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Tópico Especial

Programa de Extrações Seriadas:


Uma Visão Ortodôntica Contemporânea
Serial Extraction Program: A Contemporary Orthodontic View

Resumo sitório da dentadura mista (segunda fase do


Ao relembrar a alta incidência de programa de extrações seriadas). A tônica da
apinhamento primário encontrado na extração seriada está em corrigir a discrepân-
população de escolares de primeiro grau de cia de modelo com redução da massa dentária
Bauru – SP (em torno de 50% da população em estágios precoces, visando o bem estar so-
Omar Gabriel Terumi Okada
estudada), o presente artigo traz à tona os cial de pacientes e pais, bem como a redução
da Silva Filho Ozawa conceitos de apinhamento primário temporário do custo biológico normalmente induzido por
e definitivo, nomenclatura sugerida pelo Curso um tratamento ortodôntico corretivo.
de Ortodontia Preventiva e Interceptiva da É compreensível, portanto, a importância
Sociedade de Promoção Social do Fissurado atribuída pelo artigo à redução precoce e
Lábio-Palatal (PROFIS), em Bauru e, programada da massa dentária, muito embora
finalmente, discorre sobre uma das formas de a correção precoce não assegure estabilidade
tratamento precoce da discrepância dente x perene. Sendo assim, a recidiva, inegável e
Araci Malagodi Patrícia osso negativa – o programa de extrações inconteste, não deve servir de parâmetro para
de Almeida Zambonato
Freitas seriadas. a planificação e tampouco para a crítica de um
O artigo retrata e prestigia o procedimento procedimento ortodôntico.
terapêutico conhecido como “programa de ex-
trações seriadas” para a correção do CONSIDERAÇÕES SOBRE O
apinhamento primário e secundário de caráter APINHAMENTO PRIMÁRIO
genético (discrepância real entre a massa Uma recente pesquisa epidemiológica
dentária e a base óssea). Os autores prescre- realizada em escolares da cidade de Bauru,
vem didaticamente as extrações em dois está- no estágio de dentadura mista35, compro-
gios terapêuticos distintos: a extração de den- vou a grande incidência de apinhamento
tes decíduos no primeiro período transitório da primário nesta população. 52% das crian-
dentadura mista (primeira fase do programa ças mostraram apinhamento primário,
de extrações seriadas) e a extração de dentes constituindo problema preponderante de má
permanentes durante o segundo período tran- oclusão na dentadura mista. Se há, porém,

Omar Gabriel da Silva Filho *


Terumi Okada Ozawa*
Palavras-chave: Araci Malagodi de Almeida*
Extrações seriadas; Patrícia Zambonato Freitas*
Má oclusão;
Dentadura mista. * Ortodontistas do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP),
Bauru-SP.

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consenso quanto à grande incidên-
cia, controverte-se muito sobre suas
causas e soluções. Em face dos con-
flitos filosóficos surgidos acerca da
terapêutica, acirrou-se a necessida-
de de se diferenciar objetivamente
aquele apinhamento que necessita
de tratamento precoce. É, por certo, 1.1 1.2
a pergunta que todos os odontólo-
gos conscientes se fazem. Ademais,
quando indicado o tratamento, qual
a melhor forma de atuar: redução
da massa dentária ou aumento do
perímetro do arco dentário?
O assunto ganhou um artigo re-
cente com o título “Apinhamento
primário temporário e definitivo: 1.3 1.4
diagnóstico diferencial”36. É, assim,
um artigo que discorre sobre a ex-
periência do curso de Ortodontia
Preventiva e Interceptiva da Socie-
dade de Promoção Social do
Fissurado Lábio-Palatal (PROFIS),
em Bauru, com o tratamento
interceptivo do apinhamento primá-
rio, oferecendo ao profissional base 1.5 1.6
razoável para uma decisão terapêu- FIGURA 1 - O diagnóstico de “apinhamento primário temporário” implica em
tica racional. Em pauta está a dife- correção espontânea da irregularidade nos incisivos. Na presente ilustração, o
problema centra-se no arco dentário inferior. Nos dois anos de acompanha-
renciação entre apinhamento pri- mento (1997 a 1999), os incisivos inferiores alinharam-se espontaneamente,
mário temporário, o autocorrigível, descartando a necessidade de tratamento.
e apinhamento primário definitivo,
aquele que necessita de intervenção nas controles periódicos. O acom- do o apinhamento passa a represen-
terapêutica. panhamento significa o adiamento tar flagrante demonstração de má
de condutas terapêuticas enquanto oclusão. O apinhamento de magni-
APINHAMENTO PRIMÁRIO se aguarda por uma transformação tude maior, com incisivos distantes
TEMPORÁRIO das mais importantes, que é o au- da linha do rebordo alveolar, recebe
O mencionado artigo 36 sustenta mento espontâneo das dimensões o nome de apinhamento primário
que irregularidades de pequena transversais e sagital dos arcos den- definitivo, já que não se comporta
magnitude, com os incisivos próxi- t á r i o s 1,3-6,13,15,17,23-25,27,30-33,37,38. como o apinhamento temporário,
mos da linha do rebordo alveolar, Essas alterações dimensionais ocor- permanecendo irresoluto. O quadro
se diluem com o passar do tempo e, rem durante e imediatamente após sinóptico 1 resume a classificação
por isso mesmo, fazem parte do de- o primeiro período transitório da conceitual do apinhamento primá-
senvolvimento normal da oclusão. dentadura mista e confluem para o rio.
A figura 1 ilustra bem este conceito aumento do perímetro dos arcos Uma vez identificado o apinha-
ao mostrar a correção espontânea dentários. Enfim, o aumento do pe- mento primário definitivo, o diagnós-
do apinhamento primário, sobretu- rímetro do arco dentário confere ao tico diferencial para o tipo de aborda-
do no arco dentário inferior 2,16,36 , apinhamento primário temporário o gem terapêutica depende, entre outros
no transcurso do primeiro período seu caráter de temporariedade. fatores, da morfologia dos arcos den-
transitório e período inter-transitó- tários. O apinhamento atribuído à
rio da dentadura mista. Essa irre- APINHAMENTO PRIMÁRIO discrepância entre o tamanho dentá-
gularidade foi batizada de apinha- DEFINITIVO rio e a morfologia dos arcos dentári-
mento primário temporário, partin- Por outro lado, preocupado em os denota uma etiologia não genéti-
do-se da premissa de que não de- fixar limites, o artigo aludido 36 é a ca, sugerindo a designação de api-
manda tratamento, merecendo ape- favor de intervir precocemente quan- nhamento primário definitivo

