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PAULO CALDEIRA
JANEIRO DE 2011
VIANA DO CASTELO
Paulo Caldeira | Janeiro 2011
RESUMO
Numa altura em que Guimarães se prepara para ser uma das capitais europeias da cultura em
2012 depois de em 2001 ter visto o seu Centro Histórico declarado pela UNESCO como
Património Cultural da Humanidade, o que levou a recém-criada entidade regional de turismo
do Porto e Norte de Portugal a instalar na cidade a delegação do produto turístico Touring
Cultural e Paisagístico e Património, este estudo procurou, de uma forma empírica,
percepcionar se têm sido seguidas as estratégias correctas de preservação da memória
colectiva no sentido do desenvolvimento sustentável local através do turismo. Do trabalho
realizado resulta sobretudo a recomendação de que nenhum lugar pode querer ter um rótulo se
depois não aplica o planeamento e os conceitos de gestão cultural de território de forma
correcta.
PALAVRAS-CHAVE
2
Paulo Caldeira | Janeiro 2011
ÍNDICE
I. CAPÍTULO
APRESENTAÇÃO
1. INTRODUÇÃO
1.1 ENQUADRAMENTO
1.2 A JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO
1.3 A QUESTÃO: «QUE GUIMARÃES ÉS TU?»
1.4 A METODOLOGIA
II. CAPÍTULO
CONCEITOS E TEORIAS
III. CAPÍTULO
ESTUDO DE CASO
IV. CAPÍTULO
CONCLUSÕES
RECOMENDAÇÕES
BIBLIOGRAFIA
3
Paulo Caldeira | Janeiro 2011
I. CAPÍTULO
APRESENTAÇÃO
1. INTRODUÇÃO
1.1 ENQUADRAMENTO
O sítio electrónico New York Times (NYT)1 considerou recentemente a cidade de Guimarães
como um do 41 lugares a visitar em 2011 no âmbito de uma lista que inclui Singapura,
Manchester, Talin. Melbourne, Antuérpia e Londres, entre outros. O crítico de destinos
turísticos Charly Wilder do NYT diz que esta é uma cidade jovem que possui uma vida
artística intensa.
O artigo começa por afirmar que uma série de acontecimentos recentes, como a sua selecção
para Capital Europeia da Cultura em 2012 e classificação com Património Cultural da
Humanidade por parte da Unesco para abordar depois a dinâmica do Centro Cultural Vila
Flor, adjectivando-o como «um centro cultural de mentalidade contemporânea que abriu em
2005 junto de um palácio do século XVIII e inclui anfiteatros, uma área de exposições,
estúdios de artistas e um moderno restaurante». No entanto, o pequeno trecho referente a
Guimarães parece carecer de alguma credibilidade 2, uma vez que termina com a referência ao
primeiro Festival Internacional de Dança Contemporânea que o centro cultural vai receber em
Março.
Nove anos depois, autarquia trata agora de dar corpo ao que se propôs com a candidatura que
apresentou à Comissão Europeia para ser uma das Capitais Europeias da Cultura em 2012
1
Disponível em http://travel.nytimes.com/travel/guides/europe/portugal/guimaraes/overview.html
2
Tal credibilidade é colocada em causa pela experiência de 25 anos de jornalismo activo por parte do autor deste estudo por se considerar
que o artigo terá sido escrito, tal como transparece da navegação da página electrónica onde cada leitor pode contribuir com as suas
sugestões, com base em informações retiradas de outras fontes e não de uma visita in loco.
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num projecto arrojado que envolve vários milhões de euros para projectos que se pretendem
ser estruturantes para o futuro com o contributo de diversas entidades e individualidades
nacionais e estrangeiras.
Isto quer dizer que, em menos de uma década, a Câmara Municipal de Guimarães assumiu o
Centro Histórico da cidade-berço não só como um património que deve ser fortemente
cuidado e preservado, mas também como uma fonte (e o pilar principal) de atracção turística e
como motor fundamental para o desenvolvimento sustentável do município neste início do
século XXI.
Por outro lado, no que ao sector turístico diz respeito, o Plano Plurianual de Investimentos 5
refere que «o estatuto de cidade fundadora da Nação Portuguesa, o reconhecimento pela
UNESCO do Centro Histórico como Património Cultural da Humanidade e a designação de
Guimarães como Capital Europeia da Cultura em 2012, proporcionam um inestimável
3
Ficha-resumo disponível em http://www.unesco.pt/cgi-bin/cultura/temas/cul_tema.php?t=14
4
Documento disponível em http://www.guimaraes2012.pt/arq/fich/Candidatura.pdf
5
Documento disponível em http://www.cm-guimaraes.pt
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prestígio, uma ímpar projecção internacional e uma oportunidade única para a afirmação
de Guimarães enquanto destino de excelência de turismo histórico-cultural». E são apontadas
entre as acções de maior destaque o programa de acção Guimarães – Capital Europeia da
Cultura 2012 com «objectivo global posicionar Guimarães como o centro regional de
excelência, de referência nacional, na fileira do Turismo Histórico-Cultural»; e a
execução do projecto «Centro Histórico de Guimarães – Património Mundial…
Experiência Excepcional», candidatado ao Programa ON.2 Eixo Valorização e
Qualificação Ambiental e Territorial. Este aspecto é, aliás, realçado na edição de Novembro
de 2010 da newsletter da Turismo PORTO E NORTE6:
Esta publicação reforça ainda uma outra questão: o facto de Guimarães ser a sede do produto
Touring Cultural e Pauisagístico e Patrimónios no âmbito da PORTO E NORTE.
