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Paulo Bauler

Kama
Antropofajyka

Antigo Leblon/Antropófagos Erótykos

1
Copyright by Paulo Fernando Bezerra Bauler

Editor: Érico Braga Barbosa Lima


Edição musical do autor
Ilustrações: fotos de desenhos e aquarelas de Elizabeth Kasper
Figura incidental: arte sobre estatueta Inca representando a fertilidade da terra
Capa do autor
Editoração do miolo: Humber to Mello
Impressão do CD: Estúdio Manhattan
Acabamento e impressão: Marques Sar aiva Gráficos e Editor es

Kama Antropofajyka e Antropófagos Erótikos são marcas do autor devidamente registradas


nos órgãos competentes.
Todos os direitos sobre as composições reservados aos seus respectivos autores.
O Cd anexo é parte integrante da obra, não podendo ser comercializado separadamente.

B34k Bauler, Paulo, 1948 -


Kama Antropofajyka / Paulo Bauler / (Ilustrações Elizabeth Kasper),
Rio de Janeiro: Antigo Leblon; Antropófagos Erótikos, 2005.
248 p.; 23cm.

ISBN 85-98513-04-0

1. Poesia Brasileira. 2. Música Popular - Brasil. I. Título

04-2077. CDD 869.91


CDU 821.134.3(81)-

Impresso no Brasil.
2005

Edições Antropófagos Erótikos


Rua Eduardo Collier Filho Quadra 73 Lote 7
Maramar, Recreio dos Bandeirantes, CEP: 22785-340.

Editora Antigo Leblon


Tel.: (21) 2274-1236
e-mail: suarez@msm.com.br

2
Às Muzas Antropofajykas
Aos Antropófagos Erotykos
e A kem Interesar Prozas
Pós-Antropofajykas

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KAMA
ANTROPOFAJYKA

Aos Urros, Gritos, Rizos e Jemidos dos Tambores das Tribos

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6
...porke o omem é um animal poetyko...
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O Verso Pós-antropofajyko

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Kom este vinno, embriagando a tarde kwal domingo
Ergo um brinde ao mundo, sonnado e prometido
Subyto vindo a mim la de kwal futuro
Algo asim komo um mutwo de um Dews distante

Kwaze serto o mundo ke selebro não será para vosês, sisters


and broders
um mundo dos sews propryos sonnos prodygos.
Kisá nem será mundo ese tal mundo, mas
ao estalar da lingwa logo ao primeyro kopo - dele, ese owtro
mundo
Alguma sidade, bayrro, ow simples vila
Deserto será, my sister, my broder
Do voso inteyro agrado

(Se asim for não se akanne, my dear


Ke por lá avemos de lle akomodar)

No passport, para este mundo, no viza


and tax free.
Nem armas nem barões asasinados,
Pas de politike, even demokracy
ke em tal mundo kada kwal goza o ke pode
Kada gozo regam flores gozem mays
Sim, sisters and broders, kom este gole - tinto, seko e
karpinteyro
Enxo mew tinteyro, de kores, de sons - inkluzive o silensyo

I tell you the truth: ese tal mundo ew ka não invento


posto ke já posto ao pensamento largo
por tantos kwantos à sua ágora pertensam;
Uma suma kosmolojyka, talvez, ew faso
(Não ke seja de todo nesesaryo)
Talvez os trasos deses atlas mays apago
Dese tal mundo ke em verdade nada invento

Posto ke já posto ao modo estreyto e vasto


Ke a imajinasão konsede, a kem terrákeo
Dews dew azas de universo:

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O revólver de um lado, a garrafa
tombada e a larga makwla à toalla sudarya
o sange de um kristo e espinnos krusifikso desas todas noytes
E a sinza espallada, e as pontas
fedidas de um sinzeyro virado, e tudo o mays
ke faz o senaryo latino dos desvarios, esa rasa xeya de nervos
de orgullos feridos, sensível, sussetível ao mays leve deskazo
de Venws

A kara no espello akorda a kara ke olla


e não kondena a kara ke o pensamento olla
kompreendendo a kara ke mora na alma
Nem de lonje a kara ke na rua ollam
?Kwantas karas bastam
a se ollar na kara?

É mays uma formiga na multidão de uma terra ao sul do ekwador


e nada mudará a despisiensya de kada kwal.
Mas isto é o espello; o verso é ke se sabe estranjeyro
já ke um Unyko
de imposível enkayxe
nese puzow de karnes
em ke se elabora a espesye
ke um dia para allá será

Ineksorável destino, insipiensya, irrelevansya


E ele observa a abóbada seleste azulmarinna, sempre eskura
mesmo à toda luz da lua, kada vez mays eskura
sempre a mesma paizajem, as estrelas
se repetem em sew piska-piska
vagalumes prezos na grande vidrasa de Dews

E já ke os séws sempre se repetem


Ollar para o bayxo xão é talvez a saida para não se morrer de tedyo,
-ele kaminna e pensa, sem krer
em absolutamente nada do ke sew pensamento, até porke
de tudo rezulta um novo devir
As jiganteskas mudansas kwantitativas levam às imperseptiveys mudansas kwalitativas
Ke só se observa em lentes voltadas para tras

12
Mas é o Absoluto das koyzas inatinjiveys
das koyzas inesgotaveys
das koyzas impropryas aws umanos
das koyzas ke pertensem aos dewzes

Enfim, é o Absoluto o Unyko ke importa

Por tudo iso a vida se torna um fardo, leve ow pezado


sempre kwalidade de fardo, embora
aja prazer no fardo, vez em kwando
ao se komparar os pezos
e os lasos

Por iso o revólver sempre apontado


Por iso o vinno derramado
As sinzas de sigarro, e o xoro mofado ao fundo

Por iso ke as karas nos espellos nem se sabem mays:


Desde ke enterrow o ultymo dos Absolutos e agora
Gwarda rankor de si mesmo, mas
Sege determinado
O mandamento namber wann do diabo:
Odiarás o tew prosymo komo a ti mesmo

Mas isto ainda não é o revólver, isto ainda é o vinno


e o trago, sange e espinno

O sol lambia as areyas e os korpos e as espumas das ondas


E o verde das agwas mays para allá, e o azul do séw mays para allá
E as illas ao lonje, e a linna reta e kurva do orizonte
E tudo é mesmo sempre mays para allá
?Ke importa? Igwal se pasa kom ele, ?não é ele
também mays, muyto mays, para allá?
De si mesmo, de todos, tudo kwanto
esbarre kazual, ow ke a vontade subyta
keyra agarrar

13
Komo agora, ke as palavras
e as kurvas, e os kabelos ao vento
e lle parese às vezes estranno, tão estranno
ke ela lle keyra, Ke ela lle keyra para kwalker algo
e é ainda mays estranno ke ela lle keyra para a karne
Poys toda a vontade se devia enserrar no Unyko, e ela
devia apenas deyxar-se para a vontade
do Unyko, o Absoluto
razão de ser de todas as vontades, derivadas
d’A Grande Vontade Absoluta

E isto se pasa na kalsada da praya kwando pasa um jornal


ke pasa gritando:
!O Absoluto Morrew! !O Absoluto Morrew!
E ele, nem sorriw
nem sofrew

Ele olla a parte do kopo ke lle faltava e nem tinna bebido ainda a metade
kwando ela lle pede um trago
E reklama ke amargo
Sew dose, o idromel dos dewzes do olimpo
Mas tudo iso morrew

E ele, nem sorriw


nem sofrew

Uma tremwla bandeyra ao kanto eskerdo da televizão


feyta de azul, feyta de estrelas e o resto
tudo listras vermellas, e ele até gosta
não pode mentir ke não apresia as lowras madeyxas de rapunzel
ow as rózeas boxexas de uma branka de neve
e tudo o mays faz a fantazia e o sonno
palpável, posível, rózeos labyos
a kobrir de beyjos, doses beyjos
e drops, e amendoim, e xokolate e bala de menta e mel
palpaveys, posiveys, rubros labyos
a kobrir de lingwas, doses labyos
a lamber o sal, a beber o ser
akridose, animal

14
Mas tudo iso ainda não é o revólver:
iso tudo ainda é o sudaryo
No kwal se enrola o korpo poskrusifikado
Na verdade não era asim ke ele a keria ke fose, nem ela
asim o esperara o dia de ve-lo kosando a memorya
a manter na rezerva um resto de misteryo para o dia
do ke lle paresia ser o dia
da invazão da normandia

E ela lle poria em volta o peskoso kolares de flores avayanas


ela o beyjaria uma virjem dos labyos de mel
ela só keria ke fose tal no sonno
tal o sonno akordado às oyto en punto
no mesmo kanal

Para ele talvez fose a Marselleze, ow o momento fatal do gol


ow o primeyro awmento de salaryo ke um dia
lle fez akreditar ke a vida
era ao alkanse das mãos

Para ela talvez mays ainda ke o beyjo da novela, mays


ke novela não é vida, ela o sabia
talvez pudese se komparar ao primeyro gozo
kom as propryas mãos
Para ele seria asim komo a konkista da antartyda, ow
o dia em ke asertaria na loteria de bixos
(não pensava no millar)
já na dezena bastava
a se sentir um gannador

Para ela seria um powko de tudo


akressido à surpreza
da primeyra vez

Para ele seria de tudo um powko


akressido à surpreza
da primeyra vez

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Mas nem para ela, nem para ele
nada nem de lonje lembrava
a primeyra vez

Mas nem se pense ke iso já era o revólver, ke não era


Eram só as mãos
Um tanto kalydas
Avia também o rekyem mozartiano, e um serto kanto gregoriano
de ke não se lembrava o nome
Avia uma korrespondensya resebida junto kom um telegrama
sem ke fose um enkontro de kontas
Avia a ezijensya de regularizar serta burokrasia estatal
em oyto repartisões
Avia, enfim, uma porsão de ditas pekenas koyzas ke
asasinam os dias
Sobretudo, avia
a nesesidade de eskapar do asko

Mas também não se pode dizer ke nisto esteja o revólver


Afinal, todos temos nosos dias
semanas
mezes
anos
dékadas
De aflisão
angustya
dezespero
Temperado a prazer
até ke

Nese dia limpow kwidadozamente a sinza e katow


as pontas de sigarros espalladas e pos a lavar
a toalla
e levantow a garrafa, e a lansow ao sesto
E mergullow a kabesa debayxo a torneyra de agwa fria
E deskobriw no espello a kara das karas ke importava
a ensenar o drama
do sew ultymo ato
no papel de judas
da proprya alma

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Para ke tudo fose a kontento
Limpow kwidadozamente a arma kom óleo e tudo
E kompletow de balas, novas
para ke nada lle fallase
Asim komo kem sabe do momento fatal
todo valor e brillo
E por falar em brillo, abriw owtra garrafa do vinno
e vestido em kamiza e kalsa e paletó de linno, e meya de seda
e gravata de seda

E xegow à janela, na mão a tasa vermella e seka


Kontemplow lá fora
E não avia nada
Senão ke o Absoluto
O mesmo senaryo azulmarinno
As mesmas estrelas
O mesmo séw kyaroskuro
E finalmente abriw as azas de universo dadas por Dews
e voow

O revólver ainda nem era o verso

Deliryo pós-antropofajyko n° 1
Ningém é livre em solidão: eys a primeyra deskoberta poetyka

17
A Lammpada

Susurro dos Ventos Follajem Verde


Susurro dos ventos Follajem Verde
Susurro dos Ventos Follajem
verde
Xuva Kaindo
Susurro dos Ventos Follajem verde
Xuva Kaindo
Xuva kaindo
xuva kaindo follajem verde
Susurro dos Ventos
Noyte Eskura Noyte Muyto Eskura
susurro dos ventos xuva kaindo
Follajem verde
Follajem verde e A Kama
Unyka luz
Follajem verde e a Kama
Unyka Luz
Unyka Luz
Unyka Luz
xuva kaindo
susurro dos ventos
follajem verde e a lammmpada
unyka
luz
unyka
luz
unyka
luz

18
Libelubrykas
Libertas libertinas
Libelwlas Libeludykas Libelubrykas
Úber Líber Libetwlas estendidas
pregisozas meninas nas retinas
Borboletas Borbolíbertas Borbolindas
borboletando grinaldas perfumozas
Libertas libertinas
do kazulo ao kawle
do vakwo ao vento
Libertas libertinas
kwae sera tamen

Sérbero
oje
não invento o verso
não kojito a proza
não teso elojiozos fios
a nada

apenas espero
(sérebro enkollido)
ke o kantyko
de tão fundo e sentido
rebelde irrompa

sozinno

19
Kafé da Mannã
distraida
um fio fino de kabelo longo
a mão eskerda kolle ao akazo
dos tapetes solitaryos

Um kalor orvalla a flor


okulta à menina dese brusko ollar

!Kalma!
rosnam-me as garras
lammynas lagrymas
d’oso e sal
...e volto à leytura dos jornays

Delirywm Tremens
?Por ke deliro, Amigo?
Porke sow brazilian
kukaraxo
Sob um delirywm tremens
In estremys

Sow ser-ke-não-pensa
Bizarre....
Apenas
Bondozas Benevolensyas
Maledisensyas
Ao Ser-Pensado

...e esas peles palim?estas já se fazem kansadas

20
Pura Poezia
Era uma fonte
Tão limpyda e klara
As agwas ke bannavam a minna yara

Não sey de onde


Se owviam
Sons de uma lira antiga e klasyka

Para ke ew fikase asim


Ao sabor de uma briza

Deliryo pós-antropofajyko n° 100


Toda a filozofia se rezume à sua primeyra indagasão: ?o ke é?
Kwando, apontando uma árvore de gallos balowsantes à briza da mannã
ensolarada, pergunto a algém o ke é, e me respondem ke o ser apontado é uma
pitangeyra, digo ke não vejo nennuma semellansa entre os sons proferidos por
ela, sua signifikasão, a palavra, kom akela árvore de gallos ke no momento seginte,
sem briza, não balansa os gallos. Se peso ke me eskrevam a palavra, esta ainda
mays se distansia dakele ser de follas verdejantes...
E okorre o mesmo kom todas estas palavras
E kom as palavras dos mews poemas
O fazer poetyko será então o enkurtamento desas distansyas de semellansas?
Enkontrar uma owtra via de signifikasões a sabermos o ke as koyzas são?
Ow o objeto do poema será, ao kontraryo, estender de tal maneyra esa distansya
ke tudo se disolva e não saybamos mays nem o ke é a koyza nem o ke é palavra
ke indika a koyza?
Afinal, o ke é o poema? Revelasão de verdades? Disolvisão de semellansas e
diferensas de modo a ke tudo reste belo? Enkurtamento ow ampliasão das
distansyas ke ezistem entre todas as koyzas?

Poys ew, poeta, não sey


E sempre ke me meto a saber, poeta não sow
Obrigo-me konfesar ke as palavras todas dos poemas estão a dizer de um mun-
do ke não sey, de algo de um mundo ke talvez nem ezista
mas ke, por algum motivo ke também deskonneso, as palavras do poema
konvidam a vizitar

21
Amor Platonyko
Por kawza de Nelida Piñon

Xegey tão perto dela Kwaze podia toká-la


O mew sorrizo, esgarsado O sew korasão de gazela

Não owzey falar-lle Kwaze susurrey sew nome


A minna mente, orjiastyka O sew kaminnar de donzela

No portão, era ainda ela Kwaze devia xamá-la


A minna voz, asoprada O sew lugar na kolmeya

Sonnando, era ela o sonno Kwaze devia soltá-la


A minna veya, inxada O sew dorso de pantera

Nunka mays a vi Kwaze devia eskesê-la


O mew sorrizo, apagado O sew mundo de novela

xegey tão perto dela


kwaze kem sabe lambe-la
xegey tão pertinno dela
kwaze devia matá-la

Rubayata
Kintesense
Dezayre
Delixiows ventre kaliente
Ay fawnded

es yet may love


soft keyje
silky soleil
…laing intakt

22
Mikrofizyka do Poder

Enkwanto fusas tolos fukowts


ew te fuso os mowkos
owvidos moxos

Poys ke a tua alma


maxa/mente okupada
não te silensia os poros, os todos
os sonnos e os sonsos
do femyno korpo

Enkwanto fusas fukowts


ew te fuso os mukos
ao obvyo muskwlo
dese mundo bruto

Fusas fukowts
(?e ew kom iso?)
te dobro os sinos
do natural esforso
te kobro o sizo
do feminino korpo

Deliryo pós-antropofajyko n° 39
O visyo da bondade é o pior de todos os visyos ke espreytam o poeta

23
Teoria
Se o asannar das azas
de uma borboleta
na Oseania
São kawza de um terremoto
no Japão
Espero, sinseramente espero, minna kerida
Não kawzar nennum abalo
Nas barbas mays distantes do Universo
Kwando agarro tuas ankas por detraz

Tropyko de Venws

Poys é, sow um kara asim, muyto, muyto romantyko


O ke não ker absolutamente dizer
não ser semantyko
Fikey no verso Não kis ser fizyko, alkimyko
Fis rimar kwando kom kwantyko, e portanto
Não Vennam Me Ensinar Kantar Mew Kantyko

poeta me fis asim Um Ser Estranno


poeta-yoge, buskey ser poema tantryko
Sonney viver um vate dos antannos
Ao mesmo tempo Kosmyko e Terrákeo

Tenno noytes não/sim Tenno dias sim/não


Alguns, ke sow verbos demays: ?Ke vozes sow ew?
?Kways anjos? ?Kways kotidianos?
Entredentes o mundo jira !Mentira!
Ele é parado

Poys é, sow um kara asim, sempre, sempre muyto romantyko


O Ke Não Ker Dizer Ke Sow Otaryo

24
Uma Owtra Jeografia Ew Kanto

Uma Owtra Jeografia Ew Kanto A Kada Verso


Ser Poema, Poeta, Poyetyko
O mew korasão empresto
mews pezos, mews metros
Ao sew korasão detrás os ferros

Ao sew korasão
Prinsype ow Mendigo
Feya, das diáfanas estetykas
Bela, das rekondytas feyuras

Empresto igwal mew korasão


Ao torpe e Ao eroy
Das kotidianas lutas

Poys se pertenso às alturas


Não me meresam meskinnas partituras
Antes me umillem, albatroz de Baudelaire
Ow mews kyaroskuros mimem

De kwalker modo, amigo, amiga


sow sempre o poeta:
Adoro mimos

Deliryo pós-antropofajyko n° 4
Não á poezia sem pekar kontra a palavra já posta, a saber, in-posta. A palavra
espresa o mundo tal kwal está. Não se muda o mundo sem ke se mude simulta-
neamente suas palavras. Por iso os relijiozos konservadores prezam tanto “a
palavra”, uns; e kwanto a sua interpretasão awtorizada, owtros. Definitivamente,
o poeta é um ereje. Um ereje a serviso de Dews (Poyetyka

25
Prokura-se Uma Muza

Prokura-se uma Muza, apayxonada e lowka


De dezejos De trejeytos De toda maneyra
Ke seja boa mosa, apayxonada e boba
Na insufisiensya do amor dos ebryos

Ke paseye de mãos dadas, numa korda bamba


Ke se abra de repente Ke me beyje a boka
Ke se fasa de inosente Ke se fasa tola
E tão logo asim ew xege, fasa a kama pronta

Fasa-se de Gata Fasa-se de Onsa


Fasa-se de Serya Fasa um faz de konta
Prokura-se uma Muza, apayxonada e lowka
Poeta nesesita de uma muza tonta

Prokura-se uma Muza, apayxonada e bela


Ke um poeta nesesita da palavra atonyta

Elewzys

Kanta Poeta
Konta em versos
(sob pena de degredo)
Kwal vem a ser
A tua vera poezia

!A! Se ew pudese revelar


Tão terrível e intymo segredo
Keymaria os insensatos versos
Nunka mays ew kantaria

26
O Mays Ke O Perfeyto
Mayskeperfeyto, mays
mayskedinneyro, mays
mayskeoseyo, mays
mayskedireyto, mays
mayskeskerdo, mays
mayskespello, mays
mayskedefeyto, mays
mayskeoeyxo, mays
mayskeoventre, mays
mayskeodeliryo, mays
mayskeoséw, mays
mayskeoberso, mays
mayskeotumwlo, mays
o omem se faz
tolo e futyl
d
e
s
p
e
r
d
i
s
y
o

Deliryo pós-antropofajyko n° 5
Ao final das kontas, toda etyka presupõe uma estetyka, ke lle é sempre superior.
A derradeyra e glorioza vokasão do ser umano é tornar-se um ser estetyko; o ke
já implika numa etyka.

27
Korpo-Santo

Oje Sow Um; Amannã, Owtro


Faso-me pele e oso
Karne Karnaval Kanibal
Mews kantos kantam tews pasos dansam

Não owsam, poys, o noso verso


À minna lira unyka voz
É tua a korda, a ke arrebenta
É noso o korasão, ke se ajita e doy

A liryka viajem é o sem tempo


Umanae Vitae, moderna e antiga
Aos ferros e konkretos das enjennarias imposiveys
São tantos, os ke te disputam os pasos
Arte dos eternos Arte dos vatisinyos

O odyo ow o amor são mews, é vero


?Mas não são asim os tews?

O odyo e o amor dos versos são tews


amigo
amiga
(kompanneyros)
Fasam bom proveyto diso

Kantilena de Grumete
Badejo,
Robalo
!Lingwado de Alto Mar!
peyxinno miudo
não kero fritar

28
Sange Brazileyro

Korredeyra em minnas veyas o bom sange portuges


o mesmo de Camões, Pessoa, o mesmo de Inez

Korredeyra em minnas veyas o bom sange alemão


o mesmo de Goethe, Hesse, o mesmo de Demian

Korredeyra em minnas veyas o bom sange espannol


o mesmo de Cervantes, Lorca, o mesmo de Qijote

Korredeyra em minnas veyas o bom sange xarrua


o mesmo da Vó Awrora, o Minuano, o bom sange da lua

Korredeyra em minnas veyas o bom sange kriowlo


o mesmo da Vó Glorya, Kruz e Sowza, o mesmo dos kilombos

Korredeyra em minnas veyas o bom sange judew


o mesmo de Otniel, Zweig, o mesmo de Rakel

Korredeyra em minnas veyas o bom sange brazileyro

!A! este Sange Brazileyro, !tão bom!, ke nunka serey estranjeyro

Deliryo pós-antropofajyko n° 6
Por konta de lle konfundirem um abutre, nennuma agya deyxa de voar (o poeta,
num momento de duvyda

29
Labirinto

já ew me gio, amigo, pelos pásaros


karros sarros tragos
ew me gio, amigo, pela mão estendida
aflita medida justisa
ew me gio, amigo, pelos sons da xuva
kurva luta duvyda
ew me gio, amigo, pelo ultymo gole
toke mote sorte
ew me gio, amigo, pelo traysoeyro amor
ar/dor kalor !ó!
Ew me gio, amigo, pela palavra
velada kabala sevada

ew me perko, amiga, pela tristeza


beleza serteza leveza
ew me perko, amiga, pela karensya
demensya kerensya dolensya
ew me perko, amiga, pela estrela
teya veya xeya

ew me perko pela muller


muller muller muller

também me gio pelo ke te perko


também me perko pelo ke te gio

neses labirintos famintos atako e defendo


inda owvindo bem perto
(rayva, xoro e silensyo)
o sio dos bixos

30
Red Aunt

Tarde de domingo e os osos


os pratos, os kalyses
Vinno tinto aos fundillos, as karas todas, o sorrizo até a porta
A voz rowka se foy os seyos, os labyos
Rubros labyos inxados
As palavras, os xiados, os estalos
da lingwa no séw da boka
da lingwa nos dentes
serpente, benvinda, sefoy

Tenno ainda kinze anos


Mew kwarto Mew barko
Flutuando e o sonno
Akordado às dez
Às onze
ainda me divido, mas
Já pasa da meya-noyte
Me viro de frente
kontra o séw
e gozo

Deliryo pós-antropofajyko n° 7
Em arte poetyka, powko importa ke se peske em agwas klaras ow turvas. O ke
importa é fazer rebolar a iska

31
Ino à Dewza
seyos de vera
xota apertada na alma;
koxas de lia rolisas
jasmins paws-d’agwa;
magnifyka bunda de maira
levanta-saya;
doses labyos de magda
!mamma (e) mia!
pelos e peles de andreya
rubras sedas da xina;
!ave!, venws xeyroza
multipartida;
rekollo os pedasos da alma
tão powka a vida

Priapykon.poe.br

Mulleres nuas de diferentes pelos seyos


de diferentes bundas
mulleres nuas de diferentes pejos
de diferentes beyjos
mulleres nuas mulleres nuas multyplas nunka uma só
ke niso á perigo

Mulleres nuas brasos langydos rustykos seyos


dos grandes dos pekenos desde bem feytos
Mulleres nuas karnes nobres karnes kruas labyos
dos grandes dos pekenos rozáseos moluskos mollados
Mulleres nuas pelvys triangwlos ipotenuzas
de um kateto ao kwadrado

Mulleres Nuas Muytas Nunka uma só


Ke oje á um Príapo
Priapyko Fomijyno Jinofajyko
Resém Libertado

32
A Faka de Izys

ollos labyos seyos pelos gruta de venws


a bunda e a gruta obskura
e o falo

Ollos Labyos Seyos pelos gruta de venws


a bunda e a gruta obskura
e o Falo

ollos labyos seyos pelos Gruta de Venws


A bunda e a gruta obskura
e O FALO

ollos labyos seyos pelos Gruta de Venws


A Bunda e A Gruta Obskura
E o Falo

Ollos Labyos Seyos Pelos Gruta de Venws


A Bunda e A Gruta Obskura
e o (?) f
a
l
o

As Bakantes
as furyas me serkam os jestos
as furyas me gastam os pasos

a kabesa de orfew por sobre o piano pende


sem eyxo

Tokam a kampainna da porta


A kampainna das sete portas toka
- furiozamente -
um rekyem de Mozart

33
Lobizomem

Era improrrogável, akele amarelo-ovo


em plena lua
Batendo a porta para o nunka
Ke vagase lobizomem
Bêbado pelas ruas

A mão peluda
Eskorrendo dinneyro pelos ralos
As patas firmes de um sentawro
O sekso aflito, tabwa korrida
Em nayts-bares, estreytos lares
Muytas lareyras, powkas fornallas
Uma garganta a rosnar para o infinito

um uyvo longo, um breve


alguns ganidos

Era imponderável, akele amarelo-klaro


Já era o sol, desvendando os misteryos mays okultos
Apenas um menino, imberbe e powko sizo
- menos ainda, um berso vazio –
A korrer trôpego pelas dunas

a mão tão pekena

Deliryo pós-antropofajyko n° 86
O poeta peka kontra les uns, o poeta peka kontra les autres. O poeta ke
peka kontra le tout – !eys le poète!

34
O Burako da Agulla

Tremo e tenno
difikuldades em fiksar o ollar
Nakele korpo todo
Ke se faz pekeño
Aos kalores de um lobo

Só uma frajyl porta


Entre o tezowro e o ladrão
- A Kobisa, O Pekado -
Tremo e tenno
Masymos zelos
Kom a proprya respirasão

Traz da porta era ELA Trespaso ow não paso, o portal


Xuva, Orvallo, Xuveyro para a asunsão do mal?
A transliterar marias Toda uma vida kontida
Em traysoeyras sereyas No segundo fatal

Oseano de peles salgadas O Tempo, o templo da alma


(e ao feytio de um pirata) Tabwa (de salvasão)
Ela era A ILLA, Densa Mata
Um nawfrago suado
As fendas se abriam Subyto jorra
Se fexavam num atymo Trinka os grunnidos
Mãos de fada A eskuridão dos sentidos
Minna proprya palma o mel dos bixos
Labyos ke beyjo
Vagos pensamentos Rapydo, Afobado
Do lowko imajinaryo Aos masymos rasyosinyos
Retorno a um pasado, Apago

Vestijyos

35
Fronteyras

A noyte não enkontra o dia, tanjensia

Ainda um luar nos jardins


lambendo pétalas, afiando espinnos

Uma lua tonta kwanto a sua mão sob a minna


Só um breve rosar de linnas da vida

O dia não enkontra a noyte, afoyta

Asim nosos ollos se mollam


Nosos beyjos de lingwa
Nosas bokas distantes

(ainda agarro o pé desa kotovia)

Kaza Devoluta

Vosê se foy
A kaza fikow vazia
De vosezinna.
Muyto mays vazia ainda
A kaza fikow vazia
De mim

36
Tempo Frijydo

Não kerias ver kressidas as minnas espigas


as ke plantey para entregar às fogeyras de junno e jullo
Kwando os frios da noyte nos fazia mays prosymos
e um fogo kom sabor de eterno keymava as partes kavernozas
de todos, mosas e vellos

Não kerias ver bonitas as minnas flores


kom ke kostumávamos sawdar as primaveras
Kwando reseávamos atropelar as borboletas, amarelas
e uma briza freska e sempiterna insistia, insistia
em fazermos amor e brinkadeyras

Não kerias ver limpydas as minnas agwas marinnas


As ke reprezey na praya para o verão de brazas e suores
Kwando o kalor das noytes te fazia despudorada e nua
E um alyto kente perkorria as nosas espinnas
em kundalinykas poezias

Mas mantiveste abertos os owvidos


para o triste som das follas ke morriam
Nos owtonos dos dias, na friajem emudesida
Nas amendoeyras despidas
Sem o kanto dos bem-te-vis ke só ew inda owvia
Bem distante, é verdade, porém mays prosymo ke o tew sorrizo
perdido na dura eternidade

Agora és toda owtono, kerida – Não reklames


se me faso um vento frio em tews finays de tarde

37
fimdekazo.kom

às 8 oras ela metelefona


palreya sisia diz ke
um amigo mandow-lle duas fotografias
um amigo bonito

retruko, mellor, konsilio


ke uma para kada
asukareyro da kaza
a espantar as moskas

ela não me kompreende


(ajilidade mental nunka foy sew forte)
e insiste: alto, jovem, bonito, muyto bonito
o sew fiel amigo

Desligo. Às 9 ela ainda grita, o telefone


para um omem surdo/mudo.
Até porke á um kult muvye alemão
na vídeo-televizão

à uma, às duas da madruga


o telefone mia ainda

pela mannã deletarey um meyl


sem kwalker tremer de mãos

Deliryo pós-antropofajyko n° 3
Te negaste em prezensa da krityka? Em prezensa da krityka te negaste? Tu kovarde
poeta não és! (O poeta, num momento de awto-sensura

38
Retiro de Salomão

No mew bayrro eziste um bar, se xama Retiro de Salomão


Logo ali na rua da praya, mesmo defronte ao mar
Por lá me deyxo largar bebendo
enkwanto agwentar

Se às vezes ew sayo sedo, owtras faso despeza


Ollando o movimento
Às vezes nem kero, owtras já kwaze kerendo
um’alma pra konversar

Lá mesmo um dia konnesi um kara orgullozo da profisão


Kontow kazos pitoreskos, dezafios
lutas kontra o mal e as mazelas da korrupsão
- era um omem íntegro, onesto e bom –
Kwando foy-se embora me xamow de irmão
Lá mesmo um dia konnesi um kara ke se ezibia um poltrão
Korrompido, imoralista finoryo
- um kara xeyo de armasão –
Sews ollos brillavam enkwanto narrava
- desprezava jente de bom korasão –
Kwando foy-se embora – me xamow de irmão

kostumo deyxar-me por ali fikar, os kabelos ralos brankos


ollando o vay-vem do mar

Retiro de Salomão – é o nome do bar

39
Sinkronia
O sol sopra as kopas das figeyras ansestrays.
Embayxo tudo é sombra ainda
sonno, silensyo
Só o farfallar dos restos; mews pés
intruzos
Do ke sobrow
do ke nunka foy sidade
Subyto, um gallo seko estala
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Piw-piw-piw! !Piw-piw-piw! !Piw-piw-piw!
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Pi-píw, pi-píw, pi-píw!
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Pí-pypíw! !Pí-pypíw! !Pí-pypíw!
!E-o-mew-korasão-dispara!
!Mil-ollinnos-infantís-na-mata!

