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Sepé Tiaraju

o índio, o homem, o herói.

2010
Câmara dos
Deputados
Mesa da Câmara dos Deputados CÂMARA DOS DEPUTADOS
53ª Legislatura – 4ª Sessão Legislativa 2010
DIRETORIA LEGISLATIVA
Diretor: Afrísio Vieira Lima Filho
Presidente
Michel Temer CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
Diretor: Adolfo C. A. R. Furtado
1o Vice-Presidente COORDENAÇÃO EDIÇÕES CÂMARA
Marco Maia Diretora: Maria Clara Bicudo Cesar
2o Vice-Presidente SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Antonio Carlos Magalhães Neto Diretor: Sergio Chacon

1 Secretário
o COORDENAÇÃO DE DIVULGAÇÃO
Rafael Guerra Diretor: William França

2o Secretário SECRETARIA DE PROJETOS ESPECIAIS


Inocêncio Oliveira Diretora: Andréa Costa Marques

Enredo e roteiro Luiz Gatto


3o Secretário Direção de arte e desenhos Plínio Quartim
Odair Cunha Cores Mateus Zanon
Arte final Bruno Primo, Mateus Zanon, Plínio Quartim e Pedro Ernesto
4o Secretário Letras Pedro Ernesto
Nelson Marquezelli Capa Plínio Quartim
Consultoria histórica Roberto H. F. Fonseca
Coordenação do projeto Luiz Gatto e Nazur Garcia
Suplentes de Secretário
Câmara dos Deputados
1o Suplente Centro de Documentação e Informação – Cedi
Marcelo Ortiz Coordenação Edições Câmara – Coedi
Anexo II – Praça dos Três Poderes
2o Suplente Brasília (DF) – CEP 70160-900
Giovanni Queiroz Telefone: (61) 3216-5809; fax: (61) 3216-5810
edicoes.cedi@camara.gov.br
3o Suplente
Leandro Sampaio
SÉRIE
4o Suplente Obras comemorativas. Personalidades
Manoel Junior n. 2

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


Diretor-Geral Coordenação de Biblioteca. Seção de Catalogação.
Sérgio Sampaio Contreiras de Almeida
Sepé Tiaraju : o índio, o homem, o herói. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010.
Secretário-Geral da Mesa 60 p. – (Série obras comemorativas. Personalidades ; n. 2)
Mozart Vianna de Paiva ISBN 978-85-736-5739-5
1. Sepé Tiaraju, m. 1756, biografia. 2. Herói, história em quadrinhos, Rio Grande do Sul. 3. Indio
guarani, Rio Grande do Sul. 4. Reduções jesuíticas (1754-1756). 5. Jesuítas, missões, história, América do
Sul. I. Série.
CDU 929(81)
ISBN 978-85-736-5738-8 (brochura) ISBN 978-85-736-5739-5 (e-book)
brique da redenção* – porto alegre – rs – século xxi

* expressões com asterisco – ver glossário

puxa, nem vamos, pai. essa


no meu aniversário gente não está nem aí para
vendemos nada. a arte do nosso povo.

nem sempre mas é apenas


foi assim, cauê. um colar... não é um colar
essa gente é o nosso pega isto.
qualquer. foi de um grande
povo agora, meu filho. somos não achaste que
herói, índio como nós.
todos brasileiros. esqueci, né? feliz
aniversário.
nos tempos dele,
a vida dos guaranis
então por que eles era bem diferente...
têm tudo e a gente
não tem nada?
P
o r cerca de 150 anos, os
guaranis foram o povo s de
mais rico de todo o sul
da
o r ia d a q u eles homen o
por volta de A sabed eus, d
lando de D cantou
América. Isso começou o p r e to , fa
iça en
s jesuítas. vestid
1600, com a chegada do em e da just
ba sta amor, do b de tal forma que estes
Para se ter uma ideia, os guaranis e suas crenças em
s Guaranis
lembrar que as Missõe d
abdicaram a nova fé. Foi uma
nho de
possuíam o maior reba u m a
gado do continen te, m ilh ões e nome de
a ú n ic a n a história d o
s, al ém de uma experiênci . Em nenhum outr
milhões de cabeça de
humanida nativos se cur varam
ríc ola . Mas
imensa produção ag s
lugar tanto à cruz cristã. Dessa
id ade
falar apenas da prosper ca m e n te ural
material não explica a
m ia do
ag pacifi
r g iu u m tesouro cult de
arani com união, su ilidade
encontro da cultura gu a a e n su rá v el e a possib da sociedade
im ,
a cristã. Enquanto em
tod civilização
o ve lh o mundo uma nova mesmo uma história
América o novo e ó
per feita. S eria gerar um herói
s pa mpas eles
se digladiavam, neste tão bela po Tiaraju.
d
o.
entraram em comunhã como ele: S
epé

vamos, no caminho pra


casa te conto. aconteceu
há quase 300 anos...

que história
é essa?

“A experiência cristã das Missões


Guaranis representa um verdadeiro
triunfo da humanidade.” voltaire
missão jesuítica de são miguel arcanjo - província
de são pedro do rio grande do sul - século xviii

a ferida és um bravo, josé tiaraju.


ainda dói? nosso povo deve ser mesmo abençoado
da maldita febre escarlatina, por deus. a vida aqui é tão boa que
só te restou essa marca parece a terra sem males*!
da lua crescente.
é um sinal de deus. é por isso
que te chamam de sepé.

só um sepé significa “facho de luz”. diz-se


pouco. que, nos momentos de emoção, a
cicatriz mal curada chegava a brilhar.

isso nem sempre foi


assim, meu filho.

há menos de 200 anos vamos, no caminho


nosso povo ainda era para o torneio te conto.
perseguido e escravizado.

que história é
essa, pai?
Brasil – Século XV

S
ob proteção da Igreja, as Missões
foram um refúgio contra os
escravagistas, mas logo os
bandeirantes perceberam que era mais
vantajoso capturar índios cristãos. Eles A cobiça era tanta que nem o
eram instruídos e pacíficos. Assim, por decreto do Papa, excomungando quem
muitos anos, as Reduções* Jesuíticas escravizasse índios cristãos, surtiu efeito.
foram atacadas sem piedade. Quinze Só funcionou a autorização do Rei para
mil guaranis foram, de uma única vez, que os índios usassem armas de fogo. Em
levados cativos para São Paulo. Dos igualdade de condições, a bravura dos
100 mil índios das Reduções do Guairá, guaranis falou mais alto. Sob o comando
ficaram apenas 12 mil. dos caciques Inácio Abiaru e Nicolau
Nhenguiru, com apenas 300 mosquetes*,
4 mil guaranis massacraram os quase 7
mil homens armados de Raposo Tavares,
na Batalha de M’Bororé. A vitória foi
tão fragorosa que os bandeirantes jamais
ousaram atacar novamente as Reduções.
chega de conversa. vamos isso vai te ajudar.
ver tua pontaria. o torneio achaste que esqueci que
já vai começar. hoje completas 150 luas?

e do pai do pai dele.


nosso povo já habita nossos antepassados,
essas terras há mais os Tapes, chegaram pelo
não acredito... é o de mil anos. norte há 6 mil anos.
colar do teu pai!

pensa nisso quando


atirar. foi assim que
ganhei meu 1º torneio.

será que o sepé vai


ganhar, juçara?

meu coração ele


já ganhou... 
sepé! sepé! corre, teu
uma flor para pai passou mal, e parece
o campeão. que tua mãe também...

josé, sinto
muito. ninguém deve se
aproximar de teus pais. eles
apresentaram sintomas
de varíola.
mãe... em breve não
pai... estaremos mais
aqui sepé.

