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Kama
Antropofajyka
1
Copyright by Paulo Fernando Bezerra Bauler
ISBN 85-98513-04-0
Impresso no Brasil.
2005
2
Às Muzas Antropofajykas
Aos Antropófagos Erotykos
e A kem Interesar Prozas
Pós-Antropofajykas
3
4
KAMA
ANTROPOFAJYKA
5
6
...porke o omem é um animal poetyko...
7
8
O Verso Pós-antropofajyko
9
10
Kom este vinno, embriagando a tarde kwal domingo
Ergo um brinde ao mundo, sonnado e prometido
Subyto vindo a mim la de kwal futuro
Algo asim komo um mutwo de um Dews distante
11
O revólver de um lado, a garrafa
tombada e a larga makwla à toalla sudarya
o sange de um kristo e espinnos krusifikso desas todas noytes
E a sinza espallada, e as pontas
fedidas de um sinzeyro virado, e tudo o mays
ke faz o senaryo latino dos desvarios, esa rasa xeya de nervos
de orgullos feridos, sensível, sussetível ao mays leve deskazo
de Venws
12
Mas é o Absoluto das koyzas inatinjiveys
das koyzas inesgotaveys
das koyzas impropryas aws umanos
das koyzas ke pertensem aos dewzes
13
Komo agora, ke as palavras
e as kurvas, e os kabelos ao vento
e lle parese às vezes estranno, tão estranno
ke ela lle keyra, Ke ela lle keyra para kwalker algo
e é ainda mays estranno ke ela lle keyra para a karne
Poys toda a vontade se devia enserrar no Unyko, e ela
devia apenas deyxar-se para a vontade
do Unyko, o Absoluto
razão de ser de todas as vontades, derivadas
dA Grande Vontade Absoluta
Ele olla a parte do kopo ke lle faltava e nem tinna bebido ainda a metade
kwando ela lle pede um trago
E reklama ke amargo
Sew dose, o idromel dos dewzes do olimpo
Mas tudo iso morrew
14
Mas tudo iso ainda não é o revólver:
iso tudo ainda é o sudaryo
No kwal se enrola o korpo poskrusifikado
Na verdade não era asim ke ele a keria ke fose, nem ela
asim o esperara o dia de ve-lo kosando a memorya
a manter na rezerva um resto de misteryo para o dia
do ke lle paresia ser o dia
da invazão da normandia
15
Mas nem para ela, nem para ele
nada nem de lonje lembrava
a primeyra vez
16
Para ke tudo fose a kontento
Limpow kwidadozamente a arma kom óleo e tudo
E kompletow de balas, novas
para ke nada lle fallase
Asim komo kem sabe do momento fatal
todo valor e brillo
E por falar em brillo, abriw owtra garrafa do vinno
e vestido em kamiza e kalsa e paletó de linno, e meya de seda
e gravata de seda
Deliryo pós-antropofajyko n° 1
Ningém é livre em solidão: eys a primeyra deskoberta poetyka
17
A Lammpada
18
Libelubrykas
Libertas libertinas
Libelwlas Libeludykas Libelubrykas
Úber Líber Libetwlas estendidas
pregisozas meninas nas retinas
Borboletas Borbolíbertas Borbolindas
borboletando grinaldas perfumozas
Libertas libertinas
do kazulo ao kawle
do vakwo ao vento
Libertas libertinas
kwae sera tamen
Sérbero
oje
não invento o verso
não kojito a proza
não teso elojiozos fios
a nada
apenas espero
(sérebro enkollido)
ke o kantyko
de tão fundo e sentido
rebelde irrompa
sozinno
19
Kafé da Mannã
distraida
um fio fino de kabelo longo
a mão eskerda kolle ao akazo
dos tapetes solitaryos
!Kalma!
rosnam-me as garras
lammynas lagrymas
doso e sal
...e volto à leytura dos jornays
Delirywm Tremens
?Por ke deliro, Amigo?
Porke sow brazilian
kukaraxo
Sob um delirywm tremens
In estremys
Sow ser-ke-não-pensa
Bizarre....
Apenas
Bondozas Benevolensyas
Maledisensyas
Ao Ser-Pensado
20
Pura Poezia
Era uma fonte
Tão limpyda e klara
As agwas ke bannavam a minna yara
21
Amor Platonyko
Por kawza de Nelida Piñon
Rubayata
Kintesense
Dezayre
Delixiows ventre kaliente
Ay fawnded
22
Mikrofizyka do Poder
Fusas fukowts
(?e ew kom iso?)
te dobro os sinos
do natural esforso
te kobro o sizo
do feminino korpo
Deliryo pós-antropofajyko n° 39
O visyo da bondade é o pior de todos os visyos ke espreytam o poeta
23
Teoria
Se o asannar das azas
de uma borboleta
na Oseania
São kawza de um terremoto
no Japão
Espero, sinseramente espero, minna kerida
Não kawzar nennum abalo
Nas barbas mays distantes do Universo
Kwando agarro tuas ankas por detraz
Tropyko de Venws
24
Uma Owtra Jeografia Ew Kanto
Ao sew korasão
Prinsype ow Mendigo
Feya, das diáfanas estetykas
Bela, das rekondytas feyuras
Deliryo pós-antropofajyko n° 4
Não á poezia sem pekar kontra a palavra já posta, a saber, in-posta. A palavra
espresa o mundo tal kwal está. Não se muda o mundo sem ke se mude simulta-
neamente suas palavras. Por iso os relijiozos konservadores prezam tanto a
palavra, uns; e kwanto a sua interpretasão awtorizada, owtros. Definitivamente,
o poeta é um ereje. Um ereje a serviso de Dews (Poyetyka
25
Prokura-se Uma Muza
Elewzys
Kanta Poeta
Konta em versos
(sob pena de degredo)
Kwal vem a ser
A tua vera poezia
26
O Mays Ke O Perfeyto
Mayskeperfeyto, mays
mayskedinneyro, mays
mayskeoseyo, mays
mayskedireyto, mays
mayskeskerdo, mays
mayskespello, mays
mayskedefeyto, mays
mayskeoeyxo, mays
mayskeoventre, mays
mayskeodeliryo, mays
mayskeoséw, mays
mayskeoberso, mays
mayskeotumwlo, mays
o omem se faz
tolo e futyl
d
e
s
p
e
r
d
i
s
y
o
Deliryo pós-antropofajyko n° 5
Ao final das kontas, toda etyka presupõe uma estetyka, ke lle é sempre superior.
A derradeyra e glorioza vokasão do ser umano é tornar-se um ser estetyko; o ke
já implika numa etyka.
27
Korpo-Santo
Kantilena de Grumete
Badejo,
Robalo
!Lingwado de Alto Mar!
peyxinno miudo
não kero fritar
28
Sange Brazileyro
Deliryo pós-antropofajyko n° 6
Por konta de lle konfundirem um abutre, nennuma agya deyxa de voar (o poeta,
num momento de duvyda
29
Labirinto
30
Red Aunt
Deliryo pós-antropofajyko n° 7
Em arte poetyka, powko importa ke se peske em agwas klaras ow turvas. O ke
importa é fazer rebolar a iska
31
Ino à Dewza
seyos de vera
xota apertada na alma;
koxas de lia rolisas
jasmins paws-dagwa;
magnifyka bunda de maira
levanta-saya;
doses labyos de magda
!mamma (e) mia!
pelos e peles de andreya
rubras sedas da xina;
!ave!, venws xeyroza
multipartida;
rekollo os pedasos da alma
tão powka a vida
Priapykon.poe.br
32
A Faka de Izys
As Bakantes
as furyas me serkam os jestos
as furyas me gastam os pasos
33
Lobizomem
A mão peluda
Eskorrendo dinneyro pelos ralos
As patas firmes de um sentawro
O sekso aflito, tabwa korrida
Em nayts-bares, estreytos lares
Muytas lareyras, powkas fornallas
Uma garganta a rosnar para o infinito
Deliryo pós-antropofajyko n° 86
O poeta peka kontra les uns, o poeta peka kontra les autres. O poeta ke
peka kontra le tout !eys le poète!
34
O Burako da Agulla
Tremo e tenno
difikuldades em fiksar o ollar
Nakele korpo todo
Ke se faz pekeño
Aos kalores de um lobo
Vestijyos
35
Fronteyras
Kaza Devoluta
Vosê se foy
A kaza fikow vazia
De vosezinna.
Muyto mays vazia ainda
A kaza fikow vazia
De mim
36
Tempo Frijydo
37
fimdekazo.kom
Deliryo pós-antropofajyko n° 3
Te negaste em prezensa da krityka? Em prezensa da krityka te negaste? Tu kovarde
poeta não és! (O poeta, num momento de awto-sensura
38
Retiro de Salomão
39
Sinkronia
O sol sopra as kopas das figeyras ansestrays.
Embayxo tudo é sombra ainda
sonno, silensyo
Só o farfallar dos restos; mews pés
intruzos
Do ke sobrow
do ke nunka foy sidade
Subyto, um gallo seko estala
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Piw-piw-piw! !Piw-piw-piw! !Piw-piw-piw!
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Pi-píw, pi-píw, pi-píw!
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Pí-pypíw! !Pí-pypíw! !Pí-pypíw!
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Mil-ollinnos-infantís-na-mata!
Vôo Sego
um pardal batew !bum! no parabriza do mew karro
talvez porke fose branko, talvez ke voase bayxo
(ow ke ew segise rapydo)
40
Mayakóvska
Primeyro, tiraram o sew sakrosanto emprego:
um gerreyro dezonrado devolvew os brazões akumulados
Tomaram o sew kartão de kredyto:
teve ke vender o karro, a preso de muyto uzado
Enserraram sua konta bankarya
Botaram sew nome na lista dos intokaveys
Kastellanas n°1
Es tan difisyl realizar
Lo ke almejamos
para nozotros, para los nosos, para nwestra jente
Ki mismo kwando, lo pyensamos konkistado
Nos sobra lejos, lejos
De la bonansa
41
K
a
y
uma folla de owtono
42
Klarise era tão bonita
Klarise era mesmo tão lindinna
!Konfeso, Mew Dews!
Olley o ke não devia ollar
Deliryo pós-antropofajyko n° 9
Os átomos, nosos átomos, todos os átomos,
são as pesas do lego poetyko de Dews
43
Καθεδρα Χαλαρα
para Rodrigo Bauler
Mestre
Da tua Kátedra Grizalla
Fizeste-me
Do verbo: powko...
Frente aos muytos
Tews susesos
Fizeste-me
Do verso: lowko!
Fase aos muytos
Tews diskwrsos
Non Sense
Axo grasa em vós
Kavalleyros de tristes komersyos
Kwando ululam, xulam e berram
Por um tal governo limpydo e onesto
Se kultivas as máskaras
?Reklamas das máskaras por ke?
?Não são as máskaras o ke se ve? !?Então!?
?De ke vos serve um tal governo?, osos limpydos
Onestisymas peles
44
A Luta Korporal
Kwotidianus, a, um
Kwotidianus a um
Kwotidianus a um
45
Ermafrodita
Á uma Muller
kwalker
A esas oras
em algum sisko de mundo
!Insesto!
Eys a xave do amor
Deliryo pós-antropofajyko n° 87
?A konversa vay-se aos meyos... e akabow-se o vinno?
Poys tragam-me jarras e jarras de agwa
Dezenkantemos as madrugadas
46
Amor Apaxe
kwalker dia
kwalker dia é um bom dia pra jente se ollar
se tokar, se matar a sawdade
kwalker dia
kwalker dia é um bom dia para se deyxar morrer
ese ollar lijeyro, ese mollar de boka
esa tristana toda
kwalker dia
kwalker dia deses, deses bem feyjão kom arroz
a jente se enkontra
kwalker noyte
kwalker dia
kwalker dia, kerida
kwalker dia é um bom dia para se morrer
owtra vez
Deliryo pós-antropofajyko n° 10
O poeta ke não abole a nosão de Tempo, não konsebe, menos ainda pode revelar,
sew propryo Templo
47
Na Estasão do Metrô
Deliryo pós-antropofajyko n° 11
Sim, tenno um temor inkomensurável de uzar do Santo Nome da Poezia em
vão. Mas um temor muyto mayor de não fazer dEle uzo nennum
48
Bar Garoto das Flores
para Tavares e Amador
gannar dinneyro
emprestando a juros
a lingwa do enforkado
Deliryo pós-antropofajyko n° 47
Trowse mãos tão pekenas,
para tão vasta Poezia
(o poeta, num momento de lusidez
49
Araknídea
(Ô marinneyro, marinneyro
?kem te ensinow a navegar?
Ow foy o tranko-do-navio
Ow foy o bá-lanso-do-mar
Deliryo pós-antropofajyko n° 13
apenas o ke o poeta faz é iluminar o palko em ke os ainda não poetas fazem
sew número
50
Para Sempre A ma la
51
Os Fios da Urbys
52
Vida Poetyka
Morrer de vello
Ow morrer ainda moso, izento
à kara no espello
Raykays Kariokas 1
Muller nua
em asude no sertão:
!borboleta no porão!
53
Nature Oblije
Mea kulpa
Mea masyma kulpa
Também da kolmeya a muza
Ke não me owvia owvir
Raykays Kariokas 2
Amor,
(!asim não deyxo não!)
Nem dise ke não...
54
Pur apréender le trotoar
55
Vero Térreo Amor
tu komesas, adaga
?ow sako ew, primeyro a espada?
..............................................
!a! tu komesas
..........................................................................
!mamma mia!