Vôo Sego
um pardal batew – !bum! – no parabriza do mew karro
talvez porke fose branko, talvez ke voase bayxo
(ow ke ew segise rapydo)

ainda o flagrey no espello, pasado retrovizor


o korpinno miudo, em piruetas, kikar no asfalto mollado
de xuva e suor de karro

Segi em frente, konfeso


Sem diso fazer um kazo
Até porke, konfeso mays
Nunka dey muyta importansya aos pardays

A iso, uns xamam progreso


Owtros, disturbyo ekolojyko
Kwanto a mim
(!Já dise! – !Já lle dise!
!Nunka dey importansya aos pardays!)

40
Mayakóvska
Primeyro, tiraram o sew sakrosanto emprego:
um gerreyro dezonrado devolvew os brazões akumulados
Tomaram o sew kartão de kredyto:
teve ke vender o karro, a preso de muyto uzado
Enserraram sua konta bankarya
Botaram sew nome na lista dos intokaveys

Já lle tinnam tomado os sonnos da juventude:


por iso não lle puzeram trás-as-grades
Powko a powko, nem tão powko, foram-lle tirando os eletrykos
dos vídeos, dos diskos, e as telas piktorykas
Deyxaram a televizão

A televizão deyxaram, poys era presizo ainda ke sofrese


a abundansya dos ke fikaram
Mas logo kortaram a luz, o gaz e, por fim, a agwa
Até ke lle tomaram a kaza

Kwanto aos amigos, eram falsos:


otaryos os ke não falam o mesmo dinneyro
A muller já se tinna ido, junto kom os fillos
suas ultymas
lagrymas

Kwanto aos vizinnos, doys deles deserto nunka leram Mayakovsky


Ke à sorrelfa não lle teriam difamado
Nem prodigalizado entre si tantas rizadas

Kastellanas n°1
Es tan difisyl realizar
Lo ke almejamos
para nozotros, para los nosos, para nwestra jente
Ki mismo kwando, lo pyensamos konkistado
Nos sobra lejos, lejos
De la bonansa

41
K
a
y
uma folla de owtono

aos nosos pés krispados

Uma briza konvida a filozofias:

!Komo é dura a vida de kazado!

Entre as tuas pernas enkontrey trigo


Foy trigo o ke prokurey
A fazer o pão de kada dia
Alimentar o korpo e o espiryto
Reenkontrar a alma ke eziley

Entre as tuas pernas enkontrey mel


Foy mel o ke prokurey
A saber da kolmeya o dose enkanto
Por zangão entre abellas mays kerê-las
E morrer, morrer, mil vezes morrer

Entre as tuas pernas enkontrey fel


Foy fel o ke enkontrey
A amargar as noytes tão mays frias
A arder de dezejo mesmo um medo
A fazer de mim - omem - arremedo

Entre as suas pernas enkontrey pó


O mesmo pó ke então serey
Às avesas da karne, elixir de envelleser
Era tanto o fogo kwanto tanto se fez neve
Adews, amor! Entre as tuas pernas kwaze/kwaze fuy um dews

42
Klarise era tão bonita
Klarise era mesmo tão lindinna
!Konfeso, Mew Dews!
Olley o ke não devia ollar

Klarise era tão mosinna


Klarise era tão keridinna
!Konfeso, Mew Dews!
Pensey o ke não devia pensar

Klarise era tão sapekinna


Klarise era tão gostozinna
!Konfeso, Mew Dews!
Tokey o ke não devia tokar

Mas Klarise era tão mullerzinna


Klarise era tão prontinna
!Konfeso, Mew Dews!
Fiz o ke não devia fazer

!Mas Mew Dews!


(e muyto ká entre nós)
?O ke é ke o sennor faria no mew lugar?

Deliryo pós-antropofajyko n° 9
Os átomos, nosos átomos, todos os átomos,
são as pesas do lego poetyko de Dews

43
Καθεδρα Χαλαρα
para Rodrigo Bauler

Mestre
Da tua Kátedra Grizalla
Fizeste-me
Do verbo: powko...
Frente aos muytos
Tews susesos

Fizeste-me
Do verso: lowko!
Fase aos muytos
Tews diskwrsos

Mas não te apreses


Mew karo Mestre:
Ke já à Ágora me forjo
E ainda sow aso novo

Non Sense
Axo grasa em vós
Kavalleyros de tristes komersyos
Kwando ululam, xulam e berram
Por um tal governo limpydo e onesto

Axo grasa em vós


?Akazo limpydos e onestos
em vosos negosyos? !A! Vos defendeys...
?Então? ?De ke vos servirá um tal governo
Limpydo e onesto...?

Se kultivas as máskaras
?Reklamas das máskaras por ke?
?Não são as máskaras o ke se ve? !?Então!?
?De ke vos serve um tal governo?, osos limpydos
Onestisymas peles

44
A Luta Korporal

Kero Kosturar-te, Mew Korpo


A Mim, Tua Alma Intelijente
!Korpo Safado! Esperto
Akuado Se Inflama
Tolo Faz-se Tonto
Arrepela-se Em Mannas
Artifisyos, Dores, Dezejos
Kontrito, Oseanyko
Nas realidades dos sews jeneralisymos impropryos kotidianos
!Korpo Mew, Venna!
Akredite
Ká Dos Mews Abstratos, Dos Mews Absolutos
Ew Te Kompreendo
Te Aseyto
Te Amo, Não Me Odeyes
Não Lutes Komigo:
Sow Tew Punno
Tua Mão
Tua Espada
Tua Serpente
Tua Paz

Kwotidianus, a, um

Kwotidianus a um
Kwotidianus a um

Nem Eko Nem Resposta


Kwotidianus a um
Kwotidianus a um

Nem Morte Nem Eterna


Kwotidianus a um
Kwotidianus a um

45
Ermafrodita

Da minna lowkura me sirvo


Da minna lowkura me alimento

Fazes kara de nojo, kwando te ofereso


O mellor bokado – as tripas d’alentejo

Da tua lowkura me eskivo


Da tua lowkura me Safo
De Lesbos, kabesa de Orfew aos pedasos

Amo, o Unyko ke amo


Tranzyto livre pelos espasos

Á uma Muller
kwalker
A esas oras
em algum sisko de mundo

Ela não me espera


Ela é asim komo ew
Da mesma lowkura se serve
Da mesma lowkura se alimenta

!Insesto!
Eys a xave do amor

Deliryo pós-antropofajyko n° 87
?A konversa vay-se aos meyos... e akabow-se o vinno?
Poys tragam-me jarras e jarras de agwa
Dezenkantemos as madrugadas

(o poeta, num momento ímpar de lusidez

46
Amor Apaxe

poys kwalker dia é um bom dia para se deyxar morrer


para se xegar, para se ir embora

kwalker dia
kwalker dia é um bom dia pra jente se ollar
se tokar, se matar a sawdade

kwalker dia
kwalker dia é um bom dia para se deyxar morrer
ese ollar lijeyro, ese mollar de boka
esa tristana toda

kwalker dia
kwalker dia deses, deses bem feyjão kom arroz
a jente se enkontra
kwalker noyte

poys kwalker noyte é uma boa noyte para se deyxar morrer


saber – do Todo – os porkês
os talvez
kwalker mez

kwalker dia
kwalker dia, kerida
kwalker dia é um bom dia para se morrer
owtra vez

Deliryo pós-antropofajyko n° 10
O poeta ke não abole a nosão de Tempo, não konsebe, menos ainda pode revelar,
sew propryo Templo

47
Na Estasão do Metrô

Sim, kerida, ew também


Keria falar ao mundo, gritar, berrar
o ke se pasa neste mew korasão
Arrankar ao peyto, dezenterrar, mesmo kom as mãos
da alma
toda esta solidão

Keria falar aos pásaros, brinkar de imitar sews kantos


tê-los kantando aos ombros
ser um tanto kwanto o santo
ke falava aos animays

Keria ser vitoriozo em toda kawza nobre e justa


ke a minna espada
- presta e robusta –
fizese justisa
sem ferir ningém

Mas a estasão está mesmo xeya

e !olla! Lá vem vindo o trem

Deliryo pós-antropofajyko n° 11
Sim, tenno um temor inkomensurável de uzar do Santo Nome da Poezia em
vão. Mas um temor muyto mayor de não fazer d’Ele uzo nennum

48
Bar Garoto das Flores
para Tavares e Amador

Es syerto, nwestro amigo keria


ser bankaryo, ser bankeyro

gannar dinneyro
emprestando a juros
a lingwa do enforkado

Es syerto, usted mismo keria


a Akademia, ser letrado
una espesye de Joyce, um awtor konsagrado
mismo pedindo
dinneyro emprestado

Es syerto, jo tambyem keria


De mi parte l’amour, bebidas, orjias
ser um kayam, poeta embriagado
ow bokaje, desbokado
um kamões, mismo roto y esfarrapado

Es syerto, Dyos eskribe por linnas retas


el lado errado:
Ele está riko
Usted emposado
y jo me kedo aká, bebyendo esto myerda de wisky paragwayo

Deliryo pós-antropofajyko n° 47
Trowse mãos tão pekenas,
para tão vasta Poezia
(o poeta, num momento de lusidez

49
Araknídea

Plis, my love, não me leves a mal


Se não vow kontigo, tews pasos de valsa
O mel das palavras
Kom ke lavras os korasões doentes dese tal amor

Apenas, ke se te adoro as femynas


teyas
Mays ainda kwando te postas nua
Tew tufo de pelos, tuas formas kurvilíneas
Eses tays pelos e xeyros
Ke nem a mays feya
Será senão mays bela
Ke toda a formozura das poetykas estrelas

Ke se te adoro as femynas teyas


Mays te adoro kwando me keres nawfrago
Das minnas navegasões à larga vela
y lowko a regresar ao ponto dos tews nós...

Mas mews nós de marinneyro...

(Ô marinneyro, marinneyro
?kem te ensinow a navegar?
Ow foy o tranko-do-navio
Ow foy o bá-lanso-do-mar

Deliryo pós-antropofajyko n° 13
apenas o ke o poeta faz é iluminar o palko em ke os ainda não poetas fazem
sew número

50
Para Sempre A ma la

Tensa era ela, de dorso


kalma era ela, de pé

Seka era ela, deytada


Mollada era ela, sentada

Dose era ela, malvada


Sal era ela, kalada

Dentro era ela, a lagryma


Fora era ela, kantata

Em kaza era ela, a makyna


Na makyna era ela, a bala

Sorrindo era ela, a tapa


Na kara era ela, a fada

Na ida era ela, a mala


Na volta era ela, eskala

Na voz era ela, palavra


Nos nós era ela, lasada

Na faka era ela, a farpa


Na farpa era ela, afaga

Na falla era ela, a fenda


Na kama era ela, ajenda
Na alma era ela, a venda
Na rua era ela, a lenda

Na ida era ela, a-má-la


Na volta era ela, a-mala

Na ida era ela, a-mala


Na volta era ela, a-má-la

51
Os Fios da Urbys

Prezo, komo kondenado, amarrado


por fios mays finos ke naylon (uns fios de nada)
De mannã akorda, levanta, mal-umorado
Leyte apresado, sigarro apresado, e já no traball
(kom sorte não foy asaltado)

Traballo igwal, fofoka igwal, rayva igwal, medo mays igwal


(!Kuydado! Ainda podem te akuzar de asedyo sekswal)
Prezo, amarrado, por fios mays finos ke naylon
Os fios brankos da barba, a kara magoada, a muller (brigada)
Todos gritam em sua kaza (menos vose)
Vose, ke ainda sonna kom akela trepada
Às duas da madrugada (poys é...)

Prezo, derrotado, por fios mays finos ke naylon


Os fios da baba (ó vida malvada)
O dia em ke vosê saiw de kaza
O dia em ke vosê largow a fabryka
O plano-dezemprego do governo não valia nada
O de saude então, nem se fala
E tudo o ke vosê keria da vida (era a-ka-bá-la)

Mas sempre aparese algém, uma alma rara


(ke kom vosê kombina tão-bem)
Kom duas pasajens kompradas (para lá de santarém)

Prezo, amarrado, por fios mays finos ke naylon


Apenas trokow de lado (e dor)

Só então ke vem um anjo, torto e são


(?kem sabe akele do tal Drummond?)
e sopra no tew owvido: se solta, ke o vento é bom

52
Vida Poetyka

Afundar-se, mesmo xafurdar-se na Poezia


Ser um ser estranno aos ke korrem atrás das koyzas
Sem kulpá-los
Ow sentir-se asim, destes tão distante

Disolver-se ainda vivo


Para ke a morte seja uma subyta karisya

Morrer de vello
Ow morrer ainda moso, izento
à kara no espello

?Poys para ke realmente vivemos


Se não for para os doses momentos
Da kompreensão do ser poetyko

Raykays Kariokas 1
Muller nua
em asude no sertão:
!borboleta no porão!

53
Nature Oblije

A duas fontes somente


(e ke asim me julgem)
Entregey intelijensya e alma
Embebedey-me às agwas klaras das verdades
De eros e de orfew a lira

Tudo kwanto me bastava


Tudo kwanto me bestava
Tudo kwanto me desbeastava

Mergulley. Nadey. Brinkey


Fuy nawfrago Fuy feliz
Mea kulpa se permaneso tal ow pior ke nassi

Mea kulpa
Mea masyma kulpa
Também da kolmeya a muza
Ke não me owvia owvir

Raykays Kariokas 2
Amor,
(!asim não deyxo não!)
Nem dise ke não...

54
Pur apréender le trotoar

A kopa de uma mangeyra


Vista do interior
O mesmo ke uma saya rodada
sem kalsa de kor

O vestido de seda (sem dólares a vez)


A noyte sorri da dor. E sonna

A gerreyra, kom mãos penelopenas


A lagoa. O xoro das rãs

A faka kravada nas agwas. A mata sekreta da alma


Um signo lonjinkwo de kanser. A roza dos ventos vermella

?O amor, onde está? Talvez entre as koxas (!Não, não está!)


Talvez em l’arjan (!Não, não está!)
Á, mon amur, l’amur n’ekziste pa...

Lar, Dose Lar


Mar
Marullo
Marujo.
Se mew lar
É pronde fujo,
!Sow karamujo!

55
Vero Térreo Amor

Kwando ela deyta sew korpo à noyte


Kansada desas sakras lidas da kaza
E ew, mal xegado das ruas
Kwando ela esposta sew korpo à madrugada
Antes de dezejá-la, lakrimejo ternuras
Enkwanto ela sonna sew korpo à noyte

Ew penso em Noso Sennor Jezus Kristo


E na Santa Ave Maria
E no pekeno ronronando ao dose berso
E em tudo, tudo o tão vivemos juntos
Antes de dezejá-la, relembro rozas e brankwras
Kwando ela deytada sew korpo à noyte
E logo, tão logo, eskeso de tudo y...!presto!
Ezekuto-a ao rijo muskwlo

Das Komezinnas Verdades Kotidianas


Então, Kerida
então keres fazer da vida um inferno
tudo bem, !ke seja!
fasamos da vida um inferno se asim o keres
fasamos da vida Um Inferno

tu komesas, adaga
?ow sako ew, primeyro a espada?

..............................................
!a! tu komesas
..........................................................................

!mamma mia!
...não sabia ke tinnas bainna tão larga...

56
Momento

Às vezes, embevesido
Fiko à espreyta da momentaneydade
Ave irrekieta, azas sempre abertas
!Olla! Ela já se foy
Vez em kwando ela fika
Adosando a boka
Da alma
Pelos infinitos abisays

Kom ela estow no mundo e


Nos espasos do eterno etéreo
!A! Momentaneydade
Unyka posibilidade
De se ser
Feliz

Momentaneydade é awzensya de espaso aos largos kompasos


É todo o lugar
É todo o tempo, medido
Ao metro dos afagos, ao dado dos sorrizos
Kwando mesmo a sawdade susurra
Komo a pluma ke se aninna
Para ser só karisya
Para não doer nunka a dor

Áa, Momentaneydade...
Eskesi sews enderesos, ao menos
Telefona pra mim

Deliryo pós-antropofajyko n° 14
...o osyo konduz à kriasão poetyka...

57
Xaleyra no fogo

A vida é muyto mayor ke a jente, kara!


A vida é muyto mayor ke a jente

Nosa poezia, nosos entretantos


Nosos okazyonalmentes triangwlos
Nosos modos de ver – perfeytos
nosos espantos
A vida é muyto mays ke a jente
entretantos
A vida é muyto mayor ke a jente

A muller ke se oferese
O traballo ke seduz
A vida é muyto mayor ke a jente, kara
A vida é muyto mellor, e mayor

Na rua pasa uma bela donzela


Ke a jente subyto ker
Mas a vida é muyto mayor ke a jente, kara
Deyxemos pasar

Em kaza ela espera


As kriansas kerem kresser
A vida é muyto mayor ke a jente, kara
Nosos ollos de mentir

A vida é muyto mayor ke a jente, kara


E ela
faz o ke ker

Deliryo pós-antropofajyko n° 12
Powko importa o ke os klones pensam a respeyto dos poetas e dos poemas por
eles kom fé realizados. Muyto ao kontraryo. Portanto, se keres ser um poeta aos
ollos das Nove Muzas, sejas um tolo perante os klones; poys, tentares ser um
poeta aos ollos dos klones, serás um tolo perante as Nove Muzas

58
Sirkol’s Song

Just like a song


Ke ew sabia de kor
She disappear de mim
She vanished in the air

But
Like a sizyfo stone
Eskaley owtras montannas
Umas à luz, owtras à sombra

Navegey owtras sereyas


Trepey noytes luas xeyas
Nem me importavam se feyas
!Ów! Beautiful Marias
Of my happiness and souls

Just like a song


Ke ew sabia de kor
She disappear de mim, but
There are a lot of skin-
-songs to sing

(!Ów,Maria! !Ów, Beatriz!


- even ékates e afins -
pleasure, please)

Raykays Kariokas 3
A lua vay até a metade do séw
e volta
A muller vay até a metade do omem
e volta

59
Petrifikasão

Foste
?Ke importam nosas duvydas?
Vosê foy a alma-jêmea, alma-jema, alfazema
E kwanto ao korpo-jêmeo, duas metades kumpridas
Na misão de ser unísona

Vosê foy akela bem vinda alma lijeyra


De ke falam (e não kumprem) os ezoterykos
Os filózofos, os poetas, os jograys
?Ke importam mays?
nosas duvydas...

Em tudo o ke ew esperava de ti
Fôsemos eroys, fôsemos martyres até
Tal kwal nos ameasavam os Bixos-
Papões da infansya, Papões da adolessensya, da juventude
...e até as furyas nos ameasaram até...
!Basta! ?ke importam as antigas divydas?

Foste Minna, Fuy Tew – e kwanto aos dias:


Arketypos do ke seríamos...
Noytes sem lua
nunka mays

Deliryo pós-antropofajyko n° 15
...o vinno konvida à kriasão poetyka...

60
Poezia Kom Kreta

S
e vos ê pen
ak e te
kero sugar
inteyro komo
uma b oka a
esvaziar todoou
niverso tens ra
zão ke rido Sug
ar-te jáéum
bom komes
O

SESI N’EST PAS INE PUSY

61
Vem ke não te alkanso

Pasam-se anos komo se fosem oras


Ligey pra Maira
Maira não eziste mays

Pasam-se anos komo se fosem dias


Ligey pra Leyla
Leyla foy ser sey-lá-o-ke em Paris

Pasam-se anos komo se fosem mezes


Ligey pra Magda
Magda traballa em Itaporannã

Pasam-se anos komo se fosem anos mesmo


Ke se tivesem pasado
Ligey pra mim mesmo
Telefone Okupado

E a istorya podia bem akabar asim


Não fosem os ruidos, as estatykas
Das ligasões à distansya
Os fones desligados
E os ponteyros dos relojyos – tantas pernas abertas, mews tontos brasos
Markasem segundos
Komo se fosem sekwlos

Deliryos pós-antropofajykos n° 84
Nas retisensyas substantivas está o poema. As retisensyas adjetivas, esas – são
iluzões, estelyonatos, finjimentos – armadillas

62
possiensya literarya

No konto, no kawzo, na narrativa


Destrinxem lingwistykas lingwisas
Vós, ke me lév y strauss
Semyolojias, semas, senemas
Semanas

Deserto não diskuto intelijensyas


Nem sow tão tolo
Ke me fasa um dowto
sennor das tristes retas

Sow poeta
Minna poezia
Não é frango-asado
ke se pede ao bar da eskina
já venna kortado. E tem mays
Owtra koyza: só ando reto em lozangwlos y sirkwlos
Não me dezafinem os instintos
Bebam komigo
Os Infinitos

Deliryo pós-antropofajyko n° 16
poys a obra de arte é espresão nuklear do ser umano ligado às fontes enerjetykas
primevas da kriasão, kujas nassentes jorram tanto da terra kwanto dos séws,
prezentes em todo o kosmos, e verifikável sobretudo pela fé

63
Intelijensya Poetyka

!Es syerto! Nem sow asim tão intelijente...


Não faso poezia ke valla-rir
Nem mew sérebro ke mal-armey
!Es syerto! Tyenes toda razón
Nem sow asim tão espyerto
Ke fasa de la poezia um xeke a deskobyerto
De elyoterykos sifrões

Faso a pregisoza poezia


Komo as antigas tardes kom marias...
Sem saber dos labyos, orgasmos, senão...
Ke á beyjos de lingwa, e á beyjos de mão...

Apenas niso rezide toda a intelijensya da minna poezia


Também toda a sua jentileza:
Ke o digam as marias
E os ke nos sonnam os sons

Kantilena de Exú
Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki

Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki

Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki

64
O Portal

Gruta entreaberta

avansos
Koxas entreabertas
Solusos
Boka entreaberta
Suspiros
Alma entreaberta
Diskursos

Tudo nela faz de um simples koyto


Uma Terrível Inisiasão

65
Maira

66
Silensiozo Kanto

Faso do silensyo a minna faka, pontyaguda arma


Korto para um lado e furo – o owtro

Faso do silensyo o mew eskuro, akostumo


kom a morte – vow-me adaptando ao tumwlo

faso do silensyo o mew remedyo, kuro – traysoeyras molestyas


O tedyo, a inveja, estão entre as primeyras

Faso do silensyo o mew korasão: as palavras, os sons


navegam – por veyas dezertas – silensiozamente pulsando

Faso do silensyo o tew silensyo: até ke owsamos


a terra, os pásaros, o mar – kem sabe anjos, konversando

Faso do silensyo os mews owtonos, preparando-me – aos invernos

Mas se é primavera em tu’alma, e já me faso um verão – !silensyo


para ke te kero?

Kontradansa
Abriw-lle o botão primeyro, e destro
tokaram-lle os mamilos dedos gôxes

A protestar virow-se
Mays a lingwa tokow-lle o séw da boka, lowka
Deixow-se, e lá pelos embayxos
Tal não fose ela, tal não fose a owtra
Mãos de aso alargavam a konxa e a ostra
umyda konsentia
Antes ke implorase antes ke ezijise
Antes ke gozase antes ke disese nunka
Ma(á)ys

67
Ipanemia

Minna vida, mews livros, mews diskos, mews sumisos


Deveria pensar na koletividade, deserto
Mas este mundo é mesmo xeio de maldade
E ew ainda enjôo, vomito nos golden parks

Para owvir The Beatles muyta vez desperto


A kantarolá-los, palydo de espanto...
Uma janela aberta, e estow serto
Ke o mundo só awmenta de tamanno

Estranno mundo, muyto estranno

Bem ke às vezes kero ser só, e me perko em multidão


Tenno medo de asombrasão, e sawdades do tempo de eskola.
São sews os ollos ke resplandessem enormes
Enkwanto ew bebo xampanne, na eskuridão

!Muller, ó muller! !Minna vida é vosê!


Versos são versos, !tenna dó!
Ke ew trowse vinno e uns versos vinisyus
Trowse pãozinno
Trowse keijinno e patê
(le bourgoazys...)

Deliryo pós-antropofajyko n° 17
...a serveja esparrama a kriasão poetyka...

68
Enterrem Mew Korasão Nas Kurvas do Rio

Kwando Kantey Mews Versos


Owvistes Impavydo
À Dor, Ao Amor, Às Kotidianas Gerras
Ke asististes insolidaryo
Poys, poeta, !Ke Kante!

Kwando Fexey Mews Versos


Aos mowkos owvidos do merkado
Sem dor, sem amor, na paz dos semiteryos
Ainda kwando nada espero
!?Kutukas-me a tumba!?
!?Dezenterra-me os osos!?

!?Ke kereys?! Se doy agora em vós


São Owtras as karnes
São Tews eses versos

?mas vosê não me apresia os verbos?


!!!!!!!!!!!!!Rá, Rá, Rá, Rá Rá!!!!!!!!!!!!!
Iso aí são rizos, gargalladas
Já foram, um dia, lagrymas
(!Só-não-kero-ke-me-falte
a-da-na-da-da-kaxasa!)

69
Owtono Frio de Mayo

Das árvores os brasos desnudos debrusam-se sobre a kaza.


Os gatos dormem Os kães dormem
Da janela dos fundos uma sweter sem mangas, no varal
Uma kadeyra de balanso: para frente e para trás
O telefone dorme

Anoytese lá fora, no séw


Ela se movimenta a pasos e jestos. Vellos pasos. Vellos jestos
É ora de soprarmos as sikatrizes.

Owtono, ó owtono frio de mayo

Minna muller fotografa flores no jardim


Um gato se kosa, um kão se lambe;
Á pásaros, de pio e de kanto;
Ainda não sey porke me enkanto
Kom a borboleta preza em mews jasmins

As kriansas vão indo bem, obrigado;


Anda trankwila minna konta bankarya;
Não tenno bebido, sozinno, nas madrugadas;
O korasão vay bem; e asim também minna arkada dentarya;
Têm kosado powko as mágoas (sikatrizes) do pasado

A owtra (?será sempre a ultyma?) deyxey ontem, xoramingwada


(mays owtro burako aberto na alma);
Minna muller vem-se xegando para junto de mim
e me beyja
Um amor tanto
Ke ainda não sey porke me enkanto
Kom a borboleta preza em mews jasmins

70
No Satisfekxion

Tenno toda uma parafernalya


eletro-eletronyka-dijital
buks/vídeos/and sawnds
aos meyos de fikar em kaza
aos medos de sair às ruas

sim, tenno muller e fillos


parentada aos domingos
e um karro sem motorista

sow do traballo pra kaza


sow da kaza para o traballo

faso do lar o útero


materno, a me alimentar;
o mew rekanto seguro, mew luxo
jardim/orta/e pomar

invejam-me amigos unísonos aos isos


...é ke é viver;
e no entanto – !ingrato ke sow! – às vezes me penso
komo kem tem nada a perder

Deliryo pós-antropofajyko n° 19
...mas nada, nada mesmo, serve mays à kriasão poetyka
ke os misteryos de eros

71
!O vento varrew os patrisyos!
!O vento varrew os prinsipyos!
?Terão varrido minnas rimas?

O vento varrew os livros


O vento varrew os diskos
O vento varrew os filmes
Varrew as transas da rapunzel

Mas o vento sosega um dia


Os ventos As ventas As veyas
?Karetas Kalendas Kaloψtas?

!Bá! ?Ke poeta ainda serey, maria karolíjena?


Se vosê não parar de limpar já já esas kortinas

(Ora, direys, amar formigas)

Maldonor
de kada kwal vay tirando o sew pedaso:
ali, um kaxorro – mesmo lowko
ow um rosto, !mira ke kwerpo!

Ollos de agya afiados, profundos


mergulla e traz, entre os dentes, mays uma pomba
de vôo bayxo
tal ke não sobre mays kwalker penaxo
por lembransa daninna ke lle lembre
o tanto ke um dia amow
eses pedasos

de kada kwal kobra o sew kinnão;


e o ke sobra
atira lonje
aos urubus ke pastam

72
?Onde Estão Os Nosos Sonnos?

...akaba-se o tempo dos gorilas, pakidermykos; sobrevivem as suas lombrigas,


tempo de bakteryas, envenenadas, virulentas, sibilinas; foy-se a mão pezada,
asasina; a morte agora vem em lammynas frias, finas; e agusadas as karnes se
ajitam, tremwlas, se debatem prezas às linnas dos orizontes ke se findam...
!adews, eroys! soys agora tolos e despreziveys, os sews kalkannares à akiles, em
fase às palavras infames e malditas, nas setas ke vos dirijem os kovardes do dia-
a-dia...
dezabam, eses tiranosawros, se estingem, o ar rarefeyto, a lenda flasyda e tardia,
nos legaram o odyo das suas lombrigas...
...ke agora é o tempo das feridas metafizykas...
...y os inimigos, eses moram nas kavernas obskuras da mente, desde os osos, os
vazos sangwineos, o motor kardíako, os pés vulvíjenos, peninswlos...
...e os dewzes, os ke ora despertam, ke nunka morrem, ke ainda não se indig-
nam, empoleyrados nos diskursos politykos, na vã esperansa de verem sew bem
rekonnesido, mentem a porta aberta, eskankaram as murallas dos kastelos
gotykos, e não adianta nada... ke é tempo de lammynas frias, finas, a kosarem as
feridas, de dentro para fora, e as pesoas se tokam tal kwal kem já vay embora, ke
os sekwlos findaram, foram-se os dias e as oras, e em powkos instantes a niil
umanidade troka – !A Vida!
...pela morte-viva...
...vamos, adentremos ese resinto ke ainda xamam Terra; adentremos a eskuridão
kom nosos ollos de pedra, e rasgemos todas as fotografias da antiga era
em ke nos ezibíamos felizes ao menos em familya
ke mays não presizamos finjir
ke já sabemos de tudo o ke nos pertine
poys somos e keremos o mesmo, konssientemente tristes
servos satisfeytos deses novos prinsypes:
!AVE ΠΩΣ − ΑΠΩΚΑΛΥΨΙΣ!

(“ - tudo bode, broder, mas... !rola ai! ” )

Deliryo pós-antropofajyko n° 20
Não nos pesam definisões de poezia. A Poezia é konseyto

73
Senas Modernas

e aselerow na pista, ke se keria


primeyro e ultymo sentawro vivo
ezato espesyme de um ser arketypo
ke se fez moderno, ke se fundiw à makyna
para avivar o kulto ao eroy absoluto
de uma antiga rasa
ke não ker morrer jamays

aselerow na kurva, tal ke fose reta


e ja era um ermes, as azas nas patas
e não era umano, e não era um bixo
era talvez um dews, já ke era eterno
misturando o ferro kom veyas de luz
esplodiw na terra renassew nos séws

batew de frente tal ke dese as kostas


aos podyos e à glorya do rizo perfeyto
da muller mays bela, ja ke era gerreyro
arredando a tasa, desdennando o owro
arredando a prata, ja vensido o tempo
já domado o espaso, dormiw

rekolleram a karne tal ke fose tudo


e tiraram fotos, e buskaram kawzas
e kontaram kawzos, e fizeram filmes
e kizeram owtro mesmo braso firme
mesmos ollos puros

sobraram as lagrymas, tays ke fosem versos


sobraram números, tays ke fosem flores
sobraram as makynas de fazer dinneyro

Deliryo pós-antropofajyko n° 18
...o traballo kompleta a kriasão poetyka...

