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ISSN 2238-6726
 

ANAIS DO XXIV ENCONTRO DA SOCIEDADE


BRASILEIRA DE ACÚSTICA – SOBRAC 2012

A Comissão Científica do SOBRAC 2012 apresenta a lista de artigos técnico-


científicos selecionados para apresentação em forma oral. Os artigos estão divididos por
seção, seguindo a ordem apresentada no Manual do Congressista.

Esta tarefa foi assumida com prazer e culminou no aceite de 76 (setenta e seis)
artigos para composição deste volume. Os artigos são fruto da contribuição de professores,
pesquisadores, técnicos e alunos de todo o país e também do exterior, com destaque para a
expressiva participação de colegas portugueses.

Esta Comissão agradece o convite da Presidência do SOBRAC 2012 para a


realização desta tarefa e a todas as pessoas que enviaram artigos e também participaram
do processo revisional, tornando possível esta obra.

Belém, 29 de maio de 2012.

Prof. Dr. Gustavo da Silva Vieira de Melo


Prof. Dr. Márcio Henrique de Avelar Gomes
 

COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. Dr. Newton Sure Soeiro (UFPA)


Presidente

M. Sc. Antonio Carlos Lobo Soares (MPEG)

Prof. Dr. Antônio Marcos de L. Araújo (IESAM)

M. Sc. Débora Barreto (AUDIUM)

Profª. Drª. Elcione Maria L. de Moraes (UFPA)

Profa. M. Arq. Francisca Araújo (UNAMA)

Prof. Itamar Vilhena de Brito (CESUPA)

Prof. Odorico Nina Ribeiro (IFPA)

Comissão Científica
Prof. Dr. Gustavo da Silva Vieira de Melo (UFPA)

Prof. Dr. Márcio Henrique de Avelar Gomes (UNB)

Secretaria Executiva

BBL Eventos e Produções


 

LISTA DE REVISORES

Alexandre Augusto Pescador Sardá


Aloísio Leoni Schmid
Andrey Ricardo da Silva
Dinara Xavier da Paixão
Diogo Alarcão
Edson Alves da Costa Júnior
Elcione Maria Lobato de Moraes
Elvira Barros Viveiros da Silva
Erasmo Felipe Vergara Miranda
Eric Brandão Carneiro
Gustavo da Silva Vieira de Melo
Henrique Gomes de Moura
Jorge Patrício
José Luis Bento Coelho
Júlio Apolinário Cordioli
Léa Cristina Lucas de Souza
Marcelino Monteiro de Andrade
Marcelo Gomes de Queiroz
Márcio Henrique de Avelar Gomes
Marco Antônio Nabuco de Araújo
Maria Alzira de Araújo Nunes
Mauricy César de Souza
Moysés Zindeluk
Newton Sure Soeiro
Pablo Kogan
Paulo Medeiros Massarani
Paulo Roberto de Oliveira Bonifácio
Peter Barry
Ranny Loureiro Xavier Nascimento Michalski
Renato Pavanello
Ricardo Eduardo Musafir
Roberto Aizik Tenenbaum
Sérgio Luiz Garavelli
Stelamaris Rolla Bertoli
Swen Müller
Talisman Claudio de Queiroz Teixeira Junior
Yves Jean Robert Gounot
Zemar Martins Defilippo Soares
SUMÁRIO

SESSÃO 01-A....................................................................................................................................... 09

ANÁLISE DAS CONDICIONANTES ACÚSTICAS NA ARQUITETURA DE CINCO PRÉDIOS DO 10


PARQUE ZOOBOTÂNICO DO MUSEU GOELDI......................................................................................
ISOLAMENTO SONORO AÉREO DE PAREDES DE EDIFICAÇÃO ESCOLAR...................................... 18
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE RUÍDO EM PRAÇAS DE ALIMENTAÇÃO EM SHOPPING CENTER......... 26
DESEMPENHO ACÚSTICO EM EDIFICAÇÕES: ANÁLISE COMPARATIVA DOS RESULTADOS
DAS NORMAS ISO 140 E ISO 10052....................................................................................................... 34
AVALIAÇÃO DE PRESSÃO SONORA EM EDIFICAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL............................. 40
CONFORTO ACÚSTICO PARA A HUMANIZAÇÃO DE UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA E
DEMAIS AMBIENTES HOSPITALARES................................................................................................... 48

SESSÃO 02-A....................................................................................................................................... 56

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE CÂMARAS DE ENSAIO ACÚSTICO DE ESQUADRIAS............... 57


MEDIÇÕES DE ISOLAMENTO SONORO DE FACHADAS COM O MÉTODO DA FUNÇÃO DE
TRANSFERÊNCIA............................................................................................................................................ 65
ANÁLISE DE RUÍDO OCUPACIONAL DENTRO DE UMA SERRARIA EM RODON DO PARÁ.................... 72
UMA METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA VIRTUAL DA DOSE DE EXPOSIÇÃO AO RUÍDO
OCUPACIONAL................................................................................................................................................ 80
MATERIAIS NÃO-CONVENCIONAIS UTILIZADOS PARA CONTROLE DE RUÍDOS: MITO OU
REALIDADE...................................................................................................................................................... 88
PRODUÇÃO DE PAINÉIS DE RESÍDUOS DE AVEIA E CANA-DE-AÇÚCAR COM POTENCIAL USO
PARA CONDICIONAMENTO ACÚSTICO........................................................................................................ 97

SESSÃO 01-B....................................................................................................................................... 103

ANÁLISE ESTRUTURAL DE UMA TORRE DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA SUBMETIDA


A CARREGAMENTO EÓLICO............................................................................................. 104
PREDIÇÃO DO FATOR DE PERDA DE PAINÉIS DE FUSELAGEM COM MATERIAIS
VISCOELÁSTICOS UTILIZANDO A TEORIA DE ESTRUTURAS PERIÓDICAS E O MÉTODO DE
ELEMENTOS FINITOS.............................................................................................................................. 112
ANÁLISE NUMÉRICA VIBRO-ACÚSTICA PARA PREVISÃO DOS NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA NA
FACE POSTERIOR DE UM REATOR ELÉTRICO.............................................................................. 121
PROJETO E SIMULAÇÃO DE VIBRADOR DE FORMAS DE CONCRETO............................................. 129
APLICAÇÃO DA LÓGICA FUZZY NO DIAGNÓSTICO DE DEFEITOS MECÂNICOS EM
EQUIPAMENTOS ROTATIVOS................................................................................................................. 137
CONTROLE DE VIBRAÇÃO DE ORIGEM ELETROMAGNÉTICA ATRAVES DE ABSOVERDORES
DINÂMICOS VISCOELÁSTICOS EM REATOR ELÉTRICO..................................................................... 145
ANÁLISE DINÂMICA DE PRÉDIO METÁLICO INDUSTRIAL DE CONSTRUÇÃO MODULAR............... 153
AJUSTE DE MODELO MATEMÁTICO PARA PREDIÇÃO DO RUÍDO EMITIDO PELO TRÁFEGO DE
VEÍCULOS...................................................................................................................................................... 161
SESSÃO 03-A....................................................................................................................................... 166

AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO EM UMA COMPARAÇÃO DE LABORATÓRIOS PARA ENSAIOS DE


ABSORÇÃO SONORA EM TUBOS..................................................................................................... 167
MEDIÇÃO DO COEFICIENTE DE ABSORÇÃO SONORA DE MATERIAIS ATRAVÉS DA TÉCNICA DE
UM MICROFONE EM UM TUBO DE IMPEDÂNCIA........................................................................... 175
COMPARAÇÃO LABORATORIAL DE ABSORÇÃO SONORA EM TUBOS DE IMPEDÂNCIA................ 183
ESTIMATIVA DA INCERTEZA DE MEDIÇÃO DO RUÍDO EMITIDO POR MÁQUINAS DE LAVAR
ROUPAS......................................................................................................................................................... 189
CALIBRAÇÃO DE MICROFONES NAS FREQUÊNCIAS INFRA-SÔNICAS................................................. 195
ANÁLISE DOS MÉTODOS EXPERIMENTAIS DESTINADOS À INVESTIGAÇÃO DA IMPEDÂNCIA
ACÚSTICA DAS FLAUTAS............................................................................................................................ 203

SESSÃO 04-A....................................................................................................................................... 210

ANÁLISE DE DISTORÇÃO NÃO LINEAR EM AMPLIFICADORES DE ÁUDIO VALVULADOS.............. 211


SISTEMA ELETROACÚSTICO TETRAÉDRICO PARA MEDIÇÃO ACÚSTICA EM BAIXA
FREQUÊNCIA................................................................................................................................................. 219
MODELAGEM ELETROACÚSTICA DE ALTO-FALANTES UTILIZADOS COMO ABSORVEDORES
SONOROS ATIVOS........................................................................................................................................ 226
MAPEAMENTO SONORO DA PERCEPÇÃO DE ALTURAS EM UMA SALA A PARTIR DE ANÁLISE
MODAL........................................................................................................................................................... 234
CLASSIFICAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE PERCUSSÃO UTILIZANDO PERFIS ESPECTRAIS.............. 242
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NO CANTO EM DUETO DA GARRINCHA-DE-BIGODE THRYOTHORUS
GENIBARBIS (AVES, TROGLODYTIDAE).................................................................................................... 248

SESSÃO 02-B....................................................................................................................................... 255

COMPORTAMENTO DE PAINÉIS RANHURADOS E PERFURADOS INCORPORANDO ESPUMAS


SINTÉTICAS................................................................................................................................................... 256
ESTUDO DA ISOLAÇÃO SONORA DE UM PAINEL À BASE DA CASCA DO CUPUAÇU.......................... 264
CARACTERIZAÇÃO DA ABSORÇÃO SONORA DE BARREIRAS ACÚSTICAS CORRUGADAS.............. 272
OTIMIZAÇÃO DE UMA CAMADA POROELASTICA PARA AUMENTO DA ABSORÇÃO............................ 280
ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS PARÂMETROS DE PROJETO DE SILENCIADORES REATIVOS
DO TIPO HELMHOLTZ.................................................................................................................................. 287
CONTROLE ATIVO DE RUÍDO EM DUTOS COM CURVA.......................................................................... 295

SESSÃO 03-B....................................................................................................................................... 303

AVALIAÇÃO DE PARÂMETRO SONORO EM SALAS DE AULA: DIAGNÓSTICO DE QUALIDADE


ACÚSTICA...................................................................................................................................................... 304
ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS DE SALAS PARA ENSINO DE MÚSICA EM
ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA............................................................................................................. 312
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CONFORTO ACÚSTICO EM SALAS DE AULA: ESTUDO DE
CASO EM ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE TUCURUÍ...................................................................... 320
AVALIAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA DO CONDICIONAMENTO ACÚSTICO DE SALAS DE AULA –
ESTUDO DE CASO........................................................................................................................................ 328
AVALIAÇÃO NUMÉRICA DAS CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS PARA UMA SALA DE AULA A
BORDO DE UMA EMBARCAÇÃO................................................................................................................. 336
QUALIDADE ACÚSTICA EM SALAS DE ENSINO DE MÚSICA: PARÂMETROS ACÚSTICOS
PREFERENCIAIS PARA PROFESSORES DE MÚSICA............................................................................... 345
SESSÃO 05-A....................................................................................................................................... 351

ESTUDO PARA READEQUAÇÃO ACÚSTICA DO ANFITEATRO NEY MARQUES DA UNIVERSIDADE


ESTADUAL DE MARINGÁ PARA USO COMO CINEMA.............................................. 352
INFLUÊNCIA DO TETO DE CONCHA DE ORQUESTRA LEVE E ARTICULADA NA ACÚSTICA DE
SALA DE MÚLTIPLO USO........................................................................................................................ 360
VERIFICAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO DA FONTE SONORA NOS PARÂMETROS
ACÚSTICOS DO AUDITÓRIO DO ELREE/UFPA A PARTIR DE RESULTADOS ESPERIMENTAIS E
NUMÉRICOS.................................................................................................................................................. 368
SALAS DE CINEMAS PROJETADAS PELO ARQUITETO RINO LEVI: AVALIAÇÃO ATRAVÉS DA
RECONSTRUÇÃO ACÚSTICA...................................................................................................................... 376
AVALIAÇÃO DE INTELIGIBILIDADE EM SALAS DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL A PARTIR
DAS RESPOSTAS IMPULSIVAS BIAURICULARES OBTIDAS COM CABEÇA ARTIFICIAL INFANTIL..... 384
RECOMENDAÇÕES PARA MELHORIA DOS PROCEDIMENTOS DE MEDIÇÃO DE RUÍDO VEICULAR
EM CENTROS DE INSPEÇÃO...................................................................................................................... 392
CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA E CONTROLE DE RUÍDO NUMA USINA HIDRELÉTRICA ATRAVÉS
DE MÉTODOS EXPERIMENTAL E NUMÉRICO........................................................................................... 400
ALGORITMO PARA DETECÇÃO DE FALHAS EM ESTAÇÕES DE TRABALHO ATRAVÉS DO NÍVEL
DE PRESSÃO SONORA............................................................................................................................... 409

SESSÃO 06-A....................................................................................................................................... 416

INVERSÃO DE PARÂMETROS GEOMÉTRICOS DE CANAL ACÚSTICO SUBMARINO....................... 417


DESEMPENHO DE UM PROTÓTIPO DE MODEM ACÚSTICO SUBMARINO EM ÁGUAS MUITO
RASAS............................................................................................................................................................ 425
INFLUÊNCIA DO PERFIL DE VELOCIDADE NA DIRECIONALIDADE DE FONTES PONTUAIS
IMERSAS NA CAMADA CISALHANTE.......................................................................................................... 431
VISUALIZAÇÃO E ANÁLISE DOS MODOS SIMÉTRICOS DE UM ESCOAMENTO EXCITADO
ACUSTICAMENTE......................................................................................................................................... 438
FONTE MONOPOLAR IMERSA EM UMA CAMADA CISALHANTE COM PERFIL QUADRÁTICO DE
VELOCIDADE................................................................................................................................................. 446
RUÍDO DE SERRA-MÁRMORE OPERANDO EM PLACAS CERÂMICAS................................................... 453
EFICIÊNCIA DE PROTETORES AUDITIVOS AO ESPECTRO DE BANDAS DE OITAVA E AOS NÍVEIS
DE PRESSÃO SONORA CARACTERÍSTICOS DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUA DA
CORSAN – RS............................................................................................................................................... 461
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE DISPOSITIVOS DE REDUÇÃO DO RUÍDO DO
TRÁFEGO....................................................................................................................................................... 469

SESSÃO 04-B....................................................................................................................................... 477

CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL E CONFORTO ACÚSTICO – PROCESSO AQUA................................... 478


LIMIAR DIFERENCIAL DE PERCEPÇÃO: UM ESTUDO SOBRE RESPOSTAS IMPULSIVAS COM
DESLOCAMENTO DO RECEPTOR.......................................................................................................... 486
MODELAGEM NUMÉRICA DE UM APARELHO AUDITIVO UTILIZANDO ELEMENTOS FINITOS........ 494
USO DA VIBRAÇÃO LOCAL EM MOTRICIDADE OROFACIAL............................................................... 502
A PAIR E AS RESSONÂNCIAS DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO................................................... 509
CORRELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO E PROBLEMAS VOCAIS DE PROFESSORES...................... 517
CARACTERIZAÇÃO DOS EFEITOS EXTRA-AUDITIVOS PROVOCADOS PELO RUÍDO NOTURNO.. 525
NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO SONORA DEVIDO À UTILIZAÇÃO DE APARELHOS DE MÚSICA
INDIVIDUAIS................................................................................................................................................... 533
SESSÃO 05-B................................................................................................................. 541

RUÍDO AMBIENTAL EM CIDADES DE MÉDIO PORTE: ESTUDO DOS CASOS DAS


CIDADES DE SÃO CARLOS E BAURU – SP.................................................................... 542
ANÁLISE DE ACÚSTICA URBANA NO BAIRRO DE LAGOA NOVA, NATAL – RN......... 550
ESTUDO DA PAISAGEM SONORA DO JARDIM BOTÂNICO BOSQUE RODRIGUES
ALVES EM BELÉM-PA....................................................................................................... 558
LEVANTAMENTO DOS NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA EM ESPAÇOS PÚBLICOS
DE LAZER DA ÁREA CENTRAL DE SANTA MARIA – RS................................................ 566
IMPACTOS DO RUÍDO AMBIENTAL EM EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS NO BAIRRO DE
PONTA VERDE EM MACEIÓ-AL: ESTUDO DE CASO..................................................... 574
AVALIAÇÃO DO INCÔMODO SONORO DA LINHA VERMELHA NO BAIRRO DE SÃO
CRISTÓVÃO, RIO DE JANEIRO........................................................................................ 582
PLANO DE MONITORAMENTO DE RUÍDO DE UM PARQUE EÓLICO........................... 590
ANÁLISE DAS PRINCIPAIS MÉTRICAS UTILIZADAS NO ZONEAMENTO ACÚSTICO
DE ÁREAS PRÓXIMAS A AERÓDROMOS........................................................................ 598
BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM ENSAIO INTERLABORATORIAL DE
LABORATORIOS DE ACUSTICA....................................................................................... 611

 
 

SESSÃO 01-A

9
ANÁLISE DAS CONDICIONANTES ACÚSTICAS NA ARQUITETURA DE
CINCO PRÉDIOS DO PARQUE ZOOBOTÂNICO DO MUSEU GOELDI

COSTA, F.M.1; LOBO SOARES, A.C.¹; BENTO COELHO J.L.2; COELHO, T.C.C.¹
(1) Museu Paraense Emílio Goeldi; (2) CAPS – Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal..

RESUMO
Este artigo analisa as condicionantes acústicas na arquitetura de cinco prédios do Parque Zoobotânico - PZB
do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, Brasil, patrimônio histórico, artístico e cultural brasileiro.
Identifica as fontes sonoras externas e internas, os materiais construtivos e os usos expositivos, educativos e
administrativos dos prédios; conta os veículos nas vias do entorno do PZB e, com o uso de sonômetro, mede
a intensidade dos sons presentes no ambiente de dia, durante a semana e no domingo. Correlacionando os
resultados obtidos às normas e às leis brasileiras, os autores buscam informações que subsidiem a direção do
Museu Goeldi a melhorar as condições acústicas e o uso de seus prédios por funcionários e visitantes.

ABSTRACT
This paper presents a study of the acoustical conditions of the five buildings in the Zoobotanical Park, PZB,
of the Emílio Goeldi Museum, in Belém, Brazil, which is part of the historical, cultural and artistic Brazilian
heritage. The main sound sources, internal and external, contributing to the local acoustic environmental
climate were identified together with the building materials and the various uses of the buildings. Daytime
sound pressure levels were measured with a sound level meter, both during the week and on weekends, and
traffic counts were made in the relevant PZB surrounding streets. Measurement results were correlated with
noise limits and recommendations in applicable Brazilian regulations in order to provide the Goeldi
Museum with guidelines for the improvement of the acoustics in the buildings and the optimization of their
use by officers and visitors.
Palavras-chave: Parque urbano, Ruído urbano, Paisagem sonora, Percepção sonora.

1. INTRODUÇÃO
O Museu Paraense Emílio Goeldi (Museu Goeldi) é a instituição de pesquisa e o museu mais antigo
da Amazônia brasileira, criado em 06 de outubro de 1866. Em sua história passou por diversas fases
de crescimento e estagnação seguindo a economia do Estado e se tornou um importante polo de
pesquisa na região. Possui uma estação científica na Floresta Nacional de Caxiuanã, distante 400
km de Belém, um campus de pesquisa na periferia e um Parque Zoobotânico – PZB no centro de
Belém, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.

Este PZB possui uma área verde de 5,4 ha, onde se encontram exemplares da flora e fauna
amazônicas, alguns destes últimos em viveiros, como pássaros, preguiças, répteis, anfíbios, bem
como prédios e monumentos em homenagem a personagens da história da ciência na Amazônia.
Recebe cerca de duzentos mil visitantes por ano, oferece atividades educativas, de lazer e culturais
aos seus visitantes e abriga os prédios da Rocinha “Pavilhão Domingos Soares Ferreira Penna”,
Auditório “Alexandre Rodrigues Ferreira”, Biblioteca “Clara Maria Galvão”, e portarias que são
alvo desta pesquisa.

Com o crescimento da urbanização de Belém, o bairro de São Braz, onde o PZB está localizado,
vem sofrendo um processo de verticalização, atraindo estabelecimentos comerciais e de serviço,

10
aumentando o tráfego rodoviário, resultando em uma maior exposição de visitantes, funcionários,
animais e vegetais ao ruído produzido por motores, descargas e rodados dos veículos. Este ruído é
compreendido como um som desagradável, com variações de intensidade, que não traz qualquer
tipo de informação ou valor comunicativo, mas que é capaz de afetar o bem estar físico, psicológico
e social das pessoas (SCHOCHAT et al. 1998). É perceptível em toda a extensão do PZB, e em
particular nos prédios da Rocinha, Biblioteca, e do Auditório (LOBO SOARES, 2009), bem como
nas portarias onde se encontram prestadores de serviço do Museu Goeldi.

Neste artigo são apresentados os primeiros resultados do projeto Análise das Condições Acústicas
dos Espaços Expositivos e Educativos do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Examinaram-se as fontes sonoras presentes no interior e exterior dos prédios, bem como os
elementos construtivos, constituídos de paredes, portas, janelas, forros, pisos e revestimentos. Os
resultados são apresentados a seguir, em forma de tabelas, gráficos, fotografias e mapas que
auxiliam a compreensão das condicionantes acústicas na arquitetura dos cinco prédios, cuja
localização se mostra na Figura 1.

Figura 1: Vista aérea do PZB indicando as vias de entorno, semáforos, pontos


de ônibus e localização dos prédios estudados.
Fonte: Google Maps e Costa, 2012.

2. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada no período de agosto a dezembro de 2011. As atividades de campo
iniciaram-se pelo levantamento das plantas de arquitetura, histórico e técnicas construtivas dos
prédios da Rocinha, do Auditório, da Biblioteca e portarias. Em seguida, realizaram-se visitas de
reconhecimento das fontes sonoras presentes no interior e exterior dos prédios, com posterior
contagem de veículos leves (carros), pesados (ônibus e caminhões), vans e motocicletas e
medições dos níveis sonoros (LAeq), nas Avenidas Magalhães Barata, Alcindo Cacela e na
Travessa Nove de Janeiro. O tráfego rodoviário na Av. Gentil Bittencourt foi desconsiderado por
estar a cerca de 160 metros do primeiro prédio analisado, e os sons que produz não serem
percebidos nos pontos de medição.

Na contagem de veículos nas três vias utilizou-se o contador manual da marca Veeder Root, e nas
medições o Medidor Integrador de Nível Sonoro (sonômetro) modelo Solo, 01dB, previamente
calibrado em laboratório. Cada medição, visando identificar o isolamento sonoro de fachadas,
paredes e revestimentos internos que no conjunto definem as condições acústicas dos prédios,
durou cinco minutos, foi realizada entre nove e doze horas, com o sonômetro a 1,2m de distância
do solo e 3m de fachadas e outras superfícies, contou com protetor de microfone, obedecendo a
NBR 10151( ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000a).

11
Foram feitas catorze medições em pontos dentro dos cinco prédios, um em frente ao prédio da
Rocinha e sete nas avenidas e travessa no entorno do PZB (Figura 2). Na escolha destes pontos
foi considerada a proximidade do tráfego rodoviário, a arquitetura e o fluxo de pessoas dentro e
próximo aos prédios.

Figura 2: Pontos de Medição no PZB.


Fonte: Lobo Soares e Costa, 2012.

3. DESENVOLVIMENTO
3.1 Fontes sonoras externas ao PZB
Durante a contagem de veículos (Figura 3 e 4), registrou-se o som de tráfego rodoviário nas vias
pesquisadas independente do dia da semana, seguido de autofalante em loja de tecidos na Av.
Mag. Barata, e do som de trabalhadores e pedestres nas calçadas, na semana. No domingo,
destacaram-se os apitos de palhaços e as buzinas de carrinhos de picolé em frente à portaria
principal do PZB, fogos de artifício e carro de som. A análise sonora nas vias do entorno do PZB
foi realizada em dois dias durante a semana e no domingo, sendo medidos dois pontos de cinco
minutos cada, no turno matinal.

Figura 3: Contagem de veículos dia de semana. Figura 4: Contagem de veículos no domingo.


Fonte: Costa, 2012. Fonte: Costa, 2012.

A Av. Mag. Barata teve a média de 67 veículos por minuto durante a semana e 41 no domingo,
enquanto que a Av. Alc. Cacela apresentou média de 53 veículos por minuto durante a semana e
26 no domingo. Já na Tv. Nove de Janeiro, durante a semana, registraram-se 47 veículos por
minuto e 18 no domingo. E apesar do fluxo de veículos no domingo ser menor em todas as vias
em relação à semana, os valores de LAeq não seguiram a mesma proporção (Figuras 5 e 6).

80 72 72 67,6
80 73,5 68,3
70 66
60 60
Mag. B. Alc. C. Nove J. Mag. B. Alc. C. Nove J.

Figura 5: LAeq das vias durante a semana. Figura 6: LAeq das vias no domingo.
Fonte: Costa, 2012. Fonte: Costa, 2012.
12
A Av. Mag. Barata registrou LAeq de 72 dB(A) durante a semana e 73,5 dB(A) no domingo. Na
Av. Alc. Cacela se obteve o mesmo valor de LAeq de 72 dB(A) durante a semana e 68,3 dB(A) no
domingo. Já na Tv. Nove de Janeiro, durante a semana, registraram-se para LAeq 67,6 dB(A) e 66
dB(A) no domingo.

Ao final da contagem de veículos e das medições do LAeq nas vias de entorno do PZB, a Av.
Mag. Barata revelou-se a mais movimentada e ruidosa, seguida pela Av. Alc. Cacela e a Tv.
Nove de Janeiro. Sendo que Av. Mag. Barata foi a única em que o LAeq aumentou 1,5 dB(A) no
domingo em relação a semana. Isso ocorreu devido no domingo às vias se encontram menos
engarrafadas, permitindo o aumento da velocidade dos veículos e, consequentemente, maior
emissão de ruído provocado por motores, descarga e atrito dos pneus com o solo.

3.2. Características arquitetônicas, fontes sonoras internas ao PZB e envolventes aos


prédios.

A) Portaria de serviço
No momento o prédio encontra-se vazio, aguardando obra de reforma.

B) Portaria principal
Para efeito deste trabalho, considerou-se apenas a área fechada de 16 m² no prédio da portaria
principal onde se encontram os bilheteiros, localizado no limite do PZB com a Av. Mag. Barata
(Figura 7). Ele é constituído de paredes de 30 cm de espessura, forro de madeira, cobertura de
telha de barro tipo capa canal, piso em lajotas cerâmicas, esquadrias de portas e janelas em
madeira e aparelho de ar-condicionado de 7.500 BTU’S.

Figura 7: Prédio da Portaria Principal do PZB.


Fonte: Costa, 2012.

No exterior do prédio, registraram-se sons da natureza como vento, insetos (cigarras e grilos) e
canto de pássaros, sons de crianças gritando, pessoas falando e ruído de veículos provenientes da
Av. Mag. Barata e Tv. Nove de Janeiro. Dentro do prédio, destacou-se a voz do bilheteiro e
visitantes, o som da porta ao abrir, do aparelho de ar-condicionado e da descarga do banheiro.

Foram feitas medições em dois pontos (3 e 16) na Portaria Principal, durante a semana e no
domingo (Tabela 1), o (3) na calçada da Av. Mag. Barata, a cinco metros da portaria, enquanto
que o (16) dentro da mesma. Houve medições com o aparelho de ar-condicionado ligado e
desligado somente durante a semana.

Tabela 1: Medições na Portaria Principal.


Ponto LAeq dB(A) LAeq dB(A)
Semana Domingo
Ar Ligado 3 71 dB 73,2 dB
Ar Desligado 16 60,4 dB 64,9 dB
16 56,1 dB X
Fonte: Costa, 2012.

13
Na comparação dos resultados acima, os dois pontos registraram aumento do LAeq no domingo
em relação a semana. O ponto (3) aumentou em 2,2 dB(A) e o ponto (16) cresceu 4,5 dB(A),
sendo que a contribuição do aparelho de ar-condicionado foi de 4,3 dB(A).

As espessas paredes da portaria não foram suficientes para isolar o prédio do ruído externo
registrado no ponto (3). Isto se deve a falhas existentes nas esquadrias de portas e janelas,
constituídas de frestas que facilitam a entrada de som, como regula a norma NBR10152
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1987b), prejudicando o trabalho dos
funcionários do Museu Goeldi em seu interior.

C) Rocinha
O pavilhão Domingos Soares Ferreira Penna, conhecido como Rocinha é o mais antigo prédio no
interior do PZB (1894), ocupa área de 593m² e abriga as exposições temporárias do Museu
Goeldi. Este edifício está em excelente estado de conservação (Figura 8), suas paredes são de
alvenaria, rebocadas interna e externamente, variando entre 40 a 60 cm de espessura; o forro e o
piso são feitos de madeira de Lei; a cobertura em telha de barro tipo capa canal; e as esquadrias
de portas e janelas em madeira e vidro. Possui aparelhos de ar-condicionado ligados a uma
central distante cerca de 30 metros do prédio, desumidificadores de ar e sala de áudio e vídeo.

Figura 8: Fachada Principal da Rocinha.


Fonte: Costa, 2012.

No exterior da Rocinha, registraram-se sons de crianças brincando; sons da natureza como vento
nas árvores, canto de pássaros; e sons de veículos na Av. Mag. Barata e Tv. Nove de Janeiro.
Dentro do prédio registrou-se o ruído de aparelho de ar-condicionado, desumidificadores,
pessoas falando, porta de vidro abrindo, áudio de televisão e um carrinho de bebê circulando pela
área de exposição.

Foram realizadas medições sonoras em nove pontos (15 ao 23) da Rocinha, sendo o (15) em sua
área externa, do (16 ao 20) no pavimento térreo e os demais no porão (Tabela 2). Durante as
medições a Rocinha apresentava exposição temporária do salão “Arte Pará 2011” e de longa
duração “Amazônidas”.

Tabela 2: Medições na Rocinha.


Ponto LAeq dB(A) LAeq dB(A) Ponto LAeq dB(A) LAeq dB(A)
Semana Domingo Semana Domingo
17 58,4 dB 57,8 dB 22 63,3 dB 63,3 dB
18 47,6 dB 45,1 dB 23 55,9 dB 56,1 dB
19 52,5 dB 57,0 dB 24 68,6 dB 68,9 dB
20 49,1 dB 50,3 dB 25 51,8 dB XX
21 52,3 dB 53,8 dB
Fonte: Costa, 2012.

Obteve-se os maiores valores de LAeq no domingo em relação à semana, devido ao fluxo de


pessoas no interior do prédio ser mais intenso neste dia. O ponto (25) foi descartado por estar

14
fechado à visitação aos domingos. Os elevados níveis sonoros dos pontos (22 ao 24), indiferente
do dia da semana, ocorreram devido aos aparelhos de ar-condicionado e desumidificadores
estarem ligados. Os valores de LAeq no geral, poderiam ser menores se não houvesse frestas em
algumas janelas e portas de madeira e vidro, que contribuem para diminuir a capacidade de
isolamento sonoro das mesmas.

D) Auditório “Alexandre Rodrigues Ferreira”


O sobrado do “Alexandre Rodrigues Ferreira” foi construído em 1912 e, depois de várias
adaptações em seu uso, tornou-se o auditório usado para eventos do Museu Goeldi e de outras
instituições, voltados ao público adulto e infantil. Ocupa área de 360 m², no limite do PZB com a
Av. Magalhães Barata (Figura 9), possui laje de 20 cm de espessura entre o térreo e o primeiro
pavimento; paredes em alvenaria que variam de 20 a 60 cm de espessura, rebocadas interna e
externamente; cobertura em telha de barro capa canal; piso de concreto com revestimento
cerâmico no hall de entrada, carpete no piso da platéia e madeira no do palco; portas e janelas em
madeira e vidro, e aparelhos de ar-condicionado tipo splits de potência de 30 mil BTU’S.

Figura 9: Fachada do prédio de dois pavimentos do Auditório na


Av. Magalhães Barata.
Fonte: Costa, 2012.

Com o auditório vazio, registraram-se os sons dos aparelhos de ar-condicionado, reatores de


luminárias, de veículos e vozes na calçada da Av. Mag. Barata. Com ele em uso, registraram-se
risos, passos no palco, pessoas falando, crianças gritando, palmas, assovios e música
instrumental. Do lado externo, registraram-se sons da natureza como vento nas árvores, insetos
(cigarras e grilos) e canto de pássaros, além do tráfego rodoviário nas Avenidas Mag. Barata e
Alc. Cacela, estando ou não o auditório em uso.

Foram realizadas quatro medições (4, 13, 14, 15) durante a semana com o auditório vazio e
quatro com ele em uso pelo projeto “O Liberal na Escola” (Tabela 3). O ponto (4) é externo, e os
outros são internos ao prédio, sendo que o (14) teve duas medições com o auditório vazio
visando identificar a influência do ruído do ar-condicionado.

Tabela 3: Resultado das medições no Auditorio.


Auditório Vazio Auditório em Uso
Ponto LAeq dB(A) LAeq dB(A)
04 73,1 dB 73,3 dB
13 67,9 dB 72,9 dB
Ar Ligado 14.1 55,1 dB 92,8 dB
Ar Desligado 14.2 43,2 dB XX
15 53,8 dB 59,3 dB
Fonte: Costa, 2012.

O ponto (4) manteve o LAeq constante, influenciado apenas pelo fluxo de veículos da Av. Mag.
Barata, enquanto que os pontos internos, tiveram uma diferença acentuada, entre o auditório
vazio e em uso. A maior diferença foi no ponto (12) localizado na platéia, com o auditório vazio

15
este possuía LAeq de 55,1 dB(A), em uso, aumentou para 92,8 dB(A). Isso ocorreu, porque no
momento da medição as crianças estavam muito agitadas, gritando bastante durante a
apresentação de suas escolas. Neste mesmo ponto (12), a diferença do LAeq do ar-condicionado
ligado e desligado chega a 11,9 dB(A).

As medições revelaram que as espessas paredes do auditório contribuem para um significativo


isolamento sonoro entre os ambientes externo e interno, chegando esta diferença entre os pontos
(4 e 13), no mesmo horário a 19,3 dB(A) com o auditório vazio, e 14 dB(A) com ele em uso.
Esse isolamento poderia ser bem melhor se não fossem as frestas em suas janelas e as aberturas
em grades de ferro localizadas acima das três portas da fachada no térreo, as quais facilitam a
entrada de sons para o interior e comprometem a eficiência acústica do auditório.

E) Biblioteca “Clara Maria Galvão”


A Biblioteca Clara Maria Galvão, construída em 1987, ocupa a esquina do PZB formada pelas
Avenidas Mag. Barata e Alcindo Cacela (Figura10). No momento encontra-se fechada à visitação
pública, porém, quando em funcionamento, atende a estudantes e professores do nível
fundamental. Ocupa uma área de 544 m², com paredes em alvenaria que variam entre 15 e 30 cm
de espessura, rebocadas interna e externamente; possui forro e parte do piso em madeira de Lei;
cobertura de telha de barro tipo capa canal; portas e janelas em madeira e vidro; e aparelhos de
ar-condicionado Split de 24 e 60 mil BTU’S.

Figura 10: Fachada da biblioteca para a Av. Alcindo Cacela.


Fonte: Costa, 2012.

No interior do prédio, durante a semana, registrou-se o som de tráfego rodoviário nas Avenidas
Alc. Cacela e Mag. Barata; de aparelhos de ar-condicionado; de vozes de funcionários; de sons
da natureza, como insetos (cigarras e grilos) e do canto de pássaros. No domingo, ainda no
interior do prédio, registraram-se sons de carro de som, fogos de artifício e alarme de carro. No
exterior do prédio, registrou-se o som do tráfego rodoviário vindo das duas avenidas e os sons da
natureza de dentro do PZB.

Foram realizadas cinco medições sonoras em pontos internos da Biblioteca (8, 9, 10, 11, 12).
Sendo que o (9) teve duas medições no domingo para verificar a influência do ruído do ar-
condicionado (Tabela 4).

Tabela 4: Medições na Biblioteca.


Ponto LAeq dB(A) Semana LAeq dB(A) Domingo
8 45,3 dB 54,5 dB
Ar Ligado 9.1 53,7 dB 51,9 dB
Ar Desligado 9.2 XX 46,7 dB
10 50,6 dB 62,9 dB
11 53,8 dB 52,6 dB
12 52,4 dB 53,2 dB
Fonte: Costa, 2012.

16
O aumento de 9,2 dB(A) do LAeq no ponto (8), ocorreu pelo ruído do ar-condicionado e pela
incidência de fogos de artifício do lado externo do prédio da Biblioteca. Já o aumento de 12,3
dB(A) no ponto (10), deveu-se a passagem de carro de som de propaganda eleitoral. Em seguida
a passagem deste carro foi efetuada outra medição no mesmo ponto (10) tendo o LAeq registrado
50,0 dB(A). A contribuição do LAeq do aparelho de ar-condicionado foi de 5,2 dB(A).

Apesar do isolamento sonoro que as paredes espessas da Biblioteca proporcionam ao prédio, este
poderia ser melhor. As condições das esquadrias do prédio, que possuem todas pequenas frestas,
sem qualquer tipo de material vedante (emborrachados, etc) dificultam a eficiência acústica das
mesmas, em até 13 dB em relação às portas, e de 20 a 40 dB nas janelas (SOUSA, 2009-2010).
Esta deficiência é prejudicial ao funcionamento da biblioteca, localizada na esquina mais
impactada pelo ruído rodoviário presente no entorno do PZB (LOBO SOARES, 2010), o qual a
invade com níveis acima de 50,0 dB(A), como mostrado nas medições.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela análise dos cinco prédios e os dados obtidos, constatou-se que as causas do aumento de
ruído no interior dos prédios são os equipamentos velhos (desumidificadores e aparelhos de ar-
condicionado); as precárias condições das esquadrias de portas e janelas (com frestas de até
10mm de espessura e vidros finos de 2mm); a inexistência de tratamento acústico entre o telhado
e o forro dos prédios; e a descontinuidade do muro de 50cm de largura e 3m de altura que
circunda o PZB no trecho entre as Avenidas Mag. Barata e Alc. Cacela, que serviria de barreira
acústica, conforme a NRB14313 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
1999c). Este muro, poderia atenuar a entrada de ruído no interior do PZB, e em especial nos
prédios analisados, já que todas as medições ficaram acima do tolerado pela NBR10152, de 45 à
55dB(A) em ambientes de serviço (portarias) e de 35 à 45dB(A) (Auditórios e Bibliotecas).

5. AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de
bolsas de Iniciação Científica; à Direção do Museu Paraense Emilio Goeldi, pelo apoio ao
trabalho de campo; ao Grupo de Vibrações e Acústica da UFPA, pelo empréstimo do sonômetro.

6. REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR-10151: Acústica - Avaliação do ruído
em área habitada, visando o conforto da comunidade. Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2000.
2. ____. NBR-10152: Níveis de Ruído para o Conforto Acústico. Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 1987.
3. ____. NBR- 14313: Barreiras Acústicas para Vias de Tráfego – Características Construtivas. Elaboração. Rio
de Janeiro: ABNT, 1999.
4. Lobo Soares, A.C. Impactos da Urbanização Sobre Parques Públicos: Estudo de caso do Parque Zoobotânico
do Museu Paraense Emílio Goeldi, 2009. Dissertação (mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Urbano), Universidade da Amazônia.
5. ____. Isolamento Sonoro de Fachadas Tradicionais- O Caso da Biblioteca Clara Maria Galvão (Belém-
Brasil), 2010. Monografia (Curso de Formação Avançada em Engenharia Acústica), Universidade Técnica de
Lisboa.
6. Schochat, Eliane; Dias, Adriano; Moreira, Renata R. Dois enfoques acerca da perda Auditiva Induzida pelo
Ruido (PAIR). In: LIMONGI C. O. Fonoaudiologia & Pesquisa. São Paulo: Lovise, 1998, Vol. IV.
7. Sousa, Abano Neves de. Conceitos Básicos de Acústica nos Edifícios. DFA Engenharia Acústica 2009-2010,
IST, UTL, Lisboa.

17
ISOLAMENTO SONORO AÉREO DE PAREDES DE EDIFICAÇÃO
ESCOLAR

YABIKU, A.; BERTOLI, S. R.


Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP

RESUMO
O desempenho acústico adequado de paredes ou elementos de separação entre ambientes é uma condição
mínima requerida pelos usuários, seja em edificações para fins de habitação ou de trabalho. Vários
problemas das edificações escolares estão ligados ao isolamento sonoro tanto de paredes internas como de
fachadas. Esses ambientes exigem cuidados especiais quanto ao isolamento acústico, pois condições de
ruído elevado interferem fortemente no processo de ensino-apredizagem. O isolamento aéreo de uma
parede depende em geral da massa ou do sistema massa-mola-massa. No entanto, as paredes
(denominadas de paredes compostas) podem conter portas, janelas e outros elementos que vão influenciar
no isolamento total dessas paredes, A proposta desse trabalho é apresentar os resultados do isolamento
sonoro aéreo dos diferentes tipos e composições de paredes encontradas, no prédio de salas de aula de
uma edificação escolar de ensino superior. Foram levantados todos os tipos de paredes simples e de
paredes compostas da edificação. Medidas de isolamento sonoro aéreo foram realizadas utilizado o
método de avaliação de isolamento sonoro de ruído aéreo de uma partição, em campo, segundo às
recomendações da norma ISO 140-4(1998), a partir do qual obteve-se o parâmetro acústico Diferença
Padronizada de Nível, Dnt, em função da frequência . Também foi calculado o parâmetro acústico
Diferença Padronizada de Nível Ponderada, Dntw, segundo a norma ISO 717-1(1996). Os resultados
indicaram desempenhos de isolamento inadequados de isolamento sonoro aéreo principalmente devido a
erros de escolha dos materiais, dos elementos da composição das paredes.

ABSTRACT
More often, buildings require an adequate acoustic performance of airborne sound insulation between
rooms. Many of the problems of educational buildings are related to a poor sound insulation in walls and
façades. Those environments require special attention on noise control in order to enhance the learning
process experience. Airborne sound insulation of a wall is mass dependant. However, walls, also
denominated compound walls, may have elements such as doors and windows which will influence the
total sound insulation performance. The objective of this work is to show results obtained with the field
measurement of airborne sound insulation of different kinds of walls and compound walls at many
University campus classrooms. A survey was made in order to obtain all kinds of wall and wall
compound constructions. Measurements were made using the method to evaluate field airborne sound
insulation in buildings according to ISO 140-4 (1998) which gives the Standardized level difference
(Dnt). The weighted standardized level difference (Dntw), a single number, was also obtained according
to ISO 717-1(1996). Results indicate that the acoustic performance of airborne sound insulation at the
analyzed classrooms is inadequate especially due to the wrong choice of material to construct walls and
compound walls.
Palavras-chave: Isolamento sonoro aéreo. Desempenho acústico de paredes. Salas de aula.

1. INTRODUÇÃO
A qualidade acústica de ambientes e as condições de conforto acústico dependem entre outros
fatores do desempenho acústico adequado de fachadas, paredes ou elementos de separação entre
ambientes das edificações para fins de habitação ou de trabalho. Vários problemas de edificações

18
escolares estão ligados ao isolamento sonoro inadequado tanto de paredes internas como de
fachadas, pois permitem a passagem do som e a elevação dos níveis sonoros internos. Hougast
(1981) estudou os efeitos do ruído ambiental na inteligibilidade da fala em salas de aula.
Ambientes como salas de aula exigem cuidados especiais quanto ao isolamento acústico, pois
condições de ruído elevado interferem no processo de ensino-apredizagem. Killion (1997)
apresentou um estudo indicando que redução da relação sinal/ruido dificulta o entendimento da
fala .

Acústica de salas de aula e de edificações escolares são temas importantes e recorrentes na


literatura, ao longo das ultimas décadas. Trabalhos como os de Ross e Giolas (1971), Blair
(1977), Bradley (1986), Hetu, Truchon-Gagnon e Bilodeau (1990), Bradley (2002), Vermier e
Geetere (2002) Kruger e Zannin (2004), Amorin (2007), Zannin e Marcon (2007) Pelegrin-
Garcai et. Al. (2010) indicam a buscam os problemas e melhorias das condições acústicas de
salas de aula.

O isolamento aéreo de uma parede depende em geral da massa, mas também pode estar
associado ao mecanismo massa-mola-massa. No entanto, as paredes (denominadas de paredes
compostas) podem conter portas, janelas e outros elementos que vão influenciar no isolamento
acústico total dessas paredes.

A regulamentação no Brasil quanto ao desempenho acústico de edificações é recente, e teve


inicio com a aprovação em 2008 da norma NBR 15575: Edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos – Desempenho. A norma é composta de seis partes e em cada parte existe o item
desempenho acústico. Nela foram estabelecidos critérios de desempenho em edifícios
habitacionais em relação ao ruído aéreo, para fachadas, pisos e paredes internas ao edifício e
desempenho de impacto em pisos, para testes feitos em laboratório e em campo. A norma que
deveria ter entrado em vigor em maio de 2010, está sendo revisada e deverá entrar em vigor em
2013. Na revisão da norma foram retirados os ensaios de laboratório.

Para edificações escolares não existem critérios específicos para desempenho acústico de paredes
e fachadas. Embora a norma NBR 15575: 1-6 (2008) seja para edifícios habitacionais de até
cinco pavimentos e provavelmente os critérios de isolamento aéreo de paredes e fachada para
escolas devam ser mais rigorosos, esses critérios de desempenho podem servir como base de
comparação inicial.

Esse trabalho apresenta os resultados da avaliação, em campo, do isolamento sonoro aéreo de


diferentes tipos e composições de paredes encontradas no prédio de salas de aula de uma
edificação escolar de ensino superior.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Levantamento dos Tipos de Parede
O prédio da instituição de ensino estudada tem 20 salas de aula No levantamento dos tipos de
parede que compõe as salas de aula, identificaram-se dois tipos de materiais usados na confecção
das paredes: alvenaria e divisória. Muitas dessas paredes são consideradas compostas e
apresentam portas, janelas ou lousas. Na tabela 1 são apresentados as quantidades e os tipos de
paredes encontradas na edificação.

Da análise das quantidades e tipos de paredes foi feito um agrupamento por tipo de composição e
construíu-se seis grupos: (a)alvenaria sem nenhuma abertura, (b) divisória sem nenhuma
abertura, (c) alvenaria com lousa, (d) divisória com lousa, (e) Alvenaria com porta e (f) alvenaria
com porta e janela(s).
19
Tabela 1: Distribuição dos tipos de parede nas salas.
Paredes internas Quantidade Paredes externas* Quantidade
Alvenaria com lousa 6 Fachada/corredor 20
Alvenaria sem lousa 2 Com lousa 6
Alvenaria com lousa dos dois lados 1 Sem lousa 3
Divisória com lousa 3 Com uma porta 12
Divisória sem lousa 1 Com uma porta e uma janela 4
Com 2 portas e 3 janelas 2
Com 3 portas e 3 janelas 2

Com outra sala não de aula 5


*Todas as paredes externas são de alvenaria.

2.2. Parâmetros para isolamento sonoro aéreo


A norma brasileira NBR 15575 (2008) adota a diferença padronizada de nível ponderado,
DnTw. como parâmetro de avaliação de isolamento sonoro aéreo em campo. Esse valor é um
número único, obtido a partir do cálculo da diferença padronizado de nível, DnT, por faixa de
frequência, em bandas de 1/3 de oitava, entre 100 e 3150 Hz e ajustados segundo a curva de
referencia da ISO 717-1 (1996). O cálculo da diferença padronizado de nível, DnT, é feita
segundo a equação 1.

DnT = D – 10 log (T/To) [Eq. 01]

onde
D é a diferença de nível, em decibels, dB;
T é o tempo de reverberação da sala de recepção, em segundos;
To - é o tempo de reverberação de referência, em edificações, To = 0,5 s.

Por sua vez, a diferença de nível, D, é obtida da diferença entre os níveis de pressão sonora da
fonte, na sala de emissão e na sala de recepção, conforme equação 2, dada em decibels, dB:
D = L1 – L2 [Eq.2]

onde
L1 é a média temporal e espacial do nível de pressão sonora da fonte na sala de emissão;
L2 é a média temporal e espacial do nível de pressão sonora da fonte na sala de recepção.

Utilizou-se nesse estudo como parâmetro para avaliar o desempenho das paredes estudadas os
valores da diferença padronizado de nível, DnT, em função da frequência em bandas de 1/3 de
oitava, entre 100 e 3150Hz e a diferença padronizada de nível ponderado, DnTw.

2.3. Medidas de isolamento sonoro aéreo


Para o cálculo da diferença padronizada de nível, DnT é necessário medir os nível de pressão
sonora em função da frequência em bandas de 1/3 de oitava, entre 100 e 3150 Hz, nas duas salas
que são separadas pela parede em estudo, com a fonte sonora emitindo sinal sonoro numa das
salas. Denomina-se sala de emissão, a sala onde a fonte sonora é colocada e sala de recepção, a
sala do lado oposto a sala da fonte. Também são medidos os tempos de reverberação da sala de
recepção, em função da frequência em bandas de 1/3 de oitava, entre 100 e 3150 Hz.

Os ensaios para a avaliação do isolamento sonoro aéreo das paredes, em campo, atenderam aos
procedimentos da norma ISO 140-4: 1998 – Acoustics - Measurement of sound insulation in

20
buildings and of building elements - Part 4: Field measurements of airborne sound insulation
between rooms. Para a obtenção do número único de isolação foi utilizada a norma ISO 717-1:
1996 – Acoustics – Rating of sound insulation in buildings and of building elements – Part 1:
Airborne sound insulation. A avaliação do tempo de reverberação foi realizada seguindo a norma
ISO 354: 2003 – Acoustics - Measurement of sound absorption in a reverberation room.

Os equipamentos utilizados, para medir os níveis de pressão sonora e o tempo de reverberação


foram: o medidor de nível de pressão sonora BK2260 (Investigator) como analisador e gerador
de ruído, com o software Building Acoustics (BZ 7204), amplificador de potência modelo 2716
e fonte sonora omnidimensional modelo 4296, todos da Bruel&Kjaer.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Do conjunto de paredes da edificação escolar analisou-se dois grupos distintos de partição: o
grupo de paredes que separam as salas dos corredores denominadas aqui de paredes externas
(PE) e o grupo das paredes internas (PI). As paredes internas são feitas de bloco de concreto ou
divisória naval e podem ter aplicada sobre elas lousas de um lado ou de ambos os lados das
paredes. As paredes externas, que ligam as salas ao corredor, são todas de bloco de concreto. Nas
paredes externas podem-se encontrar portas de madeira ou de metal e também janelas, em
números variados, dependendo das dimensões das salas de aula. As portas são todas de mesma
dimensão (1,60 m x2,10 m) de madeira ou metal. As janelas têm de duas dimensões possíveis
(2,0 m x 080 m ou 2,0 m x 1,80 m) são basculantes e de vidro.

Na tabela 1 são apresentados os resultados da diferença padronizada de nível (DnT) em função


da frequência referentes as paredes internas das salas de aula. A tabela 2 apresenta as
características da sala e o valor da diferença padronizada de nível ponderado (DnT,w) de cada
tipologia.

Tabela 2: Diferença padronizada de nível de paredes internas


PI1 PI2 PI3 PI4 PI5
F[Hz] DnT(dB) DnT(dB) DnT(dB) DnT(dB) DnT(dB)
100 23,1 20,2 19,7 16,0 3,8
125 22,1 20,9 23,1 15,2 4,9
160 22,2 22,0 24,5 11,7 5,2
200 25,3 27,8 25,2 13,1 7,0
250 30,1 33,2 28,9 12,2 10,4
315 35,0 37,6 35,3 13,9 14,1
400 37,4 40,7 39,3 15,8 14,0
500 40,7 43,4 44,1 17,3 17,3
630 43,6 45,4 46,9 19,0 18,4
800 45,0 47,8 47,8 19,2 20,3
1000 46,1 49,5 49,4 18,2 20,7
1250 47,3 51,9 50,5 19,0 20,7
1600 48,5 51,9 50,5 19,7 21,0
2000 49,3 53,1 51,9 20,2 20,8
2500 45,7 52,3 51,2 21,2 20,7
3150 43,7 50,2 49,2 23,1 21,9

Analisando as diferenças padronizadas de nível em função de frequência observa-se que o


isolamento para baixas frequências é sempre bem menor que o isolamento para médias e altas
frequências, tanto para alvenaria como para a divisória. O comportamento do isolamento entre
frequências de um mesmo material, na faixa de médias e altas frequências não apresentam

21
diferenças muito grande. O isolamento acústico das divisórias em todas as frequências é sempre
muito menor que o isolamento da alvenaria indicando que a escolha desse material é
inadequado para isolamento de salas de aula

Tabela 3: Diferença padronizada de nível ponderado das paredes internas


Parede Material Elemento Dnt,w [dB]
PI1 Alvenaria nada 41,9
PI2 Alvenaria 2 lousas 43,5
PI3 Alvenaria 1 lousa 42,6
PI4 Divisória nada 19,8
PI5 Divisória 1 lousa 19,5

Comparando as diferenças padronizadas de nível ponderado das paredes de alvenaria com as


paredes de divisória observa-se uma diferença de desempenho de pelo menos 20 dB. A aplicação
da lousa sobre as paredes de divisórias não apresentou diferença significativa no isolamento, no
entanto, no caso da alvenaria aparentemente houve um acréscimo de 0,5 dB para cada lousa
adicionada

O critério de desempenho de isolamento de paredes da NBR 15575 parte 4, que trata de


elementos de vedação externa e interna, estabelece valores mínimos de 40 a 44 dB para
isolamento entre dormitórios e hall da mesma unidade ou entre paredes de germinação. Os
resultados da alvenaria estão dentro dessa faixa de valores, mas a divisória muito longe desse
desempenho. Considerando que a norma, no seu anexo, estabelece como critério de desempenho
superior valores acima de 50 dB e esse poderia ser um valor razoável para isolamento de salas de
aula em edificações escolares, observa-se de forma clara que o desempenho acústico dessa
edificação quanto ao isolamento fica a desejar.

Na tabela 3 são apresentados os resultados da diferença padronizada de nível (DnT) em função


da frequência referentes as paredes que separam as salas de aula dos corredores e aqui
denominadas de paredes externas. A tabela 4 apresenta as características das paredes externas, o
valor da diferença padronizada de nível ponderado (DnT,w) de cada tipologia e porcentagem do
material predominante.

Analisandos as diferenças padronizadas de nível em função de frequência observa-se, como no


caso das paredes internas, que o isolamento para frequências abaixo de 500 Hz são bem menores
que para as frequências superiores, para as paredes de alvenaria com portas ou janelas. No caso
das paredes com janelas esse comportamento é mais acentuado. O comportamento do isolamento
entre frequências de um mesmo material, na faixa de médias e altas frequências, não apresentam
diferenças muito grande. A parede PE3 que é totalmente de alveranaria serve como elemento de
comparação. O isolamento acústico das paredes com portas e janelas, em todas as frequências, é
sempre muito menor que o isolamento da alvenaria indicando que a janela é um elemento frágil
do isolamento nessa edificação escolar.

Comparando as diferenças padronizadas de nível ponderado das paredes externas e considerando


como referência a parede de alvenaria completa (100%), os resultados mostram um decréscimo
de 6 a 10 dB no isolamento global para o caso de paredes com portas e de 15 a 20 dB no caso de
paredes com portas e janelas.

As paredes PE2 e PE5 têm aproximadamente a mesma porcentagem de alvenaria, mas são
compostas com portas de metal e madeira, respectivamente. Observando os resultados da Tabela
4, verifica-se que diferença de desempenho de isolamento é pequeno entre elas. Esses resultados
indicam que os desempenhos das portas são similares

22
Tabela 4: Diferença padronizada de nível de paredes externas
PE1 PE2 PE3 PE4 PE5 PE6
F(z] DnT(dB) DnT(dB) DnT(dB) DnT(dB) DnT(dB) DnT(dB)
100 7,8 15,3 14,3 4,9 10,0 0,1
125 7,0 13,6 15,0 3,9 11,9 2,6
160 15,1 15,4 18,2 3,6 11,2 3,6
200 12,2 15,5 19,5 7,2 10,8 0,1
250 12,8 14,9 20,2 9,9 14,6 4,4
315 19,4 18,6 24,2 11,5 22,2 7,1
400 20,0 30,0 27,2 13,6 23,4 7,9
500 22,1 21,6 29,6 15,3 23,1 11,2
630 21,9 23,2 30,6 16,6 27,2 13,4
800 22,7 24,3 31,4 17,6 25,8 13,9
1000 24,4 25,4 34,1 18,6 27,9 13,2
1250 24,0 27,9 36,0 20,1 28,9 13,7
1600 23,9 28,8 34,9 21,0 29,1 13,5
2000 23,1 28,1 35,1 19,0 29,6 13,0
2500 21,5 27,4 35,9 18,6 27,2 12,7
3150 20,2 26,4 34,7 17,7 20,6 11,5

Tabela 5: Diferença padronizada de nível ponderado para paredes externas


Parede  Material Elemento % alvenaria Dnt,w [dB]
PE1 alvenaria Porta madeira 83,1 22,7
PE2 alvenaria Porta metal 91,6 25,4
PE3 alvenaria nada 100 32,4
PE4 alvenaria Porta* e janela 75,4 17,9
PE5 alvenaria Porta* madeira 88,8 26,4
PE6 alvenaria porta e janela 65,4 12,6
* portas de metal e madeira, respectivamente

A Figura 1 mostra um gráfico da diferença padronizada de nível ponderado (Dntw) em função da


porcentagem de área de alvenaria da composição da parede. O comportamento é praticamente
linear. Esse resultado sugere que portas e paredes têm desempenho de isolamento pequeno e
similar, portanto não deveriam ser aplicados numa mesma parede.

DnTw

35

30

25
DnTw(dB)

20

15

10

0
0 20 40 60 80 100
% alvenaria

Figura 1: Isolamento em função da porcentagem de alvenaria

Da mesma forma como na analise de desempenho das paredes internas, compara-se também os
resultados de isolamento das paredes externas avaliadas com o critério de desempenho de

23
isolamento de paredes da NBR 15575 parte 4. No caso de vedações externas entre uma unidade
habitacional e uma área de permanência de pessoas o critério estabelecido como mínimo entre os
valores de 45 a 49 dB e para desempenho superior níveis de DnTw maiores que 55 dB . Os
resultados mostram que nenhumas das paredes externas atendem aos valores mínimos
estabelecidos. Considerando que a norma, no seu anexo, estabelece como critério de desempenho
superior valores acima de 50 dB e esse poderia ser um valor razoável para isolamento de salas de
aula em edificações escolares, observa-s de forma clara que o desempenho dessa edificação
quanto ao isolamento fica a desejar.

Mesmo sabendo que norma NBR15575 estabelece critérios de isolamento aéreo de vedações
externas e internas para edificações, destaca-se que a comparação com os resultados das
vedações escolares é apenas uma analise preliminar de desempenho e que é necessário
estabelecer critérios específicos e nacionais para esse tipo de edificação.

Para finalizar as discussões, observa-se uma diferença de quase 10 dB entre os resultados de


isolamento global entre as paredes internas (41,9 dB) e as paredes externas (32,4 dB), sem
composição. Em laboratório, esses blocos apresentam valores de Rw para isolamento sonoro
aéreo da ordem de 47 dB. Esses resultados reforçam o conceito de desempenho de isolamento
em campo é menor do que o de laboratório e que o desempenho em campo depende das
conexões do elemento construtivo com o conjunto.

4. CONCLUSÕES
As paredes internas da edificação escolar estudadas são de bloco de concreto ou divisória naval.
O isolamento sonoro aéreo avaliado pela diferença padronizada de nível ponderado indicou uma
variação de 20 dB no desempenho entre elas. Adotado, com critério mínimo, o valor de
isolamento sonoro de vedações verticais internas, o critério da norma NBR15575, as paredes de
alvenaria atendem a esse desempenho mínimo, mas as divisórias navais não atendem. No caso
das paredes externas não atendem ao critério, nem a parede 100% alvenaria nem as composições
com portas e janelas. A inserção de portas e janelas simultaneamente numa mesma parede não é
recomendada. A diferença de isolamento da parede pela diferença do tipo de material da porta
não foi significativa. A área de composição deve ser a menor possível. É necessário se
estabelecer critérios específicos de isolamento de vedações verticais para edificações escolares.

REFERÊNCIAS
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sounds insulation in buildings and of building elements – Part 4: Field measurements of airborne sound insulation
between rooms. Genève. 1998.
2._____ ISO 717-1: Acoustics – Rating of sound insulation in buildings and of building elements – Part 1: Airborne
sound insulation. Genève. 1996.
3. Hougast, T. The effect of ambient noise on speech intelligibility in classrooms. Applied Acoustics, 14, pag15-25,
1981.
4. Killion, M., SNR loss: I can hear what people say, but I can’t understand them. Hear. Rev. 4, 8-14, 1997.
5. Ross M., Giolas, T., Effects if three classroom listening conditions on speech intelligibility. Am. Annals Deaf. 1,
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6. Blair, J.. Effects of amplification, speechreading, and classroom environment of reception of speech. Volta Rev.
79, 443-449, 1977.
7. Bradley, J. S., Speech intelligibility studies in classrooms. J. Acoust. Soc. Am. 80, 846-854, 1986.
8. Hetu,R., Trucho-Gagnon, C. e Bilodeau, S. A. Problems of noise in school settings. J. Speech Language Pathol.,
14, 31-39, 1990.

24
9. Bradley, J. S., Optimising sound quality for classrooms. In: XX Encontro da Sobrac, II Simposio Brasileiro de
Metrologia em Acústica, Rio de Janeiro, 2002.
10. Vermier, G., Geetere, L., Classroom acoustics in Belgium schools: experiences, analysis, design. In:
Proceedings of Internoie 2002, Dearborn, 2002.
11. Kruger, E. L., Zannin. Acoustic, Thermal and Luminous confort in classrooms. Building and Environment,
vol. 39, pag 1055-1063, 2004.
12. Amorin, Adriana Eloá Bento. Formas geométricas e qualidade acústica de salas de aula: estudo de caso em
Campinas, SP.. 151 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.
13. Zannin P. H. T., Marcon . Objective and subjective evaluation of the acoustics comfort in classrooms. Applied
Ergonomics , vol.38, 675-680, 2007.
14. Pelegrin-Garcia, D. et. al.. Influence of classroom acoustics on the voice levels of teachers with and without
voice problems: A field study. J. of Acoust. Soc. of America, New York, 2474-2474, 2010.
15. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 15575-1: – Edifícios Habitacionais de até
Cinco Pavimentos – Desempenho. Parte 1: Requisitos Gerais. Rio de Janeiro. 2008.
16. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-4: Edifícios Habitacionais de até Cinco
Pavimentos – Desempenho. Parte 4: Requisitos para sistemas de vedações verticais internas e externas. Rio de
Janeiro. 2008.
17. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION ISO 354 : Acoustics – Measurement of
sound absorption in a reverberation room Genève. 2003.

25
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE RUÍDO EM PRAÇAS DE ALIMENTAÇÃO
EM SHOPPING CENTER

COSTA NETO, Agripino da Silva1; OITICICA, Maria Lucia G.2


(1) Mestrando em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas, agripinoneto.arq@gmail.com
(2) Profa. Dra. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UFAL-Maceió-AL, mloiticica@hotmail.com

RESUMO
As maneiras de como as pessoas se comunicam em espaços públicos, sejam eles abertos ou fechados
podem traduzir o caráter acústico dos ambientes, por isso ao avaliar as condições do nível de pressão
sonora nesses espaços, vários aspectos físicos podem ser identificados por guardar relação com a resposta
acústica. O objetivo deste trabalho foi avaliar o nível de ruído encontrado em praças de alimentação,
especificamente em um shopping center na cidade de Aracaju-SE. O shopping avaliado possui três
praças de alimentação com características físicas distintas, tais como: variação de área, volume físico e
configuração espacial. O método de avaliação foi aplicado nas três praças de alimentação deste complexo,
onde foram realizadas medições do nível de pressão sonora em dois horários distintos: durante o dia com
ocupação cheia e parcial (12h30min e 17h) e durante a noite (23h), com as praças de alimentação
fechadas, respectivamente. Esta ultima avaliação foi estabelecida para ser caracterizado como o nível
médio de ruído de fundo. Com o registro das variações dos níveis de pressão sonora global e por faixa de
frequência, foi possível qualificar o desempenho sonoro destes espaços em relação ao nível sonoro
aceitável para inteligibilidade entre as pessoas. Os resultados apresentaram níveis de ruído bem acima dos
índices aceitáveis de ruído, 72dB(A), portanto 12dB(A) acima dos recomendados pela NBR10152(2000).
O nível de interferência da fala (SIL) encontrado próximos a 64dB caracteriza que com a distancia de um
metro entre ouvinte e orador é necessário que a voz usada esteja entre alta e levantada.
Palavras-chave: Nível de pressão sonora, praças de alimentação, espaços públicos, desempenho sonoro,
nível de interferência da fala.

ABSTRACT
The ways people establish conversations in public spaces, thus opened or closed spaces can define the
acoustical character in these places, for this, by evaluating the conditions of sound pressure level few
physical aspects can be identified by keeping the relationship with the acoustic answer. The aim of this
work was to make an evaluation of the noise level found in food courts; specifically in a shopping center
in the city of Aracaju-SE. the one evaluated has three food courts with distinct physical characteristics,
such as area variation, physical volume and space configuration. Thus methodology applied the three
food courts was selected. The measurements for evaluation of the sound pressure level were made in two
different moments, during the day with full and partial occupations and at night with food courts closed.
The last evaluation was established to characterize the average background noise. Accounting the register
of the variations of the global sound pressure level and frequency band was possible to qualify the sound
performance of these places in relation to the acceptable sound level for intelligibility among people. The
results present noise level beyond the expectation, 72dB(A), therefore 12dB(A) beyond what is
recommended by NBR 10152(2000). The speech interference level (SIL) found near 64dB characterize
that the distance about one meter between listener and speaker is needed that the voice must be used
between high and laud.
Keywords: Level sound pressure, food courts, public spaces, sound performance, speech interference
level.

26
1. INTRODUÇÃO
A arquitetura de shopping centers incorporou desde muito remotamente no seu programa de
necessidades praças centrais como ponto de convergência dos diversos setores e lojas. Estes
ambientes públicos internos são espaços de fruição, por se tratarem antes de tudo de um pólo de
compras e de entretenimento, que necessitam proporcionar a seus clientes segurança e
praticidade. Os projetos destes espaços públicos não têm se voltado para alguns aspectos de
conforto, principalmente os relativos à acústica arquitetônica, desconsiderando tratamentos
especiais para este fim. As maiores perturbações em relação à percepção do ruído sonoro
encontram-se nas áreas destinadas às praças de alimentação aonde forçosamente as pessoas vão
se aglomerar, principalmente nas horas de almoço para suas refeições e naturalmente eventuais
bate-papos. A concentração de pessoas nestes ambientes internos faz com que o barulho seja
inevitável, somados assim ruídos diversos, tais como: movimentação de cadeiras, ruído de
cozinha, toque de telefone celular, música ambiente, etc.
Segundo Kowaltowski et al.(2001) apud Oliveira et al.(2007), as falhas decorrentes de
problemas acústicos em relação à forma do edifício se relacionam ao posicionamento de
ambientes geradores de ruídos nas tipologias estudadas.
Segundo Bistafa (2006), a interferência do ruído nos sons da fala causa frustração, perturbação e
irritação. Os ambientes públicos em Shopping Centers conhecidos como “praças de alimentação”
são comumente conhecidos como um ambiente “vivo” uma vez que o som sofre múltiplas
reflexões antes de atingir o ouvinte, as silabas da fala dos sons refletidos mascaram as silabas dos
sons diretos, e consequentemente a inteligibilidade é reduzida.
Um procedimento simplificado para avaliação do nível de interferência da fala (“speech
interference level”, SIL) é explicado em Mehta (1999), que consiste em um numero único que é
conhecido através do calculo da média aritmética dos níveis de ruído em dB nas bandas de oitava
de 500, 1000, 2000 e 4000Hz (equação1). Este valor encontrado - SIL - relaciona a distância
entre o orador e o ouvinte, segundo pode ser observado no gráfico da Figura 1. Cada curva
corresponde ao nível de intensidade da voz para que essa inteligibilidade entre emissor e receptor
ocorra, variando nos seguintes níveis: normal, elevada (levantada), alta e gritante.

dB [Eq.1]

Figura 1: Gráfico do nível de interferência da fala em relação a distancia do orador e o ouvinte


Fonte: Metha (1999)

27
2. OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo avaliar o nível de ruído e o nível de interferência da fala das
praças de alimentação em um Shopping Center a partir das medições dos níveis de pressão
sonora de forma a identificar aspectos que assim revelados possam apontar futuras diretrizes para
uma melhor qualidade acústica desses espaços.

3. METODOLOGIA E OS MATERIAIS UTILIZADOS


O shopping escolhido é o maior shopping da cidade de Aracaju, possui uma área locável acima
de 50.000m2 e possui três praças de alimentação com 29 operações e alguns quiosques. Localiza-
se em área nobre da cidade e atrai diariamente um grande fluxo de visitantes. As áreas
denominadas de “praças de alimentação” encontram-se entre áreas de transição e localizações
“âncora”. Os ambientes selecionados foram os seguintes: a praça que se localiza em um corredor
de circulação, por isso aqui identificada de praça “corredor”; a praça “arcos”, que está
estrategicamente posicionada numa das várias entradas do shopping e uma terceira praça
existente denominada “praça café”, esta última, de menor proporção, mas que concentra e
converge grande público por encontrar-se próximo à entrada do shopping. Seu uso é mais
personalizado e explorado por uma empresa de cafeteria. As praças possuem características
espaciais distintas, identificadas mais adiante.
3.1. Medições
Para realização das medições foi utilizado o medidor de pressão sonora Solo da 01dB,
equipamento devidamente calibrado, com analisador de frequências em 1/1 oitava de banda nas
faixas centrais entre 63Hz a 8kHz. O equipamento registrou o nível de pressão sonora global e
também com frequências em bandas de oitava, curva de ponderação “A”, segundo recomenda a
NBR 10151(2000). As medições tiveram duração de 2 minutos e grifado nas tabelas encontram-
se os valores do “LAeq” (nível de pressão sonora equivalente). Para as medições foram
estabelecidos dois horários distintos: por volta do meio-dia, fluxo e ocupação intensa de pessoas
e outro em horário regular de funcionamento do shopping, por volta das 17h00min. Para
avaliação do ruído de fundo foram realizadas medições em outro horário após o estabelecimento
ser fechado, por volta das 23h00min. Este último serviu para poder comparar com o nível de
pressão sonora dos ambientes em funcionamento. Para cálculos do SIL foi considerado o padrão
das mesas de dimensão 1m x1m e densidade de assentos de 0,50m2 de área ocupada. Os pontos
escolhidos de medição para cada ambiente foram feitos em um ponto central das praças (figuras
5,9 e 13).

3.2 Seleções dos objetos de estudo

3.2.1 A Praça corredor


A praça denominada corredor foi a primeira praça de alimentação em funcionamento. Esse
ambiente tem como característica distribuir seu mobiliário de forma longitudinal ao longo da
circulação onde a sua ocupação se dá praticamente em linha reta com uma mudança de direção
em ângulo, que contorna um jardim central, atualmente envidraçado (figuras 2, 3,4 e 5). Assim
apresenta posicionado nessa direção reta, uma faixa de lojas de alimentação, um corredor central
e numa faixa paralela um layout com a distribuição de mesas e cadeiras que acompanha a
circulação central (figura 5). A altura do pé direito é a mais baixa das três praças a serem
analisadas chegando a 5m na sua parte mais alta. A distância transversal considerando circulação
e área de mesas é também a mais estreita. O piso é de porcelanato liso com mesas em granito,

28
cadeiras em aço com assentos em fibra. O teto tem cobertura de telhas metálicas apoiadas em
estrutura metálica aparente.

Figura 2: Praça corredor - circulação Figura 3: Praça corredor - teto Figura 4: Praça corredor - salão

Figura 5: Croqui da praça de alimentação denominada “Praça Corredor”

3.2.2 A Praça café


A praça café possui seu espaço de uso desenvolvido em layout que utiliza quatro pilares
dispostos de forma quadrada. A área em torno desse quadrilátero é área de passagem e circulação
de público. Nesse setor há uma circulação periférica mais generosa que a praça corredor, há um
revestimento de forro de gesso que acompanha o forro geral da ala do shopping. Em duas laterais
situam-se lojas e as outras duas correspondem a um fechamento em vidro na lateral. No lado
oposto (lateral) se tem mais afastado outra entrada do shopping. O acabamento deste ambiente
segue um padrão fino, mesas e balcões em granito e vidro de acabamento e cadeiras em madeira
como diferencial. O piso é de porcelanato e cerâmica de alta resistência. Considerando o volume
do ambiente envolvendo todas as circulações ao redor do café proporcionalmente possui a maior
área de circulação circundante (figuras 6,7,8 e 9).

Figura 6: Praça café - salão Figura 7: Praça café - circulação Figura 8: Praça café – forro

29
Figura 9: Croqui da praça de alimentação denominada “Praça Café”

3.2.3 A praça arcos


A praça arcos possui uma área central onde são distribuídas uniformemente as mesas e cadeiras,
demarcada por quatro arcos dispostos nas extremidades de um desenho quadrado. Concêntricas a
este setor uma circulação periférica de forma poligonal que separa a área central das lanchonetes
e estabelecimentos de alimentação em quatro alas laterais. O volume dessa praça é o mais
generoso dos ambientes avaliados, possui um pé direito muito elevado chegando a quinze
metros, projetado para permitir uma iluminação zenital. O teto é confeccionado com estrutura
metálica e vidro na coberta. Entre a coberta e a linha de forro das lojas existem paredes de
alvenaria recuadas por trás das lojas cujos painéis emolduram a grande praça. O acabamento do
piso é em porcelanato (figuras 10,11,12 e 13).

Figura10: Praça arcos Figura 11: Praça arcos – mesas Figura 12: Praça arcos - forro

Figura 13: Croqui da praça de alimentação denominada “Praça Arcos”

30
4. RESULTADOS E ANÁLISES
Os resultados das medições realizadas nas três praças de alimentação em horários distintos em
bandas de 1/1 oitava podem ser encontrados nas figuras 14 (corredor), 15 (café) e 16 (arcos).
Para ser verificado o nível de ruído de um ambiente tem-se que definir o nível de ruído aceitável
para cada tipo de ocupação. Os resultados encontrados referentes ao horário do shopping fechado
(23h00mim) em cada praça caracterizam o nível de ruído de fundo, onde se obteve os seguintes
valores médios: corredor com 55,3dB (A), café 54,4dB (A) e arcos 54,7dB (A) o que
praticamente uniformiza esses resultados pelo fato de se constituírem de materiais semelhantes
como já caracterizados anteriormente. Segundo a NBR 10152(1987) considerando que essas
praças se encontram em corredores de circulação, os valores medidos encontram-se no limite
superior do nível sonoro aceitável considerando o intervalo entre 45-55dB(A) para restaurantes
em circulação.

CORREDOR NPS NPS NPS NPS SIL


Freqüência dB(A) dB(A) dB(A) dB dB
Horário 12:30h 17:00h 23:00h 12:30h 12:30h
63 66,8 66,7 56,5 - -
125 67,1 65,5 58,1 - -
250 71,8 70,2 52,9 - -
500 75,2 73,8 52,5 78,3
1000 71,7 71,9 50,3 71,7
2000 65,8 66,5 48,5 64,8 68,1
4000 58,6 58,8 42,2 57,6
8000 49,9 48,9 35,2 - -
LAeq 75,8 75,4 55,3 - -

Figura 14: Níveis de pressão sonora medidos em dB(A) em bandas de 1/1 oitava na praça corredor em três
horários distintos e SIL calculados (dB) para a situação mais critica no horário de 12:30h

CAFÉ NPS NPS NPS NPS SIL


Frequência dB(A) dB(A) dB(A) dB dB
Horário 12:30h 17:00h 23:00h 17:00h 17:00h
63 63,9 64 51,7 - -
125 62,6 62,7 52,7 - -
250 65,1 68,5 50,8 -
500 67,8 71,6 50,8 74,8
1000 63,9 67,4 48,2 67,4 64,7
2000 59 61,8 47,7 60,8
4000 53,7 56,9 45,8 55,9
8000 46,9 50,5 41,9 - -
LAeq 68,5 72,0 54,4 - -

Figura 15: Níveis de pressão sonora medidos em dB(A) em bandas de 1/1 oitava na praça café em três horários
distintos e SIL calculados (dB) para a situação mais critica no horário de 17:00h

31
ARCOS NPS NPS NPS NPS SIL
Freqüência dB(A) dB(A) dB(A) dB(A) dB
Horário 12:30h 17:00h 23:00h 12:30h 12:30h
63 68,2 67,8 57 - -
125 66,6 66,7 59,1 - -
250 70,3 70,5 55,8 - -
500 73,5 70,3 54,1 76,5
1000 68,8 67,8 48 68,8 66,5
2000 64,3 63,3 45 63,3
4000 58,6 57,6 38,9 57,6
8000 51,7 51,2 29,6 - -
LAeq 73,8 72,1 54,7 - -

Figura 16: Níveis de pressão sonora medidos na “praça arcos” em três horários distintos

Aplicando a equação 1, o SIL (speech interference level) foi calculado para cada uma das praças
de alimentação. Os valores mensurados nas quatro frequências necessárias para encontrar o SIL,
foram transformados em dB principalmente na situação mais critica, isto é; valores com maiores
índices de ruído. Para as três praça investigadas, corredor, café e arcos foi encontrado os
seguintes valores para os horário mais críticos encontrados (12h30min, 17h e 12h30min): SIL=
68.1dB, 64,7 e 66,5 respectivamente. Analisando a relação entre ouvinte e orador, e
considerando que duas pessoas queiram conversar a uma distância de 1m em relação à outra, de
acordo com a figura 1, elas teriam que falar com a voz entre levantada e alta, situação esta
bastante desconfortável.
Avaliando os resultados acima do nível de ruído equivalente em dB(A) das três praças de
alimentação (figuras 14,15, 16 e 17) observou-se que os valores globais encontrados
ultrapassaram a casa de 72dB(A) na sua condição mais crítica (com elevado número de pessoas
presentes). Esses valores encontrados comprovam que a comunicação nesses ambientes
(conversa) encontra-se fora dos limites do nível acústico confortável, segundo a NBR
10152(1987). Ainda que considerados a condição de praças de alimentação dentro dos shoppings
equivalentes a pavilhões fechados, o nível de 60dB seria o limite máximo para uma audibilidade
aceitável. Os resultados mostram índices de 10dB(A) acima do desejável onde necessariamente
as pessoas tendem a modificar seu padrão de voz num nível mais elevado para que a
comunicação ocorra normalmente. A figura 17 apresenta um resumo comparativo do nível de
ruído das três praças de alimentação. Observa-se que a praça corredor é caracterizada como a de
maiores índices de ruído como também a que apresenta maior dificuldade de comunicação entre
os ambientes analisados.

