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O PODER DA MANUTENÇÃO E A MANÍA DO CENTRISMO

Edgard Rodrigues Rocha Junior1

Conheci um viajante de uma terra antiga que disse:


"Duas imensas pernas de pedra, sem tronco,
Jazem no deserto. Junto a elas,
Parcialmente afundado na areia,
Um rosto despedaçado, com o lábio
Franzido e enrugado em um sorriso escarnecedor de frio poder,
Demonstra que o escultor bem instruiu tais paixões,
Que ainda sobrevivem, estampadas naquelas coisas sem vida,
A mão que as forjou e o coração que as alimentou;
No pedestal há a seguinte inscrição:
'Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Olhem para meus feitos pujantes e desesperem-se!'
Nada resta além disso.
Ao redor daquela ruína colossal, ilimitada e desnuda,
As areias solitárias e planas espalham-se ao longe."

Percy Bysshe Shelley, "Ozymandias"

O poéta romântico inglês Percy Bysshe Shelley, ao se deparar com uma estátua do
famoso faraó egípcio Ramsés II, observou que naquele busto de pedra existia muito mais que
arte. Lá havia a superação da vida pela obra, da morte pelo passado. A verve daquele
momento inspirou Shelley a escrever a obra Ozymandias, onde se apoderou da imagem de
Ramsés II para dissertar sobre temas que envolvem a lascívia do poder. Shelley percebeu a
tamanha importância do poder político, que há mais de mil anos encontrava-se materializado
"naquelas coisas sem vida", mas Ramsés ou, Ozymandias, percebera muito antes que a
consolidação e a unidade do poder público é um instrumento prático que transcende o
esquecimento inerente ao tempo.
Dos faraós egípcios aos incipientes pensadores políticos gregos, fazendo-se uma
transição pela era das revoluções burguesas até alcançar-se as burlescas rusgas da sociedade
contemporânea, a história humana mostra-se marcada por frenéticas fricções na luta pelo
poder político. A classe dominante da situação busca a manutenção do poder e por isso, usa e
abusa de manobras maquiavélicas que às propiciem este fim.
Nos últimos dois anos, nos bastidores do cenário político brasileiro, por exemplo, foi-
se aos poucos, por mãos extremamente ardilosas, entalhado a figura daquela que seria a
1
Acadêmico do curso de Direito pela Universidade Estadual de Londrina.
próxima candidata a dar continuidade ao poder da situação. A exposição pública premeditada
da ex-ministra Dilma Roussef na mídia e a alusão de sua figura à personalidade popular do
presidente Lula, gerou, o que Nietzsche chamaria de "pensamento de rebanho", em boa parte
do povo brasileiro, a suposição de que a continuidade do progresso conquistado pelo Brasil
nos últimos anos – fruto este, embrionário da estabilização econômica oriunda do plano real –
findar-se-ia junto com o término do governo liderado pelo PT. Isso criou um medo latente
tanto no cidadão carente, que é beneficiado pelos programas sociais do governo, quanto na
classe média, a qual viu sua renda permanecer sólida mesmo durante um colapso econômico
global. O mais intrigante disso tudo é que a figura legendária de Lula causou frisson letárgico
em seus opositores. Esquerda e direita nunca estiveram tão ao centro.
Direitistas declarados estendem os braços a esquerdistas, sendo a recíproca verdadeira.
Alianças políticas nunca antes imaginadas aconteceram durante esse período. Quem
acompanhou a crise assentada sobre o setor agropecuário alguns anos atrás, onde o governo
negava suporte financeiro aos agricultores enquanto fazia concessões absurdas à barbárie
comunista do MST, jamais imaginaria que Bláiro Maggi, um dos maiores nomes do
agronegócio no mundo, ao se lançar candidato ao senado pelo estado de Mato Grosso através
da legenda do Partido Republicano (PR) - nascido da fusão entre PL e PRONA - apoiaria a
presidenciável Dilma Houssef, ícone da esquerda brasileira, durante sua campanha política.
Tanto Bláiro como muitos dos latifundiários que antes abominavam o PT, hoje são fiéis
coronéis da estrela vermelha.
É nítido que o tempo da oposição já acabou. Hoje só existe situação. Direita ou
esquerda, não há diferença. Girondinos, jacobinos e montanheses brasileiros tornaram-se
meros cordeliers2. Tudo que os representantes do povo querem é dar continuidade ao poder
para que possam chegar cada vez mais perto da nutritiva "teta” da máquina estatal e sugar
descaradamente a força vital e moral do cidadão brasileiro.
Assim, deveras, tal qual Ramnsés II, o futuro ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
também plantou algumas árvores num oásis já ornamentado por alguém e tornou-se um Deus
para os seus, e sua filha, a anti-herói Dilma Roussef, fez estremecer e englobar qualquer sorte
de opositores, que assim como as areias solitárias do deserto descritas na poesia de Shelley,
somente espalham-se ao longe.

2
Grupo de independentes liderados por La Fayette que procuravam manter-se politicamente ao centro, entre os
girondinos e os jacobinos, durante a Revolução Francesa.

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