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BREJO, AMBIENTE DE OCUPAÇÃO E EXPLORAÇÃO

NO PRESENTE E NO PASSADO1

Vlademir José LUFT

Brejo. S. M. 1. V. pântano. 2. Terreno sáfaro, agreste, que só da


urzes; urzal. 3. P. ext. lugar úmido, frio e ventoso. 4. Bras., NE.,
terreno onde os rios se conservam mais ou menos permanentes, e
em geral fértil em virtude dos transbordamentos das chuvas. 5.
Bras., MA., qualquer lugar baixo onde há nascentes, olhos-d’água,
cacimbas. 6. Bras., BA., plantação de arroz. ” (Novo Dicionário
Aurélio da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 1987).

No Nordeste, como no Sul/Sudeste do país, brejo é sinônimo de local onde há água.

Apenas aqui, pelo fato de estar localizado no semi-árido, a presença da água é em quantidade bem menor que

lá, mas em quantidade suficiente para abastecer uma região em todas as suas necessidades, tornando-as hoje

centros referenciais no abastecimento subsistencial das populações que nela, ou à volta dela, habitam

A importância dos brejos no sertão nordestino não condiz com as pesquisas feitas sobre e/ou

a partir deles. Os poucos trabalhos que têm como tema, na sua maioria os tratam de maneira geral, como

considerações, instruções, esboço, etc., ou quando muito trabalham um de seus elementos, sempre enfatizando

em demasia a questão naturalista, sem a preocupação de estabelecer as formas de sua ocupação, a evolução

dessas formas, sua função em relação a região, ou mesmo a importância de seu potencial.

Isso significa, e longe de querermos dizer, que trabalhos como os de Andrade & Lins

(1964), Lima & Cavalcanti (1975) e Sobrinho (1930), entre outros, não tenham seu valor, nem tenham

contribuído para sua apresentação.

Mas, mesmo ainda sendo pouco trabalhados, aos brejos não faltam caracterizações e

definições. Dentre elas, podemos citar:

1
- publicado em Infoarqueodata, v. I, n. 2, Instituto Superior de Cultura Brasileira, Rio de
Janeiro, 1993.
Sobrinho (1949), “É uma região muito característica e por isso não há dificuldade em delimitá-la. O solo

vermelho, escuro ou claro, argiloso-silicoso, profundo, tem manchas de grande fertilidade.

Altitude de grandes espigões, chapadas e serras, proporciona invernos favoráveis e úmidos

e fertilíssimos vales.”

Egler (1957), “.., os chamados “brejos” nada mais são que regiões serranas onde a vegetação florestal e a

existência de pequenos cursos d’água perenes condicionam um ambiente propício ao

desenvolvimento da agricultura. Estes “brejos” constituem assim verdadeiros oasis

verdejantes dentro do conjunto sêco da caatinga. A sua existência deve ser explicada pela

concentração da umidade do ar de encontro aos anteparos representados por estas elevações.

A diferença de altitude entre uma área de “brejo” e o nível de base nem sempre é de grandes

proporções.”

Andrade & Lins (1964), “Serra é, com efeito, um sinônimo muito generalizado de brejo, no Nordeste, e não é

sem razão que isso acontece: a maior parte dos brejos nordestinos e a totalidade dos

que existem em Pernambuco são efeitos relacionados com a morfologia.”

“Na caracterização dos brejos nordestinos embora não se devam abstrair os efeitos

de altitude, seria excessivamente simplista procurar endendê-los em função de

elevações que jamais ultrapassam os 1.020 metros ... Há que levar em conta

solidariamente os suprimentos hídricos e atmosféricos que nelas acarretam

precipitações responsáveis pelas manchas úmidas.”

“Brejo deve ser nome reservado para manchas úmidas isoladas em áreas sub-úmidas

e semi-áridas, do Agreste e do Sertão.”