80
corredor
60
café
40
20 arcos

0
500 Hz Laeq SIL ruído de
fundo

Figura 17: Comparação do nível de pressão sonora em dB para a freqüência de 500Hz nas três praças de
alimentação

32
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados encontrados nas praças de alimentação apresentaram condições precárias para o
conforto acústico, devido às grandes superfícies refletoras; mesmo com algumas diferenças de
volumetria espacial, o nível de pressão sonora nesses ambientes se mostrou inadequado para uma
conversa no tom normal da voz, o que evidencia o uso homogêneo dos materiais de baixo nível
de absorção sonora como vidros e granitos. Como era de se esperar, a praça de pior desempenho
acústico foi a praça corredor, devido a seu espaço restrito. Apesar do grande pé-direito a praça
arcos amenizou em 3dB essa condição acústica. Como melhor solução para esses ambientes é
recomendável utilizar materiais de melhor índice de absorção sonora, desde materiais
apropriados para piso e cadeiras; também como exemplo o uso de mantas acústicas entre forro e
telha de modo que o volume do espaço físico destinado para a convivência possa favorecer uma
melhor inteligibilidade da voz nesses espaços.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Avaliação do ruído em áreas habitadas visando o conforto da comunidade. Rio de
Janeiro: ABNT, 2000.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152: Níveis de
ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro: ABNT, 1987.
3. BISTAFA, E. R. Acústica aplicada ao controle do ruído. São Paulo. Editora Edgard
Blucher. 2006. 368p
4. CAVANAUGH, W.J.; WILKES, J.A.(1999). Architectural acoustics - principles and
practice. New York: John Wiley & Sons.
5. MEHTA, Madam: JOHNSON, Jim; ROCAFORT, Jorge. Architectural Acoustics:
Principles and Design. Columbus: Prentice Hall, 1999, 446p.
6. OLIVEIRA, Nádia Freire; BERTOLI, Stelamaris Rola. (2007). “Inteligibilidade de salas
de aula para ensino de línguas”. In: IX Encontro Nacional e V Latino Americano de
Conforto no Ambiente Construído, ENCAC- ELACAC 2007, Ouro Preto. CD-ROM.
7. SHOPPING JARDINS. Disponível em <http:// www.shoppingjardins.com.br>. Acesso em:
18 jan. 2012.

33
DESEMPENHO ACÚSTICO EM EDIFICAÇÕES: ANÁLISE
COMPARATIVA DOS RESULTADOS DAS NORMAS ISO 140 E ISO 10052

BARRY, Peter Joseph; IKEDA, Cristina Yukari Kawakita


Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, Centro Tecnológico do Ambiente Construído,
Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios

RESUMO
O presente trabalho apresenta uma análise comparativa de resultados da medição do nível de pressão
sonora de impacto em pisos (L´nT,w), aplicando os procedimentos das normas ISO 140-7 e ISO 10052.
Foram comparados o índice de reverberação medido (ISO 140-7) e o correspondente padrão tabelado
(ISO 10052) e foi analisado o efeito que uma diferença possa ter no parâmetro de desempenho acústico. Na
maioria dos casos estudados, o desempenho apresentado, empregando o método simplificado, é
superestimado em relação ao apresentado pelo método de engenharia, devido a valores maiores do índice de
reverberação para o padrão tabelado do que para o índice medido. Os valores do índice de reverberação da
norma ISO 10052 são de edificações na Europa, obtidos entre 1960 e 1980, e não representam
adequadamente as características típicas de edifícios no Brasil. Para uma futura revisão da norma
NBR 15575, sugere-se que sejam realizados estudos abrangentes para desenvolver a padronização do
índice de reverberação mais apropriado para sistemas construtivos brasileiros ou que a opção de método
simplificado seja retirada do texto.

ABSTRACT
This paper presents a comparative analysis of the results of impact sound pressure level measurements on
floors (L'nT,w), using the procedures of the ISO 140-7 and the ISO 10052 standards.
The measured reverberation index (using ISO 140-7) and the corresponding tabular value (using
ISO 10052) were compared and the effect on the performance parameter of any difference analyzed. In
most of the cases studied, the simplified method tended to overestimate the acoustic performance in relation
to the engineering method, this being the result of higher values of the standardized reverberation index
than of the measured index. The reverberation index values in the ISO 10052 are for buildings in
Europe, obtained between 1960 and 1980, and apparently do not adequately represent the characteristics
of typical buildings in Brazil. For a future revision of the NBR 15575, it is suggested either that further
studies should be made to develop a more appropriate standardized reverberation index for building
systems in Brazil or that the simplified method option should be removed from the text.
Palavras-chave: Ruído de impacto. Norma de desempenho. Método de engenharia. Método simplificado.

1. INTRODUÇÃO
A publicação da norma brasileira de desempenho em edificações representa um grande avanço
técnico. Com esta norma são estabelecidos parâmetros objetivos e quantitativos que acabam por
auxiliar no disciplinamento do relacionamento entre fabricantes de soluções construtivas,
projetistas, incorporadores, construtores, imobiliárias e consumidores.

A norma de desempenho, a NBR 15575 (ABNT, 2010), estabelece parâmetros de avaliação de


desempenho, métodos de medição e valores referentes a diferentes categorias de desempenho
para o isolamento acústico entre unidades autônomas (DnT,w), isolamento acústico de fachadas
(D2m,nT,w) e o nível de ruído de impacto em pisos (L´nT,w).

34
Para as medições em campo, existem duas opções: a) método de engenharia, que determina, de
forma rigorosa em campo, o parâmetro de desempenho; b) método de levantamento, ou método
simplificado.

Os métodos de engenharia são descritos nas seguintes normas: DnT,w – norma ISO 140-4 (ISO,
1998); D2m,nT,w – norma ISO 140-5 (ISO, 1998b); L´nT,w – norma ISO 140-7 (ISO, 1998c). O
método simplificado para os três parâmetros de desempenho é descrito na norma ISO 10052
(ISO, 2004). A abordagem desta norma é o uso de equipamento básico, varredura manual do
nível de pressão sonora e a possibilidade de estimar a correção devido à reverberação do ambiente
de medição por meio de valores padronizados em vez de medições.

A entrada em vigor da norma NBR 15575 (ABNT, 2010) aumentará a demanda para medições
acústicas. Nesse sentido, o uso de valores padronizados facilita a aplicação desta norma em todo
o território nacional, onde o equipamento mais complexo para a medição de tempo de
reverberação pode não estar disponível. Entretanto, é importante considerar se os valores
padronizados representam a realidade no País.

Com o objetivo de fazer uma investigação inicial, o presente trabalho apresenta uma análise
comparativa de resultados da medição do nível de ruído de impacto em pisos (L´nT,w), aplicando
os procedimentos das normas ISO 140-7 e ISO 10052.

Foram realizadas, ao longo de 2010 e 2011, diversas medições em diferentes edifícios com
finalidades de avaliar, estudar e certificar pisos, materiais e sistemas, englobando diferentes
volumes de recinto e diferentes sistemas (laje, laje+contrapiso; laje+manta+contrapiso). Desses
dados foram retrabalhos 34 casos, anonimamente neste trabalho, para comparar o índice de
reverberação medido e o correspondente padrão tabelado e analisar o efeito que uma diferença
possa ter no parâmetro de desempenho.

2. MÉTODOS
2.1. Conceitos
O Nível de Ruído de Impacto Padronizado, L´nT, de uma faixa de frequências é dado pela
equação (nomenclatura da ISO 10052):

  Li  k
LnT [Eq. 01]

onde: Li é a média do nível de pressão sonora de impacto no recinto, englobando todos os


pontos de microfone e posições da máquina de impactação padrão (“tapping machine”), na faixa
de frequências em questão;
k é o índice de reverberação na mesma faixa de frequências [dB].
Quando o tempo de reverberação, T, é medido, o índice de reverberação é dado pela relação
T
k  10 log( )
T0
onde: T0 é o tempo de reverberação de referência [= 0,5s].

Quando se optar pelo uso dos valores padronizados, a classificação do tipo de construção
(estrutura e revestimentos) é obtida da Tabela 2 da norma ISO 10052 e o índice de reverberação
da Tabela 3 da norma, em função da classificação da construção, o volume do ambiente e a
presença ou não de móveis.

35
2.2. Procedimentos
Todas as medições foram feitas de acordo com a norma ISO 140-7; isto é, foram obtidos todos os
dados de nível de pressão sonora e de tempo de reverberação no recinto, ambos por faixa de
frequências de 1/3 de oitava.

Para aplicar o método simplificado, os valores de nível de pressão sonora em 1/3 de oitava foram
convertidos em níveis por 1/1 oitava, somando logaritmicamente os valores dos três faixas de 1/3
de oitava englobadas pela faixa de oitava.
Foram obtidos os Níveis de Ruído de Impacto Padronizado, calculando o índice de reverberação,
no caso do método da ISO 140-7, ou usando os valores tabelados, o método da ISO 10052.

Por fim, o índice único, compondo todos os valores das faixas de frequências, o Nível de Ruído
de Impacto Padronizado Ponderado, L´nTw, foi calculado conforme a norma ISO 717-2 (ISO,
1996), em 1/3 de oitava para o método da ISO 140-7 e em 1/1 de oitava no caso do método da
ISO 10052.

3. INCERTEZAS
Foram calculadas as incertezas considerando a variação espacial do nível de pressão sonora de
impacto, a variação espacial do tempo de reverberação, incertezas instrumentais e condições
ambientais. A incerteza expandida foi calculada conforme o Guia para Expressão da Incerteza de
Medição (GUM - BIPM et al., 2003).

Os conceitos e procedimentos empregados são quase idênticos à analise de incertezas para os


parâmetros DnT e D2m,nT descrita por Michalski et al., 2009. Nas medições realizadas, a incerteza
no valor do LnT,w é estimada em ±1 dB. A norma ISO 10052 estima que os resultados do método
de levantamento e o correspondente método de engenharia diferem de ±2 dB.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 apresenta os valores de L´nT,w para os 34 casos estudados.

90

80

70

L' nT,w
60
[dB]

50

40

30
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33

ISO140-7 ISO10052

Figura 1: Valores de L’nT,w obtidos pelos métodos de engenharia e simplificado, para todas os ambientes.

36
Na Figura 1 podem ser observadas variações de até 3 dB na comparação dos dois métodos. Isto é
minimamente coerente com as incertezas calculadas. São 3 casos demonstrando desempenho igual
dos dois métodos, 13 demonstrando melhor desempenho (L´nT,w numericamente menor) para o
método de engenharia e 19 demonstrando melhor desempenho para o método simplificado.

Entre os casos estudados, o tipo mais comum foi de dormitórios, não mobiliados, com volume
que se insere na faixa de 15 e 35 m3, da ISO 10052. A Figura 2 apresenta os valores de L´nT,w para
esses casos. Casos 6 a 18 são de sistemas de laje ou laje + contrapiso; casos 19 a 27 são de
sistemas de laje + manta + contrapiso.

90

80

70

L' nT,w
60
[dB]

50

40

30
6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

ISO140-7 ISO10052

Figura 2: Valores de L’nT,w obtidos pelos métodos de engenharia e simplificado, para dormitórios.

Na Figura 2 pode-se observar que, na maioria dos casos, o desempenho apresentado empregando
o método simplificado é melhor que o apresentado pelo método de engenharia, que é, em
princípio, a referência. São 2 casos demonstrando desempenho igual dos dois métodos, 5
demonstrando melhor desempenho para o método de engenharia e 15 demonstrando melhor
desempenho para o método simplificado.

Com exceção do caso 10, todas as situações em que o método da ISO 140-7 apresenta melhor
desempenho que o da ISO 10052 são sistemas com pisos flutuantes, embora o tratamento
acústico do piso não afete a reverberação no ambiente.

A Tabela 1 apresenta a média do índice de reverberação medido nos dormitórios e o valor padrão
correspondente.
Nesta tabela, observa-se que os valores de k padronizados são significativamente maiores - em
mais de 2 dB - que os valores medidos nas altas frequências (1000 e 2000 Hz), enquanto nas
baixas frequências (125 e 250 Hz) os valores medidos são entorno de 1 dB maior que os
padronizados.

37
Tabela 1: Índice de reverberação, k [dB]
Frequência k k
[Hz] ISO 140-7 ISO10052
125 5,4 4,5
250 5,4 5,0
500 4,4 5,5
1000 3,4 5,5
2000 2,7 5,0
4000 2,1 —

Como isto pode influenciar o cálculo do L´nTw, é demonstrado pela curvas da Figura 3. Esta figura
apresenta um exemplo típico de desempenho de um piso flutuante (laje+manta+contrapiso), no
gráfico esquerdo, e um exemplo típico de desempenho de um piso somente de laje, no gráfico à
direita. O desempenho típico de uma laje é essencialmente plano com frequência, enquanto o de
um piso flutuante é melhor (L´nT,w menor) nas altas frequências.

90 90

80 80

70 70

L' nT L' nT
60 60
[dB] [dB]

50 50

40 40

30 30
125 250 500 1000 2000 4000 125 250 500 1000 2000 4000

Frequência [Hz] Frequência [Hz]


Figura 3: Exemplos de curvas de L’nT - piso flutuante (esquerda), laje (direita)
— ISO 140-7; — ISO 10052; — referência de ponderação da ISO 717-2

No cálculo do L´nTw, são considerado somente valores medidos que são maiores que o valor
correspondente da curva de ponderação. Pode-se observar, no gráfico da direita, que a
superestimação do índice de reverberação nas altas frequências reduz os valores de L´nT
justamente onde mais influenciam o cálculo do L´nT,w, reduzindo o valor deste. Para o piso
flutuante, ao contrário, uma redução do L´nT medido em baixas frequências seria mais importante.
Nestas frequências, o índice de reverberação medido era maior que o padronizado, em vários
casos, o que explica o valor de L´nT,w menor para os pisos flutuantes, quando foi usado o método
de engenharia.

5. CONCLUSÃO
Os resultados demonstram uma tendência, quase sistemática, de o método simplificado
superestimar (melhorar) o desempenho. Isto ocorre devido à superestimação do índice de
reverberação, especialmente nas altas frequências. Entretanto, nos casos estudados, este desvio
não conseguiu alterar a categoria de desempenho do edifício, de “mínimo” para “intermediário”
nem de “intermediário” para “superior”.

38
Os valores da norma ISO 10052 são de edificações na Europa, obtidos entre 1960 e 1980, e,
como demonstrado, não representam adequadamente as características típicas de edifícios no
Brasil. Para uma futura revisão da norma NBR 15575, sugerimos que sejam realizados estudos
abrangentes para desenvolver a padronização do índice de reverberação mais apropriado para
sistemas construtivos brasileiros ou que a opção de método simplificado seja retirada do texto.

6. OUTRAS CONSIDERAÇÕES
As medições dos níveis de ruído foram feitas com o microfone em diversos pontos fixos,
enquanto a norma ISO 10052 apresenta um procedimento de varredura. Em princípio não deve
haver diferença entre esses procedimentos, mas isto não foi investigado. De qualquer maneira, os
autores preferem utilizar pontos fixos de microfone, já que isto permite calcular a variação
espacial do nível de pressão sonora de impacto e do tempo de reverberação e, consequentemente,
a incerteza da medição.

O presente estudo considerou somente os resultados da medição do nível de ruído de impacto em


pisos. Mas, como o mesmo índice de reverberação também consta da determinação do isolamento
de paredes e de fachadas e como os recintos de medição são os mesmos, é bastante provável que
o método simplificado tende a superestima o desempenho em relação aos métodos de engenharia.

REFERÊNCIAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos – Desempenho. Partes 1 a 6. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.
2. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO140-4: Acoustics - Measurement of
sound insulation in buildings and of building elements - Part 4: Field measurements of airborne sound
insulation between rooms. Geneva: ISO, 1998.
3. ____. ISO140-5 : Acoustics - Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part
5: Field measurements of airborne sound insulation of façade elements and façades. Geneva: ISO, 1998b.
4. ____. ISO140-7 : Acoustics - Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part
7: Field measurements of impact sound insulation of floors. Geneva: ISO, 1998c.
5. ____. ISO10052 : Acoustics - Field measurements of airborne and impact sound insulation and of service
equipment sound - Survey method. Geneva: ISO, 2004.
6. ____. ISO10052 /Amd 1: Acoustics - Field measurements of airborne and impact sound insulation and of
service equipment sound - Survey method. Amendement1. Geneva: ISO, 2010.
7. ____. ISO717-2 : Acoustics - Rating of sound insulation in buildings and of building elements - Part 2:
Impact sound insulation . Geneva: ISO, 1996.
8. ____. ISO717-2 /Amd 1: Acoustics - Rating of sound insulation in buildings and of building elements - Part
2: Impact sound insulation. Amendement1. Geneva: ISO, 2006..
9. BIPM, IEC, IFCC, ISO, IUPAP, OIML. Guia para a expressão da incerteza de medição. Terceira edição
brasileira. Edição revisada. Tradução: ABNT/INMETRO. Rio de Janeiro, 2003.
10. Michalski, R., Nabuco, M. & Ripper, G. (2009). Uncertainty investigation of field measurements of airborne
sound insulation. XIX IMEKO World Congress – Fundamental and Applied Metrology, Lisbon, pp. 2230-
2233.

39
AVALIAÇÃO DE PRESSÃO SONORA EM EDIFICAÇÕES DE INTERESSE
SOCIAL

Silva Júnior, Otávio Joaquim1; Rêgo Silva, José Jeferson2; Gois, Pedro de Freitas3; Mariz,
Jairo Colaço4; Andrade, Tibério Wanderley Correia de Oliveira5; Costa e Silva, Ângelo Just6
(1) Engenheiro Civil, TECOMAT, otaviojsjunior@gmail.com
(2) Docente do Departamento de Engenharia Civil, CTG – UFPE, jjrs@ufpe.br
(3) Engenheiro Civil, TECOMAT, pedro@tecomat.com
(4) Graduando em engenharia civil da Escola Politécnica de Pernambuco, POLI – UPE, jairomariz@gmail.com
(5) Docente do Departamento de Engenharia Civil, CTG – UFPE, tiberio@tecomat.com.br
(6) Docente da Escola Politécnica de Pernambuco, POLI – UPE, angelo@tecomat.com.br

RESUMO
O presente trabalho avaliou o desempenho acústico de 3 edificações residenciais unifamiliares cujo sistema
construtivo é composto por paredes de concreto armado leve, onde duas das edificações apresentam
cobertura em telha canal cerâmica sobre estrutura de madeira com forro em PVC e a outra emprega telha
termoacústica auto portante. Descreve os procedimentos e equipamentos empregados nos ensaios, os quais
obedecem às especificações da ABNT NBR 10151. A avaliação do desempenho acústico consistiu na
determinação dos níveis de critério de avaliação conforme ABNT NBR 10151, dos níveis de ruído para
conforto acústico conforme ABNT NBR 10152 e da diferença padronizada de nível promovido pela vedação
externa conforme ABNT NBR 15575-4 e comparação com as recomendações das respectivas normas. Por
fim, os resultados das 3 edificações são apresentados e comparados, discutindo-se qual sistema construtivo
apresentou o melhor desempenho acústico global. O desempenho acústico de edificações ainda não é prática
comum na indústria da construção, porém deverá proporcionar novos padrões de projeto. Espera-se com este
trabalho divulgar resultados para fins de consolidação e padronização dos procedimentos de avaliação.

ABSTRACT
This study evaluated the acoustic performance of three single-family residential buildings. In all three
buildings the construction system is composed of lightweight concrete walls. In one of them channel
ceramic tile is used on the roof, supported by a wood frame, with PVC lining. The other two employ
thermoacoustic self portant tile. This article also describes the procedures and equipment used in the tests,
which conform to specifications of NBR 10151 Brazilian code. The acoustic performance evaluation
consisted in determining evaluation criteria levels, according to NBR 10151, sound levels for acoustic
comfort, according to NBR 10152, standard difference level promoted by external walls, according to NBR
15575-4, and comparison between the results obtained and codes recommendations. Finally, the results of
the three buildings are presented and compared, discussing which constructive system showed the best
overall acoustic performance. The acoustic performance of buildings is not yet a common practice in
Brazilian construction industry, however it should provide new design standards. It is expected, with this
work, to contribute to the discussion about acoustic performance of buildings and to the consolidation and
standardization of assessment and testing procedures.
Palavras-chave: Desempenho acústico. Concreto leve. Ensaio de acústica.

1. INTRODUÇÃO
O crescimento desordenado dos núcleos urbanos, o advento das novas tecnologias de construção
civil, questões de ordem cultural, etc., tem provocado um aumento acentuado de questões
relacionadas com o conforto acústico (Carvalho, 2010), o que atrelado ao emprego de novas

40
tecnologias e o emprego de paredes e lajes mais esbeltas tem contribuído negativamente no
desempenho acústico das edificações.
Avaliar o desempenho acústico de uma edificação implica em avaliar o sistema construído e a
utilização a qual foi destinada, logo, cada edificação possui uma forma distinta de avaliação. No
caso específico de edificações escolares, a qualidade acústica é um item pouco considerado por
arquitetos e engenheiros no projeto, apesar da fundamental importância em função do tipo de
atividade desenvolvida nesses ambientes (Losso, 2003). Acredita-se que o mesmo pode-se dizer das
edificações residenciais, uma vez que, de acordo com Losso e Viveiros (2003, apud Winck e
Schmid, 2011) as edificações brasileiras, em sua maioria, não são construídas adequadamente em se
tratando da proteção ao ruído intrusivo.
A NBR 10151 (Acústica - Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da
comunidade – Procedimento) e a NBR 10152 (Níveis de ruído para conforto acústico) eram as
normas utilizadas na avaliação do conforto acústico das edificações. Visando promover uma melhor
qualidade técnica para as edificações habitacionais de até cinco pavimentos a ABNT publicou no
ano de 2008 a NBR 15575.
A norma de desempenho NBR 15575 é importante tanto para o consumidor como para a indústria
da construção civil. O consumidor estará confiante de que o produto que está adquirindo tem uma
qualidade mínima especificada por normas técnicas. A indústria da construção civil terá a base para
poder colocar no mercado um produto também com qualidade mínima para habitabilidade e uso,
obtida com o respeito às normas técnicas. (Neto e Bertoli, 2011).
Este trabalho teve como objetivo principal a avaliação, através de ensaios em campo, com base na
NBR 15575, do desempenho acústico de três edificações de interesse social, construídas em paredes
de concreto armado leve, moldadas no próprio local com dois tipos de cobertura.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para realização dos ensaios de desempenho acústico foram utilizados os seguintes equipamentos:
• Medidor de nível de pressão sonora (sonômetro) – equipamento utilizado para medir o nível de
pressão sonora equivalente em decibel ponderado em “A” (LAeq).
• Calibrador acústico classe I – equipamento utilizado para verificar o valor indicado no medidor
de nível de pressão sonora antes de cada medição, visto que seu microfone pode sofrer pequenas
variações com o tempo.
• Fonte emissora de ruído – equipamento composto por um dodecaedro Omni 12 e um
amplificador, este equipamento é utilizado para reprodução de ruídos.
• Software dBBati e dBTrait – a compilação dos resultados obtidos nos ensaios é realizada por
softwares do próprio fabricante do medidor de nível de pressão sonora.
2.1. CARACERIZAÇÃO DOS AMBIENTES
Os ensaios foram realizados em três residências unifamiliares distintas.
As residências possuem área de aproximadamente 40,0m², distribuídos da seguinte forma: 01 sala,
01 cozinha, 02 quartos e 01 banheiro. As edificações são constituídas por paredes em concreto
armado leve com função estrutural e possuem espessura de 10cm.
A edificação 1 está localizada na cidade de Barreiros/PE. O concreto empregado possui massa
especifica da ordem de 1900kg/m³, obtida a partir do emprego de aditivo incorporador de ar. A
cobertura emprega telhas auto portantes cuja composição apresenta revestimento superior em aço
galvalume, e revestimento inferior composto por filme de alumínio estuco fosco e núcleo de
poliuretano classe R1.

41
A edificação 2 está localizada na cidade de Rio Largo/AL. O concreto empregado possui massa
especifica da ordem de 1600kg/m³, obtida a partir do emprego de aditivo incorporador de ar. A
cobertura emprega telha cerâmica sobre estrutura em madeira, permitindo assim frestas entre a
parede e o telhado. A residência possui forro em PVC em toda área interna, exceto no banheiro
onde é utilizado laje de concreto.
A edificação 3 está localizada na cidade de Moreno/PE. O concreto possui massa especifica da
ordem de 1700kg/m³, obtida a partir do emprego de aditivo incorporador de ar. A cobertura emprega
telha cerâmica sobre estrutura em madeira, permitindo assim frestas entre a parede e o telhado. A
residência possui forro em PVC em toda área interna, exceto no banheiro onde é utilizado laje de
concreto.
2.2. PROCEDIMENTOS DE ENSAIO
Os ensaios seguiram os procedimentos especificados na NBR 10151, na norma técnica do CETESB
L11.032 e na norma internacional ISO 140-5, no entanto, adequações foram necessárias. Devido às
residências estarem em fase implantação em região praticamente rural, o ruído ambiente não refletia
a condição quando habitada, o que implicou na reprodução artificial do ruído ambiente obtido em
comunidade próxima, através do emprego de uma fonte emissora de ruído. As residências não
possuíam as dimensões adequadas, o que impossibilitou o atendimento as dimensões especificadas
nas normas.
Inicialmente foi realizada a medição do ruído ambiente em uma comunidade próxima às edificações
estudadas, com a finalidade de representar uma área urbana, visto que os conjuntos habitacionais,
em que se encontram as edificações estudadas, estavam em fase de implantação e a região ainda não
era habitada. O ruído ambiente captado na comunidade foi reproduzido com o auxilio da fonte
emissora, posicionada a 3,0m de distância da fachada da residência e verificado com o medidor de
nível de pressão sonora posicionado a 1,0m da fonte emissora de ruído, reproduzindo desta forma o
ruído ambiente a 2,0m de distância da residência, conforme especificação da NB 10151.
A determinação do nível de critério de avaliação (NBR 10151) e dos níveis de ruído para conforto
acústico (NBR 10152) foi realizada em medições com janela aberta e janela fachada em três
posições distintas, a fim de se obter resultados mais confiáveis. As medições tiveram duração de
5min e foram realizadas nos períodos diurno e noturno. As residências 1 e 3, por apresentarem as
mesmas dimensões, foram ensaiadas da mesma forma. Os ensaios foram realizados na sala, cômodo
que possuía janela na fachada frontal. As medições no interior foram realizadas a 1,5m da fachada,
1,1m das paredes laterais internas e uma distância de 0,5m entre cada um dos três pontos. A
residência 2 possuía mobília na sala, impedindo a realização do ensaio neste cômodo, de forma que
o ensaio teve de ser realizado no quarto, no entanto, o quarto possuía dimensões menores que as
necessárias ao ensaio, logo, houve a necessidade de se adequar as distâncias, realizando-se o ensaio
em três pontos distantes um do outro por 0,45cm, 0,75cm das paredes laterais e 1,5m da fachada,
contrariando assim o indicado na NBR 10151 exclusivamente por limitação de espaço.
A determinação da diferença padronizada de nível ponderado da vedação externa (ABNT NBR
15575-4) seguiu especificações da ISO 140-5, conforme determina a NBR 15575-4 para o método
de campo. O ensaio foi realizado em parede cega do quarto, ou seja, parede que não possuía portas
ou janelas. A fonte emissora de ruído foi posicionada a uma distancia de 2,0m da fachada do quarto
e emitido um ruído com pressão sonora de 90dB, verificada com o medidor de nível de pressão
sonora circulando a fonte a uma distância de 0,75cm, o que garante uma medição mais uniforme
(emissão). Em seguida, o medidor foi posicionado no centro do quarto e foi realizada nova medição
(recepção). Para compilação dos resultados foi necessário ainda o tempo de reverberação do quarto,
que foi medido em 5 posições distintas para melhor avaliação.

42
2.3. ESPECIFICAÇÕES NORMATIVAS
As normas brasileiras estabelecem níveis e critérios para avaliação do desempenho acústico das
edificações, neste trabalho foi avaliado o nível de critério de avaliação (NBR 10151), o nível de
conforto acústico (NBR 10152) e a diferença padronizada de nível (NBR 15575-4).O nível de
critério de avaliação (NBR 10151) é analisado de acordo com a área e o período de realização do
ensaio, neste trabalho as edificações enquadram-se na área estritamente residencial urbana ou de
hospital ou de escolas e foram avaliadas nos períodos diurno e noturno, cujo nível mínimo do
critério de avaliação para ambientes externos (NCA) é de 50dB para o período diurno e 45dB para o
período noturno, no entanto, sendo o ruído ambiente maior que o NCA considera-se o ruído
ambiente como sendo o próprio NCA. Admite-se o nível de critério de avaliação para ambientes
internos como sendo o NCA para ambientes externo com uma redução de 10dB para janela aberta e
15dB para janela fechada.
Diferentemente do nível de critério de avaliação, os níveis de conforto acústico (NBR 10152) são
determinados avaliando o ambiente da edificação e não a área de localização. A norma específica
intervalos de nível de conforto acústico para diversos ambientes. A NBR 10152 estabelece
intervalos de nível de pressão sonora ponderado dB(A) e curvas de avaliação de ruído (NC) para
cada ambiente, onde o valor inferior da faixa representa o nível sonoro de conforto e o superior o
nível sonoro aceitável, valores superiores a este intervalo são considerados de desconforto, não
implicando necessariamente risco de dano a saúde. Neste trabalho são utilizados os intervalos
referentes a edificações residenciais. O ensaios foram realizados na sala de estar das edificações 1 e
2 e no quarto da edificação 3, nas situações de janela aberta e janela fechada nos períodos diurno e
noturno. As curvas de avaliação de ruído (NC) superior e inferior são, respectivamente, 35 e 45 para
sala de estar, e 30 e 40 para o quarto.
A diferença padronizada de nível promovida pela vedação externa (NBR 15575-4) pode ser
determinada em ensaio de campo ou laboratório. A NBR 15575 estabelece níveis de desempenho
que podem ser mínimo, intermediário ou superior conforme resultados de ensaio. Neste trabalho
foram realizados ensaios de campo e seus resultados confrontados com os limites estabelecidos pela
NBR 15575-4, tais limites estão apresentados na Tabela 1. A NBR considera um acréscimo de 5dB
para habitações próximas a vias de tráfego intenso (rodoviário, ferroviário ou aeroviário).
Tabela 1: Diferença padronizada de nível ponderada da vedação externa, D2m,nT,w, para ensaios de campo
Sistema D2m,nT,w (dB) D2m,nT,w+5 (dB) Nível de desempenho
25 a 29 30 a 34 M – recomendado
Vedação externa de dormitórios 30 a 34 35 a 39 I
≥ 35 ≥ 39 S
NOTA: Para vedação externa de cozinhas, lavanderias e banheiros, não há exigências específicas.
Fonte: ABNT NBR 15575-4.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A avaliação do desempenho acústico de cada edificação ensaiada foi realizada individualmente para
verificação do atendimento às normas brasileiras 10151, 10152 e 15575-4.
3.1. NÍVEL DE CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO (NBR 10151)
As três edificações analisadas apresentaram ruído ambiente superiores ao nível de critério de
avaliação para ambientes externos especificado na NBR 10151, conforme Tabela 2, logo o NCA será
o próprio ruído ambiente.
Tabela 2: NCA para ambientes externos e ruído ambiente
Nível de Critério de Avaliação para ambientes
Ruído ambiente
Edificação externos (NBR 10151)
Diurno (dB) Noturno (dB) Diurno (dB) Noturno (dB)
Edificação 1 50 45 65 57
Edificação 2 50 45 59 48
Edificação 3 50 45 61 57

43
A determinação do NCA para ambientes internos das edificações foi realizada em ensaio de campo
nas condições de janela aberta e janela fechada nos períodos diurno e noturno, conforme
especificações da NBR 10151. Os resultados das edificações 1, 2 e 3 estão expostos nas Figuras 1, 2
e 3 respectivamente.

Figura 1: Gráfico do nível de critério de avaliação para ambientes internos da edificação 1.

Figura 2: Gráfico do nível de critério de avaliação para ambientes internos da edificação 2

Figura 3: Gráfico do nível de critério de avaliação para ambientes internos da edificação 3

Verifica-se o atendimento à NBR 10151 nas residências 1 e 3 em todos os períodos, já a edificação


2 atende apenas no período diurno.
Pode-se verificar o atendimento a NBR 10151 através da diferença entre o valor limite e a média
global de ensaio conforme Figura 4.

44
Figura 4: Diferença entre os valores limite e a média global de ensaio

3.2. NÍVEIS DE RUÍDO PARA CONFORTO ACÚSTICO (NBR 10152)


Os níveis de ruído para conforto acústico foram analisados através das curvas de avaliação de ruído
(NC), como pode ser observado nas Figuras 5, 6 e 7 para as edificações 1, 2 e 3 respectivamente. As
curvas obtidas em todas as situações para as 3 edificações foram inferiores a curva de nível sonoro
aceitável (curva superior) em todo intervalo de frequência considerado na NBR 10152 (intervalo
entre 63Hz e 8kHz), ou seja, o nível de ruído para conforto acústico é aceitável em todas as
situações, atendendo assim aos requisitos da NBR 10152. O nível sonoro de conforto (curva
inferior) é atendido, apenas nas seguintes situações: janela fechada no período noturno para a
edificação 1; janela aberta no período diurno e janela fechada nos períodos diurno e noturno para a
edificação 2 e janela fechada nos períodos diurno e noturno para a edificação 3.

Figura 5: Gráfico das curvas de avaliação de ruído – NC (Edificação 1)

45
Figura 6: Gráfico das curvas de avaliação de ruído – NC (Edificação 2)

Figura 7: Gráfico das curvas de avaliação de ruído – NC (Edificação 3)

3.3. DIFERENÇA PADRONIZADA DE NÍVEL (NBR 15575-4)


A diferença padronizada de nível promovida pela vedação externa (NBR 15575-4) foi analisada
com o acréscimo de 5dB para a edificação 1, visto que a edificação encontra-se próximo a uma
rodovia. O valor obtido em ensaio de campo foi de 35 dB, enquadrando a edificação no nível de
desempenho intermediário, conforme pode ser observado na Figura 8.
A diferença padronizada de nível promovida pela vedação externa (NBR 155757-4) para as
edificações 2 e 3 foi analisada sem o acréscimo de 5dB, visto que não estão localizadas próximo à
rodovias, ferrovias ou aeroportos. O valor obtido em ensaio de campo nas edificações 2 e 3 foram
respectivamente 28 e 25dB, enquadrando as duas edificações no nível de desempenho mínimo,
conforme pode ser observado na Figura 9.

Figura 8: Diferença padronizada de nível promovida


Figura 9: Diferença padronizada de nível promovida
pela vedação externa na edificação pela vedação externa nas edificações 2 e 3

46
4. CONCLUSÕES
Neste trabalho foram apresentados os resultados de avaliação de desempenho acústico com base
na recente norma de desempenho de edificações residenciais com até cinco pavimentos (NBR
15575-4). Na construção de edifícios, em especial na região nordeste, onde se encontram as
edificações estudadas, ainda não é prática usual a elaboração de projetos acústicos, em particular
para habitações de interesse social. No entanto, os resultados obtidos revelam que todas as
edificações estudadas, mesmo apresentando características que podem não contribuir para um
bom desempenho acústico, atendem aos requisitos normativos. A exceção ficou com o NCA
(NBR 10151) noturno da edificação 2, que não foi atendido. A edificação 1 se destaca por
apresentar melhores resultados para o NCA e também na diferença padronizada de nível
promovida pela vedação externa, enquadrando-se no nível intermediário, enquanto que as demais
se enquadraram no nível mínimo de desempenho (NBR 15575-4). Acredita-se que o fato de a
edificação 1 não apresentar frestas ou espaços entre a coberta e as paredes pode ter contribuído
para este melhor desempenho. Por outro lado, a edificação 2 apresentou curvas de avaliação de
ruído (NC) que atendem o nível sonoro de conforto, enquanto que a edificação 1 atendeu este
requisito apenas para curva de nível sonoro aceitável. É interessante observar ainda que mesmo
as edificações 2 e 3 apresentando sistemas construtivos similares o desempenho acústico não foi
tão parecido. Uma das razões para esta diferença pode ser a diferente disposição arquitetônica
interna e a necessidade de adequação do procedimento de ensaio preconizado pela NBR 10151,
no caso da edificação 2, por limitação de espaço.
É importante destacar também que em nenhuma destas edificações havia sido previsto projeto
acústico. Portanto, não parece coerente procurar atender critérios de qualidade acústica após a
construção da edificação, sem antes ser projetado o desempenho almejado. Os resultados obtidos
com esta iniciativa, porém, deverão fornecer dados para a concepção de novos projetos
arquitetônicos, mais consistentes quanto ao desempenho acústico. Constata-se ainda a
necessidade de maior padronização na realização dos ensaios previstos nas normas, considerando
inclusive as limitações espaciais das edificações, bem como de melhor clareza na avaliação final
do desempenho acústico, uma vez que esta avaliação começa a ser exigida pelos órgãos de
financiamento (ex; CAIXA, nos projetos Minha Casa, Minha Vida).
5. AGRADEMICMENTOS
Os autores agradecem à UFPE pelo apoio bibliográfico e científico, à TECOMAT – Tecnologia
da Construção e Materiais pelo apoio na realização dos ensaios e aos membros da comissão
cientifica pela valiosa contribuição na revisão.
REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: Acústica - Avaliação do ruído em
áreas habitadas, visando o conforto da comunidade - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2000.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152: Níveis de ruído para conforto
acústico. Rio de Janeiro: ABNT, 1987.
3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-4: Edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos – Desempenho. Parte 4: Sistemas de vedações verticais externas e internas. Rio de Janeiro: ABNT,
2010.
4. Carvalho, R.P. (2010). Acústica arquitetônica, Thesaurus, Brasília, 2ª edição.
5. Losso, M.A.F. (2003). Qualidade acústica de edificações escolares em Santa Catarina: avaliação e elaboração
de diretrizes para projeto e implantação, Dissertação (mestrado em engenharia civil), Universidade Federal de
Santa Catarina.
6. Neto, M.F.F. & Bertoli, S.R. (2011). Critérios de desempenho acústico em edifícios residenciais. Revista da
Sociedade Brasileira de Acústica – SOBRAC. 43ª Edição, pp. 19 -29.
7. Losso, M.A.F. Acoustics versus natural ventilation in southern Brazilian educational buildings, 2003. In:
Winck, S.S. & Schmid, A.L. (2011). Atenuação de ruído na ventilação forçada em residências: análise
experimental de um protótipo inovado, Revista da Sociedade Brasileira de Acústica – SOBRAC, 43ª Edição,
pp. 07 -12.
47
CONFORTO ACÚSTICO PARA A HUMANIZAÇÃO DE UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA E DEMAIS AMBIENTES HOSPITALARES

MANNIS, José Augusto


Unicamp
RESUMO
Este artigo é resultado da observação do ambiente sonoro nocivo em hospitais, mais
especificamente em UTI, buscando apresentar e sugerir reflexões sobre a qualidade desses
ambientes à luz de diversas áreas do conhecimento como a acústica, a arquitetura e a psicologia
além das ciências biomédicas. Uma compilação de publicações tratando do conforto acústico em
hospitais, dos danos causados por ruídos ao organismo humano, da quantificação e das causas de
ruídos em hospitais e particularmente em UTI, constituiu material de base para uma reflexão
posterior. Tendo sido raro encontrar um hospital que mantenha seu ambiente dentro das normas e
recomendações em vigor e também sendo este um problema crônico, o trabalho aponta para a
necessidade urgente de uma nova atitude e sugere uma reflexão interdisciplinar em harmonia com
as ciências biomédicas. O conjunto de dados apresentado é basicamente um alerta. São
apresentados dois exemplos de hospitais que dedicaram atenção ao conforto acústico e finalmente
destaca-se a importância do silêncio no processo de recuperação dos pacientes.
ABSTRACT
This paper results from observation of harmful sound environments in hospitals, particularly in the
ICU, and attempts to present and propose reflection on the quality of these settings in light of
several fields of knowledge, such as acoustics, architecture, and psychology, in addition to the
biomedical sciences. A compilation of publications addressing acoustic comfort in hospitals, the
harm caused by noise to the human body, quantification and causes of noise in hospitals, mainly in
the ICU, constitutes the basic material for an ensuing reflection. Being hard to find a hospital
setting compliant with the standards and recommendations in use and considering that it is a chronic
problem, this paper points at the urgent need for a new attitude and suggests an interdisciplinary
reflection in harmony with the biomedical sciences. The set of data presented is virtually a warning.
Two examples are given from hospitals that devoted attention to acoustic comfort and, at the end,
emphasis is given to the importance of silence for the patients’ recovery process.
Palavras-chave: Controle de ruído, Agressão sonora, Conforto acústico, Psicologia ambiental
1 INTRODUÇÃO
Apesar deste assunto estar sendo debatido há vários anos no âmbito de profissionais da saúde, os
problemas acústicos em ambientes hospitalares, notadamente em UTI, persistem, ignorando
legislação, normas e recomendações em vigor. Ao trazer o debate para fora do setor específico da
saúde, espera-se ampliar os questionamentos, buscar outras formas de reflexão que possam, em
sinergia, contribuir para sanar o problema. No campo interdisciplinar entre a acústica, a arquitetura
e a psicologia, há possibilidades significativas. Na preparação de uma equipe de profissionais, os
procedimentos de conduta podem ser revistos, as rotinas podem ser repensadas para que tenham um
menor impacto ambiental negativo. Em avaliação de desempenho, quesitos referentes à
contribuição do agente à qualidade ambiental podem ser valorizados. Do ponto de vista da acústica
e da arquitetura, na concepção de ambientes hospitalares, desde os primeiros esboços, pode haver
uma atenção para o design acústico dos locais em harmonia com a dinâmica e o fluxo previsto dos
seus ocupantes. Se as características físicas do local determinam a resposta acústica, a ambientação,
a distribuição espacial e o planejamento ocupacional podem influir no comportamento e nos hábitos
48
das pessoas. Elali (1997) discute a Psicologia Ambiental enquanto locus privilegiado na interseção
entre Psicologia e Arquitetura, com especial ênfase para a interrelação ambiente construído -
comportamento humano, encarando o edifício como um espaço “vivencial” sujeito à ocupação,
leitura, reinterpretação e/ou modificação pelos usuários, considerando os aspectos perceptuais da
relação pessoa-ambiente. A autora discute as potencialidades do ambiente enquanto base-física,
descreve e analisa as características ambientais e comportamentais do local com o conceito de
behavior setting (PINHEIRO, 1986). Espera-se que uma integração interdisciplinar possa contribuir
efetivamente para a transformação do conhecimento relativo às relações pessoa-ambiente e
possibilitar a melhoria efetiva da humanização acústica do ambiente hospitalar. Há certamente um
grande numero de incógnitas a serem resolvidas se forem pensadas por profissionais de uma única
área do conhecimento. Mas a problematização, as análises, os diagnósticos, a definição de soluções
e a implementação de diferentes intervenções, abrangendo o homem e seu habitat, seriam mais
adequadamente abordadas se houvesse uma atuação de equipe (inter) ou (trans) disciplinar, sendo
que os níveis de abordagem dependeriam da escala do problema, dos objetivos a serem alcançados e
do nível pretendido para a solução e seu impacto ambiental (ORNSTEIN, 2005). A compilação de
informações e as reflexões propostas neste artigo tem, essencialmente, o objetivo de uma
conscientização e sensibilização para que uma atenção especial seja dedicada à questão do conforto
acústico em ambiente hospitalar, não somente em relação aos pacientes, mas também às equipes
médica e de enfermagem permanentemente imersos numa massa sonora nociva. Apesar de ambos
sofrerem os mesmos danos, os profissionais da saúde podem deixar de perceber a agressão
ambiental por estarem “habituados” a essas condições adversas.
Devido ao grande leque de publicações levantadas neste artigo, percebe-se a heterogeneidade no
tratamento das informações, dos procedimentos de medições e de análise das mesmas. Portanto,
alertamos para o fato de que ora e outra, apesar de notificado, haverá diferença entre os dados
apontados e na precisão dos resultados apresentados em cada trabalho. Contudo, esses desvios são
menores do que o excedente dos resultados medidos, ultrapassando amplamente as recomendações
ambientais.
2 RUÍDO E ESTRESSE
2.1 Estresse
O estresse é uma situação de tensão, que pode ter causa tanto fisiológica como psicológica e afeta
os indivíduos em todas as dimensões. A resposta ao estresse depende da intensidade, da duração e
do âmbito do agente estressor.
2.2 Estresse em UTI
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é vista pelos pacientes como um setor estressante, onde há
doentes graves, muitos em fase terminal, e acabam associando a UTI à morte iminente. Diversos
estudos apontam o ambiente de UTI como gerador de estresse para os internados, em virtude,
principalmente, do nível de ruído, luminosidade constante e artificial, presença de pessoas e
equipamentos estranhos, ausência de janelas, perda da referência espaço-temporal e da privacidade.
A monitoração contínua dos sinais vitais e da atividade cardíaca, a submissão a procedimentos
invasivos, ausência da família e dos amigos e a imobilidade também podem estressar os pacientes
assim como a presença de odores desconhecidos, a sensação de morte e a intervenção constante da
equipe multidisciplinar (MUNIZ e STROPPA, 2009). O conjunto de fatores estressantes pode
implicar no aumento de ansiedade e da percepção dolorosa, diminuição do sono e aumento das
frequências cardíacas e respiratórias, alteração da pressão arterial e da função intestinal, dilatação
das pupilas, aumento do tônus muscular. Nessas condições, os pacientes podem propender a
aborrecimento e irritação. Os pacientes cardíacos, em virtude de sua própria fisiopatologia, são os
mais afetados por esse conjunto de fatores, o que influencia negativamente a reabilitação.
(HEIDEMANN, 2011)

49
2.3 Danos causados por ruídos
Vários estudos vem mostrando a relação direta entre poluição sonora e distúrbios da saúde (DINIZ,
2007) sendo principalmente relacionados a distúrbios do sono, através de estresse ou perturbação do
ritmo biológico.
Em vigília, o ruído de até 50dB(A) pode perturbar, mas é aceitável. A partir de 55dB(A)
provoca estresse leve, causando dependência e levando a durável desconforto. O estresse
degradativo do organismo começa a cerca de 65dB(A) com desequilíbrio bioquímico,
aumentando o risco de infarto do miocárdio, derrame cerebral, infecções, osteoporose, dentre
outros. Provavelmente, a 80dB(A) já ocorre liberação de endorfina no organismo,
provocando prazer e completando o quadro de dependência. (ÁLVARES; PIMENTEL-
SOUZA, 1988 e 1992 apud DINIZ, 2007).
Pesquisa nos EUA mostrou que jovens em ruído médio inferior a 71dB, entremeados com pulsos de
85dB só a 3% do tempo, tiveram aumentos médios de 25% no colesterol e 68% numa das
substâncias provocadoras de estresse: o cortisol (PIMENTEL-SOUZA apud MUNIZ e STROPPA,
2009). Uma vez que os pacientes em UTI estão em condições debilitadas, as formas de
manifestarem esse incômodo são as alterações nos batimentos cardíacos, dores de cabeça e insônia,
além de surdez, perda de reflexos, gastrite e distúrbios hormonais, tendo assim uma recuperação
mais lenta, permanecendo mais tempo internados e, conseqüentemente, aumentando seu custo. Com
excesso de ruído a qualidade do sono fica comprometida, causando perda de tempo de sono em
estágio profundo, resultando numa recuperação mais lenta e demorada (MUNIZ e STROPPA,
2009). Holsbach et al. (2001) alertam para efeitos danosos causados por ruídos como irritabilidade,
fadiga, dores de cabeça, elevação da frequência cardíaca e pressão arterial, vasoconstrição
periférica, aumento da secreção e da mobilidade gástrica, contração muscular, todos afetando
pacientes e a própria equipe de profissionais da saúde. A falta de controle da poluição sonora nos
ambientes hospitalares, principalmente nos que hospedam pacientes em estado grave, reforça
Holsbach, pode ser um fator negativo na recuperação dos mesmos. Em relação a pacientes em UTI
Neonatal (UTIN), Carmo (1999) cita Oliveira (1989) atribuindo aos antibióticos aminoglicosídeos a
propriedade de potencializadores de lesões auditivas, o que aumenta o risco de crianças em
tratamento com esses medicamentos submetidas a agressões sonoras dentro da incubadora.
Selye (1954), citado por Pimentel-Souza (1992), observa que o ruído é um estímulo potente
para estabelecer conexão com o arco-reflexo vegetativo do Sistema Nervoso Autônomo
(SNA) na manutenção do estresse crônico. Segundo a World Health Organization (1980) são
observadas diferentes reações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, incluindo o aumento de
liberação de ACTH e de corticosteróides. Bergamini et al. (1976) dizem que os órgãos alvos
incluem vísceras, como: glândulas endócrinas ou exócrinas, órgãos sexuais, sistemas
hormonais etc. Pimentel-Souza (1992) cita Selye (1965) que atribui ao ruído estressante três
fases, que promovem efeitos psicofisiológicos e fisiológicos decorrentes da atividade
simpática e hipotálamo-hipofisária. A primeira fase (estresse agudo) caracteriza-se por
resposta do SNA simpático com liberação de norodrenalina no sangue. A segunda fase
(estresse crônico) representa o período de resistência, quando o organismo adapta-se ao
agente agressor, permanece defendendo-se e passa a liberar mais adrenalina que, em
conjunto com a anterior, constituem os hormônios do medo, raiva e da ansiedade. A terceira
fase (estresse de exaustão) corresponde ao período préagônico, com permanência das
secreções destes hormônios e queda das gonadrotrofinas e oxitocinas, afetando a
persistência, comportamentos sociais e sexuais, levando à depressão psicológica, à
deficiência imunológica, à desintegração orgânica, óssea, muscular etc. (CARMO,1999)
Segundo Taube (2009) a exposição ao ruído está associada a várias manifestações sistêmicas, como
o aumento geral de vigilância, a aceleração nas frequências cardíacas e respiratórias, à alteração da
pressão arterial e das funções gástricas intestinais, à dilatação das pupilas, ao aumento do tônus
muscular, ao aumento dos hormônios tiroideianos, da secreção de adrenalina e ao estresse.

50
A interação entre o ruído e a função gastrointestinal seria determinada pelas conexões
neurais abundantes entre o sistema auditivo humano, o sistema nervoso autônomo e o trato
gastrointestinal. Castle et al. (2007) descrevem alteração da atividade mioelétrica gástrica em
voluntários masculinos expostos a três estímulos auditivos: ruído hospitalar, conversação em
murmúrio e ruído de tráfego. A exposição crônica ao ruído está associada a efeitos adversos
fisiopatológicos e pode contribuir para a progressão de doença cardiovascular. Em estudos
epidemiológicos da relação entre ruído de tráfego e doença isquêmica do coração, Babish et
al. (2005) sugerem um alto risco de enfarto de miocárdio em sujeitos expostos a altos níveis
de ruído de tráfego. Willich et al. (2006) avaliaram o risco do enfarte do miocárdio (...)
associando a irritação à sobrecarga do ruído ambiental crônico. (TAUBE, 2009)
O impacto do ruído abarca, portanto, diversos sistemas do organismo humano e são potencializados
pela interação entre os mesmos, resultando, por exemplo, em estado de estresse. Se todos os riscos e
as suscetibilidades decorrentes do que foi exposto acima atingem as pessoas em seu estado normal,
em um paciente em estado fragilizado de saúde, os danos decorrentes podem certamente ser
maiores. Na recuperação de uma cirurgia cardíaca, o aumento de adrenalina na circulação e da
pressão arterial em virtude de ruídos na UTI são fatores de risco.
2.4 Legislação e normas
Taube (2009) desenvolve em seu trabalho sobre ruído hospitalar um item dedicado à legislação e
normas, iniciando por uma citação do Capítulo VI da Constituição Brasileira, referente ao Meio
Ambiente, estabelecendo que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.” Isto tem impacto não somente em
ambiente abertos compartilhados socialmente, mas estende-se também a espaços mais privativos
como UTI e enfermarias hospitalares. A Lei 8.080 (de 19/09/1990) que cria o SUS – Sistema Único
de Saúde estabelece diretrizes para instituições públicas ou privadas segundo três princípios
básicos: universalidade, equidade e integridade, objetivando a proteção e a recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos respectivos serviços. Os ambientes de atendimento devem
respeitar o direito dos pacientes a um “meio ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade de
vida”. As construções hospitalares brasileiras são normatizadas pela Resolução da Diretoria
Colegiada (RDC) ANVISA 2002. Os níveis de ruído aceitáveis em ambientes de interior
compatíveis com o conforto acústico são dados pela ABNT (1987) na norma NBR 10.152, segundo
a qual nos hospitais, abarcando enfermarias, berçários, centros cirúrgicos e apartamentos, os níveis
máximos de pressão sonora não devem passar de 35 a 55 dB(A) correspondendo às curvas NC30 e
NC50.
Percebe-se que há mais de 20 anos existem recursos legais e instrumentos normativos para
assegurar a qualidade acústica ambiental. Infelizmente os mesmos não tem sido observados, nem
sequer considerados na concepção, na realização e no funcionamento da grande maioria dos
hospitais. Estabeleceu-se uma cultura de desrespeito tolerado em todos os setores sociais, desde o
consenso comum do cidadão até as fiscalizações públicas, os controles de qualidade específicos à
área da saúde. Projetos hospitalares e normas de conduta em hospitais ignoram praticamente tudo o
que foi estabelecido para a qualidade ambiental e somente o cidadão em seu estágio terminal,
quando nada mais pode fazer e mal pode se expressar, acaba sofrendo terrivelmente passando por
uma agonia desnecessariamente aumentada devido ao descuido e ao descaso daqueles que estão
gozando de plena saúde que não tiveram a capacidade de se colocar em seu lugar e reconhecer que
alguns cuidados poderiam lhe fazer uma enorme diferença.
3 MEDIÇÕES E CAUSAS DOS RUÍDOS
3.1 Medições
Muniz e Stroppa (2009) em medições em UTI de hospital de médio porte no interior de Minas
Gerais, verificaram uma média de 71dB(sem ponderação) com mínima de 55,6dB e máxima de
89,3dB (nível sonoro durante a troca de plantão da enfermagem). Os autores citaram ainda um
trabalho de Formenti (1999) no qual pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo

51
constataram numa UTI Pediátrica (UTIP) ruídos chegando a 110dB(sem ponderação). Holsbach et
al. (2001) mediram níveis de ruído em duas UTI gerais, uma UTIP e uma UTI neonatal (UTIN) no
Hospital São Francisco da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (RS). Usaram
ponderação A e C em modo fast. Os resultados oscilaram entre 63 e 70dB(A) na UTIN, 65 e
71dB(A) na UTIP, 64 e 69dB(A) nas UTIG. Kakehashi (2007) mediu de abril a maio de 2005 nível
de ruído em UTIN em São Paulo, registrando Leq entre 61,3 e 66,6dB(A) com valores de pico de
90,8 a 123,4dB(C), sendo os valores mais elevados constatados no período noturno. Usou
ponderação A e C em modo fast. A autora cita estudo realizado em uma UTIN de Hospital
Universitário de Ribeirão Preto constatando níveis de Leq entre 49,9 e 88,3dB(A) e ruído de impacto
de até 114,1dB(C). De acordo com Costa (2010) citando Conegero e Rodrigues (2009) em UTIN a
totalidade dos equipamentos utilizados na assistência tem impacto sonoro ultrapassando os níveis
máximos recomendados para berçário pela norma NBR10.152 (ABNT, 1987). Kakehashi fornece
ainda os níveis máximos recomendados para UTIN pelo Committee to Establish Recommended
Standards for Newborn ICU Design de Flórida – EUA: entre 45 e 50dB(A), porém medidos em
modo lento. Diniz (2007) fez medições em duas UTI em Belo Horizonte tendo resultados chegando
a 63dB(A). Segundo Costa (2010), com base em Macedo (2009) e Pereira et al. (2003), os níveis de
pressão sonora encontrados em UTI variam de 50 a 88dB(sem ponderação). Pimentel-Souza e
Alvares (1991) avaliaram nível de ruído em diferentes andares do hospital de clinicas da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e encontraram valores entre 63,2 e 68,4dB(A),
atingindo máximos de 79,7dB(A). Pereira (2003) em medição do ruído ambiental na UTI do
Hospital São Paulo, de setembro de 2001 a junho de 2002, constatou nível de pressão sonora
equivalente (Leq) média de 65,4dB(A), com variação de 62,9 a 69,3dB(A). Durante o período diurno
a média de Leq foi de 65,2dB(A) e para o período noturno 63,9dB(A). O valor máximo encontrado
foi de 108,4dB(A) e o mínimo de 40,0dB(A). Pereira salienta ainda que o nível de ruído médio de
65,4dB(A) excede o valor máximo recomendados pela United States Environmental Protection
Agency (1974), de 45 dB(A), assim como da World Health Organization (1993) para hospitais, Leq
até 40 dB(A) para o período diurno e 35dB(A) para o período noturno. Excedem também os níveis
máximos recomendados pela NBR 10.152 (ABNT, 1987).
Observa-se nos resultados acima que é comum encontrar UTI com ruído médio ao redor de 10dB
acima do recomendado e valores de pico superando em 20 ou 30dB o nível de conforto e em alguns
casos atingindo valores absurdamente excessivos para um ambiente hospitalar.
3.2 Causas dos ruídos
Muniz e Stroppa (2009) identificaram em UTI de hospital em Minas Gerais as seguintes situações
geradoras de ruídos (em ordem crescente de intensidade): diálogo próximo ao leito; aspiração; ar
condicionado; alarme de respirador; abrir cortina bruscamente; funcionário ao telefone; levantar
cabeceira; empurrar carrinho de ECG 1; organização dos pacientes; arrastar cadeira; conversa de
médico com visitante; toques telefônicos; acesso a armário; arrastar biombo. Um nível sonoro
máximo foi constatado durante a troca de plantão da enfermagem. Nesse trabalho, os autores
chegaram à conclusão de que a principal fonte de ruído na UTI são os próprios funcionários,
principalmente a equipe de enfermagem, e não apenas os alarmes de monitores, bomba de infusão e
respiradores. Kakeshashi (2007), em UTIN em São Paulo, identificou como principais fontes de
ruído: alarme de ventiladores e de oxímetros de pulso (111,5dB(C)); conversa entre profissionais da
saúde (99,9dB(C)) conversa entre pais de pacientes (107,6dB(C)), enceradeira utilizada para a
lavagem do piso da UTI (101,5dB(C)), lavagem das mãos em pia localizada na ante-sala da
unidade, corte de papel para enxugar as mãos, abertura da tampa do cesto de lixo, rompimento de
invólucro de materiais descartáveis. O impacto comportamental pode ser constatado por Kakehashi
que obteve níveis de pressão sonora elevados mesmo quando se excluíam os momentos de disparo
de alarmes, da utilização ruidosa dos equipamentos, da abertura da torneira, dos toques do telefone

1
Eletrocardiograma.

52
e mesmo do aumento repentino do fluxo das pessoas na unidade. A autora concluiu que houve
elevação do tom de voz das pessoas que, depois de passadas as primeiras 72horas das medições
acústicas, teriam se acostumado à presença de pesquisadores com decibelímetros e voltaram ao seu
comportamento habitual. A autora denomina esse intervalo de tempo como período de
dessensibilização. Segundo Holsbach et al. (2001) nas UTI observadas em Porto Alegre os alarmes
dos equipamentos permanecem no nível máximo de forma a vencer o ruído de conversas, a
manipulação de objetos, o arrastar de cadeiras, as batidas de portas, o sopro dos aparelhos de ar
condicionado, percorrendo toda a distância que separa os leitos dos postos de observação. Isto
costuma ser constatado em UTI que não possui sistema de monitoração central. O ruído ambiental
em UTI é, portanto, decorrente do funcionamento sonoro dos equipamentos utilizados, da
regulagem dos mesmos, do comportamento das equipes médica e de enfermagem e em alguns casos
de familiares dos pacientes, potencializados pelas características físicas dos locais, tendo superfícies
sobretudo reflexivas, objetos e aparatos sem preparação e isolamento para impactos ou vibrações,
falta de isolamento entre os leitos, entre os postos da equipe de enfermagem e os leitos, entre a área
comum de circulação interna e os leitos.
Acusticamente, tudo o tempo todo é compulsoriamente compartilhado por todos. Ou a atenção
automaticamente se fecha e ignora o que os ouvidos recebem, ou a pessoa é obrigada a receber
agressões sonoras sem poder se manifestar.
4 CONCLUSÕES: POSSIBILIDADES DE MITIGAÇÃO E O PODER DO SILÊNCIO
Apesar de que os ruídos em UTI resultam frequentemente de problemas comportamentais, não se
pode excluir a importância da concepção arquitetônica do local. O projeto arquitetônico pode, além
de proporcionar um design apropriado, induzir os ocupantes de um local de forma que determinadas
atividades sejam naturalmente realizadas em espaços específicos, influenciando beneficamente as
pessoas e seus hábitos. Os equipamentos podem ser dotados de recursos permitindo sua utilização e
manuseio produzindo menos ruído (amortecimento de portas e de tampas de cestos de lixo);
rodízios de equipamentos portáteis constituídos de material elastômero; toques de aviso dos
aparelhos redefinidos em timbre e intensidade de forma a serem menos agressivos, ou então
substituídos por sistemas de monitoração centralizados, alertas luminosos, transdutores de vibração
portados pela equipe de enfermagem. Os resultados obtidos por Kakehashi (2007) em UTIN
demonstram a necessidade de intervenções em algumas rotinas e na conduta dos profissionais e
familiares dos pacientes. Segundo Lamego (2005), estudando o ambiente de UTI Neonatal
Cirúrgica (UTINC), torna-se fecundo repensar as ações visando a humanização da assistência em
UTI. A humanização representa um conjunto de iniciativas que visa a produção de cuidados em
saúde capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível a um acolhimento e respeito ético e cultural
ao paciente, proporcionando espaços de trabalhos favoráveis ao bom exercício técnico e à satisfação
dos profissionais de saúde e usuários (DESLANDES, 2004; PUCCINI & CECÍLIO, 2004). Como
exemplos constatados de instalações com qualidade diferenciada em relação ao tratamento de ruído
temos a UTI da unidade cardiológica do Hospital Nossa Senhora de Lourdes que dispõe de leitos
em boxes individuais, fechados com vidros, climatizados e com isolamento acústico, serviço
oferecido pelo hospital como um diferencial de humanização. Verificou-se também na UTI do
Hospital Osvaldo Cruz, em São Paulo, que os leitos são individuais e isolados em boxes vitrados,
proporcionando maior conforto acústico quando as portas são mantidas fechadas. É importante
destacar aqui o papel do silêncio na recuperação de pacientes. Quando buscamos algo dentro de nós
mesmos, normalmente fazemos silêncio e olhamos para um ponto perdido. Antes de uma manobra
desafiadora, por exemplo, um salto perigoso, o pequeno instante de silêncio que o precede
concentra a força do indivíduo e canaliza o fluxo de sua energia. É do vazio que vem aquilo que, no
instante em que é descoberto, nos parece já conhecido há muito tempo (EL HAOULI & MANNIS,
2011). O silêncio é uma condição para fecundidade e germinação do pensamento. Em processo de
recuperação, o paciente precisa de um espaço para cultivar sua cura. Soler (2004) discute a
importância da motivação e da humanização no processo de reabilitação e cita Robbins (1999, p.
151), segundo o qual a motivação é o resultado da interação do indivíduo com a situação, podendo

53
ser definida como “o processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de
uma pessoa para o alcance de uma determinada meta”. Soler define ciclo motivacional a partir de
Chinavelato (1989) como aquele que se inicia com o aparecimento de uma necessidade (força
dinâmica e resistente que dá origem a um comportamento), que rompe o estado de equilíbrio do
organismo, gerando uma tensão, uma insatisfação ou um desconforto. A partir deste estado, o
indivíduo realiza uma ação que busca a descarga da tensão; caso esta ação tenha eficácia, o mesmo
atinge a satisfação da necessidade, fazendo com que o organismo volte ao estado de equilíbrio.
Portanto, no processo de sua recuperação, o paciente necessita equilibrar suas forças e reagir com
motivação e força de vontade rumo a seu restabelecimento. Uma das condições para isso é poder ter
momentos de silêncio. Esses serão os lugares que lhe serão abertos para que possa efetuar o
trabalho complementar ao dos profissionais da saúde para sua recuperação.
Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo
silêncio e eis que a verdade se me revela (EINSTEIN, S.d.)

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55
 

SESSÃO 02-A

56
PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE CÂMARAS DE ENSAIO ACÚSTICO
DE ESQUADRIAS

DE GODOY, Marcelo1; MORAES, Edison C.2


(1) Modal Acústica; (2) Atenua Som

RESUMO
Este artigo descreve o desenvolvimento, a construção e a calibração das câmaras de ensaio acústico de
esquadrias instaladas na fábrica da Atenua Som. As câmaras foram implementadas como resposta à
demanda do mercado brasileiro de portas e janelas, que, incentivado por vários fatores, com destaque para a
iminente publicação da NBR 15.575, pede que se desenvolva e quantifique o isolamento sonoro dos
produtos. Assim, as câmaras de ensaio acústico de esquadrias foram capacitadas para realizar ensaios de
isolamento sonoro conforme a ISO 140-4:1998, fornecendo resultados comparáveis aos de laboratórios
credenciados regidos pela ISO 140-3:1995, ainda que com menor precisão (método de engenharia). Além
disso, são oferecidos o conhecimento, o pessoal e as ferramentas especializadas para que uma série de
variáveis das amostras seja testada, visando à sua otimização de acordo com as prioridades do cliente. Desse
modo, componentes como composições de vidros (simples, insulados, laminados etc.), fechos e acessórios,
escovas e borrachas de vedação, roldanas e rolamentos, preenchimento de perfis (areia, lã de rocha em
flocos, massa de vidraceiro, retalhos de borracha etc.), entre outros, podem ser rapidamente intercambiados
durante a série de ensaios, gerando dados fundamentais para o desenvolvimento e a otimização dos produtos
ensaiados.
Palavras-chave: Isolamento sonoro. Ensaio. Esquadrias.

ABSTRACT
This article describes the development, construction, and calibration of acoustic test chambers for door and
window frames installed at Atenua Som's factory. The chambers were implemented in response to the
market demand for doors and windows which, encouraged by several factors, especially the imminent
publication of ISO 15575, requires to develop and measure the sound insulation of the products.Thus, the
acoustic test chambers for door and window frames were enabled to carry out sound insulation testing
according to ISO 140-4:1998, providing results comparable to those of accredited laboratories covered by
ISO 140-3:1995, yet with lower accuracy (engineering method). Moreover, the knowledge, personnel and
specialized tools for a number of variables of the samples to be tested are offered, aiming at their
optimization according to the customer priorities.Thus, components such as glass compositions (single,
insulated, laminated, etc.), fasteners and accessories, brushes and rubber seals, pulleys and bearings, profile
filling (sand, rock wool flakes, putty, pieces of rubber, etc.), among others, can be quickly exchanged during
the test series, generating key data for the development and optimization of the tested products.
Palavras-chave: Sound insulation. Test. Doors and windows.

1. INTRODUÇÃO
A acústica tem obtido crescente relevância no mercado da construção brasileira nos últimos anos.
Fatores como o bom momento econômico do país, a oferta de crédito imobiliário, o
desenvolvimento da norma NBR 15.575 (“Edificações habitacionais de até cinco pavimentos -
Desempenho”, ainda não publicada), a disseminação de selos de certificação, como o LEED e o
AQUA, e a criação da ProAcústica (Associação Brasileira para a Qualidade Acústica) têm trazido
ao mercado e aos consumidores a consciência da importância do desempenho acústico nas
edificações, sejam elas comerciais ou residenciais.

57
A NBR 15.575 tem um papel especial neste cenário, mesmo que ainda não tenha sido publicada.
Pela primeira vez no país, uma norma técnica definirá classificações de produtos imobiliários
baseadas no desempenho acústico (entre outras categorias de desempenho) de seus materiais e
elementos construtivos. Ainda que nominalmente se restrinja a edifícios residenciais de até cinco
pavimentos, será uma referência concreta para todos os demais tipos de edificação residencial.
Como consequência, fabricantes, construtoras, projetistas e consumidores foram levados a se
perguntar: qual o desempenho acústico desse produto?

Isso leva imediatamente à demanda por ensaios laboratoriais e avaliações in loco quanto ao
desempenho acústico de materiais, elementos e sistemas construtivos disponíveis no mercado. Se
por um lado esta demanda incentiva à capacitação de consultores e laboratórios de acústica, por
outro traz à tona a escassez de estrutura laboratorial para determinados ensaios. Poucos são os
laboratórios credenciados para ensaios acústicos no país, e diversos tipos de ensaios acústicos não
podem ser realizados no Brasil por falta de laboratórios capacitados.

As câmaras de ensaio acústico de esquadrias da Atenua Som nasceram da necessidade de respostas


rápidas à demanda do mercado. Instaladas no interior da fábrica, as câmaras estão preparadas para
fornecer o ensaio de portas e janelas de acordo com a ISO 140-4:1998, gerando resultados
comparáveis aos de laboratórios de ensaio regidos pela norma ISO 140-3:1995.

Contudo, seu objetivo vai além da capacidade de oferecer ensaios de isolamento sonoro de
qualidade. Por situarem-se no interior de uma fábrica de esquadrias, contam com o apoio de
conhecimento, pessoal e ferramentas especializadas para auxiliar no desenvolvimento dos produtos
ensaiados, propiciando que uma série de variáveis sejam testadas, visando a sua otimização de
acordo com as prioridades do cliente.

Desse modo, fatores como composições de vidros (simples, insulados, laminados etc.), fechos e
acessórios, escovas e borrachas de vedação, roldanas e rolamentos, preenchimento de perfis (areia,
lã de rocha em flocos, massa de vidraceiro, retalhos de borracha etc.), entre outros, podem ser
rapidamente intercambiados durante a série de ensaios, gerando dados fundamentais para o
desenvolvimento e a otimização do produto ensaiado. Este artigo descreve o desenvolvimento, a
construção e a calibração das câmaras de ensaio acústico de esquadrias da Atenua Som.

2. IMPLEMENTAÇÃO
O projeto e a construção das câmaras de ensaio acústico de esquadrias, descritos adiante, visam à
obtenção das melhores condições possíveis para os ensaios, cujo objetivo é produzir resultados
comparáveis aos de laboratórios de ensaio regidos pela norma ISO 140-3:1995.

A norma definida para o procedimento dos ensaios nas câmaras de teste de esquadrias é a ISO 140-
4:1998, a qual é destinada primordialmente ao teste in loco de isolamento sonoro entre ambientes.
Tal norma foi adotada por apresentar um método completo e criterioso para o teste, podendo, em
condições ideais, apresentar resultados comparáveis aos de ensaios obtidos em laboratórios com
métodos e instalações determinadas pela ISO 140-3:1995.

As câmaras foram projetadas e construídas para que as condições gerais de ensaio fossem muito
mais favoráveis à obtenção de resultados confiáveis do que as geralmente encontradas em ambientes
in loco. Desse modo, a geometria, a resposta acústica interna e o isolamento acústico das câmaras
foram otimizados, frente às características e às limitações das instalações disponíveis, para que os
resultados dos ensaios refletissem o isolamento acústico das amostras (portas e janelas) com a
melhor qualidade possível.

58
2.1. Procedimentos e critérios normativos
O ensaio de isolamento acústico entre dois ambientes contíguos (denominados de emissão e
recepção, separados por um elemento divisório - geralmente uma parede) consiste basicamente na
geração de um sinal acústico de banda larga em um dos ambientes (emissão), e na medição dos
níveis de ruído resultantes em ambos os ambientes (emissão e recepção), filtrados por faixas de
frequência. A diferença entre os níveis de ruído nos dois ambientes define o isolamento acústico
entre ambos. Um ajuste na equação é feito em função das características acústicas internas do
ambiente de recepção (reverberação e ruído de fundo), do volume do ambiente de recepção e da área
do elemento divisório testado.

A norma ISO 140-4:1998 apresenta as seguintes definições de grandezas, por faixas de frequência
de terço de oitava (entre colchetes, as respectivas unidades):

 Nível médio de pressão sonora no ambiente de emissão: L1 [dB].


 Nível médio de pressão sonora no ambiente de recepção: L2 [dB].
 Diferença de níveis: D = L1 - L2 [dB].
 Tempo de reverberação médio do ambiente de recepção = T [s].
 Volume do ambiente de recepção = V [m3].
 Área equivalente de absorção no ambiente de recepção: A = 0,16T/V [m2].
 Área da amostra: S [m2].
 Índice de redução sonora aparente: R' = D + 10 log (S/A) [dB].

A área equivalente de absorção sonora no ambiente de recepção A caracteriza a resposta acústica


interna do ambiente de recepção. O índice de redução sonora aparente R' representa o isolamento
acústico da partição, e em situações ideais pode ser comparável ao índice de redução sonora R
obtido em um laboratório regido pela ISO 140-3:1995. Também pode ser calculado o valor único
R'w, ou índice de redução sonora aparente ponderado, obtido conforme o procedimento descrito na
norma ISO 717-1:1996.

Para a correta determinação do índice de redução sonora aparente R', o método de ensaio
apresentado na ISO 140-4:1998 exige que a transmissão sonora indireta (flanking transmission) seja
desprezível, ou seja, que a transmissão sonora entre os ambientes de emissão e recepção seja
realizada primordialmente pelo elemento divisório entre os ambientes. Neste caso, em que a
amostra a ser testada é uma esquadria instalada na parede entre as câmaras, é exigido que o índice
de redução sonora R da parede seja pelo menos 10dB superior ao da esquadria em todas as faixas de
frequência avaliadas, para que o resultado obtido no teste reflita apenas o desempenho da esquadria.

As medições acústicas devem ser realizadas por medidores de níveis de ruído ou analisadores
acústicos tipo 0 ou 1, de acordo com as normas IEC 60651:1979, dotado de filtros de faixas de
frequência conforme a norma IEC61260:1995. Para a realização das medições, o sistema deve ser
calibrado utilizando-se de um calibrador acústico definido de acordo com a norma IEC60942:1988.
As medições dos tempos de reverberação deverão ser realizadas por equipamentos definidos na
norma ISO 354:2003.

O sinal acústico utilizado nas medições deve ser estável e deve apresentar um espectro contínuo nas
faixas de frequências avaliadas; o nível gerado deve garantir que as medições do ruído transmitido
ao ambiente de recepção sejam pelo menos 10dB superiores ao ruído de fundo em todas as faixas de
frequência avaliadas. Para salas pequenas, como no presente caso, é recomendado que a fonte
sonora seja posicionada nos cantos da sala.

59
As medições dos níveis de pressão sonora devem ser realizadas de modo a obter-se uma média
temporal e espacial do ruído em cada ambiente. Assim, a ISO 140-4:1998 determina que sejam
adotados pelo menos 5 pontos fixos de medição em cada sala, e 2 pontos de fonte sonora. Desse
modo, cada ambiente terá o mínimo de 10 medições de níveis equivalentes de pressão sonora, das
quais deve ser calculada a média energética, conforme a Equação 1.

[Eq.1]

Na equação observada, Lj são os níveis equivalentes de pressão sonora L1 a Ln medidos em cada


combinação de ponto de medição/posição de fonte sonora.

As medições em cada ponto fixo de microfone devem ter a duração mínima de 6 s, e devem ser
filtradas por faixas de frequência de 1/3 de oitava de 100 a 3.150 Hz. No caso de se desejar obter
resultados comparáveis aos de ensaios de laboratórios regidos pela ISO 140-3:1995, as faixas de
frequência de 4.000 e 5.000 Hz também devem ser empregadas. Para as medições do ruído de fundo
no ambiente de recepção, pode-se adotar apenas um ponto de microfone.

As medições dos tempos de reverberação no ambiente de recepção devem ser realizadas em pelo
menos três pontos de medição, utilizando-se no mínimo uma posição de fonte sonora, e, em cada
ponto, ao menos dois decaimentos devem ser registrados. O valor do tempo de reverberação T deve
ser a média dos tempos de reverberação medidos em cada ponto, para cada faixa de frequências.

2.2. Construção das câmaras


As câmaras de ensaio foram construídas em uma sala previamente utilizada como depósito no
galpão da fábrica da Atenua Som, com 11,10 m de comprimento e 2,52 m de largura. A cobertura
original era feita com as telhas metálicas do galpão, visto que a sala se encontra em um mezanino. O
espaço original sofria a interferência de pilares e vigas estruturais do galpão, que não podiam ser
alterados.

Após a análise do local disponível e das exigências práticas e normativas do projeto, optou-se por
dividir a sala original em três câmaras com aproximadamente 3,34 m de comprimento cada, sendo
duas câmaras de emissão, localizadas nas extremidades, e uma câmara central de recepção, disposta
entre as outras duas. Uma das câmaras de emissão seria utilizada exclusivamente para janelas; a
outra, exclusivamente para portas. Isso evita em grande parte a utilização de alvenaria para o ajuste
dos vãos de instalação das amostras, tornando mais ágil sua instalação e desmonte.

Para a adequação do isolamento acústico das câmaras, foi construída sob as telhas originais uma laje
inclinada em concreto, no intuito de se evitar o paralelismo e, consequentemente, campos acústicos
com modos pronunciados. Cada uma das câmaras possui uma abertura quadrada na laje para
iluminação e ventilação, formando uma claraboia fechada com um caixilho acústico basculante com
vidro insulado. As paredes laterais originais foram reformadas, e os vitrôs originais, removidos e
substituídos por caixilhos fixos com vidro insulado, propiciando boa visibilidade e isolamento
acústico compatível com o da alvenaria. Em cada câmara foi instalada uma porta acústica em
alumínio e vidro insulado.

As paredes de divisão entre as câmaras foram construídas em alvenaria com 0,50 m de espessura,
ancoradas nos pilares de concreto originais. Tal configuração busca propiciar um alto isolamento
acústico entre as câmaras, e a ligação com os pilares auxilia na redução de transmissões indiretas.
Além disso, faz com que o isolamento acústico das paredes de divisão seja muito superior ao das

60
amostras ensaiadas, garantindo que os índices de redução sonora aparentes R' representem o
desempenho das esquadrias.

