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C Zoom // Saúde

Alongamento ósseo Até onde ia por


alguns centímetros?

A cirurgia que cria Em todo o mundo e contra a


opinião dos especialistas, há
quem recorra à dolorosa
cirurgia de alongamento ósseo

pernas para andar por razões estéticas. Em


Espanha e Itália, clínicas
privadas realizam a operação
por cerca de 20 mil euros. As
pernas crescem em média
entre quatro e oito
centímetros. A intervenção é
especialmente popular na
Dolorosa, demorada, eficaz. Portugal foi um dos pioneiros na Ásia. Em 2001, Singapura
técnica que chega a fazer os ossos crescerem quase 70 centímetros tornou-se um país pioneiro na
área. As nações vizinhas
seguiram o exemplo. Os
ALEXANDRE SOARES tese. Ele recusou. “No pé da minha meni- É um dos maiores especialistas portugue- jovens acreditam que uns
zoom@ionline.pt na ninguém toca.” Com poucos meses, San- ses. O procedimento faz-se em muito pou- centímetros extra vão
dra já usava a perna pequena para se içar cos hospitais. Custa cerca cinco mil euros aumentar-lhes as hipóteses de
Ao início de uma tarde de Fevereiro, numa para fora do berço. Anos depois, o pai ouviu ao Serviço Nacional de Saúde. Apenas são sucesso no trabalho e na vida
estrada de Sesimbra, um acidente de car- falar de um médico do Hospital de Sant’ operadas pessoas com incapacidade fun- amorosa. Há quatro anos, a
ro esmaga a perna do condutor. A fractu- Ana, na Parede, Cascais, que teria uma cional, como anões com menos de 1,30m China proibiu o procedimento,
ra precisa de um aparelho de fixação exter- solução. Era um dos ortopedistas que ouvi- de altura. Sempre que o abordam com pedi- mas as operações continuam
no. Se não for colocado em menos de seis ra Ilizarov em Espanha, Paulo Bettencourt. dos por razões estéticas, o ortopedista reen- de forma clandestina. Um dos
horas, o homem de 50 anos pode nunca Explicou-lhes que a perna da filha poderia caminha-os para o psicólogo. Mas há quem destinos favoritos é a
mais andar de forma normal. Começa a crescer e um dia tocar no chão. A maioria o faça: em clínicas privadas de Espanha ou gigantesca clínica do pioneiro
contagem decrescente. No Hospital Gar- dos médicos duvidava que fosse possível. Itália operar uma perna custa 20 mil euros. Gavril Ilizarov, na Rússia, com
cia de Orta, em Almada, o director do Ser- Aos seis anos, Sandra colocou o primei- Márcio Valadares, de 11 anos, está inter- três mil camas disponíveis.
viço de Ortopedia e Traumatologia, Nuno ro Ilizarov. Acordou com as unhas dos pés nado no Hospital Garcia de Orta, onde foi
Craveiro Lopes, 60 anos, recebe um tele- pintadas de vermelho. Ainda com a visão operado por Craveiro Lopes. Aos 18 meses,
fonema. Será ele a liderar a cirurgia. Três turva descobriu o sorriso do jovem Cravei- uma infecção na perna atirou-o para uma
horas depois, oito pessoas começam a ro Lopes, o responsável pela brincadeira. cama de hospital. Esteve quase a perder a
empreitada, que envolve berbequins, por- O médico estava a aprender a técnica e tor- perna, a morrer. Recuperou. Só que as per-
cas e parafusos. Solta-se uma única gota nar-se-ia responsável pelo seu caso. nas começaram a desenhar um arco, até
de sangue. Os especialistas colocam o pri- O processo foi muito doloroso. “Um dia que pararam de crescer. Aos nove anos já
meiro ferro. Segue-se outro e outro até que reparei que a perna cheirava mal, tirei os tinha feito seis osteotomias, uma técnica
a perna ganha um prolongamento quase pensos e estava negra”, lembra o pai. Pas- que serra o osso e, com a ajuda de talas e
robótico. A operação termina 16 minutos sou a tratar dos ferimentos, enquanto a gesso, o corrige. Foram todas inúteis. Cra-
antes do previsto. O homem vai recuperar. filha mordia lenços, até os destruir. “Che- veiro Lopes explica que “mesmo entre os
“Esta foi das fáceis”, desabafa Craveiro guei a tirar bocados de carne podre. Por médicos, poucos conhecem a técnica de
Lopes, já com a máscara pendurada no vezes não aguentava e ia à casa de banho Ilizarov” e que “em muitos casos onde [a
pescoço, a descansar num sofá da sala de vomitar.” À noite ia sempre vê-la ao quar- técnica] podia ser solução, não o é por fal-
pessoal. “Foi apenas uma fixação.” to. Muitas vezes, encontrava-a a rezar. “Esta- ta de informação”.
A técnica nasceu no início dos anos 50, va com dorezinhas”, justificava. Aos 13 Márcio operou a primeira perna aos nove 02 03
na Sibéria, onde o médico Gavril Ilizarov anos, perguntaram-lhe se queria voltar às anos. Todos os dias, de seis em seis horas,
tentava resolver com poucos meios os pro- cirurgias. Tudo o que faria com a perna o pai, Fernando Valadares, rodava as por-
blemas ortopédicos de estropiados da II também poderia fazer com uma prótese, cas de aço com o filho. Pele, músculos,
Guerra Mundial. Com uma peça de uma disseram-lhe. Mesmo assim, ela avançou. vasos sanguíneos e ossos - tudo esticava.
carruagem de cavalos criou o primeiro Queria ter uma perna dela. Márcio agarrava a mão do pai, o peito come-
destes aparelhos que fixam os ossos e, com Ao todo, Sandra pôs oito aparelhos. Um çava a tremer e, no final da primeira vol-
a ajuda de porcas, os vão devolvendo à posi- ano estava com eles, no seguinte fazia fisio- ta, os olhos já estavam cheios de lágrimas.
ção original. “Um dia, um doente enganou- terapia. Tudo para crescer um milímetro “Oh pai, não. Eu não aguento mais, quero
se e, em vez de fazer contracção, fez dis- por dia. No total, foram “67 ou 68 centíme- tirar isto.”
tensão”, explica Craveiro Lopes. Ou seja, tros”, conta. “Tinha 17 anos quando o meu A família toda foi engolida por aquele
em vez de apertar, desenroscou as porcas. pé tocou o chão pela primeira vez.” assustador núcleo metálico - Craveiro Lopes