não chegues perto


meu filho. tu tens que
ser forte agora. sê forte, sepé, nosso
povo precisa de tua luz.
é o destino, marcado
em tua face.
mas pai, não
posso perder
vocês.

segue os conselhos
dos santos padres.

pobre sepé... as doenças do


branco foram um inimigo
ainda mais perigoso que
os bandeirantes. sem
anticorpos, tribos inteiras
foram dizimadas. uma
simples gripe podia ser
mortal para os índios.

algumas crianças sobreviviam, mas


a vida sem os pais talvez fosse um
castigo pior que a morte. menos
para os órfãos da missões, que
eram muito bem cuidados,
no cotiguaçu...
O
va
Co tig ua çu era uma casa on
de
s n ã o circula rio. Só
ão s, eduçõ e ecessá
os desamparados - órf Nas R ois não era n m Buenos
viúvas, doentes, idosos e o, p ido e
dinheir nte era vend que não podi s
am
s por toda a
deficientes - eram cuidado e
o exced ra comprar o armas e outr i
o
sar a tristeza
comunidade. Para compen Air e s p a r r o,
como fe ar impostos a
o R e
e, Sepé ganhou r,
de perder os pais de sangu prod u z i
pag
e para sus.
outros de coração.
anização objetos panhia de Je havam, uma
Os jesuítas adotaram a org e à Com o todos traba diárias era
l
cristãos:
comunitária dos primeiros Co m
e s
s
eis hora ntir o sustent
o
um , con forme as a d
punham tudo em com
o havia jornad te para gara panhóis. As
. Nã s
necessidades de cada um suficien vender aos e a casa e
os gu aranis. oças
propriedade privada entre da e ainda s cuidavam d quanto as m não
ma e n
A terra comunitária era cha mulher am roupas, e ças que ainda
a de De us) . d u z i i a n
Tupambãe (Terr pro
nham a
s cr
entreti scola.
iam à e
4 anos depois da morte dos pais de sepé...
devemos escolher quem
prosseguirá nos estudos
para formação de lideranças.
qual a vossa opinião?

o ensino era obrigatório para crianças de 5 a 12 anos. Além da religião, aprendiam a ler, escrever e fazer contas. Os
melhores seguiam estudando para se tornarem líderes da comunidade, aprendendo teologia, história, geografia e latim.

temos alunos muito


bons, mas o que mais
se destaca é sepé.
sepé é o melhor, mas tem a
alma bravia. lembram-se do
que fez àqueles índios vagos*,
ladrões de cavalos?

acho que eu ainda


não estava nessa redução.
o que houve?

vamos, não podemos


deixar esses ladrões
carnearem* nosso gado e
levarem nossos cavalos.

sepé reuniu alguns


jovens guerreiros e...
alguns dias depois voltou, triunfante... aqui estão, padre, todos
os cavalos roubados. não
falta nenhum.

e o que é isso no
saco, meu filho?

hã? eh... nada


padre... estamos
cansados, depois
falamos.

que sangue é esse?


mostra-me agora mesmo
o que tem no saco, sepé!

espetar cabeças como


troféu é coisa de selvagens.
ohhh... deus tenha se não abandonares esse terrível
piedade de nós! costume, sepé, não poderás
viver entre cristãos.
mas ele se arrependeu.
e passou um mês na prisão.
acho que merece uma por que não enviamos os
segunda chance. alunos com os grupos de
catequização, para ver como se
saem, e então escolhemos?

ademais, ninguém mais


ousou nos roubar um
grão de milho.

boa idéia!

é hora de usar o que


aprenderam. vão para
a mata e espalhem a
palavra de jesus.

mas muito cuidado com os mas padre, não são justamente


minuanos*. são tão selvagens estes os que mais necessitam
que não há como falar com eles. do alento do senhor?
vos matariam antes...

todos os que já tentaram


foram mortos, meu filho.
não queremos nossos
futuros líderes em perigo.
é mais difícil do que
parecia. ninguém nos
ouve e, quem ouve,
não acredita.

não, não volto


enquanto não converter
alguém.
vejam! minuanos!
fujam, vamos voltar!

eles são
estás louco? não apenas homens,
te lembras do que não demônios.
o padre disse?
volte, cauré.
eu cuido disso.

és meu melhor
amigo, sepé. se
ficares, também
fico.

cuidado
caure!

atrás
de ti!
nao!!!
!
caure

acaba com o
outro também.

vejam o sinal na testa!


não o mate, é um enviado
de anhangápitã*. prende-o, vamos
levá-lo ao cacique.
espere...

é minha culpa. cauré


morreu por mim.
o que tens a dizer,
jovem? serves ao
diabo vermelho?

meu único senhor o guarani parece


é deus. o único que louco, mas fala
existe, o todo poderoso bonito. conta-nos
criador do céu mais sobre esse
e da terra. teu senhor.

sepé falou sobre o evangelho e a prosperidade das missões, e eles quiseram saber mais. fizeram-no prisioneiro e todas
as noites pediam que falasse daquelas histórias estranhas e fascinantes. ao fim de 40 dias, estavam convertidos.

soltem-no.

leva-nos ao teu
senhor, queremos
o batismo
enquanto isso, nas missões... já são mais de 40 dias,
nada padre. tenho nhenguiru. tuas tropas
mais de cem homens são as mais poderosas do
nas buscas, e nem sinal alto do prata. dai-nos esperanças,
de sepé e cauré. ó senhor.

nhenguiru era descendente do lendário


cacique da batalha de mbororé e corregedor
da redução de conceição.
alerta! alerta!
minuanos! vêm pela
trilha do rio, contamos
mais de cem. reúnam os
homens. vai haver
combate.

vejam. é sepé que


vem com eles.
sepé, o que está
acontecendo? onde
está cauré?

eles eram apenas pobres


sepé contou tudo que ocorrera... almas que viviam na ignorância
da palavra do senhor.
que deus nos
perdoe, filho. a culpa
é de todos nós.

trouxeste para batize-os.


casa os assassinos se alguém tem
de cauré! culpa, sou eu.

por deus, padre. isso


nunca tinha acontecido. esse menino
é um líder nato. se não for treinado, pode
desvirtuar-se do bem e da justiça. deixe-o
vir comigo e o transformarei no
maior dos guaranis.

tens minha
autorização e minha
benção, nhenguiru.
A
nt es de partir para seu
tou
treinamento, Sepé apresen
rec ém -
a vida nas Missões aos
bólico
chegados. Após o enterro sim como
rec ebi do s
de Cauré, eles foram
m com o coral
irmãos e se emocionara seu
gem ao
das crianças, em homena o.
Cr ist
renascimento no corpo de
Nas oficinas comunitárias,
per feição
aprenderam a produzir com ele
naqu
todos os objetos conhecidos
tru me nto s
tempo: móveis, ins
tas , ba rco s,
musicais, ferramen
rel óg ios .
objetos de couro e até

excelentes
Os guaranis cristãos eram
ult ura, teatro,
artistas, na pintura, esc
mú sica.
dança e, principalmente,
herança
Seus cantos e ritmos, uma
encantavam
transmitida aos brasileiros,
qualquer um que os ouvisse.
a

