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UM CONTO BELGA

1912. O vento soprava muito, balançando as copas das árvores, nas cercanias de
Liége . Uma ventania começou a soprar à medida que ele descia a encosta em direção
ao vale da casa vermelha. Já havia tirado da mochila seu sobretudo e posto o chapéu.
Era um vale florido, mas que nesse tempo estava frio e gelado como um iceberg.
Ele não tinha nenhuma valise. Só uma velha mochila, contendo pouca coisa.
Três calças, dois pares de sapato, meia dúzia de camisas e uma gravata, além de uma
toalha de rosto. O resto distribuíra entre amigos, quando se despediu da construtora em
que trabalha em Turim.
A casa vermelha... Já podia avistá-la. Cortou caminho por uma estrada, ladeada
por varias colunas de macieiras. Uma fina camada de neve cobria o chão.
A vereda que contornava o vale estava coberta de poeira. Era inverno e
pequenos galhos jaziam junto às cercas de arame farpado. Estranha sensação
experimentava naquele momento. Depois de alguns quilômetros ele passava em revista
o vale, que há muito tempo não via.
Essa era a melhor visão que tivera desde que deixara a casa vermelha. Depois de
ficar num hospital psiquiátrico tantos anos, vagar por pensões e asilos recobrando aos
poucos a memória.
Ele havia crescido numa casa estranha. Ao pé da pequena avenida central da
cidadezinha de Herstal, do lado direito, um sobrado se estendia diante de um terreno em
declive. A sombra das arvores e o mofo que crescia por varias gerações deram a casa a
alcunha de “vermelha”. A família Buccine, possuía essa propriedade em Liége, desde
que emigrara da Itália há mais de dois séculos. Um terreno largo abrigava uma casa
com mais de dez cômodos, grande para a tradição belga, com árvores centenárias de
lado a lado e atrás um amplo campo, circunscrito pelas cercas dos vizinhos. Um
estábulo pequeno que já abrigara inúmeros cavalos, mas jazia vazio ficava escondido
atrás da casa, a uns quinze metros de distância.
Desde a viagem, no vagão vinha recordando todos os contornos do seu lar, da
sua infância. Ele, que desde pequeno precisou conviver com a frieza do pai e a histeria
da mãe. Ela, de origem francesa, que fora arrancada da casa dos pais, ante a recusa dos
mesmos em permitir que se casasse com aquele descendente de italiano, pobre e
soturno. Um homem que executava um serviço sujo e indigno, no cemitério da cidade.
Diante de um velho carvalho, que ficava nas cercanias da cidade, ele sempre
teve o seu refugio. Aquela arvore majestosa, de mais de 300 anos, com galhos que se
entrelaçavam, tal como o aspecto de uma grande matrona grega, era a única coisa que
lhe transmitia algum sentimento de segurança na infância.
Ali, perto da arvore frondosa ele avistava os velhos que passavam rumo aos seus
banhos de sol, e também as crianças, que com suas bicicletas corriam em direção ao
velho parque. Era um mundo perdido no tempo.

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