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AS MASCARAS. O ROSTO DA VIDA E DA MORTE José MATTOSO Em meméria do Carlos Alberlo Ferreira de Almeida, companheiro no mesrao gosto pela associagao da Histéria a Antroplagia e do mesmo apreco pela cultura popular. Talvez possa parecer estranho que num congresso sobre o rosto se venha falar de méascaras. De facto, a mascara oculta o rosto sob uma forma imdével. Retira-lhe, portanto, a vida, e, com ela, setira-lhe também, aparentemente, a expressividade e 0 sentido. E, por assim dizer, a propria antitese da face humana Mas se examinarmos com atencAo © uso universal da mascara, © se repararmos para que serve, sobretudo nas sociedades ditas «primitivas» e nas sociedades tradicionais, tem de se reconhecer, creio eu, que a mascara, longe de ocultar, revela; que ela retira a expressdo pessoal do rosto, mas manifesta aquilo que na vida quotidiana nao se pode ver; que ela serve, enfim, para descobrir um certo sentido do Tosto que esté para além das aparéncias: aquele sentido que a face viva ¢ individual faz esquecere s6 aparece com a morte De facto, a mascara, ao imobilizar 0 rosto, torna-o semelhante ao do cadaver. Talvez a sua funcdo seja, justamente, a de mostrar a face dos mortos que continuam vivos na meméria de quem os conheceu ¢ amou, € sem cuja forca e presenca é mais diffcit viver. Ou, pelo contrério, mostrar a face dos que também continuam vivos, mas, porque, mesmo depais de mortos nao se consegue apagar da meméria como lembranga do que os fez odiar ou temer. Amados, odiados ou temidos, podem, ento, aparecer, apesar de invisiveis, despojados dos seus aspectos acidentais e caducos ¢ reduzidos ao seu sentido essencial. A mascara imével no rosto de quem fala, se move, gesticula ou danga é a representagao do morto que continua a viver e que, por isso, perturba, ameaca, ensina ou protege os vivos. Assim o pensaram, creio eu, as sociedades tradicionais. Era desta crenga e desta pratica que queria falar aqui, como forma de recordar velhas concepgdes profundamente arreigadas na mente dos povos antigos. A sociedade moderna esqueceu essa funcdo da mascara. $6 preservou o seu uso ltidico ‘ou ilusério. Mas, quando se examinam as praticas ditas «primitivas» ou tradicionais, as suas modalidades c o seu sentido, tornam-se verdadeiramente fascinantes, porque com elas descobrimos aquilo a que poderia chamar o sentido universal do rosto: aquele sentido que surge quando a morte do individuo traz a superficie a manifestacéo daquilo que € verdadeiramente vital para toda a humanidade. As reflexSes que aqui trago constituem uma incursao arriscada nos dominios da antropologia, disciplina que obviamente nao domino. Nao me atreveria a fazé-las perante um auditério de antropdlogos. Como tenho o maior respeito pelo seu campo cientifico, as ideias que apresento aqui devem ser entendidas como interrogagdes. Sera que se pode explorar o caminho que aqui aponto? Seja como for, resultam do meu desejo de compreender 0 fendmeno do uso das mascaras na sociedade ocidental, na sua relagéo com 0 culto dos mortos. Foi-me necessério explorar este terreno para uma 51 losé MATTOSO pesquisa sobre o imaginario do invis{vel na Idade Média peninsular, pesquisa essa que me conduziu, de imediato, a0 mundo dos mortos e a0 complexo problema da sua telagéo com os vivos. Talvez a minha maneira de compreender esse fendmeno tenha alguma utilidade para os participantes neste congresso, isto é, para quem se interessa pelo tema dos reflexes na face humana, numa perspectiva multiculturalista das artes € da sociedade. Devo comegar por explicar que tendo irresistivelmente para uma interpretac3o unitaria do fendmeno das mdscaras, ao contrario de muitos e respeitéveis antropdlogos, que preferem insistir no seu caracter incoerente, tanto do ponto de vista funcional camo estrutural, sobretudo quando o encaram na sua totalidade, isto é no conjunto das sociedades que as usam (por exemplo E. W. Voeglin, (949; G, P. Kurath, 1949; M. C. ledrej, 1980). A visdo unitéria de alguns dos fenémenos antropoldgicos, de testo, foi tentada também por varios autores em obras fundamentais, como pot exemplo Bettelheim para os ritos inicidticos (1981). Sem qualquer pretensdo a criar uma teoria pessoal a este respeito, nao posso deixar de observar que tudo o que li a tespeito das mascaras parece pressupér, na origem, um ritual destinado a estabelecer uma relagdo entre mortos e vivos. Esta origem, nao implica nenhuma tearia acerca de uma hipotética