C
ad a família recebia da e d u ç õe s chegaram as,
R m
comunidade uma casa, que Algumas mil habitantes, ovo
d e 2 0 m n
não deixava para os filhos. A ter mais nte, fundava-se u de 10
e m
herança não era necessária, pois
cada normalm o quando passava ução
almente m e n t prod
jovem que se casava recebia igu aldea
o m e s s e sistema, a a mais fartura
outra casa. mil. C g o havia a
ind
anos, c i a e lo
Tudo ali maravilhava os minu cre s
ões. inveja.
assim como os visitantes europe
us, nas Miss que isso causava tanto, os
rel ato s: “Suas É claro riqueza, no en
que descreviam em seu s
o da plicidade
cidades, geometricament e pla nej adas, A despeit reser vavam a sim e. Não
p d
eram mais bonitas e asseadas que as dos guaranis estralidade nôma rios e
n c s á
colonizadores. As igrejas, maior
es e mais de sua a am bens desneces edes.
r
belas, eram o coração da cidade,
sempre acumulav am dormindo em
v
seguidas de amplas pra ças que sed iavam continua
as de
torneios e festas santas e rodead las,
, esco
edifícios públicos, como hospitais
eas
etc. Daí partiam em ruas retilín
telh as de barro
suas casas de pedra com
eis. ”
cozido, muito mais confortáv

igreja

cemitério escola

cabildo praça
fazendas de criação
de gado e plantações
olaria

depósito

casa de viúvas
e órfãos

hospital
chegando à redução de conceição... queima-os nesta fogueira.
e descansa, pois amanhã
começa teu treino.

não te enganes sepé, não é


fácil ser guerreiro. antes
do treinamento, deves
abandonar teus medos.

o medo é o melhor
amigo da morte, pois paralisa
o guerreiro. só os audazes fácil.
sobrevivem.
agora mostra-me
tua pontaria.

atirar parado em um alvo


a-há,
fixo é coisa de crianças. na
na mosca!
guerra, tudo está em movimento.
não se atira onde o alvo está, e
sim onde estará.
aprende a
atirar correndo,

se esgueirando,

galopando e recuando
ao mesmo tempo.

agora tu és o alvo. movimenta-te de uma coisa mais: os vermes da


forma que o inimigo não possa adivinhar carne podre são veneno. passa nela
teus passos e não serás atingido. tuas flechas e o mesmo vai acontecer
com a carne do inimigo.
no dia seguinte...

calma sepé! teu cavalo


já está perdido. aproveita
ao menos a chance
de aprender.
nhenguiru! uma
suçuarana atacou meu
cavalo. vou matá-la.

observa o inimigo, seus


pontos fortes e fracos.
mais importante que a
força é a inteligência.

se o inimigo é mais forte,


evita o confronto aberto.
ataca e recua.

o guerreiro sábio também


viste como ela atacou? de recua e se esconde.
surpresa, direto na jugular. se camufla-te na selva até que
errasse, recuaria, pois o coice o inimigo esteja ao alcance
do cavalo pode ser mortal. da tua lança.

para te comunicares sem que o inimigo


perceba, usa os sons da floresta. um pio
a guerra também se dá nas e faz teus homens confiarem. dá de coruja pode ser um código
mentes dos guerreiros. espalha a eles o motivo certo e lutarão para o ataque.
o medo nos teus inimigos. fá-los até a morte ao seu lado.
acreditar que és invencível.
um ano mais tarde, no último
teste: uma luta corpo a
corpo com o mestre. superaste teu
mestre, sepé. já
te ensinei tudo
que podia.
que golpe
foi este?
vou chamá-lo
de quebra-onça.

veja, um
me rendo. mensageiro...

é hora de voltar: pediram


escolta ao padre gian batista
prímoli, que traz materiais para
a catedral de são miguel .
nhenguiru, trago
uma mensagem do vais precisar de
cura de são miguel. um cavalo novo...
quero o baio.
o malacara*.

escolhe um. é
meu presente.

não. levaria meses vou montar. se até


para ensiná-lo, e deves amanhã não puder dobrá-lo,
todos, menos este. escolho outro.
partir amanhã.
é chucro, derrubou meus
melhores guerreiros. não se
pode confiar nele.

se insistes... boa
sorte. vais ver como
é duro o chão
deste pampa.

meu espírito era selvagem,


e confiaste em mim. o baio apenas
quer liberdade. aprenderá que
liberdade é servir.
no alvorecer do
dia seguinte... não é possível,
ele conseguiu! está
guiando aquele
demônio.
dias depois, ao chegar a são miguel...
não acredito!
é ele. está
de volta.

quem, juçara?

sepé. jesus ouviu


minhas preces. resta
saber se santo antônio
também ouvirá. será que ainda se
lembra de mim?

queres casar-te com


ele? reza mesmo, pois é
isso que pedem todas as
moças de são miguel.

meses depois... o cura* já lhe falou


sobre isso, mas ele só
pensa na construção
não sei. mas um da catedral. talvez isso
sepé já é casamento trará mais assumiu a liderança o convença casar-se.
homem feito. calma a ele e à nossa de tudo, administra os um membro do cabildo*
será que aquietou cidade. as moças não trabalhos, materiais... precisa de uma família.
seu espírito? falam de outra coisa. falam até de falamos com ele?
elegê-lo alcaide*.
pedro, poti, acauã. chega
casamento? só de massa. cortem a madeira.
um minuto, padre... o telhado deve ficar pronto
antes das chuvas.

miguel, a parede
não está de pé?
precisas de ajuda?

sabes muito bem


pronto, padre. que isso não é permitido
não, ainda não decidi. nas reduções!
acho que farei como brincadeira, padre. mas se
meu bisavô, que teve vou desposar uma mulher por não sei. agora mesmo,
5 mulheres. toda a vida, devo escolher bem. ele manda um sinal:
esperarei um sinal de deus. é hora de comer!

que sinal?

homens,
façamos um intervalo.
vamos comer todos juntos,
na capela. vou contar-lhes
uma história.
tive um sonho horrível.
quando os padres deixavam a catedral... padre, padre,
sepé falava a um grupo de
espere!
homens, quando de repente
que foi, juçara? o céu desabou sobre eles.
por que choras? precisamos preveni-lo.

calma, minha filha, não há perigo algum,


foi só um sonho. sepé volte pra casa. depois
está bem. gostas falaremos a sepé sobre
mais que tudo mas padre...
muito dele, não? seus sentimentos.
nesta vida. não posso
perdê-lo. deixe-me sem mais, juçara. uma
avisá-lo do perigo, superstição apaixonada
padre. não pode parar a obra
da catedr...

oh meu deus!
o teto da capela.
todos os homens
estão lá...

naaao! sepé, sepé...


socorro, ajudem!
louvado seja o
senhor, eles estão
bem. mas como?

acalmem-se,
vou contar o que
aconteceu.

quando os padres
saíram, iniciamos uma
oração, agradecendo
nosso alimento.

logo depois chegou


este curumim apavorado,
falando do sonho
de juçara.

meu coração pressentiu eu pedi um sinal,


de pronto a desgraça, e e deus me mandou. nem é preciso dizer que juçara aceitou.
ordenei a saída dos homens. padre, se juçara quando correu o boato, a fama de sepé
um segundo a mais e aceitar, caso-me ganhou ares de sobrenatural. diziam que
estaríamos mortos. com ela. o amor de juçara o tornara invulnerável.
logo foi nomeado membro do alcaide e, como
previsto, o casamento apaziguou seu espírito.
nos anos seguintes, sepé aprofundou-se nos estudos e mostrou-se um líder sábio,
justo e bondoso. mesmo sendo muito jovem, dava-se como certo que ganharia a
eleição para corregedor, o cargo administrativo mais importante de são miguel.

