental (não no sentido de meio ambiente, mas no ambiente), não é
interceptação nem está disciplinada pela lei comentada e, também
inexiste tipo penal que a incrimine. Isso porque, do mesmo modo que no
sigilo de correspondência, os seus titulares – o remetente e o
destinatário – são ambos, o sigilo existe em face dos terceiros e não
entre eles, os quais estão liberados se há justa causa para a
gravação.

(...)

Em nosso entender, aliás, ambas as situações (gravação clandestina ou


ambiental e interceptação consentida por um dos interlocutores) são
irregulamentáveis porque fora do âmbito do inciso XII do art. 5º da
Constituição e sua licitude, bem como a da prova dela decorrente,
dependerá do confronto do direito à intimidade (se existente) com a
justa causa para a gravação ou interceptação, como estado de
necessidade e a defesa de direito, nos moldes da disciplina da
exibição da correspondência pelo destinatário (art. 153 do Código
Penal e art. 233 do Código de Processo Penal)."

O mesmo acórdão faz alusão expressa, na sua fundamentação, à excelente obra de Luiz
Francisco Torquato Avolio (Provas Ilícitas, São Paulo, RT, 1995), que afirma:

"Observa-se que a jurisprudência, de modo geral, ainda não assimilou


bem o conceito de gravação clandestina. A clandestinidade, nesse caso,
não se confunde com a ilicitude. Qualquer pessoa tem o direito de
gravar a sua própria conversa, haja ou não conhecimento da parte de
seu interlocutor. O que a lei penal veda, tornando ilícita a prova
decorrente, é a divulgação da conversa sigilosa, sem justa causa. A
‘justa causa’ é exatamente a chave para se perquirir a licitude da
gravação clandestina. E, dentro das excludentes possíveis, é de se
afastar – frise-se – o direito à prova. Os interesses remanescentes
devem ser suficientemente relevantes para ensejar o sacrifício da
privacy. Assim, por exemplo, a vida, a integridade física, a
liberdade, o próprio direito à intimidade e, sobretudo, o direito de
defesa, que se insere entre as garantias fundamentais. Ocorrendo,
pois, conflito de valores dessa ordem, a gravação clandestina é de se
reputar lícita, tanto no processo criminal como no civil,
independentemente do fato de a exceção à regra da inviolabilidade das
comunicações haver sido regulamentada." (grifo nosso)

Concluiu o autor que o sistema brasileiro é similar ao italiano, "onde a tutela do sigilo
das comunicações não abrange a gravação clandestina de conversa própria, o que as
torna, portanto, admissíveis no processo."

O Ministro Carlos Velloso, no julgamento da Ação Penal n° 307-3-DF, assim se


pronunciou:

"Faço distinção entre gravação efetuada por terceiro, que intercepta


conversa de umas pessoas, da gravação que se faz para documentar uma
conversa entre duas pessoas. Neste caso, não tenho como ofendido
preceito constitucional e nem tenho como ilícita a prova, dado que não
há, na ordem jurídica brasileira, nenhuma lei que impeça a gravação
feita por um dos interlocutores de uma conversa, inclusive para
documentar o texto dessa conversa, futuramente.
(...)

Nenhum homem de bem gravará uma conversa que tenha tido com outrem,
sem que dê conhecimento ao seu interlocutor, de que a conversa está
sendo gravada. Mas a questão fica no campo ético. Não há proibição
legal. "

No Superior Tribunal de Justiça encontra-se pensamento idêntico, como se pode ver no


voto do Ministro Cláudio Santos proferido no Recurso Especial nº 9.012-RJ
(91.0004503-9):

"Considero que, em regra, quando alguém mantém determinada


conversação, seja pessoalmente, seja com o uso de meios eletrônicos,
arrisca-se a ver a mesma divulgada, o que configurará, quando muito,
uma inconfidência, cujo grau de censurabilidade não chega a tornar
ilícita a prova.

Não se admitirá a divulgação, sem justa causa, de fatos que digam com
a privacidade das pessoas. Caberá ao juiz avaliar. Generalizar a
proibição é que não me parece adequado."

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro também já se pronunciou em linha


com o entendimento majoritário:

"EMBARGOS DO DEVEDOR. PRODUCAO DE PROVA. DEFERIMENTO. POSSIBILIDADE.


AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESPACHO SANEADOR.

Embargos do Devedor. Prova consistente em gravações magnéticas


Possibilidade. Se a prova se limita à reprodução de diálogos entre as
partes, não é ilícita a sua admissão pois não atinge princípio
constitucional, observado o art. 383 do CPC. Citação do embargado.
Desnecessário que conste expressamente da inicial dos Embargos a
citação da outra parte, dado o seu caráter, incidental, e diante da
norma contida no art. 740 do CPC. Não se procede à impugnação ao valor
da causa se não observado o rito determinado pelo art. 261 do CPC.
RECURSO IMPROVIDO.

Tipo da Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO

Número do Processo: 2002.002.15158

Data de Registro : 26/03/2003

Órgão Julgador: QUARTA CAMARA CIVEL

DES. SIDNEY HARTUNG

Julgado em 11/02/2003"

"SEPARAÇÃO JUDICIAL. GRAVAÇÃO DE CONVERSAS TELEFÔNICAS. ILICITUDE DA


PROVA. NÃO CONFIGURAÇÃO. Agravo de Instrumento. Prova. Não configura
prova ilícita a gravação de conversa telefônica feita por um dos
interlocutores. Precedentes. Decisão que se reforma.

Tipo da Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO


Número do Processo: 2001.002.14672

Data de Registro : 12/06/2002

Órgão Julgador: PRIMEIRA CÂMARA CIVEL

DES. MARIA AUGUSTA VAZ

Julgado em 09/04/2002"

"PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA.


INSTRUMENTO PARTICULAR. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. PEDIDO DE RESCISÃO.
FITA MAGNÉTICA. PROVA. ADMISSIBILIDADE. RESTITUIÇÃO DAS MPORTÃNCIAS
PAGAS. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS CONTRATUAIS. DANO MORAL.
CARACTERIZAÇÃO. INDENIZACAO. LITIGANCIA DE MÁ-FÉ. CONFIGURACAO.
RECURSO PROVIDO.

Civil. Promessa de compra e venda de imóvel, mediante instrumento


particular de incorporação imobiliária, de cobertura localizada na
Barra da Tijuca. Entrega pela construtora de apartamento duplex, ao
invés de uma cobertura. Rescisão do contrato por inadimplemento.
Gravação feita por quem participou da conversa gravada. Não se
cuidando de interceptação de conversa telefônica ou de outro meio
ilegal ou moralmente ilícito, mas simplesmente de reprodução de
conversa mantida pelas partes e gravada por uma delas, há de ser esta
gravação admitida como prova em juízo, a teor do artigo 383, Código de
Processo Civil, independendo a admissibilidade da referida prova do
conhecimento de sua formação pela outra parte. Restituição integral
dos valores pagos, corrigidos monetariamente, a partir de cada
reembolso, incidindo os juros iguais do contrato. Devida a indenização
fundada no dano moral. Litigância de má-fé caracterizada. Provimento
do apelo. (FJB)

Partes: JORGE JOAQUIM DE ALMEIDA E S/M - SÃO FERNANDO PATRIMONIAL


LTDA. Ementário: 24/2002 - N. 23 - 29/08/2002

Tipo da Ação: APELAÇÃO CÍVEL

Número do Processo: 2001.001.12197

Data de Registro : 13/08/2002 Folhas: 140991/141002

Comarca de Origem: CAPITAL

Órgão Julgador: PRIMEIRA CÂMARA CIVEL

Votação : Unânime

DES. PAULO SERGIO FABIÃO

Julgado em 16/10/2001"

COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. NOTA PROMISSÓRIA. GRAVAÇÃO DE CONVERSAS


TELEFÔNICAS. PROVA PERICIAL. ILICITUDE DA PROVA.

PROCESSO CIVIL - AÇÃO ORDINÁRIA, VISANDO DESCONSTITUIR NOTA


PROMISSÓRIA EMITIDA EM NOME DO VENDEDOR E QUE SE ENCONTRA EM SEU PODER
- PROVA PERICIAL DEFERIDA. DE CONVERSAS TELEFÔNICAS, RELATIVAS AO
NEGÓCIO, NO SENTIDO DE APURAR AS VERSÕES CONTRADITÓRIAS DAS PARTES
ENVOLVIDAS NA TRANSAÇÃO - CORREÇÃO DA DECISÃO HOSTILIZADA JÁ QUE NÃO
SE TRATA DE PROVA OBTIDA POR MEIO ILÍCITO, MAS DE CONVERSAS A RESPEITO
DO NEGÓCIO - RECURSO IMPROVIDO.

Tipo da Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO.

Número do Processo: 2000.002.09608

Data de Registro : 04/01/2001

Órgão Julgador: DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CIVEL

DES. GAMALIEL Q. DE SOUZA

Julgado em 21/11/2000"

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRODUÇÃO DE PROVA AUDITIVA CONSISTENTE NA


REPRODUÇÃO DE FITA CASSETE. ATO ENVOLVENDO APENAS AS PARTES, NA
RECLUSÃO TÍPICA DE CONSULTÓRIO MÉDICO. LICITUDE E VALIDADE.

NÃO É CONSIDERADA ILÍCITA PROVA RESULTANTE DE GRAVAÇÃO DE CONVERSA


REALIZADA POR UM DOS INTERLOCUTORES REVELANDO-SE IRRELEVANTE A
CIRCUNSTÂNCIA DE SER A GRAVAÇÃO FEITA FURTIVAMENTE, SEM INTERFERÊNCIA
DE TERCEIROS, LIMITANDO-SE O ENVOLVIMENTO AS PRÓPRIAS PARTES.
INOCORRÊNCIA DO COMPROMETIMENTO À PRIVACIDADE ASSEGURADA NO TEXTO
CONSTITUCIONAL. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Tipo da Ação: AGRAVO DE INSTRUMENTO.

Número do Processo: 1999.002.0632

Data de Registro : 26/10/1999

Órgão Julgador: DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

DES. MARIA HENRIQUETA LOBO

Julgado em 14/09/1999"

Pode-se concluir, portanto, pela absoluta licitude e constitucionalidade da gravação de


reunião por um dos interlocutores, ainda que sem o consentimento dos demais,
mormente quando dita gravação tem por escopo prevenir ou registrar eventuais abusos
ou violações do direito.

No campo do direito societário, a única restrição que se poderia fazer é a que abriga o
interesse da companhia em preservar o sigilo de seus negócios. No entanto, tal interesse
não resta atingido pelo mero ato de gravação de uma reunião ou assembléia em que tais
assuntos sejam tratados. Apenas o uso indevido dos dados gravados é que poderia
caracterizar a quebra desse sigilo, tendo a companhia e todos os seus acionistas, sempre,
a garantia da legal da reparação dos eventuais danos, que subsistem no campo
meramente hipotético e, ainda assim, são passíveis de composição pelo direito comum.
Não pode ser esquecido, por fim, que o direito subjetivo à gravação de uma assembléia
ou reunião por qualquer dos presentes consubstancia ato pessoal e individual de quem
está executando a gravação, não se tratando de ato próprio do respectivo conclave,
como órgão social, ou mesmo da companhia, tornando incabível sua limitação por
deliberação majoritária dos presentes.

