Vous êtes sur la page 1sur 2

Tradição e Modernidade

Antonio Ozaí da Silva*

O que é a tradição? “A tradição, digamos memória coletiva e as verdades inerentes


assim, é a cola que une as ordens sociais ao tradicional. O ritual reforça a
pré-modernas”, afirma Giddens. A tradição experiência cotidiana e refaz a liga que une
envolve, de alguma forma, controle do a comunidade, mas ele tem uma esfera e
tempo.“Em outras palavras, a tradição é linguagem próprias e uma verdade em si,
uma orientação para o passado, de tal isto é, uma “verdade formular” que não
forma que o passado tem uma pesada depende das “propriedades referenciais da
influência ou, mais precisamente, é linguagem”. Pelo contrário, “a linguagem
constituído para ter uma pesada influência ritual é performativa, e às vezes pode
para o presente”. (1997, p. 80) conter palavras ou práticas que os falantes
ou os ouvintes mal conseguem
A Tradição integra e monitora a ação à
compreender. (…) A fala ritual é aquela da
organização tempo-espacial da
qual não faz sentido discordar nem
comunidade (ela é parte do passado,
contradizer – e por isso contém um meio
presente e futuro; é um elemento
poderoso de redução da
intrínseco e inseparável da
possibilidade de dissenção”. (p.
comunidade). Ela está vinculada à
83)
compreensão do mundo fundada
na superstição, religião e nos A “verdade formular” na qual se
costumes; pressupõe uma atitude funda o ritual necessita de
de resignação diante do destino, o intérprete, o guardião da tradição.
qual, em última instância, não O guardião se caracteriza pelo
depende da intervenção humana, status, isto é, o papel que ocupa na
do “fazer a história”. Dessa forma, ordem tradicional. Diferentemente
conhecer é ter habilidade para do perito, o especialista da ordem
produzir algo, está ligado à técnica social moderna, seu conhecimento
e à reprodução das condições do viver. A se reveste de mistério, se funda na pura
ordem social sedimentada na tradição crença e tem um sentido místico, ao
expressa a valorização da cultura oral, do inacessível ao comum, ao leigo:
passado e dos símbolos enquanto fatores “A tradição é impensável sem
que perpetuam a experiência das gerações. guardiães, porque estes têm um acesso
Por outro lado, a tradição também se privilegiado à verdade; a verdade não
vincula ao futuro. Mas este não é pode ser demonstrada, salvo na medida
concebido como algo distante e separado, em que se manifesta nas interpretações
e práticas dos guardiães. O sacerdote,
mas como uma espécie de linha contínua
ou xamã, pode reivindicar ser não mais
que envolve o passado e o presente. É a que o porta-voz dos deuses, mas suas
tradição que persiste, remodelada e ações de facto definem o que as
reinventada a cada geração. Não há um tradições realmente são. As tradições
corte profundo, ruptura ou descontinuidade seculares consideram seus guardiães
absolutas entre o ontem, hoje e o amanhã. como aquelas pessoas relacionadas ao
sagrado; os líderes políticos falam a
A tradição envolve ritual; este constitui um linguagem da tradição quando
meio prático de preservação. Nas reivindicam o mesmo tipo de acesso à
sociedades que integram a tradição, os verdade formular”. (p. 100)
rituais são mecanismos de preservar a
A interpretação monopolizada pelo ocorre com o guardião, substituído pelo
guardião constitui uma verdade acessível especialista, o perito. A modernidade
apenas aos iniciados, isto é, aos que reincorpora a tradição, reinventa-a, e, neste
aceitam a verdade revelada pelo guardião sentido, também expressa continuidade.
e, conseqüentemente, o status deste. A Não por acaso, ideologias modernas
tradição é intrinsecamente excludente: também se alimentam da tradição. Irmãos
apenas os iniciados, os admitidos, podem e irmãs, companheiros e camaradas de
participar e compartilhar da sua verdade, seitas políticas e religiosas, vinculados às
do ritual. A discriminação do não-iniciado, mesmas origens, disputam o espólio e
o “outro”, é fundamental para fortalecer o quem representa a continuidade da
status do guardião e do ritual em si: apenas tradição.
os iniciados têm o direito de
compartilharem a sua verdade. O “outro” __________
está fora, a verdade formular lhe é Referência
interdita. A identidade do “eu” vincula-se BECK, Ulrich, GIDDENS, Anthony e LASH,
ao envolvimento com o ritual e, portanto, Scott. Modernidade reflexiva: trabalho e estética
diferenciação em relação ao “outro”. na ordem social moderna. São Paulo: Editora da
Unesp, 1997.
Nas condições da modernidade, o ritual é
reinventado e reformulado. O mesmo

*
Posted: 26/10/2007, http://antoniozai.wordpress.com/2007/10/26/tradicao-e-modernidade/

Vous aimerez peut-être aussi