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introdução

ao direito I
professores: Márcio Grandchamp

5ª edição

ROTEIRO De CURSO
2010.1
Sumário
Introdução ao Direito I

I - Apresentação...........................................................................................................................................................................3
A. Introdução.................................................................................................................................. 3
B. Orientação para as primeiras aulas.............................................................................................. 3
C. Dificuldades Iniciais................................................................................................................... 4

II – Leituras..................................................................................................................................................................................5
Módulo I: a) Habeas Corpus nº 82.424/RS.................................................................................... 5
Módulo II: a) Estupro................................................................................................................... 30
Módulo II: b) Propriedade e Função Social................................................................................... 33
Módulo II: c) Serviço Público....................................................................................................... 46

Questões sobre as Leituras.......................................................................................................................................................51


Item “A” - Estupro........................................................................................................................ 51
Item “B” – Propriedade e Função Social........................................................................................ 51
Item “C” – Serviço Público........................................................................................................... 52

Apêndice.....................................................................................................................................................................................53
INTRODUÇÃO AO DIREITO I

I - Apresentação

A. Introdução

Neste curso estudaremos como as decisões judiciais são tomadas e justificadas no Brasil. Para tanto, nos
serviremos primariamente da leitura e discussão de leis e de acórdãos do Supremo Tribunal Federal e outros
tribunais superiores. Este volume contém uma seleção de leituras (v. Item . Outros textos serão disponibilizados,
ao longo do curso, no Aluno Online.
O curso é pautado por dois objetivos: (i) familiarizar o aluno com técnicas e conceitos dogmático-jurí-
dicos, tal como empregados por tribunais brasileiros; e (ii) explorar pressupostos não-dogmáticos das decisões
estudadas. Serão abordados, entre outros, os seguintes temas: formas de aplicação de normas a casos concretos;
a relação entre decisões judiciais e escolhas de “moralidade pública;” indeterminação, divergência, e autoridade
nas decisões judiciais; distinção entre direito público e privado; conceitos dogmáticos de eficácia, validade,
vigência e vigor; hierarquia normativa e princípios de aplicação da lei no tempo; conceitos jurídicos básicos
(direito subjetivo, dever, responsabilidade, sanção, etc).

B. Orientação para as primeiras aulas

Para a primeira aula do curso, a leitura prévia é uma seleção de trechos de uma das mais famosas decisões
recentes do Supremo Tribunal Federal (STF), o HC 82.424/RS (ver a seleção de leituras nº 1).
Você vai se deparar, nessa decisão, com vários termos técnicos e com formas de expressão com as quais
não está familiarizado. Não se assuste. Sua preocupação não deve ser a de decorar definições desses termos ou
passar a se expressar de forma rebuscada (o que, aliás, Você deveria sempre evitar, apesar da tentação). Sua preo-
cupação deve ser a de procurar entender o que está em jogo, isto é, pensar e responder perguntas do tipo: o que
aconteceu? O que está sendo decidido? Qual a decisão final? Que razões são utilizadas pelas diferentes pessoas
envolvidas no caso para resolvê-lo? Qual sua opinião sobre a decisão final e sobre as diferentes justificativas
apresentadas?
Especialmente no início, portanto, descobrir o significado de termos que não conhece deve servir apenas
na medida em que isso seja necessário para entender o que estiver lendo, não como algo a ser decorado. Nos
quatro parágrafos abaixo, é feita uma descrição simples do contexto da decisão, esclarecendo alguns dos termos
básicos que aparecem no texto. Você encontrará, também, como apêndice a este material, um “glossário infor-
mal” de alguns dos termos técnicos mais freqüentes e básicos utilizados na decisão.
Nessa decisão (chamada de “acórdão”, porque é uma decisão coletiva, em que os juízes que a tomam acor-
dam, por unanimidade ou não, com seu conteúdo básico [obviamente, acordam no sentido de “concordar”, não
“despertar”...]), leremos trechos dos votos de três ministros ( como são chamados os juízes do STF ), em uma
ação de habeas corpus (HC). Habeas corpus, que literalmente significa “tome o corpo” em latim, é uma ação em
que alguém (chamado de “impetrante” porque a apresenta ou impetra algo) solicita a um juiz ou tribunal que
este proteja a liberdade de ir e vir de um indivíduo (chamado de “paciente”), em face de uma autoridade (cha-
mada de “coatora”) que está (legalmente ou não, esta é uma das questões) ameaçando essa liberdade (e, portanto,
também o “corpo” ou corpus do indivíduo a que se refere).
Conforme a decisão, negando (ou, o que dá no mesmo, denegando ou indeferindo) ou aceitando (ou, em
outras palavras, deferindo ou concedendo) a solicitação do impetrante, o juiz ou tribunal manda ou ordena (daí
que o HC às vezes é chamado de “ordem” ou “mandamus”) que a liberdade do indivíduo seja garantida.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

A transcrição do Acórdão começa com a indicação das partes no caso (o impetrante, a autoridade coatora
e o paciente) e do ministro relator, incumbido de fazer um resumo dos fatos do caso e, então, de apresentar as
justificativas de sua decisão e seu voto, para discussão e voto dos demais ministros (o STF é composto de 11
ministros e o Acórdão é decidido por maioria de votos). Nesse caso específico, excepcionalmente, estão indica-
dos na transcrição do Acórdão dois ministros relatores, porque o ministro Moreira Alves, que era originalmente
o relator, aposentou-se antes de concluído o processo e foi substituído, nessa condição, pelo ministro Maurício
Corrêa. No trecho que selecionamos, Você lerá trechos dos votos do relator originário (Moreira Alves), do mi-
nistro Maurício Corrêa (que foi o relator ao final) e do ministro Marco Aurélio.
No início da transcrição do Acórdão é incluída ainda uma ementa, redigida pelo relator, que descreve de
maneira bem resumida qual foi a decisão que, ao final, prevaleceu no Tribunal (às vezes chamado de “Corte”).

C. Dificuldades Iniciais

Alguns dos textos que estudaremos são difíceis. Seja paciente e perseverante em suas leituras. Lembre-se: a
capacidade de entender de imediato o que está em jogo não é pressuposto deste curso; é, ao contrário, algo que
buscaremos desenvolver, como resultado do curso.

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II – Leituras

módulo i

a) Habeas Corpus nº 82.424/RS

[item a. “a decisão”]
- Habeas Corpus nº 82.424/RS (ementa, relatório, voto do ministro Moreira Alves, trechos do voto do mi-
nistro Mauricio Corrêa e trechos do voto do ministro Marco Aurélio – seleção anexa).

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MÓDULO II

a) Estupro

– Arts. 213 e 224 do Código Penal (anexos);


– Jurisprudência (anexa)
– Primeiro Grupo (casos 1 a 3)
– Segundo Grupo (casos 1 a 3 e Casos Complementares [4 a 11])

Código Penal:

[estupro]
“Art. 213 – Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça.
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 10 (dez) anos.”

[presunção de violência]
“Art. 224. Presume-se a violência, se a vítima: a) não é maior de 14 (catorze) anos; b) é alienada ou débil
mental, e o agente conhecia esta circunstância; c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência”.

Primeiro Grupo de Jurisprudência (ementas):

[caso 1.] Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: “Estupro Real. Pressupõe o sincero dissenso da mu-
lher. Não existe, portanto, quando a relação sexual foi consentida. Palavra da ofendida. Se declara que depois
de uma resistência inicial tirou ela mesma sua roupa e aceitou passivamente que o réu se deitasse por cima delas
ainda juntos do mato, (...) Tais circunstâncias demonstram que não houve a caracterização do estupro” TJRS.
Ap. Crime nº686044900. 2ª Cam. Crime. Rel. Ladislau Fernando Rohnelt. J. 13.11.1986.