Sucede porém que até à obrigatoriedade decretada pela administração central, o Município de
Guimarães sempre se assumiu como uma unidade isolada no contexto da promoção turística,
através da chamada Zona de Turismo de Guimarães, e nunca cedeu ás negociações, primeiro
para que integrasse a antiga Região de Turismo do Verde Minho7 e depois Região de Turismo
do Minho8 e na entrevista agora publicada neste meio informativo9 da PORTO E NORTE, o
presidente do município diz que a reforma institucional do turismo foi importante para a
afirmação Guimarães no contexto regional e nacional, não só porque «a escolha dos destinos
turísticos exige a estes escala», como não é fácil «promover só uma Cidade, como Guimarães,
mesmo sendo Património Cultural da Humanidade». E além de salientar que a organização de
serviços e a promoção de campanhas a cargo de uma única entidade «facilita muito», a
dispersão de meios «não era o melhor modelo», aponta como fundamental «relevar
Guimarães como uma das principais âncoras da região, o que temos conseguido».
Por outro lado, depois de salientar que «o principal produto estratégico que Guimarães tem de
promover é o Turismo Cultural e Paisagístico», o autarca vimaranense aponta que a afirmação
turística de Guimarães «terá de ser sempre feita com referência à história, ao nosso orgulho de
termos sido o Berço da Nação Portuguesa»
6
In http://issuu.com/_air/docs/newsletter_tpen_6_novembro2010
7
Esta entidade de turismo englobava praticamente todos os concelhos do distrito de Braga (á excepção de Barcelos e Esposende que
faziam parte da Região de Turismo do Alto Minho) e ainda todos os concelhos do Vale do Sousa, no distrito do Porto.
8
Esta figura esteve sempre em cima da mesa da gestão turística da região minhota mas a sede de poder de vários dos intervenientes
nunca deixou que este processo chegasse a bom porto.
9
Quando as publicações são elaboradas pelo próprio organismo, há sempre que desconfiar das afirmações produzidas.
6
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E ao referir-se «à grande referência cultural que somos» com a designação de Guimarães para
Capital Europeia da Cultura 2012 (CEC 2012), António Magalhães reconhece na entrelinhas
que é ainda necessário promover «o nosso exemplo de requalificação patrimonial» centro
histórico10 distinguido em 2001 como Património Cultural da Humanidade.
Acima de tudo esta entrevista à newsletter da PORTO E NORTE trata Guimarães como um
enorme destino turístico mas os dados oficiais, do barómetro encomendado pela própria
entidade regional, indicam que o principal destino é a cidade de Braga 12 e que até Viana do
Castelo consegue ultrapassar a cidade berço no conjunto das dormidas.
10
O conceito de centro histórico tem levado a várias discussões com arquitectos paisagistas e urbanistas a defender que a cidade é um
todo e o centro histórico não é o centro de nada mas a maioria consensual dos pensadores de cidades refere-se ao centro histórico como o
local onde nasceu a cidade, ou seja, o centro como ponto de partida para o desenvolvimento das polis.
11
Não se consegue perceber este conceito uma vez que o próprio edil refere ter orgulho na reabilitação do Centro Histórico, que
logicamente integra o Centro da Cidade.
12
Um recente estudo realizado pela BRANDIA CENTRAL para o Instituto de Turismo de Portugal revelou que não existe a marca PORTO E
NORTE mas antes as marca PORTO e a marca NORTE, sendo esta associada sobretudo ao Minho e, neste espaço geográfico de limites
históricos bem definidos, os destinos mais referenciados são Braga, Gerês e Viana do Castelo e a região que historicamente se designou
por Alto Minho.
7
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Em matéria de Gestão Territorial é afirmado que quer na salvaguarda dos elementos e espaços
patrimoniais fundamentais para a preservação da História, no reforço da identidade e
afectividade dos cidadãos com a sua cidade, quer na perspectiva e incremento de
acções e desafios capazes de catapultar a cidade para novos e mais qualificados
patamares de desenvolvimento e sustentabilidade, «o PLANEAMENTO
TERRITORIAL assume-se como um domínio fundamental e estruturador da política
urbana do Município, nele se plasmando um conjunto de directrizes e acções condicionadoras
do desenvolvimento do território» olhado sempre sob a perspectiva positiva do termo.
Perante este cenário que se apresentou importava verificar se Guimarães tem sabido de facto
capitalizar as duas iniciativas (Património Cultural da Humanidade e CEC 2012) que têm por
base a âncora do Centro Histórico não só em termos de atracção de visitantes mas, sobretudo,
ao nível da correcta recuperação e preservação e consequente musealização13 do espaço
urbano a partir do qual se foi desenvolvendo a polis e do restante território-cidade
envolvente14.
A questão de partida basea-se aliás no estudo de marca que foi feito no âmbito do projecto
Guimarães – Capital Europeia da Cultura 2012 até porque João Campos, o designer que
tratou de desenvolver a nova imagem da cidade berço refere nas justificações para o modelo
apresentado15 que «se por um lado estamos a falar de identidade, esta em específico deveria
ter como princípio a capacidade de reflectir a diversidade cultural e a multiplicidade de
visões, próprias de uma cultura fragmentada».
E adianta que o conceito base «procura reflectir Guimarães naquilo que é verdadeiramente
diferenciador, reconhecido nacionalmente e único na história de Portugal – o seu papel na
fundação da nação», pelo que o símbolo agrega a muralha em representação do Património da
Humanidade, o desenho da viseira de um elmo que presta homenagem à visão de D. Afonso
Henriques e a forma de um coração 16 em evocação plena do orgulho «e sentimento vivo de
pertença dos vimaranenses em relação à sua cidade».
