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Cérebro
Mentes brilhantes
Quais métodos os psicólogos contemporâneos usam para identificar crianças superdotadas? Como ocorre o desenvolvimento
emocional desses pequenos? Veja o que existe de novo nesse campo e o que dizem os pesquisadores sobre os famosos testes
de QI
Outro pesquisador que deu um passo adiante na compreensão do que se considera um comportamento inteligente foi o
psicólogo americano Joseph Renzulli, do Centro Nacional de Pesquisa sobre o Superdotado e Talentoso da Universidade de
Connecticut. Ao afirmar que o superdotado era uma mistura de talento, criatividade e dedicação obstinada, ele subverteu a visão
antiga do Ocidente sobre os pequenos iluminados. "Tanto Gardner quanto Renzulli entendem que a inteligência não é um
conceito fechado. Eles acreditam que as pessoas superdotadas têm diferentes perfis, que nem sempre condizem com a imagem
do superdotado padrão, que é intelectual destacado", ressalta Nara.
Testes de QI
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"O importante, tanto para a escola, quanto para a família, não é rotular, e sim criar formas
adequadas da criança ou do jovem desenvolver seu potencial"
Para ela, o talento precoce é uma pista valiosa na hora de identificar o superdotado, já que o talento dele tende a desabrochar
muito cedo. Em geral, os pequenos desenvolvem espontaneamente a sua habilidade: são crianças que aprendem a ler sozinhas
ou que desmontam o computador sem causar estragos. Na mais tenra idade, mostram familiaridade com instrumentos musicais,
têm um vocabulário elaborado, raciocínio ágil ou memória fora do comum. "A precocidade faz com que a criança seja capaz de
fazer coisas típicas de crianças mais velhas e se desenvolver mais rápido e ter um talento superior", explica Maria Clara. Como
Gardner, ela acredita que a inteligência é uma mistura de dois ingredientes: a bagagem genética e a capacidade da pessoa
conquistar esses talentos ao longo da vida. "Existe uma inteligência herdada que poderá ou não ser desenvolvida. Se a criança
não recebeu essa herança, ela terá dificuldade em aprimorá-la. Por outro lado, se ela nasce com alguma desenvoltura e não tem
oportunidade de desenvolvê-la, não terá muito potencial", argumenta.
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Mãe de três filhos talentosos, a psicóloga Ângela Virgolim, professora da UnB (Universidade de Brasília), também não vê com
bons olhos o uso dos testes, embora admita que eles são úteis para avaliar uma criança com notas baixas na escola, por
exemplo, por causa de desmotivação ou problemas emocionais. "As pessoas nos procuram para fazer um teste de QI ou para
'diagnosticar' um filho que pode ser ou não superdotado. Mas temos que fugir destas armadilhas. O importante, tanto para a
escola, quanto para a família, não é classificar ou rotular, e sim criar formas mais adequadas da criança ou do jovem desenvolver
seu potencial", completa Ângela, que estudou com a equipe de Renzulli durante a defesa do seu doutorado pela Universidade de
Connecticut.
Não há consenso entre os especialistas. O fato é que a ciência ainda não encontrou uma fórmula para medir com precisão quem
é superdotado. "Se o conceito de inteligência se basear numa noção estática, será usado um ponto de corte nos resultados do
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teste para selecionar quem deve entrar no programa e quem deve ficar de fora. Renzulli, por exemplo, acredita que a
superdotação poderá aparecer em um momento e desaparecer em outro, fruto do contexto em que a criança vivencia. "Assim,
ela precisa ser sempre avaliada para ver se o programa está realmente desenvolvendo seu potencial", diz Ângela.
Caprichos da Genética
Geneticistas da UNESP (Univesidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho), compartilham da segunda opinião e pretendem um
passo adiante na compreensão da inteligência humana. Desconfiados de que a superdotação seja fruto de uma mutação
genética, eles iniciaram testes neuropsicológicos em crianças e adolescentes com desajuste escolar, entre eles, superdotados,
atendidos pelo Ambulatório de Desvios de Aprendizagem. E estão dispostos a descobrir se existe uma relação dos polimorfismos
do gene SNAP-25 em superdotados. Os estudos recentes sugeriram uma participação possível desse gene na aprendizagem e
na memória, ambos são componentes da inteligência humana.
