Um dos grandes temas do momento é a questão do humanismo e da
humanização da medicina. Qual seria o caminho para uma efetiva humanização da prática e do ensino da medicina. Seria tratar os pacientes com cordialidade e educação, chamá-los pelo nome, ouvir as suas lamentações, demonstrar empatia com seu sofrimento, esclarecer as suas dúvidas, diminuir seus temores e ansiedades, trata-los com carinho e dedicação. Sim estas seriam medidas necessárias, mas seriam suficientes? Humanizar a medicina seria tornar os ambientes mais alegres e festivos. Colorir os hospitais e clínicas, afixar e pintar ilustrações infantis nas alas pediátricas, modificar o mobiliário, diminuir a burocratização. Seria levar palhaços (clowns doctors) e animais especialmente treinados (pet-terapia) para a pediatria, oncologia ou outras áreas dos hospitais e ambulatórios. Estas também seriam medidas humanizadoras, mas acrescidas as anteriores isto já seria suficiente? Humanizar a medicina seria modificar a abordagem das “empresas do setor doença” e transforma-las (realmente) em “empresas do setor saúde”, onde o cliente não seja visto como um número e uma fonte de lucro ou de prejuízo. Humanizar a saúde seria modificar a ótica das pesquisas no setor, na maior parte das vezes míope, obtusa, reducionista e linear, calcada em premissas positivistas equivocadas de objetividade, neutralidade e generalização. Muitas ainda têm compromisso com o resultado e com o lucro. Humanizar a saúde seria modificar as práticas comerciais mercantilistas e inescrupulosas da indústria farmacêutica. Seria banir a prática de patrocínios escusos e da farta distribuição de benesses à classe médica. Humanizar a medicina passaria por tudo isto, mas vai além. E para compreender isto é necessário fazer a distinção entre os termos: “humanizar a medicina” e “medicina humanística”. Humanizar a medicina é tornar a sua prática mais humana. E medicina humanística é a re-incorporação das humanidades ao saber e à práxis médica. Todas estas medidas que foram descritas até aqui, algumas de muita profundidade outras com caráter mais superficial, são importantíssimas para a humanização da medicina. Mas a medicina realmente só será humanizada quando as transformações ocorrerem na sua essência e ela voltar a ser humanística. Pois na história da medicina o saber humanístico sempre foi uma fonte primordial para o saber médico. De certa forma sem isto todas as outras mudanças por mais profundas que sejam seriam apenas cosméticas.