genealogia comum; admite, pelo contrario, a possibilidade de o uso ter aparecido espontaneamente em varias sociedades e culturas distintas, e sem relagao nenhuma entre si, Ela permite explicar, a meu ver, todas as fungSes que Ihe sao atribuidas pelos antropdlogos. Permite, sobretudo, compreender a variedade dos efeitos que se procuram obter com o estabelecimento de uma relagdo entre mortos ¢ vivos. E justamente esta variedade o que explica a aparente incoeréncia do uso das mascaras, quando se perde a sua ligagdo com a funcao origindria. Esta desarticulagdo pode-se seguir mais facilmente na sociedade ociental. Por isso me referirei a ela mais de pert Comegarei por recordar 0 uso romano das imagines, isto é das mascaras de cera que se faziam imediatamente depois da morte de uma personalidade que tinha desempenhado catgos piblicos préprios dos nobiles. Eram feitas sobre © proprio rosto do defunto, e, por isso, tinham impressos todos os seus tracos individuais. A familia guardava-as fechadas em pequenos armdrios donde as tirava para figurarem nos funerais dos seus descendentes, durante os quais eram usadas por actores (histrides) com as vestes distintivas dos cargos desempenhados em vida. Nessa ocasiao, um orador fazia o seu elogio fanebre perante todos os assistentes. Segundo as concepgdes de entSo, a ceriménia como que tornava presentes os antepassados, e dava vida aquilo que neles era eterno ou perfeito, e que devia permanecer como um valor colectivo. A mascara Ou image que representava a marca pessoal deixade na cera pelo antepassado e que perpetuava o Seu rosto fazia-o participar nos funerais de quem se ia reunir a ele. € exprimia a sua relagaéo permanente com os vivos, por meio da exaltacao da sua gléria eterna, Como é evidente, este ritual tinha por si mesmo uma forte eficdcia como elo de coesdo para o grupo dos descendentes (F. Dupont, 1985), Embora predomine nele o aspecto civico, estd ligado A crenga no poder protector das antepassados sobre os seus descencentes. A protec¢ao aparecia entao come um contra-dom para retribuir o reconhecimento e a evocagao da gléria dos mortos. Assim, o vinculo criado pelo ritual nao envolvia sé os vivas, mas também os mortos. A manutencdo deste elo garantia a 52 AS MASCARAS.O ROSTO DAVIDA E DA MORTE prospetidade e a fecundidade do grupo, isto é assegurava a sua perpetuacao, apesar da morte sucessiva dos seus membros A fungao da mascara €, aqui, absolutamente clara. Como é evidente, usa-se como instrumento de um ritual destinado a estabelecer uma relagdo entre vivos e mortos. Pode-se comparar com a que se depreende dos usos de um povo africano, os Dogons, uma etnia da bacia do Niger, minuciosamente estudados por Marcel Griaule numa obra publicada em 1938. Aqui a mascara nao € reservada a um grupo restrito da sociedade, nem aparece como um retrato 130 fiel quanto possivel de determinado defunto. Inspira grandes rituais colectivos que envolvem todo o cla ou mesmo toda a tribo, e em que a danca dos mascarados desempenha um papel fundamental, Além disso, 0 lugar principal é reservado para aquela a que se chama a Grande Mascara. Esta considera-se expressamente como a representagao do antepassado comum, do qual toda a tribo descende, Em terceiro lugar, 0 culto das mascaras, a sua confeccdo e as dangas sao confiadas a uma saciedade de iniciades do sexo masculino, cujo cardcter secreto é acentuado pelo uso de uma Itngua que so eles conhecem e na qual transmitem os seus mitos. Séo mitas cosmogénicos e que explicam a organizagao social, as hierarquias e as instituigdes comuns que todos tém de respeitar, Nesses mitos, as mascaras desempenham um papel fundamental. Os usos e acces ritualizadas em que elas entram sdo extremamente complexos, entre outras razdes pelos numerosos interditos que rodeiam a sua confecgao € o seu uso. Vejamos estas questées um pouco mais de perto, O papel principal pertence. como disse, 8 Grande Mascara que, segundo um dos mitos principais, teria sido tthada a primeira vez para se tornar o centro da ceriménia primordial organizada para celebrar © falecimento do primeiro morto. Este era o préprio filho do fundador da tribo dos Dogons, o seu antepassado comum chamado Lebé. A esta ceriménia, chamou-se sigui, ‘Teria sido repetida sessenta anos mais tarde, quando morreu o prdprio Lebé. Desde entdo, continuaria a celebrar-se de sessenta em sessenta anos, Os organizadores da ceriménia e os seus actores sao os que guardam a Grande Mascara, talhada de novo em cada sigui; constituem