A
org ani zaç ão política nas
Missões era complexa, pois
compreendia as atividades
públicas, que não eram poucas –
segurança, saúde, educação, divisão de te
bens, moradia, etc. – e religião. d ele , p o is normalmen
m se
A autoridade máxima era o Padre desdenhara os índios mais velho am,
id r
Cura, nomeado pela Cia de Jesus, mas a eram escolh Até os padres se opuse
experie n te s. n o
a çã
administração cabia aos próprios índios. q u e a id e ia de uma
Todos os anos havia eleições para a temendo e à coroa
íge n a d esagradass
escolha do Corregedor e do Alcaide. in d
foi
Quando Sepé se candidatou, com espanhola. rpresa de todos, Sepé
Para a su idade. U m
apenas 28 anos e a proposta de unificar u a se p or unanim do em
tos o q
as Reduções em uma confederação, mui eleit
neio foi pre
para lanças
grande tor o. Pela última vez as
a
comemoraçã el seriam usadas par
M ig u
de São
festejar.
tempos depois... senhor corregedor!
temos problemas...
isso acontece todo
o tempo. resolve
tu mesmo.

agora não, alferes.


estou ocupado com
o relatório para o houve briga quando
padre lourenço balda. expulsávamos o gado.
um dos nossos
foi morto.
é grave, senhor. o gado
dos vizinhos destruiu uma
plantação de milho.

prendemos os os padres não


agressores, mas os achas que permitiriam. mas levarão no
homens querem vingança. o corregedor mínimo um grande açoite.
estão a ponto mandará matá-los? bem feito.
de matá-los. que
fazemos?

tragam-nos
imediatamente à
praça central!

então é vingança
o que quereis?

sim. morte aos


desgraçados.

sim.

sim.

vede em volta a
maravilha que construímos. se
deixássemos o ódio falar mais alto que o
amor, nunca aceitaríamos os brancos,
e os santos padres não nos teriam
trazido a luz de seu conhecimento.
se nossos
antepassados brigassem
entre si, nunca venceriam os
bandeirantes e hoje seríamos
todos escravos.

cauré nos ensinou


com a vida o valor do
perdão. hoje os minuanos
que o mataram dão à nossa
comunidade os filhos
mais devotos.
mais uma vez eu
pergunto: quereis
vingança?
vivos, esses índios espalharão
pelas 30 reduções dos sete povos a
irmandade que nos unirá contra os
inimigos que vêm de fora. mortos,
semearão a guerra e a ruína
de nossa gente.

perdoem-nos, irmãos. achávamos


que tínhamos direito àquela terra, mas
a ira que congelou os corações seu gesto nos mostrou algo maior nossas lanças lutarão
dos índios não resistiu ao calor que a justiça: a compaixão. sempre ao seu lado, senhor
das palavras de sepé. corregedor. por onde formos,
o conflito acaba aqui. falaremos da grandiosidade
somos irmãos, não de seu povo.
inimigos. replantaremos
o que destruímos.

ao mesmo tempo em que os dois


índios partiam, chegava a são miguel
o padre balda, trazendo nos braços
os mapas do tratado de madri.

enquanto aqueles levavam a esperança de união,


este trazia a triste notícia de separação, que
mudaria para sempre o destino das missões.
os sete
povos

s. ângelo
s. nicolau s. joão
s. luiz s. miguel
s. borja
s. lourenço

rio ibicuí
traçado do limite
rio uruguai do tratado de madri

rio negro
lagoa mirim
oceano atlântico

arroio chuí

colônia do
sacramento
castillos
buenos aires rio da prata

P
el o Tratado de Madrid, árduo. Mesmo que resolvessem aceitar
confabulado a milhares de a imposição, as terras selvagens que
quilômetros dali, a coroa recebiam não tinham condições de
espanhola cedia o território das Missões sustentar 40 mil guaranis com quase
a Portugal, em troca da Colônia do 2 milhões de cabeças de gado. Levaria
Sacramento, na margem esquerda do rio décadas para preparar e cultivar o
do Prata. terreno e, nos termos do acordo, os
Tratados como gado que se toca guaranis deveriam fazê-lo em menos
de uma pastagem à outra, os índios de um ano. Isso era quase o mesmo que
deveriam partir, deixando para trás o condenar seu povo ao extermínio.
fruto de mais de cem anos de trabalho
mas padre, somos gente não vamos
de boa índole. recebemos o branco obedecê-los porque
e seu deus, pagamos impostos estão certos, mas
à coroa e à igreja. por que nos porque são teu povo não
querem fora daqui? mais fortes. tem poder para
enfrentá-los. se
tentarem, serão
massacrados.

essa conversa não foi fácil, nem rápida. a sede de poder do se dizes isso, não
branco era para os guaranis algo irracional. sepé continuava conheces o poder do nosso
fustigando o padre com perguntas, até que este explicasse povo. esqueceste do que
sem rodeios a realidade cabal dos fatos... fizemos em m’bororé?

não entendes, sepé?


não estamos lidando com um
bando de bandeirantes. portugal
e espanha são duas das maiores
potências militares do mundo.

confiamos nos padres.


quem não entendeu foi o não faças nada ainda, sepé. façam o que for preciso
senhor, padre balda. não deixaremos usaremos a diplomacia e a para evitar o pior.
essas terras por ordem de reis que influência da igreja para
sequer as conhecem. não sem antes reverter este acordo.
derramar nosso sangue.

assim foi feito e, por algum tempo, não aconteceram


a resistência dos índios era a desculpa que as cortes fatos significativos. por duas vezes, sepé foi reeleito
precisavam para condenar também a cia de jesus. os corregedor de são miguel. se a chama da discórdia
padres não podiam deixar que isso acontecesse... foi abafada, porém, a brasa não se apagou...
ninguém ficara sabendo de nada. sepé carregou sozinho o fardo daquela notícia, que
o corroía por dentro. no fundo, sepé sentia que o pior ainda estava por vir. e veio...
não pode ser.
e então, cura, esta as piores possíveis. as tropas por quê?
carta do padre altamirano do general português gomes freire e do
traz boas novidades? espanhol marquês de valdelírios já se
preparam para demarcação dos
limites do tratado.

ante a resistência dos


índios, a cia de jesus ordenou
a retirada imediata de todos os
padres das missões.

horas depois,
foi um acordo com as vamos falar na mata...
cortes. acham que, com a com sepé? sepé, graças a
fé abalada, os índios não deus te encontrei...
não. ele é um turrão,
resistirão e aceitarão não vai mudar de ideia.
a transferência. enquanto sepé está fora,
caçando, falaremos aos
índios, na missa. eles
virão conosco.

não vamos
obedecer.

se não obedecermos, será traição! preciso


o fim da cia de jesus. não temos alertar sepé...
escolha. só nos resta convencer
os índios a se mudarem.

quando conseguiu
respirar, o padre
contou-lhe tudo.
sepé quis partir
imediatamente a
são miguel, mas
não conseguiu.
com a base de sua
fé decepada, sepé
saiu perambulando
desnorteado pela
mata, sentindo-se
impotente.
vagou por horas a fio. quando deu por
si, estava em frente à oca de um antigo
karaí, um xamã-profeta que mantinha os
ritos religiosos anteriores aos jesuítas.
o velho fitou sepé no fundo dos olhos.

entre, meu jovem. preocupação


não resolverá teus problemas. esse a bebida fez sepé se sentir diferente. como
kawui ajudará a te trazer para o num transe, sepé contou tudo ao pajé...
presente. conta-me o que há.
a vitória sobre a doença
do branco, que te deixou
a lua na testa, é um sinal.
nada deves temer.

deves acreditar apenas


nelas. a única arma do branco
que pode te matar é a
mentira. ela vem de onde
és o invencível menos se espera.
escolhido de tupã para juçara...
salvar nossa gente. tupã manda suas
bebida feita de milho, mensagens através
usada em rituais sagrados. de uma mulher.

