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Economia e Sociologia

do Trabalho
Economia do Trabalho: Conceitos básicos e Definições.............................................02
Mercado de trabalho formal e informal...........................................................................08
O mercado de trabalho.....................................................................................................11
Demanda por trabalho: o modelo competitivo e modelos não competitivos.............12
as decisões de emprego das empresas.........................................................................18
custos não salariais..........................................................................................................22
elasticidades da demanda...............................................................................................23
Oferta de trabalho: a decisão de trabalhar e a opção renda x lazer............................24
a curva de oferta de trabalho...........................................................................................27
elasticidades da oferta.....................................................................................................28
O equilíbrio no mercado de trabalho..............................................................................29
Os diferenciais de salário................................................................................................30
Diferenciação compensatória.........................................................................................31
Capital Humano: educação e treinamento.....................................................................32
Segmentação no mercado de trabalho...........................................................................43
Desemprego. A taxa natural de desemprego. Tipos de desemprego e suas
causas................................................................................................................................46
Salário eficiência e modelos de procura de emprego...................................................48
Instituições e mercado de trabalho. A intervenção governamental: política salarial e
políticas de emprego........................................................................................................49
Assistência ao desemprego............................................................................................59
Sindicato: monopólio bilateral e monopsônio...............................................................59
O mercado de trabalho no Brasil....................................................................................61

Sociologia do Trabalho....................................................................................................70
O Conceito de Trabalho...................................................................................................70
Trabalho: ação, necessidade e coerção.........................................................................72
Exploração e alienação....................................................................................................71
Trabalho e remuneração. O sistema de assalariamento..............................................77
Valores e atitudes. Os valores do Trabalho...................................................................78
A divisão social do trabalho............................................................................................80
População e Emprego. População, população ativa e população ocupada...............83
Trabalho e Progresso Técnico........................................................................................85
Divisão do trabalho e distribuição de tarefas. Processo de trabalho e organização
de trabalho........................................................................................................................85
Trabalho parcial e integral...............................................................................................87
Trabalho artesanal, manufatura e grande indústria......................................................89
A crise da sociedade do trabalho...................................................................................92
O determinismo tecnológico...........................................................................................93
Trabalho e empresa. Poder e decisão na empresa.......................................................95
Estrutura e organização da empresa..............................................................................97
A classe dirigente...........................................................................................................100
A ação sindical e sua tipologia.....................................................................................100
Greves e conflitos trabalhistas.....................................................................................112
Economia do Trabalho

Conceitos básicos e Definições

A economia do trabalho procura entender o funcionamento do mercado e a sua


dinâmica relacionada ao trabalho. Os mercados de trabalho funcionam através
das interações entre trabalhadores e empregadores. A economia do trabalho
observa os ofertantes de força-de-trabalho (trabalhadores), seus demandantes
(empregadores) e tenta entender os padrões resultantes de salários e outras
rendas do trabalho, de emprego e desemprego. Usos práticos incluem a
assistência na formulação de políticas de pleno emprego.

CONCEITOS BÁSICOS

PEA ou Força de Trabalho – expressa a quantidade de pessoas que


potencialmente colocam sua mão de obra para suprir as necessidades da
empresa. Engloba as pessoas empregadas como as que estão disponíveis para
trabalhar, mas não estão conseguindo emprego (denominadas desempregadas);
PIA – população em idade ativa;
PINA – população em idade não ativa.

População economicamente ativa (PEA)

Empregados
a) plenamente ocupados: - em tempo integral - em tempo parcial
b) subempregados: - visíveis - invisíveis

Desempregados
a) buscando trabalho: - já trabalharam - nunca trabalharam (1º emprego)
b) não estão procurando trabalho, mas dispostos a trabalhar em condições
específicas: - já trabalharam - nunca trabalharam
População não economicamente ativa (PNEA)

Capacitados para o trabalho


a) trabalhadores desalentados ou desencorajados (dispostos a trabalhar, mas
desestimulados a buscar emprego):
- dedicando-se a afazeres domésticos
- estudante
- aposentado
- pensionista
- rentista e outros

b) inativos (não buscam trabalho nem desejam trabalhar): - inválidos - idosos -


réus - outros Essa forma de apresentação da PEA é universal, contemplada pelas
mais importantes instituições voltadas para questões do mercado de trabalho e

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adotada nos principais inquéritos, visando captar aspectos recativos à atividade
econômica dos indivíduos. A principal polêmica ocorre em como enquadrar
determinada categoria ocupacional com base numa situação observada. Como
exemplo, temos o subemprego que, para alguns (como o IBGE), é uma categoria
entre os empregados, enquanto para o Dieese é uma forma de desemprego.

As seguintes observações merecem também destaque:


a) alguns indivíduos que não trabalham fazem parte do mercado informal, que é
composto também por indivíduos que trabalham;
b) o nível de participação na PEA pode alterar-se sem modificações originadas por
aspectos demográficos;
c) o critério para definir idade ativa é arbitrário, variando entre países, mas, em
geral, contido no intervalo entre 10 e 15 anos de idade. No Brasil, adota-se o
critério de 10 anos como limite mínimo para idade ativa;
d) os desempregados autênticos representam um patamar mínimo de
subutilização da mão-de-obra, desde que entre os empregados existam os
subempregados;
e) o fato de o indivíduo estar em idade ativa não o caracteriza como
economicamente ativo; f) possuir capacidade para trabalhar também não assegura
que o indivíduo seja economicamente ativo;
g) desemprego não significa inatividade.

Finalmente, devemos notar que as categorias classificadas como


economicamente ativas da forma mencionada, ainda que representativas do
volume de trabalho apto e imediatamente disponível, não revelam a total
potencialidade da força de trabalho. A força de trabalho não leva em consideração
aspectos como nível educacional dos trabalhadores, experiência no trabalho,
qualidade do trabalho, horas trabalhadas, entre outras variáveis que são
determinantes do trabalho potencial dos indivíduos componentes do mercado de
trabalho. Dessa forma, a PEA deve ser interpretada como um conceito parcial no
que diz respeito à oferta do trabalho imediatamente utilizável no país.

INDICADORES DO MERCADO DE TRABALHO

Vimos a composição da População Economicamente Ativa (PEA). Para avaliar o


comportamento desse mercado, uma série de indicadores é construída: alguns
diretamente das definições apresentadas, e outros - com o índice de salário real –
que não emergem diretamente do que foi descrito, mas sim por meio de variáveis
que se formam no mercado. Tais indicadores possibilitam tanto refletir sobre o
desempenho quanto avaliar o comportamento da economia. Podem também ser
utilizados como importantes fatores de orientação no processo de tomada de
decisões (seja pelo governo ou pelas firmas), visando proporcionar melhorias no
padrão de vida, nas condições de emprego e trabalho e, principalmente, na
harmonização das relações entre capitalistas e trabalhadores. Servem ainda para
refletir estados de pobreza ou miséria, além de contribuir para a avaliação do nível
de absorção de mão-de-obra e de seu grau de subutilização.

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Indicadores

1 – Taxa de participação na força de trabalho (tP)


Reflete o nível de engajamento da população ativa nas atividades produtivas, pela
mensuração do tamanho relativo da força de trabalho, fornecendo uma
aproximação do volume de oferta de emprego imediatamente disponível na
economia. Desde que o tamanho da população e da própria PEA tendem a diferir
de país para país, ou entre regiões de um mesmo país, é necessário expressar
percentualmente o volume de indivíduos em atividades voltadas para a produção
social de bens e serviços em relação à População em Idade Ativa (PIA). Define-
se, então, taxa de participação (tP) como:

tP = PEA / PIA

Regra geral, para qualquer país, observa-se que:

a) a taxa de participação masculina é maior que a feminina, pois os afazeres


domésticos não são considerados ocupações economicamente ativas e são
exercidos majoritariamente pelas mulheres;

b) a participação adulta é maior que a participação jovem ou idosa. A necessidade


de educar e a aposentadoria são as explicações tradicionais para a menor
participação desses dois últimos grupos;

c) a participação feminina tende a crescer com o desenvolvimento econômico,


seja porque aumentam as oportunidades de emprego para as mulheres, seja
porque o próprio papel delas com relação ao trabalho é visto de forma diferente.

Taxa de desemprego (tD)

Figurando entre os mais conhecidos indicadores, esse índice tende a refletir


desequilíbrios no mercado de trabalho. Representa a falta de capacidade do
sistema econômico em prover ocupação produtiva para todos aqueles que a
desejam.
A taxa de desemprego contabiliza aqueles indivíduos que estão aptos, saudáveis
e buscando trabalho, mas que não encontram ocupação à taxa de salários vigente
no sistema econômico.
Essa taxa inclui o que se denomina desemprego aberto, o qual expressa um
patamar mínimo de subutilização de mão-de-obra, já que o subemprego existe no
mercado de trabalho. Estatisticamente, a taxa de desemprego é a relação entre o
número de desempregados (D) e o total da força de trabalho (PEA), ou seja:

tD = D / PEA => tD = D / (E + D)

Sua evolução demonstra as flutuações da atividade econômica, sendo


extremamente útil ao governo como indicador do impacto das políticas
econômicas de curto prazo.

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Do ponto de vista social, é inegavelmente o principal indicador da ocorrência de
recessão, pois incorpora tanto movimentos da força de trabalho quanto flutuações
no plano das atividades produtivas.
NOTA - A taxa de desemprego pode aumentar sem que tenha havido demissão.
Exemplos:

1) Supondo que o número de desempregados de um país é de 20 (D=20) e que o


número de empregados seja 60 (E= 60) . Neste caso, a taxa de desemprego será:

tD = 20 / (20 + 60) = 0,25 ou 25 %

2) Se um inativo se incorpora à PEA, porém não obtém emprego (fica


desempregado), temos a seguinte composição:

tD = 21 / 81 = 0,259 Pode-se perceber que a taxa de desemprego aumentou,


apesar de não ter havido novas demissões.

A taxa de desemprego capta aqueles indivíduos classificados como


desempregados por diversas razões, que vão desde a total involuntariedade do
trabalhador em se colocar nessa situação até a incapacidade do sistema em
absorver o contingente de indivíduos que afluem às forças de trabalho
periodicamente. Em outras palavras, existem diversas classificações de
desemprego, segundo sua origem, todas ocorrendo ao mesmo tempo e, dessa
forma, captadas pela taxa de desemprego, tradicionalmente calculada por
pesquisas primárias. As principais são:

Desemprego involuntário
Ocorre quando o indivíduo deseja trabalhar à taxa de salários vigentes no sistema
econômico, mas não encontra colocação. É também denominado desemprego
cíclico ou desemprego conjuntural.
Ocorre devido à insuficiência de demanda agregada na economia (falaremos
desse assunto mais adiante). Desde que Keynes se destacou como formalizador
das idéias sobre o impacto da insuficiência de demanda sobre a economia e o
mercado de trabalho, esse tipo de desemprego é também conhecido como
Keynesiano.
Representa, sem dúvida, aquele tipo de desocupação dos indivíduos que deve
merecer maior atenção das autoridades governamentais.

Desemprego estrutural
Acontece quando o padrão de desenvolvimento econômico exclui uma parcela dos
trabalhadores do mercado de trabalho. Denomina-se também
desemprego tecnológico e ocorre devido ao desequilíbrio entre a oferta e a
demanda por mão-de-obra de determinada qualificação.

Desemprego friccional

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Surge em decorrência do processo dinâmico que caracteriza o mercado de
trabalho, no qual o sistema de informações sobre a oferta de vagas disponíveis no
sistema produtivo é imperfeito. Existe um lapso de tempo entre a saída do
indivíduo de um emprego e a obtenção de uma nova ocupação de acordo com
suas características. Nesse ínterim, ele é classificado como desempregado.

Desemprego sazonal
Ocorre devido à sazonalidade de determinados tipos de atividade econômica.
Como é possível prever esse tipo de flutuações, pode-se atribuir uma dose de
voluntariedade dos indivíduos engajados em ocupações dessa natureza.

Índice de emprego (tE)


É usado para medir a proporção da população economicamente ativa que, após
certa idade, é empregada. Busca refletir aqueles indivíduos absorvidos no
mercado de trabalho na condição de empregados. Em outras palavras, indica o
contingente de trabalhadores disponíveis e utilizados pelas firmas.
tE = E / PEA = E / (E + D)

Em última instância, o índice de emprego busca refletir o número de indivíduos


que estão realmente exercendo atividades econômicas, relativamente a todos
aqueles que potencialmente poderiam exercê-la. Fornece também uma avaliação
de capacidade da economia em absorver o crescimento da população, num
ambiente de constantes transformações tecnológicas que afetam o
comportamento das firmas quanto ao nível de emprego por elas desejado.

RELAÇÃO IMPORTANTE ENTRE TAXA DE DESEMPREGO E DE EMPREGO


Como tD = D / PEA e tE = E / PEA,

temos que: tD + tE = D/PEA + E/PEA = (D + E) / PEA = PEA / PEA = 1 => tD +


tE = 1 (ou 100%)

Subemprego
É a própria subutilização da mão-de-obra. As causas e os efeitos do subemprego
são múltiplos, mas invariavelmente ele está relacionado com o desenvolvimento
econômico insuficiente ou atrasado. De modo geral, tal conceito é associado à
questão de emprego na América Latina, Ásia e África. Historicamente, o
subemprego tende a representar a parcela da população subutilizada em
decorrência do padrão de crescimento adotado, o qual exclui inúmeros segmentos
da população de desempenho de atividades econômicas produtivas.
Além disso, o subemprego tem grande aceitação como conceito referente ao
problema ocupacional no meio rural, onde reflete a porcentagem de ocupados em
atividades de baixa produtividade agrícola. Igual conceito também se aplica ao
meio urbano, mas recentemente a definição de subemprego ganhou nova
roupagem, sob o título de mercado ou setor informal de trabalho. Neste setor
informal de trabalho, muito mais um problema conceitual ou de mensuração, se

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discute a importância do núcleo capitalista de produção no surgimento e no
desenvolvimento de atividades econômicas marginais e/ou informais.

Subemprego visível (tSH) – é definido como a diferença entre o volume real de


horas trabalhadas pelo indivíduo e o volume de horas que ele poderia, de fato,
trabalhar.Na economia, esse subemprego seria medido como:
tSH = (Sh/ PEA) x100

em que Sh = número de indivíduos ocupados trabalhando menos que um


determinado números de horas. Esse indicador merece algumas considerações.
O subemprego deve-se dar por razões econômicas, caracterizando uma
involuntariedade do indivíduo, que não está trabalhando mais por insuficiência de
demanda. O trabalho em tempo parcial não é uma aspiração do indivíduo.
Ademais, o número de horas pode ser fixado em termos de dias, semanas, mês
ou ano e varia de acordo com as características do país ou região em que se
pretende medir o subemprego.

Subemprego encoberto (tsp) – representa a quantidade de mão-de-obra que


seria possível liberar melhorando-se a organização e a distribuição das tarefas de
trabalho, mantendo-se o nível de produção sem necessidade de novos
investimentos em capital fixo e sem modificação das formas de utilização do
trabalho assalariado ou estrutura social de produção.
tsp = ( Sp/ PEA ) x 100

em que Sp = número de indivíduos em produtividade igual ou inferior a certo valor


prefixado.

Subemprego potencial (tSV) – é definido como a quantidade da mão-de-obra


que pode ser liberada, dado um nível de produção, por meio de mudanças nas
condições de exploração dos recursos ou transformações nas indústrias ou
agricultura. Implica reduzir gradualmente a proporção de mão-de-obra ocupada
em atividades de baixa produtividade, elevando-a simultaneamente.
tSV = N / (d + 1) x100 / PEA

onde N = número de pessoas pobres (população abaixo de uma linha de


pobreza);
d = (N – n) / N, razão de dependência;
n = número de indivíduos ativos incluídos na população pobre.

Taxa de rotatividade da mão-de-obra (tr)


Os movimentos referentes às demissões e rescisões de contrato de trabalho
(sejam por iniciativa das firmas ou de empregados), tanto podem representar
desemprego da força de trabalho como também rotatividade da mão-de-obra. O
que diferencia essas duas situações é que, do ponto de vista das firmas, a
rotatividade implica idéia de que a mão-de-obra dispensada, ou que
voluntariamente se demite, será substituída. Por sua vez, a dispensa do

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empregado por parte da firma ou seu pedido de rescisão do contrato de trabalho,
sem que ocorra reposição, caracteriza um desemprego na forma tradicional do
termo.
O princípio da substituição de mão-de-obra é de fácil compreensão, mas a
mensuração da rotatividade é algo complexo.A medida mais usual que preserva a
idéia de substituição é a seguinte:
tr = min (A, D) x 100 / 0,5(Fi + (Fi +A –D))

A = admissões da firma ou setor no período;


D = demissões;
Fi = estoques de trabalhadores no início do período

Uma explicação simples para o numerador da fração min (A,D) seria:


a) Recessão na economia – ocorrendo uma recessão, o número de demissões é
bem maior que o número de admissões. Se tomássemos o maior valor entre
admissões e demissões, este seria o número de demissões. Logo, o numerador
seria grande, induzindo ao erro de se pensar que estaria havendo rotatividade na
economia, o que não é verdade (D>A). Dessa forma, ou seja, tomando o valor
mínimo do numerador, estaríamos , certamente, mais próximos da realidade.
b) Crescimento econômico – num período de crescimento o número de admissões
é bem maior que o número de demissões. Logo, se tomássemos o número de
admissões (A), que é maior que o número de demissões (D), estaríamos
superestimando o índice de rotatividade, já que este valor seria grande. Ao
tomarmos o mínimo entre demissões e admissões, tomaríamos o valor
correspondente ao número de demissões (que é menor). Com isso o índice seria
menor, retratando melhor a momento econômico, ou seja: não há grande
rotatividade e sim crescimento econômico.

MERCADO DE TRABALHO FORMAL E INFORMAL

Mercado Formal
Neste tipo de mercado de trabalho as empresas cumprem a legislação vigente
nos âmbitos fiscal, sanitário, de segurança, trabalhista, ambiental etc. Produz-se
mercadorias tendo como objeto o lucro.

Mercado Informal
Existem empresas que não cumprem os itens citados no caso do mercado
formal. Outras cumprem parcialmente os aspectos legais, seja por não ter
condições de manter a empresa com o cumprimento da própria lei, seja porque
são atividades condenadas, como por exemplo, a venda de CDs piratas ou tráfico
de drogas. Nestes casos, não cumprem a legislação porque a própria
continuidade da empresa seria colocada em xeque. São empresas do setor
informal da economia e seus trabalhadores, por conseqüência, fazem parte do
mercado de trabalho informal. Não há registro em carteira, e, logo, não há direitos
sociais garantidos em lei. Observe que muitos trabalhadores podem estar, em
dado momento, no setor informal e, num momento posterior, podem retornar ao
setor formal de trabalho.

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Observe que muitos trabalhadores podem estar, em dado momento, no setor
informal e, num momento posterior, podem retornar ao setor formal de trabalho.
Atualmente, o setor informal funciona na linha limítrofe da economia formal. Eis
algumas características do setor informal:
- facilidades à entrada de novas empresas;
- recursos de origem doméstica;
- a propriedade é individual ou familiar;
- operam em escala reduzida;
- o processo produtivo é intensivo em trabalho e a eventual tecnologia é adaptada;
- os mercados em que atuam são competitivos.

SALÁRIO REAL E NOMINAL – CLÁSSICOS X KEYNESIANOS

A economia chamada clássica, baseada nos postulados de Adam Smith, Ricardo,


Malthus e outros pensadores econômicos dos séculos XVII, XVIII, XIX e parte do
século XX acreditava que, se a economia de um país estivesse em equilíbrio, este
se daria no denominado PLENO-EMPREGO. Ou seja, eles não admitiam a
existência do desemprego como temos hoje. Para os clássicos, o equilíbrio se
daria com pleno emprego (dos fatores de produção). Mas, mesmo no pleno
emprego, eles admitiam um só tipo de desemprego: o chamado DESEMPREGO
FRICCIONAL ou TAXA NATURAL DE DESEMPREGO, que é, antes de qualquer
coisa, um tipo de desemprego nada preocupante em relação a uma economia. É
aquele desemprego que ocorre em qualquer momento e em qualquer economia,
mesmo nas mais desenvolvidas. A razão desta crença, ou seja, a de não haver
desemprego em grande número, estava apoiada em algumas hipóteses.

Vejamos algumas:
- Num período de retração econômica (recessão), acreditavam os clássicos que os
empresários, em vez de demitir, abaixariam os salários nominais dos
trabalhadores, de forma que não fosse necessário demitir os empregados. E isso
era um motivo para não haver demissões;
- Era válida a chamada “Lei de Say”, economista de renome francês, que
afirmava, em palavras resumidas, que: “A OFERTA CRIA A SUA PRÓPRIA
DEMANDA”. Isto é, para os clássicos, os empresários ofertariam os diversos bens
e estes seriam consumidos pelos empregados. Primeiro haveria a oferta dos bens
e depois, acreditavam eles, os bens seriam consumidos.
- Uma outra concepção clássica era a de que o governo não deveria interferir na
economia. As forças do mercado seriam suficientes para tornar o mercado
eficiente. Aos governos caberia a função de fornecer os bens públicos.
Isto é, o governo forneceria para a sociedade os serviços de segurança, defesa
nacional, justiça, saúde pública etc. E faria isso com recursos advindos da
tributação. Em 1929 houve a quebra da bolsa de Nova York e a crise econômica
nos EUA causou uma alta taxa de desemprego. A Inglaterra, e o mundo como um
todo, passaram por um período de forte recessão.
As teorias clássicas da economia não conseguiam explicar, a contento, o que
estava realmente acontecendo. Neste período (de 1929 até 1936), John

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M.Keynes, economista inglês, colocou o pensamento clássico em xeque. Aqueles
três pilares do pensamento clássico foram reformulados por Keynes, que criou ,
com a edição de seu livro “A teoria do Emprego, dos Juros e da Moeda”, de 1936,
as bases da moderna macroeconomia. Seu pensamento se chocava diretamente
com os pensamentos clássicos no tocante ao papel do governo, da “Lei de Say” e
da flexibilidade dos salários nominais. Basicamente, Keynes enunciou:
- Ao contrário do que afirmavam os clássicos, para Keynes os salários eram
rígidos, inflexíveis. Ou seja, o trabalhador não aceita corte no seu salário nominal
(aquele que consta do nosso contra-cheque). Isso seria um dos motivos do
desemprego.
- Keynes inverteu os termos da “Lei de Say”, dizendo, em resumo, que “A
DEMANDA AGREGADA CRIA A SUA OFERTA”
. Esse é o princípio da demanda efetiva
. Isto é, ao contrário do que acreditavam os clássicos, os empresários só
ofertariam os bens se houvesse procura pelos mesmos. Demanda agregada é um
termo que se usa para expressar a riqueza ou renda de um país. É a soma de
todas as demandas da sociedade. Eis sua equação:

Demanda Agregada (DA) = C + I + G + X – M, onde:

C = consumo das famílias


I = investimento privado (produtivo, em empresas)
G = gastos do governo (gastos com funcionalismo, compra de bens para escolas
públicas, saúde pública, estradas, hidrelétricas, indústrias de base etc)
X = exportações do país
M = importações do país

Essa Demanda Agregada (DA) representou uma revolução no que se refere às


funções do estado numa economia. Isto porque os termos da DA dependem do
governo, senão vejamos: - o consumo de uma sociedade pode ser estimulado ou
desestimulado (para conter a inflação, por exemplo) através de um instrumento
que o governo tem em seu poder: A TRIBUTAÇÃO. Ou seja, se o governo
pretende o crescimento econômico, ele deveria diminuir a carga tributária. Caso
contrário, isto é, se o governo pretende diminuir o consumo das famílias, ele
poderia aumentar a carga tributária (para conter um processo inflacionário, como
aconteceu no passado recente no Brasil - Plano Real).
- o termo investimento (I), que representa o investimento em empresas (não em
títulos, no mercado financeiro), é o investimento que gera riqueza e emprego para
o país. Um dos fatores determinantes do investimento é a taxa de juros. Se esta
estiver alta, haverá um grande estímulo para os detentores de capital a aplicarem
seu dinheiro no mercado financeiro e não em empresas, já que o risco de se abrir
uma empresa é maior e os rendimentos das aplicações financeiras são maiores.
Mas isso não gera renda para o país. Não gera emprego. Se as taxas de juros
diminuírem o contrário acontecerá. Se o mercado financeiro não estiver
remunerando bem, os detentores de capital irão aplicar seu dinheiro em
empresas, gerando riquezas e um Produto Interno Bruto (PIB) maior. Isso vai

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acarretar numa queda do desemprego. Finalmente, a taxa de juros básica de uma
economia é estabelecida pelo governo. Daí a importância do mesmo na economia.
- o termo G (gastos do governo) é uma variável que depende somente do próprio
governo. É política econômica do governo.
- os termos exportações (X) e importações (M) são variáveis que dependem,
dentre outros fatores, da taxa de câmbio. Desta forma, se um país, em
determinado momento, deseja estimular as exportações, ele deveria desvalorizar
a taxa de câmbio. Assim, o preço da moeda estrangeira ficaria mais caro e
exportar seria mais fácil do que importar.

Exemplo:
Dia 10/ 03/ 2006 – taxa de câmbio => 1 US$ = R$ 2,24
. Isso significa que, se um exportador brasileiro exportar uma mercadoria de
100.000 dólares, ele receberá o montante, em reais, de R$224.000,00. Supondo
que no dia 10/04/2006, a taxa de câmbio seja: 1US$ = R$ 2,35;
se o mesmo exportador exportasse a mesma mercadoria acima, ele receberia,
em reais, R$235.000,00.

Note que quando a taxa de câmbio é desvalorizada, há incentivo maior para se


exportar. E quando acontecer uma valorização da taxa de câmbio acontecerá o
contrário. Exportar não será mais tão estimulante como no caso acima e a
valorização da taxa de câmbio estimulará as importações, pois a moeda
estrangeira ficará mais barata em reais.
Foi o que aconteceu em 1994/95, quando a taxa de câmbio estava valorizada na
faixa de 1US$ = R$1,00. Isso favoreceu as importações, pois o dólar estava
barato. Para comprar um carro americano de US$12.000,00 (doze mil dólares)
seria preciso ter R$12.000,00 (doze mil reais).

Daí o crescimento forte das importações naquele período em que a taxa de


câmbio estava valorizada, ou seja, nossa moeda estava valorizada.
Mas o regime cambial de um país é definido pela Autoridade Monetária do próprio
país. Ou seja, é política cambial do governo. Essas variáveis da Demanda
Agregada refletem as chamadas políticas fiscal, monetária e cambial, assunto dos
domínios da Macroeconomia.

2. O mercado de trabalho

Mercado de trabalho relaciona aqueles que procuram emprego e aqueles que


oferecem emprego num sistema típico de mercado onde se negocia para
determinar os preços e quantidades de um bem, o trabalho. O seu estudo procura
perceber e prever os fenónemos de interação entre estes dois grupos tendo em
conta a situação económica e social do país, região ou cidade.

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Demanda por trabalho: o modelo competitivo e modelos não competitivos

O mercado de trabalho pode ser entendido como compra e venda de serviços de


mão-de-obra, representando um ambiente, onde trabalhadores e empresários, se
confrontam.

Blanchard (2001, p. 116) faz uma analogia a respeito do fluxo de trabalhadores no


mercado de trabalho. Ele imagina um aeroporto, onde há decolagens e pousos de
aeronaves a todo instante.

Neste contexto, muitos passageiros entram e saem constantemente devido aos


processos de embarque e desembarque das aeronaves lá estacionadas.

As causas desta movimentação podem ser:

Ø Os vôos que decolam e que chegam;

Ø O mau tempo, que causa o atraso destes vôos.

A quantidade de passageiros que se encontra no aeroporto, pode ser o mesmo


em ambas as situações, mas em condições diferentes.

No primeiro caso, há passageiros entrando para pegar o vôo para algum destino.

Há ainda, passageiros que desembarcaram em algum vôo de chegada.

Da mesma forma, a taxa de desemprego pode refletir esta movimentação, mas em


um mercado aquecido economicamente.

Existem trabalhadores que se demitem no mercado de trabalho, por questões


pessoais, na procura de oportunidades melhores e há aqueles que são demitidos,
por ações estratégicas das firmas.

Neste contexto, o desemprego considerado é o friccional e tem relação com a taxa


de rotatividade de mão-de-obra.

Já no segundo caso, onde o mau tempo está presente, os passageiros que se


encontram no aeroporto estão sem mobilidade.

Analogicamente, pode-se dizer que é um mercado de trabalho esclerosado[1],


com poucas contratações e poucos desligamentos, onde o reflexo mostra um
contingente de trabalhadores estagnados.

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No mesmo sentido, o tipo de desemprego característico deste caso é o
involuntário, pois não há intenção dos trabalhadores ficarem sem emprego, bem
como não há intenção dos passageiros em ficarem estacionados no aeroporto.

Há que considerar também que, dentro de um processo de negociações coletivas,


pode ocorrer em alguns casos, uma interferência do Estado, que junto com as
empresas e trabalhadores, determinam conjuntamente os níveis de salários, de
emprego, as condições de trabalho e os demais aspectos relativos às relações
entre capital e trabalho.

Em sentido mais estrito, a ação conjunta da oferta e demanda de trabalho


determinam o nível de salário e de emprego de equilíbrio, como representado na
figura 2, mais à frente, no tópico Demanda de Trabalho.

No exemplo, ao salário de R$ 4,00/hora, o mercado está em equilíbrio, pois a


quantidade demandada coincide com a quantidade de pessoas interessadas a
oferecer seu trabalho.

Se para determinado grupo de trabalhadores a oferta é maior do que a demanda,


haverá desemprego. Se a demanda for maior do que a oferta, haverá falta de
mão-de-obra.

Há que se fazer então, uma pequena diferenciação entre mercado formal de


trabalho e mercado informal de trabalho.

Ø Mercado formal de trabalho: contempla as relações contratuais de trabalho,


em grande parte determinadas pelas forças de mercado, ao mesmo tempo em que
são objeto de legislação específica que as regula;

Ø Mercado informal de trabalho: é o mercado em que prevalecem regras de


funcionamento com um mínimo de interferência governamental.

O mercado de trabalho não pode ser analisado de forma independente do


contexto da economia, os salários, emprego, desemprego, rotatividade e
produtividade, são condicionados pelo nível e pela flutuação da atividade
econômica, tanto no curto prazo como no longo prazo.

Demanda de Trabalho
Modelo competitivo

O mercado competitivo caracteriza-se pelo fato de todos os participantes


(compradores e vendedores), comportam-se competitivamente, ou seja, estes
tomam o preço de mercado como dado (price-takers), portanto, não tentam fixar o
preço da mercadoria, não têm poder de mercado.

13
Na estrutura de mercado de concorrência perfeita, o comportamento competitivo
ocorre:

Ø Pelo lado da demanda, quando cada comprador responde por uma parcela
ínfima da demanda total de mercado;

Ø Pela oferta, quando cada vendedor responde por uma parcela ínfima da
oferta total de mercado.

Modelo de concorrência perfeita

Ø Cada vendedor individual enfrenta uma curva de demanda perfeitamente


elástica para o bem que oferta;

Ø Cada comprador individual enfrenta uma curva de oferta perfeitamente


elástica para o bem que demanda;

Ø Grande quantidade de compradores e vendedores;

Ø São conhecidos os fatores de produção;

Ø Os produtos são homogêneos, assim como a mão-de-obra;

Ø A tecnologia é similar para os ofertantes;

Ø Há simetria de informações entre ofertantes e compradores;

Ø Os preços de mercado e quantidade de equilíbrio de mercado são


determinados pela interação entre as curvas de oferta agregada e demanda
agregada. Na ausência de externalidades, o mercado organizado
competitivamente assegura alocação eficiente (no sentido de Pareto);

Já o mercado não competitivo caracteriza-se pelo fato de que compradores e/ou


vendedores têm poder de mercado e reconhecem este poder.

Desta forma, não se comportam competitivamente (racionalidade econômica). Na


linguagem econômica, são fixadores de preço (price-settles), em outras palavras,
possuem poder de mercado.

Poder de mercado é a capacidade de determinar o preço de compra, no caso do


comprador (poder de monopsônio) ou capacidade de determinar o preço de
venda, no caso do vendedor (poder de monopólio), portanto, poder de mercado =
poder competitivo.

O agente não competitivo tem apenas um grau de liberdade: fixa o preço ou


quantidade.

14
O vendedor está restrito pela curva de demanda para o bem que oferta, cuja curva
é negativamente inclinada.

O comprador está restrito pela curva de oferta para o bem que demanda, cuja
curva é positivamente inclinada.

Para atender este mercado, ou seja, para obter os bens e serviços há a


necessidade de recursos à disposição para conseguir produzí-los. Eles são
chamados de fatores de produção. A designação fator se deve por se tratar de um
elemento indispensável, onde os mais importantes são três: a terra, o trabalho e
o capital.

Ø A terra diz respeito à natureza. Envolve não somente a terra cultivável,


quanto todos os recursos que ela pode oferecer, tais como os minérios: o ferro, o
calcáreo, a argila; as matas; a água…

Ø O trabalho aciona estes recursos, dando-lhes vida. Sua importância repousa


sobre a capacidade das pessoas em se organizarem e agirem socialmente em
cooperação com o objetivo de produzir sua existência. O trabalho funciona como
mediador da ação do homem para transformar e dominar a natureza, através das
máquinas, equipamentos e ferramentas. Quanto maior a aptidão, a habilidade e a
capacidade de produção desse trabalho, dado o progresso da tecnologia e da
ciência, mais eficientes são os resultados obtidos. O homem produz cada vez
mais com esforço menor.

Ø O capital, em um sentido físico estreito, compreende os elementos materiais


criados pelo homem para agir sobre o objeto a ser trabalhado. Compõem as
edificações, as instalações, os equipamentos, as máquinas, as ferramentas. Estes
elementos, conforme sua grandeza, não constituem mais uma propriedade
específica de alguém. Nesse caso, estamos lidando com o grande capital. A
propriedade particular, no caso deste grande capital, pertence às lembranças do
passado. Contabilmente, neste caso, o capital seria representado apenas pelo
ativo permanente. O capital, em um sentido social amplo, trata-se de um
relacionamento social. Existem os proprietários e administradores do capital de um
lado, os empresários e executivos, e os proprietários da capacidade de trabalho
de outro, os trabalhadores. Entre estes dois existem as máquinas, os
equipamentos, as instalações, as ferramentas, as edificações. Estes elementos
materiais constituem os meios, através dos quais, o homem obtém a produção de
mercadorias e serviços.

Assim exposto, podemos conceituar que a demanda por um fator de produção é


uma demanda derivada, isto é, a demanda da empresa deriva de sua decisão de
oferecer um bem em outro mercado.

Por exemplo, a demanda de mão-de-obra, está intimamente ligada à oferta do


bem que a empresa produz.

15
Portanto, a demanda por mão-de-obra que as firmas desejam comprar, encontra-
se no mercado de fatores, cujo relacionamento está ligado à função decrescente
do salário real.

Isto é fácil compreender, pois se o salário real estiver alto, as firmas desejarão
contratar pouca mão-de-obra, como com propriedade mais à frente.

Analisando a oferta e demanda de trabalho no modelo neoclássico não-


friccional do mercado de trabalho.

Ø Demanda de trabalho: é o número de pessoas que estão dispostas a ser


contratadas pelas empresas a cada nível de salário (QL = W/P).

A partir de uma determinada situação, se os salários se reduzem, os empresários


estarão dispostos a contratar uma quantidade maior de trabalho.

Como vimos, é lógico pensar que a curva de demanda de trabalho tenha


inclinação negativa (decrescente), como mostra a figura 2.

O mercado de trabalho, como todo o mercado, alcança o equilíbrio no nível de


preços, onde a quantidade oferecida é igual à quantidade demandada.

A figura 2 mostra um equilíbrio (ponto E) a um salário de equilíbrio SE = R$ 4,00 e


para uma oferta de trabalho de equilíbrio LE = 150.000 trabalhadores, que
representa nível de emprego de pleno emprego.

Utilizando a igualdade W.L = P.Q, temos a seguinte função:

W.L = 4 x 150.000 = 600.00


Portanto,
P.Q = 600.000

16
Neste modelo, o equilíbrio no mercado de trabalho representado pelo ponto E
(onde a receita marginal das empresas é igual ao custo marginal do trabalho),
qualquer um que esteja trabalhando deseja aquele salário real e as firmas estão
contratando o volume de trabalho que desejam no mesmo salário real, o que
significa que há sempre o pleno emprego.

Para um melhor entender a demanda por mão-de-obra, vamos nos concentrar nas
empresas que a contratam e a utilizam para produzir os bens que irão vender.

Observando então, a relação entre a demanda por trabalho e produção de bens,


chegaremos ao entendimento do salário e equilíbrio.

Para exemplificar, utilizaremos o exemplo de um pequeno produtor agrícola, onde


o feijão é o produto produzido, para tratar da demanda por mão de obra no modelo
competitivo, tanto como vendedor como na contratação de colhedores, onde é
comprador.

No mercado competitivo, os agentes econômicos são tomadores de preços, pois


como visto no modelo de concorrência perfeita, são em grande número, portanto,
não conseguem individualmente influenciar nos preços do mercado.

Os agentes tomam os preços do mercado como dados e apenas tomam a


decisão, entre contratar ou não, determinado produto ou serviço ao preço dado.

No caso de uma empresa maximizadora de lucro (teoria da firma), ela não está
preocupada com o número de trabalhadores ou com o volume das vendas que irá
contratar.

Ela se interessa apenas pelo lucro, onde a demanda por trabalho e a oferta de
bens são em decorrência da maximização de lucros.

