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No texto “Refletindo sobre a Língua Portuguesa”, você viu qual é a posição das orações no
sistema de nossa língua, , e aprendeu como identificar, transcrever e analisar a estrutura de
uma oração simples.
Neste texto damos um passo a mais. Veremos agora como se articulam as orações,
sabendo-se que há três estratégias de articulação: por coordenação, por subordinação, por
correlação. Consideramos aqui a articulação por coordenação.
Índice:
1 Camacho (1999) e Pezatti (1999) serviram de suporte para o texto que aqui se apresenta.
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(2-1) a. alguns animais iam hibernar, outros imigravam para lugares mais quentes
EF SP 405
b. entenderam mas não gostaram, né?
EF POA 278
Podem ser coordenadas duas ou mais orações desde que sejam sintática e semanticamente
idênticas, ou seja, pertençam ao mesmo nível estrutural. Assim podem-se coordenar
orações simples, orações dependentes (subordinadas) e orações complexas.
(3-2) a. a gente não forma o médico pra ele sair da faculdade e exercer a profissão em qualquer lugar
DID SSA 231
b. criar uma pessoa...ou criar uma imagem é mais ou menos a mesma coisa
EF SP 405
c. então, ele vai desejar que o aluno não fique apenas no nível de memorização, mas que, uma vez
armazenada esta informação, ele utilize essa informação em outros, em outras situações,
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EF POA 278
(3-3) (Ele) estava certo de que ela nutria por mim verdadeira paixão, mas, se ela o consultasse, o
seu conselho seria negativo. (M. Assis, Brás Cubas)
Pode-se coordenar também uma oração simples com uma complexa, uma vez que são
funcionalmente idênticas, pois conservam cada qual sua integridade, como se observa em
(3.4)a, que descreve o treino entre jogadores titulares e reservas de um time de futebol: a
primeira oração simples os dois laterais subiam juntos está ligada por meio da conjunção e
à oração complexa quando o time perdia a bola, os reservas atacavam com perigo. Em (3-
4)b, há coordenação de três orações, sendo duas orações simples (cheguei em casa e vi
televisão) e uma complexa (depois vim para cá pra pra conversar).
(3-4) a Os dois laterais subiam juntos e, quando o time perdia a bola, os reservas atacavam com
perigo.
JB, 30/08/84
b cheguei em casa, vi televisão e depois vim para cá pra pra conversar
D2 RJ 355
A relação de adição entre orações, no português falado, é geralmente estabelecida por meio
de justaposição, como em (4-1)a, ou por meio de conjunção aditiva e, como em (4-1)b.
(4-1) a E põe junto a pimenta, frita a cebola, exatamente para dar um tom
D2 POA 291
b eles pescam muito peixe de rio e usam muito na alimentação.
DID RJ 328
É conveniente distinguir dois tipos de adição, o simétrico e o assimétrico, para ser possível
descrever o estatuto funcional dessa distinção. A primeira admite mudança de ordem entre
as orações coordenadas, sendo as orações independentes uma da outra, como ocorre com
(4-2), em que o valor da conjunção se identifica com o conteúdo funcional-veritativo do
operador lógico.
(4-2) agora, uma escola se compõe de um.... um... local em que haja condições do estudante ter aula
e do professor dar a sua aula
DID SSA 231
Apesar de a coordenação de orações ocorrer geralmente entre orações sintaticamente
independentes, como mostrado acima, um aspecto significativo é que a grande maioria das
sentenças coordenadas representa casos de adição assimétrica, ou seja, casos em que a
ordenação entre elas não pode ser alterada, como se vê em (4-3).
(4-3) em função da necessidade de eu assegurar .... a caça ... e continuar podendo comer
EF SP 405
O mesmo se aplica a orações coordenadas, como (4-5)a e sua paráfrase (4-5)b, com as
remissões anafóricas de praxe.
(4-7) José fuma três maços por dia e eu conheço muitas pessoas que sofrem de câncer.
Para entender (4-7), o interlocutor deve lançar mão de sua experiência ou conhecimento do
mundo, ou ainda do discurso prévio que compartilhou, e supri-lo com fatos adicionais que
permitam estabelecer um elo entre uma parte de uma oração e uma parte da outra (cf.
Lakoff, 1971). Ele tem que fazer uma pressuposição sobre fumo e câncer e elaborar
deduções baseadas nessas pressuposições e suas relações com os elementos manifestos no
enunciado. Uma pressuposição está baseada no senso comum de que fumar demais provoca
câncer. Deduz-se que pessoas que contraem câncer são, ou podem ser, as que fumam
demasiadamente, estabelecendo-se um domínio comum entre José e as demais pessoas que
fumam muito.