A parede entre a câmara de emissão 1 e a câmara de recepção conta com um vão de 1,20 × 1,20 m,
destinada à instalação de janelas, e a parede entre a câmara de emissão 2 e a câmara de recepção
conta com um vão de 2,00 × 1,20 m, destinada à instalação de portas. Os vãos são definidos com
caibros de madeira maciça embutidos na alvenaria, o que facilita a instalação. Os caibros serão
substituídos quando estiverem desgastados ou danificados.

3. RESULTADOS
A seguir são apresentados os resultados da calibração das câmaras de teste e do ensaio de uma
amostra de referência, cuja configuração já foi ensaiada em um laboratório credenciado regido pela
ISO 140-3:1995.

A calibração das câmaras de teste consiste na avaliação e no ajuste de seus campos acústicos
internos, no intuito de se adequarem às exigências da ISO 140-4:1998, proporcionando, assim, as
melhores condições possíveis para os ensaios.

3.1 Calibração das câmaras


Depois de concluída a obra civil das câmaras de teste de esquadrias, foi iniciada uma série de
medições acústicas para a caracterização do campo acústico interno aos ambientes de emissão e
recepção, no intuito de detectar problemas e de avaliar a adequação às exigências normativas.
Conforme as exigências do item 6.3 da ISO 140-4:1998, foram definidos cinco pontos de medição
em cada câmara, respeitando-se as distâncias mínimas exigidas. Em cada câmara também foram
definidas duas posições de fonte sonora, junto aos cantos inferiores, conforme permite o item A.2 da
ISO 140-4:1998.

Inicialmente, foram medidos os tempos de reverberação por faixa de frequência de terço de oitava
nos três ambientes, para cada ponto de medição, e para cada posição de fonte sonora, gerando-se,
portanto, dez medições para cada câmara. As medições foram realizadas pelo método de resposta
impulsiva integrada, com o software Room EQ Wizard, utilizando varredura de seno como sinal
determinístico.

Os resultados apresentaram elevados tempos de reverberação com fortes componentes modais,


resultando em grandes variações nos valores medidos abaixo de 400 Hz. Em alguns pontos, as
medições simplesmente não puderam ser realizadas devido às fortes ressonâncias no sistema de
áudio causadas pelos modos acústicos das salas. A Figura 1 apresenta o espectrograma e o gráfico
com os resultados dos tempos de reverberação medidos em um dos pontos de medição da câmara de
emissão 1, demonstrando a influência modal, os elevados tempos de reverberação e o alto desvio
entre os valores obtidos.

Definiu-se, então, que as câmaras seriam tratadas acusticamente. Visto que as dimensões das
câmaras não são propícias para a geração de campos reverberantes, optou-se por seguir a
padronização do tempo de reverberação em 0,5 s, adotado como referência no item 3.4 da ISO 140-
4:1998 por ser típico de ambientes mobiliados. Desse modo, foram instalados absorvedores
acústicos de banda larga cuidadosamente posicionados em cada câmara.

As medições dos tempos de reverberação foram então realizadas novamente, nas mesmas condições
anteriores. A Figura 2 apresenta o espectrograma e os tempos de reverberação medidos no mesmo
ponto de medição da câmara de emissão 1 representado anteriormente. É possível notar a menor
duração e a maior uniformidade dos decaimentos, assim como adequação dos tempos de
reverberação à referência estabelecida, o reduzido desvio nas baixas frequências.
61
Figura 1: Espectrograma e tempos de reverberação - sala não tratada

Figura 2: Espectrograma e tempos de reverberação - sala tratada

3.2 Resultados do ensaio


Concluída a calibração das câmaras, foi determinada uma amostra de referência para a avaliação do
sistema com base no resultado de um ensaio realizado conforme a ISO 140-3:1995. A amostra de
referência, um caixilho de correr de duas folhas em perfis de alumínio e panos de vidro insulado (4
mm + 9 mm ar + 4 mm), com dimensões de 1,20 × 1,00 m, havia sido ensaiada no Laboratório de
Conforto Ambiental do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT),
conforme o Relatório de Ensaio n. 905.093, datado de 23/10/2003. O Laboratório de Conforto
Ambiental do IPT é a principal referência brasileira no ensaio de isolamento sonoro, segundo a ISO
140-3:1995.

A amostra de utilizada no ensaio de teste das câmaras não foi a mesma ensaiada no IPT, porém foi
construída seguindo exatamente as mesmas especificações e componentes, com a única diferença
nas dimensões: 1,20 × 1,20 m. As dimensões da amostra original não puderam ser reproduzidas
devido à restrição das dimensões do vão de instalação de janelas aos valores mencionados.

O ensaio foi realizado seguindo-se os procedimentos da ISO 140-4:1998 descritos anteriormente. A


Figura 3 apresenta o gráfico e a tabela com os valores de R' da amostra de referência, medidos nas
câmaras de teste de esquadrias, assim como os valores de R, da amostra ensaiada pelo IPT. Também
apresenta os valores do índice de redução sonora aparente ponderado, R'w, e do índice de redução
62
sonora ponderado, Rw, incluindo os coeficientes de adaptação de espectro C e Ctr, calculados de
acordo com a ISO 717-1:1996.

R'w (C;Ctr) = 32(-1; -4) Rw (C;Ctr) = 31(0;-3)

Figura 3: Comparação entre os resultados

4. CONCLUSÕES
Os resultados do ensaio da amostra de referência e sua comparação com os resultados obtidos pelo
IPT podem ser considerados plenamente satisfatórios para o objetivo das câmaras de ensaio acústico
de esquadrias da Atenua Som. A diferença de 1 dB entre o R'w e o Rw refletem a proximidade dos
resultados confirmados pela equivalência dos valores quando somados aos coeficientes de
adaptação de espectro C e Ctr. É importante ressaltar que ensaios acústicos de isolamento sonoro
embutem uma variabilidade intrínseca em seus resultados, podendo até mesmo gerar valores
diferentes quando ensaiados duas vezes em um mesmo laboratório, sob as mesmas condições.
Logicamente o método de precisão de um laboratório certificado para ensaios pela ISO 140-3:1995
apresenta menor variabilidade do que o método de engenharia descrito na ISO 140-4:1998.

Outro fator a ser considerado na análise dos resultados é a diferença entre as amostras ensaiadas na
Atenua Som e no IPT. Por mais que a amostra de referência ensaiada na Atenua Som tivesse sido
construída, reproduzindo-se as configurações da janela testada no IPT, as dimensões originais não
puderam ser repetidas. Deste modo, a amostra de referência, com 0,24 m2 de área a mais do que a
janela originalmente ensaiada no IPT, potencialmente influindo sobre a diferença entre os
resultados. Espera-se que futuramente novos ensaios comparativos possam ser realizados,
reproduzindo-se mais fielmente as amostras ensaiadas no IPT, cujo laboratório foi assumido como
referência.

Finalmente, deve-se enfatizar que o objetivo das câmaras de ensaio acústico de esquadrias da
Atenua Som não é gerar resultados com as mesmas precisão e confiabilidade de um laboratório de
acústica regido pela ISO 140-3:1995, pois está claro que as características de suas instalações não o
permitem. As câmaras foram construídas para se gerar o melhor resultado de ensaio possível com
um método de engenharia, comparável ao de um laboratório certificado (ainda que com menor
precisão), e oferecer ao mercado uma estrutura especializada para auxiliar no desenvolvimento de
produtos, gerando respostas rápidas a um mercado em expansão.
63
REFERÊNCIAS
1. IEC 60.651 - “Sound level meters”. INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION. Genebra, 1979.
2. IEC 60.804 - “Integrating-averaging sound level meters”. INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL
COMMISSION. Genebra, 1985.
3. IEC 60.942 - “Sound calibrators”. INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION. Genebra, 1988.
4. IEC 61.260 - “Electroacoustics - Octave band filters and fractional-octave band filters”. INTERNATIONAL
ELECTROTECHNICAL COMMISSION. Genebra, 1995.
5. ISO 140-3:1995 - “Acoustics - Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part 3:
Laboratory measurements of airborne sound insulation of building elements”. INTERNATIONAL ORGANISATION
FOR STANDARDISATION. Genebra, 1995.
6. ISO 140-4 - “Acoustics - Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part 4: Field
measurements of airborne sound insulation between rooms”. INTERNATIONAL ORGANISATION FOR
STANDARDISATION. Genebra, 1998.
7. ISO 354 - “Acoustics - Measurement of sound absorption in a reverberation room”. INTERNATIONAL
ORGANISATION FOR STANDARDISATION. Genebra, 2003.
8. ISO 717-1 - “Acoustics - Rating of sound insulation in buildings and of building elements - Part 1: Airborne sound
insulation”.
9. Relatório de Ensaio Nº 905.093 - INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO
PAULO (IPT). São Paulo, 2003.

64
MEDIÇÕES DE ISOLAMENTO SONORO DE FACHADAS COM O
MÉTODO DA FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA

MICHALSKI, Ranny L. X. N.1; MUSAFIR, Ricardo E.2.


(1) COPPE/UFRJ; (2) COPPE/UFRJ.

RESUMO
O conjunto de normas brasileiras de desempenho de edifícios de até cinco pavimentos,
ABNT NBR 15575, traz uma demanda por medições de isolamento sonoro em campo. Estas serão
realizadas por diferentes profissionais e seus resultados serão comparados não somente com os valores
dos níveis de desempenho acústico mínimo, intermediário e superior estabelecidos nas normas como
também com resultados obtidos por outros profissionais. Para que seja possível uma comparação entre
resultados de medições, estes devem ser expressos com suas respectivas incertezas. O artigo apresenta os
resultados obtidos para medições em campo de isolamento sonoro aéreo global de quatro fachadas, com
alto-falante como fonte sonora e sob condições de repetitividade. O objetivo é estimar a incerteza das
medições realizadas com o método da função de transferência. O mensurando escolhido para análise dos
resultados e estimativa da incerteza foi a diferença padronizada de nível das fachadas, Dls,2m,nT, obtido
pelo método global, pois é o parâmetro considerado nas normas de desempenho brasileiras para medições
em campo de isolamento sonoro aéreo de fachadas.

ABSTRACT
The Brazilian performance standard of buildings up to five floors, ABNT NBR 15575, brings a demand
for field measurements of sound insulation. These will be carried through by different professionals and
their results will be compared not only with the minimum, intermediate and superior values established in
the standards for acoustic performance levels as well as with results obtained by other professionals. In
order to make a possible comparison between measurement results, these must be expressed with their
respective uncertainties. The article presents the results obtained for field measurements of airborne
sound insulation of four façades, with loudspeaker used as sound source, under repeatability conditions.
The objective is to evaluate the uncertainty of the transfer function method measurements. The chosen
measurand for the result analysis and the uncertainty evaluation was the standardized level difference of
façades, Dls,2m,nT, measured for the global method, because it is the considered parameter in the Brazilian
performance standard for field measurements of airborne sound insulation.
Palavras-chave: Acústica de Edificações. Incerteza. Isolamento Sonoro de Fachadas.

1. INTRODUÇÃO
Diante do conjunto de normas brasileiras de desempenho de edifícios de até cinco pavimentos,
ABNT NBR 15575, surge uma demanda por medições de isolamento sonoro em campo. Estas
serão realizadas por diferentes profissionais e seus resultados serão comparados não somente
com os valores dos níveis de desempenho acústico mínimo, intermediário e superior
estabelecidos nas normas como também com resultados obtidos por outros profissionais. Apesar
de ainda não ser prática comum em acústica de edificações, para que uma comparação entre
resultados de medições seja possível, estes devem ser expressos com suas respectivas incertezas.

O presente artigo é resultado de uma tese de doutorado (MICHALSKI, 2011) que consistiu em
estabelecer uma metodologia para a estimativa da incerteza dos resultados de conjuntos de
medições independentes de isolamento sonoro aéreo em campo. A seguir serão apresentados os
65
resultados obtidos para medições em campo de isolamento sonoro aéreo global de fachadas, com
o objetivo de estimar a incerteza das medições.

2. ISOLAMENTO SONORO AÉREO DE FACHADAS


A parte 5 da norma ISO 140 descreve dois métodos para medições em campo de parâmetros de
isolamento sonoro aéreo de elementos de fachadas e de fachadas completas, respectivamente
chamados métodos de elemento e métodos globais. Ambos podem usar como fonte sonora ou um
alto-falante ou o ruído de tráfego disponível, que pode ser rodoviário, ferroviário ou aéreo.
Portanto, há quatro alternativas possíveis de medição para cada método.

O método global com alto-falante como fonte sonora é útil quando, por diferentes razões
práticas, a fonte de ruído real não pode ser usada. O método quantifica o isolamento sonoro
aéreo de uma fachada completa ou mesmo de uma edificação completa numa situação específica
relativa a uma posição 2 m em frente à fachada. Entretanto, seu resultado não pode ser
comparado com o de medições em laboratório.

O princípio de medição de isolamento sonoro aéreo de fachadas com ruído de alto-falante


consiste em colocar o alto-falante em uma ou mais posições do lado de fora da edificação a uma
distância d da fachada, com ângulo de incidência sonora igual a (45  5)°. Para o método global,
o nível de pressão sonora médio do lado de fora é medido com o microfone a 2 m em frente à
fachada, no meio da fachada, a uma altura de 1,5 m acima do nível do chão da sala receptora. A
distância r entre a fonte sonora e o centro da fachada deve ser no mínimo 7 m (d  5 m). A Fig. 1
ilustra uma medição desse tipo.

1,5 m acima do
chão da sala
receptora e no
r meio da fachada
h

microfone 1,5 m
alto-falante
2 m ± 0,2 m
45º ± 5º
d

Figura 1: Medição de isolamento sonoro aéreo de fachada com alto-falante.


Fonte: MICHALSKI, 2011.

Os parâmetros medidos são a diferença padronizada de nível Dls,2m,nT ou a diferença normalizada


de nível Dls,2m,n, expressos em dB para cada banda de frequência. A primeira equivale à diferença
de nível correspondente a um valor de referência do tempo de reverberação na sala receptora
(T0 = 0,5 s), Eq. 01, e a segunda equivale à diferença de nível correspondente a uma área de
absorção de referência na sala receptora (A0 = 10 m2), Eq. 02,

T   A
Dls ,2 m,nT  Dls ,2 m  10 log   [Eq. 01] , Dls ,2 m,n  Dls ,2 m  10 log   , [Eq. 02]
 T0   A0 

66
onde T é tempo de reverberação na sala receptora, A é a área de absorção sonora equivalente na
sala receptora, e Dls,2m é a diferença entre o nível de pressão sonora médio do lado de fora a 2 m
da fachada L1,2m, e o nível de pressão sonora médio na sala receptora L2, nas bandas
consideradas:

Dls ,2 m  L1,2 m  L2 . [Eq. 03]

Com relação à precisão das medições, a norma ISO 140-5 informa que requisitos numéricos para
repetitividade são dados na ISO 140-2 e cita que o procedimento de medição “deve dar
repetitividade satisfatória, determinada de acordo com o método dado na ISO 140 parte 2 e que
deve ser verificado de tempos em tempos, particularmente quando uma mudança é feita no
procedimento ou instrumentação”.

3. MEDIÇÕES REALIZADAS
No total, quatro fachadas diferentes de edificações localizadas no campus de laboratórios de
metrologia do Inmetro, em Xerém, no Rio de Janeiro, foram escolhidas para as medições e
vários conjuntos de medições foram efetuados de forma a possibilitar a validação dos resultados
e a estimativa das incertezas. Detalhes dos locais estão listados na Tabela 1 e as Figuras 2 e 3
mostram as medições de isolamento sonoro das fachadas em cada local.

Tabela 1: Ambientes de teste e detalhes das dimensões.


Local Local das medições realizadas Apiso sala receptora Vsala receptora Sfachada
1 Fachada de uma edificação de um pavimento. 25 m2 64 m3 13 m2
2 Fachada de uma edificação de um pavimento, Sala 01. 13 m2 33 m3 8 m2
3 Fachada de uma edificação de um pavimento, Sala 02. 13 m2 33 m3 8 m2
4 Fachada de uma edificação de um pavimento, Sala 00. 49 m2 126 m3 21 m2

Local 1 Local 2
Figura 2: Medições de isolamento sonoro global de fachadas com alto-falante nos locais 1 e 2.

Local 3 Local 4
Figura 3: Medições de isolamento sonoro global de fachadas com alto-falante nos locais 3 e 4.

67
A fachada do local 1 é de concreto e contém uma parte de vidro, que não é uma janela. Os locais
2, 3 e 4 são salas diferentes de uma mesma edificação disponível para as medições. As fachadas
são de concreto e cada uma possui uma janela de correr de 2,5 m x 1,2 m. As salas receptoras
dos locais 2 e 3 possuem estantes dispostas de maneiras diferentes dentro de cada sala. A sala
receptora do local 4 possui uma maior área de piso e em formato de “L”, onde havia móveis de
escritório (mesas, cadeiras e alguns armários). A fachada do local 4, além da janela, também
possui uma porta de madeira e vidro de 0,8 m x 2,1 m.

Inicialmente, foi medido o isolamento sonoro aéreo global em campo da fachada do local 1,
usando um alto-falante como fonte sonora, tanto com o método clássico, de acordo com a
ISO 140-5, como com o método da função de transferência, conforme a ISO 18233. O método
clássico baseia-se em medições diretas do nível de pressão sonora e utilizou ruído branco como
sinal de excitação, enquanto o método da função de transferência baseia-se em medições de
respostas impulsivas ou funções de transferência e utilizou uma varredura de senos como sinal
de excitação.

Em seguida, aumentou-se o número de medições de isolamento sonoro para as outras três


fachadas com o método da função de transferência, em condições de repetitividade, com o
objetivo de fornecer dados para a análise estatística e estimar sua incerteza de medição.

O mensurando escolhido para análise dos resultados e estimativa da incerteza foi a diferença
padronizada de nível das fachadas, Dls,2m,nT, obtido pelo método global com ruído de alto-falante,
pois é o parâmetro considerado nas normas de desempenho brasileiras para medições em campo
de isolamento sonoro aéreo de fachadas.

O isolamento sonoro global da fachada foi medido através do método com alto-falante, pois
ruído de tráfego era quase inexistente nos locais de teste.

As posições dos microfones e da fonte sonora foram escolhidas de acordo com as especificações
da norma ISO 140-5. Para medir as diferenças de nível com os dois métodos, foram usadas cinco
posições de microfone distribuídas nas salas receptoras, uma posição de microfone em frente à
fachada e uma posição de fonte sonora em frente à fachada, no total de 5 medições, exceto para o
local 4, que possui uma maior área de piso, onde 10 posições de microfone foram escolhidas na
sala receptora, no total de 10 medições.

No local de medição 1, foram realizadas apenas três medições de isolamento sonoro aéreo das
fachadas com o método clássico e, em seguida, partiu-se para as medições com o método da
função de transferência. Entretanto, durante a terceira medição de repetitividade, a construção foi
solicitada para outras atividades e deixou de estar disponível para as medições acústicas. As
medições de repetitividade não foram completadas, mas os dois métodos de medição puderam
ser comparados. Os resultados das diferenças de nível Dls,2m para o método clássico e para o
método da função de transferência estão na Fig. 4.

68
Figura 4: Comparação entre diferenças de nível obtidas pelos dois métodos de medição no local 1.

As poucas medições realizadas no local 1 dificultam a validação dos resultados e um estudo


adequado da repetitividade das mesmas; já nos outros locais (2, 3 e 4), foram feitas seis
medições completas de isolamento sonoro com o método da função de transferência, em
condições de repetitividade, de acordo com a ISO 5725.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS


A etapa seguinte às medições foi a aplicação de conceitos e testes estatísticos aos resultados a
fim de evidenciar sua confiabilidade metrológica, para então estimar sua incerteza. As incertezas
dos conjuntos de medições foram estimadas através de dois procedimentos diferentes:
propagação de incertezas, com o método do GUM (ISO/IEC GUIDE 98), e propagação de
distribuições, com o método de simulação de Monte Carlo (Suplemento 1 do ISO/IEC
GUIDE 98).

A estimativa da incerteza não é um procedimento simples: além da dificuldade de identificar


todas as fontes de incerteza relativas ao mensurando, uma metodologia para evidenciar a
confiança metrológica dos resultados deve ser aplicada antes de estimar a incerteza. Detalhes são
apresentados em MICHALSKI (2011).

Os valores ponderados de Dls,2m,nT,w, e das incertezas expandidas estimadas pelo método do GUM
e pelo método de simulação de Monte Carlo são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Dls,2m,nT,w e Uw (Dls,2m,nT), em dB, para os quatro locais de teste.


Uw (Dls,2m,nT) [dB] Uw (Dls,2m,nT) [dB]
Local Método Dls,2m,nT,w [dB]
GUM Monte Carlo
1 clássico 31 (-1; -2) - -
1 função de transferência 31 (-1; -3) - -
2 função de transferência 19 (-1; -1) 2 (0; 0) 2 (0; 0)
3 função de transferência 17 (0; -1) 3 (-1; 0) 3 (-1; 0)
4 função de transferência 22 (0; -2) 2 (-1; 0) 2 (-1; 0)

No local 1, os valores obtidos para o isolamento sonoro da fachada são iguais para os dois
métodos com uma diferença de 1 dB nos coeficientes de adaptação de espectro de ruído de
trânsito, Ctr. Os valores recomendados pela ABNT NBR 15575-4 para o nível de desempenho
acústico mínimo para D2m,nT,w de vedação externa para ensaio em campo são de 25 a 29 dB e
para o nível intermediário, de 30 a 34 dB. Nesse caso, a fachada apresenta desempenho acústico
69
considerado intermediário. Já os locais 2, 3 e 4 não atendem ao nível de desempenho mínimo
estabelecido na norma brasileira. A incerteza das medições é necessária para que essas
comparações sejam confiáveis.

A Fig. 5 apresenta as estimativas das incertezas expandidas para os locais de medição 2, 3 e 4,


em função da frequência. Nas baixas frequências, os valores da incerteza expandida são maiores,
como esperado, devido aos maiores valores dos desvios-padrão nessas frequências.

Figura 5: Incertezas expandidas de Dls,2m,nT para três locais de teste.

Durante a estimativa das incertezas, verificou-se que as variações dos campos sonoros na sala
receptora têm influência determinante na incerteza final de medição em toda a faixa de
frequência considerada. Isto é observado pelas variações dos níveis de pressão sonora na sala
receptora e pelos seus altos desvios-padrão.

Comparando as incertezas expandidas obtidas pelos dois procedimentos diferentes, propagação


de incertezas e simulação de Monte Carlo, observou-se que os valores são praticamente os
mesmos, com diferenças menores que 0,2 dB entre os dois. Nota-se também que os valores
ponderados das incertezas expandidas obtidas pelos dois procedimentos são idênticos (ver
Tabela 2).

5. CONCLUSÕES
Após a estimativa das incertezas das medições de isolamento sonoro aéreo de fachadas e diante
dos resultados avaliados, observa-se que as incertezas expandidas estão em torno de 2 dB e
sugere-se que algum valor de incerteza ou tolerância aos valores estabelecidos de desempenho
deveria ser considerado nas normas de edificações brasileiras ABNT NBR 15575.

Uma observação importante é que os resultados obtidos são para situações específicas de campo
em construções específicas; e, portanto, mais investigações poderão ser realizadas em condições
diferentes. Deve-se lembrar também que o resultado de medições com o método global e ruído
de alto-falante não pode ser comparado com o de medições em laboratório. Portanto, um
projetista ou consultor deve tomar cuidado ao utilizar dados de elementos construtivos obtidos
em laboratórios para projetar o isolamento sonoro global, devendo considerar as possíveis
diferenças entre medições em laboratório e em campo.

70
Sugere-se que os profissionais e laboratórios acústicos participem de testes de comparação com
medições de isolamento sonoro aéreo em campo a fim de comparar seus resultados com os de
outros profissionais e laboratórios. E também que profissionais venham a ser capacitados para
realizar medições de isolamento sonoro através de algum órgão competente.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Laboratório de Ensaios Acusticos (Laena) e à Divisão de Acústica
(Diavi) do Inmetro e ao suporte fornecido pela FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

REFERÊNCIAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos - Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
2. ISO 140-2: 1991, Acoustics – Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part 2:
Determination, verification and application of precision data, International Organization for Standardization,
1991.
3. ISO 140-5: 1998, Acoustics – Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part 5:
Field measurements of airborne sound insulation of façade elements and façades, International Organization
for Standardization, 1998.
4. ISO 18233: 2006, Acoustics – Application of new measurement methods in building and room acoustics,
International Organization for Standardization, 2006.
5. ISO 717-1: 1996, Acoustics – Rating of sound insulation in buildings and of building elements - Part 1:
Airborne sound insulation, International Organization for Standardization, 1996.
6. ISO 5725: 1994, Accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results, International
Organization for Standardization, 1994.
7. ISO/IEC Guide 98-3:2008, Uncertainty of measurement – Part 3: Guide to the expression of uncertainty in
measurement (GUM:1995), 2008.
8. ISO/IEC Guide 98-3 / Suppl.1: 2008, Uncertainty of measurement – Part 3: Guide to the expression of
uncertainty in measurement (GUM:1995) - Supplement 1: Propagation of distribution using the Monte Carlo
method, International Organization for Standardization, 2008.
9. MICHALSKI, R. L X. N. : 2011. Metodologias para medição de isolamento sonoro em campo e para expressão
da incerteza de medição na avaliação do desempenho acústico de edificações. Tese D. Sc. Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2011.
10. MICHALSKI, R. L. X. N. Resumo do desempenho acústico em edifícios habitacionais conforme NBR 15575.
Acústica e Vibrações. Rio de Janeiro; SOBRAC. 2010, pp. 41 (n).

71
ANÁLISE DE RUÍDO OCUPACIONAL DENTRO DE UMA SERRARIA
EM RODON DO PARÁ
DO CANTO, L. F. 1; CUSTÓDIO FILHO, S.S.2; LIMA, A. K. F.3; PIMENTEL, H.4;
MELO, G.S.V.5; SOEIRO, N.S.6
(1) Grupo de Vibrações e Acústica, FEM - UFPA (2) Grupo de Vibrações e Acústica, Programa de Educação
Tutorial, FEM – UFPA (3) Grupo de Vibrações e Acústica, FEM – UFPA (4) Grupo de Vibrações e
Acústica, FEM – UFPA (5) Grupo de Vibrações e Acústica, FEM – UFPA (6) Grupo de Vibrações e
Acústica; FEM – UFPA

Resumo
A atividade madeireira tem forte apelo na região norte, contribuindo intensamente para sua
economia. Um grande problema ligado a esta atividade é o ruído ocupacional, que prejudica não
só a saúde, mas também o desempenho dos trabalhadores. Este trabalho objetiva descrever uma
metodologia utilizada para avaliar e reduzir esse ruído. Inicialmente, estuda-se o ambiente, para
em seguida descrevê-lo e gerar um modelo no qual serão feitos os testes de redução de ruído. O
ambiente é uma serraria com diversas máquinas de corte e conformação de madeira, no interior
do estado Pará, em Rondon do Pará. A seguir são coletados dados neste ambiente, que devem ser
similares aos dados obtidos no modelo gerado computacionalmente. O programa utilizado para
as análises chama-se Odeon e trabalha com base em Acústica Geométrica/Estatística, através de
algoritmos híbridos de raios acústicos e fontes imagem para a realização de suas simulações.
Feita a avaliação, são apresentadas três soluções: enclausuramento parcial das máquinas,
aplicação de material fonoabsorvente no teto da serraria e a conjunção de ambas, bem como suas
viabilidades técnicas e econômicas.

Abstract
The logging has strong appeal in the northern region, heavily contributing to its economy. A
major problem connected with this activity is the occupational noise, which affects not only
health but also the employees performance. This paper aims to describe a methodology to
evaluate and reduce this noise. Initially, the environment is studied, then it is described and a
model in which the tests will be made to reduce noise is generated. The environment is a sawmill
with various cutting and shaping wood machines, in the state of Para in Rondon do Pará The
following data are collected in this environment, which should be similar to the model data
computationally generated. The program used for analysis is called Odeon and works based on
Geometrical Acoustics / Statistics, using hybrid algorithms and ray image acoustic sources to
conduct their simulations. Three solutions are presented: partial enclosure of machinery,
application of phonoabsorbent material on the sawmill’s roof and the combination of both, as
well as their technical and economic feasibility.

1 – Introdução
A Amazônia brasileira tem como principal atividade extrativa legal e de beneficiamento a
madeira. Em 2000, só o estado do Pará gerou renda bruta de US$1 bilhão, proporcionando vários
empregos à população nortista. Sendo assim, é de interesse público reduzir os danos causados à
saúde desses trabalhadores. Um dos riscos está relacionado à saúde auditiva: o ruído
ocupacional. O ruído ocupacional é caracterizado por ser um som desagradável e contínuo, de
alta intensidade sonora.
No interior da serraria de Rodon do Pará, o ruído ocupacional era intenso, principalmente nas
proximidades das máquinas, o que gerou interesse em relação à redução do mesmo. A mesma
técnica utilizada neste trabalho é utilizada em outras situações onde o ruído incomoda ainda
mais.

72
2 - Modelagem Acústica
2.1 - Metodos Numéricos para Modelagem Acústica
Os métodos de simulação auxiliada por computador se apresentaram nos últimos anos como a
ferramenta mais poderosa na previsão do campo acústico de ambientes, em especial aqueles
métodos baseados em raios acústicos e fonte imagem. Os métodos da fonte imagem especular e
dos raios acústicos, com diversas derivações, servem de base para a criação de algoritmos e
programas de computador. Nesse trabalho é utilizado o software Odeon, o qual funciona como
uma combinação desses dois métodos de análise. Este software possibilita a predição acústica de
uma área, gráfica e sonoramente, fornecendo importantes resultados como NPS e NPS(A), além
de analisar parâmetros baseados nas curvas de reverberação.
No primeiro método, da fonte imagem, são criadas fontes especulares virtuais a partir da
organização do ambiente, Figura 1. Este método possui baixo custo computacional, já que é
baseado em uma teoria simples, porém não é tão eficaz em salas irregulares ou com vários
objetos espalhados, sendo necessário teste de visibilidade.
O segundo é o método de raios acústicos, ou traçado de raios (Figura 2). Este é baseado na
energia emitida pela fonte, transformando-se em um número discreto de raios. A energia de cada
raio é definida como a energia emitida pela fonte dividida pelo número de raios. A velocidade de
cada raio é equivalente a velocidade do som até colidir com alguma superfície interna. Leva-se
em consideração a perda de energia provocada pela reflexão e absorção sonora. O raio viaja até
que não possua nível significativo de energia, quando inicia-se uma nova seção de raios.

Figura 1: Representação do método da fonte Figura 2: Método de traçado de raios acústicos da


imagem: fontes de primeira e segunda ordem. Fonte: fonte sonora (F) ao receptor (R). Fonte: Raynoise,
Elorza, 2005. 1993.

2.2 - Modelo Gerado


Para a construção do modelo é gerado um esboço tridimensional do ambiente e objetos de
interesse utilizando plataforma CAD ou o próprio software Odeon, sendo que as medidas e
posições no modelo devem ser o mais próximo possível do tamanho real. Então, dessa vez
obrigatoriamente no Odeon, deve-se inserir as características reais no modelo, entre elas potência
sonora das fontes de ruído, materiais das diversas superficies e etc. Então para análise são
modelados microfones virtuais que captam todas as informações transmitidas pelos raios,
possibilitando o cálculo do nível de pressão sonora em determinados pontos. Embora não se
possa afirmar que todos os raios são captados pelo microfone ou que o microfone não capta
raios de reflexões falsas, este método possui a grande vantagem de incluir superfícies curvas e
espalhamento, além de ser bastante veloz. O modelo gerado nesse trabalho é apresentado na
Figura 3.

73
Figura 3: Modelo Gerado com posições de cada microfone virtual. Fonte: Autor, 2010
3 - Medições no Ambiente Real
Para geração e validação do modelo se faz necessário a realização de medições no ambiente
estudado. Além de medidas geométricas, é necessário realizar o levantamento do nível de
pressão sonora das máquinas identificadas como fontes de ruído. Também é necessário fazer
medições de nível de pressão sonora em determinados pontos do ambiente, os mesmos dos
microfones virtuais (Figura 3).
3.1 – Medições de Nível de Pressão Sonora
O nível de pressão sonora é a medida física preferencial para caracterizar a sensação subjetiva da
intensidade dos sons, sendo a grandeza mais pertinente quando o objetivo é avaliar o perigo e a
perturbação causada por fontes de ruído no ambiente.
As medições de nível de pressão sonora foram realizadas com base na norma NBR 10151. O
medidor de nível de Pressão Sonora utilizado foi o Blue Solo (Figura 4). Esse é um analisador de
níveis sonoros da marca 01dB e está de acordo com as normas IEC 61672-1(2000), NF EN
60804 (2000), ANSI 1.4 IEC1260 (1995) CEM EN 50081-1 e 2, EN 50082-1 e 2 e RANGE DE
30-137 dB(A) CLASSE 2. Ele é um integrador de níveis sonoros em tempo real, que quando
acoplado a microcomputadores realiza a transferência de dados mediante software fornecido por
seu fabricante.

Figura 4: Medidor de nível de pressão sonora Blue Solo.


As medições são feitas nos mesmos pontos onde estão localizados os microfones virtuais, pois ao
se comparar os resultados dessas medições com os dos microfones virtuais é possível calibrar o
modelo numérico. Uma vez calibrado o modelo, pode-se prever de forma virtual os resultados de
possíveis soluções para o controle do ruído.
3.2 – Nível de Potência Sonora das Fontes de Ruído
O nível de potência sonora é uma característica intrínseca da fonte, não sendo influenciado por
características acústicas de ambientes abertos ou fechados (Bistafa, 2006; Brito, 2006; Gerges,
2000). A partir de seus dados é possível calcular o nível de pressão sonora em ambientes de
qualquer tamanho, forma e coeficiente de absorção (de suas superfícies), proporcionando
melhores condições de predição e controle da propagação do ruído no mesmo.
As medições de potência sonora das principais fontes sonoras foram realizadas através da técnica
de intensimetria e seguiram as recomendações da norma ISO 9614-1 (1993) e ISO 9614-2
(1996), utilizando a metodologia de medição por varredura.
74
Os equipamentos utilizados nestas medições estão exibidos a seguir. Foram esses: Analisador de
sinais de quatro canais Brüel & Kjaer, tipo 3560C – Pulse (Figura 5), Medidor de nível de
pressão sonora Brüel & Kjaer, tipo 2238 – Mediator(Figura 6), Sonda de Intensidade Sonora
Brüel & Kjaer, tipo 3595 (Figura 7), Calibrador da Sonda de Intensidade Sonora Brüel & Kjaer,
tipo 4297 (Figura 8).

Figura 5: Analisador de sinais de quatro canais Brüel Figura 6: Medidor de nível de pressão sonora Brüel
& Kjaer, tipo 3560C – Pulse & Kjaer, tipo 2238 -Mediator

Figura 7: Sonda de Intensidade Sonora Brüel & Figura 8: Calibrador da Sonda de Intensidade Sonora
Kjaer, tipo 3595 Brüel & Kjaer, tipo 429

4 – Comparação entre Resultados Virtuais e Reais: A Validação do Modelo


Virtual
O modelo virtual é considerado validado quando os resultados obtidos neste são muito próximos
dos resultados obtidos experimentalmente, ou seja, com diferença de até 3dB(A) (diferença de
nível de pressão sonora considerada perceptível). A partir de, então, podemos afirmar que todos
os fenômenos e alterações que se passarem no modelo virtual, se passará na realidade.
O mapa acústico das medições feitas no local de estudo está exposto na figura 9.

Figura 9: Mapa acústico gerado a partir dos dados experimentais. A escala vertical e horizontal representa a posição
em metros na planta baixa do galpão, enquanto que a escala de cores representa o NPS em dBA. Fonte: Autor, 2010

75
As medições feitas no local experimentalmente estão representados na figura 10 pelo símbolo
“X”, em azul e as medições feitas computacionalmente são apresentadas como retângulos
vermelhos. Podemos notar a proximidade entre os dois modelos a partir desta imagem, onde em
poucos pontos de medição a diferença entre o modelo experimental e o virtual ultrapassa
3dB(A).

Figura 10: Comparação de NPS (dBA) em função do ponto de medição da serraria: modelo real ( ) e modelo
numérico validado ( ). Fonte: o autor.

5 – Análise de Possíveis Soluções para o controle de Ruído

5.1 – Controle de Ruído


Com o objetivo de minimizar o ruído de um ambiente, de modo que ele entre em acordo com as
normas brasileiras e não prejudique a saúde dos trabalhadores do local, é feito o controle de
ruído.
É preciso que saibamos que o controle de ruído pode ser realizado de três formas: controle na
fonte, sobre a trajetória e no receptor.
5.1.1 – Controle de ruído na fonte:
O controle de ruído na fonte, normalmente, é feito na fase de projeto da máquina, mas também
podemos observá-lo como propostas de melhoria. Esse controle pode ser feito com uma
identificação de onde ocorrem as variações bruscas de velocidade e assim reduzir efeitos de
impacto nessas regiões ou através da análise da transferência de energia entre meios (sólido-
sólido, fluido-sólido e fluido-fluido). Pode-se, ainda, impedir que a energia de impactos de certos
elementos se transmita para outros através do isolamento de vibrações, barreiras que impeçam a
propagação livre da energia ou a inserção de juntas de atrito que dissipem a energia.
5.1.2 – Controle de ruído na trajetória: O controle de ruído na trajetória de transmissão é o
mais comum, já que raramente há preocupação com controle de ruído na fase de projeto das
máquinas. Existem várias técnicas para fazê-lo como: aumento da distância entre receptor e a
fonte, isolamento das máquinas por enclausuramento total ou parcial, tratamento das superfícies
do ambiente com material fonoabsorvente e segregação das áreas barulhentas por meio de
divisórias.
No caso da serraria, as opções de aumento da distância ou segregação de áreas não se aplicam já
que o ambiente não é espaçoso o suficiente para tal. Sendo assim as melhores soluções são o
isolamento das máquinas e a adição de material fonoabsorvente no ambiente. O tipo mais

76
utilizado de controle de ruído na trajetória é o enclausuramento e, em geral, possui resultados
bem satisfatórios.
O enclausuramento é feito envolvendo a máquina, de preferência totalmente, deixando o menor
espaço e número de frestas possível.
No caso da serraria, porém, foi necessária a utilização de enclausuramento parcial, uma vez que
era necessária abertura no espaço onde a madeira a ser cortada passa. Esse método diminui
significativamente a atenuação do ruído e causa redução maior do ruído nas partes protegidas
pela clausura. Outro fato que pode reduzir a eficácia de uma clausura são as frestas,
principalmente quando estas se encontram entre paredes ortogonais.

É importante observar que não deve haver conexões rígidas entre a máquina e a clausura para
diminuir ao máximo a vibração. Considerando que a máquina já está construída e não é possível
movê-la para cima de um isolador de vibração, deve-se construir a clausura sobre isoladores.
Do ponto de vista financeiro a clausura deve ser o mais justa possível, com uma distância
aproximada de 0,5m das principais superfícies da máquina. Essa preocupação, porém, pode gerar
ressonância, sendo um empecilho na atenuação do ruído. Para solucionar esse problema devemos
inicialmente avaliar se o ruído gerado pela máquina é de alta ou baixa freqüência. Se for de baixa
freqüência, a clausura deve ser rígida e bem amortecida. Se a freqüência for alta,a clausura deve
ser pesada, não rígida e altamente absorvente internamente.
O uso do material fonoabsorvente só pôde ser aplicado no teto da serraria, pois o ambiente era
aberto em todos os lados. Em geral, o material utilizado é do tipo de espuma de poliretano.

5.1.3- Controle de ruído no receptor:


Segundo a NR-6, relativa à segurança no trabalho, o uso de protetores auriculares é
indispensável no caso de trabalhos realizados em locais em que o nível de ruído é superior ao
estabelecido pela NR-15.
Os protetores auriculares podem ser de dois tipos: externos ou internos, sendo os estes moldáveis
ou moldados.
Os protetores internos são chamados de tampões ou plugs, são pequenos e fáceis de transportar,
além de serem confortáveis para uso prolongado em áreas quentes e úmidas. Contudo é
importante o monitoramento do uso dos EPIs e este tipo é de difícil de visualizar, tal como de
utilização correta complicada. Além disso, requer maior higiene e está diretamente ligado a
irritações no conduto auditivo externo.
Os tampões moldáveis costumam ser de espuma de expansão retardada, ou seja, se adaptam ao
formato do conduto auditivo externo do utilizador. Os moldados possuem forma pré-definida e é
necessário que o trabalhador tenha o cuidado de ajustá-los ao seu conduto auditivo.
Os protetores externos são chamados de concha. Eles são grandes e pesados, sendo assim pouco
portáteis e desconfortáveis, principalmente em ambientes quentes e úmidos ou confinados, além
de poder atrapalhar o uso de outros EPIs. Por outro lado, eles se adaptam a quase todos os
trabalhadores e não precisam ser individualizados além de apresentar fácil monitoramento.
Há casos, ainda, em que é necessário o uso de ambos os protetores auriculares em uma mesma
situação, mesmo que a atenuação do ruído não venha a ser a soma algébrica da atenuação dos
dois. Além disso, é importante ressaltar que a condução óssea possui um limite de atenuação e
em algumas situações não surte efeito a utilização simultânea.

5.2 – Soluções testadas


 Solução 1: Aplicação de material fonoabsorvente no teto.
A primeira solução testada na serraria foi a aplicação de material fonoabsorvente no teto. A
figura 11 apresenta os resultados obtidos para esta solução, através do mapa acústico gerado.

77
Não se observa diminuição significativa no NPS quando testada somente a solução 1.

 Solução 2: enclausuramento parcial das fontes sonoras.


A segunda solução foi o enclausuramento das fontes sonoras. A figura 12 representa os
resultados obtidos.
O enclausuramento mesmo que parcial parece uma boa solução, pois há pontos de diminuição
significativa de NPS, principalmente em áreas de maior circulação de funcionários.

 Solução 3: Aplicação de material fonoabsorvente no teto e enclausuramento parcial das


máquinas.
A última solução surge como uma tentativa de união entre as duas soluções anteriores. Os
resultados obtidos estão presentes nas figuras 13.
Há diminuição significativa em quase todos os pontos de medição, sendo espaços extremamente
ruidosos apenas muito próximos às máquinas.

Figura 13: Mapa


Figura 11: Mapa acústico Figura 12: Mapa acústico acústico gerado a partir de
gerado a partir de gerado a partir de simulações numéricas para
simulações numéricas para simulações numéricas para aplicação de material
aplicação de material enclausuramento parcial das fonoabsorvente no teto e
fonoabsorvente no teto no fontes no software Odeon. enclausuramento parcial das
software Odeon. A escala A escala de cores representa fontes no software Odeon.
de cores representa o NPS o NPS em dB(A). Fonte: o A escala de cores representa
em dB(A). Fonte: o autor. autor. o NPS em dB(A). Fonte: o
autor.

5.3 – Análise da viabilidade técnica e econômica das soluções testadas


Tecnicamente, a melhor alternativa é a de enclausuramento parcial das fontes junto à aplicação
de material fonoabsorvedor no teto já que quase todos os pontos de medição encontram-se com
uma diferença de, pelo menos, 3dB(A), ou seja, o suficiente para que o ouvido humano note a
alteração. Além disso, podemos notar nos mapas acústicos a atenuação de ruído próximo às
máquinas. Anteriormente a área vermelha era predominante no gráfico, diferente do que
podemos ver depois da aplicação da solução.
O enclausuramento é feito de madeira que pode variar de preço dependendo da qualidade, mas
em geral é economicamente viável mesmo porque não é preciso grande quantidade.

78
Há alguns anos utilizava-se muito, lã de vidro para a absorção do ruído, porém hoje sabemos que
é melhor o uso do material do tipo espuma de poliuretano, graças à sua moldabilidade. Seu preço
é similar ao da lã de vidro. Considerando o tamanho do ambiente, a aplicação da espuma
também é viável.

6 – Conclusão
O objetivo principal deste trabalho é analisar o ruído ocupacional gerado na serraria, bem como
os principais métodos de reduzi-lo. A partir dos mapas acústicos gerados anteriormente é
possível observar as áreas de maior incômodo sonoro (em geral, perto das máquinas), onde a
saúde dos trabalhadores é mais prejudicada, bem como, a sua diminuição após a aplicação de
diversas soluções de controle de ruído na trajetória.
O resultado onde se nota maior redução foi quando foi utilizado o enclausuramento parcial
juntamente ao material fonoabsorvente, porém na relação custo-benefício a melhor aplicação se
dá apenas com o enclausuramento parcial, uma vez que o material fonoabsorvente seria aplicado
em uma área muito extensa, o que levaria a um gasto muito grande, para uma mudança pouco
efetiva. Vale a pena ressaltar, ainda, que mesmo com a aplicação das soluções simuladas, o uso
de materiais para controle de ruído no receptor seria indispensável.

7 – Referências
A atividade Madeireira na Amazônia Brasileira: produção, receita e mercados. Serviço Florestal Brasileiro, Instituto
do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Belém, Pa: Serviço Florestal Brasileiro (SBF); Instituto do Homem e
Meio Ambiente (Imazon), 2010.
Bistafa, S. R. Acústica Aplicada ao Controle de Ruído. 2. Ed. São Paulo: Edgar Blucher , 2011.
Cardoso, H. F. S. Soluções Numéricas de Controle de Ruído em Usinas Hidrelétricas das CHESF. Dissertação
(mestrado) - Universidade Federal do Pará. Instituto de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Mecânica, 2010. Belém, 2010.
Gerges, S. N. Y. Ruído: Fundamentos e Controle. 2. Ed. Florianópolis. NR Editora, 2000.
http://www.odeon.dk/

79
UMA METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA VIRTUAL DA DOSE DE
EXPOSIÇÃO AO RUÍDO OCUPACIONAL

OLIVEIRA FILHO, Ricardo Humberto1; DUARTE, Marcus Antonio Viana2.

(1) Escola de Engenharia Elétrica e de Computação, Universidade Federal de Goiás, Av. Universitária, 1488, Setor
Leste Universitário, CEP 74605-010, Goiânia - Goiás - Brasil; (2) Faculdade de Engenharia Mecânica,
Universidade Federal de Uberlândia, Av. João Naves de Ávila, 2121, CEP 38400-902, Uberlândia - MG - Brasil.

RESUMO
A perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIRO) é a única patologia causada pelo ruído
reconhecida pela legislação brasileira. A Consolidação das Leis do Trabalho no Brasil, na Portaria 3.214,
NR-15, estabelece os limites de exposição para trabalhadores, visando protegê-los de danos auditivos.
Através da NR-7, estabelece a obrigatoriedade dos exames audiométricos admissionais, periódicos e
demissionais, limites de exposição e diferencia ruídos contínuos e impulsivos. A Norma de Higiene
Ocupacional NHO 01 de 2001 da FUNDACENTRO estabelece critérios e procedimentos para a avaliação
da exposição ocupacional ao ruído, introduz o conceito de nível de exposição como um dos critérios para a
quantificação e caracterização da exposição, além de considerar a utilização de medidores integradores e de
leituras instantâneas. Apesar de propiciar uma avaliação segura, fica evidente que é necessária a exposição
para que seja realizado o procedimento. Visando evitar tal exposição, foi criada uma metodologia que utiliza
um prévio mapeamento ou identificação dos níveis de ruído no ambiente de trabalho além da rotina de
trabalho, para prever a dose de exposição de um dado grupo homogêneo. Utilizaram-se dois algoritmos para
prever a probabilidade de o funcionário estar em qualquer local da planta, o primeiro levando em
consideração a distância do funcionário ao ponto avaliado e a segunda através de uma rede neural
probabilística. Foi possível, prever uma faixa de avaliação, utilizando o valor médio e a variância resultantes
da repetibilidade das simulações, para predição da dose de exposição ao ruído ocupacional.

ABSTRACT
The occupational noise induced hearing loss (ONIHL) is the only disease caused by noise recognized by
brazilian law. The Labor Laws Consolidation in Brazil, in Ordinance 3214, NR-15, establishes the limits of
noise exposure for workers, aiming to protect them from hearing damage. This Ordinance by NR-7,
establishes the obligation of entrance, periodic and resignation audiometric exams, to establish exposure
limits and differentiate impulsive and continuous noise. The Standard Occupational Hygiene NHO 01, 2001
from FUNDACENTRO establishes criteria and procedures for the evaluation of occupational noise
exposure, introduces the concept of exposure level as a criterion to quantification and characterization of
occupational, beyond consider the use of integrators and instantaneous readings. Although it provides a
secure evaluation, it is evident that the exposure is required to be performed the procedure. Seeking to avoid
such exposure, it was developed a methodology that utilizes a prior mapping or identification of noise levels
in the workplace beyond the routine work, to predict the dose of exposure of a given homogeneous group. .
Seeking to avoid such exposure, it has been hypothesized to create a system to predict the dose of exposure
even before the task execution. It was thus proposed in this work to develop a methodology that utilizes a
prior mapping and identification of sources of noise in the workplace beyond the routine work of the
employee, to predict the dose of exposure to occupational noise of a given homogeneous group. They were
used two algorithms to predict the likelihood that the employee be anywhere in the plant, the first taking into
consideration the distance of the official point evaluated and the second by a probabilistic neural network. It
was possible to provide a full assessment, using the mean and the variance resulting from the repeatability of
simulations to predict the dose of exposure to occupational noise.
Palavras-chave: Higiene Ocupacional, Acústica, Dosimetria, PAIRO.

80
1. INTRODUÇÃO
Os dados epidemiológicos sobre perda auditiva no Brasil são escassos e referem-se a determinados
ramos de atividades e, portanto, não há registros epidemiológicos que caracterizem a real situação
(BRASIL, 2006).
Em um estudo realizado por Harger e Barbosa-Branco (2004), foram avaliados 152 trabalhadores de
marmoraria, tendo a população idade com mediana e moda iguais a 30 anos e média de tempo de
exposição ocupacional ao ruído de 8,3 anos. Das audiometrias avaliadas, 48% apresentaram algum
tipo de perda auditiva. Dentre os alterados, 50% apresentaram audiogramas compatíveis com perda
auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIRO) e 41% com início de PAIRO. Entre os
trabalhadores com PAIRO, 57,1% apresentaram alteração bilateral, 17,1% em orelha direita e
25,7% em orelha esquerda. Entre aqueles com início de PAIRO, 13,9% foram bilaterais, 19,4% em
orelha direita e 66,7% em orelha esquerda.
Caldart et al. (2006) realizaram um estudo transversal em amostra causualizada de 184
trabalhadores do setor têxtil, divididos proporcionalmente em cada setor, avaliados através de
entrevista, exame otoscópico e audiometria ocupacional. A prevalência de PAIRO foi 28,3%, com
predomínio de perdas auditivas de grau l (46,2%), segundo a classificação de Merluzzi. Os sintomas
mais frequentes foram hipoacusia (30,8%), dificuldade de compreensão da fala (25%), zumbido
(9,6%), plenitude auricular (5,8%), tontura (3,8%) e otalgia (3,8%). O setor com maior índice de
PAIRO foi engenharia industrial com 44,4%, seguidos da fiação com 38,9% e tecelagem com
38,8%, BET (beneficiamento, estamparia e tinturaria) com 23,8% e administração com 3,8%. A
faixa etária mais acometida foi de 50 a 64 anos. Os trabalhadores com mais de 20 anos de empresa
foram os mais afetados (42,9%). A ocorrência de PAIRO foi significativa no grau l, associada à
hipoacusia. Os setores de maior risco na indústria são a engenharia, fiação e tecelagem. Houve um
aumento dos casos com a idade e tempo de exposição.
Nota-se que os dados disponíveis sobre as ocorrências dão uma ideia parcial da situação de risco
relacionada à perda auditiva (BRASIL, 2006).
Estima-se que 25% da população trabalhadora exposta (BERGSTRÖM; NYSTRÖM, 1986;
CARNICELLI, 1988; MORATA, 1990; PRÓSPERO, 1999 apud BRASIL, 2006) seja portadora de
PAIRO em algum grau. Apesar de ser o agravo mais frequente à saúde dos trabalhadores, ainda são
pouco conhecidos seus dados de prevalência no Brasil. Isso reforça a importância da notificação,
que torna possível o conhecimento da realidade e o dimensionamento das ações de prevenção e
assistência necessárias.
Se, por um lado, são inúmeras as soluções técnicas de combate ao ruído, o mesmo não se passa com
a formação dos trabalhadores e a sensibilização para a adoção de comportamentos preventivos
(BERGER, 2001). Deve-se levar em consideração que um projeto ou procedimento para o controle
dos níveis de ruído deve ser iniciado nas próprias fontes geradoras e não nos funcionários.
As técnicas de controle de ruído vêm sendo desenvolvidas ao longo dos anos, embora ainda sejam,
em sua grande maioria, específicas de cada caso. Isso devido às particularidades de diversas
características como as instalações industriais, a localização e o tipo de máquinas ruidosas e as
condições socioeconômicas e do meio ambiente (MELLO, 1999).
Segundo Fernandes (2002), a Norma NBR-10.152 “Níveis de Ruído para Conforto Acústico” fixa
limites de ruído visando o conforto ambiental. Para avaliação da insalubridade por ruído em locais
de trabalho, a Consolidação das Leis do Trabalho, na Portaria 3.214, NR-15, estabelece os limites
de exposição ao ruído para trabalhadores brasileiros, visando protegê-los de danos auditivos. Tal
Portaria ainda constitui um enorme avanço para a prevenção das doenças ocupacionais, incluindo as
disacusias sensórioneurais ocupacionais por ruído. Esta Portaria, através da NR-7, estabelece a
obrigatoriedade dos exames audiométricos admissionais, periódicos e demissionais sempre que o

81
ambiente de trabalho apresentar níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) em 8 horas
contínuas de exposição. Estabelece limites de exposição e diferencia ruídos contínuos e impulsivos.
A Norma ISO 1999 (1990) atribui uma forma de cálculo para a previsão de risco de perda auditiva à
população exposta, de acordo com a faixa etária e exposição, segundo o nível de pressão sonora
equivalente contínuo - Leq de 8 horas diárias de exposição. Além da atribuição do risco, determina
a perda auditiva de uma população otologicamente normal não exposta ao ambiente ruidoso
(ALMEIDA, 2000).
A Norma de Higiene Ocupacional NHO 01 de 2001, redigida pela FUNDACENTRO, estabelece
critérios e procedimentos para a avaliação da exposição ocupacional ao ruído, que implique risco
potencial de surdez ocupacional. Ainda introduz o conceito de nível de exposição como um dos
critérios para a quantificação e caracterização da exposição ocupacional (dose) ao ruído contínuo ou
intermitente, além de considerar a possibilidade de utilização de medidores integradores
(dosímetros) ou ainda medidores de leituras instantâneas (decibelímetros) com o auxílio e um
cronômetro.
Apesar de propiciar uma avaliação segura e posterior melhoria nas condições de trabalho dos
trabalhadores, fica evidente que é necessário a exposição ao ruído do trabalhador em sua rotina de
trabalho para que seja realizado o procedimento.
Visando evitar tal exposição, foi criado um sistema de previsão da dose antes mesmo do trabalhador
executar sua tarefa.
Sabe-se que, para o cálculo da dose de exposição ao ruído ocupacional, é necessário o conhecimento
de pelo menos três dados:
 Os níveis de pressão sonora no ambiente de trabalho;
 A rotina de trabalho executada;
 O tempo em cada uma das atividades realizadas durante a jornada de trabalho.
O cálculo da dose é realizado para um grupo homogêneo específico, formado por trabalhadores
lotados em um mesmo nicho, com as mesmas funções e tarefas.
Quando se analisa um grupo homogêneo, deve ser levado em consideração que existem pessoas de
diferentes perfis, sendo algumas mais rápidas e outras mais lentas na execução de tarefas, contudo a
dosimetria de um único componente desse grupo é representativa de todos os outros membros do
mesmo grupo.
O que se pretendeu com o desenvolvimento deste trabalho foi prever um intervalo de confiança para
a dose de exposição ao ruído para um trabalhador ou grupo homogêneo, utilizando para tanto
somente os três dados já listados, mas cujo resultado consiga englobar qualquer interferência na
rotina de trabalho, não sendo então tendencioso à rotina propriamente dita.

2. DESENVOLVIMENTO E METODOLOGIA
A técnica desenvolvida neste trabalho deve ser capaz de estimar um intervalo de confiança para a
dose de exposição ao ruído ocupacional para um determinado grupo homogêneo, levando em
consideração não somente a rotina de trabalho, mas também o possível desvio desta, como ocorre
em situações de atendimento a paradas, liberação de área e de serviço, alterações na rota devido a
reformas ou manutenções, diferenças no ritmo de trabalho de cada trabalhador pertencente ao grupo
analisado, dentre outras possíveis variáveis.
Foi utilizado um modelo fictício que simula o funcionamento de uma central de geração e
distribuição de vapor. A Fig. 1 ilustra o modelo acústico simplificado elaborado para o trabalho.

82
Figura 1. Modelo acústico simplificado da área industrial fictícia criada para o trabalho.

O modelo criado simula o funcionamento de uma central de geração e distribuição de vapor típica
para o desfecho do trabalho. A unidade é formada por:
 Uma caldeira de grande porte com três plataformas de acesso. Serão consideradas fontes de ruído
seis queimadores, dois pirômetros, um turbo ventilador de tiragem forçada para admissão de ar
que também pode ser acionado por um motor elétrico, três compressores utilizados no
funcionamento da caldeira, corpo da caldeira;
 Um desaerador com duas descargas para atmosfera (vents);
 Uma torre de resfriamento de água com duas quedas de água e cinco moto bombas;
 Uma edificação de três pavimentos, onde será alocado um turbo gerador, um turbo expansor,
duas moto bombas de condensado, um exaustor para o tanque de óleo, dois exautores de vapor
de selagem, além das tubulações;
 Um parque constituído de três turbo bombas e duas moto bombas;
 Uma área coberta onde estão alocados três moto compressores, sendo dois destes com descarga
para a atmosfera;
 Uma edificação de dois pavimentos onde estarão localizados os painéis elétricos e a sala de
operações.
Para o cálculo da dose, é necessário conhecer os níveis de ruído no ambiente. Normalmente, o
simples processo de mapeamento dos níveis de ruído é suficiente, mas como a planta industrial
designada para a elaboração do trabalho não existe, foi utilizado o programa de simulação de campo
acústico criado pelo Laboratório de Acústica e Vibrações (LAV) da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU), e então exportados os dados de NPS em uma malha pré-definia de espaçamento
1 metro, conforme ilustrado na Fig. 2.
Em posse dos NPS da área e da rotina de trabalho a ser avaliada, iniciou-se o desenvolvimento do
método de estimativa de dose.
A metodologia desenvolvida consistiu em dividir a planta industrial segundo os níveis de ruído e
dimensões:
 Para áreas de até 50 m² e com NPS máximo superior a 95 dB(A) ou áreas de 50 m² a 1000 m² e
NPS máximo superior a 104 dB(A): foram avaliados todos os pontos da planta e estimada a
probabilidade de o funcionário estar em cada um destes pontos, sendo tal probabilidade
inversamente proporcional à distância entre os pontos da rota e o avaliado conforme a Eq. 01. Foi
considerando somente um raio de 1 metro ao redor de cada ponto do trajeto para a estimativa da
possibilidade do funcionário estar presente durante a jornada de trabalho;

83
Figura 2. Isocurvas de pressão sonora simuladas para a área
industrial.

 Para áreas de até 50 m² e NPS máximo inferior a 95 dB(A) ou de 50 m² a 1000 m² e NPS


máximo inferior a 104 dB(A): foi utilizado um procedimento de estimativa de tempo de
permanência em cada ponto de toda a área através do treinamento de uma rede neural
probabilística (RNP) (Masters, 1995);
 Para áreas maiores que 1000 m², independente dos NPS: Foi utilizada a mesma RNP do item
anterior, mas agora considerando que 20% dos pontos da planta deverão ter pelo menos 0,5
segundos de permanência;
 Utilizar o Método de Simulação de Monte Carlo (Hammersley; Handcomb, 1964): estimar a
probabilidade de o funcionário estar em qualquer ponto da planta, dividir a jornada de trabalho
em intervalos de tempo iguais (a escolha do intervalo e tempo fica a critério de quem estiver
realizando a análise), escolher aleatoriamente pontos da planta e avaliar qual a probabilidade de o
funcionário estar nestes pontos no intervalo de tempo pré-definido. Acumulam-se as
probabilidades estimadas para cada período de tempo em cada ponto. Após os cálculos e
estimativas levando em consideração as variações de 0 a 6 dB(A) para os NPS simulados para a
planta e por fim calcula-se a dose de exposição ao ruído. A utilização desta etapa se justifica pela
necessidade de se obter uma faixa de aceitação para a estimativa de dose. O Método de
Simulação de Monte Carlo torna possível o cálculo dos parâmetros estatísticos (média, desvio
padrão e variância) de uma população com distribuição desconhecida, através da distribuição
Normal, t de Student ou Qui-quadrado;
 Calcular a dose de exposição ao ruído de forma analítica: utilizar o método proposto na NR 15
do Ministério do Trabalho e Emprego, sendo este comparado com a dose estimada pelo método
aqui apresentado e calculado o erro porcentual pela Eq. 02.
 Encontrar uma faixa de aceitação, definida pelo intervalo de confiança de 95% das repetições do
experimento. Para tanto, foram consideradas as variações aleatórias dos NPS de até 6 dB(A). O
intervalo de 95% de confiança foi estimado através da Eq. 03 considerando que a população siga
uma distribuição Normal.

P( p1 )
P( p2 )  [Eq. 01]
1  d ( p1 , p2 )
84
onde:
- p1 é um ponto pertencente à rota definia pelo colaborador;
- P(p1) é a probabilidade de o colaborador estar no ponto p1 calculada pelo tempo de permanência
em tal ponto e pelo tempo total da jornada de trabalho;
- p2 é um ponto qualquer da planta que se deseja avaliar;
- P(p2) é a probabilidade de o funcionário estar no ponto p2;
- d(p1,p2) é a distância entre os pontos p1 e p2.

 Dose Analitica  Dose Metodo 


Erro%    [Eq. 02]
 Dose Analitica 

onde:
- Dose Analítica é o valor da dose calculado analiticamente pelo método da NR 15;
- Dose Método é o valor da dose estimado pelo Método avaliado.

   
 x  1,96 , x  1,96  [Eq. 03]
 n n

onde:
- x é o valor médio para a Dose estimado pelas repetições;
- σ é o desvio padrão para a Dose estimado pelas repetições;
- n é a quantidade de repetições.

3. RESULTADOS
Para verificação do método analítico de cálculo, foi necessário acompanhar funcionários de uma
central de geração e distribuição de vapor típica em dois turnos de trabalho durante uma semana.
Durante o acompanhamento foram registradas as rotas traçadas pelos funcionários, efetuados
mapeamentos dos níveis de ruído locais e registrados os tempos de permanência nos diversos locais
da planta durante toda a jornada de trabalho. Para verificar a eficácia do método de cálculo, os
funcionários utilizavam um dosímetro de ruído, e então o valor da dose de exposição ao ruído
estimado pelos cálculos analíticos foram comparados ao valor estimado pelo equipamento, sendo
encontrados erros inferiores a 4%.
Para a aplicação da metodologia, inicialmente foi estimada a dose de exposição ao ruído
ocupacional para a rotina de trabalho imposta ao funcionário pelos métodos expostos, sendo tal
valor igual a 1,574, com a faixa de aceitação encontrada de 1,413 a 1,734. Tal faixa é utilizada para
abranger possíveis variações na jornada de trabalho, sendo estas advindas de manutenções em
equipamentos, paradas, liberações de área, dentre outras.
Foram realizadas simulações para averiguar a eficiência da metodologia. Para tanto foram
consideradas a execução de manobras e intervenções que não sejam contempladas na rotina de
trabalho do colaborador, adiciona-se tal atividade à rotina de trabalho do colaborador e calculada a
dose pelos métodos tradicionais impostos pela NR 15 do MTE. Tais valores foram comparados com
os resultados obtidos pela metodologia proposta levando em consideração o intervalo de confiança.
Tais intervenções na área foram escolhidas para as simulações devido a sua constante ocorrência,
estas presenciadas durante os trabalhos de campo realizados. Como constatado no Manual de
Estratégias de Amostragem para Exposição Ocupacional do NIOSH de 1977, é indicada a adição de
1σ a 3σ para a estimativa da dose de exposição ao ruído. Nos estudos de caso, como o intuito é
testar a eficiência da metodologia desenvolvida, foi considerado o caso crítico, somando-se 3σ ao
valor estimado da dose de exposição ao ruído ocupacional.

85
Simulação 01: Verificar possível Falha em 2 Queimadores da Caldeira, no 2º e 3º Piso.
Para simular tal caso, foi inserido na rota do funcionário 2 translados até a caldeira, além de
aumentar a permanência nos queimadores a avaliar em mais 2 minutos cada. A Tabela 1 ilustra o
comparativo dos resultados.

Tabela 1: Comparativo dos resultados obtidos na Simulação 01.


Área Analisada Dose Estimada Dose Corrigida
Dose de Exposição Total 1,574 1,594

Intervalo de Confiança 1,413 1,734

Simulação 02: Verificar Possível Vazamento no Desaerador.


Nesta simulação, foi inserido na rota do funcionário 1 translado até a caldeira e aumento da
permanência no ponto de verificação das descargas do desaerador em 1 minuto. A Tabela 2 ilustra o
comparativo dos resultados obtidos na Simulação 02.

Tabela 2: Comparativo dos resultados obtidos na Simulação 02.


Área Analisada Dose Estimada Dose Corrigida
Dose de Exposição Total 1,574 1,582

Intervalo de Confiança 1,413 1,734

Simulação 03: Verificar Possíveis Falhas nas Turbinas dos Equipamentos no Prédio das Turbo
Máquinas.
Para tanto, foi inserido na rota do funcionário 2 translados até o prédio das turbo máquinas, além de
aumentar a permanência no ponto de verificação de cada turbina em 3 minutos para cada piso. A
Tabela 3 ilustra o comparativo dos resultados obtidos na Simulação 03.

Tabela 3: Comparativo dos resultados obtidos na Simulação 03.


Área Analisada Dose Estimada Dose Corrigida
Dose de Exposição Total 1,574 1,608

Intervalo de Confiança 1,413 1,734

Simulação 04: Verificar Possíveis Falhas em 1 dos Compressores na Área dos Compressores, 1
Bomba na Torre de Refrigeração e na Turbina de Acionamento do Ventilador da Caldeira.
Para esta simulação, foi inserido na rota do funcionário 1 translado até a área dos compressores e
permanência de 5 minutos no compressor a avaliar, 1 translado até a torre de refrigeração e
permanência de 5 minutos a bomba a avaliar, 1 translado até o pátio de bombas e permanência de 5
minutos na bomba a avaliar e 1 translado até a Caldeira com permanência de 15 minutos na turbina
de acionamento do ventilador. A Tabela 4 ilustra o comparativo dos resultados obtidos na
Simulação 04.

Tabela 4: Comparativo dos resultados obtidos na Simulação 04.


Área Analisada Dose Estimada Dose Corrigida
Dose de Exposição Total 1,574 1,726

Intervalo de Confiança 1,413 1,734

Para as quatro simulações realizadas, houve variação significativa nos valores de dose corrigida em
relação à dose estimada, os quais evidenciaram e comprovaram o aumento substancial na dose
devido ao aumento do tempo de permanência e também ao aumento dos NPS locais. Mesmo com

86
todas as intervenções adicionais, o intervalo de confiança de 95% utilizado foi suficiente para
abranger todas as situações avaliadas.

4. CONCLUSÕES
Para todas as simulações o valor médio de dose ficou dentro dos limites estabelecidos pela faixa de
aceitação imposta.
Conclui-se que foi possível desenvolver uma metodologia que estime a dose de exposição ao ruído
ocupacional, o que, avaliado no aspecto de um programa de conservação auditiva, é de grande
significância, uma vez que será possível intervir na rotina do funcionário ou ainda na fonte de ruído
antes que ocorra uma exposição a valores de dose que prejudiquem sua audição.
A metodologia também pode ser aplicada na fase de projeto de áreas industriais, sendo possível
escolher a disposição de equipamentos e pontos de controle através da análise das possíveis rotas
que serão executadas pelo funcionário, de modo a minimizar a dose de exposição ao ruído.

REFERÊNCIAS
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de Mestrado - Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.

87
MATERIAIS NÃO-CONVENCIONAIS UTILIZADOS PARA CONTROLE DE
RUÍDOS: MITO OU REALIDADE

BASTOS, L. P.1; MELO, G. S. V.2; VERGARA, E. F.3


(1) Universidade Federal de Santa Catarina; (2) Universidade Federal do Pará; (3) Universidade Federal de Santa Maria

RESUMO
Dispositivos acústicos como painéis, barreiras, etc., quando de alta eficiência, geralmente, são de custosa
aquisição, tornando, em muitas das vezes, inviável sua utilização, principalmente, por empresas de pequeno
porte e orçamento limitado. Além disso, a pouca importância dada por empresas e/ou empregadores à
qualidade acústica de certos ambientes dificulta a aquisição e, consequentemente o emprego destes materiais.
Dessa forma, materiais não-convencionais, como caixas de ovos e placas de isopor, por serem de baixo
custo, fácil aquisição e devido à crença popular, são utilizados para controlar ruídos, sem que se tenha
conhecimento de suas características acústicas e sem saber se realmente podem ser utilizados para esta
finalidade, pois podem representar uma fonte de riscos desnecessária ao estabelecimento em que estiverem
sendo utilizados, e, principalmente, às pessoas que vierem a frequentá-lo, em casos de incêndio ou
proliferação de fungos por parte do material. Este trabalho avalia o desempenho acústico desses materiais
através de ensaios para a determinação de seus coeficientes de absorção sonora e perda de transmissão,
desmistificando conceitos equivocados a respeito dos mesmos, contribuindo para difundir alguns conceitos
de acústica arquitetônica através de situações práticas.

ABSTRACT
Acoustic devices such as panels, barriers, etc., when of high efficiency generally are of difficult acquisition
due to high costs, turning, in many cases, their use impracticable, mainly for limited budget small-sized
companies. Additionally, little importance given by companies and / or employers to the acoustic quality of
certain environments complicates the acquisition and consequently the use of these materials. Thus, non-
conventional materials, such as egg boxes and Styrofoam plates, are used to control noises due to their low
cost, easy acquisition and also to the popular misunderstanding, without knowledge of their acoustical
characteristics and applicability, because they can represent a unnecessary source of risk to the environment
in which they are being employed and, mainly, to the people that will come to attend it, in case of fires or
fungus proliferation by the referred materials. Therefore, the present work evaluate the acoustical
performance of those materials through tests aiming to determine their sound absorption coefficients and
transmission loss characteristics, explaining correctly some frequently mistaken concepts, contributing to
diffuse some Architectural Acoustics’ notions through practical situations.
Palavras-Chave: Poluição Sonora, Materiais não-convencionais, Desempenho Acústico.

1. INTRODUÇÃO
A maioria dos produtos utilizados em tratamentos acústicos possui como matéria-prima, materiais
provenientes de fontes não-renováveis, de origem sintética, de elevado tempo de degradação, de
alto custo de produção, e alguns casos, tóxicos, como a fibra de vidro, por exemplo. Estas
características aliadas ao desconhecimento e desinteresse por parte de certas empresas e/ou
empregadores à cerca da qualidade acústica de determinados ambientes, dificultam a aquisição e,
consequentemente, o emprego destes materiais.
Neste sentido, a busca por novos materiais de baixo custo, fácil acesso e aquisição, desempenho
acústico satisfatório atestado em laboratório, e êxito reconhecido através de aplicações reais, é

88
necessária para o desenvolvimento de produtos que possam ser utilizados para a finalidade de
controle de ruído. Portanto, este trabalho tem como objetivo avaliar as propriedades acústicas de
materiais não-convencionais (caixas de ovos e isopor) que comumente são utilizados com o
propósito de controlar de ruídos sem que esta utilização seja atestada cientificamente.
Adicionalmente, este trabalho busca difundir determinados conceitos em acústica arquitetônica por
meio de situações práticas.

2. MATERIAIS ACÚSTICOS: FUNDAMENTOS


Os materiais considerados bons absorvedores acústicos, no que concerne à absorção resistiva, são
normalmente porosos e/ou fibrosos, leves e apresentam estrutura (configuração) interna de espaços
vazios ou microcavidades favoráveis acusticamente. Dessa forma, quando certa energia acústica
incide sobre estes, parte é dissipada em energia térmica através da viscosidade do ar, enquanto que
uma pequena parte é transmitida através do material, fazendo com que a energia acústica refletida
apresente intensidade reduzida (ver Figura 1a). Esse fenômeno ocorre tanto em materiais porosos
quanto em materiais fibrosos, só que por mecanismos diferentes. Nos materiais porosos a energia
acústica incidente entra pelos poros e dissipa-se por reflexões múltiplas e atrito viscoso do ar,
transformando-se em energia térmica (ver Figura 1b). Já nos materiais fibrosos, a energia acústica
incidente entra pelos interstícios das fibras, fazendo-as vibrarem junto com o ar. Este movimento
(de histerese) das fibras gera atrito e promove conversão de energia acústica em energia térmica
(ver Figura 1c) (GERGES, 2000).

Figura 1 - (a) Absorção sonora promovida por um material acústico, (b) mecanismo de absorção de um
material acústico poroso, (c) mecanismo de absorção de um material acústico fibroso; em que: é a energia
acústica incidente, é a energia refletida, é a energia dissipada e é a energia transmitida.

A busca por materiais com as características mencionadas na seção 1, é tão grande, que certos
materiais, como caixas de ovos e placas de isopor, por exemplo, são empregados com a finalidade
de controle de ruído mesmo que não sejam conhecidas suas propriedades acústicas e outras
características relevantes, e de forma mais preocupante, sem que a utilização para esta finalidade
seja comprovada.
Para que determinados materiais sejam utilizados para controlar ruídos, é necessário que estes
apresentem bom desempenho em outros aspectos além do acústico, para que não representem uma
fonte de riscos desnecessária não só ao ambiente em que estiverem sendo utilizados, mas,
principalmente, às pessoas que vierem a frequentá-lo. Por exemplo, fibras naturais são inflamáveis
por natureza, dessa forma, é de fundamental importância que painéis acústicos, fabricados a partir
destes materiais, resistam ao fogo quando utilizados como revestimento interno de ambientes.
Outros materiais podem exalar fortes odores, ou acelerar a proliferação de fungos, facilitando sua
degradação, entre outros.
Caixas e cartuchos de papelão liso e papelão ondulado são geralmente utilizados como embalagens
de armazenamento por indústrias de diferentes segmentos. Essas embalagens de papelão podem ser

89
moldadas em vários formatos (ver Figura 2a) e são relativamente leves. O papelão é biodegradável
e reciclável, entretanto, não é resistente a chamas nem à umidade, restringindo assim, sua gama de
aplicações. Razoável capacidade de absorção sonora é atribuída à caixa de ovos, mesmo que sem
comprovação. Isto possivelmente é explicado pelo fato de sua geometria remeter à geometria de
vários materiais de absorção comercialmente disponíveis (ver Figuras 2b e 2c).
O perfil sinuoso nos materiais acústicos convencionais tem como funções principais: aumentar a
área do material e alterar gradativamente a impedância acústica entre o ar e a espuma, o que acaba
potencializando sua eficiência de absorção. Dessa forma, o bom desempenho atribuído às caixas de
ovos enquanto absorvedor sonoro é creditado à forma e não ao material já que as caixas são
constituídas de papelão e este impede o fluxo de ar através de sua estrutura e isto vai de encontro
com uma das características que um material deve possuir para ser bom absorvedor sonoro que é
boa resistência ao fluxo, porém, não total (GERGES, 2000).

Figura 2 - (a) Caixa de ovos e materiais absorvedores sonoros com geometrias semelhantes: (b) espumas de
melamina com cunhas arredondadas e (c) espumas de poliuretano com cunhas piramidais.
Fonte: (b) e (c) http://www.thumbcy.com/nda.php

Em relação ao isopor, a este é popularmente creditado bom desempenho acústico enquanto


absorvedor e também enquanto isolante acústico, o que dificilmente pode ser verdade já que as
características para desempenhar essas funções são opostas. Para ser bom isolante acústico o
material tem de ser, basicamente, denso e rígido; já para ser um absorvedor eficiente, o material tem
de ser flexível e possuir boa resistência ao fluxo de ar.
As principais características do isopor, segundo a Associação Brasileira de Poliestireno Expandido
(ABRAPEX), são: resistência ao envelhecimento, elevadas resistência à compressão e absorção de
choques, boa resistência mecânica, baixa condutividade térmica, baixo peso e facilidade de
manuseio, excelente isolante térmico na faixa de -70ºC a 80ºC e, cerca de 97% de seu volume é
constituído de ar. Além disso, o isopor pode ser encontrado em diversos formatos, como em placas
de variadas espessuras (ver Figura 3a), e em densidades, geralmente, entre 18 e 25 kg/m3. Por outro
lado, é inflamável e pode ser atacado por roedores.
Uma explicação para que o isopor seja (erroneamente) interpretado como material de isolamento
acústico está relacionada talvez ao fato de que este material é conhecido pelo seu bom desempenho
como isolante térmico. Assim, como existem materiais que partilham características comuns às do
isopor e que são utilizados tanto para isolamento acústico, em preenchimento de portas acústicas,
forros, caixas acústicas, etc., quanto para isolamento térmico, em caldeiras, fornos, tubulações, etc.,
(por exemplo, lã de vidro e lã de rocha) as propriedades dos materiais são confundidas, e uma
generalização equivocada acaba creditando ao isopor, características que de fato não possui.
Outra explicação plausível está no fato de que este material possui poros fechados (ver Figura 3b), o
que dificulta o escoamento de ar através de sua estrutura e, consequentemente, trocas de calor por
convecção. Assim, é acreditado que o mesmo aconteça com o som, o que não ocorre.

90
Adicionalmente absorção e isolação sonoras são frequentemente confundidas. Este fato contribui
para o desentendimento a respeito das características acústicas de determinados materiais e,
consequentemente, leva a atribuições incorretas. Um exemplo comum desta situação é dizer que o
isopor é bom absorvedor sonoro. Essa atribuição possivelmente se deve ao fato de que este material
também se assemelha a determinados materiais absorvedores sonoros (ver Figura 3c) tanto no
aspecto visual quanto como na sua capacidade de resistir a deformações (característica comum entre
os materiais acústicos) ou por sua elevada porosidade, por exemplo. Então, por possuir algumas
características em comum, é acreditado que o isopor absorva energia sonora como os materiais
acústicos, o que também não ocorre.
Observando-se as Figuras 3b e 3d, verifica-se que a micrografia de uma amostra de isopor,
mostrada na Figura 3b, difere bastante da micrografia de um material absorvedor sonoro mostrada
na Figura 3d. Estas micrografias, mesmo que em resoluções diferentes, são utilizadas somente para
mostrar as diferenças existentes entre as estruturas internas dos materiais comparados. No que se
refere à resistência ao fluxo, é possível notar que o material absorvedor sonoro (espuma de
poliuretano) possui poros de células abertas para permitir a entrada de ar através de sua estrutura,
possibilitando a visualização de várias camadas do material. No caso do isopor, não é possível
visualizar a mesma característica estrutural da espuma de poliuretano, sendo, portanto, um fator que
pesa contra a possibilidade de ser um bom absorvedor sonoro.

