Historicamente, o homem, enquanto ser social, sempre esteve em contato com
outros indivíduos. Com a realidade da luta pela sobrevivência, as primeiras comunidades foram sendo formadas, sem critérios mais específicos de agrupamento, além do território. Ao passar o tempo, outros conceitos como a realidade familiar, a coesão social e a união de esforços para um fim comum tornaram-se decisivos na formação dos grupos. Hoje, as comunidades, em sua maioria, são formadas a partir de determinados interesses em comum de um grupo de indivíduos, entre outros elementos. A idéia de compartilhar um mesmo ideal, o sentimento de permanência e a semelhança de determinados padrões de comportamento acabam por aproximar ainda mais as pessoas que optam – ou não, no caso de crianças sem poder de escolha, por exemplo – por participar daquele agrupamento. O filme “A Vila”, de M. Night Shyamalan, apresenta, de maneira bastante ilustrativa, características básicas de uma comunidade. Em primeiro lugar, a história mostra um grupo de pessoas reunidas em um espaço com um objetivo comum: viver a vida de forma inocente e tranqüila, longe dos perigos da “cidade grande”. Toda a comunidade compartilha desse ideal? De certa maneira. Os primeiros habitantes da vila foram, na realidade, os únicos a conhecer de forma concreta o perigo oferecido pelo mundo exterior. Entretanto, para que a manutenção do estilo de vida do grupo continue, os “anciãos” precisam criar um mecanismo que leve o medo aos descendentes. E é aí que entram as criaturas que moram na floresta: "Aquelas de Quem Não Falamos". Nas comunidades, em geral, sempre existem os primeiros, os fundadores. Esses, seja em uma comunidade virtual, religiosa, ou de qualquer outro tipo, detém conhecimentos que os próximos a aderirem podem ou não chegar a ter acesso. É uma forma de manter a estrutura funcionando, mesmo que por meio da omissão. O medo do que é de fora do grupo, porém, sempre vai existir. O diferente traz a insegurança e, por conseqüência, a defesa – nem sempre saudável. O melhor é o que está ali, o indivíduo que é semelhante e próximo. Outra característica fundamental presente nas comunidades que é evidenciada por meio do filme é o desenvolvimento de hábitos, costumes, modos próprios do grupo. As brincadeiras, o jeito de falar, vestir, comer, tratar, tudo aproxima os membros do conjunto. Rituais vão sendo construídos e re-construídos, e, assim, incorporados à cultura da comunidade. A quebra com os ideais vigentes deve, entretanto, ser levada em consideração. Mesmo os que nascem dentro daquela realidade construída, e, principalmente estes, têm a vontade de romper com aquilo. No filme “A Vila”, as crianças e jovens, que brincam nos limites da área proibida apresentam esse caráter da busca pelo desconhecido e até pelo temido. Como isso pode ser explicado? Apesar da noção central de coletividade, as comunidades são formadas por indivíduos, com características particulares e individuais. Muitas vezes o comportamento dessas pessoas promove mudanças ou discussões diante do que é imposto, mas pode, também, levar à exclusão do diferente pelo restante do grupo. No mundo todo, assim como no filme, o conceito de comunidade acaba sendo, de um modo, o oposto do conceito de liberdade. Essa questão, já exaustivamente levantada por acadêmicos, não pode ser deixada de lado e pode ser colocada, inclusive, como critério de observação de algum grupo de indivíduos que pode ser ou não uma comunidade.