mas não podem parar o no dia seguinte,


mas os padres tempo. o tempo dos guaranis virá, quando sepé acordou...
dizem que não podemos ainda que se passem 3 mil luas.
contra os brancos. suas agora a hora é de agir, ou onde estou?
armas são muito melhor, amanhã, quando acordares. onde está o karaí?
poderosas. precisas descansar. foi um sonho?

não importava. agora sepé sabia


o que devia fazer: voltar e liderar
seu povo. afinal, ele era invencível!
de volta a são miguel,
encontrou os índios
atemorizados pelas
ameaças dos padres,
que, sem convencê-los,
fugiram sozinhos. senhor corregedor!
graças a deus, estávamos
preocupados!

parecia o fim do casamento feliz entre os índios e jesuítas. para tentar garantir a própria
sobrevivência, a igreja abandonou os guaranis. mas alguns amavam mais a seus fiéis do que a sua própria
fé. estes ficaram, arriscando a própria vida, tornando os verdadeiros laços cristãos ainda mais fortes.

mas como vamos fazer sem


os padres, senhor? os homens
estão abalados e descrentes.
querem fugir.

dizem que na redução de


são borja já estão carregando
carretas para partirem ao
outro lado do rio.

convoca imediatamente
todos os homens válidos de são
miguel. se vai haver guerra, temos
que estar preparados.

a igreja pode nos ter


abandonado, mas deus ninguém fugirá.
continua ao nosso lado. quem tentar será
preso.
e junto
dele o padre miguel, que
nos vai abençoar. manda nossos melhores
mensageiros comunicarem a
situação a nicolau nenguiru e os
demais corregedores.

e prepare um grupo
e o padre balda, de lanceiros. vamos agora
que também ficou. mesmo a são borja.
a determinação de sepé contagiou a todos. antes de
partir, sepé distribuiu tarefas. todos deveriam participar.

artesãos tornaram-se produtores


de armas, lanças, flechas.

os melhores negociantes
tentariam comprar pólvora e armas
com comerciantes clandestinos.
os mais velhos limpavam os velhos
mosquetes e preparavam a munição.

os marceneiros mais
habilidosos iniciaram uma
fábrica de canhões de taquaruçu*.
os mais jovens e fortes aprendiam dia
e noite a manejar arcos, tacapes e
os poucos arcabuzes que possuíam.

os mais astutos ocuparam-se das


estratégias, de obter informações e
comunicar-se com outras reduções.
em são borja, várias carretas já estavam prontas para partir...

que fazeis? estais loucos?


hoje tomam vossas terras,
amanhã vossas mulheres e filhos.
e logo vossas almas.

a covardia nunca
ajudou nenhum povo queimai as
a sobreviver.
carrocas!
nenhum guarani de
vergonha deixará estas dizem que é um
terras sem luta! guerreiro invencível,
nossa, veja o protegido de deus.
brilho do lunar na
testa dele!

os são borjenses não partiam por


covardia, apenas seguiam ordens dos
padres. agora, sob influência de sepé,
tornavam-se temíveis soldados. tivesse
estado em todas as reduções, sepé
reuniria 20 mil homens. mas o tempo não
estava ao seu lado. antes de partirem,
senhor, os portugueses
chega um mensageiro...
se preparam para deixar o
forte jesus-maria-josé,
ao encontro das tropas
espanholas.

não podemos
deixar que isso
aconteça. faremos
com que recuem.

senhor, sou
corregedor de são borja.
nossos cavalos estão à
sua disposição.
também temos 80
lanceiros prontos
para o combate.

parto com eles, então.


meus homens descansam e seguem
amanhã. nos encontramos à
margem do rio camaquã.
durante um tempo acamparam à margem do rio, reunindo
os guerreiros que chegavam e avaliando a situação. alerta! alerta!
foi quando avistaram uma tropa da demarcação... soldados
espanhóis!

quando eu der o sinal,


onde? gritem e movimentem-se.
alferes, quantos o eco fará parecer que
quantos? homens temos são centenas.
para combate?

90, senhor
temos que fazê-los
crer que somos mais. eu fico aqui com 10
muitos. vêm pelo alferes, tu e 80 homens homens esperando para
oeste. armados até se espalham na mata em barrar-lhes o caminho.
o pescoço, senhor. volta da clareira.

quando o pelotão espanhol surgiu


na clareira, sepé avançou e bradou:
sou o capitão francisco
zabala. meu exército tem a
proteção dos reis ibéricos.
deixem-nos passar e
pouparei suas vidas. esta terra
tem dono!

nos foi confiada por deus e


parem! vocês pisam são miguel arcanjo. só eles
em território guarani. nos podem deserdar.
não têm permissão
para passar.
voltem e digam a seus
senhores que nenhum
invasor pisará este
chão sem luta.
hahaha! e quem nos
impedirá de seguir? tu e
estes 10 maltrapilhos?

nós e mais trezentos


guerreiros armados que vos
estão cercando nestas matas.
avante
homens!

acreditando estarem em número menor e sem ordem dos


reis para iniciarem ações armadas, os espanhóis recuaram.
no acampamento, os homens enquanto uns comemoravam,
festejaram a vitória sem luta. outros destilavam ódio...

índios malditos!
esperem só até o rei
saber disso.

sepé é o maior general


do mundo! vence sem nem
guerrear. viva sepé! viva! viva!
viva!

levou um mês para a


notícia chegar à europa...

vamos
massacra-los!

e mais um mês para voltar a frota


com reforços militares e as ordens de
guerra: tomar a terra a qualquer custo.
essa era a
ordem oficial...
pelas tropas
dizia-se para
não deixarem
sobreviventes.
para isso,
recrutaram os
“blandengues”,
mercenários
sanguinolentos...

não havia volta, a guerra estava declarada. vamos dificultar


logo a notícia chegou aos mensageiros de sepé... seu caminho, enquanto
nhenguiru reúne mais
guerreiros.

não podemos ele trará 10 mil


permitir que as homens. nem com
tropas aliadas canhões os brancos
se reúnam. poderão nos vencer.

sepé resolveu
se não podemos
atacar o
entrar, faremos com que
forte, mas
saiam. queimem os campos
foi repelido e
e guardem as trilhas que
perdeu muitos
abastecem o forte.
homens. isso o
ensinou como
enfrentar
o inimigo.
durante mais
de 6 meses,
sepé conseguiu
evitar o
encontro
dos aliados,
usando as
táticas de seus
antepassados... deixem o gado nos
arredores para atraí-los, então
atacamos e recuamos. cairão um a
um pelas nossas flechas.

do lado de dentro do forte... índios desgraçados!


não temos outra opção
senão propor
um acordo.

general, os homens
estão famintos e sem
forças. morreram
mais quatro hoje.
a mesma estratégia manteve os espanhóis na margem direita do uruguai. a 18 de
novembro de 1754, foi assinado um tratado, suspendendo os conflitos. a notícia foi
recebida com grande festa nas reduções, onde a fama de sepé aumentava a cada dia.

por um ano a paz voltou a são miguel. para os índios, foi um tempo de
esperança. para os aliados, foi só o tempo de reorganizar o exército e voltar
com força total. passados três dias do natal de 1755, veio a temida notícia...

o acordo de paz era uma tampouco nós. venceremos


mentira. os aliados reuniram como vencemos antes.
as tropas e marcham para
atacar-nos.

e a guerra
outra vez! faremos de seu caminho
eles não vão pela mata uma marcha
desistir... para o inferno.