Figura 3 - (a) Placas de poliestireno expandido – EPS (isopor) e (b) micrografia de uma amostra de EPS com
resolução de 60 x, (c) espuma de poliuretano e (d) micrografia de uma amostra de espuma de poliuretano
com resolução de 70 x.
Fonte: (a) e (b) http://www.acepe.pt/eps/eps_prop_term.asp, (c) http://www.sonex.com.br e (d)
www.hull.ac.uk/acoustics/r7.htm.

Recentemente, alguns trabalhos tiveram como objeto de estudo painéis de fibras vegetais fabricados
industrialmente (ver Figuras 4a e 4b) (MAFRA, 2004; VIEIRA, 2008) e artesanalmente (ver
Figuras 4c) (BASTOS et al., 2009), concluindo-se após vários ensaios sob aspectos diversos
(flamabilidade, odor, proliferação de fungos, envelhecimento, etc.) que estes materiais podem ser
utilizados como painéis absorvedores sonoros, pois seu desempenho é compatível e, em alguns
casos, superior, ao desempenho de materiais convencionais.

91
Figura 4 - (a) e (b) Painéis industriais de fibra de coco de diferentes espessuras e densidades e (c) painéis
artesanais de fibras de (1) dendê, (2) sisal, (3) açaí e (4) coco.
Fonte: (a) e (b) VIEIRA, 2008 e (c) BASTOS et al., 2009.

Embora apresentem bom desempenho e uma série de características positivas, estes painéis de
fibras vegetais não podem ser considerados, pelo menos por enquanto, como materiais
convencionais para controle de ruído. Pois, ainda que haja algumas empresas fabricantes desses
produtos por meio de uma linha de produção aperfeiçoada e quase totalmente automatizada, e
mesmo que sua produção seja relativamente em grande escala, nenhuma dessas empresas concebe
esses painéis com a finalidade de controle de ruído. A prova maior disto é que nenhuma destas
empresas fornece a curva de coeficiente de absorção sonora desses materiais em função da
frequência. O que acontece é que, alguns desses materiais, por possuírem bom desempenho
acústico, principalmente no que se refere à capacidade de absorção sonora, ocasionalmente obtida
pelo processo produtivo e pelas características dos materiais envolvidos, acabam sendo utilizados
para essa finalidade. Ocorre também de essas empresas modificarem alguns parâmetros durante o
processo de fabricação, como a espessura do painel ou densidade, por exemplo, para atender a uma
determinada demanda, e isso acaba potencializando a capacidade de absorção sonora desse painel
sem que seja essa a intenção real do fabricante.
Em outras palavras, conceber um material absorvedor sonoro é substancialmente diferente de
conceber um material que pode ser utilizado para a finalidade de controle de ruído. No processo de
fabricação do primeiro, os parâmetros envolvidos são ajustados para resultarem na melhor
eficiência, pois sua função primordial é a de um material com características acústicas (absorver ou
isolar ondas sonoras). No processo de fabricação do segundo, tenta-se agregar características
acústicas ao material sem se preocupar em conseguir, ou mesmo sem saber como obter, a melhor
eficiência quando do ajuste dos parâmetros do processo produtivo, pois absorver ou isolar ondas
sonoras é apenas uma de suas funções secundárias.

3. METODOLOGIA
As amostras aqui analisadas foram caixas de ovos (10,11 m2) e placas de isopor (10,80 m2) de 18
kg/m3 de densidade e dimensões iguais a 1 m x 1,2 m x 0,05 m (altura x largura x espessura). Esses
materiais foram selecionados principalmente porque, em algumas situações, são empregados para
controlar ruídos sem que sua aptidão e eficiência, para tal finalidade, sejam comprovadas; às vezes
são anunciados e comercializados com propriedades acústicas sem que essas sejam informadas pelo
vendedor (fabricante); e por fim, pelo fato do objetivo deste trabalho ser o de desmistificar, através
de ensaios experimentais, os conceitos equivocados que se tem a respeito dos referidos materiais,
por grande parte da população. Este fato se deve, fortemente, à crença popular e à veiculação de
poucas informações, na maioria, incorretas, a respeito dos mesmos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram realizados ensaios para quantificar, a capacidade de absorção sonora das placas de isopor e
das caixas de ovos, e também, a capacidade de isolamento sonoro das referidas placas. Os
92
equipamentos utilizados (ver Figuras 5a, 5b e 5c) para executá-los foram os seguintes: Calibrador
de nível sonoro, Bruel & Kjaer, tipo 4230 (94 dB, 1.000 Hz) de número de série 1351791; Fonte
sonora, Bruel & Kjaer, tipo 4224, nº1491240; Medidor de nível sonoro, 01dB-Metravib, Blue Solo
01, nº.60266; Pré-amplicador de microfone, 01dB-Metravib, PRE 21 S, nº 12943 e Microfone,
GRAS, MCE 212, nº 75246.

Figura 5 - (a) Microfone e suporte, (b) fonte sonora e (c) medidor de nível de pressão sonora e computador.

Os ensaios foram conduzidos em câmaras normalizadas, de transmissão sonora (câmaras


germinadas) e reverberante. Na câmara reverberante, foram realizados ensaios para a determinação
do coeficiente de absorção sonora com base na norma ISO 354/1999. Nas câmaras germinadas,
foram realizados ensaios para a determinação da perda de transmissão (PT), tendo-se como base a
norma ISO 140/1997. Estes ensaios foram executados no Laboratório de Acústica da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) e foram utilizadas duas posições de fonte e seis posições de
microfone para todos os ensaios, sendo executadas três medições em cada posição de microfone. A
configuração das amostras na câmara reverberante (ver Figura 6a) pode ser vista nas Figuras 6b e
6c.

Figura 6 - (a) Câmara reverberante vazia, (b) caixas de ovos e (c) placas de isopor (EPS).

Os resultados, em relação ao coeficiente de absorção sonora dos materiais ensaiados, podem ser
vistos na Figura 7.

93
Figura 7 - Coeficientes de absorção sonora das caixas de ovos, placas de isopor e câmara vazia.

Ensaios anteriores realizados em papelão plano revelaram baixo desempenho deste material quanto
à capacidade de absorção sonora, podendo ser negligenciado como absorvente sonoro (SANTOS,
2005). Porém, a geometria das caixas de ovos em papelão contribui para mudar esse baixo
desempenho e é responsável pela eficiência razoável desse material a partir de 800 Hz de acordo
com a figura 7. Desta forma, pode-se concluir que a geometria das embalagens de papelão
influencia realmente na sua capacidade de absorção sonora, podendo-se até dizer que há uma
relação direta entre sua geometria e os mecanismos e frequências de absorção (SANTOS, 2005).

Em relação ao isopor, mesmo apresentando grande dificuldade em permitir o fluxo de ar através de


sua estrutura, este apresentou desempenho razoável quanto à capacidade de absorção sonora a partir
de 1.000 Hz ainda de acordo com a figura 7. Desta forma, se conclui que provavelmente o
mecanismo de absorção do isopor seja diferente dos mecanismos de absorção mencionados
anteriormente, necessitando-se de um estudo mais detalhado a respeito deste material e dos
principais parâmetros relacionados com seu comportamento acústico. Adicionalmente, embora a
colocação de material absorvedor no interior de um ambiente tenha como principal finalidade a
redução (ou eliminação) das diversas reflexões sonoras que ocorrem neste ambiente, e,
consequentemente, da reverberação, isto implica também na redução de ruído deste ambiente.
Normalmente essa redução é muito pequena frente à redução proporcionada por barreiras,
enclausuramentos, etc., entretanto, o conforto gerado com o aumento da absorção é tal, que se tem a
impressão de que os níveis sonoros foram reduzidos mais do que as medições revelam (BISTAFA,
2006).

Para a determinação da perda de transmissão das placas de isopor, determinou-se, anteriormente, a


perda de transmissão de uma parede de tijolos de 2 furos com 0,01 m de cimento em ambos os
lados. Em seguida, as placas de isopor foram coladas na referida parede (ver Figura 8c) que
separava as câmaras, emissora (ver Figura 8a) e receptora (ver Figura 8b), na face voltada para a
câmara emissora, e dessa forma, o acréscimo promovido na perda de transmissão, agora do
conjunto parede + placas de isopor, seria creditado às placas de isopor.

94
Figura 8 - (a) Câmara emissora, (b) câmara receptora e (c) placas de isopor (EPS) coladas na parede.

Os resultados obtidos para a perda de transmissão das placas de isopor podem ser vistos na Figura
9.

Figura 9 - Perda de transmissão sonora das placas de isopor.

Analisando o gráfico da Figura 9, é possível observar que o desempenho do isopor enquanto


isolante acústico é muito baixo, principalmente entre 500 Hz e 2000 Hz que é uma região muito
sensível à audição humana e de grande importância para a inteligibilidade, podendo ser considerado
negligenciável. Adicionalmente, na maior parte da faixa de frequência de análise, sua perda de
transmissão não atinge valores que alterem a percepção do ruído pelas pessoas. O ouvido humano é
capaz de perceber variações no nível de pressão sonora da ordem de 1 dB (GERGES, 2000), porém,
esta percepção fica restrita a condições rigorosamente controladas de ambientes laboratoriais. Na
prática, entretanto, onde se está sujeito a nível de ruído de fundo significativamente variável, ruídos
aleatórios diversos, etc., tem-se que variações de 1 dB a 3 dB são quase perceptíveis; da ordem de 6
dB, são claramente perceptíveis; e da ordem de 10 dB, são variações substanciais.
5. CONCLUSÕES
Em relação ao isopor, sua capacidade de isolamento sonoro é muito baixa, haja vista que não
promove reduções no nível de ruído que possam ser percebidas por pessoas. Porém, se mostrou um
absorvedor razoável a partir de 1.000 Hz, mesmo não apresentando as principais características
físicas de um material absorvedor (boa resistência ao fluxo). Assim, a mais provável explicação
para este fato é a de que o mecanismo de absorção do isopor não se enquadre nos mecanismos de
absorção mencionados anteriormente, sendo necessário um estudo mais detalhado a respeito deste
material e suas propriedades.

95
Em relação às caixas de ovos, de fato, sua geometria influencia na sua eficiência enquanto
absorvedor, fato este comprovado pelo desempenho razoável obtido a partir de 800 Hz. Porém, é
preciso determinar de que maneira sua geometria se relaciona com sua capacidade de absorção
sonora, já que a matéria-prima da qual este produto é constituído não tem influência positiva sobre
seu coeficiente de absorção sonora, necessitando-se de outros testes envolvendo este material.
Em relação ao coeficiente de absorção sonora dos materiais ensaiados, embora tenham sido,
comprovadamente, considerados razoáveis, para que possam ser utilizados para a finalidade de
controle de ruído, é necessário que estes apresentem bom desempenho em outros aspectos para que
não representem riscos ao estabelecimento em que estiverem sendo utilizados e, principalmente, às
pessoas que vierem a frequentá-lo, no caso de incêndios ou de proliferação de fungos, por exemplo.
As necessidades em se controlar ruídos e em se ter materiais eficientes mais acessíveis, aliadas à
crença popular, contribuem para a utilização de materiais não-convencionais, como caixas de ovo e
isopor, para controlar ruídos, sem se ter conhecimento de suas propriedades acústicas ou mesmo se
podem ser utilizados para tal. Esse pensamento ganha força, pois, o que acontece na realidade é que,
pelo fato de esses materiais serem de baixo custo e fácil aquisição, e em muitas situações em que
são utilizados não é exigida alta eficiência, como no caso de ambientes domésticos, estúdios
amadores, etc., acabam atendendo, na maioria das vezes, às necessidades dos usuários. Ou seja,
nestes casos, a preocupação com o custo é maior do que a preocupação com a eficiência ou com os
riscos que estes materiais podem oferecer ao ambiente e às pessoas que o frequentarem. Deve-se,
portanto, estudar mais a fundo esses materiais, no sentido de determinar suas capacidades de resistir
a chamas, a fungos, verificar se exalam fortes odores, se degradam facilmente, entre outros,
procurando corrigir uma eventual deficiência de modo que estes materiais passem a fazer parte da
gama de materiais comercialmente disponíveis para controlar ruídos, com a vantagem de serem de
baixo custo e fácil aquisição.

REFERÊNCIAS

BASTOS, L. P.; HENRIQUES, N. J. M.; SOEIRO, N. S.; MELO, G. S. V. M.. Development and acoustic
characterization of panels manufactured from vegetable fibers. IN: 20TH INTERNATIONAL CONGRESS OF
MECHANICAL ENGINEERING. ANAIS, 2009.

BISTAFA, S. R. Acústica Aplicada ao Controle de Ruído. São Paulo - SP: Editora Edgar Blücher, 2006.

GERGES, S. N. Y. Ruído: Fundamentos e Controle. 2. ed. Florianópolis. NR Editora, 2000.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 140: Acoustics – Measurement of Sound


Absorption in Reverberation Rooms, 1997.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 354: Measurements of sound absorption in a


reverberation room, 1999.

MAFRA, M. P. A. Desenvolvimento de infra-estrutura para caracterização e análise de painéis acústicos. 2004. 135 f.
Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Pará, Belém, 2004.

SANTOS, J. L. P. Estudo do Potencial Tecnológico de Materiais Alternativos em Absorção Sonora. Santa Maria:
editora UFSM, 2005.

VIEIRA, R. J. A. Desenvolvimento de painéis confeccionados a partir de fibras de coco para controle acústico de
recintos. 2008. 262 f. Dissertação de Mestrado, Setor de Ciências Exatas, Vibrações e Acústica, Universidade Federal
do Pará, Belém, 2008.

96
PRODUÇÃO DE PAINÉIS DE RESÍDUOS DE AVEIA E CANA-DE-AÇÚCAR
COM POTENCIAL USO PARA CONDICIONAMENTO ACÚSTICO

CAMPOS, Rubya Vieira de Mello1; LISOT, Aline1 ASSAD FILHO, Nabi2;


TAVAREZ, Célia Regina Granhen1; SOARES, Paulo Fernando1;
(1) UEM-Universidade Estadual de Maringá;
(2) UEPR Universidade Estadual do Paraná/FECILCAM

RESUMO

Este estudo mostra o uso potencial de resíduos fibrosos, que podem ser transformadas em produtos de baixo
custo e qualidade adequada para a construção civil. O desenvolvimento deste estudo se justifica pela
quantidade de resíduos produzidos a nível nacional e também considerando que eles são uma fonte
importante de material fibroso, indicando algumas características potenciais no que diz respeito ao
condicionamento acústico. O objetivo deste estudo foi desenvolver painéis de condicionamento acústico. Os
painéis de absorção foram produzidos no Laboratório de Química Aplicada, Universidade do Estado do
Paraná (UEPR) - Campus de Campo Mourão / FECILCAM. Neste estudo foram utilizados diferentes
resíduos. Vários ensaios experimentais foram realizados com respeito aos aspectos mecânicos, biológicos e
acústico. Os testes de absorção foram determinados no tubo de impedância. Os resultados foram
parcialmente satisfatórios e as condições de aplicação do novo painel absorvente como o painel vibrante
necessitam ser pesquisadas em trabalhos futuros.

ABSTRACT

This study shows the potential use of fibrous residues, which can be transformed into low cost products and
quality suitable for construction. The development of this study is Justified by the amount of residues
produced at the national level and also considering that they are an important source of fibrous material,
indicating some potential characteristics with respect to the acoustic conditioning. The aim of this study was
to develop panels for acoustic conditioning. The absorber panels were produced in the Laboratory of Applied
Chemistry, State University of Paraná (UEPR) - Campus de Campo Mourão / FECILCAM. In this study
different residues were used. Several experimental tests were performed with respect the mechanical,
biological and acoustic aspects. The absorption tests were determined in the impedance tube. The results
were partially satisfactory and new conditions of application of the absorbent panel as the vibrant panel
needed to be investigated in future work.

Palavras-chave: Condicionamento Acústico. Absorção acústica. Produção de placas compósitas. Resíduo de


aveia. Resíduo de cana-de-açúcar.

1. INTRODUÇÃO
O homem desenvolve mecanismos que possam suprir suas necessidades ao longo de sua vida.
Contudo este processo acabou se estruturando a partir de uma desequilibrada equação: retirar,
consumir e descartar. É exatamente nesta ponta da equação que se encontra um dos principais
problemas que assola a sociedade moderna, a produção de resíduos sólidos.

O desenvolvimento tecnológico trouxe consigo um grande número de facilidades e muitos


problemas também. Um desses problemas é o descarte de resíduos, gerados por uma população, que
depende de fatores culturais, nível e hábitos de consumo, renda e padrões de vida das pessoas.

97
Muitas indústrias tiveram que rever e adaptar seus processos produtivos devido às mudanças na
economia e mudanças de mercado dos últimos anos.

O presente estudo mostra a possibilidade de reaproveitar resíduos orgânicos para desenvolvimento


de um novo produto, ou seja, a confecção dos painéis com resíduo (fibra) de cana-de-açúcar e aveia
para aplicação em paredes e divisórias para tratamento acústico.

Com esse estudo, pretende-se criar uma alternativa para aproveitar os resíduos gerados na
agricultura e indústrias, que estão localizadas em áreas próximas às cidades, de maneira que otimize
o processo, fazendo com que esses resíduos se tornem material para a produção de um produto
barato e de qualidade, ou seja, criar novas alternativas para diminuir o descarte de materiais que
podem ser utilizados como matéria-prima.

Na indústria de construção civil muito se tem feito para intensificar o uso de misturas de matérias
primas fibrosas para produtos inovadores e que substituam materiais até agora usados e que não
contribuíam para o desenvolvimento sustentável. Atualmente surgem novos materiais alternativos
para fabricação de diferentes produtos, alguns na área de acústica.

Pesquisas mostram que é possível a fabricação de painéis para tratamento acústico utilizando
diferentes tipos de fibras misturadas a diferentes materiais. Vieira (2008) desenvolveu um o estudo
utilizando a fibra de coco para a fabricação de painéis acústicos, conseguiu bons resultados no
desenvolvimento dos painéis com resíduo orgânico. Sendo assim, este estudo procurou chegar a
uma alternativa de painéis para tratamento acústico que contribua para o desenvolvimento
sustentável.

Foram várias as razões para o desenvolvimento desse estudo, tais como: disponibilidade de matéria-
prima, economia no processo, versatilidade na fabricação de painéis a partir de diferentes tipos de
materiais e melhoria na qualidade do produto final. Sendo assim, este estudo buscou chegar a uma
alternativa que contribua para o desenvolvimento sustentável.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Resíduos orgânicos
Diante dos resíduos orgânicos gerados pela sociedade, especialmente pelas empresas de alimentos,
os diversos setores de produção devem ter responsabilidade com o meio ambiente (RODRIGUES,
2007).

Os resíduos orgânicos, especificamente as fibras naturais têm sido investigados para uso como
reforço em compósitos de matriz polimérica, pois aliam aspectos relacionados ao forte apelo
ecológico entre suas características, como baixo custo, baixa densidade, fonte renovável,
biodegradabilidade, atoxicidade, caráter não abrasivo e boas propriedades térmicas, o que as tornam
candidatas em potencial para estas aplicações (SANTOS; AMICO e SYDENSTRICKER, 2006).

De acordo com Paiva (2007), um dos setores com grande potencial para o aproveitamento de
resíduos é o setor da construção civil, devido à sua ampla atuação, grande diversidade de matérias-
primas utilizadas, escassez de matérias-primas tradicionais, diferentes níveis tecnológicos para a
produção de materiais, além do alto custo associado aos mesmos e crescimento urbano acelerado.

2.1.1 Resíduos da aveia


Segundo Primavesi et al. (2001), a aveia (Avena spp) é uma gramínea anual de estação fria que
pode ser cultivada em diferentes regiões como fonte de forragem de boa qualidade nas formas
verde, fenada e ensilada.
98
Na preparação industrial da aveia para consumo humano, alguns resíduos são descartados e/ou
ficam disponíveis para a alimentação animal, sendo os principais as cascas, os pêlos que fazem
parte dos grãos, mas que se desprendem no processamento e as pontas dos grãos juntamente com
parte do endosperma (SÁ, 1995).

2.1.2 Resíduos da cana-de-açúcar


O Brasil é mundialmente reconhecido como líder na produção e eficiência do setor sucroalcooleiro,
mas esta liderança não se reflete na mesma medida na responsabilidade social, ambiental e na
governança no setor. Nos anos de 2008 e 2009, a produção nacional de cana-de-açúcar atingiu
569.062.629 de toneladas (UNICA, 2011).

No segmento de subprodutos da agroindústria destaca-se o bagaço de cana-de-açúcar, que


representa a maior porcentagem de resíduos da agroindústria brasileira (CANDIDO, 1999).

O bagaço é resultante da extração do caldo de cana-de-açúcar e é caracterizado como um alimento


com altos teores de parede celular, baixa densidade energética e pobre em proteína e minerais
(CARVALHO et al., 2006).

2.3 Materiais acústicos


Os autores Lisot e Soares (2008) afirmam que atualmente buscam-se intervenções no meio que
possam diminuir a intensidade dos sons. No contexto atual dos espaços urbanos, o ruído é
reconhecido como um elemento de degradação ambiental e tem relação direta com a cultura e o
cotidiano da sociedade.
Tradicionalmente, o ruído é controlado através de materiais não-biodegradáveis absorventes de
som, tais como lã de vidro, espumas de polímero, o que representa um prejuízo adicional para o
ambiente (FATIMA e MOHANTY, 2011).

Em termos práticos, a escolha de um material de absorção acústica, além dos coeficientes de


absorção e da frequência do ruído, há a dependência de outros fatores como: custo, peso e volume
em relação ao espaço disponível, rigidez mecânica, praticidade de fixação e manutenção, aparência
entre outros.

3. METODOLOGIA
Os painéis para tratamento acústico foram confeccionados no Laboratório de Química Aplicada, da
Universidade Estadual do Paraná (UEPR) – Campus de Campo Mourão/FECILCAM. Para a
confecção dos mesmos, foram utilizados diferentes materiais, tais como, resíduo de cana-de-açúcar,
resíduo de aveia, água, óxido de cálcio e amido catiônico. O processo de desenvolvimento dos
painéis passou pelos seguintes procedimentos: Moagem; Lavagem; Mistura e maceração;
Trituração; Preparo da massa com aditivos; Moldagem; Secagem; Acabamento. A Tabela 01 mostra
a composição utilizada para a confecção dos painéis.

Tabela 01: Composição dos painéis com fibra de cana-de-açúcar e aveia


NOMENCLATURA FIBRA COMPOSIÇÃO PROPORÇÃO
PAINEIS COM FIBRA DE AVEIA E CANA-DE-AÇÚCAR
1AC AVEIA E CANA-DE-AÇÚCAR (base* ) 50% cada Fibra : H2O 1:10
2AC AVEIA, CANA-DE-AÇÚCAR E AMIDO Amido: base 0,2:1
3AC AVEIA, CANA-DE-AÇÚCAR E RESINA Resina: base 0,3:1
*Massa com fibra e água, Com 5% (peso da massa) de CaO. Utilizada como base em todas composições

99
Foram realizados em laboratório ensaios mecânicos (densidade, gramatura, envelhecimento,
determinação da resistência à flexão dos painéis); biológicos (sensorial olfativo e de ataque por
fungos) e acústicos. Os ensaios acústicos para determinação do coeficiente de absorção sonora
acústica foram realizados em tubo de impedância no laboratório NHT – Noise Harshness
Technology - Engenharia Elétrica e Eletrônica LTDA, localizado na cidade de São Bernardo do
Campo, estado de São Paulo.
Utilizou-se o método da função de transferência segundo a Norma ISO 10534-2: 1998, “Acoustics –
Determination of sound coefficient and impedance tubes – Part 2: Transfer-function method”.

O método consiste em gerar um ruído branco no interior do tubo, em cuja terminação insere-se a
amostra, e medir a densidade espectral de potência e a densidade espectral cruzada dos microfones
localizados junto à parede do tubo.

Foram realizados os cálculos do αw (coeficiente de absorção sonora ponderado) conforme a ISO


11654:1997. Acoustics - Sound absorbers for use in buildings - Rating of sound absorption.

A Equação (01) foi empregada para a determinação o NRC (Noise Reduction Coefficient).

α250Hz +α500Hz + α1000Hz + α2000Hz


NRC=
4 [Eq. 01]

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os painéis com fibra de aveia e cana-de-açúcar apresentaram bons resultados na confecção, ou seja,
aparentemente leves, porosos e de fácil moldagem.

O resultado do ensaio biológico de ataque por fungos foi bastante satisfatório, os painéis não
apresentaram colônias de fungos. No ensaio de envelhecimento os mesmos não descamaram e
apenas apresentaram um leve escurecimento da cor. Quanto ao ensaio olfativo, os painéis
apresentaram um leve odor característico do produto e estão livres de odores adicionais. Os mesmos
apresentaram um bom desempenho no ensaio, o que confirma que os painéis de fibra de aveia e
cana-de-açúcar têm um bom comportamento olfativo.

Os ensaios acústicos mostraram um resultado satisfatório em relação a absorção do material.

A Figura 01 apresenta as curvas de absorção sonora obtidas via método da função de transferência
para as placas de fibra de aveia e cana-de-açúcar.

100
Figura 1: Curva de absorção sonora dos painéis com fibra de aveia e cana-de-açúcar

Ao analisar-se o resultado da absorção por faixa de frequência, verificou-se que o desempenho é


crescente da baixas para altas frequências sendo elevado nas altas frequências.

Para sintetizar os resultados desse ensaio, utilizou-se o índice NRC, que considera a absorção nas
frequências de 250 Hz, 500 Hz, 1000 Hz e 2000 Hz e obteve-se um NRC igual a 0,37, enquanto que
para o cálculo do αw que se utiliza de um espectro mais amplo, que vai de 1000 Hz a 5000 Hz, o
qual resultou num αw igual a 0,25. Percebe-se dessa forma o impacto do baixo desempenho nas
frequências menores no valor de αw.

5. CONCLUSÕES
Considerando os resultados obtidos nesse estudo, ao final das atividades previstas, atingiu seus
objetivos. Chegou-se a uma alternativa para a produção de painéis para tratamento acústico
utilizando a fibra derivada de cana-de-açúcar e aveia.

E feito a análise de parte dos fatores para a escolha de um material de absorção acústica, acredita-se
na possibilidade de desenvolver um produto que atenda tais requisitos.

Os ensaios mecânicos mostraram que o material é pouco resistente à força aplicada, mas para a
finalidade para que foi desenvolvido conclui-se que teve um bom resultado, já que o mesmo poderá
ser aplicado em paredes e divisórias.

Visto que o painel apresenta certa flexibilidade no ensaio de flexão, logo se pôde constatar que o
mesmo tem poder de conformação e pode apresentar facilidade de fixação e resistir a molduras e ao
contato de objetos ou pessoas.

Com os resultados do ensaio acústico dos painéis, concluiu-se que, para melhorar o desempenho do
painel nas baixas e médias frequências, pode-se pensá-los aplicado na forma de painéis
ressonantes/vibrantes, ajustando-se a frequência crítica do painel, aquela em que o painel possui
maior absorção, para as baixas e médias freqüências, dessa forma melhorando o desempenho do

101
conjunto.

Assim, acredita-se na possibilidade de aperfeiçoar esses protótipos, realizar novos ensaios acústicos,
mecânicos e biológicos, aplicar novas tecnologias e assim chegar a um produto que atenda as
exigências do mercado, podendo ser os painéis acústicos com fibras naturais um novo produto em
condições de competir tecnicamente com os produtos tradicionais e, ainda, permitir a sua aquisição
a baixo custo de matéria-prima, já que se trata de aproveitamento de resíduo da agricultura e da
indústria.

Os painéis poderão ser utilizados dentro de harmonia com as linhas arquitetônicas, com
características regionais, podendo ser utilizados em diferentes ambientes.

REFERÊNCIAS

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http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/35569/1/API-Avaliacao-do-valor-nutritivo-do-bagaco.pdf.
Acesso em 13 de maio de 2011.
2. CARVALHO, G. G. P. et al. Valor nutritivo do bagaço de cana-de-açúcar amonizado com quatro doses de uréia.
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.41, n.1, p.125-132, jan. 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/pab/v41n1/28149.pdf. Acesso em 13 de maio de 2011.
3. FATIMA, S.; MOHANTY, A.R. Acoustical and fire-retardant properties of jute composite materials. Applied
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4. ISO 10534-2, “Acoustics – Determination of sound coefficient and impedance tubes – Part 2: Transfer-function
method”, 1998.
5. ISO 11654 “Acoustics - Sound absorbers for use in buildings - Rating of sound absorption”,1997.
6. LISOT A. SOARES P. F. Ressoadores de Helmholtz em barreiras acústicas: avaliação do desempenho na
atenuação do ruído de tráfego. Acústica 2008. Disponível em: http://www.sea-acustica.es/Coimbra08/id080.pdf.
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7. PAIVA, Samantha Nazaré. Compósito cimento-lodo de ETE de indústria de papel para aplicação na construção
civil. Universidade de São Paulo. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Piracicaba, 2007. Disponível
em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11150/tde-12062007-105628. Acesso em 24 de jan. 2010.
8. PRIMAVESI, A.C.; PRIMAVESI, O.; CHINELLATO, A.; GODOY, R. Indicadores de determinação de cortes de
cultivares de aveia forrageira. Scientia Agricola, v.58, n.1, p.79-89, jan./mar. 2001. Disponível em:
Http://Www.Scielo.Br/Pdf/Sa/V58n1/A14v58n1.Pdf. Acesso em 22 de abril de 2011.
9. RODRIGUES, C. K. D. Segurança alimentar em unidades de alimentação e netrição escolar: aspectos higiênico-
sanitário e produção de resíduos orgânicos. Dissertação de Mestrado Ciência da Nutrição, Universidade Estadual
de Viçosa. 2007. Disponível em:
http://www.tede.ufv.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1060. Acesso em19 de setembro de
2010.
10. SANTOS, A. M.; AMICO S. C.; SYDENSTRICKER T. H. D. Desenvolvimento de compósito híbrido
polipropileno / fibras de vidro e coco para aplicações de engenharia. 17º CBECIMat - Congresso Brasileiro de
Engenharia e Ciência dos Materiais, 2006. Disponível em:
http://www.metallum.com.br/17cbecimat/resumos/17cbecimat-210-031.pdf. Acesso em 15 de julho de 2010.
11. SÁ, José Pedro Garcia. Utilização da aveia na alimentação animal. Circular n.85. Londrina, IAPAR, 1995.
Disponível em: http://www.iapar.pr.gov.br/arquivos/File/zip_pdf/ct_utilaveia.pdf. Acesso em 03 de março de 2011.
12. UNICA. União da indústria da cana-de-açúcar. Disponível em:
http://www.unica.com.br/content/default.asp?cchCode={C2B8C535-736F-406B-BEB2- 5D12B834EF59}. Acesso
em 22 de maio de 2011.
13. VIEIRA, R.J.A. Desenvolvimentos de painéis confeccionados a partir de fibras de coco para controle acústico em
recintos. Dissertação de Mestrado. Departamento de Engenharia Mecânica. Centro Tecnológico. Universidade
Federal do Pará. Belém, 2008. Disponível em: www.ufpa.br/gva/Arquivos%20PDF/.../Dissertacao_Rodrigo.pdf.
Acesso em 25 de novembro de 2011.
102
 

SESSÃO 01-B

103
ANÁLISE NUMÉRICA VIBRO-ACÚSTICA PARA PREVISÃO DE NÍVEIS
DE PRESSÃO SONORA NA FACE POSTERIOR UM REATOR ELÉTRICO

MENDOÇA, Adriano Câmara1; BRAGA, Danilo de Souza1; DE LIMA, Luiz Otávio


Sinimbu2; SILVA, Paulo Thadeo Andrade2, SOEIRO, Newton Sure1; MELO, Gustavo da
Silva Vieira de1.

(1) Universidade Federal de Pará. Grupo de Vibrações e Acústica, ITEC, Belém, PA.
(2) Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A

RESUMO
Nos últimos anos, o comportamento de vibração estrutural e a radiação acústica a ele relacionado têm
merecido muita atenção por parte dos engenheiros. Entretanto, estes problemas são de tratamento
matemático analítico difícil, especialmente quando estão relacionados a geometrias complexas.
Tradicionalmente, a capacidade de radiação sonora de uma estrutura é caracterizada pela eficiência de
radiação acústica. Por outro lado, é um fato conhecido, através da literatura disponível na área de acústica,
que a radiação sonora de um corpo elástico, vibrando em regime permanente, está relacionada à distribuição
da velocidade de vibração na direção normal da superfície do corpo, sua forma geométrica superficial e do
meio ambiente. Assim, existe uma relação entre vibração e som radiado, isto é, a vibração de uma estrutura
induz radiação sonora e vice-versa. Dessa forma, foi utilizado o método de elementos de contorno indireto
(variacional), o qual consiste em um procedimento de solução numérica das equações integrais que regem o
problema, para determinar o campo acústico gerado pela face traseira de um reator elétrico trifásico de 230
kV. Tendo por base os valores de aceleração medidos na face traseira do reator e o modelo modal extraído e
o modelo de elementos finitos da face traseira do reator, e utilizando o método da expansão modal, foi
possível gerar os mapas acústicos à distância de 1,95 m, tanto para o nível de pressão sonora global quanto
para os valores nas bandas de terço de oitava que contêm a freqüência de 120 Hz e seus harmônicos. Os
resultados obtidos permitem inferir que a ordem de grandeza do resultado obtido com o modelo é compatível
com o valor de NPS medido junto ao reator em operação, o que atesta a adequação do modelo.
ABSTRACT
In recent years, the behavior of structural vibration and the related acoustic radiation has concerned many
engineers. However, the mathematical treatment of such problems are difficult, especially when they are
related to a complex structure, such as occurs when trying to model a gear box housing for vehicular use.
Traditionally, the ability of a structure to radiate sound is characterized by the acoustic radiation efficiency.
Moreover, it is well known from the available acoustic literature, the sound radiation of an elastic body,
vibrating at its steady state is related to the vibration velocity distribution in the normal direction of the
surface, to the body surface geometric shape and to the environment. Thus, there is a relationship between
vibration and sound radiated, i.e. the vibration of a structure induces sound radiation and vice versa. In this
work, the method of boundary elements, which consists on solve the integral equations which governs the
problem, was used in order to obtain the acoustic map of the noise generated by the rear face of an 230 kV
electric reactor. Based on the acceleration values measured in the rear face of the reactor and extracted
modal model and finite element model of the rear face of the reactor, and using the method of the modal
expansion, it was possible to generate the acoustic maps from a distance of 1.95 m for both the sound
pressure level of overall and for the values in the third octave bands that contain the frequency of 120 Hz and
its harmonics. The results obtained allow us to infer that the magnitude of the result obtained with the model
is compatible with the NPS values measured along the reactor in operation, which attests the quality of the
model.
Palavras-chave: Análise vibro-acústica. Método de elementos de contorno. Reatores elétricos.

104
1. INTRODUÇÃO
Desde o surgimento da eletricidade no final do século XIX, a humanidade passou a cada vez
mais depender de fontes de energia elétrica para uma vasta gama de aplicações. Como, em geral, a
fonte geradora de eletricidade não se encontra geograficamente próxima ao destino consumidor, há
a necessidade de se transmitir essa energia. Assim, surgem as primeiras linhas de transmissão de
energia elétrica (LT’s). Com o passar do tempo, cada vez mais pessoas passaram a ter acesso aos
benefícios da eletricidade sendo, portanto, exigido dessas linhas maiores capacidades de
transmissão a longas distâncias. Consequentemente foram desenvolvidas estruturas maiores e meios
mais eficientes para transmitir energia. Desse modo, as torres de transmissão e os cabos condutores
tornaram-se cada vez mais suscetíveis a problemas tais como as vibrações induzidas pela ação
dinâmica do vento. Ao longo das últimas décadas, diversos estudos tem sido realizados para melhor
compreender e minorar a problemática. Blessmann (2005), por exemplo, apresenta em seu livro os
principais processos de excitação induzida pelo vento, bem como as diversas abordagens utilizadas
para obtenção das respostas dinâmicas de estruturas, como o processo de Davenport e o processo da
norma brasileira NBR 6123, a qual trata do assunto.
Os recentes avanços nas metodologias de projeto e análise computacional através de
modelagem matemática tem possibilitado o melhor entendimento dos fenômenos envolvidos na
transmissão de energia. Nesse sentido, Kaminski (2007) realiza em sua tese uma profunda análise
acerca das incertezas de modelo mecânico de torres treliçadas metálicas de linhas de transmissão de
energia elétrica. O autor avalia diversos modelos matemáticos de crescente ordem de complexidade
e detalhe, avaliando-os e comparando-os a resultados experimentais estáticos obtidos em uma
estação de testes.
Assim, o presente trabalho descreve a análise numérica estática/dinâmicade uma torre da
linha de transmissão de energia elétrica Tucuruí-Vila do Conde, de 500 kV, situada na cidade
Tucuruí-PA. A torre modelada naturalmente apresenta fortes solicitações, dadas suas grandes
dimensões (116 m de altura e 1325 m de vão), atravessando o rio Tocantins a jusante da usina
hidroelétrica de Tucuruí. Utilizando-se para tal de ferramentas numéricas computacionais, as
estruturas foram modeladas usando o método de elementos finitos (MEF), esquematizado na Figura
1. A metodologia bem como os resultados obtidos visam avaliar a resposta da estrutura às
condições operacionais da torre.

•Criação e discretização do domínio e definição de uma função


de forma que represente o fenômeno no elemento.
Pré-
•Desenvolvimento de equações para os elementos e montagem
processamento
da matriz global do sistema.
•Aplicação de condições de contorno , iniciais e carregamentos.

•Solução do sistema de equações lineares ou não


Fase de lineares resultante da fase de pré-processamento
solução simultaneamente.
•Obtenção dos resultados nodais, tais como
deslocamento, temperaturas, etc.

•Obtenção, a partir dos resultados


Pós- obtidos de outros parâmetros de
processamento interesse considerando relações
conhecidas.

Figura 1. Representação esquemática das etapas de processamento do método de elementos finitos.


Fonte: Autoria própria

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Fundamentos de Análise Modal
A descrição do movimento de um sistema contínuo envolve a solução de equações diferenciais
parciais e, como na maioria dos casos nem sequer existem soluções analíticas para tais equações,
105
costuma-se aproximar sistemas contínuos por sistemas discretos com um número finito de graus de
liberdade, os quais podem ser descritos através de sistemas de equações diferenciais ordinárias, tal
como sintetizado na Eq. 1;

𝑀 𝑥 + 𝐾 𝑥 = 𝑓(𝑡) [Eq. 01]

Onde [M] é a matriz das massas; [K] a matriz de rigidez; 𝑥 o vetor coluna das acelerações; 𝑥 o
vetor coluna dos deslocamentos e 𝑓(𝑡) o vetor coluna das forças.
Para sistemas lineares, usa-se o princípio da superposição, no qual a solução do problema é a
superposição da solução homogênea (oscilação livre) e da solução particular (movimento forçado).
Assim, para a obtenção da solução homogênea, tem-se que;

𝑀 𝑥 + 𝐾 𝑥 = 0 [Eq. 02]

Multiplicando a Eq. 2 por [M] à esquerda, teremos;


−1
𝑥 + 𝑀 𝐾 𝑥 = 0 [Eq. 03]

Onde a matriz [C] = [M]-1[K] é chamada matriz dinâmica.


Supondo-se que o sistema vibra em um de seus modos naturais, e que todos os graus de liberdade
do sistema possuam movimento harmônico de frequência circular igual a 2f, teremos a solução
da forma;

𝑥 = 𝐴 𝑒 𝑖𝜔𝑡 [Eq. 04]

na qual {A} é o vetor (ou matriz) modal, o qual representa as amplitudes de vibração das massas m1
e m2 (m3, ... Mn para um sistema qualquer) na frequência .
Calculando a segunda derivada da Eq. 6, teremos;

𝑥 = 𝑖𝜔 𝐴 𝑒 𝑖𝜔𝑡 ; 𝑥 = −𝜔2 𝐴 𝑒 𝑖𝜔𝑡 [Eq. 05]

Substituindo as Equações 4 e 5 na Eq. 3, vem que;

−𝜔2 𝐴 𝑒 𝑖𝜔𝑡 + 𝐶 𝐴 𝑒 𝑖𝜔𝑡 = 0 → 𝐶 𝐴 = 𝜔2 𝐴 [Eq. 06]

A Eq. 6 é analisada a partir do problema clássico de auto-valores e auto-vetores, 𝐵 𝑋 = 𝜆 𝑋, o qual


possui a solução trivial {A} = {0}, cuja interpretação física é a de que não há nenhum movimento
do sistema. Além da solução trivial, o problema possui infinitas soluções não-triviais quando para o
sistema homogêneo 𝐵 − 𝜆 𝐼 𝑋 = {0} tem-se que 𝑑𝑒𝑡 𝐵 − 𝜆 𝐼 = 0, determinante dito
característico, com i sendo a matriz identidade. Para o problema em questão, temos a partir da
Equação 6;

𝐶 − 𝜔2 𝐼 𝐴 = 0 [Eq. 7a]

ou seja,

𝑑𝑒𝑡 𝐶 − 𝜔2 𝐼 = 0 [Eq. 7b]

A equação característica resultante do determinante característico é um polinômio de grau n em 𝜔2 ,


onde n é o número de graus de liberdade. Conseqüentemente, teremos n raízes da equação
característica, 𝜔𝑖 2 (𝑖 = 1, 2, 3. . . ), as quais são os auto-valores do problema, correspondentes às

106
frequências naturais do sistema analisado. Substituindo-os na equação 9b, teremos os auto-vetores,
ou vetores modais {A}(i) para cada frequência natural i do sistema.
Desde que a matriz na Eq. 7a possui característica menor que n (geralmente n-1), cada vetor modal
apresenta apenas uma relação entre as amplitudes modais, e não seu valor exato. Assim, arbitra-se
um valor para uma das amplitudes e calculam-se as outras em função da amplitude arbitrada. Dessa
forma, as frequências naturais de um sistema e suas respectivas formas modais são calculadas.
2.2. Modelagem do carregamento eólico

Segundo a NBR 6123 (1988), as forças estáticas devidas à ação do vento são determinadas a partir
da velocidade básica do vento, Vo, que é a velocidade de uma rajada de 3 s, excedida uma vez a
cada 50 anos, em média, a uma altura de 10 m acima do solo, em campo aberto e plano.
Determinou-se a velocidade básica do vento na região da torre modelada (03°48’43’’ e 49°38’46’’)
a partir das isopletas da velocidade mostradas na Figura 2.

Figura 2. Isopletas da velocidade básica Vo, em m/s


Fonte: Celebrace 2007, in Santos 2008.

A velocidade básica do vento obtida é ponderada a partir de três fatores estatísticos, S 1, S2 e S3,
relacionados às especificidades de terreno, dimensões da estrutura e grau de confiabilidade
desejado. Desse modo, a velocidade característica Vk é obtida como sendo;
𝑉𝑘 = 𝑉𝑜 ∙ 𝑆1 ∙ 𝑆2 ∙ 𝑆3 [Eq. 8]

A partir da Figura 2, a velocidade básica do vento foi estimada em 30 m/s, S1 foi tomado como 1
(terreno plano, travessia de rio) e uma vez que a falha da estrutura afeta a possibilidade de socorro
em caso de uma tempestade destrutiva, foi assumido o valor de 1,1 para S3. S2 é calculado para cada
cota altimétrica. Para o caso em questão, seguindo a norma tem-se;
𝑧 0.07 [Eq. 9]
𝑆2 = 1,12 . 0,95 .
10
Onde z é a cota acima do solo. Dada a grande altura da estrutura, dividiu-se a mesma em quatro
regiões. Em cada região foi determinada a velocidade característica do vento (Vki), índice de área
exposta (𝜙 𝑖 ) e o coeficiente de arrasto (Cai), mostrados nas Figuras 3(b) e 3(c).

107
Índice de área exposta em função da
altura

Índice de área exposta (F)


0,4
0,29
0,3 0,2
0,2 0,11
0,08
0,1
0
13,75 48 80,5 104,25
Altura [m]

(b)

Coeficiente de arrasto em função da


altura
6
Coeficiente de arrasto Ca
5
4 3,45 3,4
2,9
3 2,5
2
1
0
13,75 48 80,5 104,25
Altura [m]
(a) (c)
Figura 3. (a) Torre de transmissão; (b) coeficientes de área exposta e (c) coeficientes de arrasto para cada região.
Fonte: Autoria própria

De posse das velocidades e dos coeficientes de arrasto, foram calculadas as pressões dinâmicas
estáticas e os carregamentos distribuídos nos perfis da estrutura usando as equações mostradas
abaixo na Eq. 10;
2 [Eq. 10]
𝑞 𝑖 = 0,613 𝑉𝑘𝑖 e 𝐹𝑙 = 𝐶𝑎 ∙ 𝑞 𝑖 ∙ 𝑎

Onde a é a dimensão da aba do perfil sujeita ao carregamento e Fl é o carregamento distribuído por


comprimento das barras (N/m).

3. RESULTADOS OBTIDOS
3.1 Análise estática

A análise foi conduzida a partir do modelo geométrico apresentado na Fig. 3 (a), após a aplicação
do carregamento e das condições de contorno, ou seja, aplicação das restrições nodais (engaste) nos
“pés” da torre. As respectivas forças de arrasto foram distribuídas por toda estrutura da torre, onde é
considerada a ação do vento na direção perpendicular à face lateral da estrutura, a fim de simplificar
a análise e seguindo a NBR 6123. Igualmente, foram aplicados os esforços provocados pelo peso
dos cabos na estrutura da torre. A consideração dos pesos dos cabos será feita através da Equação
11, proposta por Labegalini et al (1992). As Eqs. 11 determinam a flecha (f) e o comprimento
desenvolvido (L) dos cabos, respectivamente;
𝜌𝐴2 8𝑓 2
𝑓= 𝐿=𝐴+ [Eqs. 11]
8𝑇0 e 3𝐴

108
Onde 𝜌 é a densidade linear; T0 tração normal de trabalho; A o tamanho do vão, de forma que L>A.
Com base na Eq. 11, o valor da flecha e comprimento dos cabos condutores suportado pela torre
serão, respectivamente, 77,45 m e 1337,1m. Para os cabos pará-raios, foram calculados os valores
68,88 m e 1334,5 m para a flecha e comprimento desenvolvido, respetivamente. De posse dos
valores dos comprimentos desenvolvidos e das densidades lineares dos cabos em questão (0,847
kgf/m para o condutor e 0,408 kg/m para o pará-raio) determinam-se os esforços verticais nos
isoladores conectados (1132,5 kgf para o condutor e 544,5 kgf para o para-raio) aos “braços” da
torre e transmitidos para estrutura.

Calculados os carregamentos que solicitam a torre, partiu-se para a realização da análise linear
estática da estrutura. Usando a plataforma ANSYS, foram aplicadas as cargas distribuídas
resultantes da pressão do vento, o peso próprio da estrutura e dos cabos que ela suporta. Os graus de
liberdade dos quatro pés da torre foram restringidos, considerando que a fundação não sofre
deformação relevante para esse estudo. A estrutura deformada resultante é mostrada na Figura K;

Figura 4. Estrutura deformada resultante da análise estática.

Observa-se que a estrutura sofre um deslocamento global máximo de 56,25 mm no topo da torre,
como era esperado.

Figura 5. Localização dos pontos de maiores tensões de compressão e tração, respectivamente.

Os resultados mostraram que a torre sofre tensões de tração justamente nos pés da base do lado
incidente do vento, devida à flexão que a torre como um todo sofre. Foi calculada uma tensão

109
máxima de 121 MPa nessa região. Por outro lado, os esforços compressivos atingem um máximo (-
116 MPa) na região oposta à incidência do carregamento eólico, nas proximidades dos pontos de
fixação dos condutores centrais, o que leva a crer que os esforços do peso dos condutores aplicados
na torre exercem uma influência considerável no comportamento da parte superior da torre.
Considerando-se, porém, que os aços que compõe a torre (ASTM A36 e ASTM A572 Gr. 50)
apresentam tensão de escoamento em torno de 250 e 345 MPa, respectivamente, pode-se concluir
que a torre não apresenta falhas quando consideradas as solicitações estáticas.

3.2 Análise modal

As cinco primeiras frequências naturais do modelo estrutural da torre SOD-E-500 foram calculadas
a partir da análise modal executada, sendo as mesmas apresentadas na Tab.1.
Tabela 1. Valores das cinco primeiras frequências naturais de vibração da torre SOD-E-500 em Hertz.

Frequência f1 f2 f3 f4 f5

Valor 1,4333 1,4351 2,0897 2,1148 2,1195

Os três primeiros modos de vibração são representados nas Figuras 6, 7, e 8. A primeira forma
modal obtida consiste na flexão da estrutura em torno do eixo x. Tal modo, mostrado na Figura 6, é
longitudinal ao eixo da linha de transmissão.

(a) (b) (a) (b)

(c) (c)
Figura 6. Modo fundamental de vibração da torre SOD-E-500, Figura 7. Segundo modo de vibração da torre SOD-
em vista frontal (a), lateral (b) e superior (c). E-500, em vista frontal (a), lateral (b) e superior (c).

110
O segundo modo de vibração, mostrado na Figura 7, representa flexão em torno do eixo z. Este
modo tem grande participação modal no caso mais comum de excitação eólica transversal à LT. O
terceiro modo de vibração, mostrado na Figura 8, exibe deformação torcional ao longo do eixo y.
Tal modo é importante no caso de ruptura brusca de um dos cabos (condutores ou pará-raios).

(a) (b)

Figura 8. Terceiro modo de vibração da torre SOD-E-500, em vista frontal (a) e superior (b).

4. CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos é possível concluir que a torre se comporta dentro do regime linear
elástico do ponto de vista estático (Fig. 5), quando submetida aos carregamentos eólicos previstos
nas normas técnicas, bem como aos carregamentos gravitacionais advindos do peso próprio da
estrutura (torre e cabos). Na análise modal, pode-se observar que as frequências naturais obtidas
para os três primeiros modos (Tabela 1) encontram-se acima dos valores com maior probabilidade
de excitação por mais tempo devido a ação do vento, considerando-se que as frequências mais
prováveis de causar ressonância em estruturas encontram-se abaixo de 1 Hz.
No entanto, a excitação eólica é em essência dinâmica, e o comportamento da torre isoladamente
não representa totalmente o sistema estrutural de uma linha de transmissão. Assim, as próximas
etapas avaliarão o comportamento dinâmico da estrutura isolada e acoplada aos condutores e pará-
raios, e os modelos numéricos gerados serão calibrado através de ensaios em bancada.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1988). NBR 6123: Forças devidas ao
vento em edificações. Rio de Janeiro.
BLESSMANN, J. (2005). Introdução ao estudo das ações dinâmicas do vento. 2ª ed. Porto
Alegre: Editora da UFRGS.
HUTTON, D. V. (2004). Fundamentals of finite element analysis. 1.ed. Nova Yorque: The
McGraw-Hill Company.
KAMINSKI Jr, J. (2007). Incertezas de modelo na análise de torres metálicas treliçadas de
linha de transmissão. 361 f. Tese (doutorado) –– Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, Universidade Federal do rio Grande do Sul.
LABEGALINI, P. R., LABEGALINI, J. A., FUCHS, R. D., ALMEIDA, M. T. (1992). Projetos
Mecânicos da Linhas Aéreas de Transmissão. São Paulo: EdgardBlücher.
111
PREDIÇÃO DO FATOR DE PERDA DE PAINÉIS DE FUSELAGEM COM
MATERIAIS VISCOELÁSTICOS UTILIZANDO A TEORIA DE
ESTRUTURAS PERIÓDICAS E O MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS

MEDEIROS, A. A.; BRATTI, G.; DOS SANTOS, M. F.; CORDIOLI, J. A.; LENZI, A.
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Mecânica.
Campus Universitário, Florianópolis – SC Brasil, 88040-490.
Email: cordioli@emc.ufsc.br

RESUMO
A análise vibroacústica de estruturas aeronáuticas na faixa de médias e altas frequências é
rotineiramente realizada utilizando SEA (Statistical Energy Analysis). Um sistema complexo é
tipicamente particionado em subsistemas, e um parâmetro chave para um bom modelo de SEA é o
fator de perda por amortecimento (Damping Loss Factor - DLF) dos subsistemas. O DLF é
geralmente obtido a partir de testes experimentais, o que é um problema quando o interesse está em
avaliar diferentes configurações de aplicação do material de amortecimento, como, por exemplo,
otimizar o posicionamento de materiais viscoelásticos em painéis de fuselagem. Neste artigo, uma
técnica que combina o Método de Elementos Finitos (Finite Element Method - FEM) e a Teoria de
Estruturas Periódicas é usada para predizer o DLF de um painel de fuselagem com materiais
viscoelásticos. O método utiliza como dados de entrada o amortecimento associado a cada
componente do painel (placa, reforçadores e material viscoelástico). Os resultados são comparados
com dados experimentais e numéricos com um bom nível de concordância.

ABSTRACT
The vibro-acoustic analysis of aircraft structures in the mid to high frequency range is routinely
performed using the Statistical Energy Analysis (SEA). A complex built-up system is typically
partitioned in subsystems, and a key factor to an accurate SEA model is the damping loss factor
(DLF) of the subsystems. The DLF is usually obtained from experimental tests. However, this is not
practical when the interest is in evaluating many different configurations of damping treatments,
like for example to optimize the placement of viscoelastic damping materials on a fuselage
structure. In this paper, a technique that combines the Finite Element Method (FEM) and the
Periodic Structure Theory is used to predict the DLF of a fuselage panel with viscoelastic materials
based on the damping associated with each component of the panel (stringer, frame, skin,
viscoelastic material). The results are compared with numerical and experimental data with a good
level of agreement.
Palavras-chave: SEA, Elementos Finitos, Estruturas Periódicas, Materiais Viscoelásticos, DLF.

1. INTRODUÇÃO
A Análise Estatística Energética (Statistical Energy Analysis - SEA) e, mais recentemente, o
método Híbrido FEM-SEA são os métodos numéricos padrão utilizados para analisar o desempenho
vibro-acústico de estruturas nas indústrias aeronáutica e aeroespacial (Davis, 2004; Cordioli e
Cotoni, 2009). Ambos os métodos dependem de uma descrição estatística das regiões da estrutura
(chamadas subsistemas), as quais são representadas por suas densidades modais, fator de perda por
amortecimento (Damping Loss Factor - DLF), fator de perda por acoplamento (Coupling Loss
Factor - CLF) e a potência de entrada. Apesar de os outros parâmetros poderem ser calculados com

112
razoável confiança por métodos analíticos e numéricos, o DLF é tipicamente obtido por testes
experimentais. Diferentes técnicas experimentais são mencionadas na literatura para determinação
do DLF, como o Método da Potência Injetada (Bies e Hamid, 1980); e o Método do Decaimento
(Bloss e Rao, 2005). Entretanto, a determinação experimental do DLF tem duas desvantagens: (i) as
medições são geralmente feitas para uma única estrutura, enquanto SEA assume um DLF médio
para um conjunto de estruturas similares, e (ii) a abordagem torna-e proibitiva se diferentes
configurações de materiais viscoelásticos devem ser avaliadas.

Materiais viscoelásticos são amplamente utilizados em aplicações aeronáuticas e aeroespaciais, bem


como em outras indústrias, tendo em vista a possibilidade de se obter altos níveis de amortecimento
(Rao, 2003). Diferentes configurações de materiais viscoelásticos são relatadas na literatura, com a
configuração de camada constrita recebendo atenção especial. Nesta configuração, a dissipação se
deve principalmente à deformação por cisalhamento do material (Nashif et al, 1985), e para
predizer o desempenho do material é necessário estimar o campo de deformações aplicado ao
material. Modelos em FEM podem ser utilizado nas baixas frequências para predizer o DLF de uma
estrutura com material viscoelástico, mas o custo computacional torna-se proibitivo quando a
frequência aumenta, e os testes experimentais são a única alternativa para estimar o DLF de um
subsistema SEA com material viscoelástico.

Estruturas reforçadas periodicamente são largamente utilizadas nas indústrias aeronáutica e


aeroespacial devido a sua alta relação rigidez/massa. Como exemplos tem-se a fuselagem de aviões
e a carenagem do compartimento de carga de foguetes. Tais características estão também associadas
a altos níveis de vibração, o que remete à aplicação de materiais de amortecimento. Assim, a
determinação do amortecimento de uma dada configuração de material de amortecimento é vital no
projeto de uma nova estrutura. Subestimar o amortecimento ocasionado por um material de
amortecimento pode resultar na adição de uma massa adicional desnecessária ao projeto, enquanto
superestimar o amortecimento pode levar a níveis de vibração excessivos e problemas de segurança.
Tendo em vista os problemas descritos acima, a determinação do fator de perda de uma estrutura
periodicamente reforçada, como um painel de fuselagem, pode ser um tanto difícil, e o objetivo
deste artigo é descrever uma abordagem alternativa.

Recentemente, um novo método foi proposto para o cálculo dos parâmetros de entrada de SEA para
estruturas complexas baseado na Teoria de Estruturas Periódicas e FEM (Cotoni et al, 2008).
Apesar de o método poder ser aplicado a outros tipos de estruturas, neste artigo ele será restrito à
aplicação em estruturas periodicamente reforçadas. O método é baseado em um modelo em FEM de
uma “célula” da estrutura periódica que se repete em duas direções. O modelo da célula é utilizado
para calcular o campo ondulatório que se propaga na estrutura periódica, o qual é utilizado para
predizer os parâmetros de entrada de SEA, incluindo o DLF.

Neste artigo, uma revisão do método de estruturas periódicas e da abordagem utilizada para calcular
o DLF é apresentada. O método é então utilizado para estimar o DLF de um painel de fuselagem
com material viscoelástico. Os resultados são comparados com resultados experimentais e
numéricos. Finalmente, uma investigação numérica é efetuada, onde os efeitos de diferentes áreas
de cobertura e distribuição do material viscoelástico são analisados.

2. TEORIA DE ESTRUTURAS PERIÓDICAS E MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS


2.1. Campo ondulatório progressivo em estruturas periódicas
Um método baseado na Teoria de Estruturas Periódicas e FEM foi recentemente proposto para o
cálculo dos parâmetros de SEA de estruturas periódicas (Cotoni et al, 2008). A teoria periódica
utilizada no método foi previamente apresentada por Langley (1993) e assume uma periodicidade
2D da estrutura. Neste caso, a estrutura é composta por um número idêntico de “células” ou “baias”,

113
as quais são conectadas em um padrão regular em duas direções. Um exemplo de um modelo FEM
de uma célula representando uma fuselagem aeronáutica é dado na Fig. 1.

Figura 1: Exemplo de célula de estrutura periódica e seus GL de canto e aresta (Cotoni et al, 2008).

Este método divide os graus de liberdade (GL) q da célula em GL interior (I), de aresta (L, R, B, T)
e de canto (LB, RB, LT, RT), como mostrado na Fig. 1, tal que

. [Eq. 1]

A vibração harmônica da estrutura pode ser analisada aplicando um atraso na fase entre GL de
cantos e de arestas em cada direção na forma de um multiplicador exp(-i!). A transformação leva a
relações de propagação dadas de forma matricial

, [Eq. 2]

de forma que o comportamento dinâmico do sistema possa ser representado por um novo conjunto
de GL dado por

, onde . [Eqs. 3,4]


As Eqs. 3 e 4 representam uma redução no número de GL, e a equação do movimento resultante da
célula em vibração livre é dada por

, [Eq. 5]

onde K e M são as matrizes de rigidez e massa da célula em termos de todos os GL. A Eq. 5 é uma
equação homogênea, e pode ser resolvida como um problema clássico de autovalores em que um
conjunto de constantes de fase (!x, !y) é especificado. Os autovalores resultantes !n2(!x, !y)

114
representam frequências com ondas se propagando na estrutura periódica, enquanto os autovetores
"n(!x, !y) descrevem tal movimento. A função !n(!x, !y) pode ser representada para um dado
autovalor como uma função de !x e !y a qual é chamado de “superfície de fase constante” (phase
constant surface). A análise pode ser limitada a uma dada faixa de frequência, de forma que
somente as ondas que se propagam naquela faixa de frequência são obtidas (similar ao truncamento
modal). Os autovalores e autovetores podem ser utilizados para calcular as curvas de dispersão
(através de uma Transformada de Fourier espacial dos autovetores), e para calcular os parâmetros
de entrada de SEA. O cálculo do fator de perda é apresentado na próxima seção. Mais detalhes do
método podem ser obtidos em Cotoni et al (2008).

2.2. Fator de perda


O fator de perda de uma onda se propagando pode ser definido como a razão entre a energia
dissipada e a energia total, o que pode ser escrito como (Shorter, 2004)

, [Eq. 6]

onde U, T e Pdiss são, respectivamente, a média no tempo da energia potencial elástica, energia
cinética e potência dissipada da onda. Estas quantidades podem ser calculadas baseadas nas funções
!n(!x, !y) e "n(!x, !y) obtidas na seção anterior. Assumindo que a célula tem regiões com diferentes
fatores de perda (devido a um material viscoelástico, por exemplo), a potência dissipada pode ser
relacionada à energia de deformação Ur de cada região por

. [Eq. 7]

Substituindo a Eq. 7 na Eq. 6 e escrevendo as energias potencial e cinética em termos dos GL da


célula, é possível obter o fator de perda da n-ésima onda que se propaga na estrutura para um dado
conjunto de (!x, !y) por:

. [Eq. 8]

Baseado na Eq. 3, a Eq. 8 pode então ser reescrita como:

, [Eq. 9]

onde "n e R são funções das constantes de fase (!x, !y).

O próximo passo é relacionar o fator de perda obtido pela Eq. 9 com o DLF definido em SEA. No
contexto SEA, o fator de perda "(#) do subsistema é associado com a razão entre a energia
dissipada por um campo difuso dentro do subsistema e a energia do campo em uma banda de
frequência. Assumindo que as ondas da banda de frequência tem energia similar (ver Cotoni et al
(2008)), "(#) pode ser obtido calculando "n(!x, !y) médio sobre todas as ondas que se propagam na
banda de frequência e todas as constantes de fase (!x, !y) , ou seja,

, [Eq. 10]
onde # é a frequência central da banda e # sua largura.
115
Os resultados apresentados neste trabalho foram obtidos através da implementação dessas equações
no programa comercial VA-One (ESI GROUP, 2009), que também faz uso da Síntese de
Componente Modal (Component Mode Synthesis - CMS), para reduzir o custo computacional da
análise.

3. VALIDAÇÃO EXPERIMENTAL E NUMÉRICA


3.1. Propriedades do material viscoelástico – Viga Engastada
As propriedades físicas de materiais viscoelásticos são normalmente determinadas através da norma
ASTM E756-05, que apresenta um método baseado em medições de funções resposta em
frequência (FRF) de uma viga engastada-livre com e sem material viscoelástico. Devido as
limitações da norma para a caracterização de materiais na condição constrita, optou-se por uma
nova abordagem baseada em FEM e na energia de deformação. Esta abordagem é baseada na
medição de FRFs de uma viga engastada-livre com material viscoelástico na configuração constrita.
Um modelo em FEM da viga e do material viscoelástico foi desenvolvido, e as propriedades físicas
do material viscoelástico foram ajustadas para minimizar o erro entre as FRFs numéricas e
experimentais. Para obter as propriedades do material viscoelástico em função da frequência, foi
utilizado o modelo de derivadas fracionárias, o qual é função de seis coeficientes. O ajuste dos
coeficientes deste modelo foi realizado por um algoritmo de otimização do tipo evolutivo, o
Algoritmo Genético, implementando no programa MATLAB.

Um material viscoelástico comercial foi utilizado na análise, o qual era composto de uma camada
de viscoelástico de 1.24 mm e uma camada de constrição de alumínio de 0.1 mm de espessura. O
modelo em FEM inclui elementos hexaedros de 8 nós para representar o material viscoelástico, e
elementos de placa de 4 nós para representar a camada de constrição e a viga base. O modelo é
similar àqueles utilizados por Johnson et al (1981) e Balmes, Bobillot (2002). Assumindo um
coeficiente de Poisson de 0.49 fornecido pelo fabricante do material viscoelástico, o módulo de
elasticidade e o fator de perda obtidos por ajuste de propriedades foram utilizados em outro modelo
em FEM, onde a viga base foi substituída por uma viga com a mesma propriedade da placa da
fuselagem. O fator de perda do sistema resultante, mostrado a seguir na seção 3.3 com outros
resultados de fatores de perda, foi associado às regiões com material viscoelástico do modelo em
FEM da célula periódica.

3.2. Fator de perda de um painel de fuselagem – Método da Potência Injetada


O fator de perda de um painel de fuselagem com e sem material viscoelástico foi determinado
experimentalmente utilizando o Método da Potência Injetada – PIM (Bies e Hamid, 1980; Bloss e
Rao, 2005). O método é baseado na comparação entre a potência dissipada pela estrutura e a sua
energia cinética. Assumindo que a potência injetada na estrutura seja igual à potência dissipada em
condições de regime permanente e que a energia total seja duas vezes a energia cinética, a Eq. 6
resulta em

. [Eq. 11]

Reescrevendo a Eq. 11 em termos das mobilidades pontuais Ypp(#) e de transferências Ypt(#) tem-se

, [Eq. 12]

onde mr é a massa de uma dada região da estrutura e denota uma média espacial.

116
O painel de fuselagem usado nos testes experimentais está ilustrado na Fig. 2.a. A estrutura é
composta por uma placa de alumínio de 2 mm de espessura com 3 cavernas e 5 stringers, ambos
feitos de chapas de alumínio conformadas. O painel tem 24 baias de dimensões 0,44 x 0,18 m, e foi
suspenso por cordas flexíveis durante os testes experimentais (condição livre-livre).

Nos testes experimentais, um excitador eletrodinâmico foi utilizado para excitar a estrutura,
enquanto uma cabeça de impedância e acelerômetros foram utilizados para medir as FRFs de
transferência e pontuais na faixa de frequência de 50 a 3200 Hz. Foi aplicada uma correção para a
massa da cabeça de impedância nas FRFs pontuais e o fator de perda foi calculado através da Eq.
11. O fator de perda foi em seguida calculado em bandas de 1/3 de oitava, e os resultados obtidos
estão apresentados na seção 3.3 para a estrutura com e sem material viscoelástico.

Figura 2: Painel reforçado utilizado nos testes experimentais (a) e modelo em FEM da célula (b).

3.3. Modelo em FEM da célula periódica


O fator de perda do painel de fuselagem com material viscoelástico foi estimado utilizando a teoria
periódica. O modelo em FEM da célula utilizada na análise é mostrado na Fig. 2.b, onde os
materiais viscoelásticos estão mostrados em laranja. O modelo inclui somente elementos de placa,
com a região com material viscoelástico é representada através de elementos do tipo PCOMP. Um
fator de perda constante de 0,004 foi aplicado para todas as regiões da célula, exceto para a região
com material viscoelástico, para o qual o fator de perda é dado na Fig. 3. A criação dos modelos em
FEM das células e as análises periódicas foram feitas utilizando o programa comercial VA-One (ESI
GROUP, 2009). Os resultados numéricos e dos testes experimentais são mostrados na Fig. 3.
DLF

Frequência (Hz)
Figura 3: DLF: experimental (painel com viscoelástico), experimental (painel sem viscoelástico),
numérico (painel com viscoelástico), região com viscoelástico e região sem viscoelástico.

117
Uma concordância muito boa pode ser observada para frequências acima de 250 Hz. Acredita-se
que as discrepâncias entre os resultados numérico e experimental em baixas frequências são devido
à hipótese no PIM de que a energia total do sistema pode ser estimada a partir da energia cinética.
Esta hipótese é valida nas frequências de ressonância, mas provavelmente subestima a energia total
abaixo dos primeiros modos da estrutura. De fato, os resultados obtidos da teoria periódica parecem
mais razoáveis. Abaixo dos primeiros modos das baias (em torno de 250 Hz), a deformação da
estrutura provavelmente se concentra nos reforçadores da estrutura (modos globais), os quais
possuem baixo fator de perda.

3.4. Modelo em Elementos Finitos do painel de fuselagem – Validação Numérica


Modelos em FEM do painel inteiro foram também utilizados para validar os resultados da teoria
periódica. A Fig. 4a mostra o modelo em FEM unindo as célula (Fig. 2.b) nas direções x e y,
enquanto a Fig. 4b mostra o modelo da estrutura utilizada na análise experimental. Note que o
modelo utilizado nos testes tem somente 3 cavernas e 5 stringers, apesar de ter o mesmo número de
baias e a mesma área total. O DLF foi calculado baseado em uma abordagem similar à utilizada no
PIM (energia total estimada com base na energia cinética). Ambos os modelos foram resolvidos
assumindo condições de contorno livre-livre, enquanto o modelo mostrado na Fig. 5a foi também
resolvido para condições de contorno pinadas nas bordas do painel.

Figura 4: Modelos em FEM do painel de fuselagem.

Os DLFs calculados utilizando os modelos em FEM dos painéis são comparados na Fig. 5 com os
DLFs obtidos pelos testes experimentais e pelo método periódico.
DLF

Frequência (Hz)
Figura 5: DLF da estrutura: experimental (com viscoelástico), teoria periódica, painel FEM
livre-livre (Fig. 4a), painel FEM apoiado (Fig. 4a), painel em FEM livre- (Fig 4b).

118
Em geral, os resultados estão com boa concordância, com os modelos em FEM também
apresentando valores maiores do que o método periódico em baixas frequências, mas convergindo
para os mesmos resultados em frequências mais altas. De novo, as diferenças em baixas frequências
acredita-se serem devidas à abordagem utilizada para estimar a energia total do sistema na análise
em FEM dos painéis. Pode também ser notado que ambos os painéis mostrados na Fig. 4 mostram
DLF similares para condições de contorno livre-livre para toda a faixa de frequência. Isso sugere
que o fator de perda do painel não é muito sensível a pequenas mudanças na configuração do painel,
e que a análise periódica pode ser utilizada com confiança mesmo para casos onde a estrutura não é
perfeitamente periódica.

4. ÁREA DE COBERTURA E DISTRIBUIÇÃO DE MATERIAIS VISCOELÁSTICOS


Uma aplicação típica do método proposto seria investigar a distribuição de materiais viscoelásticos
aplicados à estrutura. Para exemplificar tal aplicação, outras três células periódicas foram avaliadas
e os modelos em FEM são apresentados na Fig. 6. As novas células possuem metade da área de
cobertura em relação à célula utilizada na seção 3.3 (será chamada de célula 1, Fig. 2.b), e
diferentes formas e posicionamentos na baia. Um fator de perda constante de 10% foi aplicado às
áreas com material viscoelástico, enquanto um fator de perda de 0,4% foi utilizado nas demais
regiões. Os fatores de perda calculados utilizando o método periódico são mostrados na Fig. 7 para
cada célula.

(a) (b) (c)

Figura 6: Modelos em Elementos Finitos das células periódicas.


DLF

Frequência (Hz)
Figura 7: Fator de perda via estrutura periódica: célula 1 (Fig. 2b), célula 2 (Fig. 6a),
célula 3 (Fig 6b), célula 4 (Fig. 6c).

A redução da área de cobertura tem um impacto importante no DLF mostrando uma redução de
aproximadamente 40% no DLF das células 2, 3 e 4. A distribuição do material viscoelástico na
célula também tem um papel importante, como pode ser percebido na comparação entre as células 2
e 3. Ambas as células tem a mesma área, mas a célula 2 apresenta um fator de perda maior do que o
da célula 3 para frequências entre 250 e 800 Hz. Esta faixa de frequência está associada com os
primeiros modos da baia, para os quais o posicionamento no centro da baia tem tendência de
produzir maior deformação de cisalhamento no material viscoelástico. Uma vez que o material é
119
posicionado no meio da baia, a forma exata do material parece ter um efeito reduzido, como pode
ser verificado pelos resultados das células 2 e 4. A célula 4 (Fig 6c) representa uma forma comum
utilizada para materiais viscoelásticos em aplicações aeronáuticas e, apesar de os resultados serem
um pouco mais altos do que aqueles da célula 2, os resultados são em geral bastante similares.

5. CONCLUSÕES
Uma nova abordagem baseada em FEM e na Teoria de Estruturas Periódicas foi utilizada para
predizer o DLF de um painel de fuselagem com material viscoelástico, e os resultados foram
comparados com resultados numéricos e experimentais. Para validar experimentalmente o método,
foi necessário primeiramente identificar as propriedades físicas do material viscoelástico utilizado.
Isso foi feito pelo ajuste de um modelo em FEM de uma viga engastada-livre coberta com material
viscoelástico. As propriedades físicas do material viscoelástico foram então utilizadas para estimar
o fator de perda das regiões com material viscoelástico nos modelos em FEM das células. Uma boa
concordância entre as predições do amortecimento do painel pelo método periódico e experimentais
foi observada. Acredita-se que discrepâncias em frequências muito baixas se devem à aproximação
utilizada nos testes para estimar a energia total do sistema. Nível similar de concordância também
foi alcançado quando o DLF do novo método foi comparado com os resultados através dos modelos
completos em FEM do painel de fuselagem. Foi observado que o fator de perda não é muito
sensível a pequenas mudanças na configuração do painel, e isto justifica a aplicação do método
periódico a estruturas que fogem da periodicidade perfeita. Finalmente, um exemplo de uma típica
aplicação do método periódico foi utilizada para avaliar o fator de perda de estruturas periódicas
com diferentes áreas de cobertura e distribuições de materiais viscoelásticos. Foi visto que
mudanças na área de cobertura e no posicionamento do material na célula tem um impacto
significativo sobre o fator de perda da estrutura.

REFERÊNCIAS

1. ASTM E756-05. (2005). Standard Test Method for Measuring Vibration-Damping Properties of Materials.
American Society for Testing and Materials.
2. Balmes, E., Bobillot, A. (2002). Analysis and design tools for structures damped by viscoelastic materials,
Proceedings of the International Modal Analysis Conference, Los Angeles, CA, USA.
3. Bies, D.A., Hamid, S. (1980). In situ determination of loss and coupling loss factors by the power injection method,
Journal of Sound and Vibration, 70(2), pp. 187–204.
4. Bloss, B.C., Rao, M.D. (2005). Estimation of frequency-averaged loss factors by the power injection and the
impulse response decay methods, The Journal of the Acoustical Society of America, 117.
5. Cordioli, J.A., Cotoni, V. (2009). Review of some industrial applications of the Hybrid FE-SEA method to vibro-
acoustic prediction and analysis, Proceedings of NOVEM2009, Oxford, UK.
6. Cotoni, V., Langley, R.S., Shorter, P.J. (2008). A statistical energy analysis subsystem formulation using finite
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7. Davis, E.B.. (2004). By Air by SEA, Proceedings of NoiseCon2004, Baltimore, EUA.
8. Johnson, C.D., Kienholz, D.A., Rogers, L.C. (1981). Finite element prediction of damping in beams with
constrained viscoelastic layers, Shock and vibration bulletin, Vol. 51(1), pp. 71-81.
9. Langley, R.S. (1993). A note on the force boundary conditions for two-dimensional periodic structures with corner
freedoms, Journal of Sound Vibration, Vol. 167, pp. 377-381.
10. Nashif, A.D., Jones, D.I.G., Henderson, J. P. (1985). Vibration damping, New York: John Wiley & Sons.
11. Rao, M. (2003), Recent applications of viscoelastic damping for noise control in automobiles and commercial
airplanes, Journal of Sound and Vibration. 262, pp. 457–474.
12. Shorter, P.J. (2004). Wave propagation and damping in linear viscoelastic laminates, The Journal of the Acoustical
Society of America, Vol. 115, pp. 1917.
13. VA One 2009 User’s Guide, ESI Group, Paris, France, November 2009.

120
ANÁLISE NUMÉRICA VIBRO-ACÚSTICA PARA PREVISÃO DE NÍVEIS
DE PRESSÃO SONORA NA FACE POSTERIOR UM REATOR ELÉTRICO

MENDOÇA, Adriano Câmara1; BRAGA, Danilo de Souza1; DE LIMA, Luiz Otávio


Sinimbu2; SILVA, Paulo Thadeo Andrade2, SOEIRO, Newton Sure1; MELO, Gustavo da
Silva Vieira de1.

(1) Universidade Federal de Pará. Grupo de Vibrações e Acústica, ITEC, Belém, PA.
(2) Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A

RESUMO
Nos últimos anos, o comportamento de vibração estrutural e a radiação acústica a ele relacionado têm
merecido muita atenção por parte dos engenheiros. Entretanto, estes problemas são de tratamento
matemático analítico difícil, especialmente quando estão relacionados a geometrias complexas.
Tradicionalmente, a capacidade de radiação sonora de uma estrutura é caracterizada pela eficiência de
radiação acústica. Por outro lado, é um fato conhecido, através da literatura disponível na área de acústica,
que a radiação sonora de um corpo elástico, vibrando em regime permanente, está relacionada à distribuição
da velocidade de vibração na direção normal da superfície do corpo, sua forma geométrica superficial e do
meio ambiente. Assim, existe uma relação entre vibração e som radiado, isto é, a vibração de uma estrutura
induz radiação sonora e vice-versa. Dessa forma, foi utilizado o método de elementos de contorno indireto
(variacional), o qual consiste em um procedimento de solução numérica das equações integrais que regem o
problema, para determinar o campo acústico gerado pela face traseira de um reator elétrico trifásico de 230
kV. Tendo por base os valores de aceleração medidos na face traseira do reator e o modelo modal extraído e
o modelo de elementos finitos da face traseira do reator, e utilizando o método da expansão modal, foi
possível gerar os mapas acústicos à distância de 1,95 m, tanto para o nível de pressão sonora global quanto
para os valores nas bandas de terço de oitava que contêm a freqüência de 120 Hz e seus harmônicos. Os
resultados obtidos permitem inferir que a ordem de grandeza do resultado obtido com o modelo é compatível
com o valor de NPS medido junto ao reator em operação, o que atesta a adequação do modelo.

