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Os Maias

SIMBOLISMO
DEFINIÇÃO DE SÍMBOLO
 O símbolo «é uma palavra, uma frase ou qualquer outra forma de
expressão à qual se associa um complexo de significados; neste
sentido, considera-se que o símbolo tem valores diferentes dos
daquilo que é simbolizado. Assim, uma bandeira é um pedaço de
pano que representa (é símbolo de) uma nação; a cruz é um
símbolo do cristianismo.» Harry Shaw, Dicionário de Termos
Literários.

 «N'Os Maias o tratamento dos símbolos atinge um nível estético


mais alto que em toda a sua obra anterior.» Machado da Rosa,
Eça discípulo de Machado

Sendo assim, o Simbolismo merece um tratamento especial.


1- O RAMALHETE
 «Mas Monsenhor, com os seus hábitos de
rico prelado romano, necessitava na sua
vivenda os arvoredos e as águas de um
jardim de luxo e o Ramalhete possuía
apenas, ao fundo de um terraço de tijolo,
um pobre quintal inculto, abandonado às
ervas bravas, com um cipreste, um cedro,
uma cascatazinha seca, um tanque
entulhado, e uma estátua de mármore
(onde Monsenhor reconheceu logo Vénus
Citereia) enegrecendo a um canto na lenta
humidade das ramagens silvestres.»
Cap. I, p. 6
 «De resto, não desgostava do Ramalhete, apesar de Carlos, com o seu
fervor pelo luxo dos climas frios, ter prodigalizado de mais as
tapeçarias, os pesados reposteiros e os veludos. Agradava-lhe também
muito a vizinhança, aquela doce quietação de subúrbio adormecido ao
sol. E gostava até do seu quintalejo. Não era decerto o jardim de Santa
Olávia: mas tinha o ar simpático, com os seus girassóis perfilados ao pé
dos degraus do terraço, o cipreste e o cedro envelhecendo juntos como
dois amigos tristes, e a Vénus Citereia parecendo agora, no seu tom
claro de estátua de parque, ter chegado de Versalhes, do fundo do
Grande Século... E desde que a água abundava, a cascatazinha era
deliciosa, dentro do nicho de conchas, com os seus três pedregulhos
arranjados em despenhadeiro bucólico, melancolizando aquele fundo
de quintal soalheiro com um pranto de náiade doméstica, esfiado gota a
gota na bacia de mármore.»
Cap. I, p. 10
 «Todos os móveis do escritório do avô desapareciam
sob os largos sudários brancos.»
Cap. XVIII, p. 709

 «Ega sentara-se também no parapeito, ambos se


esqueceram num silêncio. Em baixo o jardim, bem
areado, limpo e frio na sua nudez de Inverno, tinha a
melancolia de um retiro esquecido, que já ninguém
ama: uma ferrugem verde, de humidade, cobria os
grossos membros da Vénus Citereia; o cipreste e o
cedro envelheciam juntos, como dois amigos num
ermo; e mais lento corria o prantozinho da cascata,
esfiado saudosamente, gota a gota, na bacia de
mármore.»
 Cap. XVIII, p. 710
DESCODIFICAÇÃO DO SIMBOLISMO
Não é difícil lermos o percurso da família de Os Maias
estampado nas alterações por que passou o Ramalhete.
No início, desabitado, quando Afonso vive no retiro
campestre de Santa Olávia, o Ramalhete não tem vida;
Em seguida, habitado, preparado para receber Carlos, torna-
se símbolo da esperança e da vida: a estátua e a cascata
transformam-se. É como que um renascimento;
Finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a
cascata chorando, esfiando as últimas gotas de água, coberta de
ferrugem.
Tudo aponta para um carácter funéreo, uma espécie de
cemitério areado e limpo, tendo como guardas o cipreste e o
cedro – árvores que, pela sua longevidade, significam a vida e a
morte. Foram testemunhas das várias gerações dos Maias que
se foram.
DESCODIFICAÇÃO DO SIMBOLISMO
Os móveis do escritório de Afonso estão cobertos
de panos brancos que são comparados a mortalhas
com que se envolvem os cadáveres. A morte instala-
se definitivamente nesta família.
Todo o recheio do mobiliário do Ramalhete,
degradado e disposto numa anormal confusão, todos
os aposentos, melancólicos e frios, tudo deixa
transparecer a realidade da destruição e da morte.
E se os Maias representarem Portugal, a morte
instalou-se neste país.
2- A TOCA
 "O melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que nós lhe
dávamos. Nós chamávamos-lhe Toca.
Cap. XIII, p. 433