74
PAYXÃO LOBA

Ela às vezes É uma boka


Um sigarro fumado estravagantemente
Um vozeyrão Um ker-ser-omem
Um vestido vermello Um grande busto

Ela às vezes É gerreyra


Amazona radikal e livre
Uma antiga lesbianista
Um xampanne espokando Uma tasa no ar

Ela às vezes É uma kriansa


No meyo-fio a xorar
Um Dews-ká! Poys-estow-a-rezar
Uma gata namorando um sabiá

Ela às vezes É uma fogeyra


Um repara-ke-akabey-de-xegar
Um korpo E mira ke kwerpo!
Uma gramatyka fora do lugar

Ela é sempre um par de garras Avermelladas


Ke não konsigo aparar

Deliryo pós-antropofajyko n° 22
O poeta é kapaz de viver uma vida inteyra sem eskrever O Poema. Mas lle será
imposível deyxar de amá-Lo
...portanto buska, poeta-leytor, A Poezia, em todas os poemas.
Ke A Poezia é Dews.

75
Viajem Ao Séw

sow todo solto


apago o bazeado e korro
sow todo solto
me eskondo atraz de um barrako
sow todo solto
algem gritow por sokorro
?kadê os ôme?
me enfio nese burako
sow todo solto
mãe não pode sabê
sow todo solto
os menino soltando pipa
sow todo solto
o mew pay kumprindo sina
sow todo solto;
o ôme tem kara grande
me tremo todo, me trinko
tem mays três kwarenta e sinko;
um owtro xega segido
(bem mays grande)
xinga, kospe, reklama
sow todo solto
edukado, me puxa pra sima
sow todo solto
xego antes lá na eskina
sow todo solto;
nós tudo fazemo fila
sow todo solto
um fedô de merda e urina
sow todo solto
?pergunta mal respondida?
!Bam! !Bam! Alma partida
A Arma enkostada na nuka
sow todo solto

76
Nem medo, nem owzadia

Ele o tinna sob a mira


Afinal, era akele owtro ke
Já ia uns trez ow kwatro
Mortes, sekwestros, asaltos
Ele o tinna sob a mira
Do mesmo kospe-fogo
Kom ke o owtro ajira

Ollos nos ollos owtros


Nem medo nem owzadia
Apenas doys ollos turvos
Tão eskuros kwanto os sews
Puxow o kão de xumbo e pólvora
Ollos nos ollos todos
Nem medo nem owzadia

Em kaza a muller lle serve


O jantar
“?Então?” – ela esfrega e mia –
“?Komo foy sew dia?”
“Igwal (mastigow, deserto sabia ke ia xegar kom fome)
do ke foy ontem
anteontem, vay ser amannã...
(?mas ke diabos tem nese nako de karne?)”
Ollos nos ollos, ela
Nem medo, nem owzadia

Deliryo pós-antropofajyko n° 23
Á sempre deses momentos de vida em ke só se deve konfiar na poezia, nos
poemas e nos poetas

77
Fogos-fatwos

Saiw
A foto do xefe no jornal do brazil.
No eskritoryo não se fala nowtra koyza. Awmento de salaryo; para o the boss
(?kem sabe sobra algum pra nós...?)
Em kaza, Rozemaria até gostow da foto. Mas notow na gravata um serto
laso de pobre. Na janta um dos fillos komenta. Ke vay indo muyto bem nA
Firma

Abre uma garrafa. Rozemaria dorme. O kanaryo belga dorme.


No sofá o jornal aberto a foto.
Doys ollos medrozos: gannam fogos-fatwos
No sofá ainda umas agullas kompridas: trikôs de Rozemaria.
Doys ollos na foto: doys ollos fogos-fatwos
(– !á! !se ew fose um xamã!...)

Abre owtra garrafa.


Na pasajem fura os ollos da foto.

nunka se sabe

Deliryo pós-antropofajyko n° 24
Libertar as umanidades dos sews grillões artifisiays ideolojykos é uma das
konsekwensyas do fazer poetyko, komo de toda Arte. Entretanto, kabe ao po-
ema revelar-para-libertar, abrindo portas aos infinitos, e, não, libertar-para-revelar
Poys toda libertasão é antes revelasão poetyka

78
Omo Omini Lupus

O sange nas paredes


da xowpana do menino;
Os korpos estendidos
os pays do menino;
O revólver sem brinkedo
brinkadeyra do menino;
O xão roxovermello
mesmo ollo do menino;
Um anjo torto de dews
esperansa do menino
bem aventurados os ke tem fome e sede de justisa
bem aventurados os ke têm fome e sede de justisa
ke serão sasiados
O sange nas paredes
da xowpana do menino;
Os ollos do bandido
os ollos do menino;
O sange nas pegadas
Do Menino-Bixo

Deliryo pós-antropofajyko n° 25
Por mays ke os demonyos lles aplawdam os poemas,
os poetas sempre terão anjos ao sew lado

79
Rio 50º

korre um frio jelydo pelas ruas do bayrro


nese inisyo de primavera
onde ainda ontem elas ardiam em brazas, e as xamas
das metralladoras, dos fuzis AR-15
kuspiam o sange sorvido de antigos inosentes
abrindo largos espasos nakelas almas

oje, oje korre um frio jelydo pelas veyas da sidade

o féretro, ele sege o mesmo trasado


pelas ruas, e alguns mays indignados
levam uma fayxa, owtro mostra um kartaz
ke konklama ao fim da violensya
ke implora a pasifyka paz

sim, á um frio fetydo nas kazas do bayrro

e o pekeno eskife, o menorzinno


parese ke sege no vazio
mas não; á almas à espreyta, almas sinzentas
karregadas de trevas

Deliryo pós-antropofajyko n° 26
Saber ver no ke é minymo, o masymo, eys o ollar do poeta.
Ollos de Agya,
para aprosimar o minuskwlo, o lonje, às dimensões da prosimidade; para distansiar
o mayuskwlo, o perto, às dimensões das alturas.

80
Jângal Bell

Kosa um sol de kwarenta graws na avenida sentral


a muller, nem feya nem bonita, ekilibra
a bolsa entre os pakotes, mastiga
um rotdog kom batatas fritas

o menino, de pasajem
feyto moska em padaria, surrupia
a pata afiada
sua parte nowtra paga

a muller solusa e grita, amaldisoa


a multidão entorpesida;
mas afinal, perdoa
sege envergonnada a sua sina

um bêbado na eskina asedia


kom barrigillas gratuytas
kwaze não se akredita
ke ela asim tão pasiva, e jinga
em malvadas jeometrias

é sempre asim aos dezembros


na lingwajem das ruas, é tempo
de farras natalinas

Deliryo pós-antropofajyko n° 27
Na poetyka, kwanto mays se buska um sagrado korasão
mays ekoam os rizos de Salomé

81
A Klase Medya Vay Para O Paraizo
...D. Amelya abre a porta para a nova empregada. Indikada por uma prima do
zelador. Ainda bem. D. Amelya não agwentava mays ter ke dar konta da kaza
sozinna. Detestava serviso domestyko. Komo toda muller de klase medya,
emansipada, independente, serve ao Merkado. Dupla jornada de traballo. Botow
a muller para dentro de kaza sem mays perguntas. Nem ollow direyto para a
kara dela. Ollase kom atensão, teria pensado um powko. Pensase, teria rekuzado

...A nova empregada era gorda. Do tipo sento e vinte kilos. A saya, kwatro
panos diferentes remendados à pesyma mão. A bluza aprezentava um rasgo, de
alto a bayxo das kostas. E não era dekote, fiapos soltando-se das bordas. Kalsava
xinelas. Faltando uma das tiras, sertamente a razão da muller ter um repetido
kakoete no pé. Falava uma fraze, ajeytava a xinela no pé. Andava doys pasos,
ajeytava a xinela no pé. Se enkostava num batente de porta, e lá fikava ajeytando
a xinela no pé. A unyka koyza ke D. Amelya notow no primeyro dia de serviso
da nova empregada. O marido e os fillos, ke a nova empregada kozinnava bem,
magnifykamente bem

...D.Amelya sempre komew powko. Magrinna, por konviksão. O orsamento


domestyko sendo espremido pelos programas ekonomykos do governo, ke teo-
ria não enxe barriga, D.Amelya kostumava dizer, enkwanto asistia os telejornays
diaryos ke todos asistem. O marido, rindo. Rindo porke kom a pansa xeya, grasas
a mim, D. Amelya pensava. E as kriansas, zombando. Kriansas? Mews fillos são
doys marmanjões de dezoyto e dezeseys anos, metidos a surfistas, komendo
mays ke pobre em festa de kazamento. Surf! Mays valia estudasem de verdade, a
ver se servem para alguma koyza no Merkado, se um dia pagam a proprya komida
e a kriadajem ke lles dêem a mordomia ke ew dow. Não dizia esas koyzas pra
ningém. Ke lá em kaza não tem briga por kawza de dinneyro, grasas a dews, ke
lá em kaza tem de tudo na jeladeyra

...Da refeysão preparada pela nova empregada D.Amelya reparow apenas ke


deve ter levado muyto óleo de soja, muyta sebola e allo, muyto tomate, muyto
tempero, enfim

...De mannã, meza posta para o kafé, o marido lendo o jornal ke todos no
eskritoryo lêem, D. Amelya, preparando uma torradinna de abyto. Estika o braso
e alkansa o pote de rekeyjão. O pezo do pote mays leve ke o esperado. Irrita-se.
Os meninos não estavam em kaza, o marido não gosta de rekeyjão, jamays gostow,
sempre implikow kom o rekeyjão dela. Então kem, afinal, tinna komido kwaze
ke o pote inteyro de rekeyjão, aberto ontem mesmo?

82
...A nova empregada xega à meza para renovar o bule de leyte. Não presizava, o
bule ainda xeyo, mas a nova empregada traz owtro bule fumegante. D. Amelya
larga um resmungo, agwarda o tempo sufisiente para a nova empregada se
akomodar na kozinna e sege sews pasos. A nova empregada virando o leyte
goela abayxo, ke eskorrega pelo biko do bule até uma boka voraz, kwaze mor-
dendo a lowsa. Kê iso, mew dews? D. Amelya, a kara asustada. Iso o kê, pa-
troa? A nova empregada, entre um gole e owtro. Depoys, kolokando o bule
vazio na pia, olla para D.Amelya kom naturalidade. Às suas ordens, patroa

...O marido owve da sala os gritos e parte rapydo. D.Amelya, irta, o dedo em
riste para a nova empregada, gagejando sons inintelijiveys. Esta, balansando
ezajeradamente os ombros, komo a dizer ke não estava entendendo nada

...Sentada ao sofá da sala, já mays kalma, D.Amelya konta ao marido o ke asistira,


e mays o problema do pote de rekeyjão, e o monte de óleo e tempero gasto no
ultymo jantar. O marido rindo. Kwanto mays ela falava, eskandalizada, mays o
marido ria. Até ke D.Amelya rezolvew não pensar mays no asunto e tokar pra
frente o dia

...Não almosavam em kaza, D.Amelya e o marido. À noytinna, após um tranzyto


lowko de buzinas, freadas, insultos ke o marido finjia não owvir, konstranjido,
voltavam juntos às tersas e kintas, após as awlas de inglês de D.Amelya, enkontram
a nova empregada refestelada no sofá da sala, telefone ao owvido. D.Amelya
owve as gargalladas da nova empregada, altas, deboxadas. Amarra a kara e vira-
se para komentar o insidente kom o marido, mas este já fexa a porta do kwarto
para trokar o terno pelas bermudas de sempre. Ela não deziste e vay atrás dele.
Lembrando o desperdisyo ke é trokar de bermudas todo dia, dando traballo
para lavar e pasar, pergunta se não reparow na dezaforada ao telefone. Ke ela só
podia estar uzando akele novo serviso, o diske-piadas, inventado pela Kompannia
Telefonyka para tirar dinneyro da jente. O marido, displisente, responde ke não,
ke ele xegara a owvir kwalker koyza asim komo “me pega aki na sesta-feyra

...A vagabunda. Kome e dorme às minnas kustas e ainda marka sews enkontros
libidinozos pelo mew telefone. Os pensamentos de D.Amelya vageyam, a nova
empregada komesando a servir o jantar. Kome em silensyo. O marido elojia a
komida. Os fillos também. D.Amelya komenta baixinno ke o feyjão saiw kom
um powkinno de sal demays, para o sew gosto. Vem a sobremeza. Goyabada,
keijo e mamão. O marido e os fillos se servem, gulozamente. D.Amelya espera o
sorvete, a lata de um kilo ke trowsera á powko, kreme kom xokolate, sua
preferensya, surpreza para os meninos. Nada de sorvete. Xama a nova empre-
gada, ke traga o sorvete, as tasas propryas também. A nova empregada não se
mexe, ollos esbugallados. D.Amelya repete as ordens. A nova empregada parese

83
sorrir de lado agora e pergunta “ke sorvete?, ke não sabia de sorvete nennum,
não. D.Amelya levanta-se, impasiente

...Na kozinna, D.Amelya enkontra a lata de sorvete na pia, xeya d’agwa, dentro
uma koller. “Mas vosê komew o sorvete todo? O sorvete ke ew trowse oje?,
agorinna mesmo? Komo é posível?” A nova empregada parese não se abalar.
“Não, patroa, esa lata de sorvete ai na pia estava no finalzinno. Era só um resto
de lata vella, kom jeyto de estar no konjelador á sekwlos. Ew keria só sentir o
gostinno, fazia um tempão ke não komia sorvete”.

...O marido e os fillos não deram maior atensão aos insesantes dezabafos de
D.Amelya. “Ora, Amelya, não vamos brigar por uma lata de sorvete, ora. E ria.
“É iso ai, mãe. Riam os fillos. “Está bem, está bem. No pensamento, a desizão
irrevogável de mandar a nova empregada embora logo na mannã seginte
...Depoys do telejornal rekollem-se. Dia de sekso. D.Amelya gosta do marido e,
espesialmente do jeyto dele fazer sekso. Diferente dos antigos namorados, ke só
pensavam em komer, komer. Já komi fulana e sikrana, diziam. Kom o marido,
não, kom o marido ningém komia ningém, faziam amor

...Akele dia não foy tão bom, o marido terminando sem ke D.Amelya xegase ao
orgasmo. Nesas vezes, a impresão de ter sido uzada. Não gostava nem um powko
diso, fikava amuada. Madrugada, D.Amelya levanta para um kopo d’agwa, o
marido ronkando alto. No korredor, persebe já a luz da kozinna aseza. O korasão
dispara, a mente asannada, D.Amelya adentra a kozinna

...Danteska sena. D.Amelya se enkosta à parede, kom falta de ar. Vê potes e


mays potes destampados, varyos pratos uzados á powko, osos de frango pelo
xão, as panelas fartas do jantar na pia, inteyramente vazias. Garrafas de koka-
kola e serveja num kanto, paresendo kozinna em dia de festa. Sobre uma meza
ke servia de aparador viw latas abertas, igwalmente vazias. Latas de goyabada,
salsixas, azeytonas. Latas de feyjoadas, de ervillas, de millo verde, e tantas owtras.
Um pedaso de karne-seka, owtro de lingwisa, kom vestijyos de dentadas. Um
kaxo de bananas, uma unyka sobrevivente. Kaskas de laranjas. Ao fogo, uma
panela fervia bakallaw, o xeyro do kozimento invadindo as narinas de D.Amelya,
a presão kaindo. Numa banketa, ajeytando a xinela no pé, a nova empregada
komia sorvete direto da lata, kom a mão, o rotwlo em letras grandes e koloridas
anunsiando o kreme kom xokolate. Komendo e rindo, rindo. Rindo sozinna.
D.Amelya desmaya, a nova empregada serya de repente, um rosto kruel,
endemoniado, a maldade estravazando-lle os ollos
Mannã alta, kalorenta, D.Amelya akorda ao som da rizada do fillo mays novo
dizendo kwalker koyza sobre algém ke se esborraxow nas ondas da praya. A
porta do kwarto fexada, o pijama do marido jogado ao xão. Na porta do banneyro,

84
uma talla mollada embrullava-se a um pé de xinelo. Doys ternos e algumas kamizas
limpas e pasadas espallavam-se na beyra da kama de kazal, o marido á muyto no
labor kotidiano. Levanta-se, ainda uma leve tontura, abre a porta do kwarto, a
kara sorridente do fillo mays vello. “Ôy, mãe, estamos indo pra praya. Vê se não
se esforsa muyto. O pay já ligow duas vezes, está preokupado kom vosê, por
kawza da noyte de ontem. Até mays”. “Até mays, fillo”; voz em suspiro. Tarde
demays, o medo, os fillos saindo de kaza, ela a sós kom a nova empregada.
Rememora a sena terrível. Korajem, Amelya, korajem. Para a sala, sons de
konversa. Voz de omem, estranna. Dews do séw, tem um omem estranno em
kaza. Mas segiw andando, devagar, komo boy para o matadowro,
ineksoravelmente. Já não era dona das suas pernas

...A nova empregada komia iogurte, sentada ao sofá, modos de dona da kaza. A
sew pé, espallado ao xão, também komendo iogurte, o zelador do predyo.
Eskankarada a porta de entrada do apartamento, komo a konvidar kwalker um.
Paresew-lle dizerem, bom, muyto bom ese tal de iogurte. Kwando D.Amelya
entrow de vez na sala, a nova empregada estikow o braso, o kopo de iogurte
inteyramente vazio. “Servida, D.Amelya?

...Transfigurada, volta korrendo para o kwarto. Tranka-se à xave. Toma do aparello


na mezinna de kabeseyra e xama o marido. Okupado, a ligasão não kompleta.
Tenta de novo, a telefonista atende. Pede o ramal do marido. “Ramal okupado,
favor ligar novamente. Desliga o aparello. Prokura suas pilwlas. À algum tempo
pasara por uma faze difisyl e presizara tomar akelas pilwlas. Nada de muyto
forte, agwa kom asúkar, dizia às amigas. Enkontrow o envelope. Konferiw a
data de validade. Fora do prazo de validade. Engoliw asim mesmo. Metew-se
embayxo das kobertas. Tremia. Tentow dormir, as pálpebras arriadas

...Akorda, o telefone tokando. O marido, grasas aos séws. Pediw, implorow mes-
mo, ke viese logo para kaza. Presizavam despedir a nova empregada. “Akalme-
se, Amelya, estow indo. Não gostow nem um powko da sensasão ke teve ao
owvir o klik do owtro lado da linna

...Barullos estrannos, de moveys sendo arrastados, na sala. A voz do fillo mays


novo. Um jemido. O mesmo som de kwando o fillo kaira da kama uma vez, já
grandinno. Levanta-se komo sonambwla. Say para o korredor, dirije-se pé ante
pé para a sala

...Orror, orror! Sews meninos, nus sobre o largo tapete da sala, jaziam de ollos
abertos. À sua volta, o zelador, o porteyro, a faxineyra do apartamento vizinno,
e um ser indivizo, maserrymo e maltrapillo, ke ela nunka tinna visto. Vem a nova
empregada e junta-se ao grupo, distribuindo entre os komparsas fakas de korte

85
asowgeyro. D.Amelya paralizada. Não konsegia dar um paso, emitir um som. Se
esforsava, keria gritar para não fazerem akilo kom os sews fillinnos. Tentow
varyas vezes e nada, perdera a voz. Dews mew, será um pezadelo? Mas não,
estavam realmente kortando as karnes das kriansas

...A nova empregada vira o mays vello de bunda e korta um nako de karne.
Prova-a kom uma mordida e oferese aos demays. Mastiga. Kospe o resto sem
sumo no xão. Ri. Pelas mãos do mendigo um maxado vay separando os brasos
de um e de owtro dos rapazes, suas pernas, as kabesas. Pelo xão espallam-se
garrafas de wisky da kolesão do marido. Vazias, todas elas

...Param de komer. Ollam todos para o lugar onde ela está, sem sange nas fases.
Kaem na gargallada. Panyko. D.Amelya dispara de volta para o kwarto. Segem
atrás dela. Ker trankar a porta. Não konsege. A nova empregada mete pela
fresta um pé ke fika balansando frenetykamente uma xinela faltando uma tira,
komo a ajeytá-la. Empurram a porta de vez. Jogam-na para a kama de kazal, por
sobre os ternos do marido, nesa ora um refrão idiota na kabesa de D.Amelya.
Os ternos dele, ew vow rasgar os ternos dele, rá-rá, ew vow rasgar os ternos dele

...Despem-na. Um dos omens pasa-lle os dedos sebozos de karne pelas partes


intymas. Viram-na, reviram-na, rindo sempre. A nova empregada pega-lle a per-
na, morde-lle kom forsa a kanela. D.Amelya grita, berra. Indiferente, a nova
empregada vay eskollendo o mellor ponto e, de repente, uma dentada mays
violenta tira fora o muskwlo da perna, a grande veya azulada eskorrendo-lle dos
kantos da boka, feyto makarrão. Ollando bem fundo nos ollos de D.Amelya vay
engolindo o tesido muskulozo e sugando, sugando a veya komprida, D.Amelya
sentindo esvair-se do korpo, primeyro o sange e, por fim, todas as suas veyas,
tragadas pela boka esfomeada da nova empregada. Entrega-se, os owtros pro-
vando-lle também as karnes. Ao lonje, parese tokar o telefone. Batidas ansiozas
na porta do apartamento. Alvoroso, vozes dezenkontradas, sons ke não artikulam
um sentido. Owve o marido gritar sew nome, bem perto. Ker responder. Só
konsege sorrir esgarsado, enkwanto vay tremendo e dessendo lentamente as
pálpebras

86
Ponte Aérea

Vôo
Vôo
Vôo
Neojonas no ventre
De um plastyko pásaro de aso
Viasão Aérea São Pawlo
Vôo
Vôo
Vôo

Faso-me presa
Em preza dos vis metaltos
Altos
Altos
Altos

Ansestro-me laso
a dowrado semidews

Á..., mew Rio de Janeyro


?O ke fasyl ew?

Deliryo pós-antropofajyko n° 28
O Poema se faz batendo as pedras das mãos,
eskerda e direyta, uma à owtra.
O som e a faiska são O Poema.
O fogo akolledor é A Poezia

87
Porke tinna um nó no peyto
difisyl de dezatar
subiw korrendo as eskadas
direto ao ultymo andar
Porke tinna no ôllo a muller
difisyl de namorar
xegow ao kume do predyo
sem xanse de se salvar
Porke tinna na voz a mágoa
imposivel de se gwardar
gritow para o mundo a fera
ke não se deyxa enjawlar
Porke tinna na alma a idade
ke nunka ningém terá
abriw largo largas azas
kom as kways não podia andar
Porke era só um omem
para tanto kerer de amar
atirow-se kwal um anjo
ke viese nos salvar
Porke era a vida um leyto
ke powko podia gozar
subiw korrendo as eskadas
?por ke não trokow de par?
?por ke não trokow de lar?
?por ke não trokow de lado?
?por ke não trokow de fado?
?por ke não trokow de kazako?
?por ke não trokow de kalsa?
?por ke não trokow de sábado?
?por ke não trokow de gravata?
?por ke não trokow de sekso?
?por ke não trokow de kara?
?por ke não trokow de marka?
?por ke não trokow de muzyka?
?por ke não trokow de verbo?
?Por ke não trokow de verso?

88
Pó de Pir-Lim-Pim-Pim
Faz de konta ke somos felizes
Faz de konta e...!Xazam! Akontesew

Os olimpos oje vestiram azul-klarinno


O sol oje nassew sorriw
E um branko bigwá brinka no Largo do Anil...

Noso amor de oje é tal kwal


Foy ontem... Será amannã... Luas Xeyas de Mel...
Peter Pan sow ew
Vosê, Sinderela, kom mew beyjo amannesew...

O Rio de Janeyro kontinua lindo...


Nem ew...
Nem vosê...
Owvimos os tiros...

korkovado
!Á...! Se vosês sowbesem
Do amor ke esa sidade despertow em nós
Da natura mão do Belo
Ke nem gregos ow romanos, bizantinos
jamays

Se vosês por um atymo de segundo, pudesem


Do amor ke esa sidade despertow em nós
Parkos trajes Belas vestes Tanto faz
A esa sidade asim tão destinada ao Belo
Ke mesmo um breve ollar já satisfaz

!Á...! Se vosês sowbesem


Do amor ke esa sidade jerminow em nós
Toda ira, as gerras
Das Feras Imortays
Seriam doses nas bokas dos pekeninos kristos
Os brasos sempre abertos para nós

89
Deliryo Plúmbeo

Xove kopiozamente em toda a sidade do rio de janeyro


?Xoverá ainda em Nova York?
korasão xorozo, navega ao turbillão das korrentezas
remoinnos
por avenidas, ruas e lamedas enxarkadas
Korasão ke boya aos trankos e barrankos dos detritos

Rekonnese nas almas enlameadas


o antigo xoro dos aflitos
os orizontes okultos à mão das sinzas
Ierofantykas agwas, a rekordar as orijens derretidas
Muyto antes das estrelas fazerem o sew traballo

Korasão xorozo deyxa-se lavar


Ao disabor das kurvas, das mágoas
Em diresão ao sew destino elementar

Não treme, não ranje os dentes


Ainda a só tristeza de não ter feyto tudo o ke sabia

Kwando os séws pararem de xorar se eskoará


Tal ke o tudo todos, ao grande ralo
do subterrâneo mundo
de vermes e esgotos
surdo/mudo

Deliryo pós-antropofajyko n° 29
A Poezia não se eskreve nem se deklama;
o ke se eskreve e se deklama é o poema.

90
Umws

Premer Polir Forjar


Até ke do aso fasa-se o fasyl
Seja Falso
Até ke seja o owro
Metal timydo
Mera Semipresyozidade
E o brillo
Do diamante mays karo
Seja palydo

Para ke owsam apenas O Sange


Umano
Latejar na têmpora

Para ke saybam de todo Odyo


Kontigwo
Vizinno
Kontido
Na palavra mor

Vida Literarya
Vez em kwando também a mim, me rondam os abutres
A uns, servem-se de kafezinno; uns owtros, serveja
Todos sempre kosam
as azas das noytes frias;
lambem os labyos finos
uns, bikos de porselana
engrosando a lingwa, datas venyas
os de resente ofisyo

kwanto a mim, não tremo nem kuydo


ow me faso de puro
ao derramar mews vinisyus
em suas toallas bordadas

91
Kada palavra é uma serpente
Lingwa oblikwa de fora
A konfundir os odyos
Kom o amor de owtrora
Kada palavra é uma dentada, e ela
Espera ke doa

Kada palavra é dose veneno


ke mata
kwando se está à toa
Kada palavra é redondilla, suave karisya
kwando se alegra

Kada palavra é poderoza


trombeta
de Jerikó
A derrubar murallas, konstruir mundos
à imajem e semellansa do vensedor

As palavras são fakas


kwando os ollos brillam
sorrizos
e os labyos e o korpo todo,
sorrizos
do aveso demonyo
nas entrelinnas de um rosto
vestido de anjo

As palavras são farpas, finkadas


na alma, a mergullar o korasão na dor das promesas
náwfragas

As palavras são moedas


kwyda onde gastas
Ke as palavras são pagas
de palydas lembransas

92
Porke dobrey-me sob sews ollos tão mel
Porke dobrey-me sob sews labyos tão mews
Porke dobrey-me sob sews seyos tão venws
Porke dobrey-me dobrey-me sob sews pelos dezejos apelos

Porke dobrey-me dobrey-me mays sob sew ventre karente kalyente


Porke dobrey-me sob sew xeyro de keyjo e sal
Porke dobrey-me enfim sob sews joellos de sade
Porke dobrey-me muyto mays dobrey-me sob sews pés de safo

Porke doew, kerida


Mas me levantey

Konsilyo de Trento
Amey vosê, Alise
Amey vosê, Maria
!Amey igwal, Berenise!
E ainda as amo, em tanto
ke não sey
de vosês
se são mesmo trez

Ow se serão, talvez
uma antiga duvyda
medieval:
se vosês são trez em uma, ow
se são a mesma uma una
em trez

93
Safo

94
Safo
πολυ πακτιδος αδυµελεστερα,
χρυσω χρυσοτερα...
(Safo, de Lesbos)

Mays ke Arpa,
Melodioza
ke Owro
Dowrada...

Mays ke Arpa,
Melisioza
ke Owro
Gostoza...

Bilitis
Alegra-te, Mnazidyka
Já podes voltar a suspirar o vôo das sabiás korujas
Já, já, me axego

Tokarey as serdas da tua lira oniryka


Mews dedos de pluma e o mel
Dos tews poros e os labyos
Sugarey komo uma beyja-flor
Famelyka...