1
A AÇÃO DE ANULAÇÃO DE DELIBERAÇÃO DE ASSEMBLÉIA NA
SOCIEDADE
ANÔNIMA
Guilherme Carvalho Monteiro de Andrade*
Sumário: Introdução; 1. Considerações preliminares; 2. Espécies de Assembléia;
3. Formalidades para convocação, instalação e realização; 4. Modalidades de
Vícios – Causa de Pedir; 5. Legitimação ativa e passiva; 6. Prescrição; 7. Pedido. 8.
Procedimento. Conclusão.
INTRODUÇÃO
A assembléia da sociedade anônima é a reunião dos acionistas da companhia que tem
por
objetivo deliberar sobre o desenvolvimento das atividades empresárias.
Nesse encontro os acionistas tomam conhecimento dos assuntos ordinários e
extraordinários
relativos aos negócios sociais e, após o debate acerca das questões colocadas em
análise, decidem
quais serão os rumos da companhia.
A validade da assembléia exige a observância de alguns aspectos formais e materiais
estipulados na Lei nº 6.404/76 (LSA), no que diz respeito à convocação, à instalação e à
realização
do conclave.
Caso exista irregularidade na convocação da assembléia, ou na hipótese de sua
instalação
ocorrer sem a presença do quorum legal mínimo, ou, ainda, se algum acionista votar
contrariamente
aos interesses da companhia, por exemplo, a deliberação tomada ou todo o conclave
poderão ser
invalidados judicialmente.
A análise desses vícios e das questões que envolvem a ação de anulação de assembléia
(ou
de alguma de suas deliberações) será, portanto, o objeto do presente artigo.
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Antes de adentrarmos no exame do ponto central do estudo, é preciso tecer algumas
observações, para melhor compreensão do assunto.
O artigo 121, da LSA, prevê que “a assembléia geral, convocada e instalada de acordo
com
a lei e o estatuto, tem poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto da
companhia e
tomar as resoluções que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento”.
Como conseqüência da interpretação da referida norma, percebe-se que a assembléia
deve
respeitar aspectos legais e estatutários, para que não seja impugnada e para que suas
deliberações
*Graduado em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos, Mestrando em Direito Empresarial pela
Faculdade de Direito Milton Campos, Advogado.
2
sejam consideradas válidas.
A assembléia é o instrumento pelo qual os acionistas decidem sobre quaisquer negócios
relativos à companhia, somando suas vontades individuais, a fim de alcançar a
formação da
vontade da sociedade (da coletividade de acionistas).
A deliberação tomada em assembléia configura um processo complexo, composto pela
exposição, debate e votação de cada matéria colocada em pauta.
De outro lado, também se revela importante consignar que a assembléia geral é “um
órgão
necessário, que não pode faltar em nenhuma companhia, nem ser substituído, quanto à
sua
competência e funções, por qualquer outro”1.
A assembléia é um órgão interno e soberano2, que não tem poderes para representar a
companhia (somente a diretoria poderá fazê-lo), cujo poder não deriva de nenhum outro
órgão da
sociedade.
Como ensina Aloysio Lopes Pontes, citando Constans, a assembléia é
o poder legislativo da sociedade, pois é ela é que faz os estatutos, ‘que são as leis da
sociedade, reformam-nos, realizam os contratos mais importantes que afetam a
sociedade ou aqueles outros que, por sua condição legal, não os podem realizar os
administradores’.3
É a assembléia, então, talvez o órgão mais importante da administração da companhia,
vez
que se trata de órgão de deliberação, que representa a vontade coletiva manifestada pela
expressão
individual dos titulares de ações.
2. ESPÉCIES DE ASSEMBLÉIA
Existem dois tipos de assembléia, as ordinárias (AGO) e extraordinárias (AGE), cada
qual
tratando de matéria própria, definida em lei.
As assembléias gerais ordinárias devem ser realizadas nos quatro primeiros meses
seguintes
ao término do exercício social, sendo a sua finalidade precípua (i) tomar as contas dos
administradores, deliberando sobre demonstrações financeiras apresentadas, (ii) decidir
sobre a
destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos e (iii) eleger
administradores
e membros do conselho fiscal, se for o caso.
As demais atribuições das assembléias gerais ordinárias estão enumeradas pelo art. 122,
da
1 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas: lei 6.404, de 15 de dezembro de
1976.
São Paulo: Saraiva, 1998. v. 2, p. 510.
2 Obra citada na nota anterior.
3 PONTES, Aloysio Lopes. Sociedades anônimas. 5. ed. rev. ampl., adaptada à lei nº 9.457, de
06.05.1977. Rio de
Janeiro: Forense, 1999. v. 2, p. 83.
3
LSA.4
No que diz respeito à AGE, prevê o art. 131, da LSA, que ela deverá tratar das matérias
não atinentes à AGO. Em outras palavras, significa dizer que, se a lei não definir a
atribuição para a
AGO, a competência será residual da AGE.
Com esta distinção, o Legislador estabeleceu como competência indelegável da AGO
algumas matérias consideradas essenciais à vida da companhia. Logo, não pode o
estatuto,
tampouco qualquer outro órgão da companhia, delegar atribuição da AGO para outrem,
a menos
que a lei o autorize5.
Esta diferenciação, destarte, será fundamental para o exame das hipóteses em que a
deliberação tomada em assembléia (ou todo o conclave) pode ser invalidada por algum
acionista.
3. FORMALIDADES PARA CONVOCAÇÃO, INSTALAÇÃO E REALIZAÇÃO
Dispõe o art. 123, da LSA, que compete ao conselho de administração ou aos
administradores a convocação da assembléia geral, fixando os prazos previstos para que
se realize o
chamamento aos acionistas.
No caso de o órgão ou de as pessoas encarregadas pela convocação não se
desincumbirem dessa obrigação dentro do prazo estabelecido pela lei ou pelo estatuto, o
chamamento poderá ser realizado por qualquer acionista, se decorridos mais de 60
(sessenta) dias,
ou por acionistas minoritários, que detenham, pelo menos, 5% (cinco por cento) do
capital social ou
votante, conforme o interesse da convocação.
Assim, para que seja reputada válida, a convocação deve ser realizada pelo órgão ou
pessoa competente.
4 “Art. 122. Compete privativamente à assembléia-geral:
I - reformar o estatuto social;
II - eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da companhia, ressalvado o
disposto no
inciso II do art. 142;
III - tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as demonstrações financeiras por
eles
apresentadas;
IV - autorizar a emissão de debêntures, ressalvado o disposto no § 1º do art. 59;
V - suspender o exercício dos direitos do acionista (art. 120);
VI - deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a formação do capital social;
VII - autorizar a emissão de partes beneficiárias;
VIII - deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da companhia, sua dissolução e
liquidação,
eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as contas; e
IX - autorizar os administradores a confessar falência e pedir concordata.
Parágrafo único. Em caso de urgência, a confissão de falência ou o pedido de concordata poderá ser
formulado pelos administradores, com a concordância do acionista controlador, se houver, convocando-se
imediatamente a assembléia-geral, para manifestar-se sobre a matéria”.
5 A propósito, Modesto Carvalhosa defende essa posição, citando ensinamento de outros autores, na obra
Comentários à lei de sociedades anônimas, v. 2, p. 519-520.
4
Lado outro, “a convocação far-se-á mediante anúncio publicado6 por 3 (três) vezes, no
mínimo, contendo, além do local, data e hora da assembléia, a ordem do dia, e, no caso
de reforma
do estatuto, a indicação da matéria” (art. 124, da LSA).
Além disso, é preciso preencher o quorum mínimo de instalação da assembléia, seja ele
relativo às matérias comuns (art. 126, da LSA) ou para questões que exijam número de
presentes
qualificado (art. 136, da LSA).
Se alguma dessas formalidades não for observada, a assembléia poderá ser anulada, a
menos que nela comparecerem todos os acionistas detentores de ações com direito a
voto.
Ademais, para que o conclave seja reputado válido, também é necessário que o quorum
de
deliberação respeite a disposição legal (arts. 129 e 136, da LSA) e estatutária, bem
assim que a
assembléia seja competente para deliberar sobre a matéria constante da ordem do dia,
como já foi
visto anteriormente.
Noutra banda, a realização da assembléia deve respeitar um ritual próprio, definido
pelos
arts. 127 a 129, da LSA.
Logo, o desrespeito às disposições legais e estatutárias confere aos acionistas o direito
de
insurreição, a faculdade de pleitear judicialmente a anulação dessa assembléia irregular
(ou da
deliberação inválida), visando especialmente a proteção de seu interesse particular ou a
defesa da
companhia.
4. MODALIDADES DE VÍCIOS DAS ASSEMBLÉIAS – CAUSA DE PEDIR
Para melhor compreensão da ação de anulação de assembléia, é mister trazer à baila
uma
separação dos vícios feita por Erasmo Valladão Azevedo e Novaes França, pela sua
didática e
simplicidade.
Como ensinam os referidos autores, os vícios que podem acarretar a anulação de
assembléia subdividem-se em três espécies:
a) vício da própria assembléia – que pode ter sido irregularmente convocada (ou
mesmo, não convocada) ou instalada, por força de violação da lei ou do estatuto,
hipótese em que o vício, obviamente, atingirá todas as deliberações que nela forem
tomadas;
b) vício das deliberações – nessa hipótese, os vícios dizem respeito às próprias
deliberações assembleares, que podem ter sido tomadas, todas ou algumas delas
apenas, com violação da lei ou do estatuto;
c) vício de voto – um ou alguns dos votos que concorreram para a formação da
deliberação (ou mesmo todos eles, em alguns casos), podem ter sido viciados em
razão de erro dolo, fraude, ou simulação (ou, ainda, em virtude da incapacidade dos
votantes, ou de violação do disposto nos §§1ºs, do art. 115 e do art. 134, ou no § 2º
do art. 228).7
6 Conforme regra constante do art. 289, da LSA.
7 AZEVEDO, Erasmo Valladão; FRANÇA, Novaes. Invalidade das deliberações de assembléia das S.A..
São
Paulo: Malheiros Editores, 1999. p. 85.
5
Em relação à distinção transcrita acima, é preciso consignar, em primeiro lugar, que a
identificação precisa do tipo do vício será fundamental para que o acionista possa
utilizar-se da
correta ação de anulação de assembléia.
Há casos em que toda a assembléia poderá ser invalidada, ou somente parte das
deliberações tomadas no conclave, dependendo da espécie de vício ocorrida.
Ademais, embora não conste da Lei de S/A expressamente, a doutrina mais avisada
defende
a hipótese de ser possível anulação de assembléia, se restar presente o vício de voto
oriundo de
coação, quando esse voto concorrer para a formação da maioria no conclave8.
Fora isso, outra situação não prevista claramente na Lei de S/A diz respeito aos casos
em
que o vício verificado na assembléia é tão grave, que atente contra a ordem pública ou
contra os
bons costumes, ou, ainda, que infrinja direito de terceiros.
Nessas hipóteses, a mácula representa a nulidade do ato, não se enquadrando, então, no
regime de anulabilidade estabelecido pelo art. 286, da LSA9. O pedido dessa ação será,
assim, a
declaração de nulidade do ato inquinado.
Daí porque será necessário que se analise o caso concreto com muito cuidado,
identificando-se o vício que se pretende atacar, para definir pela ação declaratória de
nulidade do
ato, ou pela ação de anulação (total, ou parcial) da assembléia realizada pela companhia.
5. LEGITIMAÇÃO ATIVA E PASSIVA
No que diz respeito à legitimação ativa para a utilização da ação de declaração de
nulidade
de assembléia (ou de alguma de suas deliberações), “qualquer interessado” ou o
Ministério
Público10, quando lhe couber intervir11, poderá ser autor da demanda neste caso.
Além dessas pessoas, estará legitimado a buscar a declaração de nulidade qualquer
acionista, mesmo aqueles que votaram favoravelmente à deliberação inquinada pelo
vício que se
pretende combater12, na medida em que os efeitos dessa mácula são extremamente
graves e, em
razão disso, devem ser combatidos com rigor.
Em qualquer um desses casos, o autor da referida ação declaratória deverá demonstrar o
8 Nesse sentido, confira-se Modesto Carvalhosa, citando Miranda Valverde, na obra Comentários à lei de
sociedades anônimas, v. 4, p. 432.
9 Azevedo e França defendem essa posição, colacionado escólio de abalizados autores. A propósito,
conferir
págs. 106 e seguintes da obra Invalidade das deliberações de assembléia das S.A..
10 Ao ensejo, verificar norma contida no art. 168, do Código Civil de 2002.
11 A Lei nº 7.913/89 dispõe sobre a ação civil pública de responsabilidade por danos causados aos
investidores
do mercado de valores mobiliários – conferir, a propósito, CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade
anônima.
3. ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. p. 410.
12 Aloysio Lopes Pontes defende o contrário, fundamentando-se, inclusive, em julgados que colaciona a
seu
trabalho. Confira-se pág. 120, da obra Sociedades anônimas. 5. ed. rev. ampl., adaptada à lei nº 9.457, de
06.05.1977. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. 2.
6
seu interesse de agir13, sob pena de sua pretensão ser rejeitada pelo Judiciário.
Na hipótese da ação de anulação da assembléia (ou de alguma deliberação), por sua vez,
a
legitimação ativa ad causam será, em regra, somente do acionista que votou
contrariamente à
deliberação que se pretende anular ou àquele que se absteve de votar no conclave.
Contudo, se o acionista que tiver votado favoravelmente ao ato que se pretende anular
tiver
agido impulsionado por algum vício de consentimento, ele também estará legitimado a
pedir a
anulação da deliberação tomada ou de toda a assembléia.
Há discussão doutrinária14 sobre a legitimidade ativa de outras pessoas, como, por
exemplo,
do acionista que ingressou na companhia depois de tomada a deliberação, do
usufrutuário em
relação ao nu-proprietário da ação, do administrador e do conselho fiscal da companhia,
de
credores e de terceiros, assunto que se revela demasiadamente tormentoso e, portanto,
será
reservado para outro artigo.
Assim, a questão da legitimidade ativa para a propositura da ação de anulação de
deliberação de assembléia (ou de alguma de suas deliberações) deve ser analisada de
acordo com
essas observações.
Noutro giro, quanto ao pólo passivo da ação de anulação e da ação de declaração
nulidade,
a doutrina é pacífica em admitir como parte legítima a companhia.
Haverá casos, todavia, nos quais o acionista que tiver cometido abuso no exercício do
direito de voto poderá ser incluído no pólo passivo da demanda, em litisconsórcio com a
companhia, se houver pedido de ressarcimento de danos formulados contra ele.
Logo, em princípio, a companhia será a parte legitimada para responder à ação de
declaração de nulidade ou à ação de anulação de assembléia (ou de alguma de suas
deliberações).
6. PRESCRIÇÃO
Conforme previsão contida no art. 286, da LSA,
a ação para anular as deliberações tomadas em assembléia-geral ou especial,
irregularmente convocada ou instalada, violadoras da lei ou do estatuto, ou eivadas
de erro, dolo, fraude ou simulação, prescreve em 2 (dois) anos, contados da
deliberação.
Embora o marco inicial definido na lei seja a data da deliberação, importante registrar
que a
doutrina mais avisada15 já sedimentou o entendimento de que o termo a quo começa da
publicação
da deliberação.
13 Azevedo e França sustentam esse entendimento, colacionado ensinamento de Orlando Gomes e Pontes
de
Miranda, na pág. 119 da obra Invalidade das deliberações de assembléia das S.A..
14 Obra de Azevedo e França, Invalidade das deliberações de assembléia das S.A., p. 121-125.
15 A propósito, Modesto Carvalhosa sustenta essa posição, citando outros autores, inclusive, na obra
Comentários à lei de sociedades anônimas, v. 4, p. 421-422.
7
E assim defendem esses autores, com base na interpretação sistemática da Lei de S/A,
na
medida em que os arts. 285 e 287, que também tratam de prescrição, estabelecem como
marco
inicial do prazo prescricional a data da publicação do ato.
Haverá casos, entretanto, que o início desse prazo não poderá ser a data da publicação,
porque a companhia pode deixar de dar publicidade ao ato, prevalecendo, então, a data
da
deliberação (ou da prática do ato inquinado) como o termo a quo do prazo prescricional.
Também existirão situações em que o início do prazo prescricional não poderá ser a data
da
publicação da deliberação da assembléia, se a pessoa agravada pela deliberação não for
acionista
da sociedade, vigorando, assim, o prazo de prescrição previsto na Legislação Civil16.
Nessas circunstâncias, essa análise deverá ser feita no caso concreto, sendo
imprescindível
examinar-se o vício objeto do pedido, a condição do postulante e a sua relação com a
companhia,
para adequada definição do marco inicial e do prazo prescricional correto (civil ou
especial).
7. PEDIDO
Em relação ao pedido da ação de anulação de assembléia, é preciso utilizar a
classificação
citada no tópico quatro, para melhor compreensão do tema.
Com efeito, se a mácula que se pretende anular tratar-se de vício da própria assembléia
(causa de pedir), que pode ter origem na convocação, instalação ou realização irregular,
o pedido
da demanda será a anulação total do conclave. Mesmo que as deliberações tomadas
tenham
respeitado as disposições legais ou estatutárias, o referido vício acarretará a invalidação
integral da
assembléia, não sendo possível o aproveitamento de qualquer ato ou decisão.
De outro lado, se se tratar de vício de deliberação (causa de pedir), o pedido da ação
restringir-se-á à específica decisão ou ao ato inquinado, não afetando as demais
deliberações da
assembléia. Pode ocorrer, entretanto, que esse vício de deliberação recaia sobre todas as
questões
analisadas e decididas, hipótese em que o pedido será a anulação total, não apenas
parcial do
conclave.
Ademais, ainda existe o vício de voto (causa de pedir), decorrente de erro, dolo, fraude,
simulação, ou coação (se essas máculas forem decisivas para a formação da maioria,
lembre-se),
caso em que o pedido poderá ser a anulação parcial, ou total.
Seja qual for a causa de pedir da ação de anulação, o postulante deverá demonstrar o
prejuízo efetivo que a deliberação ou assembléia acarreta ou a possibilidade de dano
futuro, em
respeito ao brocardo pas de nullité sans grief.
Modesto Carvalhosa, citando Miranda Valverde, defende que em ambos os casos
destacados anteriormente é possível pleitear a anulação das deliberações de assembléia,
se
16Azevedo e França, na pág. 127 da obra Invalidade das deliberações de assembléia das S.A., cita
acórdão
proferido pelo Supremo Tribunal Federal, em decisão relatada pelo Ministro Oscar Dias Correa, no
julgamento
do Recurso Extraordinário nº 94.862-CE, realizado em 04.12.1983, unânime, que adota esse
entendimento.
8
comprovado o interesse de agir (prejuízo atual ou futuro). Confira-se:
A ação anulatória das deliberações da assembléia geral ou especial pressupõe, em
regra, a existência de prejuízos delas decorrentes para o autor, acionistas, ou para a
sociedade. Todavia, casos haverá em que a ação visará, exclusivamente, a
restabelecer a ordem jurídica na sociedade anônima, turbada por uma deliberação
violadora da lei, ou dos estatutos. Prejuízo pecuniário atual não existe, mas tãosomente
a possibilidade de se consolidar uma situação que poderá dificultar a vida
da sociedade ou sacrificar o legítimo interesse de seus acionistas.17
No mesmo sentido, Aloysio Lopes Pontes colaciona em sua obra18 julgado do Tribunal
de
Justiça do Estado de Alagoas que possui entendimento de ser dispensável a prova do
prejuízo, no
caso de dano potencial.
Haverá situações em que o pedido não se limitará à anulação de deliberação ou de toda
a
assembléia. É tranquilamente possível a cumulação do pedido anulatório com pretensão
de
ressarcimento, se houver a prática de abuso por parte de algum acionista, que venha a
acarretar
prejuízos a outro acionistas ou à companhia. Caberá, neste caso, a inclusão de quem
tiver
provocado o dano no pólo passivo da demanda, como já foi visto.
8. PROCEDIMENTO
Sem aprofundar nas discussões travadas pelos processualistas, o procedimento da ação
de
nulidade ou da ação de anulação será ordinário declaratório, em regra.19
Quando as circunstâncias evidenciarem que os efeitos do provimento final deverão ser
desde
logo concedidos, poderá o autor da demanda pedir a antecipação dos efeitos da tutela
buscada.
Nesse caso, em respeito ao disposto no art. 273, do Código de Processo Civil, o autor
deverá trazer com a petição inicial prova inequívoca do defendido vício (deve
comprovar que o ato
ou a deliberação seja contrário à lei ou ao estatuto), para que o juiz se convença da
verossimilhança
de suas alegações (deve demonstrar que a demora na concessão do pedido pode
acarretar sérios e
irreversíveis prejuízos), concedendo-lhe a antecipação de tutela pretendida.
Luiz Fernando C. Pereira esclarece que
não basta, para o deferimento da medida, a alegação de contrariedade à lei ou ao
estatuto/contrato social: verossimilhança. A isso soma-se a exigência do justificado
receito de ineficácia do provimento final que a produção de determinados efeitos da
deliberação questionada pode gerar. Logo é possível imaginar uma deliberação
questionada, a qual apenas parte da eficácia total gerada ocasiona efeitos prejudiciais
ao direito da parte. Também é possível imaginar que a parcela eficacial gerada que
17 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas, v. 2, p. 425.
18 PONTES, Aloysio Lopes. Sociedades anônimas, p. 118.
19 A norma do parágrafo 7º, do art. 273, CPC, esvaziou o debate sobre a impropriedade da utilização de
ação
ordinária e sobre antecipação de tutela em ação declaratória, quando previu que “se o autor, a título de
antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os
respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado”.
9
não produza efeitos prejudiciais produza, com a eventual suspensão, de conter,
efeitos maiores do que poderia gerar a não-suspensão. É certo que não se defere a
medida quando a suspensão gerar prejuízo maior do que a não-suspensão.20
Em grade parte das vezes, recomenda-se que a antecipação seja deferida liminarmente e
sem a audiência da parte contrária, pois a oitiva do réu pode tornar sem sentido o
deferimento da
medida posteriormente. O contraditório será apenas adiado, para permitir a efetividade
da tutela.21
Na hipótese de a concessão da antecipação de tutela acarretar perigo de irreversibilidade
do
provimento, nos termos do parágrafo 2º, do citado art. 273, não se revela prudente seu
deferimento.
Entretanto, a referida regra não deve ser analisada literalmente, sob pena de não
desvirtuar-se a
verdadeira mens legis22. Portanto, se forem preenchidos os requisitos do caput e do
parágrafo 1º,
do referido art. 273, deve ser deferida a antecipação.
Poderá ocorrer, ainda, situações que envolvam a suspensão de ato ou de deliberação
ainda
não executados23. Nestes casos, o autor poderá valer-se da ação ordinária declaratória,
como
também será possível a utilização da cautelar inominada preparatória, sendo imperioso
que se
demonstre, em qualquer uma das hipóteses, a necessidade de suspensão antecipada24 do
ato havido
como prejudicial.
CONCLUSÃO
1. A assembléia é parte fundamental dentro da estrutura da sociedade anônima, vez que
se trata do
órgão deliberativo que resolve quais serão os rumos dos negócios sociais.
2. Em razão dessa relevância, foi estabelecida uma série de formalidades para a
convocação,
instalação e realização das assembléias, visando, principalmente, preservar os interesses
da
companhia e de seus acionistas, bem como o respeito à lei e ao estatuto.
3. Caso haja o desrespeito às regras legais ou estatutárias, teremos a ocorrência de vícios
(da
própria assembléia, de deliberação ou de voto) que podem invalidar as deliberações
tomadas
no conclave, ou, até mesmo, provocar a anulação de toda a assembléia.
20 PEREIRA, Luiz Fernando C. Medidas urgentes de direito societário. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002.
p. 138.
21 “Ao contraditório prévio, sempre que possível” (PEREIRA, Luiz Fernando C. Medidas urgentes de
direito
societário, p. 157).
22 O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp nº 144.656-ES, Relatado pelo Ministro
Adhemar
Maciel, 2ª Turma, J. 06.10.97, esposou o entendimento de que “a exigência da irreversibilidade inserta no
§ 2º
do art. 273 do CPC não pode ser levada ao extremo, sob pena de o novel instituto da tutela antecipatória
não
cumprir a excelsa missão a que se destina”.
23 A propósito, Aloysio Lopes Pontes cita um julgado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que
defende o entendimento de não ser possível a utilização de ação preventiva, criticando durante a posição
da
Corte Bandeirante. Confira-se pág. 22, da obra Sociedades anônimas.
24 No caso de suspensão de deliberação nula, Luiz Fernando C. Pereira, obra Medidas urgentes de direito
societário, esclarece que embora não haja eficácia a ser suspensa é recomendável que se afaste a dúvida
que
paira sobre o ato. Verificar p. 163-164.
10
4. A identificação desses vícios será essencial para a adequada utilização da ação
judicial, vez que o
exame das questões envolvendo a legitimidade, o prazo de prescrição e o pedido
dependerá da
espécie de mácula encontrada.
5. A legitimação ativa ad causam da referida ação de anulação, em regra, será do
acionista que
tiver votado contrariamente ao ato que se pretende anular ou daqueles que tiverem se
abstido de
votar. A legitimidade passiva será da companhia, em princípio.
6. O prazo prescricional da aludida ação anulatória é de 2 (dois) anos, contados da data
da
publicação do ato inquinado, quase sempre. Porém, é a hipótese concreta que irá definir
o marco
inicial do prazo prescricional.
7. Poderá ser pleiteada a anulação total ou parcialda assembléia, ou, ainda, a declaração
de nulidade
do ato, dependendo do tipo de vício que se pretenda atacar.
8. O procedimento a ser adotado será o da ação ordinária, com pedido declaratório,
sendo
recomendável pugnar pela antecipação dos efeitos da tutela final. A utilização da
cautelar
preparatória também se revela possível.
9. Em razão de tudo isso, pode-se dizer que a referida ação de anulação representa um
valioso
instrumento contra atos praticados nas assembléias de sociedades anônimas, que se
caracterizem
como abusivos à lei ou ao estatuto.
REFERÊNCIAS
Obras Literárias
AZEVEDO, Erasmo Valladão; FRANÇA, Novaes. Invalidade das deliberações de
assembléia
das S.A.. São Paulo: Malheiros Editores, 1999.
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas: lei 6.404, de 15
de
dezembro de 1976. São Paulo: Saraiva, 1998.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 6. ed. rev. e atual. de acordo com o
novo
Código Civil e alterações da LSA. São Paulo: Saraiva, 2000. v. 2.
CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. Sociedade anônima. 3. ed. rev. e atual. Belo Horizonte:
Del Rey,
2005.
PEREIRA, Luiz Fernando C. Medidas urgentes de direito societário. São Paulo:
Revista dos
Tribunais, 2002.
PONTES, Aloysio Lopes. Sociedades anônimas. 5ª ed. rev. ampl., adaptada à Lei nº
9.457, de
06.05.1977. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. 2.
11
Legislação
BRASIL. Lei das sociedades anônimas. Obra coletiva de autoria da editora Saraiva com
a
colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt.
5. ed. atual.
São Paulo: Saraiva, 1999.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda; SILVEIRA, Alzira Malaquias da;
FERREIRA, Marina
Baird. Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro:
Nova
Fronteira, 1999. (Dicionário eletrônico, versão 3.0).
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
CD-Rom
JURIS Plenum. Caxias do Sul: Editora Plenum, 2006. Ed. 87, v. 1, Jurisprudência.
Sites consultados
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Consulta de jurisprudência sobre o assunto.
Disponível
em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2006.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS. Consulta de jurisprudência sobre a
matéria.
Disponível em: <http://www.tjmg.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2006.