...não sabia ke tinnas bainna tão larga...
56
Momento
Às vezes, embevesido
Fiko à espreyta da momentaneydade
Ave irrekieta, azas sempre abertas
!Olla! Ela já se foy
Vez em kwando ela fika
Adosando a boka
Da alma
Pelos infinitos abisays
Áa, Momentaneydade...
Eskesi sews enderesos, ao menos
Telefona pra mim
Deliryo pós-antropofajyko n° 14
...o osyo konduz à kriasão poetyka...
57
Xaleyra no fogo
A muller ke se oferese
O traballo ke seduz
A vida é muyto mayor ke a jente, kara
A vida é muyto mellor, e mayor
Deliryo pós-antropofajyko n° 12
Powko importa o ke os klones pensam a respeyto dos poetas e dos poemas por
eles kom fé realizados. Muyto ao kontraryo. Portanto, se keres ser um poeta aos
ollos das Nove Muzas, sejas um tolo perante os klones; poys, tentares ser um
poeta aos ollos dos klones, serás um tolo perante as Nove Muzas
58
Sirkols Song
But
Like a sizyfo stone
Eskaley owtras montannas
Umas à luz, owtras à sombra
Raykays Kariokas 3
A lua vay até a metade do séw
e volta
A muller vay até a metade do omem
e volta
59
Petrifikasão
Foste
?Ke importam nosas duvydas?
Vosê foy a alma-jêmea, alma-jema, alfazema
E kwanto ao korpo-jêmeo, duas metades kumpridas
Na misão de ser unísona
Em tudo o ke ew esperava de ti
Fôsemos eroys, fôsemos martyres até
Tal kwal nos ameasavam os Bixos-
Papões da infansya, Papões da adolessensya, da juventude
...e até as furyas nos ameasaram até...
!Basta! ?ke importam as antigas divydas?
Deliryo pós-antropofajyko n° 15
...o vinno konvida à kriasão poetyka...
60
Poezia Kom Kreta
S
e vos ê pen
ak e te
kero sugar
inteyro komo
uma b oka a
esvaziar todoou
niverso tens ra
zão ke rido Sug
ar-te jáéum
bom komes
O
61
Vem ke não te alkanso
Deliryos pós-antropofajykos n° 84
Nas retisensyas substantivas está o poema. As retisensyas adjetivas, esas são
iluzões, estelyonatos, finjimentos armadillas
62
possiensya literarya
Sow poeta
Minna poezia
Não é frango-asado
ke se pede ao bar da eskina
já venna kortado. E tem mays
Owtra koyza: só ando reto em lozangwlos y sirkwlos
Não me dezafinem os instintos
Bebam komigo
Os Infinitos
Deliryo pós-antropofajyko n° 16
poys a obra de arte é espresão nuklear do ser umano ligado às fontes enerjetykas
primevas da kriasão, kujas nassentes jorram tanto da terra kwanto dos séws,
prezentes em todo o kosmos, e verifikável sobretudo pela fé
63
Intelijensya Poetyka
Kantilena de Exú
Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki
Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki
Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki
64
O Portal
Gruta entreaberta
avansos
Koxas entreabertas
Solusos
Boka entreaberta
Suspiros
Alma entreaberta
Diskursos
65
Maira
66
Silensiozo Kanto
Kontradansa
Abriw-lle o botão primeyro, e destro
tokaram-lle os mamilos dedos gôxes
A protestar virow-se
Mays a lingwa tokow-lle o séw da boka, lowka
Deixow-se, e lá pelos embayxos
Tal não fose ela, tal não fose a owtra
Mãos de aso alargavam a konxa e a ostra
umyda konsentia
Antes ke implorase antes ke ezijise
Antes ke gozase antes ke disese nunka
Ma(á)ys
67
Ipanemia
Deliryo pós-antropofajyko n° 17
...a serveja esparrama a kriasão poetyka...
68
Enterrem Mew Korasão Nas Kurvas do Rio
69
Owtono Frio de Mayo
70
No Satisfekxion
Deliryo pós-antropofajyko n° 19
...mas nada, nada mesmo, serve mays à kriasão poetyka
ke os misteryos de eros
71
!O vento varrew os patrisyos!
!O vento varrew os prinsipyos!
?Terão varrido minnas rimas?
Maldonor
de kada kwal vay tirando o sew pedaso:
ali, um kaxorro mesmo lowko
ow um rosto, !mira ke kwerpo!
72
?Onde Estão Os Nosos Sonnos?
Deliryo pós-antropofajyko n° 20
Não nos pesam definisões de poezia. A Poezia é konseyto
73
Senas Modernas
Deliryo pós-antropofajyko n° 18
...o traballo kompleta a kriasão poetyka...
74
PAYXÃO LOBA
Deliryo pós-antropofajyko n° 22
O poeta é kapaz de viver uma vida inteyra sem eskrever O Poema. Mas lle será
imposível deyxar de amá-Lo
...portanto buska, poeta-leytor, A Poezia, em todas os poemas.
Ke A Poezia é Dews.
75
Viajem Ao Séw
76
Nem medo, nem owzadia
Deliryo pós-antropofajyko n° 23
Á sempre deses momentos de vida em ke só se deve konfiar na poezia, nos
poemas e nos poetas
77
Fogos-fatwos
Saiw
A foto do xefe no jornal do brazil.
No eskritoryo não se fala nowtra koyza. Awmento de salaryo; para o the boss
(?kem sabe sobra algum pra nós...?)
Em kaza, Rozemaria até gostow da foto. Mas notow na gravata um serto
laso de pobre. Na janta um dos fillos komenta. Ke vay indo muyto bem nA
Firma
nunka se sabe
Deliryo pós-antropofajyko n° 24
Libertar as umanidades dos sews grillões artifisiays ideolojykos é uma das
konsekwensyas do fazer poetyko, komo de toda Arte. Entretanto, kabe ao po-
ema revelar-para-libertar, abrindo portas aos infinitos, e, não, libertar-para-revelar
Poys toda libertasão é antes revelasão poetyka
78
Omo Omini Lupus
Deliryo pós-antropofajyko n° 25
Por mays ke os demonyos lles aplawdam os poemas,
os poetas sempre terão anjos ao sew lado
79
Rio 50º
Deliryo pós-antropofajyko n° 26
Saber ver no ke é minymo, o masymo, eys o ollar do poeta.
Ollos de Agya,
para aprosimar o minuskwlo, o lonje, às dimensões da prosimidade; para distansiar
o mayuskwlo, o perto, às dimensões das alturas.
80
Jângal Bell
o menino, de pasajem
feyto moska em padaria, surrupia
a pata afiada
sua parte nowtra paga
Deliryo pós-antropofajyko n° 27
Na poetyka, kwanto mays se buska um sagrado korasão
mays ekoam os rizos de Salomé
81
A Klase Medya Vay Para O Paraizo
...D. Amelya abre a porta para a nova empregada. Indikada por uma prima do
zelador. Ainda bem. D. Amelya não agwentava mays ter ke dar konta da kaza
sozinna. Detestava serviso domestyko. Komo toda muller de klase medya,
emansipada, independente, serve ao Merkado. Dupla jornada de traballo. Botow
a muller para dentro de kaza sem mays perguntas. Nem ollow direyto para a
kara dela. Ollase kom atensão, teria pensado um powko. Pensase, teria rekuzado
...A nova empregada era gorda. Do tipo sento e vinte kilos. A saya, kwatro
panos diferentes remendados à pesyma mão. A bluza aprezentava um rasgo, de
alto a bayxo das kostas. E não era dekote, fiapos soltando-se das bordas. Kalsava
xinelas. Faltando uma das tiras, sertamente a razão da muller ter um repetido
kakoete no pé. Falava uma fraze, ajeytava a xinela no pé. Andava doys pasos,
ajeytava a xinela no pé. Se enkostava num batente de porta, e lá fikava ajeytando
a xinela no pé. A unyka koyza ke D. Amelya notow no primeyro dia de serviso
da nova empregada. O marido e os fillos, ke a nova empregada kozinnava bem,
magnifykamente bem
...De mannã, meza posta para o kafé, o marido lendo o jornal ke todos no
eskritoryo lêem, D. Amelya, preparando uma torradinna de abyto. Estika o braso
e alkansa o pote de rekeyjão. O pezo do pote mays leve ke o esperado. Irrita-se.
Os meninos não estavam em kaza, o marido não gosta de rekeyjão, jamays gostow,
sempre implikow kom o rekeyjão dela. Então kem, afinal, tinna komido kwaze
ke o pote inteyro de rekeyjão, aberto ontem mesmo?
82
...A nova empregada xega à meza para renovar o bule de leyte. Não presizava, o
bule ainda xeyo, mas a nova empregada traz owtro bule fumegante. D. Amelya
larga um resmungo, agwarda o tempo sufisiente para a nova empregada se
akomodar na kozinna e sege sews pasos. A nova empregada virando o leyte
goela abayxo, ke eskorrega pelo biko do bule até uma boka voraz, kwaze mor-
dendo a lowsa. Kê iso, mew dews? D. Amelya, a kara asustada. Iso o kê, pa-
troa? A nova empregada, entre um gole e owtro. Depoys, kolokando o bule
vazio na pia, olla para D.Amelya kom naturalidade. Às suas ordens, patroa
...O marido owve da sala os gritos e parte rapydo. D.Amelya, irta, o dedo em
riste para a nova empregada, gagejando sons inintelijiveys. Esta, balansando
ezajeradamente os ombros, komo a dizer ke não estava entendendo nada
...A vagabunda. Kome e dorme às minnas kustas e ainda marka sews enkontros
libidinozos pelo mew telefone. Os pensamentos de D.Amelya vageyam, a nova
empregada komesando a servir o jantar. Kome em silensyo. O marido elojia a
komida. Os fillos também. D.Amelya komenta baixinno ke o feyjão saiw kom
um powkinno de sal demays, para o sew gosto. Vem a sobremeza. Goyabada,
keijo e mamão. O marido e os fillos se servem, gulozamente. D.Amelya espera o
sorvete, a lata de um kilo ke trowsera á powko, kreme kom xokolate, sua
preferensya, surpreza para os meninos. Nada de sorvete. Xama a nova empre-
gada, ke traga o sorvete, as tasas propryas também. A nova empregada não se
mexe, ollos esbugallados. D.Amelya repete as ordens. A nova empregada parese
83
sorrir de lado agora e pergunta ke sorvete?, ke não sabia de sorvete nennum,
não. D.Amelya levanta-se, impasiente
...Na kozinna, D.Amelya enkontra a lata de sorvete na pia, xeya dagwa, dentro
uma koller. Mas vosê komew o sorvete todo? O sorvete ke ew trowse oje?,
agorinna mesmo? Komo é posível? A nova empregada parese não se abalar.
Não, patroa, esa lata de sorvete ai na pia estava no finalzinno. Era só um resto
de lata vella, kom jeyto de estar no konjelador á sekwlos. Ew keria só sentir o
gostinno, fazia um tempão ke não komia sorvete.
...O marido e os fillos não deram maior atensão aos insesantes dezabafos de
D.Amelya. Ora, Amelya, não vamos brigar por uma lata de sorvete, ora. E ria.
É iso ai, mãe. Riam os fillos. Está bem, está bem. No pensamento, a desizão
irrevogável de mandar a nova empregada embora logo na mannã seginte
...Depoys do telejornal rekollem-se. Dia de sekso. D.Amelya gosta do marido e,
espesialmente do jeyto dele fazer sekso. Diferente dos antigos namorados, ke só
pensavam em komer, komer. Já komi fulana e sikrana, diziam. Kom o marido,
não, kom o marido ningém komia ningém, faziam amor
...Akele dia não foy tão bom, o marido terminando sem ke D.Amelya xegase ao
orgasmo. Nesas vezes, a impresão de ter sido uzada. Não gostava nem um powko
diso, fikava amuada. Madrugada, D.Amelya levanta para um kopo dagwa, o
marido ronkando alto. No korredor, persebe já a luz da kozinna aseza. O korasão
dispara, a mente asannada, D.Amelya adentra a kozinna
84
uma talla mollada embrullava-se a um pé de xinelo. Doys ternos e algumas kamizas
limpas e pasadas espallavam-se na beyra da kama de kazal, o marido á muyto no
labor kotidiano. Levanta-se, ainda uma leve tontura, abre a porta do kwarto, a
kara sorridente do fillo mays vello. Ôy, mãe, estamos indo pra praya. Vê se não
se esforsa muyto. O pay já ligow duas vezes, está preokupado kom vosê, por
kawza da noyte de ontem. Até mays. Até mays, fillo; voz em suspiro. Tarde
demays, o medo, os fillos saindo de kaza, ela a sós kom a nova empregada.
Rememora a sena terrível. Korajem, Amelya, korajem. Para a sala, sons de
konversa. Voz de omem, estranna. Dews do séw, tem um omem estranno em
kaza. Mas segiw andando, devagar, komo boy para o matadowro,
ineksoravelmente. Já não era dona das suas pernas
...A nova empregada komia iogurte, sentada ao sofá, modos de dona da kaza. A
sew pé, espallado ao xão, também komendo iogurte, o zelador do predyo.
Eskankarada a porta de entrada do apartamento, komo a konvidar kwalker um.
Paresew-lle dizerem, bom, muyto bom ese tal de iogurte. Kwando D.Amelya
entrow de vez na sala, a nova empregada estikow o braso, o kopo de iogurte
inteyramente vazio. Servida, D.Amelya?