Lima & Cavalcanti (1975), “Brejos são areas higrofilizadas, resultantes da altitude, e da exposição às

massas advectivas, localizadas em região cuja paisagem vegetal seja

predominantemente xerófila.”
Melo (1980), “Bem se percebe esse fato nos espaços sub-úmidos que também se podem designar como

brejos, em ambas as manifestações: (i) a representada por uma faixa estreita e de transição

com a região canavieira e (ii) a expressa em manchas isoladas ou de climas locais. Em ambos

os casos, a maior pluviosidade, embora de gênese diversa, gera um quadro natural

assemelhado da zona úmida oriental ou da mata, com solo profundo, vegetação florestal,

hidrografia permanente, mas onde em vez de monocultura canavieira, o sistema de uso da terra

apresenta-se diversificado.”

Coutinho (1982), “Brejo são espaços úmidos situados no Agreste e Sertão nordestino, com um conjunto de

condições que favorecem uma ocupação agrícola intensiva e diversificada.”

Para nós, brejos são espaços situados na caatinga, hipo e hiperxerófila, sob o domínio da

umidade e influenciados pelo relevo, pelas massas de ar e pelo clima, que favorecendo seus mananciais

d’água, seus solos e sua cobertura vegetacional, criam condições para sua ocupação, tanto para a produção de

alimentos em larga escala como para subsistência de pequenos grupos familiares.

É sob essa ótica e a partir desses elementos, que tratamos os brejos. O principal deles são

as massas de ar, que devido sua importância, trataremos mais longamente.

“O Quadro vegetacional não pode ser justificado nem bem compreendido se considerado

isolado do seu meio atmosférico, isto é, do clima que o domina. O mesmo ocorre com este último que não

pode ser explicado sem o conhecimento do seu mais importante fator, as massas de ar.” (Nimer, 1966). É

pensando dessa forma que um pequeno resumo sobre os estudos das massas de ar e suas influências sobre o

Nordeste, e em especial sobre os brejos, se faz necessário, pois acreditamos serem elas, juntamente com o

relevo, as responsáveis pelo clima ali existente.

Embora todas as massas de ar2 que atingem a América do Sul3 se manifestem de algum

modo sobre o Brasil, apenas algumas, como por exemplo as massas Equatorial Atlântica, Equatorial

2
- Porção atmosférica com características particulares de temperatura, pressão e umidade, resultantes de um
contato prolongado com uma determinada região da superfície terrestre.
3
- Equatorial Atlântica (mEa), Equatorial Continental (mEc), Equatorial Pacífica (mEp), Equatorial Norte
(mEn), Tropical Atlântica (mTa), Tropical Continental (mTc), Tropical Pacífica (mTp), Antártica (mA), Polar
Antártica (mPa), Polar Pacífica (mPp), Superior (mS).
Continental, Tropical Atlântica e Tropical Continental têm uma influência real, sendo que para o Nordeste as

que têm participação mais ativa são as massas Equatorial Atlântica e Equatorial Continental, além da

Convergência Intertropical.

No Nordeste, diferentemente da região Sul, as chuvas, que têm três regimes4, ocorrem,

principalmente entre janeiro e agosto, de modo intermitente, aproveitando as oscilações constantes na Frente

Intertropical (FIT), provocadas pelas frentes polares do Atlântico, Norte e Sul, e o seu afastamento para o Sul

devido a saída do Nordeste, da mEa que domina o meio durante todo o ano e é constituída pelos alísios de

Sudeste do Atlântico, oriundos da África meridional, mais propriamente do deserto do Calaari, motivo pelo

qual é vulgarmente chamado de ar calaariano, e que tem duas correntes: a primeira inferior, fresca e úmida e a

segunda superior, quente e seca. Embora separadas pela inversão de temperatura que assegura bom tempo, a

descontinuidade térmica dessas duas camadas dos alísios no dolbrum5 e no litoral brasileiro, se eleva

enfraquecendo-se bruscamente o que permite a sua ascensão causando as fortes chuvas equatoriais e

litorâneas.