13
Este conceito está claramente explicitado na revisão de literatura que foi feita e se reproduz mais adiante neste trabalho.
14
Este é o conceito de Itinerário Cultural como se verá mais adiante.
15
In http://xiiistudios.com/Guimaraes2012_casestudy_JCampos_xiiistudios.pdf
16
Nos últimos anos, o coração tem sido aproveitado por inúmeros designers chamados a traduzir graficamente marcas territoriais, numa
expressão repetida que começou aquando da organização do Campeonato Europeu de Futebol em Portugal em 2004.
8
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E ao realizar-se uma pesquisa prévia sobre a questão surgiu uma pequena curta-metragem em
vídeo realizada por quatro alunos no âmbito da disciplina de Teoria de Arquitectura II do 2º
Ano do curso de Arquitectura da Universidade do Minho intitulada «Sonho de Habitar
Guimarães» num documento audiovisual que revela uma percepção invulgar sobre o papel
que o arquitecto não deve desempenhar com se trata de abordar a questão do património
enquanto memória que importa preservar mantendo o seu carácter definidor que não se limita
apenas às pedras mas também aos residentes:
«Com uma pequena ideia na cabeça, o nosso grupo partiu á busca de depoimentos dados por
algumas opiniões de turistas, e num passeio a pé procurou verificar e observar alguns dos
locais que constituem Guimarães, especulando sobre movimentações e acções das suas gentes.
O que tentamos transmitir com o trabalho é a maneira como os responsáveis tentam passar aos
turistas a ideia de que é um sonho habitar Guimarães. Assim numa abstratização, criamos um
espaço que marca o centro de Guimarães, apenas separando duas realidades bem diferentes que
vivem lado a lado. O túnel representa uma montra de locais que interessa mostrar, deixando
para o lado o mostruário de locais mais degradados e sujos que são escondidos e a nosso ver, é
simbolizado por uma serie de objectos dispostos aleatoriamente criando desordem. O turista
chega a Guimarães e é encaminhado para os locais designados património e centros turísticos.
O habitante, de certa forma, ajuda o turista e guia-o a visitar estes mesmos centros. O estudante
influenciado pelo trabalho escolar ocupa um certo espaço neste meio e evidencia no seu
desenho (estratos da cidade). O "mitra", como habitante ocupa um outro espaço não apreciado
pelo publico em geral e o deslocado apenas por passagem no seu dia-a-dia vê-se metido no
meio de estas duas realidades. Assim, estas cinco personagens tipo ensaiam relações e expõem
o sonho de habitar Guimarães, criticando esta separação estratigráfica entre a fachada bonita e
apresentável do centro turístico, da fachada suja e degradável do outro centro mais escondido e
pobre». In http://www.youtube.com/watch?v=YvPDxUkIxXg&feature=related
1.4 A METODOLOGIA
O método de estudo para este trabalho parte precisamente do conceito frisado pelo autor da
nova imagem de Guimarães quando afirma que, «á semelhança de qualquer comunidade,
população ou cultura constituída por diferentes individualidades», a identidade escolhida para
a CEC 2012 é um conjunto de pequenos núcleos de sentido, «onde o todo é maior do que a
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soma das partes» e onde se apela à participação popular «ao facultar as ferramentas
necessárias para que cada individuo possa apropriar-se à sua maneira do símbolo»17.
Deste ponto de vista, o presente trabalho comecçou com uma revisão bibliográfica prévia que
serviu ao autor para vestir a pele de turista anónimo utilizando a observação (com registo
fotográfico e elaboração de uma grelha de avaliação). Deste modo, para melhor aferir das
percepções de um visitante a Guimarães, e mais concretamente ao Centro Histórico, foi
programada uma visita de dois dias, com uma noite reservada numa unidade hoteleira de três
estrelas com vista panorâmica para toda a cidade. A visita realizou-se entre os dias 20 e 21 de
Dezembro (uma segunda e uma terça-feira), em plena semana de férias do Natal,
propositadamente para procurar verificar qual era a afluência real de visitantes no âmbito
normal de época baixa.
No primeiro dia optou-se por fazer o reconhecimento de toda a área do centro histórico
deixando as visitas ao Paço dos Duques e ao Castelo de Guimarães para o dia seguinte, com a
preocupação de verificar qual era a vivência da cidade durante o período nocturno.
Foi elaborada uma grelha de avaliação do tipo likert (com classificação de 1 – muito mau - a 5
– muito bom) onde se anotaram os pontos de verificação préviamente estabelecidos 18 e que
foi utilizada em separado para o espaço público sob a alçada da Câmara Municipal e para o
espaço gerido pelo Instituto dos Museus e Conservação (IMC). Ao mesmo tempo foram
sendo registadas imagens que mostrassem o real estado de conservação do espaço.
Registou-se ainda uma visita anónima ao Posto de Turismo da Praça de Santiago onde se
pediu informações sobre a cidade tendo o funcionário disponibilizado (mas apenas após
insistência e a compra de um guia não oficial) um mapa, um guia oficial e uma agenda
cultural da cidade.