a confraria secreta a que [4 me referi (awa), Entram nela depois de uma ceriménia de iniciagdo durante a qual aprendem a sua lingua secreta, em que contam os mitos comuns. Sao eles que trazem as suas mascaras e dangam durante os sete dias do sigui Outro ritual em que as mdscaras desempenham também um papel fundamental é © dama, isto é uma danga que dura seis dias e envolve nao (4 toda a tribo, mas apenas um cl, ese destina a expulsar do mundo dos vivos as almas dos mortos que vagueiam entre eles. £0 dama que os faz integrarem-se no mundo dos antepassados, para, a partir de entao, deixarem de perturbar os vivos. Os seus actores sao também os membros do awa, com as suas mascaras, mas fortemente armados. A danga inspira-se precisamente nos gestos do combate para vencerem os espfritos e os expulsarem para longe. © dama inclui grandes banquetes e libacdes oferecidos pela familia dos mortos recentes. Muitas das mdscaras representam animais e tem um cardter totémico. Pensa-se que sao portadoras do seu espirito, Usam-se para captara sua energia. Além disso, servem para defender os vivos contra 08 maleficios dos feiticeiros, e sfo colocadas nos campos para proteger as culturas contra toda a espécie de predadores. Perante elas, é severamente proibida qualquer espécie de rixa ou desordem, Figuram nos funerals individuais juntamente com a Grande Mascara do sigui a que o morto assistiu: 53 JOSE MATTOBO Estas tiltimas fungdes das mascaras mostram claramente que sao assimiladas aos mortos enquanto protectores dos seus descendentes ou do conjunto do cla. A Grande Méscara, por sua ver, 6 assimilada ao antepassado comum que, por meio da festa, assegura a unidade da tribo. $40 eles os protectores da comunidade e de cada um dos seus membros contra tada a espécie de adversidades, Sao eles também que asseguram a unidade e a coesdo sociais e que, por isso, profbem as rixas por meio de interditos Cuja infracgo acarreta as piores desgracas. O facto de, no dama, os mascarados expulsarem as almas que ainda permanecem no mundo dos vivos nao quer dizer que eles n&o representem igualmente os mottos: so, porém os mortos enquanto protectores dos vives, e néo enquanto almas perturbadoras e malfazejas, A forma animal das mascaras totmicas também nao exclui a sua identificago com os mottos, pelo contrério, porque o primeiro antepassado tinha, segundo 0 mito, tomado a forma de serpente, e porque, depois, outros teriam igualmente encarnado sob a forma de animais. De resto, o proprio aspecto material das mascara evoca o rosto dos mortos pelo recorte dos olhos em forma de triéngulo invertido ou de rectangulo, e pelo talho da boca, Como sé vé. as cerimdnias em que entram as mascaras dos Dogons também nao deixam qualquer divida acerca do papel que desempenham nos rituais destinados a estabelecer uma relacao entre vivos e mortos ‘Talvez seja demasiada ousadia aproximar estas infarmacdes das fornecidas por Levi-Strauss no seu célebre livro sobre as mascaras usadas pelos fndios norte- americanos da costa do Pacifico, entre o golfo do Alasca e 0 sul de Vancouver (1979), Ousadia, de facto, néo s6 porque este grande mestre da antropologia estrutural nao estuda os ritos, mas os mitos associados as mascaras, mas também porque ele nao faz qualquer associagSo expressa entre elas e o mundo dos mortos. Apesar disso, néo me parece um abuso assimilar aos mortos em geral € aos antepassados em particular os espiritos, os seres miticos ancestrais e os monstros, que s4o as personagens centrais referidas nos mitos associados as mascaras, Baseio-me, para isso, na ideia muito firme de Marc Augé, segundo a qual nao existe nenhum hiato nos lagos que unem os mottos, os herois, 0s espfritos benignos (anjos) ou malignos (deménios) e os deuses, nem nenhuma distingao essencial entre eles. Falo, é claro, da religiéo das sociedades tradicionais, nao das distingdes teolégicas criadas pelos dogmatismos das religides ditas «superioresy. Este princfpio encoraja-me a interpretar também como referidos, em iiltima andlise, aos mortos e a sua acco ambivalente, os mitos associados as mAscaras norte-americanas. Note-se bem que a proximidade de todos os seres invisfveis entre si malignos ou benignos, se explica justamente, a meu ver, pela ambivaléncia dos mortos aterrorizam 0s vivos porque povoam os seus sonhos e vises noctumas, e porque a morte, é, afinal, a tnais terrfvel ameaca para o homem. Mas, ao mesmo tempo, também se consideram como os grandes protectores invisiveis durante a vida