[caso 2.] Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro: “Estupro. Absolvição. Inexistência de prova continua de


resistência da suposta ofendida. Consentimento tácito. Valor probatório do Inquérito Policial. O devido Proces-
so Penal. Absolvição. 1. A conjunção carnal na configuração típica é a realização do coito praticado por pessoas
de sexo oposto, não se exigindo que o ato seja completo, mas que a ´introductio penis intra vas´ ocorra contra a
vontade da ofendida, mediante o emprego da violência real ou presumida; 2. Se foi a própria “ofendida”, antiga
companheira do réu-apelante, que marcara o encontro ao lado do matagal, não oferecendo qualquer resistência
(física ou psicológica), e ainda de forma indireta, colaborara no sentido a afugentar seu atual namorado para
que fugisse do local e ludibriado convocara agentes da autoridade para “socorrê-la” e, após, em sede judicial
não se mostrou jamais revoltada, retornando inclusive a conviver com o namorado enganado, nada aduzindo
sobre o fato, demonstra o consentimento da ofendida em bem disponível que é causa de exclusão da ilicitude;
3. Contudo, a suposta vítima não foi constrangida, praticando o coito por sua livre vontade, razão pela qual
inexiste violação de sua liberdade sobre seu corpo e seu prazer sexual. Trata-se, pois, de fato atípico pela ausência
do elemento subjetivo do tipo. 4. Recurso provido” TJRJ. ACr 140/95. 2ª C.Crim. Rel. Des. Álvaro Mayrink
da Costa. J. 29.08.1995.
[caso 3.] Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: “Estupro. Prova de Violência. Para a caracterização da
coação do ato sexual, não se deve exigir provas de uma violência física, pois integra o tipo a violência moral ou

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

ameaça. Além disso, não se pode impor à mulher que seja heróica, levando a resistência às últimas conseqüências,
para a configuração do seu dissenso. Não consente a mulher que se entrega ao estuprador por exaustão de suas
forças, nem a que sucumbe ao medo, evitando a prática de qualquer ato externo de resistência” (RJTJERGS).

Segundo Grupo de Jurisprudência (ementas):

[caso 1.] “PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO. VIOLÊNCIA FICTA. CONSENTI-


MENTO. VÍTIMA. CARACTERIZAÇÃO. DELITO. 1. No estupro ficto (art. 224, “a”, do Código Penal),
com exigência do dolo direto ou eventual sobre a idade da vítima, afastando - em conseqüência - a tese da
responsabilidade objetiva, o consentimento da ofendida não descaracteriza a prática do delito. Precedentes. Re-
curso especial conhecido e provido.”. Este julgamento corrigiu o decisum que havia sido prolatado pelo TJSC,
2ª Câmara Criminal, rel. Des. Jorge Mussi, nos seguintes termos: “CRIME CONTRA OS COSTUMES”
– ESTUPRO – VIOLÊNCIA PRESUMIDA PELA IDADE DA VÍTIMA (PRATICAMENTE 13 ANOS)
– OFENDIDA COM COMPLEIÇÃO FÍSICA DE MULHER, QUE ADMITE HAVER SE RELACIONA-
DO SEXUALMENTE COM OUTROS DOIS HOMENS ANTES DOS FATOS E QUE, APESAR DE SUA
IDADE, NÃO SE APRESENTA INGÊNUA OU INOCENTE, MAS SIM CONSCIENTE DE SEUS ATOS
– NATUREZA RELATIVA DA FICÇÃO LEGAL RECONHECIDA – DÚVIDAS, ADEMAIS, QUANTO
AO SINCERO DISSENSO OU À SUMISSÃO DA MENOR À VONTADE DO PADRASTO (TEMOR
REVERENCIAL) – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO RÉU QUE SE IMPÕE – ABSOLVI-
ÇÃO DECRETADA – RECURSO DEFENSIVO PROVIDO. Nos crimes de estupro, praticados contra me-
nores de quatorze anos, a presunção de violência é absoluta somente se a vítima for recatada, inocente e ingênua
no campo sexual, hipótese em que pode ser facilmente enganada e iludida pelo agente. Se, ao contrário, a menor
possuir uma maturidade sexual acima da média da sua idade, tornando-a capaz de discernir acerca de sua con-
duta e conseqüências desta, a presunção desta, a presunção do art. 224, alínea a, do CP, passa a ser relativa.
Comprovado o desenvolvimento sexual da menor ofendida e havendo dúvidas quanto ao seu sincero
dissenso ou à sua submissão à vontade do padrasto (temor reverencial), outra solução não resta senão absolver
o acusado, com fundamento no art. 386, VI, do CPP” REsp nº 324.161, Sexta Turma, rel. Min. Fernando
Gonçalves, julgado em 4.2.2003.

[caso 2.] “Estupro. Reconhecimento da Violência Presumida. Impossibilidade. Jovem madura com idade
próxima ao limite legal. É induvidoso que, nos dias atuais, não se pode mais afirmar que uma jovem, na pré-adoles-
cência, continue como na década de 40, a ser uma insciente das coisas do sexo. Na atualidade, o sexo deixou de ser
um tema proibido, para se situar em posição de destaque na família, onde é discutido livremente por causa da AIDS,
nas escolas, onde adquiriu o “status” de matéria curricular e nos meios de comunicação de massa, onde se tornou
assunto corriqueiro. A quantidade de informações, de esclarecimentos, de ensinamentos sobre sexo flui rapidamente
e sem fronteiras, dando as pessoas, inclusive as de menos de 14 anos de idade, uma visão teórica da vida sexual,
possibilitando-a a rechaçar as propostas de agressões que nessa esfera se produzirem-se a uma consciência bem clara
e nítida da disponibilidade do próprio corpo. Sob pena do conflito da lei com a realidade social, não se pode mais
excluir completamente, nos crimes sexuais, a apuração do elemento volitivo da ofendida, de seu consentimento, sob
o pretexto de que continua não podendo dispor livremente de seu corpo, por faltar-lhe capacidade fisiológica e psico-
ética” TJRS. Apel. Criminal nº 698248671. 6ª C.Crim. Rel. Sylvio Baptista Neto. J. 15.10.1998.

[caso 3.] “Sob pena de conflitarem lei e realidade social, não se pode mais afirmar que se exclui completamen-
te, nos crimes sexuais, a apuração do elemento volitivo da pessoa ofendida, de seu consentimento sob o pretexto de
continua não podendo dispor livremente do seu corpo, por faltar-lhe capacidade biológica e psico-ética. A pressão
exercida pela realidade social tem sido de tal ordem que a presunção de violência decorrente das circunstâncias

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

da ofendida dispor de idade inferior de 14 anos se relativizou (...) Em decorrência do exposto, a tais situações de
relativização da presunção deve ser acrescida uma outra, ou seja, exclui-se a presunção de violência quando a pessoa
ofendida, embora com menos de 14 anos de idade, deixa claro e patente ter maturidade suficiente para exercer a
sua capacidade de auto-determinar-se no terreno da sexualidade. Se dela partir a iniciativa ou a provocação do ato
sexual, ou se ela adere prontamente ao convite de caráter sexual, que o agente lhe dirige, constitui um verdadeiro
contra senso entender que sofreu uma violência”. TJSP. Ap. Crime nº 93117-3. Rel. Des. Márcio Bartoli.

Casos Complementares:

[caso 4.] ”Estupro. Menor de Quatorze Anos. Violência Relativa. O entendimento prevalecente, na juris-
prudência e na doutrina, é no sentido de que a presunção de violência prevista no CP, Art. 224, “a” é relativa,
cedendo diante da prova contrária” STJ. RESP. nº 161.284-RS. Rel. Min. Edson Vidigal. J. 21.03.2000.

[caso 5.] ”Estupro. Violência Presumida. Absolvição. Consentimento. Se a vítima consentiu no ato sexual
e tendo conhecimento do assunto, já que fora alertada pela mãe da possibilidade de engravidar e sobretudo por-
que freqüentava barzinhos à noite com outras adolescentes, demonstrando que não era moça ingênua e recatada,
deve prevalecer a sentença absolutória que afastou a ´inocentai consilii´, que é relativa” TJMS. Acr. nº 58.753-3.
2ª T. Rel. Des. Carlos Stephanini. J. 10.06.1998.

[caso 6.] “Estupro. Menor de Quatorze Anos. Presunção de Violência. Consentimento. Consoante o
entendimento pretoriano, na hipótese de crime de estupro cometido contra menor de 14 anos, nem mesmo o
consentimento da vítima ou a sua anterior experiência elidem a presunção de violência” STJ. HC nº 9.056. 6ª
Turma. Rel. Min. Fernando Gonçalves. J. 30.06.1999.

[caso 7.] “(...) É incabível a alegação de que houve o consentimento por parte da vítima, eis que sendo esta
menor de 14 (quatorze) anos, a violência é presumida”. TJDFT. Ap. Crime nº 1999085003969-4. 1ª Turma.
Re. Des. Otávio Augusto. J. 24.02.2000..