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2.1 2.2 2.3

FIGURA 2 – Exemplificação do “api-


nhamento primário definitivo
ambiental”. A atresia dos arcos den-
tários superior e inferior sugere dis-
crepância entre tamanho dos dentes
e morfologia dos arcos dentários, con-
ferindo à irregularidade o diagnóstico
de apinhamento primário definitivo de
caráter ambiental (2.1 a 2.5).

2.4 2.5

2.6 2.7 2.8

FIGURA 2 – A atresia dos arcos den-


tários foi corrigida (2.6 a 2.10) no arco
superior com expansão rápida da
maxila (aparelho expansor fixo tipo
Haas) e, no arco inferior, com expan-
são lenta (placa lábio-ativa aberta),
diluindo assim, o apinhamento primá-
rio. Durante todo o segundo período
transitório, a placa lábio-ativa conte-
ve o aumento transverso e preservou
o “leeway space” no arco dentário in-
ferior (2.11 a 2.15). 2.9 2.10

2.11 2.12 2.13

2.14 2.15

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ambiental. A presença da atresia pro- No extremo oposto desta linha de ra- mista. De fato, existem nuanças nesta
põe mecânicas expansionistas, ori- ciocínio expansionista vigora o consagra- dualidade que exigem experiência, bom
entadas transversalmente, que alte- do “programa de extrações seriadas” (fig. senso e argúcia para uma decisão tera-
ram a morfologia dos arcos dentári- 3) como recurso terapêutico para elimi- pêutica acertada.
os ao aumentarem suas dimensões nação do apinhamento primário. A con- Certos preconceitos renitentes e al-
transversais. Neste caso, a correção duta extracionista está indicada quando gumas vezes infundados sobre a redu-
do apinhamento é planejada com a discrepância dente x osso negativa ex- ção da massa dentária em estágio preco-
aumento do perímetro do arco den- plica-se pela incompatibilidade entre o ce, no afã de corrigir o apinhamento pri-
tário e não com a redução da massa tamanho dentário e o tamanho real da mário na dentadura mista, são respon-
dentária 22. Comprove o aumento da massa óssea, etiologia vinculada ao códi- sáveis pela descrença de alguns ortodon-
largura e perímetro dos arcos dentá- go genético (apinhamento primário defi- tistas e ortopedistas funcionais na filo-
rios, induzido pela expansão trans- nitivo genético). No planejamento orto- sofia de um programa de extrações seri-
versal, na figura 2. dôntico para tratamento do apinhamen- adas e deixam os céticos com uma visão
Os oposicionistas da expansão dos to primário definitivo genético, os dispo- mais pessimista do que realmente reco-
arcos dentários argumentam que qual- sitivos expansionistas cedem lugar à re- mendariam os resultados16.
quer mudança na morfologia do arco dução programada da massa dentária7- O presente texto defende um
dentário, na melhor das hipóteses, 11,14,19-21,26,29,34,39
. programa clássico de extrações seriadas,
está fadada à recidiva pós-tratamen- Excetuando o apinhamento primá- que ganhou tanto espaço quanto
to. Longe de querer contestar tal con- rio temporário, que tem vocação para a adjetivações na literatura entre as
vicção, é bom ter em mente que a reci- autocorreção, a diferenciação terapêuti- décadas 50 e 707-11,14,19-21,26,29,39 para
diva é uma constante mesmo em me- ca entre os apinhamentos genético e o tratamento do apinhamento primário
cânicas que preservam a morfologia ambiental evoca o grande debate ideoló- definitivo genético, e descreve um
inicial dos arcos dentários. Portanto, gico “extração versus não extração”, que protocolo terapêutico metódico e
não serve como parâmetro para defi- tem empolgado a história da ortodontia racional que visa obter o melhor e
nir conduta terapêutica. e é antecipada aqui para a dentadura amortecer os seus piores aspectos.

