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De forma bem prática e objetiva, Jônatha Bittencourt e Cristiano da Silva Goulart apresentam as teorias burocráticas relacionadas a notícias veiculadas na imprensa brasileira. Como se isso não bastasse, análises profundas e objetivas são realizadas tendo em foco as disfunções dos ideais da Burocracia pregada por Max Weber.
As disfunções em questão estão baseadas nos conceitos de Robert King Merton, Alvin Gouldner e Michel Crozier.
De forma bem prática e objetiva, Jônatha Bittencourt e Cristiano da Silva Goulart apresentam as teorias burocráticas relacionadas a notícias veiculadas na imprensa brasileira. Como se isso não bastasse, análises profundas e objetivas são realizadas tendo em foco as disfunções dos ideais da Burocracia pregada por Max Weber.
As disfunções em questão estão baseadas nos conceitos de Robert King Merton, Alvin Gouldner e Michel Crozier.
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De forma bem prática e objetiva, Jônatha Bittencourt e Cristiano da Silva Goulart apresentam as teorias burocráticas relacionadas a notícias veiculadas na imprensa brasileira. Como se isso não bastasse, análises profundas e objetivas são realizadas tendo em foco as disfunções dos ideais da Burocracia pregada por Max Weber.
As disfunções em questão estão baseadas nos conceitos de Robert King Merton, Alvin Gouldner e Michel Crozier.
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Disfunções Uma análise prática da realidade burocrática.
Professor: Prof. Dr. Claudio Mazzilli
Porto Alegre, 2010
BUROCRACIA E DESIGUALDADES: UMA AMBIGUIDADE?
Tendo como ponto de partida um artigo apresentado no mês de abril
pela revista Caros Amigos, podemos explorar algumas das disfunções apresentadas pela Burocracia weberiana em relação às desigualdades sociais e o vínculo destas ao nível educacional. “Desigualdade e educação”, redigido por Otaviano Helene, aborda aspectos ligados ao círculo vicioso que alia a má gestão da educação brasileira aos reflexos apresentados no nível econômico da população.
No segundo capítulo da Constituição Brasileira promulgada em 1988,
pode-se observar que o artigo 6º apresenta a educação como uma integrante essencial dentro de um conjunto de direitos sociais. Considerando a complexidade de tal declaração, questionamos a sua eficácia no cenário brasileiro. Segundo o artigo em destaque, a situação atual da educação tem se apresentado como um instrumento de manutenção da desigualdade de renda familiar.
De acordo com dados de pesquisas do IBGE, a cada ano adicional de
escolaridade há um aumento de 10% da renda pessoal. Também há a constatação de que os investimentos na educação, por estudante – em questão de duração e qualidade dela –, dependem da renda familiar. Baseado nessas estatísticas, Otaviano caracteriza o sistema escolar brasileiro como uma forma de perpetuação das desigualdades econômicas, já que a baixa renda familiar resultaria, com grandes possibilidades, na baixa escolaridade dos dependentes, gerando uma tendência a este “círculo vicioso”.
Quando analisamos a burocracia weberiana, não podemos esquecer dos
ideais pregados por ela. Muitas vezes apresentado como a “sociedade perfeita”, o sistema burocrático visa à impessoalidade; não prevê o enriquecimento ilícito e tampouco promove o privilégio a grupos específicos. Agora, tendo como base alguns conceitos de Max Weber, torna-se mais fácil apontar um ponto disfuncional no contexto citado anteriormente: a desigualdade.
Merton defendeu a ineficácia da burocracia e, tendo como objeto de
análise o texto “Desigualdade e educação”, podemos verificar a sustentação de suas afirmações. Tendo como pano de fundo o contexto apresentado pelo autor como “círculo vicioso” – uma intensa ligação entre o baixo nível de renda e o índice de escolaridade –, percebemos a ineficácia da burocracia quanto a sua atuação. O que na teoria objetivava o não-privilegiamento apresenta-se na prática como um favorecimento a grupos específicos.
Para esse círculo vicioso, é necessário melhorar a
qualidade da educação pública, reduzir as taxas de evasão escolar e propiciar um sistema educacional mais igualitário, que faça com que a educação recebida por uma criança ou um jovem não dependa de sua condição econômica (HELENE, Otaviano, 2010).