quotidiana da comunidade contra todos os perigos ocultes € inexplicdveis. Alem disso, asseguram a coesdo do grupo, porque outrora, camo chefes plenos de farca e de sabedoria souberam conduzir 0 seu povo. Sao eles, enfim, os que, de forma misteriosa, talvez justamente por meio da sua propria morte, concedem a fecundidade as mulheres, aos animais e as plantas, A meu ver é esta caracteristica ambivalente dos espiritos dos antepassados que explica as fenémenos de inversdo, to frequentemente utilizados nos tituais, to estudados pelos antropdlogos e que inspiram muitas das interpretagdes 54 _AS MASCARAS, O ROSTO DA VIDA E DA MORTE estruturalistas de Levi-Strauss, concretamente aquelas que ele sublinha nos mitos de tribos norte-americanas cujas mascaras estudou e que vivem em territérios proximos uns dos outros O mais prdtico sera utilizar as palavras em que resume os resultados da sua investigagao: «No Sul, entre os Salish da ilha e da costa, e talvez também, outrora, no interior, a mascara e © personagem do swaifwé (mascarado] desempenham um papel positivo em trés aspectos: |primeiro| como curadores das convulsdes, quer dizer dos tremores que, embora afectando apenas os corpos, correspondem aos sismos. aos furacBes e As tempestades na ordem natural; |depois| como operadores do casamento a uma distancia |parental] que afasta o risco de incesto; e |finalmente] como dispensadores de riquezas» «Ao norte dos Salish, os Kwakiut! meridionais atribuem, pelo contrario, & sua mascara xwéxwé, homdloga do swaihwé, uma verdadeira avareza, em que se pode reconhecer, sob a forma atenuada de uma certa moral, 0 maleficio fundamental dos monstros préhistéricos. Comparando-as com as mascaras swaihwé, aparecem com caracteres pldsticos exactamente contratios. que atestam a sua complementaridade: 0 do monstro feminino Dzonokwa, sobrevivente do tempo dos monstros, senhora de imensas riquezas que oferece aos humanos ¢ de que eles se apoderam, e, além disso. patrona das raparigas obrigadas aos ritos da puberdades. «Enfim, entre os Trimshian, os Haida e os Tlingit, esta relagao de complementaridade da lugar a uma verdadeira antinomia: de um lado os monstros na ordem césmica e na ordem social, os primos incestuosos; do outro Dama Riqueza |...| investida de uma dupla funcdo: proibir as unides incestuosas ou ajudar a restituicdo de uma rapariga aos seus pais e enriquecer os que consentem em Ihe obedecer. Mas nao reparemos apenas nas aparéncias: neste estadio do sistema |m/tico] quem ocupa primeiro plano sao os monstras: a Dama Riqueza fica nos bastidores & espera de aparecer, € af desempenha um papel muito discreto. E preciso que os monstros exterminados ou neuttalizados se apaguem, que 0 incesto seja castigado ou que a sua ameaga seja afastada, para que a desordem desapareca do universo, ou para qué, se subsiste, seja doravante sob a forma menor de furacdes, de tempestades e de sismos; ¢ para que, na sociedade, se instaurem trocas matrimoniais devidamente regulamentadas, embora |...| sujeitas a perturbagées, igualmente imprevisiveis e espacadas> (pp,221-222), Partindo do princfpio que tudo aquilo que se diz aqui das funcdes positivas ¢ negativas dos espiritos encarnados nos portadores de mdscaras se reporta aos mortos sob a forma de espiritos benfazejos, malfazejos ou ambivalentes, a minha intrepretagao supée, portanto, que a acco benfazeja dos mortos se verifica particularmente na pacificagao das convulsdes obtida par meio dos rituais em que intervém as mascaras, na boa sorte dos casamentos felizes e na obtencdo da abundancia de bens, segundo os rituais das tribos mencionadas em primeiro lugar. Mas os martos nem sempre cedem 8s petigGes dos vivos: por isso impéem interditos e aparecem como monstros avarentos, representados por mascaras hediondas, para encarnar os espfritos que guardam as suas riquezas e que obrigam as raparigas a praticarem os ritos da puberdade antes de casarem: € @ visdo négativa das tribos mencionadas em segundo lugar. As Gltimas tribos referidas por Levi-Strauss integram as duas visSes numa relacdo dialéctica entre 8 aspectos negatives dos mortos encarados como gardiaos dos interditas e que ao mesmo tempo velam pelo cumprimento das regras estabelecidas para que se mantenha 55 1OSE MATTOSO a boa ordem social ¢ para que as trocas matrimoniais sejam felizes. As mascaras que encarnam os mitos t@m obviamente uma eficdcia muito maior do que a mera recitacéio oral devide ao facto de se usarem em rituais com uma enorme carga emotiva. A sua