Os cientistas partem do princípio de que ninguém nasce sabendo, mas algumas pessoas podem ganhar um empurrão da
natureza. É o caso de Albert Einstein, o pai da teoria da relatividade. O patologista americano Thomas Harvey foi o primeiro a
abrir o crânio de seu "paciente" mais ilustre para descobrir a receita de tanta inteligência e divulgá-la ao mundo. Por falta de uma
base para comparação, não chegou a nenhuma conclusão. Em 1999, a pesquisadora Sandra Witelson, da McMaster University,
no Canadá, comparou medidas do cérebro do gênio com aquelas de cérebros de 35 homens e 50 mulheres com inteligência
normal. O cérebro era semelhante ao dos demais, com exceção de uma área chamada parietal, que era 15% mais larga. A
cognição visuoespacial, o pensamento matemático e as imagens de movimento são fortemente dependentes dessa região. Além
disso, o cérebro do físico não tinha os sulcos que separam as duas porções dessa região, o que facilitaria a comunicação entre
os neurônios. Os cientistas ainda encontraram uma porcentagem maior de células gliais, que suportam e nutrem a rede de
neurônios.
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"Avessos aos testes de qi, especialistas recorrem a outro arsenal para examinar a inteligência,
como check-list, auto-avaliação, observação"
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os superdotados possuem, pois graças a ela o homem raciocina, lembra e aprende. Segundo Bárbara Clark, professora da
Universidade da Califórnia, o cérebro de um superdotado tem conexões neurais mais integradas, mais rapidamente realizadas e
mais complexas. Os neurônios possuem mais receptores de estímulos (dendritos) para criar os caminhos, as células gliais
crescem e há o revestimento de mielina dos axônios (a mielina é uma substância que rodeia algumas fibras nervosas, fazendo
com que tenham uma condução de impulsos nervosos mais rápida). Esse processo promove a velocidade e a qualidade da
transmissão de uma célula para outra. "Desta maneira, as crianças superdotadas tornam-se biologicamente diferentes dos
demais, não no nascimento, mas em consequência do uso e do desenvolvimento dessa estrutura maravilhosa e complexa com
que nasceram. No nascimento, quase todos somos programados para ser fenomenais", diz a pesquisadora.
Outros estudos mostram que as pessoas com alta pontuação nos testes de inteligência parecem usar mais efificientemente a
glicose nas áreas cerebrais específicas para a tarefa quando estão envolvidos com algum exercício cognitivo. Um estudo feito
pelo neurologista Richard Haier, da Universidade da Califórnia, sugeriu que o cérebro de pessoas mais capazes além de ser
mais econômico no consumo de glicose, com menor gasto de energia, também é mais eficiente, respondendo prontamente às
tarefas. Mas para manter a mente sempre afiada o cérebro precisa de desafios. E isso vale para qualquer pessoa.
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Desenvolvimento Afetivo
Ser superdotado não significa ter uma vida de facilidades como supõe o imaginário popular. Afinal, não é nada fácil ter a
inteligência de um adulto num corpo de criança. Isso faz com que o superdotado tenha um desenvolvimento desarmônico em
diferentes campos, como afetivo, cognitivo e motor. "Não é fácil para essas crianças viver com o descompasso entre o raciocínio
e a linguagem, entre o cognitivo e motricidade e entre o afetivo e o cognitivo. Isso consome grande energia e gera ansiedade e
confusão", diz Nara. "Como a escola tende a esperar que o aluno progrida de uma maneira homogênea em diferentes áreas do
conhecimento, isso pode gerar dificuldades para o aluno, sobretudo, de natureza emocional", pondera Ângela. "O superdotado
pode ser, por exemplo, dominado por medos e ansiedades que resultam das suas reflexões sobre problemas enfrentados pela
humanidade ou a partir de leituras sobre temas geradores de ansiedade, com as quais ele não sabe lidar".
Além disso, quando alguém tem facilidade para uma atividade, há uma tendência natural a investir mais em experiências desta
mesma área.
"Uma criança que tem mais facilidade para leitura, irá se dedicar por mais tempo e com mais prazer nesse campo. Outra, com
talento na inteligência corporal, tende a se exercitar mais em esportes, dança ou outra atividade que consegue mais sucesso.
Isso explica, em parte, esse descompasso", diz a psicóloga Mara Regina Nieckel da Costa, professora da Universidade Luterana
do Brasil e membro do CONBRASD (Conselho Brasileiro para Superdotação).
O perfeccionismo dos superdotados é outra fonte de estresse. Um estudo realizado com 51 estudantes do programa para alunos
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com altas habilidades da Secretaria da Educação do Distrito Federal indicou que 66,67% se classificaram como perfeccionistas
saudáveis e 10,61% como perfeccionistas não saudáveis, ou seja, neuróticos. "Esses resultados chamam a atenção para um
número significativo de alunos superdotados que necessitam de assistência, para que possam compreender e lidar melhor com a
sua conduta, buscando reverter o lado destrutivo do perfeccionismo", diz.