Fazendo um retrospecto de quando começamos a lutar por melhor colocação no


mercado de trabalho, não poderíamos deixar de relatar, a Revolução Industrial
como marco deste processo, atingindo seu ápice no século XVIII. Neste momento,
em que a produção crescia aceleradamente, era preciso buscar mão de obra
capaz de suportar a grande jornada de trabalho. Por outro lado, muitos intelectuais
buscaram alternativas para não fazer parte deste grande contingente de
trabalhadores com serviços pesados e fatigantes.
Durante todo o período da Revolução Industrial, novos postos de trabalhos
começaram a aparecer, principalmente relacionado ao mercado de serviços.
Desta forma, podemos concluir, que chegamos ao mercado competitivo de hoje,
através da concorrência iniciada no passado. Esta concorrência não só foi
relacionada ao produto e serviço comercializado e sim também em relação a uma
mão de obra qualificada, pois os empresários começaram a entender que o ritmo
da eficácia alcançada estava intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento que
o colaborador tinha no ambiente de trabalho.

17
Nos dias atuais, muitas empresas afirmam que emprego existe para profissionais
capacitados e cabe a todos buscar a qualificação contínua. Portanto, quando
passamos pela internet e observamos que sites relacionados à headhunters
disponibilizando milhares de vagas com salários acima de R$ 10 mil, saiba que
não é um sonho, mas o que falta são candidatos capacitados para o perfil
determinado para o cargo.
Outro dado importante, agora divulgado pelo IBGE em 08 de abril de 2008, refere-
se à taxa de crescimento de empregos até fevereiro de 2008 que chegou a 3,2%.
Novamente temos a constatação que existe emprego, mas para profissionais
aptos aos cargos oferecidos.
Quando comparamos a taxa de desemprego com a taxa de analfabetismo,
chegamos a uma conclusão que mesmo que a oferta de emprego seja disponível,
não encontraremos mão de obra para ocupar, pois segundo o IBGE, em 2006 o
Brasil fechou com uma taxa de analfabetismo para população maior de 15 anos,
com 11,1% e a taxa de desemprego de 2007 ficou em 14,2%. Portanto, quando
fazemos uma analogia entre a oferta de emprego na indústria, comércio,
agricultura e serviços e subtraímos da taxa de analfabetismo, ficaremos com uma
demanda positiva de oferta de emprego, isso porque nenhum desses setores não
mais suporta trabalhadores sem a escolaridade mínima para alfabetização.
Portanto, o caminho para a empregabilidade em paises em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil, a receita ainda é: conclusão do ensino superior, pelo
menos 2 idiomas estrangeiros; pós-graduação e experiência comprovada. Desta
forma, devemos evoluir pois essa exigência de hoje será critério básico de escolha
para os profissionais no futuro, pois hoje o profissional qualificado como mediano
ainda possui oportunidades, mas com a evolução, profissionais consagrados
atualmente serão considerados medianos nos próximos anos.

Decisões de emprego das empresas

As mudanças no mundo contemporâneo têm gerado transformações radicais na


forma de produção e de relação entre os indivíduos. Nas últimas décadas, a
revolução provocada pela informática nos ambientes empresariais e até mesmo
domésticos tem feito com que grande parte das pessoas altere seus hábitos.
Tomando como base os períodos históricos da evolução da sociedade, marcados
inicialmente pela produção manufatureira e, posteriormente, demarcados pela
produção industrial e pós-industrial, constatamos que foram fortemente
influenciados pela incorporação tecnológica nos processos de produção e que
causaram grandes mudanças na forma de vida das pessoas. Com o avanço
tecnológico, este processo tornou-se mais complexo. As empresas transformaram-
se em organizações cada vez mais complexas, hierarquizadas, especializadas e
que demandavam supervisão e gerência. Por conseguinte, a preocupação passou
a ser com a autoridade, responsabilidade, planejamento, controle, coordenação e
relações no trabalho (Motta, 1986).

18
As transformações apontam para um redirecionamento dos objetivos da
organização, antes voltados para o controle da produção de bens e serviços, para
outra baseada na informação, na tecnologia e no consumo. Em conseqüência, a
gerência praticada nas organizações se volta para a valorização da
descentralização administrativa, da comunicação informal, da flexibilidade nos
processos de produção, assim como para o estímulo à iniciativa e criatividade dos
indivíduos e grupos.

Nos ambientes empresariais, a automação tem ocupado papel fundamental,


utilizando-se de seus recursos para o tratamento da informação necessária à
tomada de decisão. A maneira como a informação é obtida, organizada, gravada,
recuperada e posteriormente utilizada permite ao gerente atuar com mais
segurança, aumentando a possibilidade de acerto na tomada de decisão.

No processo de trabalho, a tomada de decisão é considerada a função que


caracteriza o desempenho da gerência. Independentemente do aspecto da
decisão, esta atitude deve ser fruto de um processo sistematizado, que envolve o
estudo do problema a partir de um levantamento de dados, produção de
informação, estabelecimento de propostas de soluções, escolha da decisão,
viabilização e implementação da decisão e análise dos resultados obtidos.

No contexto organizacional, Choo (1998) considera que a tomada de decisão


formal é estruturada por regras e procedimentos que especificam papéis, métodos
e normas que, por sua vez, estabelecem valores que influenciam como a
organização enfrenta a escolha e a incerteza. A combinação esperada entre
cultura, comunicação e consenso melhora a eficiência e ajuda a alcançar um nível
mais elevado de comportamento de escolha racional.

Nos vários modelos de decisão estudados, é possível reconhecer que a decisão


nem sempre é resultado de um processo seqüencial, estruturado e dirigido para
uma única solução. Mas é possível afirmar que a informação é um recurso
primordial para a tomada de decisão e que, quanto mais estruturado for este
processo, como no caso dos modelos racional e de processo, mais indicado se faz
o uso de sistemas de informação que possam responder às demandas e
necessidades informacionais do decisor. Da mesma forma, as informações
requeridas para este tipo de decisão são mais objetivas e quantificáveis, tornando
mais indicada a utilização de recursos informacionais que possam organizar,
recuperar e disponibilizar as informações coletadas durante o processo de

19
trabalho. Para os modelos de decisão em que a solução é resultado de um
processo mais qualitativo, influenciado pelo “olhar” do decisor e por situações
contingenciais, os sistemas de informação podem contribuir com dados que serão
analisados e modificados para utilização na tomada de decisão.

O estudo da estrutura da organização permite conhecer o processo de


comunicação formal e informal, reconhecendo-o como meio pelo qual os
indivíduos se relacionam dentro da organização e como é empregado para apoiar
as decisões, visando ao alcance dos objetivos institucionais. Nestes ambientes,
valores são agregados à informação, transformando-a em matéria-prima para o
desenvolvimento do produto da instituição. Seu objetivo principal é a busca da
tomada de decisão certa, no momento oportuno, com as pessoas apropriadas, a
partir da informação adequada, com o menor custo possível.

No contexto da tomada de decisão e considerando seu valor, a informação tem


sido empregada como mais um recurso para o desenvolvimento do processo de
trabalho nas organizações. A produção interna da informação e a utilização de
fontes externas à organização suscitam a criação de sistemas de informação para
sua identificação e organização, propiciando condições mais adequadas para sua
recuperação e utilização na tomada de decisão.

No exercício da função gerencial, a ênfase deve ser dada à informação. Algumas


estratégias são citadas por Davenport (1998) para o gerenciamento do
comportamento informacional nos ambientes empresariais, dentre as quais se
destacam tornar claros os objetivos e estratégias da organização, identificar
competências informacionais, concentrar-se na administração de tipos específicos
de conteúdos da informação, atribuir responsabilidades pelo comportamento
informacional, criar uma rede de trabalho responsável pelo comportamento
informacional e apresentar a todos os problemas do gerenciamento da
informação.

Diante destas estratégias, é possível constatar que a informação é mais um


recurso para a gerência nos ambientes empresariais e que é de todos os atores
envolvidos no processo de trabalho a responsabilidade pela sua coleta,
organização, distribuição e disponibilização. Desta forma, um sistema de
informação que sirva ao processo de trabalho deve responder às demandas e
necessidades dos diversos serviços e unidades da instituição, resguardadas suas

20
características e especificidades, podendo ser únicos para a organização ou
específicos para cada serviço.

Para efeito deste estudo, entende-se por sistema de informação todo conjunto de
dados e informações que são organizados de forma integrada, com o objetivo de
atender à demanda e antecipar as necessidades dos usuários. Portanto, sistemas
de informação para apoio à decisão são sistemas que coletam, organizam,
distribuem e disponibilizam a informação utilizada nesse processo.

Em geral, os sistemas de apoio à decisão obtêm dados do ambiente interno e


externo à organização e processam estes dados, transformando-os em
informações. O sistema opera por meio de softwares que permitem a
disponibilização destas informações na forma de relatórios, de modelos
matemáticos expressos em gráficos e tabelas e, ainda, permite que se instale um
encontro virtual entre vários indivíduos trabalhando como um grupo dentro da
organização. Além disso, como cita Richieri (2001), os softwares mais modernos
permitem também a integração dos dados com resultados que refletem em maior
rapidez na análise dos dados, transformando-os em informações essenciais para
a tomada de decisão.

Os sistemas de informação nos ambientes empresariais são constituídos do


gerenciamento da informação, a partir do levantamento das necessidades
informacionais dos decisores, da coleta e obtenção dos dados, na análise dos
dados transformando-os em informação, na distribuição da informação de acordo
com as necessidades do decisor, da utilização das informações pela sua
incorporação no processo de trabalho e, finalmente, da avaliação constante dos
resultados obtidos e de redirecionamentos no sistema para atender às demandas
e antecipar as necessidades dos decisores. É importante ressaltar que esses
sistemas têm contribuído para o desenvolvimento do processo de produção nas
instituições e que, nos ambientes hospitalares, em especial, têm possibilitado
maior segurança para a tomada de decisão, o que resulta em melhor atendimento
aos pacientes.

Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa é analisar a utilização de sistemas de


informação, enquanto instrumento para a tomada de decisão no exercício da
gerência de unidades funcionais do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais.

21
Custos não salariais

CÁLCULOS DE ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS

Para o cálculo dos custos da mão-de-obra, é necessário se determinar quais as


incidências sociais (INSS, FGTS normal e FGTS/Rescisão) e trabalhistas
(Provisões de Férias, 13º salário e Descanso Semanal Remunerado - DSR) sobre
os valores das remunerações pagas.

Assim sendo, nos cálculos apresentados estão apenas os quesitos básicos


relativos às férias, 13º salário, DSR e encargos sociais - FGTS e INSS. Para obter
o valor real, acrescente-se o Vale Transporte e as médias de incidência de aviso
prévio, auxílio afastamento por doença ou acidente e indenização de aviso prévio.

A metodologia do cálculo do DSR é o padrão anualizado para jornada de trabalho


de 44 horas semanais (1 dia por semana, equivalente a 1/6 da remuneração para
52 semanas no ano, divididos por 12 meses).

ESTATÍSTICAS POR EMPRESA

O aviso prévio (indenizado) não está incluso nas planilhas de cálculo


apresentadas, porque para se calcular o valor exato (ou estimado) é necessário
saber qual o "índice de rotatividade" da empresa.

Por exemplo: se a média dos empregados da empresa permanece 20 meses,


então o índice de rotatividade/ano é 12/20 = 60%. Então a "previsão de
indenização" mensal seria de 60% dividido por 12 = 5% + encargos sociais e
trabalhistas.

Quanto ao auxílio-doença, é a mesma sistemática, ou seja, é necessário que cada


empresa saiba quantos dias/ano/empregado foram pagos, para calcular,
estatisticamente, qual a sua previsão mensal.

Exemplo:

No ano a empresa pagou um total de 400 dias de atestados/auxílio


doença/afastamentos, num total desembolsado de R$ 14.800,00 no ano, a este
título.

A empresa teve 200 funcionários que trabalharam no mesmo ano (tanto admitidos
quanto demitidos e aqueles que permaneceram na empresa).

O total da folha de pagamento salarial no ano foi de R$ 1.530.000,00.

22
Então o "índice" de atestados foi de R$ 14.800,00 dividido por R$ 1.530.000,00
igual a 0,96732% sobre a folha.

Acrescer a este índice os respectivos encargos sociais e trabalhistas.

Elasticidades da demanda

A lei da procura e da oferta mostra que existe uma tendência para uma relação
inversa entre a quantidade procurada e o preço. A elasticidade preço da procura
mede a variação na quantidade procurada quando ocorre uma variação no preço.
Assim, a elasticidade é uma medida de sensibilidade dos consumidores a
variações no preço dos produtos.

Paul A. Samuelson & William D. Nordhaus (ISBN 0072872055) dizem-nos que:

"A definição precisa de elasticidade é a variação percentual na quantidade


procurada dividida pela variação percentual no preço."

Procura elástica e rígida (Procura Directa)

Digamos que, as pessoas reagem de modo diferente à variação no preço dos


diferentes produtos. Quando falamos de bens essenciais, tais como os alimentos,
a sua procura não se altera significativamente quando ocorrem variações no
preço. Por outro lado, na procura de um bem inferior ou produtos de luxo (carros,
viagens, jóias, etc.) a sensibilidade ao preço aumenta.

Encontraram-se assim duas categorias que classificam os produtos conforme a


reacção da sua procura face a variações no preço:

• Bens elásticos – quando a sua quantidade procurada responde fortemente


a variações no preço
o Quando a uma variação de 1% no preço corresponde uma variação
superior a 1% na quantidade procurada
• Bens rígidos (inelásticos) – quando a sua quantidade procurada responde
de modo mais ligeiro a variações no preço;
o Quando a uma variação de 1% no preço corresponde uma variação
inferior a 1% na quantidade procurada

Quando a variação percentual da procura de um determinado produto é igual à


variação percentual do seu preço então estamos perante uma procura com
elasticidade unitária.

Contudo, estas situações só se encontram em casos de Procura Directa, pois no


caso de ser em Procura Cruzada, a reacção é semelhante mas referece a dois
bens em simultanêo

23
Casos Extremos de Elasticidade

• Demanda Perfeitamente Inelástica


• Demanda Perfeitamente Elástica

Elasticidade da Procura Cruzada

No caso da Procura Cruzada, define-se Elasticidade o grau de reacção da


Quantidade procurada do Bem X, perante a alteração do Preço de um Bem Y.

Este tipo de estudo de Elasticidade premite sem estudo de resultados absolutos


em que tipo de Bens estamos presentes:

- Se a Elasticidade apresentar-se maior que 0, (a variação da Quantidade do


Bem X varia no mesmo sentido do Preço do Bem Y) estamos presentes de
Bens Substitutos

- Se a Elasticidade apresentar-se menor que 0, (a variação da Quantidade do


Bem X varia no sentido contrario do Preço do Bem Y) estamos presentes de
Bens Complementares

- Se a Elasticidade apresentar-se igual a 0, ( a Quantidade do Bem X mantem-


se constante perante a variação do Preço do Bem Y), estamos presentes de
Bens Independentes

Oferta de trabalho: a decisão de trabalhar e a opção renda x lazer

DECISÃO DE TRABALHAR - RENDA X LAZER

A decisão de trabalhar constitui, em última instância, numa decisão sobre como


passar o tempo. Uma forma de utilizar nosso tempo disponível é gastá-lo em
atividades de lazer agradáveis. A outra grande forma utilizada pelas pessoas para
passar o tempo é TRABALHAR.

Podemos trabalhar em casa, na produção doméstica (ex: costura), plantar


alimentos etc. Alternativamente, podemos trabalhar por REMUNERAÇÃO e utilizar
nossos ganhos para adquirir comida, abrigo, roupa e cuidados infantis. Assim
sendo, caracterizamos a decisão de trabalhar como uma escolha entre o LAZER e
o TRABALHO REMUNERADO. Se considerarmos o tempo gasto comendo,
dormindo ou realizando outras atividades que nos mantém fixadas mais ou menos
pelas leis naturais, então o tempo de escolha que temos (16h, digamos) pode ser
atribuído seja ao TRABALHO, seja ao LAZER. Já que o volume de tempo
DISCRICIONÁRIO gasto em lazer é um tempo que não é gasto em trabalho e
vice-versa, a DEMANDA PELO LAZER pode ser considerada o outro lado da
moeda chamado OFERTA DA MÃO-DE-OBRA. É mais conveniente analisar os
incentivos ao trabalho no contexto de DEMANDA POR LAZER, já que podemos

24
aplicar a análise padrão da demanda por qualquer produto à demanda pelo lazer
e, então, simplesmente subtrair as horas de lazer das horas discricionárias
disponíveis totais para obter os efeitos na OFERTA DE TRABALHO.

Já que optamos pela DEMANDA POR LAZER, relembremos que qualquer


demanda á função de 3 fatores:
1.CUSTO DE OPORTUNIDADE DO PRODUTO
2.NOSSO NÍVEL DE DISPONIBILIDADE FINANCEIRA( renda)
3.NOSSO CONJUNTO DE PREFERÊNCIAS
Qual o CUSTO DE OPORTUNIDADE DO LAZER?

O custo de oportunidade de passar uma hora assistindo TV é basicamente o que


poderíamos ganhar se houvéssemos passado a hora trabalhando.

Assim, o CUSTO DE OPORTUNIDADE de uma hora de lazer é IGUAL à nossa


TAXA SALARIAL (salário por hora).

A teoria sugere que, se a taxa salarial aumenta, enquanto as preferências são


mantidas constantes, o número de horas de lazer aumentará. Dito de outra forma,
se a TAXA SALARIAL (salário por hora) aumentar, as horas desejadas de trabalho
se elevarão. Seria o caso de um indivíduo, professor, por exemplo, ter aumentado
o valor do seu salário por hora ou taxa salarial. Se ele estiver num patamar
suficientemente alto de salário por hora, um aumento neste salário–hora poderá
induzi-lo a demandar mais horas de lazer, logicamente reduzindo as horas de
trabalho. Os economistas classificam as respostas das horas de lazer desejadas
às mudanças na taxa salarial como efeito-renda.

O efeito-renda é baseado na simples idéia de que, à medida que as taxas salariais


se elevam, mantendo-se o custo de oportunidade do lazer constante, as pessoas
irão querer demandar ou consumir mais lazer (o que significa trabalhar menos) Em
termos matemáticos temos:

EFEITO-RENDA = variação nas horas de trabalho/variação na taxa salarial.

EFEITO-RENDA = ∆H /∆Y ; onde

∆H é igual a variação das horas trabalhadas e

∆Y é igual à variação na taxa salarial.

Note que o efeito-renda é sempre NEGATIVO, pois quando diminuem as horas de


trabalho (∆H aumenta), a renda aumenta. E, o efeito-renda será negativo. Ao
contrário, quando aumentam as horas de trabalho, a renda diminui, levando a um
efeito-renda também negativo. Porém, a teoria econômica também diz que se a
taxa salarial aumentar, isto servirá de estímulo ao trabalhador para ofertar mais
horas de trabalho. Da mesma forma, um declínio na taxa salarial reduzirá o custo
de oportunidade do lazer e os incentivos ao trabalho. É o efeito-substituição.

25
Isto quer dizer que, à medida que as taxas salariais sobem, mais horas de
trabalho são ofertadas, como reação a este aumento na taxa salarial. Seria o
indivíduo que, ainda jovem, sem estar em uma situação de equilíbrio, pague
aluguel de sua moradia, por exemplo. Este indivíduo está mais propenso a ofertar
mais trabalho quando o salário por hora aumentar. Em termos matemáticos,
temos:

EFEITO-SUBSTITUIÇÃO =variação nas horas de trabalho/variação na taxa


salarial

Como o trabalhador reage a um aumento na taxa de salário ofertando mais horas


de trabalho (e menos horas de lazer), podemos afirmar que o efeito-substituição é
sempre positivo (ao contrário do efeito-renda). Pelas hipóteses acima, concluímos
que os dois efeitos - efeito-renda e efeito-substituição – são contrários,
antagônicos, porém ocorrem simultaneamente.

Se o efeito RENDA é dominante, a pessoa responderá a um aumento salarial


reduzindo sua oferta na força de trabalho. Esse declínio será MENOR do que se
alguma mudança na disponibilidade financeira fosse devida a um aumento na
riqueza NÃO- TRABALHISTA, porque o efeito substituição está presente e atua
como uma influência moderadora.

Entretanto, quando o efeito RENDA domina, o EFEITO-SUBSTITUIÇÃO não é


suficientemente grande para impedir que a força de trabalho DECLINE. É
plausível, é claro, que o efeito-substuição venha a dominar. Se assim for, a
resposta efetiva aos aumentos salariais será AUMENTAR a oferta da mão-de-
obra.

Se o efeito-substuição dominar, a curva de oferta de trabalho da pessoa (relativa,


digamos, às horas desejadas) e aos salários será POSITIVAMENTE INCLINADA.
Isto é, a oferte de trabalho aumentará com a taxa de salário. Se, por outro lado, o
efeito renda dominar, a curva de oferta de trabalho será INCLINADA
NEGATIVAMENTE.

A teoria econômica não pode dizer que efeito dominará e ,na verdade, as curvas
da oferta de trabalho individual poderiam inclinar-se positivamente em algumas
faixas de variações do salário e inclinar-se negativamente em outras. No gráfico
abaixo, por exemplo, as horas desejadas de aumento de trabalho da pessoa
aumentam (domina o efeito-substituição) quando os salários aumentam desde que
sejam baixos (abaixo de W*).

A salários mais altos, no entanto, maiores aumentos resultam em horas reduzidas


de trabalho (domina o efeito renda) . Em resumo, a partir de um nível
suficientemente elevado de salário, as horas gastas em lazer aumentarão,
reduzindo as horas de trabalho. É o efeito-renda dominando o efeito-substituição.
Daí a curva de oferta de trabalho voltar-se para trás. Se o efeito-substituição

26
dominar o efeito-renda, a curva de oferta de trabalho terá inclinação positiva.
Temos então, uma curva reversa

Por 1 hora a mais de lazer, o indivíduo está disposto a reduzir bastante sua renda.

O indivíduo só está disposto a reduzir pouco no salário para obter 1 hora a mais
de lazer.

NOTA – Se faz necessária uma breve abordagem, neste momento de nosso


curso, de um assunto muito comum aos estudantes oriundos de carreiras ligadas
à matemática: DERIVADAS. Porém, gostaria de esclarecer alguns pontos para
quem nunca estudou este assunto, ou seja, candidatos de áreas das ciências
humanas e biomédicas. Como nosso interesse é concurso público, no caso
Auditor-Fiscal do Trabalho, o que realmente conta para os não iniciados em
derivadas, é que haja uma consciência por parte destes candidatos, que estes
assuntos são cobrados em nível bastante básico nos concursos. Então, espero
que não haja desespero e que este assunto seja MECANIZADO e não entendido.
Até porque seria necessário um curso de Cálculo I para um entendimento deste
assunto. Só a título de observação, me lembro bem que no concurso que fiz e fui
aprovado para Receita Federal (antigo AFTN), os dois primeiros lugares eram
formados em Letras e Educação Física, que nunca estudaram Cálculo em seus
cursos de graduação. E essa história tem se repetido nos diversos concursos da
Receita, de Fiscal da Previdência e muitos outros. Então ficamos assim: quem não
é da área, mecanize os métodos de cálculo de derivadas básicas.

Curva de oferta de trabalho

O número de trabalhadores no mercado é normalmente considerado diretamente


proporcional ao salário oferecido. A medida que o salário aumenta a oferta de
trabalho aumenta. Esta relação é tradicionalmente ilustrada em um gráfico com o
salário no eixo vertical e a quantidade de trabalho no eixo horizontal. A curva de
oferta de trabalho tem a tendência a aumentar em função dos dois, com base
sempre no que foi relatado acima.

Essa tendência é baseada na premissa de que, se o salário for suficientemente


baixo, o trabalhador prefere não trabalhar. A medida que o salário aumenta o
trabalhador prefere trocar seu tempo de folga por tempo de trabalho. Isso é
representado na curva de oferta caminhando para cima a medida que o salário
aumenta. É importante entender que o valor do salário não altera o formato da
curva.

Outras variáveis podem causar uma mudança no formato desta curva. Por
exemplo, trabalhadores em todos os níveis de salário aceitariam salários menores

27
se houver uma queda no custo de vida. Isso é representado por uma translação
da curva inteira de oferta de trabalho para esquerda.

Elasticidades da oferta

1. “Qualquer variação da curva da oferta tem efeitos muito diversos que dependem
da inclinação da curva da procura.”Observando as Figuras 10.1 I e II, a primeira
com uma procura elástica, a segunda com uma procura rígida, verifica em qual
das situações os consumidores se adaptariam melhor à redução da oferta.
Justifica.

Os consumidores se adaptariam melhor na situação da procura elástica, porque o


grau em que o volume da procura e da oferta dependem de variações do preço.

2. Observa as Figuras 10.2. I e II. Explica porque razão será enganador abordar a
questão das elasticidades a partir da representação gráfica das curvas.

A elasticidade é enganadora porque qualquer deslocação da curva da oferta tem


efeitos muito diversos, que dependem da inclinação da curva da procura. Havendo
uma deslocação da curva da oferta para a esquerda, fica a existir um excesso do
volume da procura sobre o da oferta. Este excesso provoca uma subida de preço.

3. Explica porque razão a sensibilidade da oferta e da procura a variações de


preços não se deve medir com valores numéricos absolutos, sendo mais
elucidativo saber as percentagens de variação dos preços dos vários artigos.
Devemos observar as mudanças rais do volume da procura em resposta a uma
certa variação do preço. Isto pode ainda não ser suficiente para nos permitir
compaarar os graus de sensibilidade de produtos diferentes. A descida de 0.05
libras no preço provoca um grande aumento na procura de carne de vaca, ao
passo que igual descida tem apenas efeito sobre a procura de rádios. A redução
de 0.05 libras no preço é muito grande para um artigo barato e será insignificante
para um artigo de preço elevado. 4. Apresenta a definição formal de elasticidade
procura-preço.

5. Justifique o valor negativo da elasticidade procura-preço recordando a relação


da curva da procura.

6. Se os preços subirem, qual será o seu impacto sobre a procura no caso de a


elasticidade procura-preço ser:a) Perfeitamente rígida (e=0);b) Rígida (0 menor
e="1);d)" e="infinito).

7. Classifica a elasticidade procura-preço de curvas da procura com a


configuração de uma: a) recta vertical; b) recta horizontal; c) hipérbole.

28
8. Que interesse terá para uma empresa monopolista conhecer a elasticidade
procura-preço do seu mercado?

9. Distinga bens de luxo de artigos de primeira necessidade recorrendo à


elasticidade procura-preço.

10. Define elasticidade procura-rendimento.

11. Distingue bens normais de bens inferiores utilizando a elasticidade procura-


rendimento.

12. Interpreta o significado de a elasticidade procura-rendimento ser maior que


zero e menor que um.

13. Apresenta a definição de elasticidade cruzada.

14. Recorrendo à elasticidade cruzada, caracteriza:


a) bens substitutos (sucedâneos);
b) bens complementares;
c) bens independentes.

O equilíbrio no mercado de trabalho

Mercado de trabalho:
Para uma dada tecnologia e um dado stock de capital, isto é, para uma dada
função de produção, Y=F(N), a quantidade de trabalho que as empresas
pretendem empregar é aquela para a qual a produtividade marginal do trabalho
coincide com o salário real.

A procura de trabalho é, portanto, a função inversa da produtividade marginal do


trabalho.

A oferta coletiva de trabalho, NC, resulta das escolhas individuais entre consumo
e lazer, e também de fatores institucionais (influência dos sindicatos, das
associações empresariais e do governo).

O equilíbrio no mercado de trabalho determina imediatamente o salário real de


equilíbrio, w*, o emprego de equilíbrio, N*, e o produto de equilíbrio ou produto
natural, Y*=F(N*).

No longo prazo, o produto depende apenas da tecnologia e da oferta de trabalho.


Diz-se que depende apenas da oferta de bens e serviços (a curva AS de longo
prazo é vertical).

29
Os diferenciais de salário e Discriminação no mercado de trabalho

Um tema muito importante para quem está preocupado com a justiça social no
Brasil é o que trata das diferenças de salário entre homens, mulheres, brancos e
negros.

Com a divulgação dos novos dados da PNAD 2007, podemos fazer uma
atualização da situação dos diferentes grupos no mercado de trabalho e tentar
entender melhor o que está por trás das diferenças de remuneração entre eles.

A figura ao lado mostra a evolução do diferencial de cada grupo com relação aos
homens brancos, que recebem o maior salário. Pode-se perceber que as mulheres
brancas ganhavam o equivalente a 70% dos salários dos homens em 1987 e hoje
ganham cerca de 84%. Interessante notar que houve uma piora da situação deste
grupo entre 2002 e 2007. Já a situação dos homens negros e mulatos pouco
evoluiu neste período. Eles ganhavam 58% do salário dos homens brancos em
1987 e hoje em dia ganham 62%. A pior situação, mas que mostra a maior
evolução ao longo do tempo, é das mulheres negras e mulatas, que ganhavam
apenas 38% do salário dos homens brancos e hoje ganham 56%.

Mas o que poderia explicar diferenças tão grandes de remuneração no mercado


de trabalho? Esta é uma questão sempre delicada de ser abordada, por tratar-se
de tema controverso e que desperta muitas emoções. Mas vamos tentar analisá-la
da forma mais objetiva possível, utilizando dados e estudos recentes. As duas
explicações mais comuns para explicar estes diferenciais são: a existência de
discriminação no mercado de trabalho e as diferenças de produtividade entre os
grupos. As diferenças de produtividade, por sua vez, decorrem de diferenças nas
oportunidades de desenvolvimento ao longo da vida. Possíveis diferenças de
habilidade ao nascer foram sendo descartadas pelos estudos científicos mais
recentes, que mostram que tanto as habilidades cognitivas como as não-
cognitivas podem ser desenvolvidas ao longo da infância e que há mais diferenças
genéticas entre pessoas de uma mesma raça do que entre diferentes raças.

Mas é possível separar os efeitos da discriminação e das oportunidades? Sim,


pelo menos em parte. Em termos educação, por exemplo, os dados de 2007
mostram que as mulheres brancas que estão no mercado de trabalho têm quase 1
ano e meio a mais de estudo dos que os homens brancos (9,7 vs 8,3). Portanto,
se as diferenças de salário refletissem somente as diferenças de anos de estudo,
as mulheres brancas deveriam ganhar mais do que os homens, e não menos!
Assim, se levarmos em conta estas diferenças de escolaridade, as mulheres
brancas estão na verdade ganhando somente 73% dos salários dos homens
brancos. O que pode explicar esta diferença? Parte dela decorre de diferenças de
experiência no mercado de trabalho e parte das ocupações exercidas.

Nos Estados Unidos, após estas diferenças serem levadas em conta, sobra
apenas 6% de diferença salarial que poderia ser atribuída à discriminação. Mas,
em que medida é justo que as diferenças de experiência causem diferenças

30
salariais, uma vez que somente as mulheres podem ter filhos e que culturalmente
são elas as responsáveis por tomar conta deles na primeira infância? E em que
medida as diferenças de acesso às ocupações “nobres” também não refletem uma
forma de discriminação? São questões ainda em aberto.

Com relação às diferenças de salário entre brancos e negros, uma parcela


substancial pode ser explicada por diferenças na escolaridade. Os homens negros
ou pardos têm cerca de dois anos a menos de escolaridade que os homens
brancos. Após levarmos em conta esta diferença, os homens negros deveriam
ganhar cerca de 77% dos salários dos brancos, ao invés de 62%. Uma parcela
adicional desta diferença pode ser explicada pela qualidade de educação
recebida, uma vez que 80% das crianças negras e pardas estudam em escolas
públicas na 4ª-série, que tem uma qualidade de ensino inferior à das escolas
privadas. Somente 64% das crianças brancas estudam em escolas públicas.

Mesmo após levarmos em conta as diferenças no acesso à educação, resta um


componente importante de discriminação no mercado de trabalho, como mostram
muitos estudos recentes, inclusive experimentais.

O grupo mais penalizado no mercado de trabalho é sem dúvida o das mulheres


negras ou mulatas, que sofre duplamente. Este grupo tem quase a mesma
escolaridade que os homens brancos, mas recebe pouco mais da metade do
salário daqueles. Grande parte da redução do diferencial de salários nos últimos
20 anos refletiu o avanço educacional das mulheres negras. Mas ainda resta muito
a ser feito para melhorar as expectativas e as oportunidades dessas pessoas, se
quisermos que a sociedade brasileira seja mais justa.

Melhorar a qualidade da educação na escola pública, oferecer creche e pré-escola


para as famílias menos favorecidas e conscientizar a sociedade contra a
discriminação são passos importantes nesta direção.

Diferenciação compensatória

A política ou diferenciação compensatória, como diz o próprio nome, é uma


política que compensa o efeito de alguma outra coisa. Então essa é uma política
que atua sobre o efeito do problema e não sobre a causa. Eu não sou contra que
se dê sopa para quem está com fome, sou a favor, desde que isso seja uma
política temporária e não como a única política. Então quando você não ataca a
causa e só tem a política compensatória, você está na verdade aceitando o
sistema e se omitindo de quebrar, de resolver o problema da pessoa. Você está
apenas compensando, atenuando, aliviando a pobreza.

31
Capital Humano: educação e treinamento

A teoria do capital humano ganhou força a partir da década de 60


em virtude da preocupação cada vez maior com os problemas de crescimento
econômico e melhor distribuição de renda. De um lado, a melhoria do nível de
especialização dos trabalhadores, o aumento das habilitações (adquiridas por
treinamento) muitas vezes de proporções crescentes da população e maior
acumulação de conhecimento (sejam científicos, gerenciais, artísticos, etc.)
são reconhecidos como fatores importantíssimos para o crescimento
econômico; de outro, a alteração da distribuição de capital humano parece ser
o método preferido politicamente para a eliminação, tanto da pobreza quanto
dos grandes diferenciais de renda entre diferentes classes sociais.
O pressuposto central dessa teoria é o de que capital humano é
sempre algo produzido, isto é, algo que é o produto de decisões deliberadas de
investimento em educação ou em treinamento. Em todas as economias
modernas, o grau de educação possuído por um indivíduo correlaciona-se
positivamente com os rendimentos pessoais.
A teoria do capital humano afirma que "uma educação adicional
elevará os rendimentos futuros, e, neste sentido, a aquisição de edu-cação é
da natureza de um investimento privado em rendimentos futuros" (Blaug, 1971,
p.21). Assim, há uma nítida analogia entre a produtividade física do capital e a
educação, justificando-se o trata-mento analítico da educação como capital,
isto é, capital humano, posto que se torna parte da pessoa que a recebe.
A principal hipótese que está subjacente a este tratamento da
educação é a de que alguns aumentos importantes na renda nacional são uma
conseqüência de adições a esta forma de capital.. Ademais, a educação,
enquanto investimento, obedece a uma opção racional entre custos atuais e
renda futura, no contexto mais amplo da maximização dos retornos individuais
ou sociais. Logo, a distribuição da educação corresponde à distribuição das
preferências, a qual é considerada uma variável exogenamente determinada,
se bem que de alguma maneira influenciada pelo progressivo melhoramento
do padrão de vida.
Resumindo, o raciocínio da teoria do capital humano é o seguinte:
a) as pessoas se educam; b) a educação tem como principal efeito mudar suas
"habilidades" e conhecimentos; c) quanto mais uma pessoa estuda, maior sua
habilidade cognitiva e maior sua produtividade; e d) maior produtividade
permite que a pessoa perceba maiores rendas.
A partir de meados da década de 70, a despeito de sua
contribuição para a compreensão e desvendamento das causas do
crescimento moderno e para a questão da distribuição de renda, a teoria do
capital humano tem sido objeto de muitos criticas. Neste artigo abordamos dois
tipos de críticas feitas à teoria do capital humano: o primeiro, contempla
aquelas relacionadas com os conceitos adotados por esta teoria, sem contudo,

32
questionar a sua estrutura e o seu arcabouço teórico - a teoria neoclássica,
que postula que os salários são função da produtividade, havendo, portanto,
relação direta entre educação (que contribui para o aumento da produtividade)
e renda do trabalho. O segundo, comporta aquelas críticas referentes à
estrutura teórica do capital humano, e têm como referencial a teoria marxista.
I - Críticas pontuais
Este bloco engloba críticas referentes ao conceito de capital
humano e aos problemas de avaliação da educação, embora reconheça a
validade da tese defendida pela teoria do capital humano, isto é, maior
educação corresponde a maior renda.
Shaffer (1961) sustenta que é em geral desaconselhável tratar o
homem como capital humano, corroborando com aqueles que acreditam que é
moralmente errado aplicar-se os conceitos de investimento e de capital às
pessoas. Além disso, demonstra sua preocupação de utilização inadequada
desse conceito nas decisões políticas para o setor educacional.
O conceito de educação como investimento, defendido pela teoria
do capital humano, também é questionado. Quando é que as despesas com
educação se caracterizam como destinadas ao consumo e quando é que elas
se classificam como destinadas à produção de capacitações (investimento)?
Os críticos afirmam que é impossível proceder-se a tal distinção, e afirmam
que os custos educacionais são tão-somente despesas de consumo. Tal
assertiva baseia-se em dois fatos: o primeiro é o de que a maioria dos
estudantes freqüenta escolas públicas; o segundo, relaciona-se com a
obrigatoriedade da educação até uma certa idade.
Schultz, que defende os custos educacionais enquanto
investimento, rebate essa posição argumentando que estes fatos não são
relevantes para distinguir a natureza das despesas com educação pois:
(...) se a educação fosse integralmente gratuita, uma pessoa com
toda a probabilidade a consumiria até que estivesse saciada e "investiria" nela
até que não mais aumentasse os seus futuros ganhos. Se uma parte das
despesas educacionais fosse suportada pelos cofres públicos, os custos
privados diretos de educação seriam, sem dúvida, menos do que os custos
totais com a educação, e à medida que a educação incrementa os rendimentos
futuros do estudante, sua taxa privada de rendimento em relação ao que
gastara com a educação seria mais alta do que a taxa de rendimento em
relação aos gastos totais educacionais que entrassem nesta parte de sua
educação. Desta forma, os incentivos privados para consumir e para investir na
educação são afetados pelas despesas públicas educacionais, mas o fato de
haver tais despesas públicas não tem qualquer ressonância na questão de
saber-se se a educação é consumo ou produção de capacitações. (Schultz,
1973, p.56)

33
Embora Shaffer seja claro ao reconhecer os efeitos positivos da
educação sobre os futuros rendimentos dos estudantes, acredita que não
existe motivação econômica dos estudantes e dos seus pais para investirem
em educação. Estes, segundo Shaffer, são fortemente motivados como
consumidores habituais da educação e não tem motivação alguma como
investidores na educação.
Mas será que não haverá motivações econômicas de nenhuma
espécie no caso, por exemplo, de estudantes de medicina, direito, entre outros,
para investirem em cada uma dessas capacitações particulares, com vistas
aos incrementos nos seus rendimentos futuros? Para os seguidores da teoria
do capital humano, a perspectiva de rendimentos futuros de maior escala
desempenha uma forte motivação nessas situações. Ademais, Schultz afirma
que a decisão de estudar, seja na perspectiva de consumo seja de
investimento, é afetada pela quantia e natureza dos gastos públicos efetuados
com a educação. Portanto, qualquer tentativa de explicar o comportamento dos
agentes em relação a educação nos "leva para além da área convencional em
que se realizam os cálculos econômicos privados por parte das pessoas".
(Idem, p.57) .
Outro ponto relevante formulado por Shaffer diz respeito à
dificuldade de identificar e medir o aumento dos rendimentos que se associam
com educação, posto que este é influenciado também pelas diferenças em
capacidades inatas, raça, tipo de emprego e estrutura familiar.
Outra crítica refere-se à utilização política da teoria do capital
humano. Shaffer argumenta que o conhecimento acerca dos efeitos da
educação sobre os rendimentos futuros seria mal utilizado uma vez que as
decisões políticas acerca da educação privilegiariam o aspecto econômico, em
detrimento de importantes contribuições culturais da educação.
Especificamente, a apreensão dos críticos do capital humano é a de que a
sociedade acabasse por negar educação àqueles grupos sociais cujo
investimento educacional apresentasse menor taxa de retorno, como o caso de
mulheres, negros, etc., quando a direção cor-reta seria a de aumentar os
gastos de educação voltados para atender esses grupos.
Esta apreensão é rebatida pelos adeptos da teoria do capital
humano com os seguintes argumentos : em primeiro lugar, os estudos que
mostram que o retorno da educação, em termos de rendimentos do trabalho, é
maior para os brancos que para os negros, apresentam deficiências
metodológicas - baseiam-se em médias nacionais, não fazem quaisquer
ajustamentos para os efeitos do tamanho da cidade, para as diferentes taxas
de desemprego, para a qualidade da educação, discriminação racial, entre
outros. Em segundo lugar, os rendimentos futuros proporcionados pela
educação não devem ser a base exclusiva para a alocação de recursos
públicos. Por fim, é absolutamente adequado que as pessoas, ao tomar sua
decisão de investir na educação, levem em consideração suas contribuições
culturais e seu impacto sobre os rendimentos futuros.