forma inspira-se no rosto dos mortos ou nas vis6es que eles suscitam enquanto seres dotados de poderes especiais,por dominarem 0 mundo invisivel ¢ descanhecido para o homem, Se se aceitam estas interpretagdes, temos de concluir que os mitos dos indios norte-americanos vém ainda confirmar a acgao do ritual dos mascaraos no contexto da relagéo entre mortos ¢ vivos ‘Tomemos ainda outro exemplo: 0 do bilmaui, um mascarado que figura como personagem central das celebragdes de tipo carnavalesco que vérias tribos berberes do Magreb praticam por ocasiao do ritual do sacrificio do fim do ano mugulmano embora esta espécie de camaval tenha um significado que tem sido muito discutido por varios autores, um dos seus exegetas mais recentes, Abdellah Hammoudi (1988) apresenta varios elementos que o pGem em relacao directa com a fung3o da morte e dos mortos para a comunidade dos vivos. Actualmente a sua fungao principal tornou-se a de criar um clima em que se ridicularizam, por meio de representagGes Iddicas e obscenas, as tensdes sexuais da comunidade ligadas as relagdes entre homens e mulheres e entre jovens e adultos, mas em que, a0 mesmo tempo, se reconhece 2 indispensdvel conjugacao entre os sexos para assegurar a reproduglo da comunidade. Mas uma série de elementos nao menos importantes, permite pensar que este tipo de ritual, em que se representa as claras, embora sob um aspecto burlesco, o que normalmente se passa no interior ¢ as ocultas, se pratica, ao mesmo tempo, como forma de assegurar ndo sé a fecundidade humana, mas também as boas colheitas agricolas, o que se exprime por varios pormenores que nao € possivel referir aqui, mas cujo significado é posto em relevo pela época em gue as festas se realizam, ou seja por altura da maturacéo dos cereais. Alguns pormenores mostram uma aproximago nitida com a crenga na acco dos mortos como aqueles que asseguram a protecc3o da comunidade e sobretudo a sua teprodugao. Antes de mais, a associagao do ritual carnavalesco a festa do sacrificio de bodes e cordeiros que o precede, cujo sentido é sublinhado por um sermao acerca da morte, do destino dos crentes depois dela e da necessidade de purificacao, O sacrificio €, portanto, ao mesmo tempo, uma metdfora da morte e um acto de purificag3o dos que © praticam para Ihes assegurar a libertacao da morte eterna. Além disso, toda a preparacéo dos mascarados se faz 4 porta fechada, na sala junto 4 mesquita, em que se praticam também as ablugdes, se lavam os mortos € se colocam as latrinas. O principal mascarado, bilmaun. é coberto de peles de bode e traz na cabega uma caveira e 0s chifres do mesmo animal; 0 rosto é coberto com um saco. £ portanto como um monstro que sai do lugar onde se colocam os mortos, que nunca fala, ¢ que aterroriza ag criangas. O seu gesto distintivo consiste em bater ou tocar nos assistentes, particularmente nas mulheres. © seu toque é considerado benfazejo. E., portanto, como um ser que vem das profundezas da terra e que representa as forcas obscuras que presidem & morte ¢ a reptaduc3o da vida Bilmaun € acompanhado por outros jovens igualmente mascarados, um deles vestido com um manto negro, outros, a que chamam «judeus», também vestidos de escuro, e mais outro a que chamam «escravo». Para além das facécias que representam 56 AS MASCARAS. © ROSTO DA IDA EA MORTE inspiradas no seu papel, mas sobretudo na critica social, e dominadas pelo jago burlesco, sao portadores de sacos com cinzas que deitam sobre os assistentes, como se thes lembrassem a sua condic&o terrena eo destino fatal que espera todas os homens. O ambiente de permissividade e de subversao das hierarquias e das normas sociais prolonga-se pela noite dentro, durante a qual se danca até de madrugada No dia seguinte, repetem-se as facécias de bilmaun e ao cair do dia nova sessdo de dangas até de madrugada. Em alguns lugares, as festas duram até oito dias Como sé vé, este tipo de celebragdes entra dentro do género das festas que interrompem por algum tempo a curso normal da vida comunitdria, com as suas leis € as suas autoridades, e que, por meio de uma experiéncia colectiva da desordem generalizada, representam um regresso ritual ao caos inicial da mundo, como forma de restaurar uma pureza perdida, Mas sao também rituals que colocam a comunidade numa espécie de vivéncia colectiva da situagao em que simultaneamente a morte e a vida se unem € se separam, em que se celebra a decomposicao corporal e social trazida pela morte e em que se atribui a esta decomposigao