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capa tech 133_ilustra_d.

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a revista do engenheiro civil


téchne 133 abril 2008

www.revistatechne.com.br

apoio
IPT techne
Edição 133 ano 16 abril de 2008 R$ 23,00
Especial Sustentabilidade ■ Projetos sustentáveis ■ Reúso de águas ■ Luminotecnia ■ Fachadas ■ Instalações elétricas ■ Conexpo 2008

Sustentabilidade
O que torna um projeto sustentável? Confira as
00133

soluções que estão mudando a construção civil


9 770104 105000

■ Como aproveitar água de chuva


ISSN 0104-1053

■ Fachada cortina com paredes duplas


■ Sistema de reúso de águas cinzas e negras
■ Luminotecnia e uso de luz solar
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SUMÁRIO
CAPA
44 Projeto sustentável
Veja algumas das obras mais
emblemáticas em soluções
de sustentabilidade

66 CONEXPO 2008
Máquinas a caminho
Confira os destaques da indústria
mundial de máquinas que podem
desembarcar no País
Naldo Mundim/Realmix Concreto

72 ARTIGO
Avaliação ambiental de edifícios
Veja as diferenças entre as principais
metodologias de avaliação
de sustentabilidade

99 COMO CONSTRUIR
Sistema de aproveitamento de águas
38 FACHADAS pluviais para usos não potáveis
Alto desempenho, baixo Pesquisadores do IPT propõem
impacto instalação simples de captação e uso
Especialistas avaliam desempenho de água de chuva
de fachadas cortina, ventiladas
e outros sistemas
SEÇÕES
Marcelo Scandaroli

54 REÚSO DE ÁGUA Editorial 4

22 Soluções não potáveis


Quais os requisitos para
Web
Área Construída
8
10
reaproveitamento de águas Índices 14
ENTREVISTA cinzas e negras nas edificações IPT Responde 16
Cultura sustentável Carreira 18
Arquiteto critica processos da 60 INSTALAÇÕES Melhores Práticas 20
construção e exageros do ELÉTRICAS – Técnica e Ambiente 30
marketing sustentável ESPECIAL 60 ANOS P&T 78
Segurança em evolução Obra Aberta 94
32 LUMINOTECNIA Na linha do tempo, materiais Agenda 96
Menos luz, mais eficiência elétricos ganham em
Lâmpadas mais eficientes e uso economia e segurança
da luz natural iluminam Capa
sem tirar o conforto Ilustração e layout: Sergio Colotto

2 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008

É parte integrante desta revista uma amostra da manta tipo III da Denver
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EDITORIAL
A insustentabilidade humana
VEJA EM AU
sustentabilidade ganha posição de destaque em um raro
A momento de prosperidade do setor. A coincidência histórica
é interessante, pois a discussão a ser travada pela sociedade é
exatamente essa: como aliar crescimento econômico e avanços
tecnológicos com responsabilidade ambiental. O arquiteto e
professor Geraldo Gomes Serra, pesquisador do Nutau (Núcleo
de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da  Entrevista:
Universidade de São Paulo), possui uma bela definição de Sergio Tepperman
sustentabilidade. Para ele, processos relacionados à construção  Cobertura da Revestir
só podem ser sustentáveis "quando podem ser mantidos  Pini 60 anos: revestimentos
cerâmicos
indefinidamente, quando nada determine o seu fim". A ilustração
de capa desta edição, que traz o símbolo internacional associado VEJA EM
à reciclagem, segue tal linha. Trata-se, no entanto, de um assunto CONSTRUÇÃO MERCADO
com muitos aspectos. Um material cujo processo de fabricação
gera baixa emissão de gases causadores do efeito estufa é
necessariamente sustentável? E se a vida útil dele for curta? Todo
cuidado é pouco, ainda mais em uma seara que tem sido alvo
constante de ações irresponsáveis de marketing. Ualfrido del Carlo,
entrevistado desta edição, teve passagem pelo instituto de
pesquisas francês CSTB (Centre Scientifique et Technique du
 Retrofit para moradia
Bâtiment) em 1961 e, desde então, pesquisa o assunto. Para ele, a  Incorporadoras de
sustentabilidade deve ser vista também a partir de aspectos sociais capital aberto
e não apenas tecnológicos. Critica a construção baseada em baixos  Entrevista com o
presidente do PDG Realty
salários, a chamada "insustentabilidade humana" e o pouco ou
quase nenhum esforço em prol da industrialização das obras. VEJA EM EQUIPE DE OBRA
Nesta edição você poderá conferir alguns projetos premiados,
principalmente internacionais, compreender as dificuldades que
envolvem o projeto de fachadas, e conhecer o funcionamento de
sistemas de reúso de águas cinzas e negras. Vale a pena também
conferir o artigo dos pesquisadores do IPT para desatar a miríade
de certificações ambientais para edificações. No próximo dia 19 de
agosto, levaremos a discussão das páginas da revista para um
evento em São Paulo intitulado "Empreendimentos Imobiliários  Laje nervurada
Sustentáveis – Viabilidade, Projeto e Execução".  Escoramento metálico
 Tipos de cimento
Paulo Kiss  Como calcular tinta

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Confira no site da Téchne fotos extras das obras, plantas e informações que complementam conteúdos
publicados nesta edição ou estão relacionados aos temas acompanhados mensalmente pela revista

Arquitetura verde
Veja mais imagens de obras que se destacaram por seus diferenciais de
Fórum Téchne
sustentabilidade. Tais edificações empregaram todas as tecnologias disponíveis O site da revista Téchne tem um
para diminuir os impactos ao meio ambiente e à saúde humana. espaço dedicado ao debate técnico
e qualificado dos principais temas
da engenharia. Confira os temas
em andamento.

O desabamento do metrô foi


uma fatalidade?
Uma pedra desse tamanho
dificilmente não seria detectada,
mesmo que os furos de sondagem
estivessem bem espaçados. O que
realmente houve foi um
apressamento das escavações.
O motivo principal, a meu ver, foi
um erro crasso de execução, faltou
Divulgação BC ZEDFACTORY

"bate-choco". A má execução, ou
não-execução dessa atividade,
pode ocasionar o que é chamado
de "chaminé". Vai se criando um
vazio por sobre a falha, até que
ocorre o rompimento.

Máquinas a Paulo Adriano Niel Freire [29/03/2008]

caminho Essa enquete em nada contribui com


a Engenharia Nacional. O assunto
Confira mais fotos dos equipamentos está sendo estudado por institutos
apresentados na Conexpo-CON/AGG 2008, e profissionais competentes, não
Divulgação Conexpo CON/AGG

realizada em Las Vegas. Visitantes se cabem opiniões que não estejam


surpreenderam com as soluções fundamentadas em dados técnicos.
multifuncionais das máquinas, sobretudo as Milton Gattaz [29/03/2008]
americanas que se adequariam mais à
construção civil brasileira. Você acha correto assediar
profissionais empregados em
outras empresas?

Selo brasileiro Toda empresa tem o direito de


buscar melhores profissionais para
Conheça os 14 requisitos para a seus quadros. Cabe a cada empresa
certificação do novo selo de a valorização dos seus empregados,
sustentabilidade Aqua (Alta Qualidade por meio de salário adequado,
Ambiental), desenvolvido pela Fundação benefícios, reconhecimento,
Vanzolini, Poli-USP (Escola Politécnica da autonomia, boas condições de
Universidade de São Paulo) e CSTB trabalho, desafios profissionais
Marcos Lima

(Centre Scientifique et Technique e possibilidade de crescimento.


du Bâtiment). Fábio Santos e Silva [21/03/2008]

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ÁREA CONSTRUÍDA
Viaduto será iluminado com LEDs em São Paulo Ensaio alternativo
de solo reduz custo
de casas populares
Para baixar o custo das sondagens
geotécnicas e orientar a escolha da
fundação de casas populares,
pesquisadores desenvolveram
ensaios alternativos de avaliação do
solo. Foram desenvolvidos no Projeto
Moradia, financiado pelo Programa
Habitare, três métodos de ensaio: o
trado, que permite identificar de
Fernando Conti-Secom

forma tátil-visual a amostra de solo


coletada; o cone dinâmico leve
(DPL), que pesa pouco e pode ser
executado por apenas dois operários;
O viaduto Santa Ifigênia, inaugurado mil. Além do viaduto Santa Ifigênia, o e o teste expedito de expansão e de
há quase um século no Centro de São Ilume (Departamento de Iluminação colapso, uma versão simplificada dos
Paulo, vai receber um novo sistema de Pública) pretende iluminar com testes convencionais. Mais baratos
iluminação com tecnologia LED (em LEDs outros monumentos e edifícios que os ensaios convencionais, os
português, luz de emissão de diodo). na região central da Cidade. A inten- novos métodos prometem reduzir
Serão iluminados, em estilo Art Nou- ção é dar destaque aos prédios histó- ainda mais os custos de produção
veau, o entorno dos arcos e a borda ricos. O consumo de energia é 85% das casas populares. Estimando uma
inferior do gradil. O processo de menor em relação a projetores con- moradia de interesse social entre
compra de material e contratação de vencionais e o sistema tem duração R$ 10 e R$ 24 mil, por exemplo, o
mão-de-obra já foi iniciado, a obra de 15 anos. A expectativa do Ilume é emprego da técnica SPT (Standard
tem previsão de entrega para o fim de que o retorno do investimento ocorra Penetration Test) pode alcançar até
junho. O investimento será de R$ 400 em um ano e meio. 20% do custo da obra.

Abece lança serviço de verificação de projetos


A entidade, que congrega escritó- sivamente por seus membros. A en- vir de base para o aperfeiçoamento
rios de engenharia estrutural, lan- tidade também poderá funcionar do processo. A Abece justifica a
çou o serviço chamado PVA (Proje- como mediadora de conflitos em prudência afirmando que, apesar
to Verificado Abece) no início deste casos polêmicos nos quais os proje- de o produto ser uma fonte de re-
ano em caráter experimental. A as- tos já tenham sido desenvolvidos. A cursos para a entidade, pode tam-
sociação objetiva ser solicitada a primeira fase será limitada para que bém lhe gerar passivos, caso não
emitir os certificados única e exclu- os primeiros trabalhos possam ser- seja bem desenvolvido.
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Sustentabilidade, por Geraldo Gomes Serra


Segundo o arquiteto, mercado não tem a percepção correta desse conceito

Marcelo Scandaroli
Arquiteto formado pela FAU-USP Quais as definições correntes?
(Faculdade de Arquitetura e Urbanis- A primeira, presente na maior parte
mo da Universidade de São Paulo), dos manuais, afirma que um processo
desde 1961 é professor titular da Uni- é sustentável quando emprega apenas
versidade e pesquisador do Nutau recursos renováveis. Ou, ao empregar Sempre em busca de materiais
(Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da recursos não-renováveis, o faz em plenamente renováveis?
Arquitetura e Urbanismo da Universi- ritmo tal que permite o desenvolvi- Enfatizo outro aspecto da questão, que
dade de São Paulo). Seu foco é a tecno- mento de sucedâneos.A segunda defi- envolve a durabilidade e a reciclagem.
logia da arquitetura e urbanismo, nição, da comissão Brundtland, diz O edifício que pode ser reciclado é feito
principalmente a partir do desenvolvi- que processos são sustentáveis quan- para durar séculos, incluindo a organi-
mento urbano, urbanização, cidade, do as futuras gerações podem conti- zação do espaço pelo arquiteto.Quanto
habitação e metodologia de pesquisa. nuar a desfrutar deles da mesma ma- mais flexível,mais contribui para a reci-
Para o meio da construção civil, o tema neira como desfrutamos hoje. As duas clagem. Aí aparece a tríade: reciclagem,
sustentabilidade ainda é permeado por dizem que um processo é sustentável durabilidade e flexibilidade. Ao olhar-
conceitos pouco nítidos. Não são claras quando pode ser mantido indefinida- mos para a construção civil, cujo pro-
as responsabilidades dos construtores e mente, quando não há nada que de- duto é supostamente durável, conside-
dos profissionais de projeto, pois os termine o seu fim. ramos a questão da durabilidade para
impactos de uma obra sobre o meio não ficarmos fanaticamente presos à
ambiente envolvem desde a forma de A sustentabilidade está ligada à definição original da sustentabilidade.
produção dos insumos até a eficiência industrialização?
energética do edifício. Para esclarecer A construção com métodos sustentá- Por ser a maior geradora de resíduos,
alguns dos conceitos mais básicos da veis é uma questão de racionalidade. qual o papel da construção?
sustentabilidade aplicada à construção, Mais eficiência, menor custo, raciona- Temos alguns caminhos a escolher. Um
o pesquisador do Nutau, professor Ge- lidade no uso de recursos e bom de- é reciclar. No entanto, quase todas as
raldo Gomes Serra, foi entrevistado sempenho do ponto de vista térmico e pesquisas que tentaram transformar
pela Téchne. Confira o que pensa o ar- acústico, por exemplo, contribui para a entulho em material de construção de
quiteto e quais os principais dilemas do sustentabilidade. Quanto mais sofisti- novo concluíram que o processo é
mercado sobre o tema. cada for a construção do ponto de vista muito caro. E, se é caro, não é sustentá-
tecnológico, será mais sustentável por vel. Ainda assim, é possível usar blocos,
O mercado sabe o que é levar em consideração esses aspectos. do concreto de demolição para base de
sustentabilidade em edificações? vias públicas, principalmente urbanas,
A julgar por reações que tenho visto É necessário desenvolver novos com resultados muito bons. Mas, ao
em reuniões que o Nutau promove, materiais? analisar os entulhos atuais, verificamos
existe bastante confusão. Com fre- A pesquisa nessa área é prioritária. Há uma grande quantidade de embala-
qüência aparece alguém dizendo que um componente que é a nossa even- gens, materiais que não posso utilizar
não se sabe o que é sustentabilidade, tual contribuição para as mudanças na base da rua. Então há o problema da
que há definições diferentes. Trata-se climáticas. Sabemos que a quantidade separação. E se lixo é confusão, desor-
de um ambiente acadêmico, e quem de gases de efeito estufa está aumen- dem, a coleta seletiva propõe parar de
faz essas colocações não é do mercado, tando e que nossa contribuição é mui- produzir lixo.A sustentabilidade consi-
mas acadêmicos que deveriam estar to grande.A construção civil gera mui- dera cada um desses aspectos da aglo-
bem informados. Por isso, acredito tos gases, pois é uma grande consumi- meração, da construção, do edifício, da
que o conceito é um pouco difuso. dora de petróleo. operação, da produção de materiais.
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ÁREA CONSTRUÍDA

Grêmio apresenta projeto de seu novo estádio


Com intervenções,
UnB economiza 30%
em conta de água
A UnB (Universidade de Brasília)
economizou mais de R$ 4 milhões
em sua conta de água nos últimos
dois anos. O valor médio das faturas
mensais caiu de R$ 345,6 mil, em
2005, para cerca de R$ 242 mil em
2007. O investimento da UnB no
período foi de pouco menos de
R$ 100 mil. Desse total, R$ 27,2 mil
foram usados na instalação de
hidrômetros individualizados;
O Grêmio de Porto Alegre escolheu no serem bancados pelo próprio consór-
R$ 21,3 mil em bolsas para alunos
final de março o projeto de construção cio, sem a participação do Grêmio. O
de graduação que participaram
de seu novo estádio. O consórcio TBZ- prazo de construção será de dois anos
de pesquisas; e R$ 50 mil em
OAS, que venceu a concorrência contra no regime turn key. O complexo conta-
materiais para reparos e
a proposta da Construtora Norberto rá ainda com um shopping center com
construção de novos ramais de
Odebrecht,terá até junho para apresen- 295 mil m²,uma área de escritórios com
abastecimento. Antes da
tar o contrato de construção do novo 214 mil m², um hotel, um centro de
intervenção, apenas hidrômetros
estádio ao Conselho Deliberativo do convenções, alojamento e um estacio-
mediam o consumo de água no
clube.A arena será construída no bairro namento com 66 mil m². O consórcio
campus. Com a hidrometração
de Humaitá, na zona Norte da capital terá direito a 35% do lucro gerado pelo
individualizada, foi possível
gaúcha, e terá 50 mil lugares, distribuí- empreendimento por um prazo de 20
verificar que o consumo principal
dos em três anéis. O custo de constru- anos.A receita anual estimada da Arena
é feito pelos prédios acadêmicos,
ção estimado é de R$ 270 milhões, a é de R$ 56 milhões anuais.
seguidos pelos administrativos.
A descentralização e o aumento
do número de ramais de água que
Brasil adapta selo francês para edifícios sustentáveis abastecem o campus resolveram
O Brasil tem um novo selo para a certi- fases: programação dos empreendi- o problema de pressão do sistema:
ficação de edifícios "verdes". Desenvol- mentos, elaboração dos projetos e exe- a variação nos níveis era muito
vido pela Fundação Vanzolini, pela Es- cução da obra. Com a experiência, o grande e isso ocasionava problemas
cola Politécnica da USP (Universidade Brasil integrará um grupo de trabalho como desperdício de água em alguns
de São Paulo) e pelo CSTB (Centre internacional que busca desenvolver pontos e falta de água em outros.
Scientifique et Technique du Bâti- um sistema comum de certificação A construção dos novos ramais foi
ment),o Aqua – sigla de Alta Qualidade para construções sustentáveis. O acor- realizada com o uso de furadores
Ambiental – baseou-se no selo francês do que cria a GEA (Global Environ- subterrâneos, dispensando a
HQE (Haute Qualité Environnemen- mental Alliance for Construction) deve interrupção do fluxo de carros nas
tale). Em sua primeira fase, será aplica- ser assinado dia 28 de abril, em Paris, e vias dentro da universidade. Depois
do a edifícios comerciais e escolares. reunirá também França, Inglaterra, da realização do trabalho, a rede foi
Estão sendo elaboradas, entretanto, Alemanha, Itália, Holanda, Líbano, Ar- devolvida à Caesb (Companhia de
novas certificações Aqua para constru- gentina e Chile. A idéia é que cada país Saneamento Ambiental do Distrito
ções hoteleiras e residenciais. O em- parta dessa base de conhecimentos e Federal), que agora é a responsável
preendimento será certificado em três adapte os selos às realidades locais. por sua manutenção.
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Escritório de arquitetura tem certificador Leed


O escritório de arquitetura Dante distribuídos entre empresas de certi-
Della Manna passa a contar com um ficação e algumas construtoras. Mas
profissional acreditado pelo Green em um escritório de arquitetura, nós
Building Council dos Estados unidos somos pioneiros.
para elaborar e certificar empreendi-
mentos sustentáveis com o selo Leed O que mudará nos serviços prestados?
(Leadership in Energy and Environ- Mesmo que o cliente não exija, todos
mental Design). O novo Leed-AP (Ac- os projetos sairão com conceitos de

Acervo Pessoal
credited Professional) é o arquiteto sustentabilidade incorporados, e sem
Antonio Mantovani Neto, que falou à a necessidade de acompanhamento
Téchne sobre sua certificação. de um terceiro profissional, consul-
Antonio Mantovani Neto, arquiteto
tor. Dessa forma, a certificação Leed
Numa linguagem simples e objetiva, poderá ser aplicada não apenas em
o que significa ter, em um escritório grandes empreendimentos, mas tam- Como é o processo? Que
de projetos de arquitetura, um bém em pequenas obras, de 400 m², competências são avaliadas?
Profissional Acreditado Leed por exemplo. Nós sempre procurare- Estudei durante três meses para reali-
(Leed AP)? mos especificar carpetes, mobiliário, zar a prova elaborada pelo Green
Significa que o escritório tem em sua materiais que atendam às exigências Building Council norte-americano.
equipe alguém que sabe elaborar um do Leed. Isso passará a ser uma carac- Além dos detalhes dos requisitos do
projeto sustentável, conhece o roteiro terística inata do projeto. Além disso, Leed, a prova exige, também, conheci-
de desenvolvimento com base nas estou apto a certificar empreendi- mento de conceitos básicos de susten-
exigências do Leed. Atualmente, exis- mentos externos ao escritório com o tabilidade, construído ao longo dos
tem cerca de 20 Leed-APs no Brasil, selo Leed. anos na carreira.
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ÍNDICES
CPII se mantém
estável
Mas barra de aço CA-50 puxa índice pelo
segundo mês consecutivo

índice global do IPCE (Índice


O PINI de Custos de Edificações) re-
gistrou alta de 0,07% em março, per-
centual inferior à inflação de 0,74%
apresentada pelo IGP-M (Índice Geral
de Preços do Mercado) da Fundação
Getúlio Vargas.
Pelo segundo mês consecutivo o
aço influencia o valor do índice. A
barra de aço CA-50, que em fevereiro
já apresentava alta de 1,74%, apresen-
tou inflação de 2,09% em março. O
produto, que custava R$ 3,11/kg em Data-base: mar/86 dez/92 = 100
fevereiro, subiu para R$ 3,17/kg no Mês e Ano IPCE – São Paulo
mês passado. global materiais mão-de-obra
Insumos como tubo soldável de Mar/07 110.289,87 53.099,11 57.190,76
cobre classe E (Ø = 22 mm) e lavató- abr 110.315,81 53.125,06 57.190,76
rio de louça de embutir inflaciona- mai 113.722,37 53.493,24 60.229,13
ram o índice cerca de 1,63% e 1,82% jun 113.900,14 53.671,02 60.229,13
respectivamente. jul 114.065,53 53.547,83 60.517,71
O preço do Cimento Portland CPII ago 114.197,13 53.679,42 60.517,71
saco 50 kg se manteve estável em set 114.636,80 54.119,10 60.517,71
março, não influenciando no valor do out 114.860,42 54.342,72 60.517,71
bloco de concreto de vedação. nov 115.225,62 54.707,92 60.517,71
A chapa compensada resinada dez 115.335,12 54.817,42 60.517,71
(largura 1,10/comprimento 2,20/es- jan 115.733,11 55.215,41 60.517,71
pessura = 12 mm) e a manta butílica fev 116.040,01 55.522,30 60.517,71
(espessura = 0,80 mm) mantiveram Mar/08 116.121,80 55.604,09 60.517,71
seus preços estáveis. Variações % referente ao último mês
Segundo o índice global, cons- mês 0,07 0,15 0,00
truir em São Paulo está em média acumulado no ano 0,34 0,70 0,00
5,29% mais caro nos últimos 12 acumulado em 12 meses 5,29 4,72 5,82
meses. No entanto, o valor é inferior Metodologia: o Índice PINI de Custos de Edificações é composto a partir das
ao índice de 9,10% do IGP-M sobre o variações dos preços de um lote básico de insumos. O índice é atualizado por
mesmo período. pesquisa realizada em São Paulo (SP). Período de coleta: a cada 30 dias com
pesquisa na última semana do mês de referência.
Fonte: PINI

Suporte Técnico: para tirar dúvidas ou solicitar nossos Serviços de Engenharia ligue para (11) 2173-2373
ou escreva para Editora PINI, rua Anhaia, 964, 01130-900, São Paulo (SP). Se preferir, envie e-mail:
economia@pini.com.br. Assinantes poderão consultar indíces e outros serviços no portal www.piniweb.com

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indices 133.qxd 4/4/2008 15:46 Page 15
ipt responde 133.qxd 4/4/2008 15:51 Page 16

IPT RESPONDE Envie sua pergunta para


o email iptresponde@pini.com.br

Casa de madeira
Por que a legislação de São Paulo, por recursos são corriqueiramente adota-
exemplo, não permite a construção de das em sociedades mais evoluídas, co-
casas pré-moldadas de madeira em mo a norte-americana,japonesa,nórdi-
áreas urbanas? Essa lei poderá ser ca e outras. A madeira poderá ainda ser
revista? Existiria um lobby contra a utilizada como estrutura interna de pa-
aprovação desse tipo de construção? redes ou tetos (wood frame), sendo
João Liure Naves protegida no caso por materiais com
São Paulo maior resistência ao fogo (placas ci-
mentícias, painéis de gesso etc.). Não se
A restrição deve-se ao risco de incêndio pode afirmar que existam lobbies, mas
e foi introduzida na lei há mais de meio é flagrante em nosso meio a disputa e
século, numa época em que não havia contrapropaganda entre os materiais
recursos como aditivos antichama,ma- sucedâneos como o cimento, o gesso, a

Malibu Books
teriais retardantes de incêndio, pintu- cerâmica e outros.
ras intumescentes e outros. Constru- Ercio Thomaz
ções em madeira utilizando-se desses Cetac/IPT (Centro Tecnológico do Ambiente Construído)

Construção metálica
Comparando-se uma mesma área útil, pelo melhor material da construção.Os
construções metálicas residenciais preços dos materiais, como de resto,
seriam muito mais caras do que são ainda muito influenciados pela de-
construções de concreto e alvenaria? manda. O preço do aço, por exemplo,
Estruturas reticuladas simples, metálicas, depende muito da demanda chinesa. O
e divisórias com painéis cimentícios e do cimento pode variar de R$ 12/saco
lajes steel deck não compensariam, em antes do PAC (Programa de Aceleração
Fran Parente

tempo, o custo proporcional maior com do Crescimento) para R$ 20/saco de-


trabalhadores, materiais que precisam pois do PAC. Em geral, costumo dizer
ser preparados etc.? Uma casa metálica que "se o construtor está utilizando, é
pode ser competitiva? de projeto, compreendendo casas tér- porque o sistema é economicamente
Paulo Kerr reas e sobrados, edifícios de médio viável". A velocidade de construção
Porto Alegre porte e edificações altas (acima de 20 pode,sem dúvida,antecipar a operação
pavimentos, por exemplo). Há necessi- do edifício e as receitas dela resultantes,
Quando se fala em custo de construção, dade de se considerar, ainda, os custos justificando a escolha por um sistema
há que se diferenciar, em princípio, in- diferenciados dos materiais, de mão- com investimento/preço de construção
vestimentos iniciais, custos de opera- de-obra, dos tributos, do "custo Brasil" melhor que outros.
ção e de manutenção. Há que se consi- e outros. Há, ainda, fatores culturais Ercio Thomaz
derar também as diferentes tipologias que influem decisivamente na escolha Cetac/IPT (Centro Tecnológico do Ambiente Construído)

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ipt responde 133.qxd 4/4/2008 15:51 Page 17
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CARREIRA

Kokei Uehara
Símbolo do centenário da imigração japonesa, o engenheiro
participou das obras das principais barragens brasileiras

rabalho é o que não tem faltado dico. Só foi demovido de suas intenções
T
Marcelo Scandaroli

para o engenheiro hidráulico Kokei com um vigoroso ultimato do irmão:


Uehara nos últimos meses.Além das en- "ou faz engenharia, ou continua na la-
trevistas de seleção de alunos intercam- voura". Em 1949 ele começou o curso
bistas da USP (Universidade de São de Engenharia na Escola Politécnica.
Paulo), Uehara precisa reservar espaço Apenas anos mais tarde descobriu a
na agenda para suas funções de presi- verdadeira preocupação do irmão, que
dente da Sociedade Brasileira de Cultura temia pelo futuro profissional de Kokei.
Japonesa e da Associação dos 100 Anos "Eles acreditavam que, na Engenharia,
da Imigração Japonesa. Sem contar as seria mais fácil ganhar a vida", explica.
diversas homenagens que vem receben- No terceiro ano do curso, surgiram
do por sua contribuição à Engenharia diversas oportunidades de estágio, nas
brasileira. O engenheiro nasceu no quais o engenheiro vislumbrava opor-
Japão em 1927, mas partiu para o Brasil tunidades de conseguir uma remunera-
PERFIL aos oito anos de idade.Apesar de não ter ção que aliviasse as remessas mensais de
chegado em 1908 no Kasato-Maru, pri- dinheiro enviadas pela família. Escreveu
Nome: Kokei Uehara
meiro navio de imigrantes japoneses a aos irmãos para contar a novidade. Até
Idade: 80 anos
aportar no País, ele é hoje um dos sím- hoje se lembra da primeira linha da
Graduação: Engenharia Civil pela
bolos do Centenário da Imigração. carta enviada por Kozo.Dizia algo como
Escola Politécnica da USP, em 1953
Ainda jovem Uehara teve de rever "se sua faculdade permite que você faça
Especialização: Doutorado em
os planos que fazia para o futuro quan- estágio, ela não presta. Se for fazer está-
Hidrologia pela USP, em 1964
do expôs a seu irmão, Kozo, seu desejo gio, é melhor voltar para Olímpia".
Onde trabalhou: professor da Escola
de ir à capital para estudar Medicina. Kokei obedeceu. No ano seguinte, foi
Politécnica da USP, engenheiro na
Ele tinha acabado de completar o cole- um dos dois escolhidos, dentre 40 can-
Comissão Interestadual da Bacia
gial em Olímpia,interior de São Paulo,e didatos, para se tornar aluno-assistente
Paraná-Uruguai, representante
ainda trabalhava com a família na la- do laboratório de hidráulica recém-
brasileiro na Unesco (Organização das
voura. Kozo, que se opunha à idéia do criado na Escola Politécnica. Apesar do
Nações Unidas para a Educação, a
irmão,justificou sua posição afirmando interesse em se especializar em mecâni-
Ciência e a Cultura), engenheiro e
que o Brasil já havia passado por uma ca dos solos, aproveitou a oportunidade
conselheiro no DAEE (Departamento
primeira etapa de desenvolvimento, em e deu ali os primeiros passos na carreira
de Águas e Energia Elétrica), fundador
que precisava de advogados para cons- de sucesso que construiria na área de hi-
da Fatec (Faculdade de Tecnologia do
truir seu alicerce jurídico, e por uma se- dráulica. Foi um dos pioneiros a traba-
Estado de São Paulo), entre outros.
gunda, em que necessitava de médicos lhar com modelos reduzidos para estu-
para cuidar da saúde da população. Na dos de barragem.
época, o País entrava em uma terceira Depois que se graduou, continuou
fase, de desenvolvimento de sua indús- trabalhando no laboratório e, um ano
tria e de sua infra-estrutura, e precisava e meio mais, ganhou uma bolsa de es-
de engenheiros para realizá-la. Kokei tudos para complementar sua forma-
mantinha-se irredutível, queria ser mé- ção em Paris. "Foi o primeiro 'para-