ADMINISTRAÇÃO E DIRETORIA DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS


(LEI 6.404/76)
Eliane M. Octaviano Martins1
Paulo Roberto Colombo Arnoldi2
INTRODUÇÃO
O funcionamento da sociedade anônima requer organização. O problema da
administração
social nas sociedades anônimas é de caráter complexo, impondo
distribuição de poderes. A esses
centros de poderes da administração da sociedade anônima3dá-se,
doutrinariamente, a designação de
órgãos sociais, aos quais compete produzir a vontade social, representantes
dos poderes da
sociedade.
Adota o direito positivo brasileiro a teoria organicista para explicar a
natureza desses
núcleos de poderes sociais e disciplinar, de forma democrática, a
organização da sociedade,
distribuindo poderes em três categorias : poder deliberador e legislativo,
delegado à Assembléia
Geral; poder executivo ou administrativo, bipartido pela Diretoria e
Conselho de Administração e o
poder fiscalizador e de controle, adstrito ao Conselho de Fiscalização.4
CONDUÇÃO DOS NEGÓCIOS SOCIAIS - O ENFRAQUECIMENTO DA
ASSEMBLÉIA
GERAL
A lei manteve a Assembléia Geral como órgão soberano da companhia, e
assim deveria
constituir o poder supremo da sociedade; mas o que se constata na
realidade é que a estrutura
democrática da sociedade vem se dissipando, delegando caráter ilusório de
democracia às
deliberações assembleares. Têm se acentuado o declínio da importância da
assembléia geral,
considerada como o órgão supremo da sociedade e o fortalecimento da
Administração, como órgão
efetivamente condutor dos negócios sociais (Doutrina do Fuherprinzip).
No Brasil, constatam-se, portanto, o fenômeno do enfraquecimento da
Assembléia Geral e
o aviltamento dos órgãos de administração, concentrando-se o poder em
um grupo de controle,
devido ao desinteresse dos acionistas.5
1 Professora de Direito Marítimo, Direito Empresarial e Direito Internacional em
cursos de graduação e Pósgraduação.
Mestre pela UNESP e Doutora pela USP.Vice-Presidente do Instituto Paulista de
Direito
Comercial e Integração – IPDCI.
2 Presidente do Instituto Paulista de Direito Comercial e da Integração – IPDCI;
advogado militante, é
mestre, doutor e livre-docente em Direito Comercial, discplina que leciona junto às
Universidades São
Francisco – USF de Bragança Paulista (SP), UNAERP de Ribeirão Preto (SP) e UNESP
de Franca (SP).
É autor de diversas obras no Brasil e co-autor de diversas obras na Argentina.
3 Cf . Requião, Rubens . Curso de Direito Comercial. São Paulo : Saraiva, 1988.
4Nos dizeres de Waldírio Bulgarelli : “A concepção organicista concebe um sistema
que regula a expressão
da vontade nas sociedades e a atividade exercida por seus órgãos como a
expressão da própria atividade da
pessoa jurídica in Manual das Sociedades Anônimas. São Paulo : Atlas, 1984.
5A Lei 6.404/76 procurou introduzir mecanismos que impeçam a tendência
discricionária e autocrática da
administração, tentando estabelecer um equilíbrio de poderes da maioria e da
minoria, sem descaracterizar
os interesses da companhia.
ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS
A Lei 6404/76 permite que as sociedades anônimas possuam dois órgãos
administrativos
: o Conselho de Administração e a Diretoria.
Inspira-se nosso sistema no moderno sistema germânico, que aponta a
melhor
estruturação da empresa como vantagem dessa bipartição administrativa6.
Tal sistema visa a
necessidade de um melhor ordenamento na administração das companhias,
em que se constata uma
separação entre o controle e o poder de gestão da sociedade. Procurou,
portanto, a lei brasileira,
dotar as sociedades anônimas de órgãos capazes de atender às
necessidades de grandes companhias,
facultando-se que a administração se subdivida em Conselho de
Administração e Diretoria.
De acordo com o art. 138 da Lei 6.404/76, a administração da companhia
competirá ao
conselho de administração e à diretoria, ou exclusivamente à diretoria, de
acordo com a disposição
estatutária, salvo para as sociedades de capital autorizado e as abertas, nas
quais a existência dos
dois órgãos é obrigatória..7
I - CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
1. Considerações Gerais
É órgão de deliberação colegiada, de caráter deliberativo e fiscalizador,
sendo a
representação da companhia privativa dos acionistas, conforme rege o art.
138, § 1º da lege ferenda.
A Lei impõe caráter obrigatório à existência do Conselho de Administração
somente para
as sociedades de capital autorizado e as abertas8, e facultativo nas demais
sociedades anônimas,
cabendo ao estatuto dispor a respeito da criação desse órgão.
A obrigatoriedade da existência de Conselho de Administração nas
companhias abertas
existe em função de que tais companhias efetuam negociação de ações no
mercado de capitais.
Tencionou o legislador brasileiro zelar quanto à garantia dos interesses de
terceiros que investem na
sociedade tornando-se acionistas, e tais interesses se revestem de maior
garantia com a existência de
um Conselho. Nesse sentido, permitiu também a lei a eleição de um
representante dos acionistas
minoritários pelo processo de voto múltiplo, nos termos do art. 141, § 4º.
No que concerne às sociedades de capital autorizado, a obrigatoriedade da
existência do
Conselho de Administração se fundamenta no fato de que tais sociedades,
nos aumentos de capital,
emitirão ações que poderão ser subscritas de modo especial, diversamente
da subscrição comum (art.
166, inciso I e 168).9
A autonomia dos diversos órgãos de administração centra-se no fato de não
serem os
dirigentes sociais mandatários dos sócios, mas consistem em
representantes da sociedade, que por ela
agem sem se imbuir da figura do mandato. Nesse sentido, é específica a lei
no art. 142, que
estabelece os poderes que cabem a tais órgãos, repetindo a regra desse
artigo no que concerne ao
6Cf. MARTINS, Fran. Comentários à Lei das S.A. Rio de Janeiro : Forense,
1978.REQUIÃO e Rubens,
cit. p. 165.
7Nos dizeres de Waldírio Bulgarelli : “A concepção organicista concebe um sistema
que regula a expressão
da vontade nas sociedades e a atividade exercida por seus órgãos como a
expressão da própria atividade da
pessoa jurídica Cf. BATALHA, Wilson de Souza Campos, ob. cit. p. 655.
8Faculta, portanto, a Lei, que a sociedade disponha estatutariamente sobre sua
existência, de acordo com
suas necessidades estruturais.Cumpre destacar que acordo com a lei, o Conselho
de Administração seria
de caráter obrigatório para as sociedades de economia mista (art. 239), mas à luz
da Constituição
Federal de 1988, reveste-se de inconstitucionalidade, face ao disposto no art. 173, §
1º. Neste sentido,
José Edwaldo Tavares Borba, ob. cit.
9Cf. MARTINS, Fran, ob. cit. p.272.
2
Conselho Fiscal (art. 163, § 7º)..10
2. Outorga de poderes
A lei, no seu artigo 139, veda que as atribuições e poderes conferidos aos
órgãos de
administração sejam outorgados a outro órgão, criados por lei ou estatuto.
3. Composição
O estatuto determinará o número de membros do Conselho de
Administração, que será no
mínimo de três, conforme art. 140, caput da Lei 6.404/76. Não faz a lei
qualquer menção quanto a
número máximo de membros. Poderá o estatuto, observado esse mínimo
legal, determinar limites,
estabelecendo-se mínimo e máximo, ficando, nesse caso, a assembléia
geral com o poder deliberador
de determinar qual o número exato que conterá o Conselho.
A fixação de número de membros pelo estatuto é de suma importância,
tendo em vista que
se for fixado um número inferior a cinco membros, faculta-se aos acionistas
que representem, no
mínimo, vinte por cento de capital com direito a voto, a eleição de um
membro do Conselho -
podendo utilizar-se do processo de voto múltiplo, art. 141 - permitindo-se,
dessa forma, que o
Conselho se integre com um representante da minoria.
O estatuto deverá prever, também, o modo de substituição; o prazo de
gestão, que não
poderá exceder 3 anos, e as normas sobre convocação, instalação e
funcionamento do Conselho, que
deliberará por maioria de votos11.
4. Eleição e destituição
Os conselheiros devem ser acionistas, eleitos pela Assembléia Geral e por
ela destituíveis a
qualquer tempo (art. 140 e 146), facultando a lei a adoção do processo de
voto múltiplo12. Tratandose
de órgão superior, com imensos poderes, impõe a lei que os conselheiros
sejam acionistas
(art.122, inciso II), eleitos pela assembléia geral e por ela destituídos, o que
não ocorre com os
diretores quando existe na companhia o Conselho de Administração, que
por esse serão eleitos ou
destituídos (art. 142, inciso II)13.Para eleição de membros do Conselho de
Administração não se
requer voto qualificado, sendo necessário maioria simples (art. 129).
4.1. Eleição e destituição de conselheiros pela Assembléia Geral
A assembléia geral tem poder para eleger e discricionariamente para
destituir os
administradores (art.140), tratando-se de decisão ad nutum, ou seja, sem
qualquer obrigatoriedade
de declarar os motivos de sua decisão14.
A faculdade de destituição delegada à assembléia geral abrange a
destituição parcial ou
10Consistindo em órgão de deliberação colegiada, suas decisões devem ser
proferidas conjuntamente pelos
conselheiros, sendo vedado que um só conselheiro, isoladamente, pratique atos
que requeiram manifestação
dos demais, cf. . MARTINS, Fran, ob. cit. p. 272.
11Vide MANGE, Roger de Carvalho, in Membros do Conselho de Administração de
Sociedade
Anônima Falida, RT 667, citado por Fábio Ulhoa Coelho, ob. cit., p. 303, sobre a
inaplicabilidade dos
arts. 34 e 37 da Lei de Falências aos membros do Conselho de Administração.
12 De acordo com o § 1º deste mesmo artigo, tal faculdade deverá ser exercida até
48 horas antes da
assembléia geral.
13MARTINS, Fran. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro :
Forense, 1978.
14REQUIÃO, Rubens, cit. p. 164.
3
total de seus componentes. Não há obrigatoriedade de destituição de todo o
Conselho - exceto nos
casos em que a eleição tiver sido realizada pelo processo de voto múltiplo,
pois é possível ocorrer
que somente um ou alguns dos membros decaia da confiança da
assembléia, e nesse caso, o
Conselho de Administração prosseguirá no período de tempo para o qual foi
eleito. Nos casos de
destituição total dos membros do Conselho de Administração, iniciar-se-á
novo período gestacional.
4.2. Voto Múltiplo
O voto múltiplo consiste em sistema de votação que concentra em uma
ação tantas
possibilidades de votar em um ou mais membros, proporcionalmente ao
número dos que serão eleitos
para o Conselho de Administração. A lei 6.404/76 regulamenta tal
procedimento no art. 141.15
O exercício do voto múltiplo consiste em instrumento essencial à
representação dos
acionistas minoritários, independe de disposição estatutária e, ao contrário,
não se admite proibição
do exercício do voto múltiplo pelo estatuto. Trata-se, portanto, de regra de
ordem pública, não
podendo ser derrogada pelo estatuto nem pela assembléia 16.
4.2.1. Eleição e destituição de membros - Processo de voto múltiplo
Determina o art. 141 da Lei 6.404/76 que na eleição dos conselheiros é
facultado aos
acionistas que representem, no mínimo, um décimo do capital social com
direito a voto,
independentemente de previsão estatutária, requererem a adoção de
processo de voto múltiplo,
atribuindo-se a cada ação tantos votos quantos sejam os membros do
conselho, e reconhecendo-se,
ainda, aos acionistas o direito de cumular os votos num só candidato ou
distribuí-los entre vários, o
que de certa forma assegura a eleição de um representante dos
minoritários para o Conselho de
Administração17.
Essa faculdade deverá ser exercida pelos acionistas até quarenta e oito
horas antes da
assembléia geral, para que haja tempo para a maioria se compor em torno
de seus candidatos. A
mesa diretora informará previamente, à vista do "Livro de Presença", o
número de votos
necessários18 para a eleição de cada membro do conselho (art. 141, § 1º).
Quando a eleição de membros19 tiver sido realizada pelo processo de voto
múltiplo, a
destituição de qualquer membro do Conselho de Administração pela
Assembléia Geral importará
destituição dos demais membros, procedendo-se a nova eleição (art. 141, §
3º). Nos demais casos em
que o cargo fique vago, se não houver suplente a primeira assembléia geral
procederá a nova eleição
de todo o Conselho.
Além disso, preceitua a lei no § 4º do artigo sub enfoque, que se o número
de membros do
conselho de administração for inferior a cinco, faculta-se a eleição de um
dos membros de conselho
aos acionistas que representem 20%, no mínimo, do capital com direito a
voto, observando-se o
15Cf. MARTINS, Eliane M. Octaviano Martins, in Direito de voto...
16 Cf. MARTINS, Fran, ob. cit. p. 283, que assinala : “Essa permissão vigora esteja ou
não contemplada
no estatuto, o que significa que a regra é de ordem pública, não podendo ser
derrogada pelo estatuto nem
pela assembléia. Ainda mais : a Comissão de Valores Mobiliários, quando se tratar
de sociedades
abertas, poderá reduzir a percentagem necessária de ações votantes para que o
processo de votação pelo
voto múltiplo seja utilizado na eleição dos conselheiros consoante estatui o art. 291
da lei”.
17 Cf. LIMA, Osmar Brina Corrêa, in Sociedade Anônima..., ob. cit. p. 27. Adotando o
sistema de voto
múltiplo, possibilita a lei a participação das minorias votantes nos conselhos de
administração, consistindo,
portanto, em vantagem para os acionistas não-controladores.
18Vide Instrução CVM n. 165, de 11.12.91, baixada nos termos do art. 291 da LSA, a
respeito do
percentual mínimo de participação acionária necessário para que se requeira o
processo de voto múltiplo
para eleição de membros do Conselho de Administração de companhia aberta. Vide
também Fábio
Ulhoa Coelho, ob. cit. p. 304.
19BATALHA, Wilson de Souza Campos, in Comentários... p. 699 : “o administrador
eleito por grupo ou
classe, inclusive mediante voto múltiplo (art. 141) não é instrumento do grupo ou
da classe que o elegeu,
mas órgão da sociedade, devendo exercer suas atribuições no interesse da
sociedade”.
4
prazo legal estabelecido pelo § 1º do mesmo artigo. Note-se, portanto, que a
lei assegura a
representação da minoria no conselho de administração com um décimo de
acionistas com voto.
Garante-se, portanto, apenas o direito da minoria de requerer a adoção do
voto múltiplo, pois poderá
acontecer que a minoria disponha de um décimo de acionistas com voto20,
mas sem força eleitoral
suficiente para garantir a eleição de seu representante no conselho.
Assegura-se compulsoriamente a
eleição, se existirem acionistas que representem 20%, no mínimo, do
capital social.
5. Competência do Conselho de Administração
Determina a lei a competência privativa do Conselho de Administração no
art. 142,
delegando ao estatuto os poderes para regular as atribuições dos diretores
(art. 154), salvo quando a
própria lei dá privatividade aos diretores para prática de determinados atos
(art. 176).
Em linhas gerais, é competência do Conselho de Administração, conforme
rege o art.
142: fixar a orientação geral dos negócios sociais, eleger e destituir
diretores da companhia e
determinar-lhes as atribuições; fiscalizar a gestão dos diretores,
examinando a qualquer tempo os
livros e papéis da companhia e solicitar informações sobre contratos
celebrados ou em via de
celebração e sobre quaisquer outros atos; convocar assembléia geral,
quando julgar necessário;
manifestar-se a respeito do relatório da administração e contas da diretoria;
deliberar, quando
autorizado pelo estatuto, sobre emissão de ações ou de bônus de
subscrição; autorizar a alienação
de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a prestação de
garantias a obrigações de
terceiros, caso o estatuto não disponha em contrário e
a escolha e destituição de auditores independentes, se houver.
Impõe, ainda, a Lei 6.404/76, no § único do artigo ora em exame, que as
atas de reuniões
do Conselho de Administração que contiverem deliberação que produzam
efeitos perante terceiros
deverão ser arquivadas no Registro de Comércio e publicadas.
II. DIRETORIA
A Diretoria existirá sempre, em qualquer sociedade anônima, competindo-
lhe praticar
todos os atos não apenas de gestão dos negócios sociais, como também de
orientação das atividades
da sociedade, quando não existir Conselho de Administração21.
Nos casos em que exista Conselho de Administração, a Diretoria será o
órgão destinado a
gerir os negócios sociais. Quando a sociedade não possua um Conselho de
Administração, a
Diretoria incorpora nas suas atribuições as funções próprias do Conselho de
Administração, gerindo
os negócios sociais e orientando a política empresarial. Cumpre ressaltar
que os poderes do Conselho
de Administração serão exercidos pela Diretoria, desde que tais poderes
não conflitem com os da
própria Diretoria, como ocorre com o art. 142, incisos III e V.
A diretoria será composta por 2 (dois) ou mais diretores, acionistas ou não,
eleitos e
destituíveis a qualquer tempo pelo Conselho de Administração, ou se
inexistente, pela Assembléia
Geral (art. 143 e 146). Ademais, a Lei 6.404/76, no § 1º do art. 143, permite
que até um terço dos
membros do Conselho de Administração sejam eleitos para o cargo de
diretores.
Deverá o estatuto estabelecer o número de diretores ou limites mínimos e
máximos
permitidos; o modo de sua substituição; prazo de gestão, que não poderá
ser superior a 3 (três) anos
(sendo permitida por lei a reeleição) e as atribuições e poderes de cada
diretor; além de lhe ser
facultado estabelecer que determinadas decisões, de competência dos
diretores, sejam tomadas em
reunião da diretoria (art. 143, incisos I, II, III e IV).
1. Representação:
20 Cf. REQUIÃO, Rubens, ob. cit. p. 165.
21 Cf. MARTINS, Fran. Comentários à Lei das S.A. São Paulo : Forense, 1978.
5
A Lei 6.404/76 não considera os diretores como mandatários, mas como
representantes da
sociedade, enquadrando-os como órgãos da sociedade, e como tal, sua
vontade, nos termos da lei e
do estatuto ou das decisões assembleares, é imputada à sociedade. 22 Não
havendo disposição em
contrário no estatuto ou deliberação do Conselho de Administração (art.
142, inciso II e § único),
compete aos diretores - a qualquer diretor - a representação da companhia
e a prática de atos
necessários para seu regular funcionamento (art. 144); a direção da
sociedade em todos os aspectos,
possuindo, em regra, amplos poderes23 para praticar atos compatíveis com o
objeto social e
interesses da empresa. 24
2. Natureza jurídica da figura do administrador
Quanto à natureza jurídica da figura do administrador, está superada a
teoria que
enquadra esse vínculo como uma relação jurídica informal pelo contrato de
mandato. Prevalece
atualmente o entendimento de que é uma relação sobre a base da
representação orgânica (Brunet-
Cañizares, Buenos Aires, 1960). Enquadra-se o diretor de sociedade
anônima não como um
mandatário, mas como um órgão da sociedade. 25
ADMINISTRADORES - NORMAS COMUNS
As normas relativas a requisitos, impedimentos, investidura, remuneração,
deveres e
responsabilidades dos administradores são comuns ao Conselho de
Administração e a Diretoria e se
encontram previstas nos art. 145 a 151 da Lei 6.404/76.
1 . Requisitos e impedimentos
22Cf. BATALHA, Wilson de Souza Campos, ob. cit. p. 661.
23Os poderes dos diretores são indelegáveis.
24É lícito aos diretores constituir mandatários da companhia, nos limites de suas
atribuições e poderes,
devendo constar no instrumento de mandato os atos ou operações que poderão
praticar e a duração do
mandato, sendo que o mandato judicial poderá ser por prazo indeterminado,
conforme determina o art. 144
.O mandato representa a outorga temporária de poderes, feita pela sociedade
através de seus diretores, para
a prática de determinados atos, que devem ser explicitados no instrumento. Não
colide com o disposto no
art. 139, pois não haverá uma transferência de poderes próprios de um órgão de
administração; há apenas a
incumbência da prática de certos atos que deveriam ser realizados pelos diretores,
mas que por motivos
justificáveis são conferidos a estranhos. O mandato, nesses casos, é outorgado pela
sociedade e não
pelo diretor individualmente. Não se extinguirá, portanto, com a morteou saída da
companhia do diretor que
o autorizou .Se o mandato fosse particular, se extinguiria com a morte do
mandante. Código Civil art. 1316,
inciso II : “Cessa o mandato : ...II - pela morte ou interdição de uma das partes.”
25 “Desta aquisição doutrinária no campo da análise da pessoa jurídica segue-se que
a responsabilidade do
administrador não é contratual, pois a responsabilidade orgânica é ex lege. Por
outro lado, predomina, em
doutrina, a tese de que a condição de administrador decorre não de um contrato
com a sociedade, mas de um
ato jurídico unilateral, por via do qual se lhe atribui, com os respectivos poderes, a
qualidade de órgão da
pessoa jurídica. Conquanto esse ato unilateral, denominado nomeação, tenha a
eficácia condicionada à
aceitação do nomeado, nem por isso se torna contratual, porquanto ela é simples
condição de eficácia. Desta
qualificação técnica resulta que o ato de nomeação pode ser revogado sem que o
nomeado tenha direito a
agir contra a sociedade como se ela fora responsável por inexecução contratual.
Entretanto, pode se aceitar a
orientação do direito alemão de se admitir, ao lado do ato unilateral de nomeação,
o contrato de emprego,
Anstellung, como instrumento de regulação das relações internas entre o
administrador e a sociedade.” Cf.
GOMES, Orlando, in Revista dos Tribunais, vol. 429, p. 16 apud Wilson de Souza
Campos Batalha, ob.
cit. p. 659.
6
Poderão ser eleitas para membros dos órgãos de administração pessoas
naturais
residentes no País, devendo os membros do Conselho de Administração ser
acionistas e os diretores,
acionistas ou não26 (art. 146, caput). Ademais, a ata da assembléia geral ou
da reunião do Conselho
de Administração que efetivar eleição de administradores deverá conter a
qualificação dos membros
