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A faca e o bisturi S PAGAMENTOS por conta do TRC que vao criar um imposto sobre 0 volume de negécios para as em- presas que tém sempre prejuizos fo inconstitucionais? Os perddes fiscais sao aceitiveis para os con- tribuintes que cumprem? E um médico que faca uma operagdo com uma faca de cozi- nha porque ndo consegue arran- jar um bisturi estara violar as «dleges artis»’? O Estado ao cobrar ou perdoar impostos hoje est4 mais ou me- nos na situagdo de um cirurgizio ue tem de usar uma faca. Talvez mais exactamente uma pa. Os contribuintes habituaram- -se a nao pagar (ao Estado). Os fiscais habituaram-se a nfo rece- ber. Um ou outro excesso de fis- cais honestos que ainda insis- tem que certos contribuintes pa- guem imposto serao corrigidos. a seu tempo, pela caducidade dos processos de liquidacao. Este ano em que se conjuga © novo prazo de caducidade da Lei Geral Tributdria com 0 pra- zo anterior quantos milhoes de euros de impostos ja liquida- dos? E quanto é que isso vai ren- der aos responsdveis pelos atra~ sos nas notificagbes? Os pagamentos por conta com base no volume de negécio surge como a solugiio possfvel pa- ra evitar que alguns milhares de PME continuem sem pagar um euro. E uma mé solugto, que vem numa md altura e que pode premiar o pior tipo de empresa: num ano de vacas magras é mes- ‘mo possivel que as empresas que nunca pagam no devam mesmo pagar. E sera mais ficil falsear 0 volume de negécios para as em- presas que falsificam tudo (ou que tém uma relacao mais s6lida com o fiscal) do que para aquelas quase bem comportadas que s6 mentem um bocadinho. No meio desta tragicomédia juridico-tributdria a discusséo piiblica deslocou-se da reforma fiscal (fermo que ganhou defini- tivae merecidamente uma cono- tagdo obscena) para as indispen= séveis mudangas da maquina ad Muito mais importante que 0 modelo de tributago (mais lucro normal menos lucro normal, mais lucro real menos lucro real para a pequena empresa) € a efi- ciéncia da maquina. Esta € uma questo adquirida. Depois do frenesim legislativo dos iltimos anos se alguém apare- SALDANHA SANCHES* cer a propor outra qualquer mu- danga da lei para acabar com a fraude corre 0 risco de ser posto numa camisa de forgas ¢ conduzi- do para um qualquer manicmio. De repente surgiu um consen- so que era tudo um problema de administragaio, Um problema in- tratével, sem solugdes répidas nem remédios simples. O Esta- do portugués nao consegue ca- brar impostos como nao conse- gue ensinar portugués ou mate- mitica. E sem cobrar impostos . O Estado nao | impostos como nde conseque com um minimo de decéncia no pode funcionar. Visto pelo lado das pessoas, 0 Estado portugués € aquela imen- sa turba de centenas de milhares de funcionarios coléricos e des nimados com ordenados muito baixos (em comparacdo com 0 que devetiam receber), muito al- tos (se considerarmos a péssima qualidade da maior parte dos ser- Vigos que produzem). Infelizes (porque o ambiente que reina pe- los servigos € de estarrecet) ou felizardos (porque estéo menos ameagados pelo desemprego que no sector privado). Que fazer.com esta gente? O Goyerno nifo tem a menor ideia excepto do que fazer com cles. $6 sabe que tem de gastar menos. A economia de transferéncia em que temos vivido (Teodora Cardo- So) comega a no ter nada para transferir. Reform-los a0 55 anos €arufna para as Caixa de Aposen- tages, Exterminé-los, o que seria financeiramente a vinica solugio razodvel, néio parece possfvel. consegue cobrar ensinar portugués E temos assim a Administra- 80 Fiscal como paradigma do estado do Estado actual: mais de dez mil pessoas que nao con- seguem fazer aquilo que de- viam fazer, atulhadas em pa- péis, ocupadissimas a perseguir © contribuinte que cumpre e de- clara. Minada por aquelas co- nhecidas irmandades de funcio- nérios/consultores fiseais que estavam (ou esto’) a ser inves- tigadas pela Policia Judiciéria. Que agora enfrenta uma ques- tio tenebrosa: se a investigagio prosseguir e obtiver resultados até onde 6 que a coisa ird parar? E por isso 0 Orgamento vai continuar a ser cardado («Cardar alguém: tirar-Ihe a fazenda por astticia». Morais, Diciondrio 5° ed. 1844). As tais irmandades, por agora, vao ter carta de alfor- ria para continuar a cardar a fa- zenda da Fazenda Publica. E se por af por agora no va- mos que fazer com a DGCI? Proyavelmente criar de novo com outro nome a Administragao- -Geral Tributéria, Nao ‘hd outra forma de atrair gente de qualidade para 08 locais de topo nem de enquadrar a gente no- jue a Administragao Fiscal vai sempre recru- tando. E que vai conti- nuar a recrutar. Umaestrutura de to- po, mais leve e que va cooptando 0 que de me- lhor existe na DGCL Mais bem paga e sem garantia de emprego. em uma Administragao Fis- cal pais é ingoverndvel. Va- ‘mos continuar a ter perdoes fis- cais, colectas minimas ou méxi- mas mudangas, constantes da Iei fiscal, aumento das taxas de i posto para os contribuintes, mais concorréncia desleal para as em- presas que pagam e outras coisas a dar 0 tom & paisagem. Porque nada mais pode ser feito sem ou- ta Administracao Fiscal. ‘Na campanha eleitoral Durao Barroso prometeu duas coisas: acabar com a AGT e criar uma nova Administragio Fiscal. Se nao recuar quanto & primeira pro- messa (mesmo com o disfarce de criar uma outra coisa) vai tam- bém deixar por cumprir a segun- da. E se 0 Ministério das Finan- s continuar a operar com uma faca como instrumento vai pagar isso muito caro. “PROFESSOR UNIVERSITARIO

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