Quanto a mEc, formada sobre o continente, principalmente no verão quando o ar continental

está aquecido e dominado pelas calmas e ventos fracos e para o qual convergem os ventos oceânicos de Norte

e Leste da mEn, tem como característica a instabilidade convectiva. Instabilidade que nessa depressão

térmica causa uma acentuada ascensão do ar, permitindo com isso uma distribuição mais uniforme da

umidade específica. Dessa forma, com a umidade relativa do ar elevada e sujeita aos ventos oceânicos

formadores da massa de ar, as precipitações tornam-se freqüentes e normalmente abundantes.

Muito importante para a distribuição regular das chuvas, a convergência dos alísios dos

hemisférios Norte e Sul, localizada na maior parte do ano no primeiro, devido principalmente a sua maior

temperatura média frente ao hemisfério Sul, tem uma orientação variável e que depende da posição dos

anticiclones. Com exceção dos quatro primeiros meses do ano, onde a orientação da CIT tem sentido

NE/SW provocando no sertão nordestino, precipitações que caracterizam a estação chuvosa dessa região, sua

4
- De verão, que atinge a Bahia; meio-Norte de Pernambuco; centro-Sul do Piauí e do Maranhão.
De verão com máxima no outono, que atinge o Maranhão; Piauí, com excessão feita ao extremo Sul;
Ceará; Rio Grande do Norte; meio-Oeste da Paraíba; Nordeste de Pernambuco.
De outono com máxima no inverno, que atinge o Nordeste da Bahia; Sergipe; Alagoas; centro-Leste de
Pernambuco; Paraíba e Rio Grande do Norte.
5
- Faixa de calmas paralelas ao Equador, provocada pela ascenssão conjunta das massas de ar dos dois
hemisférios.
orientação tem o sentido E/W. De sua eficácia e alcance dependem as boas ou más chuvas de verão, com

máxima no outono, no sertão da Bahia, Pernambuco e Ceará.

Outro fator importante na distribuição das chuvas é a Frente Polar Atlântica (fPa) que é

constituída por ventos da massa polar e por ventos quentes do sistema tropical, gerando com isso uma

descontinuidade térmica. Condicionada pela orografia e pelo contraste térmico, ela divide-se em dois ramos

com caminhos distintos: um atuando a Oeste e outro a Leste do maciço brasileiro, sendo esse ramo Leste, que

também é conhecido como marítimo ou atlântico, o que mais nos interessa.

Nesse seu ramo, a fPa, que se desloca para o Nordeste com ondulações ciclônicas e que

perde, a partir dos 15 de latitude Sul, sua nitidez por entrar em contato com os alísios de Sudeste, varia

latitudinalmente seu avanço conforme a época do ano. Assim, vemos no inverno, devido a ações mais

vigorosas da circulação secundária, as massas de ar frias atingirem latitudes bem mais baixas, provocando na

zona da mata pernambucana, por exemplo, a expectativa de boa produção no setor agrícola, chegando na

primavera pouco além do trópico de Capricórnio, ao contrário do que acontece no verão quando nunca

chegam até ele. Finalmente, no outono, com condições de frontogênese (FG) favoráveis da fPa, chega a

alcançar o Sul da Bahia, não avançando devido a ação da CIT.

Vale ressaltar que no verão, a fPa em seu ramo oriental, no percurso para o Norte, estaciona

no trópico, alí permanecendo por alguns dias e provocando dessa forma, as persistentes chuvas do Sudeste

brasileiro. Durante esse tempo, o ar frio que alí estivera estacionado é injetado, aos poucos, em seu centro de

ação e servindo assim de reforço aos alísios de Sudeste que avançara para a costa do Nordeste sob forma de

frente6 tropical, provocando pequenas perturbações no litoral. No interior da fPa, indiretamente, acarreta

resfriamento que juntamente com o aquecimento eleva o ar polar, o qual será transportado por correntes de

Sudeste para o Norte, renovando a instabilidade da mEc e provocando trovoadas.