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Diferentemente dos casos explícitos de identidade semântica, para que enunciados como
esses possam ter um tópico comum, deve ser possível combinar itens explicitamente
manifestos, pressuposições e deduções, para obter uma afirmação de identidade, cujo
resultado deve envolver pelo menos um dos itens lexicais em cada membro da junção que,
no caso acima, é José. (4-6) e (4-7) representam casos de adição simétrica, o que significa,
por um lado, permitir a alteração da ordem das orações sem alteração de gramaticalidade e
de significado e, por outro, permitir livremente qualquer número de membros, como ocorre
em (4-8)a-b e (4-9).
Essas propriedades não se aplicam à adição assimétrica (4-10a), cuja alteração de ordem é
possível (cf. 4-10b), mas não com o mesmo sentido original, de modo que (4-10a) e (4-10b)
não são sinônimas por haver diferentes relações de causalidade entre as duas orações
ligadas por e.
Na adição simétrica, nenhuma das orações conectadas é pressuposta; na verdade, todas são
afirmadas. Já na assimétrica, o primeiro membro do par é pressuposto para que o segundo
seja interpretável. Observe-se, a esse propósito, (4-10c).
(4-10) c. ?eles não pescam muito peixe de rio e usam muito na alimentação
Negar o primeiro membro de uma adição assimétrica resulta muito estranho, e torna o
discurso sem sentido. Negar que eles pescam muito peixe de rio implica negar também sua
conseqüência imediata possível, ou seja, que eles usam muito na alimentação. Assim
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orações como (4-10)a-b não têm sua verdade determinada pela verdade de seus átomos,
pois o e da adição se traduz aproximadamente como “e em seguida”, envolvendo, nesse
caso, sucessão temporal de eventos.
(4-11) cheguei em casa, vi televisão e depois vim para cá pra pra conversar
D2 RJ 355
Há outros fragmentos de eventos não narrativos, representados abaixo pelas ocorrências (4-
12)a-c, que ainda assim representam uma seqüência cronológica.
(4-12) a. então esse camarão é refogado com a cebola e põe junto a pimenta
D2 POA 291
b. mexe apaga o fogo e põe dois ovos
D2 POA 291
c. põe aquele refogado ali dentro e tapa, vai ao forno
D2 POA 291
Outros casos menos nítidos de seqüenciação aparecem em (4-13)a-b que, todavia, sugerem
a representação de diferentes fases num processo maior.
(4-13) a. depois de um prazo o senhor paga tanto e pra entrar vai dar mais um tanto
D2 RJ 355
b. eles pescam muito peixe de rio e usam muito na alimentação
DID RJ 328
(4-14) a. Dez homens cabem num fusca e eu paguei cerveja para todo mundo.
(4-14)a é interpretável, se o emissor fez uma aposta de que pagaria a cerveja se seis homens
coubessem num fusca. Como isso se realizou, ele pagou cerveja para todo mundo. Lakoff
afirma que, com o verbo pontual em primeiro lugar, não seria possível interpretar (4-14)a,
mesmo na adição assimétrica, sob a condição de que somente algo genericamente
verdadeiro pode fornecer as condições para a realização de um estado de coisa num
momento específico, mas não o contrário. No entanto, (4-14)b parece ser razoavelmente
interpretável, mas o locutor realiza um ato de fala no segundo membro da coordenação,
decorrente do estado de coisa que de fato ocorreu, expresso no primeiro membro, cuja
paráfrase está contida em (4-14)c.
(4-14) b. Dez homens couberam no fusca e eu pago cerveja para todo mundo.
c. Eu apostei que dez homens nunca caberiam num fusca e que eu pagaria cerveja para todo
mundo se coubessem. Como dez homens de fato couberam no fusca, eu pago cerveja para todo
mundo.
Observe-se, inclusive, que o contrário não seria interpretável, o que aponta para o fato de
(4-14)a constituir uma adição realmente assimétrica:
(4-14) d. ?Eu pago cerveja para todo mundo e dez homens couberam no fusca.
Em (4-14)b, a mera forma dos membros denuncia o fato de que não pode estar envolvida a
adição normal do domínio do conteúdo. O segundo membro da adição é um enunciado
performativo e não constativo como o primeiro. Essa interpretação se conjuga de fato muito
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mais razoavelmente com o conteúdo da segunda oração que o faria uma leitura direta da
adição de conteúdo.
