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MÍDIA meio&mensagem 7 DE MAIO DE 2007

O último barão
Octavio Frias de Oliveira comprou a Folha de S. Paulo em 1962, na época um diário sem representatividade, e o transformou
em um dos mais importantes veículos de comunicação do Brasil. Hoje, pode-se discutir o caráter independente e apartidário
do jornal, mas é inegável que o empresário deixou como herança um produto inquieto, polêmico e provocador
Edgar Olimpio de Souza

Octavio Frias de Oliveira era tentes. “Graças a Deus com concorrente O Estado de S.
o último barão da imprensa, após vocações diferentes e sem Paulo, o grande modelo da
a morte de Júlio de Mesquita atrito entre eles.” época. A Folha surgira em
Neto (Estadão), Roberto Mari- Frias nasceu em 5 de agos- 1921 sob o formato de um
nho (O Globo), Ari de Carvalho to de 1912 no bairro carioca de jornal vespertino, e seus
(O Dia) e Manuel Francisco do Copacabana, penúltimo dos fundadores, Pedro Cunha e
Nascimento Brito (Jornal do Bra- nove filhos do casal Luiz Tor- Olival Costa, eram jornalistas
sil). O único dos históricos donos res de Oliveira, juiz de direito, do Estado. Curiosamente,
de jornais em atuação no País. e Elvira Frias de Oliveira, des- o próprio Júlio de Mesquita
Ele, que trabalhava no conhecido cendentes dos barões de Ita- Filho, dono do Estadão, as-
edifício da Alameda Barão de Li- boraí e Itambi — no Império, sinou o primeiro editorial da
meira, no centro velho da capital os antepassados eram gente Folha da Noite. No início, o
paulista, detestava ser chamado rica, nobilitada pelo imperador diário manifestou simpatia
de “doutor”. Argumentava que Pedro 2o. Aos 7 anos de idade, pelo movimento tenentista e
não portava o título, daí preferir órfão de mãe e com a família encampou algumas bandeiras
apenas ser tratado como “Seo em dificuldades financeiras, progressistas, como o voto
Frias”. Um homem pragmático, vivia na Rua Bela Cintra, no secreto e o direito de férias.
de hábitos simples, dono de nobre bairro paulistano dos Mas, com a saída de Pe-

João Wainer/divulgação
inteligência intuitiva e tino co- Jardins. Dali caminhava até dro Cunha, em 1929, a linha
mercial. Curioso e interessado o colégio de elite São Luiz, editorial passou a defender
por tudo o que era novo. onde era visto pelos colegas a oligarquia paulista do café.
“A Folha procura um jor- como um menino pobre, com- Olival Costa, por exemplo,
nalismo crítico, apartidário, pensado pela fama de bom apoiou a candidatura à Pre-
Frias: orgulho de saber que o sonho de Roberto Marinho era fazer um jornal como a Folha
moderno e pluralista”, gostava jogador de futebol. sidência do paulista Júlio
de repetir o agnóstico e liberal Nessa época de vacas ma- Foi nessa empresa, aliás, que co- para investidores coreanos. Prestes, opção que lhe custou
Frias. À parte a controvérsia de gras pregava que o seu grande nheceu sua mulher, Dagmar de Como o esforço para estabili- caro — o periódico foi destruído
suas palavras, viu a Folha de S. compromisso de vida era ganhar Arruda Camargo, que fora pedir zar comercialmente a rodoviária na noite de 24 de outubro de
Paulo transformar-se em um dos dinheiro. Aos 14 anos empre- um emprego para o marido, de havia custado muitas horas de 1930 pelos simpatizantes de Ge-
mais respeitados veículos de co- gou-se como office-boy na Com- quem acabou separada meses sono e trabalho, Frias prepara- túlio Vargas, o grande vencedor
municação do País. Costuma-se panhia de Gás e ainda trabalhou depois. Ela tinha uma fi lha do va-se para viajar para a Europa das eleições. A Folha só voltaria
dizer, no meio, que pior do que como mecanógrafo. Hábil no primeiro casamento, Maria He- quando outro negócio caiu no a circular em 15 de janeiro de
ler a Folha é não lê-la. O leitor uso da máquina de calcular, aos lena, e com Frias teve Otávio, seu colo. Tratava-se da Folha 1931. Em 1945, o título passava
estaria perdendo, é o argumento 21 tornou-se um bem-sucedido Maria Cristina e Luís. da Manhã, que comprou com o das mãos do barão do café Oc-
de plantão, o jornal mais nervo- funcionário público da Receita Com espírito empreendedor, sócio Caldeira em 13 de agosto taviano Alves para o trio José
so, vital e provocante da cida- Federal. Na ocasião, aderiu ao Frias associou-se em 1960 a Car- de 1962. Uma transação rápida: Nabantino Ramos, Clóvis Quei-
de. O carro-chefe do grupo de movimento da Revolução Cons- los Caldeira Filho e construiu cheque de entrada e mais 24 roga e Alcides Meirelles.
empresas de comunicação que titucionalista. uma rodoviária em São Paulo, a prestações de Cr$ 17,5 mil. Am- Sob a direção de Frias e Cal-
Frias levantou, que inclui mais Em 1947, contrariando o da Luz (1960). A empresa come- bos, por sinal, permaneceram deira, a Folha experimentou
dois jornais (Agora e Valor, este pai, que prezava a estabilidade çou bem, mas gerou problemas sócios da Folha até o início da rápida ascensão. Em 1967, por
em sociedade com a Globo), o do serviço público, decidiu-se depois, foi ocupada por alguns década de 90, quando o grupo exemplo, o jornal iniciou revo-
portal e provedor de internet pela atividade empresarial. Em meses pelo governo do Estado passou a ser controlado apenas lução tecnológica e modernizou
Uol, um instituto de pesquisas associação com Orozimbo Roxo e fi nalmente fechada em 1982, pela família de Frias. seu parque gráfico — foi pioneiro
(Datafolha) e a sociedade na Loureiro, fundou o BNI. Espe- na inauguração do terminal do Naqueles anos o jornal não na impressão ofsete em cores,
gráfica Plural. cializado em imóveis, o banco Tietê — depois de alguns anos desfrutava de muito prestígio, utilizada em larga tiragem pela
“Não sou jornalista, mas financiou o Edifício Copan e fechado, o prédio foi vendido especialmente comparado ao primeira vez no Brasil. Quatro
empresário”, era outra de suas tocou outros empreendimentos
frases preferidas, embora como a preço de custo, mas acabou