3.1 3.2 3.3

3.4 3.5 3.6

3.7 3.8

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3.9 3.10 3.11

3.12 3.13 3.14

3.15 3.16 3.17


FIGURA 3 – Um programa de extrações seriadas inicia-se com a eliminação de dentes decíduos no primeiro período transitório da
dentadura mista (3.1 a 3.3). Os apologistas desta abordagem precoce argumentam ser um procedimento operacional simples que
favorece o alinhamento espontâneo dos incisivos permanentes na linha do rebordo alveolar (3.4 a 3.8). Apesar do alinhamento precoce
que prossegue à extração dos dentes decíduos, há uma decisão importante a ser tomada durante o segundo período transitório da
dentadura mista (3.9): a extração de pré-molares, constituindo a segunda fase de um programa de extrações seriadas (3.10). A
extração, neste caso dos primeiros pré-molares, resolveu o apinhamento secundário latente (3.11 a 3.15). A placa de levantamento de
mordida (3.16, 3.17), instalada durante o segundo período transitório, ajuda a melhorar o problema vertical agravado num programa de
extrações seriadas.

Quadro sinóptico 1:
Diferenciação conceitual do apinhamento primário
Apinhamento primário
Diagnóstico morfológico diferencial e vertentes terapêuticas
Temporário Autocorrigível
Apinhamento Primário
Genético Mecânica extracionista
Definitivo
Ambiental Mecânica expansionista

EXTRAÇÕES SERIADAS: tradas na literatura. Na prática, um intento de reposicionar os dentes ad-


DEFINIÇÃO programa de “extrações seriadas” jacentes em direção ao espaço da ex-
Na concepção literal, a denomina- compreende a redução eletiva da mas- tração.
ção “extrações seriadas”, a propósi- sa dentária a partir do início da den- O programa de extrações seriadas
to, resume a prática sugerida: extra- tadura mista, seguindo uma seqüên- está indicado para as más oclusões
ções dentárias em série ou sucessi- cia estratégica pré-determinada, em de Classe I com discrepância dente x
vas, obviamente com finalidade orto- época oportuna, almejando o alinha- osso negativa, quando não há indi-
dôntica. Talvez por isso essa desig- mento imediato, de preferência espon- cação para expansão dos arcos den-
nação (“extrações seriadas”) tem se tâneo, dos dentes permanentes rema- tários ou quando a expansão, por-
mantido ao longo de quase um sécu- nescentes. Na essência, envolve sub- ventura indicada, não é suficiente
lo, a despeito das inúmeras sugestões tração de dentes, inicialmente para criar perímetro de arco compatí-
de mudança de nomenclatura encon- decíduos e então permanentes, no vel com a massa dentária existente.
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Quadro sinóptico 2:
Estágios operacionais de um programa de extrações seriadas
Extrações seriadas: estágios terapêuticos e seus objetivos
1ª Fase Época Objetivo
Exodontia 1º Período Transitório Eliminar apinhamento
52, 62, 72, 82, 53, 63, 73, 83 Dentadura Mista primário
2ª Fase Época Objetivo
Exodontia 2º Período Transitório Eliminar apinhamento
14, 24, 34, 44 Dentadura Mista secundário