34
As proposições em que Wiseman fundamenta sua critica baseiam-
se no corpo teórico tradicional da ciência econômica e na concepção
humanista de que a economia não pode repousar-se na visão em que a vida é
considerada como um balanço comercial e, assim, ser valorada apenas a partir
do binômio carência-satisfação, "porque nós, na verdade, não tomamos as
nossas necessidades como algo final.... O homem, num sentido real, cria os
valores" (1965, p.5).
Wiseman também afirma que as capacitações técnicas adquiridas
que aumentam os futuros rendimentos pessoais não têm quaisquer
significações financeiras à medida em que a educação muda as atitudes, os
padrões de expectativas e de preferências. Portanto, Wisemam se preocupa
fundamentalmente com o problema da avaliação implícita da educação e de
suas conseqüências, o que, certamente, está ausente no ambiente analítico
dos teóricos do capital humano.
O tratamento dado por Wiseman ao problema da avaliação da
educação é falho e não fornece qualquer elemento que demonstre o impacto
da mudança de atitudes e hábitos gerados pela educação no bem-estar dos
indivíduos, por exemplo: qual a importância de se transformar beatlemaníacos
em amantes da música de Bach?
Além disso, a assertiva de que maior nível educacional não tem
significação financeira, não se sustenta quando colocada sob uma prova
empírica. Por exemplo, quando o mercado de capitais fornece empréstimos
pessoais faz nitidamente a distinção entre médicos, advogados e engenheiros
com boas situações de emprego, por um lado, e trabalhadores braçais, com
baixa escolaridade, sem qualificações com os seus empregos, por outro.
Michael Lynch (1967) mostrou que o quantitativo financeiro legalmente
adjudicado nos seguros de vida é ordenado em função dos rendimentos atuais
do segurado e da perspectiva de elevação dos rendimentos pessoais.
II - CRÍTICA MARXISTA
A teoria do capital humano incorporou fundamentais insights não
aproveitados pelas versões iniciais da teoria neoclássica, afirmam os
marxistas. Em primeiro lugar, retomou a tradição Ricardiana de tratar o
trabalho como um produto do meio de produção. Em segundo lugar, rejeitou a
simplista assunção de trabalho homogêneo e concentrou sua atenção na
diferenciação da força de trabalho. Em terceiro lugar, trouxe para o interior da
análise econômica as instituições sociais básicas (como a educação e a
família), preliminarmente relegadas para a esfera cultural.
Além disso, o trabalho desaparece como categoria analítica
fundamental, e é absorvido no interior do conceito de capital, o qual vem
adornar o título da especial característica do trabalhador. Assim, para os
marxistas a teoria do capital humano é um passo certo para a eliminação de
classe social como conceito econômico.

35
A teoria neoclássica tem-se movido no sentido de atribuir o
controle dos fatores de produção para determinados grupos e de considerar a
livre mobilidade dos fatores de produção e, que a remuneração é função da
produtividade.
Esses pressupostos neoclássicos, segundo Bowles e Gintis (1975),
têm induzido a teoria do capital humano a erros substanciais, tanto no que diz
respeito à pesquisa empírica quanto como guia para as políticas públicas. As
credenciais educacionais têm uma importante função, mas o sistema escolar
não pode ser reduzido a uma atividade economicamente relevante para
seleção e qualificação de mão-de-obra, afirmam os marxistas.
Para os marxistas, as habilidades estão relacionadas e são
determinadas pelas condições de existência humana. Ademais, a teoria do
capital humano, ao restringir sua análise em preferências individuais definidas
exogenamente, em habilidades individuais e em alternativas de produção
tecnológica, formalmente, excluiu a relevância do conceito de classe social e
de conflito de classe para explicar o fenômeno do mercado de trabalho.
O capitalismo é um sistema no qual o meio de produção é
propriedade de uma pequena minoria. A massa de indivíduos que não detém o
controle dos recursos produtivos, é forçada a vender sua força de trabalho para
sobreviver. Educação, treinamento profissional, saúde, desempenham duas
funções econômicas: têm um papel importante, ainda que indireto, na
produção e são essenciais para a perpetuação da ordem econômica e social.
Esse processo não pode ser compreendido sem a referência aos
requerimentos sociais necessários para a reprodução da estrutura de classe
vigente no capitalismo. Assim, uma adequada teoria de recursos humanos
deveria abranger tanto a teoria de produção como a de reprodução social.
A teoria do capital humano não contempla uma teoria de
reprodução e grande parte da teoria da produção apresentada abstrai-se da
relação social de produção em favor da relação tecnológica. A abordagem
falha das relações sociais impede um aprofundamento da teoria da
reprodução, resultando em um tratamento deficiente da demanda por capital
humano pelas firmas, da oferta de capital humano, e da interpretação teórica
das taxas de retorno do capital humano.
Os marxistas rejeitam a noção neoclássica da firma como uma
"caixa preta" em cujo interior o trabalho é o principal interesse. A firma tem
uma dimensão sócio- política, posto que, por um lado temos a transformação
de matérias primas em produtos e por outro a trans-missão de habilidades e
tipos de conhecimento de um trabalhador para outro, alterando habilidades e
conhecimentos.
O tratamento neoclássico das alterações na remuneração do
trabalho com base em mudanças no mercado, ou seja, exógenas à firma,
conduz a um grave erro ao abstrair um elemento essencial da organização
capitalista: o poder do capitalista sobre o trabalhador.

36
Para os marxistas, a performance produtiva da força de trabalho
não é decorrente do seu nível de escolaridade, e sim das condições
tecnológicas e da organização do processo de produção.
A organização social da produção, por sua vez, reflete em larga
medida o interesse do capitalista em incentivar e controlar os mecanismos
através dos quais extrai o máximo de trabalho dos trabalhadores com o mais
baixo salário possível, e em prevenir a formação de coalizões de trabalhadores
que podem opor-se ao seu poder.
Os mecanismos naturalmente adotados pelo capitalista para
incentivar o processo de produção e para controlar os tipos potenciais de
organização dos trabalhadores dependem do seu domínio e controle da
estrutura da empresa.
Assim, os atributos dos trabalhadores que são avaliados pelo
capitalista e que se constituem no seu "capital humano", não se restringem às
suas habilidades técnicas e abstratas capacidades produtivas, como defendem
os teóricos do capital humano. Em particular, os atributos como raça, sexo,
idade, etnia, e credenciais formais, freqüentemente considerados como
irrelevantes pelos defensores do capital humano, são, de fato, as variáveis
determinantes no processo de seleção de trabalhadores pelos capitalistas, as
quais são utilizadas para fragmentar a força de trabalho e reduzir a formação
de coalizão potencial entre trabalhadores.
A decisão de contratação de trabalhadores, a definição da
estrutura de remuneração e de produtividade do trabalhador não podem ser
derivadas do mercado mediante a combinação de habilidades no uso das
técnicas definidas e requeridas pela produção. São, segundo os marxistas,
derivadas da disputa de distribuição de poder entre as classes.
De acordo com a teoria do capital humano, os indivíduos
manifestam uma particular subjetividade para avaliar suas preferências no
tocante a escolha de uma profissão, e o fazem a partir de uma avaliação dos
seus retornos pecuniários e dos requerimentos de escolarização. A partir
dessa avaliação os indivíduos decidem se vão investir em seu
desenvolvimento pessoal.
Nessa perspectiva, a oferta de capital humano é a simples
agregação de decisões racionais e a demanda por serviços educacionais é
derivada da demanda individual por capital humano. Os ser-viços
educacionais, por sua vez, tratam o trabalho como "produzido pelos meios de
produção", e o estágio de desenvolvimento da educação é produto das
escolhas individuais, as quais são influenciadas pela tecnologia de produção e
pela oferta de recursos. Além disso, a decisão de investimento no
desenvolvimento pessoal, é descrita como produto de escolha individual ou
familiar, limitado apenas por algumas habilidades, como o acesso ao ensino
tecnológico e a disponibilidade de recursos financeiros.

37
Não há dúvidas que a educação é em parte organizada para
produzir trabalhadores treinados para atender a demanda dos empregadores.
De fato, há fortes evidências de que a escola produz os trabalhadores mais
preparados para a estrutura de produção capitalista.
Entretanto, o sistema educacional, segundo Bowles e Gintis
(1975), pode realizar muito mais que produzir capital humano, que impede o
desenvolvimento de consciência de classe, e legitima a desigualdade
econômica ao permitir e ter como objetivo o mecanismo meritocrático de
referendar a posição ocupacional de um indivíduo.
Portanto, os marxistas rejeitam a utilização do modelo de escolhas
individuais como a base para a teoria da oferta de serviços educacionais. Não
pelo fato de que os indivíduos e familiares não sabem fazer escolhas
educacionais adequadas, como afirma a teoria do capital humano. Mas, sim
pelo fato de este modelo ser superficial e insuficiente para responder à questão
central que deve nortear a oferta dos serviços educacionais: Qual o tipo de
escolas que queremos? E qual a quantidade de escolarização que queremos?
Além dessas críticas, os marxistas apresentam duas outras razões
para a oferta educacional não se basear nos retornos e custos do capital
humano. Em primeiro lugar, as habilidades, que determinam a
heterogeneidade da força de trabalho, não podem ser tratadas a partir de um
enfoque exclusivamente econômico. Não é adequado reduzi-las a uma simples
mensuração de "capital humano". As diferentes habilidades e heterogeneidade
da força de trabalho decorrem dos traços familiares, da raça, sexo, do
processo de ensino, do curriculum, enfim das relações de produção nas quais
o indivíduo está inserido.
Em segundo lugar, a justificativa para o uso da expressão "capital
humano" está relacionado com o fato de que habilidade é um pré-requisito para
um futuro melhor. Este conceito de capital, oriundo da tradição clássica,
engloba dois aspectos: a exigência do futuro melhor e a propriedade e controle
sobre os meios de produção. Nesta perspectiva, todo trabalhador é agora um
capitalista. Educação, neste contexto, não pode ser chamada de capital, posto
que não proporciona aos trabalhadores educados nenhum controle sobre os
meios de produção, muito pelo contrário, estes são destituídos de qualquer
propriedade.
Por que a taxa de retorno do investimento em educação é positiva?
Quais são as explicações do modelo de taxa de retorno? A teoria do capital
humano fornece uma explicação superficial para estas questões, utilizando-se
de aspectos da oferta e da demanda por mão-de-obra. Na tentativa de
aprofundar sua análise adota alguns pressupostos, tais como: a escolarização
aumenta a produtividade do trabalhador ao incrementar suas capacidades
natas e ao ensinar diferentes habilidades.
A conclusão de diversos estudos realizados tanto por sociólogos,
como por economistas, pedagogos, entre outros pesquisadores, é a de que a

38
forte correlação positiva entre renda e educação independe do aumento de
habilidade cognitiva dos estudantes, que, supostamente, é o que as escolas
produzem. Assim, estaria quebrado o elo da cadeia de raciocínio da teoria do
capital humano, e deflagrado o debate entre os pesquisadores acerca do que
as escolas produzem (além de habilidade cognitiva) que tende a influir
positivamente nos rendimentos futuros dos estudantes. Daí surgem teorias que
afirmam que as escolas produzem ou credenciais, ou um certo tipo de socia-
lização ou uma espécie de sinal (de persistência, determinação, etc.).
Passamos, em seguida, a considerar rapidamente algumas dessas
teorias.
A teoria da socialização afirma que algumas pessoas são
socializadas, sobretudo na escola, para virem a ser trabalhadores que se
comportem com um alto grau de conformismo, que estejam dispostas a
sempre aceitar e cumprir ordens, que cheguem com pontualidade ao trabalho,
que saibam quando falar e quando calar, etc. Em contraste, outras pessoas
são educadas para tomar decisões, ser bastante independentes e criativas,
sempre ponderar diferentes alternativas quando diante de um problema, etc.
Assim, as escolas seriam mais uma espécie de agência de
socialização – preparando as pessoas de diferentes origens para o
desempenho de distintos papéis na vida – do que um lugar onde se
desenvolveriam as habilidades cognitivas dos estudantes. Isso leva os adeptos
da teoria da socialização a concluir que as variáveis não cognitivas associadas
à experiência escolar de cada um são mais importantes que os fatores
cognitivos, ou ligados a " habilidade", que o sistema educacional supostamente
teria a finalidade de produzir.
Ainda, outro ponto de vista, defendido principalmente por
sociólogos, afirma - na sua versão mais radical – que as escolas não servem
para nada além de fornecer credenciais. Esta posição, rotulada de
"credencialista", defende que as escolas oferecem credenciais que tornam
mais simples a tarefa dos empregadores na seleção de seus empregados.
Vale a pena distinguir dois grupos principais dentro dessa corrente:
a. aqueles que dizem que a única função das escolas é
"selecionar" estudantes de acordo com o background familiar, status
sócio-econômico e outras características individuais, sem que nenhuma
socialização ocorra. Além disso, o sistema educacional reforçaria as
características originais dos estudantes, tornando a tarefa de estratificá-
los por grupos ainda mais fácil.
b. Outros afirmam que as escolas não só " selecionam"
mas também socializam. O estudante seria escolhido de acordo com
seu background, características familiares, etc., e na escola adquiriria
alguma experiência e seria socializado para certo tipo de atividade
futura. Experiência e socialização seriam determinadas em função das
características

39
Os marxistas reconhecem que o aumento da escolarização da
força de trabalho contribui para aumentar a sua produtividade, mas não pelo
fato de proporcionar maior habilidade ao trabalhador, mas sim devido ao fato
de:
1. fornecer credenciais que facilitam a supervisão
autoritária, ou seja, a escola molda o indivíduo para a disciplina,
perseverança, respeito à estrutura hierárquica, entre outros, que tornam
o indivíduo que estudou preparado para se submeter às normas de
conduta e comportamento exigidos pela empresa capitalista;
2. a escolarização aumenta o leque de opções do
empregador para a escolha de seus empregados, oportunizando a este
(empregador) adotar critérios de seleção que leve em conta o aspecto
motivacional que mais se aproxima da estrutura e mecanismos de
incentivo da empresa;
3. o indivíduo com maior grau de escolaridade, ao
receber melhor nível de remuneração, acaba gerando uma
segmentação de trabalhadores segundo renda e status, que impede a
formação de coalizões de trabalhadores contra o poder do capitalista.
Em resumo, as críticas dos marxistas à teoria do capital humano
podem ser agrupadas em três áreas: contabilidade do desenvolvimento,
distribuição de renda e políticas públicas.
Em relação à contabilização do desenvolvimento, cabe destacar o
seguinte argumento dos marxistas: para a teoria do capital humano todos os
fatores podem contribuir para o crescimento econômico, e, uma vez superados
os problemas tecnológicos, esta contribuição pode ser numericamente
mensurada . Assim, as pesquisas baseadas na teoria do capital humano
defendem que é possível determinar a contribuição exata dos investimentos
em recursos humanos para o crescimento.
Os marxistas questionam este procedimento argumentando que é
mister explicitar como as variações no nível de investimento afetam o nível de
outputs e as taxas de crescimento, mas também como a estrutura de formação
do capital humano afeta a relação social de produção e a evolução das
relações de classe.
A educação pode contribuir positiva ou negativamente para o
crescimento econômico, dependendo do que se considera como qualidade do
trabalhador: se é uma função dependente da extensão e reprodução do
sistema de remuneração do trabalho, isto é, função de sua produtividade; ou é
a sua capacidade para alterar a taxa de acumulação de capital. A medida que
o aumento da escolarização pode levar a maior consciência de classe e
fortalecer a organização de trabalhadores, a sua contribuição para o
crescimento capitalista pode resultar em balanço negativo.

40
A análise da teoria do capital humano sobre a distribuição de renda
tem como pressuposto que renda representa o retorno das habilidades que o
indivíduo detém. A desigualdade de renda pessoal ou familiar pode ser
calculada a partir da decomposição dos retornos dos fatores. Assim, é possível
mensurar alteração na distribuição de renda, a partir de mudanças na dotação
de educação, por exemplo.
Os marxistas consideram esta metodologia bastante débil. Em
primeiro lugar pelo fato de que os teóricos do capital humano tratam a
distribuição de renda como sendo determinada apenas pelas condições da
oferta de mão-de-obra.; as condições da demanda são tratadas com elevado
grau de abstração e de maneira imprópria. Em segundo lugar, ignora os
aspectos macroeconômicos, referentes à estrutura de mercado, mudança
tecnológica, dualismo econômico, e outros aspectos centrais para a
compreensão da distribuição de renda. Por último, e o mais grave, é o
pressuposto ingênuo de que o processo de exploração é tratado como
categoria regular e normal.
Para os teóricos do capital humano a desigualdade de renda é
decorrente das diferenças de recursos humanos Os marxistas contra-
argumentam afirmando que a diferença de recursos humanos facilita a escolha
de indivíduos para assumirem determinadas posições de destaque econômico,
mas, não determina a estrutura da distribuição de renda, que é determinada
pelas características estruturais da economia capitalista.
Além disso, os teóricos do capital humano não levaram em conta,
no seu modelo de relação entre educação e distribuição de renda, um aspecto
central relativo ao papel e função do sistema escolar na legitimação das
desigualdades econômicas.
Assim, é ilógico supor que redução nas desigualdades de
distribuição de educação leve rapidamente à redução nas desigualdades de
renda. Mudanças na distribuição de recursos humanos certamente estão mais
bem associadas com mudanças no processo de ensino, e não com relação
entre anos de escolaridade e renda individual. Sem dúvida, que melhor
equalização da educação reduz a desigualdade econômica, mas, não
diretamente, e sim de forma indireta, ao contribuir para que os indivíduos
passem a questionar a legitimidade da desigualdade, ou seja ganhar
consciência de classe e se organizar, impulsionando, dessa forma a
reorganização econômica das empresas de modo a contemplar mecanismos
voltados para administrar os conflitos de classe.
Quanto à questão de alocação dos recursos públicos, os marxistas
consideram a contribuição da teoria do capital humano extremamente
perversa, particularmente, quando aplicada à educação.
Os pressupostos da teoria do capital humano abarcam e reforçam
um dos muitos defeitos do processo de análise dos gastos públicos: a análise
custo/benefício, que considera as preferências dos indivíduos como sendo

41
determinadas exogenamente e que o sistema educacional per si é a instituição
aparelhada para alterar as preferências e o destino econômico dos indivíduos.
Os retornos econômicos da educação com base na tradicional
análise de custo/benefício possui pouca lógica e força convincente, posto que
não considera impactos de outros aspectos relevantes da vida do indivíduo,
tais como, personalidade, consciência de classe, status familiar, etc.
O uso do conceito de capital humano propicia uma visão parcial da
produção e reprodução social que ocorre no processo de educação. Por
exemplo, a natureza repressiva da escola, com pouca contribuição para o
desenvolvimento da consciência humana, é parte integrante da produção de
uma força de trabalho disciplinada e está diretamente relacionada com a
reprodução social. A perpetuação do preconceito racial, sexual e o elitismo das
escolas não podem ser considerados como uma condução exemplar ou neutra
como afirmam os teóricos do capital humano.
Para os marxistas, a teoria do capital humano, baseada no
arcabouço teórico da economia neoclássica, ao adotar como fatores
explicativos da miséria e da pobreza as preferências e habilidades do
indivíduo, acaba por ser um forte defensora da manutenção do status quo e da
exclusão social.
Finalizando, apresentamos um sumário do que se discutiu neste
trabalho, acompanhado de alguns comentários relacionados ao assunto, mas
que não se constituem necessariamente em conclusões deste artigo.
Preocupamo-nos em resenhar, de forma breve, a literatura do
capital humano, listando várias objeções que se lhe fazem. Não o fize-mos,
porém, com a intenção de sermos exaustivos, mas antes com a intenção de
alcançarmos um objetivo duplo: limitamo-nos àquelas relacionadas aos
conceitos de capital humano e avaliação da decisão de investimento em
educação, mas que preservam a estrutura neo-clássica sobre a qual a teoria
do capital humano foi construída e, ao mesmo tempo, mostramos o caminho
percorrido pelos marxistas na sua crítica à teoria do capital humano.
Assim, para citarmos apenas alguns exemplos de crítica, atacou-se
a suposta relação entre decisões deliberadas de investimento em capital
humano, produtividade e rendimentos; criticou-se o uso da taxa de retorno a
investimentos em autovalorização do indivíduo, seja por falhas no modelo, seja
pela discutível relevância desse conceito para a tomada de decisões com
relação a investimento em educação; apontou-se o fato de que a interação
entre educação e status sócio-econômico é muito grande; considerou-se os
argumentos que mostram que a escola não gera meramente um produto
cognitivo, mas, também, e talvez principalmente, diferentes tipos de
socialização e credenciais que influenciam decisivamente os rendimentos
futuros dos estudantes; ademais as escolas não só selecionam como também
filtram estudantes de acordo com o seu background familiar, status econômico
e outras características pessoais, como também conferem, "sinais" que são

42
úteis para a tarefa dos empregadores, no mercado de trabalho, ao
selecionarem, promoverem e despedirem empregados.
A teoria do capital humano, ao considerar apenas as carac-
terísticas da oferta de mão-de-obra, especialmente, os "defeitos dos
trabalhadores", normalmente sugere políticas que não exigem nem mudanças
estruturais nem esforços de financiamento que recaiam com mais peso em
algum dado segmento da sociedade, tais como – mais educação, mais
escolas, mais programas de treinamento e aperfeiçoamento da mão-de-obra.
Além disso, contam com o apoio adicional devido ao fácil consenso que se
pode conseguir em torno da idéia de que "educação é bom" e de que
"educação é o mais eficaz instrumento de mobilidade social ascendente".
De outro lado, temos as teorias de base marxista (teoria da
segmentação, credencialista, sinalização, etc.) que apesar de não negar expli-
citamente a importância da educação como meio de ascender-se socialmente,
desmistificam o poder das políticas parciais, que só afetam a oferta de vagas
nas escolas e a quantidade de treinamento oferecido, mostrando a
necessidade de se considerar todo o sistema econômico, apontando,
particularmente, para o fato de que os salários têm mais a ver com os tipos de
empregos a que se tem acesso – e com as formas de organização do trabalho
nas fábricas – que com as características do trabalhador. Daí, as proposições
de política dessa teoria terem que atacar as barreiras concretas à mobilidade
ocupacional e as formas de organização do trabalho que separam, às vezes
por mais de uma geração, aqueles que tem acesso aos bons e maus
empregos, tais como: acesso diferenciado ao crédito, à educação de níveis
mais altos, às conquistas sociais do tipo habitação, estabilidade no trabalho,
seguro-desemprego, participação nos lucros e na gestão das empresas,
previdência social em geral, etc. Assim, as políticas derivadas da teoria
marxista no âmbito da distribuição de renda afetam estruturas que as
orientações da teoria do capital humano – baseadas na idéia da equalização
das oportunidades educacionais – nem de longe arranham.

Segmentação no mercado de trabalho

Las Casas (1993), afirma que para satisfazer as necessidades de um individuo, o


trabalho é mais fácil, pois o produto será adaptado a algumas necessidades
especificas. Já para a produção em massa que atingi milhões de consumidores o
trabalho é mais difícil. Por essa razão a segmentação de mercado pode ajudar as
organizações a desenvolver e comercializar produtos que se aproximem a
satisfação do mercado-alvo (target). A empresa poderá atender melhor uma fatia
de mercado na qual possa oferecer um produto mais especifico e que se
assemelhe a aquilo que o consumidor quer e deseja, ao contrario da concorrência
que faz um produto para atender a todo o grupo.

Já Facape (2007), segmentação de mercado é a divisão do todo em pequenos


grupos de mercado. Segmentar é dar enfoque, identificar e servir ao mercado

43
escolhido. Facape (2007), ainda divide a segmentação de mercado em:
Segmentação Geográfica (países, estados, cidades, bairros, ruas); Segmentação
Demográfica (idade, sexo, tamanho da família); Segmentação Psicográfica (classe
social, etilo de vida, personalidade); Segmentação Por Conduta (conhecimento,
atitudes, costumes); Segmentação Por Volume (pequenos, médios e grandes) e
Segmentação Por MIX de Marketing (mercados que respondem aos diferentes
fatores de marketing, como preço, praça, propaganda ou tipo de produto).

Para o Professor e Doutor Dornelas (2007) do site Plano de Negócios, “o


mercado-alvo não é aquele que você gostaria: é aquele que pode consumir o seu
produto”. Para se conhecer o mercado em questão é preciso obter informações
tanto qualitativas como quantitativas. Para um aprofundamento melhor é
necessário responder a três perguntas: Quem está Comprando? O que está
Comprando? e Porque está Comprando?.

COMO DEFINIR O MERCADO

Ries e Trout (1986), a empresa deve encontrar um mercado bastante pequeno


que possa defender. Isso pode ser geograficamente pequeno, em volume ou outro
aspecto difícil para uma grande empresa atacar. A empresa de “guerrilha” (como
define os autores), não modifica uma “guerra de marketing”, onde a empresa
grande bate à pequena, porem reduz o campo de batalha para obter uma
superioridade de forças, ou seja, “tenta tornar-se um peixe grande em um
pequeno açude”.

Dornelas (2007), explica que um segmento de mercado possui indivíduos que tem
a mesma necessidade comum. Ao agrupar esses indivíduos (clientes), fica mais
fácil satisfazer suas necessidades.

QUEM ESTÁ COMPRANDO?

Dornelas (2007) explica que é preciso conhecer os hábitos e como vivem os


clientes que compram seu produto. Em que lugar eles vivem (estados, cidades,
bairros), qual o clima da região, suas idades, estilo de vida, seus pensamentos
quanto ao meio ambiente e responsabilidade social, se participam de clubes, o
que pensam sobre política, economia. Todas essas questões servem para definir
se esse determinado grupo de indivíduos poderá ser cliente da empresa, ou a
empresa adaptará seu produto e todo o MIX de Marketing ao estilo de vida desses
consumidores para assim atendê-los.

O QUE ESTÁ COMPRANDO?

Dornelas (2007), também explica que as empresa podem segmentar o mercado


em relação ao o que seu cliente compra e depois modificar o MIX de Marketing do
produto como a seguir: Características do Produto (tudo que envolve o produto, a
freqüência que é comprado, a habilidade do cliente em usar o produto, o que

44
fazem com o produto); Embalagem (a embalagem vai alem das caixas de papel ou
plástico, engloba também a propaganda, promoções e pós-venda); Preço
(diferentes segmentos estão dispostos a pagar preços diferentes por produtos e
obter certo nível de qualidade, outras vantagem como acordo de troca da
mercadoria também influenciam na compra); Praça (onde e como o cliente
encontrará o produto, pode ser em grandes lojas atingindo grande quantidade de
cliente ou em lojas de bairro com um publico mais restrito, alem de lojas on-line).

POR QUE ESTÁ COMPRANDO?

Dornelas (2007) conclui que para satisfazer plenamente seu cliente, a organização
deve saber exatamente o que seu cliente está procurando, o que eles consideram
importante, o que os motiva a comprar determinadas marcas e outras não, que
critérios usam na hora de escolher um produto. Respondendo essas perguntas a
empresa encontrará o melhor ponto de vista sobre o produto, podendo realizar
mudanças se necessário.

POTENCIAL E DEMANDA DE MERCADO

Depois de determinado o segmento de mercado em que a empresa atuará Las


Casas (1993), determina que deva ser realizada uma análise do potencial e
possibilidades de vendas (demanda). O potencial de mercado é capacidade que o
mercado tem para absorver o produto em uma situação econômica, esse potencial
deverá ser determinado pela empresa. A demanda é o volume total de produto
que o mercado está absorvendo, ou seja, é todo o esforço da empresa para a
venda dos produtos. A empresa também deverá calcular a sua participação de
mercado e a partir desse dado calcular o investimento que será realizado no MIX
de Marketing, principalmente em Propaganda.

Levando em conta suas condições operacionais, a empresa determinará seu


potencial de produção, para evitar vender mais do que possa produzir. A partir de
todos esses dados finalmente o departamento de Marketing poderá elabora uma
previsão de vendas, e a viabilidade e retorno da estratégia do MIX de Marketing,
no segmento escolhido.

No mercado de consumo atual, onde o tempo se torna escasso e as pessoas


estão cada vez mais individualistas, procurando sempre produtos que satisfaçam
suas necessidades, a Segmentação de Mercado torna-se mais necessária para o
crescimento de qualquer organização. O profissional de marketing necessita de
atenção na hora de desenvolver o Planejamento de Marketing (MIX de Marketing),
levando em conta todo individualismo da segmentação. Traçar metas e previsões
realistas e objetivas, para a equipe de vendas, trará bons resultados para a
organização.

45
Desemprego. A taxa natural de desemprego. Tipos de desemprego e suas
causas.

Desemprego é a medida da parcela da força de trabalho disponível que se


encontra sem emprego. Esse fenômeno social é observado principalmente em
países subdesenvolvidos cujas economias não conseguem suprir o crescimento
populacional. Um agravante é a crescente mecanização e informatização dos
processos de trabalho, acabando com cargos que antes eram desempenhados
por pessoas sem instrução/qualificação e, agora, por exigirem conhecimento e
formação, acabam excluindo muitos trabalhadores do mercado.

TAXA NATURAL DE DESEMPREGO: nome dado pelos monetaristas à parcela


de trabalhadores permanentemente desempregados, que sempre existiram nas
sociedades capitalistas (no socialismo não há desemprego), os quais, por
questões de sobrevivência, acabam por se transformar em marginais. Marx
chamou-os de "Exército Industrial de Reserva". Como se constituem em uma
oferta de mão-de-obra maior que a procura, acabam agindo no sentido de
pressionar para baixo o salário dos que se encontram empregados.

O desemprego natural, é a taxa para a qual uma economia caminha no longo


prazo, sendo compativel com o estado de equilíbrio de pleno emprego e com a
ausência de inflação. Nessa situação, há um número de trabalhadores sem
emprego, mas a oferta e a demanda por emprego estão em equilíbrio.

Desemprego estrutural

O desemprego estrutural é uma forma de desemprego natural. Neste caso existe


um desequilíbrio permanente entre a oferta e a procura (de trabalhadores), que
não é eliminado pela variação dos salários.

Resulta das mudanças da estrutura da economia. Estas provocam


desajustamentos no emprego da mão-de-obra, assim como alterações na
composição da economia associada ao desenvolvimento. A teoria econômica
apresenta duas causas para este tipo de desemprego: insuficiência da procura de
bens e de serviços e insuficiência de investimento em torno da combinação de
factores produtivos desfavoravéis.

Esse tipo de desemprego é mais comum em países desenvolvidos devido à


grande mecanização das indústrias, reduzindo os postos de trabalho.

O desemprego causado pelas novas tecnologias - como a robótica e a informática


- recebe o nome de desemprego tecnológico. Ele não é resultado de uma crise
econômica, e sim das novas formas de organização do trabalho e da produção.
Tanto os países ricos quanto os pobres são afetados pelo desemprego estrutural,
que é um dos mais graves problemas de nossos dias.

46
O crescimento econômico, ou melhor, a ausência dele, tem sido apontado como o
principal fator para os altos níveis de desemprego no Brasil. Naturalmente, se
conseguíssemos manter altas taxas de crescimento econômico, o país sanearia o
problema do desemprego conjuntural. Contudo, o desemprego estrutural, aquele
em que a vaga do trabalhador foi substituída por máquinas ou processos
produtivos mais modernos, não se resolve apenas pelo crescimento econômico.
Aquele trabalho executado por dezenas de trabalhadores até o início dos anos 80
agora só necessita de um operador, ou, em outras palavras, dezenas de
empregos transformaram-se em apenas um. É claro que se a economia estiver
aquecida será mais fácil para estes trabalhadores encontrarem outros postos de
trabalho. É comum associar o desemprego estrutural ao setor industrial. Este setor
deixa mais evidente a perda de postos de trabalho para máquinas ou novos
processos de produção, porém isto ocorre também na agricultura e no setor de
prestação de serviços. Em muitos lugares, inclusive no Brasil, culpa-se a
tecnologia, que estaria roubando empregos e condenando os trabalhadores à
indigência. Não há dúvida de que a tecnologia participa do processo, mas é um
equívoco condená-la como a vilã do desemprego estrutural. A invenção do tear
mecânico, da máquina a vapor ou do arado de ferro foram marcos que resultaram
em um aumento significativo da produtividade e conseqüente redução de custos,
permitindo a entrada de um enorme contingente de excluídos no mercado
consumidor. Da mesma forma que sentimos hoje, o emprego sofreu impacto
destes inventos há 150 anos atrás.

Desemprego conjuntural

Existem duas formas de designar o desemprego conjuntural, sendo que ambas


estão conectas, desemprego cíclico ou conjuntural. Este resulta da variação
cíclica da vida econômica, isto é, das épocas de expansão e das épocas de
recessão da economia. Existe uma tendência secular de variações sazonais ou
cíclicas que têm uma duração de 3 anos.

É aquele em que a demissão é ocasionada, na maioria das vezes, por crises


passageiras. Portanto a demissão é temporária, uma vez que, superada a crise, o
emprego é novamente ofertado.

Desemprego friccional

O desemprego friccional resulta da mobilidade da mão-de-obra e pode ser


componente do desemprego natural. Ocorre durante o período de tempo em que
um ou mais indivíduos se desempregam de um trabalho para procurar outro.
Também poderá ocorrer quando se atravessa um período de transição, de um
trabalho para outro, dentro da mesma área, como acontece na construção civil. A
partir da modernidade, a tecnologia passou a ser um dos principais componentes
causadores do desemprego friccional, pois máquinas passaram a realizar
trabalhos antes feitos pelo homem, o que forçou uma mudança na atividade
produtiva do trabalhador.

47
Salário eficiência e modelos de procura de emprego.

Modelos de salário eficiência incorporam a idéia de que as empresas obteriam


melhores resultados econômicos ao pagarem, a seus funcionários, salários
superiores aos estabelecidos pelo mercado (market clearing wage). Vários são os
argumentos teóricos que justificam o pagamento de salário eficiência. Neste
artigo estaremos exclusivamente interessados na versão de salário eficiência
cujo objetivo é a extração de maior intensidade de esforço dos trabalhadores. Tal
versão de salário eficiência é conhecida na literatura como shirking model ou
labor discipline model.