Posteriormente foram realizados dois questionários escritos e remetidos por via electrónica 19:
um a Vítor Marques, da Guimarães Turismo, e outro a Tom Fleming, um dos principais
impulsionadores do projecto Norte Criativo da Fundação Serralves e que esteve também na
elaboração do projecto Capital Europeia da Cultura 2012. Com estes dois questionários
procurou-se abordar não só à àrea do Turismo propriamente dita e a forma como se oferece a
17
No sítio electrónico da CEC (http://www.guimaraes2012.pt/?op=25) é possível criar um logótipo personalizado para cada visitante dessa
página da Web.
18
Ver apêndice 1
19
Ver apêndices 2 e 3
10
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interpretação do espaço ao visitante, mas também clarificar ideias quanto a gestão dos espaços
urbanos, pelo desenvolvimento sustentável e pelo novo paradigma das cidades criativas que
percorre transversalmente a programação da CEC 2012.
II. CAPÍTULO
CONCEITOS E TEORIAS
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) adoptou
em 1972 a Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural, que tem por objectivo
proteger os bens patrimoniais dotados de um valor universal excepcional, e quatro anos
depois são criados o Comité do Património Mundial e o Fundo do Património Mundial,
conforme determinado pelo texto da Convenção que, no seu artigo 1º considera como
património cultural:
11
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Em 1979, foram feitas as primeiras inscrições de bens na Lista do Património Mundial tendo
Portugal depositado o instrumento de ratificação da Convenção um ano depois. Já em 1992,
foi criado o Centro do Património Mundial, um organismo autónomo do Secretariado da
UNESCO encarregado de gerir administrativamente todas as questões relacionadas com a
Convenção do Património Mundial.
anteriormente era apresentado em dois conjuntos separados passou a ser definido com base
em 10 critérios.
Além disto, para ser considerado de valor universal excepcional, um bem deve também
responder às condições de integridade e/ou de autenticidade e beneficiar de um sistema de
protecção e gestão adequado para assegurar a sua salvaguarda.
Do ponto de vista da Autenticidade, o documento refere entre outros pontos que, conforme o
tipo de património cultural e o seu contexto cultural, pode-se considerar que os bens
satisfazem as condições de autenticidade se os seus valores culturais estiverem expressos de
modo verídico e credível através de uma diversidade de atributos, entre os quais:
• Forma e concepção;
13
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• Materiais e substância;
• Uso e função;
• Tradições, técnicas e sistemas de gestão;
• Localização e enquadramento;
• Língua e outras formas de património imaterial;
• Espírito e sentimentos; e
• Outros factores intrínsecos e extrínsecos.
No que à Integridade diz respeito, a UNESCO refere que esta é uma apreciação de conjunto e
do carácter intacto do património natural e/ou cultural e dos seus atributos. Estudar as
condições de integridade exige portanto que se examine em que medida o bem:
E mais adiante refere entre os requisitos ao nível da Protecção e Gestão, não só, «que todos os
bens inscritos na Lista do Património Mundial devem ter uma protecção legislativa,
regulamentar, institucional ou tradicional adequada que garanta a sua salvaguarda a longo
prazo», como deve ser concebido «um sistema de gestão eficaz em função do tipo,
características e necessidades do bem proposto para inscrição e do seu contexto cultural e
natural». E sobre este último aspecto, além de considerar como condição essencial a
participação de todas as partes interessadas, a organização afirma que «uma gestão eficaz
deve incluir um ciclo planificado de medidas de longo prazo e quotidianas destinadas a
proteger, conservar e valorizar o bem proposto para inscrição».
Princípio 1
Uma vez que o turismo se transformou num dos veículos mais importantes para o
intercâmbio cultural a conservação dos espaços patrimoniais deve
proporcionar oportunidades responsáveis e bem geridas, não só para os
membros da comunidade de acolhimento, bem como proporcionar aos visitantes a
experimentar e compreender a cultura e o património da comunidade.
Princípio 2
A relação entre os Sítios com património e o Turismo é dinâmica e pode
envolver valores conflituosos, pelo que ela deve ser gerida de forma
sustentável para as gerações actuais e futuras.
Princípio 3
O planeamento para conservação e para o turismo em locais com património deve
assegurar que a experiência do visitante vai ser gratificante e agradável.
Princípio 4
As comunidades de acolhimento e devem ser envolvidas no planeamento da
conservação do património e do turismo.
Princípio 5
As actividades do turismo e a conservação do património devem beneficiar a
comunidade de acolhimento.
Princípio 6
Os programas de promoção turística devem proteger e valorizar os
recursos naturais e o património cultural.
15
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De igual modo, refere a carta do ICOMOS, ao longo da sua utilização, o Itinerário Cultural
pode promover uma actividade de interesse social e económico de uma importância
excepcional para o desenvolvimento equilibrado, pelo que:
21
Disponível em http://icomos.fa.utl.pt
16
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E em matéria de Gestão, aquele organismo internacional refere que a gestão dos Itinerários
Culturais exige «uma coordenação transversal a fim de garantir a integridade das políticas no
domínio da protecção, da preservação, do uso e da conservação, do ordenamento do território
e do turismo». Mas adverte que tal sistema de governance deve ser participado pelos
habitantes da zona.
Apesar de muitos dos pensadores da área artística continuarem a persistir na ideia de que um
Museu é apenas um espaço fechado onde se organizam memórias e se explica o passado, as
mais recentes teorias vão tão longe que há já quem fale do conceito do «museu dentro do
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museu»22, onde o espaço urbano ganha força na ligação entre o passado e o futuro da
sociedade que o usufruiu e frequenta.