95
O Kão e a Gata

Não, talvez não me akredites


Poys nennuma fé á na eskuridão do tew kosmos
Mas tua noyte komigo seria ano e luz
Sufisiente ao brillo subyto de uma galaksya ke nasse
Não, talvez não me akredites

Mas só uma das tuas noytes komigo e seríamos


estrelas kadentes
xuva de meteoritos
a riskar os séws de pedidos
brillos
nos ollos de papays-noeys

Não, ainda talvez não me akredites


Komo não akreditamos em breves rosar de mãos
Aos bom-dias, boa-tardes ke sorriem em vão

Talvez nunka me akredites, mas


só uma das tuas noytes komigo alavankaria de volta o universo
ao sew enkayxe natural

Deliryo pós-antropofajyko n° 30
Se o poeta pudese,
diresyonaria toda sua sensibilidade e intelijensya
para a muller amada.
Mas o poeta não pode

96
Objetividade poetyka
(da serye: papos universitaryos)

...tristeza e rayva, são as minnas medidas


Não me leya, não me owsa os versos
Se keres da poezia - alegrias

Leya-me, owsa-me kom iras


O korasão pronto para o salto

Porke de tristeza e ira é feyta a minna poezia


De briga, muyta briga, e os gritos
Nesas kontendas kom umanos e dewzes

Espliko a ela kwaze tudo da materya-


prima da minna poezia
Enkwanto ela balansa a kabesa e afirma
ke esas minnas koyzas são tão komezinnas

Devo konkordar
[antes ke fike aflita
e derrube saleyros e konsekwensyas
devo konkordar
[enkwanto ela balansa a kabesa e afirma
ke esas minnas koyzas são tão komezinnas
Devo konkordar
devo konkordar
Devo konkordar

poys é presizo salvar a poezia


[e a trepada desa noyte xuvoza

97
Teoretyka

Tews ollos tew belo rosto, e o klaroeskuro dos tews pekenos labyos
semiserrados Tews tumydos seyos
Sonno twas terras markadas
Ao kabo da minna enxada

Se pekado, mays arado


Tew korpo Tew xeyro
Tudo tão delikado e rózeo
Sem pekado, mays arado
Anjos Kerubins Fadas Gnomos
Aliansa da Arka
e o Diabo
Se pekado, mays arado
Tua kara Tuas rizadas
Ollos klaros razos d’agwa
Se pekado, sem pekado
Irrompo tua femyna arya
Ao aso barítono da minna espada

Ezistensyalismo
Sayo dela owtra vez

A noyte é klara komo o xampanne


à beyra da kabeseyra da kama

Dez millões de estrelas


sobem-nos à kabesa

Dews eziste

Ela eziste

Kem não eziste é vosê

98
Central Park, Wine and Snow

It’s autumn

The naked trees eskapes their arms to the infinite nothing

Almost winter
We waited for the snow as we waited our souls
And we never, never, never saw
the snow, ours souls

We open the bottle to celebrate it


The endless of all

The red wine brings a kind of fire


We are happy, and warm souls we are

Suddenly
It begins to snow
In Central Park

Deliryo pós-antropofajyko n° 31
Para manter sua a muller amada,
o poeta se faz sol, o poeta se faz lua, o poeta se faz trevas.
Ke toda Muza vale bem um poema

99
Nada, nada me komove mays
Em tudo o ke em ti ew vi fazer
Ke akele primeyro fio grizallo da tua alma, ew
Ke te konnesi basta e negra kabeleyra
Mays negra e basta
No bayxo dos embayxos

Ao repente de uma fraze subyta


O primeyro fio grizallo da tua alma
Ke akompanney kresser

Agora estás indo embora, para sempre


A kabeleyra branka da alma ébana
Em áwreas madeyxas de ir e vir

Kwanto a mim, me deyxo fikar por aki


Nem alivyo nem jemido
Testemunno
O ultymo primeyro
Fio grizallo da tua alma

Naturalmente, entre a ira e o sizo


Entre o rizo e a lagryma
Ke me deyxaste kair

Korpo Antropofajyko
Sabes mews jeytos
E me segirás até kwando e enkwanto
tua pele vasta se abra
Territoryo profano
de sagradas intensões

Penetrar-te tão fundo ke a alma


sakuda aos ventos e os siryos, lonjinkwos
se apagem

E dansarmos nus
em torno nosas propryas brazas

100
Verbo

Kada palavra é arte


Enjenno, se não lle basta
Atymo ke o verso alkansa
Átomo ke sege além

Kada palavra é lammyna


A rasgar da karne a parte
Despida de esklamasão

Kada palavra é trombeta


De Jerikó, Voz de Jeruzalem
Murallas kaem a sews pés
Mil templos se konstroem

Kada palavra é elo


Nem Ultymo Nem primevo
Nem Instante Nem Eterno
Verbo
...umano...

Deliryo pós-antropofajyko n° 32
O poeta á ke tudo suportar kom pasiensya e karinno
as pekenas lentes sobre os pekeninos ollos dos ke o julgam.
Poys são eles, ollos sem luz, as primeyras vitymas da sua poezia

101
Pudisisya

Kwando kerias as mesmas serpentinas


Kom ke brinkaste antigos karnavays
Te oferesi o konfete vivo dos noktívagos
bayles atuays

Enkwanto suplikavas por koyzas proibidas


Antigamente inosentes rituays
Te dedikey a pós-moderna fantazia
Ke te atisava ainda mays (e muyto mays)

Kwando xoraste por toda teymozia


Ke te konsedese magos festivays
Te alegrey, te fiz gozar toda a alforria
das femynas mannãs

Kwando enfim te deste por vensida


E klamaste ke não xegase a kwarta
Te enlowkesi esparramando-te em sinzas
Na fornalla dos lensoys

Agora, aos akordes finays da nosa orkestra


Me ollas transversa, kerida
reklamando-te onesta

Deliryo pós-antropofajyko n° 85
ow, lembrando a karmem bizet, o poema é um pásaro rebelde/ ke ningém pode
aprizyonar

102
As Brumas de Avalon

Ew ke te keria The Fairy Queen


Te fizeste Morgana
Em feytisos setins

Ew ke te keria As Nove Muzas


Te fizeste nennuma
Para mim

Agora, ke tenno owtra


nem virjem
nem purisyma
Nem vika, nem kwalker
simplesmente muller
Apareses-me sonsisyma
Envolta nas brumas
De uma Avalon perdida

Tem um towro no mew jardim, mamãe


Tem um towro no mew jardim

Tem um towro no mew jardim, mamãe


Tem um towro no mew jardim

!Tem um towro no mew jardim, mamãe!


Tem um towro no mew jardim

!Á...! Tem-um-tow-ro-no-mew-!jardim!
Tem-um-tow-ro, !a!, no-mew-!a!...
...para-!íso!
103
Kambaxirra

Ela me vem
paso a paso
powko a powko
komo uma kambaxirra asustada
ela me vem

Powko a powko, paso a paso


De mansinno ela me vem

Ela me vem nua


Sob makiajens e setins
Ela me vem de mansinno, nua
Komo uma kambaxirra à tardinna

Kwando sorri, mesmo kalada


São lirykas melodias
Komo uma kambaxirra enkantada

Mays nua ela é


Muller-madrugada
Kwando um sol desperto
Ela uma lua ainda akordada

Ela me afaga – !bom dia!


Me viro na kama – boas noytes...
...kerida...

rowxinoys & kotovias


kambaxirras
e a kama
?kem presiza de nós?

O gozo eskorre, eskorre, eskorre


kataratas, kedas d’agwa, igwasus
...............................................................
depoys d’amannã troko os lensoys

104
Esgrima
Tik-tak, Tik-tak, Tik-tak…
Trimm………….mm
Trimm……….....mm
Trimm……….....mm
..................................
!KLIK!

Tik-tak, Tik-tak. tik-tak...


Trimm......................
Trimm……………..mm
…………………………
!Klik!

Tik-tak, tik-tak, tik-tak...


Trimm…………………
!klik

tik-tak, tik, tak, tik-tak


Trimm………………
Trimm………………
Trimm………………
Trimm........................
Trimm........................

!?Klawdya!?...
Ôy, amor...

Deliryo pós-antropofajyko n° 33
Do Manual de Poetyka – Bem eskrito, ow mal eskrito, bem-me-ker ow mal-me-
ker, todo livro de poemas pertense ao jênero literaryo romanse. Poys toda pala-
vra posuy poezia: da bula farmasewtyka ao tratado filozofyko, da ajenda eskolar
ao kantyko dos kantykos
Um livro de poezia teria ke ser eskrito por anjos – e a mando de Dews

105
Femyna Omini Lupus

Vinna se sentindo mal


Abriw ao akazo a ajenda da espoza
e lew:

(Este feytiso deve ser kantado mentalmente, sempre ke ele esteja nervozo,
kom akompannamento de batukes kadensiados, kada vez mays aselerados, e
um koro de vozes de exús aliados reforsando as esklamasões ao final de kada
estrofe;
reforso do feytiso: um sorrizo karinnozo nos labyos e muyta solisitude nesa
ora;
unyko perigo: o feytiso pode virar kontra a feytiseyra ke não domina esta arte)

Fogo-fogaréw-em-sew-korasão
!bão-bão!

Fogo-foginno-em-sew-korasão
!bam-binno!

Fogo-fogum-em-sew-korasão
!bum!

(retornar ao inisyo do kanto, kada vez mays forte e ritimado, até ke surta
efeyto)

Deliryo pós-antropofajyko n° 34
A estrada do sofrimento leva à eskravidão. A estrada do prazer leva à
libertasão. Fazer Belo todo o prazer, eys nosa mays awtentyka misão poetyka

106
Agwas de marso

A xuva eskorre pelos tellados


Maxos e fêmeas se buskam - atavykos
A xuva espanka os tellados
Maxos e fêmeas se enkontram - asirrados
A xuva lava os tellados
Maxos e fêmeas se espantam - lavados
A xuva eskorre pelos tellados
Maxos e fêmeas se akietam - kortados
A xuva pinga gota a gota pelos tellados
Maxos e fêmeas, atentos - reparam

Komo se a vida fose feyta de xuvas


E tellados

Maxos e fêmeas se kerem


– dezastrados
Maxos e fêmeas Fêmeas e maxos
antropofajykos
atavykos
awtofajykos

Komo se a vida fose feyta de xuvas


E tellados
De fêmeas
e maxos

Deliryo pós-antropofajyko n° 87
Do Manual de Estetyka – O poeta sabe ke vive um tempo em ke forma não é
mays kondisão de konteudo. A teknolojia avantajow a forma, fez do konteudo
verdade okulta. Vivemos um tempo pós-mitolojyko; vivemos um tempo pós-
okultista, em ke as verdades se distansiam, retornam ao kolo dos inisiados. Só o
pensamento poetyko desifra esas dansas de máskaras da vida pós-moderna

107
Ao Movimento da Barka

Ao movimento da barka
(masia)
Finjem ignoransyas
A forsa bruta dos instintos
inda ke esplodindo
preza de um sorrizo liryko
Ke aos ollos owtros não se denunsiam

O mar krispa os nervos


sal indivizível nas veyas;
O sol é lonje, para fora da linna dos orizontes
Tudo o ke dezejam é lua
eskura e nua

Sege sew rito, a barka


komo se em nupsyas
Um povo de konvivas ignora
korpos ke por si se gozam
o esplendor dos segredos
ke em silensyo se soltam
nem asim tão submersos
Mesmos sons da barka

Gozo profundo...gozo profundo...gozo profundo...


...Ke à eskuna-eskura akelas duas almas gozam...

Deliryo pós-antropofajyko n° 35
karo poeta: só obterás ser o poeta ke sonnas ser kwando eskeseres o relojyo em
tew pulso; e o número da tua ultyma pajyna (o poeta, aos inisyos do sew primeyro livro

108
Lunasão

!Lutey por vosê!


Lutey por vosê entre vaidades perfumadas
paletós e gravatas
plumas e paetês
!Sim! Ew lutey por vosê

Lutey por vosê entre suores eskravos


lowros likores eslavos
entre jenyos e rikasos
também ébanos, indyos e safos
Sim! Ew lutey por vosê

Lutey por vosê entre sons e ritmos diversos


kwando tokavam piano, violão
flawtinna dose, akordeão
kwando um tenor entoava a sua kansão
!Sim! Ew lutey por vosê

Lutey por vosê entre lowkos de todo jênero


frente o poeta, o literato
os de koxas grosas, os frakos
os sientistas, os pallasos
!Sim! Ew lutey por vosê

Lutey por vosê, amor


!Tanto! ! Tonto!
!Ke nunka mays lutarey, amor!
(aos enkwantos dos enkwantos)

109
Meras Konjekturas, Boas Vindas Talvez

Frio komo um sol de inverno serey agora


se
kero arder nela a payxão karnal
Mas iso é só um pensamento, fugaz
de uma mannã owtonal

Poys kwando ela afinal me xegar, espallando gotikwlas


de xuva em mew sorrizo beato
um rapydo retrato dela em minnas retinas kaladas
me rekordará de um algo allures na memorya atavyka
e ew lle desprenderey o kazako, jentil
farey o dekostume

E frio komo um sol de inverno a tomarey em mews brasos


antes ke
se refasa deses tays pingos de xuva
Frio komo um sol de inverno beyjarey sews labyos

...meras konjekturas, boas vindas talvez...

Deliryo pós-antropofajyko n° 36
Nennum poeta saberá da sua poezia se não sowber dos kwatro umanos ventos
da Terra, e das palavras ke sopram (o poeta, ao abrir as janelas

110
Da Ensiklyka Poetyka

Não se faz versos komo os ke levantam muros,


tijolo por tijolo, a masa forte, paredes a dividir o mundo.
É poezia ke não se enxerga,
do owtro lado, o poema submerso, okulto,
ao lado eskuro

Não se faz versos komo os ke fazem rowpas da moda,


tesido kom tesido, vestimenta ke só veste os tolos.
É poezia ke logo, logo, se data,
o tempo pasa, o poema é morto

Não se faz versos komo os ke fazem gerra,


inos e bandeyras, bayonetas,
a forsa bruta maxukando a terra.
É poezia ke não se gwarda,
a paz ke xega, o poema enterra

Deliryo pós-antropofajyko n° 37
Nege kwanto keyra o poeta os konseytos de relijião e divindade, nennum artista
realiza uma obra de arte, espresão orijinal da sua individwalidade artistyka, sem
fé awtentykamente relijioza

111
Amor sem metáforas

...e ew ke nem sabia mays


dos tews xeyros, dos mil jeytos
dos tews beyjos
Á...! Ke dor tamanna foy a nosa separasão!

...e ew ke já avia eskesido o rumo dos tews tezowros...


ke buskey – baldado intento! – em owtras tantas
Mulleres ke de tão lindas
Nem eram bonitas
Nem eram as feyas
...para mim...

Eys ke desde ontem à noyte


- nosos rizos, noso antigo botekim
Tudo Faz Sentido
as dores, as awzensyas
as buskas, as urjensyas
de prazer
Tudo Faz Sentido
Nesa Vontade Enorme de Ser
forever feliz kom vosê

Deliryo pós-antropofajyko n° 38
E, no entanto, sem fé n’O Poema, não se obtém poezia. Ver kom o korasão,
konneser kom o espiryto, eskrever kom os sinko sentidos. Eys os poemas ke
revelam o animal poetyko

112
Zoolojyko Intymo

Os kães mordem as pernas


E latem aos owvidos de merkador
E rosnam, e mordem
orellas de merkador

Os gatos por defeyto miam


E afinam as garras
As palavras, melozas
Até ke anunsiam
A morte pelo Terror

Os pásaros em jeral voam, fazem ninnos


As kobras se arrastam
Inkolwmes, até ke ferem
Os elefantes nunka eskesem
Os papagayos repetem
Os leões, os tigres, as agyas
Koytos e Farras, Kasadas

Umano Oje, ?Kwal Vow?

Deliryo pós-antropofajyko n° 88
mas o Verbo não é a palavra, poys esta é sempre uma umanizasão dakele... O
Verbo é a enerjia ke propisia a formasão da palavra... e à esa enerjia dá-se o
nome de Poezia

113
ad infinitum ad nawzeam

a palavra roda a palavra roda a palavra rola a palavra rola a palavrola a palavarola
paralora a palavra rola a palavra bola a palavra embola a palavra embora a palavra
mola a palavra mora a palavra kola a palavra sola a palavra arranna a palavraranna
a palavra amola a palavra akorda a palavra korda a palavra engorda a palavra
morta a palavra korta a palavra afoyta a palavra foy-se a palavra foyse a palavra
porta a palavraporta a palavra boka a palavra tonta a palavra foka a palavra rola
a palavra embola a palavra kaza a palavra roda a palavra rola a palavra rola a
palavra rola..........
!Ufa!!!..............................................................................................................................
a palavra kala a palavra mala a palavra sabya a palavra kobra a palavra mata a
palavra marka a palavra manka a palavra volta a palavra solta a palavra bota a
palavra moyta a palavra akoyta a palavra ama a palavra kama a palavra goza a
palavra forma a palavra fama a palavra lama a palavra teyma a palavra keyma a
palavrasoyta a palavra mente a palavra sua a palavra bole a palavra fole a palavra
mole a palavra agwa a palavra magoa a palavra lagryma a palavra kata a palavra
pedra a palavra rika a palavra pobre a palavra medya a palavra midya a palavra
limpa a palavra esperta a palavra pura a palavra densa a palavra fuga a palavra
muda a palavra farpa a palavra lerda a palavra ladra a palavra lenda a palavra rola
a palavra roda a palavra para....................................
!Ufa!!!..............................................................................................................................
!!!Êpa!!! a palavra roda a palavra rola palavra lavra a palavra xega.............//////
////////

[Obitwaryo: Na madrugada de ontem o Prof. Jocelindo do Couto Magalhães,


gramatyko e filólogo, defensor radikal da lingwa patrya, atirow-se da janela do
apartamento em ke rezidia. O profesor, antes de vir a faleser, ainda balbusiow
algumas palavras entreowvidas por tranzeuntes ke, no entanto, diskordavam
kwanto à sua ezatidão. Algo asim komo “a palavra mata, ow a palavra morre, ow
a palavra roda ow rola...”. O eminente Mestre, komo se sabe, traballava em
projeto de ley ke estabelese padrões para a evolusão ordenada da lingwa nasyonal.]

114
?A Kwal Lingwa Prometi Mew Korpo?
(Heiliges Land)

Manxastes o mew Korpo kom odyo


kom o sange dos mews pekeninos
sérebros/sekwlos
E o fizestes pela ambisão
dos vosos sérberos

Kwantas bokas kriey kalastes


À férrea unyka soberba voz

Agora
- e embora
vos ame igwal -
ke owtras sílabas arrannam vosos owvidos
ke tremem vosos tronos impyos
ao nervo mays karo, vosa lingwa altívoka
Digo-vos agora, mews adotivos fillos
Ainda á tantos owvidos tantos
Em mew korpo jenerozo e limpydo
Kwantos Mater Doloroza vosa dose voz owviw

115
Selene

116
Sol Eskuro

Sow só
Uma estrela perdida no etéreo vakwo
Sol sem terra, sem luares
Ke astrônomos e astrólogas distraídos ollam
Aos viezes de suas parkas lentes embasadas

Na eskuridão agwardo
Ke de mim se soltem os fragmentos nesesaryos
A formar os jirasoys da noyte eskura
A abrir as selas das antigas feras
Akelas, as de multyplas garras

Um kosmos, na imensidão agwardo


Ke ela se vire de repente
Vestida de intuisões
Note um algo invizível aos propryos ollos lijeyros
Ke a sua alma atavyka enkontrow
Na estatyka de um momento só

Na eskuridão agwardo
Ke se aprosime mays o mundo
Ke subyto nassa nela a muller ke ew kero
À kriasão de um universo inteyro
Ke ew posa então klamar:
!Fiat lux!

Deliryo pós-antropofajyko n° 8
São os umbigos ke revelam a konviksão nO Poema.

117
Borbolífera

Enkwanto ela buska a toalla


a enxugar-se dos mews visgos
Penso ke a muller é um kosmos sem prinsipyo
sem meyo, sem fim
Sempre aos meyos dos kaminnos
Disposta a flagrar-se de subyto
Nua
Por toda a eternidade

Para ser então dakele


Ke lle impõe uma segunda virjindade
(ow terseyra, ow kwarta, ow kinta virjindade
?kwal importa?
Desde ke lle restawre a etérea virjindade
A romper-lle as metamorfozes a kada vez

Kwando ela se aninna ao mew lado sosegada, penso ainda


Ke ao omem
Só o ke mays importa é a sina
De romper virjindadezinnas

E kwando reenkontra a virjem


(e dá a iso o nome de amor)
A muller é um kosmos sem prinsipyo, sem meyo
sem fim
Sempre aos meyos dos kaminnos, sempre
Disposta a flagrar-se nua
Por toda a etérea eternidade

Deliryo pós-antropofajyko n° 40
Não á poetyka se não se aseyta a imperfeysão. Poys toda a poetyka é diálogo
entre sagrados e profanos, umanos e dewzes

118
Bem-te-vis

Ao bem-te-vi poeta
A owtra marjem
Do amor se nega

Mulleres asenam
e os lensos
são brankos do imposível êstaze

Porke ao poeta
As marjens insitam
Mas não konvidam
A navegar os rios

O poeta dedilla os oseanos


A kada kurva dos kaminnos
Ineksorável destino
Suysidyo dos verbos
Para renasser menino

O poeta sabe ke é morte e é vida, e então


?O ke keres de mim, muller?
Tews verdes ollos kastannos de menina são lindos
E os owso komo os gritos das bem-te-vias vadias
Mas tão logo o repowzo dos koytos
fujirás de mim
fujirey de ti

Deliryo pós-antropofajyko n° 41
Sem alguma espesye de perigo não á O Poema
Sem alguma espesye de korajem não á o poeta

119
A Poezia vale mays ke trinta mil dinneyros

Vivemos um tempo
de medo, tristeza
e solidão

Ao menos sejamos
Poetykamente medrozos
Poetykamente tristes
Poetykamente solitaryos

A transmutar
rayva em kalma
xumbo em owro
inveja e resentimento
em poetyka moeda
Ke valla muyto mays ke os tays
trinta mil dinneyros

Krityka poetyka
Á os ke akreditam na palavra solitarya, kada a kada, komo se somente
nela abitase a poezia. Á os ke akreditam no verso, owtros konferem o poema.
Poys a Poezia tem muytos portays, para além das palavras, dos versos,
dos poemas. A poezia está nos não eskritos a ke todos os eskritos dos poetas
konvidam

120
Os Arpões de Eros
Flexa kupyda ew, logo te vi
Me apayxoney – tão terrivelmente
Ke o tempo, padastro das felisidades
Ezijiw o sew kinnão

Vosê era uma antiga pintura de Muller nua


Vestida em brankos diálogos, diáfonos

E ew
A kontemplar palydo o destino kruel
Num instante, prezente
em mews labyos tremwlos
No tew sorrizo impavydo

Owtra vez nos enkontramos – e novamente


o amor
Era posível

Mas foy korrikeyro, ese


- o amor
Ave tremwla
Azas lijeyras
E os medos de Eros
y sews arpões

O Poeta Antropofajyko
Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema
Mesmo o lixo eskorregadio
Ke o ordeyro lixeyro
(às segundas, kwartas e sestas)
Konstranjido, rejeyta
Por não lle valer a paga

121
Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema
Mesmo os fragmentos
Ke a mente superfisial enterra
Por despisiensya a kem, de despisiensyas vive
Despisioza vida
Em despisiendas kasas

Tudo ew, poeta, aproveytoaopoema


Mesmo os frakasos
Ke aos frakos de estômago
Abatem no sono
de esgotos profundos

Tudo ew, poeta, aproveyto ao poema


E babo
Feyto um vampiro, ke não ker só sange

Juntem vosos eskarros, sews vomytos


Espermas konjelados nas kamizinnas suadas
Das menstrwas madrugadas

Abrasem toda a eskatolojia


dos vosos abutres
e das vosas ienas
Kom o frio putrefato dos kadáveres nekroterykos
Konjelados

Tragam-me em vazillas de lama


ke ainda nem barro
Ke mesmo aos mays baixos maxos
torna-os amarelos palydos
após os rubros odyos

Porke tudo ew, poeta, aproveyto ao poema


Antropofajyko Awtofajyko, se nesesaryo

Mefístoles e Fawstos ew, poeta, dezafio


Na minna espurya luta pela Poezia imeresida

122
Pezos e Medidas

A minna amada não vale nada


E tenta, e seduz e se abre
A boka palyda
Os ollos rubros
Komo se amase de verdade

E dansa komo se fose a ultyma marxa


E fala
komo se fose a deklarasão das liberdades
E sorri
komo se kompreendese tudo, tudo
ke a jente gwarda
no mays intymo dos baús

A minna amada não vale nada


Mas kwando me olla na kama
os ollos nos ollos
vermellos e azuys
O noso amor não vale mesmo nada
E ela é tonta kwanto ew

Deliryo pós-antropofajyko n° 43
mas enkwanto a poezia for o instante e a eternidade, aos infinitos modos de
asim nos prezarmos

123
Kama de Solteyro

Mew korasão está pezado oje, powko mays ke ontem


Komo se os sekwlos tivesem feyto o sew traballo
Num’alma ke se mede aos frajeys dias, semanas
Num’alma ke se peza aos parkos mezes, neses anos

Mangeyras, abakateyros, kajus


se estikam em proporsão dezumana
E as plúmbeas tesem o sew traballo de eskonder
Os soys desas mannãs

É presizo rekonneser a realidade sekular dos dias


Eskeser as poezias
E fazer o kafé, e botar os lixos para fora
E fazer gargallar as makynas de lavar

Ao telefone ke toka ainda


despisiensyas ezalam sews fetydos dezejos
E a vidrasa da porta nesesita de brillos e xeyros

?Mews fillos virão nese final-de-semana?


?A konta da luz foy paga?
?O jornal já veyo, o jornal ke mantêm o mundo tudo igwal?
?E o lixeyro? – subyto desperto – ?O kaminnão já pasow?

As flores da mannã não são as flores da noyte – filozofo


Enkwanto ela boseja, e puxa o traveseyro
Kwaze sem ew sentir

Deliryo pós-antropofajyko n° 44
Uma barata sozinna, pekenina, engatinna ao bloko de papeys. Izolada, aska
barata, ainda mays aska. Deyxo-a pasar, pekenina, majestoza, mesmo aska, porke
vida.
(Sem alguma espesye de tolise não á poezia

124
Amor Ezekutivo

Tudo faz sentido (intelijente), kwando amo e sow amado:


Poetykas, Filoszofias, Politykas
Ekonomias, Lingwistykas, Sosiolojias
Tudo faz sentido (lukrativo), kwando amo e sow amado

Abro largo os meyos dos jornays


Sorrio dos kartoons e dos jograys
As notisyas são romanses, narrativas
De owtros kafés das mannãs

Ela me pasa uma torrada,


Despeja kuydadoza o bule do kafé
E o branko leyte pasifika, kom trez kolleres de asúkar
Minna sobransella ergida ao latido besta dos kães

Maskwlas mannãs, Femynas mannãs


Tudo faz sentido
Kwando sow amado, enkwanto konsidero
Se um garfo apontado é um ato de amor

Tudo faz sentido (enkwanto mastigo um pão komezinno)


Kwando amo e sow amado

Talvez seja por iso, medito


Ke ew amo
Dela o xeyro, primeyro
Enkwanto se veste para o traballo
E a arrasto de volta
– komo se fose um sábado –
A estikar o tempo
Sennor dos ponteyros
Dono dos oraryos

Tudo faz sentido (se ela diz ke oje presiza do karro)


e nem me preokupo
De já estar um tanto ralo – de kabelos
De já ser um muyto kalo – aos mews pés despertos

125
Tew Retrato

O tew retrato no mew kwarto, frente a kama


Ainda sorri para mim

Foste embora ontem........................................


.........................................................................

Oje, ezatamente oje, aos meyos-dias, voltaste


E o tew retrato, noso kwarto, frente a kama
Ainda sorri para mim......................................

É meya-noyte agora
Dormes, esgotada
De palavras e gosmas
O mew esgotamento enfim

O tew sorrizo no retrato, frente a kama


Ainda sorri para mim

?Kwal dos sorrizos


O tew retrato, frente a kama
Ainda agorinna sorriw?

Deliryo pós-antropofajyko n° 45
A Poezia está morta? Poys poetas, levantem e andem! Poys toda a luz e toda
eskuridão ke estão à frente são apenas as manifestasões dos vosos propryos
brillos asezos allures.
(o poeta, num momento de dezanymo

126
Klara Lutxy

Pude konviver kom o dezenkanto, kom o dezenkontro


Pude konviver kom o dezamor.
Pude konviver kom a umillasão, kom as falsas falas
Kom as lagrymas, kom a traisão.
Pude konviver kom a rayva, kom a distrasão

Pude konviver kom a desepsão


Pude konviver kom a dezolasão
Pude konviver kom a dezatensão
Pude konviver kom a mannã sem pão
Pude konviver kom a kinta estasão

Pude konviver kom a tara.


Pude konviver kom a máskara.
Pude konviver kom a rizada
Brotando do nada
Mays ke perfeyta asombrasão
(Ke a mim foy dado ver a luz da eskuridão)

Só não poso konviver kom vosê, minna dupla solidão

Deliryo pós-antropofajyko n° 46
Não á poema sem sua muzikalidade enkantatorya: seja muzyka das esferas, seja
a dos subterrâneos da alma umana, a popular ow a erudita, folkloryka ow
alieníjena, poema sem muzikalidade é komo uma orasão rezada sem fé. Nem
esta é orasão, nem akele é poema algum.

127
Mediunyko
?Vosê sabe por ke o umano salta
para o infinito abismo, o tiro
na têmpora, o gas
nos pulmões?
?Vosê sabe por ke o umano se mata
Unyka espesye ke o faz?
Vosê, ke me kontempla de lonje esas palavras
De um korpo já imune a kwalker dor

Ke do lado de ká vos kontemplo a todos


Os labyos serenos
O ollar trankwilo
O korpo imune a kwalker dor

O korasão liberto dese travo, amargo


Ao peyto ainda feyto de amor

Vosê, ke me kontempla kada vez mays lonje esas palavras


Mastigá-las faz bem à dijestão da alma
Nem se importe kom os estalos dentes osos
A mesma voz de então

Tranzes Tranzytos
Somos todos tranzes tranzytos
Nada nos faz eternos
Ow imutaveys
A esensya não nos pertense
Mas Aos Insondaveys Infinitos
A nos esperimentar
os provizoryos pasos simyos

somos todos tranzes timydos


e no entanto
nos apelidamos umanos, kwando
somos subytos relâmpagos...

...komo se posível fôsemos nós a luz


e A Eternidade espello...

128
O Inferno de Ékate
Xoro
E Ranjer de Dentes
A ke me Kondenaste
Porke Pekey

Xoro e Ranjer de Dentes


Sofro, Xoro
Porke Pekey

Eternidade de Xoro
E Ranjer de Dentes
Porke Pekey

Mayor Xoro
Mayor Ranjer de Dentes
Porke Ela Não Vem

Meya-Noyte
Não Adianta
Dezosarão a tua poezia
Até servi-la
Em bandejas de lata
Aos finos kanapés revolusyonaryos
Ow aos brutos pontapés da vã jentalla
(Voltaire falava em demensya da kanalla)

Não importa
Ke o keyras não keyras
Te rowbarão a alma
Te sakrifikarão os versos
Para os narizes de palla
(Sews rizos sews xilikes sew wisky nos sofás da sala)

Prosiga, porém
Ke tua sílaba vazia
Kontém todo o universo
Ke muytos prokuram em vão
(Owtra garrafa dese vinno bom? )

129
Kanto Pós Demokryto e Eraklyto

Num atymo, o átomo se faz


fogo fatwo de Dews
No intymo, o átomo é fogo
feyto fato de Dews
O átomo, os átomos são rizos
são estakas de Dews
O átomo, mil átomos, arawtos
das palavras de Dews

Os átomos, atomykos se espallam


na superfisye de Dews
Os átomos, atomykos, atonytos, sem azas
se perdem de Dews

Os átomos, atomykos, não morrem


suspirados por Dews
Os átomos, mil átomos, se alegram
verso sabyo de Dews
O átomo, os átomos, sawdades
do sorrizo de Dews
O átomo, os átomos, orakwlos
são ollos de Dews

Num átymo, os átomos, são lammpadas


são as luzes de Dews
Os átomos no éter são kriansas, são anjos
Santa Fase de Dews

Atomykos Atonytos Os átomos Mil átomos


Se sagram Se sangram Se sagram
Lá lonje
Fogo Eterno de Dews

130
Diálogos Amorozos n°11
!A Vida!
A vida não se vive aos sinko minutos, desidida
Ke seja asim para sempre, regabofe
Só o mellor pedaso da karkasa

!A vida é o bixo inteyro! Das karnes


altas, às magras
dos osos às tripas

!A Vida!
A vida não é a karne limpa
O sebo também é vida
Não é o perfume das primeyras rozas
Os espinnos também são vida
E os xeyros
Os xeyros ke vão das kozinnas às latrinas

A vida é majia, transmutasão


A vida é o amor-motor
Resiklando os lixos e os esgotos
Em fontes de agwas limpas
Do obseno ao pudor

!A vida!
A vida, kerida
Não se faz de ezijensyas
Antes, retisensyas...
...Me-ta-mor-fo-ze-an-do...