Quando no verão a fPa ao invés de estacionar no trópico conseguir ultrapassar a serra do

mar e alcançar a Bahia, produzindo ali perturbações do tipo frente fria, permitindo a FIT, em sua descida para

o Sul, chegar até o Nordeste, teremos como resultado chuva em grande parte do sertão. Porém, antes disso

acontecer, a fPa caminhando no trópico desloca o centro de ação para Leste atraindo nessa direção a mEc que

6
- Encontro de duas massas de ar com temperaturas diferentes, que formam uma superfície de
descontinuidade térmica, fria ou quente, e que na América do Sul tem direção NE/SE.
atinge o Nordeste com sentido SE/NW o que provoca precipitações, que juntamente com as provocadas pela

FIT dará ao Nordeste um ano com bom regime de chuvas.

Mas apesar de todas as possibilidades de chuvas oferecidas pelas massas de ar que

acabamos de mencionar, o Nordeste continua com estiagens que podem durar anos. Um dos fatores que

determinam essas estiagens é o seu relevo, que impede, na maioria das vezes, a penetração das massas de ar

pelo sertão, beneficiando com isso as serras com maior altitude e que acabam por receber, de forma mais

regular, suas chuvas.

Serão então essas serras, com altitude superior a 600 metros e sempre localizadas no

domínio morfoclimático das caatingas, hipo e hiperxerófila, que irão interceptar as massas de arq ue

caminham em direção ao interior do Nordeste e receber os benefícios regulares das chuvas.

Além da importância das massas de ar, os brejos, com uma pluviosidade superior àquele

verificado no agreste e no sertão, apresentam ainda um clima variando de úmido a sub-úmido, dependente, em

muito, de suas condições gerais, como por exemplo a manutenção de sua rica vegetação “primitiva”, florestal,

que proporciona uma estabilidade maior a seus solos profundos e férteis, além de auxiliar na manutenção de

seus mananciais d’água e de uma rede hidrográfica permanente, bem como da estabilidade de seu relevo,

imprescindível para sua manutenção.

Quanto a uma tipologia para os brejos, há uma certa concordância, visto ser um fenômeno

que acontece apenas nas regiões mais elevadas do sertão nordestino e sob certas condições. Assim, é

unânime a aceitação dos brejos de altitude ou de cimeira, visto que, por estarem favorecidos por todos os

elementos que compõem um brejo em sua máxima capacidade, são os mais característicos.

Além dele, Ab’Saber (1977) propõe brejos de encosta, de pé de serra, de vale e ribeirinho.

Nesta sua classificação faremos alguns apontamentos. O primeiro deles fica por conta dos brejos de enconsta

e de pé de serra, já que acreditamos dependerem eles de sua localização, ou seja, de estarem, em relação aos

ventos predominantes na serra, a barlavento ou a sotavento. Isso, porque a barlavento tem-se uma maior

abundância e intensidade, que a sotavento, dos benefícios do clima, fato que muitas vezes torna a parte a

sotavento totalmente árida e portanto sem condições de abrigar ou ser um brejo. Dessa forma, a classificação

de brejos de encosta e de pé de serra continuam a ser usadas, mas levando-se em consideração a sua

localização, a barlavento ou a sotavento, em relação aos ventos predominantes na serra.


Outro apontamento a ser feito, refere-se aos brejos de vale, classificação que achamos estar

muito restrita, da forma como foi colocada. Propomos então incluir na classificação de brejos de vale os

brejos que ocorrem em varzeas e planícies intermontanas, bem como em vales. Além disso, devemos

lembrar também, o cuidado que deve-se ter ao estabelecer ou denominar uma área como brejo ou área de

brejo, para não cometer-se o erro de chamar de brejo algo que não o é, principalmente na área do agreste

pernambucano, onde podem aparecer áreas com alguns elementos de brejo, como por exemplo regiões

ribeirinhas, sem no entanto ser um brejo.

A localização dos brejos, intimamente ligada à sua tipologia, também traz seus problemas.

Um deles, é o de confundir uma localidade, área ou região de altitude com um brejo. Na maioria das vezes,

as pessoas esquecem as complexas condições de sua formação, de sua manutenção e suas características e

acabam por resumi-las a apenas um item, o clima mais ameno, fator que qualquer região mais elevada pode

possuir, e que em teoria pode transformar uma simples região em uma área de “exceção”, um brejo.