Como nos é possível observar no enunciado anterior, percebemos que
há um certo isolamento da educação para as pessoas mais pobres com relação à de instituições privadas. É claro, indagamo-nos se não há escolas públicas suficientes. Sim, de certo modo podemos afirmar positivamente, no entanto, trata-se do nível educacional – abrangindo recursos para desenvolvimento das aulas – do ensino público equiparado ao privado. Quem não pode investir mais da sua renda para incluir seus dependentes numa “educação de qualidade” tende a sair perdendo.
Fazendo relação do que acabamos de ler ao que Robert King Merton
afirmou, ressaltando a ineficácia da Burocracia – pois promove o privilégio de alguns –, percebemos que o que estava incluso inicialmente na Constituição Federal não representa um favorecimento geral dos que estão sob sua abrangência. Se as estatísticas afirmam que a qualidade da educação influencia diretamente na permanência dos estudantes nas salas de aula e se o vínculo educacional destes também está relacionado ao progresso de sua renda familiar, constatamos que será com muita dificuldade que alguns deles, oriundos de famílias com carência financeira, possam avançar as etapas “ilesos” da atuação desigual deste sistema.
A proposta para que este conflito venha ser sanado é um “sistema
educacional igualitário” – já que grande parte das instituições públicas apresentam um nível reduzido de qualidade em comparação às privadas. Sabemos que este baixo índice de qualidade contribui, de certa maneira, para a evasão escolar.
Concluímos que o impacto das afirmações de Merton também
repercutem no Brasil. Enquanto a teoria burocrática weberiana apresenta algo, diante do modelo prático aquilo torna-se ineficaz. Num Estado marcado por um sistema de educação desigual, a burocracia tem mostrado que a sua atuação não tem sido das melhores, nem ao menos beirado às expectativas da sociedade que é considerada, por vezes, utópica. FAVORITISMO BUROCRÁTICO?
Se compreendermos que a organização política, inserida em uma
sociedade de caráter racional-legal, é uma estrutura burocrática, subentenderíamos que esta organização dispõe das características da burocracia descrita por Max Weber (1947). Ou seja, compreenderíamos que esta organização está estruturada através de uma hierarquização da autoridade; racionalização nas divisões de trabalho; caráter impessoal, onde há uma separação completa entre a função que o indivíduo exerce e seus interesses pessoais; e que serve como forma de organização visando um objetivo comum.
Entretanto, o artigo “Desafios dos Trabalhadores na Luta Contra a
Direita”, elaborado pelo membro da Coordenação Nacional do MST, Gilmar Mauro, e que foi publicado no mês de abril de 2010, pela revista Caros Amigos, denuncia justamente a complexidade tomada pela estrutura burocrática- capitalista que levou a classe trabalhadora a uma perda da identidade e total alienação, fator que acarretou a instrumentalização da organização política como ferramenta de concessão de privilégios para uma determinada classe, no caso, à Direita, como podemos ver:
Essas novas relações de trabalho, fruto das
transformações ocorridas na sociedade capitalista, implicaram em uma grande perda de identidade da classe trabalhadora e uma aparentemente crônica dificuldade de reconstruir essa identidade. (MAURO, Gilmar, 2010)
Tal característica poderia ser explicada como uma disfunção da
burocracia, como constata o estudioso Alvin Gouldner (1954), afirmando que “os membros de uma organização não tem os mesmos interesses e objetivos” e que “as regras burocráticas representam apenas os interesses de parte dos membros da organização”. Ou seja, há uma relação de interesse inserida na organização. O que o artigo denuncia, pode relacionar-se também com algumas características da Burocracia Autocrática, onde Gouldner afirma que este tipo de burocracia baseia-se em regras que um grupo impõe aos outros grupos e que, nesse tipo de estrutura, eclodem muitos conflitos.
Essa forma de pensamento poderia ser resumida com a ideia de que
nas organizações existem indivíduos com interesses múltiplos e divergentes e que a ação social não é algo natural, pois a cooperação entre diferentes atores sociais é uma das maiores dificuldades da organização e só se estabelece, na maioria das vezes, através da coerção, ou seja, quando os atores se submetem às regras pela impossibilidade de questioná-la (CROZIER, 1977).
Em suma, ao contrário do que mostra o autor: “existem muitos militantes
que estão ocupados com centenas de tarefas dispersas, sem planejamento e foco estratégico”, talvez o que falte para o estabelecimento de uma estrutura da classe trabalhadora, capaz de questionar a organização vigente, seja justamente o conceito básico de estrutura burocrática, que é a formulação de um objetivo. GOVERNO LULA RUMO À DESPERSONALIZAÇÃO EM “O LULISMO NO PODER”.