Empresário faleceu aos 94 anos


jornalista tenha sido responsá- sem liquidez, sofreu interven-
vel por um dos célebres furos ção do governo e terminou
do periódico. No caso, em 1985, vendido para o Bradesco. Re-
ao acionar as suas fontes e feito do contratempo, fundou
descobrir em primeira mão que em 1953 a Transaco, empresa O empresário e editor da Folha nas últimas semanas. Ele estava conglomerado que hoje abrange o
Tancredo Neves, recém-eleito que atuava na venda de ações de S. Paulo Octavio Frias de Oli- inconsciente havia dois dias. Seu portal e provedor de internet Uol, o
indiretamente presidente da diretamente ao público. veira morreu no domingo, dia 29 sepultamento ocorreu na segunda- jornal Agora, o instituto de pesqui-
República, tinha um tumor e de abril, após um agravamento de feira, 30, ao meio-dia, no cemitério sas Datafolha, a editora Publifolha,
poucas chances de sobreviver. De ônibus suas condições clínicas nas últimas Gethsemani, em São Paulo. a gráfica Plural e o diário econômi-
Frias era um workaholic. Quan- para o jornal semanas, que o colocou em um Nascido no Rio de Janeiro, em co Valor (este em sociedade com as
do alguém sugeria a ele que não Um de seus clientes era a quadro de insuficiência renal gra- 5 de agosto de 1912, Frias come- Organizações Globo). A Portugal
fosse tão obcecado pelo traba- Folha da Manhã, então dirigida ve. Em novembro, em decorrência çou a trabalhar aos 14 anos como Telecom também tem participação
lho, rebatia: “Vou continuar tra- pelo advogado José Nabantino de uma queda doméstica, ele foi office-boy. Aos 23, já era diretor acionária do conglomerado.
submetido a cirurgia para remoção da Secretaria da Fazenda de São Em 1996, a Folha atingiu
balhando normalmente porque Ramos, um dos pioneiros na
de hematoma craniano. Teve alta Paulo. Foi sócio de banco e atuou tiragens recordes de 1,5 milhão
os médicos me disseram para introdução da psicanálise em
hospitalar na passagem do ano e no setor agropecuário. Em 13 de de exemplares. Segundo o Valor
não parar senão me estrepo”. E São Paulo. A Transaco vendia desde então vinha se recuperando agosto de 1962, comprou a Folha, Econômico de 30 de abril, o grupo
acrescentava que tinha um filho assinaturas da Folha e, sob a sua na casa de sua filha, Maria Cristina. que viria a se tornar na década de que Frias dirigiu faturou R$ 765
na redação, o Otávio, e outro no administração, saltou de 150 Suas condições clínicas pioraram 90 o maio jornal do País e a base do milhões em 2006.
comercial, o Luís, ambos compe- para 6 mil assinaturas mensais.

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