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A partir de 1965, até o final da dé-


cada de 1970, representou o Brasil no
Dez questões para Kokei Uehara Decênio Hidrológico Internacional,
1 Obras marcantes das quais maior de escassez de água no futuro, programa da Unesco que procurava
participou: Usina Hidrelétrica de o papel da engenharia hidráulica será fazer um levantamento detalhado da
Itaipu, Viaduto sobre rio em Puerto muito importante quantidade de água disponível do pla-
Pailas, na Bolívia e barragem em neta. "Em rios, lagos, oceanos, lençóis
Olímpia (SP), que foi batizada com 7 Conselho ao jovem freáticos e em forma de vapor", assina-
seu nome 41 anos depois profissional: não ser apenas la. Sua experiência lhe confere legiti-
de construída engenheiro, mas adquirir cultura midade para opinar, por exemplo,
geral, interessar-se por Filosofia, sobre a relação entre barragens e meio
2 Obra significativa da engenharia Artes, História e ser um cidadão do ambiente. Ele sabe que será criticado,
brasileira: Usina Hidrelétrica mundo, dotado de valores éticos mas defende a construção de barra-
de Itaipu e morais corretos gens, sobretudo próximas a regiões
secas e densamente povoadas. "É uma
3 Realização profissional: como 8 Principal avanço tecnológico forma de acumular água para abaste-
professor, formar discípulos que se recente: o desenvolvimento dos cer grandes áreas", justifica. Para ele, o
destacaram na política, na engenharia meios de comunicação que, além custo–benefício de se alagar uma
e nas artes; como engenheiro, de permitir conhecer melhor as grande área em benefício da popula-
participar de obras marcantes e demandas de pessoas de regiões ção do entorno é inquestionável. "Os
desafiadoras, como Itaipu cada vez mais distantes, possibilita críticos se baseiam muito no achis-
também a divulgação das mo", afirma. Da mesma forma, defen-
4 Mestres: Ciro Alves, Paulo de conseqüências – boas ou ruins – de o atual projeto de transposição do
Menezes Mendes da Rocha, Lucas de uma obra rio São Francisco que, segundo ele, al-
Nogueira Garcez cança as pequenas propriedades no in-
9 Indicação de livro: são muitos, terior dos Estados da Paraíba, Rio
5 Por que escolheu ser engenheiro: não consigo eleger apenas um Grande do Norte e Ceará.
por conselho de meu irmão, Kozo, que Apesar de ser professor da Escola
me convenceu a desistir da Medicina 10 Um mal da engenharia: uso da Politécnica da USP oficialmente
técnica apenas para fins materiais, desde 1958, Kokei mostra-se feliz em
6 Perspectivas para seu campo de acúmulo de capital, e valorizar pouco ser reconhecido como funcionário
atuação: com a perspectiva cada vez sua função ética e moral pela universidade desde 1954, quan-
do ainda trabalhava no laboratório
sem ser remunerado. Aposentado há
béns' que recebi de minha família. trabalhava à tarde na Comissão Inte- dez anos, Kokei continua dando aulas
Meu irmão admirava a capital france- restadual da Bacia do Paraná- gratuitamente na pós-graduação da
sa", revela. Fez um curso de Mecânica Uruguai. Sob orientação de Paulo de Poli e colabora com a Comissão de
dos Fluidos na Sorbonne e de Hidráu- Menezes Mendes da Rocha, fez os pri- Cooperação Internacional da USP.
lica Geral na École Nationale de Ponts meiros cálculos do estudo preliminar Em sua carreira acadêmica, também
et Chaussées, além de estagiar em um da barragem de Itaipu. Seu orgulho de ajudou a fundar a Fatec. Sobre a bio-
laboratório de Hidráulica. As expe- ter participado do projeto é tanto que grafia do engenheiro, estão disponí-
riências culturais, que o engenheiro o engenheiro guarda, até hoje, a régua veis dois livros: “Domador de Rios”,
valorizava desde a adolescência, foram de cálculo usada em seu trabalho. Ao de Aldo Pereira, e “Kokei Uehara: Re-
vividas com mais intensidade em longo da carreira, participou ainda da flexões sobre a Engenharia e a Educa-
Paris. Voltou depois de um ano e meio construção de outras grandes barra- ção”, organizado pelo historiador
para continuar trabalhando no labo- gens, como as de Barra Bonita, Ilha Shozo Motoyama.
ratório. Para complementar o salário, Solteira e Três Irmãos. Renato Faria

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melhores praticas 133.qxd 4/4/2008 15:44 Page 20

MELHORES PRÁTICAS
Terraplenagem
Com muitas etapas de laboratório, serviços de terraplenagem demandam
atenção ao solo. Ensaios durante o processo evitam distorções com o projeto

Seleção do solo Equipamentos


O material local deve ser analisado para a São escolhidos em função do serviço a
definição de suas propriedades físicas e executar e do solo selecionado.
geológicas, tais como dureza, O tamanho da área também é
granulometria, umidade, plasticidade, além fundamental para definir se o
de classificação quanto ao tipo: argilas, equipamento será manual ou de grande
siltes, areias ou combinações. Para tanto, porte. O tipo de compactação depende
deve ser adotada a classificação MCT* que do tipo de solo. Em geral, para solos
foi desenvolvida no Brasil e considera as arenosos utiliza-se vibração e, para solos
características dos solos tropicais. argilosos, o sistema de amassamento por
peso do rolo compressor é o mais
Foots: Marcelo Scandaroli

indicado.
É importante atentar para as faixas
granulométricas e as porcentagens de
areia, silte e argila.

Preparação do solo
Cada tipo de solo e de Após esse processo, é importante
equipamento conta com uma homogeneizar o material a ser
faixa de umidade apropriada. Se aplicado para terraplenagem. Em
estiver seco demais, deve ser locais com variações climáticas
umedecido. Caso contrário, acentuadas, essa etapa pode
exposto ao sol para secagem. apresentar complicações.

* A classificação MCT (Mini-Compacto-Tropical)


determina as características do solo a partir de ensaios
com corpos-de-prova compactadores e com
dimensões reduzidas

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melhores praticas 133.qxd 4/4/2008 15:44 Page 21

Compactação Controle
Ao atingir a chamada umidade ótima,
inicia-se a compactação da camada
especificado em projeto e a inclinação
dos taludes deve ser definida
tecnológico
espalhada. A energia a ser aplicada é conforme as características do Uma equipe de controle tecnológico deve
definida pelo peso do compressor, material. Quando não há informações coletar amostras para garantir que o solo
quantidade de passadas, velocidade de suficientes sobre o solo, geralmente apresente as características mínimas de
operação, espessura da camada de solo adota-se o convencional 1:1 em corte suporte exigidas pelo projetista. O controle
solta, se vibratória ou estática e pela e 1:1,5 em aterro, sendo, deve ser de caráter preventivo, buscando
superfície do equipamento. Deve-se respectivamente, referentes aos eixos calibrar em laboratório os parâmetros de
respeitar o grau de compactação vertical e horizontal. compactação. Essas diretrizes definem o
desvio de umidade e o grau de
compactação. É importante observar que
Memória técnica os serviços devem ser controlados numa
mesma jornada de trabalho, pois o ensaio
Para seguir o exemplo europeu, em que a coleta, transporte, lançamento,
de um dia não vale para o outro.
compactação de determinados tipos de homogeneização e tipo de
solo baseia-se em tabelas de referência, é compactação. Os resultados obtidos
importante criar registros do processo de podem ser aplicados em obras futuras,
compactação. Deve-se atentar para o contribuindo para um permanente
registro da classificação do solo, seleção, aperfeiçoamento tecnológico.

Colaboração: engenheiros Leônidas Alvarez Neto, diretor presidente da JBA Engenharia e Consultoria, e Jesus Abad Tolosana,
da Terram Engenharia de Infra-estrutura

21
entrevista.qxd 4/4/2008 15:50 Page 22

ENTREVISTA
Cultura sustentável
Evolução da engenharia construtiva e dos projetos demanda
questionamento de processos e padrões estabelecidos

Marcelo Scandaroli
UALFRIDO DEL CARLO
Graduado em 1963 pela Universidade
de São Paulo, passou dois anos no
CSTB (Centre Scientifique et
Technique du Bâtiment), na França,
como técnico de nível superior. Atuou
na implantação de laboratórios de
análise de conforto ambiental no IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo), onde foi
Chefe de Agrupamento. Desde 1994
pesquisa e atua na área de
sustentabilidade das edificações e
sustentabilidade na arquitetura e
urbanismo, sob enfoque do
desempenho. Hoje, testa em sua
própria casa algumas das soluções
que defende. A o receber a reportagem de Téch-
ne em sua casa, um laboratório
prático de soluções sustentáveis, o en-
que a construção civil é protagonista
no cenário de poluição ambiental. "As
organizações humanas precisam pas-
genheiro Ualfrido Del Carlo iniciou a sar por uma mudança fundamental
conversa pontuando que a engenha- para se adaptarem ao novo ambiente
ria moderna é obrigada a trabalhar empresarial e tornarem-se sustentá-
com três variáveis que foram histori- veis", resume. Logo, a noção de sus-
camente ignoradas: responsabilidade tentabilidade envolve conceitos mais
ambiental, responsabilidade social e amplos, que integram homem, meio
sustentabilidade. Conseqüentemente, ambiente e edificações. Assim, além
a evolução do raciocínio leva a extra- de contar com projetos concebidos a
polar o tripé, formado por matéria, partir de novos conceitos, a engenha-
processo e forma, que sustenta a ativi- ria sustentável tem alternativas aos
dade da Engenharia. É fundamental à processos convencionais também
nova engenharia, segundo explica, para preservar o homem, mecanizan-
considerar a quarta variável, o signifi- do processos. Apesar de haver um pa-
cado. Para tanto, deve questionar pro- norama mundial favorável, Ualfrido
cessos, padrões e imposições culturais acredita que a construção civil será o
em busca da função e da simplificação último setor a adotar uma nova pos-
das soluções. Trata-se, afinal, de apro- tura, pois nem mesmo o meio acadê-
ximar a engenharia das reais necessi- mico compreende alguns dos concei-
dades humanas, principalmente por- tos fundamentais à engenharia.

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Quais questões devem ser Deveria ser, mas a própria socieda-


respondidas para que um produto ou “O salário de quem de, por desconhecimento, se sujeita
processo possa ser classificado a comprar coisas totalmente fora
como sustentável?
trabalhou para das regras de produção. O consumi-
A engenharia sustentável procura res- construir o edifício dor pode ser alertado para mudar
ponder se as matérias-primas vêm de de postura ao sentir a necessidade
mineração e processos que respeitam o
não condiz com a mão- da sobrevivência.
meio ambiente e as relações sociais; se de-obra e há esforços
os processos industriais são de baixo Sustentabilidade e custo de
impacto ambiental e social; se os pro-
inúteis decorrentes da manutenção e operação se
dutos garantirão ao usuário facilidade não-mecanização do relacionam de alguma forma?
de uso com baixo impacto ambiental e Tem uma palavra antes, que é durabi-
social durante toda a vida útil; e se, ao
sistema. Não atendem lidade. Depois, a qualidade tem que
fim da vida útil, será possível reciclar ao primeiro ponto, que ser alta e a manutenção barata e fácil
com lixo zero. de fazer, com linguagem universal
é a sustentabilidade para adaptar novos produtos. Tem
Com base nisso, a engenharia tem humana” que considerar durabilidade, opera-
que se recriar? ção e manutenção.
Com o preço de energia e água aumen- balhando na mina de onde vem o car-
tando, tem que pensar em economizar. vão para sua churrasqueira. Há projetos É possível avaliar a sustentabilidade
Por exemplo, a cada 5 kg de cobre são de arquitetura que têm conceitos de de um edifício a partir dos custos de
gerados, na mina, 955 kg de sucata con- sustentabilidade muito interessantes, operação e manutenção?
taminada com metal pesado,que afeta o mas que não respondem a tudo isso. Nenhum edifício atingiu ainda a sus-
lençol freático. É preciso também aten- tentabilidade, mas podem ser avalia-
tar para lesões nos operários e popula- É responsabilidade da empresa dos pela economia de água, uso de
ções vizinhas à mina. Para ser sustentá- construtora responder a água de chuva, uso de materiais de
vel,tem que saber se não há crianças tra- essas perguntas? menor impacto, facilidade de recicla-
entrevista.qxd 4/4/2008 15:50 Page 24

ENTREVISTA

gem, em como ajuda o usuário a fazer É preciso cuidado, porque a sustenta-


reciclagem e manutenção. bilidade passa por variáveis das quais
“Não existe edifício os engenheiros não gostam.
Então a sustentabilidade também sustentável porque
depende da capacidade de se adaptar? Como, por exemplo,
De ser flexível, de usar materiais fáceis
tem exploração desenvolvimento humano.
de reciclar e reutilizar, de fácil manu- humana no sistema, A reciclagem de 90% das latinhas de
tenção e que utilizam todas as fontes alumínio é anti-sustentável porque
disponíveis e renováveis. Ainda é
que é baseado conta com uma mão-de-obra que se
tênue, mas é o caminho. num custo baixo contenta em ganhar R$ 100 por mês
garimpando latinha. Temos de ques-
Podemos dizer que a flexibilidade
de construção” tionar à custa de quê avançamos em
de ambientes aumenta a vida útil certos aspectos de sustentabilidade.
dos edifícios? Isso é engenharia humana. Se o salário
A flexibilidade de ambientes é um mito. creto ou rotatória e plantar grama para mínimo fosse de R$ 25 por meio-dia
O Centro Pompidou, na França, todo ajudar a segurar água. É mais barato do de trabalho, queria ver se os construto-
desmontável, é modificado raramente que asfalto e resolve o problema, pois é res usariam mão-de-obra pra carregar
porque dá um trabalho danado mexer necessário diminuir em apenas 10% a saco de cimento.
nas paredes. É difícil alguém mudar pra carga sobre o sistema de drenagem.
valer, e fazer tudo móvel para um dia Seria imperativo sistematizar
colocar uma porta é antieconômico. Se não há compreensão sobre os processos?
Flexibilidade é importante para edifí- conceitos de sustentabilidade, então Teriam de usar equipamentos para
cios de laboratório, hospitais, indús- os edifícios intitulados sustentáveis produzir em dois dias o que se produz
trias, onde as técnicas mudam muito. não seriam aprovados numa em cinco. Atualmente as instalações
Em apartamento ninguém mexe de- avaliação rígida? são feitas quebrando parede para pas-
pois que está pronto. Não vale a pena Nenhum passa nem pelo primeiro sar cano, depois o fio e os componen-
ser flexível,pois é mais barato o homem crivo. Primeiro porque não temos tec- tes para, ainda, errar os fios na caixa.
mudar do que mudar a parede. nologia. Depois porque, apesar de algu- Alguém prova para mim que não é
mas restrições, esquece-se de outras. assim? Tem que ser com chicote para
É uma necessidade criada Por exemplo, o salário de quem traba- instalar rápido e pagar R$ 4 mil por
pelas construtoras? lhou para construir o edifício é aviltante mês ao operário, que vai fazer 20
É mais barato e fácil fazer coisas que pa- e escravatício, não condiz com a mão- apartamentos por dia. Não existe edi-
recem flexíveis. Mas essa flexibilidade de-obra e há esforços inúteis decorren- fício sustentável porque tem explora-
toda não vai ser usada. O homem é tra- tes da não-mecanização do processo. ção humana no sistema, que é basea-
dicional e não quer mudar muito. Mesmo com bombas de concreto e ou- do num custo baixo de construção.
tros equipamentos, ainda vemos muito
A engenharia sabe o que operário carregando fôrma de um Para pagar mais ao operário é
é sustentabilidade? andar para o outro pela fachada. Não necessário aumentar a produtividade?
Tem projetos um pouco melhores,bus- atendem ao primeiro ponto,que é a sus- Se o operário ganhar bem, tem que sis-
cando certificação Leed [Leadership in tentabilidade humana. tematizar ou não dá para pagar. É in-
Energy Environmental Design], mas a justo pagar R$ 500 por mês para um
engenharia brasileira não consegue en- A noção de sustentabilidade tem operário empilhar tijolinho o dia intei-
tender alguns conceitos. Em uma con- que ser ampliada. ro. É porque tem escravo, ou então só
ferência sobre a construção de pisci- Um edifício tem sistema para coleta de milionário poderia fazer casa assim.
nões em São Paulo eu disse que não água de chuva, mas não trata. O outro Europa e Japão, que estão em outra
precisavam ser construídos desde que trata, mas não se preocupa com ener- fase de industrialização, trabalham
algumas ruas fossem despavimentadas. gia. A segurança contra incêndio é um com painéis parafusados.
desastre no Brasil. Os prédios são mais
Como assim? modernos, mais econômicos, têm ele- Então a construção industrializada é
Ao despavimentar as ruas de um bairro vadores inteligentes e tudo, mas falta mais sustentável?
residencial,colocando manta drenante, uma porção de coisas. E começa na Não necessariamente, mas tende a ser
cascalho e areia, tudo passa a drenar e mina. Se algum trabalhador foi explo- por restringir os problemas à indús-
não precisa construir piscinão ne- rado em algum lugar, já não funciona. tria, onde são minimizadas perdas de
nhum.Claro que isso não pode ser feito Uma coisa depende da outra. Mesmo materiais.No entanto,se o processo for
em grandes avenidas, mas poderia se que se preocupe com água, pagou um o mesmo, com fôrmas mal-feitas e
tirar o pavimento de toda ilha de con- salário ridículo. Isso quando registrou. operários malpagos, dá na mesma.

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Como não é o normal, a industrializa- Tem que voltar a ser o que era antes?
ção leva à sustentabilidade e à diminui- Como o caos é mais barato que a orga-
ção do esforço humano.
“Não é sustentável, nização, é seis vezes mais caro reciclar
embora diminua o do que jogar no lixo comum. A enge-
Pensar no processo produtivo dos nharia do futuro tem que se propor a
materiais é parte do projeto?
impacto ambiental, crescer sem aumentar o consumo de
Tem que criar um repertório dos ma- usar o entulho de material nem jogar nada fora. Não
teriais e seus impactos, além de consi- adianta picar pneu para usar em con-
derar o tipo de usuário e suas necessi-
concreto para fazer creto. Tem que picar para fazer pneu.
dades. Os melhores materiais, que piso de estrada” Senão não é sustentável, embora am-
devem ser preferidos do ponto de bientalmente mais correto.
vista ambiental, são aqueles vivos,
como é o caso da madeira, e os à base co. Os complexos, como o concreto, E é possível minimizar os efeitos
de óleos naturais ou água.A madeira é são complicados de se reutilizar. desse ciclo?
um grande material, mas só usamos Claro, usando materiais naturais em
para telhado, com dimensões exage- Qual o problema com o concreto? vez de sintéticos, materiais inorgâni-
radas. Pisos de linóleo, que vêm da li- É espetacular, mas é um problema. cos e de fácil reciclagem, como vidro,
nhaça, são espetaculares, duram Em uma caixa de madeira ou aço que dura muito, alumínio, ferro. Mas
muito e são totalmente recicláveis. coloca-se areia, retirada de um rio, tem que tratar direito, proteger. E, ao
pedras, que acabaram com uma reciclar, tomar cuidado pra aproveitar
E com relação a materiais que não montanha, além de uma estrutura de completamente. Sustentabilidade é
são naturais? aço e água. Isso tudo nunca vai voltar um processo contínuo de aprendiza-
Há os que exigem muita energia, mas a ser o que era. É importante enten- do das novas tecnologias, sempre com
que são fáceis de reciclar, como alumí- der que não é sustentável, embora di- a quarta variável, o significado.
nio, aço e vidro. Também há materiais minua o impacto ambiental, usar o
que, embora fáceis de reciclar, têm entulho de concreto para fazer piso Qual a importância do significado?
problemas ambientais, como o plásti- de estrada ou qualquer coisa. Não se pode impor uma norma porque
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ENTREVISTA

não será obedecida. É como usar EPI Estamos mais atrasados que os ou-
[equipamento de proteção individual]. tros, mas acho que ninguém no
É questão de ensino, de significado,
“A construção é o Mundo tem. Há escritórios fazendo
simbologia e cultura. mais retrógrado dos esforços para se atualizar, mas as esco-
las não ensinam. Na Escola Politécni-
Que materiais a construção deveria
setores. Existe tanta ca da Universidade de São Paulo há
condenar? simbologia embutida, uma disciplina optativa de sustenta-
Não condenar, mas usar de forma dife- bilidade, por onde passam 30 alunos
rente, na quantidade certa para obter a
que será o último de 600. E todas as engenharias têm
inércia necessária.Tem alguns materiais, setor a padronizar problemas de sustentabilidade.
como o PVC, que liberam fosgênio du-
rante a queima.É o gás usado na primei-
as operações” O senhor afirmou, anteriormente em
ra guerra para matar pessoas. Produtos entrevista à Téchne, que os
químicos voláteis e alguns preservantes processo e ganham bem. Não estamos profissionais fogem de análises de
também devem ser evitados, como os à preparados e não temos cursos dessas variáveis conflitantes. De quê
base de arsênico. Tintas à base de chum- coisas. Não existe esse profissional, decorre essa fuga?
bo podem estar causando morte lá na assim como não há engenheiro am- Primeiro porque vêm de uma socieda-
origem. Têm cimenteiras sem os filtros biental. Tem cursos de pós-graduação, de perdulária. Ao entrar na faculdade
necessários matando operários e a po- mas muito rudimentares. Sem escala, o aluno ganhou um carro sem nunca
pulação do entorno com silicose.Alguns não há cursos para formar engenheiros ter discutido a necessidade do carro.
amiantos exigem mais cuidados. que avaliem projetos, alguém que sabe Na faculdade, ninguém ensina pra ele
analisar,a partir da norma,do certifica- que um sistema sustentável faz em
Nesse contexto, qual a importância do e que seja aberto a inovações. Um meia-hora o que os outros fazem em
dos selos de certificação ambiental engenheiro da prefeitura aprende lá cinco. Tem aula de desenho, matemá-
para produtos? dentro a avaliar, o que é um desastre do tica, física, conforto, mas jamais sus-
Selos são importantes, mas tem que ponto de vista da sustentabilidade. tentabilidade. Essa palavra não existe.
se tomar cuidado e ter controle da
qualidade. Não pode ser um certifica- Os fabricantes têm materiais E quanto às imposições de mercado
do que vale para a amostra, mas sim eficientes? baseadas em padrões culturais?
para o sistema de produção. No en- Alguns produzem até sem saber que são O primeiro grande problema é fazer
tanto, o baixo volume de produção eficientes. Não há engenheiro de ma- com que as pessoas pensem em viver
no Brasil não justifica fazer ensaio deira no Brasil, alguém capaz de dizer mais simples, destruindo menos o
toda hora, o que dificulta a manuten- como uma tora deve ser desdobrada meio ambiente. É difícil porque é uma
ção do controle da qualidade. para obter o máximo de rendimento. O sociedade de consumo exigindo mu-
produto é nobre, de baixo impacto am- danças violentas de comportamento.
De que maneira um selo pode biental, mas foi tirado da floresta sem
auxiliar na manutenção do muito critério. Aqui, talvez porque o Quando essa consciência chegará à
controle da qualidade? mercado seja pequeno, ainda falta algo. construção civil?
No Brasil, um selo de 1970 vale até A construção é o mais retrógrado dos
hoje. A França introduziu um selo que Os fabricantes deveriam ter setores e foi o último a buscar o Total
avalia o edifício a partir do processo um sistema de coleta dos sacos Quality Control, a ISO 9000. Existe
evolutivo, em que as exigências au- de cimento entregues à obra, tanta simbologia embutida na casa, no
mentam com o passar dos anos. En- por exemplo? lugar de trabalho, na altura do prédio,
tão, não é garantido que vai manter a Deveriam cobrar uma taxa por saco que será o último a padronizar as ope-
certificação daqui cinco anos. Impõe a não devolvido. Com pilha é igual. Ao rações, seja no Brasil ou no Japão. É
necessidade da inovação e do aprendi- devolver, recebe de volta. Se não de- muito mais fácil criar um sistema de
zado no tempo, preparando para a ge- volver, arca com o prejuízo. O sistema reciclagem de automóveis, como fez a
ração futura de edifícios, que eu não tem que ser mais agressivo. Mercedes, que recicla 90% do carro, do
sei se nossas construtoras vão fazer. O que de edifícios.
selo tem que evoluir com a tecnologia E jogar a responsabilidade para o
ou o fabricante não quer que as nor- consumidor? Isso devido à cultura?
mas mudem para não perder o selo. Não, no bolso dele. É uma mistura de cultura com padrões
muito estabelecidos. O Japão precisou
E qual a importância do volume de Os projetistas brasileiros têm de uma grande crise, também imobiliá-
produção? capacidade de desenvolver ria,para mudar.A nossa crise vai chegar,
Para manter fiscais que entendem do projetos sustentáveis? resta saber quando, pois estamos ven-

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dendo apartamento a torto e direito sem Quais os principais problemas das Qual deve ser a relação da cobertura e
escolher muito bem os credores. E eco- nossas fachadas? da fachada com o meio? Aumentar a
nomia é o próprio sistema insustentável. Não existe face ruim, existe projeto inércia térmica, com paredes verdes,
ruim. Temos que usá-las ativamente, por exemplo, é o mais adequado?
As coberturas das nossas para aproveitamento de energia, e não Certamente, mas que seja efetiva-
construções ainda são um desastre? apenas como proteção passiva. Pode- mente verde, plantada, para sombrear
Existe tecnologia, mas os telhados mos colocar painéis solares na face o prédio. Há dois mil anos os árabes
vazam no Brasil. Um dos grandes oeste, que tem muita radiação e sofre fazem paredes externas espessas para,
problemas é a falta de manutenção. O com problemas de aquecimento. com o frio da noite, a parede esfriar e
futuro está nas coberturas verdes, com não dar tempo de o calor do dia passar.
jardins, menos agressivas ao ambiente Deveríamos explorar melhor a E no meio havia um chafariz pra au-
por aumentar a inércia e melhorar a incidência do sol? mentar a umidade interna. O homem
isolação térmica. Com menos sol, os Sem dúvida. Meu filho está refor- já fez todas as experiências, é só copiar
materiais duram mais. Mesmo assim, mando seu apartamento e o projeto, e aplicar a tecnologia que temos hoje.
tem que ser fácil de renovar a imper- de 20 anos, diz que a laje do terraço Podemos usar inércia do solo.
meabilização a cada dez anos. tem que ter cor de cimento. Ele pin-
tou de branco para diminuir a quan- Algum projeto atual adota solução
Nossos projetos de cobertura são tidade de lâmpadas e tomou uma semelhante?
malconcebidos? bronca do condomínio. No entanto, A sede da prefeitura de Fukuoka, no
As vigas geralmente têm um tamanho se fechar com vidro pode pintar, o Japão, projetada pelo arquiteto Emilio
absurdo, com duas vezes mais madeira que só pode ser brincadeira, já que é Ambasz, é um exemplo que ganhou
do que o necessário. E as tesouras no face oeste e, ao fechar, vai criar um um concurso internacional. Uma das
Brasil têm caibro no meio, o que não se efeito estufa. Não há modernização fachadas é uma praça, verde, com vá-
faz. Tem que ser um "W" para descar- da mentalidade coletiva. Existem re- rios patamares, janelas e queda d'água.
regar fora do meio e dar menor mo- gras sociais que fazem todos andarem Do outro, é um prédio semelhante aos
mento, diminuindo o vão e exigindo juntos, como gado, e serem incapazes demais. Outra coisa, adotada em paí-
menos madeira. de pensar. ses muito secos e que seria interessante
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ENTREVISTA

para o Nordeste, por exemplo, são eva- mais acontece em edificações, princi- todos os prédios. Com um milhão de
poradores para refrigerar casas. palmente nesses prédios com facha- metros quadrados, iria gerar 70% da
das de vidro, o famoso pano de vidro. energia e 100% da água que a Univer-
É possível equacionar incidência É um negócio perigoso. sidade precisa. Alegaram que a pes-
solar sem gerar calor no ambiente? quisa é prematura. Mas se a idéia não
Ao fechar um ambiente, a tendência é Essa alternativa deveria ser banida? for prematura, não é pesquisa. Apro-
aumentar a temperatura. Com venti- Pode ser melhorada, porque ou me veitamento é outro departamento,
lação e evitando a entrada de muito defendo ou aproveito a energia do sol. outra fase.
calor e aglomerações, pode deixar a Percebe a diferença? No exterior, pai-
temperatura muito próxima à exter- néis solares nas fachadas geram ener- Por ter trabalhado no CSTB francês,
na. É possível administrar, por exem- gia ou aquecem água ao mesmo diria que no exterior é diferente?
plo, fazendo com que o prédio tenha tempo em que são janelas. Existem vi- Morei dois anos na Europa e todas as
massas significativas e necessárias à dros modernos, que mudam de cor ou idéias de pesquisa que tive viraram
inércia. Ao usar divisórias leves, a ten- são espelhados para diminuir o con- realidade. Aqui, nem o laboratório de
dência é que a temperatura oscile de sumo de energia, embora exista o pro- desempenho que quis montar no IPT
acordo com a externa. blema do reflexo. chegou ao fim. No mundo desenvolvi-
do, manter as coisas iguais é a morte.
O conforto ambiental pode ser No meio acadêmico é mais fácil No Brasil, mexer é perigoso.
alcançado em qualquer projeto difundir soluções alternativas em
ou é exclusividade de obra cara favor da sustentabilidade? Então falta muito investimento em
e complexa? Já mandei projetos para a Fapesp pesquisa?
Pode ser alcançado sempre. É possível (Fundação de Amparo à Pesquisa do Vêem as propostas como estranhas
fazer paredes de terra socada com 40 Estado de São Paulo) que foram rejei- porque não têm gente para avaliar.
cm de espessura, garantida por 500 tados por não terem utilidade. Quis Quem avalia não sabe da quarta variá-
anos desde que protegida da água. fazer avaliação ambiental de toda a vel,o significado.Ser sustentável é ques-
Depende 90% de projeto, 10% de USP (Universidade de São Paulo) e tionar o significado em todas as ações.
equipamento. Efeito estufa é o que propus fazer coberturas verdes em Bruno Loturco
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TÉCNICA E AMBIENTE
Frio solar
Edifício construído em região quase desértica conta com ar
refrigerado produzido a partir de radiação solar. Protótipo pretende
oferecer conforto térmico com pouca energia elétrica

segundo edifício bioclimático da


O Plataforma Solar de Almería,
inaugurado na Espanha, deve econo-
mizar até 90% da energia necessária
para o funcionamento de um edifício
convencional de mesmo porte. A
construção, de cerca de 1.000 m² úteis,
abriga escritórios e laboratórios e é um
dos nove protótipos a serem produzi-
dos em um projeto de desenvolvimen-
to de arquitetura bioclimática liderado
pelo Ciemat (Centro de Pesquisas
Energéticas, Ambientais e Tecnológi-