...Akorda, o telefone tokando. O marido, grasas aos séws. Pediw, implorow mes-
mo, ke viese logo para kaza. Presizavam despedir a nova empregada. Akalme-
se, Amelya, estow indo. Não gostow nem um powko da sensasão ke teve ao
owvir o klik do owtro lado da linna
...Orror, orror! Sews meninos, nus sobre o largo tapete da sala, jaziam de ollos
abertos. À sua volta, o zelador, o porteyro, a faxineyra do apartamento vizinno,
e um ser indivizo, maserrymo e maltrapillo, ke ela nunka tinna visto. Vem a nova
empregada e junta-se ao grupo, distribuindo entre os komparsas fakas de korte
85
asowgeyro. D.Amelya paralizada. Não konsegia dar um paso, emitir um som. Se
esforsava, keria gritar para não fazerem akilo kom os sews fillinnos. Tentow
varyas vezes e nada, perdera a voz. Dews mew, será um pezadelo? Mas não,
estavam realmente kortando as karnes das kriansas
...A nova empregada vira o mays vello de bunda e korta um nako de karne.
Prova-a kom uma mordida e oferese aos demays. Mastiga. Kospe o resto sem
sumo no xão. Ri. Pelas mãos do mendigo um maxado vay separando os brasos
de um e de owtro dos rapazes, suas pernas, as kabesas. Pelo xão espallam-se
garrafas de wisky da kolesão do marido. Vazias, todas elas
...Param de komer. Ollam todos para o lugar onde ela está, sem sange nas fases.
Kaem na gargallada. Panyko. D.Amelya dispara de volta para o kwarto. Segem
atrás dela. Ker trankar a porta. Não konsege. A nova empregada mete pela
fresta um pé ke fika balansando frenetykamente uma xinela faltando uma tira,
komo a ajeytá-la. Empurram a porta de vez. Jogam-na para a kama de kazal, por
sobre os ternos do marido, nesa ora um refrão idiota na kabesa de D.Amelya.
Os ternos dele, ew vow rasgar os ternos dele, rá-rá, ew vow rasgar os ternos dele
86
Ponte Aérea
Vôo
Vôo
Vôo
Neojonas no ventre
De um plastyko pásaro de aso
Viasão Aérea São Pawlo
Vôo
Vôo
Vôo
Faso-me presa
Em preza dos vis metaltos
Altos
Altos
Altos
Ansestro-me laso
a dowrado semidews
Deliryo pós-antropofajyko n° 28
O Poema se faz batendo as pedras das mãos,
eskerda e direyta, uma à owtra.
O som e a faiska são O Poema.
O fogo akolledor é A Poezia
87
Porke tinna um nó no peyto
difisyl de dezatar
subiw korrendo as eskadas
direto ao ultymo andar
Porke tinna no ôllo a muller
difisyl de namorar
xegow ao kume do predyo
sem xanse de se salvar
Porke tinna na voz a mágoa
imposivel de se gwardar
gritow para o mundo a fera
ke não se deyxa enjawlar
Porke tinna na alma a idade
ke nunka ningém terá
abriw largo largas azas
kom as kways não podia andar
Porke era só um omem
para tanto kerer de amar
atirow-se kwal um anjo
ke viese nos salvar
Porke era a vida um leyto
ke powko podia gozar
subiw korrendo as eskadas
?por ke não trokow de par?
?por ke não trokow de lar?
?por ke não trokow de lado?
?por ke não trokow de fado?
?por ke não trokow de kazako?
?por ke não trokow de kalsa?
?por ke não trokow de sábado?
?por ke não trokow de gravata?
?por ke não trokow de sekso?
?por ke não trokow de kara?
?por ke não trokow de marka?
?por ke não trokow de muzyka?
?por ke não trokow de verbo?
?Por ke não trokow de verso?
88
Pó de Pir-Lim-Pim-Pim
Faz de konta ke somos felizes
Faz de konta e...!Xazam! Akontesew
korkovado
!Á...! Se vosês sowbesem
Do amor ke esa sidade despertow em nós
Da natura mão do Belo
Ke nem gregos ow romanos, bizantinos
jamays
89
Deliryo Plúmbeo
Deliryo pós-antropofajyko n° 29
A Poezia não se eskreve nem se deklama;
o ke se eskreve e se deklama é o poema.
90
Umws
Vida Literarya
Vez em kwando também a mim, me rondam os abutres
A uns, servem-se de kafezinno; uns owtros, serveja
Todos sempre kosam
as azas das noytes frias;
lambem os labyos finos
uns, bikos de porselana
engrosando a lingwa, datas venyas
os de resente ofisyo
91
Kada palavra é uma serpente
Lingwa oblikwa de fora
A konfundir os odyos
Kom o amor de owtrora
Kada palavra é uma dentada, e ela
Espera ke doa
92
Porke dobrey-me sob sews ollos tão mel
Porke dobrey-me sob sews labyos tão mews
Porke dobrey-me sob sews seyos tão venws
Porke dobrey-me dobrey-me sob sews pelos dezejos apelos
Konsilyo de Trento
Amey vosê, Alise
Amey vosê, Maria
!Amey igwal, Berenise!
E ainda as amo, em tanto
ke não sey
de vosês
se são mesmo trez
Ow se serão, talvez
uma antiga duvyda
medieval:
se vosês são trez em uma, ow
se são a mesma uma una
em trez
93
Safo
94
Safo
πολυ πακτιδος αδυµελεστερα,
χρυσω χρυσοτερα...
(Safo, de Lesbos)
Mays ke Arpa,
Melodioza
ke Owro
Dowrada...
Mays ke Arpa,
Melisioza
ke Owro
Gostoza...
Bilitis
Alegra-te, Mnazidyka
Já podes voltar a suspirar o vôo das sabiás korujas
Já, já, me axego
95
O Kão e a Gata
Deliryo pós-antropofajyko n° 30
Se o poeta pudese,
diresyonaria toda sua sensibilidade e intelijensya
para a muller amada.
Mas o poeta não pode
96
Objetividade poetyka
(da serye: papos universitaryos)
Devo konkordar
[antes ke fike aflita
e derrube saleyros e konsekwensyas
devo konkordar
[enkwanto ela balansa a kabesa e afirma
ke esas minnas koyzas são tão komezinnas
Devo konkordar
devo konkordar
Devo konkordar
97
Teoretyka
Tews ollos tew belo rosto, e o klaroeskuro dos tews pekenos labyos
semiserrados Tews tumydos seyos
Sonno twas terras markadas
Ao kabo da minna enxada
Ezistensyalismo
Sayo dela owtra vez
Dews eziste
Ela eziste
98
Central Park, Wine and Snow
Its autumn
Almost winter
We waited for the snow as we waited our souls
And we never, never, never saw
the snow, ours souls
Suddenly
It begins to snow
In Central Park
Deliryo pós-antropofajyko n° 31
Para manter sua a muller amada,
o poeta se faz sol, o poeta se faz lua, o poeta se faz trevas.
Ke toda Muza vale bem um poema
99
Nada, nada me komove mays
Em tudo o ke em ti ew vi fazer
Ke akele primeyro fio grizallo da tua alma, ew
Ke te konnesi basta e negra kabeleyra
Mays negra e basta
No bayxo dos embayxos
Korpo Antropofajyko
Sabes mews jeytos
E me segirás até kwando e enkwanto
tua pele vasta se abra
Territoryo profano
de sagradas intensões
E dansarmos nus
em torno nosas propryas brazas
100
Verbo
Deliryo pós-antropofajyko n° 32
O poeta á ke tudo suportar kom pasiensya e karinno
as pekenas lentes sobre os pekeninos ollos dos ke o julgam.
Poys são eles, ollos sem luz, as primeyras vitymas da sua poezia
101
Pudisisya
Deliryo pós-antropofajyko n° 85
ow, lembrando a karmem bizet, o poema é um pásaro rebelde/ ke ningém pode
aprizyonar
102
As Brumas de Avalon
!Á...! Tem-um-tow-ro-no-mew-!jardim!
Tem-um-tow-ro, !a!, no-mew-!a!...
...para-!íso!
103
Kambaxirra
Ela me vem
paso a paso
powko a powko
komo uma kambaxirra asustada
ela me vem
104
Esgrima
Tik-tak, Tik-tak, Tik-tak
Trimm
.mm
Trimm
.....mm
Trimm
.....mm
..................................
!KLIK!
!?Klawdya!?...
Ôy, amor...
Deliryo pós-antropofajyko n° 33
Do Manual de Poetyka Bem eskrito, ow mal eskrito, bem-me-ker ow mal-me-
ker, todo livro de poemas pertense ao jênero literaryo romanse. Poys toda pala-
vra posuy poezia: da bula farmasewtyka ao tratado filozofyko, da ajenda eskolar
ao kantyko dos kantykos
Um livro de poezia teria ke ser eskrito por anjos e a mando de Dews
105
Femyna Omini Lupus
(Este feytiso deve ser kantado mentalmente, sempre ke ele esteja nervozo,
kom akompannamento de batukes kadensiados, kada vez mays aselerados, e
um koro de vozes de exús aliados reforsando as esklamasões ao final de kada
estrofe;
reforso do feytiso: um sorrizo karinnozo nos labyos e muyta solisitude nesa
ora;
unyko perigo: o feytiso pode virar kontra a feytiseyra ke não domina esta arte)
Fogo-fogaréw-em-sew-korasão
!bão-bão!
Fogo-foginno-em-sew-korasão
!bam-binno!
Fogo-fogum-em-sew-korasão
!bum!
(retornar ao inisyo do kanto, kada vez mays forte e ritimado, até ke surta
efeyto)
Deliryo pós-antropofajyko n° 34
A estrada do sofrimento leva à eskravidão. A estrada do prazer leva à
libertasão. Fazer Belo todo o prazer, eys nosa mays awtentyka misão poetyka
106
Agwas de marso
Deliryo pós-antropofajyko n° 87
Do Manual de Estetyka O poeta sabe ke vive um tempo em ke forma não é
mays kondisão de konteudo. A teknolojia avantajow a forma, fez do konteudo
verdade okulta. Vivemos um tempo pós-mitolojyko; vivemos um tempo pós-
okultista, em ke as verdades se distansiam, retornam ao kolo dos inisiados. Só o
pensamento poetyko desifra esas dansas de máskaras da vida pós-moderna
107
Ao Movimento da Barka
Ao movimento da barka
(masia)
Finjem ignoransyas
A forsa bruta dos instintos
inda ke esplodindo
preza de um sorrizo liryko
Ke aos ollos owtros não se denunsiam
Deliryo pós-antropofajyko n° 35
karo poeta: só obterás ser o poeta ke sonnas ser kwando eskeseres o relojyo em
tew pulso; e o número da tua ultyma pajyna (o poeta, aos inisyos do sew primeyro livro
108
Lunasão
109
Meras Konjekturas, Boas Vindas Talvez
Deliryo pós-antropofajyko n° 36
Nennum poeta saberá da sua poezia se não sowber dos kwatro umanos ventos
da Terra, e das palavras ke sopram (o poeta, ao abrir as janelas
110
Da Ensiklyka Poetyka
Deliryo pós-antropofajyko n° 37
Nege kwanto keyra o poeta os konseytos de relijião e divindade, nennum artista
realiza uma obra de arte, espresão orijinal da sua individwalidade artistyka, sem
fé awtentykamente relijioza
111
Amor sem metáforas
Deliryo pós-antropofajyko n° 38
E, no entanto, sem fé nO Poema, não se obtém poezia. Ver kom o korasão,
konneser kom o espiryto, eskrever kom os sinko sentidos. Eys os poemas ke
revelam o animal poetyko
112
Zoolojyko Intymo
Deliryo pós-antropofajyko n° 88
mas o Verbo não é a palavra, poys esta é sempre uma umanizasão dakele... O
Verbo é a enerjia ke propisia a formasão da palavra... e à esa enerjia dá-se o
nome de Poezia
113
ad infinitum ad nawzeam
a palavra roda a palavra roda a palavra rola a palavra rola a palavrola a palavarola
paralora a palavra rola a palavra bola a palavra embola a palavra embora a palavra
mola a palavra mora a palavra kola a palavra sola a palavra arranna a palavraranna
a palavra amola a palavra akorda a palavra korda a palavra engorda a palavra
morta a palavra korta a palavra afoyta a palavra foy-se a palavra foyse a palavra
porta a palavraporta a palavra boka a palavra tonta a palavra foka a palavra rola
a palavra embola a palavra kaza a palavra roda a palavra rola a palavra rola a
palavra rola..........
!Ufa!!!..............................................................................................................................
a palavra kala a palavra mala a palavra sabya a palavra kobra a palavra mata a
palavra marka a palavra manka a palavra volta a palavra solta a palavra bota a
palavra moyta a palavra akoyta a palavra ama a palavra kama a palavra goza a
palavra forma a palavra fama a palavra lama a palavra teyma a palavra keyma a
palavrasoyta a palavra mente a palavra sua a palavra bole a palavra fole a palavra
mole a palavra agwa a palavra magoa a palavra lagryma a palavra kata a palavra
pedra a palavra rika a palavra pobre a palavra medya a palavra midya a palavra
limpa a palavra esperta a palavra pura a palavra densa a palavra fuga a palavra
muda a palavra farpa a palavra lerda a palavra ladra a palavra lenda a palavra rola
a palavra roda a palavra para....................................
!Ufa!!!..............................................................................................................................
!!!Êpa!!! a palavra roda a palavra rola palavra lavra a palavra xega.............//////
////////
114
?A Kwal Lingwa Prometi Mew Korpo?