ABSTRACT
In recent years, the behavior of structural vibration and the related acoustic radiation has concerned many
engineers. However, the mathematical treatment of such problems are difficult, especially when they are
related to a complex structure, such as occurs when trying to model a gear box housing for vehicular use.
Traditionally, the ability of a structure to radiate sound is characterized by the acoustic radiation efficiency.
Moreover, it is well known from the available acoustic literature, the sound radiation of an elastic body,
vibrating at its steady state is related to the vibration velocity distribution in the normal direction of the
surface, to the body surface geometric shape and to the environment. Thus, there is a relationship between
vibration and sound radiated, i.e. the vibration of a structure induces sound radiation and vice versa. In this
work, the method of boundary elements, which consists on solve the integral equations which governs the
problem, was used in order to obtain the acoustic map of the noise generated by the rear face of an 230 kV
electric reactor. Based on the acceleration values measured in the rear face of the reactor and extracted
modal model and finite element model of the rear face of the reactor, and using the method of the modal
expansion, it was possible to generate the acoustic maps from a distance of 1.95 m for both the sound
pressure level of overall and for the values in the third octave bands that contain the frequency of 120 Hz and
its harmonics. The results obtained allow us to infer that the magnitude of the result obtained with the model
is compatible with the NPS values measured along the reactor in operation, which attests the quality of the
model.

121
Palavras-chave: Análise vibro-acústica. Método de elementos de contorno. Reatores elétricos.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o comportamento de vibração estrutural e a radiação acústica a ele relacionado
têm merecido muita atenção por parte dos engenheiros. Entretanto, estes problemas são de
tratamento matemático analítico difícil, principalmente, quando estão relacionados a uma estrutura
complexa.

Tradicionalmente, a capacidade de radiação sonora de uma estrutura é caracterizada pela eficiência


de radiação acústica. Por outro lado, é um fato conhecido, através da literatura disponível na área de
acústica, que a radiação sonora de um corpo elástico, vibrando em regime permanente, está
relacionada à distribuição da velocidade de vibração na direção normal da superfície do corpo, sua
forma geométrica superficial e do meio ambiente. Assim, existe uma relação entre vibração e som
radiado, isto é, a vibração de uma estrutura induz radiação sonora e vice-versa.

Segundo Soeiro (2000), o procedimento para a predição da radiação acústica envolve como um
passo inicial a determinação da velocidade da superfície da estrutura sob análise, a qual tem origem
no carregamento aplicado sobre a mesma. Em seguida, é feito o cálculo da pressão sonora,
resolvendo a equação de onda acústica, através do método direto (colocacional) ou indireto
(variacional), usando as velocidades superficiais obtidas inicialmente como condições de contorno.

O reator elétrico trifásico, objeto de estudo deste trabalho, apresenta elevados níveis de vibração e
ruído em funcionamento. Dessa forma, foram feitos procedimentos a fim de se avaliar o
comportamento vibro-acústico do reator em funcionamento, tais como: medição de espectro
cruzado de aceleração com dois acelerômetros, nível de pressão sonora equivalente e em terços de
oitava e levantamento das características intrínsecas da estrutura do equipamento, através de análise
modal experimental, com excitação via martelo de impacto.

Com base nos dados obtidos, foi realizada uma modelagem numérico-computacional utilizando o
método dos elementos finitos para obter as informações de velocidade vibracional na chapa traseira
do reator. Em seguida, foi executada uma análise acústica através do método de elementos de
contorno.

2. MÉTODO DE ELEMENTOS DE CONTORNO


2.1. Formulação do Problema Acústico
O método de elementos de contorno consiste em um procedimento numérico baseado na solução de
equações integrais obtidas a partir da aplicação do teorema da divergência ao produto interno da
equação diferencial, que governa o problema, e a função de Green (VLAHOPOULOS,
RAVEENDRA,1999). No caso do problema acústico, no domínio da frequência, a equação
diferencial é a equação escalar de Helmholtz, dada por:

∇2p + k 2p = 0 [Eq. 1]

sendo ∇2 o operador Laplaciano, p a pressão acústica e k = ω/c o número de onda acústica. As


possíveis condições de contorno utilizadas são as seguintes:

p = p em S1 (condição de Dirichlet) [Eq. 2]

122
∂p
= −i ρ ω v n em S 2 (condição de Neumann) [Eq. 3]
∂n

∂p
= −i ρ ω A n p em S 3 (condição de Robin) [Eq. 3]
∂n

com S = S1 U S 2 U S 3 , sendo p a pressão sonora na superfície S1 , v n a velocidade normal na


superfície S 2 e An a admitância normal na superfície S 3 .
Em acústica, tanto a análise de elementos de contorno direta (aproximação colocacional) quanto a
indireta (aproximação variacional) podem ser usadas. Na técnica variacional, a solução aproximada
é obtida minimizando-se um funcional associado com a equação integral do contorno original. A
formulação variacional, usada na modelagem acústica que será aqui apresentada, é descrita a seguir.

2.2. Método Indireto (Aproximação Variacional)


A equação integral que forma a base da análise de elemento de contorno indireta é obtida em termos de
descontinuidade de velocidade (σ, single layer potencial) e de pressão (μ, double layer potencial) através da
superfície, como:

⎡ ∂G (R' , R ) ⎤

p(R ) = − ⎢G (R' , R )σ(R' ) −
S⎣ ∂n (R' )
μ(R' )⎥ dS(R' )

[Eq. 4]

onde σ e μ estão relacionados, respectivamente, à diferença de velocidade de partícula e de pressão


acústica através da superfície S como:

∂p + ∂p −
σ= − = −iρω(u + − u − ) [Eq. 5]
∂n ∂n

μ = p+ − p− [Eq. 6]

Nas Eq. 5 e 6, os sobrescritos + e – simbolizam os valores em ambos os lados da superfície S. A


equação integral para a velocidade de partícula normal pode ser obtida da equação integral de
pressão como:

∂p( R ) ⎡ ∂G (R' , R ) ∂ 2 G (R' , R ) ⎤


∂n (R )
= −iρωu = − ∫ ⎢
S( R' ) ⎢ ∂n ( R )

σ(R' ) −
∂n (R' )∂n (R )
μ(R' )⎥ dS(R' )
⎦⎥
[Eq. 7]

Embora a formulação indireta seja válida para condições de contorno em geral, a representação aqui
é restrita a condições de contorno de velocidade para o propósito da abordagem feita para o
problema de determinação da eficiência de radiação acústica. Sob esta condição, visto que σ = 0, a
Eq. 7 é reduzida para:

⎡ ∂ 2 G (R' , R ) ⎤
− iρωu (R ) = ∫ ⎢
S( R' ) ⎢ ∂n ( R' )∂n (R )

μ(R' )⎥ dS(R' )
⎦⎥
[Eq. 8]

123
A solução da Eq. 4 pode ser obtida pela minimização de um potencial J, onde:

1 ∂ 2 G (R' , R )
J= ∫ ∫
2 S( R ) S( R' ) ∂n (R' )∂n (R )
μ(R' )μ(R )dS(R' )dS(R ) + Λ
[Eq. 9]
iρω ∫S(R ) u(R)μ(R)dS(R

Os valores desejados das variáveis de superfície dos elementos de contorno, μ, são aqueles que
minimizam o funcional definido na Eq. 9. Este funcional pode ser expresso na forma matricial
como:
1
J = μ T Aμ − μ T b [Eq. 10]
2

sendo os elementos da matriz A e do vetor b obtidos da avaliação das integrais aproximando os


potenciais σ e μ nos nós dos elementos usados na discretização da superfície S. A equação final do
sistema pode ser obtida, a partir da Eq. 10, impondo a condição de estacionariedade em μ, isto é:

Aμ = b [Eq. 11]

A solução da Eq. 11 é a solução do problema de valor de contorno prescrito. Subseqüentemente, as


respostas de velocidade e pressão acústica no campo, potência sonora radiada e eficiência de
radiação podem ser avaliadas pelas seguintes expressões:

⎡ ∂G (R' , r ) ⎤

p(r ) = − ⎢G (R' , r )σ(R' ) −
S⎣ ∂n (R' )
μ(R' )⎥ dS(R' )

[Eq. 12]

∂p(r ) ⎡ ∂G ( R' , r ) ∂ 2 G ( R' , r ) ⎤


∂x j (r )
= −iρωu j = − ∫ ⎢
S( R' ) ⎢ ∂x j (r )

σ( R' ) −
∂n ( R' )∂x j (r )
μ(R' )⎥ dS(R' )
⎥⎦
[Eq. 13]

Wrad =
1

2 S
{ }
Re μv *n dS [Eq. 14]

Wrad
σ rad =
∫S v rms dS
2 [Eq. 15]
ρc

em que xj(r), para j = 1 a 3, são os vetores unitários nas direções x, y e z, respectivamente, na


posição r e uj é a velocidade de partícula na direção xj e posição r.

3. ANÁLISE EXPERIMENTAL
3.1. Análise modal experimental do reator
Foi realizada uma coleta de dados para a análise modal do reator em estudo. Por outro lado, tendo
sido constatado que os níveis de pressão sonora medidos eram maiores na face traseira do costado
do reator, optou-se por medir as funções respostas em frequência nesta face, até porque a
instrumentação disponível para medição não seria capaz de excitar o reator como um todo, devido
às suas características de inércia e de geometria. Foram realizadas as medições das funções de

124
resposta em freqüência (FRF’s) do tipo inertância. A Tabela 1 lista os valores para as frequências
naturais da face posterior do reator, sendo listados os primeiros 10 modos, e a Fig. 1 apresenta a
execução da excitação da carcaça do reator, a malha computacional gerada e a forma modal relativa
à frequência próxima a 120 Hz, respectivamente.

Tabela 1 – Freqüências naturais obtidas na análise modal do reator.

Modo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Freq.
35.5 44.1 49.3 59.1 71.7 93.8 116.0 121.5 128.7 134.5
(Hz)
Fonte: Os autores

(a) (b) (c)


Figura 1. Excitação da carcaça do reator através de Martelo de Impacto (a) e malha de pontos
em que foram medidas as FRF’s do tipo inertância (b) e forma modal relativa ao oitavo modo (c).

3.2. Medição de Aceleração da Chaparia Externa do Reator


As medições foram realizadas com o analisador PULSE de 4 canais de entrada e 2 de saída, do
fabricante B&K. A face traseira do reator – isto é, a face que fica oposta ao painel de comando – foi
dividida em 243 pontos (Fig. 2a). Assim, com o analisador e o software PULSE Labshop foi
possível realizar tanto as medições de amplitude de aceleração (m/s2) em rms (Fig. 2b), quanto fazer
o registro de espectro cruzado. Foram utilizados acelerômetros uniaxiais do fabricante Wilcoxon de
sensibilidade de carga de 10,21 mV/ms-2. Apenas o acelerômetro fixado ao canal 2 movimentou-se
para coletar as informações em todos os pontos, sendo o acelerômetro ligado ao canal 1 utilizado
como referência (fixo).

(a) (b)

Figura 2. Distribuição dos pontos de medição (a) e mapa de aceleração (m/s2) (b) na face traseira do reator.

125
3.4. Mapeamento Acústico do Reator Elétrico
Os níveis de ruído do equipamento e do ambiente foram determinados como níveis de dose de ruído
equivalente com ponderação da escala A, expressa em dB(A), com o medidor do tipo Mediator
modelo 2238, com filtro para análise em bandas de oitava e 1/3 de oitava do fabricante B&K. Para
evitar erros de medição devido a influências perturbadoras, tais como buzinas e trovões, utilizou-se
a indicação de resposta rápida do medidor.

A malha acústica utilizada nas medições são apresentadas na Figura 3a, sendo que os cruzamentos
das linhas são os locais onde foram medidos os níveis de dose equivalente de ruído (LAeq). Estes
pontos coincidem com os centros das partes planas da chapa que constitui a face traseira do reator.
A Figura 3b apresenta os níveis de pressão sonora em banda de 1/3 de oitava para pontos
posicionados à frente da face traseira do reator em funcionamento.

Figura 3. Malha acústica para medição do LAeq a 1,70 m - face traseira do reator (a) e LAeq em 1/3 de oitava para as
faces traseira (b).

4. O MODELO DE ELEMENTOS FINITOS E O MÉTODO DA EXPANSÃO MODAL


Os resultados de uma análise estrutural de elementos finitos fornecem uma fonte de informação
digna de confiança, mas a sua precisão é limitada pela incerteza nas propriedades do material,
condições de contorno real e dificuldade de representação da excitação real. Por outro lado, os
resultados experimentais tendem a representar melhor o problema real, entretanto, nunca estão
disponíveis em todos os nós da malha de elementos de contorno, o que torna difícil sua utilização
na geração das condições de contorno no problema acústico. Assim, podemos combinar o melhor
de cada fonte de dados descritas acima, ou seja, o uso dos modos de vibração estrutural calculados
pelo método de elementos finitos para extrapolar, a partir de medições disponíveis em um número
limitado de nós, para toda a malha de elementos de contorno. Essa técnica se baseia no fato de que
os deslocamentos em qualquer nó i, na direção j, podem ser expressos como uma combinação linear
dos primeiros m modos de vibração, conforme expresso na seguinte equação:

m
uij = ∑a
k =1
k .φijk [Eq. 16]

sendo uij o deslocamento do nó i na direção j, ak o fator de participação modal do modo k e φijk o


deslocamento do nó i, na direção j, para o modo k.
Se n componentes de deslocamentos são conhecidas, a Eq. 16 é de fato um sistema de n equações
com m incógnitas. A técnica de Decomposição em Valores Singulares (MAIA, 1989) é usada para
o cálculo da solução mais apropriada. Uma vez que os fatores de participação modal estejam

126
determinados, os deslocamentos em todos os outros nós da malha de elementos de contorno podem
ser calculados pela Eq. 16 e a velocidade normal por:
m
Vni = ∑ (i.ω . a k ).φnik [Eq. 17]
k =1

O procedimento de expansão modal descrito acima foi utilizado por Soeiro et. al (1998) na análise
acústica de uma placa e, pelo resultado adequado obtido, foi escolhido para a formulação de um
modelo acústico da face traseira do costado do reator, a qual é a que apresenta os maiores níveis de
pressão sonora.
A face traseira do reator foi modelada por elementos de casca com condições de apoio elástico para
simular a deformação da conexão soldada da chapa da face traseira com o restante da estrutura do
reator. A Figura 4a mostra o modelo de elementos finitos para o qual foi feita a análise modal
numérica para a determinação de freqüências naturais e formas modais.

Figura 4. Modelo de elementos finitos da face traseira do reator (a), modo de vibração obtido pelo modelo próximo a
120 Hz (b), e modo operacional medido em 120 Hz (c).

Na Figura 4b é mostrada a forma deformada relativa à forma modal obtida pelo modelo de
elementos finitos da face traseira do reator numa freqüência de aproximadamente 119 Hz, enquanto
que na Figura 4c é apresentada a forma deformada relativa à frequência de excitação de 120 Hz
(modo operacional).
5. RESULTADOS DA MODELAGEM ACÚSTICA.
Tendo por base os valores de aceleração medidos, o modelo modal extraído, e o modelo de
elementos finitos da face traseira do reator, foi possível gerar, usando o método de elementos de
contorno, os mapas acústicos à distância de 1,95 metros, tanto para o nível de pressão sonora global
quanto para os valores nas bandas de terço de oitava que contêm a frequência de 120 Hz, mostrados
nas Figuras 5 e 6.

Figura 5. Mapa Acústico de Nível de Pressão Sonora Global em dB linear.

127
Figura 6. Mapa Acústico na banda de 1/3 de oitava (dB linear) de 125 Hz (a), 250 Hz (b) e 400 Hz.

6. CONCLUSÕES
A análise modal experimental da face traseira do reator identificou a presença de modos de vibração
em sintonia com a excitação imposta pelo núcleo, o que é também atestado nos autoespectros
medidos em uma quantidade significativa de pontos distribuídos sobre a face traseira, mostrando
que a carcaça está amplificando as vibrações induzidas pelo núcleo do reator, em uma ou outra
frequência de excitação, dependendo do ponto de resposta da sua estrutura. Tal fato permite afirmar
que existe um fenômeno de ressonância.
A quantidade de informações experimentais, tanto de vibração quanto de ruído, foi bastante
significativa, uma vez que foram realizadas medições de diversos parâmetros os quais permitiram
um diagnóstico eficiente da situação operacional do reator, auxiliando no desenvolvimento dos
modelos numéricos.
Desse forma, uma grande quantidade de cálculos foram realizados a partir da elaboração dos
modelos numéricos, tanto de elementos finitos quanto de elementos de contorno, possibilitando a
previsão de formas modais e frequências naturais do modelo completo da face traseira do reator.
Por fim, conclui-se que a abordagem numérica e experimental usada neste estudo mostrou eficácia e
representou de maneira adequada o comportamento em serviço do reator elétrico trifásico estudado.

REFERÊNCIAS
1. Maia, N. M. M. (1989), An Introduction to the Singular Value Decomposition Technique
(SVD), Proceedings the International Modal Analyses Conference, 335 – 339.
2. Soeiro, N. S. Uma metodologia de modelagem vibro-acústica de caixa de engrenagem de
uso veicular. 2000. 237 f. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica). Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis. 2000.
3. Vlahopoulos, N., Raveendra, S. T. (1999), Vallance, C., Messer, S., Numerical
implementation and applications of a coupling algorithm for structural-acoustic models with
unequal discretization and partially interfacing surfaces, Finite Elements in Analysis and
Design 32, 257-277.

128
PROJETO E SIMULAÇÃO DE VIBRADOR DE FORMAS DE CONCRETO

AGUIAR, João Guilherme Gomes; JORDAN, Roberto


Departamento de Engenharia Mecânica
Universidade Federal de Santa Catarina

RESUMO
Neste artigo é descrito o projeto de um sistema vibratório a ser utilizado na compactação da massa de
concreto em formas, no processo de produção de peças com este material. O procedimento de compactação
visa à melhor distribuição da massa e a eliminação das bolhas de ar. O sistema vibratório fundamental é
basicamente um sistema de dois graus de liberdade. O dispositivo de produção de vibrações (vibrador) e a
mesa vibratória de suporte das formas são representados por duas massas concentradas, cada uma com
movimentos em apenas uma direção. O sistema de geração de vibrações tem seu princípio de funcionamento
detalhado. Diferentes hipóteses construtivas do conjunto vibrador/mesa são apresentadas e testadas. É
apresentado o equacionamento teórico das várias situações, bem como é realizada a simulação numérica dos
mesmos, fornecendo as curvas de resposta em frequência correspondentes. Os objetivos a serem atingidos
são níveis de aceleração pré-definidos, considerando as massas que devem ser vibradas.
ABSTRACT
This article presents the development of a vibrating system to be used to compact the mixture, in the
manufacturing process of concrete pieces. The compacting process is necessary to enhance the homogeneity
of the mixture, as well as to avoid the presence of air bubbles in it. The whole apparatus is analysed as a
two degrees of freedom system, since the vibrating driver (shaker) and the shaking table are considered
lumped masses, both moving along unique directions. The mechanical project of the shaker, containing
unbalanced rotors, is further described. Some projects of the shaker/table set, based on different conceptual
arrangements, are presented. The dynamic equations of the various cases are derived and they are used to
numerical simulate the resulting systems. Frequency response curves, for both degrees of freedom of the
various systems, are also shown. The objectives to be reached are pre-defined vibrations levels, that take
into account the masses of the pieces that are being produced.
Palavras-chave: Vibrador para concreto. Produção em formas. Projeto e simulação. Alternativas de
construção.

1. INTRODUÇÃO
O concreto é um material de construção civil constituído por uma mistura de cimento, areia, pedra e
água. Sua resistência e durabilidade dependem da proporção de seus materiais constituintes.
Alguns motivos de perda de resistência e durabilidade do concreto são bolhas (vazios) devidas à
própria reação de cura ou grupos de cavidades devidos à segregação da mistura, influenciadas por
zonas perto da fôrma ou da armadura. Visando reduzir estes defeitos, se faz necessário, para várias
aplicações, o adensamento do concreto (CONSTRUFACIL, 2011, NETSABER, 2011 e
WIKIPEDIA, 2011).
O adensamento ou compactação do concreto é uma operação que visa eliminar vazios (defeitos) no
seu interior, formados a partir da reação dos seus componentes durante a cura ou durante seu
lançamento na forma, e rearranjar seus agregados (areia e brita), além de fazer com que ele
preencha completamente as formas. Esta operação pode ser feita de forma manual ou mecânica. A
manual consiste na aplicação de golpes para “expulsão” das bolhas. Porém este método se mostra
ineficaz para grandes volumes de concreto por exigir muito esforço e ainda não dar garantia de um
bom adensamento.

129
Já para o adensamento mecânico, existem alguns meios de realizá-lo; entre eles os principais são:
• vibradores de agulha, estes imersos na massa de concreto e espalhando-o por meio de
vibração;
• vibradores de placas, onde placas ligadas a vibradores transmitem vibração ao solo,
sendo utilizada principalmente em pavimentação;
• mesas vibratórias, onde são colocadas peças para serem vibradas. Utilizadas geralmente
para peças pré-moldadas com tamanho reduzido.

Além destes métodos de adensamento, existem aditivos que podem ser misturados ao concreto que
o tornam auto-adensáveis, geralmente com um custo maior, porém com a vantagem de não
necessitar de máquinas e nem de força manual para este fim.
Este trabalho foca em mesas vibratórias para adensamento de concreto e traz um projeto de uma
destas, sendo que se mostra interessante, pois se veem oportunidades de produzir mesas
diferenciadas.

2. DESENVOLVIMENTO
O projeto da mesa vibratória teve como orientação básica minimizar a transferência de esforços ao
meio circundante. Partiu-se, então, para uma solução que envolvesse um sistema de dois graus de
liberdade, tendo a intenção de usar o princípio do neutralizador dinâmico de vibrações. O objetivo
era reduzir fortemente a vibração do sistema que se comunica, via suspensão, com o meio externo.
O projeto inicial previu um sistema de dois graus de liberdade com movimentos verticais, conforme
a Fig. 1. A suspensão básica, abaixo das duas massas, foi admitida como sendo construída de molas
metálicas, portanto o seu amortecimento foi desconsiderado (c1 = 0).

Figura 1: Sistema de dois graus de liberdade com movimento vertical.

Considerando que se aplique força somente na massa m1 (ou seja, f2 = 0, ver Fig. 1), são obtidas as
seguintes relações (MEIROVITCH, 1975 e HEIDRICH, 1996):
X1 − m 2 ω2 + i c 2 ω + k 2
= [Eq. 01]
F1 − m1 ω 2 + i c 2 ω + k 1 + k 2 − m 2 ω 2 + i c 2 ω + k 2 − ( i c 2 ω + k 2
( )( ) )2
e
X2 i c2 ω + k 2
= . [Eq. 02]
F1 − m1 ω 2 + i c 2 ω + k 1 + k 2 − m 2 ω 2 + i c 2 ω + k 2 − ( i c 2 ω + k 2
( )( ) )2
130
Um exemplo de representação gráfica das Eqs. (01) e (02) está mostrado na Fig. 2. Os valores
utilizados foram: m1 = 500 kg, m2 = 1.250 kg, k1 = 5,00 × 104 N/m, k2 = 4,95 × 106 N/m e c2 = 100
Ns/m.

Figura 2: Exemplo de representação gráfica das Eqs. (01) e (02).


No exemplo apresentado acima, em 10 Hz tem-se um mínimo na curva |X1/F1|, que acontece na
frequência de atuação do sistema superior (ver Fig. 1), na forma de um neutralizador dinâmico.
Seria o ponto de operação (P.O., ver Fig. 2) indicado, visando-se a mínima resposta do
deslocamento x1. Esta frequência corresponde à frequência natural do sistema neutralizador
isolado, ou seja, k 2 / m 2 . Nesta mesma frequência percebe-se que a resposta |X2/F1| possui um
valor razoável, o que permite um nível de vibração na mesa (sistema superior) que deve ser
suficiente para compactar a massa de concreto. O nível de vibração obtido na massa m2, desta
forma, é baixo se comparado aos correspondentes aos picos (aproximadamente 80 dB abaixo do
primeiro pico e 40 dB abaixo do segundo), o que significa que não se está aproveitando a
ressonância no sentido de amplificar a resposta e minimizar assim a potência aplicada. Porém,
nestes picos, a resposta |X1/F1| também seria muito alta e, através da mola k1, as forças transmitidas
à base seriam muito elevadas, o que contraria o critério básico de projeto que se está utilizando.
Como a frequência angular de vibração a ser utilizada (e que será apresentada adiante) possui um
valor significativo, e a aceleração desejada não é muito elevada, não é difícil atingir o ponto de
operação desejado. A aceleração pico na mesa vibratória, neste caso de vibração vertical, não pode
ser superior a 1g (uma vez a aceleração da gravidade), pois desta forma faria as formas de concreto
“pularem” sobre a mesa.
Repetindo o procedimento utilizado anteriormente, porém aplicando força apenas na massa m2 (ou
seja, f1 = 0), e com base na Fig. 1, são obtidas as relações:
X1 i c2 ω + k 2
= [Eq. 03]
F2 − m1 ω + i c 2 ω + k 1 + k 2 − m 2 ω 2 + i c 2 ω + k 2 − ( i c 2 ω + k 2
( 2
)( ) )2
e
X2 − m1 ω 2 + i c 2 ω + k 1 + k 2
= . [ Eq. 04]
F2 − m1 ω 2 + i c 2 ω + k 1 + k 2 − m 2 ω 2 + i c 2 ω + k 2 − ( i c 2 ω + k 2
( )( ) )2
A proposta inicial de projeto, com vibração vertical, descrita rapidamente acima, possui um
inconveniente. O sistema gerador de vibrações (representado pela massa m1) e a mesa vibratória
(massa m2) têm seus pesos descarregados sobre as suspensões. Como, para atingir baixas
frequências naturais, as molas têm que apresentar valores relativamente baixos de rigidez, as
deformações estáticas provocadas pelos pesos dos equipamentos tornam-se altas, deixando o
sistema instável.

131
Para resolver este problema foi adotada uma solução aparentemente simples: mudou-se a direção de
vibração (horizontal em vez de vertical), pois o concreto pode ser agitado em qualquer destas
direções (ver Fig. 3). Esta solução adotada “descarrega” o peso das partes no chão, portanto pode-
se recorrer a molas macias (baixando as frequências naturais do sistema) sem se preocupar com a
deflexão estática da mola. Novamente se desconsidera o amortecimento c1, que inclusive não está
presente na Fig. 3.

Figura 3: Sistema de dois graus de liberdade com vibração horizontal.


Estando previsto no projeto que não se tenham acelerações de magnitude muito grande (para não
derramar concreto), foi estabelecida como parâmetro de projeto a aceleração lateral pico de 1 g.
Admitiu-se uma amplitude de deslocamento de 2,5 mm (5 mm pico-a-pico). Para movimento
harmônico a relação entre as amplitudes de aceleração A e de deslocamento X é dada por:
A = X ω2 , [Eq. 05]
onde ω = 2 π f é a frequência angular em rad/s, sendo f a frequência em Hz.
Assim, para os valores de aceleração e deslocamento definidos acima, resulta uma frequência de
acionamento aproximada de 10 Hz. Esta passa a ser, então, a frequência de projeto.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Objetiva-se a maior diferença possível de resposta entre as massas m2 e m1 (grande resposta na
mesa e pequena no sistema básico), na frequência de projeto. Para buscar este objetivo, são
variados os parâmetros de constantes de mola e amortecimento e analisada sua resposta no gráfico
de resposta em frequência.
Para isto serão testadas três hipóteses:
(a) frequência de excitação igual à de neutralização do sistema (com excitação no
sistema básico – m1);
(b) frequência de excitação entre as duas ressonâncias, porém diferente da frequência de
neutralização (com excitação na mesa vibratória – m2);
(c) frequência de excitação superior às duas frequências de ressonância, ou seja, faixa
de isolamento do sistema (com excitação no sistema básico – m1).
Para gerar as curvas correspondentes à hipótese (a) acima são utilizadas as Eqs. (01) e (02). Para a
massa m2 foram utilizados dois valores: 1.250 e 2.250 kg, para verificar o efeito da alteração da
massa total da mesa vibratória. Os outros valores utilizados foram: m1 = 500 kg, k1 = 5,00 × 104
N/m, k2 = 4,95 × 106 N/m e c2 = 100 Ns/m. Os resultados estão mostrados na Fig. 4.

132
(i) (ii)

Figura 4: Receptâncias para acionamento na massa m1, hipótese (a),


(i) m2 = 1.250 kg e (ii) m2 = 2.250 kg.
Na Fig. 4 (ii) percebe-se que o neutralizador diminuiu a sua frequência de atuação (anti-pico),
passando a 7,47 Hz, em virtude do aumento da massa m2.
Percebe-se, porém, que a faixa de frequências neutralizadas é muito estreita (anti-pico), exigindo
uma grande exatidão de rotação do motor que gera a excitação. Além disso, a mesa perde a sua
versatilidade, pois uma diferença de massa agitada (incorporada a m2) pode produzir uma razoável
mudança na frequência do anti-pico.
Seja agora a hipótese (b) acima. O sistema de excitação foi passado à massa m2, de forma a se
conseguir um deslocamento, em função da frequência, muito mais constante por parte da mesa.
Além disso, buscou-se uma frequência de ressonância de segundo modo de vibração com valores
mais altos, pois se percebeu que em função de um dado amortecimento na mesa vibratória as
respostas seriam maiores na mesa e menores no sistema base, com uma significativa diferença de
resposta entre os dois corpos. Este comportamento mais constante com a frequência mostrou-se
muito útil, pois ao serem variadas as massas a serem agitadas, pouca mudança é percebida nos
gráficos de resposta em frequência, como se pode observar na Fig. 5. Para gerar tais curvas foram
aplicadas as Eqs. (03) e (04). Os valores utilizados na geração das curvas da Fig. 5 foram:
m1 = 14,4 kg, k1 = 5,00 × 105 N/m, k2 = 1,00 × 104 N/m e c2 = 100 Ns/m. A diferença entre as
curvas desta figura é que na primeira foi utilizada m2 = 1.250 kg e na segunda m2 = 2.250 kg.
(i) (ii)

Figura 5: Receptâncias para acionamento na massa m1, hipótese (b),


(i) m2 = 1.250 kg e (ii) m2 = 2.250 kg.
Observando a Fig. 5 (i), a qual utiliza m2 = 1.250 kg, verifica-se que no ponto de operação (P.O.) a
relação entre X2 e X1 é grande (38,4 vezes), como desejado. Porém a rigidez k1 é bastante alta, o
que acaba acarretando a transferência de uma força razoável ao ponto de fixação. Isto porque a
força transmitida corresponde ao produto de k1 por X1.

133
Analisa-se agora a hipótese (c). Ao ser percebido um distanciamento cada vez maior entre os
valores de deslocamentos nas frequências mais altas (frequências maiores do que a segunda
frequência natural), buscou-se a diminuição das duas frequências naturais a fim de se trabalhar
nesta faixa de altas frequências (que para um sistema de um grau de liberdade, é conhecida como
“zona de isolamento”).
Para isto trabalhou-se com molas mais macias e excitação na massa m2 (mesa), visando à
diminuição das frequências naturais. Percebeu-se ainda que sem amortecimento as respostas
ficavam cada vez melhores (maior deslocamento na mesa e menor no isolador). Seguem abaixo, na
Fig. 6, curvas correspondentes a esta nova situação. Para gerar tais curvas foram aplicadas as
Eqs. (01) e (02), utilizando os parâmetros: m1 = 200 kg, k1 = 1,50 × 102 N/m, k2 = 1,50 × 103 N/m e
c2 = 0 Ns/m. A diferença entre as curvas desta figura é que na primeira foi utilizado o valor
m2 = 1.250 kg e na segunda m2 = 2.250 kg.
(i) (ii)

Figura 6: Receptâncias para acionamento na massa m1, hipótese (c),


(i) m2 = 1.250 kg e (ii) m2 = 2.250 kg.
Uma grande vantagem do projeto segundo a hipótese (c) é o baixo valor da constante de mola k1, o
que favorece a baixa transferência de forças ao meio exterior à mesa vibratória.

Assim, o projeto adotado foi aquele relativo à hipótese (c), com os dados ali descritos. A única
diferença foi considerar que a mesa possui massa fixa de 250 kg, à qual são aplicadas três diferentes
cargas : 1.000, 2.000 e 3.000 kg. Os dois primeiros casos correspondem, então, às situações que
estão representadas na Fig. 6.

Na frequência de projeto de 10 Hz, para os três valores de massas adicionais, têm-se então os
resultados apresentados na Tab. 1.

Tabela 1. Relações deslocamento/força para o sistema de dois graus de liberdade, em 10 Hz.

m2 – valor total |X1/F1| |X2/F1|


1.250 kg 3,85×10-10 m/N 2,03×10-7 m/N
2.250 kg 2,14×10-10 m/N 1,13×10-7 m/N
3.250 kg 1,48×10-10 m/N 7,79×10-8 m/N

Em todas as situações consideradas na Tab. 1, o deslocamento X2 é aproximadamente 500 vezes


superior ao deslocamento X1. Verifica-se que os deslocamentos, para mesma força aplicada, vão
decaindo com o aumento da massa m2, como seria de se esperar.

Foi construído um modelo numérico através do software ANSYS, considerando a maior massa
adicionada (ou seja, m2 = 3.250 kg). Uma imagem do sistema está mostrada na Fig. 7. Para este

134
sistema tem-se |X2/F1| = 7,79×10-8 m/N, conforme a Tab. 1. Portanto, a força necessária para mover
o sistema, de forma a atingir X2 = 2,5 mm, é:
X2 2,5 × 10 −3
F1 = = −8
= 3,21×10 4 N . [Eq. 06]
X 2 / F1 7,79 ×10

Figura 7. Modelo ANSYS do sistema.

A força F1, cuja amplitude é definida pela Eq. (06), foi aplicada à massa m1, de forma harmônica,
na faixa de frequências de 8,5 a 12 Hz. Os valores obtidos, em 10 Hz, foram o deslocamento igual
a 2,51 mm e a aceleração de 9,95 m/s2, próximos aos valores de projeto, que foram deslocamento de
2,50 mm e aceleração de 1 g.

Ainda para o caso em análise, a força transmitida ao meio externo é dada por:

Ftr = k1 X1 = k1 |X1/F1| F1 = 1,5×102 1,48×10-10 32,1×103 = 7,13×10-4 N , [Eq. 07]

onde o valor de |X1/F1| foi obtido da Tab. 1. A força transmitida é, portanto, muito baixa.

O acionamento do sistema foi projetado para ser realizado por duas massas excêntricas girando em
sentido contrário, de forma que a força resultante possua apenas componente horizontal. Imagens
deste acionamento são apresentadas na Fig. 8. Cálculos referentes à determinação das massas
excêntricas podem ser obtidos de Aguiar (2011).

Figura 8. Vibrador por massas desbalanceadas.

135
4. CONCLUSÕES
O objetivo principal do projeto de mesa vibratória era a minimização das forças transmitidas ao
meio externo. Assim, trabalhar em regiões próximas às ressonâncias se torna impossível, pois ali
todos os movimentos são intensos e as forças transmitidas através de molas e amortecedores se
tornam elevadas. Perde-se, infelizmente, a capacidade de multiplicação de movimentos e forças
que as ressonâncias fornecem.

Inicialmente pensou-se em trabalhar com vibrações verticais, mas a necessidade de suportar o peso
próprio do equipamento tornava as constantes de mola muito elevadas, dificultando a minimização
das forças transmitidas. Em consequência, o projeto passou a admitir vibrações horizontais.

Foram então propostas três alternativas de projeto, sempre trabalhando com um sistema composto,
de dois graus de liberdade. A primeira utiliza o efeito neutralizador e a segunda também posiciona
a frequência de trabalho entre os picos de ressonância, porém com o vibrador reposicionado. Na
terceira tem-se a frequência de trabalho localizada em altas frequências, acima do segundo pico de
ressonância, na região que normalmente se denomina de “região de isolamento”.

Nas três alternativas as relações entre X2 (movimento da mesa) e a amplitude da força aplicada são
baixas, da ordem de 10-7 m/N, porém com valores próximos entre si. Contudo, a aceleração
horizontal definida em projeto é relativamente baixa (1 g) e a frequência, também de projeto, de 10
Hz, permitem que a amplitude requerida de movimento possa ser baixa, da ordem de milímetros.
Portanto, a escolha entre opções não deve levar especialmente em conta a relação acima citada.

A primeira opção, que envolve o efeito neutralizador, se for considerado baixo amortecimento, tem
um grande inconveniente: o sistema deve ser cuidadosamente sintonizado para ter o efeito desejado.
Variações na massa colocada sobre a mesa vibratória podem prejudicar seriamente tal efeito. A
segunda opção envolve molas com constantes elevadas, que dificultam a minimização das forças
transmitidas, consequentemente problemática. Optou-se então pela terceira opção, que reposiciona
as frequências naturais para valores bem baixos, portanto com constantes de mola de baixo valor.

Os parâmetros do sistema composto foram definidos e as simulações matemáticas foram realizadas,


com sucesso. As forças transmitidas ao meio externo foram mínimas, evidenciando a adequação do
projeto. Embora aqui omitido por falta de espaço, o cálculo da potência necessária ao motor do
dispositivo de geração de vibrações revelou um valor razoável, passível de ser aplicado. A
simulação numérica via ANSYS mostrou resultados semelhantes aos definidos em projeto,
confirmando, portanto, tais resultados.

5. REFERÊNCIAS

1. Aguiar, J. G. G., Projeto de Mesa Vibratória para Adensamento de Concreto Versátil e com Baixa
Transmissibilidade de Forças ao Solo, Trabalho de Conclusão de Curso, Curso de Engenharia Mecânica, UFSC,
Florianópolis: 2011.
2. Construfácil: Adensamento. Disponível em: <http://construfacil.webnode.com/news/transporte-e-lancamento-do-
concreto/>. Acessado em: 18/05/2011.
3. Heidrich, R. M., Controle de Vibrações (Apostila). Florianópolis: Departamento de Engenharia Mecânica – UFSC,
Florianópolis: 1996.
4. Meirovitch, L.. Elements of Vibration Analysis. Second Edition. Singapura: McGraw-Hill International Editions,
1975.
5. Netsaber: Preparo e Uso do Concreto. Disponível em: <www.netsaber.com.br/apostilas/apostilas/565.doc>.
Acessado em: 18/05/2011.
6. Wikipedia: Concreto. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Concreto>. Acessado em: 18/05/2011.

136
APLICAÇÃO DA LÓGICA FUZZY NO DIAGNÓSTICO DE DEFEITOS
MECÂNICOS EM EQUIPAMENTOS ROTATIVOS

DA SILVA, Roger R. 1; COSTA, Ednelson S.1; MESQUITA, Alexandre L. A.1;


(1) Universidade Federal do Pará
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade estabelecer uma metodologia envolvendo a lógica fuzzy para a
elaboração de um sistema de diagnóstico que auxilie na identificação de defeitos mecânicos em
equipamentos rotativos. Para isso, é utilizada uma bancada didática de vibrações em máquinas rotativas
que emula defeitos na bancada (desbalanceamento, desalinhamento angular e desalinhamento paralelo).
Com apenas as vibrações radiais, vertical e horizontal medidos simultaneamente, foi possível gerar sinais
complexos. O espectro completo (full spectrum) de um sinal complexo possibilita a determinação da
direcionalidade do movimento de precessão da máquina em cada frequência, o que possibilita a
identificação de um defeito com maior precisão. Após ter várias amostras de espectros completos de
sinais de vibração para diferentes tipos de defeitos, foi criado e aplicado um conjunto de regras da Lógica
Fuzzy e então gerado um sistema inteligente de reconhecimento dos padrões correspondendo aos defeitos
na máquina ensaiada.
Palavras-chave: Lógica Fuzzy, vibração, espectro completo, diagnóstico de defeitos.

ABSTRACT
This work aims to establish a methodology with logic fuzzy to develop a diagnostic system that aids the
identification of mechanical faults in rotating equipment. Thus, a bench is used to emulate defects
(unbalance, angular and parallel misalignment). Only with radial vibrations, vertical and horizontal
measured simultaneously, it is possible to generate complex signals. The full spectrum of a complex
signal enables the determination of the precessional motion direction of the machine at each frequency,
enabling the identification of a fault with higher accuracy. After several samples of full spectra of
vibration signals for different types of defects, it was created and implemented a set of rules of fuzzy
logic and then generated an intelligent recognition of patterns corresponding to the defects in the machine
under test.
Keywords:. Logic Fuzzy, vibration, full spectrum, defects diagnostic.

1. INTRODUÇÃO
O uso de técnicas de inteligência computacional tem crescido bastante, de forma a auxiliar em
várias áreas como medicina, biologia, energia e mecânica. Essas técnicas proporcionam que o
conhecimento de um especialista possa ser representado em um sistema computacional,
proporcionando automaticamente o mesmo resultado que este daria. As técnicas mais usadas são
algoritmos genéticos, redes neurais e lógica fuzzy. Essas técnicas também podem trabalhar em
conjunto com outras técnicas, aumentando assim a eficiência dos seus resultados.

A manutenção de máquinas rotativas vem utilizando bastante estas técnicas de inteligência


computacional para diagnosticar defeitos, auxiliando na manutenção preditiva e sendo aplicada
principalmente em equipamentos de alto valor ou que seu funcionamento possa trazer prejuízos
às empresas.

Uma metodologia de manutenção preditiva muito utilizada no monitoramento da condição


dessas máquinas é através da análise vibracional das mesmas. E uma vez que há diversas

137
técnicas já consolidadas para o diagnostico de equipamentos mecânicos, tais como Kurtosis,
Análise Espectral, Análise Cepstral e Análise de Envelope (Santiago e Pederiva, 2003), dentre
outras, é possível utilizar os resultados dessas técnicas como entradas para sistemas com
inteligência computacional a fim de proporcionar um diagnóstico confiável.

Portanto, um programa de manutenção preditiva pode minimizar o número de quebras de todos


os equipamentos e assegurar que o equipamento reparado esteja em condições mecânicas
aceitáveis. Junto com um sistema de diagnóstico, ele pode identificar problemas da máquina
antes que se tornem sérios já que a maioria dos problemas mecânicos podem ser minimizados se
forem detectados e reparados com antecedência (Zindeluk, 2001).

Desta forma, este trabalho tem como objetivo estudar os dados provenientes do processamento
de uma técnica denominada de espectro completo, a qual faz uso de coordenadas complexas na
descrição de movimentos rotativos e aplicar a lógica fuzzy para identificar a possibilidade de
ocorrer defeitos de desbalanceamento, desalinhamento paralelo e angular. Para o estudo foi
utilizada uma bancada didática capaz de simular estes defeitos.

2. ESPECTRO COMPLETO
O movimento resultante (a vibração) de um sistema rotativo é composto por dois movimentos
rotativos superpostos: a rotação do rotor em torno de seu próprio eixo longitudinal, movimento
este definido por rotação própria ou spin, e o movimento angular do eixo defletido do rotor em
torno de sua configuração não defletida, ou seja, a descrição da órbita. Este segundo movimento
é definido como movimento de precessão ou whirl. A órbita do eixo pode ter sua trajetória
descrita no mesmo sentido da direção do movimento de rotação própria, constituindo um modo
operacional de precessão direta (forward whirl), ou pode ter sentido oposto, constituindo um
modo operacional de precessão retrógrada (backward whirl).

A identificação dos movimentos de precessão direta e retrógrada em um sistema rotativo pode


ser obtida por meio da descrição complexa do movimento do sistema. Um sinal complexo é
obtido por meio da medição de dois sinais reais, um sinal corresponde à parte real do sinal
complexo e outro sinal, medido a 90º do primeiro no sentido da rotação, é a parte imaginária do
sinal complexo. Por meio da transformada de Fourier do sinal complexo obtém o espectro
completo (full spectrum) da magnitude do sinal. Esse full spectrum apresenta na parte negativa
de frequências as informações das componentes de precessão retrógradas, enquanto a positiva a
precessão direta. O motivo de se identificar a direcionalidade dos modos de operação é poder
identificar com maior precisão qual o tipo de defeito contido na máquina. Como por exemplo, a
Figura 1 apresenta dois full spectra de sinais de máquinas de dois tipos de defeitos: roçamento e
instabilidade induzida por fluido do tipo oil whip.

Figura 1: Espectros completos (full spectra) dos dois tipos diferentes de defeitos (Bently, 2002).

138
Verificando somente a parte positiva de frequências (half spectrum), como é o procedimento
tradicional, os espectros são bem semelhantes e fica difícil estabelecer um diagnóstico. Contudo
ao se observar os espectros totais, fica mais evidente a que se referem cada espectro. Na Fig. 1, o
espectro da direita apresenta uma vibração quase tipicamente de precessão direta (forward),
como são as características de desbalanceamento e oil whip. Como surge uma componente
significativa na frequência de metade da componente síncrona, então se descarta o
desbalanceamento e conclui-se que o defeito é de instabilidade do filme de óleo. No espectro da
esquerda, as componentes na parte negativa de frequências são significativas, o que é
característica de roçamento.

Seja um sinal complexo p(t)=y(t)+jz(t), sendo y(t) e z(t) dois sinais reais de vibração. Para a
geração do espectro da magnitude do um sinal complexo, é comum usar (para efeito de geração
de médias) a função densidade espectral de potência, Spp(w), denominada função auto densidade
espectral direcional de potência (dPSD). A função auto densidade espectral de um sinal
complexo e a função densidade espectral cruzada (dCSD) são definidas em termos da funções
densidade espectral convencional (Lee, 1991), respectivamente, por:

dPSD = Spp(w) = Syy(w)+ Szz(w) + j(Syz(w) –Szy(w)) [Eq. 01]

dPSD = Spp(w) = Syy(w) – Szz(w) + j(Syz(w) + Szy(w)) [Eq. 02]

Sendo Syy(w) e Szz(w) as funções auto densidade espectrais dos sinais y(t) e z(t), respectivamente.
Os demais termos nas Eqs 1 e 2 correspondem às funções densidades espectrais cruzadas entre
os sinais. O gráfico da magnitude da função dPSD também apresenta as componentes de
precessão direta e retrógrada separadas no espectro completo.

3. LÓGICA FUZZY
Os sistemas fuzzy fundamentam-se basicamente na representação e manipulação de informações
incertas e imprecisas, tão comuns no cotidiano humano. Expressões tais como “quase”, “muito”
e “pouco” representam esta imprecisão, que usualmente não pode ser tratada pelos sistemas da
lógica clássica. Permitindo, por exemplo, que o sistema responda às evidências numa escala
gradativa, com valores entre 0 e 100% (incerteza) (Wang, 1997) (Lee, 1993). A combinação
entre sistema especialista e lógica fuzzy permite que a regra, seja representada de forma textual,
como: “Se <Variavel A> E <Variavel B> ENTÃO <Variavel de Saida A>”.

Neste artigo, o resultado gerado pelo espectro completo será levando em consideração para a
elaboração das regras. Assim, serão utilizadas as amplitudes das harmônicas como entrada para o
sistema, o qual utiliza algoritmos baseados em lógica fuzzy. A ideia é que a mesma percepção
obtida na leitura do espectro completo por uma pessoa possa ser obtida por um sistema
inteligente disponibilizando o nível de severidade de cada defeito.

O processo é iniciado tendo todas as informações das amplitudes das harmônicas sendo
traduzidas para a linguagem de conjuntos fuzzy no módulo denominado fuzzificador. A máquina
de inferência combina através de preceitos lógicos, as informações advindas da base de regras e
do fuzzificador, de modo a fornecer uma decisão. Como esta é de caráter fuzzy, geralmente é
necessário efetuar uma interpretação de modo a traduzi-la para um valor determinístico. Este
procedimento é efetuado pelo defuzzificador. Na Fig. 2, vê-se um sistema fuzzy padrão (Shaw,
1999).

139
Figura 2: Blocos funcionais de um sistema fuzzy.

4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS EM BANCADA DIDÁTICA


4.1. Bancada Didática
Com uma bancada didática de vibrações em máquinas rotativas foram inseridos defeitos e então
medidos os sinais de vibração na direção radial. Foram inseridos três tipos de defeitos, a saber:
desbalanceamento, desalinhamento angular e desalinhamento paralelo. Com os sinais radiais de
vibração medidos para cada tipo de defeito foram gerados os respectivos sinais complexos e
então as respectivas funções de densidade espectral direcional de potência (dPSD). A Fig. 3
mostra a bancada experimental utilizada para emular o comportamento de uma máquina rotativa.

Figura 3: Bancada didática usada nos experimentos.

4.2. Resultados Obtidos


Para que se possa realizar uma análise mais correta possível dos defeitos, várias amostras foram
adquiridas para desbalanceamento, desalinhamento com valores diferentes de massa e de
desalinhamento, respectivamente, de forma a aumentar a severidade dos defeitos. A seguir,
mostram-se os resultados obtidos (full spectrum) a partir das análises dos referidos defeitos.

4.2.1. dPSD do Sinal da Máquina Desbalanceada


A Fig. 4a mostra a função dPSD quando a máquina apresenta somente defeitos residuais. Foram
calculados o dPSD com massas desbalanceadoras de 7,34g, 10,55g, 13,79g (Fig 4b), 17,19g e
20,61g a 6 cm do centro do disco. Para todos, o espectro completo apresenta o formato igual ao
da Fig 4b, com a primeira harmônica predominante tanto no lado positivo quanto no negativo.
0.09 0.09

0.08 0.08

0.07 0.07

0.06 0.06
Amplitude (m2/s 2Hz)
Amplitude m2/s 2Hz

0.05 0.05

0.04 0.04

0.03 0.03

0.02 0.02

0.01 0.01

0 0
-100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100
Frequency(Hz) Frequency (Hz)

(a) (b)
Figura 4: Espectro Completo (dPSD) do Sistema com diferentes Condições: (a) Sistema em boas
condições, (b)Sistema desbalanceado com massa de 13,74g.
140
4.2.2. dPSD do Desalinhamento Angular
As Figs. 5a e 5b apresentam os gráficos de dPSD para o sistema com diferentes níveis de
desalinhamento angular. É importante enfatizar que o desalinhamento é um fenômeno complexo
e não-linear. Ele é função do tipo de acoplamento (rigidez), da velocidade de rotação e do nível
de severidade. As Figs. 5a e 5b mostram que para um baixo nível de desalinhamento angular
existe um resultado similar ao caso de desbalanceamento, isto é, existe componente direto e
retrógrado em 1X (na frequência de rotação da máquina). Para alto nível de desalinhamento
angular os picos em 3X se tornam maiores do que os picos em 1X. Pode-se verificar que o
sistema precessiona na direção direta (os picos nas frequências positivas são maiores do que os
das frequências negativas).
0.015 0.015

0.01 0.01

Amplitude (m2/s 2Hz)


Amplitude (m2/s 2Hz)

0.005 0.005

0
0 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100
-100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100
Frequency (Hz)
Frequency (Hz)

(a) (b)
Figura 5: Espectro Completo (dPSD) Correspondente ao Desalinhamento Angular: (a) α1=0,09º, (b)
α2=0,19º.

4.2.3. dPSD do Desalinhamento Paralelo


As Figs. 6a e 6b apresentam os gráficos dPSD para o sistema com diferentes níveis de
desalinhamento paralelo. Dos resultados pode-se verificar que quando o desalinhamento é baixo
ele é similar ao ocorrido em relação ao desalinhamento angular. Então, para desalinhamento
baixo é difícil identificar se ele é paralelo ou angular. Entretanto, diferentemente, do
desalinhamento angular, quanto maior é o nível de desalinhamento paralelo, os componentes
positivos são bem maiores comparados com os negativos.
0.02
0.02

0.018 0.018

0.016 0.016

0.014 0.014
Amplitude (m2/s2Hz)

Amplitude (m2/s2Hz)

0.012 0.012

0.01 0.01

0.008 0.008

0.006 0.006

0.004 0.004

0.002 0.002

0 0
-100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100
Frequency (Hz) Frequency (Hz)

(a) (b)
Figura 6: Espectro Completo (dPSD) Correspondente ao Desalinhamento Paralelo: (a) dy1= 0.7 mm, (b)
dy2=1.4 mm

5. DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE DIAGNÓSTICO FUZZY E RESULTADOS


A análise realizada nos resultados gerados pelo espectro completo dos defeitos tornou possível
criarmos um sistema de diagnóstico fuzzy desenvolvido no toolbox do Matlab. O sistema tem
como entradas o valor global de vibração RMS e da relação das quatro primeiras harmônicas
(positivas e negativas) do espectro com a soma de todas as harmônicas em estudo. O valor global
de vibração RMS é em velocidade (mm/s) de acordo com a ISO 2372 que classifica a severidade
de defeito de máquinas rotativas em: Aceitável, Admissível, Tolerável e Não-permissível.

141
Porém, utiliza-se para a entrada do RMS os conjuntos “Baixo”, “Médio” e “Alto”, esses
conjuntos fuzzy e as funções de pertinências utilizadas são mostradas na Fig. 7a.

As outras entradas para o sistema fuzzy são as relações de amplitudes entre as 1ª,2ª, 3ª, 4ª
harmônicas positivas e as 1ª, 2ª, 3ª e 4ª harmônicas negativas em relação a soma de todas as
amplitudes. No entanto, após a análise dos dados pode-se verificar que para identificar os
defeitos estudados precisa-se apenas das relações de frequências entre h3 e -h3 com a soma de
todas as amplitudes, sendo assim chamadas de entradas “X3” e “–X3”, os conjuntos e as funções
de pertinências para essas entradas são mostradas na figura 7b.

Figura 7: (a) Conjuntos Fuzzy para nível RMS global, (b) Conjunto Fuzzy para X3 e –X3, (c) Conjuntos
Fuzzy para “Condição da Máquina”, (d) Conjuntos Fuzzy para defeitos

Para a determinação das funções de pertinências, dos conjuntos denominados de F0, F2, F7, F20
e F30, foi necessário observar para cada tipo de defeito os valores dos espectros completos. De
forma que os valores para cada defeito pudessem ficar em conjuntos distintos, para que assim
possam ser identificadas com clareza. Conforme dito, pela semelhança do espectro completo dos
desalinhamentos paralelo e angular para níveis baixos de severidade, estes tiveram que ficar em
zonas próximas dos conjuntos citados. Quanto aos outros, pode-se separá-los.
As saídas do sistema podem ser de dois tipos quanto à condição da máquina e quanto ao tipo de
defeito que a mesma apresenta. Em termos linguísticos, todos são classificados em Aceitável,
Tolerável e Não-Permissível, conforme mostrado respectivamente nas figuras 7c e 7d. caso a
saída seja menor de 25% considera-se aceitável, entre 25% e 75% tolerável e acima de 75% não
permissível, ou seja, o defeito existe e em uma severidade alta.

5.1. Regras Fuzzy


Uma vez determinados os conjuntos e as funções de pertinências, pode-se determinar as regras
de acordo com os valores obtidos em cada amostra e comparando em quais conjuntos cada
entrada se encontra. Cada defeito tem um conjunto de regras que estipula a possibilidade do
defeito existir. As regras foram feitas especificamente para a bancada para a condição da
máquina, desbalanceamento e desalinhamento paralelo e angular, conforme Tab 1.

142
Tabela 1. Regras Fuzzy
Numero de Descrição das Regras
Regras
01 Se (RMS é B) então Condiçao Operacional é Aceitável
02 Se (RMS é M) então Condição Operacional. é Tolerável
03 Se (RMS é A) então Condição Operacional é Não Permissível
04 Se (RMS é B) então Desbalanceamento é Aceitável
05 Se (RMS é M) e (Y3 é F0) e (-Y3 é F0) então Desbalanceamento é Tolerável
06 Se (RMS é A) e (Y3 é F0) e (-Y3 é F0) então Desbalanceamento é Não Permissível
07 Se (RMS é B) então Desalinhamento Paralelo é Aceitável
08 Se (RMS é M) e (Y3 é F2) e (-Y3 é F0) então Desalinhamento Paralelo é Tolerável
09 Se (RMS é M) e (Y3 é F20) e (-Y3 é F7) então Desalinhamento Paralelo é Tolerável
10 Se (RMS é M) e (Y3 é F7) e (-Y3 é F7) então Desalinhamento Paralelo é Tolerável
11 Se (RMS é A) e (Y3 é F7) e (-Y3 é F7) então Desalinhamento Paralelo é Não Permissível
12 Se (RMS é A) e (Y3 é F30) e (-Y3 é F7) então Desalinhamento Paralelo é Não Permissível
13 Se (RMS é B) então Desalinhamento Angular é Aceitável
14 Se (RMS é M) e (Y3 é F7) e (-Y3 é F2) então Desalinhamento Angular é Tolerável
15 Se (RMS é A) e (Y3 é F20) e (-Y3 é F2) então Desalinhamento Angular é Tolerável
16 Se (RMS é A) e (Y3 é F30) e (-Y3 é F30) então Desalinhamento Angular é Não Permissível

5.2. Sistema Fuzzy


Nesse sistema de Lógica Fuzzy, foi usado o método de inferência de Mandani, defuzzificador
Centro de Área, método de Implicação “mínimo”, método de agregação “máximo” e operador
“AND”. A Fig. 8 apresenta a interface de saída do sistema de diagnóstico.

Figura 8. Interface de Saída do Sistema de Diagnóstico.

Nesta interface são inseridas as entradas, que são respectivamente, o valor RMS de vibração em
velocidade, X3 e –X3 para cada defeito e em diferentes severidades. Os resultados são as
possibilidades, em %, de cada defeito ocorrer. Além disso, existe também uma coluna chamada
Condição da Máquina que indica a possibilidade de boa condição. Isto é importante, pois pode
ocorrer um defeito no qual não foram criadas regras.

5.3. Resultados Obtidos


Todos os cenários simulados apresentaram os resultados como o esperado. Na análise da
máquina sem defeitos, o valor RMS é igual a 2,4 mm/s. O sistema de diagnóstico mostra a
probabilidade da máquina estar em boas condições é de 62,9%, ou seja, a máquina possui uma
vibração que não implica em problemas. Além disso, os defeitos mostram uma probabilidade de
ocorrer, em torno de 9,75%, logo, a máquina está na condição aceitável (A).

143
Para a máquina desbalanceada, quando a massa desbalanceadora aumenta, a possibilidade do
desbalanceamento também aumenta. A possibilidade é de 37.1% para uma massa
desbalanceadora de 7,34g e se estende para 92% de desbalanceamento para um peso de 20,61 g
de massa desbalanceadora. Contudo, os outros defeitos sempre têm valores baixos, confirmando
que não existem esses defeitos.

O desalinhamento angular tem comportamento similar. Portanto, para o desalinhamento angular


de 0,09º, 0,135º e 0,19º; as possibilidades são de 36,8%, 91,2% e 92%, respectivamente.
Enquanto desbalanceamento e desalinhamento paralelo e angular têm possibilidades baixas. Em
ultimo caso, o desalinhamento paralelo também teve o desempenho esperado. Para o
desalinhamento de 0,7; 1,0 e 1,4 mm; as possibilidades de desalinhamento paralelo são 46,2%,
50% e 92%. E os outros defeitos presentes são de valores baixos. Portanto, o sistema identifica
adequadamente a alta probabilidade de ocorrência de um determinado defeito.

6. CONCLUSÕES
Este trabalho apresenta uma metodologia para a elaboração de um sistema de diagnóstico
baseado em lógica fuzzy e nas informações dos espectros completos dos sinais de vibração. Nesta
metodologia pode-se avaliar com mais precisão alguns defeitos utilizando apenas dados do eixo
radial, devido a utilização do espectro completo. Com base nos resultados adquiridos e na ISO
2372 foi possível estabelecer conjuntos e regras, os quais conseguiram identificar com precisão
os defeitos existentes em uma bancada didática, sendo a metodologia extensível a outras
máquinas.

De maneira geral os resultados obtidos mostraram que o sistema é eficiente, pois identificou a
ocorrência dos defeitos nos sinais de forma satisfatória. Este é o primeiro estudo no sentido de
ampliar o sistema para outros tipos de defeitos e ocorrência simultânea de defeitos, além de
desenvolver uma aplicação que permita adquirir o sinal e disponibilizar o diagnóstico.

REFERÊNCIAS
1. Bently, D., 2002, Fundamentals of Rotating Machinery Diagnostics. ASME Press (American Society of
Mechanical Quarter, Bently Nevada, pp 17-21.
2. ISO 2372, 1974, Mechanical vibration of machines with operating speeds from 10 to 200 rev/s - Basis for
specifying evaluation standards.
3. Lee, C. W., 1991, Complex modal testing theory for rotating machinery. Mechanical System and Signal
Processing, v.5(2), pp.119-137.
4. Lee, C.W., 1993, Vibration Analysis of Rotors, Kluwer Academic Publishers.
5. Muszynska, A., 1996, Forward and backward precession of a vertical anisotropically supported rotor. Journal of
Sound and Vibration, 192, 207-222.
6. Patel, T. H.; Darpe, A. K.,2008, Vibration response of a cracked rotor in presence of rotor–stator rub. Journal of
Sound and Vibration, 317, pp 841-865.
7. Patel, T. H., Darpe, A. K., 2009, Vibration response of misaligned rotors. Journal of Sound and Vibration, v.32,
pp. 609-628.
8. Santiago, Darley F. A.; Pederiva, Robson. Influência da resolução tempo-frequencia da wavelet de Morlet no
diagnóstico de falhas de máquina rotativas. In: Mécanica Computacional, Bahía Blanca, v.22, p. 2538-2550,
nov. 2003.
9. Shaw, I. S.; Simões, M. G., 1999, Controle e Modelagem Fuzzy. São Paulo. Editora Edgard Blücher Ltda.
10. Zindeluk, M., Análise de Vibração. Apostila do Curso Técnicas Modernas de Manutenção, COPPETEC, UFRJ,
2001.

144
CONTROLE DE VIBRAÇÃO DE ORIGEM ELETROMAGNÉTICA
ATRAVÉS DE ABSOVERDORES DINÂMICOS VISCOELÁSTICOS EM
REATOR ELÉTRICO

BRAGA, Danilo de Souza1; MENDONÇA, Adriano Camara1; SOEIRO, Newton Sure1


MELO, Gustavo da Silva Vieira de1; LIMA, Luis Otávio Sinibul de2

(1) Universidade Federal de Pará. Grupo de Vibrações e Acústica, ITEC, Belém, PA.; (2) Centrais elétricas do
Norte – Eletronorte, Belém, PA.

RESUMO
A eficiência do atual sistema de transmissão elétrica no Brasil, bem como o gerenciamento de manobras
energéticas depende diretamente da qualidade dos serviços oferecidos em cada subestação. Dentro deste
contexto, nas subestações, encaixam-se os reatores elétricos trifásicos. Em sistemas de potência, estes
equipamentos são empregados para controlar as tensões em barramentos (conjunto de barras em uma
subestação industrial ou em uma subestação de potência ou subestação de distribuição onde cada fase do
sistema elétrico está conectada a uma barra do barramento), em regime permanente e para redução das
sobre-tensões e nos surtos de manobra, além de beneficios como: economizar energia, estabilizar as
sobrecargas de energia, controlar as variações permissíveis de carga energética, promover controle
automático e eletronicamente e minimizar as operações de manobra da subestação. Contudo, como
consequência, as vibrações no reator são causadas por excitações eletromagnéticas advindas de um núcleo
interno, fixado rigidamente à sua carcaça, em alguns casos, sem a utilização de elementos absorvedores
e/ou dissipadores de vibração. Assim, o presente trabalho pretende, com base nos dados tanto da
modelagem numérica quanto das medições experimentais realizadas, dimensionar absorvedores
dinâmicos para serem instalados nas tampas de inspeção, no pé do tanque de óleo e na face traseira do
reator. Os elementos fundamentais deste dimensionamento são aqui apresentados.

ABSTRACT
The efficiency of the current electrical transmission system in Brazil, as well as, energy
management maneuvers depends on the quality of services offered in each substation. In this context, in
substations, there are electric three-phase reactors. In power systems, these devices are used to control the
voltages on set of bars in an industrial substation (or a power substation or distribution substation where
each phase of the electrical system is connected to a bar of this set), in steady state and to reduce over-
voltages and switching surges, and others benefits such as: energy saving, stabilizing the electrical
overload, control of variations permissible load energy, promote electronic and automatic control
and minimize the switching operations of the substation. However, as a consequence, the vibrations are
caused by the reactor resulting electromagnetic excitations of an inner core, such rigidly fixed to
its housing, in some cases without the use of elements absorbing and/or sinks vibration. Thus, this study
aims, based on data from both numerical modeling and experimental measurements performed,
scale dynamic absorbers to be installed in the inspection covers at the foot of the oil tank and the rear
face of the reactor. The key elements of this design are presented here.

Palavras-chave: Absorvedor dinâmico. Controle de vibração. Método elementos finitos. Vibração em


reatores.
1. INTRODUÇÃO
As vibrações no reator são causadas por excitações eletromagnéticas advindas de um núcleo
interno, fixado rigidamente à sua carcaça, vibra e provoca grandes níveis de ruidos. O controle
145
da resposta da vibração forçada de estruturas através da otimização do ajuste dos apoios é
desejável em várias aplicações. Este ajuste pode aperfeiçoar a dissipação da energia de vibração
nos apoios, reduzindo então o problema de fadiga e ruído proveniente da vibração. Park et al.
(2003) desenvolveram dois modelos diferentes para calcular a rigidez ótima dos apoios a qual
minimiza a resposta em velocidade de placas homogêneas. Um método é baseado na propagação
da onda no bordo e o outro é baseado no Método de Rayleigh-Ritz. Os resultados para as
condições de apoio ótimo, utilizando os dois métodos distintos, apresentaram boa concordância.

A utilização do FEM (método de elementos finitos) auxilia nos projetos de dispositivos para
controle dos niveís de vibração. Atalla e Bernhard (1994) apresentam uma descrição da base
teórica das técnicas mais populares de análise vibro-acústica, quais sejam, o Método dos
Elementos Finitos e Elementos de Contorno, concluindo que qualquer problema determinístico
em baixa freqüência pode ser resolvido utilizando programas disponíveis baseados nos Métodos
de Elementos Finitos e Elementos de Contorno. Enquanto Coyette (1999) utilizou o MEF e MEC
para elaboração de modelos para predição do comportamento vibro-acústico de estruturas
formadas por camadas de materiais elásticos e porosos (layered structures). Na indústria
automotiva, estes tipos de estruturas são amplamente utilizadas nos sistemas de isolamento.
Portanto, a metodologia para o controle de vibração neste trabalho, passará por três estágios:
identificação e obtenção de parâmetros e respostas experimentais da estrutura com elevados
níveis de vibração, dimensionamento de dispositivos absoverdores e aplicação dos dispositivos
para verificar sua eficiência quanto à dissipação de energia.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Absorvedores Dinâmicos Viscoelásticos
Estes dispositivos (contendo borrachas, neoprene, dentre outros elastoméricos), vêm sendo
aplicados ao controle (redução) de vibrações em estruturas, durante muitas décadas, sendo uma
ferramenta muito útil à engenharia. Em geral, os absorvedores são dispositivos simples que,
quando conectados de forma adequada a uma estrutura, são capazes de promover a redução de
suas vibrações de forma eficaz e, por conseqüência, em diversos casos, redução dos níveis de
ruído, com a vantagem de não necessitarem de altos custos para sua implantação. Um absorvedor
dinâmico simples consiste de uma massa ma, na qual é fixado um material resiliente (material
viscoelástico ou mola-amortecedor viscoso), sendo este fixado ao sistema primário, conforme
mostrado na Fig. 1.

Figura 1: Ilustração de sistemas com a presença de absorvedor dinâmico.


Fonte: (Bavastri, 1997).

A análise dos modelos mostrados na Fig. 1 permite a determinação da resposta do sistema


composto para uma excitação senoidal F(Ώ) é dada pela Eq. (01), a seguir apresentada:

[Eq. 01]

As variáveis contidas nas expressões acima são definidas como:

146
[Eq. 02]
[Eq. 03]
[Eq. 04]
[Eq. 05]

[Eq. 06]
Sendo ma a masa de uma absorvedor, em kg; m a massa de uma sistema simples com 1 GL, em
kg; Ώa a frequencia natural do absoverdor em hz; Ώ a frequencia variavel, em hz; Ώn é a
frequencia natural de um sistema com 1GL; Ka(Ώ) é a rigidez do material elastomérico em
função da frequência; Ka(Ώa) é a rigidez do material elastomérico na frequência natural do
absoverdor; Ga(Ώ) o módulo de cisalhamento do material viscoelástico que faz parte do
absoverdor; Ga(Ώa) o módulo de cisalhamento do material viscoelástico que faz parte do
absoverdor na frequência natural deste sistema absorverdor.

2.1.1. Técnica dos pontos fixos (DEN HARTOG, 1985)

Figura 2: Pontos fixos para sistemas com dois


graus de liberdade: ΏA e ΏB. Fonte: Bavastri, 1997.

Ao desprezar o fator de perda (η = 0) do sistema principal, a resposta do sistema composto


medida no sistema primário para diferentes valores de ηa (fator de perda de um material
viscoelástico de um absorvedor simples), passarão sempre através de dois pontos bem definidos.
Estes são conhecidos como pontos fixos. Na Fig. 2, mostra-se este fenômeno para os casos mais
extremos, ηa = 0 e ηa = ∞, e para um material viscoelástico. As expressões correspondentes para
estes casos particulares, partindo-se da Eq. (01) são, respectivamente:

[Eq. 07]

[Eq. 08]

O valor mínimo do módulo da resposta, apresentado na Eq. (09) abaixo, é obtido quando os
pontos fixos encontram-se na mesma altura e os picos de resposta passam o mais perto possível
destes (Den Hartog, 1985).

[Eq. 09]

147
Para localizar estes pontos, parte-se da Eq. (01) e procura-se uma relação (função de Ώ) de forma
que o módulo da resposta ao quadrado seja independente do fator de perda ηa. Assim,

[Eq. 10]

sendo os parâmetros da equação acima dados por: A=RN2; B=((IN/ηa(Ώ))2; C=RD2;


D=((ID/ηa(Ώ))2. Para garantir a existência dos pontos fixos, adotou-se, nas expressões acima, o
valor zero para η (Ώ). Por outro lado, para que a Eq. (09) seja independente de ηa a seguinte
relação deve ser satisfeita:
[Eq. 11]

Desta relação, surge o seguinte polinômio em Ώ:


[Eq. 12]

As raízes deste polinômio fornecerão as freqüências valores de ΏA e ΏB. Através da técnica dos
pontos fixos, é possível dimensionar-se absorvedores otimizados em relação à sintonização de
freqüência, ao amortecimento e à massa.

2.2. Projeto de Absorvedores Dinâmicos Viscoelásticos Cilíndricos


Partindo-se das freqüências naturais dos absorvedores a serem fixados no sistema principal,
calculadas pela técnica dos pontos fixos na Eq. (08), entra-se com os valores calculados para
estas freqüências em gráficos levantados com dados experimentais sobre os elementos
viscoelásticos que poderão ser utilizados na confecção dos absorvedores. Estes diagramas são
denominados nomogramas reduzidos de temperatura e expressam as propriedades dinâmicas de
materiais elastoméricos em função da freqüência e da temperatura. O diagrama da figura 3 para
o material viscoelástico DYAD 601, o mesmo que será utilizado nos cálculos deste trabalho,
visto que este elastômero possui proteção contra os malefícios da exposição a ambientes abertos,
tais como intempéries, ozônio, graxas e óleos e adapta-se bem às variações de temperatura
ambiente.

Figura 3: Nomograma dinâmico em função da temperatura para o


material viscoelástico DYAD 601c. Fonte: Johnson, 2001.

Com a massa, a rigidez e o fator de perda definidos, encontra-se o fator de forma do material
viscoelástico utilizando-se a Eq. (08). Dada a espessura do material elastomérico (em m),
padronizada pelos fabricantes das mantas destes elastômeros, juntamente com o fator de forma L
(também em m), pode-se calcular a área de cisalhamento (A) necessária para reproduzir as
características dinâmicas dos absorvedores na redução das vibrações do sistema principal. A
expressão para este cálculo é dada a seguir:
[Eq. 13]

148
Pode-se, então realizar um aumento da área A, mantendo-se a freqüência natural dos
absorvedores. A alteração citada pode ser feita com o uso de várias camadas de materiais
viscoelásticos associadas em série, o que gera uma rigidez equivalente (KT), dada pela seguinte
equação:

[Eq. 14]

sendo nG o número de camadas associadas em série. O fator de forma L também é alterado de nG,
sendo L1 o fator de forma resultante da utilização de multicamadas de elastômeros, este pode ser
dado por:
[Eq. 15]
Deve-se, no entanto, conservar o valor inicial L para que a freqüência natural do absorvedor
permaneça como calculado pela técnica dos pontos fixos ou por otimização não-linear. Introduz-
se, então, a variável L2, que sustentará o valor inicial L no projeto do absorvedor.
[Eq. 16]

Como a espessura do material elastomérico será, se preciso for, aumentada de nG vezes, a nova
espessura do elastômero h1 será dada por:
[Eq. 17]
e a nova área cisalhante A1 do absorvedor será:
[Eq.18]
A forma do absorvedor a ser utilizada será a aludida por Bavastri (1997). Este dispositivo é
apresentado na Fig. 4. Neste, um núcleo metálico é envolvido pelas camadas de material
viscoelástico e estas por um anel de aço, que representa a massa do absorvedor ma.

Figura 4: Proposta de absorvedor Figura 5: Proposta alternativa de absorvedor


dinâmico viscoelástico. Fonte: Bavastri, 1997. dinâmico. Fonte: Bavastri, 1997

Para promover melhor troca térmica entre o material elastomérico e o ar ambiente, uma alteração
na disposição das camadas de elastômero é proposta, onde os vazios existentes nesta nova
disposição tornam as camadas viscoelásticas menos sujeitas às variações de temperatura, que
modificam fortemente as propriedades dinâmicas dos poliméricos.
Os parâmetros Dm, D e De (diâmetro médio, diâmetro interior do anel que proporciona a massa
do absorvedor e diâmetro externo, respectivamente) são calculados através das expressões:

[Eq. 19]

em que ma é a massa do absorvedor (kg); ρ a massa específica do anel do absorvedor (kg/m3); e t


comprimento do anel do absorvedor (m). A área de cisalhamento, sem vazios, será:
[Eq. 20]

149
Porém, a área de cisalhamento necessária para que a freqüência natural do absorvedor seja
reproduzida, é A1, logo, a área a extrair, Ae, é dada por:
[Eq. 21]

Em relação à área total de cisalhamento (AT), em termos percentuais, a área a ser extraída (Ae) é
dada por:
[Eq. 22]

Os absorvedores calculados neste trabalho levam em consideração a área A1 e a proposta


apresentada na Fig. 5.

3. RESULTADOS DO DIMENSIONAMENTO DE ABSORVEDOR DINÂMICO


VISCOELÁSTICO PARA O REATOR
Com base nos dados tanto da modelagem numérica quanto das medições realizadas ficou
estabelecida a necessidade de se dimensionar absorvedores dinâmicos para serem instalados no
pé do tanque de óleo e na face traseira do reator. Os elementos fundamentais deste
dimensionamento são aqui apresentados.

3.1. Suporte do Tanque Conservador de Óleo do Reator


O dimensionamento de um absorvedor dinâmico com amortecimento viscoelástico foi realizado
também para o suporte do tanque conservador de óleo do reator. Fenômeno semelhante ao
verificado na tampa de inspeção ocorre para o suporte, ou seja, ressonância estrutura em análise
devido a excitação de 120 Hz. A modelagem numérica do suporte seguiu procedimento
semelhante ao da chapa da tampa de inspeção, porém, na base superior do suporte, foram
adicionados elementos de massa, representando a inércia do tanque conservador de óleo.

Figura 6: Modelo de elementos finitos Figura 7: Forma modal do suporte do tanque


do suporte do tanque de óleo. Fonte: O autor. de óleo (117,7 Hz). Fonte: O autor.

A Fig. 7 mostra a forma modal numérica referente à freqüência natural de 117,7 Hz a qual é
fortemente excitada pela componente espectral de 120 Hz e, portanto, é a forma modal usada no
dimensionamento do absorvedor. Por outro lado, a Tab. 1 lista os dados referentes ao absorvedor
dinâmico dimensionado para atuar sobre o suporte do tanque de óleo e a Fig. 8 apresenta a
comparação entre as respostas do suporte com e sem absorvedor dinâmico.
3.3. Face Traseira do Reator
As análises modais experimental e numérica da tampa traseira do reator mostraram a presença de
modos de vibração próximos à frequência de excitação de 120 Hz e, por este motivo, foi
desenvolvido o dimensionamento de absorvedores dinâmicos para esta parte da estrutura do
costado do reator.
O modelo de elementos finitos foi idealizado a partir da utilização de elementos de casca, com a
presença de elementos de rigidez para simular a ligação da chapa da face traseira com o restante
da estrutura do reator, conforme pode ser observado na Fig. 9 (a).
150
Tabela 1: Dados sobre o absorvedor dinâmico a ser fixado
no suporte do tanque de óleo do reator. Fonte: O autor.

Figura 8: Comparação entre as respostas do suporte com e


sem absorvedor (Curva em azul – suporte com absorvedor
instalado e a Curva em vermelho – suporte sem absorvedor.
Fonte: O autor.

Figura 9: (a) Modelo de elementos finitos da face traseira do reator; (b) Formas deformadas experimental e (c)
numérica. Fonte: O autor.

A quantidade de absorvedores e a posição de fixação dos mesmos foram definidas em função da


forma modal operacional do reator para esta face, ou seja, os pontos onde foram detectadas as
maiores deformações modais operacionais. A Fig. 9 (b) e (c) apresentam as formas deformadas
da chapa traseira, ou seja, a forma deformada numérica e experimental e a Tab. 2 lista os
parâmetros para os 12 absorvedores dimensionados para serem fixados na face traseira do reator,
sendo este número de absorvedor escolhido tendo por base a indicação de pontos com altos
níveis de vibração presentes nesta face. Na Fig. 10 é possível observar a resposta forçada da
chapa traseira do reator com os absorvedores com e sem absorvedores de vibração.
4. CONCLUSÕES
A abordagem numérica e experimental usada neste estudo mostrou eficácia e representou de
maneira adequada o comportamento em serviço do reator elétrico trifásico estudado. A análise
da Fig. 8 permite concluir que houve uma redução nos níveis de vibração no ponto de fixação do
absorvedor na ordem 70 dB na frequência de 117,7 Hz e na ordem de 20 dB em 120 Hz, o que
acarretará em reduções nos níveis de ruído para esta estrutura, quando a mesma estiver sob
excitação harmônica, ou seja, em funcionamento contínuo. Deve-se registrar aqui que a

151
modelagem numérica não contemplou o amortecimento estrutural presente no suporte, que neste
caso é menor do que em outros elementos do reator em virtude de este item não estar em contato
direto com o óleo isolante que amortece as vibrações geradas. Porém, mesmo com o diminuto
amortecimento, os níveis de queda reais serão um pouco menor do que os verificados
numericamente para o suporte. Na Fig. 10 pode ser observada a redução nos níveis de vibração
em pontos distintos da chapa traseira do reator na ordem de 20 dB, contribuindo para a redução
em geral do nível de vibração deste item do reator e, portanto, dos níveis de ruído gerados por
este emissor potencial de energia acústica. Entre as propostas de melhoria da performance
operacional, no que diz respeito aos baixos níveis de vibração e ruído, controle de vibração deste
níveis se mostrou bastante eficaz como pode ser comprovado tanto numericamente quanto
experimentalmente.
Tabela 2: Dados sobre os 12 absorvedores dinâmicos a serem fixados
em pontos de alta vibração presentes na face traseira do reator. Fonte: O autor.