Dessa forma, com facilidade pode-se encontrar trabalhos apresentando brejos em regiões, do

agreste e da zona da mata principalmente, sem possibilidade de possuir um brejo.

A lista dos brejos pernambucano, segundo Andrade & Lins (1964), Sobrinho (1970) e Lima

& Cavalcanti (1975) seria a seguinte:

• Terra Vermelha e dos Cavalos, em Caruaru

• Serra Negra, em Bezerros

• Serra do Olho D’Água do tatu e Serra do Vento, em Belo Jardim

• Catimbau, Cabo do Campo e São José, em Buíque

• Serra do Comunatí, em Águas Belas

• Serra Negra e Serra do Arapuá, em Floresta

• Serra das Varas e do Mimoso, em Arcoverde

• Serra do Baixa Verde, em Triunfo

• Serra do Araripe, em Araripina, Exú, Bodocó e Ouricurí

• Fazenda Nova e Brejo da Madre de Deus, no Brejo da Madre de Deus

• Garanhuns

• Camicim de São Félix


• Taquaritinga do Norte

• Poção

• Bom Conselho

• Correntes

• Bonito

• Gravatá

• Mandacarú

• Agrestina

• Orobó

• João Alfredo

• Jurema

Com relação à ocupação desses brejos, podemos dizer que é intensa, principalmente no que

diz respeito a utilização de suas terras e seus recursos hídricos. A ilustração desse fato é muito bem

apresentada pelo que disseram Andrade & Lins (1964), “ Se a feira terminou, quando são desmontadas as

barracas e os toldos, verse-ão os feirantes com seus burros, e caixas, e balaios, rumando estrada afora de

regresso aos celeiros escondidos. O nome deles, porém, desses celeiros, pode ser conhecido sem demora.

São os brejos ... ”.

Além disso, uma boa quantidade de trabalhos que tratam da ocupação atual podem ser

encontrados. No que diz respeito a sua ocupação pré-histórica, objeto de nossas investigações, pouco se tem

de concreto. Informações como as de Marcos Albuquerque em comunicação feita no I Simpósio de Pré-

História do Nordeste (1987), além de insuficientes e de carecerem de maior clareza, em nada ajudam no

esclarecimento de sua ocupação, uma vez que apenas mostram a existência de um sítio arqueológico no

Catimbau, distrito do município de Buíque, e que é um brejo, com enterramentos, com características

semelhantes aos encontrados por Jeannette Lima no sítio arqueológico Furna do Estrago no município do

Brejo da Madre de Deus, uma datação de aproximadamente 6.500 AP. e com grande quantidade de restos

alimentares.
Como ele, também trabalhos como o de Jeannette Lima no sítio Furna do Estrago, pouco

auxiliam na tarefa de levantar maiores subsídios a respeito de sua ocupação pré-histórica. Mostrar a

existência de um rico material faunístico, provavelmente alimentar; de elementos de pintura rupestre, também

já apresentados por Marcos Albuquerque (197l) e Alice Aguiar (1986); de elementos cerâmico e lítico; de

dezenas de enterramentos que trazem consigo um rico enxoval funerário e de datações; acreditamos serem

muito pouco e portanto pouco contribuem para o esclarecimento de sua ocupação pré-histórica.

Essas nossas observações têm o mesmo teor das apresentadas no início desse trabalho, em

relação à maneira como os brejos são tratados. Por isso, em relação à pré-história, voltamos a insistir no fato

de que o simples trabalho de descobrir e inventariar os elementos encontrados no sítio durante a escavação,

apresentando-os as público, é muito pouco para um trabalho que deveria ter como resultado a reconstituição,

ao menos em parte, daquelas sociedades que ali viveram e não apenas seus objetos, analisados, muitas vezes

com precariedade, simplesmente como objetos.

Dessa forma, apesar da certeza que temos de sua ocupação na pré-história, os brejos

continuam sem apresentar informações dessas ocupações e com isso deixando uma lacuna importante na pré-

história dessas regiões e porque não dizer do Brasil.