eleitos, bem como o prazo de gestão auferido, sendo obrigatório seu
arquivo no Registro de
Comércio e publicação (art. 146, § único).
O art. 147 determina que, quando a lei exigir determinados requisitos para
a investidura
no cargo de administração, a assembléia geral somente poderá proceder a
eleição de membros que
tenham apresentado comprovantes necessários, dos quais se arquivará
cópia na sede social .
Situam-se na condição de inelegíveis as pessoas impedidas por lei especial
ou as
condenadas por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno,
concussão, peculato, contra a
economia popular, a fé pública ou contra a propriedade ou ainda pena
criminal que vede, mesmo que
temporariamente, o acesso a cargos públicos (art. 147 § 1º). Para os cargos
de administração de
companhia aberta são ainda inelegíveis as pessoas declaradas inabilitadas
por ato da Comissão de
Valores Mobiliários (art. 147 § 2º).
2. Garantia da Gestão
A lei faculta ao estatuto, no art. 148, um mecanismo de garantia de gestão,
podendo o
estatuto estabelecer que o exercício do cargo de administrador deva ser
assegurado - pelo titular ou
por terceiro - mediante penhor de ações da companhia ou outra garantia,
que só será levantada após
aprovação das últimas contas apresentadas pelo administrador que deixe o
cargo.
3. Investidura
Conselheiros e diretores serão investidos em seus cargos mediante
assinatura de termo de
posse no livro de atas do Conselho de Administração ou da Diretoria., no
prazo de 30 dias após a
nomeação, sob pena dessa se tornar sem efeito, salvo justificação aceita
pelo órgão da administração
pertinente (art. 149).
4. Substituição e término da gestão
Salvo disposição estatutária em contrário, havendo vacância de cargo de
conselheiro
ocorrerá nomeação de substituto pelos conselheiros remanescentes, com
vigência até a primeira
assembléia geral que houver, exceto nos casos em que ocorra vacância da
maioria dos cargos,
situação em que a assembléia geral será convocada para proceder a nova
eleição (art. 150 caput).
Ocorrendo vacância de todos os cargos do Conselho de Administração, será
de
competência da diretoria a convocação da Assembléia Geral (art. 150 § 1º).
A Lei ora em estudo, no § 2º do art. 150, prevê, também, solução para a
hipótese de
vacância de todos os cargos da diretoria. Nas companhias que não possuam
Conselho de
Administração, competirá ao Conselho Fiscal, se estiver em funcionamento,
ou a qualquer acionista,
convocar a assembléia geral, devendo o acionista majoritário praticar os
atos urgentes da
administração da companhia até a realização da Assembléia Geral.
O conselheiro ou diretor eleito para preencher o cargo completará o prazo
de gestão do
substituído, sendo que o prazo de gestão do Conselho de Administração ou
da diretoria estender-se-á
até a investidura dos novos administradores eleitos (art. 150 § 3º e 4º).
5. Renúncia
A ata da assembléia geral ou da reunião do Conselho de Administração que eleger
26
administradores
deverá conter a qualificação de cada um dos eleitos e o prazo de gestão, ser
arquivada no Registro de
Comércio e publicada, conforme art. 146 § único.
7
Rege a lei, no seu art. 151, que a renúncia revestir-se-á de eficácia perante
à companhia
desde o momento da entrega de comunicação escrita pelo renunciante, e
em relação aos terceiros de
boa-fé, somente após arquivamento no Registro de Comércio e publicação,
que poderão ser
promovidos pelo próprio renunciante.
6. Remuneração
Compete à assembléia geral fixar o montante global ou individual da
remuneração dos
administradores, tendo em conta suas responsabilidades, tempo dedicado
às funções, competência,
reputação profissional e valor dos seus serviços no mercado, conforme
disposto no art. 152, caput.27
DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS ADMINISTRADORES
Os deveres e responsabilidades dos administradores se encontram
disciplinados na Seção
IV do Capítulo XII da Lei 6.404/76, art. 153 a 160.
As normas desta Seção, conforme dispõe o art. 160, aplicar-se-ão aos de
quaisquer órgãos
criados pelo estatuto, com funções técnicas ou destinadas a aconselhar os
administradores28, bem
como aos membros do Conselho Fiscal (art. 165) .
I - DEVERES DOS ADMINISTRADORES
Em regra, a Lei 6.404/76 elenca os seguintes deveres básicos dos
administradores:
1. Dever de Diligência : a lei brasileira, no art. 153, impõe ao administrador
o dever de administrar
a Sociedade Anônima com cuidado e competência e necessária diligência
que todo homem ativo
e de caráter íntegro e honesto empregar na administração de seus próprios
negócios29.
2. Finalidade das Atribuições e Desvio de Poder: exige-se dever ético-social
do administrador que
exerça suas atribuições - atribuídas por lei e pelo estatuto - para lograr os
fins e no interesse da
companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da
empresa, conforme
estabelece o art. 154. Tal regra vigora também para o administrador eleito
por grupo ou classe de
acionistas; não podendo faltar a esses deveres mesmo que para defesa do
interesse dos que o
elegeram (art. 154, § único e 1º). Veda-se ao administrador, conforme art.
154, § 2º:. praticar ato de
liberdade à custa da companhia; tomar por empréstimo recursos ou bens da
companhia sem prévia
autorização da assembléia geral;. usar em proveito próprio de sociedade em
que tenha interesse, ou
de terceiros, os seus bens, serviços ou créditos;. receber de terceiros - sem
autorização estatutária ou
da assembléia geral - qualquer vantagem pessoal direta ou indireta, em
razão de seu cargo, sendo que
importâncias porventura recebidas com infração a esse disposto
pertencerão à companhia (art. 154,
27 O estatuto da companhia que fixar o dividendo obrigatório em 25% ou mais do
lucro, poderá atribuir
participação no lucro da companhia aos administradores, desde que o total não
ultrapasse a remuneração
anual dos mesmos nem um décimo dos lucros, prevalecendo o limite menor (art.
152, § 1º).
28Para Lamy Filho: “os órgãos técnicos e consultivos, criados pelo Estatuto Social,
integram-se na
administração da empresa, são parte dela, e seus membros, como administradores,
têm todos os deveres
e responsabilidades que a lei atribui aos investidos nos órgãos administrativos;
correlatamente, gozam,
ou podem gozar, das vantagens comuns a todos. Especificamente, a remuneração
com parte fixa e outra
variável, em função dos lucros - observadas sempre as normas do art. 152 da Lei -
é, não apenas
possível, mas em certos casos, do interesse da empresa”.
29 Cf. BULGARELLI, Waldírio in Apontamentos sobre a responsabilidade dos
administradores das
companhias, Revista de Direito Mercantil, Revista dos Tribunais, n. 50 apud Fábio
Ulhoa Coelho, ob.
cit., p. 310.
8
§ 3º).30
3. Dever de Lealdade: exprime a fidelidade à sociedade, mantendo reserva
(dever de sigilo) sobre
os negócios, sendo vedado ao administrador, conforme art. 155 : usar, em
benefício próprio ou de
outrem, com ou sem prejuízo para a companhia, as oportunidades
comerciais de que tenha
conhecimento em razão do exercício de seu cargo; omitir-se no exercício ou
proteção de direitos da
companhia ou, visando à obtenção de vantagens, para si ou para outrem,
deixar de aproveitar as
oportunidades de negócio de interesse da companhia; adquirir, para
revender com lucro, bem ou
direito que sabe necessário à companhia, ou que esta tencione adquirir. O
administrador da
companhia aberta deverá manter sigilo sobre informações que não tenham
sido divulgadas para
conhecimento do mercado, obtidas em razão do cargo e que possam influir
de modo ponderável na
cotação dos valores mobiliários; sendo-lhe vedado, também, valer-se das
informações para obter,
para si ou para outrem, vantagens mediante venda ou compra de valores
mobiliários (art. 155, §
1º).31
5. Conflito de Interesses(art. 156) : veda a lei qualquer intervenção do
administrador em operação
social em que tenha interesses conflitantes com os da companhia, bem
como na deliberação que a
respeito tomarem os demais administradores, cumprindo-lhe cientificá-los
do seu impedimento e
fazer consignar, em ata de reunião do Conselho de Administração ou da
diretoria, a natureza e
extensão de seu interesse.32
5. Dever de Informar (disclosure): o administrador de companhia aberta, no
momento da posse,
deverá declarar o número de ações, bônus de subscrição, opções de compra
de ações e debêntures
conversíveis em ações, de emissão da companhia e de sociedades
controladas ou do mesmo grupo, de
que seja titular (art. 157) 33
II - RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES
A responsabilidade dos administradores de sociedades anônimas -
entendidos como tal os
diretores, os membros do Conselho Fiscal e membros de demais órgãos
técnicos e consultivos
porventura criados - deriva do dever de diligência, anteriormente
mencionado, inerente a todos que
possuem a incumbência de gestão de patrimônios alheios34. No caso de
irregularidades, a
responsabilidade será apurada nos âmbitos administrativo, civil e penal,
conforme segue :
1. Responsabilidade Administrativa
30Cumpre ressaltar, ainda, que a lei (art. 154, § 4º) faculta ao Conselho de
Administração ou à diretoria
autorizar a prática de atos gratuitos razoáveis em benefício dos empregados ou da
comunidade onde se insira
a empresa, tendo em vista suas responsabilidades sociais.
31Ademais, a lei impõe ao administrador, no § 2º do mesmo artigo, o dever de zelar
para que a violação do
sigilo não ocorra através de subordinados ou terceiros de sua confiança, além de
regulamentar, no § 3º, que
a pessoa prejudicada em compra e venda de valores mobiliários, contratada com
infração ao disposto nos §
1º e 2º, terá direito à indenização por perdas e danos contra o infrator, salvo se já
tivesse conhecimento da
informação no momento da contratação.
32Ainda que observado o disposto neste artigo, o administrador somente pode
contratar com a companhia
em condições razoáveis ou eqüitativas, idênticas às que prevalecerem no mercado
ou em que a companhia
contrataria com terceiros (art. 156, § 1º). O negócio contratado com infração a esse
disposto no parágrafo é
anulável, e o administrador interessado será obrigado a transferir para a companhia
as vantagens que dele
tiver auferido (art. 156, § 2º).
33 Vide na íntegra o art. 157 e seus parágrafos.
34GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Responsabilidade dos Administradores de
Sociedades
Anônimas. Revista de Direito Mercantil, nr 42, ano XX. São Paulo : Ed. Revista dos
Tribunais, 1981.
9
A responsabilidade administrativa abrange a má-gestão, que poderá
acarretar o
rebaixamento do administrador ou a sua destituição. Independe de processo
formal, pois se faculta à
sociedade poder rebaixar ou destituir qualquer de seus administradores.
2. Responsabilidade Civil
O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que
contrair em nome
da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém,
civilmente, pelos prejuízos que
causar quando proceder dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa
ou dolo e com violação da
lei ou do estatuto. A responsabilidade civil consiste, portanto, na obrigação
do administrador
indenizar a sociedade por perdas e danos, quando proceder com culpa ou
dolo ou com violação da lei
ou do estatuto (art. 158).
A lei determina que o administrador, no âmbito de Diretoria, responderá
civilmente pelos
prejuízos que causar, quando proceder com culpa ou dolo, mesmo que
praticando atos dentro das
suas atribuições ou poderes, pois dessa forma, infringe-se a finalidade do
interesse social,
representando vantagens particulares para o administrador ou para
terceiros. 35
No que concerne ao Conselho de Administração, por ser órgão colegiado,
em regra,
enquadra-se responsabilidade solidária entre os administradores, mas a lei,
dada a diversidade de
atuação dos dois órgãos do poder administrativo da sociedade, detalha os
casos em que haverá
solidariedade 36, nos termos do art. 158, § 2º e seguintes.37.
3. Responsabilidade Penal
No que concerne à responsabilidade dos administradores, no âmbito penal
citam-se os
seguintes enquadramentos legais :
1. Código Penal - Crimes contra o Patrimônio - fraudes e abusos na fundação
ou Administração de
Sociedades por Ações : O art.. 177 dispõe sobre alguns crimes típicos de
administradores de
sociedades anônimas; cujos principais são : prestar informação falsa ou
omissão fraudulenta de fato
relevante em documentos destinados ao público; provocar falsa cotação de
valores mobiliários da
35Ao violar a lei ou o estatuto, age além dos poderes que lhe são outorgados,
caracterizando
responsabilidade pessoal não apenas perante a sociedade, mas perante terceiros
prejudicados. A
responsabilidade civil não afasta a responsabilidade penal. Em regra, a
responsabilidade dos diretores,
em nível de Diretoria, é individual, especificando a lei os casos de responsabilidade
solidária. Nesse
sentido, rege o § 1º do art. 158 que o administrador não é responsável pelos atos
ilícitos de outros
administradores, salvo nos casos de conivência, neglicência em descobrí-los ou se
tiver conhecimento
de tais ilícitos e deixar de agir para impedí-los. Eximir-se-á de responsabilidade o
administrador
dissidente que faça constar sua divergência em ata de reunião do órgão de
administração ou, não sendo
possível, dê ciência imediata e por escrito ao órgão da Administração, ao Conselho
Fiscal - se em
funcionamento - ou à Assembléia Geral.
36 Cumpre ressaltar que os administradores são solidariamente responsáveis pelos
prejuízos causados pelo
descumprimento de deveres impostos por lei que assegurem o funcionamento
normal da sociedade, mesmo
que o Estatuto determine que tais deveres não caibam a todos os administradores,
exceto nas companhias
abertas. Neste sentido Fran Martins, in Comentários à Lei das S.A., ob. cit.
37Por força do art. 159, caput, competirá à companhia, mediante prévia deliberação
da assembléia geral, a
ação de responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos causados ao
seu patrimônio.
Complementa o § 1º que a deliberação poderá ser tomada em assembléia geral
ordinária e, se prevista na
ordem do dia ou for conseqüência direta de assunto nela incluído, em assembléia
geral extraordinária.
Competirá, portanto, à assembléia geral ordinária ou extraordinária deliberar sobre
a propositura da ação de
responsabilidade civil, no prazo de três meses (art. 159, § 3º), findo o qual qualquer
acionista estará
legitimado a fazê-lo em nome próprio, mas no interesse da sociedade (substituição
processual derivada).
Vide na íntegra o art. 158 e 159.
10
sociedade; executar negociação com as próprias ações da sociedade, que
não se enquadrem nos
casos permitidos em lei; distribuir lucros com base em balanço falso ou em
desacordo com os
resultados;. obter aprovação irregular de contas, mediante conluio com
acionistas e tomar
empréstimo à sociedade ou usar, em proveito próprio ou de terceiro, dos
bens ou haveres sociais sem
autorização prévia da Assembléia Geral.
2. Lei de Economia Popular: enquadra como crime a fraude de escrituração,
relatórios ou qualquer
informação aos acionistas, com finalidade de sonegar lucros e dividendos ou
desviar fundos;
3. Lei 7.492/86 - crimes contra o sistema financeiro nacional : tipifica atos
dos administradores de
instituições financeiras no que concerne à divulgação de informações falsas
nos lançamento de títulos
e valores mobiliários;
4. Lei 8.137/90 - Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de
consumo, que
basicamente tipifica crimes de responsabilidade de administradores
caracterizados pela prática de
atos irregulares ou decorrentes de abuso de poder econômico.
CONSELHO FISCAL
1. Considerações Gerais
O Conselho Fiscal é um órgão autônomo, de controle e fiscalização das
atividades
financeiras da sociedade e da atuação dos administradores. Dessa forma,
consiste, portanto, em um
órgão defensor dos direitos dos acionistas e de terceiros38, possuindo para
tanto amplas atribuições.
2. Composição e funcionamento
O Conselho Fiscal39 pode ser de funcionamento permanente ou somente
quando solicitada
instalação pelos acionistas, conforme dispuser o Estatuto (art. 161). Será
composto de no mínimo
três e no máximo cinco membros, acionistas ou não, eleitos pela
Assembléia Geral Ordinária, com
mandato anual (art. 161, § 1º).
Quando seu funcionamento não for permanente, pode ser formulado pedido
de instalação
em qualquer Assembléia Geral (Ordinária ou Extraordinária - ainda que a
matéria não conste da
convocação40), a pedido de acionistas que representem no mínimo um
décimo das ações com direito a
voto ou 5% (cinco por cento) das ações sem direito a voto, e cada período
de seu funcionamento
terminará na primeira assembléia geral após a sua instalação (art. 161, §
2º).
As atribuições conferidas por lei ao Conselho Fiscal serão exercidas,
inclusive, durante o
período de liquidação da sociedade, sendo também nessa fase de instalação
permanente ou a pedido.
38“Sendo o Conselho Fiscal um órgão autônomo, com atribuições definidas dentro
da sociedade, tais
atribuições e poderes que a lei lhe confere não poderão ser outorgadas a outro
órgão da companhia,
do mesmo modo que acontece com atribuições e poderes do Conselho de
Administração e Diretoria”,
conforme observa Fran Martins, in Comentários à Lei das S.A., ob. cit.
39A função de membro do Conselho Fiscal é indelegável.
40Dispõe o art. 161, § 3º que o pedido de funcionamento do Conselho Fiscal, ainda
que a matéria não
conste do anúncio de convocação, poderá ser formulado em qualquer assembléia
geral, que elegerá os
membros.
11
3. Requisitos, Impedimentos e Remuneração
A lei brasileira impõe alguns requisitos para eleição como membro do
Conselho Fiscal,
conforme disposição do art. 162, que rege que somente poderão ser eleitas
para o Conselho Fiscal as
pessoas naturais, residentes no País, diplomadas em curso de nível
universitário, ou que tenham
exercido, por prazo mínimo de 3 (três) anos, cargo de administrador de
empresa ou de conselheiro
fiscal, cabendo ao juiz dispensar a companhia de tais exigências caso não
existam na localidade
pessoas habilitadas em número suficiente para o exercício da função (art.
162 § 1º).
No que concerne à inegibilidade, são válidas para os membros do Conselho
Fiscal as
mesmas regras constantes do art. 147 41, acrescentando o § 2º do artigo em
exame, a condição de
inelegíveis aos membros de órgãos de administração e empregados da
companhia ou de sociedade
controlada ou do mesmo grupo, e o cônjuge ou parente, até terceiro grau,
de administrador da
companhia.A remuneração será fixada pela Assembléia Geral que eleger os
membros e não poderá ser
inferior - para cada membro em exercício - a um décimo da remuneração
que em média for
atribuída a cada diretor, não computada a participação nos lucros.
4. Competência
O Conselho Fiscal é órgão de controle, fiscalização e também de informação
cuja
atividade não se esgota na mera revisão de contas, mas vem a atingir a
própria fiscalização da
gestão administrativa.42
Compete ao Conselho Fiscal dentre outras atribuições constantes do art.
163 : a
fiscalização dos atos dos administradores e a verificação dos seus deveres
legais e estatutários; emitir
opinião43 sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu
parecer as informações
complementares que julgar necessárias ou úteis à deliberação da
assembléia geral; - opinar sobre as
propostas dos órgãos da Administração, a serem submetidas à assembléia
geral, no que tange à
modificação do capital social, emissão de debêntures ou bônus de
subscrição, planos de investimento
ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos, transformação,
incorporação, fusão ou cisão.
Rege ainda a lei, no § 7º do artigo ora enfocado, que as atribuições e
poderes conferidos
ao Conselho Fiscal não podem ser outorgados a outro órgão da companhia.
5. Pareceres e Representações
É obrigatório o comparecimento dos membros do Conselho Fiscal - ou ao
menos um deles
- às reuniões da assembléia geral para responder a pedidos de informações
formulados pelos
acionistas (art.164, caput).
6. Deveres e Responsabilidades
Os membros do Conselho Fiscal possuem os mesmos deveres dos
administradores (art.
153 a 156), exercendo suas atribuições no sentido de atingir-se fins da
companhia, satisfeitas as
exigências do bem público e da função social da empresa, sem intervir em
operação social em que
41Situam-se na condição de inelegíveis as pessoas impedidas por lei especial ou as
condenadas por crime
falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, contra a
economia popular, a fé pública
ou contra a propriedade ou ainda pena criminal que vede, mesmo que
temporariamente, o acesso a cargos
públicos (art. 147 § 1º). Para os cargos de administração de companhia aberta, são
ainda inelegíveis as
pessoas declaradas inabilitadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários (art. 147
§ 2º).
42Cf. TJSP, RT 670/77.
43A verificação de documentos ou propostas da administração, antes de se
submeterem à Assembléia
Geral, demonstra o caráter de órgão fiscalizador da Administração e não de mero
exame contábil, que
em princípio, é de competência de auditores. (Neste sentido Fran Martins,
Comentários à Lei das S.A.,
ob. cit.)
12
tenham interesses conflitantes com os da companhia e respondem pelos
danos resultantes de omissão
no cumprimento de seus deveres e de atos praticados com culpa ou dolo,
ou com violação da lei ou
do estatuto (art. 165).
O membro do Conselho Fiscal não é responsável pelos atos ilícitos de outros
membros,
salvo se com eles for conveniente ou se concorrer para a prática do ato
(art.165, § 1º).
Sendo o Conselho Fiscal um órgão colegiado, a responsabilidade por
omissão é solidária
(art. 165, § 2º), pois exprimem uma vontade coletiva. Nos demais casos, a
responsabilidade por
prática de atos ilícitos é pessoal, desde que não comprovada conivência,
nos termos do § 1º do art.
165 retromencionado.
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13
14