[caso 8.] “Estupro. Presunção de Violência. Vítima menor de 14 anos de idade. Sequer elide a presunção
de violência o alegado fato do consentimento da vítima quanto à relação sexual. A violência ficta, prevista no
art. 224, letra “a”, do Código Penal, é absoluta e não relativa” STF. HC nº 72.575-9. 2ª Turma. Rel. Min. Néri
da Silveira. J. 04.08.1995.

[caso 9.] “Estupro Ficto. Menor de quatorze anos de idade não possui discernimento para, com vontade
válida, entregar-se sexualmente ...” TJRS. Ap. Crime nº 694006651. 1ª C.Crim. Rel. Guilherme Oliveira de
Souza Castro. J. 30.03.1994.

[caso 10.] “Estupro. Se a ofendida é menor de 13 anos de idade não pode consentir e se consentir não e
válido” TJRS. Ap. Crime nº 686049156. 1ª C.Crim. Rel. Paulo David Torres Barcellos. J. 09.09.1987.

[caso 11.] “Estupro. Violência Presumida Confirmada. Vítima Menor de 14 anos de Idade. Falta de cons-
ciência plena para validar com seu consentimento o ato que cometeu. Sentença recorrida amparada na provados
autos. Recurso improvido a unanimidade” TJSE. ACr 008/94. Ac. 0406/94. C.Crim. Rel. Des. Rinaldo Costa
e Silva. DJSE 26.05.1994.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

módulo ii

b) Propriedade e Função Social

– Jurisprudência (anexa)
– Primeiro Grupo (casos 1 a 4)
– Nota Breve Sobre Processo Expropriatório
– Segundo Grupo (casos 1 a 4)
– Legislação:
– Constituição Federal:
Arts. 1º, 3º, 5º (inc. XXII, XXIII, LIV e LV), 170, 182, 183, 184, 185 186
– Código Civil de 1916
Arts. 75, 77, 78, 159, 524, 589, 620, 675 e 1518 (e correlatos no Código Civil de 2002)
– Lei n. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993
Arts. 2º, 5º, 6º 9º e 12

Primeiro Grupo de Jurisprudência (ementas):

[caso 1.] [inteiro teor do acórdão transcrito abaixo]


APELAÇÃO CÍVEL N. 212.726-1-4 - SÃO PAULO

EMENTA
Ação reivindicatória. Lotes de terreno transformados em favela dotada de equipamentos urbanos. Função
social da propriedade. Direito de indenização dos proprietários. Lotes de terreno urbanos tragados por uma
favela deixam de existir e não podem ser recuperados, fazendo, assim, desaparecer o direito de reivindicá-los. O
abandono dos lotes urbanos caracteriza uso anti-social da propriedade, afastado que se apresenta do princípio
constitucional da função social da propriedade. Permanece, todavia, o direito dos proprietários de pleitear inde-
nização contra quem de direito.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos...
Acordam, em 8ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação unânime, dar
provimento ao Recurso dos réus, prejudicado o Recurso Adesivo, de conformidade com o relatório e o voto do
Relator, que ficam fazendo parte do acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores Osvaldo Caron (Presidente) e Walter Theodósio,
com votos vencedores.
São Paulo, 16 de dezembro de 1994
José Osório, Relator

Ação reivindicatória referente a lotes de terreno ocupados por favela foi julgada procedente pela r. sentença
de fls., cujo relatório é adotado, repelida a alegação de usucapião e condenados os réus na desocupação da área,
sem direito a retenção por benfeitorias e devendo pagar indenização pela ocupação desde o ajuizamento da
demanda. As verbas da sucumbência ficaram subordinadas à condição de beneficiários da assistência judiciária
gratuita.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Apelam os sucumbentes pretendendo caracterizar a existência do usucapião urbano, pois incontestavel-


mente todos se encontram no local há mais de 5 (cinco) anos, e ocupam áreas inferiores a 200 (duzentos) metros
quadrados, sendo que não têm outra propriedade imóvel. Subsidiariamente, pretendem o reconhecimento da
boa-fé e consequentemente direito de retenção por benfeitorias e, alternativamente, ainda, o deslocamento do
dies a quo de sua condenação da data da propositura da demanda para a data em que se efetivou a citação.
Os autores contra-arrazoam, levantando preliminar de intempestividade do Recurso e, no mérito, pugnan-
do pela manutenção da sentença; e interpõem Recurso Adesivo, pretendendo a execução imediata das verbas de
sucumbência em que foram condenados os réus.
O Recurso Adesivo também foi respondido.
O Relator determinou diligência a respeito da publicação de sentença.
É o relatório.
O Recurso é tempestivo. Conforme se vê de cópia do DOU, de 30.11.1992, constaram da publicação
da sentença apenas os nomes dos advogados dos autores. O Doutor Procurador da Assistência Judiciária, que
defende os réus, tomou ciência da decisão somente em 20.1.1993.
Apresentado o Recurso em 26.1, é ele tempestivo.
A alegação da defesa de já haver ocorrido o usucapião social urbano, criado pelo artigo 183 da CF/88, não
procede, porquanto, quando se instaurou a nova ordem constitucional, a ação estava proposta havia 3 (três)
anos.
Ainda assim, o Recurso dos réus tem provimento.
Os autores são proprietários de 9 (nove) lotes de terreno no Loteamento..., subdistrito..., adquiridos em
1978 e 1979. O loteamento foi inscrito em 1955. A Ação Reivindicatória foi proposta em 1985.
Segundo se vê do laudo e das fotografias de fls., os 9 (nove) lotes estão inseridos em uma grande favela, a
‘Favela..., perto do Shopping...
Trata-se de favela consolidada, com ocupação iniciada há cerca de 20 (vinte) anos. Está dotada, pelo Poder
Público, de pelo menos 3 (três) equipamentos urbanos: água, iluminação pública e luz domiciliar. As fotos de
fls. mostram algumas obras de alvenarias, os postes de iluminação, um pobre ateliê de costureira, etc., tudo a
revelar uma vida urbana estável, no seu desconforto.
O objeto da Ação Reivindicatória é, como se sabe, uma coisa corpórea, existente e bem definida. Veja-se,
por todos, Lacerda de Almeida:

“Coisas corpóreas em sua individualidade, móveis ou imóveis, no todo ou em uma quota-parte, constituem
o objeto mais freqüente do domínio, e é no caráter que apresentam de concretas que podem ser reivindicadas (...)”
(Direito das coisas, Rio de Janeiro, 1908, p. 308).

No caso dos autos, a coisa reivindicada não é concreta, nem mesmo existente. É uma ficção.
Os lotes de terreno reivindicados e o próprio loteamento não passam, há muito tempo, de mera abstração
jurídica. A realidade urbana é outra. A favela já tem vida própria, está, repita-se, dotada de equipamentos urba-
nos. Lá vivem muitas centenas, ou milhares, de pessoas. Só nos locais onde existiam os 9 (nove) lotes reivindi-
cados residem 30 (trinta) famílias. Lá existe uma outra realidade urbana, com vida própria, com os direitos civis
sendo exercitados com naturalidade. O comércio está presente, serviços são prestados, barracos são vendidos,
comprados, alugados, tudo a mostrar que o primitivo loteamento hoje só tem vida no papel.
A diligente perita, em hercúleo trabalho, levou cerca de 4 (quatro) anos para conseguir localizar as duas
ruas em que estiveram os lotes, Ruas... e... Segundo a perita:

“A Planta Oficial do Município confronta com a inexistência da implantação da Rua... a qual foi indicada em
tracejado”.

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Na verdade, o loteamento, no local, não chegou a ser efetivamente implantado e ocupado. Ele data de
1955. Onze anos depois, a planta aerofotogramétrica da... mostra que os 9 (nove) lotes estavam coberto por
“vegetação arbustica”, a qual também obstruía a rua... Inexistia qualquer equipamento urbano.
Mais de 6 (seis) anos e a planta seguinte (1973) indica a existência de muitas árvores, duas das quais no
leito da rua. Seis barracos já estão presentes. Essa prova casa-se com o depoimento sereno do Padre M.B.:

“Foi pároco no local até 1973, quando já havia o início da favela do... Ausentou-se do local até 1979. Quando
lá retornou, encontrou a favela consolidada”.

Por aí se vê que, quando da aquisição, em 1978/1979, os lotes já compunham favela.