(Heiliges Land)
Agora
- e embora
vos ame igwal -
ke owtras sílabas arrannam vosos owvidos
ke tremem vosos tronos impyos
ao nervo mays karo, vosa lingwa altívoka
Digo-vos agora, mews adotivos fillos
Ainda á tantos owvidos tantos
Em mew korpo jenerozo e limpydo
Kwantos Mater Doloroza vosa dose voz owviw
115
Selene
116
Sol Eskuro
Sow só
Uma estrela perdida no etéreo vakwo
Sol sem terra, sem luares
Ke astrônomos e astrólogas distraídos ollam
Aos viezes de suas parkas lentes embasadas
Na eskuridão agwardo
Ke de mim se soltem os fragmentos nesesaryos
A formar os jirasoys da noyte eskura
A abrir as selas das antigas feras
Akelas, as de multyplas garras
Na eskuridão agwardo
Ke se aprosime mays o mundo
Ke subyto nassa nela a muller ke ew kero
À kriasão de um universo inteyro
Ke ew posa então klamar:
!Fiat lux!
Deliryo pós-antropofajyko n° 8
São os umbigos ke revelam a konviksão nO Poema.
117
Borbolífera
Deliryo pós-antropofajyko n° 40
Não á poetyka se não se aseyta a imperfeysão. Poys toda a poetyka é diálogo
entre sagrados e profanos, umanos e dewzes
118
Bem-te-vis
Ao bem-te-vi poeta
A owtra marjem
Do amor se nega
Mulleres asenam
e os lensos
são brankos do imposível êstaze
Porke ao poeta
As marjens insitam
Mas não konvidam
A navegar os rios
Deliryo pós-antropofajyko n° 41
Sem alguma espesye de perigo não á O Poema
Sem alguma espesye de korajem não á o poeta
119
A Poezia vale mays ke trinta mil dinneyros
Vivemos um tempo
de medo, tristeza
e solidão
Ao menos sejamos
Poetykamente medrozos
Poetykamente tristes
Poetykamente solitaryos
A transmutar
rayva em kalma
xumbo em owro
inveja e resentimento
em poetyka moeda
Ke valla muyto mays ke os tays
trinta mil dinneyros
Krityka poetyka
Á os ke akreditam na palavra solitarya, kada a kada, komo se somente
nela abitase a poezia. Á os ke akreditam no verso, owtros konferem o poema.
Poys a Poezia tem muytos portays, para além das palavras, dos versos,
dos poemas. A poezia está nos não eskritos a ke todos os eskritos dos poetas
konvidam
120
Os Arpões de Eros
Flexa kupyda ew, logo te vi
Me apayxoney tão terrivelmente
Ke o tempo, padastro das felisidades
Ezijiw o sew kinnão
E ew
A kontemplar palydo o destino kruel
Num instante, prezente
em mews labyos tremwlos
No tew sorrizo impavydo
O Poeta Antropofajyko
Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema
Mesmo o lixo eskorregadio
Ke o ordeyro lixeyro
(às segundas, kwartas e sestas)
Konstranjido, rejeyta
Por não lle valer a paga
121
Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema
Mesmo os fragmentos
Ke a mente superfisial enterra
Por despisiensya a kem, de despisiensyas vive
Despisioza vida
Em despisiendas kasas
122
Pezos e Medidas
Deliryo pós-antropofajyko n° 43
mas enkwanto a poezia for o instante e a eternidade, aos infinitos modos de
asim nos prezarmos
123
Kama de Solteyro
Deliryo pós-antropofajyko n° 44
Uma barata sozinna, pekenina, engatinna ao bloko de papeys. Izolada, aska
barata, ainda mays aska. Deyxo-a pasar, pekenina, majestoza, mesmo aska, porke
vida.
(Sem alguma espesye de tolise não á poezia
124
Amor Ezekutivo
125
Tew Retrato
É meya-noyte agora
Dormes, esgotada
De palavras e gosmas
O mew esgotamento enfim
Deliryo pós-antropofajyko n° 45
A Poezia está morta? Poys poetas, levantem e andem! Poys toda a luz e toda
eskuridão ke estão à frente são apenas as manifestasões dos vosos propryos
brillos asezos allures.
(o poeta, num momento de dezanymo
126
Klara Lutxy
Deliryo pós-antropofajyko n° 46
Não á poema sem sua muzikalidade enkantatorya: seja muzyka das esferas, seja
a dos subterrâneos da alma umana, a popular ow a erudita, folkloryka ow
alieníjena, poema sem muzikalidade é komo uma orasão rezada sem fé. Nem
esta é orasão, nem akele é poema algum.
127
Mediunyko
?Vosê sabe por ke o umano salta
para o infinito abismo, o tiro
na têmpora, o gas
nos pulmões?
?Vosê sabe por ke o umano se mata
Unyka espesye ke o faz?
Vosê, ke me kontempla de lonje esas palavras
De um korpo já imune a kwalker dor
Tranzes Tranzytos
Somos todos tranzes tranzytos
Nada nos faz eternos
Ow imutaveys
A esensya não nos pertense
Mas Aos Insondaveys Infinitos
A nos esperimentar
os provizoryos pasos simyos
128
O Inferno de Ékate
Xoro
E Ranjer de Dentes
A ke me Kondenaste
Porke Pekey
Eternidade de Xoro
E Ranjer de Dentes
Porke Pekey
Mayor Xoro
Mayor Ranjer de Dentes
Porke Ela Não Vem
Meya-Noyte
Não Adianta
Dezosarão a tua poezia
Até servi-la
Em bandejas de lata
Aos finos kanapés revolusyonaryos
Ow aos brutos pontapés da vã jentalla
(Voltaire falava em demensya da kanalla)
Não importa
Ke o keyras não keyras
Te rowbarão a alma
Te sakrifikarão os versos
Para os narizes de palla
(Sews rizos sews xilikes sew wisky nos sofás da sala)
Prosiga, porém
Ke tua sílaba vazia
Kontém todo o universo
Ke muytos prokuram em vão
(Owtra garrafa dese vinno bom? )
129
Kanto Pós Demokryto e Eraklyto
130
Diálogos Amorozos n°11
!A Vida!
A vida não se vive aos sinko minutos, desidida
Ke seja asim para sempre, regabofe
Só o mellor pedaso da karkasa
!A Vida!
A vida não é a karne limpa
O sebo também é vida
Não é o perfume das primeyras rozas
Os espinnos também são vida
E os xeyros
Os xeyros ke vão das kozinnas às latrinas
!A vida!
A vida, kerida
Não se faz de ezijensyas
Antes, retisensyas...
...Me-ta-mor-fo-ze-an-do...
131
vida de poeta
Falas muyto de Marx
de divizão de tarefas,
de traballo de baze,
mas kwando te levantas
nem a kama fazes
(Leila Míccolis, Vã Filosofia)
E ke lamentas
As injustas penas
E ke kompreendes
As garrafas vazias
A solidão, As lagrymas
ke mesmo rekollerias
Novisa
das madrugadas
E no entanto
Se o poeta é tew marido
?O ke dizes?
?O ke fazes?
Deliryo pós-antropofajyko n° 55
A diferensa fundamental entre A Literatura, in espesye, e A Poezia, pay/mãe de
todas as literaturas, é ke akela revela as finitudes das umanidades e do mundo,
kabendo a Poezia revelar os sews infinitos. O esensial é saber ke, se a Literatura
está nas palavras, a Poezia está no além-das-palavras
132
O Alimento das Gaivotas
A gaivota se projeta
Mergulla e volta
O peyxe
Não se debate
O omnybws xegow
Sem lugar de janela
133
Menina Mosa
134
Só a morte é unívoka
para Ilse
Deliryo pós-antropofajyko n° 48
Kada palavra ke o poeta inskreve é umanae vitae ke o poeta mantém na trilla
do além-do-umano
135
O Ultymo Bigwá
ama
amanna
amanne
amannese
amanna
ese
amanna
aman nese
aman nese
amannese
amannese
amannese
A dor se distray na formasão dos bigwás. Amannese
Se eskese, no ajito do ultymo dos bigwás. Amannese
Amannese no Séw, Amannese na Terra, Amannese no Mar
Amannese. Amannese.Amannese, Amannese. Amannese
Num atymo majyko vê klaro o pasado: Ainda ontem
é antiga
mente é
pasado.
.amannese.
nunkaima
jinowver
tãoklara
a dordo
amor
pasado
136
Kravo de Marte
Serkow-lle os jestos
komo kem konnese a kasa
E aos negaseyos de muller pudika e fraka
Impoz sews muskwlos, não do korpo
Mas da alma
137
Vika
She se esfinje de nothing
(e esfinje tão !well!)
She se esfinje de all
(e esfinje tão !mal!)
Se esfinje de whore
(e esfinje tão !more!)
She se esfinje de pure
(e esfinje tão !mall!)
Devosão
Os dewzes do verão
Inflamey-os todos
Os dewzes do owtono
Kaley-os todos
Os dewzes do inverno
Esfriey-os todos
Os dewzes da primavera
Ainda estow kom ela
Deliryo pós-antropofajyko n° 49
A melodia é a muza dansarina da muzyka em nosos korasões de poetas. Se o
poema não é a melodia, se o poema não é a muzyka, se o poema é o verbo, não
averá, no entanto, o poema, se a sua melodia, a sua muzyka, não nasserem do
propryo verbo-poema. Daí porke o poeta, profeta do verbo, só xega ao poema
se a sua muzyka: a saber, a muzyka kontida no verbo, a muzyka nassida do
verbo, a muzyka ke o verbo-lingwajem konfidensia ao poeta. Kwantas melodias,
koytadas, estão por aí, mulleres powko amadas, abrindo-se a tantos a preso vil
138
A Perfect Beach For A Bananafish
Ela estava irritada; ela estava irritada. Na alma, não sabia o ke se pasava
Só ke estava irritada. Afinal, komposta ela estava, nada justifikava;
Ela, estava irritada. Ela estava irritada. Na barraka O marido,
a filla, a forminna, e o balde dagwa. Disfarsava Mas
ela estava irritada. Ela estava irritada. Ela estava
Irritada. Ningém lle mirava tanto o triangwlo
de Ve-nws, desde ke largara os dezeseys.
E akele kara o ollar edukado frio ko
mo aso, um vay-vem de pásaro
nela um unyko espaso, uma
pussy ke não era asim
asim tão(m)ollada
desde os dezes-
ssseys
139
Kintanise
Kaia ew de triste
Keria porke ew keria
O amor difisyl de Alise
Intuisão
?O ke fazes, poeta?
?Ora, não vês? Rekollo os rayos
Dos Séws, antes ke matem
140
Bateya
Arrogantes
Nos kastraram os versos
Em nome das só est-etykas
Por konta das vis moedas
Ke nem são dinneyro...
Dezesperados Agora
A Ágora sobram asentos...
Dow-vos kaska
Dow-vos kaskallo
Dow-vos tudo sempre owvistes
!Mãos à lama!
141
There Are So Many Questions, ?arent
there?
Deliryo pós-antropofajyko n° 50
O ato de kontemplar uma obra de arte é, sobretudo, um ajuste dos propryos
estados alterados de konssiensya, aos estados alterados de konssiensya do artis-
ta. É deyxar-se levar pelas markas dagwa da universalidade umana, impresas
tanto nas obras kwanto no espiryto de kem as kontempla
142
Eskatolojia
143
ISTO NÃO É UM POEMA
iso é, se owver, alguma poezia os espasos vazios deses todos v ersos
!pára um momento!
kontempla o vazio da pajyna,
enkoste-a, se presizo, às orellas
owsa k om ollos de owvir
veja kom owvidos de ver
144
gata sem kalsa na sala
...ááiy...
(?rumn?)
...mááííiis...
