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O MARXISMO DA “ESCOLHA RACIONAL”: ALGUMAS QUESTOES DE METODO E CONTEUDO’ JOHN E. ROEMER* Os comentarios que se seguem referem-se a algumas questdes de método e outras de pesquisa substantiva. Quanto ao método, acredito que a economia marxista tem muito a aprender com a economia neoclassica. E quanto 4 agenda de pesquisas substantivas, penso que em muitos casos € o contrario que se verifica. Nao creio que haja uma forma especifica de légica ou de explicacdo marxista. Com muita freqiiéncia 0 obscurantismo se protege atras de uma yoga de termos especiais ¢ de uma logica privilegiada. A yoga do marxismo € a “dialética’. A l6gica dialética fundamenta-se em diversas proposig¢Ges que podem ter algum interesse indutivo mas que estio longe de screm regras de inferéncia: as coisas transformam-se em seus opostos e a quantidade em qualidade. Na ciéncia social marxista a dialética é muitas vezes usada para justificar uma forma negligente de raciocinio teleolégico. Os desenvolvimentos ocorrem porque ” Este é um capitulo do livro organizado por John Roemer, Analytical Marxism (Studies in Marxism and social theory), Cambridge University Press, 1986. Tradugao de Maria de Lourdes Nogueira Porto. 24 LUA NOVA ~ SKO PAULO - NOVEMBRO 89 N? 19 devem ocorrer a fim de que a histria alcance sua finalidade. As acées do Estado s4o, assim, explicadas pelas necessidades que os regimes existentes devem sustentar; 0 capitalismo fomenta o racismo e 0 sexismo no scio da classe operaria porque estas ideologias debilitam o poder da classe operdria e fortalecem o poder capitalista; os colégios educam mal as criangas da classe operaria para manter 0 poder burgués. Estas conseqiiéncias podem estar todas certas mas nao podem ser demonstradas recorrendo-se aos “papéis hist6ricos” que devem ter as entidades “Estado”, “classe capitalista”, “classe operaria”, “capital”. Um marxista honesto, por exemplo, tem que se confrontar com o argumento ascético pelo qual a competéncia eliminara os diferenciais racistas de salario discriminatorio pago pelos capitalistas maximizadores de beneficios no modelo competitivo usual; se o divide-e-vencerés for realmente um fenédmeno capitalista, 0 argumento a secu favor deve ser muito mais sutil?. Nao se pode explicar a existéncia de desemprego pela necessidade que tem o capital de manter uma décil classe operaria mediante um grande exército industrial de reserva, pois numa economia competiliva nao ha nenhum agente que cuide dos interesses do capital. Ou seja, a analise marxista requer microfundamentos. Em linhas gerais as visdes neoclassica e marxista da economia capitalista distinguem-se em que a primeira considera que a competéncia produz uma distribuigéo eficaz dos recursos, enquanto para o marxismo esta mesma mio invisivel é uma mao vacilante. Crise, ineficacia generalizada, alienagao, exploragao e outros resultados semelhantes. O que os marxistas devem proporcionar so explicagdes de mecanismos, a nivel micro, para os fendmenos que ocorrem, segundo eles, por razdes teleolégicas. Em certo sentido, o problema é paralelo ao que a economia burguesa enfrenta no momento de proporcionar micro- fundamentos 4 macroeconomia. H4 uma interpretagao mais benigna (e suportavel) da dialética. Jon Elster caracteriza a dialética como a conseqiiéncia nao intencionada da agao racional; mais especificamente, as Roemer, “Divide and conquer: microfoundations of the Marxian theory of discrimination", Bell Journal of Economics, 10, n® 2, outono de 1979, pp. 695- 705, apresenta um modelo no qual a estratégia racional dos capitalistas individuais consiste em pagar saldrios discriminatérios a operarios brancos e negros com 0 mesmo nivel de experiéncia. © MARXISMO DA. “ESCOLHA RACIONAL": 25 ALGUMAS QUESTOES DE METODO E CONTEUDO distribuigdes sub6dtimas resultantes da conduta individual otimizadora?. O exemplo padrio € 0 dilema do prisionciro; os problemas da provisio de bens pdblicos e as situagdes caracterizadas por externalidades tém geralmente a propriedade de que nelas falha a mao invisivel. Segundo Elster, Marx acreditava que a maioria dos processos dentro do capitalismo se caracterizava por este tipo de problema e que em conseqiiéncia obtiveram o resultado “dialético” pelo qual os agentes otimizadores acabavam numa solucdo subétima. Um exemplo assinalado é a famosa teoria da taxa de lucro decrescente: a fim de elevar suas taxas de lucro individuais, os capitalistas introduzem inovagdes técnicas que provocam a redugdo no novo equilibrio de todas as suas taxas de lucro. Embora o raciocinio especifico de Marx seja teoricamente erréneo, exemplifica a dialética como desprovida da mo invisivel. Assim, tanto o raciocinio marxista como o neoclassico “iém seus respectivos ‘Vicios com relagao 4 teleologia. A economia neo-classica padece de uma atitude panglossiana em relagio as conseqiiéncias da conduta nao coordenada dos individuos. Embora nao seja teleolégico em relagao as conseqiiéncias da atividade do mercado e do comportamento individual, o marxismo afirma que a historia, considerada globalmente, se dirige por si mesma a sociedades mais gloriosas, como o descreveu a teoria do materialismo histérico. Ao se tentar proporcionar microfundamentos 4 conduta que os marxistas consideram caracteristica do capitalismo, Parece-me que os instrumentos par excellence sao os modelos da escolha racional: a teoria do equilibrio geral, a teoria dos jogos € o arsenal de técnicas de construgéo de modelos desenvolvidos pela economia neoclassica. Este método representa uma grande contribuigao para a hist6ria intelectual do Ultimo século, Contra esta proposic¢éo pode-se levantar a acusacgdo de que estes instrumentos se desenvolveram para fazer a apologia da nova ordem burguesa e para justificar 0 capitalismo e que por esta raz4o seu uso contamina necessariamente os resultados com uma sombra burguesa. Este € um argumento funcionalista, do tipo que criticavam. Se os marxistas desejam impugnar a imparcialidade intelectual dos modelos da escolha racional, devem mostrar com precisio onde se est4 fazendo o trabalho sujo. Que hipéteses Elster, Maki ig sense of Marx, Cambrigde Uni etsity Press, 1985, cap. 1.

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