Mas apesar desta visão aparentemente redutora que pode colher aplausos entre os defensores
da museologia tradicional24, o ICOM adverte que tal definição «deve ser aplicada sem
quaisquer limitações resultantes da natureza da entidade responsável, do estatuto territorial, do
sistema de funcionamento ou da orientação das colecções da instituição em causa» e engloba
nesse conceito «os sítios e monumentos naturais, arqueológicos e etnográficos e os sítios e
monumentos históricos com características de museu pelas suas actividades de aquisição,
conservação e comunicação dos testemunhos materiais dos povos e do seu meio ambiente».
E a definição abrange ainda «os centos culturais e outras instituições cuja finalidade seja
promover a preservação, continuidade e gestão dos recursos patrimoniais materiais e
imateriais (património vivo e actividade criativa digital)»25.
22
As ideias modernistas na arquitectura de museus aparecem em forma de projecto no segundo quartel do século XX, quando Le
Corbusier projecta para os arredores de Paris o Museu Sem Fim tendo a teoria arrebatado mais força em 1943, quando Frank Lloyd Wright
deu início ao projecto do Museu Guggenheim em Nova Iorque e levou a que os próprios aspectos arquitecturais dos edifícios que albergam
as exposições passassem a ser considerados obras de arte urbana e, em consequência disso, parte de um museu mais alargado que olha
para a cidade como um repositório evolutivo de vivências culturais de uma determinada comunidade.
23
Criado em 1946, o ICOM é uma organização não-governamental (ONG) que mantém relações formais com a UNESCO e tem estatuto
consultivo no Conselho Económico e Social das Nações Unidas.
24
Em seu sentido lato, os museus são tão antigos quanto a própria história da humanidade e alguns autores consideram que el es existem
desde que o ser humano começou a coleccionar e a guardar objectos de valor em salas construídas especialmente para esse fim.
25
In http://www.icom-portugal.org/conteudo.aspx?args=55,conceitos,2,museu
18
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Políticas Culturais realizada na Cidade do México, em 1982, ter observado que «o património
cultural de um povo compreende as obras dos seus artistas, arquitectos, músicos, escritores e
cientistas, e também o trabalho de artistas anónimos, expressões da espiritualidade do povo e
do sistema de valores que dão sentido à vida» como a língua, os ritos, as crenças, os lugares e
monumentos históricos, a literatura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas.
E dentro deste ponto de vista, para os responsáveis políticos que participaram no encontro de
Granada, o património arquitectónico não só «é a parte mais imediatamente perceptível do
património cultural» como pode desempenhar «um papel importante no equilíbrio do
desenvolvimento cultural a nível regional, nacional do contexto europeu» e porque a sua
conservação pode contribuir para o desenvolvimento económico. De tal modo que o artigo
quinto da Convenção Europeia adopta o disposto no artigo 7º da Carta Internacional para a
Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios, aprovada pelo Conselho Internacional
de Monumentos e Sítios (ICOMOS), em 1964, onde se afirma que «o monumento é
inseparável da história de que é testemunha e a partir do contexto em que ela ocorre».
2. TEORIAS CONCEPTUAIS
2.1 CIDADE, IDENTIDADE E MEMÓRIA
A urbe enquanto espaço multidisciplinar onde convivem e interagem diferentes valências
tenderá a ser influenciada por cada uma dessas valências. Para Avraham (2004), a imagem de
uma cidade tende, em termos genéricos, a ser influenciada por factores como:
A sua localização;
19
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O seu historial;
Comércio urbano;
Infra-estruturas espaciais;
Actividades urbanas;
Organização | Gestão;
Comunicação
Publicidade e promoção;
Regeneração cultural;
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Richards e Wilson (2005), num estudo sobre o impacto da iniciativa Capital Europeia da
Cultura 2001 em Roterdão, concluem que o efeito maior se nota sobre os seus residentes,
enquanto os visitantes consideraram a imagem da cidade também a partir de outras
características, como o elemento água e a sua arquitectura urbana. Nesse mesmo estudo,
os autores salientam que a realização de grandes eventos culturais, como o caso das CEC,
tendem a não deixar grandes marcas junto dos turistas estrangeiros, já que esses
acompanham o evento quando ele vai para outras cidades. Tal como outros autores,
Richards e Wilson (2005), reforçam a ideia de que os grandes eventos terão pouco
impacto futuro na imagem das cidades que os acolhem a menos que se dê continuidade à
política cultural com a realização de outros eventos.
21
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Ora, como defende Kotler (2009) a finalidade do marketing é a de tornar uma localidade
mais permeável à realização de investimentos, à chegada de novos moradores ou de
turistas ou para captar a organização de eventos mediáticos. O problema é que os
mercados se deslocam e mudam com mais celeridade do que a capacidade de resposta dos
territórios, tal como advertem Kotler et al (1993).
Neste caso, o objectivo do marketing passa pela construção de uma nova imagem do
lugar, substituindo as já existentes, vagas ou negativas junto dos potenciais residentes,
investidores ou visitantes. Deste modo, González (2001) defende que o marketing
contribui “para promover o desenvolvimento sustentável de um território, contribuindo
para melhorar a economia, o ambiente e a qualidade de vida, aumentando a eficácia da
22
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E é neste ponto que existe outra clara conexão com o processo de planeamento
estratégico. O marketing territorial, ao invés do empresarial, apoia-se na colaboração e na
participação das entidades públicas e privadas, dotadas de visões e de motivações
variáveis, mas mobilizadas por um objectivo comum: o desenvolvimento e a afirmação
local. É por esta razão que Kotler et al (1993) argumentam que o potencial de um
território não depende tanto da sua localização geográfica e dos seus recursos, mas mais
da vontade, da habilidade, da energia e dos valores das organizações existentes.