Info
A perna cresceu. “Como o osso estava fac- chama-lhe “monstro”. As primeiras sema-
turado, formaram-se linhas de cálcio para O “MONSTRO” Craveiro Lopes realiza cer- nas passaram e o pai perdeu o emprego
ocupar o espaço vazio.” ca de 50 cirurgias de alongamento por ano. para acompanhar o filho. Quando a dor
Em 1965, o soviético Valery Brumel, líder aliviou, Márcio concentrou-se noutras limi-
incontestável do salto em altura, teve um tações: não podia andar, jogar futebol ou
acidente de mota que o afastou das com- andar de bicicleta. A escola passou a ser
petições durante anos – até consultar Ili-
A perna de Sandra pelo computador. Dois anos depois, foi pre-
zarov. Voltou a competir, o médico tornou- Carvalho cresceu quase ciso tomar a decisão de operar a segunda
se um herói nacional, recebeu milhões para 70 centímetros. Quando perna. Os pais hesitaram. Márcio não. Mais
investigação e foi convidado para confe- crescido, já com um bigodinho, virou-se 01 Um acidente de via- pela primeira vez
rências em Itália e em Espanha. Nesta últi-
nasceu, “o fémur era um para eles e disse: “Estou preparado. E vocês?” ção esmagou a perna
ma estavam três portugueses que em 1985 alfinete”, conta o pai Quanto a Sandra é hoje médica veteriná- a este homem de 50 03 Nuno Craveiro Lopes,
fizeram de Portugal o terceiro país a apli- ria. Em breve, voltará a entrar no consul- anos. Uma equipa de director do Serviço de
car a técnica. tório do amigo Craveiro Lopes. Aproxima- oito pessoas operou- Ortopedia e Trauma-
Poucos médicos se um dia especial e ela quer abandonar a o de imediato tologia do Hospital
QUASE MILAGRES Sandra Carvalho, 27 conhecem a técnica de muleta que ainda a acompanha. Vai casar- Garcia de Orta realiza
anos, nasceu com uma perna minúscula. Ilizarov. Pode ser solução se. Por um segundo, cruza o olhar com o 02 Sandra colocou oito cerca de 50 interven-
“O fémur era um alfinete”, diz o pai, José do pai. No meio da sala fica suspensa a ima- aparelhos de Ilizarov. ções por ano
Carvalho. No hospital, propuseram cortar
para problemas por gem de Sandra a subir ao altar, a perna a Tinha 17 anos quando
o pé para facilitar a colocação de uma pró- resolver, diz Craveiro tocar o chão, como sempre quis. oD.R.pé tocou o chão D.R.

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