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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

Cristiano da Silva Goulart


Jônatha Bittencourt

Teorias da Burocracia e suas


Disfunções
Uma análise prática da realidade burocrática.

Professor: Prof. Dr. Claudio Mazzilli

Porto Alegre, 2010


BUROCRACIA E DESIGUALDADES: UMA AMBIGUIDADE?

Tendo como ponto de partida um artigo apresentado no mês de abril


pela revista Caros Amigos, podemos explorar algumas das disfunções
apresentadas pela Burocracia weberiana em relação às desigualdades sociais
e o vínculo destas ao nível educacional. “Desigualdade e educação”, redigido
por Otaviano Helene, aborda aspectos ligados ao círculo vicioso que alia a má
gestão da educação brasileira aos reflexos apresentados no nível econômico
da população.

No segundo capítulo da Constituição Brasileira promulgada em 1988,


pode-se observar que o artigo 6º apresenta a educação como uma integrante
essencial dentro de um conjunto de direitos sociais. Considerando a
complexidade de tal declaração, questionamos a sua eficácia no cenário
brasileiro. Segundo o artigo em destaque, a situação atual da educação tem se
apresentado como um instrumento de manutenção da desigualdade de renda
familiar.

De acordo com dados de pesquisas do IBGE, a cada ano adicional de


escolaridade há um aumento de 10% da renda pessoal. Também há a
constatação de que os investimentos na educação, por estudante – em
questão de duração e qualidade dela –, dependem da renda familiar. Baseado
nessas estatísticas, Otaviano caracteriza o sistema escolar brasileiro como
uma forma de perpetuação das desigualdades econômicas, já que a baixa
renda familiar resultaria, com grandes possibilidades, na baixa escolaridade
dos dependentes, gerando uma tendência a este “círculo vicioso”.

Quando analisamos a burocracia weberiana, não podemos esquecer dos


ideais pregados por ela. Muitas vezes apresentado como a “sociedade
perfeita”, o sistema burocrático visa à impessoalidade; não prevê o
enriquecimento ilícito e tampouco promove o privilégio a grupos específicos.
Agora, tendo como base alguns conceitos de Max Weber, torna-se mais fácil
apontar um ponto disfuncional no contexto citado anteriormente: a
desigualdade.

Merton defendeu a ineficácia da burocracia e, tendo como objeto de


análise o texto “Desigualdade e educação”, podemos verificar a sustentação de
suas afirmações. Tendo como pano de fundo o contexto apresentado pelo
autor como “círculo vicioso” – uma intensa ligação entre o baixo nível de renda
e o índice de escolaridade –, percebemos a ineficácia da burocracia quanto a
sua atuação. O que na teoria objetivava o não-privilegiamento apresenta-se na
prática como um favorecimento a grupos específicos.

Para esse círculo vicioso, é necessário melhorar a


qualidade da educação pública, reduzir as taxas de
evasão escolar e propiciar um sistema educacional
mais igualitário, que faça com que a educação
recebida por uma criança ou um jovem não
dependa de sua condição econômica (HELENE,
Otaviano, 2010).

Como nos é possível observar no enunciado anterior, percebemos que


há um certo isolamento da educação para as pessoas mais pobres com
relação à de instituições privadas. É claro, indagamo-nos se não há escolas
públicas suficientes. Sim, de certo modo podemos afirmar positivamente, no
entanto, trata-se do nível educacional – abrangindo recursos para
desenvolvimento das aulas – do ensino público equiparado ao privado. Quem
não pode investir mais da sua renda para incluir seus dependentes numa
“educação de qualidade” tende a sair perdendo.

Fazendo relação do que acabamos de ler ao que Robert King Merton


afirmou, ressaltando a ineficácia da Burocracia – pois promove o privilégio de
alguns –, percebemos que o que estava incluso inicialmente na Constituição
Federal não representa um favorecimento geral dos que estão sob sua
abrangência. Se as estatísticas afirmam que a qualidade da educação
influencia diretamente na permanência dos estudantes nas salas de aula e se o
vínculo educacional destes também está relacionado ao progresso de sua
renda familiar, constatamos que será com muita dificuldade que alguns deles,
oriundos de famílias com carência financeira, possam avançar as etapas
“ilesos” da atuação desigual deste sistema.

