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Resumo
A Fisioterapia Desportiva certamente configura uma das mais promissoras áreas de atuação do profissional
fisioterapeuta na atualidade. No entanto, é sabido que o profissional que envereda pela área da reabilitação
desportiva estará inevitavelmente sujeito a inúmeras e constantes pressões e cobranças em termos dos
resultados de seu tratamento mediante um retorno funcional e no menor tempo possível do atleta à sua prática
desportiva.Em função desta constatação, este artigo tentará demonstrar, por meio de revisão de literatura,
como o adequado condicionamento muscular excêntrico pode caracterizar-se como uma ferramenta de
primeira grandeza para o fisioterapeuta durante o processo de reabilitação otimizada do sistema
musculoesquelético na maioria das lesões desportivas.
Palavras-chave: Fisioterapia; Contração muscular excêntrica; Esportes; Reabilitação.
Abstract
The Sports Physiotherapy is certainly one of the most important areas of Physiotherapy nowadays. However,
it is knew that the professional that choose to work on the field of the sports rehabilitation will be extremely
exposed to a great number of pressions mainly about the results of your treatment and mostly based on the
fact that the athlete must return to his sport as soon as possible and in an absolutely functional way. Because
of that, this article will try to demonstrate, based on literary review, how import is the appropriate eccentric
muscular conditioning as a primary tool for the physiotherapist during the optimal process of rehabilitation
of the muscle - skeletal system especially related with the majority kind of sports injuries.
Keywords: Physiotherapy; Eccentric muscular contraction; Sports; Rehabilitation.
1
Fisioterapeuta graduado pela PUCPR
Acadêmico de Educação Física da UFPR
Pós-graduando em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica - CBES (Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos)
Pós-graduando em Fisiologia do Exercício – UFPR (Universidade Federal do Paraná)
Endereço: R. Sanito Rocha, 225, Cristo Rei – Curitiba / PR (CEP: 80050-380)
Fone: (41) 9194-8293
E-mail: paulistasbc@msn.com
2
Fisioterapeuta graduado pela PUCPR
Responsável pelo Centro de Dinamometria Isocinética da PUCPR e Centro de Baropodometria da PUCPR
Pós-graduando em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica - CBES (Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos)
Mestrando em Tecnologia em Saúde - PUCPR
Endereço: R. David Carneiro, 328 ap. 902, São Francisco – Curitiba / PR (CEP: 80530-070)
Fone: (41) 9123-8155
E-mail: cassio.preis@pucpr.br
constituiria-se em um benefício adicional no trei- Safran et al. (2002) descobriram que me-
namento potencial referente à produção de força didas de EMG após trabalho excêntrico demons-
muscular e velocidade articular. travam uma resposta menos expressiva (descrita
De acordo com estudos propostos por como uma resposta enfraquecida), ou fadiga, do
Lillegard et al. (2002) sobre os flexores e extensores sistema neuromuscular por dois dias após a ses-
do cotovelo, o modo excêntrico agiu 4,4 ms são de treinamento.
(milisegundos) mais rapidamente do que o modo Uma variação interessante em relação aos
isométrico e 6,0 ms mais rápido do que a contra- estudos eletromiográficos anteriores envolvendo
ção concêntrica, fato estatisticamente significante os exercícios excêntricos e concêntricos foi a cons-
para ambas as diferenças, segundo defendem os tatação do aumento progressivo da atividade
autores do estudo. eletroneuromiográfica durante a continuação das
atividades excêntricas, sem que, no entanto, fosse
O ciclo estiramento-encurtamento des-
constatado nenhum aumento significativo nas
crito por Enoka (2000) é relevante para os efeitos
mesmas condições de trabalho concêntrico. E,
dos exercícios excêntricos tendo em vista o seu
portanto, infere-se que o nível de atividade
potencial para armazenagem e uso de energia elás- eletromiográfica mediante uma dada resposta mus-
tica. Nesse ciclo, o movimento voluntário primá- cular parece ser mais diretamente dependente do
rio é precedido pelo movimento oposto ou anta- esforço do indivíduo do que propriamente do ní-
gonista de forma abrupta. Assim, a transferência vel de tensão muscular gerado durante as ativida-
da energia potencial do componente elástico em des avaliadas nos estudos.
série (CES) estirado produz uma magnitude de
capacidade de força contrátil subseqüente ainda
maior. Vale ressaltar que este efeito de Considerações neuromusculares dos
potencialização, defendido pelos autores, é exercícios excêntricos de relevância para
freqüentemente utilizado em atividades funcio- a Fisioterapia
nais quando um pré-estiramento é aplicado a uma
dada unidade músculo-tendínea pela resposta Segundo Garret et al. (2003), os mecanis-
excêntrica e seguida imediatamente pela contra- mos neuromotores têm suma importância para a
ção anticoncêntrica. Em outras palavras, pode-se compreensão dos efeitos do treinamento excêntrico
dizer que a contração muscular excêntrica durante as diferentes fases da reabilitação física do
potencializa sensivelmente a força da contração atleta lesado, e realmente, podem servir para expli-
muscular concêntrica subseqüente, fato facilmente car as diferenças verificadas cientificamente entre os
exemplificado em inúmeras atividades desportivas estudos comparativos envolvendo os trabalhos mus-
que exigem do atleta uma velocidade angular culares com tendências excêntricas e concêntricas.
muito elevada em relação à biodinâmica do ges- Knudson e Morrison (1997) descrevem
to desportivo perfeito do ponto de vista funcio- que os mecanismos de controle neuromuscular
nal e biomecânico. excêntrico estão fundamentados em três fatores
distintos, porém interdependentes.