Como acontece com qualquer excepcional, a criança superdotada tem um desenvolvimento desigual. "Eu conheci uma criança
de 6 anos que já sabia ler, mas que ainda usava fralda. Mas não faz sentido a escola argumentar que a criança não poderá
avançar uma série porque não está emocionalmente preparada para aquela turma. Porque com a mudança, ela estará ajustada
pelo menos na área acadêmica", argumenta Maria Clara.
Sem compreensão
Beethoven foi considerado medíocre por seu professor de música. Walt Disney foi despedido por um
jornal porque não tinha boas ideias e rabiscava demais. Isaac Newton, que descobriu a teoria da
gravitação universal, tirava notas baixas na escola. Albert Einstein foi reprovado em Matemática e tinha
dificuldades em ler e soletrar
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"Quase 50% dos adolescentes com altas habilidades sofrem do chamado bullying' e são vítimas
de apelidos pejorativos"
Vida Social
A pesquisa ainda revelou que muitos pais estavam insatisfeitos por ter conseguido tardiamente atendimento para seus filhos
talentosos.
No Brasil, 2.300 crianças participam de programas especiais para desenvolver suas habilidades. Onze Estados têm algum tipo
de atendimento. Estima-se que o País tenha pelo menos 1,5 milhão de superdotados. Os primeiros programas surgiram há cerca
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de 10 anos. Neles os estudantes participam de atividades que estão fora do currículo escolar, já que as escolas exclusivas para
superdotados estão em desuso. "Entre as principais barreiras ao desenvolvimento do talento, na percepção dos adolescentes,
familiares e professores da nossa pesquisa, está a dificuldade de acesso a programas de atendimento ao aluno superdotado, a
formação deficitária dos professores do ensino regular para atuar com o aluno talentoso e a falta de políticas públicas e de apoio
institucional", diz Jane.
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"Os pais devem evitar comparações com outros adolescentes, principalmente entre irmãos,
amigos e parentes mais próximos"
Mas os superdotados são plenamente capazes de enfrentar dificuldades. A pesquisa mostra que eles se destacam no quesito
resiliência - a capacidade de resolver problemas com criatividade e bom humor, de superar as adversidades e de olhar a
realidade a partir de uma nova perspectiva. "Para isso, eles têm alguns traços em comum, como independência, habilidade para
se relacionar, criando laços com outras pessoas, iniciativa para ter controle sobre os problemas, criatividade e capacidade de se
comprometer com valores socialmente aceitos", explica.
Pesquisas mostram que os jovens talentosos tinham pais com autoridade, mas não autoritários. "Por isso, é importante que os
pais valorizem as habilidades dos filhos, que tenham altas expectativas com relação as suas possibilidades de realização, sem
uma cobrança exacerbada sobre o desempenho. Os pais devem evitar comparações com outros adolescentes, principalmente
entre irmãos, amigos e parentes mais próximos.
Devem procurar um mentor ou especialista da área de talento do adolescente que possa auxiliar no aperfeiçoamento de suas
habilidades. Compreender que é preciso tempo para o desenvolvimento de habilidades, o que implica, em geral, uma atividade
solitária. Ajudar, sem pressão demasiada, o adolescente na vinculação ou não de seu talento com uma vocação profissional".
O livro Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas, da Editora Artmed, reune elementos
teóricos da Neurologia, da Psicologia Cognítiva, do estudo de superdotados e de crianças diferentes,
examinando as implicações educacionais de suas concepções teóricas, contrapondo-as com outras
orientações. Já o livro Educação de Superdotados - Teoria e Prática, da editora Pedagógica e
Universitária apresenta uma base teórica sobre a qual são examinados os processos de
desenvolvimento, as características e as alternativas para a educação de crianças e jovens
superdotados; apresenta também relatos de experiências desenvolvidas por suas colaboradoras.
Dificuldades na Aprendizagem
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Níveis de inteligência
Precoce: crianças que apresentam alguma habilidade prematuramente em qualquer área do conhecimento, como uma criança
que lê antes dos 4 anos ou um aluno que ingressa na universidade aos 13.
Prodígio: crianças com idade até 10 anos demonstram desempenho ao nível de um profissional adulto em qualquer campo,
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Gênio: implica na transformação de um campo do conhecimento com consequências fundamentais e irreversíveis. O gênio seria
aquele que, além de deixar sua marca, leva as pessoas a pensarem de forma criativa e diferente.
Como Einstein e Freud.
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