Os trabalhos teóricos mais importantes sobre a versão shirking da teoria de


salário eficiência são Shapiro e Stiglitz (1984), Bowles (1985) e Bulow e
Summers (1986). Um ponto em comum em todos estes artigos é o de formalizar
as relações de trabalho entre empregados e empregadores como um problema de
agente (empregados) e principal (empregadores). O problema de agente-principal
surge por conta de assimetria de informação entre as partes envolvidas.

No caso especıfico das relações de trabalho, o problema de informação


assimétrica surge por conta da impossibilidade, por parte do empregador, de obter
informação completa sobre a decisão do empregado quanto ao nível de
intensidade de esforço a ser despendido pelo mesmo, enquanto o produto da
firma será de conhecimento de ambas as partes envolvidas. Esta impossibilidade
justifica-se, por sua vez, pela imperfeição de monitoramento do esforço
despendido pelos empregados e os custos que esta atividade de supervisão
requer.

Neste sentido, a elaboração de um contrato de emprego de compra e venda de


intensidade de esforço de trabalho é inviabilizada, restando assim a possibilidade
alternativa de elaboração de um contrato incompleto de emprego onde as horas
de trabalho e a remuneração são objetos de negociação, porém a intensidade de
esforço despendida pelos empregados no período contratado não seria
contemplada nas cláusulas contratuais.

Dado o caráter incompleto do contrato de emprego, onde a intensidade de esforço


não seria objeto de especificação em suas cláusulas e, dado o papel da
intensidade de esforço nas funções de produção e lucro da firma, torna-se
relevante a necessidade de monitoramento por parte da empresa com o objetivo
de extrair valores positivos de intensidade de esforço dos trabalhadores.

Nestes modelos o empregador manipula incentivos e punições (carrots and sticks)


com o objetivo de persuadir os trabalhadores a implementarem um nível elevado
de esforço em suas tarefas. Neste sentido, incentivos na forma de prêmios
salariais e punições na forma de demissões resultantes das atividades de
monitoramento implicariam em maiores níveis de esforço despendidos pelos
trabalhadores.

48
O modelo assume uma quantidade fixa de trabalhadores idênticos cuja utilidade é
U = (w − e), com w representando a taxa de salário e o esforço. A escolha dos
trabalhadores em relação ao esforço é restrita a dois valores: e =0(shirker) e e > 0
(non-shirker).

Trabalhadores com esforço e > 0 sempre estarão empregados ao salário w. Já os


trabalhadores que optam pela estratégia e = 0 correm o risco de serem demitidos
com uma probabilidade igual a q a cada período (ou unidade) de tempo. No caso
de estarem desempregados, os trabalhadores gozam de um benefıcio igual a b. O
trabalhador que escolhe a estratégia shirking alterna entre períodos de
empregabilidade e de desemprego, onde θ é fração de tempo no qual o
trabalhador shirker permanece empregado.

Instituições e mercado de trabalho. A intervenção governamental: política salarial


e políticas de emprego

No transcurso dos anos 80 (na Europa) e na década posterior (no restante do


mundo, aí incluído o Brasil), o desafio que representava o crescente desemprego
começou a ser combatido através de uma série de políticas públicas que
passaram a denominar-se, genericamente, de “Políticas de Emprego” ou “Políticas
de Emprego e Renda”
Esse tipo de estratégia tem seus fundamentos teóricos e suas diferenças com as
ações que, anteriormente, eram vistas como as mais eficazes para elevar as
oportunidades de emprego.

Com a crescente abertura dos mercados (especialmente dos mercados


financeiros), a capacidade de utilizar as ferramentas monetário/fiscais para
administrar a conjuntura se reduz dramaticamente.

Um país não pode diminuir sua taxa de juros devido a que está em processo de
desaquecimento porque uma medida como essa pode provocar uma fuga de
capitais que acaba comprometendo seu equilíbrio externo e desacelerando ainda
mais o ciclo conjuntural. Os gastos públicos e seus déficits são permanentemente
monitorados pelos agentes financeiros internacionais e constituem um motivo de
desconfiança nas suas decisões sobre alocação de recursos financeiros.

Resumindo, as possibilidades de intervenção no ciclo conjuntural mediante as


clássicas ferramentas keynesianas ficaram esgotadas, estando esse privilégio
restrito aos grandes centros da economia mundial (EUA, Alemanha e Japão). O
nível de emprego não podia ser mais recuperado mediante a utilização das
ferramentas macroeconômicas identificadas por Keynes. Políticas de aquecimento
se traduziam em desequilíbrios internos (elevação nas taxas de inflação) e
externos.

Diante desse fato, se o keynesianismo não era a alternativa, as atenções tinham


que estar voltadas para o novo pensamento hegemônico. Para o modelo clássico,

49
como já mencionamos, os problemas do mercado de trabalho eram gerados por
restrições oriundas desses próprios mercados. Assim, a elevação das taxas de
desemprego no mundo a partir de meados dos anos 70 tinham que ser reduzidas
por meio de medidas que tinham como espaço de atuação o próprio mercado de
trabalho. Lembremos que esta é uma diferença abismal com respeito ao modelo
keynesiano, que sustentava que as variáveis do mercado de trabalho tinham que
ser administradas mediante instrumentos de política macroeconômica e não
através de políticas direcionadas ao próprio mercado de trabalho. Por outra parte,
não obstante o processo de internacionalização, os mercados de trabalho
continuavam sendo um espaço regulado dentro do antigo Estado-Nação, fato que
possibilitava a intervenção estatal.

Aqui, podemos diferenciar duas vertentes dentro do pensamento hegemônico,


uma mais radical e outra mais moderada.

a)A Alternativa Liberal Radical


O exemplo normalmente citado para ilustrar esta opção de política tem como
referência os EUA de Reagam e a Inglaterra durante Tatcher. A estratégia
consistia em enfraquecer os sindicatos, reduzir o valor do salário mínimo, diminuir
as ajudas financeiras aos desempregados ou, em geral, enfraquecer o Welfare-
State, de forma tal a tornar o mercado de trabalho o mais concorrencial possível
ou o mais parecido a um mercado de alface.

Na ausência de sindicatos, salário mínimo, etc. a autoregulação dos mercados


deveria funcionar de forma mais rápida e eficiente. A queda nos preços (salários
reais) deveria ser a resposta a excesso de oferta (desemprego) e, mediante
movimentos nas quantidades oferecidas e demandadas, o ponto de equilíbrio
(oferta igual a demanda) deveria ser atingido.

Em realidade, esta “estratégia” de combate ao desemprego funcionou. Nos países


anglo-saxãos, onde a alternativa liberal-radical foi implementada de forma mais
rigorosa, a criação de empregos foi particularmente dinâmica e as taxas de
desemprego sempre estiveram entre as mais baixas dos países desenvolvidos.

b) A Alternativa Social-Democrata
Uma versão mais “à esquerda” do novo paradigma foi adotado na Europa
Continental e poderíamos denominar de versão “social-democrata” do
pensamento hegemônico. A essência da argumentação coincidia com o modelo
clássico: a intervenção para reduzir o desemprego tinha que se centrar no
mercado de trabalho, as políticas keynesianas eram alternativas que geravam
poucos ganhos em termos de oferta de novos empregos e tinham elevados custos
em termos de inflação e desequilíbrios.

Contudo, não obstante compartilhar a essência do novo pensamento, se distinguia


dele dado que não propunha como eixo de sua estratégia uma ofensiva contra os
sindicatos, o salário mínimo, o Welfare-State, etc. Sua intervenção consistia em

50
uma série de medidas que se convencionou em denominar de Políticas de
Emprego e que será o nosso tema de análise na próxima Seção.

Políticas de Emprego
Definição
Em princípio, o termo de Políticas de Emprego parece muito abrangente e nele
poderiam ser incluídas desde as políticas macroeconômicas do tipo keynesiano,
visto que as mesmas objetivariam a elevação da oferta de empregos, até
mudanças na legislação trabalhista, se esta for identificada como sendo um
obstáculo para a abertura de novas vagas.

Entre esses extremos caberiam as políticas de redução real do salário mínimo, as


políticas de formação profissional, etc. Ou seja, toda política cujo objetivo fosse a
geração de novos empregos pode ser definida como uma Política de Emprego.
Apesar da pertinência dessa visão, na literatura, o termo Políticas de Emprego
circunscreve um leque bem menor de alternativas. Quando se fala em Políticas de
Emprego devemos entender só aquelas medidas que tendem a afetar, de forma
mais ou menos direta, a oferta e/ou demanda de trabalho. Dessa forma estão
descartadas todas as políticas macroeconômicas e as alterações no marco
legal/institucional que regula o mercado de trabalho. Também não estão incluídas
aquelas medidas que tendem a afetar a demanda de forma indireta e incerta,
como o salário mínimo.

Assim, seguindo um certo consenso na literatura internacional sobre o tema,


vamos entender como Políticas de Emprego aquele conjunto de medidas que atua
sobre a oferta de trabalho, reduzindo-a ou alterando seu bem-estar, ou sobre o
nível de emprego alterando a demanda de forma direta (criação de emprego
públicos, por exemplo) ou indireta (formação profissional).

Em ambos os casos se atua sobre o mercado de trabalho e preponderantemente,


ainda que não exlcusivamente, sobre a população (oferta de trabalho).

Classificação
As Políticas de Emprego se dividem entre as Políticas Passivas e as Ativas.

Políticas Passivas
As Políticas de Emprego denominadas de passivas englobam aquelas ações que
tendem a tornar mais “tolerável” a condição de desempregado (mediante uma
transferência monetária a todo trabalhador desempregado, por exemplo) ou a
reduzir a oferta de trabalho
(mediante a aposentadoria precoce, dentre outras)

a) O Seguro-Desemprego
A Política de Emprego Passiva mais importante é o seguro-desemprego.
Classificamos como mais importante em termos de recursos. Tanto no Brasil como
nos países da OCDE, os benefícios financeiros aos assalariados desempregados
são os que monopolizam a maior parte dos recursos destinados às Políticas de

51
Emprego. Em países como a Finlândia ou a Holanda, por exemplo, as
transferências aos trabalhadores desempregados chegam a superar 3% do PIB.

Esta é uma típica herança das políticas que integraram o Welfare-State clássico e
que se consolidou depois da Segunda Guerra nos países desenvolvidos. A lógica
é mais ou menos a seguinte. O desempregado não está nessa condição porque é
seu desejo senão porque a economia (a sociedade, em realidade) é incapaz de
oferecer-lhe um posto de trabalho. Nessas circunstâncias, para atenuar sua falta
de renda, a sociedade deve outorgar-lhe um benefício no período de transição
entre um emprego e outro. Justamente, aqui está uma das fraquezas e limitações
do seguro-desemprego. Ele foi criado e estendido em um contexto histórico no
qual o pleno emprego era a norma. O desemprego ou era oriundo de um problema
muito circunscrito (uma firma faliu, por exemplo) ou era circunstancial, queda no
nível de atividade que os gestores de política econômica rapidamente iriam
reverter.

O seguro-desemprego não foi imaginado para sociedades nas quais o


desemprego atingia grandes contingentes populacionais e era duradouro. Esta
herança do Welfare-State pós-Segunda Guerra foi um dos alvos do novo
pensamento econômico, junto com os sindicatos e o salário mínimo. No fundo, a
crítica consistia em identificar esse benefício como um dos elementos que
ajudavam a elevar o desemprego e tornar mais inflexível o mercado de trabalho.
Com efeito, se o seguro-desemprego é de, imaginemos, R$ 100, o assalariado
não aceitará um emprego por, no mínimo, essa quantidade.

Nesse sentido, reduzir as transferências sociais deveria ajudar, sempre segundo


pensamento dominante, a reduzir o desemprego e, nesse sentido, foi uma das
políticas que, em maior ou menor medida conforme os países, tendeu a reduzir-
se, tanto em termos do montante do benefício como em termos da abrangência
temporal (número de prestações).

b)Extensão dos Ciclos Escolares.


Uma das alternativas para diminuir o desemprego consiste em postergar o início
do ingresso no mercado de trabalho. Ao permanecer por mais tempo no sistema
escolar, a pressão sobre a oferta de trabalho se reduz (em realidade, se posterga).

Se a esse fato agregamos a idéia (não necessariamente certa) segundo a qual


quanto maior a escolaridade maiores serão as chances de encontrar emprego,
induzir a permanência da população no sistema escolar poderia diminuir, direta ou
indiretamente, o desemprego.

c) Aposentadoria Precoce
Esta possibilidade das Políticas de Emprego Passivas tem certa relação com as
ativas e, nesse sentido, ficará mais clara quando analisarmos estas últimas.
Contudo, é intuitivo perceber que, em certas ocasiões, um indivíduo, pela sua
idade e formação, pode ter sérias dificuldades para reinserir-se, como ocupado, no
mercado de trabalho. Nessas circunstâncias, adiantar sua aposentadoria pode ser

52
menos oneroso que pagar o seguro-desemprego por longos períodos,
especialmente quando esse benefício está articulado com formação ou
reciclagem.
Em certas regiões dos países mais desenvolvidos, muito penalizadas pela
reconversão produtiva que afetava parcelas importantes da população que por
muitos anos tinham trabalhado em um setor agora em crise, adiantar a
aposentadoria podia ser uma medida eficaz para reduzir as despesas públicas e
diminuir o desemprego.

d) Expulsão dos Imigrantes


Esta “política” merece ser mencionada devido a que, nos últimos anos, ganhou
uma certa “popularidade” nos países centrais. Ao reduzir os imigrantes ou elevar
as exigências para o ingresso de trabalhadores estrangeiros, se altera, de forma
direta, a oferta de trabalho.

É comum que políticos populistas e demagogos ganhem votos entre eleitores


ingênuos fazendo uma conta simples. Comparam o número de trabalhadores
estrangeiros com o contingente dos desempregados e sustentam que, expulsando
os migrantes, a taxa de desemprego cairia de forma significativa. Esses políticos
estariam propondo uma “típica Política de Emprego Passiva”: reduzir a oferta de
trabalho para diminuir a taxa de desemprego. Logicamente, essa política vem, na
quase totalidade dos casos, permeada de proposições racistas.

Os aspectos ligados à migração são extremamente complexos e vão desde a


funcionalidade da migração nos casos de países com pirâmides etárias muito
estreitas na base (muitos passivos por ativo), passando por tarefas que os
nacionais não estão dispostos a fazer, ainda que desempregados, até
circunstâncias nas quais a migração é, realmente, um fator que deteriora o
mercado de trabalho e cria conflitos sociais, culturais e econômicos.

Portanto, não abordaremos os aspectos de migração, uma vez que fogem aos
objetivos que nos propusemos no presente texto.

Políticas Ativas
As Políticas Ativas englobam uma série de ações que tendem a elevar o nivel de
emprego, geralmente atuando sobre o contingente de trabalhadores. Vamos a
analisar as principais.

a)Formação Profissional

Esta talvez seja a Política Ativa mais popular, tanto no Brasil como nos países
mais desenvolvidos. É uma Política Ativa dado que se parte da suposição que ao
elevar a qualificação ou formação de um indivíduo aumentam suas chances de
encontrar emprego (se estava desempregado) ou de não perder o que já possui
(se estava empregado).

b)Intermediação

53
Este tipo de ação engloba uma série de atividades que visam um ajuste entre a
oferta e demanda de trabalho mais fluido. Entre essas atividades podemos
mencionar o levantamento das vagas oferecidas pelas firmas (faixa etária
requerida, perfil educacional e de qualificação, salário, perspectivas profissionais,
etc.) e as características dos indivíduos que procuram emprego (também faixa
etária, qualificação, etc.).

Gerenciar esse banco de dados e por em contato a oferta e demanda pode reduzir
o desemprego, dado que torna mais rápida a compatibilização entre os recursos
humanos requeridos pelas firmas e as aspirações e possibilidades dos indivíduos
que procuram emprego.

c)Apoio aos Micro e Pequenos Empreendimentos

Esta é uma política extremamente popular, especialmente, ainda que não


unicamente, nos países subdesenvolvidos. O apoio ou ajuda aos pequenos
empreendimentos podem abranger diversas ações, que vão desde crédito dirigido
até ao apoio para o desenvolvimento tecnológico, design, identificação de novos
canais de comercialização, etc. As justificativas para este tipo de ações são de
diversas ordens.

Vamos expor só as principais.


A primeira, e a que tem, talvez, maior apelo popular, está vinculada à
potencialidade em termos de geração de empregos. Sustenta-se que as micro e
pequenas empresas são as que mais empregam (quando comparadas com as
grandes empresas) e, dessa forma, ajudar a seu desenvolvimento promove,
indiretamente, a geração de novos empregos.

Contudo, não obstante essa potencialidade, as micro e pequenas firmas


enfrentam uma série de restrições para sua consolidação e desenvolvimento que
requeririam políticas públicas específicas. Por exemplo, seu acesso ao crédito
estaria limitado devido aos pequenos fundos que demandam e a falta de
garantias. A pesquisa e desenvolvimento são impossíveis de ser financiadas por
micro empresas, fato que requer disponibilizar tecnologia mediante o setor público
(ou financiado por ele). Poderíamos estender os exemplos, mas fica mais ou
menos evidente que o surgimento, consolidação e sobrevivência das pequenas
firmas não é um fato trivial e, nesse sentido, dado o mencionado suposto potencial
em termos da geração de empregos, deveria merecer uma política específica.

Paralelamente a esses dois fatores (potencialidade em termos de geração de


empregos e múltiplas restrições que enfrentam), as micro e pequenas empresas
seriam funcionais, como já mencionamos, à nova matriz tecnológica (novas
tecnologias). Dessa forma, essas unidades de produção deveriam merecer a
atenção das políticas públicas dado que contribuiriam para acelerar o
desenvolvimento do país.

54
d)Subsídios à Contratação de uma Determinada População Alvo

Uma medida muito utilizada em certos países Europeus e que é classificada como
uma Política de Emprego Ativa tem como característica os subsídios (de forma
direta ou indireta) à contratação de um grupo populacional com particulares
problemas de desemprego. Imaginemos, por exemplo, que o diagnóstico do
mercado de trabalho de uma determinada região ou país estabeleceu que os
jovens sem experiência nem qualificação têm sérias dificuldades em encontrar
emprego. Nesse caso, o governo pode induzir às firmas a contratarem jovens sem
experiência e com pouca escolaridade mediante a redução dos encargos sociais
(o INSS, por exemplo). Ou seja, através do sistema tributário ou as contribuições
sociais, visa-se tornar mais “atraente” a contratação de indivíduos de um
determinado grupo social. Em certos casos, essa estratégia de incentivo a certas
contratações pode apelar a outras medidas, que não os subsídios. Por exemplo,
ter salário mínimos específicos (menores que o normal) para certos segmentos da
população.

e) Criação Direta de Empregos pelo Setor Público

Esta alternativa de elevar o nível de emprego hoje goza de pouco prestígio e é


utilizada só em casos emergenciais, como eram, já não existem mais, as frente de
trabalho na ocasião das secas no Nordeste. No passado teve certo apelo em
certos países desenvolvidos, ainda que em ocasiões muitos específicas, como as
grandes crises de desemprego. Contudo, na maioria das ocasiões, essa forma de
gerar empregos era indireta, mediante obras públicas e não mediante a
contratação direta (elevar o número de funcionários públicos para reduzir o
desemprego).

De qualquer maneira, devido à nova hegemonia do pensamento clássico e todas


suas restrições à elevação dos gastos públicos, à presença do Estado na
economia, etc., esta forma de Política de Emprego é marginal e, voltamos a
repetir, utilizada só em casos verdadeiramente excepcionais, como nas
catástrofes.

Políticas de Emprego: Teoria, Diagnósticos e Mimetismo.

A análise das Políticas de Emprego pode ser feita sob diversos ângulos. Vamos
explorar vários deles. O primeiro, talvez a dimensão mais abstrata, está vinculado
ao status que o marco analítico outorga ao mercado de trabalho. Se o arcabouço
teórico é keynesiano, as Políticas de Emprego certamente não ocuparão um lugar
central na estratégia para reduzir o desemprego. Nesse caso, o debate terá como
eixo o crescimento econômico ou o desenvolvimento do país.

Esse tipo de discussão ainda que possa ter um certo ranço academicista,
certamente está estreitamente ligado ao desenho de políticas. Em certa ocasião, o
então Ministro de Trabalho, Edward Amadeo, afirmou que o problema do
desemprego no Brasil era de “empregabilidade”, ou seja, os desocupados não

55
encontravam emprego porque não tinham os requisitos, em termos de educação e
qualificação, para ocupar as vagas que estavam disponíveis na economia.
Podemos concordar com esse diagnóstico ou não, mas certamente essa
afirmação colocou o debate bem explícito. Se o problema do desemprego é de
“empregabilidade”, certamente não é de crescimento. Existem vagas mas
simplesmente os desempregados não podem ocupá-las em função de seu perfil
não é o requerido. Nesse caso a política a ser implementada deveria ter como eixo
a educação e/ou formação e reciclagem.

O ponto que desejamos ressaltar é: a política pública surge (ou deveria surgir) de
um diagnóstico, é a resposta a um problema. Se o diagnóstico identifica a
existência de desemprego paralelamente a vagas não preenchidas, o problema é
de crescimento e não faria sentido, nesse contexto, formar e reciclar
trabalhadores. O único resultado seria que a fila de desempregados teria
indivíduos mas educados e capacitados tecnicamente, mas o problema de
desemprego continuaria intacto.

Nessa direção, quando se instrumentaliza uma política de formação profissional e


se supõe que ele é um componente com certa relevância na redução do
desemprego, é de imaginar que exista um estudo prévio no qual foi identificado
que há desempregados e que, simultaneamente, existem vagas para as quais é, o
mínimo, muito oneroso encontrar candidatos que preencham os requisitos
necessários para ocupá-las. Para que uma política pública tenha alguma chance
de ter alguma efetividade tem que estar fundamentada em diagnósticos.

O segundo aspecto que desejamos mencionar está vinculado ao caráter nacional


do funcionamento do mercado de trabalho. Não obstante a tendência à
internacionalização dos mercados de bens e serviços, a regulação dos mercados
de trabalho continua operando-se no âmbito de cada Estado-Nação. Cada país,
por outra parte, se singulariza por apresentar características próprias de regulação
dos mercados de trabalho (legislação, instituições, cultura, tradições, etc.). Aqui
não queremos entrar no mérito da questão. Ou seja, o mercado de trabalho
funcionaria melhor se não existisse um marco regulatório e funcionasse como um
mercado de tomates, o tipo de mercado dos corriqueiros livros-texto de
microeconomia. Nós consideramos que esse tipo de discussão é irrelevante. O
ponto é: as instituições existem e não se pode tratar o mercado de trabalho como
um mercado de alface.

Por que essa discussão é importante? Porque o funcionamento e os problemas


dos mercados de trabalho tem tempo e espaço. Não podemos fazer paralelos
entre o mercado de trabalho na Suécia e o mercado de trabalho no Brasil.
Inclusive, temos que ser muito cuidadosos quando comparamos um mercado de
trabalho de um mesmo país em dois momentos do tempo. Vamos dar um
exemplo. Um dos maiores problemas do mercado de trabalho Italiano é o
desemprego dos jovens, inclusive dos jovens com formação universitária, para os
quais a taxa de desocupação chegou a situar-se em patamares próximos de 40%.
Com o tempo, esses jovens (com formação superior completa) logravam uma

56
satisfatória inserção no mercado de trabalho, reduzindo-se significativamente sua
desocupação e elevando-se os rendimentos. Ou seja, a Itália enfrenta um
problema de transição entre o sistema escolar e o mundo do trabalho. A Alemanha
não enfrenta esse problema, devido à peculiar característica de seu sistema de
ensino, que mistura a formação escolar com a formação no próprio “chão de
fábrica”, uma tradição com raízes medievais. Nesse contexto, a transição entre o
sistema escolar e o mercado de trabalho é muito menos onerosa em termos de
desemprego juvenil. A conclusão óbvia é: não podemos aplicar a mesma política
de emprego na Alemanha e na Itália. Os problemas são diferentes.

Essa argumentação, que nos parece tão natural, tanto em termos intuitivos como
de fundamentação teórica e histórica, não é tão direta. No Brasil, se aplicaram (e
se aplicam) e se propõem políticas públicas que foram gerados em outros
contextos. Vamos analisar com certo cuidado este ponto, mencionando três
aspectos que nos parecem relevantes.

Tomemos o caso da formação profissional. Essa política tem um diagnóstico


teórico e um marco histórico de referência (os países da OCDE) que deve merecer
um exame particularmente cuidadoso quando se quer transpô-la a outro contexto.
Uma Política de Emprego não é boa porque foi aplicada em um país e foi avaliada
positivamente (que, lamentavelmente, não é o caso da formação profissional). O
problema do Brasil é a existência de vagas que não podem ser preenchidas por
falta de indivíduos com o perfil educacional/técnico adequado ? Onde está a
verificação empírica desse diagnóstico ? Em realidade, não seria temerário
sustentar que não existe diagnóstico. Simplesmente, em uma atitude de
mimetismo, a política foi implementada no Brasil porque era popular nos países
desenvolvidos. Em um mundo no qual os países periféricos importam as idéias
prevalecentes nas regiões mais desenvolvidas sem nenhum crivo crítico ou
processo adaptativo, a imagem que se tem é que o Brasil centrou sua estratégia
de geração de empregos nas Políticas de Emprego simplesmente porque essas
eram as políticas adotadas nos países centrais. Se nós lemos certos programas
de governo de candidatos à eleição presidencial passada, em muitos deles as
partes dedicadas à geração de emprego parecem um cópia, sem citação, dos
tradicionais argumentos que são anualmente reproduzidos nos OCDE
Employment Outlook´s. Resulta extremamente difícil entender como um Ministro
do Trabalho do Brasil dos anos 90 possa ter afirmado que o problema do
desemprego do país é de “empregabilidade”, quando qualquer estudante de um
curso de graduação de Economia do Trabalho sabe que a maior taxa de
desemprego do Brasil está situada nos níveis de escolaridade médios (a curva de
desemprego por nível de escolaridade é um U invertido).

O segundo ponto que desejamos mencionar vai além dessa falta de diagnóstico
que fundamenta as políticas públicas. Além de importar estratégias imaginadas
em outros contextos, essa importação foi parcial, dado que foram importados os
diagnósticos e as políticas, mas não foram levadas em consideração as
avaliações. Os resultados da maioria das avaliação realizadas em países da
OCDE das políticas de formação profissional, por exemplo, deram como resultado

57
efeitos duvidosos. Ou seja, mesmo no contexto no qual foram geradas, esse tipo
de intervenção pública mostrou pouca efetividade. Não obstante esses resultados,
a mesma (a política de formação profissional) constituiu a principal política ativa no
Brasil no transcurso dos anos 90.

Por último, queremos chamar a atenção para um terceiro aspecto, que está
vinculado ao caráter continental, por isso, necessariamente heterogêneo do Brasil.
Essa heterogeneidade permeia aspectos (econômicos, sociais, ecológicos,
culturais, etc.) cruciais para entender o mercado de trabalho. Em realidade, em um
país como o Brasil não se pode falar em “mercado de trabalho” senão em
“mercados de trabalho”. Os pontos de contato entre os problemas do mercado de
trabalho de Rio Grande do Sul e Roraima serão mínimos. Assim, os diagnósticos
devem ser locais e as políticas, balizadas nesses diagnósticos, também devem
apresentar um marcado caráter local.

Poder-se-ia argumentar que este ponto já foi incorporado nas políticas sociais no
Brasil, tanto as direcionadas ao mercado de trabalho como as restantes. Em
termos gerais, a resposta a esse comentário pareceria ser afirmativa. O país
adotou certas singularidades das modernas políticas sociais (descentralização,
parceria com a sociedade civil, avaliação, etc.) que hoje representam uma
tendência mundial, inclusive no caso do mercado de trabalho. Contudo, essa
descentralização, muitas vezes, não chega ao fundo da questão.

Vamos ilustrar esta afirmação. Tomemos, outra vez, o caso da formação


profissional.

A política nacional se formula a partir dos PEQ´s (Planos Estaduais de


Qualificação). Assim, a formulação, execução e avaliação são descentralizadas,
tendência que deveria gerar uma política flexível, capaz de ser desenhada
segundo as necessidades locais.

Contudo, essa descentralização é parcial na medida em que não se descentraliza


a Política de Emprego senão a Política de Formação Profissional. Vamos
apresentar uma possibilidade teórica, mas plausível. Suponhamos um Estado no
qual a principal restrição à geração de postos de trabalho não seja a formação
profissional, mas outra variável (crise na pequenas empresas, etc.). O Governador
desse Estado vai incluir atividades vinculadas à formação profissional, caso
contrário, ele não vai se beneficiar dos recursos do PLANFOR, ainda que possua
diagnósticos nos quais a principal restrição à geração de emprego não seja a
formação profissional. Em outros termos: importa-se um diagnóstico e a política a
ele associado e, depois, universaliza-se essa conduta para o conjunto do território
nacional, não obstante o caráter continental do Brasil. Não seria ousado imaginar
um Estado no qual todos os recursos das Políticas de Emprego devessem ser
direcionados para a formação e reciclagem (um Estado que experimentou um
choque setorial negativo, por exemplo) e outro no qual o centro da estratégia de
política fosse a ajuda creditícia às pequenas unidades de produção agrícolas
locais.

58
Resumindo: a descentralização deveria ser na essência. Cada estado ou região
deveria ter um diagnóstico sobre seu mercado de trabalho identificando seus
problemas e, a partir deles, desenhar a estratégia de intervenção pública. As
práticas internacionais deveriam ser levadas em consideração como experiências
a serem utilizadas como referência e não como políticas a serem copiadas.

Assistência ao desemprego

O Seguro-Desemprego, desde que atendidos os requisitos legais, pode ser


requerido por todo trabalhador dispensado sem justa causa; por aqueles cujo
contrato de trabalho foi suspenso em virtude de participação em curso ou
programa de qualificação oferecido pelo empregador; por pescadores profissionais
durante o período em que a pesca é proibida devido à procriação das espécies e
por trabalhadores resgatados da condição análoga à de escravidão.

Esse benefício permite uma assistência financeira temporária.

O valor varia de acordo com a faixa salarial, sendo pago em até cinco parcelas,
conforme a situação do beneficiário.

O dinheiro pode ser retirado em qualquer agência da CAIXA, nos


Correspondentes CAIXA AQUI Lotéricos, nos Correspondentes CAIXA AQUI ou
nos terminais de auto-atendimento. No caso do auto-atendimento, as parcelas
com centavos não são pagas.

Sindicato: monopólio bilateral e monopsônio.

Frente a isto, numa indústria existem casos em que aparecem, de um lado, os


monopólios, ou grupos que individualmente dominam determinados produtos, ou
insumos e, por outro lado, os monopsônios que dominam uma situação de compra
de determinado insumo, produto, cujos casos são conhecidos normalmente como
sendo um mercado que está em situação de monopólio bilateral. O monopólio ao
confeccionar o seu produto, encara os vendedores dos insumos que ele necessita
como sendo competição perfeita, cujo preço entre os fatores é determinado pela

59
lei da oferta e da procura. O monopsonista maximiza seus lucros quando a sua
receita do produto marginal deve ser igual ao gasto marginal com o insumo, isto
significa dizer que ele sempre emprega um insumo (L) qualquer, até onde o
produto da receita marginal for maior do que os gastos marginais com o insumo
(L) utilizado.

No gráfico a seguir, verifica-se que no eixo vertical ficam os valores


denominados por ($) e no eixo horizontal as quantidades de insumo (L). Já que se
está utilizando somente um insumo produtivo nesta configuração. A reta (R)
designa a demanda
do monopsonista e
(S) e (GMg), a
oferta e os gastos
ou despesas
marginais com o
insumo (L) em
consideração.

Numa situação de
competição
perfeita, o preço do
insumo seria
determinado em
(W*),
correspondendo á quantidade de (L*), entretanto, numa situação negociada entre
o monopsonista e o monopólio, o preço de (L) passa a ser ( W1 ), com uma
quantidade de ( L1 ), ao invés de (L*). Isto está demonstrado pela igualdade
existente entre RMg = S, caracterizado pelo ponto (A) neste quadro. Daí, verifica-
se que a condição de equilíbrio para o monopsonista é RMg = GMg, cujo preço de
L em competição perfeita (A) é menor do que no monopsonismo.

Assim sendo, observe que o mesmo modo que uma estrutura de mercado
que esteja em exploração monopolista obedece á mesma estrutura de
metodologia de análise do monopolista e o princípio de exploração é e será
sempre o mesmo, tanto de um lado, como de outro, cuja negociação ambos
abdicam de algo, favorecendo a todos. Pela mesma ótica que um industrial vende
seu produto determinando o seu preço monopolista de dominação e exploração
mercadológica, o monopsonista age da mesma maneira, ditando as suas normas
nas compras de seus insumos para uma melhor viabilidade de seus produtos que
utilizam tais insumos. Hoje, é muito comum o processo de barganha entre
monopólio de um lado e monopsônio de um outro, cuja solução econômica fica
muito difícil de previsão de resultado, aparecendo assim uma solução política,
onde os acordos devem ser a tônica mais comum na dinâmica da sobrevivência
mercadológica.

60
Como é bastante conhecido, não existe monopólio e nem tão pouco
monopsônio de forma pura, mas existe situação em que se pode caracterizar tal
comportamento, isto quando se fala de sindicatos se defrontando frente a frente,
para tentar dar solução a determinado problema, como o caso do sindicato dos
trabalhadores frente ao dos patrões em suas negociações salariais. O único meio
de pressão que os trabalhadores possuem é na criação de um sindicato que é
uma forma de monopsônio, que negocia com o sindicato dos empresários tudo
que diz respeito a sua categoria, e, nisto entram em cena os dois comerciantes
um de compra e o outro de venda. É desta forma que funciona a dinâmica da
relação monopólio e monopsônio, cujo economista, com a sua eficiência não tem
condições de opinar nem por um lado, nem pelo outro, deixando o bom censo agir
a quem tiver mais habilidade na técnica de negociar.

O mercado de trabalho no Brasil.

Até pouco tempo, as relações de trabalho eram caracterizadas por meio de


contratos formais realizados entre ‘patrões’ e ‘empregados’, que normalmente se
colocavam em pólos opostos (com interesses divergentes, quando não
antagônicos): os sindicatos tendiam a ser fortes e a defender os interesses dos
seus associados. Quanto mais tempo o trabalhador ficasse em uma empresa,
maiores eram suas chances de ‘fazer carreira’ e menor a possibilidade de ser
rompido o vínculo trabalhista. O perfil do trabalhador médio era constituído por
indivíduos do sexo masculino, de baixa escolaridade, formado ‘no chão de fábrica’,
que trabalhava nas indústrias, diretamente nas linhas de produção.

Hoje a situação é bem diferente. O trabalhador da indústria já não é mais


dominante, está mais escolarizado, compete com as trabalhadoras pelas vagas no
mercado de trabalho, não tem a garantia do emprego para toda a vida, interessa-
se menos pela associação junto aos sindicatos tradicionais, está submetido a
pressões crescentes para aumentar sua produtividade, corre mais riscos de se ver
desempregado, tem maior possibilidade de negociar seus rendimentos em função
do valor que agrega à produção.

Em outras palavras, as noções de trabalho/emprego/segurança social, tratadas


quase como sinônimas, mudaram com o passar do tempo, em interação com a
evolução da sociedade e das condições da produção. Assim como mudaram as
realidades que se escondem por trás dessas noções.

Vários são os fatores que, conjuntamente e em interação, contribuíram para a


construção desta nova realidade do trabalho. Entre eles a globalização econômica
e a disseminação das inovações tecnológicas e organizacionais; as
transformações no papel dos estados; a disseminação do individualismo como
valor nas sociedades contemporâneas; e o crescimento da participação feminina
no mercado de trabalho.

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O impacto desses fatores, por sua vez, pode ser percebido na nova configuração
do mercado de trabalho, com o aumento do nível de desemprego, o crescimento
da informalização nas relações trabalhistas, o deslocamento setorial do emprego,
e a transformação nos requisitos funcionais, com a exigência de novas habilidades
e competências, bem como da polivalência funcional.

Nas empresas observa-se, ainda, o recurso ao desenvolvimento e manutenção de


um núcleo sólido de trabalhadores, altamente capacitados e qualificados, que
auferem maiores benefícios e salários e com os quais as relações tendem a ser
mais estáveis; segue-se um estrato de trabalhadores ‘mais flexíveis’, em boa parte
terceirizáveis, com relações mais precárias e com menos garantias trabalhistas,
acompanhado ainda de trabalhadores satélites, de baixa qualificação, facilmente
substituíveis.

Mas a nova dinâmica do trabalho também atinge a estruturação micro da vida


cotidiana e coloca em discussão determinadas categorias de organização social,
tais como a separação clássica do tempo de trabalho x tempo livre, que graças
aos desenvolvimentos das tecnologias de informação e comunicação, tornam-se
cada vez mais imbricados, e repercute também na leitura e compreensão das
fases humanas de juventude, idade adulta e velhice.

A seguir serão abordados quatro aspectos centrais relativos a essas


transformações bem como as perspectivas futuras do seu desenvolvimento, quais
sejam: a mulher no mercado de trabalho; as transformações no conteúdo do
trabalho e nas formas de emprego; o trabalhador dos serviços e a nova economia
e, por último, o trabalhador industrial e a fábrica do futuro.

A Mulher no Mercado de Trabalho

Nas últimas décadas, as mulheres invadiram o mercado de trabalho. No Brasil, a


participação feminina aumentou expressivamente: em 1999 representavam 41,4%
da PEA contra 31,7% em 1979.2 Esse ingresso veio associado a transformações
nas relações familiares e conjugais (como exemplo, o número de famílias
chefiadas por mulheres encontra-se em constante crescimento – em 1989
representavam 20,1%, em 1999 chegou a 26%). Esses avanços, no entanto,
encobrem obstáculos importantes a serem superados no século XXI.