 "Era uma alcova recebendo a claridade de uma sala forrada de


tapeçarias, onde desmaiavam, na trama da lã, os amores de
Vénus e Marte."
Cap. XIII, p. 433.

 "Mas Maria Eduarda não gostou destes amarelos excessivos.


Depois impressionou-se, ao reparar num painel antigo, (...) onde
apenas se distinguia uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu
sangue, dentro de um prato de cobre."
 Cap. XIII, p. 434
 "Enchendo quase a parede do fundo, o famoso armário, o
"móvel divino" do Craft, (...) luxuoso e sombrio, tinha uma
majestade arquitectural: na base quatro guerreiros,
armados como Marte, (...); a peça superior era guardada
aos quatro cantos pelos quatro evangelistas, João, Marcos,
Lucas e Mateus, (...); depois, na cornija, erguia-se um troféu
agrícola com molhos de espigas, foices, cachos de uvas e
rabiças de arados; e, à sombra destas coisas de labor e
fartura, dois faunos, recostados em simetria, indiferentes
aos heróis e aos santos, tocavam, num desafio bucólico, a
frauta de quatro tubos."
Cap. XIII, p. 435
 "Era ao centro, sobre uma larga peanha, um ídolo japonês
de bronze, um deus bestial, nu, pelado, obeso, de papeira,
faceto e banhado de riso, com o ventre ovante."
Cap. XIII, p. 437

 «...só o meter a chave devagar e com uma inútil cautela na


fechadura daquela morada
discreta, foi para Carlos um prazer.»
Cap. XIII p. 429

 «uma tarde, (...) experimentaram ambos essa chave."


Cap. XIV p. 457
DESCODIFICAÇÃO DO SIMBOLISMO
 Toca é o nome dado à habitação de certos
animais, o que, desde logo, parece simbolizar o
carácter animalesco deste relacionamento
amoroso. Carlos introduz a chave no portão da
Toca com todo o prazer, o que sugere não só o
símbolo do poder mas também o do prazer das
relações incestuosas (símbolo fálico); da
segunda vez que se alude à chave, os dois
experimentam-na. É evidente que a chave se
torna símbolo da mútua aceitação e entrega.
 Os aposentos de Maria simbolizam o carácter
trágico da sua relação, a profanação das leis
humanas e cristãs, a sensualidade pagã e excessiva.
 Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os
evangelistas, a religião e os troféus agrícolas, o
trabalho: qualidades que terão existido um dia nesta
família (e no Portugal da Epopeia) e que agora estão
completamente arredadas.
 Os dois faunos simbolizam os dois amantes
numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e de
todos.
 O ídolo japonês remete para a sensualidade
exótica, heterodoxa, bestial desta ligação incestuosa.
SÍMBOLOS CROMÁTICOS
 «Depois, daí a duas semanas, o Alencar, entrando em S. Carlos ao fim do
primeiro acto do «Barbeiro», ficou assombrado ao ver Pedro da Maia instalado
na frisa do Monforte, à frente, ao lado de Maria, com uma camélia escarlate na
casaca.»
Cap. I, p. 26

 «Maria, abrigada sob uma sombrinha escarlate, trazia um vestido cor-de-rosa


cuja roda, toda em folhos, quase cobria os joelhos de Pedro, sentado ao seu
lado; as fitas do seu chapéu, apertadas num grande laço que lhe enchia o peito,
eram também cor-de-rosa: e a sua face, grave e pura como um mármore grego,
aparecia realmente adorável, iluminada pelos olhos de um azul sombrio, entre
aqueles tons rosados.»
Cap. I, p. 29

 «Havia uma cadeirinha baixa de cetim escarlate.»


