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(0 TRABALHO NUMA PERSPECTIVA FILOSOFICA |- 0 encontro do trabalho pela filosofia: “objeto” ou "matéria estrangeira" 2 Os responsaveis pelo Seminario de Educagdo de 2003 em Cuiabé me pediram para abordar na abertura o tema: "O trabalho numa perspectiva filoséfica". Eu os agradego pela sua confianga, @ vou tentar, para voc8s como para mim, um exercicio de sintese, que evitara, espero, os obstaculos de uma linguagem filoséfica profissionalizada demais. O interesse do nosso encontro esta de fato na pluralidade dos percursos e das culturas € devemos todos respeitar no outro nossas competéncias bem como nossas incompeténcias relativas. A filosofia encontrou o trabalho ? Sob qual forma ela o encontrou? De qual "trabalho" tratava-se? E atrés desta primeira série de questdes, eu penso que uma outra anima os organizadores deste seminério, como ela sempre animou a mim mesmo: de que apoio a filosofia, como patrimonio de escritos e como atividade intelectual, pode ela ser para entender ¢ transformar hoje 0 trabalho? Evidentemente a interrogagao @ consideravel @ vou propor um Angulo de abordagem muito mais preciso que deveria tomar meu propésito compativel com os limites de uma palestra de abertura: ser que a filosofia encontrou 0 trabalho? E se ela o encontrou, era para ela um objeto ou uma matéria estrangeira? Brevemente vou explicitar esta distingao entre o que pode ser um “objeto” e uma "matéria estrangeira” para a reflexio. E espero poder precisar isso @ esclarecer isso progressivamente a0 longo dos momentos que vou percorrer, Da mesma maneira que 0 numero 6 um objeto para a aritmética desde que esta existe, a molécula ou o étomo para a quimica a partir do século XIX, a célula para a biologia no século XX, pode-se por analogia no campo dos conhecimentos sobre © homem, se perguntar, se "o trabalho" tem sido um objeto de estudo, uma passagem obrigatoria para qualquer pessoa se destinando ao exercicio filoséfico. Hoje em dia, para o ensino filoséfico na Franga, a resposta seria um timido "sim": nos manuais de filosofia, na maior parte dos programas para o vestibular, ha um pequeno capitulo sobre o trabalho. Este objeto 6 geralmente emoldurado por um certo numero de textos e de autores canénicos, gragas aos quais considera-se que os alunos podem refietir sobre este objeto: Hesiodo, Aristételes, Adam Smith, Hegel, Marx, eventualmente Nietzsche, Bergson, André Leroi-Gourhan. Mas este trabalho como “objeto” de estudo, ¢ também uma matéria estrangeira para 0 filésofo? Matéria estrangeira no sentido em que o trabalho renovaria em permanéncia sua exterioridade, seu carater estrangeiro em relagdo a cultura dos filésofos; no sentido em que tudo o que estes poderiam ter se apropriado do trabalho como “objeto” de estudo nao os dispensaria de nenhuma forma de se tomar disponiveis com uma certa humildade e desconforto, para se colocar em aprendizagem junto aos homens mulheres trabalhando, @ tentar assim compreender 0 que acontece ¢ se repete de modo conceitualmente no antecipavel, até enigmético, nas situagdes de trabalho. O trabalho toma-se entdo nao somente um objeto de estudo mas uma matéria em primeiro lugar estrangeira ao saber filosofico, que impde ao aprendiz de fildsofo a necessidade de procurar instruir-se sobre o trabalho, como ele deve buscar instruir-se em matematica ou em quimica, se ele quiser ter discursos pertinentes sobre a ciéncia que se faz. Nao 6 uma idéia que deve surpreender no pais de Paulo Freire ¢ de todos aqueles que partiharam das suas idéias e as colocaram em pratica: 0 filésofo, como qualquer ser humano, é “inacabado", nao ha “docéncia sem discéncia... ensinar inexiste sem aprender e vice-versa." Que 0 trabalho seja ndo somente objeto mas também matéria estrangeira, expressaria o inacabado de qualquer especulacdo filoséfica, e a exigéncia, para o fildsofo, de ir instruir- ' p, Freire, Pedagagia da awonomia, Paz e Terra, 15* EligHo, 2000, pp 25-26. se junto aos universos do trabalho, um pouco como Paulo Freire nas favelas ou nas reas culturais mal conhecidas ou desprezadas de seu pals. Esta expressdo de "matéria estrangeira", eu a retomo exatamente neste sentido do fildsofo francés Georges Canguilhem, no momento em que na Introdugéo de uma obra maior, O normal e o patolégico (PUF 1966 - Tradugdo brasileira, 5* edigdo, Rio de Janeiro: Forense Universitaria, 2000. 308 p.), ele justifica @ ateng&o da comunidade dos filésofos 0 interesse, ou melhor, 2 necessidade para a pratica da sua disciplina da aprendizagem de uma materia exterior a esta, como 0 foi, no seu caso a aprendizagem dos estudos médicos, "~ filosofia 6 uma reflexéo em que qualquer matéria estrangeira é boa, e, diriamos de bom grado, em que qualquer boa matéria deve ser estrangeira’. E algumas linhas depois, ele precisa seu propésito: "Nés esperavamos precisamente da medicina uma introdugéo a problemas humanos concretos” (p. 7). Se esperarmos do trabalho uma introducdo a problemas humanos concretos, no seria preciso, pelas mesmas razGes, colocarmo-nos a estudar 0 trabalho, como se ele ndo fosse naturalmente, espontaneamente, um objeto ja bem delemitado pela tradicg0, mas, em certos aspectos, um continente amplamente estranho ao saber académico? Esta questo me parece perfeitamente intema a0 proprio tema do Seminério: conforme 0 trabalho aparece para nés como um “objeto” ou ainda como uma "matéria estrangeira", no se consideraré da mesma maneira as relagées entre Trabalhar, Aprender, Saber, ndo se definiré da mesma maneira esses trés termos. E se eu devesse completar minha opinido sobre a quantas anda 0 trabalho no ensino da filosofia na Franga, minha resposta seria aqui diferente: esté timidamente presente como “objeto” de estudo, sim, eu ja disse, mas quase ndo como "matéria estrangeira’. E al, minha tese é bastante categérica se 0 trabalho, mesmo presente como objeto, no interpelar a filosofia como uma matéria que Ihe seja também "estrangeira", néo somente a filosofia nao serd uma ajuda para entender e transformar o trabalho, mas ela podera até se tomar um freio.

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