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O documento analisa o conto de fadas Rapunzel à luz da psicologia analítica de Jung. A bruxa representa o complexo materno que aprisiona o feminino na Rapunzel. O príncipe ajuda Rapunzel a escapar desse complexo e se completar. No final, as lágrimas de Rapunzel curam o príncipe e eles vivem felizes para sempre, mostrando a importância da função transcendente na transformação psicológica.
O documento analisa o conto de fadas Rapunzel à luz da psicologia analítica de Jung. A bruxa representa o complexo materno que aprisiona o feminino na Rapunzel. O príncipe ajuda Rapunzel a escapar desse complexo e se completar. No final, as lágrimas de Rapunzel curam o príncipe e eles vivem felizes para sempre, mostrando a importância da função transcendente na transformação psicológica.
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O documento analisa o conto de fadas Rapunzel à luz da psicologia analítica de Jung. A bruxa representa o complexo materno que aprisiona o feminino na Rapunzel. O príncipe ajuda Rapunzel a escapar desse complexo e se completar. No final, as lágrimas de Rapunzel curam o príncipe e eles vivem felizes para sempre, mostrando a importância da função transcendente na transformação psicológica.
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Os nossos antepassados criavam histórias para explicar os fenômenos da natureza. Assim, os gregos antigos personificavam acontecimentos geofísicos como os raios, os trovões e os terremotos, na figura de Zeus, um deus muito poderoso que governava o olimpo, lugar onde habitavam as divindades grego-latinas. Por meio dessas imagens e desses contos, torna-se possív el entender a natureza humana. Similarmente, os Contos de Fadas também revelam padrões que coordenam o comportamento, permitindo ampliar a margem da consciência e, assim, influir de forma leve e prazerosa em decisões importantes que o destino se nos apresenta. Rapunzel é um conto de fadas dos Irmãos Grimm. Por se tratar de uma história sobre uma garota criada numa imensa torre, prisioneira de uma bruxa dita malvada , busquei entender a natureza feminina quando presa em um aspecto negativo do mund o da mãe. Ao me debruçar sobre essa narrativa para compreender esse enfoque, terei o cuidado de não reduzir suas imagens a um mundo lógico e linear. A psique não é lógica, ela é analógica. Não irei também explicar os acontecimentos da história, tomando o sentido claramente expresso ou literal. Tentarei um procedimento semelhante ao q ue faço com os sonhos e outras produções da alma humana. Minha intenção é conseguir que nossas conexões ocultas se revelem e, para isso, precisamos treinar nossos olh os para ver as imagens, nossos ouvidos para ouvi-la e o coração para envolvê-la com paixão. O conto começa, como todos os contos de fadas, em um lugar e um tempo indeterminado (era uma vez e há muito tempo...), e isso é uma característica do inconsciente. Trata-se da história de um casal que queria ter filhos e morava vizi nho a uma bruxa. A mulher engravida e deseja a todo custo comer os raponços que pertence m ao quintal alheio. O marido vai buscá-los, mas evita enfrentar a vizinha e furta o s raponços. É surpreendido pela dona do espaço e implora por misericórdia. Consegue a anuência da velha, mediante uma negociação em que abre mão da filha, prometendo-lhe entregá-la depois do seu nascimento. Na psicologia analítica, o Ego é um complexo normal, regente da consciência, porém bem menor do que a personalidade inteira. Na psique, outros complexos se formam e impedem o funcionamento normal do Ego. Um dos exemplos é o complexo materno, que como a trama da história mostra, ao ameaçar o Ego, a saída é negociar. Caberia fazer aqui, uma aproximação analógica do cônjuge que furta com o Ego que evita se confrontar com o complexo materno, representado na imagem da bruxa. Os complexos são entidades autônomas dentro da psique e, por isso, se comportam como seres independentes (Jung, 1991). A negociação é para o Ego, como podemos entender, uma forma de acolher um desejo imediato com o prejuízo futuro da nova vida -aí representada no bebê que ainda ia nascer. Um exemplo dessa situação encontra-se em usuários de drogas que na busca do êxtase sacrifica a vida para deixá-l a aprisionada aos encantos do mundo mágico da feiticeira. Outro aspecto interessante para se olhar nessa negociação entre a bruxa e o homem ou entre o Ego de um homem e o seu complexo materno, é a busca do lucro imediato em detrimento do processo criativo de uma relação entre o masculino e o feminino. Porém a promessa de sacrifício visa a um objetivo