Loteamento e lotes urbanos são fatos e realidades urbanísticas. Só existem, efetivamente, dentro do con-
texto urbanístico. Se são tragados por uma favela consolidada, por força de uma certa erosão social, deixam de
existir como loteamento e como lotes.
A realidade concreta prepondera sobre a “pseudo-realidade jurídico-cartorária”. Esta não pode subsistir,
em razão da perda do objeto do direito de propriedade. Se um cataclismo, se uma erosão física, provocada pela
natureza, pelo homem ou por ambos, faz perecer o imóvel, perde-se o direito de propriedade.
É o que se vê no artigo 589 do Código Civil, com remissão aos artigos 77 e 78.
Segundo o artigo 77, perece o direito perecendo o seu objeto. E nos termos do artigo 78, I e III, entende-se
que pereceu o objeto do direito quando perde as qualidades essenciais, ou o valor econômico; e quando fica em
lugar de onde não pode ser retirado.
No caso dos autos, os lotes já não apresentam suas qualidades essenciais, pouco ou nada valem no comér-
cio; e não podem ser recuperados, como adiante se verá.
É verdade que a coisa, o terreno, ainda existe fisicamente.
Para o direito, contudo, a existência física da coisa não é o fator decisivo, consoante se verifica dos men-
cionados incisos I e III do artigo 78 do CC. O fundamental é que a coisa seja funcionalmente dirigida a uma
finalidade viável, jurídica e economicamente.
Pense-se no que ocorre com a denominada desapropriação indireta. Se o imóvel, rural ou urbano, foi
ocupado ilicitamente pela Administração Pública, pode o particular defender-se logo com Ações Possessó-
rias ou dominiais. Se tarda e ali é construída uma estrada, uma rua, um edifício público, o esbulhado não
conseguirá reaver o terreno, o qual, entretanto, continua a ter existência física. Ao particular, só cabe Ação
Indenizatória.
Isto acontece porque o objeto do direito transmudou-se. Já não existe mais, jurídica, econômica e social-
mente, aquele fragmento de terra do fundo rústico ou urbano. Existe uma outra coisa, ou seja, uma estrada ou
uma rua, etc. Razões econômicas e sociais impedem a recuperação física do antigo imóvel.
Por outras palavras, o jus reivindicandi (art. 524, parte final, do CC) foi suprimido pelas circunstâncias
acima apontadas.
Essa é a Doutrina e a Jurisprudência consagradas há meio século no Direito brasileiro.
No caso dos autos, a retomada física é também inviável.
O desalojamento forçado de 30 (trinta) famílias, cerca de 100 (cem) pessoas, todas inseridas na comuni-
dade urbana muito maior da extensa favela, já consolidada, implica uma operação cirúrgica de natureza ético-
social, sem anestesia, inteiramente incompatível com a vida e a natureza do Direito.
É uma operação socialmente impossível.
E o que é socialmente impossível é juridicamente impossível.
Ensina L. Recaséns Siches, com apoio explícito em Miguel Reale, que o Direito, como obra humana que
é, apresenta sempre três dimensões, a saber:

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

“A) Dimensión de hecho, la cual comprende los hechos humanos sociales en los que el Derecho se gesta y se
produce; así como las conductas humanas reales en las quales el Derecho se cumple y lleva a cabo.
B) Dimensión normativa (...).
C) Dimensión de valor, estimativa, o axiológica, consistente en que sus normas, mediante las cuales se trata de
satisfacer una série de necessidades humanas, esto intentan hacerlo con las exigencias de unos valores, de la justicia y
de los demás valores que esta implica, entre los que figuran la autonomía de la persona, la seguridad, el bien común
y otros.
(...) pero debemos precatarnos de que las tres (dimensiones) se hallan reciprocamente unidas de un modo
inescindible, vinculadas por triples nexos de esencial implicación mutua” (Introducción al estudio del derecho,
México, 1970, p. 45).

Por aí se vê que a dimensão simplesmente normativa do Direito é inseparável do conteúdo do ético-social


do mesmo, deixando a certeza de que a solução que se revela impossível do ponto de vista social é igualmente
impossível do ponto de vista jurídico.
O atual direito positivo brasileiro não comporta o pretendido alcance do poder de reivindicar atribuído ao
proprietário pelo artigo 524, do CC.
A leitura de todos os textos do CC só pode se fazer à luz dos preceitos constitucionais vigentes. Não se con-
cebe um direito de propriedade que tenha vida em confronto com a Constituição Federal, ou que se desenvolva
paralelamente a ela.
As regras legais, como se sabe, se arrumam de forma piramidal.
Ao mesmo tempo em que manteve propriedade privada, a CF a submeteu ao princípio da função social
(arts. 5º, XXII e XXIII; 170, II e III; 182, 2º; 184; etc.).
Esse princípio não significa apenas uma limitação a mais ao direito de propriedade, como, por exemplo,
as restrições administrativas, que atuam por força externa àquele direito, em decorrência do poder de polícia da
Administração.
O princípio da função social atua no conteúdo do direito. Entre os poderes inerentes ao domínio, previstos
no artigo 524 do CC (usar, fruir, dispor e reivindicar), o princípio da função social introduz um outro interesse
(social) que pode não coincidir com os interesses do proprietário. Veja-se, a esse propósito, José Afonso da Silva,
Direito constitucional positivo, 5. ed., p. 249-250, com apoio em autores europeus.
Assim, o referido princípio torna o direito de propriedade, de certa forma, conflitivo consigo próprio, ca-
bendo ao Judiciário dar-lhe a necessária e serena eficácia nos litígios graves que lhe são submetidos.
No caso dos autos, o direito de propriedade foi exercitado, pelos autores e por seus antecessores, de forma
anti-social. O loteamento pelo menos no que diz respeito aos 9 (nove) lotes reivindicados e suas imediações –
ficou praticamente abandonado por mais de 20 (vinte) anos; não foram implantados equipamentos urbanos; em
1973, havia árvores até nas ruas; quando da aquisição dos lotes, em 1978-1979, a favela já estava consolidada.
Em cidade de franca expansão populacional, com problemas gravíssimos de habitação, não se pode prestigiar tal
comportamento de proprietários.
O jus reivindicandi fica neutralizado pelo princípio constitucional da função social da propriedade. Perma-
nece a eventual pretensão indenizatória em favor dos proprietários, contra quem de direito.
Diante do exposto, é dado provimento ao Recurso dos réus para julgar improcedente a ação, invertidos os
ônus da sucumbência, e prejudicado o Recurso dos autores. (FIM DO ACÓRDÃO DO CASO 1)

[caso 2.] (ementa). “Área ocupada há longo tempo - Favela: Nada obstante o respeito que a tese da destina-
ção social da ocupação do imóvel urbano para fins residenciais, empolgante, por sem dúvida, possa merecer, sua
aplicação é inaceitável em face do Direito vigente. Aplicá-la ao arrepio da lei importaria, em verdade, transposição
para o campo do Direito Civil da figura do uti possidetis do Direito Internacional, via do qual se reconheceria ao

FGV DIREITO RIO 36


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

posseiro ou mero ocupante a garantia da posse por decorrência de suposta soberania oriunda exclusivamente do
fato da ocupação. A questão, se é grave no aspecto social e está a merecer atenção e solução, em caráter urgente,
pelo Poder competente, não pode ser decidida senão segundo os critérios que disciplinam a posse, seus efeitos e
sua proteção.” RT 565/105.

[caso 3.] “(...) 1. O caso em exame envolve grave problema social, o qual não compete ao Poder Judiciário
resolvê-lo, por não se encontrar na esfera de suas atribuições e sim determinar o cumprimento da lei, inclusive de
norma constitucional que assegura o direito de propriedade. (...)”TJ/PR, Pedido de Intervenção n° 0014086-9,
Catanduvas, Ac. n° 2028, Órgão Especial unân., j. 01.07.94, DJPR, 15.08.94, p. 28.

[caso 4.] “Deferir-se em favor de quem não tem direito a posse de um imóvel somente porque se trata
de uma vila popular, para obviar-se uma crise social e porque não é moralmente justo, é praticar-se o confisco
através da jurisdição. E o confisco aberra à lei, ao direito e à justiça. Com a devida vênia, a pior das ditaduras é a
ditadura do Judiciário. No momento em que o Judiciário se contrapõe ao ordenamento jurídico, para realizar a
reforma social de que este país está necessitando, subverte a ordem jurídica que lhe cumpre defender e extrapola
os limites de sua função.” TA/RS, Emb. Infr n° 100287119, 1° Grupo Cível, j. 18.11.83, voto vencido.

