Vous êtes sur la page 1sur 1

Um homem acordado no meio da madrugada. Quatro pessoas esto esperando do lado de fora.

. Pedem para que ele os leve numa corrida. So pessoas do bairro, ele j as tinh a visto por l, e sabem que ele taxista. Ele se veste, a mulher o olha assustada, ele sai de casa, entra no carro. Havia um outro homem com os quatro, sendo carre gado. Estava com o rosto deformado de tanta pancada, gemia e chorava de dor. Ele s pedem para lev-los para um lugar afastado. Quando chegam, pedem para o taxista esperar, saem quatro e deixam o quinto. O quinto tenta falar com o taxista No deix e que eles me matem, eu tenho filhos, por favor! , geme, vomita e evacua de desesp ero. Instantes depois os quatro retornam, carregam o quinto at um matagal. O taxi sta ouve tiros. Os quatro voltam, pedem para ele retornar ao bairro. Ele dirige at seu bairro. Os clientes pagam a corrida, saem do carro. O taxista, pai de famli a, limpa o vmito e as dejees e o sangue do banco traseiro. No geme nem chora, sua es posa dentro de casa j faz tudo isso. Servio feito, abre a porta de casa, se troca e volta para a cama. No dorme. Ouve uma voz de morto, a sua, pedindo ajuda, mas no h quem possa ajudar, a polcia, o prefeito, o Estado, Deus. Minha mulher me conta essa historia quando volto para casa do provo de jornalismo (10/06/2001). A esposa do taxista empregada domstica da minha sobrinha. E eu fic o pensando no que significa ser jornalista. Relatar o fato que aconteceu numa da s favelas de uma cidade no interior do pas. Os detalhes no interessam. A notcia a morte do sujeito que encontraram no matagal.

Mas a vida est nos detalhes. O medo, a lei do silncio, a vida por um fio, a impotnc ia, a guerra civil no-declarada, o caos instalado na racionalidade capitalista, a dbil democracia em que se vive. Oquequemquandoondecomoporque. Matria na fsica massa vezes energia vezes informao. Vale tambm para o jornalismo: ma sa pode ser o peso cognitivo que a notcia tem, energia so os fluxos de foras sociai s/polticas/econmicas/psicolgicas que esto dando forma ao que acontece e informao o o, aquilo que d outra perspectiva de conhecimento vida. Porque como dizia Rubem A lves, fatos no so valores. Portanto preciso revel-los, desencobr-los, cri-los. Gerson Dudus

Vous aimerez peut-être aussi