maior -o de não deixar o feminino morrer. A maga ficará com todo o fruto do processo. Na história, quando Rapunzel atingiu os doze anos, a bruxa veio buscá-la e trancou-a numa torre alta que tinha apenas um quarto no topo, e nenhum acesso po r escadas ou portas. A feiticeira quando queria subir à torre, pedia para Rapunzel j ogar suas tranças e subia por ela. Compreendo essa torre como o símbolo fálico representativo de mãe negativa capaz de aprisionar o feminino que desabrocha em su a filha, dificultando-a no relacionamento com o sexo oposto. Doze anos é uma idade e m que a menina é despertada por Eros, um deus que os gregos representavam como uma criança de asinhas, armado de arco e flechas. Criança porque o amor não pode ter consciência -é inocente. Asinhas, por ser livre e fluir com facilidade. Flechas para ferir ao provocar o sentimento de incompletude, tão necessário para se obter a volúpia. Um dia, o canto melódico de Rapunzel atraiu um príncipe que cavalgava no bosque. Extasiado pela voz, foi procurar a menina até descobrir a forma como a bru xa conseguia subir na torre. Era por meio dos cabelos da garota. Ele então conseguiu fazer o mesmo e a pediu em casamento. Tomando o príncipe como a necessidade de aquele feminino se completar, percebemos o complexo materno sendo ludibriado tal qual o furto dos raponços lá na sua origem. O Ego, ao buscar o encontro com a sua alma, procurou driblar o complexo, em lugar de confrontá-lo. O meio de comunicação com Rapunzel, o feminino preso, são os seus cabelos, ou seja, aquilo que flui da cabeça como acontece com as idéias e fantasias. As características positivas daquele feminino são, portanto, o canto e suas tranças. Percebemos que ambos são meios para o acesso tanto do ânimus positivo representado na figura do príncipe, como para o complexo materno, também figurado na feiticeira. Os métodos são os mesmos. Do que depende a escolha? Qual das duas relações será escolhida? Rapunzel acertou fugir com o príncipe e praticamente delatou a existência do seu amado para a bruxa, quando comentou que o príncipe era mais leve do que ela. C om isso, a maldosa mulher cortou os cabelos da garota e a expulsou para viver em um deserto. Enquanto isso, atraiu o príncipe para o alto da torre e o empurrou até os espinhos de baixo, que o cegaram. Não adiantou o plano consciente da jovem mulher, de unir-se ao sexo oposto, pois ainda não estava pronta para viver essa heterossexualidade. A relação homossexual entre os femininos ainda se fazia necessária . Considero que sentimentos profundos por uma pessoa do mesmo sexo não são homossexuais num sentido que implique uma fixação sexual. São sentimentos saudáveis e enriquecedores que provêm da bissexualidade psicológica. Quando falamos sobre o comportamento sexual de um indivíduo, temos que considerá-lo do ponto de vista da força do ego e, particularmente, observar a freqüência e a intensidade da ânsia que os impulsos sexuais causam no indivíduo. A bruxa cortou os cabelos de Rapunzel, isto é, cortou os aspectos positivos de sua alma, interrompendo as idéias e fantasias, levando-a a uma depressão. São nesses períodos de esterilidade, improdutivos, que algo se prepara para surgir, como o despertar das potencialidades adormecidas -foi assim na história da Bela Adormecid a quando a rainha recebe a notícia de que terá filhos. Nessa nossa história, podemos concluir que o projeto da mãe negativa era o amor possessivo ( ...pensei que te isol ei do resto do mundo , disse a bruxa numa passagem da história). Conta o enredo, que um dia Rapunzel, com sua bela voz, cantava linda canção quando o príncipe que por ali passava ouviu-a e encontrou-se com ela. As lágrimas de Rapunzel reverteram a visão do príncipe. E assim viveram felizes para sempre. Verifiquei o quanto o ato falho da garota, em comparar a bruxa ao príncipe, foi o erro da consciência para permitir o exercício da Função Transcendente que se exprime por meio de um símbolo para fazer a transição de uma atitude ou condição psicológica para uma outra (Andrew Samuels, Bani Shorter, Fred Plaut, 1988). Foi assim que ocorreu no conto de João e Maria quando marcaram o caminho, para voltar à pobreza, com as migalhas de pão, e os passarinhos como um símbolo da Função Transcendente, desmarcam o caminho neurótico de repetição. Percebemos nessas histórias o quanto a aridez precede o momento da criação. Na vida, torna-se necessário o recuo para podermos avançar melhor. Bibliografia Andrew Samuels, Bani Shorter, Fred Plaut. (1988). Dicionário Crítico de Análise Junguiana. Rio de Janeiro: Imago. Jung, C. G. (1991). A Dinâmica do Inconsciente. Petrópolis: Vozes.