Nota Breve sobre Processo Expropriatório (por Livia Fernandes)

O segundo grupo de casos, abaixo, trata de processos de expropriação, para fins de reforma agrária. De ma-
neira bem resumida, a desapropriação ou expropriação é a retirada, regulada em lei, de um bem de um particular
para, ao destiná-lo ao poder público, atender a interesse da comunidade (por exemplo, assentando famílias).
Atualmente, apenas imóveis rurais improdutivos de grande extensão ou pertencentes a proprietários de ou-
tros imóveis rurais podem ser desapropriados. O processo expropriatório exige, entre outros requisitos, vistoria
prévia comprobatória da ociosidade da propriedade (este requisito é discutido nos acórdãos indicados). A expro-
priação do imóvel somente ocorrerá mediante uma indenização prévia, justa e em títulos da dívida agrária.
Alguns dos principais requisitos legais de processos expropriatórios, mencionados nos casos, estão transcri-
tos no item sobre “LEGISLAÇÃO” abaixo.

Segundo Grupo de Jurisprudência (ementas):

[caso 1.] “CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE


SOCIAL. DECLARATÓRIA. LEI 8629/93. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. NULIDADE ATO
ADMINISTRATIVO. ART. 5º, LV, CF/88. LEGITIMIDADE UNIÃO. - À UNIÃO, ATRAVÉS DO IN-
CRA, É CONFERIDO CONSTITUCIONALMENTE O PODER DE DESAPROPRIAR POR INTERES-
SE SOCIAL, PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. O INCRA AGIU POR DELEGAÇÃO DA UNIÃO,
PORTANTO, HÁ DE SE PRESUMIR SUA LEGITIMIDADE PASSIVA “AD CAUSAM”. O PARÁGRAFO
2º, DO ART. 2º, DA LEI 8629/93, DETERMINA A NOTIFICAÇÃO PRÉVIA AO PROPRIETÁRIO, A
FIM DE ASSEGURAR A ESTE O DIREITO DE ACOMPANHAR OS PROCEDIMENTOS PRELIMI-
NARES PARA O LEVANTAMENTO DOS DADOS FÍSICOS PARA QUE SE POSSA DESAPROPRIAR
UM IMÓVEL. - A NOTIFICAÇÃO É PRÉVIA E NÃO PODE SER DURANTE OU DEPOIS DA VISTO-
RIA. O CONHECIMENTO PRÉVIO QUE SE DÁ AO PROPRIETÁRIO É DIREITO FUNDAMENTAL
DO CIDADÃO, E SUA AUSÊNCIA OCASIONA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
E DA AMPLA DEFESA GARANTIDOS NO ART. 5º, LV, DA CARTA MAGNA. - APELAÇÕES NÃO

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

CONHECIDAS. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA. (TRF 5ª Região. AC 220016. – 1ª T. - Rel. Desembar-


gadora Federal Margarida Cantarelli . DJ 06.07.01, p. 303).

[caso 2.] MS 22613-7 PE (STF): EMENTA: DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. FALTA
DE NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O §2º, DO ARTIGO 2º, DA LEI 8.629/93. CONTRADITÓRIO
E AMPLA DEFESA: INEXISTÊNCIA: NULIDADE DO ATO. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERI-
DO. 1. A desapropriação por interesse social visando à reforma agrária não dispensa a notificação prévia a que se
refere o parágrafo 2º, do artigo 2º, da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, de tal modo a assegurar aos seus
proprietários o direito de acompanhar os procedimentos preliminares para o levantamento dos dados físicos ob-
jeto da pretensão desapropriatória. 2. O conhecimento prévio que se abre ao proprietário consubstancia-se em
direito fundamental do cidadão, caracterizando-se a sua ausência patente violação ao princípio do contraditório
e da ampla defesa (CF, artigo 5º, inciso LV). 3. Não se considera prévia a notificação entregue ao proprietário
do imóvel no mesmo dia em que se realiza a vistoria. Mandado de Segurança deferido.

[caso 3.] MS 22.319-7 (STF): EMENTA: DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. FALTA
DE NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O §2º, DO ARTIGO 2º, DA LEI 8.629/93. CONTRADITÓRIO
E AMPLA DEFESA: INEXISTÊNCIA: NULIDADE DO ATO. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERI-
DO. 1. A propriedade selecionada pelo órgão estatal para o fim de desapropriação por interesse social visando à
reforma agrária não dispensa a notificação prévia a que se refere o parágrafo 2º, do artigo 2º, da Lei nº 8.629, de
25 de fevereiro de 1993, de tal modo a assegurar aos seus proprietários o direito de acompanhar os procedimen-
tos preliminares para o levantamento dos dados físicos objeto da pretensão desapropriatória. O conhecimento
prévio que se abre ao proprietário consubstancia-se em direito fundamental do cidadão, caracterizando-se a sua
ausência patente violação ao princípio do contraditório e da ampla defesa (CF, artigo 5º, inciso LV). 2. Não se
considera prévia a notificação entregue ao administrador do imóvel “quando da vistoria.” 3. Na falta da notifica-
ção prévia como preliminar do processo, o edito de expropriação por interesse social para os efeitos de reforma
agrária torna-se plenamente nulo.

[caso 4.] MS 22193-3. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. FALTA DE NOTIFICAÇÃO


A QUE SE REFERE O § 2º, DO ARTIGO 2º, DA LEI 8.629/93. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA:
INEXISTÊNCIA: NULIDADE DO ATO. TERRA PRODUTIVA. COMPROVAÇÃO MEDIANTE LAU-
DO DO PRÓPRIO INCRA OFERECIDO EM PROCEDIMENTO EXPROPRIATÓRIO ANTERIOR E
POSTERIORMENTE NÃO CONSUMADO. VERIFICADO QUE O IMÓVEL RURAL É PRODUTIVO
TORNA-SE ELE INSUSCETÍVEL DE DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO PARA OS FINS DE REFORMA
AGRÁRIA. MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO.
Resumo do caso: O STF concedeu mandado de segurança que considera nulo decreto expropriatório que
determinava a desapropriação do latifúndio de Antônio Southal, em São Gabriel/ RS. Por oito votos a dois, o
STF decidiu contra a desapropriação. A maioria dos votos entendeu que a vistoria do INCRA que precede o
procedimento de desapropriação não foi precedido de notificação ao proprietário tornando nulo todo o processo
de desapropriação, que culminou no decreto. A maioria dos juízes do STF entendeu que a discussão sobre a pro-
dutividade das terras não era relevante para a decisão.Os alunos lerão: Ementa e Acórdão (2 páginas). Relatório
e voto da Ministra Ellen Gracie (exceto página 631-2 do processo, que tratam das preliminares) (22 páginas).
Voto do Ministro Carlos Britto (contrário à desapropriação) (14 páginas).

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INTRODUÇÃO AO DIREITO I

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos desta Constituição.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-
mas de discriminação.

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Cons-
tituição; (...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (...)
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o con-
traditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (...)

TÍTULO VII
Da Ordem Econômica e Financeira
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;

FGV DIREITO RIO 39


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
nal nº 42, de 19.12.2003)
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995)
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente-
mente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. (...)

CAPÍTULO II
DA POLÍTICA URBANA
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme di-
retrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem- estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil
habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de orde-
nação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor,
exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado,
que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada
pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por
cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

CAPÍTULO III
DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
emissão, e cuja utilização será definida em lei.

FGV DIREITO RIO 40


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

§ 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.


§ 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a
União a propor a ação de desapropriação.
§ 3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o
processo judicial de desapropriação.
§ 4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante
de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis
desapropriados para fins de reforma agrária.
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua
outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cum-
primento dos requisitos relativos a sua função social.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo cri-
térios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Código Civil de 1916 (Lei nº 3.071, de 1º de Janeiro de 1916) - Vigência até 10 de janeiro de 2003

Art. 75. A todo o direito corresponde uma ação, que o assegura. (ver artigo 189, CC/2002)
Art. 77. Perece o direito, perecendo o seu objeto.
Art. 78. Entende-se que pereceu o objeto do direito:
I - quando perde as qualidades essenciais, ou o valor econômico;
II - quando se confunde com outro, de modo que se não possa distinguir;
III - quando fica em lugar de onde não pode ser retirado.
Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou
causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. (ver artigos 186 e 927, CC/2002)

Art. 524. A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do
poder de quem quer que injustamente os possua. (ver artigo 1.228, caput, CC/2002)
Art. 589. Além das causas de extinção consideradas neste Código, também se perde a propriedade imóvel:
I - pela alienação;
II - pela renúncia;
III - pelo abandono;
IV - pelo perecimento do imóvel.
§ 1º Nos dois primeiros casos deste artigo, os efeitos da perda do domínio serão subordinados a transcrição
do título transmissivo, ou do ato renunciativo, no registro do lugar do imóvel.
§ 2º O imóvel abandonado arrecadar-se-á como bem vago e passará ao domínio do Estado, do Território
ou do Distrito Federal se se achar nas respectivas circunscrições; (Redação da Lei nº 6.969, de 10.12.1981)
a)10 (dez) anos depois, quando se tratar de imóvel localizado em zona urbana;

FGV DIREITO RIO 41


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

b) 3 (três) anos depois, quando se tratar de imóvel localizado em zona rural.