(4-15) a. eu estou rotulando de incursões foram quaisquer tipos de quê? de relações... em função de
aumento de ampliação de território que os japoneses tinham conhecendo outras áreas... e
acontece que chega... a Segunda Grande Guerra com o Japão realmente sendo uma das
grandes potências...
EF RJ 469
b. tanto isso é verdade que tem despertado... atenção... dos presidentes dos diversos sindicatos...
existentes neste país... e há pouco tempo tivemos inclusive um conclave...
DID RE 131
c. ele saiu de lá falando chinês, não é, fala chinês, fala diversas línguas e tem um prato hindu que
fazem na China
D2 POA 291
d. L1 piso pavimento... quer dizer você sente porque você não tem curvas assim muito fortes pra
fazer... cê não sobe... rampas violentas... não desce rampas violentas... entendeu?
características geométricas... e o pavimento em si que é um pavimento mais... espesso... prá
aguentar um tráfego mais pesado...
D2 SSA 98
(4-16) a. os filmes mostram né?... as incursões do Japão procurando se defender... e a melhor maneira
que ele encontrava para se defender era atacando
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EF RJ 469
b. Mas a ba/ as sobremesas que eles usam muito é... são tortas... né? e onde tem sobremesas ...
assim... doce de coco por exemplo... doce de coco... quindim... que eles usam muito... é na
Bahia...
DID RJ 328
c. não são esse tipo de fru... completamente diferente daquelas que nós estamos acostumados aqui
no Rio... e os nomes realmente eu não guardei
DID RJ 328
d. que tenha regido o cinema atualmente em comparação ao cinema dos anos anteriores e no se/ e
no que seria notada essa diferença?
DID SP 234
(4-17) a. bom ocorre a guerra e... nada nessa história acontece por acaso... né? se realmente a guerra foi
perdida pelos países do eixo ... é que as condições sociológicas ... econômicas e políticas etc.
etc. fizeram com que fosse perdida a guerra
EF RJ 469
b. quer dizer realmente é uma economia ... que não conseguiu ainda ... sabe? quer dizer dentro do
meu ponto de vista ... apesar de ser ALTISSIMAMENTE industrializada ... ATINGIR a um
desenvolvimento global... e vejam que nem poderia ... estão entendendo a comparação que eu
estou fazendo (com) com a economia americana?
EF RJ 469
(4-18) a. não fui preparado para isso, mas a gente foi adquirindo uma vivência da coisa né? e eu acho
que o dinheiro todo que eu pudesse, se eu ganhasse assim na loteria e tal eu nunca jogaria em
mercado de capitais
D2 RJ 355
b. eu acho que é tudo um conjunto né::? deve ser::.. ah maquiadores ah:: fundo música e::.. eu
tenho a impressão que é um conjunto de de de trabalho:: medonho aquilo
DID SP 234
(4-19) a. eu por mim estaria só na escola e era isso que eu ia conversar com você
(D2-RJ-355:59)
b. ela funciona dando uma interpretação lógico-formal da lei e é isso que vocês vão aprender
(EF-RE-337: 161)
(4-20) a. quando é que o professor solicita respostas do aluno que exigem apenas e eu digo apenas
porque é o processo mental
EF POA 278
b. outros dirão processos mentais superiores e a expressão habilidades mentais cabe muito bem
EF POA 278
(4-21) a. artista que começa fora de:: de horário que eles batem tudo então e o que aparece para nós na
televisão é tudo muito organizado::
DID SP 234
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b. tudo parece tão mascarado sei lá e quando aparece em cena o público vê uma coisa totalmente
bonita né
DID SP 234
c. ela está assumindo... tarefas assim... muito precocemente... não é?... e... possivelmente passe
essa fase
D2 SP 360
d. a lei é feita para o homem... para proteger o homem... e no entanto o... homem está sujeito e até
certo ponto escravo da lei...
EF RE 337
Em todos os casos acima, as orações coordenadas poderiam ser conectadas por uma
conjunção adversativa, especialmente (4-21d), que apresenta a conjunção e seguida do
sintagma preposicionado com valor adversativo (no entanto), freqüentemente arrolado nas
gramáticas como conjunção.
