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A noiva da casa azul

Não foi a dúvida e sim a raiva que me levou a embarcar no mesmo dia com destino a
Juparassu, para onde deveria ter seguido minha namorada, segundo a carta que recebi.
Sim, a raiva. Uma raiva incontrolável, que se extravasava1 ao menor movimento dos
outros viajantes, tornando-me grosseiro, a ponto dos meus vizinhos de banco sentirem-se
incomodados, sem saber se estavam diante de um neurastênico2 ou débil mental.
A culpa era de Dalila. Que necessidade tinha de me escrever que na véspera de
partir do Rio dançara algumas vezes com o ex-noivo? Se ele aparecera por acaso na festa e
se fora por simples questão de cortesia que ela não o repelira3, por que mencionar o fato?
Não me considero ciumento, mas aquela carta bulia com meus nervos. Fazia com
que, a todo instante, eu cerrasse4 os dentes ou soltasse uma praga.
Acalmei-me um pouco ao verificar, pela repentina mudança de paisagem, que
dentro de meia hora terminaria a viagem e Juparassu surgiria no cimo da serra, mostrando
a estaçãozinha amarela. As casas de campo só muito depois, quando já estivesse
desembarcado e percorrido uns dois quilômetros a cavalo. A primeira seria a minha, com as
paredes caiadas5 de branco, as janelas ovais.
Deixei que a ternura me envolvesse e a imaginação fosse encontrar, bem antes dos
olhos, aqueles sítios que representavam a melhor parte da minha adolescência.
Sem que eu percebesse, desaparecera todo o rancor6 que nutrira7 por Dalila no decorrer
da viagem. Nem mesmo a impaciência de chegar me perturbava. Esquecido das
prevenções8 anteriores, aguardava o momento em que apertaria nos braços a namorada.
Cerrei as pálpebras para fruir9 intensamente a vontade de beijá-la, abraçá-la. Nada falaria
da suspeita, da minha raiva. Apenas diria:
-Vim de surpresa para ficarmos noivos.
Juparassu! Juparassu surgia agora ante os meus olhos, no alto da serra. Mais quinze
minutos e estaria na plataforma da estação, aguardando condução para casa, onde mal
jogaria a bagagem e iria ao encontro de Dalila.
Sim, ao encontro de Dalila. De Dalila que, em menina 10 tinha o rosto sardento e era
uma garota implicante, rusguenta11 . Não a tolerava e os nossos pais se odiavam. Questões
de divisas dos terrenos e pequenos casos de animais que rompiam tapumes, para maior
fosse o ódio dos dois vizinhos.
Mas, no verão passado, por ocasião da morte de meu pai, os moradores da Casa
Azul, assim como os ingleses das duas casas de campo restantes, foram levar-me suas
condolências12 , e tive dupla surpresa: Dalila perdera as sardas e seus pais, ao contrário do
que pensava, eram ótimas pessoas.
Trocamos visitas, e, uma noite, beijei Dalila.
Nunca Juparassu apareceu tão linda e nunca suas serras foram tão azuis.

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