Classicamente, um programa de com o primeiro período transitório da movimentação dos incisivos se faz
extrações seriadas identifica-se com dentadura mista, onde se realizam as mais veloz quando o espaço é
relação basal de Classe I, visto que tal extrações de dentes decíduos – incisi- cedido durante a fase ativa desses
procedimento foi idealizado com o vos laterais e caninos – com o intuito dentes (fig. 4). Portanto, os
propósito de diluir o apinhamento, sem de promover o alinhamento dos incisi- incisivos laterais decíduos devem ser
mecanoterapia. Porém, isto não quer vos permanentes (fig. 4 e 5). Por en- extraídos logo após a confirmação do
dizer que o conceito do programa de volver extração apenas de dentes diagnóstico de apinhamento primário
extrações seriadas não possa ser decíduos, esta fase é considerada “re- definitivo de caráter genético, antes
aplicado com o objetivo de conciliar a versível” em termos de integridade fu- do término da irrupção ativa dos
massa dentária ao suporte ósseo tura do arco dentário. A segunda fase incisivos centrais permanentes.
disponível, depois de bem planejado, do programa de extrações seriadas co- Seguindo este raciocínio, os caninos
em padrões esqueléticos de Classe II incide com o segundo período transi- decíduos devem ser eliminados após
ou Classe III, ou mesmo nas tório da dentadura mista e constitui a o surgimento e ainda durante a fase
discrepâncias verticais. Nestes casos, fase crítica, já que extrai dentes per- de irrupção ativa dos incisivos
existem mecanoterapias específicas manentes – quase sempre os primeiros laterais permanentes. A extração dos
planejadas em conformidade com os pré-molares – sendo, portanto, caninos decíduos só deve ser
desvios morfológicos diagnosticados, irreversível (fig. 6). antecipada diante da impacção dos
e o prognóstico de tratamento depende incisivos laterais permanentes,
muito menos da discrepância dente x PRIMEIRA FASE normalmente identificada no exame
osso do que do comportamento Um programa de extrações seria- radiográfico mediante a rizólise
esquelético. das inicia-se durante o primeiro perío- atípica da superfície mesial da raiz de
Do ponto de vista operacional, o do transitório da dentadura mista, após um ou ambos os caninos decíduos.
programa de extrações seriadas o diagnóstico do apinhamento primá- Em estágio mais avançado, tal
representa, conceitualmente, um rio definitivo genético (quadro sinóptico impacção pode provocar a esfoliação
procedimento de ortodontia preventiva 1). A seqüência de extrações da pri- espontânea do canino decíduo.
quando as extrações dentárias são meira fase pode ser sintetizada na ex- Atitudes de bom senso consagram
efetuadas antes da definição completa tração dos incisivos laterais decíduos a correção ou preservação da linha
do apinhamento primário e secundário, para criar, de imediato, o espaço exigi- média dentária durante a primeira
como destacam as figuras 3, 4, 5 e 6. do para o alinhamento dos incisivos fase de um programa de extrações
Neste caso, as extrações programadas centrais permanentes, seguida pela seriadas. Assim, como parece lógico,
redirecionam a irrupção dos dentes. extração dos caninos decíduos, para a extração simultânea ou assimétrica
Entretanto, a redução da massa providenciar condições de alinhamen- dos caninos decíduos deve levar em
dentária durante o estágio de dentadura to dos incisivos laterais permanentes. consideração o comportamento da
mista, após a manifestação completa Resolve-se o déficit de espaço nesta pri- linha média dentária.
do apinhamento primário, define-se meira fase através da eliminação de Como conseqüência da extração
como um procedimento de ortodontia dentes decíduos apenas, jogando o pro- antecipada dos caninos decíduos, os
interceptiva. blema para distal e adiando a resolu- incisivos permanentes inclinam-se
ção definitiva para o segundo período para lingual em concomitância com o
ESTÁGIOS TERAPÊUTICOS transitório da dentadura mista. seu alinhamento no rebordo alveolar,
Operacionalmente, o protocolo de A tendência dos incisivos provocando um aumento do trespasse
extrações seriadas estende-se por um permanentes após a extração dos vertical. A inclinação lingual dos
período longo de tempo e envolve duas dentes decíduos é movimentar-se incisivos pode ser evitada com a
fases distintas, resumidas no quadro espontânea e imediatamente em utilização de um arco lingual de Nance
sinóptico 2. A primeira fase coincide direção ao espaço originado. A logo após a correção do apinhamento

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4.1 4.2 4.3

4.4 4.5 4.6

4.7 4.8 4.9

4.10 4.11

4.12 4.13 4.14


FIGURA 4 – Quando tem a oportunidade, o profissional inicia a correção do apinhamento primário genético a partir da sua
manifestação, ou seja, no primeiro período transitório da dentadura mista (4.1 a 4.3). A extração dos incisivos laterais e
caninos decíduos (primeira fase de um programa de extrações seriadas) gera o espaço que os incisivos permanentes
necessitam para o alinhamento no rebordo alveolar (4.4 a 4.14). Observa-se neste acompanhamento de dois anos que os
incisivos superiores e inferiores tendem a se posicionarem no centro do rebordo alveolar, sem ajuda mecânica. O propósito
é aguardar esse alinhamento espontâneo, que pode demandar até 2 anos.

ou pode ser corrigida com a mecânica após a primeira fase do programa de negativa, maior a possibilidade de
ortodôntica corretiva aplicada na extrações seriadas depende da extração de dentes na segunda fase do
dentadura permanente completa. A quantidade de discrepância dente x programa de extrações seriadas e
indicação do arco lingual de Nance osso. Quanto maior a discrepância menor a indicação de um arco lingual.

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A preferência pelo uso do arco lingual
na dentadura mista recai sobre aque-
les casos limítrofes, onde existe dúvi-
da quanto à indicação da extração dos
dentes permanentes. Quanto à presen-
ça da sobremordida, esta realmente não
nos preocupa nas fases iniciais da
5.1 5.2 dentadura mista. Como regra geral,
planejamos a correção da sobremordi-
da profunda a partir do segundo perí-
odo transitório, quando está indicada
uma placa de levantamento de mordi-
da anterior (fig. 3, 6 e 9), ou na den-
tadura permanente quando a correção
da sobremordida envolve intrusão dos
dentes anteriores.
5.3
SEGUNDA FASE
Na maioria das vezes, a necessi-
dade de extração de dentes permanen-
tes na segunda fase do programa de
extrações seriadas só se confirmará
após a irrupção do primeiro pré-molar.
Como regra, o pré-molar só é extraído
após a sua irrupção na cavidade bu-
cal. Não indicamos a germectomia,
5.4 5.5
como pode ser constatado na sequên-
FIGURA 5 – A primeira fase do programa de extrações seriadas reflete a busca cia radiográfica longitudinal da figu-
pelo alinhamento precoce e espontâneo dos incisivos permanentes. A avalia-
ção morfológica da relação dente-osso no período inter-transitório da dentadu- ra 7. Este período incita-nos a um
ra mista (5.1 a 5.5) visa quantificar a deficiência dente-osso real. A grande reexame da discrepância dente x osso,
proximidade dos incisivos laterais em relação aos primeiros molares decíduos
inviabiliza uma mecânica expansionista para correção da deficiência de espaço levando-se em consideração as condi-
latente (apinhamento secundário). De um modo geral, quanto maior a proxi- ções de espaço na região retromolar in-
midade entre os incisivos laterais permanentes e os primeiros molares decíduos,
maior é a chance de extração de dentes permanentes no segundo período
ferior para a irrupção plena dos segun-
transitório da dentadura mista. dos molares permanentes (fig. 8),