com milhares de soldados armados pesadamente, o inimigo era lento. por 40 dias,
sepé e 400 índios os aterrorizaram, atacando e recuando na velocidade do vento.

atacavam na calada da noite...

tocavam fogo nos


acampamentos e plantações...

preparavam emboscadas...

nhenguiru foi aclamado comandante-em-chefe da forças guaranis, mas


só conseguiu reunir 1500 homens. os reforços não chegaram a tempo...
padre, tive outro sonho.
sepé caía numa emboscada.
milhares de formigas vinham de
todos os lados, ferroando-lhe
quase seis anos pelas costas e devorando-o
depois da assinatura depois.
do tratado de
madri, a crença na
invencibilidade de sepé
mantivera intactas as
terras das missões. calma,
então, a única arma juçara
mortal contra sepé foi
usada: a mentira. por
incrível que pareça,
inocentemente, de ele corre perigo. não
onde menos deve ir ao campo de
se esperava... batalha amanhã. tenho
que avisá-lo.

não podes cavalgar não. eu cuidarei


nesse estágio de de avisar a sepé.
gravidez, juçara. tu ficas e cuida
do sepezinho.

mas tenho
que ir. de novo estas superstições.
detesto mentir, mas os homens
estão tão confiantes. o sonho
de juçara os abalaria.

o padre foi recebido com carinho pelos índios. foi com angústia
que omitiu a sepé a informação que, talvez, salvaria sua vida...

sim, me pediu que


abençoasse tua luta.
confia mais do que
ninguém na vitória.

traz notícias de
juçara, padre?

e quem pode dizer que o padre estava


errado? um homem deve agir conforme
sua consciência. ninguém sabe o que
aconteceria se ele falasse a verdade.
só se sabe o que de fato aconteceu...
no dia seguinte, sepé saiu com
200 homens. recebera uma notícia
falsa de que os aliados queriam
negociar. era uma emboscada...

santo deus! os
espanhóis, milhares
deles! são como
formigas que vêm de
todos os lados.

meia volta! temos


que encontrar uma
rota de fuga.

ao se virarem, encararam os dragões de rio pardo, da


tropa portuguesa. sem saída, sepé reuniu todos os homens
em um único flanco e lançou-se sobre a frente inimiga.

numa loucura de sangue, os gritos dos guerreiros se confundem com sons


de tiros, entrechoque de lanças e espadas, relinchos de cavalos assustados.
nem em seus últimos momentos,
senhor! não abandonai
vendo caírem um a um seus melhores
estes filhos que
amigos, sepé perdeu sua fé.
vos amam...

qualquer outro em seu lugar


teria se rendido, tentado negociar.

mas não ele! sepé jamais trocaria o destino


que deus lhe reservou pelo que
seus inimigos lhe impunham.
acreditou na vitória
até o último minuto...

precisava abrir caminho para seus


poucos companheiros vivos fugirem.

quando estava prestes a conseguir...


a lâmina fria da realidade
o atinge pelas costas.

mas o ferro só lhe fere o corpo. sua


crença continua intacta, invencível...

até mesmo quando o governador


de montevidéu, josé joaquim viana,
desferiu-lhe o tiro fatal.

são miguel
arcanjo! olhai pelos
guaranis.
D
ali em diante tudo aconteceu
muito rápido. Sem Sepé
contendo-lhes os passos, os
nte sobre
aliados marcharam rapidame
as Reduções.
Sepé,
Tomado de ira pela morte de
uer tática
Nhenguiru se esquece de qualq campo
em
e parte para cima do inimigo,
iboaté . O que
aberto, nas colinas de Ca
nsf ormou-se
deveria ser uma batalha tra
numa horrenda carnificina.
Em pouco mais de uma hora
nis
cerca de 1700 guerreiros guara ues
os bla nd eng
foram massacrados, e
aos feridos e
encarregaram-se de dar fim
prisioneiros.

desdobramento e
envolvimento

dispositivo de nhenguiru.
em linha - sem proteção nas alas
e sem reservas na retaguarda

ataque de
fixação
tr

pa
o

sp
or t
ugu
esas as
anhol
tropas esp
sepé
vanguarda dos índ
ios
destruída (tinha co
objetivo retardar mo
o avanço

M
luso-espanhol)
a n o b ra s
d
tropas por as
e espanho tug
las em Ca uesas
iboaté
portugueses
espanhóis
estranho,
sonhei que sepé
estava vivo... está tudo
acabado, juçara.
temos que fugir!

os jesuítas quiseram acompanhá-los e dar


continuidade ao trabalho das reduções, mas
os poucos sobreviventes reuniram o
a resistência lhes custou caro. como castigo,
que puderam levar de seus pertences
foram expulsos de toda a américa.
e transpuseram o rio uruguai.

antes de partir, os índios atearam fogo à catedral de são miguel,


queimando com ela toda a glória das missões guaranis.

quer dizer, nem toda. restou a semente, que, como se sabe, já contém todo
esplendor da árvore adulta. só é preciso paciência para esperá-la crescer.
porto alegre – rs – século xxi

não pode ser, pai. sepé


não pode ter morrido. ele
e foi isso, meu filho. não era invencível?
nessa guerra injusta nossa nação
foi exterminada e esquecida. mas
será lembrada, porque um povo
pode perder a vida, mas
nunca a alma.

se ele fosse mesmo


um herói, não teria perdido
a guerra...

morreu o homem. o herói


continua vivo, assoprando-nos ao
ouvido lembranças de um tempo em que na verdade, meu filho,
uma parte do brasil foi governada pela a guerra ainda não acabou.
liberdade, pelo bem e os guaranis acabaram de
pela justiça. conquistar uma vitória.

hoje, no dia de seu


aniversário, sepé foi
reconhecido como
herói nacional.

é hora de
comemorar. parabéns,
meu filho!

em vez de sussurrar
aos guaranis, sepé vai
bradar, só que agora
ao ouvido de todos os
brasileiros.
Dizem que a história que conhecemos é
aquela contada pelos vencedores. Mas os
vitoriosos não serão sempre os que triunfaram
nos campos de batalha. Quando acabam os
combates, inicia-se uma luta mais sutil, que
pode levar séculos.
Uma guerra moral até hoje se trava nas
mentes das pessoas que se propõem a olhar
para o passado e julgar novamente a história.
Essa guerra Sepé e seus irmãos guaranis estão
começando a vencer.
No dia 21 de Setembro de 2009, o nome
de Sepé Tiaraju foi inscrito no livro de Heróis
da Pátria, por lei de iniciativa do Deputado
Marco Maia (PT-RS).

53
Cronologia da História Missioneira 1610
1639 1682

Jesuítas Retorno dos jesuítas ao


1534
Fundação da conseguem lado esquerdo do Rio
1492
Fundação oficial primeira Redução autorização da Uruguai, região do atual
Cristóvão Colombo da Companhia Jesuítica Guarani Espanha para Estado do RS, com a
aporta na América de Jesus, na região do atual o uso de armas fundação da Redução de
em nome da ordem religiosa Paraguai, São de fogo nas São Borja, o primeiro dos
Espanha. dos jesuítas. Inácio Guaçu. Reduções. Sete Povos das Missões.

6000 a.C. 1580


1500 1634 1641
Vestígios da
Pedro Álvares Cabral Morre o rei de Portugal Entram as Batalha de
presença guarani
aporta no Brasil em Dom Sebastião I, sem deixar primeiras cabeças M’Bororé:
na Região
nome herdeiros. Felipe II, rei da de gado no lado vitória dos
Amazônica.
de Portugal. Espanha, herda a Coroa esquerdo do Rio guaranis contra
Portuguesa. Bandeirantes Uruguai, região os bandeirantes.
intensificam caça aos índios do atual Estado
guaranis para submetê-los do RS.
ao trabalho escravo.