Fotos: divulgação Ciemat


cas), órgão ligado à Universidade de
Almería, e pelo Ministério da Educa-
ção espanhol.
A estrutura foi erguida em uma re-
gião de clima mediterrâneo seco, quase
Repleto de painéis fotovoltaicos e coletores de água, edifício deve produzir quase
desértico, com o desafio de prover aos
toda a energia necessária para seu pleno funcionamento
ocupantes o máximo conforto térmico
utilizando o mínimo de energia elétri-
ca convencional – não mais do que aplicados revestimento monocapa taicas instaladas na marquise garan-
20% do total consumido pela edifica- branco e mármore de Macael. De tem a geração de parte da energia que
ção. Para atingir seus objetivos, a equi- acordo com os pesquisadores do Cie- será consumida pelo edifício.
pe multidisciplinar de pesquisadores – mat, esses sistemas atribuem grande Na cobertura, uma estrutura de
composta por arquitetos, engenheiros inércia térmica ao edifício, propor- duplo pergolado sustenta os painéis
e físicos – lançou mão de estratégias cionando maior isolamento aos am- de captação solar. As sombras proje-
técnicas passivas e ativas no desenvol- bientes internos. tadas pelas placas na laje contribuem
vimento do projeto do edifício. As soluções arquitetônicas visa- para a redução da temperatura super-
Esteticamente, a construção não ram à eficiência energética da cons- ficial e, conseqüentemente, nos am-
apresenta ousadias: seu desenho é trução. O edifício tem sua maior ex- bientes. Caixilhos na cobertura tor-
composto basicamente por linhas tensão na direção leste-oeste para nam possível a iluminação zenital do
retas, horizontais e verticais, e todos aproveitar melhor a iluminação natu- corredor central do edifício. Nas tem-
os ambientes que a compõem são ral. Na fachada sul, uma marquise ga- poradas de calor, podem ser abertos
contíguos, ao nível do solo. Pilares, rante o sombreamento (e resfriamen- para promover a ventilação interna;
vigas e lajes foram confeccionados em to) nos meses de verão; no inverno, no frio, permanecem fechados para
concreto armado simples, moldado permite a incidência direta dos raios evitar a dissipação do calor.
“in loco”, e o fechamento, em alvena- solares através das janelas para aque- Além das placas fotovoltaicas, a
ria de tijolos. Externamente, foram cer o interior das salas. Placas fotovol- construção também possui painéis so-

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ção que irá refrigerar o ar do sistema.


Com esse tipo de refrigeração, há a
coincidência dos picos de demanda e
produção de ar frio no ambiente.As tu-
bulações que conduzem o ar até as uni-
dades de tratamento são enterradas e
isoladas, dificultando trocas de calor
com o ambiente. Assim, o ar chega
mais frio aos equipamentos, possibili-
tando maior economia de energia.
Todos os sistemas estão conecta-
dos a uma central de automação. Até
2010, ano previsto para a conclusão
do projeto, serão feitas as medições de
consumo energético e de índices de
conforto ambiental em condições
lares para aquecimento de água. Ao que pareça, é manter em funciona- reais de uso do edifício. Somente após
sair dos coletores, a água quente tem mento os equipamentos de ar-condi- a obtenção desses dados a hipótese
dupla função. Na mais "convencio- cionado. Conhecida como refrigera- inicial de sensível economia de ener-
nal", abastece as instalações sanitárias ção solar, a tecnologia consiste no uso gia por meio da arquitetura bioclimá-
e de calefação por pisos radiantes. Sua da energia térmica da água quente tica poderá ser confirmada.
outra função, por mais improvável para a ativação da bomba de absor- Renato Faria
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LUMINOTECNIA

Menos luz, mais eficiência


Maior aproveitamento de luz natural reduz consumo energético
e aumenta o conforto ambiental

entre os quesitos básicos de certifi-


D cação em sustentabilidade de edi-
ficações,a luminotecnia é fator relevan-
te ao prever economia de eletricidade,
seja por uso consciente do menor nú-
mero de pontos de iluminação artifi-
cial, ou mesmo pela redução da potên-
cia nos sistemas de ar-condicionado.
O conceito de conservação de ener-
gia deve ser compreendido antes da con-
cepção de um projeto luminotécnico.
"Conservar energia significa melhorar a
maneira de utilizá-la sem abrir mão do
conforto; é diminuir consumo,reduzin-
do custos e impactos ambientais, sem
perder eficiência e qualidade dos produ-
tos," define o projetista luminotécnico
Davis Paro, da Scene Iluminação.
Segundo arquitetos, a viabilização
Fernando Blay

do projeto sustentável em luminotec-


nia pode reduzir os custos de opera-
ção e manutenção de edifícios em até
No escritório da Citroën do Brasil, projetado pela Hochheimer Imperatori Arquitetura,
60%. Se a sustentabilidade fizer parte
aberturas na cobertura somam-se à reformulação dos "sheeds" e possibilitam, além da
do negócio desde sua idealização, os
utilização de luz natural, a criação de uma paisagem interna
custos totais da obra terão um acrésci-
mo médio de 10%. No caso de adap-
tações aos projetos em obras que já útil, pelo uso controlado," afirma a luminotecnia e que vão limitar ou
estão em andamento, os custos consultora luminotécnica Neide Senzi. possibilitar uma maior eficiência sus-
podem chegar a 20% do orçamento Para que tudo isso seja possível é tentável do edifício," completa.
inicial para o empreendimento. preciso, contudo, que o projetista de
A eficiência da luminotecnia tam- iluminação acompanhe o projeto Luz do sol
bém está relacionada à melhor viabili- desde o início. "Ele deve estar presente Guinter Parschalk, do Grupo de
dade técnica de operação e manuten- já no ato da aprovação dos projetos Trabalho "Sustentabilidade", da AsBEA
ção. "Sistemas eficientes geram menor executivos, e não só participar da in- (Associação Brasileira dos Escritórios
carga térmica com número menor de serção de luz artificial, como geral- de Arquitetura), relembra que a arqui-
pontos de luz instalados, o que resulta mente ocorre", defende Davis Paro. tetura tem que ser concebida para apro-
em conta energética mais barata; por "Instalações elétricas, infra-automa- veitar a luz natural levando também em
outro lado, podem-se adiar os custos ção para iluminação, ar-condiciona- consideração seus malefícios, como os
de manutenção e troca de equipamen- do, forros; são diversas as etapas a raios infravermelhos, que geram calor
tos com o aumento do seu ciclo de vida serem pensadas em conjunto com a dentro do ambiente. A idéia é, assim,

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Iluminação natural
Existem regiões em que a luz natural Quinhentos lux é a iluminância para
chega a níveis de 150.000 lux. Já em planos de trabalho sugerida pela
ambientes internos, para que não seja norma NBR 5413 (iluminância de
desconfortável, a iluminância nunca interiores), necessária a tarefas de
deve ser superior a 1.000 lux. média precisão. Neide oferece ainda
"Percebemos, por esses números, que alguns exemplos: "Para oficinas de
necessitamos de uma pequena fração montagem, 300 lux/m², enquanto na
da luz natural em ambientes internos montagem de instrumentos são
para nossa percepção visual na necessários 500 lux/m²; em
realização de tarefas, que exige, em montagens precisas chegam a ser

Fernando Blay
média, 500 lux", explica a consultora exigidos 1.500 lux/m², e nos
luminotécnica Neide Senzi. escritórios o necessário é 500 lux/m²".

aproveitar o máximo possível de luz na-


tural, dentro da função que o espaço vai
assumir, para que se possa, em segundo
plano,equacioná-la ao uso do ar-condi-
cionado e da iluminação artificial.
"Tudo depende do clima da região e da
própria implantação do edifício; se vai
ser possível abrir janelas e deixar que a
ventilação cumpra, pelos menos par-
cialmente, a função do ar-condiciona-
do", afirma Parschalk.
O arquiteto George Frug Hoch-
heimer concorda com o fato de que a
luz natural deve ser a primeira a entrar

Rogério Lorenzoni
nos espaços: "Criamos um conjunto
de ações que visam reter raios solares
ou direcioná-los da forma mais inte-
O projeto dessa residência mescla iluminação natural com vários circuitos
ressante, para que somente a luz entre,
elétricos que permitem a criação de usos diversos e consumo de eletricidade
e não o calor, com o uso de brises, tipos
em cada situação. Alternando-se a utilização das fontes de luz, formam-se
especiais de caixilhos e vidros com
também novos cenários
persianas externas brancas, refletivas".
A opinião do arquiteto Roberto
Aflalo é de que o tratamento das fa- energia. E nesse quesito, a climatiza- Senzi. Assim, uma lâmpada com efi-
chadas deve acontecer antes do proje- ção do ambiente tem tanta importân- ciência de 15 lúmen/W é de baixa efi-
to luminotécnico. "Para aproveita- cia quanto a luminotecnia. "A cada ciência e gera mais calor do que outra,
mento máximo da luz natural, a fa- 3,5 W de luz reduzidos no consumo de eficiência de 85 lúmen/W.
chada pode ser até dinâmica, adap- elétrico, fica economizado 1 W no uso Uma série de fontes de luz, hoje,
tando-se aos diferentes horários do do ar-condicionado, o que totaliza é mais vantajosa que as tradicionais
dia, em cada situação", diz. uma economia operacional de 4,5 W," incandescentes e halógenas: pode-se
Resolvida a questão de como o calcula Yoon Kim, vice-presidente de usar as fluorescentes, de vapores me-
sol vai bater na janela, é preciso iluminação da Phillips/Brasil. tálicos e os LEDs (diodos emissores
medir a quantidade de luz necessária Para isso, podem ser adaptadas di- de luz). Para Davis Paro, os LEDs são
nos ambientes, de acordo com suas ferentes lâmpadas de acordo com o os primeiros parceiros na implanta-
respectivas funções, para a aplicação lugar, com a função específica do am- ção de um projeto luminotécnico
da luz artificial. biente e com a hora de uso certa do sustentável. As microlâmpadas de al-
dia. A eficiência "se atinge com o uso tíssima eficiência energética são ca-
Na ponta do lápis de lâmpadas de menor wattagem e pazes de gerar luz com pouquíssima
O projeto luminotécnico leva em maior fluxo luminoso, ou seja, maior dissipação de calor e podem ser fa-
consideração fatores que realizam luminosidade, com menor emissão de cilmente dimerizadas. "O aumento
equilíbrio entre luz e consumo de calor", afirma a consultora Neide da potência dos LEDs e a melhoria

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LUMINOTECNIA

da sua qualidade de emissão lumi-


nosa os coloca como substitutos das
lâmpadas fluorescentes compactas,
que já aposentaram as incandescen-
tes," afirma.
Davis Paro ressalta o desenvolvi-
mento do LED com luz polarizada nos
Estados Unidos. "Há ainda gente que
acha que LED não ilumina; o polariza-
do, em vez de espalhar luz em todas as
direções, é altamente focalizado, abrin-
do caminho para sua utilização inclu-
sive em telas LCD para TVs de alta de-
finição, monitores, câmeras digitais e

Fernando Blay
telefones celulares," exemplifica.

Normas
Projeto prioriza o aproveitamento máximo da iluminação natural
No mercado existem divergências
quanto à normalização. A opinião de
alguns especialistas é de que a norma nância de interiores) não impede que Fulvio explica que o conceito da
impede a liberdade de criação ao esta- o projeto seja mais ou menos sustentá- norma, trazida do exterior para a
belecer parâmetros fixos. Para Guin- vel. "A norma permite que se faça uma ABNT, é o de nível de iluminação
ter Parschalk, "o ato de 'ver' depende escolha coerente", diz. "Você pode para cada atividade: "Num corredor,
muito mais da qualidade do que da combinar iluminação geral mais bai- por exemplo, pode ser bem baixa, o
quantidade da luz", opina. xa, para que se circule com conforto e que gera economia; mesas de reunião
O pesquisador do IPT (Instituto segurança, somada a uma luz pontual, de 10 m de comprimento necessitam
de Pesquisas Tecnológicas do Estado complementar, para a execução de de uma boa iluminação; em uma sala
de São Paulo) Fulvio Vittorino, contu- dada tarefa. A norma técnica não ex- onde trabalham projetistas, um
do, relembra que a NBR 5413 (ilumi- clui idéias inteligentes", completa. ponto adicional pode ser ligado e des-

LÂMPADAS E VIDA ÚTIL


Tipos Durabilidade Características
Incandescentes 10 mil horas Luz a partir de um filamento incandescente de tungstênio; baixo custo,
baixa eficiência (12 lúmen/W) e alto consumo.
Fluorescentes 7,5 mil horas Gás ionizado emite radiação ultravioleta que incide sobre a camada fluorescente da superfície
interna dos tubos de vidro; luz fria, porém mais eficiente (70 lúmen/W). Mais caras.
Halógenas 2 mil horas Ótima reprodução de cores. Consomem até 40% menos que as incandescentes e são
compactas, muito usadas em decoração e vitrines. Funcionam em tensão de rede ou
baixa tensão, em processo similar às incandescentes, com adição de gás halógeno.
Dicróicas 3 mil horas Evolução das halógenas, têm um refletor que concentra o facho luminoso.
Vapor 24 mil horas Como as fluorescentes, é uma lâmpada de reação (luz branca, fria). Emite
de mercúrio cerca de 55 lúmen/W e é utilizada tradicionalmente na iluminação pública.
De sódio, 24 mil horas É de reação e atinge cerca de 130 lúmen/W. É a mais econômica. Por ser
baixa pressão robusta e barata, vem sendo muito empregada na iluminação pública.
Mista 6 mil horas Combina incandescente com um tubo de descarga de alta pressão. Emite 25 lúmen/W.
Fluorescentes 10 mil horas Fluorescentes com tubo em "U", simples, duplo ou triplo, ou ainda na forma
compactas circular; têm reator incorporado à rosca. Mais caras, consomem cinco vezes
menos que as incandescentes.
Multivapores Entre 8,5 Têm grande fluxo luminoso e alta eficiência – muita luz (cores relativamente frias)
metálicos e 15 mil horas e pouco calor (90 lúmen/W).
LED (Light 100 mil horas Diodo semicondutor que, energizado (eletroluminescência), emite luz monocromática,
Emitting Diode) dependendo do material do componente – vermelho, amarelo, verde, outros. Alto
rendimento, durabilidade e potência de 10 MW a 150 MW; podem substituir lâmpadas,
se o custo compensar.
Fontes: Copel e Osram

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André Otero
LEDs são fortes candidatos a substitutos
Projeto do Banco Pactual, em São Paulo, de Neide Sanzi. Integração de luz natural e das lâmpadas fluorescentes
artificial, com sensores de luminosidade ligados às luminárias que medem a incidência compactas devido à sua qualidade de
de luz natural no ambiente e regulam a iluminância, mantida sempre em 500 lux emissão luminosa e alta potência

ligado quando necessário, sendo a luz pouco mais de dez anos impunha que combina muito com ambientes de
ambiente, mais baixa, suficiente para se instalassem sistemas de controle au- descanso, como o residencial."
uso comum". tomatizado para iluminação artificial, A luz branca de baixa intensidade
Guinter prefere levar em conside- precisou ser alterada, porque se perce- produz efeitos duvidosos, pois "sua
ração não só o tipo de atividade a ser beu que ainda era inviável, devido aos baixa luminosidade cria climas caver-
executada: "Tudo influencia, até a cor altos custos; hoje, seu uso é só uma su- nosos, de dias nublados, cinzas e depri-
das paredes: se forem pretas, em um gestão. "Não tem por que modificar- mentes, o que afeta o bem-estar físico e
ambiente de escritório, a luz será de mos a norma brasileira agora", avalia o psíquico", diz Guinter. Para ele, não
uma intensidade; se forem brancas, pesquisador. "Não há atualmente uma basta proibir o uso de determinados
refletivas, a luz artificial deverá ser pesquisa que oriente essas mudanças." tipos de lâmpada, mas sim saber uti-
outra, menos intensa; até o branco da lizá-las da forma mais econômica e sus-
folha de papel, em um ambiente escu- Comportamento tentável, em combinação com outros
ro, aumenta o contraste entre o am- Segundo Guinter, vários países tipos, como as fluorescentes. "Além
biente e o foco do olho, o que pode estão pleiteando a proibição de lâm- disso, lâmpadas fluorescentes têm o
gerar desconforto", pondera. O desig- padas incandescentes e halógenas, problema do impacto ambiental, já que
ner aponta, assim, um estudo minu- pelo uso das fluorescentes compactas. não podem ser descartadas em qual-
cioso do uso da luz, sua composição "A luz amarela, entretanto, é a consi- quer lugar – elas contêm, em seu inte-
com o ambiente decorado e as especi- derada mais aconchegante, historica- rior, pó à base de mercúrio e fósforo,
ficações da norma técnica. mente, pois está relacionada à luz da que podem contaminar o solo."
"Por sistema de somatória de pon- manhã, ou do pôr-do-sol, períodos A questão da sustentabilidade e
tos, a norma dá uma faixa entre um do dia de menor produtividade", des- economia de energia elétrica também
valor mínimo e outro máximo, em taca. Por outro lado, a luz branca é está muito relacionada ao comporta-
função da precisão com que se há de menos confortável, principalmente se mento humano. Assim, apagar as luzes
executar a tarefa", interpreta Fulvio. for alta sua parcela de cor azul. "Re- na hora certa vai fazer muita diferença.
Mesmo a norma norte-americana mete às horas de alta produção, gran- "A iluminação de exteriores costuma
de eficiência energética, que até há de incidência de luz, e por isso não ser um ponto crítico", relembra Fulvio
Vittorino. "Vale gastar o mínimo de
energia,iluminando caminhos [do carro
à porta de entrada], a segurança, placas
Itens de avaliação do projeto luminotécnico indicativas, hidrantes; um imenso holo-
 Distribuição e quantidade de luz em desenvolvidas em dada situação fote para destacar a fachada,à noite,é um
determinado ambiente, por cálculo e seu controle de ofuscamentos gasto desnecessário, sob o ponto de vista
luminotécnico segundo níveis da sustentabilidade. É sempre bom dis-
recomendados pela NBR 5413
 Preocupação com a qualidade cutir quanto de luz será empregado entre
de vida útil dos produtos especificados,
(iluminância de interiores) quais horários do dia e onde, para que o
além de automação, feita com
desperdício não pese, em última instân-
 Especificação de sistemas luminosos controladores de luz, dimmers
cia, no bolso do condômino."
adequados às atividades humanas e sensores
Giovanny Gerolla

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FACHADAS

Michel Denancé
Alto desempenho,
baixo impacto
A correta escolha da fachada garante maiores conforto e eficiência
energética nas edificações. A polêmica que não cala é: fachadas cortina
podem gerar pequeno impacto ambiental?

eficiência de uma fachada está conjunto com o nível do desempenho uma fachada ser considerada de alta
A atrelada à sua capacidade de re-
duzir impactos ambientais no funcio-
ambiental de todos os subsistemas que
compõem o edifício.
eficiência energética. "O primeiro
passo é saber que tipo de respostas se
namento do edifício como um todo, e De acordo com a especialista em espera de uma fachada", explica. Em
em sua própria construção. Para fachadas de baixo impacto, a pesqui- primeiro lugar, a envoltória deve ter a
serem consideradas de baixo impacto sadora Mônica Marcondes, do Labaut função básica de proteger o interior
ambiental as fachadas desse tipo (Laboratório de Conforto Ambiental do edifício. Para tanto deve apresentar
devem fazer parte de um macrossiste- e Eficiência Energética da Faculdade alta estanqueidade à água, poeira e
ma edificado de alta eficiência energé- de Arquitetura e Urbanismo da USP – ruídos, aliada à rigidez, durabilidade e
tica. A aferição dos níveis de eficiência Universidade de São Paulo) não existe baixo custo de manutenção. Em um
de uma envoltória só pode ser feita em padronização nem solução ideal para segundo momento pode ser exigido

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Fotos: Marcelo Scandaroli


O Centro Empresarial Nações Unidas
tem índice WWR (que mede a relação
entre a área opaca e a transparente das
fachadas) de 50%, considerado
satisfatório para a capital paulista

da envoltória o fornecimento de luz, aliados aos psicológicos, as exigências


calor ou ventilação. Todos esses as- ambientais humanas mínimas e as
pectos devem ser levados em conta normas brasileiras e internacionais.
quando o projetista desenvolve o edi- "Todas essas premissas levam a uma
fício. Se à função da fachada forem mudança de paradigmas que ainda es-
adicionados conceitos de baixo im- barra em muitas barreiras culturais no
pacto ambiental, o universo amplia- Brasil", explica. Os set points dos equi-
se e o objetivo da envoltória passa pamentos de ar-condicionado estão
também a abranger a busca pelos con- sempre regulados para manter os am-
fortos térmico, acústico, luminoso e bientes em uma temperatura de apro-
pela eficiência energética. ximadamente 21oC, muito frio para os
Para Mônica Marcondes, o projeto padrões brasileiros. "As mulheres são
de fachadas de baixo impacto deve as que mais sofrem", explica.
Esquema de fachada dupla de vidro
levar em conta cinco pontos básicos, Além dos aspectos de conforto
que partem de um projeto integrado ambiental, para garantir maior sus-
no qual se relacionam variáveis climá- desenvolvida, tipo e idade dos usuá- tentabilidade na própria execução das
ticas, o entorno, o usuário e o edifício. rios e demanda de equipamentos (veja fachadas devem ser empregados ma-
As características físicas da constru- tabela 1).A aferição desses pontos per- teriais que não resultem em resíduos
ção, como tipo de estrutura, forma, ti- mite dimensionar a carga térmica do excessivos e entulhos não-recicláveis,
pologia, orientação, pé-direito, mobi- ambiente em questão e leva direta- que não liberem no ar produtos con-
liário, revestimentos etc., devem se ali- mente ao uso de dispositivos de con- siderados danosos à natureza, como
nhar com o uso do espaço, medido forto ambiental. Nesse campo, devem compostos de cloro e carbono, e que
pelo período de ocupação ao longo do ser avaliadas as diferentes percepções não exijam para sua produção consu-
dia, tempo de permanência, atividade do usuário, os aspectos fisiológicos mo excessivo de energia.

39
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FACHADAS

Tabela 1 – REQUISITOS AMBIENTAIS E DE PROJETO PARA SÃO PAULO X EDIFÍCIOS ALTOS DE ESCRITÓRIOS
Requisitos ambientais Recomendações para edifícios genéricos Implicações para edifícios altos de escritórios
Resfriamento Controle solar (controle de ganhos de calor Ocupantes: geralmente ganhos internos elevados
em todas as orientações o ano todo)
Promover o movimento do ar (dissipar o Andares elevados: alta velocidade e
excesso de umidade e cargas internas) pressão do vento
Inércia térmica + ventilação noturna Depende do layout interno
(reduzir flutuações durante ocupação,
dissipar cargas internas, absorver calor)
Iluminação natural Distribuição homogênea e uniformidade Plantas estreitas x profundas
mínima para promover níveis aceitáveis Normas: níveis mínimos de iluminância
de conforto visual
Controle de ofuscamento e contrastes
Controle do ruído e Reduz com altura
da qualidade do ar
Fonte: Mônica Marcondes

O arquiteto Paulo Duarte, con- guns tipos de vidro frente às solici-


sultor de fachadas da PCD Consulto- tações térmicas. De acordo com Môni-
res, acredita que, nos trópicos, exis- ca Marcondes, alguns produtos ofere-
tem duas funções críticas e comuns à cidos no mercado são balizados por
grande parte das fachadas: uma é per- normas estrangeiras de países de clima
mitir a passagem de luz suficiente temperado a frio, portanto, ao contrá-
para garantir conforto visual, de ma- rio do que se propõem, permitem a
neira a otimizar o consumo de ener- passagem de luz e calor."Mesmo a con-
gia para a iluminação artificial; outra dição de reflexão proposta por alguns
é diminuir a quantidade de calor que tipos de vidro só aumenta o problema
passa de fora para dentro e reduzir o do vizinho", acredita.
consumo de energia para a climatiza- Já o consultor Paulo Duarte acre-
ção. Podem também ser adotadas so- dita ser possível montar uma envol-
luções passivas de ventilação, que di- tória satisfatória com o uso de es-
minuem o uso do ar-condicionado. quadrias bem apropriadas e a corre-
Nigel Young

"A ventilação natural deve ser apoia- ta escolha de vidros. "Hoje os vidros
da em condições favoráveis de som- disponíveis apresentam desempe-
O projeto de Norman Foster é um dos
breamento", explica. Soluções basea- nho excepcional, ajudando muito,
primeiros modelos de edifícios
das nesse conceito podem ser larga- mesmo num país tropical", acredita.
ecológicos de Londres. As fachadas são
mente utilizadas para edifícios de "O primeiro critério é haver preocu-
formadas de vidro duplo com metalização
poucos pavimentos como hospitais, pação real e verdadeira com a ques-
e cavidade de 15 cm ventilada
laboratórios ou escritórios. No en- tão da sustentabilidade", conclui.
tanto, o arquiteto alerta que a abertu- Toda essa discussão, no entanto,
ra de vãos nas fachadas de edifícios isso o interesse relativo dos investido- não pode deixar de lado índices bem
comerciais altos, em cidades como res, visando apenas ofertar algo dife- aceitos no mundo todo, inclusive no
São Paulo, é limitada pelo ruído ex- rente, que está em moda", critica. Brasil, como o WWR (Window to
cessivo e a má qualidade do ar. "Exis- Wall Ratio), que mede a relação
tem soluções sustentáveis mais ade- Soluções adequadas entre a transparência e a opacidade
quadas para essas fachadas, mas elas No Brasil, a partir da década de 80 da envoltória. Idealmente para São
estão atreladas ao grande cuidado no começaram a ser projetados prédios Paulo, um índice de 50% seria satis-
projeto e na execução", explica. com fachadas inteiramente transpa- fatório, em oposição à grande massa
Para o arquiteto, obras de uso "co- rentes, as chamadas cortinas de vidro de edifícios altos de escritórios em
letivo", como edifícios de apartamen- seladas, importadas de modelos norte- que essa relação sobe para quase
tos ou de escritórios, dificilmente con- americanos. Essa solução já foi exausti- 100%. A Torre Norte do Cenu (Cen-
seguem vender a idéia de sustentabili- vamente discutida por especialistas tro Nações Unidas), projeto do es-
dade devido ao quase total desconhe- que a consideram de pouca eficiência critório de arquitetura Botti Rubin,
cimento e desinteresse do mercado energética para o clima brasileiro, tem um índice de 50% e portanto é
consumidor a esse respeito. "Junte-se a mesmo incluindo-se os avanços de al- considerado um dos edifícios de

