Por onde a gente estenda a vista, seguindo os passos de Marshall
McLuhan, para quem os meios de comunicação consistem em extensões dos nossos olhos, o que se vê é degradação. Um vazio tremendo de santidades, um mundo sem a generosidade de Madre Teresa, Gandhi, Che, Allende, Betinho. Ruínas nas Américas, os EUA confirmando sua fama de aves de rapina invadindo, bombardeando, agredindo a natureza. O Japão soçobrando como um navio atingido pelo torpedo de seu próprio submarino. Os grandes líderes, coroados pelo “divino” ou eleitos, afundando na dívida e na desonra. A Europa sucumbindo com Euro e tudo, depois de sugar a América Latina de seus minérios, explorando escravos e índios. Mas por onde essa visão se espalha também se assiste a povos deixando de lado conceitos pseudo-religiosos de esperar que tudo se resolva por si só para tomar seu destino e a história nas mãos. Neste momento de ruína, a velha ordem mundial estrebucha. Quer se agarrar a tudo o que lhe dava conforto no passado, mas não encontra mais tábuas de salvação. O que o povo não pôs abaixo, como as ditaduras sangrentas na América Latina, também fracassou redondamente. Foi o que aconteceu com os “milagres” econômicos: deram para seus povos uma dívida imensa, impagável. Assim foi com a social- democracia europeia, que desabou sem um só tiro, derrotada pelo neoliberalismo. Em setembro de 2008 foi o próprio neoliberalismo a cair de quatro, pedindo socorro aos estados nacionais, que pretendiam “mínimos” e que se realmente estivessem minimizados não teriam como dar o dinheiro do povo para tapar os rombos criados pelos grandes vilões da economia mundial. Tem malandro mundial além do federal, seu Chico. O mecânico Miro Herzog, falecido há pouco, dizia que os opressores já estão derrotados mas ainda não perceberam, porque o luxo os faz ver a cruel destruição que engendram como “divina” e eterna. Por onde a vista se estenda, também, assiste-se a um batalhão de pilantras com PhD tentando dar nó nos pobres. Uma das grandes safadezas jamais vistas saiu com letras muito bem impressas, em excelente papel, numa publicação amada pelos biliardários exploradores: o Financial Times, que vive elogiando as tramoias submissas dos governantes brasileiros. O indigesto FT teve o desplante de escrever o seguinte, ao dar sua receita para salvar os bancos: “Encerrar o pânico vai requerer (...) a recapitalização do setor bancário. Na falta de uma fila de investidores ávidos, a recapitalização ocorrerá ou por meio da conversão forçada de dívida em ações ou de governos comprando eles mesmos uma parte [dos bancos]”. Para socorrer os corruptos que destroçaram as instituições mais sólidas do planeta – os bancos – essa fórmula genial prega uma ditadura que force o povo a pagar os efeitos da ruína que causaram. É como eu obrigar o padeiro a converter na marra a dívida que tenho com ele em “ações” do Meu Lar. Ele nem vai entrar na minha casa, mas vai pagar parte das despesas dela, justamente a conta do pão. Governos comprando com o dinheiro da população partes dos bancos quebrados é tirar o leite das crianças para custear a festa de caviar e champã dos nababos.