DMINISTRAÇÃO E DIRETORIA DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS (LEI 6.404/76)

Eliane Maria Octaviano Martins

Vice-Presidente do Instituto Paulista de Direito Comercial e da Integração – IPDCI; Coordenadora Regional de


Redação da RDM; Professora de Direito Marítimo e Direito Comercial da UNISANTA e de pós-graduação da
UNILUS e UNIMONTE em Santos (SP)

Paulo Roberto Colombo Arnoldi

Presidente do Instituto Paulista de Direito Comercial e da Integração – IPDCI; advogado militante, é mestre,
doutor e livre-docente em Direito Comercial, discplina que leciona junto às Universidades São Francisco – USF
de Bragança Paulista (SP), UNAERP de Ribeirão Preto (SP) e UNESP de Franca (SP). É autor de diversas obras
no Brasil e co-autor de diversas obras na Argentina.

INTRODUÇÃO

O funcionamento da sociedade anônima requer organização. O problema da administração social nas


sociedades anônimas é de caráter complexo, impondo distribuição de poderes. A esses centros de poderes da
administração da sociedade anônima[1]dá-se, doutrinariamente, a designação de órgãos sociais, aos quais
compete produzir a vontade social, representantes dos poderes da sociedade.

Adota o direito positivo brasileiro a teoria organicista para explicar a natureza desses núcleos de poderes
sociais e disciplinar, de forma democrática, a organização da sociedade, distribuindo poderes em três categorias
: poder deliberador e legislativo, delegado à Assembléia Geral; poder executivo ou administrativo, bipartido
pela Diretoria e Conselho de Administração e o poder fiscalizador e de controle, adstrito ao Conselho de
Fiscalização.[2]

CONDUÇÃO DOS NEGÓCIOS SOCIAIS - O ENFRAQUECIMENTO DA ASSEMBLÉIA GERAL

A lei manteve a Assembléia Geral como órgão soberano da companhia, e assim deveria constituir o poder
supremo da sociedade; mas o que se constata na realidade é que a estrutura democrática da sociedade vem se
dissipando, delegando caráter ilusório de democracia às deliberações assembleares. Têm se acentuado o
declínio da importância da assembléia geral, considerada como o órgão supremo da sociedade e o
fortalecimento da Administração, como órgão efetivamente condutor dos negócios sociais (Doutrina do
Fuherprinzip).

No Brasil, constatam-se, portanto, o fenômeno do enfraquecimento da Assembléia Geral e o aviltamento dos


órgãos de administração, concentrando-se o poder em um grupo de controle, devido ao desinteresse dos
acionistas.[3]

ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS

A Lei 6404/76 permite que as sociedades anônimas possuam dois órgãos administrativos : o Conselho de
Administração e a Diretoria.

Inspira-se nosso sistema no moderno sistema germânico, que aponta a melhor estruturação da empresa como
vantagem dessa bipartição administrativa[4]. Tal sistema visa a necessidade de um melhor ordenamento na
administração das companhias, em que se constata uma separação entre o controle e o poder de gestão da
sociedade. Procurou, portanto, a lei brasileira, dotar as sociedades anônimas de órgãos capazes de atender às
necessidades de grandes companhias, facultando-se que a administração se subdivida em Conselho de
Administração e Diretoria.

De acordo com o art. 138 da Lei 6.404/76, a administração da companhia competirá ao conselho de
administração e à diretoria, ou exclusivamente à diretoria, de acordo com a disposição estatutária, salvo para
as sociedades de capital autorizado e as abertas, nas quais a existência dos dois órgãos é obrigatória..[5]

I - CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

1. Considerações Gerais

É órgão de deliberação colegiada, de caráter deliberativo e fiscalizador, sendo a representação da companhia


privativa dos acionistas, conforme rege o art. 138, § 1º da lege ferenda.

A Lei impõe caráter obrigatório à existência do Conselho de Administração somente para as sociedades de
capital autorizado e as abertas[6], e facultativo nas demais sociedades anônimas, cabendo ao estatuto dispor a
respeito da criação desse órgão.

A obrigatoriedade da existência de Conselho de Administração nas companhias abertas existe em função de que
tais companhias efetuam negociação de ações no mercado de capitais. Tencionou o legislador brasileiro zelar
quanto à garantia dos interesses de terceiros que investem na sociedade tornando-se acionistas, e tais
interesses se revestem de maior garantia com a existência de um Conselho. Nesse sentido, permitiu também a
lei a eleição de um representante dos acionistas minoritários pelo processo de voto múltiplo, nos termos do art.
141, § 4º.

No que concerne às sociedades de capital autorizado, a obrigatoriedade da existência do Conselho de


Administração se fundamenta no fato de que tais sociedades, nos aumentos de capital, emitirão ações que
poderão ser subscritas de modo especial, diversamente da subscrição comum (art. 166, inciso I e 168).[7]
A autonomia dos diversos órgãos de administração centra-se no fato de não serem os dirigentes sociais
mandatários dos sócios, mas consistem em representantes da sociedade, que por ela agem sem se imbuir da
figura do mandato. Nesse sentido, é específica a lei no art. 142, que estabelece os poderes que cabem a tais
órgãos, repetindo a regra desse artigo no que concerne ao Conselho Fiscal (art. 163, § 7º)..[8]

2. Outorga de poderes

A lei, no seu artigo 139, veda que as atribuições e poderes conferidos aos órgãos de administração sejam
outorgados a outro órgão, criados por lei ou estatuto.

3. Composição

O estatuto determinará o número de membros do Conselho de Administração, que será no mínimo de três,
conforme art. 140, caput da Lei 6.404/76. Não faz a lei qualquer menção quanto a número máximo de
membros. Poderá o estatuto, observado esse mínimo legal, determinar limites, estabelecendo-se mínimo e
máximo, ficando, nesse caso, a assembléia geral com o poder deliberador de determinar qual o número exato
que conterá o Conselho.

A fixação de número de membros pelo estatuto é de suma importância, tendo em vista que se for fixado um
número inferior a cinco membros, faculta-se aos acionistas que representem, no mínimo, vinte por cento de
capital com direito a voto, a eleição de um membro do Conselho - podendo utilizar-se do processo de voto
múltiplo, art. 141 - permitindo-se, dessa forma, que o Conselho se integre com um representante da minoria.

O estatuto deverá prever, também, o modo de substituição; o prazo de gestão, que não poderá exceder 3
anos, e as normas sobre convocação, instalação e funcionamento do Conselho, que deliberará por maioria de
votos[9].

4. Eleição e destituição

Os conselheiros devem ser acionistas, eleitos pela Assembléia Geral e por ela destituíveis a qualquer tempo
(art. 140 e 146), facultando a lei a adoção do processo de voto múltiplo[10]. Tratando-se de órgão superior,
com imensos poderes, impõe a lei que os conselheiros sejam acionistas (art.122, inciso II), eleitos pela
assembléia geral e por ela destituídos, o que não ocorre com os diretores quando existe na companhia o
Conselho de Administração, que por esse serão eleitos ou destituídos (art. 142, inciso II)[11].Para eleição de
membros do Conselho de Administração não se requer voto qualificado, sendo necessário maioria simples (art.
129).

4.1. Eleição e destituição de conselheiros pela Assembléia Geral

A assembléia geral tem poder para eleger e discricionariamente para destituir os administradores (art.140),
tratando-se de decisão ad nutum, ou seja, sem qualquer obrigatoriedade de declarar os motivos de sua
decisão[12].

A faculdade de destituição delegada à assembléia geral abrange a destituição parcial ou total de seus
componentes. Não há obrigatoriedade de destituição de todo o Conselho - exceto nos casos em que a eleição
tiver sido realizada pelo processo de voto múltiplo, pois é possível ocorrer que somente um ou alguns dos
membros decaia da confiança da assembléia, e nesse caso, o Conselho de Administração prosseguirá no
período de tempo para o qual foi eleito. Nos casos de destituição total dos membros do Conselho de
Administração, iniciar-se-á novo período gestacional.

4.2. Voto Múltiplo

O voto múltiplo consiste em sistema de votação que concentra em uma ação tantas possibilidades de votar em
um ou mais membros, proporcionalmente ao número dos que serão eleitos para o Conselho de Administração.
A lei 6.404/76 regulamenta tal procedimento no art. 141.[13]

O exercício do voto múltiplo consiste em instrumento essencial à representação dos acionistas minoritários,
independe de disposição estatutária e, ao contrário, não se admite proibição do exercício do voto múltiplo pelo
estatuto. Trata-se, portanto, de regra de ordem pública, não podendo ser derrogada pelo estatuto nem pela
assembléia [14].

4.2.1. Eleição e destituição de membros - Processo de voto múltiplo

Determina o art. 141 da Lei 6.404/76 que na eleição dos conselheiros é facultado aos acionistas que
representem, no mínimo, um décimo do capital social com direito a voto, independentemente de previsão
estatutária, requererem a adoção de processo de voto múltiplo, atribuindo-se a cada ação tantos votos quantos
sejam os membros do conselho, e reconhecendo-se, ainda, aos acionistas o direito de cumular os votos num só
candidato ou distribuí-los entre vários, o que de certa forma assegura a eleição de um representante dos
minoritários para o Conselho de Administração[15].

Essa faculdade deverá ser exercida pelos acionistas até quarenta e oito horas antes da assembléia geral, para
que haja tempo para a maioria se compor em torno de seus candidatos. A mesa diretora informará
previamente, à vista do "Livro de Presença", o número de votos necessários[16] para a eleição de cada
membro do conselho (art. 141, § 1º).

Quando a eleição de membros[17] tiver sido realizada pelo processo de voto múltiplo, a destituição de qualquer
membro do Conselho de Administração pela Assembléia Geral importará destituição dos demais membros,
procedendo-se a nova eleição (art. 141, § 3º). Nos demais casos em que o cargo fique vago, se não houver
suplente a primeira assembléia geral procederá a nova eleição de todo o Conselho.