O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) elaborou dois


índices para mensurar o avanço feminino na sociedade e no espaço de trabalho: o
‘índice de desenvolvimento relacionado ao gênero (GDI)’ e o ‘índice de poder
(empowerment - EM) de gênero.4 No primeiro índice, o Brasil ocupa a 66ª
posição, bem atrás da Argentina (35), Uruguai (37) e México (50) e até de países
islâmicos como a Malásia (57) e a Líbia (65). No índice EM, o Brasil não se
posiciona melhor (dados de 1998).

Em outras palavras, as mulheres representam mais de 40% da força de trabalho


no país. Porém, esta inserção ainda é preponderante nas ocupações e ofícios que

62
guardam correlação direta com as funções que elas desempenham no espaço
doméstico, tendo menor status social e demandando menor qualificação formal;
conseqüentemente auferindo menor renda.

E, apesar de estudarem por um período mais longo, obtendo no setor industrial,


por exemplo, um ano a mais de escolaridade do que os homens, o diferencial de
remuneração persiste elevado: em São Paulo, por exemplo, as mulheres recebem,
por hora, 76% do rendimento obtido pelos homens e o desemprego feminino fica
sempre acima do masculino. E quanto maior a escolaridade, maior a diferença
salarial entre homens e mulheres na mesma ocupação. Esse padrão se repete em
muitos países. Mas, para mulheres brancas, esta diferença em relação aos
homens está caindo. Projeções indicam que daqui a 30 anos não haverá mais
discriminação salarial contra elas.

As barreiras, visíveis e invisíveis, que mantêm as mulheres fora dos cargos mais
qualificados e mais bem remunerados são inúmeras: a feminização de
determinadas profissões e sua subseqüente desvalorização, resistências sociais,
a maternidade e a desigualdade na divisão das tarefas domésticas, a falta de
massa crítica de mulheres nas organizações, etc.

Mas as mulheres reivindicam, cada vez mais, os seus direitos e conforme


apontado em pesquisa da Harvard Business Review as empresas estão mudando
as suas estratégias de forma a recrutar e reter mulheres qualificadas. Algumas
das mudanças implementadas:

- diálogo extenso sobre as mudanças necessárias na cultura organizacional


(workshops e reuniões dirigidas);

- implementação de políticas para equiparar salários e oportunidades;

- designação de responsáveis pela implementação de mudanças;

- avaliação (quantitativamente e qualitativamente) de progressos em áreas


específicas.

Como ocorre na grande maioria dos processos de mudança organizacional, a


liderança e as iniciativas específicas partem da alta hierarquia da empresa e são
depois difundidas por todo o corpo empresarial. A briga que as mulheres
precisarão enfrentar para conseguir uma maior igualdade envolve poder. E será
travada cada vez mais em todas as esferas: políticas, dentro de casa e na
empresa.

As principais tendências associadas ao avanço das mulheres no mercado de


trabalho são:

63
- penetração maior de mulheres em ocupações antes restritas aos homens (na
indústria, por exemplo, as mulheres avançam em profissões como soldadores e
operadores de máquinas);

- maternidade adiada e menor número de filhos;

- aumento do padrão de consumo familiar e do investimento em educação;

- crescente reivindicação por igualdade cívica e política.

As Transformações no Conteúdo do Trabalho e nas Formas de Emprego

A adoção de novos modelos produtivos baseados nos princípios da produção


enxuta (lean production), associada à difusão das novas tecnologias nos
processos produtivos propiciou, por um lado, o aumento da produtividade no
trabalho e, por outro, uma intensa substituição do trabalho vivo por trabalho
acumulado nos sistemas e equipamentos. Ocasionou também um forte
deslocamento setorial do trabalho e do emprego, resultando no desaparecimento
de postos de trabalho na indústria, ao mesmo tempo em que criou novas
oportunidades ocupacionais, sobretudo no setor terciário.

Seus impactos são sentidos, principalmente, nas transformações que se colocam


ao conteúdo do trabalho e no uso das qualificações e nas formas de
emprego.

Em relação ao conteúdo do trabalho, para aqueles trabalhadores que logram


manter-se ativos no mercado, espera-se cada vez menos que seu desempenho
profissional paute-se pelo cumprimento de tarefas prescritas (tal como ocorria nas
organizações tayloristas). Ao contrário, sua performance passa a ser associada ao
cumprimento de ‘missões’, cujo componente de avaliação, em última instância,
consiste na capacidade de produzir mais, em menos tempo, maximizando os
recursos. Traduzindo, há um incentivo crescente para que os trabalhadores
passem a intervir no processo, corrigindo erros, resolvendo problemas que se
apresentam, negociando junto a colegas, superiores, fornecedores e clientes.

Para tanto, o perfil desse novo trabalhador passa a exigir novas habilidades, até
então relegadas a segundo plano e até mesmo negadas nas relações de trabalho
anteriores. Acresce que, a esses papéis, soma-se ainda a necessidade de lidar
com as tecnologias de informação e de comunicação (presentes nos novos
equipamentos e instrumentos) que demandam o domínio de códigos abstratos e
novas linguagens.

Outras competências, como raciocínio lógico-abstrato, habilidades


sociocomunicativas, responsabilidade, disposição para correr riscos e espírito de
liderança, passaram a ser demandadas. A destreza em outras línguas (como
inglês) e linguagens (como informática) estão se tornando pré-requisito para o

64
ingresso e manutenção em um mercado de trabalho estruturado. Disposição para
‘aprender a aprender’ em temporalidade contínua, ao longo da vida, também
passou a fazer parte do portfólio mínimo para a empregabilidade.

O exercício destas novas competências tem resultado, também, numa crescente


individualização das relações de trabalho, nas quais cada profissional passa a ser
remunerado pela quantidade de valor que agrega aos produtos e aos processos.
Há, ainda, um forte apelo à aprendizagem ‘para o resto da vida’, isso porque a
lógica que rege as competências é, por princípio, calcada na interminalidade, um
constante vir-a-ser, na qual as capacidades humanas se constróem e reconstróem
a cada dia em confronto com situações-problema concretas apresentadas pela
realidade do trabalho. Deste modo, a finitude da educação é substituída pela
educação permanente como estratégia de atualização e aquisição dos novos
conhecimentos e atributos.

Já em relação às formas de emprego, como resultante da reestruturação e do


crescimento das práticas de terceirização, observa-se o declínio do emprego
formal e a ampliação dos contratos ‘atípicos’ (por tempo determinado, por
prestação de serviços, estágios, etc) e da informalidade.

A nova dinâmica do mercado de trabalho nos modelos produtivos que se pautam


pela acumulação flexível apresenta-se cristalizada em diferentes estratos:

- no centro, haveria um grupo composto por empregados ‘em tempo integral’,


qualificados, essenciais para o futuro de longo prazo das organizações, e sob os
quais a flexibilidade dar-se-á a partir do apelo à multifuncionalidade (e à
mobilidade geográfica). Gozariam de maior segurança no emprego, boas
perspectivas de promoção e reciclagem, aposentadoria e outros benefícios.

- ao redor destes haveria dois grupos distintos, formando a ‘periferia’:

o primeiro, composto por trabalhadores de tempo integral mas com competências


fartamente disponíveis no mercado, estaria sujeito a uma flexibilidade numérica,
ou seja, uma maior rotatividade, menos segurança e menos oportunidade de
carreira.

- o segundo grupo ofereceria possibilidades de flexibilidade numérica ainda maior,


e incluiria os empregados em tempo parcial, trabalhadores temporários, casuais,
etc.

O Trabalhador dos Serviços e a Nova Economia

A nova dinâmica do mercado de trabalho vem resultando em grandes


deslocamentos setoriais. Para se ter uma idéia, na década de 40, o setor de
serviços concentrava apenas 20,5% dos empregos no país. Nos anos 90, esse
número havia praticamente triplicado, passando para 59,5%.

65
O dinamismo desse setor na criação de empregos no Brasil se explica por três
razões principais:

- aumento de sua participação na economia;

- o fato de que o setor funciona como um amortecedor do desemprego gerado em


outros ramos de atividade. Com a demissão da mão-de-obra das indústrias,
proliferam formas alternativas, informais, de gerar renda, como o pequeno
comércio e vendas;

- a crescente participação feminina na força de trabalho.

Os setores de serviços que mais tendem a crescer nos próximos anos são:

- Telecomunicações e Informática: neste setor, a tendência é o aumento da


exigência quanto à qualificação formal da mão-de-obra, perda de empregos em
empresas de porte muito grande (mil empregados) e de crescimento do emprego
nas categorias micro, pequena e média empresas.

- Comércio: as três categorias do setor (comércio de veículos, motocicletas e


combustíveis; atacadista e varejista) empregaram em 1998 um total de 4,5
milhões de pessoas. A expansão deste setor é fortemente ligada à atividade
econômica do país.

- Setor Financeiro: o setor apresentou recuperação em 2000 após ser fortemente


atingido pela crise de 1999. Existe um grande movimento de concentração no
setor associado à internacionalização do setor financeiro. O potencial de emprego
é grande já que existem incentivos para a expansão do setor.

- Turismo: é um dos campos mais promissores para a geração de empregos e


crescimento econômico do país. Em sua ampla cadeia produtiva, o turismo
repercute em 52 segmentos diferentes da economia e mantém cerca de 5 milhões
de empregos, formais e informais. A meta para o ano 2003 é aumentar para 6,5
milhões o fluxo de turistas internacionais e para 57 milhões o de turistas nacionais.

Na nova economia os sinais são promissores, mas ainda confusos. Em um


cenário otimista, projeta-se um crescimento para 19,77 milhões de computadores
no Brasil, com 15,38 milhões de usuários da Internet, em 2003. Em um cenário
menos positivo, esses números cairiam para 12,0 e 9,3 milhões respectivamente.

Nas cadeias produtivas, a disseminação da rede tem provocado alterações tanto


na forma de organização dos processos produtivos quanto na própria concepção
de empresas e negócios. A expressão mais visível dessa mudança é a forte
expansão das empresas virtuais, ou pontocom, no final da década de 90.

66
Assistimos atualmente a um processo bastante turbulento de ajuste desse novo
setor, com impactos negativos sobre o emprego no curto-prazo. Mas, como
assinala Malinvaud, os efeitos das novas tecnologias sobre o trabalho e a
produtividade são de lenta difusão, portanto os seus impactos positivos, já
fortemente sentidos nos EUA, se propagam pelo restante do globo mais
lentamente. Assim, mesmo considerando as atuais turbulências, o crescimento da
nova economia deverá ser mantido.

Para Castells, dois modelos distintos de ‘sociedade informacional’ parecem estar


se configurando.

O primeiro, chamado de ‘modelo de economia de serviços’, representado pelos


EUA, GB e Canadá, é caracterizado por uma rápida eliminação do emprego
industrial e pelo crescimento nos setores ligados à informação. Os serviços que
mais se destacam são aqueles voltados à administração do capital, em
detrimento dos serviços ligados à produção. Paralelamente, expande-se o
setor de serviços sociais com aumento de empregos na área da assistência
médica e, em menor grau, no setor educacional.

O segundo, chamado de ‘modelo de produção industrial’, é representado pelo


Japão e, em menor grau, pela Alemanha. Neste, o emprego industrial é reduzido
de forma bastante gradual e ainda se mantém em patamares bastante elevados.
Os serviços relacionados à produção são mais importantes do que os
serviços financeiros, o que não quer dizer que as atividades financeiras não
sejam relevantes, muito pelo contrário, mas a maior parte do crescimento em
serviços ocorre para empresas e serviços sociais.

As diferentes expressões destes modelos, em cada um dos países analisados,


dependem do seu posicionamento face à economia global. Já a natureza da
inserção de cada país nas relações globalizadas reflete as políticas
governamentais adotadas e as diversas estratégias empresariais, que podem ser
muito cambiantes. O mercado de trabalho, por sua vez, reflete estes movimentos,
concentrando-se mais em um setor do que em outro. Tais concentrações não
são ‘destinos inexoráveis’, mas, sim, produtos de estratégias e escolhas que
podem, dependendo do interesse dos agentes envolvidos, tomar rumos
distintos.

O Trabalhador Industrial e a Fábrica do Futuro

Se o processo de reestruturação da indústria brasileira, iniciado em 1990 com a


abertura externa, teve impactos negativos, como a elevação do desemprego, teve
também conseqüências positivas para a competitividade do país, incluindo a
elevação das competências dos trabalhadores industriais.

A taxa de alfabetização dos trabalhadores empregados na indústria supera os


95% em todas as regiões do Brasil (com exceção da região Nordeste. Para as
regiões Norte e Centro-Oeste, a taxa chega aos 100%), independentemente do

67
sexo, da idade e da faixa salarial, incluindo trabalhadores que recebem menos de
três salários-mínimos. A exigência quanto ao nível de escolaridade mais elevado
atinge principalmente o trabalhador mais jovem: quanto mais jovem o trabalhador
ingressando na indústria, maior a probabilidade de ser alfabetizado (idade de 10 a
19 anos, alfabetização 99,4%).

O trabalhador da indústria brasileira tem uma qualidade de vida média. A maioria


(59%) desfruta da vantagem de morar perto do local de trabalho e de ter apenas
um trabalho (98,2%). Em relação aos benefícios concedidos, o auxílio alimentação
ocupa posição de destaque (52,1%), seguido pelo auxílio transporte (51,8%) e
saúde (35,4%). O auxílio educação ou creche é quase nulo, apenas 3,4%
recebem este benefício.

Por último, uma grande parte dos trabalhadores reside em domicílio próprio (73%),
com luz elétrica (99,5%), água canalizada (95,4%), coleta de lixo (93,6%) e bom
acesso à água da rede geral (88,9%). O acesso à rede coletora de esgoto é, no
entanto, mais precário (66,6%) e extremamente precário no Norte (16,6%). Vale
destacar que a residência do trabalhador é bem equipada no que se refere a bens
de consumo e eletro-eletrônicos: mais de 90% possui os seguintes bens:
geladeira, televisão, fogão e rádio.

Para o futuro, as principais tendências são:

- deslocamento das atividades e da mão-de-obra da indústria para os serviços,


especialmente para os serviços de apoio às atividades industriais em função das
terceirizações;

- declínio estável do emprego industrial tradicional;

- crescente interdependência da força de trabalho em escala global;

- movimento contínuo em direção à elevação do perfil de escolaridade do


trabalhador.

Diante deste quadro, como será a fábrica do futuro? Imagina-se que, nesse
campo, já está rompendo e, irá se romper cada vez mais, com a idéia tradicional
de fábrica. A arquitetura, que se redesenha, é apenas um reflexo de conceitos e
de crenças corporativas que devem marcar o terceiro século da industrialização.

Os esforços na construção dessa nova visão de fábrica giram em torno de alguns


grandes eixos:

- poder no chão da fábrica – funcionários de todos os níveis hierárquicos


desempenham múltiplas tarefas;

68
- comunicação no centro – a informação deve fluir livremente pelo espaço de
trabalho, essencial para a gestão do conhecimento;

- desenvolvimento sustentável – o crescimento será apoiado em práticas


ambientalmente corretas;

- obsessão pela qualidade;

- importância da logística;

- foco no cliente.

Finalmente, quanto à tecnologia, vale lembrar que a fabricação automatizada já


contabiliza 45 anos de desenvolvimento, mas está apenas começando a
desabrochar. É possível vislumbrar a longo prazo a tecnologia de fabricação se
transformando, pela nanotecnologia, em uma máquina que pode fabricar objetos
usando um átomo ou uma molécula de cada vez – tornando irrelevantes as
matérias-primas utilizadas. Logicamente, isto terá desdobramentos sobre os
processos de trabalho e os trabalhadores.

Comentários Finais

Em se tratando do mundo do trabalho, nada indica que o processo de


transformações iniciado tenha chegado à maturidade. Muitos e surpreendentes
eventos ainda virão, especialmente com os avanços da biotecnologia.
Possivelmente, o processo de desemprego, exclusão social e de pauperização
que vem atingindo as sociedades tornar-se-á ainda mais agudo, criando uma
cisão maior entre os países do ‘norte’ e do ‘sul’.

Mas permanece a esperança de que os atores sociais, organizados em


instituições políticas e civis, busquem soluções para minimizar estes efeitos. O
ano internacional do voluntariado traz, por um lado, a necessidade de abrir
espaços de reflexão sobre ‘que trabalho’ e ‘para quem’, mas também traz, por
outro lado, a esperança de que os homens, no exercício de sua racionalidade,
encontrarão novas respostas para os problemas que criam. Afinal, deve haver
sempre um momento em que uma porta se abre para deixar entrar o futuro.

69
Sociologia do Trabalho:

A Sociologia do trabalho é o ramo da Sociologia que procura estudar os sujeitos


ocultos do ambiente de trabalho, principalmente as fábricas e os sindicatos
estruturados, bem como os fenômenos que surgem das relações de trabalho.

Durante a maior parte da História da Civilização o trabalho foi considerado como


uma atividade depreciável. A palavra trabalho evoluiu da palavra "Tripalium",
castigo que se dava aos escravos preguiçosos. Para o mundo protestante europeu
não latino, o trabalho não é um castigo, e sim uma oferenda a Deus. Os gregos da
Idade de Ouro pensavam que só o ócio criativo era digno do homem livre. A
escravidão foi considerada pelas mais diversas civilizações como a forma natural
e mais adequada de relação laboral. Desde os meados do século XIX, vinculado
ao desenvolvimento da democracia e ao sindicalismo, a escravidão deixa de ser a
forma predominante de trabalho, para ser substituída pelo trabalho assalariado.
Com o surgimento de uma valorização social positiva do trabalho, pela primera
vez na história da civilização.

A partir da segunda guerra surgem conceitos da sociologia do trabalho: "divisão de


trabalho", "classe social", "estratificação social", "conflito", "poder".

A Sociologia presta atenção e estuda as implicâncias sociais da relação de


trabalho com a ferramenta (técnica e tecnología). As profundas transformações
que derivam do passo do trabalho com simples ferramentas individuais
(artesanato), ao trabalho industrial com grandes máquinas (maquinismo), ao
trabalho com computadores (sociedade de informação), constituem um
permanente tema de estudo sociológico.

O Conceito de Trabalho.

O Termo trabalho se refere a uma atividade própria do homem. Também outros


seres atuam dirigindo suas energias coordenadamente e com uma finalidade
determinada. Entretanto, o trabalho propriamente dito, entendido como um
processo entre a natureza e o homem, é exclusivamente humano. Neste
processo, o homem se enfrenta como um poder natural, em palavras de Karl
Marx, com a matéria da natureza. A diferença entre a aranha que tece a sua teia e
o homem é que este realiza o seu fim na matéria. Ao final do processo do trabalho
humano surge um resultado que antes do início do processo já existia na mente
do homem. Trabalho, em sentido amplo, é toda a atividade humana que
transforma a natureza a partir de certa matéria dada. A palavra deriva do latim
"tripaliare", que significa torturar; daí a passou a idéia de sofrer ou esforçar-se e,
finalmente, de trabalhar ou agir. O trabalho, em sentido econômico, é toda a
atividade desenvolvida pelo homem sobre uma matéria prima, geralmente com a
ajuda de instrumentos, com a finalidade de produzir bens e serviços.

70
Em resumo, o processo de qualquer trabalho inclui:
1 – atividade (a ação racional de concepção do próprio trabalho e sua execução);
2 - orientação para um objetivo (finalidade);
3 – o objeto (matéria onde será executado o trabalho, por exemplo, algodão);
4 – os meios (ferramentas, instrumentos, corpo, equipamentos, etc);
5 - o trabalho mesmo (resultado ou produto).

No entanto, Marx não aceita, como Hegel, que todo trabalho é positivo. Só o
trabalho útil é positivo, ou seja, aquele no qual existe um caráter social. Quando
alguém é obrigado a vender sua força de trabalho (a capacidade de executar o
trabalho), muda o sentido do trabalho. O trabalhador põe sua energia no trabalho,
mas o produto de seu esforço passa a não lhe pertencer mais. Quem o fez não o
reconhece, pois não o concebeu. O objeto se torna estranho como um feitiço. E
isto faz com que se torne estranho o homem diante de si mesmo e do outro que
comprou sua força de trabalho, pois sente-se rebaixado a simples meio. Ele não
foi o dono da ação, que deveria ser uma atividade livre. Seu trabalho tornou-se
um meio para uma produção, uma coisa, como se fosse uma mera ferramenta.

Ao vender seu trabalho e a si mesmo, o homem torna-se mercadoria, assim como


sua atividade de trabalho e o resultado dela. Eles tornam-se coisas. Cria-se a “
reificação” (coisificação) - a desvalorização do ser humano e uma
supervalorização da mercadoria - uma condição de alienação pelo trabalho.

A EXPLORAÇÃO E A ALIENAÇÃO PELO TRABALHO

Você já deve conhecer a palavra alienação. No dia-a-dia, ela é bastante usada


(“João é alienado, não presta atenção nos políticos”, “Maria é alienada, não se
preocupa com nada”), mas nem sempre de maneira correta. Alienar significa
separar-se de, ceder a outro um direito.

O conceito de alienação surge na filosofia hegeliana e é reconfigurado em Marx.


Para Marx, a alienação surge de relações entre os homens, em que o homem
passa de uma vontade própria de agir e ser útil socialmente, à submissão de sua
vontade. As relações de dominação transformam os homens em inimigos e
estranhos.

Do mesmo modo, o produto de seu trabalho, nestas condições, separa-se de


quem as produziu. Então, o que aliena o homem e produz nele uma falsa
consciência é o modo de produzir, de trabalhar. Quando vende sua força de
trabalho a outro homem, aliena-se, separa-se a sua consciência, produz uma falsa
consciência de si mesmo porque falseia as relações sociais. Um homem domina o
outro, quando o que deveria ocorrer seria uma relação de igualdade, em que cada
um se reconhece no outro. Só nesta relação de igualdade é possível produzir a
consciência verdadeira.

71
Aqui, há uma discordância com Hegel. Para este, a alienação não pode ser
superada, porque a própria sociedade cria uma consciência falsa no homem. Só
se poderia superar esta alienação pelo trabalho intelectual.

Para Marx, a alienação surge do homem despossuído da propriedade de seu


trabalho e do produto dele, transformando a ambos em mercadorias ou coisas. O
homem não concebe ou planeja, não cria ou determina os meios para as
finalidades. Ele apenas realiza uma atividade imposta. Não possui acesso ao
processo de criação, mas é obrigado a fazê-lo, diante da necessidade de
sobreviver, já que não há outro modo de produzir para viver, neste tipo de
sociedade. O trabalho modificou sua função social e sua função psicológica para o
trabalhador.

Das relações sociais desiguais surge a condição da alienação e de exploração do


valor do trabalho. Estar alienado significa estar separado de si, de sua
consciência, da natureza e dos outros homens, da construção da sociedade.
A alienação surge da vida alienada, isto é, distante do ser humano natural, que
deve ser comprometido com a produção de si mesmo e da história por meio de
uma ação prática e concreta, realizada com os outros homens, por uma prática
social (práxis social). Alguns autores, como Guerreiro Ramos consideram 3 tipos
de alienação: a auto-alienação, a reedificação e a alienação do poder. Contudo,
estes conceitos não têm o significado que Marx lhe deu. O uso inadequado do
conceito aborreceu tanto Marx que ele abandonou-o em escritos posteriores.

TRABALHO COMO AÇÃO, NECESSIDADE E COERÇÃO

Como vimos, os fatos sociais são coercitivos, isto é, levam-nos a pensar e agir
de determinados modos. No entanto, a ação é própria do indivíduo que delibera e
julga as coisas, e está consciente de suas finalidades intrínsecas. Ação implica em
uma forma ética de agir. Os seres humanos são levados a agir, a fazer escolhas
de acordo com os fins e não com os meios. Daí, vem a grande dificuldade no
trabalho como ação humana. Impelido pelas necessidades e pela coerção social,
geradas pelas relações de dominação, que o tornam alienado, o homem se vê
distante de uma ação ética e moral no trabalho. Ele também é convertido em
meio, não um fim em si mesmo. A necessidade de sobrevivência pode favorecer a
exploração.

A exploração pelo trabalho vem associada ao conceito de trabalho como valor de


troca. É no tempo de trabalho que este valor se manifesta, como veremos mais
adiante. Diante da necessidade de trabalhar para viver, mas não sendo possível
uma relação de igualdade entre o trabalhador e os outros homens, as condições
de trabalho favorecem a exploração do trabalho. O próprio trabalhador
transforma-se em um valor de troca, perdendo a capacidade de agir. Segundo
Guerreiro Ramos, nestas condições, o homem passa a se comportar e não a agir.
Condicionado por um sistema, que o considera como um meio ou recurso de
produção, torna-se utilitário e fluido em seus valores, buscando a conveniência de
seus interesses, adota uma perspectiva relativista que aceita tudo, desde que não

72
se prejudique pessoalmente. Torna-se formalista e educado, comportando-se
pelas aparências, de forma correta e educada, operacionaliza suas ações,
cedendo a sua vontade de forma mecânica e sem julgamento.
Marx vê a emancipação do trabalhador apenas se o trabalho deixar de ser uma
imposição de exigências das necessidades e finalidades externas, subjugando-o:
satisfazer suas necessidades com liberdade, por meio de cooperação com os
outros, onde o controle coletivo toma o lugar da dominação e as atividades são
realizadas, com o mínimo gasto de energia e sob condições dignas, regulando
coletivamente o uso da natureza.

A ação livre e a necessidade têm uma relação dialética, uma relação de opostos
e de negação. A base da ação livre é a necessidade, mas, sob coerção, a ação se
transforma em luta para a liberdade. Do mesmo modo que existem luz e sombra,
dia e noite, fim e começo, a dominação conduz à luta.

A dialética caracteriza a filosofia de Hegel e tornou-se a base do humanismo


marxista, cuja filosofia é chamada materialismo-histórico, para a qual cada
período histórico de uma sociedade é feito de contradições.

Desse modo, no modo de produzir capitalista, ao subjugar o trabalho e torná-lo


mercadoria, existe a semente da superação e mudança, pela luta dos
trabalhadores em busca de liberdade.

O TRABALHO NO PENSAMENTO CLÁSSICO

O pensamento clássico se refere àquelas primeiras teorias e idéias sobre


determinado assunto, dando origem ao seu desdobramento teórico. Neste
sentido, podemos considerar os economistas Adam Smith, Marx e Ricardo como
representantes do pensamento clássico sobre o trabalho, porque para eles o
trabalho constitui a base da produção econômica. Vivendo em uma época de
intensas transformações, inovações científicas, idéias revolucionárias, nos séc.
XVIII e XIX, em que tudo se convulsionava, os primeiros economistas puderam
contemplar melhor a paisagem e descobrir os fatos mais relevantes. Os efeitos da
passagem de uma sociedade agrícola e artesanal para uma sociedade
manufatureira e industrial eram também sentidos no pensamento. É provável que
você já sentido alguma ansiedade diante das transformações atuais.

Há uma grande incerteza sobre o futuro. Vivemos, como disse anteriormente, uma
fase de transição, em que tudo parece estar mudando. Transformações
semelhantes aqueles senhores observadores e estudiosos puderam ver, analisar,
compreender e tentar explicar. Àquela época, importavam as questões de como
pagar os salários de tantos trabalhadores, criar empregos, calcular os preços das
mercadorias, as ofertas e demandas de produtos novos e em grande quantidade,
o preço do dinheiro investido e os juros dos capitais emprestados, etc. Era preciso
dar valor às coisas e quantificar este valor.

73
Enfim, solucionar os desafios da economia que surgia. Todas estas questões
estão contidas em suas publicações. Suas idéias surgiram como respostas aos
inúmeros problemas que se apresentavam à sociedade que mudava. Do mesmo
modo, hoje, pensamos sobre o impacto das novas tecnologias de informação no
trabalho, no emprego e desemprego e sobre as modificações que se processam
na economia globalizada, sendo objeto de muitos estudos e pesquisas.

Adam Smith – considerado o pai do Liberalismo - viu no trabalho e no tempo de


trabalho a fonte de valor para a economia e a sociedade. Foi o primeiro a formular
uma teoria do valor, segundo a qual o valor de cada mercadoria deriva da
quantidade de trabalho gasto em sua produção. A verdadeira fonte de riqueza de
uma sociedade é o trabalho, através do aumento de produtividade, obtida pela
divisão e especialização do trabalho.

O valor não pode ser definido pela utilidade, pois se assim fosse, o ar teria um
valor incalculável. Porém, é preciso que algo seja útil e escasso para ter valor de
troca. Mas como definir o valor de alguma coisa?

É pela quantidade de trabalho gasto em sua produção.

Por exemplo, caçar um coelho pode custar mais do que caçar um castor, pois há
mais trabalho. Um produto de dois dias de trabalho deve valer o dobro de outro
que gasta um dia ou uma hora. Desse modo, o preço das mercadorias deve ser
baseado no trabalho, porque seu valor não é variável.

Smith introduz a idéia das classes sociais e sua relação conflituosa com a classe
dos produtores que cede os meios de produção ao trabalhador e recebe o
produto, que vende com lucro. A classe dos proprietários de terra cede ao
trabalhador parte dela e, em troca, exige parte dos produtos ali produzidos, em
forma de renda da terra. Antes dessa relação, o trabalhador era o único dono do
produto de seu trabalho, ele não tinha patrão. A classe capitalista (donos dos
meios de produção ou da terra) surge com a apropriação da terra ou acumulação
privada de riqueza, o capital. Desta apropriação do trabalho, além da terra e do
capital, surge a idéia de exploração, em Marx. Posteriormente, Smith observou
que “os trabalhadores desejam ganhar o máximo, os patrões pagar o mínimo. Os
primeiros associam-se para fazer aumentar os salários, os patrões fazem o
mesmo para baixá-los.” Segundo Paul Singer, do qual extraímos as citações
acima, embora liberal, Smith foi um liberal, mas nem tanto. Ele acreditava na
propriedade privada (mas não sem a vigilância das leis), na livre iniciativa e na
livre concorrência. Supunha existir uma acomodação natural (uma mão invisível)
entre os interesses individuais na economia e na sociedade: todo indivíduo deseja
progredir e melhorar de vida, assim todos precisam cooperar entre si para que a
sociedade e a economia cresçam e se desenvolvam. Sendo assim, é preciso
haver liberdade econômica: a prática de uma doutrina liberal, que se baseia na
propriedade privada, livre iniciativa, livre concorrência nos mercados. Somente ela
possibilita a riqueza de uma sociedade. Seu livro “Uma investigação sobre a

74
natureza e as causas da riqueza das nações”, publicado em 1776, continua, na
minha opinião, um dos melhores livros existentes, apesar de ser difícil.

Marx, seguindo as idéias de Smith, desenvolveu-as, mas criticou e se opôs


ferozmente à idéia da propriedade privada e ao liberalismo econômico. Seu
pensamento sobre a teoria do valor-trabalho guarda grande semelhança ao deste
autor: todo o valor criado na sociedade nasce do trabalho e é o tempo de trabalho
a referência para se estabelecer os preços das mercadorias.

Como podemos comparar áreas de figuras geométricas diferentes, como


retângulos e quadrados ou trapézios? Basta transformar as áreas em triângulos,
encontrando-se um ponto de referência comum. O mesmo ocorre com o valor das
mercadorias. O que vale mais: um tijolo ou um lenço de seda? O ponto em
comum é o trabalho gasto para produzir estes objetos, não para o uso, pois, neste
caso, é a sua utilidade que conta e ela não tem valor econômico. É preciso saber
o tempo de trabalho gasto para produzi-lo, mas para troca, pois, aí, sím, torna-se
uma mercadoria que pode ser trocada por outra ou por dinheiro. Ela tem um valor
de troca - valor que possibilita uma transação econômica. Assim, um lenço de
seda pode valer o mesmo que um tijolo para o produtor capitalista. O valor de
cada um é a quantidade de tempo de trabalho para transformá-lo em uma
mercadoria com valor de troca. Mas isto não é sinônimo de preço da mercadoria.

Vamos imaginar um pobre tecelão manual que antes produzia uma quantidade de
lenços por dia, em 10 horas de trabalho. Com a invenção do tear a vapor, ele
trabalha 18 horas em vez das 10 anteriores. Mas o produto de suas 18 horas de
trabalho não tem mais valor que aquele produzido em 10, embora ele agora
produza muito mais lenços. O preço das mercadorias sofre influência da demanda
de compradores e da oferta de outros fabricantes e dos salários pagos, que nunca
podem ser maiores que o preço da mercadoria, mas podem ser sempre menores.
Também o valor de um homem ou da força de trabalho é determinado pela
quantidade de trabalho para produzir sua força de trabalho: produzir, manter-se
vivo e perpetuar a força de trabalho. Seu valor equivale aos artigos de
subsistência, de primeira necessidade.

Por exemplo, um trabalhador precisa de seis horas de trabalho para comprar


artigos de 1ª necessidade, que equivalem a R$ 12,00. Então, ele vende sua força
de trabalho por este preço. Se trabalha doze horas, produz R$ 12,00 de
mercadoria em seis horas e ainda produz mais R$ 12,00 de mercadoria nas outras
seis horas. Assim, ele produz um sobretrabalho, a mais-valia, que se reverterá em
lucro para o capitalista (atenção: mais-valia não é sinônimo de lucro, só é uma
fonte de lucro, pois há outros custos a pagar, além do trabalho). A mais-valia é o
tempo de trabalho que não é pago ao trabalhador e é a fonte de toda a riqueza na
sociedade. Mas, se ele trabalhar o dobro de horas, ele gera uma mais-valia
equivalente ao dobro (é a mais-valia absoluta). E se trabalhar menos, por
exemplo, só oito horas, mas ainda assim produzir mais mercadorias, ele poderá
gerar uma mais valia igual aos reais economizados com o pagamento de seu

75
trabalho (é a mais-valia relativa). Todo trabalho não pago é a fonte do lucro, da
renda da terra e do juro, que possibilita a acumulação do capital para seu dono.

Daí, nascem as relações de produção, pois torna-se capaz de controlar, com o


capital acumulado, os meios de produção. As relações de produção (formas de
propriedade dos meios de produção gerando as classes sociais e as relações
entre essas classes) criam a economia, sobre a qual se ergue o edificio de uma
sociedade. O Estado é formado pelas instituições jurídicas e políticas. As
ideologias - que são as formas de consciência social, como costumes, arte,
religião, cultura - formam uma superestrutura, para justificar as relações de
produção. Desse modo, a classe dominante, que dispõe dos meios de produção,
dispõe também dos meios de produção intelectual e política. Portanto, as idéias
dominantes em todas as épocas da história são as idéias das classes dominantes.
A luta de classes entre trabalhadores e os que controlam os meios de produção é
o mecanismo ou motor da história, isto é, o que possibilita mudar o modo de
produção. O ponto de partida para a economia é, portanto, a teoria do valor-
trabalho. O trabalho convertido em uma força que pode ser comprada e vendida,
modifica todas as relações sociais. O modo de produção capitalista surge quando
transforma em valor o trabalho e possibilita que ele seja trocado, como uma
mercadoria em um mercado.

Ricardo foi o sucessor de A. Smith. Suas idéias dominaram a economia por mais
de meio século. Deu grande contribuição à teoria do valor, localizando no trabalho
o valor na troca de mercadorias. Mas, Ricardo diferencia o valor do trabalho, em
função da habilidade e da dificuldade para realizá-lo, além da oferta de trabalho no
mercado. Sempre que houver crescimento da produtividade do trabalho, pelo uso
das máquinas, poderá ocorrer o desemprego, reduzindo o valor do trabalho e
fazendo cair os salários. Para ele, um programa econômico liberal é necessário
àquelas sociedades estagnadas, sem crescimento econômico (foi grande amigo
de Malthus, outro economista de sua época).

Enquanto Smith era bastante otimista quanto à economia no futuro, Ricardo e


Malthus eram trágicos pessimistas.

Marx, por sua vez, era um revolucionário, que confiava no desfacelamento da


economia para uma mudança no modo de produção capitalista. Posteriormente,
as idéias sobre o valor-trabalho foram criticadas e o trabalho passou a ser
considerado não mais como a base da economia, mas um dos fatores de
produção, tão importante quanto o capital e os recursos naturais.

TRABALHO E REMUNERAÇÃO. O SISTEMA DE ASSALARIAMENTO

A importância do salário para o trabalhador passou a ser imensa, pois refere-se à


sua fonte de renda, possibilitando-lhe a subsistência pessoal e familiar e um
determinado padrão de vida. Também passou a constituir-se em um símbolo de
sua posição social e de seu valor como trabalhador. Para a empresa e a
sociedade não é menos importante. Reflete-se no preço dos produtos e serviços e

76
no poder de consumo. Desse modo, quando o trabalho se torna assalariado,
modifica todas as relações sociais, pois elas se transformam em relações de troca.
O sistema de assalariamento nasceu com o capitalismo. O salário toma a forma
de mercadoria, pois pode ser trocado por força de trabalho, sob o contrato de
trabalho. O trabalhador submete-se ao mercado de trabalho, com suas leis
próprias, sujeitas às flutuações e a influências do desemprego e ao desempenho
da economia. Contudo, o conceito de salário não é imutável. Ele sofre
modificações entre os próprios trabalhadores e a sociedade. A Constituição
Brasileira de 88, por exemplo, passou a incluir a participação nos lucros ou
resultados como direitos possíveis dos trabalhadores, quando houver lucro. O
salário geralmente envolve uma relação de tempo entre o empregado e o
empregador. Ele pode ser mensal, semanal ou quinzenal. A definição de salário
como “a retribuição em dinheiro ou equivalente dos serviços prestados pelo
empregado, por força de contrato de trabalho, pelos serviços que presta” dá
ênfase ao contrato de trabalho. Contudo, na prática, o contrato é uma mera
formalidade, sem haver negociação por parte da maioria dos trabalhadores, que
aceita as condições impostas.