1. A atividade mecanoceptora alterada
Características fisiológicas, nos trabalhos excêntricos (isto é, os re-
biomecânicas e clínicas específicas da flexos tendinosos). Com relação aos
carga muscular excêntrica reflexos tendinosos, importância extre-
ma é a dos fusos musculares. Estes
Considerações sobre a resposta eletromiográfica ficam localizados em fibras muscula-
muscular durante atividades musculares res especializadas (fibras intrafusais)
excêntricas posicionadas em paralelo com as de-
mais fibras musculares (fibras
Robinson e Mackler (2001) reportaram extrafusais). As fibras intrafusais são
atividade eletromiográfica (EMG) mais alta para menores que as extrafusais e não con-
trabalhos concêntricos de uma dada carga em com- tribuem de modo significativo para a
paração com exercícios excêntricos, fato corrobo- contração muscular, sendo que as al-
rado por estudos posteriores. terações de seu comprimento são de-
atividades excêntricas, como a mioglobina e des- está agindo durante um exercício de natureza ex-
crevem o rompimento de componentes cêntrica de resistência a uma dada força.
subcelulares, tais como a linha Z da microestrutura De acordo com resultados de pesquisas
muscular. Esta, aliás, é descrita por Foss e Keteyian sobre o nível de fadiga durante a atividade excên-
(2000), como sendo o elo mecânico mais fraco no trica isocinética em atletas de elite, o risco de DMIT
maquinário contrátil e caracteriza os danos (dor muscular de início tardio) prolongada parece
miofibrilares como sendo mais dependentes da ter relação direta com a velocidade de treinamen-
tensão de pico do que das forcas médias totais to imposta ao atleta, aumentando proporcional-
durante o processo de contração muscular. mente com a redução das velocidades angulares
Croisier et al. (2003) apresenta em um tra- de treinamento isocinético. A alta velocidade e curta
balho a relação da DMIT entre um grupo que rece- duração da atividade excêntrica podem resultar em
berá treinamento excêntrico por três semanas e outro menor carga mecânica imposta ao tecido conjunti-
que não. Utiliza para demonstrar os efeitos da vo (STARKEY; RYAN, 2002).
treinabilidade (conseqüência direita - redução da
DMIT), escala analógica visual de dor (EVAD) e
marcadores de lesão muscular [creatina kinase (SCK) Diferenças relativas ao nível de
e mioglobina]. Como resultado principal mostra que consumo de oxigênio durante trabalhos
houve uma redução expressiva (de 35.000 UI/l para concêntrico e excêntricos
716 ± 274 UI/l) nas concentrações de SCK no grupo
treinado. E ainda, as concentrações maiores, em Pahud et. al (1980) determinaram que a
ambos grupos, relacionam-se com a EVAD, mos- produção de dióxido de carbono e consumo de
trando seu pico após 48h do exercício. oxigênio estava em torno de 20% menor para exer-
A maior parte do dano ultra-estrutural às cícios excêntricos que para concêntricos. Powers
células musculares pós-sessões de treinamento e Howley (2000), reportaram que exercícios ex-
excêntrico, parece concentrar-se seletivamente, cêntricos realizados por meio de caminhadas des-
segundo descrito por Garret et al. (2003), nas fi- cendentes requeriam apenas 20% do consumo de
bras do tipo IIb que apresentam as bandas Z mais oxigênio quando comparados com exercícios con-
estreitas e fracas, segundo análises histoquímicas cêntricos nos mesmos níveis de intensidade.
nas fibras musculares de atletas de elite em estudo Uma perspectiva em separado descreve
referendado pelo autor. a captação de oxigênio por unidade de atividade
Garret et al. (2003) ainda citam que os muscular como sendo três vezes maior para ativi-
eventos que compreendem a teoria do tecido rom- dade concêntrica.
pido também incluem dano ao retículo Segundo Foss e Keteyian (2000), a capta-
sarcoplasmático celular e aos túbulos T, ambos ção de oxigênio por unidade muscular tem
interferem com o metabolismo normal do cálcio comprovadamente se mostrado reduzida, como
durante o processo de contração muscular. Conse- resultado da adaptação crônica dos atletas ao trei-
qüentemente, defende o autor que a menor libe- namento com exercícios excêntricos.
ração do cálcio por potencial de ação que atinja a Estudos recentes citados por Tritschler
célula muscular seria diretamente responsável pela (2003) têm demonstrado que durante sessões
fadiga nesses grupos musculares observada medi- exaustivas e prolongadas de trabalho excêntrico, a
ante eletroestimulação de baixa freqüência reali- freqüência cardíaca chega perto do nível máximo
zada laboratorialmente. enquanto o individuo está desempenhando ape-
Albert (2002) defende que uma quanti- nas 60% da sua potência aeróbica total.
dade menor de unidades motoras seja solicitada Garret et al. (2003) determinaram que,
durante contrações excêntricas do que em relação durante o estado de equilíbrio de captação de oxi-
às contrações concêntricas para produzir o mes- gênio para uma sessão de 4 (quatro) minutos, o
mo torque. O autor acredita que a dor muscular trabalho excêntrico de alta intensidade era quase
induzida pelos exercícios excêntricos deva-se à equivalente ao trabalho concêntrico de baixa in-
lesão do músculo ou tecido conjuntivo (ou am- tensidade, evidenciando, portanto, que o treina-
bos), causada pela sobrecarga destes tecidos, por- mento excêntrico não é limitado pelos fatores res-
que uma menor quantidade de tecido muscular piratórios ou circulatórios e que o trabalho
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Recebido em/ received in: 15/09/2003
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Aprovado em/approved in: 03/12/2004
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