Deliryo pós-antropofajyko n° 51
Poema é poema, krityka é krityka...
podem flertar e namorar jamays kazar
145
Luminaryas
Não
Não vow dar ao sientifyko
O mew fazer poetyko
Prefiro Orjíako
Desdém
Sim
Konstruirey Armadillas
Paradoksays Antinomias
Desdém
Talvez
Em um owtro dia
Sejamos Eko e Melodia
Desdém
Também
Se o silensyo das mãos
Forem Vozes
Desdém
Aborto
O korpo se move pede lle pesa
O beyjo ke promete
O vento na fornalla As agwas do sempre
146
Entredentes
Hölderlin
Ri se te maxukam
Ri Mays se te asoytam
Ri inda ke te ofendam
Ri ri, se te magoam
Ri se te perdoam
Ri mesmo te elojiem
Ri se te o permitem
Rir mays sem ke te markem
Ri se te adoram
Ri também se te ignoram
Tew rizo se te imploram
Ke rias tal ke xores
Ri o mays ke te posas
Ke mays tew pranto ekoará por todo o vale
147
Diálogos Amorozos n° 207
Umildade, Arrogansya
São termos ke nada têm kom o mew/tew amor
Deliryo pós-antropofajyko n° 52
Só poetas, e os ke sabem a Poezia, detêm a liberdade de ir e vir pelas livres
portas das persepsões. Karregam konsigo as xaves para os portays dos infinitos
(o poeta, num momento de inosente empolgasão
148
Mizojenias
Aos intervalos
Álkool e fumo
Biskoytos finos
Toaletes, bomboniéres aos papos
Intelektos mofados, korasões malversados
Korpos estendidos aos merkados
Deliryo pós-antropofajyko n° 53
Billete ao neofyto: não á poetyka sem teknyka, teoretyka e melopeyka ezatas
ao poema
(o poeta, inkorporando Ezra Pound
149
Subyto akorde
As ideyas, as ideolojias
Por uteys, ow futeys
Enganozas, ow simplesmente belas
As mays ke perfeytas lojykas
As estetykas
A todas elas
Agradeso, komovido
O sérebro esparramado
150
Poemeto em si bemol
Deliryo pós-antropofajyko n° 54
O poeta ignorará, mesmo sob as mays duras provas, a divizão de kores e lados
ke a sosiedade asim organizada lle impõe. Ow não será poeta, e de nada valerão
os lowros kom ke lle kobrem, e ke só lle dão por servir-lle a eles. Os sekwlos
enterrarão a todos nós, é vero, mas enterrarão antes os filistews da poezia, e
sews xefes. Jamays soterrarão a liberdade poetyka, a mays ampla, poys ke dela
depende o propryo firmamento
151
Lenga-Lengwa
pero pyenso ke por aká , ombre, kada kwal abla su propryo lengwa
pero todos se entyendem, por inakreditable
pero todos se entyendem, si, si
pero, si no es poeta
no, no me preguntes ke lengwa jo ablo
apenas me konseda un trokado
para más un trago
para más soltar mi lengwa, desyerto
152
O Sorrizo do Anjo
Deliryo pós-antropofajyko n° 2
Em toda a Poetyka, a krityka konfesional é uma balela. Sem nem lembrar o
konteudo sempre divinatoryo do poema, ao mellor estilo grego, o poeta nunka
fala por si mesmo, sempre voz de personajens em suas verdades. Ademays, não
é o ke akontese, traz as máskaras ideolojykas, em todas as relasões sosiays,
ekonomykas, politykas e até nas pesoais e familiares? Se ningém realmente é
todo o ke diz, por ke averia de sê-lo, o poeta? O poeta nunka é o sew poema,
o poeta está sempre em permanente ser, não ser e vir a ser
153
Tenno Muytos Amigos
Todos Poetas
Tays ke Leyla e Flavyo
Eryko e Jilberto
Ke aos verbos me afagam
E pesoalmente se mostram
desenkadernados
Deliryo pós-antropofajyko n° 56
O Poema ezorsiza das koyzas o feyo;
sopra nelas o belo
154
Tew Fillo Xora Na Sala
enkwanto a mãe lle sensura e impede
alguma perigoza travesura.
Tew owtro fillo destroy uma kayxa boba
pela kwal tinnas grande afeysão
E nem reklamas
E é um sábado
E xove miudo powko antes de entrar a primavera
E estás mays vello
E não tens uzado o tew kalsão de banno
Fexas o T.S.Elliot
155
Περι Ποιητικη
Deliryo pós-antropofajyko n° 57
No poema, komo em toda muzyka,
a armonia da intelijensya é impressindível,
mas é a melodia na palavra ke toka a alma
156
Dejelo
157
Matematyka
Deliryo pós-antropofajyko n° 58
A luz do poema não fere a eskuridão
A luz do poema delisia a eskuridão
158
Mizojenias n° 2
Deliryo pós-antropofajyko n° 59
Podes rowbar-me o poema. Jamays me rowbarás a poezia. Poys se é justo a ela
ke ew sirvo, a poezia. Leva o poema, amigo, fasa mesmo bom proveyto diso.
Ke a poezia, esta fika komigo
159
As Novas Muzas
160
Ferrajaria Poyetyka
AO Ferrajeiro de Carmona,
de João Cabral de Melo Neto
Gerra e Paz
Kwanto enkwanto a paz e as palavras
Animam a rude atmosfera e a terra
Grasiozas plumas se arrankam às propryas almas
161
Fez ke se fez uma naw interestelar
A adentrar a noyte sempre mays eskura
Konfiante no destino e a veya maskwla
Estikava o universo até minuskwlo
162
Vensida mays a etapa konsegida
Sem ke posa perkirir kwalker vitorya
Atento se konsentra em sua lida
Tal se presta a um mandado ke divino.
163
Kwatrillo Owtonal
(Aos Muytos Modos de Ler)
para Flávio Rubens
Keda-de-braso
164
Ritual de Vestir
Deliryo pós-antropofajyko n° 60
A ezistensya antropofajyka é imanente a todas as koyzas vivas. Tudo kwanto
vive posuy a sua proprya filozofia antropofajyka, enserrada em si mesmo, o sew
misteryo. Não kabe ao poeta debrusar-se sobre o objeto komo um sujeyto esterior
a narrar informasões sobre a koyza em si. É presizo tornar-se o propryo objeto
para konneser, ezerser e ampliar as suas kwalidades. A poezia antropofajyka
propisia, em profundidade, tal metamorfoze epistemolojyka. Em owtras pala-
vras: o poeta é mesmo uma metamorfoze selvajem, e o poema, algo ke rosna e
berra e xora e ri e se enkanta e se abre em janelas para os eternos vazios infinitos
da poezia...
165
Epistemolojyko
Para ser poeta
Espremeste a larga alma
A tays agwas ke o Espiryto
Perdew todo o sew sentido
No deziderato de ser palavra
Deliryo pós-antropofajyko n° 61
...poemar sem transgredir é komo amar sem posuir...
166
Moyra
Deliryo pós-antropofajyko n° 62
O poeta ke buska transsender as koyzas simples,
não obterá mays ke uma palyda ideya da transsendensya;
mas o poeta ke buska a transsendensya das koyzas simples,
ese, obterá a poezia
167
Valkirya
168
The Fairy Queen
Os rizos...os jemidos...
Da sua voz de arpa e flawta
estoryas de gnomos...duendes...silfydes...
Elfos
Ke por ali abitam...
Oje
Á tanta agwa pasada...
Gnomos...duendes...silfydes.., elfos...
Misturam-me na memorya oje só palavras
Mas sews rizos kristalinos
Sua bela kaxoeyra, akela
bela tarde
Deliryo pós-antropofajyko n° 63
Jamays, mesmo em nome da Mayor Luz,
o poeta abdikará de suas sombras.
Na alma de kwalker poeta
eskuridão e luz estão sempre se akarisiando
169
Um Graal
Omo Simbolykws
Três vezes o omem se aseyta
Em purgatoryos
Três vezes o omem se nega
Aos infernos
Para ke asim três xanses o omem obtenna
Viver sews paraizos
170
?dás a iso o nome de amor?
A mim xegaste komo um pardalzinno morto
Tremwla de frio, faminta de amor
Em minnas garras, depoys kalejadas, sekaste tuas azas
tuas agwas
tuas almas
Em minna fronte bebeste !A Vida!
Novamente larga, infinita
Destemida
Em minnas mãos te akeseste !Não me deyxes!
Nas fronteyras do gozo sábiálaranjeyra
A reklamar antigas penas
Minnas azas kebraste, mews gritos de agya
Kalaste
Me deyxaste o eskuro das mãos
ao rizo alegre dos tews pekenos vôos
Os tews jemidos, e os tews enjôos
Lojyka Metaforyka
Nós nos debatemos Entre a Lojyka e a Metáfora
E tanto faz
ke uma dite
Normas ke à owtra, sons inawdiveys
171
Epistemolojias
Só um powko, me enkosto
Ela é pronta
Enkwanto uma onda, xeya
Enxe mays ainda os mews todos motivos
Deliryo pós-antropofajyko n° 66
Entregar-se a alma às korredeyras é abdikar de ambas as marjens. Nennum
poeta say inkolwme diso.
Nem infeliz
172
Kafé solúvel, leyte desnatado
Ela
Não entende nada do ke ew susurro
Mesmo ao pé do owvido eskerdo
e os ollos
ke o jornal aberto em leke eskonde
se fexam
para eses mews mundos eskizitos
Kwanto a mim
kalmaria
marezia
De alma esbugallada para os orizontes sow feyto
de murmuryos ke sim, sim
de murmuryos ke não, não
enkwanto os awtomoveys, e os pedestres
enkwanto as notisyas, e as polisyas
enkwanto as krizes ekonomykas, e as politykas
enkwanto os esportes, e as kronykas
segem levantando as xíkaras
desas mannãs de café au lait
173
Its Up To You
Deliryo pós-antropofajyko n° 67
Toda arte é poetyka. Ow não é arte nennuma
174
Mew Reyno Mefistofleno
De resto,
Rayva odyo - inferno
Tenno em mew korasão
Para além dos ferros
Deliryo pós-antropofajyko n° 68
Não é lisyto ao poeta kompor sem algum tipo de odyo;
às vezes, é mesmo sew mister agarrar-se a ele
175
Treppo, ergo sunt
A Orijem, O Prinsipyo
O Inisyo de Tudo
Asim no Universo
Komo na simples vida mesmo
meskinna
Da formiga ao umano
Tudo se inisia O Unyko ke importa
É paw duro e xota mollada
E isto ainda é poezia
Deliryo pós-antropofajyko n° 69
Se somos, poetas, antenas da rasa, à linnas kruzadas, interferensyas, balburdyas
de sons e palavras, entrekruzando-se por todo o planeta Terra. O poeta deskonfia
ke mesmo dos séws balbusiam-se diskursos
176
Espreso 999
177
Pós-Solidão
É sábado, e é noyte
Mew amor número um é estatyka
Mew amor número doys é dinamyka.
É sábado e é noyte
Não estamos numa sesta-feyra
Muyto menos numa sesta-feyra à noyte.
Poys é sábado, mays ke tudo é noyte
Não se trata de uma sesta-feyra das payxões
Kwando os instintos se disolvem
E engolem as razões
Para ke mews ollos fexados, minna boka bosejante, todo mew korpo enfim
Não ezijisem de mim esa urjensya em dormir
E ew pudese ao menos sofrer a dor dun temp perdu
178
Maturidade
Esvoasam e konfundem-se
Às luzes amarelas, aproveytam-se
dos kyaroeskuros
Kwanto a mim
Sow frio komo um séw de inverno
E nem seker tenno sawdades
Deliryo pós-antropofajyko n° 70
Somente o poeta ke sabe o misteryo poetyko de um sagrado korasão pode
ambisyonar saber da poezia os poemas
179
O Poema e A Letra
E ke a arpa se enkante
Em nada traduzir
!IDOU TO POIEMA!
Deliryo pós-antropofajyko n° 71
O misteryo do fazer poetyko se eskonde nas kurvas da livre rima ritmyka
180
Duas Oras da Mannã
Deliryo pós-antropofajyko n° 72
Imajinasão é Razão e Emosão fazendo amor kom Tezão
(Asim nassem os poetas
181
O Relojyo
182
Poys esa é a sentezyma noyte
Após o ultymo perdão
................................................................
Deliryo pós-antropofajyko n° 73
Doys monólogos-preludyos, por mays ke se akarisiem, não fazem um diálogo-
orgasmo
(o poeta, ao telefone kom uma antiga muza
183
Esas Follas Ke Kaem
O verão se vay ao fim
Um verão prejudikado por dejelos e rasgos
Na kamada de ozonyo
Dizem os entendidos
Estow só - novamente
E por iso devia regozijar-me
Sidadão ke sow
De uma sidade feyta de karnes avydas
184
E o xeke ke asino: oytenta e sinko reays e kwarenta sentavos
E kwando o telefone toka
E sow destro, sow pronto, sow karnívoro
!? Alô, tudo bem?!
E logo depoys
Esas follas ke kaem
Apenas sujam o mew jardim
Atento, me penso
Esas follas ke kaem
Apenas sujam o mew jardim
Rezignado, kato-me
as follas brankas
.....................................
?kem presiza de owtonos?
Νοµων
Ke me importam sews furunkwlos
Kokares Kolares Tribos
Apenas kero a muller
Ke a Ley Mayor fez komigo
185
Não Averá Paiz Nennum
Deliryo pós-antropofajyko n° 42
Á...!, poeta, kwando aprenderás a odiar sem poezia?
186
Korasão Inesperto
Mew korasão e apezar dos lasos.
dos nós
das tripas
ke lle ezijem
o sange
Mew korasão permanese aberto
Embora me alertem ke sow vello
Para tays estrepolias
Deliryo pós-antropofajyko n° 65
O poema é sempre, tanto para o awtor komo para o leytor, uma viajem em
buska da revelasão poetyka. Não á modelos poetykos para além do ke é propryo
à espresão de kada poeta, à persepsão de kada leytor. O ke mays importa é se o
poema logra estabeleser uma relasão jenuina, entre os relativos
ezistensiays(lingwajem, individwo) e os esensiays absolutos (Dews, kosmos, Mun-
do, Ew Profundo, Umanidade, ow o ke kizerdes). Asim sendo, não eziste poezia
sosial: poezia sosial é sosiolojia; não eziste poezia polityka: poezia polityka é
ideolojia; não eziste poezia filozofyka: poezia filozofyka é filozofia. O poema é
um rito de fé no mundo em buska da sua revelasão poetyka
187
AKATÍ
Voltey
Para reviver os antigos paraizos
Me ofereseste, dadivoza
Antigos purgatoryos
Aos meyos dos infernos tão antigos
Antigos...ó...antigos...ó...antigos purgatoryos
Mas as velas do mew barko balowsante
Não atrakaram tew kays
Nem antigo
Nem moderno
!Terra à vista!
Em tew jardim, bem-te-vis se alegravam
À minna xegada
Pardays marrons saltitavam
E os beyja-flores sedentos, deskuydados
No agwardo
De abrir-se jeneroza a dose flor
!Ó ludyka vida! Ó dose mel da ezistensya infinita
Voltey
.................................................................................
