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10/2008
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Introdução
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Uma das intervenções humanas que provoca maiores alterações no
sistema ambiental é a retirada das rugosidades naturais, ou seja, conversão de
espaços naturais para superfícies impermeáveis. Esta ação provoca o aumento
do volume de água pluvial que provoca problemas tanto ao meio físico como ao
homem e algumas de suas conseqüências é: mudança da captação de água
da bacia hidrográfica, erosão superficial provocada pela força e velocidade da
água escoada, enchentes em pontos de altitudes mais baixas do relevo e
desmoronamentos de encostas.
Nesse sentido, entendemos que muitos dos problemas deparados pela
sociedade estão ligados a catástrofes ambientais ocorridas nas cidades, em
função principalmente da ocupação desordenada de encostas ou de terrenos
próximos aos rios e nascentes.
Goudie e Viles (1997) apud Guerra e Marçal (2006), destacam que a
Geomorfologia Urbana tenta entender e conciliar as relações entre os fatores
do meio físico (chuvas, solos, encostas, redes de drenagem, cobertura vegetal
etc.) com os impactos derivados da ocupação humana. Portanto, para um
planejamento urbano que vise sustentabilidade e qualidade de vida, é
necessária a contribuição da Geomorfologia Urbana.
O conhecimento geomorfológico pode evitar a ocorrência de impactos
ambientais negativos sobre o relevo e também propiciar um
desenvolvimento mais duradouro e estável de qualquer área da
superfície terrestre (GUERRA e MARÇAL 2006, pág. 41).
A estabilidade do terreno é importante para a sua ocupação racional e
ela varia de acordo com as tendências evolutivas do relevo somadas as
interferências dos demais componentes ambientais e antrópicos. Mendes
(1993) explica que perante a constatação de que o território é um recurso
limitado e frágil, emergiu a idéia de que é necessário a sua gestão,
preservação e ordenamento de forma prudente e eficaz, para uma melhor
qualidade de vida daqueles que nele habitam. A intervenção humana deve,
portanto ser planejada e adequada, para que os danos resultantes sejam os
menores possíveis. A Geomorfologia quando elabora relatórios dos impactos
antrópicos sobre o ambiente natural por meio de análises, desenvolve projetos
que auxiliam no planejamento, permitindo maior aproveitamento e menor
degradação do meio físico.
As diretrizes gerais do Estatuto da Cidade ressalta a importância de
uma adequada ocupação e uso do solo urbano para uma cidade sustentável e
com o mínimo possível de problemas econômico-sociais e principalmente
ambientais. Segue abaixo parte relevante ao trabalho extraída do capítulo 1 –
Diretrizes Gerais – do Estatuto da Cidade, na qual é explicitado o propósito do
Estatuto.
Art.1 - Na execução da política urbana, de que tratam os arts.
182 e 183 da Constituição Federal será aplicado o previsto nesta Lei.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada
Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse
social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem
coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do
equilibro ambiental.
Art.2 – A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
IV - planejamento do desenvolvimento das cidades, da
distribuição social da população e das atividades econômicas do
Município e do território sob sua área de influencia, de modo a evitar
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e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos
negativos sobre o meio ambiente;
VI - ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:
f) a deterioração das áreas urbanizadas;
g) a poluição e a degradação ambiental;
Existem ainda Leis que regulamentam o uso do solo, como Código
Florestal, Resolução Conama, que faz algumas modificações no Código
Florestal e a Lei de Parcelamento do Solo. Todas servirão de base fundamental
para a análise das ocupações das encostas delimitadas pela área de estudo
situada na cidade de Atibaia.
Código Florestal LEI N° 4.771, de 15 de setembro de 1965
Artigo 2° - Consideram-se de preservação permanente, pelo só
efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural
situadas:
e) nas encostas ou partes destas com declividade superior a 45°
equivalente a 100% na linha de maior declive;
Artigo 10 - Não é permitida a derrubada de florestas situadas em
áreas de inclinação entre 25 a 45 graus, só sendo nelas tolerada a
extração de toros quando em regime de utilização racional, que vise a
rendimentos permanentes.
Resolução CONAMA Nº 303, de 20 de março de 2002
Não faz alterações no Código Florestal na questão das APPs de encostas.
LEI 6.766 de Parcelamento Do Solo de 19 de dezembro de 1979
Art. 3º - Somente será admitido o parcelamento do solo para fins
urbanos em zonas urbanas ou de expansão urbana, assim definidas
por lei municipal.
Parágrafo único - Não será permitido o parcelamento do solo:
III - em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta
por cento) salvo se atendidas exigências específicas das
autoridades competentes;
O Plano Diretor do Município estabelece uma Política de Meio
Ambiente, dentre os princípios que merecem destaque, estão:
a) o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito
fundamental da pessoa humana; o meio ambiente sadio configura-se
como extensão do direito à vida;
c) a Política de Meio Ambiente será implementada com a
observância na legislação ambiental vigente no País;
h) o Poder Público e a sociedade têm a responsabilidade de garantir
a qualidade urbano-ambiental do Município;
É fundamental a aplicação das Leis, pois elas constituem um
instrumento de regulação baseado em estudos ambientais que buscam o
equilíbrio entre meio ambiente e as diferentes utilizações que o ser humano faz
do solo.
Área de estudo
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“Área de Preservação Ambiental” de acordo com a Lei Estadual Nº 10.111 de
1998, que estabelece normas para o plano de manejo e gestão da área.
Aspectos físicos:
Os movimentos de massa de acordo com Guerra e Cunha (1966) são
fenômenos naturais contínuos de dinâmica externa, propícios em ambientes de
declividade acentuada e com índices pluviométricos altos. Além disso, são
induzidos por cortes para implantação de moradias. Os deslizamentos nas
encostas são basicamente desencadeados pelo processo de escoamento
superficial, e este ocorre em detrimento da capacidade de infiltração do solo.
