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“Short stories”, diz Truman Capote, representam a forma prosaica mais difícil porque

“exigem uma disciplina extraordinária” do autor / da autora. Todo escritor que põe
seu talento à prova nesse gênero tão complexo tem que aprender inevitavelmente
que é preciso trabalhar muito até que um conto se torne breve. Vicência Jaguaribe, à
maneira dos melhores contadores contemporâneos, nos oferece com sua narrativa
encantadora um instantâneo de duas pessoas comuns cujas biografias se cruzam
ocasionalmente “na terra de pés rachados”. Nada e ninguém são introduzidos
pormenorizadamente. Dispensando qualquer exposição clássica, a autora precisa
apenas algumas pinceladas da sua imaginação para dar forma a um recorte de vida
que prende imediatamente a curiosidade do leitor. Desenvolvendo o leitmotiv da
misteriosa desconhecida que, no papel de uma pianista virtuosa, seduz um
agrônomo forasteiro a esquecer, por um instante, seu trabalho e suas rotinas de
vida, os acontecimentos envolvem protagonista e leitor numa situação emocional
que provoca uma abertura do espírito para um aspecto existencial reprimido
geralmente pelo interesse cotidiano no êxito material. Destituído de floreios
desnecessários, o conto comove pela clareza e pela sensibilidade com a qual
aborda o tema escolhido: a persistência e a beleza da vida, mesmo na proximidade
da morte. Com uma habilidade notável, a narradora consegue condensar, num
momento decisivo, o conjunto das experiências de vida dos seus personagens: uma
situação comum, um pensamento banal ou um gesto incidental abrem
subitaneamente a dimensão total da realidade. A metáfora inspiradora da vida como
um repertório musical ou uma sucessão de composições musicais produzidas de
modo mais ou menos inovador, e a ausência de uma avaliação, uma interpretação
ou um recado moralizante no desfecho da narrativa obrigam o leitor, praticamente, a
ler entre as linhas e refletir sobre o significado que os acontecimentos possam ter
para sua própria vida.

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