A vida não se faz no pensamento


– jenial ke seja –
instantâneo
A vida é para sempre, kerida

Por iso ke, se não a dinneyro pro taksy, amore mio


Não perkamos o prosymo onybus

131
vida de poeta
Falas muyto de Marx
de divizão de tarefas,
de traballo de baze,
mas kwando te levantas
nem a kama fazes
(Leila Míccolis, Vã Filosofia)

Dizes ke amas – !A Poezia!


E aos poetas, ke a Ela entregam
O mellor dos sews dias
Sob o rosnar das Ienas
Ke aos owvidos nos gritam
!Vagabundos! !Parazitas!

E ke lamentas
As injustas penas
E ke kompreendes
As garrafas vazias
A solidão, As lagrymas
ke mesmo rekollerias
Novisa
das madrugadas

E no entanto
Se o poeta é tew marido
?O ke dizes?
?O ke fazes?

Deliryo pós-antropofajyko n° 55
A diferensa fundamental entre A Literatura, in espesye, e A Poezia, pay/mãe de
todas as literaturas, é ke akela revela as finitudes das umanidades e do mundo,
kabendo a Poezia revelar os sews infinitos. O esensial é saber ke, se a Literatura
está nas palavras, a Poezia está no além-das-palavras

132
O Alimento das Gaivotas

...é, ew estava ali em pé


- tal kwal poste -
no ponto do omnybus
ke levaria vosê para sempre

No mar em frente, as gaivotas


farejavam as agwas
talvez mew mar de lagrymas

Vosê se mantinna erekta


Infleksível
Inexorável
Fria

Mays owtra vez


desvio o ollar
minn’alma preza
ao rito dos finitos

A gaivota se projeta
Mergulla e volta
O peyxe
Não se debate

!Á...! O mel dos peyxes


Aos bikos finos, frios
Das gaivotas

O omnybws xegow
Sem lugar de janela

Um beyjo frio em fases finas


E vosê foy embora
Me devorow

133
Menina Mosa

Kwando o tew vestido soltow-se, dos seyos aos pelos


Flagrow mays ke sonnara o mew korasão sinzento

Eras ainda komesando a idade, e ew


Muyto mays tarde
Tew rizo a insendiar-me, e ew
?Eroy ow kovarde?

Enkwanto a karne gritava por karne


A alma rezava a Nosa Sennora um rubro rozaryo

A vida tal kwal não é


De oje em diante farey a poezia
Da vida tal kwal não é...
Nem ke seja a poezia sosial

Payrando asima do Bem e do Mal

Farey a poezia astuta, esperta


A driblar a fera
Komo um sorrizo de muller

Mesmo ke me doa o kalo


Mesmo ke se entupa o ralo
Em ke se eskoa a dor

A vida tal kwal não é...


Komo um sorrizo de muller
Ow seja lá o ke iso for

134
Só a morte é unívoka
para Ilse

Tal kwal um filme prosymo e pasado


Ew me lembro do sorrizo dela perante a makyna fotografyka
Ew me lembro ke ela konfidensiow teve katapora
As markas espalladas pelas pernas, tinna ke subir a saya...

Tal kwal um filme prosymo e pasado, ew me lembro dela por partes

Um dia, fritando um ovo, dise ke o mew estava pronto


A jema estava kebrada, mas o dela fikaria ao ponto

Owtra vez, no aeroporto, me axow um tanto palydo


Tinna um sorrizo de lado e me dise: ?ke tal komesar de novo?

Kwando me flagrow na kama kom uma das suas empregadas


Dezandow a me xingar. Mas não me traiw nada demays

Teve a korrida para a maternidade:


Se for omem é tew, se for muller te gwarda

Kwando ela morrendo me falow das almas


Tal kwal um filme prosymo e pasado
Lembrava de mim por partes

Deliryo pós-antropofajyko n° 48
Kada palavra ke o poeta inskreve é umanae vitae ke o poeta mantém na trilla
do além-do-umano

135
O Ultymo Bigwá

ama
amanna
amanne
amannese
amanna
ese
amanna
aman nese
aman nese
amannese
amannese
amannese
A dor se distray na formasão dos bigwás. Amannese
Se eskese, no ajito do ultymo dos bigwás. Amannese
Amannese no Séw, Amannese na Terra, Amannese no Mar
Amannese. Amannese.Amannese, Amannese. Amannese
Num atymo majyko vê klaro o pasado: Ainda ontem
é antiga
mente é
pasado.
.amannese.
nunkaima
jinowver
tãoklara
a dordo
amor
pasado

136
Kravo de Marte

Serkow-lle os jestos
komo kem konnese a kasa
E aos negaseyos de muller pudika e fraka
Impoz sews muskwlos, não do korpo
Mas da alma

Ela, tentow fujir do destino manuskrito


em pergaminno de antigo ieroglifo
Desde ke, muller predestinada
A ser dakele ke a kizese a karne maskwla

Baldado intento! Akele xeyro, akeles labyos


Já markavam, roxos labyos, sew peskoso

Sabedor, de sennor, a férrea marka


Impoz sews muskwlos, lasos d’alma
Agora o korpo

Avansow rijo a gerra aberta


E a sidadela sitiada nem powpow
Kwalker algo ke pudese nem devasa
Resgwardar
komo se não fora amor

Konkistar, dela, tudo, o ke ela tivera


um dia sonnado à branka kor
Depoys, ir-se – antes ke xegada a primavera
É masyma gerreyra:
Gerreyro não é flor

137
Vika
She se esfinje de nothing
(e esfinje tão !well!)
She se esfinje de all
(e esfinje tão !mal!)
Se esfinje de whore
(e esfinje tão !more!)
She se esfinje de pure
(e esfinje tão !mall!)

Devosão
Os dewzes do verão
Inflamey-os todos
Os dewzes do owtono
Kaley-os todos
Os dewzes do inverno
Esfriey-os todos
Os dewzes da primavera
Ainda estow kom ela

Deliryo pós-antropofajyko n° 49
A melodia é a muza dansarina da muzyka em nosos korasões de poetas. Se o
poema não é a melodia, se o poema não é a muzyka, se o poema é o verbo, não
averá, no entanto, o poema, se a sua melodia, a sua muzyka, não nasserem do
propryo verbo-poema. Daí porke o poeta, profeta do verbo, só xega ao poema
se a sua muzyka: a saber, a muzyka kontida no verbo, a muzyka nassida do
verbo, a muzyka ke o verbo-lingwajem konfidensia ao poeta. Kwantas melodias,
koytadas, estão por aí, mulleres powko amadas, abrindo-se a tantos a preso vil

138
A Perfect Beach For A Bananafish

Ela estava irritada; ela estava irritada. Na alma, não sabia o ke se pasava
Só ke estava irritada. Afinal, komposta ela estava, nada justifikava;
Ela, estava irritada. Ela estava irritada. Na barraka O marido,
a filla, a forminna, e o balde d’agwa. Disfarsava Mas
ela estava irritada. Ela estava irritada. Ela estava
Irritada. Ningém lle mirava tanto o triangwlo
de Ve-nws, desde ke largara os dezeseys.
E akele kara o ollar edukado frio ko
mo aso, um vay-vem de pásaro
nela um unyko espaso, uma
pussy ke não era asim
asim tão(m)ollada
desde os dezes-
ssseys

139
Kintanise

Kaia ew de triste
Keria porke ew keria
O amor difisyl de Alise

Veyo um e falow-me: !lowko!


Mays um: pretensiozo...
Um owtro me ollow triste, nada me dise

Kintana, o poeta, alegrava-se dizer:


Não é porke imposível ke se a de não kerer

!Ke Dews gwarde os poetas!


Isto, não fuy ew kem dise
Veyo no beyjo de Alise

Intuisão
?O ke fazes, poeta?
?Ora, não vês? Rekollo os rayos
Dos Séws, antes ke matem

?E komo o fazes, poeta?


?Ora, não vês? Apenas os resebo
Simplesmente, estendo as mãos

?E não te kansas, poeta?


!Ainda ke não! Apenas reseyo
nos espasos vazios dos entreverbos
A voz nos trovões

140
Bateya

Arrogantes
Nos kastraram os versos
Em nome das só est-etykas
Por konta das vis moedas
Ke nem são dinneyro...

Dezesperados Agora
A Ágora sobram asentos...

Buskam nas selvas


Dos obskuros raymundos
Algo brillo de pérola
Em sityos profundos...

Dow-vos kaska
Dow-vos kaskallo
Dow-vos tudo sempre owvistes
!Mãos à lama!

Já vos lansamos pérolas


Diamantes são mays difiseys

141
There Are So Many Questions, ?aren’t
there?

There was a dark shakespearl hidden in a hard heart blowing


?What kind of just one woman to get a good harem, man?
?What kind of flower
to plant a beauty garden?
?What’s the sound applauded but just one hand, man?
?How many hands are silence
on a kuiet krowd?
?How many stars darkness needs to bright, man?
?Which is which wheat
Khrist used to multiply bread?
?How much pain to gain a solitary soul, man?
?What kind of love
they talk you’d loved in vain?
?Which kisses to get a good orgasm, man?
?How many lips are
how many you never met?
?How many thanatos you need to smile this way, man?
?And how you hope eros smiles you yet?

Deliryo pós-antropofajyko n° 50
O ato de kontemplar uma obra de arte é, sobretudo, um ajuste dos propryos
estados alterados de konssiensya, aos estados alterados de konssiensya do artis-
ta. É deyxar-se levar pelas markas d’agwa da universalidade umana, impresas
tanto nas obras kwanto no espiryto de kem as kontempla

142
Eskatolojia

Waste Land é a minna, simya


Maneyra de ser
Aos impulsos trêfegos das mimetykas
Artes de ser akem

No brain, ke não seja o molde


No heart, ice de ser or fire
Komo se sabe. Jamays komo se
E esa sawdade sempre no poder

Sawdade, a unyka vantajem


Dessa lira só disposta a não se deyxar morrer

Não kero o tew lirismo simpatyko


Kero-o aos pedasos
A não fazer da mente engasgo
Ow vomytos

Rekuzo a tua karne oka de muko e porra


Kero a tua pele masia, delikada, pronta
À mastigasão das nosas sombras
Até ke a luz dispare

Kero servir-te aos pedasos


Komo o fino fruto dos ovaryos
Á tantas tasas, mil xampannes

Para ke korram os restos


Para ke eskorram os mowkos
Para ke morram os mudos
Obvyos esgotos

143
ISTO NÃO É UM POEMA
iso é, se owver, alguma poezia – os espasos vazios deses todos v ersos
!pára um momento!
kontempla o vazio da pajyna,
enkoste-a, se presizo, às orellas
owsa k om ollos de owvir
veja kom owvidos de ver

144
gata sem kalsa na sala

“...ááiy! não sey porke...


mas ew gosto tanto de vosê...”
(!Ew sey!)

“!não!... Vosê não sabe... !Nem ew mesma sey! ...Talvez


porke numa owtra vida...
!áaa! Vosê me axa tão infantil...”
(Não, não axo)

“vosê não me kompreende...”


(Kompreendo)

“!não! !Vosê não me kompreende!”


(É, realmente, ew não kompreendo vosê)

“!ááiy!... mas nem me importo...nem ew mesma sey porke...


gosto asim tanto, tanto de vosê...

...ááiy...”
(?rumn?)

“...mááííiis...

Deliryo pós-antropofajyko n° 51
Poema é poema, krityka é krityka...
podem flertar e namorar – jamays kazar

145
Luminaryas

Não
Não vow dar ao sientifyko
O mew fazer poetyko
Prefiro Orjíako
Desdém

Sim
Konstruirey Armadillas
Paradoksays Antinomias
Desdém

Talvez
Em um owtro dia
Sejamos Eko e Melodia
Desdém

Também
Se o silensyo das mãos
Forem Vozes
Desdém

Aborto
O korpo se move pede lle pesa
O beyjo ke promete
O vento na fornalla As agwas do sempre

Os korpos se enkontram logo asim konsegem


As mãos ke afinam a arpa
As mesmas mãos, ke arrankam árvores e sementes

O korpo se disolve resta a alma


Pasam-se as mágoas
É madrugada e os pásaros: silensyo

146
Entredentes

Korrentes arrastando no porão Fantasmas


Grosas Lagrymas Enforkadas
uma gwarda monta gwarda gwarda o ke já gwardas
E esas restyas de sol entre as tabwas
Á um futuro - talvez - Owve um pasado
Estikas ambas as mãos, os brasos
As pernas são frajeys, e as azas
Palydas palavras

Ekos de almas rasgadas


Não. Nem somos os primeyros
Nem os ultymos, e o sereno
Estupydo. Preludyo. Rekomeso

Hölderlin
Ri – se te maxukam
Ri Mays – se te asoytam
Ri – inda ke te ofendam
Ri – ri, se te magoam

Ri – se te perdoam
Ri – mesmo te elojiem
Ri – se te o permitem
Rir mays – sem ke te markem

Ri – se te adoram
Ri – também – se te ignoram
Tew rizo – se te imploram
Ke rias – tal ke xores

Ri – o mays ke te posas
Ke mays tew pranto ekoará por todo o vale

147
Diálogos Amorozos n° 207

À umildade dos jestos


Não korresponde a umildade das palavras
Kwando a payxão verborrajyka sega
as batidas kardíakas

A umildade da vida – é vida


A umildade dos konsiderandos
umildade sem viso

Arrogante ew sow, kwando dentro de ti


(ke asim ezijes de mim)
Umildade és, kwando me abres os labyos
os todos
sedenta de mim

Umildade, Arrogansya
São termos ke nada têm kom o mew/tew amor

Apenas mentem os nãos


Das nebulozas ke os sins

Deliryo pós-antropofajyko n° 52
Só poetas, e os ke sabem a Poezia, detêm a liberdade de ir e vir pelas livres
portas das persepsões. Karregam konsigo as xaves para os portays dos infinitos
(o poeta, num momento de inosente empolgasão

148
Mizojenias

Ontem, te enkontrey num bar - deses


kwaysker
Em ke nos ollamos sorrateyros
sekiozos, atrevidos
Dezesperansados makinews

Dansavas kom owtros distraida e nua


para os mews ollos
Komo se fose a primeyra vez

Aos intervalos
Álkool e fumo
Biskoytos finos
Toaletes, bomboniéres aos papos
Intelektos mofados, korasões malversados
Korpos estendidos aos merkados

No entanto, proklamando-nos dignos


Na dignidade dos ratos

Aos desenkontros das finalidades


Persebemos o kwanto – futilidades – erramos ao lew:
Nosos propryos pekados e eses ew-te-amos
Nosos infernos de d’antes
Nosos pekenos paraizos
Nesas mordidas distantes

Deliryo pós-antropofajyko n° 53
Billete ao neofyto: não á poetyka sem teknyka, teoretyka e melopeyka ezatas
ao poema
(o poeta, inkorporando Ezra Pound

149
Subyto akorde

As ideyas, as ideolojias
Por uteys, ow futeys
Enganozas, ow simplesmente belas
As mays ke perfeytas lojykas
As estetykas
A todas elas
Agradeso, komovido
O sérebro esparramado

Mas agora, ke me vão xegando os anos tardios


Medidos a kalvisyes, fios grizallos e sekso fujidio
E tal kwal esa palmeyra versejante ke ora se posta
diante mews ollos
subyto despertos
[?o ke faz uma palmeyra versejante bem frente aos mews ollos,
subyto despertos
logo justo kwando filozofo?

Mas agora, kwando os pásaros da mannã


flawteyam-me melodias aos owvidos
subyto abertos
[ke me perdoem os filózofos, os politykos, os relijiozos]
Kero viver de brizas e brazas, ser verdadeyramente poetyko
ser sem ser
em permanente estado de fiksão

150
Poemeto em si bemol

mas os amigos abutres


eses rondavam
sua karnisa morta-viva
enkwanto
akelas owtras, ienas
lle arrankavam
da alma
os ultymos suspiros
e kom palavras garras
o traduziam
en mwerto mismo

muytos owtros lle rowbaram


os modos
e os pezos
e os jeytos
kom ke prosegiam
fazendo-se de vivos

agora, olla ele lá


mwerto,
para todos
Vivo
ensimismo

Deliryo pós-antropofajyko n° 54
O poeta ignorará, mesmo sob as mays duras provas, a divizão de kores e lados
ke a sosiedade asim organizada lle impõe. Ow não será poeta, e de nada valerão
os lowros kom ke lle kobrem, e ke só lle dão por servir-lle a eles. Os sekwlos
enterrarão a todos nós, é vero, mas enterrarão antes os filistews da poezia, e
sews xefes. Jamays soterrarão a liberdade poetyka, a mays ampla, poys ke dela
depende o propryo firmamento

151
Lenga-Lengwa

no, no me preguntes ke lengwa-lingwa jo ablo


ké, sinseramente, jo no lo sé
la lengwa de los siwdadanos de esto siwdade, ke lengwa es

pero pyenso ke por aká , ombre, kada kwal abla su propryo lengwa
pero todos se entyendem, por inakreditable
pero todos se entyendem, si, si

¿usted es un peskizador de lengwas?


¿es un poeta, desyerto? Tienes un syerto aspekto de poeta

pwes en verdad lo digo: por aká los poetas se entyendem


los peskizadores de lengwas no, no se entyendem
tampoko a los poetas

pero, si no es poeta
no, no me preguntes ke lengwa jo ablo
apenas me konseda un trokado
para más un trago
para más soltar mi lengwa, desyerto

152
O Sorrizo do Anjo

Já se fartow do mel após o tonel de vinno


Tragado entre gosmas e sarkastykas rizadas
Das bokas o xeyro de glandwlas vomitadas
Sem amor kwalker, maxos frijydos e sozinnos

Pekow ao kalor e ao som das melodias ninfykas


Ke a briza langyda espallava pelas nádegas
Modelow tufos de pêlos nesas madrugadas
Das fêmeas, doses e salgadas, provow jemidos

Korrew solitaryo e irado sinzentos kaminnos


Laserado e triste ao ferro em braza das rizadas
Dos falsos amigos, das ienas emboskadas
Kem toda a vizinnansa apontava por vampiro

Agora, rózea e pétrea alma, liberto espiryto


Sem temer do ar, da terra, do fogo ow da agwa
Dos nassidos de muller, frajeys kargas pezadas
Ao éter se entrega, alegre e inteyro, ao premyo
De voltar a ser anjo, aos Séws, resém-nassido

Deliryo pós-antropofajyko n° 2
Em toda a Poetyka, a krityka konfesional é uma balela. Sem nem lembrar o
konteudo sempre divinatoryo do poema, ao mellor estilo grego, o poeta nunka
fala por si mesmo, sempre voz de personajens em suas verdades. Ademays, não
é o ke akontese, traz as máskaras ideolojykas, em todas as relasões sosiays,
ekonomykas, politykas e até nas pesoais e familiares? Se ningém realmente “é”
todo o ke diz, por ke averia de sê-lo, o poeta? O poeta nunka “é” o sew poema,
o poeta está sempre em permanente ser, não ser e vir a ser

O poeta é um infinito ambulante

153
Tenno Muytos Amigos

Tenno Muytos Amigos


kwantos me bastam
À Estante, Impavydos

Alguns, de banno tomado


Owtros, empoeyrados

Todos Poetas
Tays ke Leyla e Flavyo
Eryko e Jilberto
Ke aos verbos me afagam
E pesoalmente se mostram
desenkadernados

Tenno Muytos Amigos


Kwantos Me Bastam

...e esa kadeyra de balanso...

Deliryo pós-antropofajyko n° 56
O Poema ezorsiza das koyzas o feyo;
sopra nelas o belo

154
Tew Fillo Xora Na Sala
enkwanto a mãe lle sensura e impede
alguma perigoza travesura.
Tew owtro fillo destroy uma kayxa boba
pela kwal tinnas grande afeysão
E nem reklamas

Pela televizão do owtro kwarto anunsiam sertos brinkedos


para kriansas, e para adultos
Para os kways o tew salaryo não tem mãos

E é um sábado
E xove miudo – powko antes de entrar a primavera
E estás mays vello
E não tens uzado o tew kalsão de banno

Tews owtros fillos telefonam


pedindo algum dinneyro
Pedindo ke não te eskesas do paseyo
Pedindo-te beyjos

Tua muller volta da sala


e kasa-te
a palavra muzikal do Villa
Para dizer-te
de uma deskarga de privada enlowkesida

Fexas o T.S.Elliot

Villa, T.S., os meninos, Maira


e esa xuva miuda
powko antes de xegar a primavera

?Tudo iso ker dizer ke sow feliz?

155
Περι Ποιητικη

A Minna Arte, esa Arte Poetyka


Às vezes jelyda
Sempre ardendo em brazas
A minna arte, esa arte poetyka
Tem todas as artes, as sete partes
do demonyo

A minna arte, esa arte poetyka


buska não ter metro ow parâmetro
Moda alguma ela sege
Nem de eterna buska ese tamanno

A minna arte, esa arte poetyka


tem todas as artes, as sete partes
do demonyo

Sob o Ollar Terno e Vijilante de Dews

Deliryo pós-antropofajyko n° 57
No poema, komo em toda muzyka,
a armonia da intelijensya é impressindível,
mas é a melodia na palavra ke toka a alma

...poys no poema, komo em toda muzyka


a armonia é razão
a melodia é emosão
e o ritmo, tezão

156
Dejelo

Á um tom de klaro-eskuro às seys


Seys, exatamente às seys da tarde vivo mews dias, entre o séw e a terra
Orizonte ao fundo, só as montannas me eskutam os brasos mudos;
Tudo konvida ao portal dos bruxos: os ke ajem nos owtonos

Dentro em powko será a noyte fria e ainda os blues me afinam


Vivo os sekwlos, segundo por segundo
O mundo me arrasta ao pó das galaksyas

Nesesaryo ser surdo, vejetal ke despenka aos rizos do pasado


Antigos atritos, owtras estasões

Abismos se abrem, rekollem as azas podres – e os pobres frutos ke se foram


Ela se alleya, ao aleatoryo ser ke sow, dezatenta – ke ainda me resta a dor

Kom poeyra o vento arranna a alma, a folla ke ela não regow


Dependurado ao gallo áspero do ke é solidão reklamo ainda o amor
Árvore Mater, ke me rejeytow

Somos sombras fujidias agora, brinkando à luz opaka dos moteys.


Buskamos deskolar os korpos ainda akostumados – devagar
A não doer demays, evitando rasgar tudo de uma só vez

Suamos as peles, as karnes, as glandwlas.


Os korasões mollados, um amor antartyko, jelo e distansya
Somos Estalaktites
p
i
n
g
a
n
d
o

157
Matematyka

Era algo asim


Komo um final de semana
em Kabo Frio
Enkontrar kom ela
para um sinema
ow só mesmo
um xope lijeyro
E depoys nós doys
e depoys
nós, doys
e depoys
nós

Era um algo asim


rotineyro, mundano, prozayko
komo um kafé kom leyte
um paletó e gravata
ela numas meyas de seda
e depoys nós, três

Foy um algo asim .Um algo asim


Um amor feyto de somas e subtrasões
De Nós
doys
três, kwatro, sinko
kwatro trez doys um
z-eros

Deliryo pós-antropofajyko n° 58
A luz do poema não fere a eskuridão
A luz do poema delisia a eskuridão

158
Mizojenias n° 2

Odeyo-te femyna alma


Inkorporada in korpore insano
Reklamo, de Eros
Ke nos fez parentes, dependentes
Ao prosegimento das rasas

Odeyo-te femyna rasa


Kom tua raxa
A engolir-me os retos trasos
komo kem doa

Odey-te femyna rasa


E o tew gozo - espuryo
Odeyo-te kwando em tew lodo
Também gozo

Kerendo apenas kontemplar os orizontes


Para além dos tews abismos
Para além de nós mesmos
LIVRE
Para te amar owtra vez

Deliryo pós-antropofajyko n° 59
Podes rowbar-me o poema. Jamays me rowbarás a poezia. Poys se é justo a ela
ke ew sirvo, a poezia. Leva o poema, amigo, fasa mesmo bom proveyto diso.
Ke a poezia, esta fika komigo

(o poeta, ao saber em boka impya um ow doys dos versos sews

159
As Novas Muzas

?Kwando me virão as poetizas


enkantar-me os gallos sekos
Kom sews rizos kristalinos
e os xeyros?

Xeyo de amor, ew ká me espero


À transmutasão das Nove Muzas
Em poetykas elokubrasões
Pulmões, Korasões e Fígados

Peles Umydas, poetiza, venna


Ke de brasos abertos vos espero
Ser um dia fillo das plumas
Dos Maskwlos Muskwlos
Ao Etéreo Eterno
Na boka dos sews ays

Poetiza, ew vos espero


Y prometo ser jentil

Deliryo pós-antropofajyko n° 213


Sow, poeta, apenas o arko. O poema, é a flexa. A Poezia, é o ferimento divino ke
transmuta a dor e a alegria do leytor em payxão.
(o poeta, krente ke é grande koyza

160
Ferrajaria Poyetyka
A’O Ferrajeiro de Carmona,
de João Cabral de Melo Neto

Mira, ferrajeyro......de Sevilla


Estas kalydas rimas kom Maria
Foram muytas noytes, tantos dias
Ke por amor me fiz intensa lisa
Ke em rubra forja montey ferrajaria

Mira, ferrajeyro......de Sevilla


?São estas rozas igways às das jardinas?
?Ow se anunsiam flores feytas de uma owtra liga?

Gerra e Paz
Kwanto enkwanto a paz e as palavras
Animam a rude atmosfera e a terra
Grasiozas plumas se arrankam às propryas almas

Bem-vindos os latidos o branko dos kaninos e as garras

- ?Kwal razão? Se dirão os tolos


(para os kways gerra e paz se dezafinam)

Um dews inda sorri


também ew
te adivinno
nesas flores
e os espinnos
mays garantem ke estow vivo estas mannãs

161
Fez ke se fez uma naw interestelar
A adentrar a noyte sempre mays eskura
Konfiante no destino e a veya maskwla
Estikava o universo até minuskwlo

Desvendar todos os misteryos, kwal ulises moderno


Nem kazo fazia dos perigos
Nem owzasem travesar o sew kaminno

Ela, era toda em noyte aberta


Uma lilyt eskura, gruta sem fundura
A lua, latejava um ponto apenas
Nem era lua, tanto era um korpo okulto

Ke adentrase, viese a kwalker tempo


Nem a tempo kwalker na larga noyte
Ke buskase penetrar a porta aberta
Já foy tempo se fizera porta estreyta!

Asim a naw, vagamente embriagada


Navegava, perkorria
Todos os kaminnos do posível
Penetrava, adentrava o mays lonjinkwo
Dos rekondytos protejidos por mil brumas
Navegar, navegar o tão profundo
!Ano-luz inda é medida deste mundo!

A pele, tinna o musgo


Vivo de florestas e perfumes
Tinna o masio dos felinos
E o branko era o branko dos kaninos

E a naw prosege a sua buska


A, em kada poro, um’owtra gruta
Karrega em sua killa a estrela gia
Nem á volta ke não seja por konkista
Os seyos, são doys montes
Sakrosantos montes arketipykos
Perkorrê-los kom respeyto e devaneyo
Mas á os bikos, mamilos ke asezos

162
Vensida mays a etapa konsegida
Sem ke posa perkirir kwalker vitorya
Atento se konsentra em sua lida
Tal se presta a um mandado ke divino.

Os pelos eskorrem desde sima


A intervalos se xega ao ponto vivo
Ke pulsa komo um kwazar no esterminyo
Enerjia ke inversa aos suysidyos

E a naw enkontra o inkonkisto


Aterra a rubra karne, e os anjos gritam!
Agora, navegante, estás sozinno
Frente ao muyto ke é tudo e é vazio

Á um xeyro de mar, revolto


Um alyto de morte
Um laso ke se afroxa e nem pensar
Ke ezista owtra vida, ow owtro mundo

E a naw, por dever ow por destino


Inkomensuravelmente mayor ke o infinito
Mergulla rubra forsa e penetra
A gruta mays aberta em dezafio
Ke se fexa e é uma konxa, é um marisko
Nem á preso para morte asim tão digna

Kwando o gozo dezabroxa, !O Verbo grita!


E kria tudo o mays anverso em volta
Brankas almas ke mergullam, gaivotas
Prazerozas em voltar de volta à vida

163
Kwatrillo Owtonal
(Aos Muytos Modos de Ler)
para Flávio Rubens

Vieram pedir ao poeta um poema


a kantar sonnos e esperansas kriansa

o poeta abriw sorrizo na folla


de papel em branko poezia

lá fora, no owtono uma borboleta


uma esperansa sonnando

tal kwal o poeta, não se impasienta sabendo


ke elas sempre xegam, as flores da primavera

Keda-de-braso

Não abrirás mão de nennum poema - tew


Em buska de mallarmés, baudelaires
Ow de jovens rimbauds

Não abrirás mão de nennum poema - tew


Mesmo ke nem drummonds, vinisyus
bandeyras
Não abrirás mão de nennum poema
De nennum instante
Da tua poezia

E ke atire a primeyra krityka


Akele ke nunka pekow por pregisa

164
Ritual de Vestir

...já ew, por primeyro sey de um Kristo


embora o menino (ainda o owtono ke sow
me fasa aos ainda pagão

por falar niso, também ew


sow masa em mãos de muller:
komeso inteyro, traveso me avexo
À travesa aos pedasos vow

ainda me sey planetaryo, brazileyro, karioka, plenitude e awzensya de kor


Mas nada diso me muda o plakar
Ow seja lá ke muda flor

!Ó..., vida mundana!


Kwal pedaso oje me visto
Em ke detalle me alisto
Aos modos de ser kem sow
(Sem ke a vista um owtro amor)

Deliryo pós-antropofajyko n° 60
A ezistensya antropofajyka é imanente a todas as koyzas vivas. Tudo kwanto
vive posuy a sua proprya filozofia antropofajyka, enserrada em si mesmo, o sew
misteryo. Não kabe ao poeta debrusar-se sobre o objeto komo um sujeyto esterior
a narrar informasões sobre a koyza em si. É presizo tornar-se o propryo objeto
para konneser, ezerser e ampliar as suas kwalidades. A poezia antropofajyka
propisia, em profundidade, tal metamorfoze epistemolojyka. Em owtras pala-
vras: o poeta é mesmo uma metamorfoze selvajem, e o poema, algo ke rosna e
berra e xora e ri e se enkanta e se abre em janelas para os eternos vazios infinitos
da poezia...

165
Epistemolojyko
Para ser poeta
Espremeste a larga alma
A tays agwas ke o Espiryto
Perdew todo o sew sentido
No deziderato de ser palavra

Mas olla se não é ela ke pasa

Para ser poeta


Trokaste tews versos por...
Gargallarias
E as klamava alto na ágora
Awmentando o som dos rizos

Mas olla se não é ela ke pasa

Para ser poeta


Sakaste da aljibeyra
a lira da alma
!Ke lastyma!

Olla se não é ela ke pasa

Para ser poeta


Depozitaste kontrito
Não trinta, trezentas, trinta mil moedas
Mas os brasos da serpente

Olla, olla, se não é ela ke pasa


Os seyos tremwlos
As koxas largas
A boka ainda umyda
Dos tews primeyros versos

Deliryo pós-antropofajyko n° 61
...poemar sem transgredir é komo amar sem posuir...

166
Moyra

Ela estava preza no sinal de tranzyto


Um powko aflita me paresia
Aselerava o karro komo se fose o frio
Das Montannas Nevadas

Enkwanto ew bayxava o vidro, ela...

