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Na obra, o famoso neurologista relata 24 casos clínicos, tais como a história de uma vítima de amnésia que
desesperadamente inventa identidades para as pessoas que conhece, ou, ainda, os problemas de um
"retardado mental" capaz de saber de cor centenas de óperas, sendo um verdadeiro "dicionário de música
ambulante". O livro, dividido em quatro partes, trata da perda de funções neurais, de procedimentos
excessivos manifestados pelos enfermos, de doentes que se transportam para realidades imaginárias e,
também, do mundo simples e concreto daqueles que são vítimas de distúrbios neurológicos.
O Dr. Oliver Sacks, (também, autor de "Tempo de Despertar", que resultou no filme homônimo, com Robin
Willians e Robert De Niro), através da sensibilidade poética de seus relatos, sem dúvida, alarga o campo da
investigação científica, sempre preocupado com a identidade e a dimensão humana dos indivíduos que trata.
Dentre os casos clínicos narrados, o que dá título à obra ("O homem que confundiu sua mulher com um
chapéu") foi apresentado em instigante montagem teatral pelo diretor inglês Peter Brook. --por José
Arrabal
O livro Um Antropólogo em Marte foi lançado no Brasil em 1995. O autor, Oliver Sacks, é um
neurologista com grande habilidade para narrar distúrbios neurológicos complexos, de forma que o
leitor acaba sendo completamente absorvido pelas incríveis histórias de vida de seus pacientes. Sacks
já publicou outros livros como O homem que confundiu uma mulher com um chapéu (1986) e
Despertando (1974), que virou filme em 1990 com a atuação de Robert De Niro e Robin Williams.
Em "O caso do pintor daltônico", um pintor de 65 anos sofre um acidente de carro e, repentinamente,
torna-se totalmente daltônico. No dia seguinte ao acidente, ao ir trabalhar em seu ateliê, antes repleto
de pinturas coloridas e luminosas, depara-se com um mundo feito de cinza, branco e preto. As coisas
passam a ter uma aparência desagradável, "suja". As pessoas viraram "estátuas cinzentas animadas"
e o pintor passa a não suportar sua própria aparência no espelho. Até os alimentos que ele ingeria
"pareciam-lhe repulsivos devido a seu aspecto cinzento, morto, e ele tinha que fechar os olhos para
comer". Para o pintor, o mundo passou a ser algo parecido com um filme em preto-e-branco,
tridimensional, com a diferença que os filmes são representações do mundo, enquanto a vida dele era
real.
Enfim, o pintor perdeu não somente a percepção das cores, mas acabou perdendo sua memória das
cores. Enquanto Sacks conta a destruição do mundo colorido do pintor, ele conta o surgimento de uma
nova realidade, de um mundo sem cores, de uma pessoa que parecia nunca as ter conhecido. O pintor
voltou a pintar inspirado pela visão de um nascer do sol (em preto e branco). "O sol nasceu como uma
bomba, como uma enorme explosão nuclear", ele contou à Sacks. Suas pinturas continuaram
existindo, mas todas passaram a ser em preto-e-branco. "Senti que se não pudesse continuar
pintando, também não ia querer continuar vivendo", ele desabafou com seu médico, que escreveu
seus desabafos, sentimentos e impressões desencadeados por fenômenos neurológicos complexos
explicados por Sacks.
O último conto do livro, chama-se "Um antropólogo em Marte", e é sobre uma autista, Ph.D. em
ciência animal, professora da Colorado State University. Apesar das adversidades, ela tornou-se uma
importante autoridade mundial em sua área de atuação profissional. Curiosamente, a linguagem
técnica era muito mais acessível a essa pesquisadora do que a linguagem social, o que permitiu que
ela se adaptasse à vida fazendo ciência. A ciência a medicou, ao mesmo tempo em que tornou-se seu
refúgio. Durante toda sua vida, ela dizia-se se sentir como um "antropólogo em Marte".
Provavelmente, essa deve ser uma sensação compartilhada por muitas outras pessoas com distúrbios
neurológicos.
O livro de Sacks vale a pena. Nesse livro, o estilo dos contos de Sacks pode ser explicado por uma
frase do médico escritor: "Mas, para voltar ao ponto de partida, todos os estudos clínicos, por maior
que seja o empreendimento, por mais profunda que seja a investigação, devem retornar aos casos
concretos, aos indivíduos que os inspiraram e sobre quem eles discorrem".