É perfeitamente possível arrolar ainda uma série de sentenças que apontam para uma
espécie de função de curinga do coordenador e, conforme demonstra (4-23)a-f:
(4-23) a. Ana caiu num sono profundo e sua cor normal retornou aos poucos.
b. Passamos o dia todo em São Paulo e fui visitar a Bienal.
c. O cachorro do vizinho comeu ração envenenada e morreu.
d. Pedro pôs ração estragada no prato e seu cachorro morreu.
e. Me dá sua foto e eu te dou a minha.
f. Essas são as pegadas da onça e ela passou por aqui há pouco tempo.
(4-24) mas é preciso que eu aplique, que eu utilize os sinais de trânsito na hora certa, ou que eu
tenha a habilidade de passar mais rápido pelo guardinha porque senão, eu (es)tou multada na
primeira esquina
EF POA 278
Nessa disjunção uma entidade da primeira asserção (eu) se repete na segunda. Não é
necessário, entretanto, que se repitam seqüências de itens lexicais; a repetição pode ocorrer
com base em outros mecanismos, como elipse, em (4-25)a, ou especificações semânticas,
em (4-25)b. Enfim, nas disjunções que ocorrem em situações reais de comunicação oral ou
escrita, deve haver um eixo semântico comum aos termos disjuntos, sobre o qual se dá a
oposição entre eles.
introduzida por um conector adversativo. Isso significa que, quando se diz “ou A ou B”,
admite-se uma dessas hipóteses, A ou B, MAS, em qualquer delas, põe-se ou pressupõe-se
C, que se crê verdadeira, quer prevaleça A, quer prevaleça B. É o que ilustra a ocorrência
(4-26)
(4-26) a. não tem importância que a gente chama de análise ou chama de interpretação o importante é
que o processo se realize
EF POA 278
A terceira condição impõe que o locutor desconheça a seleção a operar, o que se pode
manifestar através do emprego da interrogação (direta ou indireta), do imperativo, de
construção hipotética e de construção declarativa referente a fatos futuros, representados
respectivamente em (4-27)a-e. De fato, quem pergunta ignora a resposta; futuro e hipótese
associam-se a dúvida (que por sua vez se associa a ignorância), e o imperativo refere-se a
uma ação que o locutor deseja ver praticada pelo interlocutor, mas tem dúvida quanto à
realização desse desejo.
(4-27) a. a senhora acha que houve alguma evolução ou:: ou que tenha regredido o cinema atualmente?
DID SP 234
b. há muita... discussão aí entre posições opostas de que se o Japão seria uma economia ou um
país desenvolvido.
EF RJ 379
c então, faz esse refogado e põe tomate, um ou dois tomates
D2 POA 291
d porque quando ele vai aferir ou vai investigar experimentar o homem... não é o que o homem
diz... do experimento de laboratório mas sim o que o homem realmente está pensando...
EF RE 337
e além naturalmente do departamento jurídico que é a peça ... de GRANde importância ... porque
vai tratar exatamente de todas aquelas questões... de contra:to ou de distrato
DID RE 131
(4-28) um conhecimento que aprofunda mais aqueles outros DOIS ... seja como conhecimento num é?
sociológico... ou conhecimento.. normativo... lógico-normativo...
EF RE 337
Apesar de os significados de aut e vel estarem bem diferenciados como disjunção exclusiva
e inclusiva respectivamente, a relação entre elas não era a de uma oposição equipolente e
não-neutralizada. Enquanto aut era uma partícula específica de coordenação com âmbito
funcional bem delimitado, vel tinha um valor mais disperso e, possivelmente por isso, uma
posição mais débil no sistema dos nexos de coordenação, indicando possibilidade de
eleição. Essa debilidade de valor significativo impediu que fosse utilizada como conectivo
disjuntivo, o que precipitou seu desaparecimento, sendo, desse modo, gradativamente
substituído por aut: Julia (1986:164).
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Rubio (1976) observa que, dentre as possibilidades de disjunção em latim, a partícula aut
era a forma geral, usada para expressar a disjunção alternativa entre dois termos, tanto para
os que se excluem como para os semanticamente unidos e até equivalentes ou indiferentes à
eleição. Vel, pelo contrário, não podia ser usada para expressar a disjunção exclusiva,
tornando-se, portanto, o termo marcado da oposição, com um significado puramente
inclusivo.
Apesar dessa delimitação funcional, há ocasiões em que, devido tanto ao limite impreciso
entre exclusão e inclusão quanto ao progressivo enfraquecimento de vel, com a conseqüente
perda da consciência de seu âmbito funcional por parte dos falantes, registram-se usos
pouco adequados dessa partícula, principalmente quando se distancia do período clássico.