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Fotos: Marcelo Scandaroli


Com quase 50 anos, o prédio do arquiteto Rino Levi, hoje do Banco Itaú, na avenida Paulista, em São Paulo, é um dos mais
eficientes em conforto ambiental e consumo de energia (acima). Sistemas de proteção solar passivos como os brises (detalhe),
aliados às fachadas cegas, com massa exposta e alta inércia térmica, garantem controle da incidência de carga térmica e
sombreamento estratégico

melhor eficiência energética em São são usados como revestimentos da se-


Paulo. Mas a solução mais adequada gunda camada produtos panelizados,
veio de um projeto de 1960 do ar- como pedras, cerâmica e alumínio
quiteto Rino Levi, hoje o edifício do compósito, na maioria das vezes com
Banco Itaú, na avenida Paulista, juntas seladas, com distância entre ca-
zona Sul da capital. Todas as facha- madas de no mínimo 10 cm.
das foram tratadas de maneira dife- O uso desse tipo de fachadas deve
renciada com cálculos e estudos de obedecer aos requisitos técnicos de
insolação. O resultado é típico da ar- estanqueidade (veja tabela 2). Deve-se
Esquema de fachada ventilada com
quitetura moderna: a incorporação impermeabilizar muito bem o para-
revestimento pétreo ou cerâmico
de sistemas de proteção solar passi- mento por trás dos elementos da se-
vos, como os brises, e fachadas cegas, gunda camada, independentemente
com massa exposta, com alta inércia Fachadas ventiladas do envelope externo. "Não há o co-
térmica e sombreamento garantido. Além da tradicional solução de nhecimento pelo usuário final, e mui-
"Um prédio de quase 50 anos ainda é proteção solar passiva, tem-se discuti- tas vezes nem pela construtora, da ne-
o melhor de São Paulo em termos de do no Brasil o projeto de edifícios cessidade de se tornar estanque esse
conforto térmico e eficiência energé- com fachadas duplas ventiladas. Pri- paramento", explica Duarte. "A falta
tica", explica Mônica. Ou seja, os bri- meiramente, o termo foi conferido às da impermeabilização é tratada ape-
ses tão difundidos na arquitetura soluções com painéis opacos fixados nas como uma simples redução de
moderna, se empregados nas facha- afastados do paramento. A função da custos", conclui.
das certas e exteriormente à envoltó- segunda pele nas fachadas ventiladas Já o uso de duas peles de vidro
ria, suplantam a eficiência de torres opacas é de promover um sombrea- com uma cavidade entre elas, venti-
totalmente de vidro, sem nenhuma mento na fachada, além da ventilação lada ou não, são largamente empre-
proteção solar passiva, e suas altas retirar carga térmica. Nesse tipo, já gadas fora do Brasil e estão associa-
demandas energéticas. utilizada no Brasil há mais de 13 anos, das a edifícios altos. "Por sua nature-

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FACHADAS

Em climas mais frios a grande


preocupação é manter o calor no edifí-
cio, necessidade exatamente oposta à
brasileira. As fachadas duplas garan-
tem que a luz incidente sobre a primei-
ra camada gere um calor que fica esto-
cado na cavidade. Nas primeiras tipo-
logias, em dias mais amenos esse calor
podia ser retirado por meio da convec-
ção do ar provocada por vãos existen-
tes nos limites superior e inferior da ca-
vidade. Esse modelo foi abandonado
devido à ventilação que percorria toda
a extensão vertical da fachada não ser
suficiente para retirar toda a carga tér-
mica dos andares mais elevados, onde
o acúmulo é maior. Hoje, a tipologia
básica conta com aberturas de vãos su-
periores e inferiores em cada pavimen-
to, separados por chapas opacas ou
grelhas.Além da separação entre anda-
res o sistema conta com proteção solar
interna à cavidade, que auxilia na refle-
xão da luz e calor. Esse tipo de solução
pode ser visto no novo edifício do New
York Times, na cidade de Nova Iorque
e no edifício de escritórios Aurora
Mônica Marcondes

Place, em Sidney, Austrália, ambos os


projetos do arquiteto Renzo Piano. Os
avanços tecnológicos nessa área não
O edifício Debis, em Berlim, Alemanha, apresenta fachada dupla ventilada com param, e já existem projetos em que a
camada exterior com aletas de vidro passíveis de abertura automatizada. É a última segunda camada conta com uma su-
geração em fachadas duplas ventiladas. O projeto é de Renzo Piano cessão de aletas em toda a sua extensão,
com abertura automatizada, mesmo
em situações de altas velocidades de
Tabela 2 – DESEMPENHO DE UMA FACHADA DUPLA VENTILADA EM RELAÇÃO A
vento, de maneira a prolongar o perío-
DIFERENTES CRITÉRIOS AMBIENTAIS EM SÃO PAULO E EM CIDADES EUROPÉIAS
do no qual o edifício pode ser natural-
Requisitos ambientais Cidades Européias São Paulo
mente ventilado. É o caso do Debis
Aquecimento ++ +
Building, outro projeto de Piano, em
Resfriamento + ++ //////
Berlim, com solução de fachadas total-
Controle solar + +
mente automatizada, mas a um custo
Iluminação natural + +
altíssimo mesmo para os padrões in-
Controle de ruído + +
ternacionais. Em dias quentes com
Controle da qualidade do ar + +
baixas velocidades de vento, e em dias
Ventilação natural ++ Não averiguado
de chuva as aletas se fecham e o ar-
+ Bom ++ Muito bom ///// Requer investigação complementar
condicionado é automaticamente liga-
Fonte: Mônica Marcondes
do. Quando se abrem todas as aletas, o
sistema funciona como uma pele de
za intrínseca, as fachadas duplas tica e no conforto dos usuários, a di- vidro simples. O sistema alia a ventila-
transparentes ventiladas resultam minuição da transmissão sonora, ção natural e a artificial, que deve ser
em sistemas tecnologicamente com- pois barra ruídos externos, e a redu- corretamente dimensionada para esse
plexos, com custos iniciais elevados", ção dos ganhos solares, aliada a uma fim, sem excessos de carga instalada.
explica Mônica. Dentre os argumen- maximização da transparência. Além "Projetos onde trabalhem juntos todos
tos mais defendidos pelos projetistas dessas características, esse sistema os projetistas envolvidos,inclusive o do
para o emprego desse tipo de fachada permite a ventilação natural em an- ar-condicionado, garantem os melho-
está o aumento na eficiência energé- dares mais altos. res resultados de eficiência energética

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quetagem voluntária. A regulamen-


tação trata da eficiência e potência
instalada do sistema de iluminação,
da eficiência do sistema de condicio-
namento do ar e do desempenho tér-
mico da envoltória do edifício. Ela
permite uma classificação do nível de
eficiência A (mais eficiente) a E
(menos eficiente), e inclui incentivos
adicionais para aumento da eficiên-
cia ao implementar sistemas como
energia fotovoltaica ou co-geração.
O professor Roberto Lamberts,
pesquisador do laboratório e mem-
bro do CBCS (Conselho Brasileiro de
Construção Sustentável) explica que
a etiquetagem já está em implemen-
tação junto ao Inmetro (Instituto
Nacional de Metrologia, Normaliza-
ção e Qualidade Industrial). Os cál-
culos e simulações recomendados
podem ser efetuados com softwares
especiais voltados à simulação de
consumo de energia de edificações,
que estudam o impacto de alternati-
vas de fachada. "Esses programas si-
mulam o consumo de energia hora a
hora durante um ano inteiro e per-
Ian Lambot

mitem análises detalhadas", explica


Lamberts. Nesse meio tempo, arqui-
O edifício do Commerzbank, projetado por Norman Foster, é um ícone de
tetos e projetistas que já desenvolvem
conforto ambiental e eficiência energética na Europa. Possui modo misto de
projetos mais sustentáveis buscam se
condicionamento de ar, que alia a ventilação natural de estratégicas
adequar a certificações internacio-
aberturas e a ventilação mecânica do sistema radiante de forros gelados
nais como o Leed (Leadership in
Energy and Environmental Design),
no futuro", recomenda. Em São Paulo, ABNT (Associação Brasileira de que faz parte do USGBC (US Green
onde o aquecimento é uma das maio- Normas Técnicas) que deve ser pu- Building Council), conselho norte-
res preocupações em edifícios de escri- blicado ainda neste ano. As normati- americano de construção sustentá-
tórios altos, as fachadas duplas ventila- zações principais são relativas ao vel. Para receber esse selo, o em-
das (tipologia básica) podem ser em- funcionamento do ar-condicionado preendimento deve se enquadrar em
pregadas para expandir o período em e à fabricação de vidros e esquadrias. critérios que envolvem tipo de terre-
que o edifício pode ser naturalmente No entanto, o Laboratório de Efi- no, economia de água, eficiência
ventilado, em épocas de mais frio. ciência Energética em Edificações do energética, qualidade do ar interno,
Quando há muito calor e pressão de Departamento de Engenharia Civil reciclagem e inovação do projeto.
vento insuficiente aciona-se o condi- da Universidade Federal de Santa Simone Sayegh
cionamento artificial. "O modo misto Catarina, por meio de um convênio Colaboraram Mônica Marcondes,
de condicionamento de ar é ideal para firmado com a Eletrobrás no âmbito Paulo Celso Duarte e Roberto Lamberts
o clima brasileiro", acredita Mônica. do programa Procel Edifica (Progra-
ma Nacional de Conservação de
Normatização a caminho Energia Elétrica para Edificações),
SERVIÇO
No Brasil ainda não existem nor- desenvolveu um documento em que
mas que regulem o conforto ambien- apresenta os requisitos técnicos ne- www.cobracon.org.br
tal nos edifícios de escritórios. No cessários para a classificação do nível www.labeee.ufsc.br/eletrobras/reg.
máximo, existem requisitos mínimos de eficiência energética de edifícios etiquetagem.voluntaria.html
de desempenho para fachadas de ha- comerciais, de serviços e públicos, www.usgbc.org
bitações em um projeto de norma da com o objetivo de promover a eti- www.cbcs.org.br

43
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CAPA

Projeto sustentável
Arquitetura com foco na sustentabilidade requer integração de equipes e
coordenação de um profissional especializado

Divulgação Zed Factory

“O desenvolvimento sustentável deve


atender às necessidades do pre-
sente, sem comprometer o atendi-
tland Commission, criada em 1983,
pelas Nações Unidas. O objetivo era
definir políticas e estratégias de de-
ficação sustentável é aquela que quan-
tifica os impactos que causa ao meio
ambiente e à saúde humana, empre-
mento das necessidades de gerações senvolvimento sustentável nos âmbi- gando todas as tecnologias disponíveis
futuras." A definição de um conceito tos social, econômico e, sobretudo, para mitigá-los. "É um edifício que
tão debatido atualmente foi publica- ambiental. E no que concerne à arqui- consome menos energia, água e outros
da, em 1987, no Brundtland Report, tetura? Existe algum consenso sobre o recursos naturais, considera o ciclo de
relatório emitido pela Comissão que é um projeto de arquitetura sus- vida dos materiais utilizados e o da edi-
Mundial das Nações Unidas para o tentável e quais diretrizes deve seguir? ficação desde o seu projeto, passando
Meio Ambiente e Desenvolvimento Segundo Valério Gomes Neto,con- pela construção, operação e manuten-
(World Commission on Environ- selheiro do CBCS (Conselho Brasileiro ção, até o esgotamento da sua destina-
ment and Development) ou Brund- de Construção Sustentável), uma edi- ção original", afirma o conselheiro.

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O que é sustentabilidade
O que caracteriza um projeto exemplo, de edifício de escritórios para
sustentável? edifício residencial, de armazém para
A principal característica de um projeto edifício de escritórios ou residencial etc.
sustentável é a eficiência no uso de Os aspectos principais são: a estrutura da
energia, água e recursos ao mesmo edificação deve ser bem detalhada e
tempo em que propicia um excelente flexível. A alvenaria estrutural, por
nível de conforto (higrotérmico, lumínico, exemplo, apesar de ser mais barata para a

Acervo pessoal
acústico, visual e de mobilidade) ao construção, não permite essa
usuário. Como conseqüência, redução na flexibilidade. As instalações elétricas e
emissão de carbono. A edificação deve ser hidrossanitárias devem ser bem
Alexandra Lichtenberg
monitorada em sua fase de uso e detalhadas e instaladas em shafts com
arquiteta da Ecohouse e mestre em
manutenção para verificação de boa acessibilidade, para permitir
conforto ambiental e eficiência energética
consumos (benchmarking) e possíveis modificações futuras de projeto.
pela FAU (Faculdade de Arquitetura e
correções a serem feitas.
Urbanismo) da UFRJ (Universidade
Quais novos conhecimentos devem
Federal do Rio de Janeiro).
Que critérios balizam a elaboração de possuir arquitetos, projetistas,
um projeto que visa ser sustentável? empreiteiros e incorporadores diante
Defende a idéia de que, no futuro, desse novo quadro mundial? Como Os incorporadores e investidores no
esses critérios sejam requisitos deve ser a formação desses Brasil atualmente exigem lucro máximo
obrigatórios para os projetos profissionais? em detrimento do conforto do usuário
de arquitetura? Os profissionais devem sempre se manter e da sustentabilidade da edificação –
Acredito que não seja possível tornar atualizados a respeito de novas e levam os legisladores a reboque
obrigatório um processo de produção. tecnologias, principalmente sobre nesse esforço.
Porém, o próprio mercado vai induzir a isso, energias renováveis e novos materiais. A grande maioria dos edifícios
porque atualmente os melhores resultados Precisam entender os benefícios e saber residenciais está sendo construída com
foram atingidos com o uso desse modelo. como projetar de acordo com o clima pé-direito útil entre 2,40 m e 2,55 m.
e a topografia local, e saber especificar No clima tropical úmido é impossível
Como se dividem e como devem os melhores materiais para cada situação. conseguir conforto higrotérmico com
trabalhar as equipes nesse contexto? As escolas de engenharia, arquitetura essa altura de pé-direito sem uso de
Deve sempre existir um gerenciador ou e negócios devem incluir o tema ar-condicionado (equipamento intensivo
coordenador do projeto, que vai convocar sustentabilidade integrada em em uso de energia). Não há preocupação
a presença dos diversos profissionais seus currículos. com a proteção das fachadas e aberturas
envolvidos. Mas a maioria deles vai estar contra insolação direta – mais uso de
presente desde a fase inicial. As fases de No Brasil, quais as reais implicações ar-condicionado. As construções de antes
planejamento e projeto nesse modelo da adoção das estratégias da do advento do ar-condicionado tinham
demoram e custam mais, mas vão trazer arquitetura ecológica para a indústria um pé-direito alto (mínimo 3 m) para
economias de recursos, tempo e dinheiro da construção civil e para o mercado que o ar quente que se acumulasse no
nas fases de construção, uso e imobiliário? teto e não interferisse no conforto do
manutenção da edificação. Veja, a fachada ventilada, recurso usuário, e ventilação cruzada, para que
bastante usado lá fora, ainda não é esse ar quente pudesse ser levado para
A flexibilidade de uso caracteriza a difundida no Brasil, por onerar o custo dos fora. O que ainda se vê muito no nosso
construção sustentável? Que imóveis, sobretudo os residenciais. Isso é mercado é o "green washing", expressão
aspectos um edifício deve reunir para mito. Alguns relatórios oficiais já foram utilizada para indicar apenas o uso
atender, de forma eficiente, as produzidos nos Estados Unidos para cosmético da sustentabilidade. Com as
necessidades de proprietários provar isso. Estratégias de arquitetura de recentes publicações do IPCC (em
distintos? acordo com o clima do local não são português, Painel Intergovernamental de
Sem dúvida. Uma edificação deve durar utilizadas por falta de conhecimento dos Mudanças Climáticas), a sustentabilidade
no mínimo 50 anos, e durante esse profissionais envolvidos. mínima de edificação passou a ser mais
período é muito provável que as abrangente – os quesitos de eficiência
necessidades de seus usuários sejam O que as incorporadoras exigem hoje energética, uso da água e tratamento de
variáveis, mesmo que dentro do mesmo nos projetos? O que o edifício deve esgotos, uso de recursos naturais e
tipo de uso. E atualmente vemos várias ter de sustentabilidade mínima para mobilidade precisam todos ser
edificações mudando de uso, por atrair locadores e compradores? considerados no projeto.

45
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CAPA

O projeto sustentável deve ser de-


senvolvido por uma equipe multidis-
ciplinar integrada que trabalhe em
conjunto desde a concepção – sob a fi-
gura de gerenciador ou coordenador,
especialista em sustentabilidade (veja
organograma do ciclo de produção do
projeto sustentável). O arquiteto Célio
Diniz, um dos sócios do escritório
DDG Arquitetura, rejeita o modelo li-
near de trabalho em que o projeto ar-
quitetônico é entregue aos projetistas
complementares que, a partir daí, de-
senvolvem trabalhos para compatibi-
lização. "Hoje, o processo projetual
passou a ser circular e todos contri-
buem desde o início", afirma Diniz.
O projeto sustentável, assim como
qualquer projeto de arquitetura, deve
ter início após a identificação das ca-
Fonte: Alexandra Lichtenberg, Ecohouse Urca, 2006
racterísticas dos usuários do edifício,
do entorno e, sobretudo, do clima.
Neste sentido, as simulações compu- de promover a responsabilidade nas
tacionais poderão ser úteis para defi- questões social e ambiental nos em-
nir materiais e critérios de desenho preendimentos imobiliários que fi-
que aproveitem melhor as condições nancia. "Avaliamos o projeto arquite-
climáticas do local onde o edifício tônico, a política interna da construto-
será implantado. ra e os cuidados no canteiro de obras",
Um dos elementos fundamentais explica Carolina Piccin Silberberg,
no desempenho térmico das constru- sócia da Sistema Ambiental, empresa
ções é a fachada. "Quando bem proje- Fonte: The Collaborative for High Performance School Buildings criadora do programa e que tem ava-
tada, a fachada ventilada é eficiente na liado o grau de sustentabilidade dos
diminuição da transmissão do calor, quitetura e Urbanismo) da UFRJ (Uni- empreendimentos financiados pelo
reduz o consumo de energia com ar- versidade Federal do Rio de Janeiro). banco desde 2007. "Criamos uma fer-
condicionado, diminui a pressão do Segundo Gomes Neto, o Brasil ca- ramenta de avaliação de sustentabili-
vento na vedação interna e, além disso, rece de critérios mensuráveis para dade e desenvolvemos índices de de-
controla melhor a infiltração de água, projetar e medir a eficiência dos pré- sempenho para cada requisito", acres-
reduzindo os custos com manuten- dios no que se refere à sustentabilida- centa Carolina.
ção", diz o engenheiro Jonas Silvestre de. "Suprimos essa lacuna aplicando A flexibilidade é outro item im-
Medeiros, da Inovatech. as normas norte-americanas do siste- portante num projeto de arquitetura
Apesar dos benefícios que trazem, ma LEED (Leadership in Energy and sustentável. "Deve-se evitar a excessi-
recursos como a fachada ventilada dei- Environmental Design), que é o mais va customização da edificação, pois
xam de ser adotados no Brasil por one- difundido no mundo", diz o conse- isso gera, em caso de um novo uso,
rarem demasiadamente os custos de lheiro. Desenvolvido pela organização uma grande quantidade de entulhos
um empreendimento. O mesmo USGBC (United States Green Buil- de demolição com altos custos finan-
acontece com o processo de projetos. ding Council), o LEED é um sistema ceiros e ambientais", afirma Gomes
"As fases de planejamento e projeto no de classificação de edificações a partir Neto. Ele explica que, para ser flexível,
modelo sustentável são mais demora- de critérios de sustentabilidade am- o projeto deve contemplar itens como
das e custosas, mas vão trazer econo- biental em diferentes categorias. grandes vãos, lajes amplas com pou-
mias de recursos, tempo e dinheiro nas A agência do Banco Real, em cos apoios, pé-direito pouco maior
fases de construção, uso e manutenção Cotia, na Grande São Paulo, foi o pri- que os tradicionais e divisórias inter-
da edificação (ciclo de vida da edifi- meiro edifício da América Latina a ser nas leves, como as de gesso acartona-
cação)", explica Alexandra Lichten- certificado pelo LEED. Ao desenvolver do. Veja a seguir sete obras escolhidas
berg, arquiteta da Ecohouse e mestre programas como o "Real Obra Susten- pela Téchne pelos seus diferenciais de
em conforto ambiental e eficiência tável", o banco cria parâmetros para projeto sustentável.
energética pela FAU (Faculdade de Ar- projeto e construção sustentável, além Valentina Figuerola

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Imagens Red Shift Photography 2006


Assembléia Nacional do País de Gales, em Cardiff, no Reino Unido
Selecionado por meio de uma licitação Sua extensa superfície propicia a coleta uma temperatura de 16ºC. A cobertura
internacional, o projeto do arquiteto de água de chuva que é armazenada num dispõe de um cone envidraçado com um
ítalo-britânico Richard Rogers para a tanque subterrâneo de 100 m³. A água é jogo de espelhos que promove a entrada
nova sede do parlamento de Gales, destinada para os lavatórios, bacias e de luz natural até a câmara dos
inaugurada em 2006, tem como destaque jardinagem. O edifício conta ainda com deputados, localizada no centro da
uma imensa cobertura de chapas estratégias passivas de climatização, edificação. Cerca de 36% do valor da
metálicas e forro de madeira certificada como o sistema de esfriamento que construção foi investido em materiais e
pelo FSC (Forest Stewardship Council). extrai água a 100 m debaixo da terra, a mão-de-obra locais.

Rogers Stirk Harbour + Partners

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CAPA

The Beddington Zero Energy Development (BedZED), Reino Unido


O projeto de Bill Dunster e Jimena Ugarte desenhadas para não emitir qualquer sombrear as construções, geram energia
implanta-se num terreno de 1,4 ha, no percentual de dióxido de carbono. Os capaz de abastecer 40 automóveis
bairro de Sutton, sul de Londres. Essa sistemas elétrico e de calefação das elétricos, reduzindo mais ainda o uso de
ecovila, inaugurada em 2002, reúne 82 residências exploram fontes renováveis de combustíveis fósseis. Além de armazenar e
unidades habitacionais, escritórios, clube energia. Todas as unidades têm o terraço utilizar água de chuva para a descarga de
desportivo, campo de futebol e centro de voltado para o Sul, otimizando o vasos sanitários, a vila possui uma estação
saúde e de alimentação. As construções de aproveitamento da luz do sol. As de tratamento de esgoto negro. BedZED
três pavimentos, erguidas com materiais e coberturas verdes dos edifícios estão foi desenvolvida pela Peabody Trust, em
mão-de-obra locais, madeira certificada associadas a extensas superfícies de parceria com a Arup, Ellis and Moore, e
pelo FSC e aço reciclado, foram painéis fotovoltaicos que, além de Gardiner and Theobald.

1 Cobertura verde
2 Passarela que conduz ao
terraço-jardim
3 Terraço-jardim do flat do
1o pavimento
4 Terraço-jardim do escritório
5 Escritório
6 Terraço-jardim da maisonette
7 Chaminé para ventilação
8 Flat
9 Luz natural
10 Área de trabalho sombreada
11 Cisterna (água de chuva)
12 Maisonettes
13 Rua Mews
14 Unidade mista (trabalho e habitação)
15 Jardim

2 4 4
1 5 6 7
3
Imagens: divulgação Zed Factory

8 10 12 14 15
9 11 13 9

TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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Chuck Choi

Chuck Choi

Torre Hearst
Do escritório Foster & Partners e Gensler, disso, permitiu a economia de cerca de jardins, abastecer fontes e o sistema de
inaugurada em 2006, depois de três anos 2 mil t de aço estrutural. Aliás, cerca de refrigeração. A refrigeração e calefação dos
de obras, a Torre Hearst, de 182 m de 85% do material utilizado na estrutura é espaços são feitas através de um sistema
altura, é o primeiro arranha-céu nova- reciclado. A torre foi erguida sobre um de circulação de água localizado nos pisos.
iorquino a obter o Gold LEED (Leadership antigo edifício de seis andares (construído O arranha-céu consome cerca de 25% a
in Energy and Environmental Design). em 1928) que, após a reforma, foi menos de energia se comparado aos
A estrutura em aço inoxidável – formada convertido num imenso átrio, uma zona de similares. Além de sensores de presença,
por diagonais que configuram volumes uso comum conhecida como "Praça os escritórios dispõem de recursos que
triangulares nas fachadas – maximizou a Urbana". A água da chuva, coletada na controlam a quantidade de luz artificial em
entrada de luz nos escritórios e, além cobertura do prédio, é usada para irrigar função da natural.
Foster & Partners & Gensler

49
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CAPA

The Solaire
Edifício residencial ecológico projetado
por Pelli Clarke Pelli Architects, localizado
na zona de Battery Park, em Nova York, o
"The Solaire" consome 35% a menos de
energia e 50% a menos de água potável,

Jeff Goldberg/Esto
se comparado a outros de mesma
tipologia. Inaugurada em 2003, a
construção, de 27 pavimentos, reúne
sistemas de controle inteligentes e
painéis fotovoltaicos que geram 5% de
toda a energia gasta nos apartamentos
nos horários de pico. Sensores de
presença e de luz natural reduzem o
consumo de energia e o projeto de
arquitetura privilegia o aproveitamento da
luz natural ao máximo nas unidades
habitacionais. O edifício possui um
sistema de captação de água de chuva,
utilizada na irrigação do jardim da
cobertura, e uma estação de tratamento
do esgoto negro, cuja água é aproveitada
na descarga das bacias sanitárias e na
torre de resfriamento. Parede padrão
cts
ch ite
l i Ar
Pel
ke
lar
l iC
Pel

Rochaverá Corporate Towers, São Paulo


O complexo de escritório de alto padrão
projetado por Aflalo & Gaperini, formado
por quatro torres de escritório, ainda está
em processo de obtenção do certificado
LEED (Leadership in Energy and
Environmental Design), emitido pela ONG
Divulgação Aflalo & Gaperini

norte-americana USGBC (United States


Green Building Council) somente para
empreendimentos já concluídos. Além de
prever áreas verdes e praças para convívio e
bem-estar dos usuários e transeuntes, o
projeto de arquitetura privilegia a
flexibilidade dos escritórios, que dispõe de
área livre (vão variável de 11, 5 m a 20 m
nas torres A e B, onde a fachada é por vidros laminados refletivos especiais, de
inclinada) entre as janelas e o núcleo da 10 mm, com alta transmitância luminosa e
construção, sem colunas. Dispositivos baixa transmissão térmica. Além de servir
economizadores como válvulas de descarga como isolamento térmico, a cobertura verde
Divulgação Aflalo & Gaperini

com acionamentos independentes para evita a impermeabilização de uma superfície


líquidos e sólidos, torneiras temporizadas e grande. A distribuição de ar será feita com
sensor de presença nos mictórios sistema de volume de ar variável (VAV)
permitirão uma redução de 30% no automatizado, que garante máxima eficiência
consumo de água. A fachada é composta e menor consumo de energia elétrica.

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Colégio Cruzeiro, Rio de Janeiro


Ao privilegiar o conforto ambiental
e incorporar conceitos da
arquitetura bioclimática – como
iluminação e ventilação naturais –
o projeto de ampliação do Campus
do Colégio Cruzeiro, de Michael
Laar e DDG Arquitetura, conseguiu
reduzir de forma extrema o
consumo de energia da edificação.
A idéia é que, no futuro, os
telhados verdes do conjunto

Imagens: divulgação DDG Arquitetura


abriguem coletores solares e
outras tecnologias que tornem a
escola auto-suficiente
energeticamente. O grande jardim
central, situado entre os dois
blocos de salas de aula, exerce um
papel relevante na composição do
conjunto, reunindo os alunos nas
horas livres e atuando como um
regulador térmico do clima local.
Além desses conceitos, o projeto
adota outros, como iluminação
artificial eficiente, automação
predial, materiais de baixa
condutibilidade e capacidade
térmica, brises, pilotis e
terraços-jardins. O projeto
rendeu aos seus autores o prêmio
Destaque na Bienal de Arquitetura
de São Paulo, a segunda colocação
no prêmio Holcim para Arquitetura
Sustentável 2005, na categoria
"América Latina", o Prêmio IAB/RJ
e Prêmio de Eficiência Energética
do Procel/Eletrobrás 2004.
Simulações computacionais feitas por programas como o Energy Plus (distribuído
gratuitamente pelo departamento de energia dos Estados Unidos) ajudam a avaliar como o
projeto de arquitetura interfere no consumo energético de uma construção

No Colégio Cruzeiro, a implantação, a vedação e a presença do jardim


entre os blocos de salas de aula favorecem a ventilação cruzada

51
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CAPA

Fórum Chriesbach Eawag–Empa, em Dübendorf, Suíça


Localizado no Eawag (Instituto
Federal de Ciências Aquáticas e
Technologia), o Fórum Chriesbach,
de Bob Gysin + Partner, BGP, foi
inaugurado em junho de 2006.
Possui seis pavimentos que
funcionam sem calefação ou ar-
condicionado e consome quatro
vezes menos energia do que um
prédio convencional. As fachadas
são cobertas por brises de vidro
azul de posição ajustável, de
acordo com a estação do ano. No
inverno, o ar frio é pré-aquecido
em canalizações subterrâneas
Roger Frei, Zürich

(80 tubos com 20 m) para,


posteriormente, ter sua
temperatura elevada por meio de
trocadores de calor que é aquecido
com o ar proveniente da sala do
servidor. A água é aquecida pelos
coletores solares da cobertura e
pelo calor proveniente das
unidades de refrigeração da
cozinha. Uma superfície de 460 m²
de painéis fotovoltaicos fornece
Imagens: Bob Gysin + Partner BGP
Architekten ETH SIA BSA, Zurich

1/3 da eletricidade utilizada no


edifício. A água da chuva, coletada
na cobertura, é utilizada para a
descarga dos vasos sanitários.
O edifício dispõe ainda de um
sistema que coleta e armazena a
urina para a realização de
pesquisas. A idéia é utilizar o
O ar externo é sugado por ondulação e percorre três estações:
líquido excrementício para o
registro térmico, sala do servidor e monobloco
preparo de fertilizantes.

