Aluno(a): Juliana Ferreira Guimarães Cardoso Fichamento: MENDONÇA, Míriam da Costa Manso Moreira O reflexo no espelho Goiânia Editora UFG 2006
“...a linguagem do vestuário, tal como a linguagem verbal, não serve
apenas para transmitir certos significados, mediante certas formas significativas. Serve também para identificar posições ideológicas segundo os significados transmitidos e as formas significativas que foram escolhidas para transmitir.” Umberto Eco “Manifestações de um mesmo momento histórico e estético, as sucessivas correntes das artes plásticas e as do vestuário percorrem caminhos em tudo semelhantes, e suas produções artísticas traduzem-se em perfeitos reflexos umas das outras, em mútuo e profundo entrelaçamento.” (página 89) “Em toda e qualquer obra de arte, prevalece a intuição cognitiva e criadora do artista, uma espécie de magia que permeia suas emoções e à qual ele se mantém fiel na composição da totalidade de seu trabalho.” (página 89) “O espírito do tempo manifesta-se, portanto, de modo semelhante no vestuário e nas demais obras de arte, harmonizando roupas a objetos, pinturas, esculturas e arquitetura, para orquestrar uma sinfonia perfeitamente harmônica, apesar da grande variedade de seus acordes.” (página 89) “Desde os tempos mais remotos, quando as civilizações mesopotâmicas ergueram seus zigurates escalonados em espiral, de certa forma sentiram- se compelidas a construir seu próprio aspecto físico de forma tão bela quanto aqueles edifícios, enrolando seus xales franjados em várias voltas sobre o corpo e reproduzindo, consciente ou inconscientemente, o interessante formato espiralado.” (página 89) “O aspecto ordenado e essencial, com elegante ênfase na altura e sumário modelado, adotado nas formas arquitetônicas do Antigo Egito, faz recordar as linhas retas e fluidas das despojadas túnicas usadas por seu povo.” (página 90) “O vestuário dórico do período clássico da Grécia, assim como jônico da mesma época, assumem nitidamente as diferenças existentes entre as duas ordens da arquitetura grega, reproduzindo o efeito de suas colunas nas ondulações e pregueados das vestes.” (página 90) “A imponência e o rebuscado drapeado das togas de Roma remetem-se à sobrecarga ornamental das edificações romanas, que adotaram os admirados modelos gregos, procurando, no entanto, imprimir às realizações arquitetônicas o selo de supremacia do poderoso Império.” (página 90) “A análise histórica do modo de vestir da humanidade, desde o seu amanhecer, é o ponto de partida indiscutível para qualquer reflexão sobre moda, embora o fenômeno na sociedade ocidental, em sentido rigoroso, somente apareça na época medieval.” (página 90) “Seguindo a história da humanidade, é possível demonstrar que, em qualquer tempo, o ser humano esforçou-se por reproduzir, em sua aparência pessoal, o estilo artístico prevalecente no período.” (páginas 90- 91) “A história do Egito, propriamente dita, começa com a unificação do Império do Norte, na região do delta do Nilo, e do Sul, localizado entre Mênfis (Cairo) e a primeira catarata do grande rio, sob Menés (I dinastia), por volta de 2900 a.C..” (página 91) “Sua arte é, indubitavelmente, a mais antiga entre os povos mediterrâneos, estendendo-se por trinta séculos de uma história bastante complexa.” (página 91) “A arte egípcia, no entanto, apresenta certas características bastante definidas durante toda essa viagem através dos tempos, traduzindo-se, assim, em tipologias estilísticas que apresentam grande unidade. Jamais influências culturais de outras civilizações tiveram efeito determinante sobre o Egito. Muitas vezes acontecia o contrário: a absorção de vários de seus usos e costumes pelos povos que o subjugaram. O acento dominante dessa arte recai sobre a ordem e a essencialidade. O faraó e sua corte estão presentes em todas as manifestações artísticas, pelo menos na qualidade de inspiradores, pois a glória de qualquer trabalho executado por artistas e artesãos deveria pertencer ao soberano que, detentor do domínio civil e religioso do Estado, ordenou sua execução. Desse modo, são enfatizadas suas características de majestade e grandiosidade. A preocupação constante com a vida após a morte reflete-se através da imutabilidade e estabilidade formal, a par da constante regularidade e repetição rítmica. Colunas com capitéis em forma de flores de lótus, papiro ou folhas de palmeiras fustes originalmente recobertos com cores vivas reproduzindo estilizadamente um caule liso ou um feixe de talos de plantas, numa sucessão de linhas paralelas em continuidade