um caracter fecundante. A mascara de bilmaun é, portanto, ao mesmo tempo, a mascara da morte, e da vida nova que ela traz consigo Estas praticas de mascaradas carnavalescas s40 muito semelhantes as que se celebram (ou celebravam, no principio deste século) em varios pontos da Europa, e que foram descritas por James Frazer a partir das de Salzburg e do Tirol alemao, para confirmar as suas teorias acerca do «bode expiatério», num dos volumes do seu célebre Golden bough, Também se celebram na passagem do ano, por ocasiao do solsticio do Inverno, entre os dias 25 de Dezembro e 6 de Janeiro, mas sobretudo na véspera do dia de Reis Consistem em cortejos burlescos de rapazes mascarados que acompanham. uma personagem principal, a Perchilen, ou seja uma espécie de bruxa, uma velha com uma mascara de nariz enorme, os cabelas desgrenhados ¢ 0 fato roto. Tem um pau com que toca ou bate a toda a gente, sobretudo ds criangas e as raparigas, e a sua acco € considerada necessdria para assegurar as boas colheitas do ano seguinte Frazer interpretow a Perchten como a incarnag4o dos espiritos que presidem a fecundidade da terta, e tendia a generalizar a sua doutrina ao fenémeno das mascaras em geral. A comparagao destes rituais como bilmaun mostra que, apesar do seu cardcter predominantemente profano, mantém ainda alguma coisa de sagrado, sabretude na crenga da eficdcia do toque da Perchlen para suscitar a fecundidade e a boa sorte. A mesma comparagao mostra também que deviam, na sua origem, associar-se a uma acco destinada a representar as relagSes entre 0 mundo dos mortos e o mundo dos vivos Nao vou tentar seguir as eruditas discussdes dos etndlogos e antropélogos em torno das teorias de Frazer. Parece-me preferivel fazer notar que, se 0 uso das mdscaras tinha inicialmente um vinculo muito estreite com a morte, o facto de se atribuirem aos mortos papeis muito variados nas suas relacdes com os vivos, levou a que, a0 acentuar- se um determinado papel em detrimento dos outros, se acabasse por perder a nocao primitiva, Assim aconteceu, nomeadamente, com o papel carnavalesco das mdscaras, pelo facto de privilegiar 0 seu aspecto de critica social ou por representar a excitacdo tazida pela vida sexual, sem a qual nao hé reprodugdo nem fecundidade. Como se sabe, a critica social, que tem uma importancia fundamental no charivari francés, surge 57 JOSE MaTTOSO também nas «loas> que os mascarados das festas dos rapazes da regiéo de Braganca em tempos dirigiam contra os personagens da aldeia que mereciam alguma espécie de censura ou de comentérios ridfculos. Entre eles uma das mascaras principais era precisamente a da morte (B. Pereira, 1973, p. 130-136) © ocultamento do rosto permitia uma maior liberdade de expressdo. Mas esquece- se que este tipo de critica resulta principalmente de um direito a falar em nome dos antepassados que presidem a vida da comunidade e que querem ver respeitada a ordem social por eles instaurada. £ o que se depreende, por exemplo, de um estudo de Fabrizio Sabelli sobre a reproducao social das comunidades do Norte do Ghana (1986) a partir dos rituais funerdrios, Como ele diz, «um rito funerdtio é um acto de consagragio e de instituigao da condic&o de antepassado, enquanto autoridade politica do grupo» (p. 181). Por isso, os funerais sao, para aqueles povos, a ocasiao de discursos amplamente participados pelos parentes do defunto e pelos restantes membros da comunidade, sobretudo os ancigos, durante os quais se louva ou censura 0 morto e a sua familia, conforme ele cumpriu ou infringiu as regras estabelecidas pelos antepassades. Esta fungao esta hoje quase completamente esquecida na Europa, a nao ser sob formas residuais. Mas ainda se encontra em alguns costumes populares, como disse hé pouco, Outra fungo, que toma sobretudo o aspecto da subversdo das normas habituais. e em que se dao largas & excitagdo provocada pela accao sexual, como meio de garantir a reproduc&o € a perpetuacao da comunidade, perdurou largamente, sob a forma de divertimento gratuito, e por vezes desenfreado, em que a ocultacao do rosto serve de disfarce para transformar o portador da mascara, e para ele encarnar os personagens que o seu desejo e a sua imaginacao Ihe fazem invejar, consciente ou inconscientemente. A vigilancia das autoridades religiosas sobre a sociedade levou-as, na época moderna, a concentrar as suas censuras sobre este aspecto do carnaval. Mas na Idade Média parece terem sido antes as crencas na actuacdo dos espfritos malignos ou