Figura 10: Comparação entre as respostas da face traseira


com e sem absorvedor (Curva em azul – suporte com
absorvedor instalado; Curva em vermelho – suporte sem
absorvedor). Fonte: O autor.

REFERÊNCIAS

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3. Bavastri, C. A., Redução de Vibrações de Banda Larga em Estruturas Complexas por Neutralizadores
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6. Johnson, C. D., Design of damping Systems, 2001.
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8. Soeiro, N. S. et al. (1998), Comparação das Predições Acústicas via Elementos Finitos/Elementos de Contorno
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induction motor, Proceedings of the 2nd International Seminar on Vibrations and Acoustic Noise of Electric
Machinery, Lodz (Polônia), 01-03 de junho.
152
ANÁLISE DINÂMICA DE PRÉDIO METÁLICO INDUSTRIAL DE
CONSTRUÇÃO MODULAR

MESQUITA, Alexandre Luiz Amarante1; KHATTAK, Nadeem Ahmad2; MAROTTA,


Paulo Marcus Tropia 3; ALVARENGA, Jeferson de Barros 3.

(1) Faculdade de Engenharia Mecânica - ITEC, Universidade Federal do Pará, Guamá. Caixa Postal 479, CEP
66075-110, Belém-PA, Brasil; (2) WorleyParsons Ltd., 4811 – 87 St, Edmonton - Alberta, Canadá; (3)
Vale S.A. - Departamento de Projetos Norte – DISF, CEP 68537-000 – Distrito de Mozartinópolis – Canaã
dos Carajás – PA

RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo de caso de análise dinâmica em um prédio metálico de uma usina de
beneficiamento de minério de ferro projetada para ser erguida através da técnica da construção modular
(ou modularização). A construção modular pode ser aplicada na construção de instalações industriais de
médio e grande porte através da fabricação e montagem de módulos individuais que representam partes
completas da planta industrial. O prédio metálico modular analisado consiste de uma grande estrutura
metálica contendo oito módulos abrigando seis silos e seis peneiras vibratórias tipo banana para a
realização de etapa de peneiramento primário do minério de ferro. Na análise dinâmica do prédio,
inicialmente, são obtidos os parâmetros de rigidez e de amortecimento da fundação do prédio por meio
do software DYNA 6. Em seguida, a análise de vibrações de todo o prédio modularizado é realizada por
meio do software de elementos finitos STAAD Pro v8 levando-se em conta as cargas dinâmicas impostas
pelas peneiras vibratórias.

ABSTRACT
This work presents a case study of a dynamical analysis of a metallic building of an iron ore mining plant
designed by modular construction (or modularization). Modular construction can be applied in industrial
plants through the interconnection of individual modules that represent parts of the industrial plant. The
modular metallic building analyzed consists of eight modules supporting six silos and six banana
vibratory screens in order to perform the primary screening step. Initially, in the dynamic analysis of the
building, the stiffness and damping parameters are obtained using the DYNA 6 software. Then, the
vibration analysis of whole building is performed using the STAAD Pro v8 finite element software
taking in account the screens dynamic loads.
Palavras-chave: Vibrações. Estruturas metálicas. Construção modular.

1. INTRODUÇÃO
Um projeto de construção modular consiste no projeto estrutural, mecânico, logístico e de
montagem que pode ser aplicada na construção de instalações industriais de médio e grande porte
através da fabricação e montagem de módulos individuais que representam partes completas da
planta industrial. Estes módulos são fabricados em ambientes dimensionados e preparados
previamente para armazenamento e montagem, fora do local final da planta, com todas as
facilidades de construção disponíveis. Somente depois de fabricados, os módulos são
transportados para o local definitivo da planta industrial onde esta é erguida por meio das
interconexões destas unidades modulares. A técnica de construção modular apesar de ser bem
difundida no exterior, no Brasil ainda não é muito explorada, estando restrita a empresas
petrolíferas e empresas de mineração.

153
O presente trabalho trata da análise dinâmica por meio do método dos elementos finitos de um
prédio metálico de uma usina de beneficiamento de ferro projetada por meio da técnica de
construção modular. Essa análise dinâmica consiste em verificar os níveis de vibração do prédio
metálico, constituído de oito módulos, em que a principal fonte de vibrações é devido à operação
de peneiras vibratórias. Inicialmente, neste trabalho, são revisados s fundamentos da construção
modular enfatizando os benefícios de sua utilização. Em seguida são descritas as características
do prédio metálico analisado e finalmente apresenta-se a análise dinâmica realizada com os
softwares DYNA 6 e STAAD Pro v8.

2. CONSTRUÇÃO MODULAR (MODULARIZAÇÃO)


A metodologia de construção de uma planta industrial por meio de módulos é adequada onde o
local é de difícil acesso, onde há existência de condições climáticas severas, infraestrutura local
deficiente e também necessidade de licenciamento ambiental, o que pode ocorrer em
beneficiamento de minério, siderurgias, plataformas petrolíferas, plantas químicas, de celulose,
sucroalcooleira entre outras. Esta metodologia de construção traz grandes benefícios, pois
implica em redução de custos e de tempo de execução do projeto.

Cada módulo consiste de unidades pré-fabricadas e pré-montadas, tais como estruturas metálicas,
tubulações, cabos, instalações elétricas, equipamentos, e/ou outros componentes, formando uma
unidade robusta de peso e tamanho consideráveis. As dimensões, pesos e número de módulos são
dependentes de vários fatores, mas, principalmente são definidos de acordo com as condições de
transporte, como será discutido posteriormente. A Fig. 1 mostra exemplos de módulos industriais
sendo transportados.

Figura 1: Módulos industriais sendo transportados para o local da usina.


Fonte: Mlady, 2010.

O principal atrativo para contratantes de projetos de construção industrial investir na


metodologia de modularização é a redução do custo total do projeto. Isto é basicamente o que
procura qualquer cliente para a execução do projeto de sua planta industrial, juntamente com a
redução de riscos de acidentes pessoais/impessoais, redução de impactos ambientais e aumento
na qualidade.

A metodologia tradicional de construção industrial (stick built ou fabricação onsite) envolve as


etapas usuais de uma construção: preparação de terreno, trabalho de fundação, instalação de
equipamentos, etc. Sendo que cada etapa é cumprida sequencialmente. Portanto, qualquer atraso
em uma das etapas pode comprometer bastante o cronograma de tempo e de orçamento do
projeto. Tais tipos de projetos frequentemente vêm sendo criticados por baixa produtividade,
baixa qualidade, baixo desempenho em segurança do trabalho, tempo de execução longo e
grande quantidade de desperdício de materiais (Chen et al., 2010). Assim sendo, com a
154
metodologia de modularização, o trabalho de fabricação é realizado foral do local da planta
industrial em condições ambientais e operacionais bem mais controladas, fazendo com que os
problemas citados sejam minimizados.

Em geral, o custo de fabricação de módulos offsite e de implantação no local da planta é maior


que se as unidades fossem diretamente construídas no local da planta (site) porque requerem
maior quantidade de aço estrutural (como, por exemplo, para o reforço dos módulos para o
transporte) e também devido aos custos de transporte dos módulos ao site (uso de equipamentos
especiais de elevação e transporte, preparação de rodovias, despesas de transporte marítimo, etc.)
(Habibullah et al., 2009). Contudo, o custo total do projeto modularizado torna-se menor, aliado
ao aumento da qualidade do serviço de construção. Em geral, os benefícios da construção
modular são:
a) A redução no tempo de montagem dos módulos é grande devido à simultaneidade ou trabalhos
paralelos. Esta simultaneidade de execução de serviços seria inviável na construção convencional
tradicional pela sua natureza sequencial.
b) O tempo de fabricação dos módulos pode ser reduzido com alta produtividade devido à
fabricação ser realizada em ambientes controlados, com facilidades de material, suprimentos,
equipamentos, automação e mão de obra qualificada. Isto é particularmente importante no caso
do local da usina esteja situado em regiões remotas de difícil acesso.
c) Na fabricação offsite as condições de segurança dos trabalhadores podem ser muito melhores
devido aos serviços estarem sendo executados em situações bem mais controladas. Também,
nesta metodologia, o número de trabalhadores no local da planta torna-se bem mais reduzido,
evitando o congestionamento de trabalhadores levando ao aumento na produtividade e na
segurança.
d) A qualidade dos serviços também é aumentada, pois na fabricação onsite, determinados
serviços poderiam estar prejudicados por dificuldades relacionados à ergonomia. Os serviços de
acabamento, pintura, instalações elétricas também se enquadram aqui. Na construção modular
também evita-se a grande quantidade de material desperdiçado e reduzem-se os impactos
ambientais no local da obra, tais como ruído, poeira, consumo de energia e água.

Existem outros fatores que tendem a definir a modularização como uma solução apropriada para
determinados projetos de construção, tais como, um maior controle no gerenciamento do projeto.
Por outro lado, para se chegar a este nível de controle gerencial, há a necessidade de um intenso
estudo prévio e planejamento do projeto através de equipes qualificadas levando-se em conta
todos os direcionadores (drivers) e restrições do projeto. Ao iniciar a fabricação offsite todo o
planejamento deve estar finalizado. Decisões modificadoras feitas durante as fases de execução
do projeto podem resultar em considerável retrabalho e potencial atraso no cronograma. Por
outro lado, há as opções de projetos híbridos, em que parte da planta industrial é construída por
modularização e parte feita pela metodologia tradicional. Cada projeto é único e deve ser
analisado de acordo com suas características.

3. PRÉDIO METÁLICO DA PRIMEIRA ETAPA DE PENEIRAMENTO


Nesta seção é apresentada as características do prédio metálico de uma usina de beneficiamento
de minério de ferro projetada por construção modular. Essa análise dinâmica consiste em
verificar os níveis de vibração do prédio metálico, constituído de oito módulos, em que a
principal fonte de vibrações é devido à operação de peneiras vibratórias.

Essas peneiras vibratórias recebem o minério de ferro vindo através dos Transportadores de
Correia de Longa Distância (TCLD). O último transportador de correia, com cabeça móvel, faz a
distribuição do material continuadamente em seis silos de regularização situados no prédio do
peneiramento. Os silos então alimentam as seis peneiras do tipo bananas. O material oversize das
peneiras segue para britadores cônicos para fragmentação do material. Portanto, o undersize das
155
peneiras juntamente com o produto dos britadores secundários formam o produto que é enviado a
um pátio de regularização do produto através de correias transportadoras. A Fig. 2 ilustra este
processo da linha de produção do minério de ferro sinter feed.

Figura 2: Ilustração de um processo do peneiramento primário e britagem secundária.

Os britadores cônicos secundários estão localizados no interior do prédio do peneiramento


primário, mas a sua estrutura de suporte é de concreto e não conectada ao prédio metálico (que
contém os silos e as peneiras) de forma a evitar a transmissão da vibração dos britadores.
Portanto, a instalação total (do peneiramento primário e britagem secundária) possui duas partes
independentes: uma parte de concreto para receber os britadores e a outra metálica para receber
os demais equipamentos do prédio. As Figuras 3a e 3b ilustram este layout de posicionamento
dos equipamentos. Somente a parte metálica da instalação total que é abordada na análise
dinâmica deste capítulo. Assim sendo, o prédio analisado é constituído de oito (8) módulos
metálicos contendo estruturas metálicas, transportadores de correia, silos, alimentadores e
peneiras. Este prédio metálico do peneiramento primário possui sua fundação constituída por
colunas estaqueadas de concreto, seis silos e seis peneiras do tipo banana, conforme Fig. 4.

Figura 3: (a) Peneiras vibratórias e instalação dos britadores (cor branca).

Figura 4: Desenho do prédio metálico do peneiramento primário.

156
No projeto dinâmico estrutural completo do prédio, a Equipe de Análise Dinâmica do projeto da
usina recebe o modelo do prédio metálico previamente analisado pelas Equipes de
Modularização e Análise Estrutural (vide fluxo de informações na Fig. 5), com a análise estática
já realizada. A Equipe de Análise Dinâmica inicialmente realiza a etapa de identificação dos
parâmetros de rigidez e de amortecimento da fundação de concreto. Esta análise é realizada
usando o software DYNA 6, que é um software específico para análise de fundações. Em
seguida, faz-se a análise dinâmica no software de elementos finitos STAAD Pro V8, onde as
cargas dinâmicas impostas pela peneira e os parâmetros de rigidez e amortecimento da fundação
são inclusos no modelo do prédio do peneiramento primário. Nas seções seguintes são feitos
maiores comentários sobre essas análises.

Figura 5: Fluxo de informações para o projeto do prédio de peneiramento consistindo de oito módulos metálicos.

4. ANÁLISE DINÂMICA DE PRÉDIO METÁLICO DE PENEIRAMENTO


4.1. Identificação dos Parâmetros da Fundação
É uma prática comum de engenheiros estruturais ignorarem a flexibilidade da fundação e
modelar as colunas de concreto com condições de suporte fixas (sem translação, sem rotação) no
nível da base do prédio. Esta não é uma consideração correta, pois as condições do solo e o tipo
de fundação interagem dinamicamente com a estrutura do prédio. Para incluir esse efeito de
interação na resposta dinâmica da estrutura metálica, o software DYNA 6 foi usado para calcular
os parâmetros de rigidez e de amortecimento da fundação estaqueada (ver Fig. 7.10) . Este
software calcula esses parâmetros de acordo com o tipo de solo e fundação usados. Os
parâmetros de rigidez e amortecimento da fundação obtidos no DYNA 6 foram usados no
modelo de elementos finitos do prédio realizada usando o software STAAD Pro V8.

4.2. Cargas Dinâmicas das Peneiras


As cargas dinâmicas aplicadas pelas peneiras vibratórias foram obtidas do vendedor & fabricante
do equipamento. Essas cargas foram fornecidas de acordo com as condições de operação de
operação, ou seja, partida/parada e em regime permanente. Juntamente com as cargas dinâmicas,
também foi fornecida a faixa frequência na qual as cargas máximas são aplicadas. A frequência
de rotação nominal das peneiras é igual a 785 RPM. A Fig. 6 mostra um desenho esquemático da
peneira banana usada no peneiramento primário. Para reduzir a transmissão da vibração para as
estruturas metálicas de suporte, o equipamento é fornecido com um quadro de isolação de
vibração, como visto na Fig.6.

Figura 6: Desenho esquemático da peneira banana usada no peneiramento primário.

157
4.3. Análise de Vibração do Prédio pelo Método dos Elementos Finitos
Para a realização da análise dinâmica foi usado o software de elementos finitos STAAD.Pro V8i.
Este software, dentre várias outras capacidades, possui a característica de fornecer a resposta
forçada em deslocamento dos nós do modelo no domínio do tempo usando o método da
superposição modal. Na análise dinâmica (por elementos finitos) de um sistema mecânico
primeiramente calculam-se as matrizes de massa, rigidez e amortecimento de acordo com a
geometria, dimensões, propriedades dos materiais e condições de contorno. Estas matrizes
formam o modelo matemático espacial do sistema. Com estas matrizes pode ser realizada a
análise modal, ou seja, determinação das frequências naturais e modos de vibração do sistema,
que formam o modelo modal do sistema. De posse do modelo matemático e das entradas no
sistema (forças de excitação), determinam-se as respostas (movimento vibratório) do sistema.

Geralmente, para sistemas complexos, em uma modelagem numérica por elementos finitos, há
um grande número de elementos usados, portanto há um grande número de modos de vibração.
Então, talvez fique inviável computacionalmente usar todos os modos de vibração para compor a
resposta do sistema. Na verdade, o que é feito é calcular os fatores de participação modal (FPMs)
do sistema. Estes fatores identificam o quanto cada modo contribui para a resposta total do
sistema. Os FPMs estão relacionados com as massas efetivas modais. O somatório da massa
efetiva de todos os modos será igual à massa total do sistema (Irvine, 2010). Portanto, uma
maneira de determinar quantos modos são utilizados no método da superposição modal para a
obtenção da resposta é definir quantos modos correspondem a uma massa efetiva total em torno
de 85% a 90% do sistema (Irvine, 2010).

O modelo estrutural do prédio do peneiramento primário é mostrado nas Figuras 7a e 7b. O


prédio é composto por oito módulos e é submetido à excitação de seis peneiras agindo em fase.
Para obter o melhor comportamento da estrutura, modelou-se estrutura completa em vez de
realizar análises de subestruturamento, ou seja, analisar partes do sistema em separado. A
desvantagem de tal abordagem (modelar a estrutura completa) é o alto custo computacional para
tratar com um grande número de graus de liberdade no modelo. Contudo, isto foi possível
ativando o modo avançado de solução do STAAD.Pro V8i.

No modelo estrutural existem 36.479 elementos finitos divididos em elementos de viga (beam),
para vigas e colunas, e do tipo casa (shell),para os silos. Na Fig. 7a pode perceber que a base é
submetida às condições de contorno flexíveis (setas azuis e vermelha) obtida pelo DYNA 6. Na
Fig.7b também é ressaltado a localização das peneiras no modelo.

Figura 7: (a) Vista em 3D do modelo estrutural; (b) Vista lateral do modelo estrutural.

158
O arranjo da forma de aplicação das cargas dinâmicas das seis peneiras nas estruturas metálicas é
de difícil predição, desde que este arranjo pode ocorrer em um grande número de combinações.
Em uma função harmônica, este parâmetro pode ser incluído no ângulo de fase. Contudo, por
causa de um grande número de combinações possíveis, foi decidido aplicar todas as cargas em
fase. Embora esta abordagem seja conservativa, ela é de fácil implementação e eficiente em
relação ao tempo de obtenção dos resultados para avaliação em relação a critérios admissíveis de
vibração. Todas as cargas verticais e horizontais das foram aplicadas como funções harmônicas.
O valor máximo da amplitude zero a pico obtido da análise da história temporal da vibração no
STAAD Pro está indicado na Tab. 7.2., que se refere ao valor de 0,006 mm. Esse valor de 0,006
mm de amplitude de deslocamento, na frequência de rotação da máquina de 82,21 rad/s (785
RPM) corresponde a uma amplitude de velocidade de 0,0005 m/s e a uma amplitude de
aceleração de 0,04 m/s2.

Tabela 7.1: Parte da tabela de amplitudes de nós do modelo mostrando o valor máximo de amplitude do prédio.

Uma análise nos 200 primeiros modos de vibrar da estrutura revelou que a grande maioria dos
fatores de participação modal está contida nos 30 primeiros modos de vibração; e o primeiro e o
terceiro modos foram os modos mais dominantes (em termos de FPM) com frequências de 1,3Hz
e 1,5 Hz, respectivamente. Modos maiores, como por exemplo, o modo 157 com frequência
natural de 6,0 Hz possui FPM muito pequeno. Desde que as peneiras bananas no prédio do
peneiramento primário vibram com frequência operacional de 13,08 Hz (785 RPM), então não há
risco de haver ressonância, inclusive considerando os altos modos, que possuem baixos valores
de FPM.

Para finalizar a análise dinâmica, deve-se fazer a análise da integridade dos equipamentos,
integridade estrutural do prédio e também a análise da vibração ocupacional. Em outras palavras,
de posse das maiores amplitudes da vibração obtidas do STAAD, estas são comparadas com
valores padrões de ábacos e cartas de severidade de normas internacionais para a avaliação da
integridade física dos equipamentos e das estruturas metálicas e também para avaliação dos
níveis de vibração permissíveis suportados pelo ser humano. A seguir é mostrado um resultado
preliminar desta análise de integridade.

A carta de severidade de Reiher-Meister Chart (Lee, 2004) classifica o nível de amplitude de


deslocamento da vibração de zero a pico em relação às três análises: equipamentos, estruturas e
pessoas. Para o presente caso, ou seja, para o máximo valor de vibração estimado na análise
dinâmica do prédio do peneiramento primário, o valor de 0,0006 mm localiza-se, nessa carta de
severidade, na faixa “Barely Noticeable” (quase imperceptível) (Fig. 8) e é então aceitável para a
operação da máquina e suas estruturas metálicas, assim como para a vibração ocupação.
Logicamente tal resultado deve ser corroborado por cálculos baseados em normas internacionais,
tal como a norma ISO 2631 (1997) – Vibrações de corpo inteiro.

159
Figura 8: Carta de severidade de Reiher-Meister Chart (Lee, 2004) e condição da operação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho apresentou resultados de uma análise dinâmica numérica realizada no projeto
de um prédio metálico de uma usina de beneficiamento de minério a ser construída pela técnica
da modularização. Essa análise dinâmica consistiu em verificar os níveis de vibração do prédio
metálico usando o método dos elementos finitos prédio STAAD Pro v8. O prédio é constituído
de oito módulos, em que a principal fonte de vibrações é devido à operação de peneiras
vibratórias. Contudo, importante ressaltar que os resultados apresentados consistem de resultados
preliminares do projeto dinâmico, pois modificações estruturais ainda podem ser realizadas.

6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Vale e a empresa WorleyParsons pelos suportes técnicos e financeiros
disponibilizados.

REFERÊNCIAS

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5. International Organisation for Standardisation, ISO 2631-1:1997, Mechanical Vibration and Shock - Evaluation
of Human Exposure to Whole-Body Vibration, Part 1, General Requirements, ISO, Switzerland, 1997

160
AJUSTE DE MODELO MATEMÁTICO PARA PREDIÇÃO DO RUÍDO
EMITIDO PELO TRÁFEGO DE VEÍCULOS

MESQUITA, Alexandre L. A.; Da SILVA, Michel A. V.; SILVEIRA, Amilcar S.

Faculdade de Engenharia Mecânica - ITEC, Universidade Federal do Pará, Cidade Universitária Bairro Guamá. Caixa
Postal 479, CEP 66075-110, Belém-PA, Brasil.

RESUMO
Com o desenvolvimento das cidades aumenta o número e fluxo de veículos transitando nas vias urbanas.
Consequentemente, aumenta o ruído emitido pelo tráfego de veículos, gerando desconforto ou mesmo
patologias às pessoas afetadas. Dessa forma, meios de controle de ruído são propostos para que os níveis
sonoros estejam dentro dos limites permissíveis regidos por leis municipais e normas técnicas. Em geral, as
técnicas de controle de ruído são aplicadas na fonte (uso de atenuadores acústicos veiculares) e na trajetória
do ruído (uso de barreiras acústicas, revestimentos acústicos, etc.). No projeto das técnicas de controle de
ruído veicular na trajetória, é comum o uso de modelos matemáticos calibrados do ruído para que diferentes
cenários do controle acústico possam ser simulados. Nesse sentido, este trabalho apresenta um estudo de
caso de ajuste de parâmetros de um modelo matemático de nível de pressão sonora de ruído veicular já
existente na literatura científica. Foram realizadas medidas de nível de pressão sonora e quantificados o
número e tipo de veículos trafegando em um determinado período de tempo em uma via da cidade de Belém-
PA, onde o nível de ruído encontra-se acima do permitido por lei municipal. Com estas medições foram
identificados parâmetros do modelo matemático usado, de forma que o mesmo possa ser usado em possíveis
medidas de controle de ruído no local.

ABSTRACT
The development of cities results in a increasing of the vehicular traffic, and consequently in a increasing in
the noise generated by the traffic. Thus, noise control techniques are proposed in order that the noise level
becomes under the maximum allowable limits. In general, noise control techniques are applied in the source
(e.g. mufflers) or in the path (e.g. acoustical barriers). In noise control in the path, it is common the use of
mathematic models of noise prediction in order to perform the simulations of several scenarios of acoustical
control. Therefore, this work presents a case study of mathematical model updating for noise prediction. For
the case study, in a street of Belém City, measurements of sound pressure levels are performed and the
number and type of vehicles running in the street were counting. With the information of SPL, type and
vehicle flow, the model was established in order to be used in noise control procedures.
Palavras-chave: Ruído veicular. Modelo matemático. Ajuste de modelo.

1. INTRODUÇÃO
O tráfego de veículos é uma das principais fontes de poluição sonora ambiental. Portanto, no projeto
de novas vias ou ampliação de vias existentes, relatórios de impacto ambiental geralmente incluem
estimativas do ruído do tráfego veicular (BISTAFA, 2006). Em projetos de controle de ruído
veicular também se faz necessário muitas vezes o uso de uma predição do modelo matemático para
auxiliar a simulação de diferentes cenários de controle de ruído. Portanto, já existem várias
metodologias de predição do ruído de tráfego rodoviário, alguns simples, baseados em simples
modelos matemáticos, e outros mais complexos. Existem programas computacionais específicos
para a predição do ruído de tráfego veicular usados em vários países, tais como o código FHWA
usado pela Administração Rodoviária dos Estados Unidos (FHWA) (BISTAFA, 2006), o modelo

161
CoRTN (Calculation of Road Traffic Noise) desenvolvido pelo Departamento de meio Ambiente do
Reino Unido (STEELE, 2001) e a norma alemã RLS 90 (Richtlinien für den Lärmschutz an Straβen
– Diretrizes para Controle do Ruído em Rodovias) (STEELE, 2001). Vários outros modelos de
predição do ruído veicular foram também desenvolvidos, como podem ser encontrados nos
trabalhos de Cvetkovic et al. (1998), Makarewicz et al. (1999), Suksaard et al. (1999), Steele (2001)
e Calixto et al. (2003).

No presente trabalho escolheu-se o modelo matemático de predição do ruído veicular de Calixto et


al. (2001) para ser ajustado de acordo com medições de nível de pressão sonora em uma via da
cidade de Belém-PA. Nessa via, os níveis de ruído se encontram acima do permitido de acordo com
a lei municipal de Belém nº 7.990 de 10 de janeiro de 2000, que fixa limites para o ruído urbano de
70 dB em horário diurno e 60 dB em horário noturno, de acordo com as recomendações da NBR
10.151 da ABNT, ou a que lhe suceder.

2. MODELO MATEMÁTICO DE RUÍDO VEICULAR


O modelo matemático de predição de nível de pressão sonora de ruído veicular usado neste trabalho
foi desenvolvido de Calixto et al. (2003) é dado pela seguinte expressão:

Leq = a10 log[Q(1 + 9,5%VP / 100] + b Eq.[01]

Sendo Leq, o nível de pressão sonora equivalente; Q, o fluxo real de veículos dado em veículos por
hora; e VP, o percentual de veículos pesados (veículos acima de 2800 kg). Os coeficientes a e b são
ajustados de acordo com os níveis de pressão sonora medidos.

Uma vez medido o fluxo de veículos, o percentual de veículos pesados, os níveis equivalentes de
ruído, Então, pelo método dos mínimos quadrados, ajusta-se uma curva aos pontos medidos.
Matematicamente essa curva é do tipo:

y = ax + b Eq.[02]

Os valores das constantes a e b serão determinados com a utilização das técnicas estatísticas de
regressão linear. Assim, após a substituição das constantes a e b na expressão da Eq. [01], tem-se a
curva ajustada que pode determinar os valores dos níveis equivalentes do ruído de tráfego
rodoviário da via em questão de acordo com o fluxo e tipo de veículos. Desta forma, medidas de
controle de velocidade e tipo de veículos podem ser avaliados para que os níveis de ruído
permaneçam dentro dos limites permissíveis.

3. METODOLOGIA DE MEDIÇÃO DOS NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA


O local escolhido para a realização das medições de nível de pressão sonora (NPS), para o ajuste
dos parâmetros do modelo matemático da Eq.[01], foi um edifício localizado na Avenida José
Malcher, uma importante via da cidade de Belém. . Por ser uma rua bem movimentada, o ruído
devido ao tráfego é intenso. As medidas foram coletadas no salão de recepção e eventos do edifício,
sediado no 1º andar, a uma altura de 4,65 m. A Fig.1a mostra a frente do prédio e a Fig.2 mostra
uma foto da avenida em frente ao prédio.

Para as medições foi utilizado o medidor de Nível de Pressão Sonora Brüel & Kjaer modelo 2238
(Fig. 3). Os níveis de pressão sonora equivalentes, Leq, foram medidos na curva de ponderação “A”.
A metodologia das medições foi a seguinte: pela janela do salão de recepção do prédio (a uma
distância de 15 metros do centro da pista à parede do edifício) foram medidos os níveis equivalentes

162
do ruído em, Leq na escala A, emitidos pelo tráfego de veículos a cada cinco minutos, durante vinte e
cinco minutos. Simultaneamente, foi verificada a quantidade e tipo de veículos (leves e pesados)
que passavam por uma linha fixa imaginária transversal à avenida. Os veículos pesados foram
considerados aqueles que têm peso superior a 2.800 kg (CALIXTO et al., 2003), portanto,
caminhonetes , caminhões e ônibus. O Leq para cinco minutos não diferia do Leq para quatro
minutos, caracterizando assim um ruído contínuo (FERNANDES, 2002), na segunda medição o
tempo cada medição foi igual a 4 minutos.

Figura 1: Prédio de onde forma feitas as medições Figura 2: Av. José Malcher em Belém-PA

Figura 3: medidor de Nível de Pressão Sonora Brüel & Kjaer modelo 2238

4. RESULTADOS OBTIDOS E DICUSSÃO


Após as medições, foram obtidas 12 amostras divididas em duas etapas com horários diferentes
como são apresentados nas tabelas que se seguem.

Tabela 1: Dados obtidos na 1ª etapa da medição

Q
VP Leq
Hora (Veíc/5 Q (Veíc/h) %VP 10log(Q*(1+9,5*%VP/100))
(Veíc. / h) [db(A)]
min)
19:05 186 2232 336 15,05 73,30 37,34
19:10 176 2172 366 16,85 73,40 37,52
19:15 183 2180 356 16,33 73,10 37,45
19:20 148 2079 342 16,45 73,00 37,27
19:25 199 2141 350 16,37 72,90 37,38
19:30 153 2090 328 15,69 72,50 37,17
Média 174 2149 346 16,12 73,03 37,36

163
Tabela 2: Dados obtidos na 2ª etapa da medição

Q
VP Leq
Hora (Veíc/4min Q (Veíc/h) %VP 10log[Q(1+9,5.%VP/100)]
(Veíc/h) [db(A)]
)
19:39 125 1875 360 19,20 71,50 37,24
19:43 104 1718 300 17,47 70,50 36,60
19:47 101 1650 260 15,76 70,10 36,15
19:51 103 1624 248 15,24 69,90 35,99
19:55 105 1614 258 15,99 70,00 36,09
19:59 92 1575 248 15,71 69,70 35,94
Média 105 1676 279 16,56 70,28 36,35

Após a medição do fluxo de veículos Q, o percentual de veículos pesados %VP, os níveis


equivalentes de ruído Leq e as respectivas quantidades 10log[Q(1+9,5%VP/100)], gerou-se o gráfico
da Fig. 5.

Leq x 10log[Q(1+9,5.%VP/100)]

74,00
Leq [dB(A)]

73,00
72,00
71,00
70,00
69,00
35,50 36,00 36,50 37,00 37,50 38,00
10log[Q(1+9,5.% VP/100)]

Figura 5: Gráfico 10log[Q(1+9,5.%VP/100)] versus Leq

Após análise de regressão linear nos pontos do gráfico da Fig. 5, encontrou-se a melhor reta
(y=ax+b),que se ajusta aos pontos no gráfico. A análise identificou os coeficientes a e b como:

a = 2,29 e b = -12,73

Assim a expressão obtida é igual a:

Leq = 22,9log[Q(1+9,5.%VP/100)] - 12,73 Eq.[03]

Sendo:
• Leq é o nível equivalente de ruído emitido pelo tráfego urbano a 15 metros, em dB(A);
• Q é o fluxo de veículos (veículos por hora);
• %VP é o percentual de veículos pesados, em relação ao total de veículos.

Para efeito de verificação dos valores encontrados, gerou-se um gráfico comparativo entre o Leq
medido e o Leq calculado pela Eq. [03]. O gráfico é mostrado na Fig.6.

164
Comparação de Leq Medição
Modelo
74
72
Leq [dB(A)] 70
68
66
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Amostras

Figura 6: Comparação entre valores medidos e curva do modelo matemático

Percebe-se que os valores calculados não se distanciam de maneira significativa dos valores
medidos. O que permite afirmar que estas equações podem predizer satisfatoriamente os níveis
equivalentes do ruído gerado pelo tráfego na Avenida José Malcher em Belém-PA.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse trabalho foi ajustado um modelo matemático para a predição do nível de pressão sonora na
Avenida Governador José Malcher em Belém-PA. O modelo matemático determinado ajusta-se
bem aos valores medidos de NPS. Verificou-se nas medições que o valor máximo alcançado do
nível equivalente de emissão do ruído de tráfego medidos na avenida foi de 72.5 dB(A) no período
noturno. Segundo os limites definidos pela lei n° 7990 de 10 de janeiro de 2000, o nível equivalente
médio de ruído de tráfego nessa área ultrapassa em média os níveis permitidos pela lei citada em
12,5 dB(A). A população que reside ou trabalha nessas áreas, sofre os efeitos deste ruído, o que
representa riscos à saúde e prejuízo a qualidade de vida. Portanto, ações de controle de ruído devem
ser tomadas, tais como diminuição de tráfego pesado, diminuição da velocidade, uma boa
conservação das rodovias ou mesmo barreiras acústicas entre os prédios e a via. Nesse sentido o
modelo matemático encontrado pode auxiliar nessas ações para a simulação do som gerado após
serem tomadas medidas de redução de fluxo de veículos (quantidade e velocidade).

REFERÊNCIAS

1. Bistafa, S. (2006). Acústica Aplicada ao Controle do Ruído, Editora Edgard Blücher.


2. Calixto, A.; Diniz, F.B.; ZANNIN, P.H.T. (2003). Modelamento matemático da emissão sonora em rodovias
federais que adentram áreas urbanas. Revista de Acústica, Vol. 34, nº. 1 e 2, pp. 22 – 30.
3. Cvetkovic, D.; Prascevic, M.; Stojanovic, V.; Mihajlov, D. Comparative Analysis of Traffic Noise Prediction
Models. In: CONGRESS OF SLOVENIAN ACOUSTICAL SOCIETY, 1, 1998, Eslovênia. Anais do First
Congress of Sloveniam Acoustical Society, Eslovênia, 1998, p. 349-358.
4. Fernandes, J. C. (2009). Acústica e Ruídos. Apostila do Departamento de Engenharia Mecânica da UNESP .
Câmpus de Bauru, 2002. 98p.
5. Lei nº 7.990, de10 de janeiro de 2000. Dispõe sobre o controle e o combate à poluição sonora no âmbito do
Município de Belém. Diário Oficial do Município de Belém. Disponível em:
<http://www.belem.pa.gov.br/semma/paginas/lei_7990.htm>. Acesso em: 16 maio 2006.
6. Makarewicz, R.; Fujimoto, M.; Kokowski, P. A Model of Interrupted Road Traffic Noise. Applied Acoustic, Japan,
v. 57, p. 129-137, 1999.
7. Steele, C. A Critical Review of Some Traffic Noise Prediction Models. Applied Acoustic, Camberra, v.62, p. 271-
287, 2001.
8. Suksaard, P.; Sukasem, P.; Tabucanon, S.M.; Aoi, I.; Shirai, K.; Tanaka, T. Road Traffic Noise Prediction model in
Thailand. Applied Acoustic, Thailand, v. 58, p. 123-130, 1999.

165
 

SESSÃO 03-A

166
AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO EM UMA COMPARAÇÃO DE
LABORATÓRIOS PARA ENSAIOS DE ABSORÇÃO SONORA EM TUBOS

Massarani, Paulo M.
Laboratório de Ensaios Acústicos - Inmetro.
RESUMO
Laboratórios de acústica que possuem tubos de impedância, tanto para apoio às pesquisas de
desenvolvimento de materiais quanto para a prestação de serviços metrológicos, têm a necessidade de
garantir a confiança dos resultados medidos. Além dos sistemas comerciais disponíveis para ensaios de
absorção sonora em tubos, muitos laboratórios têm a capacidade de criar soluções próprias. A comparação
de resultados obtidos por diferentes sistemas sobre mesmo material é umas das ferramentas para assegurar a
confiança no resultados. Esse trabalho apresenta uma análise baseada em métodos estatísticos simples
recomendados para testes de proficiência de uma participação de um laboratório em uma comparação de
ensaios de absorção em tubos.

ABSTRACT
Acoustical testing laboratories that use impedance tubes to support researches or to supply metrological
services have the need to assure the quality of the test results. Some commercial test systems are available,
but much of the laboratories can apply homemade solutions for sound absorption tests in tubes. The
interlaboratory comparisons are one of the tools used to assure the results quality. This work presents an
analysis, based on standardized statistical methods, over the participation of one laboratory in a comparison
round for sound absorption coefficients in tubes.
Palavras-chave: Absorção sonora. Tubo de impedância. Comparação de laboratórios. Análise estatística.
Teste de proficiência.

1. INTRODUÇÃO

A aplicação de materiais com propriedades de absorção sonora é uma ferramenta clássica e eficiente
para controle de ruído e ajuste de parâmetros relacionados com a qualidade acústica de salas. Uma
ampla variedade de materiais está disponível aos especialistas de acústica, conjugando além das
características de desempenho outros fatores ocasionalmente requeridos, tais como estética,
segurança ou reciclagem de materiais. Diante disso é constante a necessidade de caracterizar as
propriedades acústicas dos novos materiais. Os métodos de ensaio de absorção sonora em tubos são
soluções bem apropriadas, pois utilizam instrumentação compacta e simples além de permitir que
pequenas áreas de amostras possam ser ensaiadas. Adicionalmente, a confiabilidade dos chamados
tubos de impedância é alta desde as primeiras implementações conhecidas que datam da primeira
década do século passado. Atualmente, laboratórios e centros de pesquisas beneficiados pelas
evoluções do método de ensaio e da instrumentação podem criar soluções domésticas como
alternativas aos tubos que são ofertados comercialmente.

Laboratórios que possuem tubos tanto para uma utilização de apoio às pesquisas quanto para a
prestação de serviços metrológicos têm a necessidade de garantir a confiança nos resultados obtidos.
Os recursos de validação de método podem ser baseados na utilização de materiais de referência, na
aplicação de modelos teóricos, na comparação de resultados obtidos por outros métodos de medição
ou na comparação de resultados obtidos com outros tubos. Mesmo considerando a implementação
de métodos normalizados, tais como os dois métodos descritos nas normas ISO 10534 partes 1 e 2
167
(INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1996 e 1998), algumas
fontes de erro dependem de uma implementação em particular. A intensidade de erros sistemáticos
e aleatórios depende da instrumentação, do projeto do tubo, do corte da amostra e também da
fixação destas.

Recentemente um grupo de 8 laboratórios teve a oportunidade de participar de uma comparação de


resultados de coeficiente de absorção sonora em tubo (ALVES, L.M., 2011). O grupo incluiu 3
laboratórios da indústria automotiva, 3 laboratórios de universidades e 2 laboratórios de serviços
metrológicos. Três dos participantes utilizaram tubos comerciais de mesma marca e modelo
enquanto os outros 5 utilizaram soluções próprias. Amostras de um mesmo material foram
utilizadas, sendo que cada participante forneceu 18 resultados combinando repetições e
reproduções.

Esse trabalho apresenta uma avaliação da comparação baseada nos resultados obtidos pelo tubo de
impedância do Laboratório de Ensaios Acústicos do Inmetro - Laena. Os resultados fornecidos pelo
Laena na comparação foram obtidos pela aplicação de uma técnica desenvolvida internamente e
implementada em solução própria (MASSARANI, P.M, 2010). Conclusões sobre o desempenho
dos resultados do Laena na comparação são estabelecidas pela aplicação de métodos estatísticos
descritos na norma ISO 13528 direcionados para ensaios de proficiência de laboratórios
(INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2005).

2. DESCRIÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DE MÉTODO

O sistema de medição do Laena, utilizado para obter resultados participantes na comparação


apresentada por Alves (2011), é uma adaptação de um antigo tubo de impedância de fabricação
Brüel & Kjaer, originalmente concebido para o método da onda estacionária (Figura 1). Um
microfone de 1/4" de eletreto de baixo custo foi fixado na extremidade da sonda original para a
captação do campo sonoro no interior do tubo. O controle da medição foi realizado pelo
instrumento CMF 22, um "frontend" que integra aquisição de sinais digitais e amplificação de sinal
de saída, conectado em um PC e administrado por um programa denominado "Monkey Forest",
também responsável pelo processo de processamento de sinais. Entenda-se por controle a geração
do sinal digital de excitação, as conversões AD/DA, a amplificação da excitação para o alto-falante
do tubo e o condicionamento do sinal do microfone.

Com as adaptações físicas no tubo foi possível implementar o método da função de transferência
seguindo-se as recomendações da norma ISO 10534-2 (INTERNATIONAL ORGANIZATION
FOR STANDARDIZATION, 1998). A Figura 2 apresenta esquematicamente os fundamentos da
implementação realizada. O microfone pode ser deslocado para qualquer posição longitudinal do
tubo, permitindo que sejam escolhidas duas posições nas quais são medidas as funções de
transferência definidas na norma ISO 10534-2. Nos ensaios realizados para a comparação foram
selecionadas as distâncias de 20 cm da posição 2 do microfone para a amostra e de 5 cm entre as
posições 1 e 2 de microfone. As funções de transferência relativas às duas posições de microfones
podem ser realizadas em seqüência, graças à natureza determinística do sinal de excitação que é
utilizado. O diagrama à esquerda da Figura 2 apresenta o fluxo utilizado de processamento de
sinais, baseado na técnica de varreduras de seno (Sweep) apresentada por Müller e Massarani
(2001), para a determinação das funções de transferência. O sinal de excitação foi construído sobre
medida para atingir a largura de banda de freqüências útil do tubo e fornecer ênfases nas freqüências
graves para uma melhor competição com o ruído de fundo. Uma técnica desenvolvida internamente
(MASSARANI, P.M., 2010) foi aplicada para minimizar os efeitos das múltiplas reflexões nas
extremidades do tubo. Em resumo a técnica estabelece a adição de etapas de processamento de
sinais para aplicação de janelas nas respostas impulsivas (representações das funções de
transferência no domínio do tempo). A conseqüência mais notável do processamento adicionado é
168
uma suavização das curvas de coeficiente de absorção sonora e minimização de erros sistemáticos
causados por ressonâncias no tubo.

Seguindo-se o protocolo da comparação foram recortadas, por uma ferramenta própria, amostras de
3 placas recebidas de material (ver detalhe na fotografia do canto inferior esquerdo da Figura 1).
Foram realizadas 3 repetições nas duas faces de cada uma das 3 amostras, totalizando 18 resultados
de absorção sonora. Para a transmissão dos resultados à organizadora da comparação cada uma das
18 curvas de coeficiente de absorção sonora foi limitada a faixa útil de freqüência entre 99,59 e
1999,28 Hz, ou sejam 707 pontos em uma resolução de 2,69 Hz. A Figura 3 apresenta a curva
média e os desvios padrão dos 18 resultados do Laena.

Posteriormente a entrega de todos os resultados por cada participante observou-se a variedade de


resoluções de freqüência das curvas de coeficiente de absorção. De fato o protocolo da comparação
não teve a intenção de fixar uma determinada resolução, preservando as implementações individuais
de rotina. Assim, para fins de comparação foi utilizada a menor de todas as resoluções entre os
participantes, ou seja, uma resolução de valores na freqüência central de bandas de 1/3 de oitava.
Para reduzir a resolução dos outros participantes foi feita uma interpolação linear entre pares de
coeficiente de absorção, α, e freqüência, f, utilizando-se a equação:

α1 ( f 2 − f ) + α 2 ( f − f1 )
α= , [Eq. 01]
f 2 − f1

onde os índices 1 e 2 indicam os pares vizinhos correspondentes às freqüências inferiores e


superiores respectivamente. O mesmo procedimento foi seguido para reduzir a resolução dos
desvios padrão. A Figura 3 também apresenta as curvas médias e os desvios padrão dos resultados
do Laena reduzidos à menor resolução, superpostas aos resultados na resolução original.

Figura 1: Tubo de impedância do Laena .

169
Figura 2: Representações esquemáticas do processamento de sinais e das posições de microfone da implementação
do Laena.

1,0

0,9

0,8

0,7

0,6
α

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200
Freqüência (Hz)

Figura 3: Curvas médias e desvios padrões de coeficiente de absorção do Laena na resolução original, em preto e
cinza, e após a redução para resolução nas freqüências centrais de 1/3 de oitava, pontos e barras em azul.

3. MÉTODOS ESTATÍSTICOS DE ENSAIOS DE PROFICIÊNCIA

Os resultados da comparação foram as médias e os desvios padrão de cada participante na


resolução de freqüência correspondente às freqüências centrais de 1/3 de oitava. O protocolo
também não requisitou as declarações das incertezas de medição dos participantes, cujos valores
ocasionalmente são utilizados para quantificar as equivalências em outras comparações. Na
análise contida nesse trabalho consideram-se os resultados nos quais todos os 8 participantes
apresentaram resultados mais coerentes, i.e. os valores nas freqüências 315, 400, 500, 630, 800,
1000, 1250, 1600 e 2000 Hz. A Figura 4 apresenta os resultados utilizados nesse trabalho.

Cada participante foi apelidado por uma letra de modo que cada um sabe quais são seus
resultados, mas não sabe quem é quem dos outros. Os resultados do Laena correspondem a letra
G e será o único identificado nesse trabalho. Qualquer consideração apresentada adiante não tem
o propósito de classificar os participantes, limitando-se somente a análise do Laena em
particular.

170
Na tentativa de embasar quantitativamente a participação do Laena na comparação foram
consideradas as recomendações descritas na norma ISO 13528 (INTERNATIONAL
ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2005). Alguns dos métodos estatísticos da
norma foram aplicados no conjunto reduzido de dados na resolução coincidente com as
freqüências centrais de 1/3 de oitava entre 315 e 2000.

3.1. Médias e desvios robustos.

O valor designado de comparação, X, foi determinado considerando que todos os resultados, x,


coletados na comparação são válidos. Entretanto, a norma ISO 13528 recomenda nesses casos
que sejam calculadas médias robustas, que considerem a exclusão de valores marginais. Além do
valor designado X alguns indicadores utilizam o desvio padrão da comparação, σ, que representa
o espalhamento entre os resultados. Tanto o valor designado quanto o desvio padrão da
comparação foram calculados aplicando-se a análise robusta descrita pelo Algoritmo A contido
no Anexo C da ISO 13528 para cada freqüência, cuja reprodução nesse artigo se faz
desnecessária. A Tabela 1 apresenta os resultados dos cálculos interativos implementados
conforme a descrição da norma.
Tabela 1: Resultados da análise robusta.
Freqüência (Hz) X σ
315 0,16 0,0110
400 0,21 0,0170
500 0,27 0,0230
630 0,35 0,0250
800 0,47 0,0350
1000 0,59 0,0280
1250 0,71 0,0220
1600 0,82 0,0220
2000 0,88 0,0650

A Figura 4 permite uma comparação qualitativa entres a linha azul e a linha negra, que
representam respectivamente a média do Laena e a média robusta de todos os participantes.
Pode-se notar que os valores do Laena distam consideravelmente da média de comparação nas
freqüências de 800 e 1000 Hz.
1,0

0,9

0,8

0,7

0,6
α

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200
Freqüência (Hz)

Figura 4: Curvas médias de coeficiente de absorção. Resultados do Laena em azul. Resultados dos outros
participantes representados por pontos negros. Média robusta da comparação representada pela linha negra.

171
Complementarmente, são comparados os desvios padrão através da inspeção da Figura 5. Os
resultados do Laena apresentam os maiores desvios padrão resultantes das 18 curvas nas
freqüências de 630, 800 e 1000 Hz. Entretanto os valores do Laena são da mesma ordem ou
inferiores aos desvios padrão robustos σ.
0,07

σ A B C D
0,06
E F H G

0,05
Desvio Padrão

0,04

0,03

0,02

0,01

0,00
315 400 500 630 800 1000 1250 1600 2000

Freqüência (Hz)

Figura 5: Desvios padrão das medições por participante, barras azuis para o Laena e barras amarelas para os
demais. Desvio padrão robusto de todos os participantes, barras preenchidas com listras negras.

3.2. Diferenças percentuais e "z-score".

As diferenças percentuais entre os valores x do Laena e o valor atribuído X, calculados através da


Eq. 02, estão apresentados na Figura 6. As diferenças mais notáveis estão nas freqüências de 800
e 1000 Hz.

D% = 100( x − X ) X . [Eq. 02]

15

10

5
2,1
0,8 0,5
D%

-1,3 -0,7 -1,1 -1,3


-5

-6,2
-10

-13,5
-15
315 400 500 630 800 1000 1250 1600 2000

Freqüência (Hz)

Figura 6: Diferenças percentuais calculadas pela Eq. 02, barras azuis para o Laena com os valores explicitados.

172
A diferença percentual expressa desvios absolutos do valor designado, mas para análises
classificatórias é necessário considerar os desvios padrão robusto entre os participantes. Em um
ensaio de proficiência o organizador, diante de regras predefinidas e aceitas em consenso entre os
participantes, pode sinalizar a necessidade de providenciar ações corretivas. O parâmetro
estatístico "z-score", definido pela Eq. 03, permite a classificação objetiva dos sinais de correção.
A norma ISO 13528 estipula que quando o valor "z-score" é maior que 2 ou menor que -2 é
acionado um sinal de alerta. Quando o valor "z-score" é maior que 3 ou menor que -3 o provedor
da rodada de proficiência emite um sinal de ação para o participante.

z = 100( x − X ) σ [Eq. 03]

A Figura 7 apresenta os valores de "z-score" calculados para cada participante, com destaque aos
relativos ao Laena. Apesar de uma diferença de mais de 10 % na freqüência de 800 Hz, o valor
de z, igual -1,8, não atingiu a faixa de alerta.
4
Ação
3
Alerta
2

1
0,3 0,1
0,1
0
z

-0,2 -0,1
-1
-0,3 -0,5
-1,8 -1,3
-2
Alerta
-3
Ação
-4
315 400 500 630 800 1000 1250 1600 2000

Freqüência (Hz)

Figura 7: "z-scores" calculados pela Eq. 03, barras azuis para o Laena com os valores explicitados.

4. CONCLUSÕES

A análise apresentada nesse trabalho é um estudo de caso da aplicação de estatísticas de rodadas


de proficiência como ferramenta de garantia da qualidade de resultados de um laboratório. O
indicador z foi considerado adequado para o propósito diante do protocolo de comparação
estipulado na monografia de Alves (2011). Nenhum laboratório, ou sistema de medição, foi
considerado como referência. Igualmente não foram requisitados valores estimados de incerteza
de medição dos participantes. As amostras distribuídas aos participantes foram consideradas
homogêneas, apesar de que nenhuma análise complementar tenha sido realizada para verificar
diferenças entre elas.

O sistema de medição do Laena tem soluções originais de implementação que ainda não foram
completamente validadas. Um efeito notável é a redução das oscilações nos coeficientes de
absorção sonora após a aplicação das janelas nas respostas impulsivas. Entretanto, em outras

173
medições realizadas em amostras com espaço de ar notou-se que a suavização da curva de
absorção pode ser excessiva (Massarani, P.M. 2010).

Apesar de não ter sido evidenciado nenhum sinal de ação pelos indicadores estatísticos aplicados
a comparação incentiva investigações adicionais da implementação do Laena. As amostras de
material recebido estão retidas e podem ser utilizadas nas investigações futuras. O sistema de
medição desenvolvido pode ser aplicado com infinitas variações de implementação, como
alterações nas posições dos microfones e nos parâmetros de processamento de sinais. A intenção
é a realizar novos ensaios nas amostras retidas com diferentes condições visando analisar o
comportamento das curvas de absorção na faixa de freqüência entre 500 e 1200 Hz.

REFERÊNCIAS

1. Alves, L.M. (2011). Comparação Laboratorial de Absorção Sonora em Tubos de Impedância. Monografia
(Curso técnico em Metrologia) – Inmetro/SEEDUC-RJ/C. E. Círculo Operário, Rio de Janeiro.
2. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARTIZATION. ISO 10534-1: Determination of sound
absorption coefficient and impedance in impedance tubes - Part 1: Method using standing wave ratio. Genebra:
ISO, 1996.
3. ____. ISO 10534-2: Determination of sound absorption coefficient and impedance in impedance tubes - Part 2:
Transfer-function method. Genebra: ISO, 1998.
4. ____. ISO 13528: Statistical methods for use in proficiency testing by interlaboratory comparisons. Genebra:
ISO, 2005.
5. Massarani, P.M. (2010). The Two-Microphone Method in the Impulse Response Domain. 39th International
Congress on Noise Control Engineering, Lisboa.
6. Müller, S. e Massarani, P.M. (2001). Transfer-Function measurement with sweeps. Journal of Audio
Engineeering Society, vol. 49(6), pp 443-471.

174
MEDIÇÃO DO COEFICIENTE DE ABSORÇÃO SONORA DE
MATERIAIS ATRAVÉS DA TÉCNICA DE UM MICROFONE EM UM
TUBO DE IMPEDÂNCIA

MASINI, Henrique Forlani1; OLIVEIRA FILHO, Ricardo Humberto2; TEODORO, Elias


Bitencourt3.

(1) Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (Embraer), Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2170, CEP 12227-901, São
José dos Campos – SP - Brasil; (2) Escola de Engenharia Elétrica e de Computação, Universidade Federal de Goiás,
Av. Universitária, 1488, Quadra 86, Bloco A, 3º piso, Setor Leste Universitário, CEP 74605-010, Goiânia – Goiás -
Brasil; (3) Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia, Av. João Naves de Ávila, 2121,
Bloco 1M, Campus Santa Mônica, CEP 38400-902, Uberlândia – MG – Brasil.

RESUMO
Este trabalho apresenta como proposta o desenvolvimento de um equipamento portátil, capaz de efetuar a
medição do coeficiente de absorção sonora através do tubo de impedância pelo método de um microfone
utilizando um programa computacional comercial. A metodologia baseia-se em medições da densidade
de energia acústica usando funções transferência como recomendado pela norma ASTM E 1050. Esta
técnica recomenda a utilização de dois microfones com casamento de fase. Entretanto, com base em
publicações de outros pesquisadores, verificou-se a real possibilidade de utilização de apenas um
microfone. Uma bancada experimental foi montada especificamente, projetada e concebida para o
experimento: uma caixa acústica contendo um alto falante automotivo, um tubo de impedância circular
em PVC contendo uma série de furos devidamente espaçados para acomodar o microfone e um
amplificador de potência para o gerador de sinais. Os sinais adquiridos foram processados por um
computador com um programa computacional analisador de sinais desenvolvido em LabVIEW®. Com a
construção e validação da metodologia bem como do sistema de medição, verifica-se um
aperfeiçoamento da capacidade laboratorial na medição de coeficiente de absorção de diversos materiais
em faixas de frequências de 75 a 4650 Hz.

ABSTRACT
This paper presents the proposal of the development of portable equipment to perform automatic
measurements of the acoustic absorption coefficient through the impedance tube using the one
microphone method. The methodology is based on measurements of the acoustic energy density using the
frequency response function as recommended by ASTM E 1050. This technique recommends the use of
two microphones with phase matching condition. However, based on another’s researcher’s publications,
the real possibility of using only one microphone was verified. An experimental workbench was
developed specifically designed and developed for the experiment, composed of an acoustic box with an
automotive loudspeaker, a circular PVC impedance tube containing a series of holes properly spaced to
accommodate the microphone and a power amplifier for the signal generator. The acquired signals were
processed by a computer with signal analyzer software developed in LabVIEW®. With the development
and validation of the methodology and measurement system there is an optimization of laboratory
capacity to measure the absorption coefficient of several alternative materials in the frequency range
from 75 to 4650 Hz
Palavras-chave: coeficiente de absorção sonora; tubo de impedância; técnica de um microfone; função
transferência.

175
1. INTRODUÇÃO
O ruído é caracterizado como sendo um som desagradável e indesejável que pode provocar
efeitos nocivos no sistema auditivo e no sistema extra-auditivo do organismo humano (Araújo et
al., 2002).
Por causa do efeito maléfico ao ser humano, é necessária a redução dos níveis de ruído em
indústrias, escritórios, residências e escolas de tal forma que o ambiente se torne confortável do
ponto de vista acústico. Essa redução pode ser efetuada com a utilização de materiais que
absorvam o som desagradável.
Os materiais tipicamente utilizados para absorver o som são fibrosos ou porosos. A absorção se
dá pela dissipação de energia acústica por atrito, devido ao movimento das moléculas de ar no
interior do material, quando ocorre a passagem da onda sonora (Bistafa, 2006). Assim, como os
materiais sólidos não permitem que as moléculas de ar interajam com a sua estrutura, a absorção
sonora é drasticamente reduzida.
O parâmetro que determina as características de absorção sonora de um material é o coeficiente
de absorção sonora (α) que é definido como sendo a razão entre a energia acústica absorvida e a
energia acústica incidente.
Existem basicamente dois métodos para a medição do coeficiente de absorção sonora: em uma
câmara de testes especial, denominada de câmara reverberante, e o tubo de impedância. O
coeficiente de absorção normalmente utilizado nas aplicações é aquele obtido experimentalmente
em câmara reverberante (Beranek; Vér, 1992). Nas câmaras reverberantes, as superfícies são
construídas de tal forma a maximizar o som refletido.
O método de medição do coeficiente de absorção sonora através do tubo de impedância não
necessita de uma câmara reverberante, sendo então mais barato e de implementação mais
simples.
O tubo de impedância consiste de um tubo de parede rígida onde em uma extremidade é
colocado um alto-falante e na outra a amostra do material a ser testado. Dentro do tubo é
estabelecido um modelo de ondas estacionárias, devido às ondas que vão à direção da amostra e
retornam.
O valor do coeficiente de absorção depende da frequência do som incidente, da densidade, da
espessura e da estrutura dos materiais e sempre varia de 0 a 1.
Diante do contexto apresentado, o objetivo deste trabalho é projetar, desenvolver e validar um
tubo de impedância portátil capaz de efetuar a medição do coeficiente de absorção sonora
utilizando o método de um microfone, de tal forma que aperfeiçoa a capacidade laboratorial de
medição para diversos materiais na faixa de frequência de 75 a 4650 Hz.

2. DESENVOLVIMENTO
Existem basicamente dois métodos para a determinação do coeficiente de absorção sonora de
materiais utilizando o tubo de impedância: o método clássico analógico e o digital (Gerges,
2000).
De forma a se obter valores máximos e mínimos de pressão sonora, o microfone pode ser
deslocado ao longo do tubo. Ao se ligar o alto falante, ondas estacionárias são formadas no
interior do tubo. Com isso, o valor da razão de onda estacionária pode ser encontrado, sendo
possível determinar o coeficiente de absorção sonora.
Com o desenvolvimento da técnica de análise digital dos sinais, pode-se utilizar também o
método digital. O coeficiente de absorção sonora no método digital pode ser determinado cerca
de 20 a 30 vezes mais rápido.
No método digital um ruído branco é gerado, e a pressão sonora no interior do tubo é
determinada por dois microfones em posições pré-determinadas. Os sinais dos microfones são
simultaneamente processados por um analisador digital e a curva de absorção em função da
frequência é determinada. Mas é possível utilizar a técnica do tubo de impedância com apenas

176
um microfone. O processo de excitação do tubo com um ruído branco pode ser considerado
estacionário e, portanto, os sinais dos microfones não precisam ser processados simultaneamente
(Chu, 1986).
Desta forma, apenas um microfone pode ser utilizado para efetuar medições em duas posições
selecionadas e, com isso, elimina-se o processo de calibração entre os dois microfones, os erros
associados à diferença de fase de cada um e as dificuldades computacionais. A técnica de
determinação do coeficiente de absorção sonora utilizando um microfone pode ser automatizada
de tal modo que seja projetado um equipamento portátil que possa ser transportado para vários
lugares para que sejam efetuadas as medições.
O método da função de transferência realizado com um único microfone é previsto na norma ISO
10534-2:1998 e os resultados são mais confiáveis se o ruído aleatório for substituído por sinais
determinísticos (tons puros, varreduras de seno ou ruído pseudo-aleatório).
Um sistema de medição automático é constituído pelo tubo de impedância, no qual possui em
uma extremidade um alto falante e a outra extremidade é fechada por uma tampa onde se coloca
a amostra de material, um gerador de sinais ligado a um amplificador que é ligado ao alto falante,
uma placa de aquisição de dados, um computador com o programa desenvolvido em LabVIEW®,
o analisador digital de sinais e um microfone ligado a um pré-amplificador, conforme mostrado
na Fig. 1.
Para se determinar o coeficiente de absorção sonora, é necessário encontrar o valor da função de
transferência entre os sinais obtidos na posição A e na posição P (Fig. 1) respectivamente.

Figura 1: Representação esquemática do sistema automático de medição do coeficiente de


absorção sonora.

A função de transferência entre os sinais é a razão entre a pressão acústica da onda que se forma
no interior do tubo entre as posições P e A. O coeficiente de absorção sonora é dado pela Eq. 01
(Chu, 1986).

2
 i k s 
H AP  e
  1 [Eq. 01]
e ik s
H AP

onde k é o número de onda dado por k = ω/c e HAP é a função de transferência entre o microfone
na posição A e o microfone na posição P.
Uma vez definida a distância s entre as posições de medição, deve ser obtida a função de
transferência entre os sinais A e P, através da Eq. 02.
177
H AP  H AS H S P [Eq. 02]

onde HAS é a função de transferência entre o sinal do microfone na posição A e o sinal do gerador
de ruído e HSP é a função de transferência entre o sinal do gerador de ruído e o sinal do
microfone na posição P.
Portanto, um único microfone é necessário para medir as pressões sonoras nas posições A e P e
calcular a função de transferência através da Eq. 02, sendo esta necessária para a determinação
do coeficiente de absorção sonora pela Eq. 01.
Para a teoria apresentada até agora, as medições só serão válidas para a faixa de frequência na
qual só existam ondas planas no interior do tubo. Essa frequência é definida como frequência de
corte e em duto uniforme de seção transversal circular, sendo seu menor valor dado pela Eq. 03.

1,84 c [Eq. 03]


fc 
d

onde c é a velocidade do som em metros por segundos e d é o diâmetro do tubo em metros.


Acima da frequência de corte os resultados não devem ser considerados, pois as ondas que se
propagam no tubo não são somente ondas planas.
O espaçamento entre as posições do microfone define a faixa de frequência no qual as medições
têm precisão aceitável (Gerges, 2000). As frequências mínimas e máximas da faixa recomendada
para o uso em função da distância entre os microfones são dados pelas Eqs. 04 e 05
respectivamente.

0,1c
f min  [Eq. 04]
2s

0,8 c [Eq. 05]


f max 
2s

E é possível determinar a frequência ideal de trabalho em torno da qual se espera uma menor
variância dos resultados pela Eq. 06.

c [Eq. 06]
fi 
4s

Outro parâmetro importante é o coeficiente de redução sonora NRC (Noise Reduction


Coefficient) que pode ser definido como sendo a média aritmética dos coeficientes de absorção
sonora das bandas de oitava de 250 a 2000 Hz, determinado pela Eq. 07.

1
NRC   250  500  1000  2000  [Eq. 07]
4

2.1. Materiais e construção do sistema de medição


Para a construção do tubo de impedância, madeira foi utilizada para a caixa com o alto falante, o
suporte e a tampa que contém a amostra de material a ser testada, conforme é mostrado na Fig. 2.
Já o tubo foi construído com PVC.

178
Figura 2: Modelo construtivo do tubo de impedância: 01. Alto falante; 02. Caixa
acústica; 03. Conexão entre o tubo e a caixa acústica; 04. Fixação do microfone;
05. Porta amostra; 06. Apoio; 07. Tubo.

O sistema de medição do coeficiente de absorção sonora de materiais também conta com um


gerador de sinais da SRS (Stanford Research Systems) modelo DS360, um amplificador de
potência especificamente projetado para o sistema, um microfone pré-polarizado de 1/2" da PCB
modelo 377B02, um pré-amplificador para microfone de 1/2" da PCB modelo 426E01 e uma
placa de aquisição de dados da National Intruments modelo NI cRIO-9233.
Assim, o microfone é posicionado em um dos furos localizados na parte superior do tubo e
conectados a uma placa de aquisição de dados que por sua vez é ligada ao computador e com isso
é possível analisar o sinal do microfone.

3. RESULTADOS
A partir da metodologia adotada, foram desenvolvidos dois programas em LabVIEW®. No
primeiro programa, o sinal do microfone e do gerador é adquirido e a partir da frequência
máxima desejada, taxa de amostragem, número de pontos e número de médias desejadas, as
funções de transferência HAS e HSP são determinadas em duas posições distintas do tubo.
No segundo programa, o coeficiente de absorção é calculado para uma determinada distância s
no tubo de impedância através dos dados lidos do arquivo salvo pelo primeiro programa. A partir
da Eq. 02, a função transferência HAP é determinada e com isso o coeficiente de absorção sonora
para uma determinada amostra é encontrado.
A frequência de corte, encontrada a partir da Eq. 03 foi de 5022,3 Hz, calculada para o tubo com
diâmetro interno de 40 mm e considerando-se a velocidade do som de 343 m/s, assumindo um
modelo simplificado considerando a temperatura do ar a 20ºC.
A partir das Eqs. 04, 05 e 06, tem-se as frequências máxima e mínima para o uso em função da
distância s entre as duas posições de microfone ao longo do tubo e a frequência ideal de trabalho,
conforme mostra a Tab. 1.

179
Tabela 1: Frequência máxima, mínima e ideal em função da distância entre os microfones.

A-P s [mm] f max [Hz] f min [Hz] f i [Hz]


1-2 29,5 4650,84 581,35 2906,78
1-3 133,1 1030,8 128,85 644,25
1-4 228,1 601,49 75,18 375,93
2-3 103,6 1324,32 165,54 827,70
2-4 198,6 690,83 86,35 431,77
3-4 95,0 1444,21 180,52 902,63

Pode-se observar que o sistema de medição possui como faixa de uso confiável para as
medições, de 75,18 a 4650,84 Hz. Nota-se também que a frequência máxima é menor que a
frequência de corte do tubo de 5022, 3 Hz.
Os materiais de absorção sonora mais utilizados comercialmente são espuma de polímeros, lã de
vidro e lã de rocha.
Inicialmente foi analisada uma amostra de lã de vidro. A curva de absorção sonora encontrada
para uma amostra de lã de vidro para espaçamento entre microfones s = 29,5 mm pode ser
observada na Fig. 3 cuja faixa de frequência de uso está mostrada na Tab. 01, ou seja, fmin =
581,35 Hz e fmax = 4650,84 Hz.

Figura 3: Coeficiente de absorção sonora - α para a lã de vidro com


espaçamento entre microfones s = 29,5mm.

Pode-se observar na Fig. 3 que, para valores menores do que 581,35 Hz existem grandes
variações nos valores dos coeficientes de absorção, conforme o esperado. Observa-se ainda a
existência de um grande decréscimo no valor do coeficiente de absorção próximo de 3000 Hz.
Isso pode ser explicado pela função de coerência entre o sinal do microfone e o sinal do alto-
falante durante a obtenção da função de transferência, que verifica a validade da estimativa da
função obtida.
A função coerência pode ser observada na Fig. 4.

Figura 4: Função coerência para espaçamento


entre microfones s = 29,5 mm.

180
Verifica-se que na frequência de 3000 Hz a função coerência possui o valor de aproximadamente
0,2. Sabe-se que a frequência de 3000 Hz corresponde a um comprimento de onda de λ = c/f =
343/3000 = 0,1143 m. Como λ/4 = 0,0285 metros, e o espaçamento s entre as posições do
microfone é de 29,5 mm, ou seja, 0,0295 m, então o primeiro nó da onda estacionária relativa a
3000 Hz, praticamente coincide com a referida posição de medição. Tal decréscimo pode ser
considerado um erro aleatório e mostrar grande variação quando um experimento é repetido
(Gerges, 2000).
A partir da Tab. 01, pode-se observar que a frequência de uso para o espaçamento entre
microfones s = 133,1 mm ocorre para um intervalo de frequências menores do que para s = 29,5
mm. Conforme se pode observar na Fig. 5, para frequências baixas ocorre uma grande variação
nos resultados. Entretanto tal variação ocorre em frequências abaixo do valor definido para o
espaçamento entre microfones s = 29,5 mm, conforme esperado. E para frequências maiores do
que 1030,8 Hz, os resultados medidos não devem ser utilizados, visto que estão fora da faixa de
frequência válida. Observa-se uma pequena variância em torno de 644,25 Hz, que é a frequência
ideal de trabalho para esse espaçamento.

Figura 5: Coeficiente de absorção da lã de vidro para espaçamento entre


microfones s = 133,1 mm.

Assim, a partir de medições para diferentes valores de s, é possível se obter valores confiáveis do
coeficiente de absorção sonora para determinadas bandas de frequência. A Tab. 02 apresenta os
valores do coeficiente de absorção sonora e o NRC para a amostra de lã de vidro utilizada.

Tabela 02: Valores do coeficiente de absorção sonora e o NRC para a amostra de lã de vidro.
Frequência [Hz]
NRC
Material 250 500 1000 2000 4000
Lã de vidro 0,20 0,53 0,87 0,98 0,98 0,645

Uma característica importante em qualquer equipamento de medição é a repetibilidade.


Observou-se que para várias medições nas mesmas condições com o mesmo material, o
coeficiente de absorção sonora encontrado é praticamente o mesmo.
Foram ainda analisadas amostras de lã de rocha e de uma placa de fibra mineral modelada que,
de acordo com o fabricante, possui uma densidade de 2,93 kg/m2 e um NRC mínimo de 0,55.
O coeficiente de absorção sonora para a amostra de lã de rocha e do forro de fibra mineral foi
medido para o espaçamento entre microfones s = 103,6 mm. Para esse espaçamento, a faixa de
frequência de uso está entre 165,54 e 1324,32 Hz. A partir de várias medições para os diferentes
espaçamentos, verificando as faixas confiáveis de frequência de uso para cada espaçamento,
chegou-se à Tab. 03.
Pode-se notar que a lã de vidro e a lã de rocha possuem uma melhor absorção em alta frequência
quando comparados ao forro mineral.

181
Tabela 03: Valores do coeficiente de absorção sonora e o NRC para as amostras de lã de rocha e do
forro de lã mineral modelada.
Frequência [Hz]
NRC
Material 250 500 1000 2000 4000
Lã de rocha 0,11 0,25 0,6 0,98 1 0,485
Forro mineral 0,27 0,38 0,89 0,64 0,48 0,545

Outra constatação importante foi que o valor do NRC estimado para a amostra de forro mineral é
muito próximo do valor fornecido pelo fabricante, apresentando um erro de 0,10%.
Assim como visto para a lã de vidro, para várias medições nas mesmas condições com o mesmo
material, o coeficiente de absorção encontrado continuou não apresentando erros significativos.

4. CONCLUSÃO
Foi desenvolvido um programa computacional para aquisição e condicionamento de sinais de
microfones em um tubo de impedância para a determinação de coeficientes de absorção sonora
de materiais.
Foram realizadas medições nas mesmas condições para o mesmo material, sendo encontrados
valores praticamente idênticos para o coeficiente de absorção sonora.
Foi verificado que, para diferentes posições dos microfones, diferentes faixas de frequências são
mais bem avaliadas, conseguindo-se assim, com as diversas configurações de montagem dos
microfones, abranger todo o espectro de frequências com melhor precisão.
Através de um material cujas propriedades acústicas já eram conhecidas, foi possível verificar a
eficiência da metodologia proposta, identificando o coeficiente de absorção acústica com um erro
de 0,10%.
Desta forma, o Laboratório de Acústica e Vibrações da Universidade Federal de Uberlândia
possui um equipamento para a medição do coeficiente de absorção sonora.

5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio no projeto número C-017/2008 PIBIC com bolsa ao
discente, para suporte ao Laboratório de Acústica e Vibrações (LAV) na construção do tubo de
impedância.

REFERÊNCIAS
1. Araújo G. M.; Regazzi R. D. Perícia e Avaliação de Ruído e Calor Passo a Passo - Teoria e Prática, Rio de
Janeiro, 2a Ed. 2002.
2. Beranek, L. L.; Vér, I. L. Noise and Vibration Control Engineering: Principles and Applications, N.Y. John
Wiley & Sons Inc 1ª Ed. 1992.
3. Bistafa, S. R. Acústica Aplicada ao Controle de Ruído, Editora Edgard Blücher, 1a Ed. 2006.
4. Chu, W. T. Transfer function technique for impedance and absorption measurements in the impedance
tube using a single microphone. JASA - Journal of Acoustical Society of America, New York, 80 (2): 555-60
Aug. 1986.
5. GERGES, S. N. Y. Ruído - Fundamentos e Controle, Imprensa Universitária da UFSC, Florianópolis, 2 a Ed.
2000.

182
COMPARAÇÃO LABORATORIAL DE ABSORÇÃO SONORA EM TUBOS
DE IMPEDÂNCIA

ALVES, Luana Macedo; MASSARANI, Paulo Medeiros; JESUS, Gilberto Fuchs de.
GROM Acústica & Vibração; Inmetro; GROM Acústica & Vibração.

RESUMO
O sucesso na execução de um projeto de tratamento acústico depende fundamentalmente da caracterização
adequada da absorção sonora de materiais. Para garantir a qualidade dos resultados de absorção sonora
apresentados pelo método de medição em tubos de impedância, são apresentados os resultados de uma
comparação laboratorial. Esta comparação teve como finalidade conhecer a dispersão de resultados entre
diferentes implementações dos métodos normalizados. Cada laboratório participante realizou as medições
em três diferentes amostras de espuma de melamina com as mesmas características. A partir desses valores
de absorção sonora obtidos, calculou-se o desvio padrão de cada tubo de impedância. Para a caracterização
da dispersão total foi verificada uma ampla diversidade de métodos estatísticos, podendo ser ponderados ou
aritméticos, porém estes métodos ofereceram resultados classificatórios inversos. Os valores de absorção
sonora dos equipamentos em teste serão expostos para análise e tratamento por cada laboratório, a fim de
não caracterizar erroneamente um tubo de impedância.

ABSTRACT
The successful execution of an acoustic treatment's project depends essentially on the adequate
identification of materials' sound absorption properties. To guarantee the quality of sound absorption results
shown by the impedance tube measurement's method, results from a laboratory comparison are presented.
This comparison's objective is to know the results' dispersion among different implementations of the
normalized methods. Each participant laboratory performed measurements with three different melanin
foam samples with the same features. From the sound abortion values acquired, the default deviation of each
impedance tube was calculated. To identify the total dispersion a vast variety of statistical methods were
taken into consideration, being weighted or arithmetic, although these methods presented inverse qualifying
results. The sound absorption values of the tested equipments will be exposed for analysis and processing by
each laboratory, to avoid any errors during characterization of an impedance tube.
Palavras-chave: Comparação. Absorção sonora. Tubo de impedância.

1. INTRODUÇÃO
Os métodos de medição de absorção sonora mais conhecidos são: método em câmara reverberante, método
em tubo de impedância e método in situ. Neste caso, o interesse está em resultados obtidos por ensaios de
medição de absorção sonora com tubo de impedância. A publicação de normas técnicas descrevendo os
métodos é muito importante, mas são necessárias outras formas de garantia da qualidade desses resultados.
Uma dessas formas é comparar resultados obtidos por diferentes laboratórios.
Com o objetivo de conhecer a dispersão de resultados entre diferentes implementações dos métodos
disponíveis para medições em tubo, organizou-se uma comparação laboratorial com participantes
voluntários. Foi feito um protocolo de medição a ser seguido quanto ao material, o número de repetições e a
forma de apresentação de resultados. Um material foi selecionado e gentilmente oferecido pela empresa
OWA do Brasil/ Sonex illbruck. Os resultados da comparação podem ser utilizados para comprovações da
garantia da qualidade de cada instituição participante e por outros laboratórios que no futuro tiverem a
oportunidade de ter disponibilizado o mesmo material.

183
2. DEFINIÇÃO DO PROTOCOLO DE MEDIÇÃO
As instituições participantes da comparação laboratorial de absorção sonora em tubos de impedância são:
FIAT Automóveis S.A.; General Motors; Grom Acústica & Vibração; Inmetro; NHT Engenharia;
Universidade de Brasília - Faculdade do Gama (FGA); Universidade Federal do Pará e Universidade Federal
de Santa Maria.
Os resultados da comparação são confidenciais, isto é, cada laboratório será identificado por códigos
algébricos individuais que serão conhecidos apenas por ele, pela autora do estudo Luana Macedo Alves e
pelo orientador Paulo Medeiros Massarani (Inmetro).

2.1. Material de referência


Para realizar medição no tubo de impedância não há um material de referência com valores de absorção
sonora definidos. Uma curva de referência com esses valores é necessária, pois ela possibilitaria analisar os
resultados de medição do equipamento de cada instituição e definir a reprodutibilidade do método,
caracterizando a qualidade e eficiência do mesmo.
Para o estudo em questão, foi escolhida a espuma de melamina modelo Sonex illtec fabricada pela empresa
OWA do Brasil (www.owa.com.br), semi-rígida, de estrutura micro celular. As suas características (Tabela
1) facilitam o corte da amostra, minimizando esta fonte de erro. A espuma em questão foi formulada
especialmente para aplicações acústicas.
Tabela 1: Características da amostra conforme informações
Figura 1: Espuma de melamina dadas pelo fabricante

2.2.Equipamento de teste
O tubo de impedância deve ter uma seção transversal constante, não porosa, sem buracos nas paredes ou
fendas (exceto para as posições de microfone) na área de teste. As paredes devem ser rígidas e com a
espessura grande o suficiente para que não haja vibrações na faixa de frequência de trabalho do tubo. A
forma da seção transversal do tubo é arbitrária. Os equipamentos utilizados pelas instituições participantes
atendem as condicionantes da norma:

Tabela 2: Método normalizado referente a cada instituição codificada

2.3. Procedimento de medição


Os laboratórios usaram os procedimentos de medição rotineiros na faixa de frequência mais ampla dentro da
capacidade de cada laboratório.

184
Cada instituição foi responsável pelo corte das suas três amostras de espuma de melamina recebida. A
dimensão da amostra, 150mm x 150mm (figura 9), foi escolhida para cobrir o diâmetro de todos os tubos da
comparação. Para cada amostra, foram realizados seis ciclos de medição, sendo três ciclos do lado A
(estipulado pelo laboratório) e três ciclos do lado B (estipulado pelo laboratório). Totalizando assim, dezoito
ciclos de medições.
Os resultados foram enviados sem qualquer tratamento estatístico em formato compatível com as planinhas
eletrônicas Excel ou OpenOffice. Uma descrição detalhada do sistema de medição foi fornecida, assim como
fotos do tubo de impedância utilizado, marca e modelo do mesmo.

