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1. INTRODUÇÃO
2. O DIREITO COMO OBJETO CULTURAL
3. SINGULARIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
4. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
4.1. Conceito
4.2. Métodos de Interpretação
4.2.1. O método jurídico (ou método hermenêutico clássico)
4.2.2. O método tópico-problemático
4.2.3. O método hermenêutico-concretizador
4.2.4. O método científico-espiritural (método valorativo, sociológico)
4.2.5. O método normativo-estruturante
4.3. Princípios de Interpretação Constitucional
4.3.1. Princípio da unidade da constituição
4.3.2. Princípio da concordância prática ou da harmonização
4.3.3. Princípio da correção funcional
4.3.4. Princípio da eficácia integradora
4.3.5. Princípio da força normativa da constituição
4.3.6. Princípio da máxima efetividade
4.3.7. Princípio da interpretação conforme a Constituição e da presunção
da constitucionalidade das leis
4.3.8. Princípio da proporcionalidade ou razoabilidade
5. CONCLUSÃO
1. INTRODUÇÃO
Este estudo parte da pesquisa bibliográfica. Compila, sem aprofundar, as lições mais
relevantes sobre os métodos e princípios de interpretação constitucional. A
abordagem se inicia com a caracterização do fenômeno jurídico como objeto cultural,
estudado pelo Direito, uma ciência cultural. Em seguida, são apresentadas as
especificidades das normas constitucionais, que implicam na necessidade de
aplicação de técnicas específicas de interpretação. Ao final, são apresentados os
métodos e princípios constitucionais, se valendo, principalmente, do ensinamento do
mestre português, Joaquim José Gomes Canotilho e do constitucionalista brasileiro,
Inocêncio Mártires Coelho.
Conceituar o Direito não é tarefa fácil. A Ciência Jurídica e a Filosofia do Direito não
apresentaram solução final para a questão, não obstante as valiosas contribuições,
fruto do incansável trabalho de muitos juristas e jurisfilósofos.
Miguel Reale, em brilhante lição, ensina que existem duas ordens de relações,
correspondentes a duas espécies de realidade: uma ordem que denominamos
realidade natural e, uma outra, realidade humana, cultural ou histórica. No universo,
há coisas que se encontram, por assim dizer, em estado bruto, ou cujo nascimento
não requer nenhuma participação de nossa inteligência ou de nossa vontade. Mas,
ao lado dessas coisas, postas originariamente pela natureza, outras há sobre as
quais o homem exerce a sua inteligência e a sua vontade, adaptando a natureza a
seus fins. Há, portanto, dois mundos complementares: o do natural e o do cultural.
Observa-se, dentro destes dois mundos, que "os fenômenos naturais desenvolvem-
se segundo o princípio da causalidade ou exprimem meras referências funcionais,
cegas para os valores. As relações que se estabelecem entre os homens, ao
contrário, envolvem juízos de valor, implicando uma adequação de meios a fins." Os
fenômenos naturais não variam em significado. Uma lei física é sempre a mesma em
qualquer lugar, não sendo possível interpretações variadas. Já os fenômenos
culturais, entre eles o Direito, podem variar em significado e, por conseguinte, serem
a eles agregados valores, produzindo interpretações sempre renovadas e sempre
integradas às anteriores.
O Direito, como objeto cultural, está ontologicamente ligado a valor e exige para o
seu conhecimento "um método específico adequado, empírico-dialético, que se
constitui pelo ato gnosiológico da compreensão, através do qual, no ir e vir
ininterrupto da materialidade do substrato à vivência do seu sentido espiritual,
procuramos descobrir o significado das ações ou das criações humanas."
"(...) em se tratando de regras de direito, sempre que sua previsão se verificar numa
dada situação de fato concreta, valerá para essa situação exclusivamente a sua
conseqüência jurídica, com o afastamento de quaisquer outras que dispuserem de
maneira diversa, porque no sistema não podem coexistir normas incompatíveis."
Mais adiante, acrescenta o mestre que "na aplicação aos casos correntes,
disjuntivamente as regras valem ou não valem, incidem ou não incidem, umas
afastando ou anulando as outras, sempre que as respectivas conseqüências
jurídicas forem antinômicas ou reciprocamente excludentes."
Por sua vez, os princípios, diferentemente das regras - que possuem hipóteses de
incidência fixas e conseqüências jurídicas determinadas, excludentes entre si -, "não
se apresentam como imperativos categóricos nem ordenações de vigência, apenas
enunciando motivos para que se decida num ou noutro sentido."
Com as palavras de Karl Larenz, o prof. Inocêncio leciona: "... que os princípios não
são regras suscetíveis de aplicação direta e imediata, mas apenas pontos de partida
ou pensamentos diretores, que apontam para a norma a ser descoberta ou
formulada pelo intérprete-aplicador à luz das exigências do caso."
Outra distinção, que deve ser feita, emerge do fato de ser a Constituição o
fundamento de validade último de todas as demais normas do ordenamento jurídico,
o que produz evidentes implicações que fundamentam o caráter distintivo da
interpretação constitucional. Mesmo que se queira auferir o sentido de uma norma
de legislação ordinária, proceder-se-á buscando elementos na Constituição.
