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Som e fúria

“Som e fúria” é um documentário que observa a vida de dois irmãos e suas famílias. Peter, que é surdo, e
Chris, que tem boa audição, suas esposas e filhos. Chris e Mary (filha de surdos) descobrem que um de seus gêmeos
não pode ouvir e procuram informações sobre o implante coclear. Heather, filha de Peter e Nita, também se interessa e
começa a pedir por um (ela e seus 2 irmãos são surdos). Os pais, juntamente com os avós paternos e maternos,
começam a discutir sobre a importância da surdez, as vantagens e disvantagens do implante. Mary quer colocar um
implante em seu filho apesar das discussões, mas Nita, mãe de Heather, é contra a cirurgia, e tem medo de perder sua
filha para o mundo dos que podem ouvir. Ela não permite o implante e acaba se mudando com o marido e filhos para
uma comunidade que utiliza linguagem de sinais e tem boas escolas para pessoas surdas (lá muitos dos que ouvem
também sabem ASL – American Sign Language).

Eu achei este filme bastante triste, não imaginava que este tipo de disputa pudesse ocorrer. Compreendo
alguém que é surdo sentir-se confortável com sua situação e não sentir falta de ouvir, uma vez que já está adaptado a
ser assim, mas eu nunca pensei que um pai ou uma mãe pudessem negar o pedido de uma criança que quer ouvir. Isso
me pareceu absurdo. É claro que a linguagem de sinais é algo digno de admiração e é uma ferramenta eficiente para a
comunicação e interação entre pessoas que não podem ouvir, mas não imagino que seja fácil , especialmente para
uma criança, não poder ouvir. A curiosidade sobre o canto dos pássaros (ou no caso de Heather sobre o rugido de um
leão), a vontade de interagir com outras crianças que ouvem, a possibilidade maior de conseguir emprego neste ainda
muito injusto mundo em que vivemos... tantas razões para compreender os porquês de Heather e dizer sim, mas Nita
diz não. Não?!? Porque a cultura dos surdos é muito importante e deve ser preservada e celebrada... este é
certamente um ponto válido, mas não deveria ser o fator definidor do futuro da menina... Acho que uma das coisas que
mais me irritou no comportamento de Nita foi o fato de que enquanto pensava que também poderia colocar um
implante, estava aceitando a decisão da filha, mas quando a médica lhe disse que na sua idade ela dificilmente
conseguiria ouvir a ponto de distinguir sons e desenvolver a fala, ela ficou chateada e voltou atrás na decisão sobre o
implante de Heather. Depois, em uma conversa, até tentou convencer sua filha de que ela mesma tinha escolhido não
botar o implante, e quando a menina disse que a mae é que tinha decidido Nita pergunta: “não lembra? nós
decidimos juntas.”

Acho ótimo a pessoa sentir-se confortável com o que é e não querer mudar, mas parte de ser pai/mãe é
querer que seu filho seja mais do somos ou poderemos ser, que ele seja tudo o que ele possa ser, e que ele tenha mais
possibilidades de escolha no caminho que quer seguir no futuro... acho que o implante permite exatamente isso: mais
possibilidades... A criança não precisa deixar de conviver com surdos e deixar de falar com linguagem de sinais só
porque pode ouvir... os pais de Heather são surdos, ela nunca deixaria de utilizar ASL. Peter e Nita, no entanto, tinham
medo de perder seus filhos para a audição. Eles disseram que ficaram felizes quando seus três filhos nasceram surdos
porque silêncio é paz e sinais são mais expressivos do que discurso. Na família de Mary, seus pais, também surdos,
ficaram felizes que um de seus gêmeos nasceu surdo porque era o primeiro da família. Eu penso que os medos de
perder o lugar nas vidas dos filhos é até compreensível, mas ficar feliz com algo que disabilita outra pessoa de
qualquer forma é um pouco estranho. É claro que eu não compreendo o que move pessoas que pensam assim porque
eu posso ouvir, é impossivel que eu me coloque no lugar deles, mas como mãe, eu posso afirmar que buscaria o que é
melhor para meu filho e que estarei aberta a aceitar decisões que ele possa tomar ao longo de seu crescimento mesmo
que eu não concorde. Eu sou vegetariana e meu filho, de um ano e oito meses, também é vegetariano (e não come
açucar). Enquanto eu puder tomar esta decisão por ele eu vou, eu acredito nesta maneira de ser e é o que eu penso ser
melhor para ele... mas eu já sei que em algum ponto de sua infância ele vai comer bala ou cachorro-quente na casa de
um colega. Talvez ele decida deixar de ser vegetariano ou comer doces com açúcar ... aliás, é muito prová vel, e vai
doer porque acredito tanto nisso, mas não vou impedí-lo de ser como quer... minha mãe diz que eu não deixo ele ser
“normal” como as outras crianças, mas se um dia ele quiser ser normal eu certamente vou deixar, não vou impedir sua
auto-afirmação.

Fiquei bastante feliz ao pesquisar e descobrir que no documentario seguinte chamado “Som e fúria: 6 anos
depois” Heather está com 12 anos e usa o implante coclear. Sua mãe finalmente aceitou sua decisão. Ela, seus irmãos,
sua própria mãe e outras pessoas de sua família que eram surdas optaram pela cirurgia. A menina colocou o implante
com 9 anos e apesar de ter interagido primariamente apenas com pessoas surdas, ter frequentado escolas para surdos e
ter uma família surda, ela conseguiu desenvolver a fala, tirar notas altas na escola, e se comunicar com pessoas que
ouvem. Ela alcançou o melhor dos dois mundos podendo utilizar a ASL ou a fala de acordo com o que queira... o
implante possibilitou que Heather se tornasse bilingue (Inglês e ASL) e isso, por si só, já lhe dá uma grande vantagem
tanto sobre pessoas surdas quanto sobre as que ouvem. Eu acredito que a tecnologia é uma grande aliada quando a
serviço de avanços médicos que facilitam a vida de pessoas que têm alguma dificuldade/deficiência. Telefones que
convertem texto para som, tecnologias de vídeo-conferência que permitem que um intérprete fale e sinalize entre uma
pessoa que ouve e outra que não, e até mesmo as mensagens de texto no celular são ferramentas importantes para
facilitar a comunicação entre surdos e não-surdos (já que o conhecimento da linguagem de sinais é praticamente
limitado àqueles que não ouvem ou que são próximos de pessoas que não ouvem). Sei que a surdez é também vista
como uma identidade cultural e entendo que deva ser preservada como tal, compreendo aqueles que estão à vontade
com suas vidas como são, mas penso que é otimo poder ter a opção de ouvir e de se comunicar com o resto do
mundo não-surdo.

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