188
kem sabe mays adiante me volte
Em tew sestante distante
Venws no séw brillante
E sorria um korasão dezantigo
Ainda xeyo de amor
Aos enkwantos
Prefiro Adamastor
Inimigo sinsero
Poseydon sem senso de umor
Ke retornar é morrer
Rekaida
Ó Dews
oje
afasta de mim o tew kalyse
do vinno viril
...ke oje
prefiro-me pekenino liryo
deses, ke se vay pizando nos kaminnos
perdido na vorajem dos kapins...
189
Ministeryo
Deliryo pós-antropofajyko n° 74
O bikinno-de-lakre powzado no ramo à janela do poeta anunsia ke a fé, a ke
move montannas, nasse da alegria
(o poeta, kom um sorrizo tolo nos labyos
190
Ministeryo n° 2
O objetivo da vida
É viver morrendo-se
Depurar-se dos osos à medula
Do nervo ao muskwlo
Do sange ao sérebro
É transformar-se, de karne
Espiryto
Ser o espiryto ke komanda
Não o korpo ke obedese
Morrer-se
É levantar ânkoras e ir-se
De portos inseguros a oseanos trankwilos
Deliryo pós-antropofajyko n° 75
Ollar a si e as pesoas todas em sua karne viva, em sua alma aflita, esta a maldisão
mayor do poeta.
Também sua salvasão
191
Noz de marinneyros
Se á estrelas em nós
Tão luz ke nos fasa ir
Kanto as trevas em nós
Tão luz de nos impedir
Se á estrelas em nós
Tão luz de nos impedir
Kanto as trevas em nós
Tão luz ke nos fasa ir
Os Mares e os Séws
(Diz o mew sestante)
Não brigam nem se negam
Mas se apoyam e se ekilibram...
A Vontade ke á no Kosmos
é a vontade ke á no kaos
A Natureza e Os Séws
Não se negam... se ekilibram...
Navegar mays é presizo...
lego ludyko
...navegar mays é presizo...
ego multyplo
Deliryo pós-antropofajyko n° 76
Ao poema, de nada vale a indiferensa ow a vaya
dos ke não tem owvidos para owvir,
ollos para ler, nem mãos a abrir o livro kom fé.
A eses o poeta só se dirije por parábolas
192
Korpws Kristy
Deliryo pós-antropofajyko n° 77
A arte poetyka: esa meduza, esa idra de lerna, esa venws implakável. E esas
arpyas e farizews a subtrair orfews
193
Semypoeta
Vay, poeta
Makina o verbo
Livra-te desas midyas
Das akademias invadidas
pelos bárbaros
Se konstantinopla kaiw
!Fasa-te Atyla!
!O mayor dos UNOS!
Deliryo pós-antropofajyko n° 83
?Vosê me sabe, leytor
Pelos owvires ke owvem
Pelos ollares ke vêem
Ow pelos korasões, momentos
?Kways razões,
tews sorrizos se abrazam
194
Ese papo já está pra lá de kwalker koyza
A minna mão direyta tremula
Komo uma bandeyra gasta
De uma ultyma batalla
Desas gerras perdidas
Antes ke
...teser, zelar, enamorar-se
da ópera obra de uma vida
mesmo destas, komezinnas
tudo ke ao imajinaryo mays importa
todos os tempos, desde os mays pekenos
Todos os espasos, mesmo anxos, mesmo magros
aliando-se às mays rowkas empreytadas
195
Intelijensya Poetyka n° 2
Keres espello
Da tua aventura (para a poezia, espurya)
Ao sabor do mundo feyto Ideya
Deliryo pós-antropofajyko n° 78
Nennum poema vem para trazer a paz, também a espada
O poeta sabe ke o verso ke doy em si
doy em toda a korrente umana ke em si lle korresponde.
O mesmo para o verso ke o alegra.
Mas o poeta sabe mays. Seja kwal fôr o verso,
o anverso lle ezijirá o sew kinnão.
196
As Serdas da Lira
do verbo-poezia
eskravo-
liberto
Deliryo pós-antropofajyko n° 64
...kaminnará o poeta pela Ironia até obter rir de si mesmo.
Só asim se livrará das kotidianas lagrymas...
197
Para Enxergar À Noyte, é presizo
primeyro: ter medo muyto medo e respeyto
ke a noyte é perigoza, poderoza, e sempre kobra
dakeles ke violam os sews segredos
Saber das fazes da lua, e tanto kwanto ela o permita da sua fase obskura
Akreditar em São Jorje e no Dragão eskollendo, de pronto, o sew lado
a sua misão
E arredar de si toda esperansa de ser um omem inteyramente bom;
198
A Poezia é O Verbo
...poeta lles digo:
A Poezia é O Verbo
Dominyo
Dos Espasos Infinitos
Á os ke ofisiam...
...e os ke a silensiam...
aos sinturões de kastidade
das palavras sem viso
kwanto a mim
faso o mays ke poso
...kom tão powkas azas...
kom tão powkos sinos
Deliryo pós-antropofajyko n° 79
...em kada poema pulsa um sagrado korasão...
199
Ezistensialismo n° 2
Dews é Ser
Dews é Não Ser
Dews nem presiza ezistir
Révéyllonlatyon
Os fogos espokam artifisyos
Na noyte eskura:
Luzes-Lagrymas de Kristo
Iluminuras
lagrymas de kristo
200
Signifikansyas
201
Nada Mays Ke Poeta
Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta
Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta
Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta
202
vida de poeta nº 2
Deliryo pós-antropofajyko n° 80
Não basta riskar apenas a fagulla primeyra. É presizo asender o fogo. Manter
sempre aseza a xama poetyka. Insendiar em eros. Por ke fazer da prekarya e
lijeyra vida umana um eterno koytws interruptws?
203
Ermenewtyka
A Muller ke ew kero
É klaro, não é a Muller perfeyta, desas
ke não ezistem
(e todos bem o sabemos, embora
os kodygos, manuays e katesismos perfeksyonismos
digam o mesmo
kom owtras intensões
Nem ew mesmo busko ser perfeyto
para a Muller, ow kwalker
(embora eses mesmos kodygos, manuays e katesismos
perfeksyonismos
sonsos ezijam
A Muller ke ew kero, basta ke esteja sempre nua
aos mews verdes ollos
Ke me oferesa um kafé, enkwanto poeto
Ke me provoke os sentidos
aos intervalos
dos imajinaryos
Ke mesmo seja um koytws interruptws
Para ke o verso seja orgasmo
204
Realidades de fiksões
Mews álkoos, mews tezões
205
O mel dos mortos
...a jente já andava mesmo morta kwando ele enkostow na minna meza, ollow
fundo em mews ollos, dise ke em dia de sol kente ningém devia traballar... ainda
mays no Rio de Janeyro... Tinna os modos atrevidos das pesoas vivas, komo
akredito ke tive um dia, antes de saber ke não á nada de mays importante ke a
minna karreyra na Firma...
...não, não pensem ke invejo ese boballão, de atitudes irrekietas, só porke ele
aparesew kom solusões diferentes, komo se pudese me ensinar komo konduzir
os traballos de sekretaria... Antes de morrer pude eskoller viver... komo todos
aki, aliás... é porke ele ainda está verde e não sey komo é ke a Diretoria não
impediw sua admisão... Pesoas vivas trazem problemas... É difisyl lidar kom
elas... e akaba akontesendo kazos de insurreysão entre os mortos daki... mas
komo matá-lo?...
206
em algém e akaba internado no manikomyo organizasyonal... lugar de jente viva
é no manikomyo organizasyonal ow na kadeya emprezarial... É mellor voltar ao
relatoryo... esta sekretarya demonstra ter muyto powka intelijensya... Por iso, é
tão efisiente...
... este kara lembra muyto o jeninno... o mesmo jeitão do jeninno... ali, parado
na meza da D. Fatyma, fika mays paresido ainda... na viola, ew e jeninno juntos,
era um som atrás do owtro... tempos bons akeles... agora estow ew aki, kopista
de livro... keria mesmo era pasar o dia todo tokando violão... aí ew tinna ke
eskoller entre kontinuar vivo e marjinal... korrendo o risko de ir parar na kadeya,
fazendo um servisinno e owtro pra batallar o ke komer... ow enkarar esa morte...
diziam ke a morte era kentinna, konfortável... sey não... ke ese kara tem todo o
jeyto do jeninno, tem sim...
... Komo é ke rezolvem kolokar mays jente na Organizasão, kwando já está tudo
organizado tão perfeytamente?...Mal akabamos de nos adaptar todos, uns aos
owtros, aparese um intruzo para interferir na paz reynante... E logo jente viva,
ke nunka morrew antes... Fose ainda uma transferensya de modwlo, vá lá... a
adaptasão é fasyl para nós todos... um powko demorada para o transferido, obvyo,
nada de tão dolorozo, também... Mas um vivo?... o vivo sempre mexe kom
todos, de uma maneyra ow de owtra... Mas ew rezisto bem... sey lá... tenno a
impresão ke já nassi morta... Por iso xegey onde xegey... Fuy tallada para komandar
mortos... todos os testes konfirmaram isto...
...podia ser mew fillo, tem idade para ser mew fillo, se tivese um...será ke teve
mãe?... não, talvez não... porke ningém lle ensinow a morrer, koytadinno... kwando
me kumprimentow na entrada da sekretaria senti pena dele... vontade de koloká-
lo no kolo... niná-lo... susurrar-lle os segredos da morte... não ke ew akredite
muyto nela... mas ke jeyto?... ke adianta fikar vivendo por ese mundo afora se
afinal todos temos ke morrer mays dia menos dia?... então, ke seja aos powkos...
Asim a jente se akostuma mellor kom ela, a morte... a!... mas esta ansya de
207
abrasá-lo... por um rapagão deses até enfrento a resurreysão... ainda tenno kalor
entre as pernas...
...um kalor medonno, oje... keria sair mays sedo... ese ar pezado, oje...aki no
departamento... e logo oje, ke a Organizasão está para desidir a minna promosão...
tenno sido uma morta perfeyta... nennum vestijyo de enerjia vital, espero... tudo
konforme a linnajem ker... nunka fiz nada ke dezagradase a Totalidade ke
somos... sempre tratey os inferiores komo inferiores... !Então! Não pretendo
dar nennuma konversa ao novo... Não sey porke ele me kumprimentow... Se me
pegam konversando kom ele as koyzas podem se komplikar para mim... e a
minna promosão...presizo muyto desa imajem... dese ser kom a Totalidade...
dese dinneyrinno para komprar mays koyzas... koyzas mortas, evidentemente,
antes ke me konfundam... Koyzas ke mortos de bom nível presizam manter
para konfirmar perante a Totalidade ke sua morte vay muyto bem, obrigada...
não, de mim este intruzo não resebe seker um ollar...
...e porke ele me olla agora kom tanta insistensya... não gosto dele... tem nada ke
me perguntar a kwanto tempo estow aki... se ew agwento bem o ar refrijerado
dese modwlo... o ke á de errado kom o ar refrijerado?... sem ar refrijerado o
kalor fika insuportável... kada um ezibe aos demays o orror dos sews suores...
fikamos todos kom aparensya de vivos... Kalor é para jente komo ele, ke não ker
nada kom a morte... só ker saber de viver... Ar refrijerado é uma konkista nosa,
de jente morta... permanensya eterna do frio...Sem ar refrijerado noso karáter
se dekompõe... Persebo ke este não tem nennuma xanse de permaneser konosko
por muyto tempo... A organizasão vai espulsá-lo, masã podre, a não kontaminar
a sesta... Kapaz de oje mesmo lle kortarem as bolas... espero ke sim... embora
não sinta mays akela vontade de soká-lo... ainda bem...
... ainda bem ke xamaram ele no Konsello... não podia mays suportar a
ansiedade ke ele me kawzava... o danado parese ke mexeu komigo... uma vez li
um livro, deses livros ke todos aki lêem porke todos dizem ke lêem, ke não sow
boba e sey direytinno o ke devo ler... bem, uma vez li um livro em ke um rapaz
se apayxona por uma mosa e se divertem muyto...não xegey a ler o final... mas
axo ke se divertiam muyto... axo ke morriam os doys, no final... gostaria de ter
me divertido komo eles, antes... mesmo agora, mesmo ke fose kom um vivo...
tenno um kalor no peyto, axo ke vow beber mays agwa... espero ke ningém note
esa sede ke me ataka oje...
208
ew... sowbe ke está na kadeya, vivisymo... pelo menos ew estow aki, morto... sey
não... o violão, o violão... tenno a impresão ke o jeninno não volta mays para ká
depoys desa konversa kom a Xefia...
... os mews kabelos brankos me dizem ke ele vay ser jubilado... koytado... até ke
não me paresia um maw sujeyto de todo... neses tempos difiseys lugar de morto
é disputado... kom eses modos alegres não vay ter mays nennuma xanse...
... tenno medo por ele... não, por mim... se deskobrem o ke ele me dise vão
pensar ke ele deskobriw alguma vivasidade em mim... e aí sow lansada nova-
mente ao mundo dos vivos... ay, mew tanatos, protejey-me... juro ke se ele for
embora jamays terey owtros bons pensamentos...maws, ew dise... prometo fikar
bem kietinna, bem mortazinna... até o fim dos mews dias... também!, ele é
muyto konfiado... Sol, sol, falar de sol em dia de traballo...