(ver artigos 1.275 e 1.276, CC/2002)
Art. 590. Também se perde a propriedade imóvel mediante desapropriação por necessidade ou utilidade
pública.
§ 1o Consideram-se casos de necessidade pública:
I - a defesa do território nacional;
II - a segurança pública;
III - os socorros públicos, nos casos de calamidade;
IV - a salubridade pública.
§ 2o - Consideram-se casos de utilidade pública:
I - a fundação de povoações e de estabelecimentos de assistência, educação ou instrução pública;
II - a abertura, alargamento ou prolongamento de ruas, praças, canais, estradas de ferro e, em geral, de
quaisquer vias públicas;
III - a construção de obras, ou estabelecimentos destinados ao bem geral de uma localidade, sua decoração
e higiene;
IV - a exploração de minas
Art. 620. O domínio das coisas não se transfere pelos contratos antes da tradição. Mas esta se subentende,
quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório (art. 675). (ver artigo 1.267, CC/2002)
Art. 675. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos,
só se adquirem com a tradição (art. 620). (ver artigo 1.226, CC/2002)
Art. 1.518. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação
do dano causado; e, se tiver mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação. (ver
artigo 942, CC/2002)

Artigos correspondentes no CÓDIGO CIVIL de 2002 (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) - vigência a partir
de 10 de janeiro de 2003

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos
a que aludem os arts. 205 e 206.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem.
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação
do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vi-
vos, só se adquirem com a tradição.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder
de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e
sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna,
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do
ar e das águas.

FGV DIREITO RIO 42


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam ani-
mados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade
pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área,
na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela hou-
verem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante.
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o
preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto pos-
sessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou
quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
I - por alienação;
II - pela renúncia;
III - por abandono;
IV - por perecimento da coisa;
V - por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados
ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em
seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três
anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.
§ 1o O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado, como
bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.
§ 2o Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos de
posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.

LEI N. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 (Dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais
relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal.)

Art. 2º A propriedade rural que não cumprir a função social prevista no art. 9º é passível de desapropria-
ção, nos termos desta lei, respeitados os dispositivos constitucionais.
§ 1º Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que
não esteja cumprindo sua função social.
§ 2º Para fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal competente, autorizada a ingressar no
imóvel de propriedade particular, para levantamento de dados e informações, com prévia notificação (Vide Me-
dida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01).
§ 3º Na ausência do proprietário, do preposto ou do representante, a comunicação será feita mediante
edital, a ser publicado, por três vezes consecutivas, em jornal de grande circulação na capital do Estado de loca-
lização do imóvel. (Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01).
Art. 5º A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que não cumpra sua função social,
importa prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária. (...)

FGV DIREITO RIO 43


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge,
simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão
federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80%
(oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável
total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e
será obtido de acordo com a seguinte sistemática:
I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos índices de
rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo ín-
dice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente
utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.
§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:
I - as áreas plantadas com produtos vegetais;
II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixado
pelo Poder Executivo;
III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento estabelecidos
pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental;
IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições esta-
belecidas pelo órgão federal competente;
V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas permanentes
(Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01) (...)
§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso
fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo órgão compe-
tente, deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração, exigidos para a espécie.
Art. 9º A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo graus e
critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
§ 1º Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e de
eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta lei.
§ 2º Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz res-
peitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade.
§ 3º Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio
natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da
propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas.
§ 4º A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis
trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os contratos de arrenda-
mento e parceria rurais.
§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o
atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança do trabalho e
não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.

FGV DIREITO RIO 44


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

§ 6º (Vetado.)
Art. 12. Considera-se justa a indenização que permita ao desapropriado a reposição, em seu patrimônio,
do valor do bem que perdeu por interesse social. (Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24/08/01)
1º A identificação do valor do bem a ser indenizado será feita, preferencialmente, com base nos seguintes
referenciais técnicos e mercadológicos, entre outros usualmente empregados:
I - valor das benfeitorias úteis e necessárias, descontada a depreciação conforme o estado de conservação;
II - valor da terra nua, observados os seguintes aspectos:
a) localização do imóvel;
b) capacidade potencial da terra;
c) dimensão do imóvel.

FGV DIREITO RIO 45


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

módulo ii

c) Serviço Público

– Legislação:
– Constituição Federal:
Arts. 9, parágrafo 1º, Art. 175 parágrafo único
– Código do Consumidor
Arts. 3º, 22, 42 e 71
– Lei 8987/95
Art. 6º, par. 3º, inc. II e Art. 7º, “a”
– Lei 9427/97
Art. 17
– Lei 7783/89
Art. 10
– Jurisprudência (casos 1 a 5, anexos)

FGV DIREITO RIO 46


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Constituição Brasileira:

“Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a


oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento
das necessidades inadiáveis da comunidade. (...)”

“Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o ca-
ráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade,
fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.”


Lei 8.078/90 - Código do Consumidor – “Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
outras providências”

“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante re-
muneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.”

“Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias


ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequa-
dos, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações re-
feridas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste código.”

“Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridí-
culo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção mo-
netária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.”

“Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código,
sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos
seguintes. (...)

FGV DIREITO RIO 47


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações
falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificada-
mente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.”

Lei 8.987/95 – Lei de Concessões – “Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços
públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências”
“Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos
usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
§ 2o A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua con-
servação, bem como a melhoria e expansão do serviço.
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou
após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.”

“Art. 7º. Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações
dos usuários:
I - receber serviço adequado; (...)”

Lei 9.427/96 – Lei de Instituição da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) – “Institui a Agência Nacio-
nal de Energia Elétrica - ANEEL, disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica e
dá outras providências”

“Art. 17. A suspensão, por falta de pagamento, do fornecimento de energia elétrica a consumidor que pres-
te serviço público ou essencial à população e cuja atividade sofra prejuízo será comunicada com antecedência de
quinze dias ao Poder Público local ou ao Poder Executivo Estadual.
Parágrafo único. O Poder Público que receber a comunicação adotará as providências administrativas para
preservar a população dos efeitos da suspensão do fornecimento de energia, sem prejuízo das ações de responsa-
bilização pela falta de pagamento que motivou a medida.

Lei 7.783/89 – “Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendi-
mento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências”

“Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:


I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;
II - assistência médica e hospitalar;
III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
IV - funerários;
V - transporte coletivo;
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;

FGV DIREITO RIO 48


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

VII - telecomunicações;
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X - controle de tráfego aéreo;
XI – compensação bancária.”

Jurisprudência (ementas):

[caso 1.] STJ . RESP 337965 / MG ; RECURSO ESPECIAL. 2001/0098419-1 Data do Julgamento:
02/09/2003. DJ 20.10.2003 p.00244 (Relatório e Voto – Eliana Calmon e dois votos vista): ADMINISTRATI-
VO - SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ÁGUA - PAGAMENTO À EMPRESA CONCESSIONÁRIA
SOB A MODALIDADE DE TARIFA - CORTE POR FALTA DE PAGAMENTO: LEGALIDADE. 1. A re-
lação jurídica, na hipótese de serviço público prestado por concessionária, tem natureza de Direito Privado, pois
o pagamento é feito sob a modalidade de tarifa, que não se classifica como taxa. 2. Nas condições indicadas, o
pagamento é contra prestação, e o serviço pode ser interrompido em caso de inadimplemento. 3. Interpretação
autêntica que se faz do CDC, que admite a exceção do contrato não cumprido. 4. A política social referente
ao fornecimento dos serviços essenciais faz-se por intermédio da política tarifária, contemplando eqüitativa e
isonomicamente os menos favorecidos. 5. Recurso especial improvido.

[caso 2.] STJ. RESP Nº 617.588 - SP (2003/0235399-9). (Relatório e Voto) ADMINISTRATIVO.