A proposta para que este conflito venha ser sanado é um “sistema


educacional igualitário” – já que grande parte das instituições públicas
apresentam um nível reduzido de qualidade em comparação às privadas.
Sabemos que este baixo índice de qualidade contribui, de certa maneira, para
a evasão escolar.

Concluímos que o impacto das afirmações de Merton também


repercutem no Brasil. Enquanto a teoria burocrática weberiana apresenta algo,
diante do modelo prático aquilo torna-se ineficaz. Num Estado marcado por um
sistema de educação desigual, a burocracia tem mostrado que a sua atuação
não tem sido das melhores, nem ao menos beirado às expectativas da
sociedade que é considerada, por vezes, utópica.
FAVORITISMO BUROCRÁTICO?

Se compreendermos que a organização política, inserida em uma


sociedade de caráter racional-legal, é uma estrutura burocrática,
subentenderíamos que esta organização dispõe das características da
burocracia descrita por Max Weber (1947). Ou seja, compreenderíamos que
esta organização está estruturada através de uma hierarquização da
autoridade; racionalização nas divisões de trabalho; caráter impessoal, onde há
uma separação completa entre a função que o indivíduo exerce e seus
interesses pessoais; e que serve como forma de organização visando um
objetivo comum.

Entretanto, o artigo “Desafios dos Trabalhadores na Luta Contra a


Direita”, elaborado pelo membro da Coordenação Nacional do MST, Gilmar
Mauro, e que foi publicado no mês de abril de 2010, pela revista Caros Amigos,
denuncia justamente a complexidade tomada pela estrutura burocrática-
capitalista que levou a classe trabalhadora a uma perda da identidade e total
alienação, fator que acarretou a instrumentalização da organização política
como ferramenta de concessão de privilégios para uma determinada classe, no
caso, à Direita, como podemos ver:

Essas novas relações de trabalho, fruto das


transformações ocorridas na sociedade capitalista,
implicaram em uma grande perda de identidade da
classe trabalhadora e uma aparentemente crônica
dificuldade de reconstruir essa identidade.
(MAURO, Gilmar, 2010)

Tal característica poderia ser explicada como uma disfunção da


burocracia, como constata o estudioso Alvin Gouldner (1954), afirmando que
“os membros de uma organização não tem os mesmos interesses e objetivos”
e que “as regras burocráticas representam apenas os interesses de parte dos
membros da organização”. Ou seja, há uma relação de interesse inserida na
organização. O que o artigo denuncia, pode relacionar-se também com
algumas características da Burocracia Autocrática, onde Gouldner afirma que
este tipo de burocracia baseia-se em regras que um grupo impõe aos outros
grupos e que, nesse tipo de estrutura, eclodem muitos conflitos.

Essa forma de pensamento poderia ser resumida com a ideia de que


nas organizações existem indivíduos com interesses múltiplos e divergentes e
que a ação social não é algo natural, pois a cooperação entre diferentes atores
sociais é uma das maiores dificuldades da organização e só se estabelece, na
maioria das vezes, através da coerção, ou seja, quando os atores se
submetem às regras pela impossibilidade de questioná-la (CROZIER, 1977).

Em suma, ao contrário do que mostra o autor: “existem muitos militantes


que estão ocupados com centenas de tarefas dispersas, sem planejamento e
foco estratégico”, talvez o que falte para o estabelecimento de uma estrutura da
classe trabalhadora, capaz de questionar a organização vigente, seja
justamente o conceito básico de estrutura burocrática, que é a formulação de
um objetivo.
GOVERNO LULA RUMO À DESPERSONALIZAÇÃO
EM “O LULISMO NO PODER”.

Não são poucos os livros que tratam a respeito da trajetória de grandes


personalidades políticas. O mesmo ocorre agora, no final da atuação
presidencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o livro “O Lulismo no
Poder”, Merval Pereira apresenta uma coleção de textos publicados no jornal O
Globo desde 2002.