Quanto ao surgimento desses espaços, podemos dizer que ainda não foram estabelecidos, e

talvez só possam sê-lo após pesquisas arqueológicas que recuperem, em cada um dos sítios arqueológicos

trabalhados, todos os elementos climáticos possíveis, permitindo com isso, estabelecer com segurança, se não

todas, ao menos as principais mudanças climáticas ocorridas no Quaternário desses brejos estudados e com

isso de suas regiões, uma vez terem sido eles, formados a partir dessas flutuações climáticas.

Assim, a partir das últimas retrações da vegetação de floresta para áreas mais úmidas, em

Pernambuco para o que conhecemos hoje como zona da mata e zona do litoral, provocada pelo último período

de semi-aridez, devido ao conjunto de condições oferecidas pelas serras, a vegetação de floresta teria ali

permanecido.

Embora ainda sem dados muito concretos, acredita-se que isso tenha ocorrido a partir dos

23.000 AP., atingindo seu ponto máximo no final do Pleistoceno / início do Holoceno, ou seja, por volta de

12.000 AP.. Embora colocando essa data, a qual temos como base, acreditamos que devido ao fato das

flutuações das florestas ocorreram de forma lenta e gradual, possamos ter brejos formados e surgidos em
momentos diferentes e com isso podendo apresentar características distintas, diferentes, em termos de fauna,

flora e até mesmo de ocupação.

Além disso, podemos ter áreas já ocupadas no passado por um brejo e que devido a ação do

tempo, como por exemplo de uma aridez maior que poderia provocar, principalmente, modificações

morfológicas, ou do próprio homem, como por exemplo o desmatamento, as queimadas, etc. que poderiam

causar o desequilíbrio do ambiente, hoje não seriam mais brejos, mas que merecem ser estudadas e para tanto

devem ser percebidas, identificadas, pelo pesquisador.

Quanto a este último ponto levantado, uma outra nuância pode ser percebida. Até que

ponto um brejo degradado, principalmente quando o foi pelo homem, continua a ser um brejo ? Uma área de

brejo que tenha sua vegetação de mata, de floresta, derrubada e queimada; seu solo intensamente ocupado e

com isso desgastado e cansado; sua fauna natural extinta; seus recursos d’água utilizados de forma irracional;

e seu relevo, em virtude disso tudo, mudando rapidamente devido a erosão; não pode continuar a ser um

brejo. Pode sim, ser uma região de clima ainda ameno, devido a sua altitude, e com um solo que ainda

produz alguma coisa, ma sem as características de um brejo. Com essas condições temos atualmente, regiões

como Garanhuns, Gravatá, Caruarú, Bezerros e Tupanatinga, entre outras tantas, que para nós já deixaram de

ser brejo.

Dessa forma, por acreditarmos terem sido os brejos, na pré-história, como são hoje,

importantes centros, tanto para ocupação como para exploração, que nos dedicamos ao estudo da micro-

região 106 - Arcoverde - Pernambuco, onde encontramos vários brejos, dos quais três - São José, Comunatí e

Catimbau - são de extrema importância para os municípios de Arcoverde, Águas Belas e Buíque,

respectivamente. Em recentes campanhas de prospecção arqueológica pelo Núcleo de Estudos

Arqueológicos da Universidade Federal de Pernambuco nessa região, constatamos a existência de um

considerável número de riquíssimos sítios arqueológicos nesses e em outros brejos, bem como próximos a

eles, sugerindo-nos sua ocupação e conseqüente exploração, ou quando não, a ocupação de áreas próximas e

apenas sua exploração. O que queremos dizer com isso, e as pesquisas poderão confirmar, é que os brejos

foram em nossa Pré-Historia, como têm sido na atualidade, importantes centros, tanto para ocupação quanto

para a exploração.
É com esse intuito, ou seja, o de trabalharmos com o fim de procurar estudar os sítios

arqueológicos que se encontram relacionados aos brejos da micro-região 106 - Arcoverde - Pernambuco, que

estamos imbuídos no momento.

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