... koytadinno... sabia ke não ia durar muyto aki... teymozia, ese negosyo de kerer
viver... pensa ke é asim?... vay entrando, enkarando a jente, dizendo koyzas, me
deyxando aflita... Bom ke se vá... já me akostumey à minna morte e nem fillos
tive ke é para não ver sinal de vida... estow bem komo estow... podia akabar me
apayxonando e transtornando a todos ke me konnesem komo sow... trankwila,
serena, Muller serya ke vivo só para a minna funsão... lá um amante ow owtro,
esparsados, bem mortos...isto oje se permite mesmo a uma solteyrona komo
ew... Mas deyxar a vida entrar em mim, iso nunka!... ainda bem ke o demonyo
vay embora...
...ainda bem ke tudo voltow ao normal.... ainda bem ke não sinto mays kalor
nennum entre as pernas... ainda bem ke não vow ter mays ningém enkostado em
minna meza... me ollando nos ollos... e me deyxando kom akela espesye de
inkontinensya urinarya... e ainda bem, tanto mellor...
...sey não... o kara era mesmo paresido kom o jeninno... kem sabe até gosta de
uma viola... vay ver vay daki direto para a gitarra de owro komprar uma novinna...
209
tem uma voz barítona igwal a do jeninno... kem sabe o jeninno não say da kadeya
e não formamos uma bela duma dupla violeyra?...O kara falando em sol... jeninno
gostava de tokar violão na praya... e se ew também fose kom ele?... a jente podia
formar um belo dum grupo de violas... sey não... ew e jeninno, a jente já tinna
muyta intimidade muzikal... sey não... mews dedos têm boa pegada prum
dedillado, não foram feytos para fikar batendo tekla... sey não... iso de morrer
pode ser muyto bom para eles... para mim, nem tanto... Maria Kristina, ke ainda
é muyto da injenwa, mas muyto da viva, vem dizendo ke já não sow o mesmo...
ke estow sempre falando das koyzas daki da Organizasão... ew, ke sempre faley
dos kabelos dela, dos ollinnos sonsos dela, das koxas dela, do resto... ew, ke
antes de xegar aki não perdia uma noyte de ver estrelas... sey não, sey não... á
kwantos dias não deyto kom Maria Kristina?... sey não... sey não... tem uma
muzyka... axo ke se ew korrer... ainda alkanso o jeninno dessendo as eskadas
para a vida...
Deliryo pós-antropofajyko n° 21
Dizer ke o poema muzikado (a lyrik)
não pode ser poezia
é o mesmo ke negar toda a poezia liryka da gresya klasyka,
bem komo toda a produsão poetyka dos antigos provensays,
das kways a poezia liryka moderna é inteyra kontinuasão.
Se toda poezia kontém nesesariamente melodia,
toda kompozisão ke reúne arte muzikal e arte poetyka
apenas torna mays esplisyta, e ezuberante,
a armonia de toda poetyka.
Mas, é klaro, sempre estamos falando de poezia
210
Multyplas Fases
211
Fragmentarya
Xega um tempo em ke
Todos os amigos já trairam
As mulleres nem tanto kwanto poderiam
E os institutos de fazer o mundo mays umano
Te eskluiram
dos butins ke mesmo só a eles kaberiam
212
Fragmentos Kariokas
...já a minna voz não se kala
à toa
senão kwando uma sua, nua
owtra voz
soa
213
...Á O Xeyo
Á O Vazio
Á O Muyto Mays Ke Iso
214
Se no agora não dá pra Ser
Senão Punneta
Dos Xulos Pasos
(! ó kamaradas! ó kamareyras! )
215
Rekado ao bom leytor
Deliryo pós-antropofajyko n° 81
Sim!
Ew vi a estrela flamejante no Séw até mim
kwaze ao alkanse de kwalker mão
Feyto um simyo em estinsão/ abrasey sew brillo, tamanno e kor
Feyto um simyo em estinsão, ew vi a estrela flamejante
oazys/ em meyo à dor
216
Mas Sempre Á Deses Bares, Lugares
Onde Se Pode Ir
217
Mas sempre á deses bares, lugares, onde se pode ir
Enkontrar desas ke se abrem as pernas
a implorar por salvasão eterna
prometendo ke o maxo é o maxo
em troka de karne e alma
Deliryo pós-antropofajyko n° 82
Não kero ter partido, nem kero ser inteyro. Kero ser, fragmentos
(o poeta, tentando saber ao ke serve politykamente
218
Korasão Karioka
O mew peyto tem palmeyras
Também kantam sabiás
Tem um pendão awriverde
Um sol ke nasse no mar
219
Tem um Kabo das Tormentas
Estreyto de Jibraltar
Tem um Kaminno pras Indyas
Nuas a me konvidar
220
Os sizos e os rizos
Para A Ágora
e nada mays somos senão ágora
221
Kama
Antropofajyka
Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta
Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta
Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki
223
Klones
Dasvitxe!, my druge!
Dasvitxe!, my druge!
Dasvitxe!, my druge!
Dasvitxe!
224
Viajem ao séw
225
Korpo-Santo
226
Nó no peyto
porke tinna um nó no peyto, difisyl de dezatar
subiw korrendo as eskadas, direto ao ultymo andar
porke tinna no ollo a muller, difisyl de namorar
subiw ao kume do predyo, sem xanse de se salvar
porke tinna na voz a mágoa, imposível de se gwardar
gritow pro mundo a fera, ke não se deyxa enjawlar
porke tinna na alma a idade, ke nunka ningém terá
abriw largo largas azas, ke não lle deyxavam andar
227
Ezistensialismo
Dews eziste
Ela eziste
Kem não eziste é vosê
Dews eziste
Ela eziste
Kem não eziste é vosê
228
Xuva Sobre o Mar
Era um deses momentos logo após o amanneser
Em ke um sol ainda palydo komo um bebê resém xegado
Sendo bannado ao mar, lavado das rubras tintas de um parto
Vijiado de perto pela estrela da mannã...
Um deses momentos em ke se espallam pelas agwas
gotikwlas rutylas de luz misturadas
às espumas brankas das ondas, suaves
Ke a todas beyjam e abrasam mesmo as fasam, doses, morrer...
Um deses momentos em ke se paseya pela praya, as mãos dadas
Talvez um fim de noyte
Em ke uma lua mesmo kansada se deyxa fikar
A gozar mays um powko antes de dormir...
Talvez um inisyo de tudo, um enkontro fortuyto
Komo uma flor nassendo de um muro
Uma espesye de sonno
Do kwal não se ker ainda akordar...
Um deses momentos em ke ela o faz sentir-se tolo
Largados na areya, kalados, os korpos separados
Mas as almas, mãos dadas, beyjando, akarisiando
Até ke o gozo imenso nassendo do sekso dos anjos...
229
Minna Muller Fotografa Flores No Jardim
230
Intelijensya Poetyka
231
A Lammpada
232
Marmita de Bordões (As Azas no Tew Ollar)
Klones rondam por aí, vosê não vê... São tão igways
Money y Fama por aí, mays ke viver... Mays, muyto mays
Navegando por aí, enkontro vosê... Até nunka mays
Por enfim, vosê talvez não... Sakrifikow todo o dezejo... Dos karnavays
Ew kero enkontrar vosê, tentando eskapar... As azas no tew ollar
Mexe daki, mexe dali... E mexe daki, Mestre Dali
Mestres daki, mestres de lá... Pesoa dos versos de Bach
(Resitativo) Enfim foy deklarada a kasa às estatuetas
Mas as esfinjes de Rodes
Mas vosê não partisipa dese evento, vosê ker
A maravilla sem o moneymal, vosê ker
Ser normal, ser anormal, animal Globalizado, global
Torsendo pelo Brazil... Brazil, Brazil...
Vosê ker akreditar ke não Sakrifikow sua vida Aos pés de um altar
Kwalker altar...
Vosê ke se diz poeta, artista, pensador Sofre kom a mesmise
Imposta por tabloydes, modas, glozas Do kontinente yanke-ewropew
E esa midya opresora, imoral, kanibal Ke devora vorazmente
Tua Marmita de Bordões
Deklamasão de Kipling: Se és kapaz de manter a tua kalma...
Mas mexe daki, mexe dali... E mexe daki, Mestre Dali
Mestres daki, mestres de lá... Pesoa dos versos de bar
(Resitativo) !Í! Kwal é a tua, brôw? Vay prokurar tua foking tribo
Fika dando uma de Kristo, pagando miko...
De intelektual...
Vosê não konnese os misteryos da literatura osidental
Vosê, ew rekonneso Tem muyto estômago
Para komer, saborear, degustar Esas marmitas de bordões
Mas ew só vim aki para dizer Não kero saber tew ollar De avestruz
Kero tew ollar de agya-jêmea Kero o tew ollar de azas
Viajando trás-os-montes De Nova Igwasu Minna Paragwasu
Ew sey ke vosê não kumpriw o ke prometew
Ke anda dekorando o Novo Testamento Segundo São Matews Primeyro os sews
Ke tem novas verdades do sew Salvador O Kristo Verdadeyro
Mas por favor não me diga o nome dese sew pastor
Mas mexe daki, mexe dali... Kuyda dos tews bordões
E mexe daki, Mestre Dali... Só a Xina é filozofal
E tem O Bem, e tem O Mal... E tem Talvez, talvez não sey
Os segredos de um futuro virtual
233
E esa kabine lowka de viver Sem jamays mereser O Amor
E esa kabine lowka de sofrer Ke se xama Poema, poeta
Ke se xama Poema, poeta
Á um bando de esfomeados Não sabem degustar
O ke é Literatura A Poezia A Eskultura
Noso amigo Ildebrando No sew atelier Varjem Pekena Rekreativa
Sonna um dia Ter o sew nome gravado Na eskultura mundial
Igreja Imakulada Konseysão... Imakulada Konseysão... Imakulada...
Imakulada Konseysão
O anjo de azas foy eskulpido Por Ildebrando, um eskultor
Um artista osidental
Mas mexe daki, mexe dali Mestres de lá, mestres daki
A dizer vosê não Aki Não é a sua praya
Tezão Inspirasão...Nunka mays Nunka, nunka, nunka, nunka mays
(Resitativo): Enfim akabow a kasa às estatuetas, levaram todas
Lowkos, nozotros, meros manés Mikelânjelos meresem...
Deskansar em paz
Mexe daki, mexe dali Mestre Dali, mestres daki
E as azas no tew ollar
Deklamasão de Camões: Kem vê, sennora, klaro e manifesto...
Ew só kero enkontrar vosê Tentando eskapar As azas no tew ollar
Mexe daki, mexe dali Mestre Dali, mestres daki
E as azas no tew ollar As azas no tew ollar As azas no tew ollar
As azas no tew ollar As azas no noso ollar...
234
Nós de Marinneyros
Se á estrelas em nós
Tão luz ke nos fasa ir
Kanto as trevas em nós
Tão luz de nos impedir
Se á estrelas em nós
Tão luz de nos impedir
Kanto as trevas em nós
Tão luz ke nos fasa ir
A Natureza e Os Séws
Não se negam, nem brigam
Mas se apoyam e se ekilibram
Mas se apoyam e se ekilibram
Os mares e os séws
Somos nós ke navegamos
Nosos nós de marinneyros
Nosos nós de marinneyros
235
Kwando a jente pensa
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma ainda uma kriansa, xora,
rola o berso de terra, estende os brasos e pede: Mamãe! Mamãe!
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma filla de pays separados, pede,
reklama, mendiga, às vezes grita: Pay e mãe! Tennam piedade de nós!
Pay e Mãe! Tennam piedade de nós!
E toda esa grizalla barba na kara, as rugas,
A papa sob os ollos, eskuros, o álkool e o fumo
Os nervos gastos, todos os sapos, lagartos da fala, sonnos largados
amantes antigas, meninas felinas, vadias
As ordens vindas de sima, esa indagasão
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
O sange lateja de volta, as kavernas têm jelos ke a jente não vê
Omem ke ama reseya a folla primeyra sem rekonneser
Muro, muralla se abre, eskankara, sem ke aja nada a perder
Vida flutua do owtro lado da lua solta no além
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma ainda uma kriansa, xora
rola o berso de terra, estende os brasos e pede: Mamãe! Mamãe!
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma filla de pays separados, pede,
reklama, mendiga, às vezes grita: Pay e mãe! Tennam piedade de nós!
Pay e Mãe! Tennam piedade de nós!
E toda esa grizalla barba na kara, as rugas
A papa sob os ollos, eskuros, o álkool e o fumo
Os nervos gastos, todos os sapos, lagartos da fala, sonnos largados,
amantes antigas, meninas felinas, vadias
As ordens vindas de sima, esa indagasão
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
Nem mesmo a malvada azeda o gosto da kowve, o torresmo e o feyjão
O pernil asim veyo de um porko afogado por serto em muyto limão
Papo de anjo, kafé, o xaruto e a garapa de nome Beyrão
Tanto ke somos amantes errantes Bonita e Lampião
Kwanto mays a jente pensa ke envellese
236
BEAUTIFUL MAIRA
Á um novo shoping
Multiplikam-se os kanays de TV
Somos todos magos, magros de fé
Alguns esperam milagres loterykos
Owtros agwardam Ets
Satelytes trasam estradas
E a voz viaja pelos kwatro konfins
Nada mays á ke pensar
Somos átomos,
Molekwlas
DNAs
Pasem in Terra
Gerra nas Estrelas
237
Te Xamey
Te xamey, por ke ke sê não veyo? Te xamey, por ke ke sê não veyo?
Te xamey, por ke ke sê não veyo?...
Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey
Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê...