Estava na mesma festa ke ew, solenes


Komo se fose o dia da sua formatura
Kolejial
Avia tanta jente entre ela e ew
E ew ainda tinna akele antigo kopo jelado na mão

Abrindo kaminno na multidão, ela...

Estava a kaminno da praya, um riko de um xapéw de palla


Levava uma koka-kola na mão e na owtra... nada
Avia uma larga kalsada e os karros
O sinal verde fexado
Bem ke ew tentey sorrir um owtro sinal
Mas ela ia lonje, lonje, lonje

komo se ew fora o sonno, e ela


a realidade

Deliryo pós-antropofajyko n° 62
O poeta ke buska transsender as koyzas simples,
não obterá mays ke uma palyda ideya da transsendensya;
mas o poeta ke buska a transsendensya das koyzas simples,
ese, obterá a poezia

167
Valkirya

168
The Fairy Queen

Uma bela y ezoteryka muller... uma bela tarde...


Uma bela kaxoeyra, suas agwas...
Ke ela dizia enkantada...

Os rizos...os jemidos...
Da sua voz de arpa e flawta
estoryas de gnomos...duendes...silfydes...
Elfos
Ke por ali abitam...

Oje
Á tanta agwa pasada...

Gnomos...duendes...silfydes.., elfos...
Misturam-me na memorya oje só palavras
Mas sews rizos kristalinos
Sua bela kaxoeyra, akela
bela tarde

!a...! os mistykos jemidos da sua voz de fada...

Deliryo pós-antropofajyko n° 63
Jamays, mesmo em nome da Mayor Luz,
o poeta abdikará de suas sombras.
Na alma de kwalker poeta
eskuridão e luz estão sempre se akarisiando

169
Um Graal

...eskeser do fragor das batallas


as masymas as minymas
tudo o ke seja derrota, poys
– e komo dise Bolívar –
...nunka é mesmo a ultyma derrota...

...eskeser tudo o ke em tua memorya...


memorya de menino
rezulte em odyo
ow dor

para ke o poema seja apenas ino


kwal seja o jênero
epyko
liryko
para ke o poema seja
nos espasos do intanjível
apenas um fiapo de fio
dos umanos nós

Omo Simbolykws
Três vezes o omem se aseyta
Em purgatoryos
Três vezes o omem se nega
Aos infernos
Para ke asim três xanses o omem obtenna
Viver sews paraizos

170
?dás a iso o nome de amor?
A mim xegaste komo um pardalzinno morto
Tremwla de frio, faminta de amor
Em minnas garras, depoys kalejadas, sekaste tuas azas
tuas agwas
tuas almas
Em minna fronte bebeste – !A Vida!
Novamente larga, infinita
Destemida
Em minnas mãos te akeseste – “!Não me deyxes!”
Nas fronteyras do gozo – sábiálaranjeyra
A reklamar antigas penas
Minnas azas kebraste, mews gritos de agya
Kalaste
Me deyxaste o eskuro das mãos
ao rizo alegre dos tews pekenos vôos
Os tews jemidos, e os tews enjôos

e deste a iso o nome de amor

Lojyka Metaforyka
Nós nos debatemos Entre a Lojyka e a Metáfora
E tanto faz
ke uma dite
Normas ke à owtra, sons inawdiveys

Nós nos debatemos. E nos dividimos


Marxamos inkolwmes
A owtros owvidos

Até ke um dia Serto alarido


Nos entrega à owtra, surdo-mudos
Até ke – mesma noyte, mesmisyma ora
Nos rastejemos àkela,
Sem nennum sentido

171
Epistemolojias

A finalidade do maxo é manter


erekta a sua personalidade
E à fêmea, kabe komover-se
Até às lagrymas
Desde sima aos mays embaixos

Oje, o séw azulklaro anunsia um belo dia de praya


Agwa salgada nas veyas, agwas salgadas
Brinkamos felizes na distrasão dos komandos naturays

Ela sorri, sorrateyra


Ew – sow seryo

Só um powko, me enkosto
Ela é pronta
Enkwanto uma onda, xeya
Enxe mays ainda os mews todos motivos

Na praya, é kalma, é paz – kriansas brinkando


Kastelos de areya

Kojitos ergo sunts


Nunka mays

Deliryo pós-antropofajyko n° 66
Entregar-se a alma às korredeyras é abdikar de ambas as marjens. Nennum
poeta say inkolwme diso.
Nem infeliz

172
Kafé solúvel, leyte desnatado

Intelijensya, korasão e nervo denso


Três aliados d’alma buskey fazer
[Ao mew propryo mens sana in korpore sano
Atenas, Afrodite & Príapo Dioniziws
À sombra dos ollares de um Pater Liber

Não digo ke deses pratos espuryos


nunka provey (sempre mays de uma vez
Sem arrependimentos, segredos
Ke mal gwardey

Ela
Não entende nada do ke ew susurro
Mesmo ao pé do owvido eskerdo
e os ollos
ke o jornal aberto em leke eskonde
se fexam
para eses mews mundos eskizitos

Lá fora, um sol keyma; uma lua teyma


As plantas kressem, gramas e kapins
As árvores e os jasmins

Kwanto a mim
kalmaria
marezia
De alma esbugallada para os orizontes sow feyto
de murmuryos ke sim, sim
de murmuryos ke não, não
enkwanto os awtomoveys, e os pedestres
enkwanto as notisyas, e as polisyas
enkwanto as krizes ekonomykas, e as politykas
enkwanto os esportes, e as kronykas
segem levantando as xíkaras
desas mannãs de café au lait

173
It’s Up To You

Vim à tua vida para te misturar


O tew dezejo kom tew jeyto
De se fazer amar
Vim para te misturar
O tew beyjo kom a tua boka
umyda de um torto esperar
Vim à tua vida para te misturar
A tua ira kom a tua vaidade
A ver a esplozão ke dá
Vim para te misturar
O tew ollar gulozo
Kom o fruto saborozo
Ke tanto kerias provar
Vim à tua vida para te misturar

Depoys – mero instrumento, sair dela, a tua vida:


Ke a tua vida é a tua vida...
Mistura grosa ow fina, é a tua vida
It’s up to you, I’m not suppose to
– but lucy in the sky with diamonds –
fazer vosê brillar

(He loves you, yê, yê, yê…)

Deliryo pós-antropofajyko n° 67
Toda arte é poetyka. Ow não é arte nennuma

174
Mew Reyno Mefistofleno

Ew tenno rayva, ew tenno odyo


Ew tenno em mim um inferno
Liberdade, a minna proprya liberdade
É tudo o ke ew kero

Tenno paradigmas morays – é serto


“amarás a tew prosymo komo a ti mesmo”
“amarás a sobrevivensya da tua espesye komo a ti mesmo”
Dews – tudo kom adekwadas distansyas

De resto,
Rayva – odyo - inferno
Tenno em mew korasão
Para além dos ferros

Akordo, levanto, eskovo os dentes


Kafé kom leyte, o pão fransês
Tal kwal todo mundo

Mas a minna liberdade,


Neses parkos sinkwenta metros kwadrados
Do mew apartamento alugado
São mews

Neste pekeno reyno sow livre – sow rey


Kwal rainna – ke tanto espero – não sey
!Mefístoles, tua vez

Deliryo pós-antropofajyko n° 68
Não é lisyto ao poeta kompor sem algum tipo de odyo;
às vezes, é mesmo sew mister agarrar-se a ele

175
Treppo, ergo sunt

A Orijem, O Prinsipyo
O Inisyo de Tudo
Asim no Universo
Komo na simples vida mesmo
meskinna
Da formiga ao umano
Tudo se inisia – O Unyko ke importa
É paw duro e xota mollada
E isto ainda é poezia

As rikezas, os imoveys, os awtomoveys


As jeladeyras novas, os televizores
De não sey kwantas polegadas
As bibliotekas, as videotekas, as amizades
Mesmo as tribos, masonarias e as familyas
As profisões, os susesos, as selebridades
E as selebrasões

Tudo, tudo o ke mays importa


É paw duro e xota mollada
Y todo akelo ki no es lo mismo pero es kwaze igwal
E esto – kreya – ainda es poezia

Todo lo resto es vil metal

Deliryo pós-antropofajyko n° 69
Se somos, poetas, antenas da rasa, à linnas kruzadas, interferensyas, balburdyas
de sons e palavras, entrekruzando-se por todo o planeta Terra. O poeta deskonfia
ke mesmo dos séws balbusiam-se diskursos

176
Espreso 999

?Kem foy ke inventow


Ke vosê é vermello
Ke vosê é azul
Kem foy ke inventow?

?Kem foy ke inventow


Ke vosê é eskerdo
Ke vosê é direyto
Kem foy ke inventow?

?Kem foy ke inventow


ke vosê é brazileyro
ke vosê é estranjeyro
Kem foy ke inventow?

?Kem foy ke inventow


ke uma koyza é uma koyza
ke owtra koyza é owtra koyza
Kem foy ke inventow?

?Kem foy ke inventow


ke vosê é as mulleres
ke vosê é os omens
Kem foy ke inventow?

?Kem foy ke inventow


ke vosê é terra
ke vosê é séw
Kem foy ke inventow?

?Kem foy ke inventow


ke vosê é orizontal
ke vosê é vertikal
Kem foy ke inventow?

Poys ew, poeta, não fuy

177
Pós-Solidão

É sábado, e é noyte
Mew amor número um é estatyka
Mew amor número doys é dinamyka.
É sábado e é noyte
Não estamos numa sesta-feyra
Muyto menos numa sesta-feyra à noyte.
Poys é sábado, mays ke tudo é noyte
Não se trata de uma sesta-feyra das payxões
Kwando os instintos se disolvem
E engolem as razões

Sábado à noyte, momento de saturno


E por soturnos se eskondem os nosos korasões

A primeyra é fria à sua maneyra, estatyka


“ – Sow só, mas sow independente”
Akostumada aos eskuros de um leyto feyto de kriansas.
A segunda, sábado à noyte, é fria também – por owtros motivos
A segunda é dinamyka.
Ela buska mays ke nunka o jelo das desizões
“ – ?Kwal importa? Não é tudo o mesmo?
E enkontra as kalsas ke às sayas dizem:
Solidão kum dignitat

É sábado à noyte, não é de mannã, nem é de tarde


Também para mim elas são duas e são a mesma uma numa só
É sábado à noyte – estatyko e dinamyko ew sow
Ora mays lijeyro – ora reparo no pó de uma dobra de kadeyra
Elas se divertem, talvez – talvez me tentem eskeser

Sayo para o patyo e o palyo de luzes subyto me entristesem – as estrelas


É sábado à noyte – e por mays ke ew pense e tente me emosionar
Nem os brankos kornos me nassem à kabeseyra do mew ser

Para ke mews ollos fexados, minna boka bosejante, todo mew korpo enfim
Não ezijisem de mim esa urjensya em dormir
E ew pudese ao menos sofrer a dor d’un temp perdu

178
Maturidade

Sow frio komo um sol de inverno


Kwando uma lua xeya ferve
Atraindo vampiros

Esvoasam e konfundem-se
Às luzes amarelas, aproveytam-se
dos kyaroeskuros

Permaneso frio komo um sol de inverno


Disfarso-me, os amarelos
Enkwanto me bikam os intestinos
e o fígado e o baso e todas as vísseras
servidas aos bons bokados

Mas permaneso frio komo um sol de inverno


apezar de todas as vãs tentativas
dos ke se alimentam das sombras
ke não korrem bayxo as árvores

Lá fora é noyte, ontem


Lá fora é dia, oje

Multikores são lansadas aos orizontes


entre sorrizos e emosyonalidades

Kwanto a mim
Sow frio komo um séw de inverno
E nem seker tenno sawdades

Deliryo pós-antropofajyko n° 70
Somente o poeta ke sabe o misteryo poetyko de um sagrado korasão pode
ambisyonar saber da poezia os poemas

179
O Poema e A Letra

Fazer o poema mays muzikal


Melopeyka fortuna
Em ke os muzykos
do mays klasyko, maestro
ao mays banal
Não owze dizer
palavras em pawtas, simbolins

Fazer o poema: anunsiar


!IDOU H MOUSIKH!

E ke a arpa se enkante
Em nada traduzir
!IDOU TO POIEMA!

Ontem mesmo, mays um amigo


Me traduziw as sílabas em notas
Feliz ele estava – elojiozas finuras

Enkwanto da Ágora o intymo koro: Sófokles! Eyripydes!


e Eskylo!
Safo e Alsew:
O sofrimento dos poetas não tem fim

(enkwanto um Bakus Dionizyus sakode as pansas e ri

Deliryo pós-antropofajyko n° 71
O misteryo do fazer poetyko se eskonde nas kurvas da livre rima ritmyka

180
Duas Oras da Mannã

São kwaze duas oras da mannã


Na alma já um klarão apresando o amannã
As kambaxirras trinando sews kompasos
Ke me komovem às entrannas
De um tempo em ke se owviam ainda
Os misteryos susurrados pelas sombras
Ke se despediam dos sonnos
Murmurando – volte para mim

A angustya subyto desperta


Nem se dá konta das oras
E buska aprovasão enkwanto dorme
A palavra amiga prosyma e distante

O telefone toka (inkolwme)


A noyte reklama – !?Iso são oras!?

Envergonnado, rekollo-me – Um ultymo gole...


E já vow dormir

(talvez, kom um powko de sorte


sejam sonnos de sorrir

Deliryo pós-antropofajyko n° 72
Imajinasão é Razão e Emosão fazendo amor kom Tezão
(Asim nassem os poetas

181
O Relojyo

Xega sempre o momento


Em ke o travo da serveja
amarga
E fikamos asim, asim
Kontemplando a nós mesmos kom os ollos
alleios
Não somos ezatamente o ke aos ollos
dos owtros somos
Não ezatamente
Mas somos um powko (às vezes tanto) o ke aos ollos
dos owtros estamos
A lingwa de bôy, os ollos morsegos
Os labyos resekados
A fase kwaze obssena
Xega um momento em ke nos vemos
Aos espellos
E kwaze akreditamos

Ora de ir para kaza – nos dizemos


E dormir
E no entanto insistimos em nos eskeser
Por mays alguns momentos
até o amanneser

Mas é noyte ainda


Alma eskura
?Por ke nos preokupar?

!Eys ke a mannã nos flagra!


Kwaze envergonnados kambaleamos
em diresão à kaza
Talvez lá dentro, a kama ainda kente,
Ela espere
por satisfasões
Talvez
Mas kom serteza, não
Ela não me espera
por satisfasões

182
Poys esa é a sentezyma noyte
Após o ultymo perdão

Abro a jeladeyra e o frio


Me aviva a razão

Puxo a penultyma serveja


Sem kopo, atraente gargalo
E kem sabe ainda keyra ligar a televizão
Três pasos para a solidão

Definitivamente sow feyto de frios


E ferro, e jelo, e sal

Por iso me deyto de sapatos


Por iso um monte de pensamentos
dezenkontrados
buskam em vão

?Ke me importa? - ?Kem se importa?


Kom a porta ke eskesi aberta
Para o korredor vazio

................................................................

E lá kwando o despertador desperta


!Traballo! !Salaryo!
Lá – ao menos
Ainda têm medo de mim

Deliryo pós-antropofajyko n° 73
Doys monólogos-preludyos, por mays ke se akarisiem, não fazem um diálogo-
orgasmo
(o poeta, ao telefone kom uma antiga muza

183
Esas Follas Ke Kaem
O verão se vay ao fim
Um verão prejudikado por dejelos e rasgos
Na kamada de ozonyo
Dizem – os entendidos

O serto é ke o verão se esvay


E as agwas de marso são komedidas
Não agwam a alma
Não lavam

Akaba-se de ir o amor prezente


E o amor pasado,
Embora as tolas promesas,
Ke a jente sempre espera esperansas,
O amor pasado são agwas
Ke apenas mollam a boka sedenta
O amor pasado não falla: sempre pasa

Estow só - novamente
E por iso devia regozijar-me
Sidadão ke sow
De uma sidade feyta de karnes avydas

Mas esas árvores


Esas follas ke kaem
Esas brizas matinays
Ventos à tarde

E esas kansões ke me akodem a alma


E esas vontades ke me vêm e vão
E novamente esas follas ke kaem
E mews propryos gallos desnudos

E esas tarefas domestykas ke não se enserram nunka


E esa morte ke se delonga e se delonga
não vem
E ke me faz subyto desperto
E a kampainna da porta
E as karnes bovinas ke xegam

184
E o xeke ke asino: oytenta e sinko reays e kwarenta sentavos
E kwando o telefone toka
E sow destro, sow pronto, sow karnívoro
– !? Alô, tudo bem?!
E logo depoys
Esas follas ke kaem
Apenas sujam o mew jardim

Atento, me penso
Esas follas ke kaem
Apenas sujam o mew jardim

Rezignado, kato-me
as follas brankas
.....................................
?kem presiza de owtonos?

Νοµων
Ke me importam sews furunkwlos
Kokares Kolares Tribos
Apenas kero a muller
Ke a Ley Mayor fez komigo

Maws merkadores vosês


kobram do amor alto preso:
À uma ke se eskesa as azas
à owtra ke se korte as patas

ke me importam sews furunkwlos


kokares kolares tribos
A penas kero a muller
ke a ley menor fez komigo

?Kwantas estrelas ezistem


Nos séws dos sews paraizos?
?kwantos sapos kwa-kwaxam
nos xarkos dos sews dezignyos?

185
Não Averá Paiz Nennum

...kero viver !Kero Viver! !KERO VIVER!


Kero viver em permanente estado de fiksão
Aseitando Jezus no korasão
Kom Bokaje, Sade, Safo, Kamões
Ew kero vivermo-nos
As delisyas de todos os infernos
Kero viver os paraizos,
Os inaksesiveys
dos infinitos
Dos Séws e dos Abismos
Ke purgatoryos são futeys danteskadens
E ew kero é vivermo-nus

Xega dos medos de me dividir, razões de subtrair


Para somar solitaryos unísonos
Aos komandos das bestas piramidays
Para fazer um paiz $$$$$$$$$$$$$$$

Não kero paiz nennum


Kero-me individwossssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss

Deliryo pós-antropofajyko n° 42
Á...!, poeta, kwando aprenderás a odiar sem poezia?

186
Korasão Inesperto
Mew korasão – e apezar dos lasos.
dos nós
das tripas
ke lle ezijem
o sange
Mew korasão permanese aberto
Embora me alertem ke sow vello
Para tays estrepolias

Mew korasão aberto


Mew korasão aberto
Ke não se fexa
Por mays ke as intelijensyas komandem
- korasão Inesperto -
Mew korasão aberto me enkontra
as fases livydas
o korpo erekto
Mew korasão aberto
- ?kwando se fexa? -

Mas a kaza do mew korasão tem muytas moradas


Todas portas abertas
Para os infinitos prosymos e distantes
Para os individwos konfesos

Deliryo pós-antropofajyko n° 65
O poema é sempre, tanto para o awtor komo para o leytor, uma viajem em
buska da revelasão poetyka. Não á modelos poetykos para além do ke é propryo
à espresão de kada poeta, à persepsão de kada leytor. O ke mays importa é se o
poema logra estabeleser uma relasão jenuina, entre os relativos
ezistensiays(lingwajem, individwo) e os esensiays absolutos (Dews, kosmos, Mun-
do, Ew Profundo, Umanidade, ow o ke kizerdes). Asim sendo, não eziste poezia
sosial: poezia sosial é sosiolojia; não eziste poezia polityka: poezia polityka é
ideolojia; não eziste poezia filozofyka: poezia filozofyka é filozofia. O poema é
um rito de fé no mundo em buska da sua revelasão poetyka

187
AKATÍ

Voltey
Para reviver os antigos paraizos
Me ofereseste, dadivoza
Antigos purgatoryos
Aos meyos dos infernos tão antigos
Antigos...ó...antigos...ó...antigos purgatoryos
Mas as velas do mew barko balowsante
Não atrakaram tew kays
Nem antigo
Nem moderno

O oseano, o mar bravio


Feyto de prezentes...pasados...futuros
Feyto de urjensyas...de lasos imediatos
E a ventura de ser sempre navegante
Falando mays alto
Ke as karisyas prometidas sem verdades

!Terra à vista!
Em tew jardim, bem-te-vis se alegravam
À minna xegada
Pardays marrons saltitavam
E os beyja-flores sedentos, deskuydados
No agwardo
De abrir-se jeneroza a dose flor
!Ó ludyka vida! Ó dose mel da ezistensya infinita
Voltey

.................................................................................

Antes o mar adamastor


Poseydons sem senso de umor
Ke o tew falso sorrizo
A me atrakar
A antiga dor
Marinneyro me vow, navegante
navegar

188
kem sabe mays adiante me volte
Em tew sestante distante
Venws no séw brillante
E sorria um korasão dezantigo
Ainda xeyo de amor

Aos enkwantos
Prefiro Adamastor
Inimigo sinsero
Poseydon sem senso de umor

!Isar velas! !Rekoller velas!


Remos e a forsa dos brasos
Às kabeseyras do mar

Kero sirses, kero kalipsos, kero sereyas


¡Ítaka traysoeyra!
Tew antigo kays
Fikow pra tras

Ke retornar é morrer

Rekaida
Ó Dews
oje
afasta de mim o tew kalyse
do vinno viril

...ke oje
prefiro-me pekenino liryo
deses, ke se vay pizando nos kaminnos
perdido na vorajem dos kapins...

...ke ela vem e kolle distraída


komo kem apenas subyto se espanta
kom a delikadeza dos tempos d’antes...

189
Ministeryo

I love trees, growing up – the flowers


I love people, growing up
Smile
I love women
Ay!, I love women very, very, so more
and so much
Growing up

I love my penis, growing up


Ay! I love so much
My penis
Growing up

I love God, growing up


On my heart, on your heart
Growing up
(and I love even evil
growing up
but smart
I love even evil, growing up, but smart

If you have that old and empty doubt


Look to the stars, as well you rise a smile
Let all Human and Nature, lying on your heart
To get through your life
Growing up

Deliryo pós-antropofajyko n° 74
O bikinno-de-lakre powzado no ramo à janela do poeta anunsia ke a fé, a ke
move montannas, nasse da alegria
(o poeta, kom um sorrizo tolo nos labyos

190
Ministeryo n° 2

O objetivo da vida
É viver morrendo-se
Depurar-se dos osos à medula
Do nervo ao muskwlo
Do sange ao sérebro

É transformar-se, de karne
Espiryto
Ser o espiryto ke komanda
Não o korpo ke obedese

Das koyzas ao espiryto das koyzas


Do mundo ao espiryto do mundo

O objetivo da vida é O Kaminno


Do nada aO Tudo
Poemas
Somos sempre os meyos
Para os amplos infinitos

Morrer-se
É levantar ânkoras e ir-se
De portos inseguros a oseanos trankwilos

Duas ow trez koyzas devem ser kwydadas, no entanto


Os kompanneyros de viajem
Os kantos das sereyas
E os sopros dos dewzes
(os ventos nos tews impulsos

Deliryo pós-antropofajyko n° 75
Ollar a si e as pesoas todas em sua karne viva, em sua alma aflita, esta a maldisão
mayor do poeta.
Também sua salvasão

191
Noz de marinneyros

Se á estrelas em nós
Tão luz ke nos fasa ir
Kanto as trevas em nós
Tão luz de nos impedir

Se á estrelas em nós
Tão luz de nos impedir
Kanto as trevas em nós
Tão luz ke nos fasa ir

Os Mares e os Séws
(Diz o mew sestante)
Não brigam nem se negam
Mas se apoyam e se ekilibram...
A Vontade ke á no Kosmos
é a vontade ke á no kaos

A Natureza e Os Séws
Não se negam... se ekilibram...
Navegar mays é presizo...
lego ludyko
...navegar mays é presizo...
ego multyplo

(...e fike kem kizer kom sua tribo


sem ke me enxam o sako por iso...)

Deliryo pós-antropofajyko n° 76
Ao poema, de nada vale a indiferensa ow a vaya
dos ke não tem owvidos para owvir,
ollos para ler, nem mãos a abrir o livro kom fé.
A eses o poeta só se dirije por parábolas

192
Korpws Kristy

Oje é dia de Korpws Kristy


E á muyto mays fantasmas no porão
Por akazo o séw nassew, e sustentow os azuys klaros
desas garras kwaze brankas

Sugamos kamikazes todo o eskuro das noytes lobizomens


E aseytamos nosos odyos kom naturalidade madame
palreando aos espellos dos salões de beleza
!Bon-soir Tristesse!
Não asustas mays

Aki e ali obtemos rowbar nakos de felisidade


A felisidade é um rowbo – dise um filózofo
E se asim não dise foy o ke kis dizer
Poys afinal iso implika implisyto em todos os kânones osidentays

De resto, os awtomoveys persegem buzinando


Os asaltantes persegem os klase-medyas
As polisyas persegem os klase-medyas
Os governos persegem os klase-medyas
Os klase-medyas persegem os klase-medyas
Mas aos kyaroskuros todos finjem ser iso ow akilo
Por medo da kruz

Oje é dia de Korpws Kristy


Eskesamos os korpos putrefatos no porão

Deliryo pós-antropofajyko n° 77
A arte poetyka: esa meduza, esa idra de lerna, esa venws implakável. E esas
arpyas e farizews a subtrair orfews

193
Semypoeta

Se não á palavras, para espresar na lingwa


O kaos do ante-kaos
As invensionises dos imbesis
Ao tentar subtrair a lingwa
Da boka jeneroza dos ansestrays
Apenas prova ke esas antropofajias
Ainda são pekenas demays

Mas vay, poeta, kontinua


O tew poema.
Makina o verso
Fasa-se de dezentendido
Ke na eskina
Os ollos monstros permanesem abertos
Às sombras em tuas retinas

Vay, poeta
Makina o verbo
Livra-te desas midyas
Das akademias invadidas
pelos bárbaros

Se konstantinopla kaiw
!Fasa-te Atyla!
!O mayor dos UNOS!

Deliryo pós-antropofajyko n° 83
?Vosê me sabe, leytor
Pelos owvires ke owvem
Pelos ollares ke vêem
Ow pelos korasões, momentos
?Kways razões,
tews sorrizos se abrazam

194
Ese papo já está pra lá de kwalker koyza
A minna mão direyta tremula
Komo uma bandeyra gasta
De uma ultyma batalla
Desas gerras perdidas

A minna mão eskerda é Bokaje


Kom suas desbokajens
É Joyse, dando a Molly
status penelopeno
É Volterre, íkone das minnas libertas
aos opyos akanallados
Mays ainda Pound, o Ezra
Das makarronykas poliglatias

Kom eles, e mays owtros amigos


Fazemos da Ágora pley-grawnd
Y de la Akademia
Patyo de los milagres

Antes ke
...teser, zelar, enamorar-se
da ópera obra de uma vida
mesmo destas, komezinnas
tudo ke ao imajinaryo mays importa
todos os tempos, desde os mays pekenos
Todos os espasos, mesmo anxos, mesmo magros
aliando-se às mays rowkas empreytadas

aliar-se às lojykas só enkwanto não provadas


persistindo persistir em sendo umano
para allá, para muyto mays allá ke a fera makyna
(de saya rodada ow paletó e gravata)

...teser-se, zelar-se, enamorar-se


antes ke sejas tudo muyto tarde

195
Intelijensya Poetyka n° 2

Sow poeta, apenas mays um poeta


Intelektual o poeta não é

Se akademyko buskas tuas intelijensyas


No poema
Buskas porke keres, do poeta
A imajem e semellansa de ti

Mas poeta não és


Intelijensya atada
Aos jelos e setins

Keres espello
Da tua aventura (para a poezia, espurya)
Ao sabor do mundo feyto Ideya

Sow um poeta, apenas


Não invejo o ke és

?Então porke kom mil diabos


Keres de mim reflexo
Da tua rala veya kardíaka
Da tua powka dor
Sem a alegria dos ke kantam kansões de amor?

Deliryo pós-antropofajyko n° 78
Nennum poema vem para trazer a paz, também a espada
O poeta sabe ke o verso ke doy em si
doy em toda a korrente umana ke em si lle korresponde.
O mesmo para o verso ke o alegra.
Mas o poeta sabe mays. Seja kwal fôr o verso,
o anverso lle ezijirá o sew kinnão.

196
As Serdas da Lira

Às vezes, o poema á ke ser inferno


para fazer nasser os Séws
no korasão desprevenido

Às vezes, o poema á ke ser efêmero


para fazer nasser o eterno
no sérebro pretensiozo

Às vezes, o poema á ke ser só verbo


para ke não se eskesa a sílaba
da lingwa frater

Às vezes, o poema á ke ser sawdade


para ke não morra no korasão
o majyko pasado

Às vezes, o poema á ke ser kaskallo


para ke não morra o umano
no poeta alado

Sempre o poema á ke ser

do verbo-poezia
eskravo-
liberto

Deliryo pós-antropofajyko n° 64
...kaminnará o poeta pela Ironia até obter rir de si mesmo.
Só asim se livrará das kotidianas lagrymas...

197
Para Enxergar À Noyte, é presizo
primeyro: ter medo – muyto medo e respeyto
ke a noyte é perigoza, poderoza, e sempre kobra
dakeles ke violam os sews segredos

Tem ke ser dela amigo, muyto sinsero


e amar em suas sombras, deskobrir – o ke á de belo
no mays aveso dos brillos

Mays ke nesesaryo saber dos sews servisays: morsegos, kobras e sapos


korujas, gatos e ratos
Asim komo dos sews menestreys:
os ke traballam à noyte, os mendigos – o ollar dos asasinos,
os sios inkontidos, e os jemidos dos ke se entregam aos suysidyos

A ke já ter bebido tanto, ter kaído – anjo na sarjeta adormesido


E agradeser, komo a um dews, ow a um sinsero amigo
ao kão aleyjado, vadio, ke lle veyo lamber o fosinno

É atravesar getos e fewdos – nas ruas, nos bekos


entre os tipos mays eskizitos, anormays
E sentar-se entre eles, ser mesmo kapaz – de falar, de kalar
sem despertar os animays

Saber das fazes da lua, e – tanto kwanto ela o permita – da sua fase obskura
Akreditar em São Jorje e no Dragão – eskollendo, de pronto, o sew lado
a sua misão
E arredar de si toda esperansa – de ser um omem inteyramente bom;

A ke xorar, dezesperado – o xoro mays afogado


e solusar o mays alto – sem ke perseba o kazal da meza ao lado
E o sew rizo, o rizo da alma
Mesmo à mays alegre gargallada
Nunka deyxe algém entristesido

A Fé, deve ser absoluta: em si, e nalguma krensa okulta


E a sua luz à distansya se oferesa – tanto ke a konfundam
kom o kaminnar de uma estrela

Para enxergar à noyte é presizo


levar a alma sempre eskuresida
tanto kwanto ela mesma, se posível – nunka dezatar dela o umbigo;
Konneser de toda verdade toda mentira – e, fundamental:
ke a noyte é klara, ke eskuro é o dia

198
A Poezia é O Verbo
...poeta lles digo:
A Poezia é O Verbo
Dominyo
Dos Espasos Infinitos

...o poema, é só a arte do poeta


de kompartillar o verbo e o vinno...

alguns poetas são, eles mesmos


o sew propryo poema
Levam a poezia onde vão
komo os profetas de Sião

owtros, talvez por muy awtokritykos


seja por muy diskretos
gwardam a poezia konsigo
- nakelas arkas de menino
e se estaziam, sozinnos...
aos porões....dos eskondidos...