6.1 6.2 6.3

6.4 6.5 6.6

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6.7 6.8 6.9

6.10 6.11 6.12

6.13 6.14

6.15 6.16 6.17

6.18 6.19 6.20

6.21 6.22 6.23

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6.24

6.25 6.26

T.S.N.
6.27 28/12/94

FIGURA 6 – Um programa de extrações seriadas, por não


envolver mecânica e nem suscitar alterações ortopédicas, está
indicado tradicionalmente para as más oclusões de Classe I
com apinhamento (6.25 a 6.30). Quando conveniente, e ge-
ralmente no arco dentário inferior, a extração dos primeiros
molares decíduos acelera a irrupção dos primeiros pré-mola-
res (6.1 a 6.4) para a sua subseqüente extração (6.5 a 6.11).
No arco dentário superior, o pré-molar freqüentemente irrompe
antes do canino (6.12). A extração do primeiro pré-molar,
imediatamente após a sua irrupção clínica, favorece a irrupção
do canino na linha do rebordo alveolar (6.13 a 6.17). Se não
houver intercorrências maiores, o tratamento ortodôntico cor-
retivo deve ser iniciado somente após a irrupção dos segun-
dos molares permanentes. A placa de levantamento de mor-
dida controla a sobremordida quando não houver contra-in-
dicação para a extrusão dos dentes posteriores (6.18 a 6.20).
As irregularidades persistentes, frutos do programa de extra-
ções seriadas, são facilmente contornadas (6.21 a 6.24) com
a mecanoterapia ortodôntica corretiva. Parece claro, median-
te as fotografias faciais finais (6.25 a 6.27) e os traçados
cefalométricos (6.28 a 6.30), que as extrações não interfe- 6.28
rem no padrão facial ou no crescimento espontâneo da face.

T.S.N. 28/12/94
06/04/99 06/04/99

6.29 6.30

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7.1 7.2

7.3 7.4

7.5 7.6

7.7 7.8

FIGURA 7 – O acompanhamento radiográfico (radiografias panorâmicas) durante 7 anos flagra: apinhamento primário
(7.1), exodontia de caninos decíduos (7.2), alinhamento dos incisivos permanentes (7.2, 7.3), apinhamento secundário
(7.4), exodontia dos primeiros pré-molares inferiores (7.5) e superiores (7.6), alinhamento dos caninos permanentes e
segundos pré-molares (7.6) e irrupção dos segundos molares permanentes inferiores (7.7) e superiores (7.8).

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8.1

8.2

8.3

FIGURA 8 – A seqüência radiográfica, com foco na região problema (apinhamento primário) e na região distal do arco
alveolar (região retromolar), registra o alinhamento espontâneo dos incisivos e caninos permanentes, bem como a
irrupção completa dos segundos molares ao longo de um programa de extrações seriadas.

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9.1 9.2 9.3

FIGURA 9 – Má oclusão de Classe I com


discrepância dente-osso negativa. O api-
nhamento de caráter genético reflete a
discrepância negativa entre a massa
dentária e a base óssea (9.1-9.5). A
extração dos caninos decíduos superio-
res e inferiores constitui a fase reversí-
vel do programa de extrações seriadas
(9.6, 9.7). O alinhamento dos incisivos
neste caso foi conseguido com o
nivelamento 4X2, após a extração dos
caninos decíduos e a completa irrupção 9.4 9.5
do dente 32. No período inter-transitó-
rio da dentadura mista, os incisivos en-
contram-se bem posicionados, devol-
vendo a estética (9.8-9.10). A proximi-
dade entre os incisivos e os dentes pos-
teriores (9.11, 9.12) assegura a futura
extração de dentes permanentes (se-
gunda fase de um programa de extra-
ções seriadas). Durante o segundo pe-
ríodo transitório, a extração dos primei-
ros pré-molares antes da irrupção dos
caninos vem acompanhada da placa de
levantamento de mordida (9.13-9.15). 9.6 9.7