De qualquer modo, tudo indica que, apesar de certas exceções, os valores semânticos de
aut e vel estavam relativamente bem delimitados em latim.
ampliação semântica da partícula que se manteve com o fim de expressar com uma só
forma o significado do que antes era expresso por duas. O que parece apresentar-se como
uma redução do sistema funcional latino em sua evolução para o português é, na verdade,
uma sobrevivência do sistema, com mudança parcial dos recursos significantes.
(4-29) é um controle muito natural ou você não tem filhos ou vai ser é castrado
EF RJ 379
(4-30) não tem importância que a gente chama de análise ou chama de interpretação o importante é
que o processo se realize
EF POA 278
Em (4-29) estabelecem-se duas possibilidades únicas para não procriar: evitar filhos com
qualquer tipo de contraceptivo ou ser castrado, sem opção a nenhuma outra. Há aí uma
disjunção exclusiva. (4-30), pelo contrário, manifesta uma disjunção inclusiva: pode-se
chamar de análise, interpretação ou qualquer outro nome que, sem ser um ou outro,
implique os dois.
Uma análise do valor funcional do que se pode considerar dois nexos (disjuntivos) em
português, ou simples e ou duplo (ou...ou), permite comprovar a existência de duas formas
diferentes que têm como significados diferenciados a inclusão e a exclusão
respectivamente. Diferentemente do sistema latino, no português, a partícula não-marcada é
a que comporta o significado primário inclusivo. A forma ‘...ou....’ pode representar tanto a
inclusão quanto a exclusão; já ‘ou...ou...’, somente a exclusão (Oliveira, 1995). Essa
distribuição é, na realidade, a situação normal na maioria das línguas e está em conexão
com o tipo de relação lógica que implica o conteúdo inclusivo com respeito ao exclusivo: a
disjunção inclusiva (alternativa) encerra em si mesma a possibilidade de uma exclusão,
superando-a.
(4-32) a. a senhora acha que há diferença entre um e outro ou todos são do mesmo tipo?
(DID SP 234)
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b. ? a senhora acha que ou há diferença entre um e outro ou todos são do mesmo tipo?
Ou simples é, pois, polissêmico e seu uso inclusivo e exclusivo varia de acordo com a
construção em que aparece. É exclusivo quando junta duas asserções negativas, como (4-
33), ou quando uma é afirmativa e a outra negativa, como (4-34). Na forma interrogativa,
em que cada um dos termos é o escopo da interrogação, também é possível só a
interpretação exclusiva, como demonstra (4-32)a acima.
(4-33) O Brasil não enviou a contrapartida ou a obra não andou. Por isso o Banco Mundial
suspendeu as liberações2.
(4-35) são pessoas ... distribuídas... nas mais diferentes... assessorias... ou nos mais diferentes
órgãos...
DID RE 131
(4-36) a. não tem importância que a gente chama de análise ou chama de interpretação o importante é
que o processo se realize
EF POA 278
(4-37) não negamos nunca atender a um doente ou outro que chegue mesmo fora do horário ou que
seja extra
DID SSA 231
De qualquer forma, o que se nota é que, com relação às formas disjuntivas latinas, houve,
no português, uma inversão do caráter das formas marcadas e não-marcadas. Em latim a
(4-38) que eu cheguei em casa, vi televisão e depois vim pra cá pra, pra conversar ou dessa maneira
ou ir prum cinema ou prum teatro
D2 RJ 355
(4-39) prefiro ficar assi/a a aqui assistindo televisão ou dormindo ou lendo jornal
DID SP 234
(4-40) é um controle muito natural ou você não tem filhos ou vai ser é castrado
EF RJ 379
(4-41) ou aquele que foi... diz que foi ele que fez... tomou a/ (que) fez aquilo ou então e:: é o pai ou a
mãe aquele que não estiver presente
D2 SP 360
(4-38) a. que eu cheguei em casa, vi televisão e depois vim pra cá pra, pra conversar dessa maneira, ir
prum cinema, prum teatro
(4-39) a. prefiro ficar assi/a a aqui assistindo televisão, dormindo, lendo jornal
A pouca incidência de ou duplo se explica pelo fato de seu uso se tornar redundante em
construções que não admitem senão a interpretação exclusiva, como por exemplo em (4-
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(4-42) depende se essa definição é uma simples re, devolução, repetição daquilo que o professor disse
ou se essa definição tem um caráter de elaboração própria, então, aí, nós estaremos em nível
bem mais complexo
EF POA 278
(4-43) a senhora acha que há diferença entre um e outro ou todos são do mesmo tipo?