Além disso, preceitua a lei no § 4º do artigo sub enfoque, que se o número de membros do conselho de
administração for inferior a cinco, faculta-se a eleição de um dos membros de conselho aos acionistas que
representem 20%, no mínimo, do capital com direito a voto, observando-se o prazo legal estabelecido pelo § 1º
do mesmo artigo. Note-se, portanto, que a lei assegura a representação da minoria no conselho de
administração com um décimo de acionistas com voto. Garante-se, portanto, apenas o direito da minoria de
requerer a adoção do voto múltiplo, pois poderá acontecer que a minoria disponha de um décimo de acionistas
com voto[18], mas sem força eleitoral suficiente para garantir a eleição de seu representante no conselho.
Assegura-se compulsoriamente a eleição, se existirem acionistas que representem 20%, no mínimo, do capital
social.

5. Competência do Conselho de Administração

Determina a lei a competência privativa do Conselho de Administração no art. 142, delegando ao estatuto os
poderes para regular as atribuições dos diretores (art. 154), salvo quando a própria lei dá privatividade aos
diretores para prática de determinados atos (art. 176).

Em linhas gerais, é competência do Conselho de Administração, conforme rege o art. 142: fixar a orientação
geral dos negócios sociais, eleger e destituir diretores da companhia e determinar-lhes as atribuições; fiscalizar
a gestão dos diretores, examinando a qualquer tempo os livros e papéis da companhia e solicitar informações
sobre contratos celebrados ou em via de celebração e sobre quaisquer outros atos; convocar assembléia geral,
quando julgar necessário; manifestar-se a respeito do relatório da administração e contas da diretoria;
deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre emissão de ações ou de bônus de subscrição; autorizar a
alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de
terceiros, caso o estatuto não disponha em contrário e

a escolha e destituição de auditores independentes, se houver.

Impõe, ainda, a Lei 6.404/76, no § único do artigo ora em exame, que as atas de reuniões do Conselho de
Administração que contiverem deliberação que produzam efeitos perante terceiros deverão ser arquivadas no
Registro de Comércio e publicadas.

II. DIRETORIA

A Diretoria existirá sempre, em qualquer sociedade anônima, competindo-lhe praticar todos os atos não apenas
de gestão dos negócios sociais, como também de orientação das atividades da sociedade, quando não existir
Conselho de Administração[19].

Nos casos em que exista Conselho de Administração, a Diretoria será o órgão destinado a gerir os negócios
sociais. Quando a sociedade não possua um Conselho de Administração, a Diretoria incorpora nas suas
atribuições as funções próprias do Conselho de Administração, gerindo os negócios sociais e orientando a
política empresarial. Cumpre ressaltar que os poderes do Conselho de Administração serão exercidos pela
Diretoria, desde que tais poderes não conflitem com os da própria Diretoria, como ocorre com o art. 142,
incisos III e V.

A diretoria será composta por 2 (dois) ou mais diretores, acionistas ou não, eleitos e destituíveis a qualquer
tempo pelo Conselho de Administração, ou se inexistente, pela Assembléia Geral (art. 143 e 146). Ademais, a
Lei 6.404/76, no § 1º do art. 143, permite que até um terço dos membros do Conselho de Administração sejam
eleitos para o cargo de diretores.

Deverá o estatuto estabelecer o número de diretores ou limites mínimos e máximos permitidos; o modo de sua
substituição; prazo de gestão, que não poderá ser superior a 3 (três) anos (sendo permitida por lei a reeleição)
e as atribuições e poderes de cada diretor; além de lhe ser facultado estabelecer que determinadas decisões,
de competência dos diretores, sejam tomadas em reunião da diretoria (art. 143, incisos I, II, III e IV).

1. Representação:
A Lei 6.404/76 não considera os diretores como mandatários, mas como representantes da sociedade,
enquadrando-os como órgãos da sociedade, e como tal, sua vontade, nos termos da lei e do estatuto ou das
decisões assembleares, é imputada à sociedade. [20] Não havendo disposição em contrário no estatuto ou
deliberação do Conselho de Administração (art. 142, inciso II e § único), compete aos diretores - a qualquer
diretor - a representação da companhia e a prática de atos necessários para seu regular funcionamento (art.
144); a direção da sociedade em todos os aspectos, possuindo, em regra, amplos poderes[21] para praticar
atos compatíveis com o objeto social e interesses da empresa. [22]

2. Natureza jurídica da figura do administrador

Quanto à natureza jurídica da figura do administrador, está superada a teoria que enquadra esse vínculo como
uma relação jurídica informal pelo contrato de mandato. Prevalece atualmente o entendimento de que é uma
relação sobre a base da representação orgânica (Brunet-Cañizares, Buenos Aires, 1960). Enquadra-se o diretor
de sociedade anônima não como um mandatário, mas como um órgão da sociedade. [23]

ADMINISTRADORES - NORMAS COMUNS

As normas relativas a requisitos, impedimentos, investidura, remuneração, deveres e responsabilidades dos


administradores são comuns ao Conselho de Administração e a Diretoria e se encontram previstas nos art. 145
a 151 da Lei 6.404/76.

1 . Requisitos e impedimentos

Poderão ser eleitas para membros dos órgãos de administração pessoas naturais residentes no País, devendo
os membros do Conselho de Administração ser acionistas e os diretores, acionistas ou não[24] (art. 146,
caput). Ademais, a ata da assembléia geral ou da reunião do Conselho de Administração que efetivar eleição de
administradores deverá conter a qualificação dos membros eleitos, bem como o prazo de gestão auferido,
sendo obrigatório seu arquivo no Registro de Comércio e publicação (art. 146, § único).

O art. 147 determina que, quando a lei exigir determinados requisitos para a investidura no cargo de
administração, a assembléia geral somente poderá proceder a eleição de membros que tenham apresentado
comprovantes necessários, dos quais se arquivará cópia na sede social .

Situam-se na condição de inelegíveis as pessoas impedidas por lei especial ou as condenadas por crime
falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, contra a economia popular, a fé pública ou
contra a propriedade ou ainda pena criminal que vede, mesmo que temporariamente, o acesso a cargos
públicos (art. 147 § 1º). Para os cargos de administração de companhia aberta são ainda inelegíveis as pessoas
declaradas inabilitadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários (art. 147 § 2º).

2. Garantia da Gestão

A lei faculta ao estatuto, no art. 148, um mecanismo de garantia de gestão, podendo o estatuto estabelecer
que o exercício do cargo de administrador deva ser assegurado - pelo titular ou por terceiro - mediante penhor
de ações da companhia ou outra garantia, que só será levantada após aprovação das últimas contas
apresentadas pelo administrador que deixe o cargo.

3. Investidura

Conselheiros e diretores serão investidos em seus cargos mediante assinatura de termo de posse no livro de
atas do Conselho de Administração ou da Diretoria., no prazo de 30 dias após a nomeação, sob pena dessa se
tornar sem efeito, salvo justificação aceita pelo órgão da administração pertinente (art. 149).

4. Substituição e término da gestão

Salvo disposição estatutária em contrário, havendo vacância de cargo de conselheiro ocorrerá nomeação de
substituto pelos conselheiros remanescentes, com vigência até a primeira assembléia geral que houver, exceto
nos casos em que ocorra vacância da maioria dos cargos, situação em que a assembléia geral será convocada
para proceder a nova eleição (art. 150 caput).

Ocorrendo vacância de todos os cargos do Conselho de Administração, será de competência da diretoria a


convocação da Assembléia Geral (art. 150 § 1º).

A Lei ora em estudo, no § 2º do art. 150, prevê, também, solução para a hipótese de vacância de todos os
cargos da diretoria. Nas companhias que não possuam Conselho de Administração, competirá ao Conselho
Fiscal, se estiver em funcionamento, ou a qualquer acionista, convocar a assembléia geral, devendo o acionista
majoritário praticar os atos urgentes da administração da companhia até a realização da Assembléia Geral.
O conselheiro ou diretor eleito para preencher o cargo completará o prazo de gestão do substituído, sendo que
o prazo de gestão do Conselho de Administração ou da diretoria estender-se-á até a investidura dos novos
administradores eleitos (art. 150 § 3º e 4º).

5. Renúncia

Rege a lei, no seu art. 151, que a renúncia revestir-se-á de eficácia perante à companhia desde o momento da
entrega de comunicação escrita pelo renunciante, e em relação aos terceiros de boa-fé, somente após
arquivamento no Registro de Comércio e publicação, que poderão ser promovidos pelo próprio renunciante.

6. Remuneração

Compete à assembléia geral fixar o montante global ou individual da remuneração dos administradores, tendo
em conta suas responsabilidades, tempo dedicado às funções, competência, reputação profissional e valor dos
seus serviços no mercado, conforme disposto no art. 152, caput.[25]

DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS ADMINISTRADORES

Os deveres e responsabilidades dos administradores se encontram disciplinados na Seção IV do Capítulo XII da


Lei 6.404/76, art. 153 a 160.

As normas desta Seção, conforme dispõe o art. 160, aplicar-se-ão aos de quaisquer órgãos criados pelo
estatuto, com funções técnicas ou destinadas a aconselhar os administradores[26], bem como aos membros do
Conselho Fiscal (art. 165) .

I - DEVERES DOS ADMINISTRADORES

Em regra, a Lei 6.404/76 elenca os seguintes deveres básicos dos administradores:

1. Dever de Diligência : a lei brasileira, no art. 153, impõe ao administrador o dever de administrar a Sociedade
Anônima com cuidado e competência e necessária diligência que todo homem ativo e de caráter íntegro e
honesto empregar na administração de seus próprios negócios[27].

2. Finalidade das Atribuições e Desvio de Poder: exige-se dever ético-social do administrador que exerça suas
atribuições - atribuídas por lei e pelo estatuto - para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as
exigências do bem público e da função social da empresa, conforme estabelece o art. 154. Tal regra vigora
também para o administrador eleito por grupo ou classe de acionistas; não podendo faltar a esses deveres
mesmo que para defesa do interesse dos que o elegeram (art. 154, § único e 1º). Veda-se ao administrador,
conforme art. 154, § 2º:. praticar ato de liberdade à custa da companhia; tomar por empréstimo recursos ou
bens da companhia sem prévia autorização da assembléia geral;. usar em proveito próprio de sociedade em
que tenha interesse, ou de terceiros, os seus bens, serviços ou créditos;. receber de terceiros - sem
autorização estatutária ou da assembléia geral - qualquer vantagem pessoal direta ou indireta, em razão de seu
cargo, sendo que importâncias porventura recebidas com infração a esse disposto pertencerão à companhia
(art. 154, § 3º).[28]

3. Dever de Lealdade: exprime a fidelidade à sociedade, mantendo reserva (dever de sigilo) sobre os negócios,
sendo vedado ao administrador, conforme art. 155 : usar, em benefício próprio ou de outrem, com ou sem
prejuízo para a companhia, as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão do exercício de
seu cargo; omitir-se no exercício ou proteção de direitos da companhia ou, visando à obtenção de vantagens,
para si ou para outrem, deixar de aproveitar as oportunidades de negócio de interesse da companhia; adquirir,
para revender com lucro, bem ou direito que sabe necessário à companhia, ou que esta tencione adquirir. O
administrador da companhia aberta deverá manter sigilo sobre informações que não tenham sido divulgadas
para conhecimento do mercado, obtidas em razão do cargo e que possam influir de modo ponderável na
cotação dos valores mobiliários; sendo-lhe vedado, também, valer-se das informações para obter, para si ou
para outrem, vantagens mediante venda ou compra de valores mobiliários (art. 155, § 1º).[29]

5. Conflito de Interesses(art. 156) : veda a lei qualquer intervenção do administrador em operação social em
que tenha interesses conflitantes com os da companhia, bem como na deliberação que a respeito tomarem os
demais administradores, cumprindo-lhe cientificá-los do seu impedimento e fazer consignar, em ata de reunião
do Conselho de Administração ou da diretoria, a natureza e extensão de seu interesse.[30]

5. Dever de Informar (disclosure): o administrador de companhia aberta, no momento da posse, deverá


declarar o número de ações, bônus de subscrição, opções de compra de ações e debêntures conversíveis em
ações, de emissão da companhia e de sociedades controladas ou do mesmo grupo, de que seja titular (art.
157) [31]

II - RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES


A responsabilidade dos administradores de sociedades anônimas - entendidos como tal os diretores, os
membros do Conselho Fiscal e membros de demais órgãos técnicos e consultivos porventura criados - deriva do
dever de diligência, anteriormente mencionado, inerente a todos que possuem a incumbência de gestão de
patrimônios alheios[32]. No caso de irregularidades, a responsabilidade será apurada nos âmbitos
administrativo, civil e penal, conforme segue :

1. Responsabilidade Administrativa

A responsabilidade administrativa abrange a má-gestão, que poderá acarretar o rebaixamento do administrador


ou a sua destituição. Independe de processo formal, pois se faculta à sociedade poder rebaixar ou destituir
qualquer de seus administradores.

2. Responsabilidade Civil

O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em
virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar quando proceder
dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo e com violação da lei ou do estatuto. A
responsabilidade civil consiste, portanto, na obrigação do administrador indenizar a sociedade por perdas e
danos, quando proceder com culpa ou dolo ou com violação da lei ou do estatuto (art. 158).

A lei determina que o administrador, no âmbito de Diretoria, responderá civilmente pelos prejuízos que causar,
quando proceder com culpa ou dolo, mesmo que praticando atos dentro das suas atribuições ou poderes, pois
dessa forma, infringe-se a finalidade do interesse social, representando vantagens particulares para o
administrador ou para terceiros. [33]

No que concerne ao Conselho de Administração, por ser órgão colegiado, em regra, enquadra-se
responsabilidade solidária entre os administradores, mas a lei, dada a diversidade de atuação dos dois órgãos
do poder administrativo da sociedade, detalha os casos em que haverá solidariedade [34], nos termos do art.
158, § 2º e seguintes.[35].

3. Responsabilidade Penal

No que concerne à responsabilidade dos administradores, no âmbito penal citam-se os seguintes


enquadramentos legais :

1. Código Penal - Crimes contra o Patrimônio - fraudes e abusos na fundação ou Administração de Sociedades
por Ações : O art.. 177 dispõe sobre alguns crimes típicos de administradores de sociedades anônimas; cujos
principais são : prestar informação falsa ou omissão fraudulenta de fato relevante em documentos destinados
ao público; provocar falsa cotação de valores mobiliários da sociedade; executar negociação com as próprias
ações da sociedade, que não se enquadrem nos casos permitidos em lei; distribuir lucros com base em balanço
falso ou em desacordo com os resultados;. obter aprovação irregular de contas, mediante conluio com
acionistas e tomar empréstimo à sociedade ou usar, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres
sociais sem autorização prévia da Assembléia Geral.

2. Lei de Economia Popular: enquadra como crime a fraude de escrituração, relatórios ou qualquer informação
aos acionistas, com finalidade de sonegar lucros e dividendos ou desviar fundos;

3. Lei 7.492/86 - crimes contra o sistema financeiro nacional : tipifica atos dos administradores de instituições
financeiras no que concerne à divulgação de informações falsas nos lançamento de títulos e valores mobiliários;

4. Lei 8.137/90 - Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo, que basicamente tipifica
crimes de responsabilidade de administradores caracterizados pela prática de atos irregulares ou decorrentes
de abuso de poder econômico.

CONSELHO FISCAL

1. Considerações Gerais

O Conselho Fiscal é um órgão autônomo, de controle e fiscalização das atividades financeiras da sociedade e da
atuação dos administradores. Dessa forma, consiste, portanto, em um órgão defensor dos direitos dos
acionistas e de terceiros[36], possuindo para tanto amplas atribuições.

2. Composição e funcionamento
O Conselho Fiscal[37] pode ser de funcionamento permanente ou somente quando solicitada instalação pelos
acionistas, conforme dispuser o Estatuto (art. 161). Será composto de no mínimo três e no máximo cinco
membros, acionistas ou não, eleitos pela Assembléia Geral Ordinária, com mandato anual (art. 161, § 1º).

Quando seu funcionamento não for permanente, pode ser formulado pedido de instalação em qualquer
Assembléia Geral (Ordinária ou Extraordinária - ainda que a matéria não conste da convocação[38]), a pedido
de acionistas que representem no mínimo um décimo das ações com direito a voto ou 5% (cinco por cento) das
ações sem direito a voto, e cada período de seu funcionamento terminará na primeira assembléia geral após a
sua instalação (art. 161, § 2º).

As atribuições conferidas por lei ao Conselho Fiscal serão exercidas, inclusive, durante o período de liquidação
da sociedade, sendo também nessa fase de instalação permanente ou a pedido.

3. Requisitos, Impedimentos e Remuneração

A lei brasileira impõe alguns requisitos para eleição como membro do Conselho Fiscal, conforme disposição do
art. 162, que rege que somente poderão ser eleitas para o Conselho Fiscal as pessoas naturais, residentes no
País, diplomadas em curso de nível universitário, ou que tenham exercido, por prazo mínimo de 3 (três) anos,
cargo de administrador de empresa ou de conselheiro fiscal, cabendo ao juiz dispensar a companhia de tais
exigências caso não existam na localidade pessoas habilitadas em número suficiente para o exercício da função
(art. 162 § 1º).

No que concerne à inegibilidade, são válidas para os membros do Conselho Fiscal as mesmas regras constantes
do art. 147 [39], acrescentando o § 2º do artigo em exame, a condição de inelegíveis aos membros de órgãos
de administração e empregados da companhia ou de sociedade controlada ou do mesmo grupo, e o cônjuge ou
parente, até terceiro grau, de administrador da companhia.

A remuneração será fixada pela Assembléia Geral que eleger os membros e não poderá ser inferior - para cada
membro em exercício - a um décimo da remuneração que em média for atribuída a cada diretor, não
computada a participação nos lucros.

4. Competência

O Conselho Fiscal é órgão de controle, fiscalização e também de informação cuja atividade não se esgota na
mera revisão de contas, mas vem a atingir a própria fiscalização da gestão administrativa.[40]

Compete ao Conselho Fiscal dentre outras atribuições constantes do art. 163 : a fiscalização dos atos dos
administradores e a verificação dos seus deveres legais e estatutários; emitir opinião[41] sobre o relatório
anual da administração, fazendo constar do seu parecer as informações complementares que julgar necessárias
ou úteis à deliberação da assembléia geral; - opinar sobre as propostas dos órgãos da Administração, a serem
submetidas à assembléia geral, no que tange à modificação do capital social, emissão de debêntures ou bônus
de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos, transformação,
incorporação, fusão ou cisão.

Rege ainda a lei, no § 7º do artigo ora enfocado, que as atribuições e poderes conferidos ao Conselho Fiscal
não podem ser outorgados a outro órgão da companhia.

5. Pareceres e Representações

É obrigatório o comparecimento dos membros do Conselho Fiscal - ou ao menos um deles - às reuniões da


assembléia geral para responder a pedidos de informações formulados pelos acionistas (art.164, caput).