Há várias formas de salários: salários diretos ou indiretos, salários-base, piso


salarial, salário real. Por exemplo, empregados horistas recebem em função das
horas trabalhadas, diretamente. Um operário horista pode acumular horas em um
banco de horas, recebendo adicionais em função das horas trabalhadas, por
exemplo, se é hora noturna ou diurna, normal ou hora-extra. Pode receber
também um salário indireto, por meio de serviços oferecidos pela empresa, como
alimentação, transporte, seguro de vida, assistência médica, planos de
aposentadoria, etc.

O salário-base do empregado é o salário fixo, sobre o qual vão sendo


acrescentadas gratificações por horas-extras, adicionais de insalubridade e
periculosidade, etc. O salário-base traz a vantagem de reduzir os encargos
trabalhistas, assim como os salários indiretos. Falamos ainda em salário mínimo,
como a menor remuneração permitida por lei federal, para os trabalhadores de um
país. O piso salarial é o mínimo salário para uma categoria profissional. O salário
real equivale ao poder de compra em determinado momento e se relaciona com a
taxa de inflação. Se é muito alta, o poder do salário real diminui. O salário não é
algo novo na sociedade. Já se pagavam salários aos soldados romanos. Todavia,
os salários tornaram-se a principal forma de pagamento, com o advento do
capitalismo. Trabalhadores assalariados tornaram-se a maioria em todo o mundo.
Por exemplo, enquanto a maior parte da população americana trabalhava por
conta própria em 1900, só um décimo da população o fazia, em 1970, segundo
Braverman. Os valores econômicos sobre o trabalho buscam os fundamentos
para atribuir quantidades aos pagamentos do trabalho e como pagá-los (a palavra
salário, vem de sal, que já foi utilizado como pagamento). Os primeiros
economistas falaram sobre várias formas de pagamento observadas na sua
época: por hora, por peças, por empreitada, por subempreitada. Marx, por
exemplo, conta que as fiandeiras nas fábricas pagavam às crianças para fazer
muitos serviços e as costureiras empregavam outras para pregarem botões. Os

77
salários tornaram-se tão importantes para a sociedade que criaram uma
hierarquização nos trabalhos, na medida que os salários passaram a ser
considerados como referência do valor do trabalho. Os trabalhos mais bem pagos
passaram a ser mais procurados, criando uma competição entre os trabalhadores.
Patrões e empregadores também criaram mais exigências para o ingresso no
mercado de trabalho e uma maior cobrança em relação ao desempenho do
trabalho, quando criaram os escalonamentos de salários. Surgiram várias formas
de comparação de cargos e salários. Em vez de serem pagos com base no tempo,
os salários se tornaram atrelados às exigências, passando a incluir a descrição do
trabalho, grau de instrução, tempo de aprendizagem, habilidades necessários.
Especializaram-se os trabalhos e os trabalhadores, assim como seus salários. O
Estado viu nos salários uma fonte de impostos. Criando impostos sobre os
salários, fez crescer as oportunidades para o surgimento de inúmeras instituições
ligadas ao trabalho, desde o treinamento e educação da mão-de-obra,
recrutamento, proteção, assistência e benefícios, fiscalização, etc. No entanto,
devido a esses impostos sempre crescentes e aos encargos sociais, os
empregadores se viram com o problema dos elevados custos dos salários. Este
fato fez surgir outras formas de remuneração, para reduzir estes custos.
Benefícios assistenciais e pagamentos indiretos - transporte, alimentação, planos
privados de aposentadoria - surgiram como formas de reduzir os encargos
sociais. Atualmente, a remuneração de um trabalhador pode incluir salários,
benefícios, participação nos resultados da empresa e participação societária. A
remuneração constitui tudo quanto o trabalhador recebe direta ou indiretamente.
Outras formas de redução dos custos de salários e das folhas de pagamentos
incluem o trabalho em tempo parcial e temporário ou a terceirização de mão-de-
obra, eliminando-se os custos dos encargos trabalhistas. Várias pesquisas sobre
os salários mostram que há grande desigualdade salarial: salários mais altos na
indústria e mais baixos nos serviços; mais altos entre os homens que entre as
mulheres; mais altos entre os que têm empregos estáveis, com carteira; mais
baixos entre os que têm empregos instáveis, temporários e de meio expediente.
Há ainda inúmeros trabalhos que pagam salários incapazes de manter o
trabalhador e sua família, o que leva ao trabalho feminino ou de jovens, que, em
geral, abandonam os estudos para trabalhar.

O poder de negociação dos trabalhadores é baixo, devido ao grande número de


desempregados, criando um exército de reserva que faz baixar os salários. A
remuneração não é sinônimo de salários porque inclui salários e outros
proventos, mas é também regida por contrato. Outras denominações para o
pagamento de trabalho podem incluir honorários (usada para profissões liberais) e
soldo (para soldados e militares).

VALORES SOCIAIS SOBRE O TRABALHO

Valores são importantes para a Sociologia e a Economia. Para a primeira,


interessam os valores sociais, para a segunda, é preciso quantificar os valores,
tornando-os econômicos. Em ambos, o significado básico é o mesmo, uma
avaliação, uma atribuição de qualidade ou quantidade. A teoria do valor,

78
apresentada antes, mostrou que o trabalho pode ser visto sob a ótica de diferentes
tipos de valor (valor de uso, valor de troca). Valores são julgamentos e avaliações
comparativos. Se alguém diz que um trabalho tem mais valor que outro, julga que
um é melhor que outro. Atitudes são avaliações também, mas referem-se à
discordância ou concordância com um juízo de valor. Por exemplo, se muitas
pessoas concordam que o trabalho de um operário tem menos valor que o de um
professor, mostram uma atitude mais negativa com relação ao primeiro. Valores e
atitudes sociais podem ajudar a explicar as desigualdades encontradas na
sociedade e a entender porque o trabalho de uma pessoa é considerado melhor
ou “superior”, enquanto outro, é visto como “inferior”. Podemos observar que os
trabalhos são hierarquizados, não só em relação aos salários, mas também de
acordo com os valores e atitudes sociais. O principal critério utilizado para dizer se
um trabalho é melhor que o outro é o status (ou prestígio). E, em segundo lugar, o
poder relacionado com o trabalho. O status é a posição socialmente identificada,
podendo vir de atributos naturais (sexo, idade, família, nacionalidade) ou atributos
adquiridos (educação, habilidades, casamento, bens). Também o poder - que é a
capacidade de controlar as ações alheias - é também um critério para escalonar
os trabalhos. O poder pode vir da força física, do controle de recompensas
materiais ou simbólicas. Vimos que, na Economia, o valor do trabalho ou de
qualquer outro bem, como a água, por exemplo, não deriva de sua utilidade. Este
fato parece ocorrer também na sociedade. Por que o trabalho de uma dona de
casa não é valorizado?

Há um estereótipo com relação ao papel da mulher, isto é, que deve ser centrado
no lar e na assistência aos mais fracos. Um estereótipo é uma imagem cristalizada
na sociedade, uma repetição, baseada em atitudes e valores sociais. Isto
prejudica o trabalho feminino, pois gera oportunidades de emprego apenas em
atividades de assistência e cuidados aos outros ou semelhantes ao trabalho
doméstico. São trabalhos de baixo status e poder, como é o papel feminino na
sociedade, julgado negativamente em relação ao masculino, dominante nas
relações sociais.

Podemos dizer que: 1º - São menos valorizados ou valorizados negativamente os


trabalhos que agregam pouco valor a outros produtos. Por isto, em geral,os
“serviços” eram menos valorizados que os trabalhos ligados à indústria, tendo
menor prestígio social; mudando seu valor na medida em que passaram a
incorporar outros valores (por exemplo, serviços de saúde ou ligados ao
conhecimento); 2º - São pouco valorizados os trabalhos braçais, pois são
comparados ao das máquinas ou animais, salvo nos esportes ou artes, onde a
habilidade e o talento são raramente encontrados; 3º - São pouco valorizados os
trabalhos repetitivos, rotineiros, que têm um ciclo curto (assim que terminados,
devem ser reiniciados), como o trabalho doméstico, de limpeza, de operários com
baixa qualificação; 4º - São também pouco valorizados os trabalhos que exigem
pouco tempo de aprendizagem e pouca educação formal. Por outro lado,
pesquisas demonstram que são valorizados positivamente os trabalhos de ciclos
longos, que criam inovações e exigem longo tempo de aprendizagem, educação
formal especializada, além de habilidades mentais ou físicas elevadas. A

79
sociedade moderna valoriza a educação formal, as novidades, a inteligência,
conferindo-lhe grande status e poder. Os trabalhos mais valorizados são aqueles
mais bem remunerados, com altos salários e benefícios, ou que se associam a
poder elevado, pela possibilidade de controlar recursos. Eles possibilitam o
consumo de bens materiais, serviços ou bens não materiais, como lazer,
conhecimento, acesso a oportunidades e pessoas. Desse modo, as pessoas
atribuem um alto status ao trabalho de um jogador de futebol, principalmente pela
alta remuneração (salário mensal de 50 mil dólares) e ao poder associado ao
dinheiro.

Em síntese: Os valores sociais sobre o trabalho na sociedade industrial estão,


portanto, ligados aos aspectos da ocupação e não ao trabalho, em si mesmo:
qualificação, poder, renda e status. Obter prestígio ou status social, salários
elevados possibilitando o lazer, a moradia, a saúde, a educação, o poder de
consumo são importantes para definir o valor do trabalho e seu significado,
atualmente. Para a maioria, o trabalho é um mal necessário, sendo assim, pelo
menos que ele ofereça algumas vantagens materiais. As conseqüências dos
valores e atitudes sociais nem sempre são positivas. A principal é o preconceito. O
pré-conceito é um julgamento de valor, prematuro, feito sem cuidado. Ele produz e
reproduz o baixo valor conferido a diferentes tipos de trabalho, pessoas e atributos
pessoais. Leva ao menosprezo, ao autoritarismo e à exclusão. Um exemplo é o
preconceito racial, que, no Brasil, é sutil e disfarçado, mas que mesmo assim
subordina a outra pessoa. As discriminações de quaisquer formas (cor, raça,
religião, aparência, deficiência física ou mental, sexo, idade) são atos criminosos
no Brasil, mas ainda acontecem. A discriminação é baseada no preconceito. O
mal-estar no trabalho ou assédio moral é também baseado no preconceito (ou
crueldade) e acontece quando uma pessoa é perseguida, tratada injustamente no
trabalho ou submetida ao ridículo e ao constrangimento social. Por exemplo, o
trabalhador recebe os piores trabalhos ou é deixado sem atividades e “encostado”,
ou seu corpo ou roupas são revistados. Tanto o assédio moral ou sexual são
crimes. Neste último, o superior submete outra pessoa a obedecer-lhe, sob a
ameaça de perda do emprego ou rebaixamento, para obter favores sexuais. Além
de manter as situações de desigualdades, os preconceitos podem impedir o
conhecimento da realidade.

DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

A divisão social do trabalho é o modo como se distribui o trabalho nas diferentes


sociedades ou estruturas socioeconômicas e que surge quando grupos de
produtores realizam atividade específicas em consequência do avanço dum certo
grau de desenvolvimento das forças produtivas e de organização interna das
comunidades. Com a determinação de funções para as formas variadas e
múltiplas do trabalho constituem-se grupos sociais que se diferenciam de acordo
com a sua implantação no processo de produção. Tais grupos correspondem ao
estatuto que adquirem dentro da sociedade e ao trabalho que executam.

80
Numa fase inicial, a divisão do trabalho limitava-se a uma distribuição de tarefas
entre homens e mulheres ou entre adultos, anciãos ou crianças, em virtude da
força física, das necessidades ou do acaso, sem que tal conduzisse ao
aparecimento de grupos especializados de pessoas com os seus próprios
interesses ou características, não originando portanto diferenças de natureza
social.

O desenvolvimento da agricultura originou profundas divisões sociais no trabalho.


Os arroteamentos florestais, os grandes saneamentos de zonas pantanosas, a
introdução de pesados instrumentos agrícolas, a lavra da terra com a ajuda de
animais de tração, tornaram-se trabalhos demasiado pesados que acentuaram
uma separação de atividades entre homens e mulheres, com a concomitante
passagem do matriarcado ao patriarcado.

Esta mudança abriu uma brecha na organização gentílica e refletiu-se na posse


dos bens materiais. A família adquiriu a característica de uma unidade de
produção e de transmissão hereditária de bens entretanto acumulados. A divisão
social do trabalho entre os sexos tornou-se muito nítida. Os trabalhos domésticos
foram-se transformando em ofícios especializados e as mulheres, sobretudo a
partir da introdução do arado, terão deixado o trabalho agrícola mais pesado e
dedicado mais à horticultura, á recolha de frutos e plantas comestíveis, criação de
animas domésticos, à fiação, tecelagem e olaria, atividades concretizadas em
áreas muito próximas dos próprios locais de residência. As mulheres ficaram
assim excluídas duma participação ativa na vida social e política, situação que
ocorreu em todas as civilizações. Não gozavam de qualquer dos privilégios
políticos conferidos pela cidadania, não participando em assembléias, na
magistratura ou em qualquer posição social comparável. É claro que havia
diferenças entre as mulheres escravas, as mulheres de homens livres ou as de
membros de nível elevado da sociedade. Mas, mesmo nestes casos, em que as
mulheres nada produziam e gozavam de condições materiais excelentes na sua
vida quotidiana, a sua existência desenrolava-se meramente num contexto dum
sistema de vida patriarcal.

As tribos que povoavam territórios dotados de ricas pastagens tendem a


abandonar a agricultura e a dedicar-se à criação intensiva de animais, originando
a formação de comunidades nômades. À medida que se desenvolve a atividade
agrária, destacam-se as tribos com atividades exclusivamente pastoris. Esta
separação contribuiu para elevar sensivelmente a produtividade do trabalho e
criou as premissas materiais para o aparecimento da propriedade privada.

A ocupação de todo o tempo de alguns indivíduos na atividade agrícola impede


que se dediquem simultaneamente a produzir os instrumentos e os artefatos que
lhes são necessários. O uso de novos instrumentos de trabalho mais
aperfeiçoados e complexos determina uma especialização que contribuiu para o
aparecimento dos artesãos, indivíduos dedicados exclusivamente ao seu fabrico e
manutenção. Surgem assim artífices independentes que ocupam a totalidade do
seu tempo na criação desses meios de produção, que depois terão de trocar por

81
gêneros alimentícios. O desenvolvimento destas atividades especializadas
culmina na separação entre o artesanato e a agricultura, que conduziu à
intensificação das trocas diretas internas e, posteriormente, das trocas indiretas
através do mercado e, por fim, ao aparecimento da atividade mercantil. Esta
especialização do trabalho tende a alargar-se à pesca. O papel dos agricultores-
pescadores tende a diminuir para aumentar o de profissionais voltados
exclusivamente para esta faina, quer na água doce, quer no mar.

À medida que aparecem profissões diversificadas, acontece que os indivíduos


mais concentrados num determinado tipo de atividade têm de recorrer à troca
daquilo que produzem pelos objetos que eles próprios não produzem, mas de que
precisam a fim de satisfazer as suas necessidades profissionais, além das
individuais ou familiares. A intensificação do intercâmbio entre estes grupos de
produtores especializados, a formação de excedentes e a entrega de tributos em
dinheiro às classes com um estatuto dominante, ampliou a necessidade de
produzir artigos destinados à troca, dando lugar à produção com um propósito
mercantil e à formação duma classe de mercadores.

A divisão do trabalho desencadeada pelo incremento da atividade comercial,


ligada à ampliação das atividades transformadoras e da navegação, deslocou o
centro dos interesses econômicos do interior para o litoral. Ao lado da divisão
entre agricultores, artesãos e mercadores, passou a existir uma outra, entre
trabalhadores rurais e citadinos, que corresponde, total ou parcialmente, à
oposição entre o campo e a cidade. Na estrutura urbana observa-se uma distinção
entre sectores comerciais, administrativos, culturais, transportadores, artesanais e
até agrícolas, fenômeno com menor relevância nos meios rurais.

A divisão social do trabalho manifesta-se também entre trabalho mental e material.


O processo geral alcançado a nível bastante elevado de separação entre o
trabalho intelectual e o trabalho físico, levou ao surgimento duma elite que
escapava ao quadro dos interesses dos diferentes estados.

As distintas fases de desenvolvimento da divisão social do trabalho contribuíram


para elevar sensivelmente a produtividade do trabalho e criar as premissas
materiais para o aparecimento da propriedade do solo, da apropriação dos meios
e dos produtos do trabalho. Contribuíram igualmente para tornar mais consistente
a existência de sociedades baseadas na divisão entre classes dominantes e
classes subordinadas.

Sob o capitalismo, a produção especializa-se e tem como objetivo exclusivo a


obtenção de lucro. A divisão social do trabalho desenvolve-se espontaneamente,
com o avanço desigual dos diferentes ramos de produção, acompanhado duma
luta constante competitiva e duma desordem e dissipação do trabalho social. Os
limites das economias nacionais são ultrapassados pelo desenvolvimento do
comércio internacional, circunstância que dá lugar a uma divisão internacional de
trabalho.

82
População e Emprego. População, população ativa e população ocupada.

A relação de emprego, ou o vínculo empregatício, é um fato jurídico que se


configura quando alguém (empregado ou empregada) presta serviço a uma outra
pessoa, física ou jurídica (empregador ou empregadora), de forma subordinada,
pessoal, não-eventual e onerosa.

Ter um emprego, não só constitui o principal recurso com que conta a maioria das
pessoas para suprir as suas necessidades materiais, como também lhes permite
plena integração social. Por isso, a maior parte dos países reconhece o direito ao
trabalho como um dos direitos fundamentais dos cidadãos. Emprego é a função e
a condição das pessoas que trabalham, em carácter temporário ou permanente,
em qualquer tipo de atividade económica, remunerada ou não. Por desemprego
entende-se a condição ou situação das pessoas incluídas na faixa das "idades
activas" (em geral entre 18 e 65 anos), que estejam, por determinado prazo, sem
realizar trabalho em qualquer tipo de actividade económica, remunerada ou não.
As possibilidades de emprego que os sistemas económicos podem oferecer em
certo período, relacionam-se com a capacidade de produção da economia, com as
políticas de utilização dessa capacidade e com a tecnologia empregada na
produção. Os economistas clássicos entendiam que o estado de pleno emprego
dos factores de produção (entre eles o trabalho) era normal, estando a economia
sempre em equilíbrio. John Stuart Mill dizia: "Se pudermos duplicar as forças
produtoras de um país, duplicaremos a oferta de bens em todos os mercados,
mas ao mesmo tempo duplicaremos o poder aquisitivo para esses bens." Dentro
dessa linha de ideias, o aparecimento de desempregados em certas épocas era
explicado como a resultante de um desajustamento temporário. O ajustamento
(ocupação da força de trabalho desempregada) ocorreria quando os trabalhadores
decidissem aceitar voluntariamente os salários mais baixos oferecidos pelos
empresários.

O termo população tem, consoante a disciplina a que se refere, distintas


definições. Em Biologia define-se como um grupo de indivíduos que acasalam uns
com os outros, produzindo descendência. Em Estatística chama-se população ao
conjunto de todos os valores que descrevem o fenómeno que interessa ao
investigador. Em Sociologia define-se como um conjunto de pessoas adscritas a
um determinado espaço, num dado tempo.

População em Idade Ativa (PIA) é uma classificação etária que compreende o


conjunto de todas as pessoas teoricamente aptas a exercer uma atividade
econômica. No Brasil, a PIA é composta por toda população com 10 ou mais anos
de idade e subdivide-se em População Economicamente Ativa e a População não
Economicamente Ativa.

83
• População Economicamente Ativa (PEA): compreende o potencial de
mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população
ocupada e a população desocupada.
o População Ocupada: aquelas pessoas que trabalham, incluindo:
 Empregados - pessoas que trabalham para um empregador
ou mais, cumprindo uma jornada de trabalho, recebendo em
contrapartida uma remuneração em dinheiro ou outra forma
de pagamento (moradia, alimentação, vestuário, etc.).
Incluem-se entre as pessoas empregadas aquelas que
prestam serviço militar obrigatório e os clérigos. Os
empregados são classificados segundo a existência ou não de
carteira de trabalho assinada.
 Conta Própria - aqueles que exploram uma atividade
econômica ou exercem uma profissão ou ofício e não têm
empregados.
 Empregadores - aqueles que exploram uma atividade
econômica ou exercem uma profissão ou ofício, com um ou
mais empregados.
 Não Remunerados - pessoas que exercem uma ocupação
econômica, sem remuneração, pelo menos 15 horas na
semana, ajudando a um membro da unidade domiciliar em
sua atividade econômica, ou ajudando a instituições
religiosas, beneficentes ou cooperativas, ou, ainda, como
aprendiz ou estagiário.
o População Desocupada: pessoas que não têm trabalho, mas estão
dispostas a trabalhar, e que, para isso, tomam alguma providência
efetiva (consultando pessoas, jornais, etc.).

• População não Economicamente Ativa (PNEA) ou População


Economicamente Inativa (PEI): são as pessoas não classificadas como
ocupadas ou desocupadas, ou seja, pessoas incapacitadas para o trabalho
ou que desistiram de buscar trabalho ou não querem mesmo trabalhar.
Inclui os incapacitados, os estudantes e as pessoas que cuidam de
afazeres domésticos. Inclui também os "desalentados" - pessoas em idade
ativa que já não buscam trabalho, uma vez que já o fizeram e não
obtiveram sucesso. O IBGE considera desalentado aquele que está
desempregado e há mais de um mês não busca emprego.

O conjunto de pessoas com menos de 10 anos de idade corresponde à


População em Idade Economicamente Não-Ativa (PINA).

Apesar da proibição legal, o trabalho infantil é considerado pelo IBGE para o


cálculo da PEA, a partir de 10 anos de idade, por ser uma prática ainda explorada.

84
Trabalho e Progresso Técnico

A divisão do trabalho ocorre em relação a tarefas econômicas, políticas e culturais.


Neste processo as pessoas desempenham funções especializadas e
complementares. Algumas pessoas trabalham na linha de montagem das fabricas,
outras na construção civil, médicos, escritores, professores ou empresários. A
mesma distribuição de tarefas que ocorre em uma pequena empresa, amplia-se
consideravelmente em uma grande industria.

No âmbito das nações, a divisão do trabalho ocorre na especialização da


produção, que caracteriza a economia nacional. As nações ricas produzem
tecnologia sofisticada, bens de capital ou fornecem capital para outros.

As nações do passado colonial que foram até recentemente dominadas pelas


grandes metrópoles capitalistas, são fornecedoras de matérias primas para o
mercado internacional.

A primeira divisão do trabalho deu-se entre a coleta e a caça, correspondia à


divisão de papeis entre os sexos: o homem caçava e a mulher coletava.
Posteriormente vieram o pastoreio e a agricultura, e com o surgimento das
cidades no Oriente, desenvolveram-se o artesanato e o comercio.
Foi a partir da Revolução Industrial e do intenso desenvolvimento do modo de
produção capitalista que se intensificou o processo diferenciador de funções.
Fragmentaram-se as tarefas produtivas e administrativas, especializou-se o
trabalho intelectual. Repartições essas que aumentaram a produtividade do
trabalho, mas trouxe graves conseqüências sociais para as classes.

Processo de trabalho e organização de trabalho

Não há consenso acerca da natureza e da direção da transformação do modo de


produzir os bens e serviços. Para uns estamos numa nova era, caracterizada pela
passagem da produção em massa de produtos e serviços estandardizados em
quadros organizacionais rígidos para um novo sistema produtivo caracterizado
pela diversidade, flexibilidade, inovação e cooperação. Uma abundante literatura
amplamente divulgada pelos mas media, em revistas especializadas e livros best-
seller anuncia a substituição do velho paradigma pelo novo paradigma e a
chegada de uma nova era pós-taylorista/fordista. Num contexto de forte
competição em mercados globais, as empresas têm de melhorar simultaneamente
a produtividade e a qualidade dos seus produtos, reduzir os custos e, ao mesmo
tempo, adaptar-se rapidamente ao mercado incerto e variado. Para poder
responder a estas exigências, as empresas têm de renovar o seu modelo de
produção. Este novo modelo implica a valorização dos recursos humanos,
nomeadamente o aumento do nível de qualificações, novas competências,
responsabilidade e iniciativa, trabalho em equipa, bem como o abandono do clima
de confronto a favor do diálogo e do envolvimento dos trabalhadores.

85
O tecno-otimismo futurista postula uma marcha inevitável em direção “à sociedade
da informação/conhecimento”. Esta sociedade centra-se na produção de bens e
serviços intensivos em alta tecnologia e em conhecimento/informação no seio de
redes organizacionais caracterizadas pela flexibilidade, pelas relações de
cooperação e pelas parcerias. Por outras palavras, as novas tecnologias levam à
era pós-taylorista, pós-burocrática, isto é, à generalização do trabalho inteligente
realizado em estruturas organizacionais mais planas e descentralizadas, nas quais
o trabalho se torna imaterial, mais complexo, exigindo conhecimentos mais amplos
e de nível mais elevado, autonomia, iniciativa, responsabilidade, criatividade,
capacidade de aprendizagem contínua, autocontrole, investimento subjetivo e a
mobilização da inteligência.

Nesta óptica, pessoas e organizações têm de se adaptar às mudanças produzidas


pelas tecnologias de informação e comunicação (TIC) que são consideradas
como as grandes forças que modelam as relações sociais, econômicas e políticas,
dando origem a um novo tipo de sociedade, a sociedade da informação. Está
subjacente a idéia que o caminho do futuro já está traçado pelas TIC, entendidas
como forças atuantes e autônomas do contexto sociocultural. Não há atores
sociais, mas apenas sujeitos passivos que têm de se ajustar aos inevitáveis
processos de transformação. Ao mesmo tempo, a abertura dos mercados e a
intensificação da concorrência são encaradas como mecanismos poderosos de
progresso econômico que “impele o desenvolvimento da competitividade geral das
nossas economias, aumenta o bem-estar geral tornando mais eficaz a distribuição
mundial de recursos.

A perspectiva centrada no fator humano pode ser encarada como a via alta (high
road) da inovação da organização do trabalho, por visar não apenas altos níveis
de produtividade e altos níveis de qualidade dos produtos e dos serviços, mas
também altos salários, altos níveis de qualificação e alto nível de qualidade de
vida no trabalho. Desta forma, a ênfase está na perspectiva holista, na divisão das
tarefas, na importância dos conhecimentos e capacidades especificamente
humanos, na utilização da tecnologia como meio para melhorar as qualificações e
as competências e na autonomia das equipas de trabalho e dos indivíduos.
Estudos de caso sobre experiências na Comunidade Européia indicam que é
possível compatibilizar performances econômicas competitivas com a melhoria da
qualidade de vida no trabalho e com a defesa do ambiente. Porém, a larga
aceitação da idéia da difusão de novos princípios de racionalização (lean
production e business process reengineering), fez recuar as experiências
européias inovadoras inspiradas na perspectiva centrada no fator humano (modelo
sociotécnico, modelo antropocêntrico ou produção reflexiva).

A perspectiva da inovação organizacional centrada na eficiência, atualmente


predominante, está enraizada nas experiências japonesa e americana. A década
de 1990 foi marcada pela ressurgência da racionalização. Gurus de gestão e
consultores exaltam os benefícios da mudança através da aplicação de novos
métodos e técnicas de organização, tais como: justin-time, outsoursing,
downsizing, business process reengineering, qualidade total, empowerment, como

86
panacéias para os múltiplos problemas que as empresas têm de resolver. A
reengenharia promete alcançar saltos gigantes e drásticos nos resultados da
organização, propondo para esse fim um conjunto de inovações radicais que
arrasam as estruturas e os procedimentos existentes nas organizações e criam
formas completamente novas de realizar o trabalho. Ainda que as teses em torno
da reengenharia reivindiquem uma perspectiva inovadora, os seus críticos
afirmam que se trata de retomar os princípios sociotécnicos antigos (trabalho de
grupo centrado nos processos, introdução de feedbacks no processo de trabalho,
etc.), mas colocando-os numa nova embalagem.

Trabalho parcial e integral

TRABALHO EM REGIME DE TEMPO PARCIAL

O trabalho em “Regime de Tempo Parcial”, também chamado de trabalho é aquele


em que o trabalhador não trabalha mais de 25 horas semanais.

A Medida Provisória 2.164-41 de 24-08-2001, terminou por incluir na CLT –


Consolidação das Leis do Trabalho o artigo 58-A que define como sendo o
trabalho em “ Regime de Tempo Parcial”, aquele que:

“Art. 58-A - Considera-se trabalho em


regime de tempo parcial aquele cuja duração
não exceda a vinte e cinco horas semanais.

DO SALÁRIO DO TRABALHADOR EM REGIME DE TEMPO PARCIAL

Para os trabalhadores que exercem suas atividades em “Regime de Tempo


Parcial”, deverá ser observado o disposto no parágrafo primeiro do artigo 58-A
quando for calcular o salário a ser pago para este empregado.

O salário que será pago ao empregado em “Regime de Tempo Parcial”, não pode
ter um valor da hora inferior ao do empregado que trabalhe em “Regime de Tempo
Integral”, também chamado de “Regime Normal”.

A título de exemplo, vale ressaltar que se existe um empregado que não exerce
sua atividade em “Regime de Tempo Parcial”, e recebe por hora o valor R$ 10,00,
este deverá ser o valor da hora do trabalhador em “Regime de Tempo Parcial”.

O valor final do salário do trabalhador em “Regime de Tempo Parcial” será


proporcional ao seu tempo de trabalho, mas sempre observando o valor da hora
pago ao empregado que não exerce sua atividade em “Regime de Tempo Parcial”.

Para melhor entendimento, passo a transcrever o parágrafo primeiro do art. 58-A.

87
§ 1º - O salário a ser pago
aos empregados sob o regime de tempo parcial
será proporcional à sua jornada, em
relação aos empregados que cumprem, nas
mesmas funções, tempo integral.

DA MODIFICAÇÃO DO REGIME JÁ EXISTENTE

Outro fato que merece destaque diz respeito a possibilidade de modificar o


“Regime de Trabalho de Tempo Integral” dos atuais empregados em “Regime de
Tempo Parcial”.

O parágrafo segundo do mesmo artigo citado acima determina que para a


modificação do “Regime de Tempo Integral” para o “Regime de Tempo Parcial”, o
empregado deverá manifestar sua opção, e deverá ainda existir instrumento
coletivo prevendo tal possibilidade.

A empresa não pode por livre vontade transformar o “Regime de Trabalho de


Tempo Integral” em “Regime de Tempo Parcial”.

E mais uma vez para melhor entendimento, passo a transcrever o texto legal,
inserido no art. 58-A, §2º da CLT.

§ 2º - Para os atuais empregados, a


adoção do regime de tempo parcial ser
á feita mediante opção manifestada
perante a empresa, na forma prevista em
instrumento decorrente de negociação
coletiva.”

DA IMPOSSIBILIDADE DE TRABALHAR EM HORAS EXTRAS

O trabalho em “Regime de Tempo Parcial” trás outras conseqüências como, por


exemplo, a impossibilidade do exercício do trabalho em jornada extraordinária.

Em outras palavras, o trabalhador que exerce suas atividades em regime de


tempo parcial não pode fazer horas extras.

Este impedimento está previsto no Art. 59, § 4º da CLT, que assim dispõe:

“§ 4º - Os empregados sob
o regime de tempo parcial não
poderão prestar horas extras.”

DAS FÉRIAS

88
Outra diferença entre o empregado em “Regime de Tempo Integral” e o
empregado em “Regime de Tempo Parcial”, está no período de gozo de férias.

A mesma Medida Provisória nº 2164-41 de 24/08/2001 acabou por inserir na CLT


o artigo 130-A que trata das férias do trabalhador em “Regime de Tempo Parcial”,
estabelecendo para estes trabalhadores períodos inferiores aos daqueles
previstos para os trabalhadores que trabalham em “Regime de Tempo Integral”,
para o gozo de suas férias

DOS OUTROS BENEFÍCIOS

É importante frisar que a CLT cria algumas diferenças para os trabalhadores que
exercem suas atividades em regimes diferentes, no entanto, existem alguns
direitos que a doutrina e a jurisprudência vêm entendendo que não podem ser
diferenciados.

Entre estes direitos estão aqueles benefícios fornecidos para o exercício do


trabalho, ou também os relacionados ao contrato de emprego, como por exemplo,
os previstos na Convenção Coletiva, tais como: diárias, vale-refeição, cesta
Básica, etc.

Estes benefícios não estão vinculados ao “Regime de Trabalho”, ou seja, se ele é


de tempo parcial ou integral, mas sim ao contrato de emprego celebrado entre o
empregado e o empregador, portanto, não podem ser diferenciados, sob pena de
estar discriminando o empregado que trabalha em “Regime de Tempo Parcial”.

Trabalho artesanal, manufatura e grande indústria

Artesanato é essencialmente o próprio trabalho manual ou produção de um


artesão (de artesão + ato). Mas com a mecanização da indústria o artesão é
identificado como aquele que produz objetos pertencentes à chamada cultura
popular.

O artesanato é tradicionalmente a produção de caráter familiar, na qual o produtor


(artesão) possui os meios de produção (sendo o proprietário da oficina e das
ferramentas) e trabalha com a família em sua própria casa, realizando todas as
etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final;
ou seja, não havendo divisão do trabalho ou especialização para a confecção de
algum produto. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante ou
aprendiz.

89
História

Loja de artesanato urbano, no Porto, em Portugal.

Os primeiros objetos feitos pelo homem eram artesanais. Isso pode ser
identificado no período neolítico (6.000 a.C.) quando o homem aprendeu a polir a
pedra, a fabricar a cerâmica como utensílio para armazenar e cozer alimentos, e
descobriu a técnica de tecelagem das fibras animais e vegetais. O mesmo pode
ser percebido no Brasil no mesmo período. Pesquisas permitiram identificar uma
indústria lítica e fabricação de cerâmica por etnias de tradição nordestina que
viveram no sudeste do Piauí em 6.000 a.C.

Historicamente, o artesão, responde por todo o processo de transformação da


matéria-prima em produto acabado. Mas antes da fase de transformação o
artesão é responsável pela seleção da matéria-prima a ser utilizada e pela
concepção, ou projeto do produto a ser executado.

A partir do século XI, o artesanato ficou concentrado então em espaços


conhecidos como oficinas, onde um pequeno grupo de aprendizes viviam com o
mestre-artesão, detentor de todo o conhecimento técnico. Este oferecia, em troca
de mão-de-obra barata e fiel, conhecimento, vestimentas e comida. Criaram-se as
Corporações de Ofício, organizações que os mestres de cada cidade ou região
formavam a fim de defender seus interesses.

Revolução Industrial

Com a Revolução Industrial, teóricos do século XIX, como Karl Marx e John
Ruskin, e artistas (ver: Romantismo) criticavam a desvalorização do artesanato
pela mecanização. Os intelectuais da época consideravam que o artesão tinha
uma maior liberdade, por possuir os meios de produção e pelo alto grau de
satisfação e identificação com o produto.

90
Na tentativa de lidar com as contradições da Revolução Industrial, William Morris
funda o grupo de Artes e Ofícios na segunda metade do século XIX, tentando
valorizar o trabalho artesanal e se opondo à mecanização.

Manufatura é um processo de produção de bens em série padronizada, ou seja,


são produzidos muitos produtos iguais e em grande volume, por meio de
máquinas, ferramentas e trabalho.

O processo pode ser manual (origem do termo) ou com a utilização de máquinas.


Para obter maior volume de produção é aplicada a técnica da divisão do trabalho,
onde cada trabalhador executa apenas uma pequena porção da tarefa. Assim,
especializa-se e economiza movimentos, o que vai conferir a maior velocidade de
produção.

As manufaturas surgiram durante a Revolução industrial. Eram pequenas oficinas


já com produção em série, porém com trabalho praticamente manual. As fábricas
ou indústrias tinham porte e mecanização muito maior. Atualmente não existe
mais esta distinção, e o termo manufaturado é sinônimo de industrializado.

No contexto da economia, na manufatura é iniciada a hierarquização das forças


de trabalho em mais qualificadas e menos qualificadas. Os trabalhadores com
maior qualificação costumam ter mais necessidade de esforço mental do que os
que ocupam cargos menos qualificados. Nessa diferenciação qualitativa surge a
diferenciação de salário a receber, além de um conhecimento menor dos
procedimentos de produção por parte dos que tem qualificação inferior.

Apesar de, assim como o artesanato, ser uma forma de produção não-industrial, a
diferenciação de cargos existe apenas na manufatura.

Indústria é toda atividade humana que, através do trabalho, transforma matéria-


prima em outros produtos, que em seguida podem ser, ou não, comercializados.
De acordo com a tecnologia empregada na produção e a quantidade de capital
necessária, a atividade industrial pode ser artesanal, manufatureira ou fabril.

O processo de produção industrial é também conhecido como setor secundário,


em oposição à agricultura (setor primário) e ao comércio e serviços (setor
terciário), de acordo com a posição que cada atividade normalmente está na
cadeia de produção e consumo. Hoje em dia o processo industrial é capitaneado
pelas multinacionais.

91
Também se pode usar o termo indústria, genericamente, para qualquer grupo de
empresas que compartilham um método comum de gerar dividendos, embora não
sejam necessariamente do segundo sector, tais como a indústria bancária ou
mesmo a agroindústria.

Indústria de bens de produção ou indústria de base

É toda indústria que trabalha com matéria-prima bruta transformando-a em


matéria-prima para outras indústrias. Exemplo: indústria siderúrgica e
petroquímica.