3. ANÁLISE DE RESULTADOS
Nesse trabalho optou-se por avaliar as variações de resultados por ensaios de repetição e reprodução entre
diferentes laboratórios.

3.1. Média aritmética


Como mencionado anteriormente, cada laboratório realizou dezoito medições, sendo seis medições em cada
amostra, totalizando cento e quarenta e quatro medições na maior frequência de trabalho dos tubos. O
primeiro passo foi calcular a média aritmética das medições fornecidas por cada laboratório. O gráfico a
seguir, indica os valores médios calculados do coeficiente de absorção sonora na faixa de frequência de
trabalho dos tubos de impedância.

Valores Médios
1
Coeficienta de absorção sonora

0,9 A
0,8
B
0,7
0,6 C
0,5 D
0,4 E
0,3 F
0,2 G
0,1 H
0
100 200 400 800 1600 3199 6397
Frequência (Hz)

Gráfico 1: Valores médios

3.2. Compatibilidade de resolução nos valores reportados


Cada equipamento possui uma resolução de frequência, por isso foi preciso reduzi-las à menor resolução de
frequência para realizar a comparação.
As medições com menor resolução apresentada forneceu os resultados em banda de 1/3 de oitava. Os
valores de absorção sonora (alfa) da espuma de melamina obtidos pelos demais laboratórios foram
reportados para a menor resolução apresentada, através do método matemático de interpolação. Os pontos
com valores de alfa negativo são impossíveis e serão desconsiderados na análise de resultados da
comparação.
A tabela 3 e o gráfico 2 indicam os valores médios de absorção sonora para cada equipamento de teste.

185
Tabela 3: Valores médios reportados para banda de 1/3 de oitava

Valores Médios

1,0
Coeficiente de absorção sonora

0,9 A
0,8 B
0,7 C
0,6
D
0,5
E
0,4
0,3 F
0,2 G
0,1 H
0,0
100 200 400 800 1600 3199 6397
Frequência central de banda de 1/3 de oitava (Hz)

Gráfico 2: Valores médios reportados para 1/3 de oitava

3.3. Dispersão individual


Para uma série de medições de coeficiente de absorção sonora, o desvio padrão amostral das medições da
espuma de melamina foi calculados a fim de caracterizar a dispersão resultados fornecidos pelos tubos de
impedância individualmente.
A tabela 4 indica os valores médios de absorção sonora para cada equipamento de teste.

186
Tabela 4: Dispersão individual dos laboratórios

4. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS


O desvio padrão caracteriza a dispersão entre as medições e a repetitividade das mesmas. Todos os
laboratórios forneceram resultados repetitivos, exceto a instituição D que mediu diferentes valores de
coeficiente de absorção sonora para o mesmo material na faixa de frequência entre 315 Hz a 400Hz. No
entanto, a repetitividade de medição pode caracterizar um erro sistemático, assim como o coeficiente de
absorção sonora fornecido pela instituição E em 2KHz possui uma baixa dispersão mas é um valor distante
da tendência das demais medições.
Os tubos de impedância referente aos laboratórios A, B e H são da mesma marca (B&K) e tiveram entre si
valores reprodutíveis. Os tubos C e F, são artesanais e demonstraram valores de absorção sonora
reprotutíveis em baixas frequências. As medições dos tubos de impedância dos laboratórios E e G,
obtiveram a mesma tendência que os tubos fabricado pela B&K.
As instituições participantes A, B, C, D, E, F e G demonstraram na faixa de frequência entre 315 Hz e 1600
Hz a mesma tendência. O laboratório E, como já foi dito, em 2000Hz se comportou diferente dos demais
laboratórios e a instituição D a partir de 1600 Hz não reproduziu a tendência das outras medições.
Considera-se que esse foi um trabalho preliminar que servirá como base para análises mais extensas no
futuro. Não houve também qualquer propósito classificatório ou de teste de proficiência. Todos os
participantes foram considerados igualmente, sem nenhuma consideração à priori sobre qualquer valor de
referência de maior peso. No estudo das análises estatísticas verificou-se a oferta de uma ampla gama de
definições dos algorítmos. Caso sejam planejados testes de proficiência de laboratórios é necessário discutir
e definir com muita atenção a metodologia estatística a ser adotada. Uma vez definida, a metodologia deve
ser muito bem descrita nos protocolos e bem entendida pelos participantes.

187
REFERÊNCIAS

1. ASTM C384 - 04(2011) Standard Test Method for Impedance and Absorption of Acoustical
Materials by Impedance Tube Method.

2. ASTM E1050 - Standard Test Method for Impedance and Absorption of Acoustical Materials Using A
Tube, Two Microphones and A Digital Frequency Analysis System
3. Inmetro, Vocabulário Internacional de Metrologia: conceitos fundamentais e gerais e termos associados
(VIM 2008). 1ª Edição Brasileira. Rio de Janeiro, 2009. Acesso eletrônico em:
http://www.inmetro.gov.br/infotec/publicacoes/VIM_2310.pdf
4. ISO 10534 - Determination of sound absorption coefficient and impedance in impedance tubes - Part
1: Method using standing wave ratio.
5. ISO 10534 - Determination of sound absorption coefficient and impedance in impedance tubes - Part 2:
Transfer-function method.
6. ISO/IEC Guide 98-3:2008 Uncertainty of measurement -- Part 3: Guide to the expression of uncertainty
in measurement (GUM:1995)140-4: 2000.
7. MACEDO ALVES, Luana. Comparação Laboratorial de Absorção Sonora em Tubos de Impedância. 2011.
Monografia (Curso técnico em Metrologia) – Inmetro/SEEDUC-RJ/C. E. Círculo Operário, Rio de Janeiro.

188
ESTIMATIVA DA INCERTEZA DE MEDIÇÃO DO RUÍDO EMITIDO
POR MÁQUINAS DE LAVAR ROUPAS

OLIVEIRA, Carla1; FERREIRA, Daiana2, NABUCO, Marco3


(1) GROM Acústica e Vibração (carla.oliveira@grom.com.br);
(2) Divisão de Acústica e Vibrações - Inmetro (dpferreira@inmetro.gov.br)
(3) Divisão de Acústica e Vibrações - Inmetro-(nabuco@inmetro.gov.br)

RESUMO
A necessidade de medições de níveis de potência sonora emitidos por eletrodomésticos da linha branca
(máquinas de lavar, refrigeradores, fogões), para implementação do Selo Ruído no Programa Brasileiro
de Etiquetagem, foi a principal motivação para o desenvolvimento de uma metodologia para medição do
nível de potência sonora emitido por máquinas de lavar roupas e a expressão da incerteza de medição. As
medições foram realizadas em uma câmara reverberante de 196 m³ nas instalações da Divisão de Acústica
e Vibrações do Inmetro de acordo com a norma ABNT NBR 13910-1. O método utilizado foi o da
comparação com um padrão de transferência (fonte sonora de referência- RSS) calibrado. Detalhes da
carga utilizada (tecidos), do regime de funcionamento do eletrodoméstico e do método propriamente dito,
como posicionamento do objeto sob teste e da fonte sonora (RSS) são apresentados nas seções a seguir.
Da mesma forma serão descritos os procedimentos para a expressão da incerteza das medições realizadas.
ABSTRACT
The need for sound power levels measurements emitted by the white goods (washing machines,
refrigerators, stoves) to support the inclusion of those appliances in the Brazilian Labeling was the main
motivation for the development of a measuring methodology and the expression of its uncertainty. The
washing machine, measuring objet under evaluation was operated in a 196 m3 reverberation room
according to ABNT NBR 13910-1. An engineering comparison method, involving the object under test
and a reference sound source was used to determine the emitted sound power levels. Details of the
appliance load, operation conditions and the method itself, such as positioning of the object under test and
the sound source (RSS) are presented in the following sections. The procedures used for uncertainty
expression are described as well the results presented as a first result for that type of appliances. At last
some suggestions are presented to increase the metrological reliability.
Palavras-chave: Nível de potência sonora, Selo Ruído, Incerteza de medição, Etiquetagem sonora.
1.INTRODUÇÃO
Como desdobramento das Resoluções CONAMA 001 e 002 [1, 2] de 1990, o Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama)- publicou a Resolução nº 20 de 1994 [3], que torna obrigatório a
aposição de um Selo Ruído em eletrodomésticos de uso domiciliar ou similares, que gerem ruído
em seu funcionamento e sejam comercializados no país, incluídos aqueles importados.
O Selo Ruído de eletrodomésticos, instituído pelo CONAMA e organizado e implantado pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia- Inmetro visa à produção de aparelhos
elétricos de uso doméstico e similares mais silenciosos, incentivando uma comparação a ser feita
pelo consumidor no ato da compra.
A Resolução 020 estabelece ainda o uso de normas nacionais ou mesmo internacionais, na
ausência de documentos brasileiros. Nesse sentido foram desenvolvidas normas, de ordem geral
como a NBR 13910-1 [4] e NBR 13910-3 [5], e suas subseqüentes particulares NBR 13910-2-2
[6] (secadores de cabelo), NBR 13910-2-3 [7] (liquidificadores) e NBR 13910-2-1 [8]
(refrigeradores e/ou, congeladores).

189
Atualmente, o Programa Selo Ruído, compulsório, está sendo objeto de discussão com o objetivo
de incluí-lo no Programa Brasileiro de Etiquetagem - PBE [12]. Em primeiro lugar serão
incluídos aqueles aparelhos que já possuem a autorização para uso do Selo Ruído. Em paralelo
deverão ser implantadas metodologias para aparelhos eletrodomésticos da linha branca
(máquinas de lavar roupas, refrigeradores, etc).
2.METODOLOGIA EXPERIMENTAL UTILIZADA
Todos os requisitos estabelecidos na norma NBR 13910-1 foram cumpridos. Uma descrição mais
detalhada dos métodos de medição do ruído produzido por máquinas de lavar roupas pode ser
encontrada no Projeto de Norma 03:059.01-039, Diretrizes de ensaios para a determinação de
ruído acústico de aparelhos eletrodomésticos e similares. Parte 2: Requisitos particulares para
máquinas de lavar roupa e em monografia de fim de curso técnico (TCC) em [9].
De maneira geral foi utilizado o método da comparação com um padrão de transferência (Fonte
Sonora de Referência-RSS) em câmara reverberante descrito na norma ISO 3743 Parte 1 [10].
O método da comparação permite calcular o nível de potência sonora através da comparação
entre os níveis de pressão sonora médios (tempo/espaço) medidos, produzidos pela fonte a ser
ensaiada, e produzidos por uma fonte de referência nas mesmas condições ambientais.
A máquina de lavar foi operada nas funções Lavagem, Enxágue e Centrifugação. A carga
especificada no Projeto de Norma é tecido de algodão, e mais especificamente lençóis, fronhas e
toalhas de rosto conforme especificado em [11], ocupando 90% da capacidade nominal. No
entanto, nesse trabalho foram utilizados tecidos de algodão dos mais variados tipos (toalhas,
jalecos, calças, etc). A máquina de lavar foi operada por dois programas inteiros antes de cada
medição.
Os níveis de pressão sonora, medidos por cada microfone a cada meio segundo, foram
processados pelo analisador de frequências e exportados/organizados em uma planilha EXCEL.
2.1. Determinação do número de posições das fontes sonoras e dos microfones
Os níveis de pressão sonora médios temporais amostrados a cada 0,5 segundos foram medidos
em seis posições na câmara reverberante com microfones capacitivos de 1/2” GRAS 40AR,
acoplados a um Multiplexador Larson&Davis 2210 através de pré-amplificadores Bruel&Kjaer
2619. Os dados foram processados através de um analisador de freqüências Soundbook e
exportados para planilhas Excel onde foram realizados os demais cálculos.
O número de posições das fontes sonoras e dos microfones foi determinado a partir do desvio
padrão espacial dos níveis de pressão sonora dado pela expressão:
(1)

Onde:
é o i-ésimo valor do nível de pressão sonora médio no tempo, em decibels, re: 20µPa;
Lpm é o valor médio de , ... , em decibels, ref: 20µPa;
n é igual a seis.
Se o desvio-padrão SM, calculado de acordo com a equação (1), for menor que 2,3 dB, como foi
o caso nesse trabalho, as medições podem ser realizadas com a fonte sonora de referência e a
máquina de lavar roupas instaladas em uma única posição, essa última junto a parede vertical da
câmara reverberante.
Se o desvio-padrão SM, está entre os valores de 2,3 dB a 4,0 dB, a medição deve ser realizada
com o número de posições de microfone, Nm = 6 e com o número de posições das fontes igual a
Nf = 2 na câmara reverberante.

190
Quando o desvio-padrão SM, está acima de 4,0 dB, o método da câmara reverberante especial
exige o uso de 12 posições de microfone e 2 posições diferentes das fontes sonoras.
2.2. Medição/cálculo dos níveis de pressão sonora médios espaciais
Quando a faixa de valores de Lp1, Lp2, ...Lp6 não é maior que 5 dB, uma média aritmética simples
pode ser usada para calcular os valores de Lpm. Quando a faixa é maior que 5 dB, a seguinte
expressão deve ser utilizada:
(2)

Nenhuma posição de microfone esteve mais próximo que 1,0 m da superfície da fonte, ou de
qualquer parede, piso, teto ou outra superfície da câmara de ensaio, ou mesmo mais próximo que
1,5m de qualquer outra posição de microfone. As alturas dos microfones diferiram, uma das
outras, em pelo menos 0,2 m.
O nível de ruído de fundo esteve, durante todas as medições, mais que 15 dB abaixo do nível de
ruído produzido pelas fontes sonoras.
2.3.Medição/cálculo dos níveis de potência sonora
Os níveis de potência sonora por bandas de freqüências, ou o nível de potência sonora ponderado
em A do aparelho eletrodoméstico, Lwe, são calculados a partir dos valores medidos dos níveis
médios de pressão sonora emitidos pelo aparelho em ensaio, Lpe, pela fonte sonora de referência,
e os dados da carta de calibração da fonte sonora de referência, no caso calibrada em câmara
reverberante, segundo a expressão a seguir:
(3)
Onde:
Lwe é o nível de potência sonora por banda de freqüências ou o nível de potência sonora
ponderado em “A” do aparelho em teste, em decibels, ref: 1 pW;
é o nível de pressão sonora médio no tempo e no espaço, em bandas de oitava, ou ponderado
na escala “A”, emitida pelo aparelho em ensaio, em decibels, ref:20 µPa;
Lwr é o nível de potência sonora por banda de freqüências, ou o nível de potência sonora
ponderado em “A”, conhecido (calibrado) da fonte sonora de referência, em decibels ref: 1 pW;
é o nível de pressão sonora médio no tempo e no espaço, em bandas de oitava, ou ponderado
na escala “A”, emitida pela fonte sonora de referência, em decibels ref: 20 µPa;
Ao término de cada uma das medições todos os equipamentos foram desligados. Ao iniciar cada
um dos ensaios toda a cadeia de medição foi novamente regulada.

Figura 2: Foto da câmara reverberante


Figura 1: Esquema de montagem dos equipamentos com as fontes e microfones

191
3. EXPRESSÃO DA INCERTEZA DE MEDIÇÃO
3.1 Incerteza padrão combinada
Em acústica, freqüentemente os mensurandos não são medidos diretamente, mas são frutos de
cálculos a partir da medição de outras grandezas de entrada. O nível de potência sonora
medido/calculado por comparação em câmara reverberante, por exemplo, é o resultado de uma
simples expressão envolvendo o nível de pressão sonora médio espaço-tempo emitido pela fonte
em teste e pela fonte sonora de referência (ver expressão 3).
O valor médio temporal do nível de pressão sonora emitido por um aparelho eletrodoméstico
depende do tempo de amostragem utilizado para a média. O nível de ruído emitido por uma
máquina de lavar roupas varia no tempo como para todos os demais eletrodomésticos, e o
resultado obtido para uma posição de microfone e fonte sonora é obtido através de uma média
logarítmica conhecida como Leq.
O nível de pressão sonora na câmara por sua vez, é o resultado de outra média logarítmica, agora
entre as seis posições do microfone, para o caso desse trabalho.
A incerteza padrão combinada é uma combinação das incertezas das diferentes grandezas de
entrada considerando o peso de cada uma na expressão para o nível de potência sonora a ser
calculado, e é dada, de forma geral, pela expressão a seguir.

(4)

Aplicando a expressão (4) em (3), obtêm-se os coeficientes de sensibilidade.

A expressão (4) fica “reduzida” à conhecida composição de incertezas a seguir.:


(5)

3.2 Incerteza padrão combinada aplicada ao cálculo da potência sonora


Se a variação dos níveis de pressão sonora no espaço (entre os seis microfones) for menor que 5
dB, a média espacial dos níveis de pressão sonora pode ser reduzida a uma média aritmética
simples [10], como a seguir.
(6)

(7)

Onde são os níveis de pressão sonora médio no tempo (Leq)


para o ruído emitido pela fonte sonora de referência e
emitido pela fonte em teste.

Aplicando novamente a expressão para a incerteza padrão combinada, agora considerando como
grandezas de entrada os níveis de pressão sonoros médios temporais, os componentes da
expressão (5) são:

192
(8)

(9)

e é obtida da carta de calibração da fonte sonora de referência através da divisão da


incerteza padrão expandida pelo fator de abrangência (k=2) para uma probabilidade de 95%.
[13] (informações disponíveis na carta de calibração da fonte sonora de referência).
Os coeficientes de sensibilidade para essas novas expressões são:

(10)

(11)

E a expressão para a incerteza padrão combinada para o nível de potencia sonora medido por
comparação em câmara reverberante é dada pela expressão a seguir:

+ + (12)

As incertezas associadas à medição/cálculo dos níveis de pressão sonora médios no tempo (Leq)
são para o ruído emitido pela fonte em teste e para o
ruído emitido pela fonte sonora de referência, são calculadas como desvio padrão amostral dos
níveis instantâneos medidos a cada 0,5 segundo.
3.2 Incerteza padrão expandida aplicada ao cálculo da potência sonora emitida por
máquina de lavar por tombamento
Considerando os valores obtidos dos níveis de ruído para cada microfone, amostrados a cada 0,5
segundos durante 6 minutos na função enxágüe, e ainda os resultados obtidos para os níveis de
pressão sonora emitidos pela fonte sonora de referência amostradas durante 1 minutos a cada 0,5
segundos, e ainda o valor da incerteza extraído da carta de calibração da fonte sonora padrão, a
incerteza padrão combinada para o ruído emitido pela máquina de lavar roupas, calculado a
partir da expressão (12) é de 3 dB(A).
Considerando uma probabilidade de 95% e um fator de abrangência k=2, a incerteza padrão
expandida é de 6 dB(A) para a função enxágüe.
4. COMENTÁRIOS E SUGESTÕES
Esse trabalho é um resumo de uma breve investigação sobre o método de medição do nível de
potência sonora emitida por uma máquina de lavar por tombamento desenvolvida para uma
monografia de conclusão de curso técnico em metrologia a nível de segundo grau. Nessa
investigação foi ensaiada somente uma máquina de lavar, de um modelo que já não é encontrado
no mercado, mas que pode ser considerado suficiente como uma iniciativa no sentido de
assegurar confiabilidade metrológica ao Programa Selo Ruído.

193
No Brasil, máquinas de lavar por tombamento, ao contrário do que ocorre nos países
desenvolvidos, não são muito utilizadas pela população. No entanto vários dos procedimentos
técnicos adotados nesse trabalho, como carga, posicionamento da fonte sonora na câmara
reverberante, posicionamento dos microfones, são procedimentos comuns a todos os modelos
desse aparelho eletrodoméstico.
Para o Programa Selo Ruído, o valor a ser etiquetado (para liquidificadores, secadores de cabelo
e aspiradores de pó) é a média do valor obtido para a potência acústica emitida para três
aparelhos, acrescido de 3 dB(A), com vistas a minimizar dificuldades de verificação do valor
etiquetado, em caso de fiscalização no comércio.
No caso de máquinas de lavar roupas por tombamento, esse valor deveria ser, a partir dos
resultados obtidos nesse trabalho, da ordem de 6 dB(A). é claro que por se tratar de uma
investigação inicial novas medições devem ser realizadas com o objetivo de confirmar os dados
apresentados, ou mesmo reduzir as incertezas de medição.
Também deve ser lembrado que as expressões desenvolvidas para a incerteza de medição
partiram da premissa que os níveis não variavam mais que 5 dB(A) entre os seis microfones
utilizados. Se for utilizada a média logarítmica, as expressões obtidas seriam muito mais
complexas, em função dos coeficientes de sensibilidade serem calculados através de derivadas
parciais de logaritmos.
Apesar de terem sido atendidos todos os requisitos da norma geral para medição do nível de
potência sonora, alguns requisitos particulares, como a carga utilizada, não atenderam
plenamente o preconizado nos documentos técnicos.
Como sugestões para continuidade desse trabalho podem ser listadas:


Estender as medições a outros modelos de máquinas de lavar roupas;

Realizar ensaios de repetição com aparelhos de um mesmo modelo;

Realizar reprodução, com participação de outros laboratórios para obtenção de resultados
mais próximos da realidade da Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios.
REFERÊNCIAS
1. http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res90/res0190.html
2. http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res90/res0290.html
3. http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=161
4. ____NBR 13910-1 Diretrizes de ensaios para a determinação de ruído acústico de aparelhos eletrodomésticos e
similares. Parte 1: Requisitos gerais (1997).
5. ____NBR 13910-3 Diretrizes de ensaios para a determinação de ruído acústico de aparelhos eletrodomésticos e
similares Parte 3: Procedimento para a determinação e verificação de valores declarados de emissão sonora
(1998)
6. ____NBR 13910-2-2 Diretrizes de ensaios para determinação de ruído acústico de aparelhos eletrodomésticos e
similares- Parte 2- Requisitos particulares para secadores de cabelo
7. ____NBR 13910-2-3 Diretrizes de ensaios para determinação de ruído acústico de aparelhos eletrodomésticos e
similares- Parte 2- Requisitos particulares para liquidificadores
8. ____NBR 13910-2-1Diretrizes de ensaios para determinação de ruído acústico de aparelhos eletrodomésticos e
similares- Parte 2-Requisitos particulares para refrigeradores
9. Carla Oliveira de Silva, Trabalho de Conclusão do Técnico em Metrologia, Medição de Nível de Potência
Sonora Emitido por Eletrodomésticos da Linha Branca: Máquinas de Lavar Roupas (2011)
10. ____ISO 3743-1-Acoustics-Determination of sound power levels of noise sources-Engineering methods for
small, movable sources in reverberation fields-Part 1:Comparison method for hard-walled test rooms(1994)
11. ABNT Projeto de Norma 03:059.01-039-Diretrizes de ensaios para determinação de ruído acústico de aparelhos
eletrodomésticos e similares- Parte 2-Requisitos particulares para máquinas de lavar roupa
12. Regulamento Específico para Uso da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia – Edição Nº 01 –Revisão
01, Máquinas de Lavar Roupas (2005)
13. ISO/IEC 98 Guide to the expression of uncertainty in measurement (GUM) (1993)

194
CALIBRAÇÃO DE MICROFONES NAS FREQUÊNCIAS INFRA-SÔNICAS

SOARES, Zemar1; MÜLLER, Swen2.


(1) Laboratório de Eletroacústica-Inmetro; (2) Divisão de Acústica e Vibrações - Inmetro

RESUMO
Este artigo apresenta o método de calibração por comparação simultânea de microfones na faixa de
freqüências de 1 Hz até 400 Hz em campo livre utilizando a técnica de resposta impulsiva obtida com
excitação de varredura de senos. Um vaso de pressão que é utilizado para o acoplamento acústico entre o
microfone de referência e o microfone sob teste também é apresentado. Apesar do artigo tratar
especificamente da calibração de microfones, a idéia deste projeto é também atender uma demanda reprimida
no Brasil da calibração de geofones. Estes dispositivos são formados por um microfone, um acelerômetro e
uma unidade processadora de sinais. Os geofones são utilizados nas medições de ruídos impulsivos
originados de explosões em jazidas minerais próximas a áreas urbanas.
O aspecto mais importante do método apresentado é de traçar fielmente o corte em baixas freqüências que
todos os microfones exibem em campo livre e difuso e que difere consideravelmente da resposta em campo
de pressão.

ABSTRACT
This paper presents the calibration method by simultaneous comparison of microphones at frequencies in the
range of 1 Hz up to 400 Hz using the impulse response technique obtained with swept sine excitation. A
pressure container that is used for acoustic coupling between the reference microphone and the microphone
under test is also presented. Despite treating specifically microphone calibration, the idea of this project is to
also satisfy a rising demand in Brazil for geophone calibration. These devices are composed of a
microphone, an accelerometer and a signal processing unit. Geophones are used in the measurements of
impulsive noises, such as explosions in mines close to urban areas.
The most important aspect of the presented method is to faithfully trace the low frequency cut-off that all
microphones exhibit in free-and diffuse-field and which differs considerably from the response in pressure
field.

Palavras-chave: Microfones, Geofones, infra-som, calibração, resposta impulsiva, varredura de senos.

1. INTRODUÇÃO
O interesse na calibração de microfones na faixa de freqüências de 1 Hz até 250 Hz tem crescido
nos últimos anos em grande parte de nações desenvolvidas ou em desenvolvimento. Sintonizados
com esta preocupação crescente, o “TC 29 – Electroacoustics” da IEC revisou recentemente a
norma internacional que trata da calibração do microfone de referência (IEC 61094-2, 2009), o
Comitê Consultivo de Acústica, Ultra-som e Vibrações (CCAUV) do BIPM (Breau Internacional
de Pesos e Medidas) organiza neste momento uma intercomparação (CCAUV.A-k5) onde o
procedimento segue a IEC 61094-2 e os microfones circulantes são dois B&K4160. Também,
fabricantes de microfones lançaram microfones capazes de medir freqüências muito baixas, bem
como dispositivos para calibração por comparação simultânea (Erling Frederiksen, 2008).

No Brasil, tal crescimento não é diferente. A indústria ligada ao ramo de mineração tem demanda
pela calibração de seus geofones para atendimento dos requisitos da NBR 9653 (2005), bem como o
ramo industrial de bombeamento de gases e detecção de vazamento em dutos. O Inmetro tem

195
empenhado esforços para seguir este fluxo de demanda. Recentemente, o Laboratório de
Eletroacústica (LAETA) do Inmetro implantou a calibração de microfones de referência por
reciprocidade em campo de pressão de 1 Hz até 10 kHz (magnitude e fase), credenciando o Inmetro
a participar da intercomparação CCAUV.A-k5 do BIPM, ainda em andamento. Paralelamente, outro
projeto foi iniciado e teve a sua conclusão recentemente. Trata-se da calibração de microfones por
comparação simultânea na faixa infra-sônica.

O desafio do projeto é de caracterizar a resposta em campo livre na faixa de 1 Hz até 250 Hz, visto
que esta é a faixa de interesse das demandas descritas anteriormente. O procedimento da
comparação simultânea consiste na exposição do microfone sob teste e do microfone de referência,
cuja resposta é conhecida, ao mesmo campo sonoro. Esse campo é gerado por uma caixa de som de
banda larga, frequentemente composta por um driver coaxial que garante uma incidência de 0° para
todas as freqüências. Porém, para a calibração em baixíssimas frequências, esse método tão simples
e elegante esbarra em dificuldades porque a resposta da caixa de som utilizada como fonte sonora
cai com 12 dB/oitava (caixa fechada) ou até 24 dB/oitava (caixa bass-reflex ou bandpass) abaixo da
freqüência de ressonância. Para piorar ainda mais a perda de relação sinal/ruído nessa faixa, a
imissão do ruído através da estrutura predial aumenta consideravelmente em baixas freqüências.
Por esses motivos, não é factível cobrir toda a faixa infrassônica a partir de 1 Hz com uma caixa de
som em campo livre e difuso.

Para contornar esse empecilho, a calibração em baixas freqüências é normalmente feita em


pequenos acopladores hermeticamente fechados que permitem estabelecer uma alta pressão sonora
independentemente da freqüência. Nesses acopladores, as partes frontais dos microfones são
inseridas em aberturas com diâmetro justo para garantir a estanqueidade do recinto. Porém, a
resposta em baixas freqüências medida dessa maneira difere consideravelmente da obtida em
campo livre e difuso, por uma razão identificada no próximo item que motivou este trabalho.

2. CORTE NAS BAIXAS FREQUENCIAS DE MICROFONES E PRÉ-AMPLIFICADORES


Um dos objetivos na construção de microfones de medição é minimizar a sua sensibilidade a
variações da pressão atmosférica. Existe um pequeno orifício (tubo capilar) na parte traseira do
microfone, em alguns casos na sua lateral, que faz a ligação entre o ambiente exterior e a pequena
cavidade no interior do microfone. Essa ligação garante manter a pressão estática no interior do
microfone igual à do exterior. Essa equalização de pressão é importantíssima para manter o
diafragma na sua posição de repouso. Se ela não existisse, a cápsula do microfone demonstraria
comportamento barométrico, sendo sensível não só ao campo sonoro, mas também à pressão
absoluta. De fato, barômetros e microfones são familiares de primeiro grau. O barômetro é sensível
à pressão absoluta e variações de baixa freqüência, enquanto o microfone visa justamente cortar
essa faixa, composta pela parte DC (a pressão absoluta) e freqüências muito baixas. O orifício
constitui um passa-baixa mecânico de primeira ordem cuja freqüência de corte é controlada pelos
fabricantes através do seu diâmetro e da sua extensão. No campo livre e difuso, o orifício é exposto
ao campo sonoro e, portanto, a sua função de equalizar mudanças mais lentas da pressão estática é
ativa. Com a freqüência ascendendo, a impedância do orifício aumenta e a equalização da pressão
interna à externa diminui significativamente. Em freqüências médias e altas, o orifício não surte
mais efeito.

Em contraste, no denominado campo de pressão, o orifício, por definição, não é exposto ao campo
sonoro. Isso significa que o curto-circuito acústico que o orifício apresenta em baixíssimas
freqüências agora é desativado, mudando completamente a resposta do microfone. A cápsula em si
não tem mais freqüência de corte inferior e de fato passa a apresentar comportamento barométrico,
como mostra a Figura 1. Em vez de cair, a sensibilidade até aumenta ligeiramente. Isso acontece
porque o volume interno da cápsula constitui uma mola que acrescenta rigidez ao sistema massa-
mola. Como em baixíssimas freqüências, o ar pode livremente transitar entre o interior e o exterior
196
da cápsula, esse componente da rigidez desaparece, aumentando a compliância e, portanto a
mobilidade do diafragma.
Ainda sobre o efeito que o tubo capilar equalizador de pressão introduz na resposta do microfone,
pode-se acrescentar que duas respostas em freqüência diferentes de um mesmo microfone podem
ser facilmente detectadas quando este é acoplado em uma cavidade (ou atrás de um anteparo) e
quando este é imerso dentro de um campo sonoro, como mostra o lado esquerdo da Figura 1. Na
segunda condição, quando a onda sonora atinge o diafragma do microfone, instantaneamente atinge
também o tubo capilar equalizador. Caso a freqüência da onda sonora incidente seja
suficientemente baixa para desbloquear o circuito mecânico (orifício e volume interno) passa-baixa,
a resposta do microfone começará a sofrer um corte. Esse circuito mecânico pode ser modelado
como um circuito RLC, onde o capilar é modelado como uma indutância (L) em série com uma
resistência (R) e a cavidade interior do microfone (compliância) como uma capacitância (C). Nas
altas freqüências, a parte RL bloqueia a velocidade de partícula (corrente elétrica) e à medida que a
freqüência da onda sonora decresce, a parte resistiva (R) impõe um atrito viscoso à velocidade de
partícula, gerando calor e perda de energia desta onda sonora. Quando a mesma onda sonora que
atinge o diafragma do microfone consegue passar pelo capilar, a diferença de pressão em frente e
atrás do diafragma diminui e portanto o diafragma tem seu movimento restringido, levando a uma
perda de sensibilidade do microfone.
A Figura 1 ilustra bem a condição de imersão do microfone em um campo sonoro (B) e quando o
microfone é posicionado atrás de um anteparo (A). Quando o microfone é acoplado a uma cavidade
ou posicionado atrás de um anteparo, a onda sonora não alcança o tubo capilar, o que leva o
microfone a ter sempre uma resposta quase plana na faixa do infra-som. Sendo mais detalhista, a
resposta em freqüência na faixa do infra-som sofrerá até uma ligeira subida com o decremento da
freqüência pelo motivo já mencionado anteriormente.

Figura 1: Microfone posicionado atrás de um anteparo (A) que esconde o tubo capilar do campo sonoro, microfone
imerso ao campo sonoro (B) expondo o capilar a este campo. Também são apresentadas as respostas do mesmo
microfone a estas duas condições.
Fonte: B&K 800114/1

Além do efeito de corte que o microfone apresenta quando imerso em um campo sonoro, o pré-
amplificador que está sempre conectado ao microfone também apresenta um comportamento de
filtro passa-alta. A impedância elétrica de entrada do pré-amplificador enxerga o microfone como
uma capacitância que forma um passa-alta. A freqüência de corte depende da capacitância da
cápsula, da impedância de entrada do pré-amplificador e ainda do resistor para o acoplamento da
voltagem de polarização. Tradicionalmente, microfones de uma polegada (1”) tem capacitância
nominal de 55 pF. Já os microfones de meia polegada (1/2”) com polarização externa de 200 V
apresentam capacitância nominal de 20 pF. A conseqüência disto é que pré-amplificadores, quando
conectados a microfones de 1”, apresentarão uma freqüência de corte mais baixa do que pré-
amplificadores conectados a microfones de ½”. No item 4 deste artigo, será mostrado o resultado da
medição da resposta em frequência de um pré-amplificador.

197
3. VASO DE PRESSÃO CONSTRUÍDO PARA A CALIBRAÇÃO POR COMPARAÇÃO DE
MICROFONES NA FAIXA INFRASSÔNICA
Como microfones são, na sua grande maioria, empregados em campo livre, enquanto sua calibração
nos acopladores rende a resposta no campo de pressão (desativando o passa-baixa mecânico que o
orifício constitui), surgiu a idéia de construir um recipiente de pressão grande o suficiente para
acolher os microfones por inteiro. Assim, a resposta infrassônica em campo livre e difuso (quando o
orifício é exposto ao campo sonoro) pode ser obtida.
A idéia inicial para este projeto era fazer uso de um ambiente que confinasse o microfone sob teste
de tal forma que os seguintes requisitos fossem atendidos:

a) O primeiro requisito era gerar e manter uma onda sonora neste confinamento o mais plano
possível, de 1 Hz até 250 Hz. Um confinamento cujas dimensões são próximas ao do comprimento
de onda provoca o surgimento do primeiro modo natural, portanto um volume muito grande do
confinamento poderia levar ao surgimento do primeiro modo em 250 Hz, impossibilitando
medições a partir desta freqüência. Por outro lado, um volume exageradamente pequeno poderia
inviabilizar medições de microfones alongados e de alguns geofones.
b) O segundo requisito era obter uma boa estanqueidade para que a pressão sonora não caia em
baixas freqüências devido ao vazamento (da mesma forma como acontece deliberadamente no caso
dos orifícios dos próprios microfones).
c) O terceiro requisito era a portabilidade do sistema de medição.
d) O quarto e último requisito era o uso de um forte alto-falante com alto fator de força Bxl e alto
limite de excursão linear para garantir uma alta pressão sonora com baixo teor de distorção.

A Figura 2 mostra o vaso de pressão construído em acrílico, bem como todos os acessórios que o
acompanham. As dimensões do vaso são 250 mm de diâmetro e 100 mm de altura. A parede
cilíndrica tem espessura de 5 mm, enquanto a base e a tampa têm 10 mm. O alto-falante utilizado é
um Monacor modelo SPH 165 de 50 watts de potência RMS e fator de força Bxl de 9,7 Tm.

O nível de pressão sonora alcançado no interior do vaso de pressão pode chegar até 150 dB,
viabilizando outras aplicações, tais como a medição de Distorção Harmônica Total (THD) de
microfones em dependência do nível de pressão sonora ou a calibração de sensores de pressão cujo
ruído inerente (thermal noise) é de 90 dB ou mais, demandando um nível de pressão sonoro maior
do que 120 dB por parte da fonte de excitação para garantir uma relação sinal/ruído adequada.

Alto-falante

Mic sob teste

Mic de referência
Figura 2: Vaso de pressão construído para a calibração de microfones na faixa infra-sônica. A esquerda, o vaso com o
alto-falante atuando como tampa e fonte sonora. A direita, detalhe do posicionamento do microfone sob teste e o do
microfone de referência.

198
4. EXPERIMENTO PARA A VALIDAÇÃO DO VASO DE PRESSÃO
Como o objetivo principal da utilização do vaso de pressão é calibrar microfones na faixa de 1 Hz
até 250 Hz, a idéia foi calibrar um microfone sob teste utilizando o método da comparação
simultânea, como mostrado na equação 1:

Mt (f) = Mref (f) · Lt (f) / Lref (f) [Eq. 1]

onde:
Mt(f) é a sensibilidade do microfone sob teste determinada em volt/pascal;
Mref(f) é a sensibilidade do microfone de referência calibrado por reciprocidade em campo de
pressão e fornecida por meio de um certificado de calibração em volt/pascal;
Lt(f) é a tensão elétrica medida com o microfone sob teste relacionada à pressão sonora no interior
do vaso de pressão;
Lref(f) é a tensão elétrica medida com o microfone de referência relacionada à pressão sonora no
interior do vaso de pressão;

Para a implementação do procedimento de validação do aparato de calibração de microfones em


infrassom, foram selecionados dois microfones padrão laboratorial (B&K4160) de 1”, assim como
dois pré-amplificadores (B&K 2673) que permitem a utilização da técnica de inserção de tensão.
Esta técnica permite a determinação da resposta em freqüência dos pré-amplificadores, bem como
os ganhos dos canais do sistema de medição aos quais os pré-amplificadores estão conectados.

Como sinal de excitação, foi construída uma varredura de seno com 220 dados de amostra
reproduzidos a uma taxa de 44.1 kHz. Desta forma, a resposta impulsiva obtida tem um registro de
40 segundos, tempo suficientemente longo para que uma função janela também bastante longa
pudesse ser aplicada sem o risco de afetar as freqüências muito baixas, próximas de 1 Hz.

A técnica de deconvolução utilizada foi a linear, o que pode favorecer a identificação e supressão
de possíveis componentes que perturbam (ruído ou artefatos de distorção) a medição da função de
transferência do microfone. Por este motivo, a deconvolução linear pode ser entendida como mais
eficaz do que a deconvolução circular.

As medições de Lref(f) e Lt(f) da Eq. 1 foram obtidas com o dispositivo de calibração ajustado a
gerar uma tensão elétrica direcionada ao alto-falante de 0,56 Vrms, equivalente a uma potência
elétrica de 0,395 Watt. Os níveis de pressão sonora dentro do vaso de pressão para esta
configuração ficaram em torno de 138 dB durante as medições.

A Figura 3 mostra o resultado da calibração do microfone sob teste (B&K 4160) pelo método da
comparação simultânea no vaso de pressão (método proposto) e também apresenta a sensibilidade
deste mesmo microfone pelo método da reciprocidade em campo de pressão, com o orifício não
exposto ao campo sonoro.

Na Figura 3, pode-se observar que acima de aproximadamente 20 Hz, as duas respostas se


aproximam, evidenciando que a influência do orifício diminui para a insignificância. Porém, acima
de 400 Hz, o método proposto afasta-se do método da reciprocidade. O surgimento dos primeiros
modos no vaso de pressão é responsável por essa divergência.

Cabe também salientar que abaixo de aproximadamente 20 Hz, o método da reciprocidade em


campo de pressão diverge do método proposto para a calibração da resposta válida em campo livre,
confirmando as respostas em freqüência teóricas mostradas na Figura 1.

199
Sensibilidade do microfone B&K 4160 sob teste
-25,0

-26,0
Sensibilidade, dB re 1V/Pa

-27,0

-28,0
faixa onde o método proposto afasta-se
-29,0 do método da reciprocidade

-30,0

-31,0 sensibilidade método proposto (capilar exposto)


-32,0 sensibilidade por reciprocidade (capilar não exposto)
-33,0
Frequências, Hz
1 10 100 1000
Figura 3: Resultado da calibração em campo livre do microfone sob teste utilizando o vaso de pressão e o método da
reciprocidade em campo de pressão. Curva azul: sensibilidade em campo livre obtida com o método proposto. Curva
vermelha: sensibilidade obtida com o método da reciprocidade em campo de pressão. As barras representam as
respectivas incertezas dos métodos.

A tarefa agora é encontrar uma ferramenta estatística para quantificar a validação do método
proposto na faixa onde as respostas nos campos livre, difuso e de pressão são assumidamente iguais
(aproximadamente de 20 Hz a 500 Hz). O método escolhido foi retirado da ISO/IEC 17043 (2010),
o Erro Normalizado (En), onde o critério para validação é En ≤ 1, para um En determinado pela
equação 2:

En (f) = |Mt (f) – MR (f) | / [Ut2 (f) + UR2(f)]1/2 [Eq. 2]

onde:
Mt(f) é a sensibilidade determinada pelo método proposto;
MR(f) é a sensibilidade determinada pelo método da reciprocidade em campo de pressão;
Ut(f) e UR(f) são, respectivamente, a incerteza expandida do método proposto e do método da
reciprocidade em campo de pressão.

A Figura 4 mostra o erro normalizado calculado para a validação do método da comparação


simultânea no vaso de pressão (método proposto). Como a proposta para este método é determinar a
sensibilidade de microfones de 1 Hz até 250 Hz, o cálculo de En, segundo a equação 2, terá início
em 160 Hz e fim em 1000 Hz. Como já descrito anteriormente, o método proposto deveria
apresentar resultado idêntico de 20 Hz até 10 kHz caso não houvesse nenhum modo do vaso de
pressão ao longo desta faixa de freqüência Mas, o En calculado aponta que existe um desvio entre o
método proposto e o método da reciprocidade em campo de pressão. Acima de 450 Hz o En é maior
que 1 (um), sinalizando que o método proposto pode ser validado até o 1/3 de oitava de 400 Hz.

Como comentado no item 2), o pré-amplificador conectado ao microfone também tem


comportamento de filtro passa-alta. A Figura 5 mostra a resposta em freqüência do pré-amplificador
(B&K 2673) utilizado na calibração do microfone sob teste B&K 4160. É notável que o pré-
amplificador tem desempenho mais importante em medições infrassônicas do que o próprio

200
microfone. Na prática, os fabricantes de microfones de medições infrassônicas constroem
microfones com resposta em freqüência muito mais plana do que o utilizado neste trabalho. Da
mesma forma, os pré-amplificadores são vendidos com um adaptador que na verdade consiste em
um capacitor de 100 pF em paralelo com a impedância de entrada do pré-amplificador. Este
artifício elétrico abaixa a freqüência de corte do filtro passa-alta do pré-amplificador, mas
infelizmente também reduz consideravelmente a sensibilidade do conjunto.

Erro Normalizado (En ) calculado para a validação


3.0
do método proposto

2.5
faixa onde o método proposto afasta-se
Erro Normalizado, En

do método da reciprocidade, En >1


2.0

1.5

1.0

0.5

0.0
Frequências, Hz
1 10 100 1000
Figura 4: Erro normalizado En calculado para a faixa de frequências de 20 Hz até 600 Hz, mostrando que o método
proposto é consistente até a 1/3 de oitava de 400 Hz.

Sensibilidade do microfone 4160 sob teste e


resposta em frequência do pré-amplificador
-26.0

-28.0
Sensibilidade, dB re 1V/Pa

-30.0

-32.0
Sensibilidade por Comparação
-34.0
Resp Freq B&K2673
-36.0

-38.0

-40.0
Frequências, Hz
1 10 100 1000
Figura 5: Resultado da calibração do microfone sob teste utilizando o vaso de pressão (curva vermelha) e a medição da
resposta em freqüência do pré-amplificador B&K 2673 acoplado ao microfone de 1”(B&K 4160) sob teste.

201
5.CONCLUSÃO
O método proposto neste trabalho apresenta um desempenho muito bom para a calibração de
microfones e também geofones, visto que o desafio inicial de calibrar o microfone na faixa de 1 Hz
até 250 Hz foi atendido e superado, pois a faixa de freqüências foi estendida até 400 Hz.

Parece ter sido acertada a opção da utilização de um alto-falante ao invés do alto investimento na
montagem de um sistema formado por um shaker acoplado a um pistão, levando em consideração
que a repetitividade entre medições de Lref e Lt é menor que 0,01 dB.

O tempo necessário para a medição das variáveis envolvidas na equação 1 é menor do que 3
minutos, o que torna o método viável para a venda de serviços de calibração.

É importante salientar que o usuário que tem como objetivo fazer medições na faixa do infrassom
deve calibrar o microfone junto com o pré-amplificador. Calibrar somente o microfone leva a um
erro sistemático nas medições, visto que o corte em baixas freqüências de alguns pré-amplificadores
pode acontecer antes mesmo do que o do microfone, como mostrado na Figura 5.

REFERÊNCIAS

1. IEC 61094-2: Electroacoustics- Measurement microphones – Part 2: Primary method for pressure calibration
of laboratory standard microphonesn by the reciprocity technique, 2009.
2. Erling Frederiksen (2008). Infrasound Calibration of Measurement Microphones, Technical review (Brüel &
Kjaer), No.1 de 2008, pp. 15-28.
3. NBR 9653: Guia para avaliação dos efeitos provocados pelo uso de explosivos nas minerações em áreas
urbanas”- ABNT, 2005.
4. ISO/IEC 17043: Conformity assessment – General requirements for proficiency testing, 2010.

202
ANÁLISE DOS MÉTODOS EXPERIMENTAIS DESTINADOS À
INVESTIGAÇÃO DA IMPEDÂNCIA ACÚSTICA DAS FLAUTAS

THOMAZELLI, Rodolfo; BERTOLI, Stelamaris R.


Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - Universidade Estadual de Campinas

RESUMO
O caráter subjetivo da resposta de execução de certos aerofones é um dos problemas existentes na
investigação experimental desses instrumentos, pois não é possível obter informações completas das suas
respostas acústicas ignorando a ação do músico. Porém, grande parte do caráter dessas respostas é
determinada pelo grau de resistência que esses instrumentos oferecem aos movimentos de vibração
acústica. Esse fenômeno refere-se à impedância acústica, que pode ser obtida objetivamente.
Características dos métodos mais utilizados na investigação da impedância acústica dos aerofones são
apresentadas nesse artigo. É feita uma análise buscando o método que melhor se enquadre na investigação
experimental do pífano, instrumento popular da família das flautas, tendo em vista as restrições próprias
do instrumento e a acessibilidade aos quesitos práticos. A análise permitiu a classificação dos métodos de
acordo com suas vantagens e desvantagens. O estudo da impedância acústica de pífanos é tema da
dissertação de um dos autores do artigo.

ABSTRACT
A problem in investigation of some wind instruments is the subjective characteristic of the excitation
response. It´s not possible to obtain complete acoustic response information by ignoring the interference
of the musician´s execution. However, great part of the response information is determined by the
resistance degree that wind instruments offer to acoustical oscillations. The resistance is denominated
acoustical impedance, and it can be objectively measured. Features of the most usual experimental
methods designated to the research in acoustical impedance of wind instruments are presented in this
paper. An analysis is made in order to find a method that is compatible with the investigation of the
pífano, a popular wind instrument of the flute class. The restrictions of the instrument and the practical
accessibility are taken into account. Such analysis allowed the classification of the methods, referring to
their advantages and disadvantages. The research of acoustic impedance of pífanos is the dissertation
subject of one of the authors.

Palavras-chave: Impedância acústica. Aerofone. Instrumento de sopro. Flauta. Pífano.

1. INTRODUÇÃO
Um dos problemas existentes na investigação experimental de certos aerofones, instrumentos
musicais nos quais o som é produzido pela vibração do ar (HENRIQUE, 2009), é o caráter
subjetivo da resposta de execução. Não é possível obter informações completas das respostas
acústicas de instrumentos como flautas, metais, palhetas, com medições objetivas, ignorando a
execução do músico e todas as variáveis que as diferentes execuções geram. Grande parte do
caráter dessas respostas é determinado pelo grau de resistência que esses instrumentos oferecem
aos movimentos de vibração acústica, esse sim um fenômeno que pode ser obtido objetivamente.
Essa resistência é chamada de impedância acústica (Za), formalizada através da razão entre
pressão sonora (p) e velocidade volumétrica (U), de acordo com a equação 01. Sua análise
espectral no domínio da frequência pode fornecer informações valiosas à respeito das qualidades
dos instrumentos, como facilidade de execução, estabilidade das notas produzidas, potencial de

203
hamonicidade, entre outras. Com essas informações, diferentes instrumentos podem ser
comparados e a construção de novos instrumentos pode ser otimizada.

p
Za  [Equação 01]
U

Segundo Dickens et al. (2007), quaisquer dois transdutores com respostas que são funções
lineares de pressão e velocidade volumétrica podem ser usados para a construção do aparato
experimental destinado à obtenção do espectro de impedância. Com isso, muitas alternativas de
métodos são possíveis. Segundo Dalmont (2000a), os valores de pressão sonora geralmente são
obtidos com o uso de microfones, sendo que esses métodos variam de acordo com a maneira
com que a velocidade volumétrica é determinada ou controlada.

Neste artigo serão apresentadas as características dos métodos mais utilizados na pesquisa dos
aerofones. A partir desse levantamento, será feita uma análise buscando o método que melhor se
enquadre na investigação experimental do pífano, instrumento popular da família das flautas,
tendo em vista às restrições próprias do instrumento e à acessibilidade aos quesitos práticos.

No levantamento bibliográfico, que englobou a pesquisa em quaisquer aerofones, não foi


encontrado nenhum estudo científico acerca da acústica do pífano, motivo secundário para a
pretensão de análise do instrumento. O motivo principal deve-se às suas características técnicas e
artísticas. Segundo Pedrasse (2002), em sua pesquisa acerca da Banda de Pífanos de Caruaru,
existem três tipos de pífanos: meia-regra, três-quartos e regra-inteira, e cada pifeiro (designação
popular ao tocador de pífano) tem sua preferência de instrumento, de acordo com a facilidade de
execução. Essa informação pode ser formalizada através da análise do espectro de impedância no
qual os três tipos podem ser comparados. Além disso, devido ao caráter puramente popular do
instrumento, os processos de confecção variam de acordo com a cultura e conhecimento de cada
artesão. Pedrasse (2002) afirma que as características não estandardizadas (próprias de
instrumentos de fabricação industrial) somadas às técnicas de execução dos músicos, produziram
uma sonoridade resultante do emprego de notas não pertencentes ao sistema temperado,
preponderante na música ocidental. Esse fato possibilita uma análise científica comparativa entre
os processos de confecção e as caracterísitcas dos produtos técnicos e musicais relacionados.

2. DESENVOLVIMENTO
Este trabalho se baseou no levantamento bibliográfico acerca dos métodos experimentais
utilizados na investigação da impedância acústica dos aerofones. O levantamento foi direcionado
pela busca de um método aplicável ao estudo dos aerofones da classe das flautas, mais
especificamente do pífano. Uma análise com base nas restrições do instrumento e na
acessibilidade aos quesitos práticos permitiu a classificação dos métodos de acordo com as
respectivas vantagens e desvantagens.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Basicamente, o aparato experimental destinado à investigação da impedância acústica de
cavidades é composto por uma fonte de energia acústica, e por transdutores sensíveis a sinais
proporcionais à pressão acústica e à velocidade volumétrica, dispostos ao longo de um tubo. A
figura 1 ilustra de forma geral e simplificada a montagem do aparato. A impedância é medida no
plano de referência, e a fonte de energia acústica é convenientemente simbolizada por um alto-
falante. Os transdutores (tn) possuem número e disposição variáveis, de acordo com o método
utilizado.

204
Figura 1: Representação geral e simplificada da montagem do
aparato experimental utilizado nas investigações de impedância
acústica de cavidades.
Adaptada de Dickens et al., (2007)

Dickens et al. (2007) classificam os métodos dividindo-os em sete grupos: volume flow source;
pulse reflectometer; two microphones; volume flow source with upstream microphone; two
anemometers; microphone and anemometer; multiple microphones. Nessa revisão, os autores
apontam as singularidades de cada método, tal como as vantagens e desvantagens. Além disso,
fazem uma revisão das técnicas de calibração dos componentes, outro fator que contribui para a
diversidade de métodos. Dalton (2000a), em revisão anterior, atenta que as técnicas de calibração
completa diferem consideravelmente das técnicas de calibração parcial. Nas primeiras, os
transdutores funcionam como uma caixa-preta, sendo que se deve garantir apenas suas
estabilidades e linearidades. Nas técnicas de calibração parcial, é necessário o conhecimento dos
modelos teóricos dos transdutores.

A escolha do método experimental e da técnica de calibração é direcionada de acordo com os


objetos de investigação. Os aerofones pertencentes à família das flautas apresentam uma
característica determinante para essa escolha: eles funcionam com o orifício da embocadura
parcialmente aberto para a atmosfera, ao contrário, por exemplo, dos metais e das palhetas
(fechados pelos lábios do músico e pelas palhetas, respectivamente). Essa abertura faz com que a
oscilação de pressão seja praticamente nula na embocadura. Por outro lado, a interação do jato de
ar constante proveniente do sopro do músico com a aresta do orifício (que se apresenta com
diferentes estruturas nos diferentes instrumentos) gera instabilidade no fluido. De acordo com
Verge (1995, apud HENRIQUE, 2009), o som resulta do acoplamento entre o jato
hidrodinamicamente instável e o campo acústico ressonante que se cria no tubo do instrumento.
A instabilidade do jato acarreta na possibilidade de velocidades volumétricas altas. Portanto, de
acordo com a equação 1, as flautas operam em frequências próximas ao mínimo do espectro de
impedância (pressão pequena e escoamento alto). A figura 2 ilustra as duas estruturas mais
comuns baseadas na embocadura de aresta: embocadura da flauta transversal e semelhantes (A);
e embocadura dos tubos flautados do órgão e semelhantes (B).

205
Figura 2: Representação das duas estruturas mais comuns
baseadas na embocadura de aresta: (A) embocadura da flauta
transversal e (B) embocadura dos tubos flautados do órgão.
Adaptada de Henrique (2009) e Fletcher e Rossing (1998).

Os gráficos da figuras 3 ilustram os espectros de impedâncias de alguns objetos e instrumentos,


com alusões para a região de frequência onde cada instrumento opera. Pode-se notar a diferença
do espectro das flautas para os demais instrumentos. Uma abordagem teórica completa acerca da
dinâmica do jato de ar em flautas pode ser encontrada em Fletcher e Rossing (1998).

Segundo Wolfe et al. (2001), para se determinar experimentalmente o espectro de impedância


das flautas com qualidade que permita a análise de seus mínimos, são necessárias medidas com
um intervalo dinâmico grande. Smith et al. (2000) dizem que na literatura acerca do estudo dos
metais e das palhetas, o espectro de impedância é usualmente plotado em escala linear. Embora
esse procedimento seja suficiente para a análise dos máximos de impedância, ele é inapropriado
para o estudo das flautas, pois nenhuma informação expressiva do mínimo de impedância pode
ser obtida.

Wolfe et al. (2001) desenvolveram um método que atende a exigência dos grandes intervalos
dinâmicos, uma adaptação de um espectrômetro originalmente destinado ao estudo do trato
vocal. Por conta da dificuldade de se medir o escoamento volumétrico com alta precisão ao
longo de um grande intervalo, o método se baseia na comparação entre impedâncias conhecidas
e desconhecidas. Uma desvantagem desse método é que em uma das etapas de calibração são
exigidas medidas acústicas em um tubo de aço não-oxidável de 7.8 mm de diâmetro interno e 42
m de comprimento, chamado de semi-infinite wave guide e usado para simular uma impedância
infinita. A justificativa para o uso dessa impedância de referência é a independência da
frequência, fator que melhora a razão sinal-ruído e exclui a necessidade do uso de mais de um
microfone.

No método TMTC (Two-Microphones-Three-Calibration method) (GIBIAT, LALÖE, 1990), ao


invés do uso de um tubo semi-infinito para a simulação da impedância infinita, a cavidade no
plano de referência é bloqueada por uma superfície rígida. Os autores não discutem sobre a
independência da frequência da impedância nessa simulação, porém afirmam que o uso de três
ou quatro microfones é útil, se não indispensável, para certas correções nas aquisições de dados.
Além disso, os autores concluem que a técnica de calibração empregada resolve o problema dos
grandes intervalos dinâmicos. Tirando a recomendação do uso de pelo menos três microfones, o
aparato experimental é bastante semelhante ao desenvolvido por Wolfe et al. (2000). Os autores
apontam que, tomadas algumas precauções na montagem do aparato, o método TMTC atende às
necessidades impostas pela investigação da acústica dos aerofones. van Walstijn et al. (2005),
porém, apontam que o método TMTC possui a desvantagem de exigir o conhecimento preciso
acerca da constante de propagação. Essa constante é dependente da frequência e de algumas
206
outras constantes como a velocidade do som, a densidade do ar e o coeficiente de viscosidade.
Essas últimas são dependentes da temperatura, e normalmente é difícil a obtenção de seus
valores precisos para um ambiente experimental sem cuidados precisos.

Figura 3: Gráficos de espectros de impedância de alguns


objetos e instrumentos. Os círculos tracejados nos espectros dos
instrumentos mostram a região de frequência de operação.
Fonte: http://www.phys.unsw.edu.au, acesso em 12/02/2012

Bruneau (1987) e Dalmont (2000b) propuseram uma técnina de calibração na qual eram usados
dois tubos, um longo (1 ou 2 m) e um curto (menos de 10 cm), ambos com extremidades
fechadas, na qual a constante de calibração não necessitava ser precisamente conhecida. Porém,
para van Walstijn et al. (2005), especificamente o método de Dalmont (2000b) depende de certas
suposições acerca dos coeficientes de calibração cuja precisão ainda deve ser avaliada. Dickens
et al. (2007) apontam que ambos os métodos possuem o problema de limitação de análise em
baixas frequências de acordo com o comprimento dos tubos de calibração.

207
Afim de resolver esses problemas apontados, van Walstijn et al. (2005) desenvolveram o método
TMFC (Two-Microphones-Four-Calibration method). O método abrange o requerido intervalo
dinâmico grande para a investigação das flautas, e o aparato é similar aos previamente
apresentados. A calibração é baseada em relações matemáticas simples acerca da impedância de
quatro tubos curtos fechados, não necessita do conhecimento acerca da constante de propagação,
é completamente geral para uma conhecida temperatura constante e é relativamente insensível ao
ruído de fundo. Porém, os próprios autores apontam que o método e o aparato descritos foram
projetados para o estudo experimental em altas frequências, cobrindo a faixa entre 1 e 20 KHz,
sendo que para frequências abaixo de 1 KHz não foram testadas. Para tal, o aparato deve
consistir de quatro tubos muito longos. Hendrie e Campbell (2005) comentam que é
praticamente inviável a adequação do método TMFC para baixas frequências com o uso desses
tubos e, com isso, apresentam o método TMFC parcial. Nele, algumas informações exigidas
pelas equações matemáticas são preenchidas com dados provenientes da teoria de ondas planas.
Porém, um tubo semi-infinito deve ser usado na calibração, afim de se obter uma das expressões
necessária através de medidas anecóicas. Apesar dos resultados apresentarem boa
compatibilidade com a teoria, a desvantagem do tubo semi-infinito reaparece nesse método.

Outro método que adota a calibração usando um tubo semi-infinito é o método proposto por
Dickens et al.(2007). Nele, são propostas três etapas para a correção dos principais erros
enfrentados na aquisição do espectro de impedância e, consequentemente, para o aumento da
precisão dos resultados. A primeira etapa minimiza os problemas de ressonância; a segunda
reduz os efeitos de singularidades das medições; e a terceira controla a distribuição de erros.

Um ponto interessante do trabalho de Dickens et al.(2007) está na revisão das técnicas de


calibração: os autores as classificam em quatro grupos, todos aqui já citados: (a) TMTC
technique, englobando os métodos propostos por Gibiat e Lalöe (1990) e van Walstijn et al.
(2005); (b) Ressonance analysis of long tube, englobando os métodos propostos por Bruneau
(1987) e Dalmont (2000b); (c) Semi-infinite pipe, com referência ao método de Wolfe et al.
(2001); e (d) Ressonance-free loads, método proposto pelos autores da revisão. Essa
classificação resume as vantagens e desvantagens de cada um das técnicas, servindo como base
comparativa para este trabalho.

4. CONCLUSÕES
A presente revisão bibliográfica, que envolve os métodos experimentais utilizados na obtenção
do espectro de impedância acústica de instrumentos de sopro, permitiu uma seleção das
possibilidades voltadas ao objeto de estudo a que se pretende analisar: o pífano. A primeira
característica determinante para a escolha do método mais adequado refere-se à uma
particularidade dos aerofones da classe das flautas: a exigência de um grande intervalo dinâmico
nas medições. Dentre todas alternativas remanescentes dessa primeira seleção, as principais
características encontradas referem-se à questões práticas dos métodos de calibração e às suas
implicações.

Excluindo a possibilidade do uso de um tubo semi-infinito (devido às dificuldades práticas),


restam os métodos cujas técnicas de calibração se enquadram nos grupos (a) e (b) da revisão de
Dickens et al.(2007). Dentre elas, talvez a que mais se enquadre na investigação experimental do
pífano seja a do método TMTC, proposta por Gibiat e Lalöe (1990). O problema prático deste
método se resume à necessidade do conhecimento preciso acerca da constante de propagação.
Porém, como colocado por Dickens et al.(2007), essa necessidade não existe caso seja efetuada
uma calibração extra, em um tubo de comprimento diferente dos anteriormente utilizados. Caso
isso se torne uma tarefa difícil, vale uma avaliação sobre qual desvantagem seja mais expressiva:
o controle das condições do ambiente experimental que ditam o conhecimento preciso da

208
constante de propagação exigido no método TMTC; a limitação do funcionamento do
espectrômetro às frequência altas, consequência das técnicas de calibração do grupo (b); ou o uso
do tubo semi-infinito, exigido nos métodos mais elaborados.

5. AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao estímulo e apoio financeiro concedidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

6. REFERÊNCIAS

1. Bruneau, A.-M. An Acoustic Impedance Sensor With Two Reciprocal Transducers. Journal of Acoustic
Society of America. (1987) 81(4), 1168-1178.
2. Dalmont, J. -P. Acoustic Impedance Measurement Part I - A Review. Journal of Sound and Vibration.
(2001a) 243(3), 427-439.
3. Dalmont, J. -P. Acoustic Impedance Measurement Part II - A New Calibration Method. Journal of Sound
and Vibration. (2001b) 243(3), 441-459.
4. Dickens, P., Smith, J., Wolfe, J. Improved Precision in Measurements of Acoustic Impedance Spectra.
Journal of Acoustic Society of America. (2007) 121(3), 1471-1481.
5. Hendrie, D., Campbell, M. Musical Wind Instruments Analysis. Forum Acusticum. Budapeste, 2005.
6. Fletcher, N. H., Rossing, T. D. The Physics of Musical Instruments. Second Edition. Springer Science +
Business Media, Inc. – New York, 1998.
7. Gibiat, V., Lalöe, F. Acoustic Impedance Measurements by Two-Microphone-Three-Calibration (TMTC)
Method. Journal of Acoustic Society of America. (1990) 88(6), 2533-2545.
8. Henrique, L. L. Acústica Musical. 3a edição. Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa, 2009.
9. Pedrasse, C. E. Banda de Pífanos de Caruaru – uma análise musical. Campinas-SP, 2002.
10. Smith, J., Fritz, C., Wolfe, J. A New Technique for the Rapid Measurement of the Acoustic Impedance of
Wind Instruments. Seventh International Congress on Sound and Vibration. Garmisch Partenkirchen,
Germany, 2000.
11. van Walstijn, M., Campbell, M., Kemp, J., Sharp, D. Wideband Measurement of the Acoustic Impedance
of Tubular Objects. ACTA Acustica United with Acustica. (2005) 91, 590-604.
12. Verge, M. P. Aeroacoustics of Confined Jets, with Applications to the Physical Modeling of Recorder-
Like Instruments, 1995. In: Henrique, L. L. Acústica Musical. 3a edição. Fundação Calouste Gulbenkian
- Lisboa, 2009. p. 536.
13. Wolfe, J. Smith, J., Tann, J., Fletcher, N. H. Acoustic Impedance Spectra of Classical and Modern Flutes.
Journal of Sound and Vibration. (2001) 243(1), 127-144.

209
 

SESSÃO 04-A

210
ANÁLISE DE DISTORÇÃO NÃO LINEAR EM AMPLIFICADORES DE
ÁUDIO VALVULADOS

OLIVEIRA, Thomaz1,2; BARRETO, Gilmar1; PASQUAL Alexander3.


(1) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Elétrica, Departamento de
Semicondutores e Instrumentos e Fotônica; (2) Universidade Federal de Lavras; (3) Universidade Federal de
São João del Rei;

RESUMO
Amplificadores valvulados são conhecidos pela sua alta qualidade sonora, sendo preferidos por muitos
músicos. Uma das características que os torna atrativos é o tipo de distorção não linear introduzida por este
tipo de aparelho. Este trabalho apresenta e discute técnicas de análise das distorções não lineares em pré-
amplificadores de áudio. Como estudo de caso, considera-se o estágio de pré-amplificação do amplificador
a válvula Giannini True Reverber, fabricado no Brasil nos anos 60 e 70 para o uso em guitarra elétrica. O
seu pré-amplificador utiliza válvulas 12AX7 da Miniwatt/Philips. Neste trabalho, a distorção não linear
produzida neste tipo de circuito é estudada utilizando as seguintes técnicas: análise de espectro com sinal
senoidal, varredura logarítmica, distorções intermodulares e análise de transientes. Os resultados da análise
senoidal indicaram que as distorções não lineares geram harmônicos ímpares com maiores intensidades que
os pares. Estes harmônicos são conhecidos por deixarem os acordes com sonoridade mais agradável. As
análises realizadas pelos sinais transientes permitiram a caracterização dos efeitos de memorização do
sistema. A varredura logarítmica ilustra picos de resposta em algumas frequências mais baixas, o que pode
evidenciar o efeito de capacitância de Miller entre outras capacitâncias do circuito como o capacitor de
passagem do catodo. A análise de distorção intermodular demonstra que quando mais de um sinal é
submetido no sistema, um ou mais harmônicos são produzidos, o que não pode ser percebido com análises de
sinais mais simples. Os resultados das análises evidenciam a maneira única e complexa que estes aparelhos
alteram um sinal de entrada. Desta maneira, ainda são utilizados nos ramos da produção e execução musical.

ABSTRACT
Tube amplifiers are well known by their sound quality, being preferred by many musicians. One its main
characteristics that make them attractive the type of nonlinear distortion introduced by these devices. This
works presents and discusses techniques to analyse nonlinear distortion in audio preamplifier. As a case
study, the considered preamplifier was on an all tube Giannini Giannini True Reverber amplifier, which was
produced in Brazil by Giannini Musical Instruments in the 60’s and 70’s for electric guitar. Its preamplifier
uses 12AX7 Philips Miniwatt tubes. In this work the methodology for studying nonlinear distortion was
accomplished using the following techniques: single tone, intermodular, logsweep and transient signal
analysis of its output. The of single tone analysis enhance that the non-linear distortion caused by these
amplifiers reinforce the odd harmonics. These harmonics are know for making the sound of notes and
chords more pleasant. The interpretation of the results of transient signal analysis leads to the assumption of
memorization in the system, due to the tube’s Miller capacitance or other capacitive effects in the signal
path. The log sweep analysis provide results that enhances filtering effects such as Miller capacitance once
lower frequencies have higher amplitude. The intermodular distortion analysis demonstrate that two more
signals added produce a third or fourth note as a conjunction of the non-linear distortion present in this stage.
This result cannot be produced with more straightforward single tone analysis. These results enhance how
alter signals are altered unique and complex way by these device generating nonlinear distortion, this
demonstrates why these amplifiers are still used in music production and execution.
Palavras-chave: Análise de Distorção não linear, amplificadores valvulados, guitarra elétrica.

211
1. INTRODUÇÃO
Até os dias de hoje, a tecnologia de válvulas termiônicas resiste às inovações tecnológicas e é
amplamente utilizada no campo da música através da guitarra elétrica e de sistemas de amplificação
que utilizam as qualidades sonoras desta tecnologia. Com o passar dos anos, a tecnologia valvulada
para aplicação musical vem sendo considerada "Vintage", que é um termo originário do cultivo e
colheitas de uvas para a produção de vinhos. A etimologia da palavra vem de vint, relativo à safra
de uvas, e age relativo à idade. Este termo é utilizado para objetos que, com o tempo, adquiriram
uma conotação de nobreza e qualidade.

As duas áreas ativas que utilizam esta tecnologia são a de micro ondas (devido a capacidade de
trabalho em regimes de alta potência em altas frequências) (SYMONS, 1998) e a de amplificação
de áudio, sendo as válvulas muito populares para amplificadores de guitarra. Nestas áreas nada
indica que a tecnologia de válvulas termiônicas será substituída definitivamente no futuro. A razão
pelo qual utilizam-se válvulas para amplificação de áudio é bastante controversa e instigante Com
o redescobrimento do som valvulado "Vintage" para guitarras elétricas nos anos 90, houve um
crescimento anual de 10% na venda mundial deste produto no final da década de 90, com um
mercado que arrecadou centenas de milhões de dólares (BARBOUR, 1998). No Brasil, no começo
da década de 80, todos os fabricantes de amplificadores pararam a produção de amplificadores
valvulados, sendo alguns extintos como por exemplo a C. S. Sound e Phelpa. Atualmente, o Brasil
possui diversos fabricantes de amplificadores, com um mercado crescente deste ramo, com as
Fábricas Meteoro, Maverick, e o reaparecimento das antigas Giannini e Snake fabricando estes
amplificadores em linhas de produção.

Para o áudio, a polêmica sobre as diferenças sonoras entre dispositivos de estado sólido e válvulas
termiônicas repercute desde a criação dos primeiros amplificadores transistorizados (HAMM,
1973). A diferença sonora produzida por estes dois tipos de tecnologia é um problema complexo de
psicoacústica, entretanto alguns parâmetros podem ser medidos (PAKARINEN, 2010). O foco
deste trabalho não são os amplificadores de alta fidelidade sonora e sim amplificadores para
guitarra. Nestes, adjetivos como "vazio", "magro" ou mesmo "metálico" (jargões musicais) são
utilizados para descrever os amplificadores transistorizados, enquanto "quente", "redondos" ou
mesmo "Punchier" (termo referente a um soco ou tranco, para ilustrar a resposta imediata deste tipo
de amplificador, para um músico) são utilizados para descrever amplificadores valvulados
(BUSSEY, 1981).

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Modelos Digitais de Amplificadores Valvulados

A simulação digital de amplificadores valvulados objetiva reproduzir a sonoridade produzida por


amplificadores valvulados sem a utilização de circuitos analógicos, que são volumosos e caros. A
simulação pode ser feita utilizando softwares ou mesmo em dispositivos específicos. Neste
contexto, trata-se de uma modelagem de um sistema físico complexo. Em particular quando a
simulação numérica é aplicada a estes casos complexos onde cálculos analíticos são inviáveis. Os
modelos sempre simplificam os fenômenos do mundo real reduzindo a complexidade do sistema
alvo a ser modelado (KARJALAINEN et al., 2008). Para isso, geralmente são utilizadas
aproximações de sistemas não lineares de equações diferenciais e não lineares que regem a física
destes circuitos.

Uma grande vantagem das simulações digitais é que novos parâmetros podem ser carregados para a
memória quando um usuário desejar, podendo assim ser simulados diferentes amplificadores no
mesmo dispositivo. A simulação digital de amplificadores valvulados (em particular para guitarra) é

212
uma área ativa de pesquisa com diversos produtos comerciais disponíveis (PAKARINEN & YEH,
2009).

Figura 1: Giannini True Reverber desmontado para testes e válvula 12AX7 miniwatt (à esquerda).

2.2. Análise de distorções não lineares


Para a validação dos modelos, uma etapa muito importante da fase de implementação dos
algoritmos simuladores deste tipo de distorção e ou timbre é a análise dos sinais distorcidos. Nesta
etapa diversos sinais de testes com finalidades específicas são gerados e injetados ao objeto de
análise. Os sinais obtidos dos aparelhos são analisados para obter métricas e gráficos do timbre
simulado do aparelho alvo ou do dispositivo físico de fato. Nestas análises pode-se fazer a
validação de um modelo pela comparação dos resultados entre um amplificador virtual e um físico.

Existem basicamente dois tipos de simulação: uma baseada em circuitos, conhecida como
abordagem caixa branca e a outra baseada em dados de medição do dispositivo, conhecida como
abordagem caixa preta. No entanto uma abordagem pode ser híbrida. Uma método muito utilizado
para validação é a simulação dos circuitos originais no ambiente SPICE no qual as simulações são
comparadas. Desta maneira modelos podem ser validados pela sua resposta (YEH et al., 2008).
Neste trabalho foi feito um procedimento de análise da distorção valvulada que é utilizada em
abordagem caixa preta.

Figura 2: Esquema do pré-amplificador do True Reverber.

213
2.3. Análise Senoidal
Um dos métodos mais simples para analisar distorções é mediante a inserção de um sinal simples
senoidal com amplitude e frequência fixas no sistema e, posteriormente realizar análise de espectro.
A vantagem deste método é a sua simplicidade, mas a desvantagem é que a análise informa
somente como o sistema trata um sinal simples estático, não sendo possível extrair informações
sobre a dinâmica do sistema. O resultado da análise é obtido pela transformada de Fourier seguido
de um escalonamento logarítmico dos níveis de intensidade dos harmônicos.

2.4.Varredura Logarítmica
Esta técnica determina, no sistema, o nível de distorção harmônica estática em função da
frequência. Para isso, um sinal cuja frequência aumenta logaritmicamente com o tempo é enviado
ao dispositivo em análise. Para a análise, o sinal colhido é invertido e multiplicado por um peso. O
passo seguinte é o calculo da resposta ao impulso do sistema, a qual é convoluída com o sinal
invertido. A vantagem desta técnica é a obtenção de informações sobre os diferentes níveis de
distorções que ocorrem em diferentes faixas de frequência na banda de áudio.

2.5. Análises de Distorção Intermodular


Quando um sinal composto de mais de um tom distorce em um dispositivo, ocorre a distorção
intermodular. Isto significa que o sinal resultante não consiste apenas de sinais cuja frequência são
múltiplos inteiros dos sinais de entrada, mas também de frequências que são somas e diferenças
entre os sinais entrantes no sistema.

A técnica empregada neste trabalho, de acordo com PAKARINEN (2010), consegue medir as
distorções intermodular estática e dinâmica da seguinte forma: dois sinais são inseridos no sistema
em análise, sendo um com frequência fundamental f1 de onda quadrada que é somado a um outro
sinal senoidal, com amplitude inferior, de maneira que f1 < f2. Na próxima etapa, o sinal é
submetido ao dispositivo em análise. Com o sinal obtido, calcula-se a distorção intermodular
estática pela razão entre a raiz quadrada da média (RMS - Root mean square) dos componentes de
distorção intermodular e o sinal senoidal de pequena amplitude que sobrepõe o sinal de onda
quadrada. A distorção intermodular estática é obtida de maneira análoga com a utilização da onda
triangular ao invés da onda quadrada.

2.6. Análise de Resposta a Transientes


A resposta do sistema a sinais transientes, estes muito presentes na música, é uma tarefa bastante
árdua, uma vez que cada um destes diferentes sinais transientes possui a sua própria resposta.
Porém, é pertinente realizar a comparação entre um sinal transiente e um sinal transiente distorcido
no sistema analisado. O sinal transiente é composto de um surto inicial (sinal transiente) no
primeiro ciclo, seguido de uma cauda ou repouso que possui amplitude inferior ao primeiro ciclo.

É importante ressaltar que todas as análises citadas anteriormente possuem a possibilidade de uma
variação de parâmetros, podendo desta forma ser obtida uma grande variação de resultados através
da variação destes parâmetros.

2.7. Equipamento analisado


O aparelho escolhido para teste foi um pré-amplificador do Amplificador True Reverber. Este
aparelho foi escolhido por ser de fabricação nacional pela empresa Tranquilo Giannini, nos anos 60
e 70 (Figura 1). As válvulas do pré-amplificador também são nacionais do tipo 12AX7 da Philips
Miniwatt. Todos os capacitores e resistores que se encontravam fora dos valores nominais (10% de
tolerância) devido ao envelhecimento dos mesmos foram substituídos para o estudo. Esta escolha

214
valoriza os produtos de qualidade fabricados no Brasil e também a história destes instrumentos e/ou
amplificadores que equiparam os palcos do país por muitos anos, na época em que a importação era
restrita. Atualmente estes amplificadores se tornaram raros e caros. Os sinais gerados foram
submetidos ao pré amplificador utilizando o software Audacity 1.2.6. O sinal foi captado no final
do estágio de amplificação do primeiro triodo, conforme a figura 2. Os sinais distorcidos foram
gravados novamente usando a interface da Digidesign Pro-Tools MBOX e o softwares Pro Tools
LE 8.3. O sinal senoidal foi obtido por um gerador de sinal Minipa. Um computador foi utilizado
para reproduzir os sinais e outro para gravar os sinais obtidos do amplificador.

2.8. Parâmetros de teste

As análises foram realizadas no Matlab, mediante a geração dos seguintes sinais para os testes:

Análise senoidal
Frequência: 1000 Hz; Duração:10s

Varredura logarítmica – Frequência inicial: 20Hz; Frequência final: 20kHz: Duração: 2s;
Harmônicos: 5

Análises de Distorção Intermodular - Frequência seno: 6kHz; Frequencia e amplitude de onda


quadrada: 1270kHz e 100 % normalizados; Duração: 1s.

Análise de Resposta a Transientes - Amplitude da cauda: 1/10 da amplitude total, Frequencia:


1kHz , Duração: 2s

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No teste de análise senoidal foi possível perceber a ampliação do espectro realizada devido a
distorção não linear, vários harmônicos são introduzidos na banda de áudio, conforme mostrado na
figura 3. É importante ressaltar que o dispositivo gera principalmente harmônicos ímpares, como
relatado por HAMM (1973). Segundo, BUSSEY (1981), estes harmônicos introduzidos são
conhecidos por deixarem acordes e notas com menos batimentos, sendo mais agradáveis ao ouvinte
e, portanto, os músicos utilizam deste recurso na execução da guitarra elétrica. Na figura 4,
percebe-se pela análise de sinais transientes uma memorização do sistema de estados anteriores,
uma vez que o sinal está atrasado em relação ao sinal excitador. Também observa-se uma pequena
instabilidade do mesmo após a inserção do sinal transiente, possivelmente gerada por uma distorção
de bloqueamento, fato muito comum quando o equipamento valvulado é submetido a sinais de
amplitude alta, quando a grade atinge tensões positivas em relação ao catodo.