CORTE DO FORNECIMENTO DE ÁGUA. INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR. LEGALIDADE
.1. A 1ª Seção, no julgamento do RESP nº 363.943/MG, assentou o entendimento de que é lícito à conces-
sionária interromper o fornecimento de energia elétrica, se, após aviso prévio, o consumidor de energia elétrica
permanecer inadimplente no pagamento da respectiva conta (Lei 8.987/95, art. 6º, § 3º, II). 2. Ademais, a 2ª
Turma desta Corte, no julgamento do RESP nº 337.965/MG entendeu que o corte no fornecimento de água,
em decorrência de mora, além de não malferir o Código do Consumidor, é permitido pela Lei nº 8.987/95. 2.
Não obstante, ressalvo o entendimento de que o corte do fornecimento de serviços essenciais - água e energia
elétrica - como forma de compelir o usuário ao pagamento de tarifa ou multa, extrapola os limites da legalidade
e afronta a cláusula pétrea de respeito à dignidade humana, porquanto o cidadão se utiliza dos serviços públicos
posto essenciais para a sua vida, curvo-me ao posicionamento majoritário da Seção. 3. Em primeiro lugar, en-
tendo que, hoje, não se pode fazer uma aplicação da legislação infraconstitucional sem passar pelos princípios
constitucionais, dentre os quais sobressai o da dignidade da pessoa humana, que é um dos fundamentos da
República e um dos primeiros que vem prestigiado na Constituição Federal. 4. Não estamos tratando de uma
empresa que precisa da energia para insumo, tampouco de pessoas jurídicas portentosas, mas de uma pessoa
miserável e desempregada, de sorte que a ótica tem que ser outra. Como disse o Sr. Ministro Francisco Peçanha
Martins noutra ocasião, temos que enunciar o direito aplicável ao caso concreto, não o direito em tese. Penso
que tínhamos, em primeiro lugar, que distinguir entre o inadimplemento de uma pessoa jurídica portentosa e
o de uma pessoa física que está vivendo no limite da sobrevivência biológica. É mister fazer tal distinção, data
máxima venia. 5. Em segundo lugar, a Lei de Concessões estabelece que é possível o corte considerado o inte-
resse da coletividade, que significa não fazer o corte de energia de um hospital ou de uma universidade, não o
de uma pessoa que não possui 40 reais para pagar sua conta de luz, quando a empresa tem os meios jurídicos
legais da ação de cobrança. A responsabilidade patrimonial no direito brasileiro incide sobre patrimônio devedor
e, neste caso, está incidindo sobre a própria pessoa! 6. No meu modo de ver, data maxima venia das opiniões
cultíssimas em contrário e sensibilíssimas sob o ângulo humano, entendo que ‘interesse da coletividade’ refere-se
aos municípios, às universidades, hospitais, onde se atinge interesse plurissubjetivos. 7. Por outro lado, é preciso
analisar que tais empresas têm um percentual de inadimplemento na sua avaliação de perdas, evidentemente.

FGV DIREITO RIO 49


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Pelo que se houve falar, e os fatos notórios não dependem de prova, a empresa recebe mais do que experimenta
tais inadimplementos. Tenho absoluta certeza que, dos dez componentes da Seção, todos pagamos a conta de
luz diuturnamente. Então, é uma forma da responsabilidade passar do patrimônio do devedor para sua própria
pessoa. 8. Com tais fundamentos, e também outros que seriam desnecessários alinhar, sou radicalmente contra
o corte do fornecimento de serviços essenciais de pessoa física em situação de miserabilidade e absolutamente
favorável ao corte de pessoa jurídica portentosa, que pode pagar e protela a prestação da sua obrigação, apro-
veitando-se dos meios judiciais cabíveis. 9. Recurso especial provido, por força da necessidade de submissão à
jurisprudência uniformizadora.

[caso 3.] STJ RESP 525500 AL Decisão:16/12/2003 DJ:10/05/2004 (Ementa): ADMINISTRATIVO


- SERVIÇO PÚBLICO - CONCEDIDO - ENERGIA
ELÉTRICA - INADIMPLÊNCIA. 1. Os serviços públicos podem ser próprios e gerais, sem possibilidade
de identificação dos destinatários. São financiados pelos tributos e prestados pelo próprio Estado, tais como
segurança pública, saúde, educação, etc. Podem ser também impróprios e individuais, com destinatários deter-
minados ou determináveis. Neste caso, têm uso específico e mensurável, tais como os serviços de telefone, água
e energia elétrica. 2. Os serviços públicos impróprios podem ser prestados por órgãos da administração pública
indireta ou, modernamente, por delegação, como previsto na CF (art. 175). São regulados pela Lei 8.987/95,
que dispõe sobre a concessão e permissão dos serviços público. 3. Os serviços prestados por concessionárias são
remunerados por tarifa, sendo facultativa a sua utilização, que é regida pelo CDC, o que a diferencia da taxa,
esta, remuneração do serviço público próprio.4. Os serviços públicos essenciais, remunerados por tarifa, porque
prestados por concessionárias do serviço, podem sofrer interrupção quando há inadimplência, como previsto no
art. 6º, § 3º, II, da Lei 8.987/95, Exige-se, entretanto, que a interrupção seja antecedida por aviso, existindo na
Lei 9.427/97, que criou a ANEEL, idêntica previsão. 5. A continuidade do serviço, sem o efetivo pagamento,
quebra o princípio da igualdade da partes e ocasiona o enriquecimento sem causa, repudiado pelo Direito (arts.
42 e71 do CDC, em interpretação conjunta). 6. Recurso especial provido.

[caso 4.] RESP 278532 RO Decisão:16/11/2000 DJ:18/12/2000


Ementa: NÃO É POSSÍVEL O CORTE NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA AO MU-
NICÍPIO INADIMPLENTE (unânime)

[caso 5.] RESP Nº 291.158 - PB (2000/0128219-0)


Ementa: POSSIBILIDADE DE CORTE NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA EM
CASO DE INADIMPLEMENTO DO MUNICÍPIO, EXCETO QUANDO FOR REALIZADO DE MA-
NEIRA INDISCRIMINADA CAUSANDO PREJUÍZO À POPULAÇÃO LOCAL. NECESSIDADE DE
INDIVIDUALIZAÇÃO DAS UNIDADES CONSUMIDORAS INADIMPLENTES 2ª T - RESP 291158
PB Decisão:04/03/2004 DJ:14/06/2004 (unânime)

FGV DIREITO RIO 50


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Questões sobre as Leituras

Módulo I

– Habeas Corpus n° 82.424/RS


1) Quais são as partes e os fatos do caso? Que condutas do “paciente” estão sendo analisadas?
2) Quais são as normas jurídicas mencionadas no Acórdão?
3) O que está sendo decidido? Quais são as questões controvertidas?
4) Houve decisões anteriores do mesmo caso? Quais foram?
5) Os ministros do STF, em seus votos, divergem tanto em suas opiniões sobre os assuntos debatidos quanto
em qual seria o aspecto principal a ser discutido. Em relação a cada um dos ministros, responda:
a) Quais foram as questões controversas expostas pelo ministro?
b) Como ele as decidiu?
c) Em relação a elas, que justificativas ele utilizou?
6) Você concorda com a decisão do caso? Como Você justifica seu entendimento?

Módulo II

Item “A” - Estupro

– Primeiro conjunto de decisões


1) No caso 1, como decidiu o juiz? Baseado em que justificativa?
2) Caso 2: Em que consiste “conjunção carnal”, prevista no tipo penal? Qual seria, então, a diferença entre a
“conjunção carnal” e o “estupro”?
3) Ainda em relação ao caso 2, para o juiz, que fatos demonstram o consentimento da ofendida?
4) Caso 3: Para o juiz, por que não é necessária a prova de violência física?
5) Em cada um dos casos, de que termo específico da lei tenta-se encontrar o sentido?
6) Além da definição de termos isolados do texto da norma, que outros elementos os juízes não levaram em
conta em cada caso, e que, se levados em conta, poderiam ter levado a decisões diferentes? Pense nas dis-
cussões realizadas em sala de aula durante a discussão do caso do lixo na praia.

– Segundo conjunto de decisões


1) Na opinião do desembargador relator Jorge Mussi, a presunção legal de inocência é absoluta ou relativa?
O que quer dizer isso?
2) Houve dúvida acerca do fato de ter havido realmente resistência, por parte da supostamente ofendida.
Como decidiu o tribunal? Por quê?