Nuvens plúmbeas bayxam sobre a sidade e dansamos boleros
Em nosas novas nupsyas... Tangos bandaleonykos
Ao sabor dos instintos Komo se xegada a ora dos juizos
Pasos firmes para os niilismos...Narsizos Todos os ritmos éramos
Owvidos insinseros Lowkos xapews napoleonykos... Éramos
Bumbas-mew-boy, Bergmans/Nietzsches, Batmans, Beatnicks, Novos Hippies,
Meninos de Hitler, Vampiros, O Sio dos Bandidos, Barkeyros dos Infernos,
Punnos Metaleyros, Soft Dreams, Heavy Trips, Noytes do Sem-Fim, Peste
de Camus, Primos de Kaim, Ferros de Ferir, Kopos de Botekim, Mulas Sem
Kabesa, Sasis, Morganas e Merlins, Simyos em Festim, Fuzis
E uma inosensya imensa imersa em destruir o ke resta desa besta-fera...
Apelidada Amor
Te xamey, por ke ke sê não veyo? Te xamey, por ke ke sê não veyo?
Te xamey, por ke ke sê não veyo?...
Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey
Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê...
E nós? E os nosos nós?
Nós, ke keríamos ser Humphrey Bogart e Ingrid Bergman
Rindo Num konversível vermello Pelas prayas do nordeste brazileyro
Rindo e fazendo, fazendo, fazendo... Amor nesas terras do sem-fim
Nós, ke keríamos ser Amerikan Stars, Amerikans Stars, ke sabem viver
E não esas Kabesas Kortadas Mizerya da rasa
Kristos sem jasa para o prazer
Keríamos ser apenas um homme et une femme
Jean-Louis Tritgnant/Anouk Aimée
Naturellement Bons
Te xamey, por ke ke sê não veyo? Te xamey, por ke ke sê não veyo?
Te xamey, por ke ke sê não veyo?...
Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey
Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê...
238
O Poeta
239
Indyses
Kama Antropofajyka
(Aos Urros, Gritos, Rizos e Jemidos dos Tambores das Tribos)
O Verso Pós-Antropofajiko....................................................................................09
A Lammpada............................................................................................................18
Libelubrykas..............................................................................................................19
Sérbero.......................................................................................................................19
Kafé da Mannã.........................................................................................................20
Deliryum Tremens...................................................................................................20
Pura Poezia................................................................................................................21
Amor Platonyko.......................................................................................................22
Rubayata....................................................................................................................22
Mikrofizyka do Poder..............................................................................................23
Teoria.........................................................................................................................24
Tropyko de Venws...................................................................................................24
Uma Owtra Jeografia Ew Kanto...........................................................................25
Prokura-se Uma Muza............................................................................................26
Elewzys......................................................................................................................26
O Mays Ke O Perfeyto............................................................................................27
Korpo-Santo.............................................................................................................28
Kantilena de Grumete............................................................................................28
Sange Brazileyro.......................................................................................................29
Labirinto....................................................................................................................30
Red Aunt...................................................................................................................31
Ino à Dewza..............................................................................................................32
Priapykon.poe.br.....................................................................................................32
A Faka de Izys..........................................................................................................33
As Bakantes...............................................................................................................33
Lobizomem...............................................................................................................34
O Burako da Agulla.................................................................................................35
Fronteyras..................................................................................................................36
Kaza Devoluta..........................................................................................................36
Tempo Frijydo..........................................................................................................37
fimdekazo.kom.........................................................................................................38
240
Retiro de Salomão....................................................................................................39
Sinkronia...................................................................................................................40
Vôo Sego...................................................................................................................40
Mayakóvska.................................................................................................................41
Kastellanas n°1 ........................................................................................................41
Kay ............................................................................................................................42
Entre as tuas pernas kwaze/kwaze fuy um dews................................................42
Klarise.........................................................................................................................43
Καθεδρα Χαλαρα................................................................................................44
Non Sense ................................................................................................................44
A Luta Korporal.......................................................................................................45
Kwotidianus, a, um .................................................................................................45
Ermafrodita .............................................................................................................46
Amor Apaxe ............................................................................................................47
Na Estasão do Metrô..............................................................................................48
Bar Garoto das Flores ............................................................................................49
Araknídea...................................................................................................................50
Para Sempre A ma la ..............................................................................................51
Os Fios da Urbys ...................................................................................................52
Vida Poetyka............................................................................................................53
Raykays Kariokas 1..................................................................................................53
Nature Oblije............................................................................................................54
Raykays Kariokas 2..................................................................................................54
Pur apréender le trotoar .........................................................................................55
Lar, Dose Lar............................................................................................................55
Vero Térreo Amor...................................................................................................56
Das Komezinnas Verdades Kotidianas.................................................................56
Momento...................................................................................................................57
Xaleyra no fogo........................................................................................................58
Sirkols Song..............................................................................................................59
Raykays Kariokas 3..................................................................................................59
Petrifikasão................................................................................................................60
Poezia Kom Kreta....................................................................................................61
Vem ke não te alkanso.............................................................................................62
possiensya literarya..................................................................................................63
Intelijensya Poetyka..................................................................................................64
Kantilena de Exu.....................................................................................................64
O Portal.....................................................................................................................65
241
Silensiozo Kanto......................................................................................................67
Kontradansa.............................................................................................................67
Ipanemia...................................................................................................................68
Enterrem Mew Korasão Nas Kurvas do Rio......................................................69
?mas vosê não me apresia os versos?...................................................................69
Owtono Frio de Mayo............................................................................................70
Minna muller fotografa flores no jardim.............................................................70
No Satisfekxion........................................................................................................71
(Ora, direys, amar formigas)...................................................................................72
Maldonor...................................................................................................................72
?Onde Estão Os Nosos Sonnos?...........................................................................73
Senas Modernas........................................................................................................74
PAYXÃO LOBA......................................................................................................75
Viajem Ao Séw..........................................................................................................76
Nem medo, nem owzadia.......................................................................................77
Fogos-fatwos.............................................................................................................78
Omo Omini Lupus..................................................................................................79
Rio 50°.......................................................................................................................80
Jângal Bell..........................................................................................................................81
A Klase Medya Vay Para O Paraizo.......................................................................82
Ponte Aérea...............................................................................................................87
Porke tinna um nó no peyto...................................................................................88
Pó de Pir-Lim-Pim-Pim..........................................................................................89
korkovado..................................................................................................................89
Deliryo Plúmbeo......................................................................................................90
Umws.........................................................................................................................91
Vida Literarya...........................................................................................................91
Kada palavra é uma serpente..................................................................................92
Porke dobrey-me sob sews ollos tão mel..............................................................93
Konsilyo de Trento..................................................................................................93
Safo............................................................................................................................95
Bilitis..........................................................................................................................95
O Kão e a Gata........................................................................................................96
Objetividade poetyka...............................................................................................97
Teoretyka...................................................................................................................98
Ezistensyalismo...........................................................................................................98
Central Park, Wine and Snow.................................................................................99
Nada, nada me komove mays...............................................................................100
242
Korpo Antropofajyko............................................................................................100
Verbo........................................................................................................................101
Pudisisya..................................................................................................................102
As Brumas de Avalon............................................................................................103
...para-!íso!...............................................................................................................103
Kambaxirra.................................................................................................................104
Esgrima...................................................................................................................105
Femyna Omini Lupus............................................................................................106
Agwas de marso......................................................................................................107
Ao Movimento da Barka.......................................................................................108
Lunasão....................................................................................................................109
Meras Konjekturas, Boas Vindas Talvez.............................................................110
Da Ensiklyka Poetyka............................................................................................111
Amor sem metáforas.............................................................................................112
Zoolojyko Intymo..................................................................................................113
ad infinitum ad nawzeam......................................................................................114
?A Kwal Lingwa Prometi Mew Korpo?..............................................................115
Sol Eskuro...............................................................................................................117
Borbolífera...............................................................................................................118
Bem-te-vis...............................................................................................................119
A Poezia vale mays ke trinta mil dinneyros........................................................120
Krityka poetyka......................................................................................................120
Os Arpões de Eros................................................................................................121
O Poeta Antropofajyko.........................................................................................121
Pezos e Medidas.....................................................................................................123
Kama de Solteyro...................................................................................................124
Amor Ezekutivo.....................................................................................................125
Tew Retrato.............................................................................................................126
Klara Lutxy..............................................................................................................127
Mediunyko...............................................................................................................128
Tranzes Tranzytos..................................................................................................128
O Inferno de Ékate................................................................................................129
Meya-Noyte.............................................................................................................129
Kanto Pós Demokryto e Eraklyto.......................................................................130
Dialogos Amorozos n°11.....................................................................................131
vida de poeta...........................................................................................................132
O Alimento das Gaivotas......................................................................................133
Menina Mosa..........................................................................................................134
243
A vida tal kwal não é..............................................................................................134
Só a morte é unívoka.............................................................................................135
O Ultymo Bigwá....................................................................................................136
Kravo de Marte......................................................................................................137
Vika..........................................................................................................................138
Devosão..................................................................................................................138
A Perfect Beach For A Bananafish......................................................................139
Kintanise..................................................................................................................140
Intuisão...................................................................................................................140
Bateya.......................................................................................................................141
?There Are So Many Questions, arent there?....................................................142
Eskatolojia...............................................................................................................143
ISTO NÃO É UM POEMA................................................................................144
gata sem kalsa na sala............................................................................................145
Luminaryas..............................................................................................................146
Aborto.....................................................................................................................146
Entredentes.............................................................................................................147
Hölderlin.................................................................................................................147
Diálogos Amorozos n° 207..................................................................................148
Mizojenias................................................................................................................149
Subyto akorde.........................................................................................................150
Poemeto em si bemol............................................................................................151
Lenga-Lengwa........................................................................................................152
O Sorrizo do Anjo.................................................................................................153
Tenno Muytos Amigos..........................................................................................154
Villa, T.S., os meninos, Maira...............................................................................155
Περι Ποιητικη........................................................................................156
Dejelo........................................................................................................................157
Matematyka.............................................................................................................158
Mizojenias n° 2.......................................................................................................159
As Novas Muzas..........................................................................................................160
Ferrajaria Poetyka...................................................................................................161
Gerra e Paz.............................................................................................................161
Fez ke se fez uma naw interestelar.......................................................................162
Kwatrillo Owtonal.................................................................................................164
Keda-de-braso........................................................................................................164
Ritual de Vestir.......................................................................................................165
Epistemolojyko......................................................................................................166
244
Moyra........................................................................................................................167
The Fairy Queen....................................................................................................169
Um Graal................................................................................................................170
Omo Simbolykws...................................................................................................170
?dás a iso o nome de amor?..................................................................................171
Lojyka Metaforyka.................................................................................................171
Epistemolojias.........................................................................................................172
Kafé solúvel, leyte desnatado...............................................................................173
Its Up To You........................................................................................................174
Mew Reyno Mefistofleno......................................................................................175
Treppo, ergo sunt...................................................................................................176
Espreso 999............................................................................................................177
Pós-Solidão.............................................................................................................178
Maturidade..............................................................................................................179
O Poema e A Letra................................................................................................180
Duas Oras da Mannã.............................................................................................181
O Relojyo.................................................................................................................182
Esas Follas Ke Kaem............................................................................................184
Νοµων............................................................................................................................185
Não Averá Paiz Nennum......................................................................................186
Korasão Inesperto..................................................................................................187
AKATÍ.....................................................................................................................188
Rekaida.....................................................................................................................189
Ministeryo................................................................................................................190
Ministeryo n° 2.......................................................................................................191
Noz de marinneyros..............................................................................................192
Korpws Kristy........................................................................................................193
Semypoeta...............................................................................................................194
Esse papo já está pra lá de kwalker koyza..........................................................195
Antes ke...................................................................................................................195
Intelijensya Poetyka n°2........................................................................................196
As Serdas da Lira....................................................................................................197
Para Enxergar À Noyte.........................................................................................198
A Poezia é O Verbo...............................................................................................199
Ezistensialismo n°2................................................................................................200
Révéyllonlatyon.......................................................................................................200
Signifikansyas...........................................................................................................201
Nada Mays Ke Poeta.............................................................................................202
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vida de poeta n°2...................................................................................................203
Ermenewtyka..........................................................................................................204
Debayxo das rodas.................................................................................................205
O mel dos mortos..................................................................................................206
Multyplas Fases.......................................................................................................211
Fragmentarya..........................................................................................................212
Fragmentos Kariokas.............................................................................................213
Rekado ao bom leytor............................................................................................216
Mas Sempre Á Deses Bares, Lugares Onde Se Pode Ir....................................217
Korasão Karioka....................................................................................................219
Os sizos e os rizos..................................................................................................221
O Poeta....................................................................................................................239
Kama Antropofajyka
VERSO VOZ VIOLÃO
Kantilena de Exu...................................................................................................223
Klones......................................................................................................................224
Viajem ao séw.........................................................................................................225
Korpo-Santo...........................................................................................................226
Nó no peyto............................................................................................................227
Ezistensialismo........................................................................................................228
Xuva Sobre o Mar..................................................................................................229
Minna Muller Fotografa Flores No Jardim........................................................230
Intelijensya Poetyka...............................................................................................231
A Lammpada..........................................................................................................232
Marmita de Bordões (As Azas no Tew Ollar)...................................................233
Nós de Marinneyros..............................................................................................235
Kwando a jente pensa...........................................................................................236
Beautiful Maira.......................................................................................................237
Te Xamey................................................................................................................238
246
KAMA
ANTROPOFAJYKA
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