Temos desta forma que assumir que o marketing territorial, ao promover a emancipação
económica e o reforço da capacidade competitiva de um território, assume-se como um
instrumento ao serviço do planeamento estratégico.
Ao procurar assegurar uma imagem eficaz e atraente, com base nas potencialidades locais,
para que um território se torne mais apelativo para o seu mercado externo, mas também
para o interno, o marketing territorial abrange a função de análise do mercado, a definição
de uma estratégia de mercado, a formatação de uma estratégia de comunicação e de
promoção.
À medida que nos aproximávamos dos finais do século XX, um conjunto de novas
circunstâncias (sociais, culturais, políticas, tecnológicas e económicas) vieram introduzir
novas regras, às quais a cidade teve que se adaptar sob pena de perder actualidade. A par
da sua função como “lugar de vivência” e de permanência, a cidade tornou-se
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Temos assim que, para falar numa estratégia de Marketing Territorial que se socorra (e
deve fazê-lo sempre, sob pena de basear decisões que colidam com as ligações dos
residentes ao seu lugar) de uma correcta Gestão Cultural de Território, olhar para a cidade
aos mais diversos níveis. É preciso abordar as várias vertentes que fazem o território
citadino, desde o urbanismo, à arquitectura, às tradições, às vivências sociais diárias, aos
movimentos artísticos locais e ao tecido económico.
Se Castells (2000) define cidades globais enquanto um local onde capital, inovação,
tecnologia, interacções organizacionais, símbolos e sons fluem em uma rede de infra-
estruturas, serviços de apoio e profissionais especializados, Oosterbeek (2007:35)
considera ser necessário mudar o paradigma na esfera da gestão do património e da
cultura, seguindo dois eixos: «primeiro o reconhecimento de que a cultura (material e
imaterial, memorial e performativa) é uma expressão indissociável da economia e dos
interesses e tensões interpessoais e inter-sociais que nela se geram; segundo, que é preciso
incorporar as pessoas, os cidadãos, nos processos de decisão e gestão cultural (ou
territorial), em função das novas dinâmicas».
Contudo, Laundry et Bianchini (1995) considera que “produzir” uma cidade atractiva é
diferente de “construir” uma cidade atraente. Ou seja, não basta investir no
embelezamento de espaços públicos e em obras faraónicas. É necessário dotar a cidade de
uma vasta panóplia de soluções que permitam a sua sustentabilidade futura, como
“produto” apetecível não só para os residentes, mas também para novos “consumidores”.
III. CAPÍTULO
ESTUDO DE CASO
26
Documento disponível no sítio electrónico da Câmara Municipal de Guimarães apresentado pelo presidente da autarquia como o
documento de apoio ás necessidades de resolução de problemas burocráticos.
25
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Com o passar dos séculos, Guimarães foi palco do desenvolvimento de algumas indústrias
como a cutelaria, a fiação e tecelagem de linho, o curtimento das peles e a ourivesaria, e
em 1853, a Rainha D. Maria II27 eleva a vila à categoria de cidade, sendo a partir daqui
fomentado e autorizado o derrube das muralhas. Contudo, ainda hoje é possível observar
alguns vestígios e panos completos.
No entanto, o documento não diz mais nada sobre a história vimaranense e trata logo de
apontar ao munícipe uma série de recordações mais recentes relativas aos vários
mandatos do ainda presidente da Câmara Municipal.
É referido, por exemplo, que a construção, nos anos mais recentes, «de um conjunto de
equipamentos colectivos com grande qualidade arquitectónica e funcional», associada às
acessibilidades disponíveis e ao interesse patrimonial, simbólico e histórico da cidade,
dotaram Guimarães de «uma notável capacidade de atracção de grandes eventos culturais,
desportivos, sociais e institucionais».
27
A mesma monarca elevou Viana do Castelo á categoria de cidade em 1848.
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Para além disto, fica-se desde logo com uma ideia da teia burocrática que rege uma qualquer
intervenção na cidade, especialmente na área do centro histórico, onde qualquer intervenção
tem de percorrer, nada mais, nada menos que três pelouros relacionados com o urbanismo, a
reabilitação e o património. Mas se se tratar de um investimento relacionado com a cultura ou
o turismo terá de recorrer ainda há mais um: ou o do turismo, ou do da cultura.
27
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construção, desde o povoado medieval até à cidade dos nossos dias, e particularmente dos
séculos XV a XIX.
O que por muitos é classificada como «a mais bem sucedida operação de reabilitação urbana
efectuada em Portugal» começou em 1983 quando a Câmara Municipal, tal como todos os
outros municípios do país, deu início ao Plano Director Municipal (PDM) tendo entregue a
tarefa ao arquitecto paisagista Nuno Portas28 que logo levantou preocupações quanto ao
estado de conservação dos edifícios da área intramuros.
Contrariamente ao que fizeram todos os municípios do país, Nuno Portas recusou a ideia de
atribuir a uma equipa exterior a elaboração de um Plano de Pormenor para o Centro Histórico
e propôs antes a criação de um gabinete municipal que se ocupasse dessa área segundo um
modelo coordenado pela própria equipa do PDM. A autarquia acede ao pedido, solicita a
assessoria de Fernando Távora e chama Alexandra Gesta (recém-licenciada em arquitectura) e
mais dois técnicos ligados á área do urbanismo.