DID SP 234
(4-44) se a:: fruta eh se eles iam conseguir a fruta ou não...
EF SP 405
Nota-se ainda que, na disjunção de orações, de modo geral, há uma equiparação entre os
valores exclusivo e inclusivo.
não significa que os dois eventos descritos não poderiam ambos ocorrer, mas implica que
há um relacionamento unidirecional entre eles.
(4-45) Todo fim de semestre, João envia um capítulo pronto de sua tese ou no dia seguinte seu
orientador liga reclamando.
Considerando “Todo fim de semestre João envia um capítulo pronto de sua tese” como A, e
“seu orientador liga reclamando” como B, pode-se argumentar usando somente a
coordenação disjuntiva assimétrica “se não A, então B”. Sabe-se, na verdade, que, no
mundo real, A não somente é temporalmente anterior, mas realmente exerce uma influência
causal em B, e que o contrário não pode ser verdadeiro: de modo algum a reclamação
subseqüente do orientador influencia o envio prévio de um capítulo pronto da tese por José.
Como vimos, a ordem icônica de palavras pode explicar a maioria das diferenças entre
disjunção simétrica e assimétrica. Com a conjunção ou, a assimetria linear da ordem de
palavras permite a interpretação icônica, já que não há uma relação semântica assimétrica
inerente entre os dois membros da disjunção.
O uso simétrico prevalece, já que a maioria das ocorrências permite inversão de ordem,
conforme se verifica em (4-39), repetida abaixo:
(4-39) prefiro ficar assi/a a aqui assistindo televisão ou dormindo ou lendo jornal
DID SP 234
Há, no entanto, casos que não permitem a inversão das orações coordenadas. Em alguns a
assimetria se deve a uma relação lógica de causa/conseqüência estabelecida entre as duas
asserções: a segunda se apresenta como conseqüência da primeira, conforme se observa em
(4-45) acima; em outros, no entanto, decorre da condição de prioridade de uma oração
sobre a outra, como no caso de asserção afirmativa sobre negativa (primeiramente se afirma
algo para depois negá-lo). Assim, temos assimetria, e conseqüentemente ordem obrigatória,
em (4-46)a abaixo, não sendo possível a paráfrase em (4-46)b.
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(4-47) toda aquela assistência médica hospitalar... que os sindicatos vem habitualmente cumprindo ou
que vem/ os sindicatos se propõem a fazer...
DID RE 131
(4-48) mas é preciso que eu aplique, que eu utilize os sinais de trânsito na hora certa ou que eu tenha
a habilidade de passar mais rápido pelo guardinha
EF POA 278
(4-49) a categoria do conhecimento (inserção nossa) depende se essa definição é uma definição
simples, re, devolução, repetição daquilo que o professor disse ou se essa definição tem um
caráter de elaboração própria
EF POA 278
(4-50) não negamos nunca atender a um doente ou outro que chegue mesmo fora do horário ou que
seja extra
DID SSA 231
(4-51) prefiro ficar assi/ a a aqui assistindo televisão ou dormindo ou lendo jornal
DID SP 234
(4-52) na medida... em que acabava a caça do lugar OU (que) em virtude da da época do ano no
inverno por exemplo... os animais iam hibernar outros... imigravam para lugares mais quentes
eles precisavam acompanhar... o a migração da caça senão eles iam ficar sem comer...
EF SP 405
(4-53) ou aquele que foi... diz que foi ele que fez... tomou a/ (que) fez aquilo ou então e:: é o pai ou a
mãe aquele que não estiver presente
EF SP 360
(4-54) O orientador de João vai ligar amanhã reclamando, ou (então) ele já enviou um capítulo pronto
de sua tese.
7. Outras questões
8. Glossário
Texto: Valores discursivos da conjunção e entre orações (Link9)
• Tópico - O mesmo que assunto ou tema elaborado numa conversa e no texto que
dela resulta.
• Subtópico - Cada trecho de um texto que, centrado em um tópico discursivo
específico, desenvolve um aspecto de um supertópico.
• Foco - Entidade sobre a qual se fala num episódio discursivo.
Elemento que codifica no texto ou na sentença a informação mais importante.
Elemento da sentença pronunciado com ênfase, ou assinalada por
focalizadores*.