Á os ke ofisiam...
...e os ke a silensiam...
aos sinturões de kastidade
das palavras sem viso

y é klaro, á muyto mays ke iso...

kwanto a mim
faso o mays ke poso
...kom tão powkas azas...
kom tão powkos sinos

Deliryo pós-antropofajyko n° 79
...em kada poema pulsa um sagrado korasão...

199
Ezistensialismo n° 2
Dews é Ser
Dews é Não Ser
Dews nem presiza ezistir

Kem presiza ezistir somos nós

Révéyllonlatyon
Os fogos espokam artifisyos
Na noyte eskura:
Luzes-Lagrymas de Kristo

Gotas rutylas de luz


eskorrem-lle pelo rosto
Amarelas, brankas e azuys
Enkwanto o povo se alegra em mil sorrizos

Em Ipanema é Ano-Novo, é Vita Nwova


...Iemanjá abensoa tudo iso

Ao som dos batukes, à luz das velas


Mulatas em korpos kebradisos
Dansam um ritmo belo e antikwisymo

Nas areyas todas, à mão das ondas


Nos korasões, neses gritos primitivos
Sews dewzes realizam todos os feytisos

Em Ipanema é Ano-Novo, é Vita Nwova


E korre pelo povo um rumor afrodizíako

Os fogos espokam artifisyos, enkwanto


gotas rutylas de luz
eskorrem-lle pelo rosto...

Iluminuras
lagrymas de kristo

200
Signifikansyas

Maltrato tanto, tanto


A Lingwa Portugeza
Maltrato tanto, tanto
A Lingwa Espannola
Maltrato tanto, tanto
Até ke implorem
Ke fasa mews versos nelas

Poys se já as amo tanto, tanto


A Lingwa Portugeza
A Lingwa Espannola
Poys se já as amo tanto, tanto
Ke só as espanko
Para koller florbelas

Maltrato tanto, tanto


A Lingwa Portugeza
Maltrato tanto, tanto
A Lingwa Espannola
Maltrato tanto, tanto
Suas primas y ermanas
A Ingleza Amerikana A Lingwa Franseza
A Lingwa Italiana y All em mannas
A ke sejam todas sizo: xoro e rizo
Da Brazileyra A-Orta

201
Nada Mays Ke Poeta

Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta

Kwando lanso mews dardos


Kwando aperto mews lasos
Kwando me faso de galo
Kwando me fazem de pato
Kwando falo Kwando tallo

Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta

Kwando me firo nos sios


Kwando me ardo de amor
Kwando dos Altos me grito
Kwando me faso menor
Kwando sow kaminno, kwando sow dor

Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta

Tudo o mays é kontradansa


Tudo o mays é peripesya

202
vida de poeta nº 2

!A..., esta minna vida de poeta!


!A..., este mew korasão de poeta!
esa minna muller de poeta
eses mews fillos de poeta
eses mews domingos de poeta
eses mews amigos de poeta
!Á, ese mew Botafogo futebol de poetas!
!ese Leblon!, sidade de poetas
eses mews livros, eses mews diskos, eses mews vídeos de poeta
!Á, eses xopinnos e vinnos de poeta!
(esa menina vadia rondando o mew tezão de poeta)
!Á, esa tristeza de poeta!
tristeza dose, tristeza salgada
pipokas, pororokas de poeta
!Á, esa minna kaza de poeta!
ese mew kaxorro de poeta
e esa gata, !klaro!, de poeta
!Á, essa minna kama de poeta!
e esta sawdade imensa dA Poezia

Deliryo pós-antropofajyko n° 80
Não basta riskar apenas a fagulla primeyra. É presizo asender o fogo. Manter
sempre aseza a xama poetyka. Insendiar em eros. Por ke fazer da prekarya e
lijeyra vida umana um eterno koytws interruptws?

203
Ermenewtyka
A Muller ke ew kero
É klaro, não é a Muller perfeyta, desas
ke não ezistem
(e todos bem o sabemos, embora
os kodygos, manuays e katesismos – perfeksyonismos
digam o mesmo
kom owtras intensões
Nem ew mesmo busko ser perfeyto
para a Muller, ow kwalker
(embora eses mesmos kodygos, manuays e katesismos
perfeksyonismos
sonsos ezijam
A Muller ke ew kero, basta ke esteja sempre nua
aos mews verdes ollos
Ke me oferesa um kafé, enkwanto poeto
Ke me provoke os sentidos
aos intervalos
dos imajinaryos
Ke mesmo seja um koytws interruptws
Para ke o verso seja orgasmo

A muller ke ew kero, deyta-se langyda aos sofás


Folleando um livro kwalker, talvez uma revista feminil
Mesmo um artigo viril (kurioza), ow asistindo um filme
Drama ow komedya romantyka
Whatever
Ow um disko pregisozo na vitrola, saboreando
piazzolas
xokolates, mariolas – asukares
sem medo de se pezar
A Muller ke ew kero sabe o poeta
Mente, sinserisyma, ke o jenyo
Não pelos titwlos akademykos
ow politykos
Sérebros versus sélebros
A muller ke ew kero
Sabe de mim
A Muller ke ew kero
Sabe, komo muller, separa

204
Realidades de fiksões
Mews álkoos, mews tezões

A muller ke ew kero não uza, komigo


Kalsinnas ow sutiãs
A muller ke ew kero está sempre nua
Perante mim
A dezatar-me, vez em kwando
Os nós das gravatas, os botões
Na sufisiensya femyna
Das nesesidades sem fim

A muller ke ew kero é gerreyra – nesas gerras dos seksos


Poetykamente sabendo
Ke não temos nada kom iso
A muller ke ew kero interpreta minnas promesas

A Muller ke ew kero, é esa


E esa, só a esa muller
!Ew amo!

Debaixo das rodas


Mews mortos me abandonaram
E ainda nem é meya-noyte
Nesta sidade de dores e prazeres
dispersos
Dos kways alkanso somente o tato
Komo a agwa fria da torneyra aberta
Deses mares ke nos transparesem a materya
E nos afogam as lagrymas em agwas mayores

Tento dormir. Tento dormir para o amannãsedo


O sol nas frestas dos sonnos
Uma teta apontada para o oeste das iluzões de antanno
Uma gruta larga e meloza dos espasos desfeytos
E nós, os gregos, estamos todos mortos

!Bom dia, noyte!


(O peskoso tartarújeo se estika)
Vós, karraskos, ?estays prontos?

205
O mel dos mortos
...a jente já andava mesmo morta kwando ele enkostow na minna meza, ollow
fundo em mews ollos, dise ke em dia de sol kente ningém devia traballar... ainda
mays no Rio de Janeyro... Tinna os modos atrevidos das pesoas vivas, komo
akredito ke tive um dia, antes de saber ke não á nada de mays importante ke a
minna karreyra na Firma...

...não, não pensem ke invejo ese boballão, de atitudes irrekietas, só porke ele
aparesew kom solusões diferentes, komo se pudese me ensinar komo konduzir
os traballos de sekretaria... Antes de morrer pude eskoller viver... komo todos
aki, aliás... é porke ele ainda está verde e não sey komo é ke a Diretoria não
impediw sua admisão... Pesoas vivas trazem problemas... É difisyl lidar kom
elas... e akaba akontesendo kazos de insurreysão entre os mortos daki... mas
komo matá-lo?...

...é presizo matá-lo... antes ke o ambiente se kontamine e todos kayam sawdaveys..


De minna parte estow trankwilo... A minna kabesa branka atesta iso... Não sow
mays kriansa para me deyxar levar por rabos de saya, ideays konstrutivistas ow
novos amigos... Os vivos estão sempre prokurando amizade... Da owtra vez ke
aparesew um vivo aki no eskritoryo, uma viva aliás, tivemos ke ezijir a sua
dispensa, e fikamos varyos dias kontaminados kom a enerjia ke se esparramow
por todas as mezas a partir do xoro konvulsivo da intruza... O Departamento
Psikolojyko atestow sinays de vida em algumas das nosas funsyonaryas... Uma
koyza medonna...

...orrível, simplesmente orrível... Alguma koyza kresse no mew peyto e a kabesa


não funsiona kom a trankwilidade nesesarya ao bom kumprimento das minnas
responsabilidades... Devo ir ao medyko?... este kalor ke sinto entre as pernas,
iso, kwando ele se aprosima de mim... komo agora, o korpo retezado, o keyxo
para sima, as mãos fazendo kurvas no ar, sempre em atividade... Ainda bem ke
a xefia me xamow...

...é sobre akele relatoryo mensal de tarefas realizadas... persebe-se ke algo


interfere na produsão, oje... o korreto é medirmos o indyse de vitalidade desta
sesão... deve estar bem asima do permitido pela organizasão... não estow serto
diso... podem deskobrir ke já não sow ezatamente o mesmo... Tive vontade de
soká-lo, de apagar dos sews ollos o brillo inutyl... de mostrar-lle ke vivos todos
podem ser... ke a jente daki não eskollew ser morta por nada... A sabedoria é
privilejyo da morte... Ele deskonnese regra tão evidente... daí porke não vow
agora mesmo ao Departamento Medyko... Vosê komesa a ter dezejos de bater

206
em algém e akaba internado no manikomyo organizasyonal... lugar de jente viva
é no manikomyo organizasyonal ow na kadeya emprezarial... É mellor voltar ao
relatoryo... esta sekretarya demonstra ter muyto powka intelijensya... Por iso, é
tão efisiente...

... este kara lembra muyto o jeninno... o mesmo jeitão do jeninno... ali, parado
na meza da D. Fatyma, fika mays paresido ainda... na viola, ew e jeninno juntos,
era um som atrás do owtro... tempos bons akeles... agora estow ew aki, kopista
de livro... keria mesmo era pasar o dia todo tokando violão... aí ew tinna ke
eskoller entre kontinuar vivo e marjinal... korrendo o risko de ir parar na kadeya,
fazendo um servisinno e owtro pra batallar o ke komer... ow enkarar esa morte...
diziam ke a morte era kentinna, konfortável... sey não... ke ese kara tem todo o
jeyto do jeninno, tem sim...

... Komo é ke rezolvem kolokar mays jente na Organizasão, kwando já está tudo
organizado tão perfeytamente?...Mal akabamos de nos adaptar todos, uns aos
owtros, aparese um intruzo para interferir na paz reynante... E logo jente viva,
ke nunka morrew antes... Fose ainda uma transferensya de modwlo, vá lá... a
adaptasão é fasyl para nós todos... um powko demorada para o transferido, obvyo,
nada de tão dolorozo, também... Mas um vivo?... o vivo sempre mexe kom
todos, de uma maneyra ow de owtra... Mas ew rezisto bem... sey lá... tenno a
impresão ke já nassi morta... Por iso xegey onde xegey... Fuy tallada para komandar
mortos... todos os testes konfirmaram isto...

...ew também, Fatyma, ew também estow de ollo nele... Um dia é mays ke


sufisiente para se konneser um sujeytinno vivo de verdade, inkorrijível... ainda
mays iso, vivo komo ele só... Não vay servir... Repara na pele dele... uma pele ke
xega a brillar... tostada de sol diaryo, sol de anos e anos de vivasidade... sews
kabelos brillam, sews ollos brillam, olla lá, sua boka se abre e se fexa inteyramente...
Suas mãos são perigozas, resussitadoras... Kuydado kom ele, Fatyma... vosê olla
demaziadamente para o estranno... ele não é komo nós, ke fornikamos às kintas-
feyras, na dozajem masyma de sekso permitida aos mortos... Este aí akaba
fazendo vosê se sentir viva... E o sew marido, Fatyma, ke é um morto ezemplar?...
e sews fillos?, ke não vão entender jamays a resurreysão da mãe...

...podia ser mew fillo, tem idade para ser mew fillo, se tivese um...será ke teve
mãe?... não, talvez não... porke ningém lle ensinow a morrer, koytadinno... kwando
me kumprimentow na entrada da sekretaria senti pena dele... vontade de koloká-
lo no kolo... niná-lo... susurrar-lle os segredos da morte... não ke ew akredite
muyto nela... mas ke jeyto?... ke adianta fikar vivendo por ese mundo afora se
afinal todos temos ke morrer mays dia menos dia?... então, ke seja aos powkos...
Asim a jente se akostuma mellor kom ela, a morte... a!... mas esta ansya de

207
abrasá-lo... por um rapagão deses até enfrento a resurreysão... ainda tenno kalor
entre as pernas...

...um kalor medonno, oje... keria sair mays sedo... ese ar pezado, oje...aki no
departamento... e logo oje, ke a Organizasão está para desidir a minna promosão...
tenno sido uma morta perfeyta... nennum vestijyo de enerjia vital, espero... tudo
konforme a linnajem ker... nunka fiz nada ke dezagradase a Totalidade ke
somos... sempre tratey os inferiores komo inferiores... !Então! Não pretendo
dar nennuma konversa ao novo... Não sey porke ele me kumprimentow... Se me
pegam konversando kom ele as koyzas podem se komplikar para mim... e a
minna promosão...presizo muyto desa imajem... dese ser kom a Totalidade...
dese dinneyrinno para komprar mays koyzas... koyzas mortas, evidentemente,
antes ke me konfundam... Koyzas ke mortos de bom nível presizam manter
para konfirmar perante a Totalidade ke sua morte vay muyto bem, obrigada...
não, de mim este intruzo não resebe seker um ollar...

...e porke ele me olla agora kom tanta insistensya... não gosto dele... tem nada ke
me perguntar a kwanto tempo estow aki... se ew agwento bem o ar refrijerado
dese modwlo... o ke á de errado kom o ar refrijerado?... sem ar refrijerado o
kalor fika insuportável... kada um ezibe aos demays o orror dos sews suores...
fikamos todos kom aparensya de vivos... Kalor é para jente komo ele, ke não ker
nada kom a morte... só ker saber de viver... Ar refrijerado é uma konkista nosa,
de jente morta... permanensya eterna do frio...Sem ar refrijerado noso karáter
se dekompõe... Persebo ke este não tem nennuma xanse de permaneser konosko
por muyto tempo... A organizasão vai espulsá-lo, masã podre, a não kontaminar
a sesta... Kapaz de oje mesmo lle kortarem as bolas... espero ke sim... embora
não sinta mays akela vontade de soká-lo... ainda bem...

... ainda bem ke xamaram ele no Konsello... não podia mays suportar a
ansiedade ke ele me kawzava... o danado parese ke mexeu komigo... uma vez li
um livro, deses livros ke todos aki lêem porke todos dizem ke lêem, ke não sow
boba e sey direytinno o ke devo ler... bem, uma vez li um livro em ke um rapaz
se apayxona por uma mosa e se divertem muyto...não xegey a ler o final... mas
axo ke se divertiam muyto... axo ke morriam os doys, no final... gostaria de ter
me divertido komo eles, antes... mesmo agora, mesmo ke fose kom um vivo...
tenno um kalor no peyto, axo ke vow beber mays agwa... espero ke ningém note
esa sede ke me ataka oje...

... e a Fatyma não say do bebedowro... o kara foy xamado na Diretoria... O


jeninno... é, podia ser o jeninno... ke preferiw fikar vivinno... enkwanto ke ew
optey por levar a morte a seryo... sawdades da viola... se pudese fikava tokando
viola o dia inteyro... mas o jeninno também teve ke largar o violão... está pior ke

208
ew... sowbe ke está na kadeya, vivisymo... pelo menos ew estow aki, morto... sey
não... o violão, o violão... tenno a impresão ke o jeninno não volta mays para ká
depoys desa konversa kom a Xefia...

... os mews kabelos brankos me dizem ke ele vay ser jubilado... koytado... até ke
não me paresia um maw sujeyto de todo... neses tempos difiseys lugar de morto
é disputado... kom eses modos alegres não vay ter mays nennuma xanse...

... tenno medo por ele... não, por mim... se deskobrem o ke ele me dise vão
pensar ke ele deskobriw alguma vivasidade em mim... e aí sow lansada nova-
mente ao mundo dos vivos... ay, mew tanatos, protejey-me... juro ke se ele for
embora jamays terey owtros bons pensamentos...maws, ew dise... prometo fikar
bem kietinna, bem mortazinna... até o fim dos mews dias... também!, ele é
muyto konfiado... Sol, sol, falar de sol em dia de traballo...

... koytadinno... sabia ke não ia durar muyto aki... teymozia, ese negosyo de kerer
viver... pensa ke é asim?... vay entrando, enkarando a jente, dizendo koyzas, me
deyxando aflita... Bom ke se vá... já me akostumey à minna morte e nem fillos
tive ke é para não ver sinal de vida... estow bem komo estow... podia akabar me
apayxonando e transtornando a todos ke me konnesem komo sow... trankwila,
serena, Muller serya ke vivo só para a minna funsão... lá um amante ow owtro,
esparsados, bem mortos...isto oje se permite mesmo a uma solteyrona komo
ew... Mas deyxar a vida entrar em mim, iso nunka!... ainda bem ke o demonyo
vay embora...

... nem um dia o imbesil segurow... naturalmente, pensava ke era esperto... ke os


imbesis somos nós... koytado. ...volte à vida, de onde veyo... não são todos ke
konsegem ser mortos, oje em dia.... O imbesil... Bem, onde é ke ew estava
mesmo?... No relatoryo... a!, aki está... ...a antropofajia do sekwlo remete para...

... um kanibalismo ainda insipiente para... Tenno ke entender esta teoria ke


botey no relatoryo antes ke a komisão me xame... Foy akele sujeyto... um sujeyto
dezagradável, ke não parava kieto, ke vinna kom tezes não komprovadas pela
Organizasão... ke falava kom todo mundo, sem respeytar ternos nem gravatas...
Bolas!... komo se pode morrer asim?....

...ainda bem ke tudo voltow ao normal.... ainda bem ke não sinto mays kalor
nennum entre as pernas... ainda bem ke não vow ter mays ningém enkostado em
minna meza... me ollando nos ollos... e me deyxando kom akela espesye de
inkontinensya urinarya... e ainda bem, tanto mellor...
...sey não... o kara era mesmo paresido kom o jeninno... kem sabe até gosta de
uma viola... vay ver vay daki direto para a gitarra de owro komprar uma novinna...

209
tem uma voz barítona igwal a do jeninno... kem sabe o jeninno não say da kadeya
e não formamos uma bela duma dupla violeyra?...O kara falando em sol... jeninno
gostava de tokar violão na praya... e se ew também fose kom ele?... a jente podia
formar um belo dum grupo de violas... sey não... ew e jeninno, a jente já tinna
muyta intimidade muzikal... sey não... mews dedos têm boa pegada prum
dedillado, não foram feytos para fikar batendo tekla... sey não... iso de morrer
pode ser muyto bom para eles... para mim, nem tanto... Maria Kristina, ke ainda
é muyto da injenwa, mas muyto da viva, vem dizendo ke já não sow o mesmo...
ke estow sempre falando das koyzas daki da Organizasão... ew, ke sempre faley
dos kabelos dela, dos ollinnos sonsos dela, das koxas dela, do resto... ew, ke
antes de xegar aki não perdia uma noyte de ver estrelas... sey não, sey não... á
kwantos dias não deyto kom Maria Kristina?... sey não... sey não... tem uma
muzyka... axo ke se ew korrer... ainda alkanso o jeninno dessendo as eskadas
para a vida...

Deliryo pós-antropofajyko n° 21
Dizer ke o poema muzikado (a lyrik)
não pode ser poezia
é o mesmo ke negar toda a poezia liryka da gresya klasyka,
bem komo toda a produsão poetyka dos antigos provensays,
das kways a poezia liryka moderna é inteyra kontinuasão.
Se toda poezia kontém nesesariamente melodia,
toda kompozisão ke reúne arte muzikal e arte poetyka
apenas torna mays esplisyta, e ezuberante,
a armonia de toda poetyka.
Mas, é klaro, sempre estamos falando de poezia

210
Multyplas Fases

A poezia não é só feyta de vôos altos


A poezia também voa aos embayxos
A poezia não é só feyta de prazeres
A poezia também é feyta de responsabilidades
A poezia não é só feyta de liberdades
A poezia também é feyta de komprometimentos
A poezia não é só feyta de asúkares
A poezia também é feyta de karnes salgadas
A poezia não é só feyta de santidades
A poezia também é feyta de maldades
A poezia não é só feyta de solidaryedades
A poezia também é feyta de dinneyros
A poezia não é só feyta de amores plasydos
A poezia também é feyta de sakanajens
A poezia não é só feyta de paraizos
A poezia também é feyta de apokalipses
A poezia não é só feyta disos e a kilos
e asim por diantes
A poezia também é feyta de ontens, antontes
de futuros antepasados distantes
A poezia só não é feyta de kwalker maneyra
Poys para a poezia, tudo morre
Tudo mata, tudo nasse
Ke para a poezia, os tudos
e os nadas
São ainda partes
Suas multyplas fases

211
Fragmentarya

Mil kaminnos andey, parafernalya


De labirintykas emosões
(deram em nada
e rasyonalyas
ke o mundo jamays

Sol ke se transmuta powko a powko


(sempre nem tão powko
em luas
até as trevas fatays

Xega um tempo em ke
Todos os amigos já trairam
As mulleres – nem tanto kwanto poderiam
E os institutos de fazer o mundo mays umano
Te eskluiram
dos butins ke mesmo só a eles kaberiam

Sobraram-me eses mews (nem tão mels) mil pedasos


De kaminnos, fragmentos
Ke ora me fazem xorar,
Ora me fazem sorrir

Mil pedasos ke não fazem um puzzle


(poys não á kwadro nennum

Sob as lojykas metalykas


De klones e makynas
Esas novas máskaras
Sow vivo ainda (performanses

E aos infinitos dos espasos indomaveys


Do enorme vazio ke nos serka a tudo e a todos
Ese Tao inkontrolável
Desperto-me:
!Lego, lego fragmentos!
Átomos, sementes
Do ke ainda á de vir

212
Fragmentos Kariokas
...já a minna voz não se kala
à toa
senão kwando uma sua, nua
owtra voz
soa

...um urso no pensamento urra


uma porta esmurra
uma abella umana zumbe
uma alegre juventude zôoa
!êta vida à tôa!

!Êta vida besta, mew dews!


!Êta Vida Bôa!

...muytas koyzas pasam


e repasam
em tele vizão

...e kada vez mays sega


mays sênema
a minna mão

...a poezia á ke amar ao menos uma


Das Três Literaturas
E powko importa kways arranna

se vê terra onde á mar


se amar onde vê dor
powko se lle dá
a aventura espurya dos de allá

?...a nosa poeziazinna é mesmo feya, tola, futyl, desgarrada?


!A!, Inatinjível xão forrado de nadas!...
...Nas terras do sem fim

As owtras duas, Literaturas


São para nós apenas nomes
de magros ow lustrozos bordegins

213
...Á O Xeyo
Á O Vazio
Á O Muyto Mays Ke Iso

Mas Nunka Saberemos


Se não uzarmos os pés

...poys se insistes ke ew kante o futuro


Poys bem! Kantar-te-ey o futuro!

Aos futuros do futuro, ew kantar...

!Êpa! Não, não deyxa ele ir...!Ay!


O futuro se foy...

?Kontenta-te kom o verso,


pasado? ?Não?

...o pasado gwarda futuros


No sew umbigo-rey
E os futuros gwardam prezentes
Ke ew não ey

O Pasado gwarda O Tudo


O Prezente gwarda O Talvez
O Futuro gwarda O Nada

Só enkwanto A Imajem não vem

...odeyo-me, Leytor; odeyo-me sozinno


Por tudo o kwanto neses poemetos digo

Mas amannã talvez Karos Leytores


Odeye-vos komigo

(Eskrever poezia tem muyto a ver kom iso)

...se no aki não dá pra Ser


Senão Punneta
Dos Finos Tratos

214
Se no agora não dá pra Ser
Senão Punneta
Dos Xulos Pasos

Prefiro Ser Mão


Dos Vagos Espasos

...Oje o pensamento viaja


Enkwanto, no kaminno de kaza
Apertam-me no onybus:

“Enfiarey uma faka


entre as tuas duas mays belas kostelas
Para ke ainda muyto mays me saybas
Os ew-te-amos”

(! ó kamaradas! ó kamareyras! )

...na kaza de masajem


O xampanne já vay pela metade
O ambiente é póspósmodernisymo, enkwanto
Sow todo um tango dos antigos

Ela oje á de me esperar em vão


O bom e vello passo ventrílokwo

Olley kom ollos de eternidade


Algém ke tinna ollos de momento
Olley kom ollos de eternidade
Algém ke tinna ollos de momento

Olley kom ollos de eternidade


Algém ke tinna ollos de momento

!Ó! Umanae Vitae


...fatias de siskos...konta-gotas...
...fragmentos...

215
Rekado ao bom leytor

Nós, poetas, somos sós


Nós, poetas, somos nós
Não keyra poys, amigo leytor – intelijente e sensível
Ser komo nós.
Nós, poetas, somos sós

Gwarda a tua enerjia, a tua alma aflita


Para koyzas mays proveytozas
¡Gannar a vida é uma delas!
Sempre á a muller amada
!Ke belo dispendyo de enerjia!
E á os fillos, talvez – a familya
E o jenyo finanseyro ke á em vós
Porke, nós, poetas, somos sós

Beba das nosas agwas, se alimente


Da seyva ke nutre amendoeyras vadias
E fike asim, a sós, por alguns momentos
Deyxe fluir a poezia em vós

Ser leytor, fluensya da poezia


Akredite, amigo
Serás muyto mellor poeta ke nós

Deliryo pós-antropofajyko n° 81
Sim!
Ew vi a estrela flamejante no Séw até mim
kwaze ao alkanse de kwalker mão
Feyto um simyo em estinsão/ abrasey sew brillo, tamanno e kor
Feyto um simyo em estinsão, ew vi a estrela flamejante
oazys/ em meyo à dor

216
Mas Sempre Á Deses Bares, Lugares
Onde Se Pode Ir

...mas sempre á deses bares, lugares, onde se pode ir


E alguma joana elena ke sempre sonna
Kom um omem asim

Tantas katyas, muytas déboras, uma infindável fieyra de ollares ke kaem


!Em tuas redes – peskador de karnes!

Tudo porke Magda e sew sorrizo deboxado


Aproveyta ao masymo kada bokado
De muller livre e dezembarasada
A provar da maskulinidade espadas
Sem se ferir

Porke Magda é fêmea liberta e engole os maxos da espesye


Komo uma sapa suga os insetos

Porke Magda traballa e paga as propryas sedas e os xeyros


Kom ke estende o korpo em teyas
Komo uma aranna faz kwando tem fome

Porke Magda é ela mesma a proprya razão de ser de todas as koyzas e


pesoas, e é dona de um diskurso filozofyko-polityko-antropolojyko
Ke esplika e justifika a ezistensya da Dewza
Onipotente Oniprezente, e Impiedoza
kom todos os ke duvidam da proprya fé

Porke Magda é lua nova, kressente, xeya e mingwante


Kom toda a noyte a Lle servir
A engolir sóys komo kem kome eskargots e depoys
Dulsisymo xampanne entre os lensoys

Tudo porke Magda é sempre o ke sempre ker, e mays


Mil máskaras Mil rizos, e um dom de iludir

217
Mas sempre á deses bares, lugares, onde se pode ir
Enkontrar desas ke se abrem as pernas
a implorar por salvasão eterna
prometendo ke o maxo é o maxo
em troka de karne e alma

e ke nas fendas gwarda vis moedas


e kwando kaza faz-se moxa maxa
e aflije as noytes kom sews berros d’agwa
e aflije as noytes kom sews berros d’agwa

Mas sempre á deses bares, lugares, onde se pode ir

Talvez a sorte não é tão madrasta


Talvez até por muyto mays karraska
Em tuas fases lanse um’owtra Magda
ke se gwardow até saber de ti

Deses Misteryos ke o Universo gwarda


Entre eses seyos feytos de marfim

Talvez então a noyte seja kalma


E a kama avanse pela madrugada
Esploda em kores komo uma alvorada
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir
Ke para sempre ker se repetir

Deliryo pós-antropofajyko n° 82
Não kero ter partido, nem kero ser inteyro. Kero ser, fragmentos
(o poeta, tentando saber ao ke serve politykamente

218
Korasão Karioka
O mew peyto tem palmeyras
Também kantam sabiás
Tem um pendão awriverde
Um sol ke nasse no mar

O mew peyto tem batuke


Golfinnos dessem do ar
Tem um azul bem klarinno
Um branko de apayxonar

O mew peyto tem vermello


Um tié-sange a voar
Um kanto de kanarinno
Ke a ningém ker magoar

O mew peyto tem morenas


Lowras e negras-sinnás
Tem um sol de meyo-dia
E a noyte inteyra no bar

O mew peyto tem pardal


Sempre um kanto bem-te-vi
Amigo novo ow antigo
Sem balansa de medir

O mew peyto tem molejo


Kwal uma fuga de Bach
Tem um xorinno eskondido
Difisyl de segurar

O mew peyto tem relojyo


Sem ora de se enkontrar
Um tempo mays ke perdido
E a vontade de voltar

O mew peyto tem Marias


Ke sempre vow namorar
Tem uma Amelya sorrindo
Ke komigo ker kazar

219
Tem um Kabo das Tormentas
Estreyto de Jibraltar
Tem um Kaminno pras Indyas
Nuas a me konvidar

O mew peyto tem vizinna


Janela aberta pra ká
Tem marido siumento
Sem saber kom kem brigar

O mew peyto tem kastigo


Xeyro de pólvora no ar
Deyxa diso, mew amigo
Karioka ker brinkar

O mew peyto tem de um tudo


Tanto praya kwanto mar
Karnaval ke kwando akaba
Se ajoella pra rezar

O mew peyto tem um Dews


Jezuskristinno a salvar
Tem um menino kalado
Anjo da Gwarda no lar

O mew peyto tem poetas


Trovadores Superstars
Um juramento sagrado
Jamays deyxar de sonnar

O mew peyto tem estrelas


Sol noturno e algum luar
Tem umas nuvens sinzentas
Pasando sem se esbarrar

O mew peyto tem um kays


Navio pronto a zarpar
Tem um ollar marejado
Pedindo para fikar

Mew peyto gwarda o silensyo


De um livro ke vay fexar
Uma sawdade infinita
Um adews, amigos – !‘té lá!

220
Os sizos e os rizos

Bom dia, poeta


Sabes agora
Ke somos para A Ágora
Teselões dos eternos

Somos para a ágora, apenas


kolina eskarpada e a alma
dorida

Para A Ágora
e nada mays somos senão ágora

A eternidade agora também de ti se alimentará


Bom dia, poeta, a ágora te sikatrizará
as feridas,
e esas prometeykas penas íkaras

Todos fomos noso primeyro andar


Alguns vieram lijeyro, esas paredes ígneas, sem kolesyonar degraws
A dor do Espiryto
a doer de uma só vez

Agora a ágora esplode em gargalladas


Junte-se a nós
Bem vindo ao parlatoryo
Á pão e vinno
E Vita Nuova

221
Kama
Antropofajyka

Verso Voz Violão


222
Kantilena de Exu

Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta

Kwando me firo nos sios


Kwando me ardo de amor
Kwando dos Altos me grito
Kwando me faso menor
Kwando sow kaminno, kwando sow dor

Sow poeta
Apenas poeta
Nada mays ke um poeta

Tudo o mays é kontradansa


Tudo o mays é peripesya

Me despaxaram pra lá
Pra lá ew não kero ir
Talvez nem keyra voltar
Nem keyra fikar por aki

Versos e Deklamasão: Paulo Bauler


Muzyka,Vokal e Violão: Érico Braga
Kôro: Paulo Bauler e Ricardo Barroso
Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes

223
Klones

Klones are koming here, my druge!