A altura do átrio permite a saída de ar quente por efeito chaminé e as janelas


superiores que, por sua vez, favorecem a ventilação cruzada

52 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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REÚSO DE ÁGUA

Soluções
não potáveis
Eficiência dos sistemas de reaproveitamento de
águas cinzas e pluviais depende de projeto
detalhado na etapa de estudo preliminar da obra
e de engenheiros especializados

Comumente difundida em indús-


trias, a adoção de sistemas para apro-
veitamento de águas pluviais e de
reúso de águas cinzas e negras vem se
disseminando em empreendimentos
residenciais e comerciais que enfati-
zam, sobretudo, o caráter sustentável
de seus projetos. Graças às tecnolo-
gias disponíveis para atender a esse
mercado, tais águas, quando adequa-
damente tratadas, podem ser total-
mente reaproveitadas de modo não-
potável ou até mesmo potável para os

Marcelo Scandarolli
mais diversos usos.
A implantação desses sistemas, no
entanto, não é simples e implica acrés-
cimos de custo significativos à obra. A
Principal fator complicador dos projetos de reúso de água, tanto pluviais como de águas
especificação de componentes como
cinzas e negras, a separação dos ramais e cisternas obedece a critérios rigorosos, a fim
reservatórios, sistemas de tratamento e
de se reduzir riscos de contaminação. Os custos operacionais também pesam bastante
redes de distribuição exclusivas exige
projetos criteriosos que devem ser
acompanhados por engenheiros espe- em tecnologias para que os sistemas se dade exigida, maior o investimento. Se
cializados, além de mão-de-obra capa- desenvolvam e se tornem acessíveis", viabilizado técnica e economicamente,
citada para fazer a correta manutenção acredita o professor titular da Escola Po- o uso de fontes alternativas de água –
dos equipamentos. Ainda que as pers- litécnica da USP (Universidade de São sejam pluviais, de drenagem, cinzas ou
pectivas de retorno do investimento Paulo),Ivanildo Hespanhol,fundador e negras – deverá ser detalhado ainda na
sejam animadoras – em processos in- diretor do Cirra (Centro Internacional etapa de estudo preliminar já que um
dustriais, por exemplo, tais sistemas re- de Referência em Reúso de Água). dos pontos principais para o sucesso
duzem em até 80% o consumo de água Vale lembrar que os custos dos sis- da execução é a instalação de sistemas
– esses fatores associados têm contri- temas variarão de acordo com a finali- de reserva e distribuição independen-
buído para limitar seu uso. "O potencial dade e, conseqüentemente, com o grau tes da rede de água potável.
é enorme, mas é preciso ter uma visão de potabilidade da água a ser usada. A Entre as variáveis a serem analisa-
macro, vontade política e investimento relação é direta: quanto maior a quali- das em projeto estão o uso da água,

54 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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Laboratório de pesquisa
Atualmente em curso no Laboratório de para descarte de água de primeira chuva,
Instalações Prediais e Saneamento do remoção de material grosseiro, remoção
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de material particulado fino e desinfecção
do Estado de São Paulo), a pesquisa – vem sendo usado para captar água para
sobre aproveitamento de água de chuva uso em um dos prédios de maior
para fins não potáveis em área urbana circulação diária de pessoas do instituto,
tem avaliado os componentes utilizados o refeitório, com finalidade de utilização
em sistemas de aproveitamento e os para a limpeza do piso. De acordo com o
impactos da utilização da água de chuva pesquisador Wolney Castilho Alves, o
em instalações reais de aproveitamento, sistema de aproveitamento instalado no
tais como consumo de água x consumo campus servirá ainda como laboratório
de energia; variabilidade da qualidade para auxiliar no desenvolvimento de
da água segundo o uso; adaptabilidade equipamentos. Para o equipamento de
às tipologias arquitetônicas e remoção de material particulado fino, por
construtivas; aceitação do usuário, exemplo, já está em testes um filtro de
entre outros quesitos (veja o artigo da areia baseado nos filtros simplificados
seção Como Construir). usados para o tratamento de águas
O sistema – que conta com equipamentos para abastecimento.

Desempenho
Com o objetivo de avaliar tecnicamente as as aplicações apropriadas para essas
inovações tecnológicas disponíveis nesse tecnologias que devem ser avaliadas e
mercado, o ProAcqua, programa submetidas a testes de laboratório e de
desenvolvido pelo Cediplac (Centro de campo. Ao final do processo, serão
Desenvolvimento e Documentação da aprovadas ou passarão por adaptações
Habitação e Infra-estrutura Urbana) em necessárias para melhorar o desempenho.
parceria com a Sabesp (Companhia de "Esta é uma maneira de resguardar o
Saneamento Básico do Estado de São usuário final contra o mau desempenho
Paulo), criou o ProAcqua Inovações dos produtos ofertados", lembra Carla
Tecnológicas. Os laudos técnicos emitidos Araujo Sautchuk, gerente da Tesis
pelo programa permitirão identificar quais Tecnologia de Sistemas em Engenharia.

tecnologia envolvida, parâmetros de Costi, presidente da Abrasip (Associa- Por enquanto, além do Manual de
custos operacionais atrelados à ener- ção Brasileira de Engenharia de Siste- Conservação e Reúso de Águas em Edi-
gia consumida e aos produtos aplica- mas Prediais) e sócio-diretor da Pro- ficações do SindusCon-SP (Sindicato
dos no tratamento da água, entre ou- cion Engenharia. De acordo com o da Indústria da Construção Civil do
tros quesitos. "O ideal é contar com engenheiro, a falta de projetos que Estado de São Paulo), uma das princi-
projetos sob medida já que cada obra considerem a instalação do sistema pais referências adotadas nesse setor é o
possui suas particularidades", observa desde a concepção arquitetônica da Guidelines For Water Reuse da EPA
André Negrão de Moura, gerente téc- edificação, de projetistas hidráulicos (Environmental Protection Ageny)
nico da Haztec/Geoplan. habilitados e número limitado de pro- De acordo com Carla Araujo Saut-
dutos oferecidos são fatores que difi- chuk, gerente da Tesis e mestre em En-
Parâmetros de projeto cultam a boa execução dos sistemas. genharia Civil pela Escola Politécnica
Outro ponto que requer cuidado Outro agravante é a falta de norma- da USP no tema Implantação de Pro-
especial é a qualidade necessária ao lização. Com exceção da NBR 15527 gramas de Conservação de Água, esse
consumo destinado. "Fazer tratamen- (Água de Chuva – Aproveitamento de documento preconiza que as tubula-
to para aproveitamento ou reúso de Coberturas em Áreas Urbanas para ções destinadas para esse fim possuam
água implica assumir a responsabili- Fins Não-Potáveis), válida desde outu- cor diferenciada das que transportam
dade pela sua qualidade, fator de bro de 2007, ainda não existem normas água potável. A água de reúso também
saúde e que envolve enormes riscos", brasileiras que atendam aos sistemas de deve ser pigmentada na cor roxa e os
afirma o engenheiro Luiz Olimpio coleta e reúso de águas cinzas e negras. pontos de consumo e ambientes abas-

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REÚSO DE ÁGUA

CLASSIFICAÇÃO E DESTINAÇÃO DAS ÁGUAS


Tipo de água Aplicação Exigências mínimas da água não potável
de reúso
Classe 1 Descarga de bacias  Não deve deteriorar  Não deve ser  Não deve apresentar
os metais sanitários abrasiva, mau cheiro
Lavagem de veículos  Não deve conter sais  Não deve  Não deve propiciar
ou substâncias manchar superfícies infecções ou
remanescentes contaminações por vírus
após secagem ou bactérias prejudiciais
Lavagem de pisos à saúde humana

Fins ornamentais  Deve ser incolor


 Não deve ser turva nem
deteriorar os metais
sanitários e equipamentos
Lavagem de roupas  Deve ser livre de
algas, de partículas
sólidas e de metais
Classe 2 Lavagem de agregados,  Não deve alterar as características de resistência
preparação de concreto, dos materiais nem favorecer o aparecimento
compactação de solo, de eflorescências de sais
controle de poeira
Classe 3 Irrigação de áreas  Não deve conter componentes agressores às plantas
verdes e rega de jardins ou que estimulem o crescimento de pragas
Classe 4 Resfriamento de  Não deve: apresentar mau cheiro, ser abrasiva, manchar superfícies, deteriorar
equipamentos de máquinas, formar incrustrações
ar-condicionado
Fonte: Manual de Conservação de Água do SindusCon-SP

tecidos por tal fonte devem ser correta- talmente independentes, minimizan- separação dos sólidos seguidos por tra-
mente sinalizados. Outro ponto im- do as possibilidades de contaminação tamentos aeróbio-biológicos para a re-
portante a ser previsto em projeto é evi- dos líquidos", observa a gerente. moção de matéria orgânica, desinfec-
tar conexões cruzadas, eliminando As tecnologias para tratamento va- ção e controle e eliminação de agentes
qualquer contato entre tubulações de riam bastante, mas os processos mais patogênicos. "A desinfecção pode ser
água potável e de efluentes tratados. comuns são de sedimentação (trata- feita com uso de cloro, aplicação de
"Os sistemas de reservas têm de ser to- mento primário) e filtração visando a raios ultravioleta e ozônio,entre outras
possibilidades", explica Costi. O mer-
cado ainda oferece outros tratamentos
mais avançados tais como coagulação,
Glossário floculação química, filtração de mem-
Água cinza: efluente que não possui Água potável: água que atende ao brana e até osmose reversa, que se des-
contribuição da bacia sanitária, ou seja, o padrão de potabilidade determinado tinam a controlar o pH e remover mi-
esgoto gerado pelo uso de banheiras, pela Portaria do Ministério da Saúde crorganismos, sais, minerais e outras
chuveiros, lavatórios, máquinas de lavar MS 518/04. partículas da água.
roupas e pias de cozinha em residências, Água recuperada: esgoto ou água
escritórios comerciais, escolas etc. de qualidade inferior que após Captação e usos
Água de reúso: água residuária que se tratamento é adequada para De acordo com o projetista Fábio
encontra dentro dos padrões exigidos certos usos. Pimenta, diretor da Projetar Enge-
para sua utilização. Aproveitamento de água nharia de Projetos, o maior desafio
Água pluvial na edificação: água que pluvial: uso da água de chuva para o reaproveitamento de águas
provém diretamente da chuva, captada para finalidades específicas, como pluviais é projetar sistemas que sejam
após o escoamento por áreas de lavagem de áreas externas, alimentação econômicos e seguros em qualquer
cobertura, telhados ou grandes de bacias sanitárias, lavagem de veículos, época do ano. "Dificilmente é viável
superfícies impermeáveis. entre outros. construir reservatórios com capaci-
dade suficiente para que o sistema
Fonte: Conservação e Reúso da Água em Edificações – SindusCon-SP

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continue operacional na época da


seca e essa descontinuidade propicie
manutenção inadequada", observa.
Segundo a norma, a água de chuva
deve ser captada apenas de coberturas
ou de áreas sem circulação de veículos,
pessoas ou animais e nunca de pavi-
mentos térreos ou piso de estaciona-
mentos, devido aos agentes contami-
nantes presentes nesses locais. O pro-
cesso de armazenagem requer cuida-
dos especiais como a presença de luz
solar e o descarte da água de escoa-
mento inicial. Entre outros parâme-
tros adotados na execução dos reser-
vatórios, é necessário minimizar o tur-
bilhonamento a fim de dificultar a res-
suspensão dos sólidos e o arraste de
A configuração básica de um projeto para a utilização de água cinza prevê um sistema
materiais flutuantes. Depois de rece-
de coleta de água servida, subsistema de condução da água (ramais, tubos de queda e
berem tratamento, as águas pluviais
condutores), unidade de tratamento da água (gradeamento, decantação, filtro e
poderão ser aproveitadas para irriga-
desinfecção), reservatório de acumulação, sistema de recalque, reservatório superior e
ção de solos, lavagem de veículos, fon-
rede de distribuição.
tes de água, reabastecimento de bacias
sanitárias e para limpeza de pisos.
Provenientes dos efluentes gerados
pelos lavatórios, chuveiros, tanques,
máquinas de lavar roupa e louça e ba-
nheiras, as águas cinzas podem ser reu-
sadas para os mesmos fins que as águas
de chuva. Entretanto, vale ressaltar que
podem apresentar alta carga de mate-
rial orgânico. Segundo especialistas, as
águas derivadas das pias de cozinha,
por exemplo, não devem ser destinadas
às estações de tratamento. Em função
da possibilidade da presença de com-
ponentes biológicos – como sangue e
urina presentes na captação de chuvei-
ros e banheiras –, é fundamental que o
reúso desse tipo de água seja muito cri-
terioso, levando em conta, entre outros
fatores, a saúde dos usuários. "Seja qual
for o destino das águas negras de bacias
sanitárias ou cinzas reaproveitadas, é
indispensável um controle contínuo e
permanente da qualidade desses
efluentes", ressalta Pimenta.
Gisele Cichinelli

Os sistemas de reaproveitamento de água da chuva


devem contar com a área de captação (telhado, laje ou
SAIBA MAIS
piso), condução de água (calhas, condutores verticais e www.fiesp.com.br/publicacoes/pdf/
horizontais), a unidade de tratamento e o reservatório ambiente/conservacao_reuso_
de acumulação e reservatório de descarte. edificacoes.pdf

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REÚSO DE ÁGUA

Projetos VILA NAIÁ


Projetado para atender a todos os
critérios de sustentabilidade, o complexo
CURITIBA OFFICE PARK turístico Vila Naiá, localizado na praia de
provenientes dos chuveiros e
O projeto do parque coorporativo Corumbá, no litoral sul da Bahia, conta
lavatórios que serão coletadas e
localizado na capital paranaense contará com sistemas individualizados de fossa-
tratadas a partir de uma rede
com sistemas para reúso das águas filtro para o tratamento dos esgotos
instalada no subsolo da edificação.
provenientes dos quartos, bangalôs,
Já as águas de chuva serão coletadas
cozinha e demais instalações. Os detritos
da cobertura, também tratadas no
passam por um sistema de filtragem
subsolo e armazenadas em uma
composto por britas, areia grossa, carvão
cisterna e em uma caixa d'água
vegetal, lã de vidro e outra camada de
superior para posterior uso nas
areia fina. Tal solução permite que 70%
bacias sanitárias dos escritórios. Tais
Divulgação Curitiba Office Park

da água aproveitada para irrigar o solo


soluções adotadas em conjunto com
seja purificada.
uma série de equipamentos
economizadores permitirão no
mínimo 20% de economia no
consumo de água da edificação.

MUNDO APTO
No residencial Mundo Apto, da Setin, o sistema de
reúso coleta águas cinzas que, depois de tratadas
pelo processo físico-químico, voltam às descargas
das bacias sanitárias. A solução, juntamente com
os dispositivos economizadores especificados
para as torneiras e chuveiros, foi implantada a
partir do projeto e prevê uma economia de R$ 12
mil por mês considerando 30 l/ habitante.

Fotos: divulgação Ecolife


ECOLIFE
Os empreendimentos da Ecoesfera
prevêem o reúso das águas cinzas
provenientes dos lavatórios e dos
chuveiros para uso exclusivo nos vasos
sanitários. Já a captação de águas de
chuva é feita por caixas de coleta, a água
captada passa por um sistema de
filtragem antes de ser novamente
armazenada e depois é usada para
irrigação de áreas verdes. Os prédios
verdes da incorporadora ainda possuem
torneiras temporizadas, vaso sanitário
equipado com dois acionadores na
descarga (2 l e 6 l) e medidores
individuais de água permitindo que cada
morador arque com seu consumo.

58 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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INSTALAÇÕES ELÉTRICAS – ESPECIAL 60 ANOS

Segurança em evolução
Demandas por instalações seguras e capazes de suportar cargas maiores
forçaram o desenvolvimento de projetos e equipamentos mais eficientes

m 1996, apenas 9% dos edifícios


E novos contavam com fio terra.
Hoje, esse recurso está presente em
98% dos prédios entregues pelas
construtoras. Os dados são do Proco-
bre (Instituto Brasileiro do Cobre),
que verifica a aplicação da NBR 5410
– Instalações Elétricas de Baixa Tensão
em 30% dos edifícios lançados em São
Paulo, e refletem uma crescente preo-
cupação do setor da construção civil
no que se refere à qualidade das insta-
lações elétricas. No mesmo período,
todos os novos prédios passaram a ter
o DR (dispositivo residual). Em 1996,
nenhum edifício contava com esse
equipamento.
Não se trata apenas do surgimen-
to de novas tecnologias, mas de uma
nova forma de entender e encarar as
instalações elétricas. "As mudanças
na concepção dos projetos foram
enormes, principalmente quanto à
segurança, proteção do patrimônio e
capacidade de atender à demanda",
ressalta o engenheiro eletricista Hil-
ton Moreno, presidente da Associa-
ção Nacional de Fabricantes de Pro-
dutos Elétricos Nema Brasil.
Como exemplo dessas significati-
vas mudanças, ele cita, além do uso de
sistemas de aterramento e de DRs, to-
madas com contato de aterramento,
DPSs (Dispositivos Protetores de
Marcelo Scandaroli

Surtos), cabos elétricos retardantes de


chama e baixa emissão de fumaça,
gases tóxicos e corrosivos, além de
eletrodutos normalizados. "A grande A evolução das instalações elétricas foi impulsionada pelo crescimento da demanda
vantagem desses recursos é a proteção por energia e pela necessidade de proteger pessoas e patrimônio. Grandes incêndios
tanto do circuito quanto das pessoas", em edifícios motivaram busca por projetos mais seguros

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salienta Hélio Eiji Sueta, diretor da di-


visão de potência do IEE (Instituto de
Eletrotécnica e Energia).
Outro motivo para a moderniza-
ção na forma de conceber projetos e
realizar instalações elétricas é o contí-
nuo crescimento da demanda pelo
uso de energia elétrica. "As instalações
eram projetadas para cargas limitadas
e ficavam sujeitas a sobrecargas sem-

Marcelo Scandaroli
pre que o usuário comprasse novos
equipamentos", conta Moreno. O
risco vem sendo minimizado por
meio da adequação do projeto às ne-
cessidades do usuário, visando obter Estudos setoriais indicam que quase a
uma capacidade de carga pertinente e totalidade dos novos edifícios conta com
proporcionando conforto e flexibili- aterramento para as instalações.
dade aos consumidores. Situação é bastante diferente para casas

Busca por padronização


De acordo com o Procobre, esses normas técnicas e ao crescimento do
resultados decorrem do amadureci- grau de automação das instalações.
mento do setor. "As construtoras têm Também há polêmica em torno
se conscientizado, mas ainda há gran- dos debates para adoção de padrões de
de discrepância entre edifícios e casas", disjuntores. De acordo com Sueta, os
alerta Milena Guirão, coordenadora prazos estão vencendo e os fabricantes
Divulgação Abinee

de marketing do Instituto. Ela conta não conseguem informar precisamen-


que no ano passado o Programa Casa te quais as curvas de potência de seus
Segura passou a pesquisar, além de equipamentos. Dessa maneira, expli-
apartamentos, casas. Enquanto quase ca, "é necessário que o projetista consi-
Com três pinos de seção redonda,
todos os apartamentos contavam com dere alguns parâmetros a mais". O In-
adoção de padrão brasileiro está
aterramento, apenas 22% das casas – metro (Instituto Nacional de Metrolo-
vinculada à obrigatoriedade do
de um total de 180 – tinham fio terra. gia, Normalização e Qualidade Indus-
aterramento de instalações residenciais.
"Percebemos que era o momento de trial) exige que tanto disjuntores do
Medida busca aumentar a segurança
reforçar o Programa para modernizar padrão americano quanto do europeu
as antigas instalações e adequar novos obedeçam às mesmas curvas.
projetos à lei", conta. A questão da segurança foi abor- França prevê a revisão das instalações
Ela se refere à Lei 11.337, de dada na Téchne 92, publicada em no- de tempos em tempos", compara.
26/07/2006, que determina a obriga- vembro de 2004. Naquela ocasião, a "Provamos que um projeto atualizado
toriedade do uso do fio terra em todas reportagem alertava para a intenção de acordo com as normas tem menos
as instalações. Dessa lei também de- de se aplicar a certificação compulsó- perdas", complementa. Em escala, isso
corre a adoção da nova tomada com ria das instalações como forma de ava- poderia diminuir a pressão sobre o sis-
três pinos redondos. "Vai gerar um liação da conformidade. O tema é de- tema e, conseqüentemente, a necessi-
mercado paralelo de adaptadores, o batido há bastante tempo, conforme dade de construir mais usinas.
que não dá para evitar", pondera José conta Grimoni, mas existe muita difi-
Aquiles Baesso Grimoni, diretor do culdade para sua implantação. Dentre Novas exigências
IEE. Segundo Moreno há, de fato, uma os principais entraves estão os custos e A evolução das normas e regula-
maior obediência aos requisitos de a burocratização decorrentes. "A mentos técnicos, além dos avanços

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I N S TA L A Ç Õ E S E L É T R I C A S – E S P E C I A L 6 0 A N O S

tecnológicos em materiais e proces- obrigadas a relatar a qualidade da


sos, as descobertas nas áreas de fisio- energia entregue.
logia – choques elétricos – e o conhe- Atualmente, os disjuntores e inter-
cimento do fogo e suas propriedades, ruptores diferenciais começam a ser
levaram à adoção de medidas de pro- adotados para aumentar a segurança
teção em instalações elétricas. Pro- de instalações e usuários. Também

Divulgação Siemens
gramas federais de certificação com- estão se desenvolvendo os DPSs, que
pulsória de produtos elétricos tam- visam sanar aquele que está dentre os
bém contribuíram significativamen- maiores problemas de instalações: as
te para o avanço da qualidade dos descargas elétricas. Estas geram cam-
produtos. "Os grandes incêndios [em pos eletromagnéticos que induzem a
Depois do fio terra, o dispositivo residual edifícios] também trouxeram conhe- surtos na rede e podem levar à queima
(DR) vem sendo adotado nas cimentos sobre causas de acidentes", de equipamentos. "Estão evoluindo na
instalações. Sua função é prevenir conta Moreno. As responsabilidades forma como desviam o surto para o
choques elétricos ao perceber fuga de das concessionárias fornecedoras terra", comenta Sueta.
corrente no circuito também aumentaram. Agora, são No que tange à economia, as mu-
danças ainda são incipientes. As insta-
lações começam a sofrer mudanças na
distribuição da energia dentro dos
Instalações eficientes prédios, o que pode proporcionar ga-
nhos de área e na quantidade de
Por que se pensa mais em
cabos. Com a possibilidade da medi-
segurança do que em economia na
ção remota, faz-se desnecessária a sala
concepção dos projetos?
para concentrar os medidores. Por
Os grandes incêndios ocorridos no Brasil
não ser mais imperativo realizar a me-
(Edifícios Andraus, Joelma, Grande
dição no térreo, é possível alterar as
Avenida), todos de origem elétrica e com
prumadas e distribuir a energia dire-
muitas vítimas fatais, lamentavelmente
tamente no andar.
serviram de alerta para que aspectos de
No consumo, a economia está no
Acervo pessoal

segurança fossem levados a sério.


desenvolvimento de novos produtos
Campanhas educativas também
para iluminação, como as lâmpadas
contribuíram. No caso da economia,
fluorescentes. "Ainda há problemas
exceto pela crise do apagão energético de Hilton Moreno
com o descarte e com a geração de
2001, o tema ainda é pouco conhecido e presidente da Associação Nacional
harmônicos na linha, mas as incan-
exigido pelos usuários. Não é fácil de Fabricantes de Produtos
descentes estão com os dias contados",
convencer empreendedores a gastar mais Elétricos Nema Brasil
comenta Sueta. Outras possibilidades
inicialmente e recuperar o investimento
no campo da economia são os painéis
mais tarde. Além disso, ainda não há
fotovoltaicos e os LEDs (diodos emis-
nada que obrigue a execução de um são os disjuntores e fusíveis; além de
sores de luz) para iluminação.
projeto com base em conceitos de produtos utilizados na proteção contra os
Bruno Loturco
eficiência energética. efeitos das sobretensões, como
dispositivos DPS e sistemas de proteção
O que se tornou indispensável às contra descargas atmosféricas.
instalações modernas? LEIA MAIS
Produtos para proteção contra choques, A que se deve a popularização
Instalações elétricas residenciais.
como fios terra, tomadas com desses dispositivos?
Téchne 124.
aterramento, dispositivos DR e eletrodos Às campanhas de educação de
de aterramento; produtos para proteção profissionais e usuários, maior Cabines primárias. Téchne 108.
contra incêndio, como cabos elétricos observância de normas técnicas,
Padrão internacional. Téchne 92.
retardantes de chama e com baixa redução dos preços dos produtos,
emissão de fumaça, gases tóxicos e maior respeito aos direitos do Projetista de instalações. Téchne 71.
corrosivos, eletrodutos e canaletas não consumidor, maior comprometimento
Linha de força. Téchne 65.
propagantes de chama e materiais para dos fabricantes, construtores,
obturação de paredes e pisos; produtos instaladores, projetistas e lojistas
Instalações elétricas prediais com
para proteção contra sobrecorrentes, que com suas responsabilidades sociais.
barramento blindado. Téchne 47.