Sendo assim, é fundamental o estudo da relação entre as chuvas, as
propriedades geológicas e pedológicas e a cobertura vegetal, segundo Guerra
e Cunha (1966). Dentro os tipos de movimentos de massas, o IPT (1991) aput
Guerra e Cunha (1966) faz a seguinte classificação: rastejos, corridas de
massa, escorregamentos e quedas ou tombamentos. A classe mais importante
é dos escorregamentos, que são movimentos rápidos de curta duração e com
plano de ruptura bem definido.
Caracterização física:
O Condomínio Flamboyant e o Loteamento Parque do Arco Íris
pertencem a Sub-bacia do Ribeirão Itapetinga (figura 3), localizado na
margem esquerda do Rio Atibaia, um dos rios que constitui a Bacia
UGRHI – Piracicaba/Capivari/Jundiaí (figura 2) de acordo com dados do
Plano Diretor. Os esquemas abaixo servem apenas de ilustração.
Atib aia
Campinas
Figura 2 – ilustra a localização de Atibaia na Bacia UGRH Figura 3 – ilustra a localização da área de estudo
Conforme Campos (2003), a cidade está inserida no Planalto Atlântico,
região serrana com diversas elevações no relevo e altitudes freqüentes
entre 700 e 1000 metros, além de fazer parte dos primeiros contrafortes
da Serra da Mantiqueira. Existem dois processos que agem na
modelação do relevo local, agradação e degradação. O mais importante
para esta pesquisa é o de degradação, pois age de forma erosiva sobre
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o relevo e provoca intensos desgastes, que somados aos tipos de solos
encontrados no município resultam num relevo em destruição.
A litologia regional é composta pelo Complexo Gnáissico-Migmatítico de
Amparo e pelos Maciços Graníticos de Socorro e Atibaia, conforme
apresentada por Campos (2003b).
Segundo Kawakubo et al., o clima da região de acordo com a
classificação de Koeppen é Cfb, que significa temperado com
temperaturas relativamente elevadas durante todo o ano. Os maiores
índices de chuva estão em dezembro e janeiro, com totais de 204,6mm
e 260,8mm, respectivamente.
A cobertura vegetal original da porção sul era de campos e cerrados e
do norte junto a Serra era de densa floresta subcaducifólia tropical de
planalto, espécie que possui sub-bosque e produz bastante matéria
orgânica. A maior parte do território foi desmatado para o cultivo do café,
posteriormente para pastagens, silvicultura de Pinus ssp e Eucaliptus
ssp, e cultivo de flores e frutas de acordo com Campos (2003). Imagens
satélites do Landsat de 1997 obtidas pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais mostram que o uso do solo predominante na região
é de pasto com pequenas porções espalhadas de floresta.
O solo de Atibaia, segundo Silva (2001), possui 11 unidades de solo. A
área de estudo encontra-se na unidade Itapetinga com 0,7% da área do
município, com tipo de solo litossolo com substrato granito gnaisse. Os
litossolos são associados a relevos movimentados com muitos
afloramentos rochosos e tem como fator limitante a declividade
acentuada e a pedregosidade.
MATERIAL E MÉTODOS
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Base cartográfica
georreferenciada
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provocam cortes nas vertentes que induzem ainda mais os movimentos de
massa. O fator pluviométrico também é importante e a região possui clima
temperado com chuvas freqüentes no verão, o que indica volume suficiente
para o desencadeamento dos processos em questão.
De acordo com a análise dos mapas produzidos e a reambulação em
campo das fotografias aéreas, a área de estudo possui irregularidades no que
tange as Legislações citadas anteriormente. Segundo a Lei 6766, o
parcelamento do solo para fins urbanos em áreas com declividade superior ou
igual a 30% só seria permitido se atendidas exigências específicas das
autoridades competentes, ou seja, todas as residências construídas em
encostas com essa característica, mesmo que possua as estruturas de
construção mais adequadas, necessitam de autorização de órgãos específicos.
O condomínio e o loteamento apresentaram diversos casos de
irregularidade enquadrados nessa Lei. O Código Florestal, entretanto, possui
uma legislação menos rígida se comparado as declividades tratadas na outra
lei, pois é proibido o corte raso acima de 25 ° de declive e a liberação só ocorre
em caso de extração de toros para rendimento permanente. As encostas com
45 ° ou mais são consideradas APP’s e por isso não podem ser desmatadas de
forma alguma. Em detrimento da elevada declividade discutida pelo Código
Florestal, poucas residências se enquadram nesse tipo de irregularidade.
Porém, haja vista os valores abordados nesta Lei, nenhuma casa deveria estar
construídas nessas classes de declividade pelo risco geomorfológico alto
encontrado nesses terrenos. Obviamente, não deveriam existir ocupações em
nenhum dos casos determinados pelas leis, pois entre os diversos motivos em
que elas se baseiam, um deles é de manter o equilíbrio ambiental e evitar
riscos a sociedade.
Abaixo o mapa 1 sinaliza em vermelho e marrom as áreas impróprias
segundo a Lei de Parcelamento do Solo. O mapa 2 construído em função do
declive em graus mostra também em vermelho e marrom as área indevidas à
ocupação, porém, segundo o Código Florestal.
Mapa de declividade com malha viária Mapa de declividade com malha viária
Legenda Legenda
0-5 graus
0-5% 5-15 graus
5-15% 15-25 graus
15-30% 25-45 graus
30-55% >45 graus
>55%
7439500
7439500
7439000
7439000
Escala
0 240 480 m Escala
0 240 480 m
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Foto 1 – foto aérea com identificação das irregularidades
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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