6. Deveres e Responsabilidades

Os membros do Conselho Fiscal possuem os mesmos deveres dos administradores (art. 153 a 156), exercendo
suas atribuições no sentido de atingir-se fins da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da
função social da empresa, sem intervir em operação social em que tenham interesses conflitantes com os da
companhia e respondem pelos danos resultantes de omissão no cumprimento de seus deveres e de atos
praticados com culpa ou dolo, ou com violação da lei ou do estatuto (art. 165).

O membro do Conselho Fiscal não é responsável pelos atos ilícitos de outros membros, salvo se com eles for
conveniente ou se concorrer para a prática do ato (art.165, § 1º).

Sendo o Conselho Fiscal um órgão colegiado, a responsabilidade por omissão é solidária (art. 165, § 2º), pois
exprimem uma vontade coletiva. Nos demais casos, a responsabilidade por prática de atos ilícitos é pessoal,
desde que não comprovada conivência, nos termos do § 1º do art. 165 retromencionado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BACCARIN, Edson; BACCARIN SILVA, Cristina Maria. Curso teórico-prático de direito comercial terrestre. Bauru:
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BATALHA, Wilson de Souza Campos. Comentários à lei das sociedades anônimas. Rio de Janeiro: Forense,
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GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Responsabilidade dos administradores de sociedades anônimas. Revista
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HENTZ, Luiz Antônio Soares. Direito empresarial. Franca: UNESP, 1996.

LIMA, Osmar Brina Corrêa. Sociedade anônima: textos e casos. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

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______ . Contratos e obrigações comerciais: cmentários à lei das soiedades aônimas. Rio de Janeiro: Forense,
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MENDONÇA, André Luiz Dumortout de; GONÇALVES, Álvaro Thomaz. Dicionário de sociedades comerciais e
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MIRANDA JÚNIOR, Darcy Arruda. Curso de direito comercial: sociedades comerciais. São Paulo: Ed. Revista dos
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PACHECO, José da Silva. Sociedades anônimas e valores mobiliários. São Paulo: Saraiva, 1977. v.1.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 1988.

DADOS DO AUTOR

PAULO ROBERTO COLOMBO ARNOLDI

1. Mestre, Doutor e Livre Docente em Direito Comercial

2. Presidente do Instituto Paulista de Direito Comercial e da Integraçào


3. Presidente do Centro de Estudos Latino Americanos da UNESP

4. Membro do Instituto de Direito Comercial Visconde de Cairú

5. Membro do Instituto de Derecho Comercial de la Universidad Notarial Argentina

6. Membro da Fundacion Ectheverry para la Investigacion y Estudios Internacionales

7. Diretor do Departamento de Direito Privado da Universidade Estadual Paulista - UNESP

8. Professor de Direito Comercial na UNESP, Universidade São Francisco - USF e UNAERP .

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[1] Cf . Requião, Rubens . Curso de Direito Comercial. São Paulo : Saraiva, 1988.

[2]Nos dizeres de Waldírio Bulgarelli : “A concepção organicista concebe um sistema que regula a expressão da
vontade nas sociedades e a atividade exercida por seus órgãos como a expressão da própria atividade da
pessoa jurídica in Manual das Sociedades Anônimas. São Paulo : Atlas, 1984.

[3]A Lei 6.404/76 procurou introduzir mecanismos que impeçam a tendência discricionária e autocrática da
administração, tentando estabelecer um equilíbrio de poderes da maioria e da minoria, sem descaracterizar os
interesses da companhia.

[4]Cf. MARTINS, Fran. Comentários à Lei das S.A. Rio de Janeiro : Forense, 1978.REQUIÃO e Rubens, cit. p.
165.

[5]Nos dizeres de Waldírio Bulgarelli : “A concepção organicista concebe um sistema que regula a expressão da
vontade nas sociedades e a atividade exercida por seus órgãos como a expressão da própria atividade da
pessoa jurídica Cf. BATALHA, Wilson de Souza Campos, ob. cit. p. 655.

[6]Faculta, portanto, a Lei, que a sociedade disponha estatutariamente sobre sua existência, de acordo com
suas necessidades estruturais.Cumpre destacar que acordo com a lei, o Conselho de Administração seria de
caráter obrigatório para as sociedades de economia mista (art. 239), mas à luz da Constituição Federal de
1988, reveste-se de inconstitucionalidade, face ao disposto no art. 173, § 1º. Neste sentido, José Edwaldo
Tavares Borba, ob. cit.

[7]Cf. MARTINS, Fran, ob. cit. p.272.

[8]Consistindo em órgão de deliberação colegiada, suas decisões devem ser proferidas conjuntamente pelos
conselheiros, sendo vedado que um só conselheiro, isoladamente, pratique atos que requeiram manifestação
dos demais, cf. . MARTINS, Fran, ob. cit. p. 272.

[9]Vide MANGE, Roger de Carvalho, in Membros do Conselho de Administração de Sociedade Anônima Falida,
RT 667, citado por Fábio Ulhoa Coelho, ob. cit., p. 303, sobre a inaplicabilidade dos arts. 34 e 37 da Lei de
Falências aos membros do Conselho de Administração.

[10] De acordo com o § 1º deste mesmo artigo, tal faculdade deverá ser exercida até 48 horas antes da
assembléia geral.

[11]MARTINS, Fran. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro : Forense, 1978.

[12]REQUIÃO, Rubens, cit. p. 164.

[13]Cf. MARTINS, Eliane M. Octaviano Martins, in Direito de voto...

[14] Cf. MARTINS, Fran, ob. cit. p. 283, que assinala : “Essa permissão vigora esteja ou não contemplada no
estatuto, o que significa que a regra é de ordem pública, não podendo ser derrogada pelo estatuto nem pela
assembléia. Ainda mais : a Comissão de Valores Mobiliários, quando se tratar de sociedades abertas, poderá
reduzir a percentagem necessária de ações votantes para que o processo de votação pelo voto múltiplo seja
utilizado na eleição dos conselheiros consoante estatui o art. 291 da lei”.

[15] Cf. LIMA, Osmar Brina Corrêa, in Sociedade Anônima..., ob. cit. p. 27. Adotando o sistema de voto
múltiplo, possibilita a lei a participação das minorias votantes nos conselhos de administração, consistindo,
portanto, em vantagem para os acionistas não-controladores.
[16]Vide Instrução CVM n. 165, de 11.12.91, baixada nos termos do art. 291 da LSA, a respeito do percentual
mínimo de participação acionária necessário para que se requeira o processo de voto múltiplo para eleição de
membros do Conselho de Administração de companhia aberta. Vide também Fábio Ulhoa Coelho, ob. cit. p.
304.

[17]BATALHA, Wilson de Souza Campos, in Comentários... p. 699 : “o administrador eleito por grupo ou classe,
inclusive mediante voto múltiplo (art. 141) não é instrumento do grupo ou da classe que o elegeu, mas órgão
da sociedade, devendo exercer suas atribuições no interesse da sociedade”.

[18] Cf. REQUIÃO, Rubens, ob. cit. p. 165.

[19]Cf. MARTINS, Fran. Comentários à Lei das S.A. São Paulo : Forense, 1978.

[20]Cf. BATALHA, Wilson de Souza Campos, ob. cit. p. 661.

[21]Os poderes dos diretores são indelegáveis.

[22]É lícito aos diretores constituir mandatários da companhia, nos limites de suas atribuições e poderes,
devendo constar no instrumento de mandato os atos ou operações que poderão praticar e a duração do
mandato, sendo que o mandato judicial poderá ser por prazo indeterminado, conforme determina o art. 144 .O
mandato representa a outorga temporária de poderes, feita pela sociedade através de seus diretores, para a
prática de determinados atos, que devem ser explicitados no instrumento. Não colide com o disposto no art.
139, pois não haverá uma transferência de poderes próprios de um órgão de administração; há apenas a
incumbência da prática de certos atos que deveriam ser realizados pelos diretores, mas que por motivos
justificáveis são conferidos a estranhos. O mandato, nesses casos, é outorgado pela sociedade e não pelo
diretor individualmente. Não se extinguirá, portanto, com a morteou saída da companhia do diretor que o
autorizou .Se o mandato fosse particular, se extinguiria com a morte do mandante. Código Civil art. 1316,
inciso II : “Cessa o mandato : ...II - pela morte ou interdição de uma das partes.”

[23] “Desta aquisição doutrinária no campo da análise da pessoa jurídica segue-se que a responsabilidade do
administrador não é contratual, pois a responsabilidade orgânica é ex lege. Por outro lado, predomina, em
doutrina, a tese de que a condição de administrador decorre não de um contrato com a sociedade, mas de um
ato jurídico unilateral, por via do qual se lhe atribui, com os respectivos poderes, a qualidade de órgão da
pessoa jurídica. Conquanto esse ato unilateral, denominado nomeação, tenha a eficácia condicionada à
aceitação do nomeado, nem por isso se torna contratual, porquanto ela é simples condição de eficácia. Desta
qualificação técnica resulta que o ato de nomeação pode ser revogado sem que o nomeado tenha direito a agir
contra a sociedade como se ela fora responsável por inexecução contratual. Entretanto, pode se aceitar a
orientação do direito alemão de se admitir, ao lado do ato unilateral de nomeação, o contrato de emprego,
Anstellung, como instrumento de regulação das relações internas entre o administrador e a sociedade.” Cf.
GOMES, Orlando, in Revista dos Tribunais, vol. 429, p. 16 apud Wilson de Souza Campos Batalha, ob. cit. p.
659.

[24]A ata da assembléia geral ou da reunião do Conselho de Administração que eleger administradores deverá
conter a qualificação de cada um dos eleitos e o prazo de gestão, ser arquivada no Registro de Comércio e
publicada, conforme art. 146 § único.

[25] O estatuto da companhia que fixar o dividendo obrigatório em 25% ou mais do lucro, poderá atribuir
participação no lucro da companhia aos administradores, desde que o total não ultrapasse a remuneração anual
dos mesmos nem um décimo dos lucros, prevalecendo o limite menor[25](art. 152, § 1º).

[26]Para Lamy Filho: “os órgãos técnicos e consultivos, criados pelo Estatuto Social, integram-se na
administração da empresa, são parte dela, e seus membros, como administradores, têm todos os deveres e
responsabilidades que a lei atribui aos investidos nos órgãos administrativos; correlatamente, gozam, ou
podem gozar, das vantagens comuns a todos. Especificamente, a remuneração com parte fixa e outra variável,
em função dos lucros - observadas sempre as normas do art. 152 da Lei - é, não apenas possível, mas em
certos casos, do interesse da empresa”.

[27] Cf. BULGARELLI, Waldírio in Apontamentos sobre a responsabilidade dos administradores das companhias,
Revista de Direito Mercantil, Revista dos Tribunais, n. 50 apud Fábio Ulhoa Coelho, ob. cit., p. 310.

[28]Cumpre ressaltar, ainda, que a lei (art. 154, § 4º) faculta ao Conselho de Administração ou à diretoria
autorizar a prática de atos gratuitos razoáveis em benefício dos empregados ou da comunidade onde se insira a
empresa, tendo em vista suas responsabilidades sociais.

[29]Ademais, a lei impõe ao administrador, no § 2º do mesmo artigo, o dever de zelar para que a violação do
sigilo não ocorra através de subordinados ou terceiros de sua confiança, além de regulamentar, no § 3º, que a
pessoa prejudicada em compra e venda de valores mobiliários, contratada com infração ao disposto nos § 1º e
2º, terá direito à indenização por perdas e danos contra o infrator, salvo se já tivesse conhecimento da
informação no momento da contratação.
[30]Ainda que observado o disposto neste artigo, o administrador somente pode contratar com a companhia
em condições razoáveis ou eqüitativas, idênticas às que prevalecerem no mercado ou em que a companhia
contrataria com terceiros (art. 156, § 1º). O negócio contratado com infração a esse disposto no parágrafo é
anulável, e o administrador interessado será obrigado a transferir para a companhia as vantagens que dele
tiver auferido (art. 156, § 2º).

[31] Vide na íntegra o art. 157 e seus parágrafos.

[32]GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Responsabilidade dos Administradores de Sociedades Anônimas.


Revista de Direito Mercantil, nr 42, ano XX. São Paulo : Ed. Revista dos Tribunais, 1981.

[33]Ao violar a lei ou o estatuto, age além dos poderes que lhe são outorgados, caracterizando
responsabilidade pessoal não apenas perante a sociedade, mas perante terceiros prejudicados. A
responsabilidade civil não afasta a responsabilidade penal. Em regra, a responsabilidade dos diretores, em nível
de Diretoria, é individual, especificando a lei os casos de responsabilidade solidária. Nesse sentido, rege o § 1º
do art. 158 que o administrador não é responsável pelos atos ilícitos de outros administradores, salvo nos casos
de conivência, neglicência em descobrí-los ou se tiver conhecimento de tais ilícitos e deixar de agir para impedí-
los. Eximir-se-á de responsabilidade o administrador dissidente que faça constar sua divergência em ata de
reunião do órgão de administração ou, não sendo possível, dê ciência imediata e por escrito ao órgão da
Administração, ao Conselho Fiscal - se em funcionamento - ou à Assembléia Geral.

[34] Cumpre ressaltar que os administradores são solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados pelo
descumprimento de deveres impostos por lei que assegurem o funcionamento normal da sociedade, mesmo
que o Estatuto determine que tais deveres não caibam a todos os administradores, exceto nas companhias
abertas. Neste sentido Fran Martins, in Comentários à Lei das S.A., ob. cit.

[35]Por força do art. 159, caput, competirá à companhia, mediante prévia deliberação da assembléia geral, a
ação de responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos causados ao seu patrimônio.
Complementa o § 1º que a deliberação poderá ser tomada em assembléia geral ordinária e, se prevista na
ordem do dia ou for conseqüência direta de assunto nela incluído, em assembléia geral extraordinária.
Competirá, portanto, à assembléia geral ordinária ou extraordinária deliberar sobre a propositura da ação de
responsabilidade civil, no prazo de três meses (art. 159, § 3º), findo o qual qualquer acionista estará legitimado
a fazê-lo em nome próprio, mas no interesse da sociedade (substituição processual derivada). Vide na íntegra o
art. 158 e 159.

[36] “Sendo o Conselho Fiscal um órgão autônomo, com atribuições definidas dentro da sociedade, tais
atribuições e poderes que a lei lhe confere não poderão ser outorgadas a outro órgão da companhia, do mesmo
modo que acontece com atribuições e poderes do Conselho de Administração e Diretoria”, conforme observa
Fran Martins, in Comentários à Lei das S.A., ob. cit.

[37]A função de membro do Conselho Fiscal é indelegável.

[38]Dispõe o art. 161, § 3º que o pedido de funcionamento do Conselho Fiscal, ainda que a matéria não conste
do anúncio de convocação, poderá ser formulado em qualquer assembléia geral, que elegerá os membros.

[39]Situam-se na condição de inelegíveis as pessoas impedidas por lei especial ou as condenadas por crime
falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, contra a economia popular, a fé pública ou
contra a propriedade ou ainda pena criminal que vede, mesmo que temporariamente, o acesso a cargos
públicos (art. 147 § 1º). Para os cargos de administração de companhia aberta, são ainda inelegíveis as
pessoas declaradas inabilitadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários (art. 147 § 2º).

[40]Cf. TJSP, RT 670/77.

[41]A verificação de documentos ou propostas da administração, antes de se submeterem à Assembléia Geral,


demonstra o caráter de órgão fiscalizador da Administração e não de mero exame contábil, que em princípio, é
de competência de auditores. (Neste sentido Fran Martins, Comentários à Lei das S.A., ob. cit.)