62 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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CONEXPO 2008

Máquinas
a caminho
Dólar barato e mercado dando sinais de
aquecimento fizeram da Conexpo 2008
uma verdadeira vitrine de produtos adaptáveis
à construção brasileira

um bom momento para os brasilei- funcionais apresentados durante o


É ros comprarem equipamentos
americanos.A afirmação é do vice-pres-
evento. São máquinas capazes de reali-
zar trabalhos de escavação e perfura-
idente da Sobratema (Associação Brasi- ção,aumentando a versatilidade da fer-
leira de Tecnologia para Equipamentos ramenta. "É interessante porque o em-
de Manutenção), Jonny Altstadt, que presário reduz o investimento mobili-
comparou a moeda nacional em relação zado", explica. Também chamaram a
ao euro e ao dólar para concluir que atenção de Marques e de outros cons-
"está barato comprar equipamento nos trutores consultados nos pavilhões as
Estados Unidos".Ele visitou a Conexpo- máquinas recicladoras de asfalto, con-
CON/AGG (Concrete and Aggregates creto e outros materiais. O diretor da
Show) 2008 acompanhado de um Andrade Gutierrez, inclusive, conta
Divulgação Conexpo CON/AGG

grupo de quase 200 membros da Asso- que tem informações de que algumas
ciação e conta que as soluções america- máquinas desse tipo foram negociadas
nas são criativas e práticas, menos sofis- com empresas brasileiras. O objetivo é
ticadas que as tecnologias européias e a reciclagem de pavimentos antigos.
mais adequadas à realidade brasileira de Questionado sobre a possibilida-
construção civil. de de uma ampla utilização dos equi-
Os construtores brasileiros estão pamentos apresentados no Brasil,
FICHAS TÉCNICAS
animados com o aquecimento do setor Altstadt afirmou que são produtos
e com as promessas de investimento em mundiais, feitos por empresas globa- Feira: Conexpo-Con/Agg
infra-estrutura. "Existe uma demanda lizadas, e que a adaptação à realidade Local: Las Vegas, Estados Unidos
para geração de energia e construção de brasileira depende da filosofia de cada Período: de 11 a 15 de março
indústrias",observou o diretor de supri- empresa. As demandas estão sujeitas, de 2008
mentos e equipamentos da Construtora ainda, à sazonalidade dos investimen- Expositores: 2.182
Andrade Gutierrez, Mário Humberto tos. "A Conexpo permite conhecer o Visitantes: 144.600, sendo cerca
Marques. A própria Sobratema apre- estado-da-arte em novos equipamen- de 28 mil estrangeiros
sentou dados durante a feira que indi- tos", comenta. Essa atualização se Área de exposição: 211.966 m
cam um crescimento anual de 7,5% até mostra importante devido à falta de
2012 no setor brasileiro de equipamen- continuidade nos investimentos em Feira: IFPE (International Power
tos, chegando a US$ 14,84 bilhões. infra-estrutura, que dificulta a reno- Transmission Exposition)
Para Marques, foi surpreendente a vação do maquinário, especialmente Expositores: 469
quantidade de equipamentos multi- para construção pesada. Área de exposição: 11.994 m2

66 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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Em comparação à edição ante-


rior, 61% mais pessoas visitaram a
IFPE, resultando na presença de mais
de 29.400 profissionais. Abrigou a
apresentação de 111 trabalhos de es-
pecialistas da indústria mundial,
além de simpósios sobre controle ele-
trônico. Contou com o inédito Cen-
tro para Inovações e Soluções, com
sessões de palestras e conferências
para mais de 1.700 pessoas.
Pelos corredores do Centro de
Convenções de Las Vegas, que abrigou
a Conexpo CON/AGG 2008, circula-
ram 144.600 pessoas.Em 2005,124 mil
profissionais estiveram presentes. O
número de visitantes internacionais
também aumentou significativamen-
te, saltando de aproximadamente 15
mil para 28 mil em 2008. "A participa-
ção internacional superou em muito a
nossa expectativa", revelou Arnold
Huerta, diretor de desenvolvimento de
negócios globais da AEM (Association
of Equipment Manufacturers), uma
das associações envolvidas com a orga-
nização do evento. Entre 750 e 800 bra-
sileiros compareceram a Las Vegas. Os
mexicanos eram 1.500.
Alguns dados, como o volume de
negócios, ainda não estão disponí-
veis, mas a expectativa é por resulta-
dos muito positivos para os cerca de
Crescimento em números instalada no Brasil."Vi muitas empresas 2.500 expositores, visitados por 60
Tal qual a edição anterior, um dos fechando acordos de representação",re- delegações mundiais. "É uma boa
destaques da Conexpo ficou por conta vela Altstadt, da Sobratema. oportunidade para os fabricantes
da forte presença asiática,com pavilhões Não apenas de asiáticos fez-se a apresentarem suas novidades", atesta
dedicados apenas aos produtos chineses participação internacional na feira. Huerta. Aproximadamente oito mi-
e coreanos. Os construtores, embora in- Foram 14 pavilhões dedicados a ou- lhões de toneladas em equipamentos
teressados na capacidade de baratea- tros países, sendo dez no âmbito da foram dispostos ao público.
mento de produtos dos chineses, ainda Conexpo e outros quatro pertencentes Para o vice-presidente da Sobrate-
duvidam da confiabilidade dos produ- à IFPE 2008 (International Exposition ma, os objetivos da visita por parte dos
tos. "Acredito que os coreanos têm uma for Power Transmission). Esse evento brasileiros foram plenamente alcança-
qualidade boa e estão preparados para acontece sempre junto à Conexpo e se dos. "Queríamos ampliar a gama de fa-
um embate comercial",aposta Marques, dedica à transmissão de energia e con- bricantes de equipamentos presentes
da Andrade Gutierrez. Além de preço e trole de movimento por meio de tec- no Brasil, cada um oferecendo vanta-
qualidade, faz diferença para os fornece- nologias hidráulicas, pneumáticas, gens competitivas", resume.
dores contar com rede de atendimento mecânicas e elétricas. Bruno Loturco

67
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CONEXPO 2008

Painel de produtos
Carregadeira A McCloskey 621 é adequada para Fora-de-estrada
877lll aplicações de muita solicitação, tais Volvo E-Series
LiuGong como processamento de material de Volvo
demolição e reciclagem de resíduos.
Também pode ser utilizada para
processamento de camadas de solo.
Conta com ventilador reversível para
remoção do material triturado do
interior do equipamento.
www.mccloskey.com

A nova linha da Volvo conta com sete


Recicladora de solo
Dotada de cesto multiuso com caminhões articulados. Uma das
McCloskey
capacidade para 4 m3, essa novidades é o sistema de suspensão
carregadeira chinesa é operada por total, que propicia nivelamento
joystick. O peso de operação é de automático e controle de estabilidade
23.500 kg, com tolerância de 500 kg em todas as rodas. O modelo A40E
para mais ou para menos. Tem alcança 57 km/h e é capaz de
9.113 mm de comprimento e o cesto carregar até 39 t. A caixa de câmbio
atinge 5.905 mm de altura. tem nove marchas para proporcionar
http://en.liugong.com suavidade e potência em todas
as situações.
Escavadeira www.volvo.com

Indicada para composição de camadas


Compactos e portáteis
de solo, limpeza de terrenos,
Nível a laser
manutenção de rodovias e fabricação de
Wacker
agregados, a McCloskey Kompaq &
Minisizer pesa apenas 5.000 kg e tem
4 m de comprimento. Devido ao
tamanho compacto, é ideal para
realizar os primeiros trabalhos em
terrenos acidentados.
A velocidade de viagem varia entre
www.mccloskey.com
2,8 km/h e 4,5 km/h e a carregadeira
conta com lâmina acoplada ao chassi.
Estabilizadora Com operação simplificada, visa
O cesto tem capacidade para 0,35 m3
Wirtgen proporcionar eficiência e produtividade
e o equipamento pesa 8 t. Tem
com precisão. Os modelos VAL 300 e
6.215 mm de comprimento,
HAL 300 abrangem diâmetros de 300 m
considerando o braço flexionado,
e o PAL 450 atinge 450 m. Funcionam
atingindo 1.780 mm de altura.
com baterias recarregáveis e são
www.jonyang.com
indicados para incrementar a precisão
na montagem de fôrmas, revestimentos
Tudo reciclado
em argamassa e nivelamento de pisos.
Recicladora
www.wackergroup.com
McCloskey
Mais compacto dos modelos dessa
fabricante, o WR 2000 realiza Vibrador de concreto
reciclagem e estabilização de solo. Wacker
Suas dimensões lhe garantem
flexibilidade de uso e agilidade de
movimentação pelo terreno. A boa
visibilidade da cabine proporciona
segurança e conforto ao operador.
www.wirtgen.com

68
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Portátil, é movido a gasolina e ideal para O modelo BW65S-2 de rolo vibratório Eletrônica construtiva
concretos com densidade média ou baixa. com duas rodas pesa 626 kg, tem 650 X63
Tem formato anatômico e alcança mais de mm de largura, vibra a uma freqüência Topcon
10 mil vibrações por minuto. O modelo de 58 Hz e tem força centrífuga de 24 kN
PV 35A pesa 7,7 kg. O motor Honda é por roda. Adequado para pavimentação e
garantido contra problemas operacionais. disponível em duas outras versões, com
www.wackergroup.com maior e menor capacidade.
www.bomag-americas.com
Acabadora de concreto
Esse sistema de controle para escavadoras
Wacker Acabamento mecânico
baseado em tecnologia GPS 3D permite ao
Multiquip
operador saber a posição exata da máquina
em relação ao terreno, incluindo o braço e o
cesto. Com um corte mais preciso, evita-se
a escavação além do definido em projeto.
www.topconpositioning.com

Elimina o trabalho braçal de acabamento Centro de controle


em piso nas regiões próximas a paredes e RC3
a obstáculos. Foi desenvolvida para RexCon
proporcionar facilidade e conforto de A tradução literal de "trowel",
operação. Tem quatro lâminas e pesa nome dado a esse equipamento,
72,6 kg. O motor é refrigerado a ar e é "colher de pedreiro". Isso porque
atinge 3.800 rpm. O tanque tem capacidade conta com lâminas automatizadas
para 2,5 l e o consumo é de 1,3 l/hora. que realizam o acabamento de
www.wackergroup.com superfícies de concreto. Com
o operador a bordo, aumenta a
Um centro de controle e comunicação
Cortadora de barras produtividade desse tipo de serviço
para centrais de concreto baseado num
Wacker sem desgaste humano.
sistema amigável para Windows. Permite
www.multiquip.com
controlar desde o traço dos concretos
processados até o tempo de uso dos
Carregadeira compacta
equipamentos. Controla até cinco baias
Gehl
de agregados e automatiza o
carregamento dos caminhões na usina.
www.rexcon.com

Equipamento elétrico-hidráulico, Gerenciador de trabalho


desenhado para cargas elevadas, The Paradyme Group
proporciona cortes rápidos em barras de
aço. Compacta, é indicada para casos
em que são necessárias a portabilidade
e a flexibilidade. É adaptável a barras
com diâmetros diversos. A válvula de O modelo RS8-42 de carregadeira
alívio de pressão é liberada sem o com braço telescópico da Gehl
auxílio de ferramentas. pode esterçar duas ou quatro rodas O DigiSuite é um gerenciador de fluxo de
www.wackergroup.com ou andar de lado, a depender da trabalho que auxilia na redução de custos
necessidade. É capaz de elevar até e no aumento da eficiência dos
Rolo vibratório 3.600 kg a 12 m de altura. Tem processos. O sistema aposta na
Bomag teto de vidro na cabine para flexibilidade de uso para possibilitar
melhorar a visibilidade do operador. comunicação por voz, rastreamento de
Conta com três opções de equipamentos e etiquetamento
velocidade à frente. eletrônico de elementos em concreto.
www.gehl.com www.paradymegroup.com

69
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Envie artigo para: techne@pini.com.br.


O texto não deve ultrapassar o limite
de 15 mil caracteres (com espaço).

ARTIGO Fotos devem ser encaminhadas


separadamente em JPG.

Avaliação ambiental
de edifícios
tualmente, os conceitos relativos à
A sustentabilidade, decorrentes do
aumento da conscientização global
Adriana Camargo de Brito, arquiteta
Centro Tecnológico do Ambiente
Sistemas de avaliação ambiental de
edifícios
A maioria dos sistemas de avalia-
Construído, IPT
sobre o assunto, estão influenciando ção ambiental de edifícios baseia-se
e-mail: adrianab@ipt.br
cada vez mais as sociedades do planeta. em indicadores de desempenho que
Questões como os impactos negativos atribuem uma pontuação técnica em
Fulvio Vittorino, engenheiro
gerados ao meio ambiente e as crescen- função do grau de atendimento a re-
mecânico
tes desigualdades socioeconômicas quisitos relativos aos aspectos cons-
Centro Tecnológico do Ambiente
passaram a ser abordadas em todas as trutivos, climáticos e ambientais, en-
Construído, IPT
escalas governamentais e privadas. focando o interior da edificação, o seu
e-mail: fulviov@ipt.br
No setor da construção civil, espe- entorno próximo e a sua relação com
cificamente, destacam-se as preocupa- a cidade e o meio ambiente global.
Maria Akutsu, física
ções voltadas aos impactos ambientais Esses indicadores possuem pon-
Centro Tecnológico do Ambiente
gerados pelas edificações, principal- derações, explícitas ou não, que retra-
Construído, IPT
mente durante as fases de construção e tam os principais problemas ambien-
e-mail: akutsuma@ipt.br
uso. Resultados de pesquisas mostram tais locais. Por exemplo, se em deter-
que, em algumas cidades do Estado de minada região há altas taxas de gera-
São Paulo, mais da metade do volume de água potável (foto 1); uso de siste- ção de resíduos na execução de edifí-
diário de resíduos coletados são oriun- mas construtivos e execução da obra cios, os critérios adotados em um me-
dos da construção civil. Nos países do de modo a minorar a geração de resí- canismo dessa natureza incentivam a
hemisfério Norte, a maior parte do duos; localização do empreendimento diminuição dessa geração, cabendo ao
consumo de energia é decorrente da de forma a facilitar o seu acesso pelos construtor escolher a melhor forma
climatização das edificações. usuários; não-perturbação da vizi- de atender a essa exigência, seja pela
Nesse contexto, a partir da década nhança, principalmente durante a melhor gestão do empreendimento
de 1990, muitos países desenvolveram obra, como cuidados no espalhamen- ou pelo emprego de sistema constru-
mecanismos para a avaliação do de- to de poeira e outros (foto 2) . tivo mais racionalizado.
sempenho ambiental de edifícios por Os métodos de avaliação pos-
meio de processos de certificação vo- suem aspectos conceituais em
luntária, com grande abrangência te- comum na busca pela melhoria do
mática, enfatizando, porém, os aspec- desempenho ambiental dos edifícios,
tos que representam os maiores desa- que podem ser refletidos, de maneira
fios ambientais locais. simplificada, pelos seguintes aspec-
Um edifício com alto desempenho tos principais:
ambiental deve impactar pouco o  Impactos do Empreendimento no
meio ambiente, propiciando boas con- Meio Urbano, onde há itens sobre os
Fotos: Adriana Brito

dições de conforto e salubridade para incômodos gerados pela execução,


os usuários. Dessa forma, deve-se con- acessibilidade, inserção urbana; ero-
siderar, entre outros: baixo consumo são do solo, espalhamento de poeira,
de energia para ar-condicionado e ilu- Foto 1 – Torneira eficiente – economia entre outros (foto 5);
minação; racionalização do consumo de água  Materiais e Resíduos, compreen-

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dendo gestão de resíduos no canteiro


e uso do edifício, emprego de madeira
e agregados com origem legalizada,
geração e correta destinação de resí-
duos, emprego de materiais de baixo
impacto ambiental, reúso de mate-
riais (fotos 3 e 4);
 Uso Racional da Água, visando à
economia de água potável, como uso
de equipamentos economizadores,
acessibilidade do sistema hidráulico,
captação de água de chuva, tratamento
de esgoto etc.;
 Energia e Emissões Atmosféricas,
que analisam a eficiência da envoltó-
ria, do sistema de ar-condicionado e
iluminação artificial, entre outros as- Foto 2 – Lava-rodas durante a obra para evitar espalhamento de particulas nas ruas
suntos e; da cidade
 Conforto e Salubridade do Ambien-
te Interno, considerando a qualidade
do ar e o conforto ambiental.
No gráfico 1 são apresentadas as
importâncias relativas dos diversos as-
pectos avaliados em processos de dife-
rentes instituições, onde se evidencia a
diferença entre as ponderações estabe-
lecidas em cada mecanismo de avalia-
ção. Destacam-se: BREEAM, do Reino
Unido, LEED, dos Estados Unidos,
HQE, da França, CASBEE do Japão,
GBTOOL (veja siglas no final) desen-
volvido por pesquisadores de vários
países, além de um método proposto
pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tec-
nológicas do Estado de São Paulo).
Os dois primeiros (BREEAM e
Foto 3 – Separação de resíduos para reciclagem
LEED) são muito semelhantes entre si
com relação à estrutura de avaliação,
pelo atendimento a pré-requisitos e do edifício, enquanto o GBTOOL, por da década de 1990, contendo emi-
pela concessão de pontuação técnica seu caráter internacional, necessita nentemente exigências de caráter
acerca de itens de avaliação indepen- que cada aplicador utilize fatores de prescritivo. Tais exigências enfoca-
dentes e classificação do desempenho ponderação definidos de acordo com vam o interior da edificação, o seu en-
do edifício em vários níveis. Já o HQE as suas características locais. torno próximo e o meio ambiente. Já
dá ênfase em questões de desempenho A metodologia do IPT tem estru- nesse momento ficava claro o concei-
global do edifício e de gestão do pro- tura similar à do LEED e do BREEAM, to de se buscar boas condições de
cesso de projeto e de construção dos porém com aspectos específicos ade- conforto e salubridade para o ser hu-
edifícios, além de correlacionar muitos quados para a realidade urbana das mano com o menor impacto am-
dos itens avaliados. A avaliação se dá grandes cidades brasileiras. biental tanto em termos de consumo
por um perfil ambiental previamente de recursos como de emissões.
estabelecido, que se atendido resulta na Conteúdo das sistematizações A avaliação contém itens com ca-
certificação do edifício. BREEAM ráter de atendimento obrigatório e
O CASBEE possui estrutura de O BREEAM é o primeiro método outros classificatórios, abordando
pontuação técnica baseada na relação de avaliação de desempenho ambien- questões sobre os impactos do edifício
benefício para o usuário/custo am- tal de edifícios, desenvolvido pelo no meio ambiente, saúde e conforto
biental para obter esse benefício que Building Research Establishment do usuário e gestão de recursos. O
resulta em um índice de desempenho (BRE), no Reino Unido, já no início atendimento dos itens obrigatórios e

73
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ARTIGO

um número mínimo de itens classifi-


catórios irá corresponder à classifica-
ção do edifício em um dos níveis de
desempenho possíveis. Destaca-se que
a pontuação mínima exigida varia de
acordo com a versão do método, bem
como os níveis de classificação. Atual-
mente, dispõem-se de critérios para
vários tipos de edifícios, como de es-
critórios, shopping centers, habitações
térreas e edifícios multipavimentos,
Fotos: Adriana Brito

fábricas, e até para prisões.

LEED
Foto 4 – Baias para separação de resíduos O LEED é um sistema de certifica-
ção aplicado pelo USGBC (United Sta-
tes Green Building Council) que foi visi-
velmente influenciado pelo BREEAM,
tendo estrutura e conceitos muito se-
melhantes, mesclando aspectos pres-
critivos e de desempenho, onde tam-
bém há versões para usos específicos
de edifícios. Os aspectos avaliados
pelo LEED referem-se ao impacto ge-
rado ao meio ambiente em conse-
qüência dos processos relacionados
ao edifício (projeto, construção e ope-
ração); contemplando aspectos relati-
vos ao local do empreendimento, o
consumo de água e de energia, o apro-
veitamento de materiais locais, a ges-
Foto 5 – Cobertura de solo exposto para evitar espalhamento de partículas e erosão
tão de resíduos e o conforto e qualida-
de do ambiente interno da edificação.
3,0% 4,0% 1,7%
6,0% 10,0% O método de avaliação consiste na
12,4%
18,8% 10,0%
análise da eficiência ambiental poten-
33,6% 12,0%
14,1% cial do edifício, por meio de documen-
10,1%
20,0%
tos que indiquem sua adequação aos
23,0% itens obrigatórios e classificatórios
18,8% 24,5% (como o BREEAM) presentes na certi-
22,4%
20,0% 10,0% ficação. Há possibilidade de se atingir
9,8% 1,2% os níveis de certificado prata, ouro ou
21,7% 16,2%
8,3% 21,1% platina, sendo este último o nível má-
20,0% ximo a ser alcançado.As faixas de pon-
4,5%
7,3% 12,0%
9,6% tuação e os intervalos considerados
4,0%
20,3% 20,0% 24,7% 4,0% para a classificação dos edifícios va-
9,1%
3,0% 8,8% riam de acordo com o uso e fase do
LEED IPT BREEAM CASBEE GBTOOL ciclo de vida do edifício.

Qualidade dos serviços (ao usuário) Gestão de água HQE


Gestão de energia Gestão de materiais e resíduos O HQE é uma base de avaliação
Prevenção da poluição (qualidade do ar/ruídos) Gestão ambiental (do processo) francesa que consiste em dois sistemas
Qualidade do ambiente interno (controlabilidade) Sustentabilidade do sítio relacionados entre si, que aferem o de-
Desempenho econômico (qualidade da implantação) sempenho ambiental de edifícios. Sua
estrutura subdivide-se em gestão do
Fonte: adaptado de Silva, 2003
empreendimento – SMO (Système de
Gráfico 1 – Comparação de sistemáticas Management de l'Opération) – e qua-

74 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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Tabela 1 – COMPARATIVO DAS SISTEMÁTICAS


Aspectos Escopo da Método de aplicação Categorias avaliadas Resultados
avaliação
BREEAM Ambiental Atendimento de Saúde, poluição, conforto, Classificação
itens obrigatórios uso de energia, uso de água, em vários
e classificatórios. uso de materiais, uso do solo, níveis, pontuação
Classificação do edifício ecologia local, transporte total obtida
LEED Ambiental Atendimento de Sítios sustentáveis, energia e Quatro níveis, pontuação
itens obrigatórios atmosfera, uso eficiente da água, total obtida
e classificatórios. materiais e recursos,
Classificação do edifício qualidade do ambiente interno,
inovação e processo de projeto
HQE Ambiental Atendimento de Impactos no meio ambiente, Não há classificação.
perfil ambiental. gestão de recursos, conforto e A certificação é obtida a
Certificação ou saúde do usuário partir do atendimento ao
não do edifício perfil de desempenho
ambiental escolhido
GBTOOL Ambiental Verificação do Uso de recursos, cargas ambientais, Pontuação global
e econômica atendimento dos itens qualidade do ambiente interno do desempenho
e dos serviços, aspectos por categoria
econômicos, gestão de transporte
CASBE Ambiental Verificação do Ambiente interno, qualidade dos Cinco níveis de
atendimento dos itens. serviços, ambiente externo classificação,
Classificação do edifício (dentro do terreno), energia, indicador global
recursos e materiais, ambiente de eficiência
externo (fora do terreno)
IPT Ambiental e Atendimento de itens Impactos no meio ambiente, Cinco níveis de
desempenho obrigatórios e materiais e resíduos, energia e classificação,
técnico classificatórios. atmosfera, uso racional de pontuação total obtida
Classificação do edifício água, conforto e salubridade

lidade ambiental – QEB (Qualité En- (Base), que já corresponde às boas O "Q" considera questões relativas à
vironnementale du Bâtiment) –, que práticas correntes. Para se obter a cer- qualidade do ambiente interno (con-
avaliam as fases de projeto, execução e tificação, dos 14 itens quatro devem forto e saúde do usuário), qualidade do
uso, cada qual com uma certificação atender pelo menos ao nível médio, e serviço (funcionalidade, durabilidade)
em separado. pelo menos três, ao nível máximo. As e meio ambiente local (preservação ve-
O método Francês é diferenciado outras categorias devem se enquadrar getal e animal, e características paisagís-
do BREEAM e LEED, apresentados an- no nível base. Não há classificação do ticas, culturais locais, etc.). Já o "LR"
teriormente. A avaliação não possui es- desempenho do edifício em níveis, ob- aborda eficiência energética (desempe-
cala de pontuação mas sim uma estru- tendo-se ou não a certificação. O siste- nho da envoltória, uso de energia reno-
tura baseada em um perfil ambiental ma está todo baseado em exigências vável, eficiência dos sistemas e sua ope-
determinado pelo empreendedor, den- normativas e legais de cada localidade. ração), gestão de recursos (economia e
tre os quatro blocos de avaliação, que reúso de água, reúso e reciclagem de
possuem juntos 14 itens. Os blocos são: CASBEE materiais etc.) e impactos na vizinhança
impactos do empreendimento no meio O CASBEE possui quatro instru- (poluição do ar, sonora, vibrações etc.)
ambiente, gestão de recursos, conforto mentos de avaliação: voltados ao pro- A pontuação dos dois sistemas é
ambiental e saúde do usuário. jeto (em desenvolvimento), constru- ponderada e resulta em uma nota
Na composição do perfil ambien- ções novas, edifícios existentes e re- final (BEE – Building Environmental
tal são escolhidos itens que deverão formas. Os critérios de avaliação Efficency) que corresponde à classifi-
atender aos níveis de desempenho de- abordam a qualidade ambiental e de- cação do edifício em um dos cinco ní-
finidos. Há três níveis de desempenho, sempenho do edifício (Q – Building veis possíveis.
o máximo (Très Performant), que re- environmental quality and perfor-
presenta os melhores níveis de desem- mance) e diminuição de cargas am- GBTOOL
penho que podem ser obtidos, o bientais (LR – Reduction of building O GBTOOL é uma ferramenta
médio (Performant) e o mínimo environmental loadings). internacional de avaliação ambiental

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ARTIGO

de edifícios, resultante de um consór- truído incorporando aspectos am- midores, com destaque aos imóveis de
cio que envolve vários países da Eu- bientais desde seu projeto, espera-se alto padrão. Contudo, mesmo na ha-
ropa, Ásia e América (Green Building que seu desempenho seja superior bitação de interesse social, as preocu-
Challenge) na busca do desenvolvi- aos edifícios tradicionais. Porém, pações ambientais começam a se fazer
mento de incentivos à execução de isso depende do foco da metodolo- presentes. A própria Secretaria de Es-
edifícios mais adequados do ponto gia aplicada e da base de compara- tado da Habitação/CDHU já tem assi-
de vista ambiental. Desse modo, não ção do desempenho obtido. nado protocolo com a Secretaria do
possui um órgão certificador especí- Para que os resultados ambientais Meio Ambiente para melhorar o de-
fico, sendo uma ferramenta de dis- sejam representativos, é de suma im- sempenho ambiental de seus conjun-
cussão e aprimoramento de projetos portância que a sistemática possua tos habitacionais.
podendo ser adotada por qualquer critérios adequados ao contexto onde
entidade de avaliação que defina fa- se encontra o edifício.
tores de ponderação para os elemen- No contexto brasileiro, ainda há
REFERÊNCIAS
tos considerados. uma grande carência em normas e
Os assuntos abordados referem-se legislações sobre o assunto. Embo- Avaliação da sustentabilidade de
ao consumo de recursos, cargas am- ra existam várias iniciativas, esta- edifícios de escritórios brasileiros:
bientais, qualidade do ambiente inter- mos praticamente no início de diretrizes e base metodológica. V.
no, qualidade do serviço, aspectos busca por um melhor desempenho G. Silva. 2003. 210f. Tese (Doutorado
econômicos e gestão antes da ocupa- ambiental de nossos edifícios. em Engenharia Civil) – Escola
ção do edifício. Nesse sentido, temos muito traba- Politécnica, Universidade de São
lho a fazer, ainda mais se conside- Paulo, São Paulo.
Método IPT rarmos nossos problemas quanto à
O método desenvolvido pelo IPT qualidade de nossas edificações, Green Building Challenge'98
visa oferecer uma avaliação ambien- fator que interfere decisivamente http://greenbuilding.ca/gbc98cnf/
tal de edifícios adequada às condi- no desempenho ambiental.
ções brasileiras e, caso o resultado No entanto, a busca por edifí- CASBEE (Comprehensive
seja satisfatório, conceder uma Refe- cios mais eficientes do ponto de Assessment System for Building
rencia Ambiental-IPT, nos mesmos vista ambiental é crescente no Bra- Environmental Efficiency)
moldes da Referência Técnica- sil. Atualmente há grande heteroge- www.ibec.or.jp/CASBEE/english/over
RT/IPT que vigora para produtos. neidade no foco das empresas da viewE.htm
Sua estrutura é semelhante à do construção civil. Algumas estão se
LEED e BREEAM, com itens com ca- limitando à incorporação de con- Institute for Building Enviroment
ráter de atendimento obrigatório e ceitos por meio de soluções de pro- Energy Conservation
outros classificatórios. jeto que possuem grande visibilida- www.ibec.or.jp
A sistemática do IPT enfatiza os de, porém sem representar grandes
aspectos ambientais tradicionais melhorias ambientais, enquanto LEED (Leadership in Energy and
como características do terreno, de outras estão buscando certificação Environmental Design Green
água, energia, materiais, resíduos e de acordo com critérios do exterior, Building Rating System) – U.S.
conforto ambiental. Considera tam- que nem sempre são adequados às Green Building Council
bém aspectos mais abrangentes como condições nacionais. www.usgbc.org
de acessibilidade e relação do edifício Diante desse cenário, o IPT pro-
com o meio urbano. Sua grande dife- pôs uma metodologia de avaliação HQE (Association por la Haute
rença está na importância dada a cada nacional voltada a grandes cidades. O Qualité Environnementale)
aspecto e na inserção de preocupações método visa à valorização da adoção www.assohqe.org/
relativas à realidade brasileira. de soluções de projeto, gestão ou exe-
Para uma rápida comparação das cução que possam resultar em um BREEAM (Building Research
estruturas de avaliação citadas, apre- ganho ambiental real. Establishment Environmental
sentamos um breve resumo na tabela 1. No entanto, os conceitos de de- Assessment Metthod)
sempenho ambiental de edifícios www.breeam.org
Tendências nacionais ainda estão longe de estarem dissemi-
Dentro dos grandes blocos te- nados por toda a sociedade brasileira, IISBE (International Initiative for a
máticos apresentados, cada sistemá- embora alguns setores específicos es- Sustainable Built Environment)
tica de avaliação possui suas pecu- tejam mobilizados nesse sentido. A
liaridades e exigências específicas. procura por imóveis com certificação GBATool (Green Building
Quando se aplica uma delas em um ambiental, neste momento, rela- Assessment Tool)
empreendimento, que já foi cons- ciona-se a perfis específicos de consu- http://greenbuilding.ca

76 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


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PRODUTOS & TÉCNICAS


ACABAMENTOS

COLA SEM CHEIRO


COLA PARA PISO Com o mesmo desempenho da
O alto rendimento é um dos cola de contato Formica
grandes diferenciais do tradicional, a nova versão
Brascoflex Piso 800 PU da apresenta como diferenciais a
Brascola. Adesivo formulado secagem mais rápida e a
especialmente para colagem e ausência do Toluol em sua
colocação de pisos de madeira composição, substância
sobre contrapiso de concreto, o responsável pelo forte cheiro das
produto rende até 20% mais que colas convencionais.
os existentes no mercado. Tem 0800-0193230
excelentes propriedades www.formica.com.br
mecânicas e apresenta
secagem rápida.
(11) 4176-2069
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ACABAMENTOS

FACHADA
FITA CREPE
ANTIPICHAÇÃO A Carborundum lança a sua Fita
A Pertech apresenta sua linha de Crepe para Uso Geral, produto
laminados para exteriores, que indicado principalmente para
entre outras características conta proteger superfícies durante o
com superfície antipichação. processo de pintura. Aderência,
Exibido no padrão madeirado, o facilidade no corte, elasticidade e
produto laminado não sofre fácil moldagem às superfícies são
corrosão nem retém sujeira, algumas características
mantendo a rigidez e encontradas na fita. A única
uniformidade de cor ao longo restrição é a sua utilização para
dos anos. isolamento elétrico e locais onde
0800-7739600 ficam expostas a altas
www.pertech.com.br temperaturas.
0800-7273322
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ACABAMENTOS