6000 a.C.

1000 a.C. 1516 1588 1637 1680


Vestígios da Primeiro contato Os jesuítas Expulsão das Fundação, pelos
presença guarani espanhol com os chegam à 18 Reduções portugueses, de
na Região guaranis na região do região do existentes até Colônia de Sacramento,
Missioneira. atual Paraguai. atual Paraguai. então no Tape, em território espanhol,
região do atual região do atual
Estado do RS. Uruguai.

1494 1568 1626 1640 1687


Portugal e Espanha Os jesuítas Jesuítas e guaranis, fugindo Portugueses Refundação de São
assinam o Tratado de chegam da violência dos recolocam, Nicolau e de São
Tordesilhas, dividindo as à América. bandeirantes, fundam São no trono, um Miguel Arcanjo, onde
terras da América. Nicolau, primeira Redução rei português. hoje se encontra o
Jesuítica Guarani no lado sítio arqueológico
esquerdo do Rio Uruguai, mais representativo do
região do “Tape”, atual Período Missioneiro
Estado do Rio Grande do Sul. do Estado do RS e
fundação de São Luiz
Gonzaga.

54
2005

No dia 28 de junho, o
1750
deputado federal Marco
Portugal e Espanha Maia (PT-RS) apresenta
assinam o Tratado o Projeto de Lei nº
de Madri, trocando 5.516/2005 que prevê
os Sete Povos das a inscrição do nome de
Missões (que passa Sepé Tiaraju no Livro dos
para possessão Heróis da Pátria. Em 3 de
1773 1830
portuguesa) novembro, o Governo do
pela Colônia A Companhia Início da ocupação Estado do RS sanciona a
1706 1759
de Sacramento de Jesus da região Lei nº 12.366, que declara
Fundação de (que passa Jesuítas são é abolida missioneira por Sepé Tiaraju como Herói
Santo Ângelo para possessão expulsos de pelo Papa famílias luso- Guarani Missioneiro
Custódio. espanhola). Portugal. Clemente XIV. brasileiras. Rio-Grandense.

1690 1754 1814


1767 1983
Fundação de São Início da Jesuítas são O Papa Pio Unesco reconhece
Lourenço Mártir. Guerra expulsos da VII permite o São Miguel como
Guaranítica, Espanha. restabelecimento da Patrimônio Histórico
unindo os Companhia de Jesus. e Cultural da
exércitos de Humanidade.
Portugal e
Espanha contra
os guaranis.

2009

1697 1752 1761 1801 1938

Fundação de São O português Portugal e Espanha Ofensiva dos São Miguel


João Batista, a partir Gomes de Freire revogam o Tratado portugueses é reconhecida como
da divisão do povo de e o espanhol de Madri, permitindo Manuel dos Santos Patrimônio Nacional
São Miguel Arcanjo. Marquês de o retorno dos Pedroso e José Brasileiro.
Valdelirios são guaranis e jesuítas Borges do Canto
nomeados para à região dos Sete retomam o que
demarcar o Povos. havia restado
Tratado de Madri das decadentes
junto à fronteira Reduções
sudoeste. Guaranis, tornando
1768
a área disponível
Jesuítas são à concessão de
1735 1756
expulsos da sesmarias. Esta
Início das obras No dia 7 de fevereiro, América. data marca o
da Igreja de São Sepé Tiaraju é morto. fim do Período
Miguel pelo No dia 10 de fevereiro, Missioneiro.
arquiteto Jean ocorre a Batalha de
Battista Primoli. Caiboaté, que marca a 2009
derrota dos guaranis e Em 26 de março, o PL nº 5.516/2005, do Deputado Marco Maia é
resulta na expulsão dos aprovado, por unanimidade, na Comissão de Constituição, Justiça e
índios sobreviventes Cidadania da Câmara dos Deputados e é remetido ao Senado (passa a
e dos jesuítas para a chamar-se Projeto de Lei da Câmara nº 63/2009). Em 11 de agosto, o
banda oriental do Rio PLC nº 63/2009 é aprovado na Comissão de Educação, Cultura e Esporte
Uruguai, atual território do Senado Federal, tendo como relator o senador Paulo Paim (PT-RS).
da Argentina. Fim da Finalmente, no dia 21 de setembro, o Vice-Presidente da República, no
Guerra Guaranítica. exercício da Presidência, sanciona a Lei nº 12.032/2009, que inscreve o
nome Sepé Tiaraju no Livro dos Heróis da Pátria.
55
Alcaide
Glossário
Antigo cargo de governador de um castelo, província ou comarca.
Espécie de prefeito, encarregado de administrar a Redução.

Anhangapitã Anhagá (diabo) Pitã (vermelho). Era o demônio, na crença religiosa


indígena.

Arcabuz Arma de fogo criada na Alemanha e difundida entre os exércitos


europeus. Tratava-se de um cano de metal engastado numa coronha
de madeira. Era carregado pela boca com pólvora e bolas de ferro.
O disparo era realizado, inicialmente, com uma mecha de pano em
que se punha fogo e depois por um gatilho rudimentar que acionava
a espoleta.

Baio Cavalo de pelo amarelado.

Brique da Redenção Todos os domingos, pela manhã, funciona uma grande feira de
artesanato e antiguidades, na maior praça de Porto Alegre, conhecida
como Parque da Redenção. Nessa feira, os índios descendentes dos
guaranis, vendem seus produtos.

Cabildo Sede do governo; prefeitura.

Carnear Termo ainda usado entre os criadores de gado. Significa matar e


separar em partes a carcaça da rês.

Corregedor Espécie de juiz, a quem cabia resolver conflitos e pendências. Suas


atribuições eram especialmente marcantes no terreno que hoje
corresponde à polícia de costumes. Era a maior autoridade laica na
Redução.

Cura Padre nomeado pela Cia de Jesus para chefiar uma Redução, onde
era a autoridade máxima.

Índio vago Indivíduos nômades, muitas vezes índios expulsos de suas tribos, que
vagavam pelos campos, sem rumo, vivendo de roubo de gado e dos
meios que a natureza lhe oferecia. Eram temidos pela crueldade que
empregavam em suas ações.

Malacara Denominação de pelagem do cavalo que tem uma mancha branca da


testa até o início do focinho.

56
Minuanos Uma das tribos consideradas mais ferozes pelos colonizadores, ao
lado dos Charruas e dos Ibirajaras. Grandes cavaleiros, percorriam
como nômades o oeste rio-grandense. Do seu nome vem o nome do
vento frio e seco que sopra no inverno gaúcho.

Mosquete Arma de fogo portátil usada pelas potências europeias a partir do séc.
XVI. Trata-se de uma evolução do “arcabuz”, sendo o predecessor da
espingarda moderna.

Reduções O significado da palavra implica em subjugar, submeter. No caso


das Missões, essa submissão dos indígenas à organização social
proposta, dava-se não pela força, mas pela doutrinação religiosa e
pela segurança material e espiritual que oferecia aos homens e suas
famílias.

Taquaruçu Espécie de bambu gigante, usado para fabricar canhões rudimentares.


Eram enrolados com tiras de couro cru para aumentar a resistência.

Terra sem Um dos fatores que facilitou a assimilação da doutrina cristã entre
Males os guaranis foi a semelhança com os credos indígenas nos conceitos
fundamentais. Um só deus, Tupã, um demônio, Anhangapitã, e uma
Terra sem Males, que seria o Céu para os católicos.