ÓRGÃOS DE GESTÃO NAS SOCIEDADES POR AÇÕES


Bruno Rodriguez Caldas
Aluno do 2°ano noturno do Curso de Direito
da UNESP(Franca-SP)
Sumário: 1. Introdução. 2. Processo histórico. 3.Conceito de
sociedade por ações.4.Classificação das sociedades anônimas.5.A
assembléia geral na sociedade por ações.6.A função do conselho
de administração.7.A diretoria das sociedades anônimas.8. O
conselho fiscal nas sociedade por
ações.9.Conclusão.10.Referências bibliográficas.
1 Introdução
O presente artigo visa apresentar em seu conteúdo uma breve
exposição do funcionamento interno de uma sociedade por ações. A
melhor forma de compreender tal matéria se dá pelo estudo de sua
composição, ou seja, dos órgãos responsáveis por formar esse
importantíssimo regime societário.
Assim, são de suma importância para compreensão do assunto o
desmembramento da sociedade em seus quatro principais órgãos
(assembléia geral, conselho de administração, diretoria e conselho fiscal)
e o estudo atento da função pertinente a cada parte para a perfeita
assimilação do funcionamento de uma empresa regida por esse que,
sem dúvida, é o mais complexo e importante regime societário, dada a
quantidade de capital envolvido.
Para adentrar as questões estruturais, porém, é necessário expor,
anteriormente, o que é uma sociedade anônima: seu conceito, suas
especificidades e classificação. Dessa forma, primeiramente será
apresentada uma noção básica do regime societário, a começar do
processo de evolução histórico, para somente então adentrar as
questões específicas ao tema.
2 Processo histórico
A origem das sociedades por ações gera uma divergência doutrinária1.
Alguns dizem que seu início remonta a Itália renascentista, mais
especificamente em Gênova. Para esses pensadores, a primeira
sociedade anônima seria a Casa de São Jorge, espécie de Banco que
possuia seu capital dividido em ações2 . A maioria dos estudiosos, no
entanto, credita o título às Companhias de Comércio cuja origem é
holandesa e datam de 1602. Elas eram responsáveis por financiar
atividades coloniais, que foram exercidas inclusive no nordeste
brasileiro. É ponto pacífico na doutrina, todavia, o fato de as primeiras
sociedades por ações atenderem uma função de interesse público3.
Esse estreito relacionamento das sociedades anônimas com o Estado era
tão visível que estas dependiam de uma outorga do monarca para
funcionar. Assim, havia uma concessão de privilégios por parte do
monarca a um grupo de pessoas que passariam a desenvolver
determinada atividade econômica. Mais tarde, tal modelo foi simplificado
na Europa, mas as sociedades ainda dependiam de autorização
governamental para funcionar.
O terceiro momento da linha evolutivo desse modelo de sociedade foi
marcado pela revolução industrial, que acarretou em um imenso
crescimento econômico. Tal crescimento, por sua vez, resultou em
aumento significativo de relações comerciais e de atração de capital
para investir nas empresas industriais. Dessa forma, aumentou
significativamente o número de sociedades anônimas. Para facilitar a
sua proliferação e conseqüente desenvolvimento econômico, a Inglaterra
inibiu o sistema de autorização e implantou o registro de empresa em
órgão específico. Modelo, esse, que brevemente se espalhou por todo o
mundo4.
No Brasil, o trâmite não foi diferente. O regime de outorga foi adotado
desde a chegada da família real até 1882, quando se adotou o sistema
de registro. Outro marco significativo nesse ramo, em nosso país, foi a
publicação da Lei n° 6404/76 (Lei das S/A) que criou a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) e atribuiu caráter
1
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa.3.ed.São Paulo:
Saraiva, 2003. V.1
2
COELHO, Fábio Ulhoa.Curso de Direito Comercial- Direito de Empresa.10.ed.São
Paulo: Saraiva, 2007.v.2.
3
COELHO, Fábio Ulhoa.Op.cit.
4
FAZZIO JÚNIOR, Waldo.Manual de Direito Comercial. São Paulo: Atlas, 2000.
dual ao nosso sistema. Assim, nosso direito admite o regime de
regulamentação às companhias fechadas e o de autorização às abertas.
3 Conceito de sociedade por ações
Segundo Waldo Fazzio Júnior5 a sociedade por ações é uma pessoa
jurídica de direito privado que possui, por força de lei, caráter mercantil,
e objetiva com o exercício da empresa o desenvolvimento de atividades
lucrativas. Essas companhias são regidas por um estatuto e recebem
uma denominação. Suas principais características são: a divisão de seu
capital em frações transmissíveis (ações), e o fato de os seu
proprietários, os sócios, possuirem responsabilidade limitada.
A divisão do capital social em ações revela que nesse tipo de empresa
não importa a pessoa do sócio, mas sim o capital investido. Dessa forma,
os proprietários podem negociar as suas ações no momento que desejar
e com a pessoa que lhe for conveniente sem necessitar de autorização
dos demais sócios.
A responsabilidade limitada dos proprietários, por sua vez, garante que
os sócios só se obriguem a pagar dívidas com valor igual ao do capital
investido, ou seja, o valor correspondente às suas ações. Observa-se,
portanto, uma total separação do patrimônio da sociedade, referente à
pessoa jurídica, do patrimônio do acionista.
4 Classificação das sociedades anônimas
A classificação das sociedades anônimas difere de acordo com o critério
adotado. Elas podem ser classificadas como: abertas ou fechadas de
acordo com a emissão e distribuição de valores mobiliários em bolsa de
valores ou mercado de balcão; privada ou mista se for considerada a
origem do capital; e em multinacionais, nacionais ou estrangeiras se for
observada a transnacionalidade de seu capital, a direção e a atuação6.
A classificação mais importante é a primeira e por isso receberá maior
destaque no presente artigo. Ela está presente no art.4° da Lei de
Sociedade
5
NEGRÃO, Ricardo. Op.cit.
6
DORIA, Dylson.Op.cit.

Anônima. A sociedade é considerada aberta quando admite negociação


pública de valores mobiliários a fim de captar recursos7. Para garantir
segurança ao mercado acionário e incentivar o investimento nessas
companhias, o governo exige autorização governamental mediante
registro na CVM (autarquia federal ligada ao Ministério da Fazenda) para
essas empresas poderem atuar8. Se não observados tais procedimentos
ocorre crime que prevê pena de reclusão de 2 a 8 anos mais multa 9. Por
outro lado, as demais sociedades são consideradas fechadas, ou seja,
não se sujeitam às negociações públicas de valores mobiliários na bolsa
de valores ou balcão. Dentre esse segundo grupo de sociedades faz
mister acrescentar que algumas, devido ao pequeno porte (patrimônio
líquido inferior a um milhão de reais e com capital concentrado nas mãos
de até vinte acionistas), recebem tratamento especial por parte da lei10.
Ainda neste tópico é importante esclarecer que a sociedade de economia
mista é aquela mantida pelo Poder Público e que criada para explorar a
atividade econômica de produção de bens ou prestação de serviços. Tal
tipo de empresa atende a uma função social e se sujeita ao regime
jurídico de empresa privada, apesar de obedecer, também, aos
princípios da administração pública. Há, portanto, um regime próprio de
administração estatal que exerce controle governamental sobre a
companhia.
5 A assembléia geral na sociedade por ações
Para melhor atender seus fins administrativos e jurídicos as sociedades
anônimas apresentam desdobramentos de sua pessoa jurídica. Tratam-
se dos órgãos sociais, que apesar de não serem sujeitos de direito,
expressam o interesse da companhia sobre temas específicos. Apesar
destes órgãos poderem ser livremente instituídos pelo estatuto social,
quatro possuem maior relevância e por isso são previstos em lei. Eles
são: A assembléia geral, o conselho de administração, a diretoria e o
conselho fiscal.
7
COELHO, Fábio Ulhoa. Op.cit.
8
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Op.cit.
9
DORIA, Dylson.Op.cit.
10
FABRETTI, Láudio Camargo. Direito de Empresa no novo código civil.2 ed. São
Paulo: Atlas, 2004
A assembléia geral “é o órgão máximo da companhia e dela participam
todos os acionistas com direito a voto. Seu caráter e exclusivamente
deliberativo”11. Assim, a assembléia geral é uma reunião privada cuja
legitimidade de participação é exclusiva de seus membros, ou seja, os
acionistas. Estes, por sua vez, devem se identificar através de
identidade, proprietários de ação nominativa ou através de identidade e
extrato de compra de ações, quando donos de ações custodiadas em
instituições financeiras ou ações escriturais. No caso das pessoas
legitimadas não poderem comparecer, podem eleger um representante
que defenda os seus interesses. A escolha deste, no entanto, sofre
limitações do tipo temporal e do tipo subjetivo. A limitação subjetiva
refere-se às qualidades do sujeito representante que pode ser,
taxativamente, outro sócio, um administrador da companhia, um
representante de instituição financeira (só em caso de sociedades
abertas), ou um advogado (que também pode freqüentar às reuniões
como acompanhante do acionista, prestando-lhe assessoria jurídica). A
limitação temporal, por outro lado, apenas determina que a procuração
para representação tenha validade de um ano12.
Ainda no que abrange a legitimidade de participação faz mister
acrescentar que os proprietários sem direito a voto podem discutir, ou
melhor, se manifestar sobre a composição da pauta de discussão, a qual
pode abranger as mais minuciosas questões administrativas. Outro fator
a ser adicionado é que pessoas distintas dos acionistas, como auditores
independentes, membros do conselho fiscal e de administração podem
participar das assembléias quando ela os convidar ou convocar.
Além da legitimidade, a competência da assembléia também deve ser
exposta. Esse órgão é o único capaz de: reformar o estatuto social;
eleger ou destituir o conselho de administração (se existir), a diretoria
(quando não existir conselho de administração) e o conselho fiscal;
suspender os direitos de acionistas; observar e discutir a prestação de
contas dos administradores; e deliberar sobre operações de
transformação, fusão, incorporação e cisão13.
11
COELHO, Fábio Ulhoa.Op.cit.
12
COELHO, Fábio Ulhoa.Op.cit.
13
DORIA, Dylson.Op.cit.
Devido a grande quantidade de funções da assembléia geral, a doutrina
a classifica em quatro tipos14: assembléia geral constituinte, especial,
ordinária(AGO) e extraordinária(AGE). O primeiro tipo ocorre quando a
reunião visa à constituição da sociedade anônima. O segundo visa
assegurar direitos de titulares de determinadas classes de ações,
evitando modificações estatutárias que os prejudiquem. As duas últimas,
no entanto, são as mais importantes e por isso merecem maior
destaque.
A AGO possui um caráter de obrigatoriedade e periodicidade15, já que
deve se reunir uma vez ao ano, no período de quatro meses após findo o
exercício social. Ela examina a prestação de contas dos administradores,
delibera e voto o destino do lucro líquido alcançado, aprova correção da
expressão monetária e, quando necessário, elege o conselho de
administração e o conselho fiscal. Esse tipo de assembléia geral
necessita da presença de um auditor independente e de um membro do
conselho fiscal para atribuir seu parecer sobre as questões discutidas.
Tal exigência, se não cumprida, adia a deliberação. Ademais, vale frisar
que, salvo em companhias fechadas, os administradores, mesmo que
acionistas (membros do conselho de administração), não votam sobre as
decisões de sua administração, já que a aprovação de suas contas os
isenta de responsabilidade fiscal e administrativa. Os resultados obtidos
na AGO, por sua vez, devem ser promovidos pelos administradores em
um prazo de 30 dias.
Qualquer assunto estranho aos três primeiros tipos de classificação,
como a reforma de estatuto, serão tratados pela AGE.
Para reunião da assembléia geral, porém, ela deve ser convocada. A
competência para a convocação é do conselho de administração, caso
este não exista, a atividade será exercida pela diretoria. Em casos
excepcionais, todavia, a convocação pode ser realizada pela própria
assembléia fiscal, pelo conselho fiscal ou até pelos acionistas16. Esse ato
de convocação é tido como formal e deve se dar por publicação de
anúncio. Tal procedimento, se não observado, impossibilita a
deliberação, salvo hipótese de todos acionistas se encontrarem
presentes17.
14
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Op.cit.
15
COELHO, Fábio Ulhoa.Op.cit.
16
DORIA, Dylson.Op.cit.
17
NEGRÃO, Ricardo. Op.cit.

Convocada a assembléia geral, os trabalhos, ou seja, os debates e


votações são presididos por uma mesa cuja composição é prevista no
estatuto da companhia. De acordo com o assunto deliberado, vale
ressaltar, há exigência de um quorum. Este se subdivide em quorum de
instalação e de deliberação, O primeiro é requisito para a realização da
reunião (pode ser reunião de 1/4, 1/2 ou 2/3 do capital social) e o
segundo serve de condição para a validade das decisões alcançadas
(pode ser de maioria absoluta ou até de unanimidade)18.
Por fim, as deliberações são narradas, por escrito, em uma ata que deve
ser assinada por todos os acionistas presentes e lavrada no livro de atas
das assembléias gerais. Se não documentada dessa forma, a lei permite
que as atas sejam lavradas sob forma de sumário dos fatos ocorridos,
contendo apenas as deliberações levadas a termo.
6 A função do conselho de administração
O conselho de administração é um órgão deliberativo com quantidade de
membros de número ímpar e plural, ou seja, é composto por no mínimo
três pessoas. Sua existência é obrigatória em companhias abertas,
sociedades com capital autorizado ou de economia mista, sendo de
presença facultativa nas demais sociedades por ações. Sua composição
é oriunda de eleição pela assembléia geral e desse mesmo órgão recebe
parcela da competência.
O conselho de administração pode atuar em qualquer matéria de
interesse da companhia com exceção àquelas de atividade privativa à
assembléia geral. Contudo, sua função específica é: fixar orientação
geral para negócios; eleger e destituir diretoria; suprir omissões do
estatuto no que concerne sobre a divisão de competência entre os
diretores; fiscalizar a diretoria; convocar a assembléia geral; se
manifestar sobre o relatório anual de prestação de contas da diretoria; e
escolher e destituir auditores independentes19.
O processo de eleição, por sua vez, é legalmente definido como o de
voto múltiplo. Esse modelo eleitoral atribui a cada ação uma quantidade
de votos equivalentes ao número de cargos que compõe o conselho,
quantidade esta prevista no estatuto social. Desse modo, objetiva-se
atribuir representatividade a minoria
18
COELHO, Fábio Ulhoa.Op.cit.
19
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Op.cit.
acionária. O acionista quando for votar pode concentrar esses votos em
um só candidato ou distribuí-los de acordo com seus interesses. Os
trabalhos eleitorais serão presididos pela mesa da assembléia geral, que
deve, anteriormente a votação, informar aos acionistas a quantidade de
votos necessários para garantir a eleição de um membro no conselho20.
O período de gestão, também é regido pelo estatuto, mas pode ser
interrompido pela assembléia geral. Este órgão tem o poder de destituir
o conselho. Tal destituição não precisa ser motivada, já que o
conselheiro exerce cargo de confiança, ou seja, encontra-se em seu
cargo por autonomia da vontade e, portanto, por essa mesma vontade
pode perder sua posição.
Por fim, é importante falar da previsão de escolha de um dos membros
para o posto presidente do conselho. Esse procedimento obedece à
forma prevista no estatuto, sendo, normalmente, fruto de escolha
democrática pelos próprios membros do conselho. O presidente é
responsável por convocar e dirigir as reuniões bem como resgistrá-las
em atas cujo conteúdo será lançado em livro próprio depois de assinada
por todos os membros presentes. Nem todas as atas, porém, necessitam
ser arquivadas. Tal procedimento torna-se obrigatório somente nos
casos que acarretem efeitos a terceiros ou quando a ata relatar reuniões
nas quais haja eleições para diretores ou renúncia de conselheiros21.
7 A diretoria das sociedades anônimas
Láudio Camargo Fabretti define a diretoria como “órgão executivo das
deliberações da assembléia geral e do conselho de administração e de
representação legal da companhia”22. Os diretores não precisam ser
acionistas e são escolhidos pelo conselho de administração, na ausência
deste o processo pode ser realizado pela assembléia geral. A destituição
de cargo pode ser feita a qualquer momento pelos mesmos órgãos 23 que
também são responsáveis pela atribuição de competência a cada diretor.
20
COELHO, Fábio Ulhoa.Op.cit.
21
FABRETTI, Láudio Camargo.Op.cit.
22
DORIA, Dylson.Op.cit.
23
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Op.cit
A quantidade de diretores, bem como o período de gestão é
determinada pelo estatuto social, certo, porém, é que o mandato não
pode ser superior a três anos (cabe reeleição) e que a companhia deve
contar com pelo menos dois diretores. No máximo 1/3 da quantidade
máxima de diretores, no entanto, pode ser composta por membros do
conselho de administração.
No que tange à responsabilidade, os diretores respondem solidariamente
por responsabilidade civil caso não observem em seus atos o
procedimento estabelecido pelas normas da companhia24.
Por fim, há de se citar a existência de casos específicos nos quais os
diretores têm a necessidade de se reunir para deliberar. Nestas
situações, a decisão a ser tomada flui da maioria dos votos. Tais
trabalhos são registrados em atas cujo conteúdo é lavrado em livro
próprio.
8 O conselho fiscal nas sociedades por ações
O conselho fiscal é responsável por fiscalizar os demais órgãos,
principalmente no que concerne às prestações de contas, e à legalidade
e regularidade dos atos de gestão25. Assim, sua atividade deve ser
autônoma, ou seja, não pode ser hierarquicamente inferior ao conselho
de administração nem à diretoria. Waldo Fazzio Júnior acrescenta que “
sua atuação é instrumental, já que disponibiliza aos acionistas para
exercícios de direito e de fiscalizar e votar”26. Para bem realizar sua
atividade, portanto, o conselho deve ter a sua disposição todo o arsenal
de informações necessárias.
A presença do órgão, por sua vez, é obrigatória, porém o seu
funcionamento é facultativo. Assim, a empresa deve contar com um
conselho fiscal, mas esse não precisa, necessariamente, exercer sua
atividade.
No que tange a composição do conselho, ela é feita através da escolha
de um número de três a cinco membros (mesmo número de suplentes)
pela assembléia geral. As pessoas a serem escolhidas não precisam ser
acionistas, todavia exige-se que sejam graduadas em ensino superior ou
pelo menos contem com uma experiência mínima de três anos em cargo
de administrador. Caso não haja na
24
DORIA, Dylson.Op.cit.
25
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Op.cit
26
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Op.cit
empresa pessoas com estas qualificações, pode-se requerer ao juiz da
comarca uma autorização especial. Formado o conselho, ele passa a
realizar seus trabalhos de forma colegiada, vencendo sempre a maioria.
Outro aspecto importantíssimo do conselho é a sua responsabilidade. O
art.163 da LSA garante a necessidade de registrar as reuniões em atas e
arquivar os pareceres. O art.165 da mesma lei, por sua vez define que o
conselho fiscal será responsabilizado se for conivente com medidas
ilícitas ou prejudiciais a sociedade. O mesmo artigo define, também, que
em caso de omissão ele responderá de forma solidária. È importante
ressaltar, porém, que o conselheiro que tiver se posicionado de forma
contrária (verificação se dá por registro em ata) se exime do
cumprimento da obrigação27.
Finalmente, é importante acrescentar que as companhias abertas devem
contratar auditores independentes registrados no CVM para, também,
realizar função de fiscalização.
9 Conclusão
Após o breve estudo do tema pode-se perceber que a sociedade por
ações, para melhor exercer as suas funções é dividida em órgãos que
realizam funções específicas. A quantidade de subdivisões, por sua vez,
é livre e prevista em estatuto social. Quatro órgãos, todavia, destacam
se em relação aos demais e, por isso, são tratados pelo direito. Eles são:
a assembléia geral, conselho de administração, diretoria e conselho
fiscal.
Dentre essas subdivisões, a assembléia geral é tida como mais
importante, visto que reúne os acionistas e decide, através de
deliberações todo o futuro da sociedade empresária bem como elegem
os membros que compõe os outro órgãos. Trata-se, portanto de um
órgão de discussão e votação que é utilizado como instrumento de
manifestação da vontade dos proprietários para a realização das
atividades.
O conselho de administração, por sua vez, é um órgão facultativo, que
recebe parcela da competência da assembléia geral. Ele pode exercer
atividades referentes a qualquer matéria da companhia, salvo aquelas
que são exclusivas à assembléia geral. Já a diretoria exerce cargo
executivo e de representação da companhia e o
27
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Op.cit
conselho fiscal, como não poderia deixar de ser realiza trabalhos de
fiscalização das atividades exercidas pelos demais órgãos.
Percebe-se, portanto, que para o bom andamento de uma sociedade
anônima, que se caracteriza pelo seu grande porte e movimentação
intensa de altos valores, faz-se necessária uma divisão de tarefas que
otimize os trabalhos e garanta bons resultados aos acionistas. Assim, a
divisão de funções para os órgãos objetiva a maior segurança nos
negócios e conseqüente maior lucratividade.
10 Referências bibliográficas
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial- Direito de
Empresa.10.ed.São Paulo: Saraiva, 2007.v.2.
DORIA, Dylson. Curso de Direito Comercial.14.ed.São Paulo: Saraiva,
2000.v.1.
FABRETTI, Láudio Camargo. Direito de Empresa no novo código civil. 2
ed. São Paulo: Atlas, 2004.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Atlas,
2000.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa.3.ed.São
Paulo: Saraiva, 2003. V.1.

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