PISO TÁTIL
PERFIS DE A Daud desenvolveu o Piso Tátil,
PAINEL PARA FACHADA PASTILHAS
O painel Wall PUR é do tipo Ideais para revestimento de ACABAMENTO para aplicação em espaços
A Tecnoperfil disponibiliza 12 públicos e orientação de alerta e
sanduíche, composto com núcleo piscinas, halls, banheiros,
tipos de perfis com cores e direção, seguindo o padrão de
de poliuretano classe R1, de alta fachadas, pisos ou qualquer
dimensões diferentes para fabricação determinado pela
densidade (40 kg/m2) e revestido superfície que necessite de um
acabamentos que harmonizem NBR 9050. Podem ser fixados
com chapas de aço pré-pintado. acabamento criativo, as pastilhas
com revestimentos cerâmicos com cola ou argamassa e
Permite a composição de cores Kolorines imitam pedras
de paredes, balcões, bordas de possuem 250 mm x 250 mm.
variadas na mesma obra e tem preciosas e metais, com uma
janelas e vidros, banheiras, (11) 5056-1670
propriedades térmicas, podendo grande variedade de tons.
pisos etc. www.daud.com.br
ser instalado tanto em estruturas Disponíveis no tamanho
0800-474774 daud@daud.com.br
de aço, quanto de concreto. 2 cm x 2 cm.
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vendas@isoeste.com.br

ACABAMENTOS

PULVERIZADOR
A empresa NicBrasil marca sua TINTA ACRÍLICA
A linha Brasimur de tintas
presença na Feicon 2008 com
acrílicas para exterior e interior é
um equipamento inédito no
o lançamento da Brasilux na
Brasil: o pulverizador Wagner
Feicon. Disponíveis nas variações
W550. Com função multiuso,
Nobre Fosca ou Semibrilho
pode ser utilizado para pequenos
Superlavável, os produtos da
e médios serviços de
linha proporcionam, segundo a
pulverização. Seu sistema
empresa, finíssimo acabamento
contempla a tecnologia
às paredes, com durabilidade,
Click & Paint, que permite
retenção de cor e resistência ao
envernizar ou pintar.
sol, chuva e mofo.
0800-7011943
(16) 3383-7000
wagner@lidertintas.com.br
www.brasilux.com.br

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PRODUTOS & TÉCNICAS


CANTEIRO DE OBRA COBERTURA, IMPERMEABILIZAÇÃO E ISOLAMENTO

ANDAIME ELÉTRICO MANTA TÉRMICA TELHA ONDULADA


O andaime motorizado é A Atco Plásticos apresenta na TELHA CERÂMICA A Claudio Vogel fará o
O Sistema Taguá de Cobertura
montado com plataformas em Feicon o Homefoil, uma manta lançamento de mais um modelo
reúne telhas cerâmicas e calhas
aço compostas por módulos de subcobertura para isolamento de telha. Trata-se de um produto
metálicas, possibilitando executar
2 m ou 3 m, que podem ser térmico. O produto é composto com tamanho diferenciado e que
telhados com apenas 3% de
interligadas formando áreas de por uma lâmina de alumínio com oferece economia considerável
inclinação. A inclinação miníma
2 m até 8 m de comprimento. 99,85% de pureza, camadas de no custo geral do telhado, pois
garante bom isolamento térmico
A movimentação do andaime é filmes de polietileno e base com seu rendimento é de 8,5%/m2.
e acústico, além de total
feita por dois guinchos fibras de polipropileno. Oferece Disponível com revestimento
impermeabilização, assegura a
motorizados Baram modelo 700. conforto térmico, em poliéster, esmaltada
empresa. O produto já está no
A plataforma pode subir até impermeabilidade do teto e ou envelhecida.
mercado há 40 anos.
9 m/min, agilizando os serviços melhora a estética em áreas (51) 3634-8000
www.ceramicatagua.com.br
de fachada. sem forro. www.claudiovogel.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS


COBERTURA, IMPERMEABILIZAÇÃO E ISOLAMENTO

MASSA ACRÍLICA
A Vedacit/Otto Baumgart lança o
TELHA DE CONCRETO EMULSÃO ASFÁLTICA novo impermeabilizante
As telhas de concreto Pirineos, A Denver Impermeabilizantes Vedapren, disponível em três MEMBRANA FLEXÍVEL
da Eurotop, destacam-se pelo lança a emulsão asfáltica versões: terracota, concreto e O MSET é o lançamento da
design, aspecto rústico e, ao impermeabilizante Denverlaje verde. O produto protege contra Bautech na Feicon. É uma manta
mesmo tempo, sofisticado, Preto. Totalmente pronta para os raios de sol, o que reduz parte líquida impermeabilizante que
trabalhando com cores que dão uso, é aplicada a frio e atende às do calor absorvido pela estrutura. forma uma membrana elástica
movimento ao telhado, necessidades de proteção em Disponível em galões de 4,5 kg, monocomponente e contínua,
lembrando os tons da região lajes de pequenas proporções, balde de 18 l e ainda em tambor substituindo a manta asfáltica.
montanhosa dos Pireneus. como terraços, sacadas, de 200 kg. As vantagens do produto,
Disponível em várias tonalidades. marquises, coberturas (11) 2902-5555 segundo o fabricante, são a alta
0800-7070075 e áreas frias. www.vedacit.com.br resistência a fungos e bactérias,
www.eurotop.com.br (11) 4741-6000 maior rapidez na aplicação e
www.denverimper.com.br possibilidade de ser aplicado por
mão-de-obra não especializada.
(11) 5572-1155
www.bautechbrasil.com.br

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COBERTURA, IMPERMEABILIZAÇÃO E ISOLAMENTO CONCRETO E COMPONENTES PARA A ESTRUTURA

ADITIVOS ENDURECEDOR
PROTETOR TÉRMICO ADESIVOS E SELANTES A Viapol criou dois novos aditivos
O Termosplit é um protetor A nova linha Unfix da Mercotrade para estruturas de concreto: o
térmico tubular desenvolvido ESTRUTURA DE AÇO reúne adesivos e selantes Viamiz Rápido CL e o Viamix
principalmente para isolamento A Jorsil lança na Feicon a variados. Entre eles, a empresa Expansivo. O primeiro é ideal
em sistemas de refrigeração e estrutura pronta de aço destaca a massa reparadora Lite, para acelerar o endurecimento
climatização. Fabricado pela galvanizado para telhados, para recomendada para pequenos de cimento, possibilitando altas
WdB, o produto é fornecido em substituir a madeira. Formada consertos em áreas internas e resistências mecânicas. Já o
rolos de 8 m e está disponível por perfis estruturais leves externas, e o Tapa Trincas, ideal segundo é utilizado em
nos diâmetros 17,5 mm, 22 mm parafusados entre si, a estrutura para corrigir fissuras em argamassas destinadas ao
e 29,5 mm. apresenta ao mesmo tempo concreto, madeira, tijolo preenchimento de espaços entre
(11) 3026-9200 rigidez e leveza. ou pedras. batente, parede e teto.
westaflexsp@wdbnet.com (11) 2179-5100 (48) 3346-1275 (11) 2107-3400
www.wdbnet.com www.jorsil.com.br unasol@unasol.com.br www.viapol.com.br
jorsil@jorsil.com.br www.unasol.com.br

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PRODUTOS & TÉCNICAS


CONCRETO E COMPONENTES PARA A ESTRUTURA

CP II
O cimento Cimpor CP II E 32 é
indicado para estruturas que FIBRA
estejam expostas a ataques O FiberLock, da Etruria, é um
químicos provenientes do meio produto usado em concretos e
ambiente e para aplicações que argamassas para inibir o
necessitem de moderadas aparecimento e a propagação de
resistências à compressão nas fissuras causadas por retrações
primeiras idades, como: plásticas ou hidráulicas.
artefatos de cimento, blocos de Adicionado ao concreto ou
concreto, concreto protendido, argamassa, incorpora-se à pasta
estruturas de concreto em geral, de forma homogênea e fácil.
argamassas de assentamento (11) 4718-8700
e revestimento. www.etruria.com.br
0800-7033010 etruria@etruria.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS


CONCRETO E INSTALAÇÕES
COMPONENTES COMPLEMENTARES
PARA A ESTRUTURA E EXTERIORES

MICROINJET
O sistema Microinjet é um novo
serviço da Holcim para ASPIRAÇÃO CENTRAL
tratamento de superfícies de Ecoblu é um Sistema de
concreto e estruturas, corrigindo Aspiração Central fabricado pela
imperfeições e dando Emmeti, na Itália. O Ecoblu
acabamento de forma rápida e possui uma central, que deve ser
eficiente. A novidade é ideal para instalada em uma área de serviço
reformas, segundo a Holcim, pois ou garagem, com pontos de
o tempo de aplicação e secagem conexão em cada cômodo da
é rápido e gera menos impacto casa. Os pontos são ligados à
no dia-a-dia da reforma. central através de uma tubulação
www.holcim.com/br de PVC.
(19) 2138-8820
www.emmeti.com.br
mais_info@emmeti.com.br

INSTALAÇÕES COMPLEMENTARES E EXTERIORES

CUBA PARA COZINHA


A novidade da Stake é a cuba
AUTOMAÇÃO tripla para cozinha. Além das
RESIDENCIAL duas cubas para uso geral, a peça
A SMS Tecnologia Eletrônica ainda vem com uma cuba
criou um sistema de automação pequena no meio, onde pode ser
residencial totalmente sem fio. instalado tanto um escorredor
Com ele é possível abrir e fechar quanto um triturador de
cortinas ou portões por controle alimentos.
remoto, ativar luminárias (11) 6014-3333
automaticamente, acionar www.strake.com.br
previamente o aquecedor ou a
irrigação da piscina. O sistema
pode ser controlado via internet
pelo pacote Alerta 24 horas.
(11) 4075-7069
www.sms.com.br

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INSTALAÇÕES COMPLEMENTARES E EXTERIORES INSTALAÇÕES ELÉTRICAS E TELECOMUNICAÇÕES

TRILHO ELÉTRICO
O trilho VR 8003 com
PISCINA transformador eletrônico
As piscinas de polietileno são a embutido, da Adimar Iluminação,
novidade da Fortlev. Com tampa TOMADAS E é um modelo arrojado e moderno
opcional, possuem tamanho INTERRUPTORES com spots, canopla e trilhos em
EXAUSTORES pequeno, são de fácil manuseio e A Linha Simon19 é o novo latão cromado e cristais no
A Sictell lança o Arkit, conjunto movimentação e estão lançamento da Simon Brasil e formato de pirâmide. Adequado
exaustor com tubo flexível e uma disponíveis em três capacidades: reúne 29 itens, comercializados para três lâmpadas bipino com
grade externa, para a renovação 500 l, 1.000 l e 2.000 l. juntos ou individualmente. São máximo de 50 W.
de ar. O produto é indicado para (27) 2121-6700 interruptores, pulsadores, (11) 6673-3757
ambientes de até 6 m2. www.fortlev.ind.br tomadas e etc., que buscam, de www.adimariluminacao.com.br
(11) 2274-2003 acordo com a marca, qualidade,
sictell@sictell.com.br segurança, economia e
www.sictell.com.br bom gosto.
(11) 3437-8100
www.simonbrasil.com.br

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS E TELECOMUNICAÇÕES INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS

RESERVATÓRIO SOLAR
MINIDISJUNTOR A Cumulus lança os reservatórios
O minidisjuntor termomagnético TUBOS solares em aço carbono
da Steck foi criado O Acqua System é o sistema para
LUSTRE DE CRISTAIS vitrificado. Os modelos, além de
principalmente para sistemas condução de água quente e fria
O lustre pendente Bola da Looz, contar com a mesma
comuns de distribuição de com união por termofusão do
com diâmetro de 82 cm, possui durabilidade e garantia do
energia como tomadas e Grupo Dema. A tecnologia por
aproximadamente sete mil modelo em aço inox 304L
iluminação. Mesmo travado, em termofusão permite que tubos e
cristais sustentados por uma (superior ao inox 304 e 444),
caso de sobrecarga o produto conexões sejam aquecidos a
corrente de aço inox. A estrutura possui um custo até 50% menor
desarma automaticamente. 260ºC, fundindo-se
é de alumínio pintado. Está se comparado com os
(11) 6245-7000 molecularmente em uma peça
disponível também com modelos inox.
vendas@steck.com.br única e contínua, sem roscas,
diâmetro de 52 cm. (11) 3156-8500
www.steck.com.br colas e soldas. Elimina, segundo
(16) 3976-7131 www.cumulus.com.br
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PRODUTOS & TÉCNICAS


INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS

AR-CONDICIONADO
O condicionador de ar Vertu é o
lançamento da Midea do Brasil FOSSA SÉPTICA
para 2007/2008. É um produto
AQUECEDORES O Sumidouro da Bakof possui um
que leva em conta a design cônico com nervuras,
SOLARES preocupação ambiental, pois aumentando assim sua
AQUECEDOR A GÁS A Unasol disponibiliza uma possui selo "A" do Procel. O Vertu resistência à pressão externa.
O destaque da Bosch na Feicon é grande variedade de possui funções de autolimpeza Foi projetado para que a pressão
o lançamento da Linha aquecedores solares, para para eliminação de bactérias e interna seja distribuída
Eletrônica Digital, composta por diversos usos e demandas. Os filtros que melhoram a qualidade uniformemente, sem causar
três modelos de aquecedores de representantes em todo Brasil do ar no ambiente. Possui deformações nas paredes.
água a gás: GWH 500 CTDE, ajudam o cliente na escolha dos tons preto-espelhado e A abertura é feita na parte
GWH 650 CTDE e GWH 800 produtos em projetos de cinza-prateado. superior, guiada por dois
CTDE, que possuem como edificações especiais e com 0800-6481005 parafusos plásticos.
características principais a preocupações de www.mideadobrasil.com.br (11) 3744-3232
regulagem eletrônica da sustentabilidade. sac@mideadobrasil.com.br www.bakof.com.br
temperatura, exaustão forçada (48) 3346-1275
bakof@bakof.com.br
dos gases da combustão, unasol@unasol.com.br
modulação eletrônica da chama, www.unasol.com.br
além de diversos sistemas
de segurança.
(11) 2126-1950 / 0800-7045446
www.bosch.com.br

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JANELAS, PORTAS E VIDROS

BATENTE DE
POLIURETANO
Por uma nova tecnologia FECHADURAS
A nova linha 1.600 da Stam PORTAS PIVOTANTES
patenteada de fusão de um bloco As novas portas pivotantes da
DOBRADIÇA permite que o consumidor
de poliuretano na base de Zeloart são, segundo a empresa,
batentes e guarnições, a Pormade REFORÇADA troque de fechadura sem deixar
ideais para a fachada de
A União Mundial lança a nenhum vestígio. O sistema é
soluciona o problema da umidade residências e áreas comerciais.
dobradiça 4 x 3 para portas composto por espelhos finos
em ambientes com pisos frios, A estrutura das peças é de
pesadas. As peças podem ser ou largos.
como banheiros e áreas de alumínio, e os clientes podem
encontradas em aço ou latão, 0800-241020
serviço. A base de poliuretano, escolher o tipo de vidro da
todas reforçadas para info@stam.com.br
segundo o fabricante, evita a peça, tipo de revestimento,
suportarem grandes cargas. www.stam.com.br
infiltração da umidade e diminui cor e modelo, entre
(22) 2533-9350
o risco de apodrecimento de outras características.
www.uniaomundial.com.br
portas e janelas. (11) 5562-8666
(42) 3521-2121 www.zeloart.com.br
www.pormade.com.br
pormade@pormade.com.br

JANELAS, PORTAS E VIDROS

FECHADURA
ESQUADRIA ACÚSTICA A nova Linha Alumínio de
O último lançamento da Atenua fechaduras da Aliança
Som é a linha de esquadrias Metalúrgica possui três modelos
Futura. Com dois modelos, um visando atender aos mais
de abrir e outro de correr, são variados gostos. São opções em
janelas acústicas que promovem rosetas sem parafusos e um
o conforto térmico gerado pelos novo par de espelhos. As opções
vidros duplos. É feita sob medida de acabamento são o alumínio
e pode ter vidros duplos, triplos, natural, cromado, fosco, bronze
quádruplos ou até cinco camadas e latonado fosco. Todos os
com diferentes espessuras. modelos são equipados com
(11) 3382-3060 mecanismos de 40 mm.
www.atenuasom.com.br (11) 6951-1500
contato@atenuasom.com.br www.aliancametalurgica.com.br

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P&T_feicon xxxxxx1.qxd 4/4/2008 16:11 Page 90

PRODUTOS & TÉCNICAS


JANELAS, PORTAS MÁQUINAS,
E VIDROS EQUIPAMENTOS E
FERRAMENTAS

VIDROS CORTE
A Vetro System trouxe direto da Os discos diamantados Irwin de
Europa uma nova tecnologia de 180 mm são os mais resistentes
envidraçamento de ambientes. ao desgaste, sendo indicados
Os novos painéis se adaptam em principalmente para materiais
vários formatos geométricos, abrasivos e para cortes mais
sem o uso de esquadrias, e são profundos. Os discos podem ser
instalados em trilhos horizontais utilizados a seco ou com a
que giram em um ângulo de 90º. adição de água.
(11) 4063-2130 0800-9709044
www.vetrosystem.com.br www.irwin.com.br

90
P&T_feicon xxxxxx1.qxd 4/4/2008 16:11 Page 91

MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS

FIXAÇÃO
A pistola DX 36M, da Hilti, é um
sistema de fixação à pólvora para
ESTILETE concreto e aço. A ferramenta VIBRADOR DE
Com o intuito de facilitar o semi-automática possui pente CONCRETO
SERRA DE PISO trabalho de profissionais da de dez cartuchos e regulagem A Bosch apresenta ao setor da
A Clipper C13E da Norton é construção civil, a Starret lança de potências. A pistola tem construção seu novo vibrador de
compacta e se caracteriza pelo uma linha de ferramentas silenciador integrado. concreto, com motor de 1.400
seu alto desempenho no corte manuais composta de estiletes, 0800-144448 W de potência e alta capacidade
de pisos de concreto e asfálticos. lâminas de serra tico-tico, novas www.hilti.com.br de adensamento do concreto.
O posicionamento do tanque de trenas e um dos principais Com tamanhos diferenciados de
água removível, que é de 20 l, produtos da empresa, o mangotes (1,5 m e 3,5 m de
adiciona peso ao disco e garante microóleo anticorrosivo M1. comprimento) e um sistema de
ao operador uma boa visão www.starrett.com.br troca rápida desses
do corte. componentes, é possível
0800-7273322 adequar o produto a diversas
www.norton-abrasivos.com.br utilizações.
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MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS

FERRAMENTA
MISTURADOR A Máquina Serra de Fita 1101,
O misturador Horizontal Vibron da Starrett, é uma máquina
possui moto-redutor de horizontal, de operação manual,
engrenagens paralelas que, para corte de diversos tipos de
além de prolongar a vida útil do materiais. O produto possui três
equipamento, proporciona um regulagens de pressão de corte,
funcionamento com menos arco de alumínio injetado e base
ruídos. Sua cuba de mistura tem projetada para permitir
capacidade de 100 l e sua maior precisão.
produção média é de 2 m3/h. 0800-7021411
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91
P&T_feicon xxxxxx1.qxd 4/4/2008 16:11 Page 92

PRODUTOS & TÉCNICAS


MÁQUINAS, PROJETOS E SERVIÇOS TÉCNICOS VEDAÇÕES, PAREDES
EQUIPAMENTOS E DIVISÓRIAS
E FERRAMENTAS

SOFTWARE
O Cypecad, da Multiplus, é um
software para elaboração de PLACA CIMENTÍCIA
CAD O Superboard é uma placa
projetos de estruturas em
O programa QiCAD foi
concreto. O produto abrange, autoclavada produzida com
desenvolvido com o objetivo de
segundo o fabricante, todas as cimento Portland, quartzo e
suprir a etapa de
NIVELAMENTO etapas do projeto: modelo 3D da fibras de celulose. Disponível
complementação das pranchas
O nível a laser L3 Millenium, estrutura, carregamentos e nas espessuras de 6 mm, 8 mm,
finais dos projetos, eliminando a
da Laser Center do Brasil, possui combinações, análise estrutural, 10 mm e 15 mm, o produto tem
necessidade de adotar outro
nivelamento completamente dimensionamento do concreto e 1,2 m de largura e 2,4 m de
programa CAD para finalizar o
automático na horizontal e na das armaduras, pranchas comprimento. Segundo o
projeto. Inclui comandos e
vertical, possível por meio de completas, quantitativos e fabricante, possui resistência à
ferramentas de CAD 2-D não
motores niveladores. O produto memorial de cálculo. flexão de 16 MPa.
disponíveis nos demais
ainda pode ser manuseado (11) 3222-1755 (11) 5662-2142
programas da linha.
a distância, por meio de www.multiplus.com www.superboard.com.br
(48) 3027-9010
controle remoto. www.altoqi.com.br
(11) 3284-4260 comercial@altoqi.com.br
www.anvi.com.br

92
P&T_feicon xxxxxx1.qxd 4/4/2008 16:11 Page 93

VEDAÇÕES, PAREDES E DIVISÓRIAS

DRYWALL ACÚSTICO
O Gypsom, chapa para drywall
de alta performance acústica da
Lafarge Gypsum, ganhou uma DRYWALL
nova versão: o GypSOM Q10, A Placo fabrica sistemas de
com perfurações quadradas de drywall para paredes internas
10 mm x 10 mm. Segundo a retas ou curvas, não estruturais
fabricante, o produto é ideal e não expostas a intempéries.
para execução de forros em São constituídas por placas de
locais projetados para oferecer gesso, pré-fabricadas a partir da
boa performance e conforto gipsita natural, parafusadas em
acústico como auditórios, uma estrutura metálica leve.
restaurantes e bibliotecas. 0800-0192540
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93
obra aberta-modelo.qxd 4/4/2008 16:02 Page 94

OBRA ABERTA
Livros

Falhas, Responsabilidades Fundações – Guia Prático Dimensionamento Espaço e Cidade –


e Garantias na de Projeto, Execução e Simplificado de Fôrmas Conceitos e Leituras
Construção Civil * Dimensionamento de Madeira para Organizadores: Evelyn
Carlos Pinto Del Mar Yopanan C. Rebello Concreto Armado Furquim Werneck Lima e Miria
368 páginas 240 páginas Zacarias Martin Chamberlain Roseira Maleque
PINI e Editora Método Zigurate Editora Pravia 184 páginas
Vendas pelo portal Vendas pelo portal 72 páginas 7 letras
www.piniweb.com.br www.piniweb.com.br UPF Editora Fone: (21) 2540-0076
Aborda as responsabilidades Escrito por um engenheiro de Fone: (54) 3316-8373 www.7letras.com.br
dos construtores, dos estruturas com interesse pela www.upf.br/editora A coletânea de ensaios e
projetistas e de todos os mecânica dos solos e das Nesse livro o professor da artigos, voltada a acadêmicos
demais profissionais envolvidos fundações, o livro tem o Universidade de Passo Fundo, e estudiosos, procura
na concepção e execução de objetivo de transmitir as no Rio Grande do Sul, propõe incentivar discussões sobre
uma obra. Associa as experiências vivenciadas pelo um método simplificado para qualidade da vida urbana no
demandas técnicas da autor durante a interação, ao calcular pontaletes, fôrmas século XXI. Focado na cidade
engenharia aos conceitos e longo dos últimos 36 anos, para lajes, vigas e pilares com do Rio de Janeiro, analisa, em
exigências do Direito para com especialistas em base na NBR 7190/1997 e no seis artigos, a evolução
esclarecer os conceitos, fundações. Pretende ser um método dos Estados Limites histórica de bairros e regiões
dispositivos e prazos referentes canal de informações úteis aos últimos e de utilização. Os da metrópole carioca, que
às falhas e garantias que se iniciam na engenharia e, dados apresentados são tiveram suas funções sociais
construtivas. O autor, bacharel principalmente, na arquitetura. oriundos das pesquisas modificadas ao longo do
em Direito pela PUC-SP Procura, portanto, introduzir o realizadas no Laboratório de tempo. A primeira parte do
(Pontifícia Universidade assunto a partir da óptica do Ensaios em Sistemas livro concentra textos que
Católica) e mestre em finanças engenheiro não-especialista. Estruturais. Dessa forma debatem acerca do
pela Escola de Engenharia Dessa maneira, levanta procura minimizar a patrimônio, preservação e
Mauá, apresenta um capítulo questões gerais, mas de importância da experiência do espaço público. Há ensaios
inteiro dedicado à prevenção e importância para compreensão construtor no sobre planos de preservação
solução amigável de conflitos. global do tema. Após dimensionamento dos de áreas com valor
Por se tratar de uma obra apresentar um breve histórico escoramentos e patrimonial, sobre a
destinada tanto a engenheiros e especular sobre a interação desenvolvimento dos projetos necessidade de novas
quanto a profissionais do da disciplina com a arquitetura, de fôrmas. Rico em ilustrações soluções na área de
Direito, buscou-se uma ganha teor técnico e traz pretende ser de utilização transportes, mesmo que a
linguagem didática e acessível. noções de mecânica dos solos prática e de aplicação por longo prazo, considerando
e critérios para escolha de técnicos e engenheiros. a integração de
fundação profunda. diferentes modais.

94 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


obra aberta-modelo.qxd 4/4/2008 16:02 Page 95

Software Sites

Manual Prático de Direito Manual de Escopo de Orbis 1.1 Nambei Fios e Cabos
das Construções Projetos e Serviços de Uqbar Fone: (11) 5056-8900
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136 páginas Abrasip (Associação Brasileira Info@uqbar.com.br Desde 1971 fabricando fios e
Livraria e Editora Universitária de Engenharia de Sistemas www.uqbar.com.br cabos elétricos, a Nambei
de Direito Prediais) Trata-se de um sistema de acaba de reformular sua
Fone: (11) 3105-6374 58 páginas informações com dados página na internet. De acordo
www.editoraleud.com.br Manuais de Escopo de consolidados e específicos do com a empresa, de capital
Advogado formado pela USP Projetos e Serviços mercado de securitização, nacional, o objetivo das
(Universidade de São Paulo) e www.manuaisdeescopo.com.br com acesso exclusivo ao alterações é facilitar a
engenheiro civil pela Escola de Integrante dos Manuais de banco de dados da empresa. navegação dos consumidores,
Engenharia do Mackenzie, o Escopo, a publicação segue as A concepção da plataforma clientes e profissionais do
autor é associado colaborador diretrizes básicas. Ou seja, almejou a integração entre a setor que busquem
da Empresa Brasileira de divide a atuação da carteira de créditos, a informações sobre os
Avaliações e trabalhou no coordenação de projetos em engenharia de estruturação produtos Nambei.
Departamento de Patrimônio seis fases, subdivididas entre financeira e o gerenciamento O desenvolvimento do novo
Imobiliário da Companhia do serviços essenciais e opcionais. das operações. Essa nova visual do site buscou atender
Metrô. Trabalhou, dentre Dentre os opcionais, aborda até versão permite ao usuário às tendências atuais por um
outros locais, na Emurb mesmo a preparação de criar consultas próprias a layout limpo e moderno. Na
(Empresa Municipal de manual de operação e partir do estabelecimento de página inicial há um link direto
Urbanização de São Paulo) e manutenção de automação e um conjunto de critérios, tais para os produtos, incluindo
no Ibape (Instituto Brasileiro segurança. Esse inclui o projeto como classificação de riscos e toda a especificação técnica
de Avaliações e Perícias de executivo do sistema, rentabilidade estimada. As dos mesmos, e um espaço
Engenharia). Concebeu o livro documentação técnica, relação informações são para download de catálogos,
de forma a ser compreensível de fornecedores e garantias. apresentadas a partir de três folhetos e tabelas. Também é
mesmo aos leigos em Direito. Dentre os serviços essenciais perspectivas: dados de possível consultar cópias dos
Para tanto, lançou mão de do detalhamento de projetos operações, dados agregados certificados obtidos.
inúmeras ilustrações para consta a lista de pontos de e atividades recentes.
tratar de questões jurídicas supervisão e controle,
essenciais à construção, considerando sistemas de
envolvendo perícias, direito de elétrica, hidráulica e ar
vizinhança, desapropriação, condicionado. Disponível em
mediação e arbitragem. www.manuaisdeescopo.com.br.
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95
agenda anun ok.qxd 4/4/2008 15:59 Page 96