Não são poucos os livros que tratam a respeito da trajetória de grandes
personalidades políticas. O mesmo ocorre agora, no final da atuação presidencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o livro “O Lulismo no Poder”, Merval Pereira apresenta uma coleção de textos publicados no jornal O Globo desde 2002.
Questionamos sobre qual seria a real iniciativa do lançamento de um
livro como este. Trazendo à luz os conceitos weberianos sobre a burocracia, vemos que a impessoalidade é, realmente, um fator preponderante. A notícia publicada no jornal Zero Hora, “Livro faz um balanço crítico do governo Lula”, apresenta comentários do autor quanto à publicação de tal livro – seria o Estado atual um reflexo da burocracia fingida? Seria Lula uma figura carismática no poder? Estaríamos vivendo uma atuação política que corresponde a um jogo de poder?
De acordo com a notícia, Merval Pereira não é mais um simples
simpatizante do governo Lula. Ele apresenta a sua insatisfação àquilo que o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chama, no prefácio ao livro, de “superatuação das lideranças carismáticas no país”, em detrimento do bom funcionamento da democracia no Brasil (EVELIN, Guilherme, 2010).
Alvin Ward Gouldner constatou o que poderíamos denominar de
“burocracia fingida”, esta atuação carismática que está diretamente ligada à situação sócio-econômica da sociedade. O Brasil tem vivido esta fase, onde o governo Lula tem sido relacionado por muitos analistas ao período marcado pelo “getulismo”. E claro, isto não se torna algo “surpreendente” à medida que se usa o termo aplicado um dia a Getúlio Vargas: “o pai dos pobres”.
Quando lemos uma notícia que se refere à publicação de um livro que
faz críticas ao governo em questão, às vésperas da conclusão do seu mandato, passamos a buscar o porquê de tal editoração. A figura de Lula como o “presidente do povo” que adquiriu altos índices de popularidade, precisa ter críticos à altura de tais considerações. O livro de Merval Pereira tem o objetivo de combater a superficialidade do status “conquistado” por Lula. Considerar como primordial o carisma pessoal do presidente é o reflexo da alienação à qual tem sido levada a população brasileira. Uma das disfunções da burocracia, a sua “falsa” atuação, tem se apresentado mimeticamente através de desenvolvimento que é nada mais nada menos do que um dever do contrato social.
Outro aspecto a ser ressaltado é uma característica apresentada por
Michel Crozier, quando se tem em vista a burocracia como um jogo de poder. Na trajetória do presidente Lula, podemos ver a sua origem humilde em contraste à ocupação que presidia. Agora, a popularidade a seu respeito tem sido determinante para manter a sua ideologia política seguir com livre fluência. Lendo o livro “O Lulismo no Poder”, podemos constatar esta visão crítica quanto à manutenção do poder por meios de persuasão carismática.
Poderíamos considerar a publicação do livro de Merval Pereira como
uma obra bem oportuna, já que contribui para a ruína da alienação social, mas os seus efeitos ainda não são muito bem conhecidos. Logo em ano de eleições, apresentar um livro como este talvez fomente um movimento pró-Lula cada vez maior, já que a visão carismática tem sido levada consideravelmente em conta. Os “lulistas” não receberão de bom grado. E, com isto, a burocracia apresenta-se cada vez mais personificada, algo que Weber não previa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição, 1988.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. Rio de
Janeiro: Campus, 2000.
EVELIN, Guilherme. O lulismo à luz da democracia. Época. On-line.
HELENE, Otaviano. Desigualdade e educação. Revista Caros Amigos. São Paulo,
SP, Abril de 2010, p. 23.
MAURO, Gilmar. Desafio dos Trabalhadores na luta contra a direita. Revista Caros Amigos. São Paulo, SP, Abril de 2010, pp. 21-22.
MOTTA, Fernando C. Prestes; PEREIRA, Luiz C. Bresser. Introdução à
Organização Burocrática. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
MOTTA, Fernando C. Prestes. Teoria Geral da Administração: uma introdução.
São Paulo: Pioneira, 1977.
PRIKLADNICKI, Fábio. Livro faz um balanço crítico do governo Lula. Zero