Item “B” – Propriedade e Função Social

- Primeiro conjunto de decisões


1) Caso 1: Por que a reapropriação, na opinião do desembargador, é inviável?
2) “... o abandono da propriedade por mais de vinte anos caracteriza um exercício anti-social do direito de
propriedade”. O que Você pensa dessa afirmação? Como as normas jurídicas citadas afetam sua resposta?

FGV DIREITO RIO 51


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

3) No segundo caso apresentado, quais os dois princípios ou direitos confrontados? Qual deles é considerado
mais importante? Justifique sua resposta.
4) No terceiro caso, afirma-se que, apesar de se tratar de um grave problema social “Não cabe ao Judiciário
resolvê-lo”. Que problema é esse e por que não caberia ao Judiciário resolvê-lo?
5) Como decidiu o órgão julgador, nesse terceiro caso?
6) Caso 4: Compara-se, em certo momento, a usucapião ao confisco. Explique essa comparação.

– Segundo conjunto de decisões


1) Por que se considera nulo o processo de desapropriação sem a notificação prévia, segundo as argumenta-
ções apresentadas?
2) Qual a importância dessa notificação ser prévia?
3) No caso 4, outra discussão é considerada importante, a da produtividade da propriedade. Qual a diferença
entre essa consideração e os critérios considerados relevantes nas decisões anteriores?

Item “C” – Serviço Público

1) Segundo a decisão do STJ, o serviço de fornecimento de água pode ou não ser interrompido? Em que
casos? Por quê?
2) Explique a analogia feita entre o fornecimento de água e o de energia elétrica. Essa analogia lhe parece
plausível?
3) Caso 2: Segundo a decisão, é lícito interromper o fornecimento de energia, desde que cumprido um re-
quisito. Qual é ele? Entretanto, no caso, um princípio constitucional sobrepõe-se a essa interrupção lícita,
segundo entendimento exposto na decisão. Qual é ele?
4) O ministro relator diferencia uma “pessoa miserável e desempregada” de uma empresa inadimplente. Essa
diferença é juridicamente importante?

FGV DIREITO RIO 52


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Apêndice

Glossário informal de termos técnicos utilizados no HC 82.424/RS


[Elaborado por Livia Fernandes. O propósito deste glossário é explicitar, com palavras menos técnicas, o sen-
tido de termos técnicos mais importantes e básicos encontráveis no HC 82.424/HC, não abrangendo todos
os termos técnicos ali mencionados. Nesse sentido, serve como ponto de partida. Qualquer dúvida adicional
poderá ser esclarecida em sala ou com a própria Livia.]

Acórdão – Nome que se dá ao resultado do julgamento proferido pelos tribunais. É uma decisão coletiva,
em que os juízes que a tomam acordam (concordam), por unanimidade ou não, com seu conteúdo básico.
Deferir – Aceitar, conferir, conceder (um pedido feito em processo judicial).
Denegar – Negar, indeferir (um pedido feito em processo judicial).
Disposição – Determinação legal, regra (ex., o artigo 5º é uma das disposições constitucionais).
Ementa – Sumário, resumo. Texto que descreve de maneira abreviada qual foi a decisão que, ao final, pre-
valeceu em caso discutido por Tribunal.
Habeas Corpus - Literalmente significa “tome o corpo” ou “tenha o corpo”, em latim. É uma ação em que
alguém (chamado de “impetrante” porque a apresenta ou impetra algo) solicita a um juiz ou tribunal que este
proteja a liberdade de ir e vir de um indivíduo (chamado de “paciente”), em face de uma autoridade (chamada de
“coatora”) que está (legalmente ou não, esta é uma das questões) ameaçando essa liberdade (e, portanto, também
o “corpo” ou corpus do indivíduo a que se refere). São sinônimos, entre outros: “writ”, “ordem” e “mandamus”.
Impetrar - Pedir em juízo. Requerer a decretação de certas medidas legais.
Instância – Determinado grau da hierarquia judiciária, apto a examinar e decidir uma ação, conforme,
principalmente, o momento do processo, o território em que se situa ou o tipo de questão de que trata. Os
juizes individuais, perante os quais são iniciadas ações, são chamados de “1ª Instância”. Tribunais, a quem se
pode recorrer contra uma decisão de “1ª Instância”, são chamados de “Segunda Instância”. O Poder Judiciário
brasileiro é composto de vários graus, isto é, várias instâncias.
Paciente – Aquele em favor de quem se impetra o habeas corpus. (Ver “habeas corpus”)
Prescrever (prescrição, prescritível, imprescritível) – Perder a validade, ou a vigência; ser atingido por
prescrição. Prescrição, por sua vez, é a perda do prazo para o exercício do direito de ação (p.ex., caso um crime
prescreva antes de condenado o réu, o criminoso não pode mais ser processado). Imprescritibilidade é um fe-
nômeno excepcional, uma vez que, em geral, há previsão de prescrição para a maior parte dos delitos. Assim,
havendo imprescritibilidade, algumas condutas configuram crimes que nunca prescrevem, ou seja, a eles pode-se
atribuir punição a qualquer tempo.
Relator - Juiz encarregado de expor, perante outros juízes, os fatos principais da questão a ser julgada e de
manifestar seu voto antes dos demais (ver “relatório”)
Relatório – Exposição sintética daquilo que se viu, observou ou concluiu, em torno de determinado
assunto.
Supremo Tribunal Federal (STF) - O órgão Judiciário (“instância”) mais elevado do Brasil, hierarquica-
mente acima dos Tribunais Superiores e Juízes de qualquer outro grau, que tem por função principal a interpre-
tação da Constituição. É composto por 11 membros, chamados de ministros, e segue, normalmente, a regra da
maioria em suas decisões.
Superior Tribunal de Justiça (STJ) - Órgão do Poder Judiciário com jurisdição em todo o território
nacional, composto de, no mínimo, 33 juízes chamados de ministros, com atribuição básica de conhecer os
conflitos de competência entre quaisquer tribunais, as causas decididas em única e última instância pelos Tribu-
nais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, que tratem de questões
relacionadas a leis federais.

FGV DIREITO RIO 53


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Sursis - Medida judicial que determina a suspensão da pena, se preenchidos certos pressupostos legais e
mediante determinadas condições impostas pelo juiz.
Vista - Ato pelo qual alguém recebe os autos de um processo como direito de tomar conhecimento de tudo
o que nele se contém.
Writ - Termo inglês que significa mandado, ordem escrita. Quando utilizado no direito brasileiro, refere-se
ao mandado de segurança e ao habeas corpus. (ver “habeas corpus”)

Fontes de pesquisa:

Índice Fundamental do Direito http://www.dji.com.br/dicionario/dicjur.htm


DireitoNet - Dicionário Jurídico http://www.direitonet.com.br/dicionario_juridico/
Mundo Legal - http://www.mundolegal.com.br/?FuseAction=Dicionario
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2a ed., 1986.

FGV DIREITO RIO 54


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

Márcio Grandchamp
Doutorando (JSD candidate) na Faculdade de Direito da Universidade Yale,
que lhe concedeu também o titulo de Mestre (LLM). Bacharel em Direito pela
Universidade de São Paulo, foi advogado associado de Trench, Rossi e Wata-
nabe e, mais recentemente, pesquisador contratado pela Faculdade de Direito
da Universidade de Toronto. Suas principais áreas de interesse são Teoria do
Direito e Direito Constitucional.

FGV DIREITO RIO 55


INTRODUÇÃO AO DIREITO I

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen Leal


PRESIDENTE

FGV DIREITO RIO


Joaquim Falcão
DIRETOR
Fernando Penteado
VICE-DIRETOR DA GRADUAÇÃO
Sérgio Guerra
VICE-DIRETOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Luiz Roberto Ayoub
PROFESSOR COORDENADOR DO PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO EM PODER JUDICIÁRIO
Ronaldo Lemos
COORDENADOR CENTRO DE TECNOLOGIA E SOCIEDADE
Evandro Menezes de Carvalho
COORDENADOR DA GRADUAÇÃO
Rogério Barcelos Alves
COORDENADOR DE METODOLOGIA E MATERIAL DIDÁTICO
Lígia Fabris e Thiago Bottino do Amaral
COORDENADORES DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Wania Torres
COORDENADORA DE SECRETARIA DE GRADUAÇÃO
Diogo Pinheiro
COORDENADOR DE FINANÇAS
Milena Brant
COORDENADORA DE MARKETING ESTRATÉGICO E PLANEJAMENTO

FGV DIREITO RIO 56

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