AGENDA
Seminários e regulamentações e tendências de Geotécnica, além de simpósios e
mercado nacionais e internacionais para workshop, tem a finalidade de promover
conferências a sustentabilidade na construção. o intercâmbio de conhecimentos e
Legislação na Construção – Como E-mail: ecobuilding2008@anabbrasil experiências entre profissionais de
Vencer Entraves Contratuais, www.anabbrasil.org/ecobuilding2008 engenharia, pesquisadores e estudantes.
Fiscais,Trabalhistas, Previdenciários A dinâmica do Congresso envolverá
e Ambientais Desafios e Oportunidades no palestras proferidas por convidados de
13/5/2008 Mercado de Baixa Renda – 2a edição renome nacional e internacional, a
O seminário pretende oferecer 29/5/2008 apresentação de trabalhos técnico-
ferramentas no tratamento das questões O Seminário "Desafios e Oportunidades científicos mediante submissão ao
legais relativas à atividade produtiva na do Mercado de Baixa Renda" promoverá Comitê Técnico do evento e a
construção civil. A PINI organizará o intercâmbio de experiências e realização de uma exposição de
evento e reunirá advogados e profissionais informações entre os profissionais da serviços e produtos.
especializados para discutir soluções indústria da construção civil. O evento Fones: (21) 2524-2455/5254
relacionadas a pontos como tributos, abordará desde as fases de concepção, E-mail: cobramseg@profin.com.br
contratos, normas técnicas, código de viabilização, projeto, planejamento e
defesa do consumidor, legislação execução de empreendimentos para o
trabalhista, previdenciária e ambiental. segmento econômico.
Feiras e exposições
(11) 2173-2340 (11) 2173-2395 Coverings
legislacao@pini.com.br desafios@pini.com.br 29/4 a 2/5/2008
www.piniweb.com/legislacao www.piniweb.com/DesafiosBaixaRenda Orlando (EUA)
A Coverings reúne os setores de
Sinco 2008 – IV Simpósio Internacional 2o Congresso e Feira de Infra- revestimentos cerâmicos, rochas
sobre Concretos Especiais estrutura de Transportes ornamentais, utensílios e acessórios
22 a 24/5/2008 25 a 28/6/2008 para cozinhas e banheiros, vidros,
Sobral (CE) São Paulo madeira, artesanato para revestimento,
O evento discutirá os componentes dos Realizada pela Andit (Associação equipamentos, produtos da cadeia de
concretos especiais, características, Nacional de Infra-estrutura de revestimentos (argamassa, rejunte,
propriedades e possibilidades de Transportes), o congresso traz o tema películas anti-ruptura, produtos
aplicações. O Sinco é realizado pelo Infra-estrutura de Transportes – antiderrapantes, de limpeza e
Ibracon (Instituto Brasileiro do Integração e Desenvolvimento. Serão seladores). A feira é a maior do setor em
Concreto), Iemac (Instituto de Estudo discutidos assuntos relacionados a terras americanas e uma das principais
dos Materiais de Construção) e a UVA rodovias, vias urbanas, ciclovias, do calendário internacional da área.
(Universidade Estadual Vale do Acaraú). aeroportos e tráfego aéreo, metrô e E-mail: coveringsinfo@ntpshow.com
Fone: (88) 3611-6796 ferrovias, portos e hidrovias, dutovias www.coverings.com
www.sobral.org/sinco2008/ e ITS, logística e intermodalidade.
Fone: (11) 5087-3465 8a Glass South América
Eco Building – Fórum Internacional E-mail: coninfra@adeventosbrasil.com.br 8 a 10/5/2008
de Arquitetura e Tecnologias para a www.andit.org.br/coninfra2008/index.html A feira reúne fabricantes do setor vidreiro
Construção Sustentável englobando construção civil, arquitetura,
23 a 25/5/2008 XIV Congresso Brasileiro de móveis e automóveis. Haverá dois
São Paulo Mecânica dos Solos e Engenharia pavilhões: o Glass South America Design
O fórum fomentará a discussão sobre a Geotécnica e Glass South America Tecnologia.
construção sustentável por meio de 23 a 27/8/08 (11) 4613-2003
conceitos de arquitetura fundamentais e Armação dos Búzios (RJ) www.glassexpo.com.br
complexos, a aplicação de materiais, O evento de caráter técnico-científico,
tecnologias e soluções construtivas. que engloba o XIV Congresso Brasileiro Fenarc 2008 – Feira da Engenharia,
Haverá análises de casos, de Mecânica dos Solos e Engenharia Arquitetura e Construção

96 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


agenda anun ok.qxd 4/4/2008 15:59 Page 97

13 a 18/5/2008 laje. Entre os temas abordados:


Cascavel (PR) Introdução à laje treliçada; introdução
A feira bienal, que está em sua quinta à ferramenta de cálculo de lajes
edição, mobiliza a cadeia da construção treliçadas; patologias; e roteiro
civil da região Sul. A Fenarc proporciona de como comprar a sua laje
espaço para empresas apresentarem treliçada corretamente.
seus produtos e serviços ao público e
extensa programação técnica. Execução de Alvenaria
Fone: (45) 3326-4073 Estrutural de Blocos
E-mail: fenarc@fenarc.com.br Cerâmicos Selecta
www.fenarc.com.br 26/6, 28/8, 30/10 e 4/12/2008
Itu (SP)
Nordeste Invest Focado em investidores e profissionais
28 a 30/5/2008 que executam obras de alvenaria
A ADIT Nordeste (Associação para o estrutural, o treinamento pretende
Desenvolvimento Imobiliário expor os produtos para alvenaria
e Turístico do Nordeste Brasileiro) estrutural Selecta, com visita
promove a terceira edição do à fábrica, noções gerais de projetos,
Nordeste Invest. São esperados detalhes construtivos, execução
cerca de 900 empresários, sendo de alvenaria e ferramental
200 internacionais, que discutirão adequado.Confirmar presença
sobre investimentos na região com Márcia Melo.
nordestina. A expectativa é que a Fone: (11) 2118-2001
feira gere uma movimentação E-mail:marciamelo@selectablocos.com.br
financeira aproximada de mais
de R$ 2 bilhões. Auto-implementação para IS0
(82) 3327-3465 9000/2000, atendendo aos
www.aditnordeste.org.br Requisitos do PBQP-H
14/5/2008
Porto Alegre
Cursos e treinamentos O curso tratará da sistemática de
MBA em Crédito Imobiliário normalização dos processos, os
abril/2008 requisitos da Norma ISO 9001 versão
São Paulo 2000, e o SIQ-Construtoras. Outro ponto
A Abecip (Associação Brasileira de é a capacitação para atuar como
Crédito Imobiliário e Poupança) abre auditores internos do sistema da
inscrições para o MBA Economia da qualidade da empresa.
Construção e Financiamento Imobiliário. Fone: (51) 3021-3440
O curso destina-se aos profissionais da www.sinduscon-rs.com.br
área financeira e do setor imobiliário
interessados em obter uma visão Projeto Estrutural de Edifícios
detalhada das alternativas de de Alvenaria
financiamento e da construção para 16 e 17/5/2008
aplicação do conhecimento diretamente Rio de Janeiro
em seus negócios. O objetivo do curso é transmitir
Fone: (11) 3286-4859 informações e técnicas que permitam
E-mail: mba@abecip.org.br analisar a estrutura de um edifício
de alvenaria, considerando as ações
Lajes Treliçadas verticais e horizontais, além de
São Paulo apresentar as bases do
A marcar dimensionamento de elementos
O curso oferecido pela Sistrel tem como estruturais de alvenaria, com a
objetivo atualizar e capacitar ilustração de um exemplo de
profissionais da construção civil, dando- aplicação em edifício.
lhes uma visão integrada do processo de Fones: (11) 2626-0101/3739-0901
imensionamento, fabricação e uso de E-mail: cursos@aeacursos.com.br

97
agenda anun ok.qxd 7/4/2008 16:02 Page 98
como construir.qxd 4/4/2008 16:01 Page 99

Wolney Castilho Alves


e-mail: wolneipt@ipt.br

Luciano Zanella
e-mail: lucianoz@ipt.br

COMO CONSTRUIR Maria Fernanda Lopes dos Santos


e-mail: maria.flsantos@sp.senac.br

Sistema de aproveitamento
de águas pluviais para usos
não potáveis
m crescente número de grandes
U cidades e regiões metropolitanas
brasileiras vive situação de escassez e
degradação dos recursos hídricos im-
pondo a adoção de programas de
conservação de água.
Entre os componentes de progra-
mas de conservação de água, figura o
de substituição de fontes. Consiste ba-
sicamente em utilizar novas fontes de
recursos hídricos em substituição às
existentes, especialmente sob condi-
ções em que a nova fonte sirva a usos
menos exigentes (menos "nobres"). O
aproveitamento de água da chuva
precipitada nas edificações do meio
urbano se enquadra nessa categoria.

Acervo do autor
Três grandes virtudes são fre-
qüentemente associadas ao aproveita-
mento da água de chuva em edifícios:
Figura 1 – Calha coletora situada em posição intermediária permitindo alimentação
a) diminui a demanda de água potá-
do reservatório superior de água pluvial por gravidade
vel; b) diminui o pico de inundações
quando aplicada em larga escala, de
forma planejada, em uma bacia hi- moradia, embora possam estar pre- em mictórios, a água de reserva para
drográfica; c) pode reduzir as despe- sentes também em edifícios indus- combate a incêndio e a água para
sas com água potável. triais, comerciais, públicos e de servi- aquecimento e acumulação destinada
Embora a prática do aproveita- ços. Entre eles citam-se o uso da água ao banho e outros usos.
mento de água de chuva no Brasil re- para simples ingestão, a lavagem e Entre os usos domésticos mencio-
monte aos primeiros assentamentos na preparo de alimentos crus e cozidos, a nados alguns exigem água cuja quali-
época do Descobrimento, a atual con- lavagem de utensílios de cozinha, o dade atenda aos padrões de potabili-
juntura renova a oportunidade dessa banho pessoal, a higiene corporal, a dade, ou seja, à Portaria 518/2004 do
medida sob a égide da sustentabilidade. lavagem de roupas, a descarga de ba- Ministério da Saúde. Entretanto ou-
cias sanitárias, a limpeza de pisos, pa- tros usos domésticos não requerem
Usos domésticos não potáveis redes, veículos, a rega de jardins, a hi- características de qualidade tão exi-
Usos domésticos são aqueles pró- giene de animais domésticos. Podem gentes quanto a potabilidade. Esses
prios ao ambiente da habitação ou ser incluídos usos como a descarga usos, para os quais não é exigida a po-

99
como construir.qxd 4/4/2008 16:01 Page 100

COMO CONSTRUIR

tabilidade da água, são definidos ceira. Não raramente sistemas de


como não potáveis. aproveitamento levam a longos perío-
Entre os usos domésticos citados dos de retorno financeiro, pois têm
pode-se dizer que a descarga de bacias grande peso as despesas com energia.
sanitárias e mictórios, a limpeza de
pisos e paredes, a lavagem de veículos, Soluções de captação e condução
a rega de jardins e a água de reserva de águas pluviais
para combate a incêndio, enquadram- A condução das águas precipita-
Ilustração: Sergio Colotto

se como não potáveis. das sobre as coberturas usualmente é


feita por meio de calhas, condutores,
Campo de aplicação grelhas, caixas de amortecimento e
O presente artigo aplica-se ao outros componentes, projetadas da
aproveitamento de águas pluviais em mesma forma que nas instalações
usos domésticos não potáveis em prediais de águas pluviais, segundo a
edifícios diversos onde tais usos norma brasileira NBR 10844/1989.
sejam praticados. Três situações básicas podem ser
Considera-se neste artigo somen- consideradas quanto à relação entre a
te a precipitação pluvial sobre cober- área de captação e o reservatório:
turas de edifícios, ou seja, lajes e telha- a) reservação somente com reservató-
dos. Os pátios, garagens, jardins e ou- rio elevado;
tras áreas similares não são objetos de b) reservação somente com reservató-
captação visando ao aproveitamento. rio inferior;
c) reservação dotada de reservatório
Componentes do sistema predial de inferior e superior.
aproveitamento de água pluvial
O sistema predial de aproveitamen- No primeiro caso a cobertura, ou a
to de água pluvial para usos domésticos parcela de cobertura destinada à cap-
não potáveis é formado pelos seguintes tação deverá levar em conta a possibi-
subsistemas ou componentes: lidade do escoamento da precipitação,
a) captação; por gravidade, para o reservatório su-
b) condução; perior. A figura 1 ilustra essa solução.
c) tratamento; Variantes dessa solução são apre-
d) armazenamento; sentadas na figura 2.
e) tubulações sob pressão; No segundo e terceiro caso a cap-
f) sistema automático ou manual de tação corresponderá à área integral da
comando; cobertura, dotada de calhas ou cana-
Figura 2 – Esquema de soluções de
g) utilização. letas e condutores verticais.
captação e alimentação do reservatório
Uma configuração de simples im-
de água pluvial por gravidade
Concepções básicas plantação no caso de casas térreas
O fundamento básico do projeto existentes é ilustrada na figura 3.
de aproveitamento de águas pluviais Trata-se de solução promissora para
assenta-se sobre o grau de atendimen- implantação massiva visando à ate-
to das demandas de água não potável nuação do pico de cheias.
frente à oferta de precipitação pluvial Soluções alternativas de calhas e
no local. A quantidade de água pluvial condutores verticais incluem filtros
a ser aproveitada é diretamente pro- de materiais grosseiros, conforme
porcional à área de captação. ilustram as figuras 4 e 5.
Exemplos de cálculos sobre deman-
da e oferta de águas pluviais são encon- Soluções de tratamento de águas
trados na publicação "Uso Racional da pluviais
Água em Edificações" do Prosab (Pro- Estudos mostram que o trata-
Starkenvironmental

grama de Pesquisa em Saneamento Bá- mento da água pluvial captada é


sico), da Finep (Gonçalves, 2006). obrigatório devido aos riscos asso-
A aplicação de sistemas de apro- ciados ao material carreado pela
Figura 3 – Aproveitamento simplificado veitamento de água pluvial deve pas- água de chuva quando do escoamen-
de água pluvial sar por avaliação econômico-finan- to sobre a cobertura. Observa-se a

100 TÉCHNE 133 | ABRIL DE 2008


como construir.qxd 4/4/2008 16:01 Page 101

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Figura 4 – Calha dotada de filtro de Figura 5 – Filtro vertical de material Figura 6 – Filtro horizontal de material
retenção de materiais grosseiros grosseiro instalado em coletor grosseiro com grade de barras horizontais

presença de material grosseiro, como colhidas no mesmo local, houver, no A função de tais filtros é reter o mate-
folhas, gravetos, sementes e sólidos máximo mil coliformes fecais (termo- rial grosseiro (folhas,gravetos e particula-
suspensos e dissolvidos originados tolerantes)... por 100 ml". Dessa for- dos de maior dimensão) deixando passar
de fezes de pássaros, gatos e roedores, ma, pode-se adotar como referência a água e sólidos grosseiros mais finos. En-
além de material particulado fino se- inicial de qualidade microbiológica o saios realizados no IPT mostram que, em
dimentado sobre as coberturas a par- máximo de mil coliformes termotole- geral, os sólidos grosseiros são retidos na
tir de suspensão aérea, além de mi- rantes por cada 100 ml de água pluvial. sua totalidade na maioria dos filtros,e que
crorganismos patogênicos presentes Amostras para verificação desse indi- a eficiência no aproveitamento de água
em águas de coberturas, conforme cador devem ser colhidas nos pontos tende a cair com o aumento da vazão.
mostram pesquisas em cursos no de uso. Os filtros de material grosseiro
IPT (Instituto de Pesquisas Tecnoló- Com respeito aos parâmetros físi- podem funcionar de forma a lançar o
gicas do Estado de São Paulo) reali- co-químicos, podem ser adotados material grosseiro para fora da tubula-
zadas também em outras instituições como referência inicial os valores ção ou podem requerer limpeza ma-
(May, 2004; Rebello, 2004; Gonçal- apresentados na norma brasileira nual periódica.
ves, 2006). (NBR 15527/2007, item 4.5) para o
O tratamento para usos domésti- caso de usos mais restritivos. Descarte
cos não potáveis é realizado visando De maneira genérica o tratamento Estudos do IPT mostram que o des-
alcançar características de qualidade de águas pluviais escoada de telhados é carte das primeiras águas escoadas de
compatíveis com os usos desejados. A composto pelas seguintes partes: coberturas é altamente recomendado,
norma brasileira relativa ao aprovei-  filtração de materiais grosseiros; particularmente após vários dias sem
tamento de águas pluviais, NBR  descarte das águas de escoamento chuva como ocorre na estiagem de in-
15527/2007, estabelece que os pa- inicial; verno, dada à concentração de poluen-
drões de qualidade "devem ser fixados  filtração de materiais particulados tes e microrganismos.
pelo projetista de acordo com a utili- finos; Segundo pesquisas realizadas no
zação prevista".  desinfecção. âmbito do Prosab, o volume de descarte
No caso dos usos não potáveis corresponde ao escoamento do primei-
previstos neste artigo é possível esta- Filtração de materiais grosseiros ro milímetro de precipitação, ou seja,
belecer características de qualidade É obtida por meio de grades de 100 l para cada 100 m2 de cobertura. Um
comuns a todos eles. barras ou telas metálicas com abertu- dispositivo de descarte bastante prático
No que se refere à qualidade mi- ras da ordem de 2 mm a 6 mm que são é ilustrado na figura 7.
crobiológica da água, uma referência interpostas no fluxo das águas pluviais Os dispositivos de descarte podem
razoavelmente adequada é a Resolu- captadas na cobertura e conduzidas contar com esvaziamento automático
ção Conama 274/2000 que estabelece pelos coletores. ou manual.
a qualidade da água para contato de Encontram-se no mercado diver-
toda superfície do corpo humano sas soluções desse tipo de filtração, Filtro de finos
com a água por tempo prolongado. usualmente importadas. A escolha dos A operação de sistemas de aprovei-
Essa Resolução estabelece que são modelos existentes é função da área de tamento de águas pluviais tem mostra-
consideradas satisfatórias as águas nas cobertura a que vão servir. A figura 6 do que mesmo as instalações dotadas
quais "em 80% ou mais de um con- mostra um filtro de material grosseiro de filtro de grosseiros e aparelho de des-
junto de amostras obtidas em cada importado instalado em trecho hori- carte podem requerer a filtração de ma-
uma das cinco semanas anteriores, zontal de tubulação. terial particulado mais fino.

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COMO CONSTRUIR

Existem diversos fabricantes de duz a água ao ponto de uso, ou por


filtros de areia ou de resina no mer- meio de sistema cíclico conforme
cado. Grande parte dos filtros de ilustra a figura 9.
areia opera com a água sob pressão e
permite retrolavagem para remoção Armazenamento de águas pluviais
do material retido. Deve ser previsto O armazenamento de águas plu-
reservatório de água para retrolava- viais tem destacada importância
gem, segundo a freqüência estabele- dados os impactos arquitetônicos, es-
cida pelo fabricante, ou ditada pela truturais, financeiros e operacionais
prática operacional. que envolve.
Em pesquisa em curso no IPT foi As soluções de armazenamento
desenvolvido um filtro de fabricação podem ser agrupadas nas três formas
simples e que não requer pressuriza- básicas já citadas anteriormente (so-
ção da água para filtração. O filtro foi mente reservatório elevado, somente
construído de modo a incorporar a reservatório inferior e reservatórios
filtração de material grosseiro na inferior e superior).
parte superior e de material particu- O primeiro caso supõe que a ali-
lado fino na parte inferior utilizando mentação do reservatório será feita
areia como meio filtrante. A figura 8 a partir de cobertura, calhas e con-
ilustra o esquema básico do filtro. O dutores, situados em nível superior
meio filtrante é de areia média lavada ao do reservatório. A figura 10 ilus-
Figura 7 – Esquema básico de
com 10 cm de espessura e taxa de tra duas possibilidades de assenta-
dispositivo automático de descarte das
aplicação de 336 m3/m2/dia. mento do sistema de tratamento no
primeiras águas escoadas da cobertura
caso de reservatório de águas plu-
Desinfecção viais elevado.
Tela metálica A ocorrência de microrganis- Experimentos realizados pela
perfurada (filtro mos em águas de chuva escoadas de Universidade Federal da Bahia, em
de grosseiros) coberturas recomenda fortemente conjunto habitacional de baixa renda,
a desinfecção. levaram à solução ilustrada na figura
Os sistemas de desinfecção mais 11. Observa-se que o reservatório é
Tela contra
Areia (filtro utilizados são os baseados na aplica- alimentado diretamente a partir da
mosquito
de finos) ção de cloro, ozônio ou raios ultra- cobertura e situado em cota tal que
sobre tela
violeta. A desinfecção com cloro per- permite o uso de água de chuva no
metálica
mite manter ação mais prolongada tanque e em torneira de jardim.
por meio de concentração residual de O segundo caso corresponde à si-
Suportes
cloro livre que permanece efetiva por tuação na qual os usos previstos pos-
para a tela
algum tempo. sam ser atendidos com o posiciona-
Figura 8 – Esquema básico de filtro de Em instalações prediais prevê-se a mento do reservatório em cota relati-
material grosseiro e de finos aplicação de cloro através de dosado- vamente baixa, como no atendimen-
desenvolvido no IPT res de cloro líquido injetados na tu- to de pontos situados em garagens.
bulação que conduz a água pluvial ao O terceiro caso é, de certa forma,
reservatório, através de pastilhas ou análogo ao sistema de água potável
de uma solução simplificada desen- de um edifício de diversos andares. O
volvida no âmbito do Prosab, em que reservatório inferior de água pluvial
a desinfecção é obtida por difusão do conta com bomba de recalque que
cloro contido em uma garrafa plásti- alimenta o reservatório superior.
ca perfurada colocada no fundo do Deste último deriva-se o barrilete
reservatório (Daniel, 2001). para distribuição de água pluvial por
O ozônio é um agente desinfe- meio de colunas de alimentação ser-
Figura 9 – Esquema básico de tante bastante eficiente, mas sua apli- vindo aos diversos pontos de uso
desinfecção por ozônio com recirculação cação deve ser cuidadosamente pro- (descarga de bacias sanitárias, lava-
da água contida em reservatório jetada para que ocorra a mistura gem de pisos e rega, por exemplo).
completa da quantidade correta de Em todos os casos de reservação
gás no fluxo de água escoando. O em- de águas pluviais deve ser levado em
prego do ozônio permite realizar a conta que em períodos de estiagem
desinfecção na tubulação que con- pode não haver água de chuva sufi-

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Os reservatórios devem ser dota-


dos de extravasor, dispositivo de esgo-
tamento total, cobertura para evitar
entrada de pó, insetos e minimizar a
radiação luminosa, dispositivos ou
configurações que permitam inspe-
ção, manutenção e ventilação.
No caso dos reservatórios serem
alimentados com água pluvial con-
tendo sólidos em suspensão sedimen-
táveis ou que flutuam, há necessidade
de dispositivos e configurações espe-
cíficas para minimizar o acesso de só-
lidos às tubulações que servem os
pontos de uso.
Para atenuar o risco de extração da
mistura de água com esses sólidos

Acervo do autor
finos presentes no reservatório no
momento do uso ou sucção, recomen-
Figura 10 – Esquema com o
da-se situar a extremidade da tubula-
posicionamento relativo da cobertura, Figura 11 – Solução de reservação
ção de tomada d'água a meia-altura
sistema de tratamento e reservatório elevada desenvolvida em conjunto
entre o fundo e a lâmina livre no reser-
superior de água pluvial habitacional de baixa renda por equipe
vatório. A alimentação deverá ser pro-
da Universidade Federal da Bahia
jetada para evitar turbulência no inte-
ciente para a demanda. Nesse caso os rior do reservatório para que não
reservatórios de água pluvial deverão ocorra ressuspensão de sólidos.
receber complementação do sistema O dimensionamento do volume
de água potável, evitando-se o fenô- de reservação de água pluvial deve ser
meno da conexão cruzada. Para tanto elaborado por método que leve em
deve ser observada a norma brasileira conta a oferta e a demanda de água
de água fria NBR 5626 que exige uma pluvial. A oferta é descrita pelas séries
separação atmosférica (gap) de no históricas de precipitação pluvial da
mínimo 5 cm entre o tubo de alimen- localidade ao longo do tempo. A de-
tação de água potável e o reservatório manda deve ser calculada a partir dos
de águas pluviais. volumes aplicáveis aos usos não potá-
Inversamente, no período de veis previstos.
cheias, o sistema deverá contar com A norma brasileira NBR 15527/
extravasão compatível. 2007 e Gonçalves (2006) apresentam
A complementação da alimenta- uma série de métodos de dimensiona-
ção por água potável pode ser feita no mento do volume de reservação ne-
reservatório superior de água pluvial. cessário. Alguns métodos levam a vo- Figura 12 – Esquema do posicionamento
Nesse caso a água potável pode ser lumes excessivos e onerosos. Re- dos reservatórios elevados de água potável e
conduzida por gravidade do reservató- comenda-se o dimensionamento pela de água pluvial prevendo complementação
rio superior de água potável para o re- fórmula que utiliza o maior número por água potável na falta de chuvas
servatório superior de água pluvial ou, de dias consecutivos sem chuva e o
ainda, através de pequena bomba de volume diário demandado, apresen-
recalque, conforme ilustra a figura 12. tado por Gonçalves (2006), o método pluvial, considerada a série histórica
O projeto dos reservatórios de da simulação de reservatórios ou o de precipitações.
águas pluviais deve ser elaborado to- método prático australiano, sugeridos A expressão para o cálculo do vo-
mando como diretrizes as normas bra- na norma brasileira. lume de reservação baseado no nú-
sileiras: NBR 12217/1994 relativa aos O método de simulação de reser- mero máximo de dias consecutivos
reservatórios de distribuição de água vatórios e o método prático australia- sem chuva para um dado período de
para abastecimento público, NBR no são particularmente interessantes retorno é dada por:
5626/1998 aplicável à instalação pre- porque permitem aquilatar em que
dial de água fria e NBR 15527/2007. grau será atendida a demanda de água VRES = QNP x DS

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COMO CONSTRUIR

rios, considerando as três situações


já mencionadas.
LEIA MAIS
Para um edifício de diversos pavi-
mentos, são ilustradas na figura 13 Uso Racional da Água em
configurações das tubulações sob pres- Edificações. R. F. Gonçalves
são resultante do posicionamento de (coord.). Prosab (Programa de
reservatórios de água pluvial e de água Pesquisa em Saneamento Básico).
potável nas três posições consideradas. Abes (Associação Brasileira de
O dimensionamento das tubula- Engenharia Sanitária e Ambiental),
ções de água pluvial sob pressão é Rio de Janeiro, 2006.
feito de maneira análoga ao das tubu-
lações de água potável, com base na Processos de Desinfecção e
norma brasileira NBR 5626/1998. Desinfetantes Alternativos na
Figura 13 – Esquema básico dos Prevê-se a utilização de sistemas Produção de Água Potável. L. A.
sistemas de distribuição de água potável de comando automatizados razoavel- Daniel (coord.). Prosab (Programa
e pluvial, segundo diversas posições do mente complexos no caso ilustrado. de Pesquisa em Saneamento
reservatório de água pluvial Básico). Abes (Associação Brasileira
Soluções relativas à utilização de Engenharia Sanitária e
Onde: A utilização da água pluvial tra- Ambiental), Rio de Janeiro, 2001.
VRES é o volume do reservatório (l); tada em usos domésticos não potá-
QNP é a somatória das demandas de veis deve levar em conta as possibili- Conservação de Água em
usos não potáveis (l/dias); dades de uso indevido, como inges- Edificações: Estudo das
DS é o maior número consecutivo de tão ou banho, e de acidentes que Características de Qualidade
dias sem chuva na localidade para um comprometam a segurança sanitá- da Água Pluvial Aproveitada
dado período de retorno (dias). ria e operacional dos sistemas pre- em Instalações Prediais
Para uma residência térrea de clas- diais de água, especialmente tendo Residenciais. Rebello, G. A. O.
se média com cinco habitantes situada em conta a potencialidade de ocor- Dissertação de Mestrado
em Florianópolis, cuja soma das de- rência da conexão cruzada com o apresentada ao Mestrado em
mandas de água para uso não potável sistema de água potável. Tecnologias Ambientais
totalizou 178,33 l/dia, a aplicação da No que tange ao uso indevido é ne- do IPT, 2004.
última fórmula levou a um volume de cessário prever barreiras físicas e cons-
reservação de água pluvial de 1.783,3 l cientização e treinamento do usuário. Estudo da Viabilidade do
que foi arredondado para 2 mil l. O Barreiras físicas incluem torneiras de Aproveitamento de Água de
serviço de metrologia informou que o engate rápido,torneiras sem volante ou Chuva para Consumo Não
valor de DS para a cidade, em série his- com volante lacrado. A pintura das tu- Potável em Edificações. May, S.
tórica de dez anos, é de dez dias. Con- bulações e demais partes da instalação Dissertação de Mestrado
siderando edifício de quatro pavimen- em cor convencionada serve de alerta apresentada à Escola Politécnica da
tos com quatro apartamentos por para uma população usuária previa- USP, 2004.
andar na mesma cidade,a demanda de mente conscientizada e treinada.
usos não potáveis foi calculada em NBR 15527 – Água de Chuva –
2.218,676 l/dia. Resultou um volume Wolney Castilho Alves Aproveitamento de Coberturas
de reservação de 22.186,7 l arredonda- Engenheiro civil e sanitarista em Áreas Urbanas para Fins Não
do para 22 mil l (Gonçalves, 2006). Dr. pesquisador e professor do IPT e do Potáveis – Requisitos. ABNT
Observe-se que a eficiência de atendi- Centro Universitário Senac (Associação Brasileira de Normas
mento global de usos não potáveis da e-mail: wolneipt@ipt.br Técnicas), 2007.
reservação calculada por esse método
requer verificação do índice de atendi- Luciano Zanella NBR 10844 – Instalações Prediais
mento da demanda considerado o po- Engenheiro civil de Águas Pluviais.ABNT, 1989.
tencial de oferta, ou seja, alturas preci- Dr. pesquisador e professor do IPT
pitadas segundo série histórica. e-mail: lucianoz@ipt.br NBR 5626 – Instalação Predial
de Água Fria. ABNT, 1998.
Condução de águas pluviais em Maria Fernanda Lopes dos Santos
tubulações sob pressão Bióloga NBR 12217 – Projeto de
A condução de águas pluviais Dra. pesquisadora do IPT e professora do Reservatório de Distribuição de
sob pressão em tubulações depende Centro Universitário Senac Água para Abastecimento
do posicionamento dos reservató- e-mail: maria.flsantos@sp.senac.br Público. ABNT.

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