O problema é que só agora se começa a dar conta (por via da necessidade de modificar
regulamentos tendo em vista a concretização dos projectos inscritos em sede da CEC 2012)
que o designado PLANO GERAL DE URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE GUIMARÃES
data do final dos anos 70 do século XX, a última revisão do Plano Director Municipal (PDM)
aconteceu em 1994 e é apenas nessa altura que aparece um documento intitulado
REGULAMENTO DE INTERVENÇÃO NO CENTRO URBANO E HISTÓRICO DE
GUIMARÃES (RICUH) e onde se afirma que «se torna necessário redefinir e formalizar os
processamentos e condicionantes que vêm sendo impostas para a reabilitação dos imóveis da
área», apesar de, por esta altura já se ter procedido á intervenção em diversos edifícios.
28
Um dos defensores dos ideais do que é conhecido como a Escola do Porto, um alegado movimento ligado á
arquitectura contemporânea portuguesa a que se ligaram nomes como os de Fernando Távora, Eduardo Souto
Moura e Siza Vieira e que tem por base as ideias fundamentais do francês Le Corbusier.
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Tal documento estabelece uma série de condicionantes e interdições no que diz respeito á
intervenção em edifícios do Centro Histórico mas comparando o RICUH com o levantamento
fotográfico que se remete em anexo digital com este estudo verifica-se uma série de
disparidades que colocam em causa a tal afirmação de Guimarães ter sido palco da «mais bem
sucedida operação de reabilitação urbana efectuada em Portugal».
A gestão do território do lado autárquico rege-se pelo Plano Director Municipal de Guimarães
e pelo Plano Geral de Urbanização de Guimarães onde estão plasmadas todas as
condicionantes mas não existe qualquer Plano de Gestão concreto para o Centro Histórico de
Guimarães29 nem tampouco um gabinete específico para esta área, estando as competências
autárquicas distribuídas por vários departamentos municipais.
29
A única cidade portuguesa classificada como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO a dispor de um instrumento deste
género é o Porto estando disponível para consulta em http://www.portovivosru.pt/destaque_04.php
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A avaliação mediante uma grelha com base na escala de Likert 31, embora subjectiva, coloca
sérios problemas ao nível do estudo uma vez que do somatório de todos os pontos, o espaço
urbano registou apenas a classificação de satisfatório em dois itens (os parques de
estacionamento e os acessos) enquanto a área do Instituto dos Museus e da Conservação
(IMC) recebe uma apreciação global satisfatória (se exceptuarmos a questão da segurança no
Castelo) e obtém mesmo a classificação de muito bom ao nível dos espaços para exposições
temporárias e de bom ao nível da manutenção, imagem e marketing, tendo sido, aliás o Paço
30
http://www.casfig.pt/empreendimentos.php
31
Disponível em apêndice na versão digital
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dos Duques o único local onde se vislumbrou placas interpretativas e/ou informativas
consonantes com o layout estandardizado da UNESCO.
Registou-se ainda uma visita anónima ao Posto de Turismo da Praça de Santiago onde se
pediu informações sobre a cidade tendo o funcionário disponibilizado um mapa, um guia e
uma agenda cultural da cidade32 onde ressalta sobretudo a venda do projecto CEC 2012 sendo
o símbolo da UNESCO remetido para segundo plano. Note-se, no entanto, que tais elementos
de informação, financiados pela Turismo de Portugal E.P. estavam também disponíveis no
Paço dos Duques onde o manacial informativo existente é francamente superior ao do Posto
de Turismo.
1.4 OS QUESTIONÁRIOS
Posteriormente foram realizados dois questionários escritos on-line 33: um a Vítor Marques, da
Guimarães Turismo, e outro a Tom Fleming, um dos principais impulsionadores do projecto
Norte Criativo da Fundação Serralves e que esteve também na elaboração do projecto Capital
Europeia da Cultura 2012.
Tom Fleming, por exemplo, considera que Guimarães tem uma grande oportunidade com o
projecto CEC 2012 mas adverte que «esta é apenas uma e que uma mudança radical no
repensar do papel da cidade para a região e o papel da cultura na cidade Guimarães vai
perder essa grande oportunidade», por exemplo de enveredar pelo modelo das designada
actividades ligadas às indústrias criativas.
E sobre os novos investimentos a realizar, o investigador não tem dúvidas em afirmar que a
criação de novos espaços urbanos «é um elemento importante como parte de uma
abordagem abrangente» mas considera que «o investimento em talentos é muito mais
importante». Segundo Fleming, a cidade deve ser um meio facilitador para desenvolver
actividades criativas e se os espaços não atingirem essa finalidade não cumprirão os seus
objectivos.
32
Versões pdf disponíveis em anexo na versão digital
33
Disponíveis em apêndice na versão digital
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No entanto, Marques denota alguns problemas nas respostas dadas e por isso colocam-se
sérias dúvidas acerca das informações fornecidas, uma vez que, se por um lado o colaborador
da Câmara Municipal de Guimarães referencia um bom relacionamento entre entidades na
gestão do Centro Histórico e um crescente aparecimento de novas actividades e residentes,
por outro queixa-se da falta de financiamento para a reabilitação dos espaços.
Além disso, Marques referenciou um número algo enigmático: o número de turistas tem
crescido mais de 6 por cento, mas o documento oficial 34 relativo a 2010 evidencia um
decréscimo superior a 21 pontos percentuais
PROCESSO DE PLANEAMENTO
Todos os documentos de planeamento do município estão a ser objecto de revisão e
têm sofrido diversas vicissitudes apesar de a Câmara Municipal garantir que os
processos estarão concluídos em meados de 2011. Além disso, não se detectou uma
verdadeira ligação entre as dezenas de organismos públicos, municipais e nacionais
envolvidas (desde o IGESPAR à Câmara Municipal, passando pelo Turismo de
Portugal) mas antes uma gestão casuística.