longitudinal, remetem o pensamento às túnicas tubulares e aos plissados das vestes egípcias. A ênfase na altura, a simetria em torno de um eixo central, o modelado sumário, tudo faz recordar as linhas retas, fluídas e despojadas do vestuário do Antigo Egito. São igualmente notáveis as qualidades de severidade, simplicidade de traçados e o rigoroso sentido geométrico, sintético e linear, permeando a monumentalidade, solidez e estilização de uma arte feita para a eternidade, com sua perene serenidade e força consciente, embora passiva. A ornamentação sóbria e requintada, o equilíbrio na composição, as formas hieráticas sublinham o seu sentido ritualístico, simbólico e expressionista, refletindo também nas vestes adornos que compuseram a indumentária da milenar civilização.” (página 92) “Esse esquema chapado, que se revela preciso, seguro, decisivo e, no entanto, vibrante e sensual, determina a representação de quase todos os trajes e acessórios de maneira frontal e com aparência bastante rígida, contrabalançada pela riqueza de cores, sempre brilhantes e leves, em harmoniosa convivência de azuis profundos, amarelos-ouro, ocres, vermelhos e verdes-esmeralda.” (páginas 92-93) “A completa nudez era considerada sinal de baixa condição social, exceto em se tratando de crianças. Mas grande parte das roupas cobria apenas a parte inferior do corpo, enquanto a superior permanecia despida ou coberta apenas por leves e transparentes materiais.” (página 93) “Os faraós foram frequentemente representados usando apenas o SHENTI, espécie de tanga feita de uma longa e estreita tira de tecido passada por entre as pernas e amarrada na cintura, cuja extremidade, dobrada à frente, formava um panejamento que se projetava para baixo e permitia ao seu usuário manter o traje ajustado.” (página 93) “Como matéria-prima, empregavam quase sempre o algodão e o linho, luminoso, fresco e de fácil limpeza. A lã, considerada impura, era vista como apropriada somente para as roupas dos inferiores.” (página 93) “Vestiam-se visando o conforto, a higiene e a eventual elegância, pois possuíam profunda consciência da importância de seu físico.” (página 93) “Raspavam os pêlos de corpo e os cabelos da cabeça por questão de higiene e untavam suas peles com óleos, pastas, cremes e loções aromáticas em extravagante quantidade.” (página 93) “Damas de alta estirpe maquiavam-se com esmero; preparavam cosméticos e possuíam arsenal de produtos e instrumentos para realçar sua beleza, tais como bases, sombras e tinturas, navalhas e até tesouras para ondulação de suas perucas.” (página 93) “As mulheres usavam duas cores de Kohl para pintar os olhos, a verde e a preta, e costumavam sublinhar as veias do peito em azul.” (páginas 93-94) “Além de pintarem os lábios com carmim, coloriam as faces com vermelho ou branco e aplicavam henna nos cabelos, unhas, palmas das mãos e solas dos pés.” (página 94) “Ambos os sexos usavam, além de amuletos, jóias magníficas, como anéis e braceletes feitos de pedras preciosas, vidro ou ouro, e o característico peitoral circular de contas, contrabalançado por um grande contrapeso na parte das costas.” (página 94) “As pinturas murais encontradas nos túmulos constituem verdadeiras histórias ilustradas da vida e dos costumes do Antigo Egito.” (página 94) “As mulheres usavam longuíssimas perucas frisadas e enfeitadas com flores, tendo às testas tiaras de contas coloridas, atadas na parte posterior.” (página 94) “Os ornamentos constituíam símbolo de autoridade, estirpe ou oficio, como áspides, que representava o poder real, o lótus, significando a abundância, e a pena sagrada, caracterizando a lei e a justiça.” (página 95) “As mulheres vestiam-se com uma simples túnica cilíndrica, segura aos ombros por tiras, deixando, às vezes, os seios nus.” (páginas 95-96) “O Egito pouco mudou através dos 3000 anos de sua história antiga, pois sua religião, esrutura social e filosofia moral eram extremamente conservadoras.” (página98) “As barbas cerimoniais postiças, em rígido entrançado, eram prerrogativas dos faraós, especialmente concebidas para eles.” (página 101) “As características mais importantes da roupa usada no Antigo Egito talvez tenha sido o plissado ou drapeamento. Os tecidos, assim compostos, aparecem confeccionados em túnicas ou diretamente dobrados sobre o corpo, envolvendo-o das axilas às panturrilhas ou, em alguns casos, até a altura das coxas. Em outras versões, podem cobrir apenas a parte inferior do tronco, amarrados frontalmente à cintura, com uma ponta caindo na forma de um leque engomado.” (página 102)