9.8 9.9 9.10

9.11 9.12

9.13 9.14 9.15

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9.16 9.17 9.18

9.19 9.20 9.21

9.22 9.23

9.24 9.25 9.26

FIGURA 9 – A eliminação dos primeiros pré-molares, com os caninos em posição intra-óssea, induz estes (caninos) a
ocupar o lugar daqueles (pré-molares) no rebordo alveolar (9.16-9.18). Ao final de 4 anos de acompanhamento, a
condição oclusal retrata o que se propôs a partir da adoção de um programa de extrações seriadas: o alinhamento
espontâneo dos dentes permanentes restantes (9.19-9.23). A extração de dentes permanentes criou condições no
espaço retromolar para a irrupção completa dos segundos molares permanentes (9.24-9.26). As fotografias intrabucais
finais desvelam a normalidade da oclusão alcançada apenas com um programa de extrações seriadas.

a posição vestíbulo-lingual dos incisi- em direção ao alvéolo vazio, como se dentário inferior é mais propenso às
vos na sínfise mentoniana e a morfo- fosse um túnel biológico para a sua variações irruptivas, onde o canino
logia dos arcos dentários. irrupção. Mas isto só funciona antecede a irrupção do primeiro pré-
É imperativo que a extração do quando o canino encontra-se dentro molar com mais freqüência. Nesta cir-
pré-molar se faça antes da irrupção do osso alveolar no momento da cunstância, é aconselhável interferir
do canino permanente, daí uma das extração do primeiro pré-molar. na velocidade de irrupção do pré-mo-
fortes justificativas para a exodontia No arco dentário superior, a se- lar, acelerando-a com a extração do
rotineira do primeiro ao invés do qüência de irrupção mais freqüente primeiro molar decíduo cor-
segundo pré-molar. A exodontia do durante o segundo período transitó- respondente.
primeiro pré-molar favorece a rio (o primeiro pré-molar superior an- A esfoliação dos molares decíduos
movimentação do germe do canino tecedendo o canino) favorece o pro- e a irrupção dos sucessores perma-
permanente dentro do osso alveolar grama de extrações seriadas. O arco nentes constituem fenômenos

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10.1 10.2 10.3

10.4 10.5 10.6

10.7 10.8 10.9

FIGURA 10 – As irregularidades
oclusais vão se evidenciando ao lon-
go do segundo período transitório
(10.1-10.6). Estas irregularidades
podem ser corrigidas com um trata-
mento ortodôntico corretivo convenci-
onal, que aconselhamos ser instituí-
do após a dentadura permanente
completa (10.7-10.11).