Segundo Celso Bastos, uma outra singularidade das normas constitucionais reside
na sua linguagem, que apresenta enunciados de caráter sintético e aparentemente
lacunoso. Na Constituição, o significado de uma omissão é diferente daquela
existente na lei, pois a Constituição permite sempre a hipótese de o constituinte não
ter disciplinado certa matéria por não querer fazê-lo, isto é, por pretender relegá-la
ao nível da lei complementar ou ordinária. O que não ocorre com a lei. A lei não
pode relegar matéria que lhe caiba para o nível regulamentar.
Celso Bastos, repercutindo lição de Canosa Usera, apresenta mais uma razão para
tornar específica a interpretação constitucional ao dizer que "apesar das regras
constitucionais apresentarem um inegável caráter jurídico, regulam situações
profundamente políticas." A própria indeterminação de que se revestem as normas
constitucionais é produto de um consenso político. Destarte, o intérprete não pode
nem deve desvincular a Constituição de seu manancial político e ideológico, das
nascentes da vontade política fundamental, do sentido, quase sempre dinâmico e
renovador, que de necessidade há de acompanhá-la.
Neste mesmo sentido, Paulo Bonavides enfatiza: "As relações que a norma
constitucional, pela sua natureza mesma, costuma disciplinar, são de preponderante
conteúdo político e social e, por isso mesmo, sujeitas a um influxo político
considerável, senão essencial - o qual se reflete diretamente sobre a norma, bem
como sobre o método interpretativo aplicável".
4. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL
4.1. Conceito
Segundo a dimensão política, "a interpretação das normas constitucionais deve ter
em conta a especificidade resultante do facto de a constituição ser um estatuto
jurídico do político."
Sobre este método, afirma o Prof. Inocêncio, "sendo a interpretação jurídica uma
tarefa essencialmente prática nesse domínio, compreender sempre foi, também,
aplicar e, possuindo as normas constitucionais estrutura normativo-material aberta,
fragmentária e indeterminada, daí decorre que a sua efetivação exige,
necessariamente, o protagonismo dos aplicadores - o que transforma a leitura
constitucional num processo aberto de argumentação, do qual participam,
igualmente legitimados, os diversos operadores da constituição."
"Este método arranca da idéia de que a leitura de um texto normativo se inicia pela
pré-compreensão do seu sentido através do intérprete. A interpretação da
constituição também não foge a este processo: é uma compreensão de sentido, um
preenchimento de sentido juridicamente criador, em que o intérprete efetua uma
atividade prático-normativa, concretizando a norma para e a partir de uma situação
histórica concreta."
O prof. Inocêncio, em uma crítica a este método, assevera: "em que pese a
importância desse suporte filosófico, impõe-se reconhecer a grande dificuldade em
se produzirem resultados razoavelmente consistentes à base dessa proposta
hermenêutica, porque a pré-compreensão do intérprete, enquanto tal, distorce desde
logo não somente a realidade, que ele deve captar através da norma, mas também o
próprio sentido da norma constitucional."
Neste mesmo sentido, o prof. Inocêncio ensina que "o que dá sustentação material
ao método científico-espiritual de interpretação constitucional é, precisamente, a
idéia de constituição como instrumento de integração, em sentido amplo, vale dizer,
não apenas no ponto de vista jurídico-formal, enquanto norma-suporte e fundamento
de validade de todo o ordenamento, segundo o entendimento kelseniano, por
exemplo, mas também e, sobretudo, em perspectiva política e sociológica, como
instrumento de regulação de conflitos e, por essa forma, de construção e
preservação da unidade social."
De igual modo, veicula um apelo aos realizadores da constituição para que em toda
situação hermenêutica, sobretudo em sede de direitos fundamentais, procurem
densificar tais direitos, cujas normas, naturalmente abertas, são predispostas a
interpretações expansivas. Tendo em vista, por outro lado, que, em situações
concretas, a otimização de qualquer dos direitos fundamentais, em favor de
determinado titular, poderá implicar a simultânea compressão ou sacrifício de iguais
direitos de outrem, direitos que constitucionalmente também exigem otimização - o
que, tudo somado, contrariaria a um só tempo os princípios da unidade da
constituição e da harmonização - impõe-se harmonizar a máxima efetividade com
essas e outras regras de interpretação, assim como se devem conciliar, quando em
estado de conflito, quaisquer bens ou valores protegidos pela constituição
A respeito desse princípio, Canotilho assevera: "...a uma norma constitucional deve
ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê. Trata-se de um princípio operativo
em relação a todas e quaisquer normas constitucionais e, embora a sua origem
esteja ligada à tese da atualidade das normas programáticas, é hoje sobretudo
invocado no âmbito dos direitos fundamentais."
b) o princípio da conservação das normas afirma que uma norma não deve ser
declarada inconstitucional quando, observados os fins da norma, ela pode ser
interpretada em conformidade com a constituição;
Neste sentido, nas relações entre os juízes e a legislatura, deve presidir o princípio
da presunção de constitucionalidade das leis, que significa que toda lei, de início, é
compatível com a constituição e assim deve ser considerada, até conclusão judicial
em contrário.
O prof. Inocêncio Mártires, com base na teoria de Karl Larenz, afirma que o princípio
da proporcionalidade ou da razoabilidade, em essência, consubstancia uma pauta de
natureza axiológica que emana diretamente das idéias de justiça, eqüidade, bom
senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excesso, direito justo e
valores afins; que precede e condiciona a positivação jurídica, inclusive a de nível
constitucional; e, ainda, enquanto princípio geral do direito, serve de regra de
interpretação para o ordenamento jurídico, em geral.
5. CONCLUSÃO