Personagens
históricos

Pe. Altamirano Lopes Luis Altamirano. Enviado pela Companhia de Jesus para
coordenar, com os jesuítas, o cumprimento do Tratado de Madrid.
Ameaçado e perseguido por Sepé Tiaraju, retirou-se para Buenos
Aires, desistindo da missão.

Pe. Gian Sacerdote jesuíta e arquiteto italiano. Foi o mais importante arquiteto
Battista Primoli das Missões hispano-americanas, sendo tido como autor da igreja de
São Miguel, hoje a maior relíquia missioneira em terras do Brasil, e
declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Pe. Lourenço Cura da Missão de São Miguel Arcanjo. Rebelou-se contra as ordens
Balda da Coroa Espanhola, dando todo apoio aos indígenas e à organização
da sua resistência, não se importando que recaíssem sobre ele as
acusações de traição e de crime de lesa-majestade.

Pe. Miguel Miguel de Soto. Auxiliar do Cura de São Miguel, participou da


resistência indígena.

57
Contexto Histórico
A história de Sepé Tiaraju, o índio missioneiro notabilizado na resistência à
demarcação luso-espanhola do Tratado de Madri, que levou à extinção as
Missões Guaraníticas, talvez ainda seja pouco conhecida além dos limites do
Rio Grande do Sul.
Os registros históricos sobre a saga das Missões estão presentes nos arquivos
da Companhia de Jesus, nos diários e relatórios dos exércitos português e
espanhol e nas cartas enviadas à Europa pelos visitantes das Missões. Pouco
falam de Sepé Tiaraju. Nem a uns, nem a outros interessava dar realce à
resistência guarani, contrariando as ordens das poderosas Coroas européias.
Predominava, então, a tradição oral, que, a par dos fatos reais, ia
acrescentando frases, fatos e passagens nascidos da imaginação de cada
narrador. Era tempo de culto ao heroísmo, às grandes façanhas guerreiras e à fé
religiosa. Em várias versões, essas lendas atravessaram os séculos.
Um dos primeiros escritores a promover relato dos feitos de Sepé Tiaraju foi
o poeta luso-brasileiro Basílio da Gama, que, em 1769, publicou O Uraguay,
inspirado na expedição luso-espanhola demarcadora dos limites do Tratado de
Madrid. Tratava-se, entretanto, de uma obra poética, sem pretensão de apego
a detalhes e registros históricos.
Foi somente no século XX, paralelamente ao desabrochar do movimento
tradicionalista gaúcho, que a história do Rio Grande passou a ser valorizada.
Grandes escritores, como Barbosa Lessa, Érico Veríssimo, Josué Guimarães,
Walter Spalding, Simões Lopes Neto, Cyro Martins, Alcy Cheuiche, Luiz Antônio
de Assis Brasil e tantos outros expoentes da literatura rio-grandense dedicaram-
se a pesquisar e publicar a epopeia da formação das fronteiras no Sul do Brasil.
Numa conferência em 1926, o poeta Mansueto Bernardi defendeu a tese de
que o cacique, por ter lutado contra os invasores das Missões, foi “o primeiro
caudilho riograndense”

58
Recentemente, foi lançado em Porto Alegre um livro intitulado A Saga no
Prata, de Juvêncio Saldanha Lemos, que pode ser considerado como um dos
trabalhos de pesquisa histórica mais completos e minuciosos até hoje publicados
sobre a formação dos estados platinos, incluindo as terras e os episódios ocorridos
na gestação do que seria o futuro Estado do Rio Grande do Sul.
Para bem compreender e julgar fatos corridos há tanto tempo, é preciso ir
além dos fatos. É preciso entender como viviam aqueles homens, de que se
alimentavam, como pensavam, como se protegiam das intempéries, em que
divindades acreditavam, como se relacionavam com outros grupos, que armas
usavam nas guerras, como eram suas famílias, enfim, é preciso conhecer o
contexto em que a história se desenrolou.
Visando a introduzir o leitor naquele espaço-tempo, procuramos, neste
trabalho, reproduzir com a maior fidelidade possível o ambiente das Missões
para que o leitor possa melhor avaliar a grandiosidade do projeto dos jesuítas;
perceber a desproporção da luta estóica dos índios e sentir o sofrimento daquele
povo abandonado, perseguido e desterrado, depois de participar de um exemplo
de convivência humana que poderia servir de referência a todos os povos.

Roberto H. F. Fonseca
Roberto H. F. Fonseca, gaúcho natural de Porto
Alegre, é um estudioso da história do Rio Grande do
Sul, à qual, desde há muito, vem dedicando seu tempo
e atenções. Suas preocupações vão além do simples
conhecimento, propondo-se a transmitir, principalmente
para os moços, herdeiros e continuadores da nossa
cultura, toda a nobreza contida na rude disposição
daqueles homens que marcaram as fronteiras sul
do Brasil. É autor, entre outras publicações, do livro
“História do Rio Grande do Sul para Jovens”.

59
Sepé Tiaraju,
Herói Brasileiro
No dia 7 de fevereiro de 2006, foram celebrados os 250 anos da morte de Sepé
Tiaraju, o índio que liderou os guaranis na resistência à demarcação imposta por
portugueses e espanhóis através do Tratado de Madrid. O acordo determinava
a expulsão dos guaranis de suas terras, as chamadas Reduções Jesuíticas.
Na ocasião das comemorações daquela data histórica, apresentamos o
Projeto de Lei nº 5.516/2005, que propunha a inscrição do nome de Sepé
Tiaraju no Livro dos Heróis da Pátria.
A proposta, após aprovação na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal, veio a ser sancionada no dia 21 de setembro de 2009 pelo Vice-
Presidente da República, no exercício da Presidência da República, Sr. José
Alencar. Esse ato tornou-se motivo de muita alegria e satisfação para centenas
de organizações sociais, sindicais, religiosas e de pesquisadores e estudiosos
que sempre buscaram atribuir o devido reconhecimento a essa importante
passagem da História do Brasil.
Por sua bravura, Sepé Tiaraju se fez santo pelo povo gaúcho, que, por conta
própria, o canonizou como São Sepé. E, pelo legado de tenacidade na defesa
do solo em que nasceu, tornou-se uma referência na luta pela preservação da
terra. Em reconhecimento aos seus feitos é que recebeu a justa homenagem de
ter o seu nome inscrito ao lado de ilustres brasileiros como Tiradentes, Zumbi
dos Palmares, Santos Dumont e D. Pedro I, entre outros.
Com este material, a Câmara dos Deputados quer contribuir para resgatar
uma das mais belas páginas da história nacional e atribuir o devido valor
histórico, antropológico e cultural às Missões Jesuíticas e a seu líder guarani
Sepé Tiaraju, cujo legado torna-o um verdadeiro herói popular, um verdadeiro
Herói Brasileiro.

Deputado Federal Marco Maia (PT-RS),


Primeiro-Vice-Presidente da Câmara dos Deputados
60
és o invencível
escolhido de tupã
para salvar nossa
gente, sepé.
o tempo dos guaranis
virá, ainda que se passem
3 mil luas.

Três mil luas se passaram, e a profecia do velho Xamã está para se concretizar...
Chegou a hora de o Brasil conhecer a história de um de seus maiores heróis,
o líder dos índios que ousaram desafiar os exércitos de Portugal e Espanha
para defender o paraíso que nasceu de seu encontro com os jesuítas, nas
planícies férteis do Sul.
Esse tesouro Guarani ainda está lá, à espera de ser descoberto. É uma herança
de todos os brasileiros. É seu. Siga os passos de Sepé Tiaraju e encontre-o...

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