Indústria de bens intermediários ou de bens de capital(tipo de indústria de base)

Transforma matéria-prima bruta em outro tipo de matéria-prima e são aquelas que


produzem máquinas para outras indústrias. Ex.: fábricas de tornos (Equipa
indústrias mecânicas).

Indústria de bens de consumo

É aquela que produz produtos, voltado ao grande mercado consumidor (população


em geral). Ex.: Indústria têxtil, Indústria alimentar. A indústria de bens de consumo
aparece como indústria leve.

A crise da sociedade do trabalho

Essa crise consiste na desestruturação do mundo do trabalho cujos traços


característicos, entre outros, são: o desemprego, o sobretrabalho, o
dessalariamento, a informalidade, a precarização e a flexibilização das relações de
trabalho.

Reiventar a sociedade do trabalho. Este é o desafio que emerge para a nossa


sociedade. Isto significa ousar pensar uma sociedade na qual o trabalho não se
defina e seja descrito unicamente como trabalho assalariado.

É neste sentido que é importante acompanhar a emergência das experiências de


socioeconomia solidária e de cooperativismo. Elas apontam para a necessidade
de novos paradigmas produtivos, capazes de gerar solidariedade entre os seres
humanos e desses com a natureza, o cosmos e o universo visando a fazer deste
mundo um lugar em que todas as pessoas, da nossa e das futuras gerações,
possam viver bem e com segurança.

92
O determinismo tecnológico

Determinismo Tecnológico é atualmente a teoria mais popular sobre a relação


entre tecnologia e sociedade. Ela tenta explicar fenômenos sociais e históricos de
acordo com um fator principal, que no caso é a tecnologia. O conceito de
“determinismo tecnológico” foi criado pelo sociólogo americano Thorstein Veblen
(1857-1929) e cultivado e aperfeiçoado por Robert Ezra Park, da Universidade de
Chicago. Em 1940, Park declarou que os dispositivos tecnológicos estavam
modificando a estrutura e as funções da sociedade, noção que serviu de ponto de
partida para uma corrente teórica em todos os aspectos inovadora.

Desde a Segunda Guerra Mundial, os cientistas têm considerado a tecnologia


como um dilema moral e que seu uso pode causar conseqüências profundas na
humanidade e no planeta. Os sociólogos vêem o problema através do aumento da
complexidade e da velocidade das mudanças que a tecnologia está trazendo para
a sociedade. Segundo eles, as mudanças tecnológicas ultrapassam a habilidade
das pessoas e das diversas sociedades para adaptar-se a elas. Para outras,
ainda, a tecnologia é vista como uma força dominante na sociedade, colocando
obstáculos para a liberdade humana.

De acordo com os deterministas tecnológicos, (como Marshall McLuhan, Harold


Innis, Neil Postman, Jacques Ellul, Sigfried Giedion, Leslie White, Lynn White Jr. E
Alvin Toffler), as tecnologias (particularmente as da comunicação ou mídias) são
consideradas como a causa principal das mudanças na sociedade, “e são vistas
como a condição fundamental de sustentação do padrão da organização social.
Os deterministas tecnológicos interpretam a tecnologia como a base da sociedade
no passado, presente e até mesmo no futuro. Novas tecnologias transformam a
sociedade em todos os níveis, inclusive institucional, social e individualmente. Os
fatores humanos e sociais são vistos como secundários” (Chandler, Daniel, 2000).

Harold Innis, historiador e economista canadense, foi o pioneiro nessa nova


corrente. O seu primeiro trabalho no campo da comunicação surgiu na forma de
um artigo publicado em 1940, analisando a importância da imprensa para o
crescimento econômico. Mas o mais curioso no ensaio foi a forma como Innis o
concluiu. O autor escreveu que pretendia com o estudo “sublinhar a importância
de uma mudança no conceito da dimensão do tempo”, acrescentando que o
tempo “não pode ser encarado como uma linha reta, mas como uma série de
curvas dependentes em parte dos avanços tecnológicos” (citado por Santos, op.
cit. 1992, p. 66).

O artigo defendia que os jornais, ao exigir que as notícias fossem difundidas


rapidamente, estavam alterando a concepção do tempo e do espaço. Seguidor
das idéias de Innis, McLuhan discorda com o comentário de alguns estudiosos
que dizem que tecnologias são por si próprias neutras e que o uso que se faz
delas é que é o ponto importante para discussão. Ele sustenta que as máquinas a
fundamentalmente as relações pessoais e interpessoais, não importando o uso
que se faz delas. “O efeito das máquinas tecnológicas foi reestruturar o trabalho

93
humano e associação pela técnica da fragmentação”. McLuhan chama de
“sonâmbulos” os que dizem que é o uso que se faz das tecnologias que determina
o seu valor. Para ele, o poder transformador da mídia é a própria mídia. “A
mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, ritmo ou
padrão que introduz na vida humana” (McLuhan, 1965). A mídia afeta a maneira
como os indivíduos agem e interagem na recepção de suas mensagens,
modificando a organização social da vida diária.

Segundo o autor canadense, o homem é constantemente modificado pelas suas


próprias invenções, mesmo que tais modificações sejam invisíveis. o que
verdadeiramente interessa não é o que a rádio ou televisão dizem, mas sim o fato
de existirem, trazendo transformações à sociedade. Portanto, para McLuhan, “o
meio é a mensagem.”

Jacques Ellul também insiste que a tecnologia carrega consigo seus próprios
efeitos, independentemente de como é usada. Para Ellul, as tecnologias carregam
consigo um número de conseqüências positivas e negativas, não importando
como e para que são utilizadas. Não é apenas uma questão de intenções. O
desenvolvimento tecnológico não é bom ou mal ou neutro. As pessoas tornam-se
condicionadas por seus sistemas tecnológicos. Independente de se acreditar que
as tecnologias são boas ou más, elas continuarão seu curso fazendo o que
sempre fazem: subjugando a humanidade. A “substantive theory”, seguida por
Ellul, argumenta que as tecnologias constituem um novo tipo de sistema cultural
que reestrutura inteiramente o mundo social como um objeto de controle. Aluno
de McLuhan, Neil Postman também adota um ponto de vista fortemente
determinista. De acordo com Postman, nós vivemos hoje naquilo que ele chama
uma tecnópole. Ele faz uma distinção bem definida entre este estado atual e a
tecnocracia do século dezenove. “‘Tecnocracia’ caracteriza uma sociedade que
leva a tecnologia a sério, mas ainda mantém suas tradições, regras morais e
também uma oposição vital entre o velho e o novo. Por outro lado, a ‘Tecnópole’
caracteriza uma sociedade em que o velho mundo, símbolos e mitos e outros
ícones do mundo não- tecnológico renderam-se ao poder opressivo e à força da
visão de um mundo tecnológico (Wilson/Postman 1997), uma sociedade que se
rende completamente à primazia do desenvolvimento tecnológico e à inovação”
(Anderson, Dave, 2000).

Postman insiste que o uso que se faz da tecnologia é grandemente determinado


pela estrutura da própria tecnologia. As ferramentas que se usam determinam a
visão de mundo. “Para um homem com um lápis, tudo parece uma lista. Para um
homem com uma câmera, tudo parece uma imagem. Para um homem com um
computador, tudo parecem dados” (Postman, Neil, 1993).

No Determinismo Tecnológico, tecnologias são apresentadas como autônomas,


como algo fora da sociedade. Tecnologias são consideradas forças
independentes, auto-controláveis, auto-determináveis e auto-expandíveis. São
vistas como algo fora do controle humano, mudando de acordo com seu próprio
momento e moldando inconscientemente a sociedade.

94
Qualquer mudança tecnológica produz alguma transformação social. E algumas
Transformações são muito difundidas. Até mesmo fortes críticos Do Determinismo
Tecnológico, como a socióloga Ruth innegan, são capazes de aceitar que uma
tecnologia pode ser vista como causadora de grandes conseqüências na
sociedade. Tecnologia é um dos numerosos fatores das mudanças sociais e do
comportamento humano. Criticar o Determinismo Tecnológico não é descartar a
importância do fato de que aspectos tecnológicos de diferentes tecnologias de
comunicação possibilitam diferentes tipos de uso, ainda que as aplicações
potenciais das tecnologias não sejam necessariamente realizadas. Logicamente,
numa sociedade onde o grau de interação com outros fatores está evidentemente
presente, é difícil justificar uma insistência na tecnologia ou mídia como o fator
fundamental das transformações sociais.

Embora concluindo que as evidências parecem não sustentar a hipótese radical


do Determinismo Tecnológico, a socióloga Ruth Finnegan sugere que “há algo
para ser dito sobre isto como um caminho para clarear a realidade para nós. No
passado, cientistas sociais (com exceção, talvez, de economistas, historiadores e
geógrafos) tenderam a negligenciar o significado da tecnologia e da comunicação.
Talvez os sociólogos – de quem era esperado que estudassem sobre
comunicação – tenderam, no passado, a adotar uma linha anti-tecnológica; eles
preferiram seguir Durkheim, um dos fundadores da disciplina da sociologia que
enfatiza ‘o social’ como algo autônomo e originalmente independente de todos os
fatores mecânicos como a tecnologia. Nesta atmosfera, é estimulante ter uma
contra-visão eficaz. A hipótese radical do Determinismo Tecnológico é talvez
extremista – mas o seu radicalismo ajuda a nos tirar da nossa complacência e
dirige nossa atenção para um conjunto de fatos e possíveis conexões causais
previamente negligenciadas. Como um modo sugestivo de olhar para o
desenvolvimento social o determinismo deve ter seu valor, a pesar do seu
factualismo inadequado”.

Trabalho e empresa - Poder e decisão na empresa

“Não se vende sentado em um escritório. O tempo que rende é o que se gasta


com o cliente”. Thomas John Watson (primeiro gerente-geral da IBM nos Estados
Unidos)

A expressão “tomada de decisão”, típica do vocabulário da gestão pública, foi


inserida no mundo dos negócios por Chester Barnard, autor de “As funções do
executivo”. Barnard foi gestor na companhia de telefones Bell durante 40 anos,
tornando-se mais tarde presidente. Foi um dos primeiros a estudar os processos
de tomada de decisão, o tipo de relações entre as organizações formais e
informais e o papel e as funções do executivo. Ele analisou questões como a
liderança, a cultura e os valores 30 anos antes do mundo empresarial se
aperceber da sua existência. As suas obras mantêm uma atualidade
surpreendente.

95
Como então pensar, quando Malcolm Gladwell vem pregar - apesar do crescente
acesso à informação trazido pela tecnologia - as virtudes da decisão instintiva,
tomada, literalmente, num piscar de olhos? Não é à toa que o poder de decisão e
a tomada de decisão vem sendo cada vez mais discutidos por teóricos da
administração, cientistas, psicólogos, entre outros profissionais.

Em 2001, Ram Charan, autor de livros, professor e assessor de altos executivos


de empresas como DuPont, EDS, Ford e GE, escreveu um artigo para a Harvard
Business Review, com a seguinte abertura: “a função do presidente, todos sabem,
é tomar decisões. E é isso o que a maioria faz, inúmeras vezes, ao longo da
carreira. Contudo, para que essas decisões tenham impacto, a organização, em
seu todo, também deve decidir executá-las. Quando isso não ocorre, a empresa é
vítima da cultura da indecisão.” Sabemos que não é só o presidente que toma
decisões em uma empresa.

E neste contexto é importante pensar em “diálogos decisivos”, denominação de


Charan, para o processo de quatro elementos, que leva da decisão à ação, ou
uma “guerra contra indecisão”. Primeiro, devem envolver a busca sincera de
respostas; segundo, devem tolerar verdades desagradáveis; terceiro, devem
acolher uma ampla faixa de opiniões, dadas de livre e espontânea vontade; e,
quarto, devem indicar um curso de ação.

Se a ação empresarial é fruto da decisão, então onde começa este processo? A


decisão passa pela análise de dados e informações. A transformação destes é o
trabalho de Inteligência.

O aumento da competição entre países e empresas, do número de produtos e


serviços, levou um grupo de profissionais americanos a criar uma associação nos
Estados Unidos em 1986, a Society of Competitive Intelligence Professionals, ou
SCIP. Estes profissionais, inspirados pelos artigos e livros do Prof. Michael Porter,
da Harvard Business School, desenvolveram técnicas e metodologias para
análises de mercados, análises de clientes, consumidores, competidores, entre
outros fatores do ambiente externo à organização, nos Estados Unidos da
América, em função da entrada das empresas e produtos japoneses naquela
época no mercado americano.

Passados 21 anos, estamos observando um movimento crescente de busca e


formação de profissionais de Inteligência no Brasil, que podem auxiliar seus
presidentes, diretores e gestores de forma geral. Este recente campo de trabalho
ora chamado de Inteligência Competitiva ora Inteligência de Mercado, entre outras
denominações, busca apresentar fatos sobre como uma empresa pode ganhar
novos mercados, que clientes conquistar, quais são as novas exigências e
necessidades dos clientes e consumidores ou qual o número correto de
profissionais para força de vendas. Ou seja, assessorar gestores de áreas
diversas, na melhor tomada de decisão.

96
Estes profissionais, com olhar voltado ao mercado, sabem distinguir as situações
empresariais que exigem cada vez mais, menor tempo de resposta. E ainda
sabem que, quanto menos informação e análise, maior o risco para a tomada de
decisão.
Afinal, de que adianta “poder” quando a decisão empresarial leva a perda de
clientes, mercados e rentabilidade?

Estrutura e organização da empresa

A organização da empresa é uma ordenação, um agrupamento de atividades e


recursos, que visam resultados positivos para a própria empresa.
Planejar, dirigir e controlar, não só uma empresa, mas qualquer outro tipo de
estabelecimento, e/ou instituição, não se torna uma tarefa fácil quando não existe
uma certa estrutura organizacional.

O trabalho vem mostrar o que é essa estrutura organizacional dentro de um


contexto geral, mostrando formalidades e informalidades e até mesmo a interação
entre ambas.

A estrutura organizacional é de grande importância para empresas de pequeno,


médio, e principalmente, grande porte, pois fazer uma distribuição de cargos para
uma quantidade excessiva de funcionários é necessário ter critérios de avaliação
para comandar um certo departamento e uma certa função.
Será enfocado, como uma grande empresa de operação rodoviária, através do
transporte de passageiro, organiza a distribuição das suas funcionalidades,
buscando sempre maiores lucros, mas buscando também tanto a aprovação dos
usuários quanto o bem estar dos seus funcionários.

JUSTIFICATIVA

Mostrar as varias divisões dentro de uma organização tendo como exemplo a


empresa de transportes Flores, exemplificando a distribuição de carga e sua
respectiva função na administração da empresa.

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

A estrutura organizacional deve ser delineada de acordo com os objetivos e


estratégias estabelecidos, ou seja, a estrutura organizacional é uma ferramenta
básica para alcançar as situações almejadas pela empresa, é o instrumento
básico para concretização do processo organizacional.
Para se organizar uma empresa, um estabelecimento, ou qualquer outra processo
que inclua relações interpessoais, são necessárias algumas funções básicas, ou
seja, um bom administrador precisa saber planejar sua empresa, precisa ter pulso
e coerência para dirigir uma empresa e alem disso, precisa sabem acompanhar,
controlar a empresa, o sistema abaixo identifica muito bem essas funções básicas
para o administrador:

97
PLANEJAMENTO

CONTROLE ORGANIZAÇÃO

DIREÇÃO

Quando a estrutura organizacional é estabelecida de forma adequada, ela propicia


para a empresa alguns aspectos:

Responsabilidades;⇒Lideranças;⇒Motivações;⇒Organização das funções,


informações e recursos.

A estrutura organizacional dentro de um contexto geral, se subdivide em duas:


Estrutura Informal e Formal.

Estrutura Informal

Esse tipo de estrutura se consiste numa rede de relações sociais e pessoais que
não é estabelecida formalmente, ou seja, a estrutura surge da interação entre as
pessoas, desenvolvendo-se espontaneamente quando as pessoas se reúnem
entre si.

A informalidade, é geralmente, mais instável , pois está sujeita aos sentimentos


pessoais, pois se trata de uma natureza mais subjetiva, ela não possui uma
direção certa e obrigatória.

Hoje, em qualquer tipo de empresa, existe as estruturas informais. É errado


pensar na hipótese de que grupos informais apenas se formam dentro de um
grupo religioso, ou até mesmo dentro de uma sala de aula, muitas estruturas
informais existem dentro de grandes empresas, e apresentam diferentes níveis de
atuação.

Os lideres dos grupos informais surgem por várias causas, como por exemplo:
Idade;⇒Competência;⇒Localização
no⇒Trabalho;Conhecimento;⇒Personalidade;⇒Comunicação;⇒ Dentre⇒ varias
outras situações.

Vale lembrar que a estrutura informal é um bom lugar para lideres formais se
desenvolverem, porem nem sempre um grande líder informal será um grande líder
formal, pois eles podem falhar com o medo da responsabilidade formal.
Algumas vezes, a estrutura informal se torna uma força negativa dentro da
empresa, porém se a administração conseguir conciliar e/ou integrar os grupos
formais com os informais, haverá uma harmonização nas tarefas, o que ai sim, se
torna uma condição favorável de rendimento e produção.
Sendo assim a estrutura informal possui algumas vantagens como por exemplo:
Rapidez no processo;⇒ Redução de comunicação entre chefe e⇒ empregado;

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Motiva e integra os grupos de trabalho.⇒ Contudo, possui suas desvantagens:
Desconhecimento de chefia;⇒ Dificudade de⇒ controle;
Atrito entre pessoas.⇒ Com tudo isso, podemos notar que , se um executivo
astuto sabe muito bem conciliar esse tipo de informalidade na sua estrutura
organizacional.

Estrutura Formal

Essa é a estrutura que a grande maioria das empresas adotam, é a estrutura


deliberadamente planejada, e formalmente representada, em alguns aspectos, em
organogramas.

Nessa fase, a definição de suas atribuições se torna mais criteriosa, ou seja, aqui
a estrutura formal pode alcançar proporções imensas.
No desenvolvimento da estrutura formal deve-se considerar os seus componentes,
seus condicionantes e seus vários níveis de influência. Pois será, a partir de uma
estrutura bem implementada que uma empresa irá alcançar seus objetivos
estabelecidos.

Os principais fatores para a criação de uma estrutura formal empresarial são:


Focar os objetivos estabelecidos⇒ pela empresa;
Realizar atividades que podem chegar nesses objetivos;⇒
⇒ Distribuir as funções administrativas para cada funcionário desempenhar;
⇒ Levar em consideração habilidades e limitações tecnológicas;
Tamanho da⇒ Empresa.

E os componentes chaves para o bom funcionamento dessa formalidade são:

Sistema de Responsabilidade – que é constituído pela⇒ departamentalização,


especialização.

Sistema de Autoridade – nada mais é⇒ que a distribuição de poder;


Sistema de Comunicação – é a interação entre⇒ todas as unidades da empresa
Sistema de Decisão – que é ato de poder⇒ entender, e poder definir e decidir
uma ação solicitada.

Uma estrutura organizacional se resume, simplesmente, em um organograma, que


é um desenho gráfico onde mostra cada integrante de uma empresa se delegando
a uma área especifíca. Podemos identificar num organograma simples de uma
pequena empresa por exemplo, composta por: Presidência; Diretoria
Administrativa; Diretoria Financeira e seus respectivos subordinados.

A estrutura é a representação de um pequeno organograma, mostrando a


formalidade existente dentro de uma certa empresa.
Contudo isso, daremos enfoque agora a uma empresa de tranporte de
passageiros de grande porte no cenário nacional, a Transportes Flores, mostrando

99
toda sua estrutura organizacional, relacionando com os tipos de estruturas já
apresentadas.

A classe dirigente

As posições de comando no espaço social – ao menos as posições políticas –


estão repartidas entre as classes economicamente dominantes e as classes
politicamente dirigentes.

A elite política, ou a “classe política” (tomadas aqui como sinônimos, portanto),


são, conforme a distinção tradicional proposta por Gaetano Mosca em Sulla
teorica dei governi e sul governo parlamentare, apenas uma parte daquele
conjunto designado comumente pelo nome “classe dirigente”.

Apesar do emprego ambíguo dos dois termos por Mosca, como James Burnham
notou (1) , a expressão ‘classe dirigente’ englobaria também, além da elite política,
todos aqueles agentes que estão fora do Estado e fora do governo, mas que
poderiam influenciar as decisões políticas, sem exercer diretamente, como a
primeira, o poder.

Esse grupo incluiria várias “minorias” (politicamente desiguais entre si, note-se),
como as econômicas, as religiosas, as intelectuais, as sociais. A classe política, ou
a elite política, seria, por sua vez, uma subespécie da classe dirigente: é a parte
da classe dirigente que estaria incumbida da tarefa de governar (2) .

Tal como eu penso que deva ser utilizada, a noção de elite (política) não substitui
o conceito de classe (dominante), já que não são termos intercambiáveis (3) ; nem
o emprego da expressão “classe política” deve significar, necessariamente, uma
adesão do analista a todos os pressupostos teóricos da “teoria das elites” (ou do
autor aos princípios normativos dos elitistas).

A ação sindical e sua tipologia.

Falar de sindicalismo hoje é falar da crise dessa instituição. Especialistas têm


discutido a questão, perguntando-se qual a possibilidade de o sindicalismo
readquirir o papel influente que deteve no passado ou, mais precisamente, qual
seria o futuro dessa instituição nas sociedades do século XXI. Qual o papel dos
sindicatos nas sociedades informacionais? Estaria essa instituição fadada ao
desaparecimento ou, ao contrário, adquiriria nova identidade e potencialidades?
Admitida a hipótese de sua permanência, que mudanças teria que promover para
alcançar uma atuação eficaz diante da nova realidade de trabalho? A lógica de
ação que presidiu sua existência até recentemente, baseada predominantemente
no conflito capital e trabalho poderia/deveria persistir ou seria necessário construir
uma nova identidade, uma nova lógica de ação? Como se caracterizariam essas

100
novas identidade e lógica de ação? Quais os riscos, quais os ganhos e
potencialidades de uma mudança de identidade? Seria a evolução suficiente à
transformação dos sindicatos ou teriam que experimentar uma revolução?

As respostas a estas e outras questões são complexas e exigem sério esforço


de pesquisa tanto ao nível teórico quanto empírico.

Os estudos sobre sindicalismo no Brasil têm produzido um vasto e profícuo


conjunto de dados que se traduziram em análises que abordam diferentes
aspectos do fenômeno sob perspectivas diversas (por exemplo, o sindicato como
instituição e como movimento social), em distintos períodos históricos (desde os
movimentos anarquistas do início do século XX, até o chamado novo sindicalismo
e o sindicalismo dos anos 90), em diferentes regiões, ramos e setores
econômicos. Apesar do volume e riqueza da produção cientifica brasileira na área,
a mesma tem-se fundamentado sobretudo em aspectos empíricos e descritivos,
ao contrário do que ocorre, por exemplo, com a produção norte-americana,
francesa e britânica, que apresenta um notável esforço de teorização (entre
outros, Kochan et al., 1986 ; Locke & Thelen, 1998; Heckscher, 1996; Kelly, 1998,
Hyman, 2001, Durand, 2004).

No Brasil, há carência de reflexão teórica o que acaba por restringir a


capacidade de um olhar mais abstrato e objetivo sobre o fenômeno. Por exemplo,
entre outros aspectos, há carência de teoria para explicar os diferentes ciclos na
existência da instituição; suas diferentes manifestações; bem como questões
relacionadas à relação partido-sindicato. Carecemos de ferramentas teóricas que
nos habilite a pensar as questões que afetam o sindicalismo de forma mais
objetiva e abrangente. Por exemplo, há tendência em considerar a globalização
como fator fundamental para explicar os problemas atuais do sindicato. Nessa
perspectiva, são muitas vezes deixados de lado outros fatores, tanto de ordem
estrutural ou conjuntural (como, esgotamento do processo de substituição de
importações, estabilidade da economia, despreparo dos sindicatos), como de
ordem subjetiva (questões de identidade, crenças e valores da instituição e dos
filiados). A ausência de reflexão teórica impede a discussão sobre questões como,
“interesse dos trabalhadores”, em geral, taken for granted a partir do ponto de
vista da análise marxista.

Tal lacuna está a exigir necessidade urgente de complementar a pesquisa na


área: há necessidade de investigar os diferentes tipos de sindicatos, não apenas
em termos do espectro “direita”-“esquerda” (observa-se, no Brasil, nos últimos
vinte anos, um viés no sentido de privilegiar a investigação sobre os sindicatos
cutistas, como se inexistissem os demais sindicatos), mas também de tendências
diferentes observadas em sindicatos pertencendo ao mesmo ramo e à mesma
Federação. É necessário evidenciar a diversidade e a complexidade do
fenômeno.

Esta comunicação procura levantar aspectos relacionados a tais questões, a


partir do exame de uma literatura expressiva por configurar o esforço teórico

101
realizado por estudiosos europeus e norte-americanos na tentativa de avançar no
entendimento do problema de forma mais abrangente no sentido de ultrapassar os
limites da análise empírico-descritiva.

Sobre as perspectivas de análise

Como todos sabemos, a escolha de uma dada perspectiva de análise


condiciona a explicação do fenômeno estudado. O estudo sobre os sindicatos tem
sido desenvolvido a partir de diferentes abordagens, dentre elas, destacam-se a
orientação institucional e a orientação que privilegia a ação dos atores sociais. Na
primeira abordagem, supõe-se que a configuração institucional (natureza do
contexto organizacional, do regime jurídico, das relações com o Estado e com os
partidos políticos) contribuiriam para moldar atitudes e comportamentos; na
segunda, o pressuposto é de ações são forjadas a partir de experiências dos
agentes sociais que resultam em estratégias baseadas no exame dos limites e
possibilidades que as situações apresentam àqueles agentes. A perspectiva
institucionalista tenderia a explicar os problemas atuais do sindicalismo como
resultado de fatores estruturais (predominantemente, externos) ou seja, em
decorrência de mudanças ocorridas na realidade econômica e, em conseqüência,
no mundo do trabalho. Dessa forma, tende a homogeneizar os resultados. A
perspectiva acionista, sem retirar a importância dos fatores institucionais, privilegia
a dinâmica de estratégias dos agentes sociais. Nesse sentido, o desenvolvimento
de estratégias de conflito ou de cooperação obedeceria a um cálculo que avaliaria
como obter o máximo de ganhos considerando um contexto particular que incluiria
a estrutura de relações entre capital e trabalho, valores subjetivos e apelos que
compõem as ideologias. Avaliar as escolhas e ações dos agentes exigiria do
observador conhecer a forma como o primeiro “adequar” a escolha ao contexto em
que se aplica, ou seja, seria necessário conhecer o grau de conhecimento da
situação por parte do agente. Tal perspectiva tende a destacar as diferenças de
resultados (Locke & Thelen, 1998; Bacon & Byton, 2004), já que as escolhas dos
agentes se faria a partir de distintas conjugação de fatores.

Partindo-se das observações acima, as seções a seguir destacarão alguns


aspectos que parecem relevantes na construção de um quadro de análise para
exame do sindicalismo.

Sobre os interesses dos trabalhadores

Ao analisar os problemas do sindicalismo atual, Kelly (1999) critica a tendência


que, baseada na tese Marxista, considera os “interesses” dos trabalhadores como
sendo identificados com o desejo de derrotar o capitalismo. Tal abordagem
suporia, equivocadamente, que aqueles interesses seriam facilmente
transformados em conflitos e que estes se constituiriam em traço permanente das
relações de trabalho. Desde essa perspectiva, concluir-se-ia de forma não-
problemática que a conduta dos sindicatos deveria fundamentar-se no
antagonismo e no conflito de classe. Esse pressuposto ignora, segundo Kelly, a
especificidade e as contradições que estão presentes nos interesses dos

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trabalhadores, além de conceber de forma simplista a natureza complexa da
relação entre conflito de interesses e comportamento conflitivo. Como afirma
Kelly, o comportamento dos trabalhadores é complexo e a relação capital e
trabalho necessariamente implica conflito e cooperação: ao mesmo tempo que
“resiste” à “exploração”, o trabalhador também coopera com o empregador para
garantir o funcionamento da empresa e de sua sobrevivência. Kelly vale-se da
teoria de Tilly (Tilly, C. From mobilization to revolution. New York: Mc Graw Hill,
1978) sobre ação coletiva para formular algumas questões cruciais: de que forma
os trabalhadores vivem seus interesses vis-à-vis os do capital – iguais a,
diferentes de, em oposição a? Tais interesses seriam definidos em termos
individuais, coletivos, ou de ambas as formas? Segundo Kelly, a oposição de
interesses dos trabalhadores frente ao capital tem a ver não apenas com o
sentimento de insatisfação, mas com o sentimento de injustiça e ilegitimidade, o
qual para se afirmar necessita do papel da ideologia para produzir emoções e
identificações. Portanto, os aspectos subjetivos seriam fundamentais para
compreender o fenomeno.

Entre o mercado, classe e sociedade

Estudos atuais sobre a crise dos sindicatos tendem a evidenciar os impasses


que se lhes apresentam, explicando-os como conseqüências a) das mudanças
ocorridas na economia, como o processo de globalização, a liberalização dos
mercados que obriga à acirrada competição, a financeirização da economia que
privilegia os acionistas em busca de lucros elevados em detrimento dos demais
agentes econômicos e, b) no mundo do trabalho, como a introdução de novas
tecnologias que elimina postos de trabalho e altera o perfil dos novos empregados,
a reestruturação das empresas e transformações na organização do trabalho que
altera de forma significativa as relações de trabalho.

A perspectiva acima deixa de abordar adequadamente pelo menos duas


questões. De um lado, assume-se uma visão determinista, enfatizando a
importância apenas de fatores estruturais, externos, para explicar o debilitamento
dos sindicatos. De outro lado, trata-se a questão de forma simplificada
considerando-a como uma realidade homogênea, enfatizando as convergências e
minimizando as divergências. Deixa-se assim de evidenciar a pluralidade de
orientações e perspectivas que caracteriza a realidade concreta dos sindicatos e
que se expressa em termos de valores e atitudes e que correspondem a situações
histórico-político-sociais do ambiente em que atuam. Ao obscurecer as diferenças
chega-se a conclusões equivocadas, pois iguala-se o que é desigual e impede-se
a percepção mais fina que permitiria visualizar causas mais pertinentes para a
explicação do fenômeno.

Há, portanto, que, antes demais nada, ter claro que o termo sindicalismo supõe
pluralidade de concepções de ação e orientações, muitas vezes, conflitantes.

O livro de Hyman, Understanding European trade unions. Between market,


classes and society (2001) parte do exame da diferença, utilizando-se da noção de

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polarização triangular – mercado, classe e sociedade – representados através da
figura de um triângulo, em que cada um dos termos se localizaria em um dos
ângulos, definindo-se assim três tipos ideais de sindicalismo, concebidos como: a)
veículo de mobilização anti-capitalista tendo em vista promover a luta de classes
b) agente de integração social na busca de realização da justiça social através da
melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores; e c) agente de
defesa do mercado de trabalho e representantes dos interesses das ocupações.

A construção desses tipos ideais associa-se a distintas identidades que


definiriam modelos de sindicatos com diferentes objetivos. No primeiro caso, o
modelo que emerge com as lutas de esquerda, pautar-se-ia pela oposição anti-
capitalista priorizando a organização da militância e a mobilização política; em
oposição ao modelo baseado no antagonismo de classes, emerge ao final do
século XIX, a perspectiva de integração social pautada pelos princípios do
catolicismo social, a partir de uma visão organicista da sociedade. O terceiro
modelo é o chamado sindicalismo de negócios com enraizamento maior nos
Estados Unidos, cuja prioridade é a consecução de objetivos estritamente
econômicos, rejeitando perspectivas revolucionárias ou reformistas e
considerando-as como obstáculos às reais necessidades dos trabalhadores
entendidas como busca de oportunidades de emprego.

O argumento de Hyman é de que os modelos acima devem ser compreendidos


como tipos ideais e como tal não seriam encontrados na realidade. Os sindicatos
viveriam a permanente tensão de ter de conduzir-se pelos três eixos acima
referidos, ou seja, não poderiam ignorar, o mercado (a preocupação com os
salários), a divisão de interesses entre empregados e empregadores (a presença
das classes sociais), bem como a coexistência com um quadro social mais amplo,
a sociedade, que lhes imporia condicionamentos sociais. Portanto, segundo
Hyman, na prática, a identidade dos sindicatos seria definida por sua localização
não nos ângulos do triângulo – o que definiria o tipo puro - mas em um dos lados
do mesmo, inclinando-se de forma mais ou menos contraditória para dois dos
modelos: entre classe e mercado; entre mercado e sociedade e entre sociedade e
classe. Considerando-se cada lado do triângulo como um contínuo, teríamos
assim uma pluralidade de orientações. As localizações e o grau de inclinação
refletiriam tanto circunstâncias objetivas, materiais quanto orientações subjetivas,
ideológicas. Teríamos assim uma matriz complexa que definiria distintas
estratégias e formas de ação. Em tempos de mudança, tende a ocorrer
reorientações de posições.

Na perspectiva do sindicalismo voltado ao mercado, uma de funções precípuas


do sindicatos seria a de garantir padrões mínimos em termos de salários, jornada
de trabalho, elementos básicos de saúde e segurança no trabalho, os quais
seriam preferentemente definidos através da negociação coletiva (outras formas:
contrato individual, seguro mútuo ou obrigação legal). O sindicato é concebido a
partir de uma perspectiva economicista cujo objetivo seria lutar para elevar o bem-
estar material de seus membros, especialmente, no que se refere a aumento de
salários. A organização e a negociação coletiva aumentaria o poder de barganha

104
dos trabalhadores permitindo a obtenção de vantagens acima das condições de
mercado. Essa perspectiva baseia-se num pretenso equilíbrio da correlação de
forças entre as partes em negociação, a qual em termos dos trabalhadores é
muito dependente das condições do mercado de trabalho. Nesse sentido, tende a
privilegiar os trabalhadores em vantagem no mercado de trabalho, constituindo-se
também em sua limitação.

Hyman argumenta que tal economicismo não pode deixar de ser político, já que
a lógica puramente de mercado não se sustenta sem regulação; portanto, ao
tentar impor-se no mercado, torna-se inevitável influenciar o Estado. Da mesma
forma, as regras de mercado originam-se na estrutura das relações sociais; a
noção de “salário justo”, apóia-se em valores definidos por normas e obrigações
sociais, que se traduzem na idéia de uma “economia moral”.

Tais argumentos buscam demonstrar a impossibilidade de existência de um


sindicalismo puramente de negócios, já que os aspectos políticos e sociais
estariam, de uma forma ou de outra, sempre presentes.

O sindicalismo revolucionário baseava-se no pressuposto de que a luta coletiva


por melhores condições de trabalho tenderia a radicalizar-se, já que contribuiria
para formar entre os trabalhadores a percepção de interesses comuns e de
desenvolvimento de um sentimento de antagonismo contra os patrões, mesmo
porque as reivindicações de melhores condições de vida e de trabalho seriam
impossíveis de ocorrer nos limites do capitalismo. A subversão da ordem seria
inevitável.

Os pressupostos acima não se verificaram: o aumento da produtividade


permitiu redistribuição de ganhos para determinados segmentos de trabalhadores;
por outro lado, por ocasião das crises, no lugar de radicalizações, observam-se
concessões por parte dos trabalhadores preocupados em garantir a sobrevivência
da empresa e dos próprios empregos. Nesse sentido, a esquerda condenava a
negociação coletiva e a burocracia sindical por julga-los responsáveis pela
acomodação dos trabalhadores ao sistema.

Hyman corretamente pondera que a realidade não é linear. O conflito não pode
ser utilizado de forma permanente, tanto porque geraria retaliação por parte dos
empregadores, quanto porque os trabalhadores não estariam dispostos, exceto
em casos extremos, a assumir os custos de uma estratégia de antagonismo.
Ademais, historicamente, a atos de subversão da ordem seguiram-se, não
revoluções, mas regimes autoritários que destruiram os direitos dos sindicatos
autônomos.

Sendo assim, até que ponto seria correta a idéia de sindicalismo de classe?
Vários argumentos indicariam a inadequação dessa perspectiva: o sindicalismo
careceria da possibilidade de promover a unidade de classe em razão da profunda
divisão dos trabalhadores em ocupações, por qualificação, por tipos de contrato de
trabalho, por atributos demográficos que definem interesses distintos. Além disso,

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sem entrar em detalhes sobre o conceito marxista de classe, Hyman destaca três
desafios ao próprio conceito: o capitalismo não gerou a polarização de classes; a
formulação puramente econômica de classe é inadequada; a definição “objetiva”
da classe não garante a emergência da consciência de classe e ação coletiva.

A idéia de sindicalismo de classe, continua Hyman, expressaria um paradoxo: a


representação do grupo não pode basear-se em unidade de interesses por sua
profunda divisão, como também não pode apelar à oposição de classe sob pena
de ser deslegitimado. Por outro lado, a realidade das classes manifesta-se pela
percepção da exploração e da insegurança. Ainda que indiretamente, o
sindicalismo seria um agente de classe. O sindicato, portanto, une e divide,
promove lutas, ao mesmo tempo em que regulamenta e normaliza as relações de
emprego. Residiria aí o paradoxo.

O período entre as duas guerras mostrara que o radicalismo de classe poderia


levar não à destruição do capitalismo, mas à emergência de regimes autoritários
como o fascismo. Os sindicatos de classe transformaram-se, aceitando a defesa
da ordem e da estabilidade econômica em detrimento da política de classe; em
outros casos, continuaram com uma retórica política em contradição com a prática
diária.