Klones are koming here to kill, my druge!

Klones travestidos de falsas kolores, lamuriando as suas dolores


Sibilodos e rowkos
Klones bebem o sange da noyte
E mesmo a Estrela da Mannã eskondem

Dasvitxe!, my druge!
Dasvitxe!, my druge!
Dasvitxe!, my druge!
Dasvitxe!

Klones are koming here, tonight


Abafarão as luzes da tua kaza
Arrepiarão as katxas, farão ganir os kães
E trazem konsigo uma longa lista de orrores

Didn’t I say, my druge


Kan’t you hear o ranjer dos tambores ao lonje?
Klones are koming here, my druge, esta noyte!
Klones are koming here, my drugue, esta noyte!

Klones are koming here, to kill my druge!

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

224
Viajem ao séw

apago o bazeado e korro


sow todo solto
me eskondo atrás de um barrako
Sow todo solto
Algém gritow por sokorro
Kadê os ôme?
Me enfio nese burako
Sow todo solto
Mãe não pode sabê
Sow todo solto
Os menino soltando pipa
Sow todo solto
O mew pay kumprindo sina
Sow todo solto
O ôme tem kara grande
Me tremo todo, me trinko
Têm mays três kwarentesinko
Um owtro xega segindo (bem mays grande)
Xinga, kospe, reklama
Sow todo solto
Edukado me puxa pra sima
Sow todo solto
Xego antes lá na eskina
Sow todo solto
Nós tudo fazendo fila
Sow todo solto
Um fedor de merda e urina
Sow todo solto
Pergunta malrespondida
Arma enkostada na nuka
Bam! Bam!
Alma partida

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Vokal e Violão: Érico Braga
Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes

225
Korpo-Santo

Oje sow um, amannã owtro, faso-me pele e oso


Karne, karnaval, kanibal
Mews kantos kantam, tews pasos dansam
Não owsam, poys, o noso verso à minna liryka unyka voz
É tua a korda ke arrebenta
É noso o korasão ke se ajita e doy
A liryka viajem é o sem tempo
Umanae Vitae, moderna e antiga
Aos ferros e konkretos das enjennarias imposiveys
São tantos os ke te disputam os pasos
Arte dos eternos, artes dos umanos pasos, arte dos vatisinyos
O odyo ow o amor são mews, é vero: mas não são asim os tews?
O odyo ow o amor são mews, é vero: mas não são asim os tews?
O odyo e o amor dos versos são tews, amigo, amiga, kompanneyros
Fasam bom proveyto diso
Kanta Poeta, konta em versos, sob pena de degredo
Kwal vem a ser a tua vera poezia
Á! Se ew pudese revelar tão terrível intymo segredo
Keymaria os insensatos versos
Nunka mays ew kantaria
Mews kantos kantam, tews pasos dansam
Oje sow um, amannã owtro, faso-me pele e oso
Karne, karnaval, kanibal
O odyo ow o amor são mews, é vero: mas não são asim os tews?
Kanta Poeta, konta em versos, sob pena de degredo
Kwal vem a ser a tua vera poezia
Á! Se ew pudese revelar tão terrível intymo segredo
Keymaria os insensatos versos
Nunka mays ew kantaria
Mews kantos kantam, tews pasos dansam
Ka,Ka,Ka-Kanibal, Ka,Ka,Ka-Kanibal

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas
Miksajem de versos de Korpo Santo e Elewzys por Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

226
Nó no peyto
porke tinna um nó no peyto, difisyl de dezatar
subiw korrendo as eskadas, direto ao ultymo andar
porke tinna no ollo a muller, difisyl de namorar
subiw ao kume do predyo, sem xanse de se salvar
porke tinna na voz a mágoa, imposível de se gwardar
gritow pro mundo a fera, ke não se deyxa enjawlar
porke tinna na alma a idade, ke nunka ningém terá
abriw largo largas azas, ke não lle deyxavam andar

porke era só um omem, pra tanto kerer de amar


atirow-se kwal um anjo, ke viese nos salvar
porke era a vida um leyto, ke powko podia gozar
subiw korrendo as eskadas, direto ao ultymo andar

por ke não trokow de par? por ke não trokow de lar?


por ke não trokow de lado? por ke não trokow de fado?
por ke não trokow de sábado? por ke não trokow de sekso?
por ke não trokow de gravata? por ke não trokow de kara?
por ke não trokow de marka? por ke não trokow de muzyka?
por ke não trokow de verbo?por ke não trokow de verso?

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Vokal e Violão: Érico Braga
Kôro: Pawlo Bawler e Ricardo Barroso
Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes

227
Ezistensialismo

Sayo dela owtra vez


A noyte é klara komo o xampanne
à beyra
da kabeseyra da kama

Dez millões de estrelas


sobem-nos à kabesa

Dews eziste
Ela eziste
Kem não eziste é vosê

Dews eziste
Ela eziste
Kem não eziste é vosê

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

228
Xuva Sobre o Mar
Era um deses momentos logo após o amanneser
Em ke um sol ainda palydo komo um bebê resém xegado
Sendo bannado ao mar, lavado das rubras tintas de um parto
Vijiado de perto pela estrela da mannã...
Um deses momentos em ke se espallam pelas agwas
gotikwlas rutylas de luz misturadas
às espumas brankas das ondas, suaves
Ke a todas beyjam e abrasam mesmo as fasam, doses, morrer...
Um deses momentos em ke se paseya pela praya, as mãos dadas
Talvez um fim de noyte
Em ke uma lua mesmo kansada se deyxa fikar
A gozar mays um powko antes de dormir...
Talvez um inisyo de tudo, um enkontro fortuyto
Komo uma flor nassendo de um muro
Uma espesye de sonno
Do kwal não se ker ainda akordar...
Um deses momentos em ke ela o faz sentir-se tolo
Largados na areya, kalados, os korpos separados
Mas as almas, mãos dadas, beyjando, akarisiando
Até ke o gozo imenso nassendo do sekso dos anjos...

Ew sabia ke o mew dia ia xegar


Tews labyos, tews ollos, lua e luar
Tew korpo morena, o tew balansar
Tew beyjo mollado, xuva sobre o mar
E a noyte ke não ker nunka se akabar
Tew korpo, tew xeyro e novamente amar
Um sol siumado ke já ker xegar
Uma kambaxirra vem nos avizar
Owtra vez, owtra vez, da jente se akabar
Ew sabia ke o mew dia ia xegar

Versos e Deklamasão: Paulo Bauler


Muzyka: Paulo Bauler, Ricardo Barroso e Érico Braga
Vokal: Érico Braga
Violão: Ricardo Barroso
Kôro: Érico Braga e Ricardo Barroso
Gravasão: ADS Studio - Ték de grav. e miks. - Paulo Scazzuso

229
Minna Muller Fotografa Flores No Jardim

Um gato se kosa, um kão se lambe


Á pásaros de pio e de kanto
Ainda não sey porke me enkanto
Kom a borboleta preza em mews jasmins

Minna familya vay indo bem, obrigado


Anda trankwila minna konta bankarya
Não tenno bebido sozinno nas madrugadas
O korasão vay bem e asim também minna arkada dentarya

Têm kosado powko as mágoas, sikatrizes do pasado


A owtra – ?será sempre a ultyma? – deyxey ontem xoramingwada
Mays owtro burako aberto na alma

Minna muller vem-se xegando pra junto de mim, me beyja


Um amor tanto, ke ainda não sey porke me enkanto
Kom a borboleta preza em mews jasmins

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Vokal e Violão: Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

230
Intelijensya Poetyka

Es syerto! Nem sow asim tão intelijente...


Es syerto! Não faso poezia ke valla-rir Nem mew sérebro ke mal-armey
Es syerto! Nem sow asim tão espyerto
Ke fasa de la poezia um xeke a deskobyerto De elyoterykos sifrões
Faso a pregisoza poezia Komo as antigas tardes kom marias...
Sem saber dos labyos, orgasmos, senão...
Ke á beyjos de lingwa, e beyjos de mão...
Apenas niso rezide toda a intelijensya da minna poezia
Também toda a sua jentileza:
Ke o digam as marias E akeles ke nos sonnam os sons
*They can’t get no erection
*They ken can’t come They ken can’t come
*They ken can’t come They ken can’t come

Es syerto, nwestro amigo keria


ser bankaryo, ser bankeyro,gannar dinneyro
emprestando a juros a lingwa do enforkado
Es syerto, usted mismo keria a Akademia, ser letrado
uma espesye de Joyse, um awtor konsagrado
mismo pedindo dinneyro emprestado
Es syerto, jo tambyem keria
De mi parte l’amur, bebidas, orjias
ser um Kayam, poeta embriagado
ow Bokaje, desbokado, um Kamões, mismo roto y esfarrapado
Es syerto, Dyos eskribe por linnas retas el lado errado:
Ele está riko Usted emposado
y jo me kedo aká, bebyendo esto myerda de wisky paragwayo

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Vokal, Violão e Resitativo: Érico Braga
Parodya de Satisfaction (Jagger&Richards) e Miksajem kom versos de Bar Garoto das
Flores por Érico Braga
Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes

231
A Lammpada

Susurro do vento. Follajem verde


Susurro do vento. Follajem verde
Follajem verde. Susurro do vento
Xuva kaindo. Susurro do vento
Follajem verde
Xuva kaindo
Xuva kaindo. Susurro do vento
Noyte eskura. Muyto eskura
Xuva kaindo. Susurro do vento
Follajem verde. E a kama
Unyka luz
Xuva kaindo. Susurro do vento
Follajem verde
E a lammpada
Unyka luz. Unyka luz
Unyka luz
Unyka luz
Unyka luz

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

232
Marmita de Bordões (As Azas no Tew Ollar)
Klones rondam por aí, vosê não vê... São tão igways
Money y Fama por aí, mays ke viver... Mays, muyto mays
Navegando por aí, enkontro vosê... Até nunka mays
Por enfim, vosê talvez não... Sakrifikow todo o dezejo... Dos karnavays
Ew kero enkontrar vosê, tentando eskapar... As azas no tew ollar
Mexe daki, mexe dali... E mexe daki, Mestre Dali
Mestres daki, mestres de lá... Pesoa dos versos de Bach
(Resitativo) Enfim foy deklarada a kasa às estatuetas
Mas as esfinjes de Rodes
Mas vosê não partisipa dese evento, vosê ker
A maravilla sem o moneymal, vosê ker
Ser normal, ser anormal, animal Globalizado, global
Torsendo pelo Brazil... Brazil, Brazil...
Vosê ker akreditar ke não Sakrifikow sua vida Aos pés de um altar
Kwalker altar...
Vosê ke se diz poeta, artista, pensador Sofre kom a mesmise
Imposta por tabloydes, modas, glozas Do kontinente yanke-ewropew
E esa midya opresora, imoral, kanibal Ke devora vorazmente
Tua Marmita de Bordões
Deklamasão de Kipling: Se és kapaz de manter a tua kalma...
Mas mexe daki, mexe dali... E mexe daki, Mestre Dali
Mestres daki, mestres de lá... Pesoa dos versos de bar
(Resitativo) !Í! Kwal é a tua, brôw? Vay prokurar tua foking tribo
Fika dando uma de Kristo, pagando miko...
De intelektual...
Vosê não konnese os misteryos da literatura osidental
Vosê, ew rekonneso Tem muyto estômago
Para komer, saborear, degustar Esas marmitas de bordões
Mas ew só vim aki para dizer Não kero saber tew ollar De avestruz
Kero tew ollar de agya-jêmea Kero o tew ollar de azas
Viajando trás-os-montes De Nova Igwasu Minna Paragwasu
Ew sey ke vosê não kumpriw o ke prometew
Ke anda dekorando o Novo Testamento Segundo São Matews Primeyro os sews
Ke tem novas verdades do sew Salvador O Kristo Verdadeyro
Mas por favor não me diga o nome dese sew pastor
Mas mexe daki, mexe dali... Kuyda dos tews bordões
E mexe daki, Mestre Dali... Só a Xina é filozofal
E tem O Bem, e tem O Mal... E tem Talvez, talvez não sey
Os segredos de um futuro virtual

233
E esa kabine lowka de viver Sem jamays mereser O Amor
E esa kabine lowka de sofrer Ke se xama Poema, poeta
Ke se xama Poema, poeta
Á um bando de esfomeados Não sabem degustar
O ke é Literatura A Poezia A Eskultura
Noso amigo Ildebrando No sew atelier Varjem Pekena Rekreativa
Sonna um dia Ter o sew nome gravado Na eskultura mundial
Igreja Imakulada Konseysão... Imakulada Konseysão... Imakulada...
Imakulada Konseysão
O anjo de azas foy eskulpido Por Ildebrando, um eskultor
Um artista osidental
Mas mexe daki, mexe dali Mestres de lá, mestres daki
A dizer vosê não Aki Não é a sua praya
Tezão Inspirasão...Nunka mays Nunka, nunka, nunka, nunka mays
(Resitativo): Enfim akabow a kasa às estatuetas, levaram todas
Lowkos, nozotros, meros manés Mikelânjelos meresem...
Deskansar em paz
Mexe daki, mexe dali Mestre Dali, mestres daki
E as azas no tew ollar
Deklamasão de Camões: Kem vê, sennora, klaro e manifesto...
Ew só kero enkontrar vosê Tentando eskapar As azas no tew ollar
Mexe daki, mexe dali Mestre Dali, mestres daki
E as azas no tew ollar As azas no tew ollar As azas no tew ollar
As azas no tew ollar As azas no noso ollar...

Versos: Paulo Bauler e Ricardo Barroso


Muzyka: Ricardo Barroso e Paulo Bauler
Vokal e Violão: Ricardo Barroso
Resitativo: Ricardo Barroso
Sitasões de violão solo: Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, e Eleanor Rigby, de Lennon e
McCartney, por Érico Braga
Kôro: Érico Braga
Deklamasões de Kipling, Se és capaz de..., e de Camões, Quem vê senhora..., por Paulo
Bauler. Trad. dos versos de Kipling a partir de Guilherme de Almeida.
Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes

234
Nós de Marinneyros

Se á estrelas em nós
Tão luz ke nos fasa ir
Kanto as trevas em nós
Tão luz de nos impedir

Se á estrelas em nós
Tão luz de nos impedir
Kanto as trevas em nós
Tão luz ke nos fasa ir

A Natureza e Os Séws
Não se negam, nem brigam
Mas se apoyam e se ekilibram
Mas se apoyam e se ekilibram

Os mares e os séws
Somos nós ke navegamos
Nosos nós de marinneyros
Nosos nós de marinneyros

E fike kem kizer kom sua tribo


Sem ke me enxam o sako por iso
Sem ke me enxam o sako por iso

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

235
Kwando a jente pensa
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma ainda uma kriansa, xora,
rola o berso de terra, estende os brasos e pede: Mamãe! Mamãe!
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma filla de pays separados, pede,
reklama, mendiga, às vezes grita: Pay e mãe! Tennam piedade de nós!
Pay e Mãe! Tennam piedade de nós!
E toda esa grizalla barba na kara, as rugas,
A papa sob os ollos, eskuros, o álkool e o fumo
Os nervos gastos, todos os sapos, lagartos da fala, sonnos largados
amantes antigas, meninas felinas, vadias
As ordens vindas de sima, esa indagasão
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
O sange lateja de volta, as kavernas têm jelos ke a jente não vê
Omem ke ama reseya a folla primeyra sem rekonneser
Muro, muralla se abre, eskankara, sem ke aja nada a perder
Vida flutua do owtro lado da lua solta no além
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma ainda uma kriansa, xora
rola o berso de terra, estende os brasos e pede: Mamãe! Mamãe!
Kwanto mays a jente pensa ke envellese, a alma filla de pays separados, pede,
reklama, mendiga, às vezes grita: Pay e mãe! Tennam piedade de nós!
Pay e Mãe! Tennam piedade de nós!
E toda esa grizalla barba na kara, as rugas
A papa sob os ollos, eskuros, o álkool e o fumo
Os nervos gastos, todos os sapos, lagartos da fala, sonnos largados,
amantes antigas, meninas felinas, vadias
As ordens vindas de sima, esa indagasão
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
Komo se fose tudo, tudo, absolutamente nesesaryo, e nem doese
Nem mesmo a malvada azeda o gosto da kowve, o torresmo e o feyjão
O pernil asim veyo de um porko afogado por serto em muyto limão
Papo de anjo, kafé, o xaruto e a garapa de nome Beyrão
Tanto ke somos amantes errantes Bonita e Lampião
Kwanto mays a jente pensa ke envellese

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas
Do livro Ghesas de Eros: Miksajem de versos por Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro MottaGravasão:
L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

236
BEAUTIFUL MAIRA

Live in New York City is like a film


Adentrar as telas de Scarlets O’Haras
Ela é minna Roza Purpwra do Kayro

Liberty Statue is like a Kristo, of them


Ôw! Kiss my ass, ôw fuck you, sheet for all, of them
Sem Anos de Imperyo, versos
Sem Anos de Solidão
Walk! Don’t walk! Go on
Beatiful Maira of my soul

Á um novo shoping
Multiplikam-se os kanays de TV
Somos todos magos, magros de fé
Alguns esperam milagres loterykos
Owtros agwardam Ets
Satelytes trasam estradas
E a voz viaja pelos kwatro konfins
Nada mays á ke pensar
Somos átomos,
Molekwlas
DNAs

Pasem in Terra
Gerra nas Estrelas

Versos: Paulo Bauler


Muzyka, Voz e Violão: Reinaldo Vargas
Resitativo: Reinaldo Vargas
Gravasão: L & A Studio - Ték. de grav. - André Costa - Miks - Pedro Motta

237
Te Xamey
Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?
Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?...
Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey
Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê...
Nuvens plúmbeas bayxam sobre a sidade e dansamos boleros
Em nosas novas nupsyas... Tangos bandaleonykos
Ao sabor dos instintos Komo se xegada a ora dos juizos
Pasos firmes para os niilismos...Narsizos Todos os ritmos éramos
Owvidos insinseros Lowkos xapews napoleonykos... Éramos
Bumbas-mew-boy, Bergmans/Nietzsches, Batmans, Beatnicks, Novos Hippies,
Meninos de Hitler, Vampiros, O Sio dos Bandidos, Barkeyros dos Infernos,
Punnos Metaleyros, Soft Dreams, Heavy Trips, Noytes do Sem-Fim, Peste
de Camus, Primos de Kaim, Ferros de Ferir, Kopos de Botekim, Mulas Sem
Kabesa, Sasis, Morganas e Merlins, Simyos em Festim, Fuzis
E uma inosensya imensa imersa em destruir o ke resta desa besta-fera...
Apelidada Amor
Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?
Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?...
Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey
Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê...
E nós? E os nosos nós?
Nós, ke keríamos ser Humphrey Bogart e Ingrid Bergman
Rindo Num konversível vermello Pelas prayas do nordeste brazileyro
Rindo e fazendo, fazendo, fazendo... Amor nesas terras do sem-fim
Nós, ke keríamos ser Amerikan Stars, Amerikans Stars, ke sabem viver
E não esas Kabesas Kortadas Mizerya da rasa
Kristos sem jasa para o prazer
Keríamos ser apenas um homme et une femme
Jean-Louis Tritgnant/Anouk Aimée
Naturellement Bons
Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo? Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?
Te xamey, por ke ke ‘sê não veyo?...
Mas ew te xamey, ew te xamey... ew te xamey
Sawdade... Ew e vosê... Sawdade... Ew e vosê...

Versos e Deklamasão: Paulo Bauler


Muzyka: Ricardo Barroso e Paulo Bauler
Vokal e Violão: Ricardo Barroso
Gravasão: Pedra Branca Studio - Ték. de grav. e miks. - Álvaro Fernandes

238
O Poeta

no rol dos malditos


komo se fora um bandido
listaram: poeta

239
Indyses
Kama Antropofajyka
(Aos Urros, Gritos, Rizos e Jemidos dos Tambores das Tribos)

O Verso Pós-Antropofajiko....................................................................................09
A Lammpada............................................................................................................18
Libelubrykas..............................................................................................................19
Sérbero.......................................................................................................................19
Kafé da Mannã.........................................................................................................20
Deliryum Tremens...................................................................................................20
Pura Poezia................................................................................................................21
Amor Platonyko.......................................................................................................22
Rubayata....................................................................................................................22
Mikrofizyka do Poder..............................................................................................23
Teoria.........................................................................................................................24
Tropyko de Venws...................................................................................................24
Uma Owtra Jeografia Ew Kanto...........................................................................25
Prokura-se Uma Muza............................................................................................26
Elewzys......................................................................................................................26
O Mays Ke O Perfeyto............................................................................................27
Korpo-Santo.............................................................................................................28
Kantilena de Grumete............................................................................................28
Sange Brazileyro.......................................................................................................29
Labirinto....................................................................................................................30
Red Aunt...................................................................................................................31
Ino à Dewza..............................................................................................................32
Priapykon.poe.br.....................................................................................................32
A Faka de Izys..........................................................................................................33
As Bakantes...............................................................................................................33
Lobizomem...............................................................................................................34
O Burako da Agulla.................................................................................................35
Fronteyras..................................................................................................................36
Kaza Devoluta..........................................................................................................36
Tempo Frijydo..........................................................................................................37
fimdekazo.kom.........................................................................................................38

240
Retiro de Salomão....................................................................................................39
Sinkronia...................................................................................................................40
Vôo Sego...................................................................................................................40
Mayakóvska.................................................................................................................41
Kastellanas n°1 ........................................................................................................41
Kay ............................................................................................................................42
Entre as tuas pernas kwaze/kwaze fuy um dews................................................42
Klarise.........................................................................................................................43
Καθεδρα Χαλαρα................................................................................................44
Non Sense ................................................................................................................44
A Luta Korporal.......................................................................................................45
Kwotidianus, a, um .................................................................................................45
Ermafrodita .............................................................................................................46
Amor Apaxe ............................................................................................................47
Na Estasão do Metrô..............................................................................................48
Bar Garoto das Flores ............................................................................................49
Araknídea...................................................................................................................50
Para Sempre A ma la ..............................................................................................51
Os Fios da Urbys ...................................................................................................52
Vida Poetyka............................................................................................................53
Raykays Kariokas 1..................................................................................................53
Nature Oblije............................................................................................................54
Raykays Kariokas 2..................................................................................................54
Pur apréender le trotoar .........................................................................................55
Lar, Dose Lar............................................................................................................55
Vero Térreo Amor...................................................................................................56
Das Komezinnas Verdades Kotidianas.................................................................56
Momento...................................................................................................................57
Xaleyra no fogo........................................................................................................58
Sirkol’s Song..............................................................................................................59
Raykays Kariokas 3..................................................................................................59
Petrifikasão................................................................................................................60
Poezia Kom Kreta....................................................................................................61
Vem ke não te alkanso.............................................................................................62
possiensya literarya..................................................................................................63
Intelijensya Poetyka..................................................................................................64
Kantilena de Exu.....................................................................................................64
O Portal.....................................................................................................................65

241
Silensiozo Kanto......................................................................................................67
Kontradansa.............................................................................................................67
Ipanemia...................................................................................................................68
Enterrem Mew Korasão Nas Kurvas do Rio......................................................69
?mas vosê não me apresia os versos?...................................................................69
Owtono Frio de Mayo............................................................................................70
Minna muller fotografa flores no jardim.............................................................70
No Satisfekxion........................................................................................................71
(Ora, direys, amar formigas)...................................................................................72
Maldonor...................................................................................................................72
?Onde Estão Os Nosos Sonnos?...........................................................................73
Senas Modernas........................................................................................................74
PAYXÃO LOBA......................................................................................................75
Viajem Ao Séw..........................................................................................................76
Nem medo, nem owzadia.......................................................................................77
Fogos-fatwos.............................................................................................................78
Omo Omini Lupus..................................................................................................79
Rio 50°.......................................................................................................................80
Jângal Bell..........................................................................................................................81
A Klase Medya Vay Para O Paraizo.......................................................................82
Ponte Aérea...............................................................................................................87
Porke tinna um nó no peyto...................................................................................88
Pó de Pir-Lim-Pim-Pim..........................................................................................89
korkovado..................................................................................................................89
Deliryo Plúmbeo......................................................................................................90
Umws.........................................................................................................................91
Vida Literarya...........................................................................................................91
Kada palavra é uma serpente..................................................................................92
Porke dobrey-me sob sews ollos tão mel..............................................................93
Konsilyo de Trento..................................................................................................93
Safo............................................................................................................................95
Bilitis..........................................................................................................................95
O Kão e a Gata........................................................................................................96
Objetividade poetyka...............................................................................................97
Teoretyka...................................................................................................................98
Ezistensyalismo...........................................................................................................98
Central Park, Wine and Snow.................................................................................99
Nada, nada me komove mays...............................................................................100

242
Korpo Antropofajyko............................................................................................100
Verbo........................................................................................................................101
Pudisisya..................................................................................................................102
As Brumas de Avalon............................................................................................103
...para-!íso!...............................................................................................................103
Kambaxirra.................................................................................................................104
Esgrima...................................................................................................................105
Femyna Omini Lupus............................................................................................106
Agwas de marso......................................................................................................107
Ao Movimento da Barka.......................................................................................108
Lunasão....................................................................................................................109
Meras Konjekturas, Boas Vindas Talvez.............................................................110
Da Ensiklyka Poetyka............................................................................................111
Amor sem metáforas.............................................................................................112
Zoolojyko Intymo..................................................................................................113
ad infinitum ad nawzeam......................................................................................114
?A Kwal Lingwa Prometi Mew Korpo?..............................................................115
Sol Eskuro...............................................................................................................117
Borbolífera...............................................................................................................118
Bem-te-vis...............................................................................................................119
A Poezia vale mays ke trinta mil dinneyros........................................................120
Krityka poetyka......................................................................................................120
Os Arpões de Eros................................................................................................121
O Poeta Antropofajyko.........................................................................................121
Pezos e Medidas.....................................................................................................123
Kama de Solteyro...................................................................................................124
Amor Ezekutivo.....................................................................................................125
Tew Retrato.............................................................................................................126
Klara Lutxy..............................................................................................................127
Mediunyko...............................................................................................................128
Tranzes Tranzytos..................................................................................................128
O Inferno de Ékate................................................................................................129
Meya-Noyte.............................................................................................................129
Kanto Pós Demokryto e Eraklyto.......................................................................130
Dialogos Amorozos n°11.....................................................................................131
vida de poeta...........................................................................................................132
O Alimento das Gaivotas......................................................................................133
Menina Mosa..........................................................................................................134

243
A vida tal kwal não é..............................................................................................134
Só a morte é unívoka.............................................................................................135
O Ultymo Bigwá....................................................................................................136
Kravo de Marte......................................................................................................137
Vika..........................................................................................................................138
Devosão..................................................................................................................138
A Perfect Beach For A Bananafish......................................................................139
Kintanise..................................................................................................................140
Intuisão...................................................................................................................140
Bateya.......................................................................................................................141
?There Are So Many Questions, aren’t there?....................................................142
Eskatolojia...............................................................................................................143
ISTO NÃO É UM POEMA................................................................................144
gata sem kalsa na sala............................................................................................145
Luminaryas..............................................................................................................146
Aborto.....................................................................................................................146
Entredentes.............................................................................................................147
Hölderlin.................................................................................................................147
Diálogos Amorozos n° 207..................................................................................148
Mizojenias................................................................................................................149
Subyto akorde.........................................................................................................150
Poemeto em si bemol............................................................................................151
Lenga-Lengwa........................................................................................................152
O Sorrizo do Anjo.................................................................................................153
Tenno Muytos Amigos..........................................................................................154
Villa, T.S., os meninos, Maira...............................................................................155
Περι Ποιητικη........................................................................................156
Dejelo........................................................................................................................157
Matematyka.............................................................................................................158
Mizojenias n° 2.......................................................................................................159
As Novas Muzas..........................................................................................................160
Ferrajaria Poetyka...................................................................................................161
Gerra e Paz.............................................................................................................161
Fez ke se fez uma naw interestelar.......................................................................162
Kwatrillo Owtonal.................................................................................................164
Keda-de-braso........................................................................................................164
Ritual de Vestir.......................................................................................................165
Epistemolojyko......................................................................................................166

244
Moyra........................................................................................................................167
The Fairy Queen....................................................................................................169
Um Graal................................................................................................................170
Omo Simbolykws...................................................................................................170
?dás a iso o nome de amor?..................................................................................171
Lojyka Metaforyka.................................................................................................171
Epistemolojias.........................................................................................................172
Kafé solúvel, leyte desnatado...............................................................................173
It’s Up To You........................................................................................................174
Mew Reyno Mefistofleno......................................................................................175
Treppo, ergo sunt...................................................................................................176
Espreso 999............................................................................................................177
Pós-Solidão.............................................................................................................178
Maturidade..............................................................................................................179
O Poema e A Letra................................................................................................180
Duas Oras da Mannã.............................................................................................181
O Relojyo.................................................................................................................182
Esas Follas Ke Kaem............................................................................................184
Νοµων............................................................................................................................185
Não Averá Paiz Nennum......................................................................................186
Korasão Inesperto..................................................................................................187
AKATÍ.....................................................................................................................188
Rekaida.....................................................................................................................189
Ministeryo................................................................................................................190
Ministeryo n° 2.......................................................................................................191
Noz de marinneyros..............................................................................................192
Korpws Kristy........................................................................................................193
Semypoeta...............................................................................................................194
Esse papo já está pra lá de kwalker koyza..........................................................195
Antes ke...................................................................................................................195
Intelijensya Poetyka n°2........................................................................................196
As Serdas da Lira....................................................................................................197
Para Enxergar À Noyte.........................................................................................198
A Poezia é O Verbo...............................................................................................199
Ezistensialismo n°2................................................................................................200
Révéyllonlatyon.......................................................................................................200
Signifikansyas...........................................................................................................201
Nada Mays Ke Poeta.............................................................................................202

245
vida de poeta n°2...................................................................................................203
Ermenewtyka..........................................................................................................204
Debayxo das rodas.................................................................................................205
O mel dos mortos..................................................................................................206
Multyplas Fases.......................................................................................................211
Fragmentarya..........................................................................................................212
Fragmentos Kariokas.............................................................................................213
Rekado ao bom leytor............................................................................................216
Mas Sempre Á Deses Bares, Lugares Onde Se Pode Ir....................................217
Korasão Karioka....................................................................................................219
Os sizos e os rizos..................................................................................................221
O Poeta....................................................................................................................239

Kama Antropofajyka
VERSO VOZ VIOLÃO

Kantilena de Exu...................................................................................................223
Klones......................................................................................................................224
Viajem ao séw.........................................................................................................225
Korpo-Santo...........................................................................................................226
Nó no peyto............................................................................................................227
Ezistensialismo........................................................................................................228
Xuva Sobre o Mar..................................................................................................229
Minna Muller Fotografa Flores No Jardim........................................................230
Intelijensya Poetyka...............................................................................................231
A Lammpada..........................................................................................................232
Marmita de Bordões (As Azas no Tew Ollar)...................................................233
Nós de Marinneyros..............................................................................................235
Kwando a jente pensa...........................................................................................236
Beautiful Maira.......................................................................................................237
Te Xamey................................................................................................................238

246
KAMA
ANTROPOFAJYKA

247
248

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