PESSOAL E ORÇAMENTO
O Plano Plurianual de Investimentos da Câmara Municipal não tem verbas específicas
destinadas ao Centro Histórico e em termos de recursos humanos estes estão divididos
por diversas divisões e empresas municipais, pelo que se torna quase impossível
detectar quantos funcionários municipais estão afectos directamente á área em causa.
IMAGEM E MARKETING
O material promocional existente identifica principalmente a iniciativa Guimarães –
Capital Europeia da Cultura 2012 e é pago através de fundos exteriores. De igual
modo, o Plano de Marketing realizado há cerca de seis anos para Guimarães nunca
chegou a ser aplicado e não existe merchandising oficial que não apenas o elaborado
pelo Estado no âmbito da Rede Portuguesa de Museus. Os sítios electrónicos, apesar
de já disponibilizarem alguns meios inovadores, como áudio guias e mapas virtuais,
são de difícil consulta e estão em processo de revisão e remodelação.
34
Disponível em anexo na versão digital
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PLANO DE INTERPRETAÇÃO
Apesar de os mapas e guias serão de boa qualidade, colocam problemas ao nível da orientação
da visita, uma vez que o guia da cidade, por exemplo, inclui descrições de lugares como as
Caldas das Taipas e a Citânia de Briteiros (localizadas a mais de 10 quilómetros do centro
urbano). A sinalização é deficiente e, em alguns casos é mesmo inexistente, situação
justificada pelos responsáveis locais com o roubo recente das placas interpretativas do Centro
Histórico.
Os números mais recentes indicam que o Paço dos Duques de Guimarães recebeu, em 2010, a
visita de 290 mil pessoas enquanto os números registados pelos Postos Municipais de
Turismo sinalizaram pedidos de informação de cerca de 70 mil pessoas. Tanto para o
IGESPAR como para a Câmara Municipal de Guimarães estes números estão a corresponder
às campanhas de marketing da cidade.
Para além disto, apesar da Câmara Municipal de Guimarães nunca ter divulgado dados
concretos, são vários os casos de edifícios devolutos, ou mesmo em ruínas, e outros imóveis
do centro histórico à espera de compradores porque perderam os habitantes originais ou até
mesmo a função inicial a que estavam destinados.
Por outro lado, as notícias mais recentes confirmam a preocupação dos responsáveis
autárquicos na crescente deterioração do tecido socioeconómico do centro histórico e do
crescimento de prédios devolutos ou em adiantado estado de degradação.
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IV. CAPÍTULO
CONCLUSÕES
Um estudo como o que foi efectuado necessitava ainda de maior profundidade tanto na
pesquisa e cruzamento de fontes como na realização de um inquérito verdadeiramente
representativo das percepções de visitantes e residentes.
Ao mesmo tempo, apesar de todas as ideias defendidas pelos teóricos que contribuíram para a
elaboração da candidatura de Guimarães a Património Cultural da Humanidade defenderem o
seu bom trabalho, levando o poder político a vender a imagem de que se está perante «o mais
bem sucedido plano de reabilitação urbana alguma vez realizado em Portugal», o cruzamento
com a literatura e os registos efectuados demonstram que Guimarães está a percorrer o mesmo
caminho pelo qual passou a cidade do Porto: classificação como Património da Humanidade –
Capital Europeia da Cultura. O problema poderá estar nos conceitos defendidos pela
designada Escola do Porto, a corrente da arquitectura a que estão ligados nomes como Siza
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Vieira e Fernando Távora, que acaba sempre por partir da acção em centros históricos
degradados para a modificação e implementação de soluções em espaços urbanos
circundantes mas esquece o planeamento da cidade enquanto todo cultural.
Deste modo, não se encontram cumpridas algumas das principais ideias que devem presidir
tanto à preservação do património como à sua conversão em mais-valias para a população
residente o que levanta a questão pertinente de saber se não terá a Câmara Municipal de
Guimarães de repensar a estratégia, aproveitando o facto CEC 2012 para apostar no novo
paradigma da Gestão Cultural do Território que passa pela criação de um único gabinete
multidisciplinar que responda por todo o processo de defesa, salvaguarda, reabilitação,
promoção e dignificação do património edificado.
RECOMENDAÇÕES
Para estudos futuros fica a advertência de que algumas investigações encontradas sobre o
Centro Histórico de Guimarães carecem de fiabilidade e actualidade pelo que importará
avaliar correctamente o que vai restar na cidade berço para lá de 2013.
Além disso, o poder político necessita de rapidamente encontrar uma solução que permitam
corrigir a trajectória seguida pelos pensadores da reabilitação do Centro Histórico de
Guimarães pois que não se pode defender posições extremistas como a de não permitir que
alguns proprietários privados façam obras deixando apenas alguns aspectos marcantes da
memória da cidade, quando a própria autarquia construiu um cubo de betão armado para
alojar a Polícia Municipal em pleno espaço intramuros e decidiu agora que o Largo do Toural
não só vai perder mais uma estátua, como o piso da praça será alvo de uma obra de arte que
irá aproveitar as pedras originais para reproduzir o Casco Histórico.
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NOTA FINAL: todos os apêndices e anexos referenciados no trabalho estão reunidos na versão
digital
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