10.10 10.11

biológicos distintos, porém inter-de- passa o germe do primeiro pré-molar, são lenta dos dentes posteriores. Em
pendentes. Os molares decíduos dificultando o programa de extrações padrões dolicofaciais, onde a extru-
esfoliam, em regra, quando as raízes seriadas. são dos dentes posteriores não cons-
dos pré-molares alcançam cerca de 3/ A sobremordida constitui uma se- titui conduta coerente, a correção da
4 de formação. Entretanto, sabe-se qüela recorrente do programa de ex- sobremordida deve ser obtida com o
que alguns fatores de ordem local po- trações seriadas, que pode e deve ser tratamento ortodôntico corretivo na
dem acelerar a velocidade de irrupção contornada a partir do segundo pe- dentadura permanente madura, ou
dentária do pré-molar sem, no entan- ríodo transitório. Um dos recursos seja, após a irrupção dos segundos
to, alterar a sua velocidade de disponíveis para o controle da sobre- molares.
rizogênese, como por exemplo, pro- mordida profunda consiste numa pla-
cessos inflamatórios causados por ca de levantamento de mordida adap- DISCUSSÃO
cárie no dente decíduo predecessor12. tada no arco dentário superior, se for Este capítulo sintetiza em 7 tópi-
Baseado neste comportamento, é pos- permitida a extrusão dos dentes pos- cos uma reflexão, pautada pelo co-
sível administrar a velocidade de ir- teriores. A placa de levantamento de nhecimento da literatura clássica e
rupção do pré-molar na boca com a mordida deve ser instalada no segun- principalmente pela experiência dos
extração antecipada do primeiro mo- do período transitório da dentadura autores, sobre os aspectos positivos e
lar decíduo. Isso acontece quando, na mista, logo após a exodontia dos pré- negativos que gravitam em torno do
imagem radiográfica, o canino ultra- molares, favorecendo assim a extru- secular procedimento designado
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“programa de extrações seriadas”. Pre- cial dos caninos, no caso de extração nhamento, embora em menor mag-
valece na discussão o tom otimista que de pré-molares na dentadura perma- nitude que o apinhamento inicial.
permeia todo o texto, reconhecendo nente. Contudo, não eliminam a ne- Os resultados deste trabalho de pes-
que o profissional mais capacitado para cessidade de tratamento ortodôntico quisa lançam recados de advertên-
conduzir este procedimento é o orto- corretivo na dentadura permanente, cia do tipo “não esperem estabili-
dontista, e colocando o programa de que visa a resolução de irregularida- dade permanente mesmo quando
extrações seriadas no contexto coerente des na inclinação mésio-distal dos extrações terapêuticas precedem o
de um tratamento parcial, que deve ser dentes adjacentes ao espaço da ex- apinhamento”.
complementado com a ortodontia cor- tração, sobremordida profunda persis- LITTLE et al.18, em 1990, avaliaram
retiva, de preferência na dentadura per- tente, diastemas remanescentes, a estabilidade pós-tratamento após 10
manente. torques alterados e rotações. anos da retirada da contenção de 30
1. A ordenada seqüência de exo- 4. Um programa de extrações se- pacientes que passaram por um progra-
dontias que compõe um programa de riadas elimina a discrepância de mo- ma de extrações seriadas na dentadura
extrações seriadas, planejada em com- delo e não acarreta mudanças no pa- mista, complementado com ortodontia
passo com o desenvolvimento da oclu- drão facial, estando portanto contra- corretiva na dentadura permanente, e
são e, por isso mesmo, de longa dura- indicado para resolver discrepâncias que usaram contenção pós-tratamento
ção, tem a seu favor a correção preco- esqueléticas de Classe II e Classe III, durante pelo menos dois anos. Os auto-
ce do apinhamento dentário, a partir bem como as discrepâncias cefalomé- res concluíram que o alinhamento
do primeiro período transitório da den- tricas, como a protrusão dentária. Em ântero-inferior era insatisfatório e que
tadura mista. Ao elevar a auto-estima princípio, um programa de extrações 95% da amostra estudada (29 dos 30
do paciente com as transformações es- seriadas está indicado para a má oclu- pacientes) mostraram redução na lar-
téticas suscitadas, causa um inconteste são de Classe I com discrepância den- gura inter-caninos e no comprimento do
impacto social positivo. Reveste-se de te x osso negativa. arco dentário.
aura beneficente por ser, sem dúvida, 5. Já que um programa de extra- Deve-se dar muita atenção às
a opção terapêutica mais economica- ção seriada proporciona alinhamen- conclusões destes dois trabalhos18,28,
mente acessível à maioria da popula- to espontâneo e precoce dos dentes pois o fato é que eles colocam em pé
ção, e isso explica o seu prestígio entre permanentes, torna-se pertinente a de igualdade a condição pré-trata-
os odontólogos da saúde pública. Mas, pergunta: qual a estabilidade a lon- mento, a longo prazo, do apinha-
independentemente da acessibilidade go prazo do alinhamento na região mento corrigido somente com extra-
econômica, também reduz a complexi- anterior, sabidamente instável? O ções programadas e do apinhamen-
dade na futura realização do tratamento que se sabe é que um programa de to corrigido com extrações progra-
ortodôntico na dentadura permanen- extrações seriadas pode ter grande madas e refinado com mecânica or-
te, revestindo-se, neste aspecto, de aura valia na busca da correção da dis- todôntica.
tecnológica. Essas deduções corrobo- crepância dente x osso negativa. Portanto, ao contrário do que se
ram os inegáveis méritos de um pro- Mas, curiosamente, em termos de possa pensar, a estabilidade pós-tra-
grama de extrações seriadas na esfera estabilidade pós-tratamento a lon- tamento não pode ser considerada um
de saúde pública e na clínica privada, go prazo, a literatura registra que trunfo para se defender um programa
tornando este procedimento terapêuti- seus resultados não diferem do tra- de extrações seriadas. Os artigos re-
co presente e premente numa era de tamento ortodôntico convencional cém mencionados apontam para a re-
tanta pesquisa e desenvolvimento na dentadura permanente. A título cidiva, opinião que compartilhamos
tecnológico. de ilustração, vale relembrar dois plenamente. Na realidade, torna-se
2. As extrações seriadas favo- exemplos da literatura. obrigatório registrar aqui que não se
recem a auto-correção precoce do PERSSON et al.28, em 1989, ava- pauta um planejamento ortodôntico na
apinhamento dentário, amenizan- liaram as alterações espontâneas a estabilidade pós-tratamento, e sim na
do os custos biológicos da movi- longo prazo após a aplicação de um compreensão da harmonia morfoló-
mentação dentária induzida em programa de extrações seriadas gica imediata.
idade mais avançada. Portanto, para a correção de más oclusões de 6. Um programa de extrações
têm o ambicioso objetivo de corri- Classe I com apinhamento. Fizeram seriadas distingue-se pela habilida-
gir a má oclusão sem nenhum dis- parte do estudo 42 pacientes que de de dissolver o apinhamento pri-
positivo mecânico. submeteram-se a um programa de mário e secundário antes que a oclu-
3. Ainda, reduzem o impacto me- extrações seriadas, sem tratamen- são alcance o estágio de dentadura
cânico da ortodontia corretiva ao eli- to ortodôntico subsequente. Aos 30 permanente, mas é incapaz, por si,
minar um passo terapêutico do trata- anos de idade, a maioria dos pa- de devolver a normalidade oclusal
mento corretivo: a fase da retração ini- cientes demonstrou recidiva do api- exigida pelo rigor ortodôntico. Todos