Em oposição à concepção de sindicalismo de classe, desenvolve-se a noção


de sindicalismo como ator de integração à sociedade civil e que no pós guerra
expressa-se através da expressão “parceria social”. A expressão origina-se na
doutrina católica e fundamenta-se na idéia de harmonia social e de reciprocidade
funcional entre capital e trabalho. Poderia também expressar a idéia de uma
relação igualitária entre parceiros ou ainda uma relação entre instituições com
recursos de poder que buscam uma situação de equilíbrio pragmática, no
interesse de ambos. Nesse caso, como bem salienta Hyman, cooperação não
significaria harmonia de classe ou subordinação, mas transformação do conflito
em permanente “guerra de manobra”, na expressão gramsciana; não como
ideologia do consenso, mas como relações institucionalizadas entre oponentes em
igualdade de condições.

Hyman chama a atenção para o fato de que na primeira geração de pactos


sociais vigora a lógica dos ganhos compartilhados com distribuição regulada do
crescimento econômico, relativo pleno emprego e expansão do welfare state.

Na Europa dos anos 60 e 70, consolida-se a opção neo-corporativista ou social


democrata, síntese entre negociação coletiva pragmática e política pública de
Estado, orientada para a reforma econômico-social. Os sindicatos aceitam
restrições salariais em troca de funções consultivas na formulação e
implementação de políticas econômicas e sociais. Verifica-se assim mudança de
arena - da fábrica para a política; da pressão econômica à influência política. A
partir do final dos anos 1960, a agenda avança em favor dos trabalhadores,
incorporando questões como humanização das condições de trabalho, alteração
da excessiva divisão de trabalho, autonomia no trabalho, oportunidades de

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desenvolvimento de carreira. Nesse sentido, a opção noe-corporativista diferencia-
se nitidamente do sindicalismo de negócios, já que as atividades sindicais não se
restringiriam à agenda da negociação coletiva.

Os ganhos dessa perspectiva estariam na possibilidade de construção de uma


ordem social mais justa numa conjuntura de crescimento econômico expressivo e
de mercado de trabalho favorável. Mesmo assim, afirmam os críticos que os
sacrifícios foram maiores que os benefícios. De fato, os ganhos desaparecem com
a perda de poder de barganha dos trabalhadores a partir do último quartel do
século XX, em razão de mudanças desfavoráveis na conjuntura econômica e
política.

No contexto de restrição das políticas keynesianas e de novas condições do


mercado de trabalho, a nova estratégia sindical volta-se para a atuação na
sociedade civil, como movimento social.

Examinando empiricamente os três tipos ideais de sindicalismo, Hyman traz os


exemplos da Grã Bretanha, da Alemanha e Itália do pós-guerra.

Na Alemanha, o chamado capitalismo organizado estabelecia um certo


equilíbrio entre as forças de mercado e a coordenação e regulação do Estado, o
que garantiria lucro aos empresários e bem estar aos trabalhadores. Os
sindicatos constituíam-se em atores de conflito, mas respeitando os limites de
regras definidas pela ordem social, na defesa de metas sociais partilhadas
também por outros atores sociais. Tal modelo era garantido por um expressivo
crescimento econômico com estabilidade, que resultava em mercado de trabalho
favorável aos trabalhadores. Expressava-se assim o modelo que tinha como eixos
o mercado e a sociedade, ou seja, o mercado social (Hyman, 2001:121).

Nos anos 1970, o esquema acima passa a ser desafiado por uma onda de
greves espontâneas contra a política sindical de coalizão pela produtividade, que
tendia a excluir segmentos desfavorecidos da classe trabalhadora como,
mulheres, trabalhadores imigrantes e de baixa qualificação. Nos anos 1980,
fatores como crescimento do desemprego, des-industrialização, corrupção, má
administração colocam os sindicatos na defensiva e contribuem para a perda do
apoio público.

Na Itália do pós-guerra, os sindicatos adquirem influência como atores político-


sociais pela ativa contribuição que tiveram na construção de uma estrutura social
de bem-estar. Nos anos 1970, cerca de 50% da força de trabalho era
sindicalizada; a agenda das negociações coletivas fôra ampliada incluindo
questões relativas às condições de trabalho e de vida (desafio à disciplina fabril,
ao intenso ritmo de trabalho e à fragmentação de tarefas, demandas relativas ao
custo da moradia, do transporte e eletricidade e questionamento da desigualdade
regional no País).

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A experiência do fascismo levara a esquerda a compreender a impossibilidade
da luta pela transformação socialista através da mobilização da classe
trabalhadora; surge assim o chamado compromisso histórico, a aliança do PCI
com outros partidos incluindo a democracia cristã, com o objetivo de lutar pela
melhoria nas condições dos trabalhadores. Tal estratégia corresponderia, segundo
Hyman, ao modelo classe e sociedade. A globalização, as novas tecnologias, os
novos métodos de organização do trabalho, as privatizações, evidenciam a forte
presença do mercado nos anos 1980 e 1990. Os sindicatos perdem força e tanto
os empregadores como os governos podem mais facilmente dispensá-los nas
negociações .

O argumento de Hyman é de que os modelos que vigoraram no século XX


tornam-se incapazes de operar com sucesso diante da nova configuração das
forças econômico-político-sociais. A atuação dos sindicatos no século XX,
aproximar-se-ia da idéia de solidariedade mecânica formulada por Durkheim,
correspondendo à disciplina e padronização do mundo Fordista, cujos
beneficiários foram os trabalhadores core, qualificados, predominantemente,
homens. As concepções de mercado, sociedade e classe que pautaram as ações
sindicais, configuravam-se nos limites da nação. O impasse atual residiria no fato
de que os sindicatos devem atuar como mediadores de forças econômicas
transnacionais.

A alternativa, segundo Hyman, seria construir uma nova agenda de regulação


supra nacional e as novas utopias deveriam igualmente pautar-se por essa
dimensão (solidariedade transnacional). Por outro lado, as ações sindicais
deveriam substituir a conformidade organizacional pela coordenação da
diversidade. Tal coordenação, no entanto, constituir-se-ia em tarefa complexa:
conjugar diferenças requereria negociação contínua. As novas tecnologias e seu
uso inteligente constituiriam instrumentos valiosos no suporte de estratégias
organizacionais.

A literatura tende a explicar o declínio dos sindicatos por fatores externos como
a globalização, as novas tecnologias, a reestruturação produtiva, já que tais
fatores alteram significativamente os princípios que regeram o mundo do trabalho
em boa parte do século XX. Entretanto, como afirmam Hyman (1999) e Dumbois &
Pries (1998), os impactos daqueles fenômenos sobre os sindicatos não são
análogos: enquanto os sindicatos mais fortes e bem estruturados teriam melhores
condições de enfrentar a nova situação, podendo até sairem fortalecidos, o
contrário ocorreria com os mais fracos. Tais resultados reforçariam a tese de que
o declínio dos sindicatos não poderiam ser explicados diretamente pelos
processos de globalização, liberalização e de privatização, senão por uma série
complexa de fatores estruturais e conjunturais, internos e externos. Nesse sentido,
poder-se-ia concluir com Western que “os fatos recentes não indicam o triunfo dos
mercados sobre as instituições, mas a limitada capacidade das instituições
nacionais para controlar os efeitos de um contexto institucional global.” (Western,
B. Between Class and market: postwar unionization in the capitalist democracies.
Princeton: Princeton UP, 1998, p.195, citado por Hyman, 1999, p. 127)

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Hyman (1999) critica também a tese que atribui o declínio do sindicalismo a
aspectos subjetivos baseados na idéia que opõe ao coletivismo do passado, o
individualismo do presente. De um lado, afirma ele, o suposto “coletivismo
solidário do passado” também representou “...um veículo mais eficaz para apoiar
as metas econômicas individuais.” (Hyman, 1996, p.21) e, de outro, o
“individualismo do presente” representaria, muitas vezes, um movimento contra
um sindicalismo voltado para trabalhadores qualificados, do setor industrial, do
sexo masculino, regido por princípios hierárquicos e centralizadores. Nesse
sentido, o “novo individualismo” teria o mérito de ampliar o escopo do velho
coletivismo economicista das negociações coletivas, ao preocupar-se em
incorporar entre as demandas dos trabalhadores, aspectos relacionados à
qualidade de vida e à ampliação da participação.

Sindicato Competente

Segundo Durand (2004), o surgimento dos sindicatos relacionava-se à luta


contra as más condições de trabalho, em busca de benefícios materiais (elevação
dos salários) e simbólicos (dignidade e identidade ao trabalhador). O
desenvolvimento do capitalismo e, mais recentemente, da economia de serviços,
se não eliminou os problemas no trabalho (insegurança, intensificação do ritmo de
trabalho), teria trazido compensações como, elevação da qualificação, redução do
autoritarismo, melhor comunicação com as chefias, as quais tenderiam a substituir
algumas das demandas sindicais.

Durand aponta também para os equívocos dos sindicatos ao interpretarem as


opções dos trabalhadores: os sindicatos opuseram-se à adoção de horários
flexíveis porque estes tenderiam a desestruturar os coletivos de trabalho. Os
assalariados, no entanto, muitas vezes, os preferem para melhor conciliar a
jornada de trabalho com a vida privada. No Brasil, é ilustrativo o ocorrido com o
pagamento da chamada Participação nos Lucros e Resultados (PLR): rejeitada
pelos sindicatos, passou a vigorar em muitas empresas por acordo entre estas e
os trabalhadores, já que os valores pagos pela PLR eram de interesse dos
trabalhadores. Durand critica igualmente os discursos sobre o sofrimento do
trabalho que, segundo o autor, ignoram as satisfações, prazeres, status, obtidos
no local e através do trabalho e que invalidam as teses miserabilistas.

O autor argumenta que com a complexificação da estrutura do capitalismo e as


transformações no mundo do trabalho, altera-se o papel dos sindicatos: a
oposição entre “sindicalismo revolucionário” e “sindicalismo reformista” teria
cedido lugar à oposição “sindicalismo reivindicativo” e “sindicalismo cooperativo”.
Decorreria daí a necessidade de os sindicatos desenvolverem expertise de forma
a alcançar o nível de conhecimento da gerência com quem devem negociar.
Durand afirma que no caso da França, houve sub utilização por parte dos
sindicatos da possibilidade, prevista em lei, de desenvolver “expertise

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tecnológica”. Importante seria também expertise na gestão econômica e financeira
da empresa.

Nessa perspectiva, os sindicatos não deveriam limitar-se a gerir ou reparar as


conseqüências sociais dos processos de reestruturação, mas antecipar-se e
intervir desde o início do processo, lutando para obter informações estratégicas,
pressionando as gerências para influenciar decisões. Portanto, mesmo assumindo
uma posição cooperativa, os sindicatos não fugiriam à confrontação. Cooperação
e confrontação, participação e conflito não seriam termos excludentes, mas
incluiriam-se na política sindical, uma vez que esta não poderia desenvolver-se
sob conflito permanente – a produção é sua condição de existência – e nem em
cooperação total, sob pena de eliminar a razão de ser dos sindicatos. O modelo de
cooperação, portanto, não significaria apenas negociar sob o princípio de ganhos
mútuos; muitas vezes, torna-se necessário forçar a aceitação de reformas
importantes.

Sindicato como agente social

Bacon & Blyton (2004) valem-se da perspectiva que privilegia a estratégia dos
agentes sociais, utilizando-se de duas dimensões – orientação ideológica e ação -
para construir uma matriz de respostas dos sindicatos durante as negociações. Os
autores buscam avaliar a natureza das respostas e o impacto das mesmas sobre
a reestruturação no local de trabalho.

Dada a complexidade do contexto, os negociadores teriam dificuldades em


definir o curso racional da ação e prever resultados. Diante de tais situações, os
negociadores tenderiam a empreender todos os esforços para alcançar resultados
que mantivessem um certo equilíbrio entre objetivos conflitantes. A matriz
construída a partir da combinação das duas dimensões – orientação ideológica e
ação - prevê quatro possibilidades de respostas:

a. engajamento cooperativo: os sindicatos cooperam com a empresa


sobre a questão das mudanças; tendem a acreditar que a empresa
agiria de forma justa; a tendência seria haver uma distribuição dos
ganhos ao final das negociações. O risco dessa estratégia seria a
adoção da agenda da empresa em detrimento dos interesses dos
trabalhadores.
b. Oposição militante: os sindicatos podem recusar-se a cooperar.
Baseiam-se na idéia de “batalha final”; necessitam de uma liderança
de esquerda bem organizada.
c. Oposição moderada: sindicatos moderados podem, às vezes,
recusar-se a cooperar e opor-se às mudanças. Isso pode ocorrer
quando a empresa exige muitas concessões dos sindicatos sem
compensações aos trabalhadores.
d. Engajamento militante: sindicatos com orientação militante podem
cooperar taticamente, sempre que os interesses dos trabalhadores e
da empresa coincidem; a cooperação pode ocorrer sobre questões

110
especificas como, saúde e segurança. Terão dificuldades em
convencer a empresa de que estão sendo sinceros, assim como
convencer os filiados de que cooperar não significa vender-se ao
capital.

A pesquisa realizada pelos autores para analisar os resultados de negociações


em que as posições acima foram adotadas, concluiu que:

Os sindicatos militantes que possuem organização no local de trabalho quando


cooperam por razões táticas, podem obter benefícios significativos, em razão de
poderem recorrer com a possibilidade/ameaça de oposição. Entretanto, segundo
os autores, isso não deve ser um argumento nem a favor da cooperação por si
mesma - esta apenas funcionaria quando detém a ameaça real de oposição – nem
de rejeição a priori da cooperação.

Os autores chamam a atenção para a importância de avaliar-se os resultados


considerando a combinação entre ação na negociação e orientação ideológica.
Esta influenciaria fortemente as escolhas e decisões de seus representantes no
processo de negociação, já que condicionaria os sindicatos para agir de acordo
com a decisão de cooperar ou não. A ideologia dos sindicatos influenciaria
também a estratégia da empresa: sindicatos com ideologias militantes inibiriam a
empresa de impor mudanças uma vez que o risco de não chegar a um acordo
seria maior. Ao contrário, pareceria igualmente racional aos gerentes forçar os
sindicatos moderados a fazer concessões.

Segundo Bacon & Byton, tais conclusões demonstrariam que explicar os


resultados baseando-se apenas nas ações dos sindicatos durante as
negociações, levaria a equívocos. Por outro lado, avaliar os resultados
considerando apenas os resultados para os empregados (demissões, salários,
satisfação no trabalho e stress no trabalho), levar-nos-ia a concluir que a
orientação militante seria a mais recomendável e que os moderados agiriam de
forma irracional. Os autores concordam com a afirmação de que Kelly de que o
comportamento dos trabalhadores é complexo: resistem à “exploração”, ao
mesmo tempo em que cooperam com a empresa para garantir a viabilidade dos
empregos.

Na pesquisa realizada por Bacon & Byton, um dos sindicatos investigados


havia cooperado para a introdução de “trabalho em equipe”, na expectativa de que
essa forma de organização do trabalho contribuiria para o aumento de
produtividade da planta, ainda que o resultado fosse maior intensificação no ritmo
de trabalho e demissões. Em outro caso, esses últimos resultados foram
rejeitados, tendo em vista que o aumento de produtividade seria pequeno. No
caso de um sindicato de oposição militante, a intensificação no ritmo do trabalho
foi rejeitada e a satisfação no trabalho elevou-se. Em outro exemplo, o sindicato

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impediu mudanças no trabalho, mas com baixa elevação na satisfação no trabalho
e impacto menor na produtividade do que no número de demissões.

Os autores concluem que as escolhas nas negociações são complexas; o


importante a reter seria que os atores agiriam racionalmente segundo os seus
objetivos.

Decorreria daí, segundo os autores, o equívoco das análises marxistas, cujo


foco dirigindo-se apenas à ideologia e aos ganhos dos trabalhadores, avalia a
moderação dos sindicatos como concessão, ignorando que a estratégia dos
mesmos obedece à uma lógica em busca de fins racionais. Por exemplo, em um
dos casos estudados por Bacon e Byton, a tradição de moderação do sindicato,
relacionava-se em parte ao fato de, por um lado, a empresa em questão pagar
percentual significativo de altos salários e, de outro, à ausência de alternativas de
emprego no local.

Greves e conflitos trabalhistas

O melhor caminho para abordar o movimento sindical é lembrar que se trata de


uma forma ímpar, única, de estabelecer a mediação dos conflitos entre
trabalhadores e empregadores, durante as disputas reivindicatórias. Não é difícil
perceber que os empregadores, que são os donos do capital e dos empregos,
vêem, cada vez mais, aumentar seu poder, colocando-se em uma situação
privilegiada nas relações de trabalho.

De modo que a organização dos trabalhadores em sindicatos de classe surge


como a principal forma de minimizar o desequilíbrio existente entre as partes nas
relações trabalhistas.

Os conflitos no mundo do trabalho vêm de longe e as tentativas de encontrar


mecanismos que pudessem estabelecer o equilíbrio de forças entre as partes,
representadas pelas organizações de trabalhadores, já eram um fato na Roma
antiga da era antes de Cristo. O filme "Spartacus" retratou de maneira didática e
épica os esforços dos trabalhadores, durante o Império Romano, para se
organizarem e reivindicarem melhores condições de trabalho e, sobretudo, a
conquista de uma vida mais digna e respeito ao ser humano trabalhador, na época
submetido ao regime de escravidão.

Aquelas ações e lutas, em plena vigência do regime escravista, poderiam ser


consideradas fontes primárias e inspiradoras da organização dos trabalhadores
em entidades de classe, em busca do equilíbrio de forças nas relações de
trabalho.

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Com a queda do Império Romano e o fim do regime escravista na Europa, tivemos
a chamada Idade Média, que durou mais de mil anos, período em que surgiram as
corporações de ofício, constituídas por artesãos nas cidades e aldeias, que
produziam sem submissão aos senhores feudais, os quais impunham à sociedade
de então o regime do trabalho servil.

A partir dos anos 1500, começam a aparecer as formas manufatureiras de


produção mercantil e a serem formados os Estados Nacionais e verificam-se
processos de acelerada acumulação de capital que se expande por toda Europa.
As economias vão se refazendo e se recriando. Continuam os conflitos nas
relações de trabalho e a busca de meios para fazer a mediação e a negociação
visando à concretização de conquistas de direitos que atenuassem o regime de
extremada exploração da classe operária nascente.

A reestruturação do sistema produtivo, com base no a sua insatisfação com o


emprego de técnicas mais avançadas crianças. Com isso, cresciam a insegurança
dos trabalhadores e sujeitos a uma menor remuneração, ou ainda por mulheres e
eram substituídos por trabalhadores menos especializados e mão-de-obra
tradicional. Os chamados profissionais de ofício tempos. As máquinas cada vez
mais modernas substituíam a produzir já não apresentavam a produtividade
exigida pelos novos manufatureira, à revolução industrial. As formas artesanais de
desenvolvimento tecnológico, levaria à transformação da produção no sistema
produtivo.

A saída para a classe trabalhadora era buscar sua unidade e formas de


organização que possibilitassem enfrentar a exploração imposta pelo poderio do
capital e garantir os empregos, ameaçados pela mecanização e pelas linhas de
produção. Essas lutas adquiriram grande amplitude e muitas vezes formas
radicalizadas, a ponto de levar os manifestantes a quebrarem máquinas. As ações
dos trabalhadores não foram em vão. Com cartas, manifestações de rua, greves e
um crescente nível de organização, a classe trabalhadora das fábricas e dos
serviços impunha o diálogo e a negociação. Conquistas vão se sucedendo,
incluindo a redução da jornada de trabalho, que resultou em maior oferta de
empregos, com a criação dos turnos de trabalho, além de leis reguladoras das
relações trabalhistas.

No início do século XIX, a forma de organização dos trabalhadores em sindicatos


de classe já estava reconhecida e consolidada para a intermediação e solução de
conflitos trabalhistas.

No Brasil, tivemos o início do processo de industrialização retardado pelas


proibições impostas pelo governo colonial que dominou o nosso País até 1822.
Com a Independência, feita sob a liderança do príncipe Pedro I, membro da
mesma dinastia que governou Portugal e suas colônias de além mar, as restrições
antes existentes permaneceram, além da falta de capital que o regime escravista
cultivava para manter privilégios dos senhores donos das terras e dos escravos.
As primeiras indústrias foram aparecer na década de 50 do século XIX. Só no

113
início do século XX começaria uma modesta industrialização no eixo Rio-São
Paulo, depois da proclamação da República.

Com o aparecimento de indústrias e o crescimento do número de operários,


organizam-se os primeiros sindicatos no Brasil, que promovem assembléias,
congressos, passeatas, greves e os mais diferentes tipos de manifestação,
sempre apoiados em uma imprensa operária combativa, criada e editada por
trabalhadores imigrantes com experiência adquirida no movimento sindical
europeu. Era um movimento que reivindicava melhores salários, jornada de 8
horas diárias, segurança no emprego e outros direitos sociais. Nos anos 10 e 20
do século XX, a ação sindical dos trabalhadores, as suas manifestações já
alcançavam um grande vigor em toda a região industrializada do País - no caso,
São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1917, São Paulo foi palco da histórica greve geral
dos operários da indústria, dos trabalhadores em transportes e dos empregados
do comércio.

É importante destacar que o movimento sindical só pode exercer, em sua


plenitude, o papel de interlocutor representativo dos interesses coletivos das
categorias de trabalhadores em seus embates com os empregadores - e também
com o Poder Público - em um ambiente de vigência da democracia, em um Estado
de Direito democrático. Neste particular, é preciso dizer que o movimento sindical
brasileiro sempre teve que enfrentar a repressão policial desde o seu nascimento.
Na Velha República, a questão social era considerada um "caso de polícia".
Durante a ditadura Vargas, o Estado decidiu consolidar uma legislação para as
relações de trabalho, a CLT, e tutelar os sindicatos, com atribuições
assistencialistas e de colaboração de classe, criando a famosa figura do "pelego".
No regime da Constituição de 1946, os sindicatos continuavam sujeitos à
legislação imposta pelo "Estado Novo" e à intervenção do Ministério do Trabalho.

Apesar dessas dificuldades, pela falta de democracia no País ao longo de quase


todo o século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, com a derrota do Nazi-
fascismo, sindicatos de grande número de categorias importantes conseguiram
livrar-se dos "pelegos" e voltar à combatividade dos anos 10 e 20, com um novo
ciclo de lutas sindicais, que vai até o golpe de 1964, que implantou o regime
militar. Neste período, ocorreram grandes lutas, greves memoráveis e novas
conquistas, entre as quais, o repouso semanal remunerado, férias de 30 dias e
13º salário.

Durante o regime militar, sob pressão da ditadura implantada, os sindicatos voltam


a sofrer inter venção. Assembléias e passeatas eram proibidas. Greve, nem
pensar, era considerada subversão contra o regime e quem dela participasse
estava sujeito aos rigores da Lei de Segurança Nacional. Mas, em 1974, houve
uma eleição na qual a ditadura sofreu uma histórica derrota, sinal de que estava
sendo repudiada pela sociedade. A partir daí, começa uma "abertura lenta e
gradual", como diria o Presidente de então, o general Ernesto Geisel. Em 1978,
surgem as primeiras manifestações estudantis e operárias em São Paulo. Em
1979, as primeiras greves. Na década de 80 do século passado, aparece um novo

114
sindicalismo no ABC paulista, sob a liderança de Luiz Inácio da Silva, o Lula, e
Enilson Simões, o Alemão.

Hoje, ou melhor, desde a promulgação da Constituição de 1988, é livre a


organização sindical no Brasil e o exercício pleno do direito de greve, inclusive no
serviço público, coisas que eram proibidas até então. Com a vigência da
democracia em nosso País, os trabalhadores têm desenvolvido e aperfeiçoado as
suas organizações de classe e utilizado esse poder que dispõem para garantir e
ampliar conquistas nas disputas entre o capital e o trabalho. Pena que as
diferenças de caráter político, existentes no movimento sindical, tenham levado à
quebra da unidade da central sindical provisória organizada no início da década de
80 do século XX, a Conclat (Congresso Nacional das Classes Trabalhadoras). Do
racha havido na Conclat, saíram seis centrais sindicais: CUT, duas CGTs, Força
Sindical, CAT e SDS. Essa fragmentação em tantas centrais sindicais reduz o
poder da pressão e de negociação dos trabalhadores frente às organizações
patronais e frente aos governantes.

Quando a intermediação feita pelos sindicatos, através de negociações com os


empregadores, não resolve o conflito nas relações de trabalho e não apresenta
resultados, os trabalhadores procuram romper o impasse com a greve, o meio
mais eficaz a seu dispor, consagrado internacionalmente. No Brasil, legalmente,
as primeiras referências ao direito de greve apareceram na Consolidação das Leis
do Trabalho, a CLT, no início da década de 40 do século passado, durante o
primeiro governo de Getúlio Vargas. Depois, o próprio Vargas baixaria um decreto,
o 9.070, estabelecendo todo um rito a que os sindicatos deviam obedecer para
decretar uma greve. Tratavase de uma regulamentação "para evitar abusos",
conforme foi dito na época; na verdade, uma limitação do direito de greve que
quase a inviabilizava.

O direito de greve é juridicamente um direito estranho, tendo em vista que o seu


uso pelo trabalhador contrapõe-se a outros direitos. Quando desencadeia uma
greve, o trabalhador de determinado setor está se contrapondo a direitos das
empresas e direitos de outros setores da sociedade. Não obstante isso, o direito
de greve acabou se consagrando em constituições e legislações específicas
exatamente para dar equilíbrio às relações de trabalho. A greve é um instrumento
de força útil e necessário de que dispõe o trabalhador para compensar o poder do
capital, para fazer o empregador pensar e negociar as reivindicações colocadas
na mesa pelos sindicatos dos empregados.

Com as ressalvas já feitas sobre as restrições ao direito de greve no século


passado em nosso País, cabe lembrar que, depois da Carta de 88 que está em
vigor, essa forma de luta é plenamente reconhecida para todas as categorias de
trabalhadores dos setores privado e público, cabendo à Justiça decidir se e
quando a greve é abusiva. O Brasil já viveu momentos de intensa mobilização dos
trabalhadores e grandes movimentos grevistas, tanto durante o período da
Constituição de 46, quanto após o regime ditatorial. Atualmente, nota-se um certo
declínio, um certo refluxo dos movimentos grevistas. Talvez isso se deva ao

115
aumento do desemprego, à diminuição da oferta de postos de trabalho,
particularmente na indústria. Mas, não é só na indústria que diminui o emprego.
Para simplificar, basta dizer que o Bradesco, no início da década de 80 do século
XX, com a metade do número de agências que possui hoje, empregava 160 mil
funcionários; atualmente está com 65 mil.

O fechamento de postos de trabalho se deve ao fraco crescimento da economia e


ao desenvolvimento tecnológico. Esse fenômeno nas relações de trabalho vem
enfraquecendo os movimentos e as organizações dos trabalhadores, que temem o
desemprego.

O DESEMPREGO NO BRASIL E NO MUNDO

O desemprego não é um problema só no Brasil; ele ocorre na Europa e


em toda parte do mundo. Excetuando-se os Estados Unidos, onde a
questão está minimizada pelo longo período de crescimento da economia
durante o governo de Bill Clinton, nas demais partes do mundo o
fenômeno é visto com preocupação. Na Europa, o problema é muito
grave; no Japão, atualmente observa-se a diminuição do número de
vagas no mercado de trabalho; a Coréia do Sul enfrenta a mesma
situação. Nos países subdesenvolvidos, a situação não é diferente.

No Brasil, é grande a preocupação dos trabalhadores, dos sindicatos, das


autoridades e dos estudiosos de problemas sociais, a despeito de não
possuirmos dados precisos sobre o desemprego, isto porque, enquanto o
IBGE fala em taxa de 12%, a Fundação Seade/Dieese fala em 18% na
região metropolitana da Grande São Paulo. A verdade é que temos, hoje,
em qualquer família alguém desempregado. Essa é uma realidade que
está muito próxima de cada um de nós. O desemprego causa vários
problemas: para o desempregado, para a família e para o Estado. Para o
cidadão desempregado e sua família, o desemprego provoca
insegurança, a indignidade, aquela sensação de inutilidade para o mundo
social.

A tecnologia, que vem desde a revolução industrial na Inglaterra em 1750,


traz problemas, e certamente é uma das principais causas do desemprego
mundial. Uma máquina substitui o trabalho de 10, 20, 40 ou mais pessoas.
Já foi dito que a revolução industrial provocou insatisfação dos
trabalhadores, mas pouco desemprego, porquanto, na época, as vagas
fechadas numa empresa eram supridas pela abertura de outras
empresas. Além disso, houve a redução da jornada de trabalho para 8
horas e a semana de 5 dias. Todavia, hoje, com a globalização, a
informatização, as novas tecnologias, nós temos efetivamente um
problema de desemprego estrutural. Vejam o exemplo do banco já citado,
onde diminuem em menos da metade os postos de trabalho. Tudo é
informatizado, as pessoas não precisam do caixa humano, elas vão direto

116
ao caixa eletrônico. Esses funcionários perdem o emprego e não têm
outra oportunidade, porque todos os ramos de atividade estão se
modernizando, não só os bancos, mas as indústrias estão sendo
robotizadas. Estão desaparecendo muitas profissões e atividades
profissionais, porque têm o robô fazendo o trabalho de muitas pessoas.
Isso realmente gera desemprego e tanto o governo quanto a sociedade
têm que contribuir para encontrar uma solução.

Talvez a solução momentânea seja a requalificação profissional. Os


profissionais que perdem seus postos de trabalho devem passar por
treinamentos e reciclagens. Só assim poderão encontrar outra atividade e
assumir uma nova vaga no concorrido mercado de trabalho moderno. O
desempregado não pode ficar esperando nova oportunidade para ocupar
a mesma vaga que ocupava antes da demissão, mesmo porque aquela
vaga, ou melhor, aquela função pode deixar de existir. Aquele que deseja
voltar ao mercado de trabalho deve se reciclar, buscando uma colocação
em outra área ou ramo de atividade; para isso, ele deve estar preparado.

O governo, através dos Fundos de Amparo ao Trabalhador, tem oferecido


recursos para treinamentos e reciclagens aos desempregados. Essa
iniciativa ajuda, pois o trabalhador, sem essa reciclagem não vai
conseguir uma recolocação no mercado de trabalho, mas não resolve o
problema.

De modo que a questão do emprego é, hoje, a principal preocupação do


movimento sindical, do Estado e, principalmente, da família, a que mais
sofre com a falta de trabalho e queda da renda, agravando todos os
problemas sociais. Sendo assim, a reforma sindical e trabalhista tem que
ter como prioridade a procura de caminhos para impor aos governantes a
execução de programas de desenvolvimento que resultem em geração de
empregos.

Porém, essa não é a única saída para abrir postos de trabalho no


mercado. Haja visto o que se passa no setor automobilístico, por exemplo,
onde investimentos maciços e duplicação da capacidade produtiva não
resultaram em geração de novos empregos. Ao contrário, com os
investimentos feitos as empresas puseram em prática um amplo programa
de modernização e automação, cortando milhares de postos de trabalho.
Para se ter uma idéia do estrago ocorrido neste setor, basta dizer que, na
década de 80 do século passado, para uma capacidade de produção de
um milhão e quinhentos mil veículos, as montadoras empregavam 140 mil
empregados. Hoje, para uma capacidade de produção de três milhões de
veículos, as montadoras empregam apenas 90 mil trabalhadores.

Só este exemplo mostra que, além de investimentos e programas de


crescimento econômico, são necessárias outras medidas para gerar mais
empregos. Hoje temos linhas completas, sistemas produtivos completos,

117
operados por robôs. Os processos tecnológicos empregados na
atualidade e mais a presença crescente da mulher no mercado de
trabalho exigem uma redução drástica da jornada de trabalho, para dar
emprego às centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro que
precisam trabalhar.

Mas, a redução da jornada não pode ser um ato isolado e unilateral de um


só país ou dois. É preciso estabelecer uma nova jornada de trabalho de
caráter universal, algo como uma resolução da Organização das Nações
Unidas para ser cumprida por todos os países e para ser fiscalizada a sua
aplicação por um órgão tipo OIT, a Organização Internacional do
Trabalho, para que não haja um desequilíbrio nos custos de produção e
quebra da eqüidade competitiva entre os países no mercado mundial. E,
também, para que não haja redução de salários. Aqui fica a sugestão para
o governo brasileiro levar essa questão à Assembléia Geral da ONU, que
se instala todos os anos no mês de setembro.

OS PONTOS POLÊMICOS DA REFORMA TRABALHISTA E SINDICAL

O governo Lula pretende formatar a nova estrutura sindical do País no


Fórum Nacional do Trabalho, uma instância de negociação do chamado
pacto social, envolvendo empresários, trabalhadores e representantes do
governo federal. A pretensão é mudar a atual estrutura sindical a partir do
consenso em torno do princípio geral da liberdade e autonomia sindicais e
reconhecimento das centrais sindicais existentes. A idéia é que a atual
estrutura sindical ainda padece de amarras criadas na Era Vargas,
quando os sindicatos foram atrelados ao Ministério do Trabalho e era
proibida a organização de centrais de trabalhadores representando
diferentes categorias.

Liberdade e autonomia sindical, na visão do governo, pressupõem a


quebra do princípio da unicidade, ou seja, a não obrigatoriedade da
formação de sindicato por categoria profissional e permissão da
organização de sindicatos por empresa. O governo quer superar essa
questão da legislação sindical para poder ratificar a Convenção 87 da OIT,
Organização Internacional do Trabalho, que só admite na Convenção
países que consagram a liberdade e autonomia para os trabalhadores
organizarem-se de maneira que acharem melhor.

É possível que a pretendida atual reforma da estrutura sindical retome


pontos da reforma proposta pelo governo anterior que, resumidamente,
previa as seguintes mudanças na atual legislação:
- quebra do princípio da unicidade e adoção do princípio da pluralidade
sindical;
- fim do imposto sindical, aquela contribuição obrigatória de um dia de

118
salário do trabalhador com carteira assinada, descontada anualmente nos
meses de março/abril;
- fim da substituição processual, ou seja, os sindicatos deixam de
representar os interesses da categoria como um todo de sua base perante
a Justiça do Trabalho;
- a representatividade do sindicato só alcançaria os seus associados;
- organização de sindicatos por empresa, o que permitiria dispensar a
organização de sindicatos patronais para realizar negociações e fazer
acordos coletivos;
- eliminar o poder normativo da Justiça do Trabalho;
- condicionar o acesso à Justiça do Trabalho a chamada "conciliação
prévia", envolvendo as partes em litígios;
- limitar o valor da contribuição sindical, abolindo o sistema atual que
prevê três contribuições: imposto sindical (um dia de salário por ano),
contribuição confederativa e contribuição assistencial, sem falar na
mensalidade dos associados. As três outras se estendem a toda categoria
da base sindical;
- dar à Justiça do Trabalho atribuição de julgar apenas dissídios
coletivos e não mais ações trabalhistas de cada trabalhador,
individualmente ou em grupo.

A maioria desses pontos constantes da emenda constitucional proposta


pelo governo de Fernando Henrique Cardoso é rejeitada pelas entidades
sindicais, razão pela qual acabaram sendo retirados do Congresso ainda
no governo anterior.

A reforma da estrutura sindical como um todo encontra grande resistência


das entidades de trabalhadores do setor privado. A maioria delas rejeita a
quebra do princípio da unicidade, o fim do imposto sindical e a redução do
papel da Justiça do Trabalho para julgar litígios trabalhistas. As centrais
sindicais também divergem em vários desses pontos. Já com os
sindicatos e entidades de trabalhadores do setor público, é diferente,
porque são formados a partir da Constituição de 88 - não incorporam
questões da estrutura da era getulista, tais como o imposto sindical e
outras que agora se pretende suprimir.

Os sindicalistas que mais resistem às mudanças na estrutura sindical


argumentam, e com razão, que a Constituição de 88 já desatrelou o
sindicalismo do governo e do Ministério do Trabalho. Portanto, consagrou
a liberdade e a autonomia sindical, razão pela qual não vêem motivos
para a quebra da unicidade, por exemplo - uma conquista no terreno da
organização dos trabalhadores que faz do sindicalismo brasileiro um dos
mais poderosos do mundo, com um alto poder de pressão sobre o
patronato. Técnicos e consultores que prestam serviço de assessoria a
sindicatos dizem que a quebra do princípio da unicidade levaria a
organização sindical a tal grau de dispersão que, em poucos anos,
teríamos não 15 mil mas 80 mil sindicatos em todo o País, enfraquecendo

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a sua capacidade de lutar por melhorias nas condições de vida do
trabalhador.

A posição das centrais sobre as reformas e sobre a unicidade em


especial:
- CUT: a corrente Articulação e a corrente Alternativa são contra a
manutenção da unicidade; a corrente Classista é pela manutenção;
- Força Sindical: é pela extinção da unicidade passando por um
período de transição;
- CGT: é pela unicidade;
- SDS: é pela extinção da unicidade;
- CAT: é pela manutenção da unicidade;
- CGTB: é pela manutenção da unicidade.

Outro ponto que enfrenta resistência do movimento sindical é a chamada


substituição processual, tratada como a troca do "julgado pelo negociado",
que permitiria, nas negociações entre patrões e empregados, colocar
cláusulas nos contratos coletivos de trabalho que alterariam dispositivos
da legislação trabalhista, tais como redução das férias, redução salarial
por uma jornada menor de trabalho, banco de horas e outras. Para as
lideranças sindicais, se prosperar essa tendência de substituir a lei por
acordos coletivos, os sindicatos de pequenas categorias, sem grande
poder de pressão, terão que se submeter a perdas de direitos que levarão
a uma redução dos rendimentos dos trabalhadores.

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