Questionamos sobre qual seria a real iniciativa do lançamento de um


livro como este. Trazendo à luz os conceitos weberianos sobre a burocracia,
vemos que a impessoalidade é, realmente, um fator preponderante. A notícia
publicada no jornal Zero Hora, “Livro faz um balanço crítico do governo Lula”,
apresenta comentários do autor quanto à publicação de tal livro – seria o
Estado atual um reflexo da burocracia fingida? Seria Lula uma figura
carismática no poder? Estaríamos vivendo uma atuação política que
corresponde a um jogo de poder?

De acordo com a notícia, Merval Pereira não é mais um simples


simpatizante do governo Lula. Ele apresenta a sua insatisfação àquilo que o
historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), chama, no prefácio ao livro, de “superatuação das
lideranças carismáticas no país”, em detrimento do bom funcionamento da
democracia no Brasil (EVELIN, Guilherme, 2010).

Alvin Ward Gouldner constatou o que poderíamos denominar de


“burocracia fingida”, esta atuação carismática que está diretamente ligada à
situação sócio-econômica da sociedade. O Brasil tem vivido esta fase, onde o
governo Lula tem sido relacionado por muitos analistas ao período marcado
pelo “getulismo”. E claro, isto não se torna algo “surpreendente” à medida que
se usa o termo aplicado um dia a Getúlio Vargas: “o pai dos pobres”.

Quando lemos uma notícia que se refere à publicação de um livro que


faz críticas ao governo em questão, às vésperas da conclusão do seu mandato,
passamos a buscar o porquê de tal editoração. A figura de Lula como o
“presidente do povo” que adquiriu altos índices de popularidade, precisa ter
críticos à altura de tais considerações. O livro de Merval Pereira tem o objetivo
de combater a superficialidade do status “conquistado” por Lula. Considerar
como primordial o carisma pessoal do presidente é o reflexo da alienação à
qual tem sido levada a população brasileira. Uma das disfunções da
burocracia, a sua “falsa” atuação, tem se apresentado mimeticamente através
de desenvolvimento que é nada mais nada menos do que um dever do contrato
social.

Outro aspecto a ser ressaltado é uma característica apresentada por


Michel Crozier, quando se tem em vista a burocracia como um jogo de poder.
Na trajetória do presidente Lula, podemos ver a sua origem humilde em
contraste à ocupação que presidia. Agora, a popularidade a seu respeito tem
sido determinante para manter a sua ideologia política seguir com livre fluência.
Lendo o livro “O Lulismo no Poder”, podemos constatar esta visão crítica
quanto à manutenção do poder por meios de persuasão carismática.

Poderíamos considerar a publicação do livro de Merval Pereira como


uma obra bem oportuna, já que contribui para a ruína da alienação social, mas
os seus efeitos ainda não são muito bem conhecidos. Logo em ano de
eleições, apresentar um livro como este talvez fomente um movimento pró-Lula
cada vez maior, já que a visão carismática tem sido levada consideravelmente
em conta. Os “lulistas” não receberão de bom grado. E, com isto, a burocracia
apresenta-se cada vez mais personificada, algo que Weber não previa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição, 1988.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. Rio de


Janeiro: Campus, 2000.

EVELIN, Guilherme. O lulismo à luz da democracia. Época. On-line.

HELENE, Otaviano. Desigualdade e educação. Revista Caros Amigos. São Paulo,


SP, Abril de 2010, p. 23.

MAURO, Gilmar. Desafio dos Trabalhadores na luta contra a direita. Revista Caros
Amigos. São Paulo, SP, Abril de 2010, pp. 21-22.

MOTTA, Fernando C. Prestes; PEREIRA, Luiz C. Bresser. Introdução à


Organização Burocrática. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

MOTTA, Fernando C. Prestes. Teoria Geral da Administração: uma introdução.


São Paulo: Pioneira, 1977.

PRIKLADNICKI, Fábio. Livro faz um balanço crítico do governo Lula. Zero


Hora. Porto Alegre, p.16, 15 de Setembro, 2010.

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