benfazejos encarnados nos mascarados aquile que mais contribufu para um combate certado das autoridades eclesidsticas contra o uso das mdscaras, De facto, a igreja, durante os Gltimos anos do Império, tendia a identificar todos os espfritos dos defuntos com os espiritos demonfacos. Por conseguinte, condenava severamente todas os rituais antigos que tinham como objectivo aplacar os as almas etrantes e inquietas que se julgava vaguearem neste mundo e, pior ainda, toda a invocacao dos defuntos por intermédio da necromancia. A demonizagao dos espiritos, € 0 facto de Ihe serem atribufdos poderes efectivos, cuja accéio a magia tentava captar para benefico proprio ou alheio, ou para maleficio contra alguém, explica @ severidade com que a Igreja combateu as mascaras, em prescrigées conciliares do século VIl (J. C. Schmitt, 1992: 67- 68). Mas elas continuaram a usar-se durante séculos e séculos, mesmo com fungdes tituais que a religiosidade popular dificilmente abandonou, como mostram os costumes da maioria das comunidades tradicionais europeias largamente descritos pelos etndlogos. Nao ha davida, porém, que esta proibicdo, uma pastoral conduzida com enorme persisténcia, e sobretudo a lenta substituigéo das concepgées antigas sobre o mundo dos mortos por ideias novas acerca do destino dos condenados e dos eleitos, acabaram por conseguir romper a ligagao funcional das mascaras com a realidade que inicialmente representavam 58 AS MASCARAS, 0 ROSTO DAVIDA & DA MORTE Para se compreender as consequéncias do processo de desagregacdo da funcgao inicial da mascara, como elemento essencial de um tito funerdrio, é titil lembrar um principio estabelecido por Levi-Strauss (1964, cit. por N, Belmont in J. Frazer, 1983, p. 19) © que parece aplicar-se com todo © rigor a situagio que aqui nos interessa. Diz ele «Os ritos oferecem simulténea ou altemativamente ao homem o meio de modificar uma situagSo prética ou de a designar e descrever. A maior parte das vezes, as duas fungdes sobrepdem-se ou traduzem dois aspectos complementares do mesmo processo. Mas quando 0 peso do espfrito magico tende a enfraquecer, e quanto os ritos se transformam em vestigios ou residuos, sé a segunda funcao sobrevive a primeira>. Ou seja, j4 ndo proporcionam ao homem o meio de modificar uma situagdo pratica como seja neutralizar os espfritos maléficos ou captar a protecc3o dos antepassados, mas apenas a designam; consequentemente, denunciam a desordem (sobretudo a desordem social) por meio da critica, ou pelo menos por meio do barulho e da subversao burlesca, sem pretenderem madificd-la. Por outras palavras, ao retirar a conotacdo sagrada do ritual, remetem o que dele resta para o Ambito do profano, A Igteja medieval tolera 0 burlesco, como mostram as «festas dos loucos» € 0 préprio carnaval, limitando-se a censurar os excessos. Nas interpolagées de 1316 ao célebre Roman de Fauvel, composto pouco antes dessa data por um clérigo da chancelaria régia, verifica-se que nao lhe desagradavam as violentas criticas que nelas provavelmente se fatiam aos desmandos morais das princesas da corte, e que aparecem representadas nos desenhos que acompanham o texto sob a forma de um cortejo de mascaras com cabecas de animais e cujo cardcter carnavalesco é bem patente (J. C Schmitt, 1994: 191-196). Os antepassados longfnquos destas mdscaras eram, sem divida, as representacdes totémicas usadas havia muitos séculos. Mas aqui © que restava delas era apenas o seu aspecto burlesco. Por detrds, estava ainda o contexto em que 0s mascarados, em nome dos antepassados censuravam as infragdes aos preceitos estabelecidos por eles. Assim, as mascaras acabam sempre por representa os mortos. A imobilidade que por meio delas se imprime ao rosto, aliada ao movimento do corpo que as traz e as faz falar, apesar da sua mudez, permite aos mortos continuarem presentes na comunidade. Mantendo o seu cardcter ameagador, mas despojando-os do seu sentido maléfico, transforma-os em protectores e vigilantes da comunidade. O seu uso em contextos rituais confere-lhes um valor particularmente importante, como instrumentos que permitem ou propiciam uma categoria muito especial de trocas entre o mundo dos vivos € 0 mundo dos mortos. Ndo sao, como certos objectos que, ao encarnarem valores (materiais ou simbélicos) especialmente importantes para determinadas sociedades, estabelecem & sua volta «um tecido de relagSes que fazem das suas trocas 0 locus permanente em que |elas| reafirmam incessantemente os seus valores