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que o praticam sabem que um pro- cia e nem reduzem o entusiasmo dos irruptivos e dimensionais que se su-
grama de extrações seriadas vem adeptos do programa de extrações se- cedem ao longo da dentadura mista,
acompanhado dos previsíveis efeitos riadas, visto que eles podem ser cor- bem conhecidos do ortodontista,
colaterais, naturalmente indesejá- rigidos, mais cedo ou mais tarde, no preocupamo-nos em traçar com cla-
veis e tanto menores quanto maior tempo devido, dependendo da relação reza, objetividade e simplicidade o en-
for a discrepância dente x osso ini- custo-benefício individual. O êxito da foque mecânico durante um progra-
cial, diga-se de passagem. A figura oclusão final exposta na figura 10 re- ma de extrações seriadas:
9, por exemplo, surpreende-nos com sulta da mecanoterapia corretiva apli- A) Nivelamento 4X2 quando se fi-
resultados oclusais esplêndidos al- cada na dentadura permanente com- zer necessário. Essa mecânica não
cançados com um programa de ex- pleta após a finalização de um tradi- deve ultrapassar 6 meses de trata-
trações seriadas sem mecanoterapia cional programa de extrações seria- mento.
corretiva subseqüente. Mas, reco- das. B) Ancoragem com aparelhos pre-
nheçamos, isso é raridade. Como re- 7. Uma outra vertente negativa ferencialmente fixos, como arco lin-
gra geral, uma ou mais das seguin- que desperta a atenção da comuni- gual para o arco dentário inferior e
tes caracteríticas clínicas costumam dade odontológica é o período dema- barra transpalatina para o arco den-
estar presentes na dentadura perma- siadamente longo de acompanha- tário superior, no intuito de evitar a
nente após um programa de extra- mento, já que o profissional depen- redução no comprimento do arco. Está
ções seriadas: a) sobremordida pro- de do ritmo evolutivo da dentadura indicada somente em duas situações
funda, b) diastemas residuais adja- mista que, em média, dura 6 anos. específicas: nos casos limítrofes,
centes aos espaços da extração, c) Por outro lado, a simplicidade da onde há dúvida sobre a extração de
rotação mésio-lingual dos dentes abordagem terapêutica contrapõe-se dentes permanentes, e nas deficiên-
distais aos espaços da extração, d) ao fator tempo e revigora a intenção cias grandes, onde a perda de compri-
rotação disto-lingual dos caninos, e) compreensível de postergar ao má- mento de arco pode comprometer o
inclinação axial mésio-distal incor- ximo a instalação de mecanoterapia alinhamento dos dentes remanescen-
reta dos dentes adjacentes aos espa- ativa, como importante fundamen- tes.
ços da extração, com inclinação da to para uma boa finalização. Essa, C) Placa de levantamento de
coroa em direção ao espaço da ex- digamos, responsabilidade ética, re- mordida a partir do segundo perío-
tração e, finalmente, f) inclinação duziria os honorários de um atendi- do transitório da dentadura mista,
axial vestíbulo-lingual (torque) in- mento privado e evitaria a satura- após a exodontia dos pré-molares,
correto dos incisivos superiores e in- ção por parte do paciente com mecâ- quando for possível controlar a so-
feriores, com a coroa inclinada para nicas que a longo prazo não se jus- bremordida com a extrusão dos den-
lingual (torque lingual) . tificam. tes posteriores. Torna-se oportuno
Por conta destes efeitos, um pro- Baseado nos eventos biológicos comentar que a placa de levanta-
grama de extrações seriadas, quando mento de mordida deve ser mantida
aplicado na clínica privada, deve ser na boca até a irrupção dos segun-
finalizado com a adoção de uma me- dos molares, no afã de reduzir o
cânica ortodôntica corretiva, voltada potencial de recidiva da correção da
para posicionar os dentes nas suas sobremordida.
relações intra-arcos e inter-arcos ade- A obediência a esses princípios
quadas. Essa mecanoterapia correti- pode reduzir ao mínimo os inconve-
va deve ser instituída, se nenhuma nientes de um programa de extrações
eventualidade justificar sua anteci- seriadas que, por pior que possam ser,
FIGURA 11 – A irupção dos caninos per-
pação, após a irrupção completa dos manentes superiores em infra-mésio- estão longe do impacto negativo cau-
segundos molares, sobretudo os infe- vestíbulo-versão representa a expres- sado pela irrupção vestibularizada
são do apinhamento não tratado. Essa
riores. Por certo, os efeitos colaterais imagem por si justifica a indicação de dos caninos superiores, como bem
não alcançam demasiada importân- um programa de extrações seriadas. ilustra a figura 11.

Abstract around 50% in students in Bauru – SP, as Serial extraction is indicated to correct
The authors report on the temporary well as on one type of early treatment for genetic primary crowding. Deciduous teeth
and definitive primary crowding of the the negative tooth-bone discrepancy: the are extracted in the first transitional period
permanent incisors, whose incidence is serial extraction. of the mixed dentition and

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permanent teeth are extracted in the The authors are optimistic about taken into account in the planning
second transitional period. In this serial extraction, though early of an orthodontic treatment.
procedure, teeth are extracted early in correction of the crowding does not
order to minimize the biologic cost of the necessarily indicate stability. Key-words: Serial extraction;
complete orthodontic treatment. Therefore, relapse should not be Malocclusion; Mixed dentition.

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