Cap. XI, p. 348
 «Logo nos primeiros dias, ao voltar à sala, Maria Eduarda tinha-se sentado na
sua cadeira escarlate.»
Cap XI, p. 366

 «...mal ele deixava aquela adorada sala de repes vermelho – o seu coração
estava
satisfeito, esplendidamente.»
Cap. XII, p. 371

 «...aparecia enfim uma casota de paredes enxovalhadas, com dois degraus de


pedra à porta e transparentes novos de um escarlate estridente.»
Cap. VI, p. 143

 «...ela tomara de sobre a mesa, abria lentamente um grande leque negro


pintado de flores vermelhas.»
Cap. XI, p. 355

 «uma senhora loura (...), os cabelos louros, de um ouro fulvo»


Cap. I, p. 22
 «uma senhora alta, loura»
Cap. VI, p. 156

 «era toda forrada, paredes e tecto, de um brocado amarelo, cor de botão-de-


ouro»
Cap. XIII, p. 434

 «os seus olhos muito negros»


Cap. III, p. 66

 «a cabecinha de cabelos negros»


Cap. III, p. 65

 «Era decerto um famoso e magnífico moço, alto, bem feito, de ombros largos,
com uma testa de mármore sob os anéis dos cabelos pretos, e os olhos dos
Maias, aqueles irresistíveis olhos do pai, de um negro líquido, ternos como os
dele e mais graves»
Cap. IV, p. 96
DESCODIFICAÇÃO DO SIMBOLISMO
Um prolixo cromatismo povoa Os Maias, cumprindo não
apenas os postulados do impressionismo mas ainda os do
simbolismo.

Comecemos pela cor vermelha. Esta cor tem um carácter


duplo: ora feminina e nocturna, de poder centrípeto, ora
masculina e divina, de poder centrífugo. Maria Monforte e Maria
Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, fogo que
desencadeia a libido, despertam a sensibilidade à sua volta.
Espalham, outrossim, a morte. É que a paixão excessiva é
destruidora. Provoca o suicídio em Pedro, a morte de Afonso e o
desejo da morte em Carlos. Os olhos vermelhos do avô,
caminhando para a morte, vararam Carlos de tal forma que este
pensou demoradamente na morte.
O vermelho da casa de Ega – a Vila Balzac - é tão intensivo
que indica a dimensão essencialmente libidinosa, carnal e
efémera dos encontros de amor com Raquel Cohen.

O tom amarelo e dourado está também omnipresente. O


amarelo indica o carácter ardente da paixão. É uma cor dupla:
luz do ouro – de essência divina – e luz da terra – Verão e
Outono. No primeiro caso, é anunciadora da velhice, do Outono,
da proximidade da morte. Morte claramente prefigurada na cor
negra, símbolo de uma paixão possessiva e destruidora.

Maria Monforte e Maria Eduarda, mãe e filha, conjugam


estas três cores: cabelos de ouro, olhos pretos e leque negro
pintado de flores vermelhas, sombrinha escarlate. Elas são a
vida e a morte, o divino e o humano, a aparência e a realidade; a
força que se torna fraqueza.
OUTROS SÍMBOLOS

 Poderiam, ainda, ser descodificados outros


símbolos como o do cofre de Guimarães, o
dos três lírios, o do charuto de Alencar, o do
isolamento de Afonso, o da cera, o da
palidez da juventude, o do nome de algumas
personagens, não esquecendo o que se
disse sobre a estátua de Camões, o obelisco
(o monumento dos Restauradores) e a
cidade antiga.

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