mais importantes» (C. Barraud, D. de Coppet, A. Iteanu e R. Jamous, 1984, p. 105). £ 0 que acontece para os espfritos dos antepassados, na Melanésia, pata a honra, no Rif do Norte de Africa, para a moeda, nas tribos Are’are, ou para os porcos, entre os Orokaiva da Nova Guiné, As mascaras, porém, n3o aparecem com objectos de troca nem como valores. mas constituindo instrumentos indispensaveis dos rituais, provocam o contacto com os mortos, e por isso propiciam as trocas entre eles ¢ os vivos. Ora as trocas entre estes $40 as mais importantes para todas as sociedades tradicionais. De facto, como afirmam Cécile Barraud e outros autores que aqui seguimos, «as trocas 59 José MaTroso entre os vivos $6 se podem compreender no enquadramento das relagdes entre os vivos, por um lado, e os mortos, os espfritos ou a divindade, por outro» (p. 112). Quem preside As trocas dos valores mais importantes € propicia o seu poder fecundante sao de facto os espiritos dos antepassados. Ora as mascaras tornam-nos presentes. Dai a sua importancia em todas as sociedades tradicionais. Foi preciso que o Cristianismo imposesse no Ocidente uma outra concepcao das trocas essenciais, a que é assegurada pelo valor puramente espiritual e gratuito da Graga, em que o homem nao pode dar absolutamente nada sendo a submissdo ¢ a humildade, para que todos rituais de contacto com os mortos se decomposessem em préticas de significado ambiguo ou incompreensfvel, No mundo ocidental, Deus expulsou os mortos. A breve incurs que fizémos as praticas de outrora ou das sociedades exdticas, com 0 intuito de compreender a funcdo expressiva das méscaras, ndo se destina, é claro, a reconstituir costumes desaparecidos para sempre. Pode-nos ajudar, porém, a procurar novos significados para a face humana. N&o j4 como metonfmia da alma, no seu aspecto efémero, passional e tinico, que os acidentes corporais individualizam |.-] Courtine e C, Haroch, 1988, p. 43), mas como sede de poderes ocultos ¢ inimagindveis que nao residem na pessoa enquanto individuo, mas enquanto expressdo do poder que a ultrapassa e que é representado pelo mascara impassfvel do soberano, ou pela figura terrivel do chamane que sé 0 excesso pode traduzir (E. Canetti, 1960, cit. por Courtine e Haroch, 1988, p. 213-214, nota 25). E esse aspecto misterioso e transcendente que a mascara tenta exprimir, através da distorgdo ou do grotesco, do exagero ou da estilizagao, da transfiguragao ou da simplificagdo, da imitagao ou da inversao. Por meio dos recursos imprevisiveis, e todavia repetitivos, da arte, a mascara procura abrir 0 caminho & compreensdo do que ha de mais universal no homem, e do que inexoravelmente o liga ao mistério das trocas entre a morte e a vida, S6 assim se compreende o fascinio pelas mascaras que inspiraram e inspiram tantos artistas do teatro € tantos escultores em todas as culturas ¢ em todas as civilizagdes. NOTA Este texto foi preparado ainda em vida do Prof. Carlos Alberto Ferreira de Almeida como comunicacéo ao IV Congresso da European League of the Institute of the Arts Conference, sobre os Reflexos do Rosto, mas lido, j4 depois da sua morte, na Fundacao Gulbenkian, em Lisboa, em Novembro de 1996. Quando soube do projecto de homenagem que estava a ser preparado, nao hesitei em o escolher para dedicar 4 sua memoria, dado o seu contetido predominantemente antropoldgico. Nao podia encontrar nenhum texto meu tao proximo das suas investigagdes e interesses. Infelizmente a publicagéo desta homenagem foi adiada, e tive entretanto ocasiao de ler a mesma comunicagao na Academia das Ciéncias de Lisboa, em cujas Memérias vird também, decerto, a ser publicada. Nao quis, porém, deixar de a manter como contribuigéo minha para a colectanea a que tinha sido anteriormente destinado Lamento profundamente que o Prof. Carlos Alberto Ferreira de Almeida j4 n&io possa transmitir-me as suas criticas e sugestdes, numa matéria em que ele se tinha tornado autoridade incontestavel. 60 AS MASCARAS, © ROSTO DA VIDA E DA MORTE BIBLIOGRAFIA: BARRAUD, Cécile, Daniel de COPPET, André ITEANU e Raymond JAMOUS, Of Relations and the Dac Four Soveies Viewed from the Angle oftheir Exchanges, Oxicrd (Providence, USA), Berg, 1988 {trad. do original francés de 1984) BETTELHEIM, Bruno, Les Glessures symboliques. Essai dinterprétation des rites d'initiation, Paris, Gallimard, 1981 (trad. do original inglés de 1954) COURTING, Jean-lacques ¢ Claudine HAROCH, Histéria do rosto. 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