No teste de análise de transientes, mostrado na figura 4, a linha pontilhada representa o sinal de


entrada e a linha contínua o sinal resultante do pré-amplificador do True Reverber. É interessante
notar que o sinal apresenta uma grande distorção e a forma de onda é mantida amortecida
inicialmente, talvez por um deslocamento no ponto de bias da válvula, como encontrado em
PAKARINEN (2010) analisando um amplificador Vox AC 30.

No teste de varredura logarítmica, na figura 5, as curvas numeradas correspondem a ordem da


distorção, a linha 1 corresponde a resposta de magnitude linear, a curva 2 corresponde ao
harmônico de segunda ordem e assim sucessivamente. O primeiro harmônico tem um vale em
2kHz, enquanto o terceiro tem em 400Hz e o quinto em 350Hz. É importante ressaltar novamente a
amplitude superior dos harmônicos ímpares em relação aos pares em quase toda extensão do áudio.

215
Figura 3: Análise Espectral de uma senoide como entrada

Figura 4: Resultado da análise de sinais transientes

No teste de distorção intermodular, na figura 6, a linha pontilhada refere-se a distorção intermodular


estática e a linha contínua a distorção intermodular dinâmica. É importante ressaltar a variação dos
dois percentuais de distorção intermodular em função da amplitude do sinal. Um valor máximo
para as duas distorções próximas a 0,66 da amplitude normalizada e um valor mínimo próximo a
0,45.

216
Em quase todos os níveis de sinais, a distorção dinâmica possui maior amplitude do que a estática
exceto em amplitudes muito baixas.

4. CONCLUSÕES
Este trabalho apresentou métodos de análise de distorções aplicados a aparelhos valvulados. O
amplificador vintage Giannini True Reverber foi utilizado como estudo de caso. As metodologias
de teste possuem um grande potencial para futuros estudos, comparando diferentes distorções e
simulações, podendo variar os parâmetros para gerar diferentes sinais de teste. No entanto, a
análise subjetiva dos sons não deve ser descartada, devido as incompletude das análises visto que o
publico alvo deste tipo de equipamento, músicos, utilizam os mesmos como ferramenta de criação e
expressão. Os resultados das análises evidenciam a maneira única e complexa que estes aparelhos
alteram um sinal de entrada.

Figura 5: Análise de distorção das respostas em diferentes bandas através da varredura logarítmica

217
Figura 6: Resultado da análise do percentual de distorção intermodular

AGRADECIMENTOS- à CAPES pela bolsa de doutorado concedida ao primeiro autor.

REFERÊNCIAS

1. David T. Yeh, Jonathan S. Abel, Andrei Vladimirescu, Julius O. Smith III, (2008) “Numerical methods for
simulation of guitar distortion circuits,” Computer Music Journal, vol. 32, no. 2, pp. 23–42
2. Eric Barbour (1998) “The cool sound of tubes – vacum tube musical applications” IEEE Spectrum, vol. 35, no. 8,
pp. 24–35.
3. Jyri Pakarinen & David T. Yeh (2009) “A review of digital techniques for modeling vacuum-tube guitar
amplifiers,” Computer Music Journal, vol. 33, no.2, pp. 85–100
4. Jyri Pakarinen (2010) “Distortion analysis toolkit a software tool for easy analysis of nonlinear audio systems”
EURASIP Journal on Advances in Signal Processing, vol. 2010, pp. 617325–13
5. Matti Karjalainen (2008) “Block compiler - a block-based multi-paradigm approach with applications to audio and
accustics,” Technical report, Helsinki University of Technology. Laboratory of Acoustics and Audio Signal
Processing
6. Robert S. Symons (1998) “Tubes still vital after all these years” IEEE Spectrum, vol. 35, no. 4, pp. 52–63.
7. Russell O. Hamm (1973) “Tubes versus transistors – is there an audible difference” Journal Audio Engeering
Society, vol. 21, no. 4, pp. 267–273
8. W. Bussey & R. Haigler (1981) “Tubes versus transistors in electric guitar amplifiers” in Acoustics, Speech, and
Signal Processing, IEEE International Conference on ICASSP 1981, IEEE Press, Ed., pp.800–803. IEEE.

218
SISTEMA ELETROACÚSTICO TETRAÉDRICO PARA MEDIÇÃO
ACÚSTICA EM BAIXA FREQUÊNCIA

Arzeno, Leonardo P. 1
(1) Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC),
Laboratório de Engenharia Acústica (LEAC)

RESUMO
O artigo apresenta o desenvolvimento de uma fonte sonora de baixas frequências para ensaios de acústica
arquitetônica. O sistema consiste de uma caixa em formato tetraédrico com quatro alto-falantes em um
gabinete acústico compartilhado. Na introdução são apresentadas as motivações do trabalho, assim como os
fundamentos de projeto. Na sequencia, são definidos os principais requisitos operacionais da fonte. Ao final,
são mostrados os resultados do ensaio do nível de potência sonora, segundo procedimentos da norma ISO
3741, assim como de um ensaio de absorção sonora de materiais de acordo com a norma ISO 354.

ABSTRACT
This article presents the development of a lowfrequency sound source for architectural acoustics tests. The
system consists of a tetrahedral shaped box with four loudspeakers sharing a commom acoustic enclousure.
The introduction presents the motivations of the work and the project fundamentals. In the sequence, we
define the key operational requeriments of the source. At the end, are shown the results of a measurement of
the acoustic power output of the source, according to the ISO 3741 norm, as well as test of the absorption
properties of materials, according to ISO 354 norm.

Palavras-chave: Fonte sonora. Baixa frequência. ISO3741.

1. INTRODUÇÃO
É evidenciado nos dias atuais, pelo aumento significativo das fontes de ruido de baixa frequência,
que surgiram necessidades de se aumentar a largura de banda dos ensaios acústicos. Do total de
normas específicas de medição de fontes de ruido, diversas se referem a equipamentos que
produzem ruido de baixa frequência de forma significativa. Para se criar formas de se mitigar este
problema, busca-se desenvolver tecnologia para medições de acústica de edificações, onde agora é
recomendado realizar ensaios que operem desde no mínimo da frequência de 50 Hz.
O laboratório de acústica da UFSM dispõe atualmente de um sistema de fonte sonora dodecaédrica,
da fabricante B&K, modelo 4292, para ensaios e medições. Tal sistema contém características
otimizadas para acústica de sala e acústica de edificações; porém, apresenta uma largura de banda
limitada em baixa frequência a 100 Hz.
A utilização de sistemas de áudio em ensaios acústicos normatizados se deve a necessidade de se
criar sinais acústicos de características específicas. As diferentes normas recomendam a utilização
de alto-falantes de bobina móvel como fonte sonora para ensaio. Estas especificam quais
características construtivas as fontes sonoras devem possuir; tais como a resposta do sistema no
domínio do tempo e no domínio do espaço.
A principal característica de projeto geralmente procurada é um espectro de frequências plano.
Além disto, e de igual importância, uma resposta espacial da fonte tão omnidirecional quanto
possível. As fontes devem ser de banda larga, porém, limitações físicas impedem que se construa

219
tais, com eficiência e linearidade desejadas, sem que se limite a largura de banda de utilização. Esta
imposição resulta em sistemas de áudio de transdução multi-via, isto é, um conjunto diferente de
alto-falante/caixa, para cada faixa de frequências.
Na utilização da fonte, seja em laboratório ou em campo, uma necessidade evidente é que a
amplitude gerada apresente, em uma determinada banda de frequências, uma faixa dinâmica que
supere, por uma determinada diferença, a amplitude do ruído de fundo presente no ambiente. Como
exemplo, para medição do TR 60 seria necessário que a fonte gerasse pelo menos 60 dB de
diferença. Para um ruído de fundo de aproximadamente 30 dB, como em uma câmara de
reverberação, a amplitude minima da fonte é de 90 dB. Já para um ruido de 85 dB, em condições de
campo, a fonte deveria gerar 135 dB, o que em baixa frequência é um requisito especificamente
difícil para apenas um alto-falante. Como na prática, o TR60 é estimado no intervalo entre -5 e -35
dB, os requisitos de amplitude são amenizados.
O conjunto desses requisitos implica que se busca, em tese, um sistema que gere sinais acústicos de
características tanto quanto possível perfeitamente impulsivas. Estes requisitos, quando associados
as necessidades operacionais, definem os desafios do projeto de uma fonte sonora de referencia.

2. CAIXA DE SOM
O modelo de caixa de som é do tipo selado, principalmente por tratar-se de um sistema de sintonia
simples, e de propriedades direcionais previsíveis. O sistema caixa selada opera com uma atenuação
de -12 dB/8ª, condizente com um sistema linear invariante de 2ª ordem (SMALL, 1972.).
A seleção do sistema caixa selada se deve a alguns fatores. Primeiro, a utilização de caixas mais
complexas de ordem superior (tais como qualquer uma que apresente um duto) piora o
comportamento transiente do sistema, resultando em um aumento do atraso de grupo (STAGGS,
1982.). Além disso, os dutos do sistema possuem ressonâncias de alta frequência, as quais
dificultam a limitação da banda de operação. Os sistemas dutados, quando exigidos na resposta em
amplitude, na medida em que a velocidade do ar supera 30 m/s, produzem fluxos hidrodinâmicos
não lineares, gerando ruído de banda larga. Por último, o sistema de caixa dutada (4ª ordem/
atenuação de 24 dB/8ª) pode apresentar irregularidades no padrão direcional, devido a interações
entre a radiação do duto e do alto-falante (STRAHM, 1986.),do que resulta uma interação espacial
entre fonte e meio mais complexo de estimar do que em caixas seladas.
A caixa de som de múltiplos alto-falantes de câmara compartilhada resulta em um aumento de 3 dB
de sensibilidade para cada alto-falante adicional. Isto significa que, para uma mesma faixa
dinâmicas de operação, o sistema de múltiplos alto-falantes terá um menor nível de distorção
harmônica total (KLIPPEL, 1992.) .
Além do aumento de sensibilidade, a escolha do tetraedro como modelo geométrico da caixa se
deve a algumas razões. As normas especificam as dimensões máximas que a caixa deve possuir.
Para ensaios realizados na banda normal de operações, o sistema pode ter no máximo 50 cm de
aresta (ISO140-3). Disto resulta um volume máximo de aproximadamente 75 L, no caso de um
cubo. Uma recomendação adicional referente ao tamanho da caixa é que o volume ocupado pelo
sistema seja inferior a 1% do total do ambiente (ISO3741).
Entre os sólidos regulares, para uma mesma aresta, o tetraedro apresenta o menor volume ocupado.
Disto resulta que, para um mesmo modelo de alto-falante, a menor distorção espacial relacionada ao
volume deslocado pelo sistema, será a do tetraedro. A caixa tetraedrica com um alto-falante em
cada face é um sólido regular onde é possível realizar uma fonte sonora de primeira ordem
direcional completa (um monopolo de ordem 0, mais três componentes figura de 8 de ordem
(GERZON, 1972). O fato de o tetraedro minimizar a distância entre os alto-falantes resulta que o
comportamento na região de campo distante apresenta irregularidades de cancelamento no espectro
(comb-filtering) em frequências relativamente mais altas, fora da banda de frequência de operações.

220
Da mesma forma, a direcionalidade ocasionada pela variação do comprimento de onda em relação
ao diâmetro do alto-falante, presente em todos os transdutores deste tipo, diminui pela
característica monopolar da caixa. Por último, de estudos realizados na determinação da difração
dos diferentes formatos de caixas (OLSON, 1969), o piramidal apresenta algo em torno de 2.5 dB
de aumento na região de máximo de difração (baffle step), tendo a variação a característica de um
filtro shelv dependente da frequência. De todos este fatores, acredita-se que o formato do tetraedro
resulta em uma fonte sonora omnidirecional, compatível com esses requsitos das normas.
O gabinete acústico foi montado em formato de um tetraedro regular a partir de 4 placas de MDF
(medium density fiberboard) de 30 mm. As paredes da caixa foram fixadas com cola para madeira e
parafusos. A aresta total máxima interna é de 100 cm. O volume total da caixa estimado é de 111
L . Em cada face foi acrescentada uma placa de MDF de 20 mm, onde foi aberto um orifício
circular de 280 mm em que os alto-falantes foram assentados. Na placa inferior foram acoplados
conectores elétricos de grandes sinais tipo SPEAKON (marca registrada Neutrik). Nesta região
também foi feito um orifício de 1 mm para equalização da pressão atmosférica do gabinete. Foram
adicionados pedestais removíveis de forma que a caixa fica-se com uma altura nominal de 1.2 m.
No período posterior à construção, foi constatada a inexistência de vazamentos de ar do gabinete. A
espessura total da parede é de 50 mm, o que contribuiu significativamente para a rigidez da caixa.
Por se tratar do primeiro teste do sistema, não foi adicionado nenhum tipo de material absorvente na
parte interna do gabinete, de forma a abrandar possíveis picos na resposta em frequência.
A caixa construída teve como filosofia de projeto otimizar as características de desempenho em
detrimento as características de portabilidade, como de pode notar na Fig. 1, onde é apresentada
uma fotografia da caixa tirada durante o ensaio de potência sonora em câmara reverberante.

Figura 1: Caixa de som tetraédrica a)Vista superior b) vista inferior

2.1. ALTO-FALANTE
O alto-falante selecionado é um subwoofer de 28 cm de diâmetro nominal (12'') da fabricante
Selenium, modelo 12SW13A. Sua potência nominal é de 450 W. Uma fotografia do subwoofer é
apresentada na Fig. 2. Os parâmetros elétricos, mecânicos e acústicos do alto-falante são
apresentados na Tab. 1, segundo folha de dados do fabricante.

Figura 2: Alto-falante Selenium modelo 12SW13A

221
Este alto-falante possui uma bobina dupla com impedância nominal de 4 ohms por bobina. A
principal razão da escolha do modelo é o fato de este ser adequado para caixas seladas, como
resultado de um fator de eficiência de banda de 44,9 (SMALL, 1972.). Ao se utilizar de 4
transdutores operando em uma mesma câmara, deve-se multiplicar o volume do sistema pelo
mesmo fator. Como o volume da caixa é de aproximadamente 100 L, os alto-falantes com volume
recomendado de 25 L puderam ser utilizados. Desta forma, se conseguiu a frequência de sintonia
desejada para o sistema (caixa), assim como se manteve as características às quais o alto-falante foi
projetado para funcionar.

Parâmetros Thiele-Small 12SW13A


Fs (Hz) 35
Qms 10.08
Qes 0.78
Qts 0.73
Vas (l) 49
Xmax (mm) 7
Xmech (mm) 29.3
Pe (W) 450
Vd (cm3) 329
EBP 44.9
Znom (ohm) 4+4
n0 (%) 0.27
Sensibilidade 1V/1m (dB) 87
Re (ohm) 3.7+3.7
Le (mH) 6.193
Bl (Tm) 12.6
Dia (mm) 28
Vd (cm3) 329
Sd (m2) 0.057
Mmd (g) 149
Cms (um/N) 130
Rms (Kg/s) 3.3
Tabela 1: Parametros Thielle/Small

2.2. SISTEMA DE AUDIO


O sistema de áudio completo é constituído por microfones de equalização modelo ECM8000, um
divisor de frequências analógico CX3400, um processador digital DEQ2496, e um equalizador
gráfico analógico FBQ2600, sendo todos equipamentos da fabricante Behringer. O amplificador de
potência utilizado foi um XTI4000 da fabricante Crown/Harman. O sistema de aquisição de sinais
utilizado foi o Solo Blue 01 dB da fabricante Metravib. O sistema foi calibrado em 94 dB por um
calibrador B&K modelo 4230. O sistema de cabeamento no sistema de geração é do tipo
balanceado. Um diagrama do sistema é apresentado na Fig. 3.
O sistema foi testado inteiramente dentro da câmara reverberante. O NPS gerado foi ajustado a 94
dBA. Foi realizada, então, uma equalização automática do sistema, de forma que este apresenta-se
uma resposta plana na banda operação da frequência de 40 Hz até 160 Hz. Esta equalização é
realizada no processador de sinais em tempo real, com o microfone de equalização colocado nas
proximidades do eixo do alto-falante.
Os testes foram realizados pelo método do ruído interrompido, em detrimento à medição da
resposta impulsiva. Como se poderá notar nos resultados, os tempo de reverberação medidos foram
bastante altos, situação em que o teste realizado pelos métodos clássicos é mais recomendado
(ISO18233). A operação do sistema se deu da seguinte forma. Um sinal de ruído rosa foi gerado
pelo processador de sinais, com uma frequência de amostragem de 96 kHz, sendo interrompido
manualmente por um botão. A saída do processador foi conectada ao crossover, onde foi aplicado
ao sinal um filtro passa-alta sub sônico com frequência de corte de 25 Hz, com característica
222
Butterworth de -12 dB/8, de forma a se limitar a excursão em baixa frequência, fora da banda de
operação almejada. Da mesma forma, para utilização do subwwofer em conjunto com o sistema
dodecaédrico, foi aplicado um filtro passa-baixa, com frequência de corte à 120 Hz, do tipo
Linkwitz-Ryley de -24 dB/8 (LINKIWITZ, 1976). O comportamento na alta frequência do sistema
produziu uma transição de amplitude com um nível de potência constante entre as vias.

Figura 3 : Diagrama do sistema de medição utilizado


3. RESULTADOS
A potência sonora da fonte foi medida segundo a norma ISO 3741. A câmara de reverberação utilizada
possui um volume de pouco mais de 200 m 3 . Foram utilizadas 10 posições sucessivas de microfone
e duas posições da fonte. Em cada ponto foram realizadas 3 medições consecutivas. O número
total de medições analisadas foi de 60. O nível de potência sonora medido é apresentado na Fig.
4.

Figura 4: Nível de potência sonora da fonte segundo norma ISO 3741

223
Para o teste do sistema em condições operacionais, foi realizado um ensaio de absorção segundo
norma ISO 354. As condições de teste foram similares as utilizadas na medição do nível de
potência sonora. O nº. total de medições do decaimento sonoro foi de 120. A amostra de material
utilizada consiste de duas camadas, sendo o mais denso colocado por debaixo. A utilização das
duas camadas de material se deve a necessidade de se obter um coeficiente de absorção
significativo em baixas frequências para fins de análise do desempenho do sistema. A amostra
possui 12 m2. Uma figura do arranjo do material é apresentada na Fig. 5.

Figura 5: Arranjo do material absorvente na câmara de reverberação

Os resultados do tempo de reverberação são apresentados na Fig. 6, para a câmara de


reverberação vazia e cheia, respectivamente.

Figura 6: Tempo de reverberação da câmara de reverberação nas duas condições de medição

A partir das medidas do tempo de reverberação foi calculado o coeficiente de absorção de Sabine
(ISO 354). Na Fig. 7 é apresentado o resultado do coeficiente de absorção da sala vazia, assim
como o coeficiente de absorção do material.

224
Figura 7: Coeficiente de absorção medido segundo norma ISO 354

4. CONCLUSÕES
Através do trabalho realizado, foi desenvolvido um subwoofer que opera com uma largura de
banda padronizada entre 40 Hz e 100 Hz. O sistema gerou, nesta banda de frequências uma faixa
dinâmica de mais de 100 dB, em relação ao ruído de fundo ambiente, apresentando este
desempenho à metade da potência nominal do amplificador de áudio. Os resultados obtidos
durante a operação da fonte foram considerados satisfatórios. O tempo de reverberação, seguiu a
característica de aumento linear de amplitude em baixas frequências. Ressalta-se o baixo desvio
padrão encontrado nas medidas do TR60. Além disso, é notável a baixa absorção da câmara
reverberante quando vazia.

5. REFERÊNCIAS
1. Small, R. H. (1972). Closed box loudspeaker systems Part 1: Analysis. JAES Volume 20 Issue 10 pp. 798-808;
December 1972.
2. Staggs, V. (1982). Transient Response Equalization of Sealed-Box Loudspeakers. JAES Volume 30 Issue 12
pp. 906-911; December 1982
3. Strahm, C. N. (1986). Complete analysis of single and multiple box loudspeaker enclousures. AES Convention
81st; 1986.
4. Klippel W. (1992). Nonlinear Large-Signal Behavior of Electrodynamic Loudspeakers at Low Frequencies
JAES Volume 40 Issue 6 pp. 483-496; June 1992
5. ISO 140-3:1995 Acoustics - Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part 3:
Laboratory measurements of airborne sound insulation of building elements
6. ISO 3741:2010 Acoustics - Determination of sound power levels and sound energy levels of noise sources
using sound pressure - Precision methods for reverberation test rooms
7. Gerzon, M. (1972). Periphony: With-Height Sound Reproduction. JAES Volume 21 Issue 1 pp. 2-10; February
1973
8. Olson, H. F. (1969). Direct Radiator Loudspeaker Enclosures. JAES Volume 17 Issue 1 pp. 22-29; January
1969
9. ww.selenium.com.br
10. ISO 18233:2006 Acoustics - Application of new measurement methods in building and room acoustics
11. ISO 354:2003 Acoustics - Measurement of sound absorption in a reverberation room

225
MODELAGEM ELETROACÚSTICA DE ALTO-FALANTES
UTILIZADOS COMO ABSORVEDORES SONOROS ATIVOS

TAVARES, João Paulo de Oliveira1; PASQUAL, Alexander Mattioli2

(1, 2) Universidade Federal de Lavras, Departamento de Engenharia, Campus Universitário, 37200-000


Lavras/MG, Brasil, Caixa Postal 3037.

RESUMO
Superfícies com alta capacidade de absorção sonora encontram inúmeras aplicações em controle de ruído
e acústica arquitetônica. Comumente, painéis absorventes são construídos a partir de materiais porosos.
Entretanto, tais sistemas passivos não são eficientes nas baixas frequências. Neste caso, superfícies ativas
formadas de alto-falantes podem ser usadas, sendo que estes transdutores são comandados de modo a
atuarem como absorvedores sonoros, e não como fontes acústicas. Este trabalho avalia teórica e
computacionalmente a absorção sonora propiciada por um alto-falante eletrodinâmico dotado de um
sistema de controle ativo de impedância. Para tanto, um modelo eletroacústico deste tipo de transdutor
montado na extremidade de um duto retilíneo é apresentado, o qual permite calcular a tensão elétrica de
controle a partir da impedância mecânica desejada na superfície externa do diafragma do alto-falante. Os
resultados das simulações apresentadas neste trabalho mostram que é possível fazer com que o alto-
falante absorva teoricamente toda a energia sonora incidente numa ampla faixa de frequências. Contudo,
o sinal de controle pode se tornar excessivamente elevado para determinadas faixas de frequências,
impondo limitações práticas à absorção sonora total.

ABSTRACT
Strongly absorbent surfaces are widely applied in noise control and architectural acoustics. Usually,
absorbent panels are made up of porous materials. However, such passive systems are inefficient in the
low-frequency range. In this case, active surfaces formed by loudspeakers can be used, which are driven
so that they operate as sound absorbers instead of acoustic sources. This work presents a theoretical and
computational evaluation of the sound absorption provided by an electrodynamic loudspeaker with an
impedance-based active control system. In order to address this task, an electroacoustic model of this
kind of transducer placed at one end of a straight duct is developed, so that the control voltage can be
calculated from the desired mechanical impedance at the outer surface of the loudspeaker diaphragm.
Simulation results show that the loudspeaker is theoretically able to absorb all the incident sound energy
in a large frequency range. However, the control signal might become too large for some frequency
ranges, and thus leading to practical constraints to the total sound absorption.
Palavras-chave: Eletroacústica. Absorção sonora. Alto-falantes. Controle ativo de ruído.

1. INTRODUÇÃO
Superfícies dotadas de uma alta capacidade de absorção sonora são desejáveis em várias
aplicações, tais como a redução do tempo de reverberação em ambientes internos, o isolamento
acústico de salas contíguas, a atenuação do ruído transmitido ao interior de meios de transporte, a
obtenção de superfícies anecóicas para medições acústicas em laboratório, entre outras. A forma
mais usual de obter superfícies altamente absorventes é utilizando materiais porosos, e.g.,
espumas flexíveis, aglomerados de cortiça e fibras minerais.  VORLÄNDER (2008) apresenta
os coeficientes de absorção sonora em bandas de oitava para várias superfícies de interesse em

226
acústica arquitetônica.  No entanto, esta abordagem apresenta limitações práticas nas baixas
frequências, quando o elevado comprimento de onda faz com que o volume de material
absorvente necessário seja muito grande, restringindo significativamente sua aplicabilidade.

A fim de proporcionar uma elevada absorção sonora nas baixas frequências, superfícies ativas
podem ser utilizadas em detrimento das passivas, como aquelas citadas acima: uma superfície é
dita passiva quando a energia que ela absorve provém exclusivamente da energia que ela recebe
de fontes primárias, sendo estas fontes acústicas sobre as quais usualmente não se tem controle
algum. Quando a energia absorvida provém, ao menos parcialmente, de fontes secundárias, que
são controláveis (um amplificador de áudio, por exemplo), a superfície é dita ativa. Atribui-se a
OLSON e MAY (1953) a introdução formal do conceito de absorção ativa baseada em
transdutores eletroacústicos. Apesar de ser uma ideia antiga, o uso de alto-falantes na
constituição de superfícies ativas tem despertado um interesse renovado nos últimos anos,
conforme atestam LISSEK et al. (2011) e BOULANDET e LISSEK (2011).

O presente trabalho versa sobre alto-falantes eletrodinâmicos munidos de um sistema de controle


ativo de impedância, o qual visa a operação destes transdutores como absorvedores sonoros
ativos, em vez de fontes sonoras ou meros absorvedores passivos. Especificamente, estuda-se a
viabilidade de se obter uma terminação totalmente absorvente num sistema de dutos, na qual o
alto-falante é montado. Desta forma, entre as várias técnicas existentes para o controle ativo de
ruído em dutos, sumarizadas por FLEMING et al. (2007), este trabalho se concentra naquelas
baseadas no controle de impedância. Tal sistema com absorção total é desejável em algumas
aplicações práticas como, por exemplo, em medições da perda de transmissão sonora em
silenciadores automotivos, onde a existência de uma terminação anecóica simplificaria
apreciavelmente os procedimentos experimentais (TAO e SEYBERT, 2003).

A fim de avaliar a absorção sonora proporcionada pelo alto-falante, um modelo eletroacústico


deste transdutor montado na extremidade de um duto retilíneo é apresentado, a partir do qual
calcula-se a tensão elétrica de controle a ser aplicada ao alto-falante, assim como o coeficiente de
absorção sonora resultante. A partir de simulações computacionais, mostra-se que, devido ao
sistema de controle, alto-falantes eletrodinâmicos podem ser eficientemente utilizados como
absorvedores sonoros em baixas frequências.

2. MODELAGEM ELETROACÚSTICA
Nesta seção, apresenta-se um modelo eletroacústico linear do sistema mostrado na Fig. 1, o qual
é formado por um alto-falante eletrodinâmico montado na extremidade ( x  L ) de um duto
retilíneo de seção transversal constante. Assume-se que não há fontes ou sorvedouros sonoros em
0  x  L , porém, como este trabalho visa estudar o desempenho do alto-falante como
absorvedor sonoro, a existência de fontes acústicas em x  0 é subentendida.

L
onda incidente

onda refletida

x
Figura 1: Alto-falante montado numa das extremidades de um duto retilíneo de seção transversal constante.

Esta seção está subdividida em dois itens. No item 2.1, as equações que pretendem descrever o
comportamento dinâmico do sistema são apresentadas. O item 2.2 aborda dois casos particulares:
sistema puramente passivo, ou seja, não é aplicado um sinal de controle (tensão elétrica) ao alto-
227
falante; e sistema ativo, onde um sinal de controle é aplicado visando maximizar a absorção
sonora proporcionada pelo alto-falante.

2.1. Formulação
2.1.1. Propagação sonora em dutos
A propagação de ondas sonoras em dutos depende das condições de contorno, das dimensões do
duto e da frequência de excitação. Quando esta é suficientemente baixa ou a seção transversal do
duto é suficientemente pequena, tem-se apenas a propagação de ondas planas numa única
direção, ou seja, as grandezas acústicas não variam ao longo da seção transversal do duto. Neste
trabalho, assume-se que esta condição é satisfeita, simplificando consideravelmente a
modelagem do sistema.

Feitas as considerações acima e assumindo uma excitação harmônica, a pressão sonora em


0  x  L é dada por (KINSLER et al., 2000)

p( x, t )  ( Ae
i
 jkx
 Ar e jkx )e jt , (1)

onde x é a posição, t é o tempo, k   / c é o número de onda, c é a velocidade de propagação


sonora,  é a frequência angular, j  1 , e Ai e Ar são constantes complexas determinadas
j (t  kx )
pelas condições limites em x = 0 e x = L. Note que Ae
i e Ar e j (t  kx ) correspondem a ondas
planas que se propagam nos sentidos positivo e negativo do eixo x, respectivamente. A primeira
é a onda incidente no alto-falante, ao passo que a segunda é a onda refletida/emitida por ele,
conforme ilustra a Fig. 1.

Além disso, utilizando a equação de Euler linearizada, chega-se na seguinte expressão para a
velocidade de partícula:

1
 ( x, t )  ( Ai e jkx  Ar e jkx )e jt , (2)
c

onde ρ é a densidade do meio.

Outra grandeza de interesse é a impedância mecânica em x = L , a qual será referenciada como


Z mL . Pelas Eqs. 1 e 2, tem-se que

Sp( L, t )  A e jkL  Ar e jkL 


Z mL    cS  i  jkL , (3)
 ( L, t )  Ai e  Ar e jkL 

onde S a área da seção transversal do duto.

Sabe-se que as intensidades sonoras associadas às ondas incidente e refletida são proporcionais a
| Ai |2 e | Ar |2 , respectivamente (KINSLER, 2000). Deste modo, a absorção sonora propiciada
pelo alto-falante pode ser adequadamente avaliada pela grandeza

Ai  Ar
2 2

 2
, (4)
Ai

228
a qual é denominada coeficiente de absorção sonora (VORLÄNDER, 2008). Caso não seja
aplicada uma tensão elétrica ao alto-falante, a terminação em x = L será puramente passiva e,
consequentemente, tem-se 0 | Ar || Ai | , logo, 0    1 . Do contrário, tem-se 0 | Ar |  ,
conduzindo a     1 ; um coeficiente de absorção negativo indica que a potência elétrica
fornecida ao alto-falante acarreta a inversão do sentido do fluxo de energia no duto, ou seja,
se   0 , a energia flui no sentido negativo do eixo x.

Ademais, manipulando as Eqs. 3 e 4, chega-se a

2
 cS  Z ml
  1 , (5)
 cS  Z ml

que fornece  em função de Z ml . Comparada aos coeficientes Ai e Ar , a impedância Z ml pode


ser mais facilmente relacionada ao comportamento eletromecânico do alto-falante, conforme será
visto a seguir. Logo, a Eq. 5 é preferida em detrimento da Eq. 4. Finalmente, salienta-se que  ,
Z ml , Ai e Ar dependem da frequência.

2.1.2. Alto-falantes eletrodinâmicos


Um alto-falante eletrodinâmico é um transdutor eletroacústico que possui uma bobina móvel
solidária a um diafragma, a qual é imersa em um campo magnético radial produzido por um imã
permanente. Quando há corrente elétrica passando pelas espiras da bobina, uma força magnética
é produzida fazendo com que o diafragma vibre. Para maiores detalhes, ver ROSSI (2007).

Um modelo de alto-falante eletrodinâmico pode ser obtido considerando um sistema que contém
uma parte mecânica acoplada eletrodinamicamente a uma parte elétrica. Segundo SMALL
(1972), em baixas frequências, a parte mecânica pode ser modelada como um sistema massa-
mola-amortecedor de um grau de liberdade, ao passo que a parte elétrica é representada por um
circuito contendo duas fontes de tensão e um resistor, conforme mostra a Fig. 2. No que se refere
à parte mecânica mostrada na figura, v é a velocidade do diafragma, Fmag é a força magnética,
Fac é a força devido à carga acústica, M ms é a massa móvel do alto-falante, e Rms e Cms são,
respectivamente, a resistência mecânica e a flexibilidade da suspensão do alto-falante. Para a
parte elétrica, u é a tensão elétrica aplicada aos terminais da bobina, i é a corrente elétrica, Re é
a resistência elétrica da bobina e ui é a tensão induzida pelo movimento da bobina.

i
v
Cms
Fmag
Re M ms
u Fac
ui Rms

Figura 2: Modelo de alto-falante eletrodinâmico: parte elétrica à esquerda, parte mecânica à direita.

O acoplamento eletrodinâmico se dá através de ui e Fmag , os quais dependem de v e de i ,


respectivamente. Sendo B a densidade do fluxo magnético e l o comprimento do enrolamento
da bobina, tem-se que (ROSSI, 2007)

ui (t )  Blv(t ) , (6)

229
e
Fmag (t )  Bli(t ) . (7)

Desprezando a pressão acústica que atua na face interna do diafragma, tem-se que
Fac (t )  Sp( L, t ) . Além disso, v(t )   ( L, t ) . Desta forma, a Eq. 3 conduz a

Fac (t )  Z mLv(t ) . (8)

Aplicando a segunda lei de Kirchhoff ao circuito mostrado na Fig. 2 e utilizando a Eq. 6, obtém-
se

u (t )  Blv(t )
i(t )  . (9)
Re

Analogamente, aplicando a segunda lei de Newton ao sistema mecânico da Fig. 2, obtém-se

1
Cms 
Fac (t )  Fmag (t )  Rms v(t )  v(t )dt  M ms v(t ) , (10)

onde v(t ) é a derivada de v(t ) .

A substituição das Eqs. 7, 8 e 9 na Eq. 10 conduz a

 ( Bl )2  1 Bl
M ms v(t )   Rms 
 Re
 Z mL  v(t ) 
 Cms  v(t )dt  u (t ) .
Re
(11)

Assumindo uma dependência temporal da forma e jt , a Eq. 11 torna-se

Re  ( Bl )2 
U  ms
Z   Z mL  V , (12)
Bl  Re 

onde Zms  j M ms  Rms  ( jCms )1 é a impedância mecânica do alto-falante, e U e V são as


amplitudes complexas de u (t ) e v(t ) , respectivamente. Conhecidos os parâmetros do modelo, a
Eq. 12 permite calcular a tensão elétrica a ser aplicada ao alto-falante a fim de obter uma dada
impedância Z mL . O valor de V também deve ser conhecido, o qual pode ser medido através de
sensores acústicos posicionados ao longo do duto, por exemplo. É importante salientar que U, V,
Z ms e Z mL dependem da frequência.

2.2. Casos particulares


2.2.1. Sistema passivo
No que diz respeito aos conceitos de sistema passivo/ativo e fonte primária/secundária de
energia, tem-se que, para o sistema mostrado na Fig. 1, a fonte primária corresponde às fontes
acústicas localizadas em x  0 , e a fonte secundária ao amplificador de áudio utilizado para
aplicar uma tensão elétrica ao alto-falante. Portanto, quando nenhuma energia elétrica é fornecida
ao transdutor, não há fontes secundárias, logo, o sistema é passivo. Caso contrário, o sistema será
ativo.

230
Face ao exposto, o modelo matemático que descreve o comportamento do sistema passivo pode
ser obtido a partir das equações gerais apresentadas anteriormente neste trabalho, bastando para
isso considerar U  0 . Deste modo, como V  0 , a Eq. 12 conduz a

( Bl )2
Z mL  Z ms  , (13)
Re

que fornece a impedância mecânica em x = L em função dos parâmetros eletromecânicos do alto-


falante. O termo ( Bl )2 / Re é a resistência mecânica equivalente à resistência elétrica Re , a qual
tem o efeito de aumentar o amortecimento mecânico do sistema. Logo, a Eq. 13 é válida caso o
circuito elétrico esteja fechado; estando o circuito aberto, Re não tem efeito algum e a equação
simplifica-se para

Z mL  Z ms . (14)

Uma vez que Z mL tenha sido obtido pela Eq. 13 ou 14, segundo o caso, o coeficiente de absorção
sonora pode ser calculado pela Eq. 5.

2.2.2. Sistema ativo para maximizar a absorção sonora


Conforme dito anteriormente, o maior valor possível para o coeficiente de absorção é   1 ,
quando toda a energia incidente é absorvida ( Ar  0 ), formando uma terminação anecóica. A
Eq. 5 revela que esta condição é satisfeita se Z ml   cS . Utilizando a Eq. 13 ou 14, é possível
alterar os parâmetros eletromecânicos do alto-falante a fim de produzir Z ml   cS . Porém, como
Z ms depende de  , este procedimento conduziria a   1 apenas para uma faixa de frequências
muito estreita. Visando ampliar esta faixa, pode-se usar um sistema ativo. Neste caso, a tensão
elétrica a ser aplicada pode ser calculada substituindo a expressão Z ml   cS na Eq. 12, o que
resulta em

Re  ( Bl )2 
U  ms
Z    cS  V . (15)
Bl  Re 

Uma vez que a condição Z ml   cS foi imposta, tem-se necessariamente   1 . Entretanto, para
que o sistema seja estável, uma análise da Eq. 11 mostra que a desigualdade
Rms  ( Bl )2 Re 1   cS  0 deve ser observada.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para ilustrar as idéias e desenvolvimentos apresentados ao longo deste trabalho, esta seção
fornece alguns resultados de simulações computacionais. Considera-se um alto-falante de 2 in da
AuraSound®, modelo NSW2-326-8A, cujos parâmetros são indicados na Tab. 1.

Tabela 1: Parâmetros eletromecânicos do alto-falante NSW2-326-8A da AuraSound®.


Parâmetro: M ms (kg) Rms (N.s/m) Cms (m/N) Re () Bl (T.m) S d (m2)
Valor: 1,1.10-3 0,27 4,72.10-4 6,30 3,17 1,19.10-3
Fonte: Pasqual et al., 2010.

231
O parâmetro S d é a área efetiva do alto-falante, a qual assume-se igual à área da seção
transversal do duto, ou seja, S  Sd . Além disso, adotou-se c = 343 m/s e  = 1,21 kg/m3, valores
típicos quando o meio de propagação é o ar em condições ambientes.

A Fig. 3 mostra as curvas de impedância ( | Z ml | ) e coeficiente de absorção (  ) correspondentes


a três casos: sistema ativo para maximizar  , sistema passivo com circuito fechado, e sistema
passivo com circuito aberto. Para o sistema passivo, essas curvas foram obtidas utilizando as
Eqs. 5, 13 e 14. Para o sistema ativo, impôs-se Zml   cS  0, 4939    1 , conforme discutido
anteriormente.

2
10 1
Sist. ativo: terminação anecóica
Sist. passivo: circuito fechado 0.9
Sist. passivo: circuito aberto
0.8
1 0.7
10
0.6
|Z |
ml


0.5

0.4
0
10
0.3
0.2

0.1
-1
10 1 2 3
0 1 2 3
10 10 10 10 10 10
Frequência (Hz) Frequência (Hz)
Figura 3: Módulo da impedância mecânica em x = L (à esquerda) e coeficiente de absorção sonora (à direita).

A Fig. 3 indica que, contrariamente ao sistema ativo, o sistema passivo atua eficazmente como
absorvedor sonoro apenas nas frequências próximas à ressonância do transdutor, a saber,
(M msCms )1/2 / 2  221 Hz . Isto evidencia o interesse em utilizar o controle ativo. Ademais,
como a resistência elétrica aumenta o amortecimento, a implementação do sistema passivo com
circuito fechado reduz o pico e alarga a curva de absorção comparado ao sistema com circuito
aberto.

70

60

50
| U/V | (V/m/s)

40

30

20

10

0 1 2 3
10 10 10
Frequência (Hz)
Figura 4: Módulo da razão U/V que maximiza o coeficiente de absorção.

A Fig.4 apresenta o módulo da razão U / V que produz as curvas mostradas na Fig. 3 para o
sistema ativo, a qual foi calculada através da Eq. 15. Observa-se que, embora sempre seja
possível obter um valor teórico de U para que se tenha   1 , valores excessivamente elevados
podem ser necessários na medida em que a frequência se afasta da ressonância. Por exemplo, a
figura mostra que | U / V | 10 para frequências inferiores a 60 Hz e superiores a 800 Hz. Este

232
fato indica que, nestas frequências, níveis aceitáveis de tensão só serão obtidos caso | V | seja
muito pequeno, ou seja, caso as fontes primárias sejam de baixa potência. Além disso, qualquer
que seja a situação, | V | não deve ultrapassar o limite imposto pelo deslocamento máximo
admissível para o diafragma do alto-falante, sob pena de danificar o transdutor.

Finalmente, para o caso em estudo, tem-se que Rms  ( Bl )2 Re 1   cS  1,3712  0 ; logo, o


sistema é estável.

4. CONCLUSÕES
Neste trabalho, apresentou-se um modelo de um alto-falante eletrodinâmico montado na
extremidade de um duto retilíneo, a partir do qual o desempenho deste tipo de transdutor como
absorvedor sonoro pode ser avaliado.

Os resultados de simulações computacionais para um alto-falante específico mostraram que tais


transdutores podem apresentar uma alta absorção sonora apenas numa faixa de frequências muito
limitada, em torno de sua frequência de ressonância. Entretanto, caso uma tensão elétrica
adequada seja aplicada ao alto-falante, mostrou-se que é possível fazer com que este absorva
teoricamente toda a energia sonora incidente numa ampla faixa de frequências, evidenciando o
interesse no controle ativo de impedância. Contudo, o sinal de controle pode se tornar
excessivamente elevado para frequências distantes daquela de ressonância, impondo limitações
práticas à absorção sonora total.

Como trabalhos futuros, os autores sugerem a análise detalhada do problema prático supracitado,
assim como das técnicas de controle em tempo real aplicáveis ao sistema em questão.

REFERÊNCIAS

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2. FLEMING, A. J., NIEDERBERGER, D., MOHEIMANI, S. O. R. e MORARI, M. (2007). Control of resonant
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John Wiley & Sons, New York.
4. LISSEK, H., BOULANDET, R. e FLEURY, R. (2011). Electroacoustic absorbers: Bridging the gap between
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6. PASQUAL, A. M., HERZOG, P. e ARRUDA, J. R. F. (2010). Theoretical and experimental analysis of the
electromechanical behavior of a compact spherical loudspeaker array for directivity control, The Journal of the
Acoustical Society of America 128(6), 3478-3488.
7. ROSSI, M. (2007). Audio, 1 ed., Presses Polytechniques et Universitaires Romandes, Lausanne.
8. SMALL, R. H. (1972). Direct-radiator loudspeaker system analysis, Journal of the Audio Engineering Society
20(5), 383-395.
9. TAO, Z. e SEYBERT, A. F. (2003). A review of current techniques for measuring muffler transmission loss,
SAE Technical Paper 2003-01-1653, 1-5.
10. VORLÄNDER, M. (2008). Auralization: Fundamentals of Acoustics, Modelling, Simulation, Algorithms and
Acoustic Virtual Reality, 1 ed., Springer-Verlag, Berlin.

233
MAPEAMENTO SONORO DA PERCEPÇÃO DE ALTURAS EM UMA
SALA A PARTIR DE ANÁLISE MODAL

MANNIS, José Augusto


Unicamp

RESUMO
Após uma breve revisão de referências bibliográficas sobre modos de vibração, neste artigo apresentamos
uma sala já construída dedicada à prática de yoga na qual a atividade vocal ocupa um lugar privilegiado,
notadamente para a entonação de mantras. Após um levantamento do local com medições, foi elaborada
uma planta e uma simulação do comportamento acústico modal da sala através do aplicativo Ansys. Os
resultados desta análise modal foram trabalhados para que pudessem ter uma representação compacta,
abrangente e precisa sobre a atuação dos modos em cada posição da sala ocupada pelos participantes das
práticas vocais. O que varia de um ponto a outro é a qualidade da escuta e essa informação acabou sendo
mapeada com uma representação mista envolvendo também notação musical.
ABSTRACT
After a brief review of the literature available about eigenmodes, in this article we present a room
dedicated to the practice of yoga, where the vocal activity occupies a privileged place, especially mantra
chanting. After taking measurements at the site, we drew up a plan and did a simulation of the modal
acoustic behavior of the room using Ansys software. The results of this modal analysis were studied and
adapted to provide compact, comprehensive, and accurate information about the modes of behavior in
each position occupied by the participants during their vocal practices. What varies from one point to the
next is the quality of listening, information that was ultimately mapped with mixed representation also
involving musical notation.
Palavras-chave: Modos de vibração, análise modal, acústica musical, acústica de salas, escuta musical

1 INTRODUÇÃO
Este artigo relata um estudo realizado para uma sala de prática de yoga, com o objetivo de
conhecer a resposta acústica percebida pelos ouvintes em função de sua localização dentro da
sala. Este trabalho foi suscitado pela incomum resposta acústica natural dessa sala de base
circular e teto abobadado, uma vez constatada pelos seus ocupantes a particularidade de
concentrar o som em sua região central, posição na qual se percebe múltiplas primeiras
reflexões, um som reverberante mais forte e uma sensação de espacialidade peculiar em relação
aos demais pontos. Os usuários do local queiram saber quais as alturas percebidas com maior
intensidade pelos ocupantes nas diversas posições da sala, sobretudo na posição central, para que
pudessem considerar essa informação no momento de estabelecer a disposição dos participantes
para as práticas de mantra. Os modos de vibração de uma sala são decorrência de ondas
estacionárias produzidas por reflexões simétricas entre superfícies (GADE, 2007, p. 387). Eles
ocorrem com maior proeminência em pequenas e médias salas, pois devido suas dimensões
menores, as frequencias dos modos se encontram no âmbito audível interagindo com as fontes
sonoras. Uma vez excitados, os modos entram em regime permanente. Quando as fontes cessam
de emitir o som, as reflexões simétricas seguem por um tempo prolongando ressonâncias num
comprimento de onda específico ao modo. Esse caimento é definido por Davis e Patronis (2006,
pp.178-180) como caimento modal e não como reverberação, uma vez que esta, a rigor, seria
unicamente o tempo de caimento percebido ou captado em campo difuso, ou seja, além da
distância crítica (dc) (SPAGNOLO, 2001 p.675-676) (MANNIS, 2008 p.75-79) sem a influência
234
dos modos de vibração. Em pequenas e médias salas, as reflexões simétricas interferem no
tempo de caimento. É habitual considerar os modos como adversidades, fontes de anomalias
modais (EVEREST e POHLMANN, 2009, p.335) e buscar evitá-los ou contorná-los no design
de uma sala. Porém, neste caso a situação é inversa. Busca-se potencializar as respostas
produzidas pelos modos para intensificar emissões vocais. Tomou-se a precaução de verificar
como os modos progridem, ou seja, como evolui a densidade modal. Como nossa percepção é
logarítmica a densidade foi calculada dessa mesma forma, em intervalos de 1/3 de oitava,
conforme o Critério de Bonello (BONELLO, 1979, 1981 apud EVEREST, 1988, p. 58-59)
segundo o qual essa progressão deve ser constante em sua evolução. Esse quesito foi verificado
para esta sala a partir dos resultados da análise modal e será exposto mais adiante. Portanto,
estamos procurando o aproveitamento dos caimentos modais como um recurso expressivo
aplicado à prática vocal e, para isso, buscamos conhecer em que locais da sala os modos atuam
de forma mais presente e quais são as ressonâncias compartilhadas entre as regiões.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Características do local, levantamento e simulação


A sala consiste basicamente num grande círculo com quase 9m de diâmetro tendo um pequeno
hall de entrada. O tempo de reverberação (medido com o aplicativo livre AcMus desenvolvido
pela Usp) é da ordem de 3s mas certamente com influências modais. Definida em função do
volume e do tempo de reverberação a distância crítica correlata é de 0,8m. Na parte superior
possui uma passarela estreita e acima desta uma abóbada com foco no centro da sala a 1m acima
do piso. O piso é coberto por tatames plastificados e as paredes são em alvenaria, rebocada e
pintada. Não há móveis nem objetos decorativos influenciando o comportamento acústico do
local. As aberturas para ambientes externos e passagens como portas e janelas não foram
considerados. Após o levantamento das dimensões da sala (Abase=65m2 e V=250m3) foi realizada
planta em aplicativo de desenho bem como a análise por elementos finitos no aplicativo Ansys
dos primeiros 240 modos de vibração (22,54 a 169,80Hz). A construção do modelo de simulação
foi efetuada com pequenos segmentos de reta, pois a construção geométrica de áreas extrudando
dois arcos de círculo apresentou irregularidades no aplicativo empregado. Os segmentos
substituíram arcos de 22,5º, havendo, portanto, quatro segmentos por quadrante, 16 segmentos
para todo o círculo.

Figura 1 – Sala analisada. Corte lateral e planta.


Os dados para a análise modal foram os seguintes:
• Elemento: FLUID30
• po = 2.10-5 Pa
235
• Densidade do ar: 1,2kg/m3
• Velocidade de propagação: 340m/s (14,56 ºC)
• Admitância do contorno: 0 (reflexão total)
• Numero de modos: 240
Devido à capacidade de memória do dispositivo de simulação a malha foi construída com
elementos simétricos à base de tetraedros com dimensão mínima de 22cm, limitando, portanto, a
resposta em frequência a 261Hz (λ/6). Devido à progressão exponencial de modos em função do
aumento da frequência, neste trabalho nos limitamos aos primeiros 240 modos, chegando até
quase 170Hz. Buscou-se atingir 220Hz (40Hz abaixo da frequencia de corte 261Hz)
selecionando apenas os modos com mais energia e os máximos de pressão na posição central da
sala (v. Figura 11, a partir de 170Hz) ), para compreender um pouco mais da tessitura vocal,
pelo menos masculina, esta com fundamentais começando em 82Hz (voz de baixo) e, geralmente
para as vozes comuns de tenor, chegando ao redor de 400Hz.

2.2 Procedimentos posteriores


Após os primeiros resultados, procedimentos foram estabelecidos para avaliação dos mesmos ao
que se seguiram outros resultados. Por estarem estreitamente vinculados aos resultados, alguns
procedimentos serão apresentados no item seguinte.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resultados da análise modal


O aplicativo gerou uma lista com as respectivas frequências dos 240 modos solicitados bem
como o mapeamento em cores das zonas em pressão sonora para cada onda estacionária (Figura
2 e Figura 3). Como o objetivo da investigação era conhecer como a percepção sonora é
influenciada nos diferentes pontos da sala, foram especificadas cinco regiões onde se situariam
os ouvintes: Região C8 - grupo de oito pessoas circularmente dispostas a um raio de 1m a partir
do centro da sala; Região C16 - grupo de 16 pessoas a um raio de 2m; Região C32 - grupo
situado próximo à parede, a um raio de 4m; Região C32S - outro grupo de 32 pessoas na
passarela superior (C32S) e a Região CT - posição central ocupada por uma única pessoa.

Figura 2 – Esq.: Resultados de análise: acima - Modo28 (73.93Hz); abaixo - Modo55 (97.02Hz) – Dir.: Divisão das
regiões correspondendo cada uma a um grupo de pessoas dispostas circularmente na sala: C32S, C32, C16, C8 e, ao
centro, CT.

236
Na Figura 2, onde aparecem os grupos de pessoas dispostas em círculo, a planta está invertida
por ser a posição de observação dos modos pela base da sala, vista de uma posição externa,
portanto, vista do piso para o teto. Esse é o ponto de vista fornecido pelos resultados do
aplicativo Ansys.
As alturas percebidas com mais intensidade para os ouvintes de um grupo são aquelas
correspondendo a estacionárias tendo ventres de pressão mais intensos nas suas posições de
escuta.
Para a prática de mantras ou para energização de uma pessoa ao centro com a participação de
mais de um grupo, é necessário conhecer, além da resposta em frequência prevista para cada
grupo, as frequências correspondendo às alturas comuns entre os grupos, ou seja, aquelas
ouvidas com mais intensidade por todos os participantes. São essas alturas que promoverão a
ligação entre os grupos. Portanto, o que se busca são as frequências das estacionárias tendo
ventres de pressão com valores elevados presentes simultaneamente nas regiões dos diferentes
grupos. Para conhecer o comportamento sonoro nas posições de escuta, foi adotada a avaliação
através da presença de ventres de pressão na área de cada região.

3.2 Avaliação através da presença de ventres de pressão na área de cada região


Uma vez delimitadas as regiões a serem estudadas, estas foram demarcadas na planta da sala. Em
seguida, foram importadas as figuras resultantes da análise modal, sendo tratadas em escala de
forma a se sobreporem perfeitamente aos desenhos para poder observar a incidência nas áreas de
cada região das zonas de pressão em cada modo, como na Figura 5.

Figura 3 – Modo 3 (26.98Hz|) com valor máximo de pressão de 33.1Pa; Modo 32 (80.06Hz), com valor máximo de
pressão de 140.3Pa.

Figura 4 – Análise pelo Critério de Bonello das frequências dos primeiros 240 modos.

237
Nos resultados da análise modal, os valores máximos de pressão em cada modo variaram num
âmbito de 33 a 140Pa. Observou-se que, quando os máximos presentes no modo ocupavam uma
área mais extensa, o valor máximo de pressão abaixava, como no caso do Modo 3 (26.98Hz),
com valor máximo de pressão 33.1Pa.

Figura 5 - Loudness Máximo (24): Modo13 (52.07.34Hz) - Grupo C32; Modo22(66.45Hz) - Grupo C8; Modo44
(86.38Hz) - Grupo C16.

Figura 6 – Loudness Destacado (12): Modo58 (97.70Hz) - Grupo C16; Modo77(109.24Hz) - Grupo C32;
Modo80 (11.41Hz) - Grupo C8.

Figura 7 – Loudness Moderado (6): Modo38 (83.98Hz) - Grupo C16; Modo39 (84.50Hz) - Grupo C32; Modo56
(97.27Hz) - Grupo C32.

Figura 8 – Loudness Menor (3): Modo51 (93.47Hz) - Grupo C32; Modo68 (103.25Hz) - Grupo C8;
Modo85 (113.61Hz) - Grupo C16; ausência total de valores de pressão máximos – as cores são suaves e
não saturadas.

238
Quando os máximos ou mínimos se concentravam em áreas mais reduzidas o valor máximo
aumentava proporcionalmente, como no Modo 32 (80.06Hz), com valor máximo de pressão
140.3Pa, onde a área dos máximos e mínimos ficou toda concentrada no hall de entrada
(v.Figura 3). Analisando a sala segundo o Critério de Bonello a partir das frequencias obtidas
pela análise modal (Figura 4), observa-se que a progressão é quase regular, com uma pequena
lacuna em 32 Hz e uma leve contenção para 50Hz. Contudo, a qualidade da progressão da
densidade modal é de maneira geral suave, aproximando-se de uma figuração favorável à
homogeneidade da resposta dos tempos de caimento em função da frequencia. Para representar a
sensação de loudness em cada região foi definido um indicador em quatro níveis: Máximo (24);
Destacado (12); Moderado (6); Menor (3).
Uma distribuição linear entre os coeficientes tenderia a agrupar visualmente os resultados num
único bloco. Por isso, para destacar os níveis entre si, seus valores relativos passaram para uma
proporção logarítmica, permitindo que a representação visual assumisse um aspecto similar ao da
sensação sonora, se aproximando da sensibilidade de apreensão ocorrendo no processo cognitivo
humano. Ao observar o resultado pode-se, então, ter uma visão clara de quais são, de fato, os
modos predominantes em cada região.
As três ilustrações da Figura 5, por terem todas os valores máximos de pressão do modo (cores
vermelha ou azul saturadas) incidindo diretamente na região em observação, correspondem ao
loudness Máximo (24). Na Figura 6, temos casos de classificação 12 (loudness Destacado) nos
quais verificamos que alguns dos ventres de pressão incidindo na região do grupo observado, não
atingem a pressão máxima do modo (cores vermelha ou azul menos saturadas). Nesta caso, pelo
menos a metade dos ventres de pressão atingem o valor de pressão máximo do modo.
De loudness Moderado, com valor 6, foram considerados os casos onde menos da metade dos
ventres de pressão incidindo na região observada atingiram o valor máximo do modo. Os
demais, com valores inferiores, são identificados pela coloração mais suave, menos saturada (v.
Figura 7). De loudness Menor, com valor 3, foram considerados os casos onde os contornos dos
ventres de pressão se mantém, mas não há a presença na região observada de nenhum valor de
pressão máximo do modo (v. Figura 8). Uma vez estabelecidos esses critérios, foram avaliados
os resultados da análise modal e elaborada uma tabela de valores.

Figura 9 – Sensação de loudness em função da frequência nas regiões CT e C8. No eixo das frequencias foi
adicionado um artifício indicando as alturas musicais correspondentes.
Na Figura 9, temos uma representação visual dessa tabela, comparando a sensação de loudness
em função da frequência entre as regiões CT e C8. Com o critério de prevalência do menor efeito
comum entre as regiões, temos: a predominância de loudness Máximo em 48Hz (sol0 baixo) e
163Hz (mi2 baixo), loudness Destacado em 126Hz (si1 ¼ tom) e 131Hz (do2), loudness Moderado em
144Hz (ré2 baixo) e 152Hz (re2 ¼ tom). A conversão frequência-altura musical foi feita com auxílio
de uma planilha com precisão de 1/8 de tom (MANNIS, 1987) tendo como referência la3 440Hz.
Porém, para uso prático, essa representação se mostrou pouco eficiente. Por essa razão,
procedeu-se à elaboração de outra forma de representação: um mapa de modos, loudness e

239
regiões, empregando a notação musical (Figura 12 e Figura 12). Com o aumento da densidade
modal, a partir de um certo ponto o intervalo entre os modos ficou menor que a precisão da
conversão, o que gerou uma aglutinação dos modos (limitados a uma precisão de 1/8 de tom),
todos representados num único elemento musical, adotando como loudness o maior valor
encontrado no grupo de modos aglutinado. Cada pentagrama representa uma região observada
(Figura 12). A primeira delas é a resposta acústica do centro (CT) de todas as circunferências.
Em cada pentagrama (CT, C8, C16, C32 e C32S) temos as alturas musicais ressaltadas pelos
modos de vibração. As notas musicais estão ordenadas por uma numeração para sua
identificação e referência. Para não sobrecarregar visualmente foram mantidos somente os
números ímpares. Verticalmente, entre um pentagrama e outro, as alturas serão sempre as
mesmas, somente variando o loudness da escuta em cada região. Quanto à representação
musical: (Figura 10) as mínimas (notas musicais maiores circulares vazadas) acompanhadas de
acentuação (>) representam as alturas com loudness Máximo. Em seguida, em ordem
decrescente, vem as semínimas (notas musicais maiores preenchidas); depois, as pequenas
apogiaturas com pequenas hastes e, finalmente, as pequenas notas vazadas em forma de losango,
sem haste. Os acidentes musicais têm precisão de um oitavo de tom.

Figura 10 – Representação musical (da esq. para dir.): (24) Máximo – mínima elevada de 1/4 de tom; (12) Elevado
– semínima 3/4 de tom; (6) Moderado – apogiatura com haste sustenido elevado de 1/8 de tom; (3) Menor –
pequena nota em forma de losango vazado com bequadro 1/8 de tom acima.

4 CONCLUSÕES
A notação musical se mostrou adequada para representar os resultados, tendo em vista sua
característica de condensar e reunir diversos tipos de informação em um único diagrama,
permitindo uma apreensão da informação com uma percepção eficiente das tendências das
alturas e intensidades através dos diferentes grupos, incluindo a indicação escrita habitual dos
modos e das frequências. O destaque acentuado obtido com o emprego da escala logarítmica foi
definitivamente importante para a clareza da leitura. Além disso, a representação em notas
musicais reforçou a inteligibilidade visual (Figura 10).

Figura 11 – Terceira página do Mapa de alturas, loudness e regiões: representação musical das alturas mais
ressaltadas em cada região de escuta. Âmbito desta página: a partir do Modo 105 (124,57Hz)

240
Foi dedicada atenção especial à representação dos resultados procurando recursos que
estimulassem o comportamento cognitivo do leitor. Uma segunda simulação foi posteriormente
efetuada para uma temperatura ambiente de 21ºC com velocidade de propagação de 343,78m/s e
as alturas resultantes apresentaram uma variação de até 1/8 de tom acima. O trabalho prossegue e
a próxima etapa será a de treinamento vocal dos participantes e o desenvolvimento de recursos
de apoio para afinação adequada, provavelmente com instrumentos musicais e geradores de
sinal. O mapa de modos, loudness e regiões (devido ao limite de espaço disponível apresentamos
aqui somente a terceira página do mapa) facilita a visualização das alturas comuns às regiões,
que podem ser, então, tomadas pelos grupos de participantes para entonação de um novo mantra
ou para adequação de um mantra aos sons mais intensos nas áreas dos grupos. Para a
consistência de sua elaboração, o mapa de modos, loudness e regiões deve compreender
continuamente todos os modos acumulados desde os primeiros até o mais elevado, podendo,
assim, indicar efetivamente quais deles tem mais ou menos energia concentrada nos pontos
analisados. A concentração de energia na posição central da sala, se deve à conformação da sala
com planta circular e teto abobadado com foco a 1 m acima do piso. As salas com planta
retangular e elevação reta e teto plano, conhecidas costumeiramente como “caixa de sapato”, não
têm máximos de pressão concentrados num único ponto ao centro, mas concentrados nos seus
vértices pelos modos tangenciais e oblíquos e distribuídos pelas suas superfícies, paredes, piso e
teto nos seus modos axiais, que são os que concentram maior energia. Na sala em estudo neste
trabalho as paredes laterais refletem toda energia para um eixo central, ortogonal ao centro de
sua planta, e a abóbada, por sua vez, foca a projeção também no centro da sala, a um metro
acima do piso. Esta característica de concentrar a energia em um pontos centrais é particular a
superfícies possuindo foco(s) definido(s), como por exemplo esfera, elipse e parábola. Nelas os
modos axiais, modos de primeira ordem possuindo maior energia, tem máximos de pressão na
região do(s) foco(s). Nesta sala a audição na posição central é de fato espetacular e, agora,
conhecendo as alturas exatas que aí se destacam, certamente virão boas experiências bem como o
desenvolvimento de novas práticas.
5 AGRADECIMENTOS
A Clelio Berti e Ana Rocha da unidade de yoga DeRose Flamboyant, em Campinas.
6 REFERÊNCIAS
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66, n. 2, 1979. In: ACOUSTICAL SOCIETY OF AMERICA, 98th meeting, 1979, Salt Lake City, Utah, EUA.
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3. DAVIS, Don; PATRONIS Jr., E. Sound system engineering. 3. ed. Burlington (EUA): Elsevier, 2006. 489 p.
4. EVEREST, F. A. Acoustics of small rooms. In: BALLOU, Glen (Ed.) Handbook for sound engineers: the
new audio cyclopedia. 2. ed. Indiana: SAMS, 1991. cap. 3, p. 43-65.
5. EVEREST, F.A.;POHLMANN, K. Master handbook of acoustics. 5.ed. New York: McGraw Hill,2009. 510p.
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York: Springer, 2007. Part C. p.301-425.
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Música) - Université de Paris VIII, Paris, 1987. 189 p.
8. MANNIS, José Augusto. Difusores sonoros projetados a partir de processo serial: adequação acústica de
pequenas salas à performance e audição musical. 2008. 424p. Tese (Doutorado em Música) – Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2008.
9. SPAGNOLO, R. et al. Acustica architettonica. In.: SPAGNOLO, R. (Ed.) Manuale di acustica applicata.
Torino: UTET, 2001. pp. 651-822.

241
CLASSIFICAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE PERCUSSÃO UTILIZANDO
PERFIS ESPECTRAIS

TEIXEIRA JUNIOR, Talisman1; PELAES, Evaldo1; FARIA, Regis2.


(1) Universidade Federal do Pará; (2) Universidade de São Paulo;

RESUMO
Nos últimos anos, tem crescido o interesse pelo processamento digital de sinais de música. A evolução
dos processadores possibilita a criação de algoritmos que resolvem tarefas até então tratadas como
impossíveis. Um desses novos desafios é a separação de fontes sonoras, mais especificamente de sinais de
instrumentos musicais, baseada no Efeito Coquetel. Para conseguir um sistema com bom desempenho,
uma das tarefas é separar os instrumentos de percussão. Este artigo objetiva criar um sistema que
classifique os instrumentos individuais de uma bateria, utilizando um parâmetro chamado Perfil
Espectral. Este parâmetro foi desenvolvido originalmente para a classificação de fonemas para o auxílio a
pessoas com dificuldade na audição. Na sua utilização original, os Perfis Espectrais serviram para
classificar se um fonema era fricativo ou não, por exemplo. Caso positivo, qual a fricativa pronunciada.
Observando espectrogramas de voz e de instrumentos musicais, percebe-se a semelhança entre os dois
problemas. Classificar o instrumento de percussão equivale a classificar um fonema pronunciado. O
modelo proposto alcançou resultados satisfatórios.

ABSTRACT
In recent years, has been growing interest in digital signal processing of music. The evolution
of processors enables the creation of algorithms that solve tasks previously treated as impossible. One of
these challenges is the separation of sources, more specifically for signals of musical instruments, based
on Cocktail Party Effect. To achieve a system with good performance, one of the tasks is to separate the
percussion instruments. This article aims to create a system that classifies individual instruments in
a drum, using a parameter called Spectral Profile. This feature was originally developed for
classification of phonemes for helping people with hearing impairments. In its original use,
the Spectral profiles were used to classify if a phoneme was a fricative or not, for example. If so, which is
the fricative pronounced. Observing speech and musical instruments spectrograms , we find the
similarity between the two problems. Classify the percussion instrument is equivalent to classify a
phoneme pronounced. The proposed model achieved satisfactory results.
Palavras-chave: Processamento Digital de Sinais. Acústica Musical. Separação de Instrumentos
Musicais. Classificação de Instrumentos.

1. INTRODUÇÃO
A área de Processamento Digital de Sinais tem evoluído muito nos últimos tempos (Vaseghi,
2007), graças à disponibilização comercial de potentes computadores para uso pessoal. Com
isso, muitas aplicações surgem, como por exemplo, reconhecimento de voz, reconhecimento de
interlocutor, redução de ruído, etc. Na música, existe um campo vasto para essa tecnologia, não
somente como forma de codificação de aúdio, mas para a extração de conhecimento a partir do
sinal (Muller, 2007). Uma aplicação interessante é a separação de instrumentos musicais, onde a
partir de um sinal de áudio tenta-se separar as trilhas geradas em um estúdio (Grecu, 2008). Esta

242
aplicação baseia-se no Efeito Coquetel, onde várias pessoas conversam simultaneamente em uma
sala (como em um coquetel) e uma delas tenta focar sua atenção em uma delas (Cherry, 1953).

Existem duas correntes básicas para a separação de fontes sonoras: ICA ou CASA. ICA
(Hyvärinen et al, 2001) necessita de n sensores (microfones) para separar m fontes sonoras de
uma mistura. Para a separação de outras misturas, utiliza-se a técnica de Análise Computacional
do Cenário Auditivo (CASA) (Wang e Brown, 2006) inspirada na obra de Bregman (1990). A
filosofia deste trabalho é aplicar técnicas de CASA para separação de instrumentos musicais.

Uma ideia inicial seria extrair inicialmente os instrumentos de percussão, classificando-os. Esta
tarefa não é trivial, pois cada instrumento que compõe uma bateria (bumbo, surdo, caixa, tom-
tom, etc) trabalha em uma faixa de frequência, mas, em algumas situações, essas faixas se
superpõem, não possibilitando a utilização de bancos de filtros tradicionais, como MFCC (Davis
e Mermelstein, 1980).

Para a classificação dos instrumentos, utilizou-se um parâmetro chamado Perfil Espectral, criado
por Araujo (2000). Ele foi utilizado nessa tese, em reconhecimento de fonemas isolados para o
auxílio de crianças com deficiência auditiva. Neste trabalho, aplicou-se este parâmetro para a
classificação dos instrumentos de uma bateria, já que, observando espectrogramas de baterias,
como os da Figura 1, percebe-se a semelhança com as consoantes plosivas, por exemplo, devido
à sua curta duração.

Figura 1: Espectrograma de uma bateria eletrônica sintetizada pelos autores


Fonte: os autores

2. CLASSIFICAÇÃO DE SONS DE PERCUSSÃO


2.1. Perfis Espectrais
Os Perfis Espectrais de Energia determinam, a partir do espectro de frequências, a frequência
abaixo do qual está contida uma determinada percentagem da energia total calculada sobre esse
espectro, desde a frequência zero até a metade da frequência de amostragem (Araújo, 2000). Por
exemplo, o perfil P90 determina qual a frequência abaixo do qual estão contidos 90% da energia
total. Essa percentagem é definida como .

243
O valor de P pode ser calculado através de:

[Eq. 01]

onde fa é a frequência de amostragem e k pode ser encontrado através da fórmula:

[| ( )| ∑ | ( )| ] ( ) [| ( )| | ( )| ∑ | ( )| ] [Eq. 02]

Após o cálculo dos Perfis, estabelece-se qual a percentagem  ideal para a separação de cada
instrumento, e qual a frequência limiar para essa separação.

Estes parâmetros utilizados por Araújo (2000) propiciaram excelentes resultados em


classificação de fonemas. Por exemplo, para a classificação entre vogais anteriores e posteriores,
a taxa de erro foi de 1,3% para crianças de 7 a 10 anos e 4,5% para pré-adolescentes entre 11 e
14 anos.

2.2.Método
O programa foi implementado em MATLAB, onde foram calculados os Perfis Espectrais de P1 a
P100, e plotados sob a forma de um espectrograma, criando assim um “perfilgrama”. A partir daí,
foram escolhidos os Perfis mais adequados para a separação, de forma visual. Após escolhido o
Perfil mais adequado, deve-se escolher também a frequência limiar. Foi utilizada uma
Transformada FFT com janela uniforme de 512 amostras sem superposição.

Para a geração dos arquivos, foram utilizadas gravações de uma bateria eletrônica real, apenas
para a validação do método. Foram gravados os sons do bumbo, da caixa e do chimbal em
formato wav com frequência de amostragem de 44100 Hz, com 16 bits por amostra (qualidade
de CD).

Para uma melhor visualização, foi calculado também o valor RMS do sinal como um todo e
considerou-se que se o sinal estiver abaixo desse valor, classifica-se como silêncio. Isso é
fundamental para evitar que variações nos Perfis nesses momentos sejam interpretadas como
reais.

3. RESULTADOS
A Figura 2 mostra um “perfilgrama” do sinal contendo duas batidas de bumbo e uma de caixa,
tocadas duas vezes, juntamente com uma figura de apoio que serve para indicar em que
momentos o sinal existe e em que momentos há silêncio.

Na parte superior da figura, o eixo vertical mostra os perfis P90 a P100. A parte inferior da figura
mostra que existem 6 momentos com amplitude maior que o valor rms do sinal, correspondendo
às seis batidas, citadas no parágrafo anterior. Olhando o “perfilgrama” nesses momentos,
percebe-se a diferença clara entre o bumbo nos dois primeiros momentos e a caixa no terceiro
momento. O perfil P90 poderia com grande exatidão separar esses dois instrumentos, já que a
diferença de tonalidade entre os dois momentos é bem perceptível.

244
Figura 2: “Perfilgrama” de uma bateria eletrônica sintetizada pelos autores (bumbo, bumbo e caixa)
Fonte: os autores

Na parte superior da Figura 3 mostra o gráfico da variação do P90 ao longo do tempo, para
facilitar a escolha da frequência limiar. Na parte inferior da Figura 3, plotou-se o gráfico do sinal
em função do tempo para referência.

Uma boa frequência que separaria por completo o bumbo da caixa seria a frequência de 2000 Hz,
pois o valor do Perfil sempre se encontra abaixo de 2000 Hz no caso do bumbo e sempre se
encontra acima no caso da caixa.

Na figura 4, aparece o gráfico da variação do P90 ao longo do tempo para o sinal de um chimbal.
Pode-se observar que nesse caso, uma frequência de 10 000 Hz seria suficiente para separar este
instrumento dos dois anteriores. Isto é, se P90 for maior que 10 000 Hz, o instrumento é um
chimbal.

4. CONCLUSÕES

Este trabalho ilustra de forma bem simples a utilização de um parâmetro novo no campo de
processamento de sinais musicais. Através dele, podem-se separar diversos instrumentos, não
somente bateria. Outros trabalhos foram realizados no passado para a classificação automática de
sons de bateria (Herrera et al, 2002), mas eles utilizavam vários parâmetros para essa tarefa. Os
Perfis Espectrais podem realizar tarefa semelhante, sem a necessidade de muitos parâmetros.

Pretende-se, nos próximos trabalhos, aumentar a quantidade de modelos de baterias, utilizando,


possivelmente um corpus conhecido mundialmente como o RWC (Goto et al, 2003). Além disso,
para a escolha do Perfil e da frequência limiar, está prevista a utilização de SVM (Vapnik e

245
Cortes, 1995), para a otimização da tarefa que será muito mais complexa, tornando impraticável
a análise através de observação visual. Após essa etapa, pode-se estender o trabalho para outros
instrumentos musicais mais estacionários.

Figura 3: Parte superior: P90 para bumbo, bumbo e caixa. Parte inferior: gráfico
do sinal no tempo
Fonte: os autores

Figura 4: Parte superior: P90 para chimbal. Parte inferior: gráfico do sinal no
tempo
Fonte: os autores

246
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12. WANG, D.; BROWN, G. J. (2005). Computational Auditory Scene Analysis, John Wiley & Sons, New York.

247
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NO CANTO EM DUETO DA GARRINCHA-
DE-BIGODE THRYOTHORUS GENIBARBIS (AVES, TROGLODYTIDAE)

MONTE, Amanda de Almeida; NASCIMENTO, Luis Fernando Teixeira; MOURA, Leiliany


Negrão de; LOPES, João dos Prazeres & SILVA, Maria Luisa da.
Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciência Biológicas

RESUMO
A Garrincha-de-bigode Thryothorus genibarbis é uma espécie comum da América do Sul, encontrada na
borda de mata em arbustos densos. Machos e fêmeas coordenam suas vocalizações em um dueto alternado e
preciso. Pretende-se descrever a estrutura do canto em dueto e identificar se há diferenças individuais entre
casais vizinhos. Analisou-se o repertório de seis casais de T. genibarbis de uma população de Santa Bárbara,
50 km de Belém, PA, Brasil. Os cantos em dueto apresentaram a mesma sintaxe: a ordem em que eles
cantam quase não varia; a sequência de notas foi ABB CD, apesar de ocorrer eventuais mudanças para CD
ABB. Essas quatro notas (A a D) diferem entre os casais em todos os parâmetros físicos medidos: duração
das notas e freqüência máxima e mínima usando o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Somente 5,7%
de todas as diferentes notas foram compartilhadas entre os vizinhos. Esses resultados indicam que a sintaxe
pode ser o parâmetro de reconhecimento específico. A frequência máxima e mínima, ritmo e duração das
notas variam entre os casais e esses parâmetros podem ser usados para o reconhecimento dos indivíduos.

Palavras-chave: canto em dueto, Thryothorus genibarbis, diferenças individuais.

ABSTRACT
The Moustached Wren Thryothorus genibarbis is a common South American specie found at forest edges in
dense undergrowth thickets. Males and females coordinate their vocalizations in precise antiphonal duets.
We intended to describe the species’ duetting structure and to categorize the differences between sympatric
couples. We analysed the repertoire of six pairs of T. genibarbis from a population in Santa Bárbara, 50 km
from Belém, PA, Brazil. The duet songs presented the same syntax: order in which they were sung almost
did not vary; the note sequence was ABB CD, despite of occasional changes for CD ABB alternative. These
four note types (A to D) differ between the pairs in all physical parameters measured: duration of notes and
maximum and minimum frequency using Kruskal-Wallis non parametric test. Only 5,7% of all different
notes was shared among neighbours. These results indicate that the song syntax of the duets is a species-
specific parameter. The maximum and minimum frequency, rhythm and duration of the notes are variable
among the pairs and these parameters could be used for individual recognition.

Key-words: duet song, Thryothorus genibarbis, individual differences.

1. INTRODUÇÃO

A comunicação é fundamental para a sobrevivência e reprodução dos animais. Além de um


emissor e de um receptor, qualquer sistema de comunicação requer um sinal que possa carregar a
informação desejada e transmiti-la de maneira eficiente.

248
Este sinal pode ser de natureza química ou física. Entre as aves, em geral, essa comunicação
é essencialmente sonora e foi desenvolvida a partir de estruturas variadas de emissão e recepção, de
forma a tirar o melhor proveito das propriedades físicas do sinal sonoro, adequando-se
funcionalmente às necessidades específicas de trocas de informações e às exigências de propagação
impostas pelo ambiente (Vielliard, 2004).
As aves podem usar sons para diversas funções, tais como alerta contra predador ou
localização dos filhotes. Na maioria dos casos é emitido um som complexo, específico e, em certas
espécies, harmonioso, que corresponde ao conceito de canto, caracterizado por sua função biológica
primordial: o reconhecimento específico (Vielliard, 1987). Os outros sons, em geral, mais breves e
simples, são denominados chamados. Ambos, canto e chamados, são vocalizações (Baptista, 1996).
O dueto ocorre quando um casal canta em combinação um com o outro, seja sincronizada ou
alternadamente (Langmore, 1998), emitindo notas de uma maneira tão regular que dificilmente é
possível identificar a participação de dois indivíduos, parece um só (Farabaugh,1982). Dentre as
inúmeras hipóteses para explicar a função do dueto, três ganharam destaque: reforço da defesa
territorial, anúncio do status do parceiro e manutenção da coesão do casal (Marshall-ball et al.,
2006).
As espécies que cantam em dueto se encontram em diferentes grupos taxonômicos,
Farabaugh (1982) indicou 222 espécies em 44 famílias, sugerindo que diferentes pressões
evolutivas atuaram a favor do canto em dueto, sobretudo em espécies tropicais, onde há densa
floresta e pouco dimorfismo sexual (Thorpe, 1972).
A família Troglodytidae (corruíras) pertence à subordem Oscines e compreende 23 espécies
que cantam em dueto (Farabaugh, 1982), Thryothorus genibarbis é uma delas. Isso acontece entre
os casais de T. genibarbis de tal forma que somente o companheiro real é capaz de reconhecer o
outro, provavelmente porque não há dois indivíduos com a mesma voz. O casal executa o canto em
dueto com mais frequência durante a reprodução (Sick, 1997) que acontece no pantanal de julho a
outubro (Antas, 2004). Ninhos foram encontrados no Peru em setembro e outubro (Londoño, 2009).
O objetivo do presente estudo é verificar se há diferenças entre os duetos de casais de T. genibarbis.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Local de estudo

O Parque Ecológico de Gunma (PEG) está localizado no município de Santa Bárbara,


nordeste do Estado do Pará, entre as coordenadas aproximadas de 01°13’00.86” S e 48°17’41.18”
W, a altura do quilômetro 18 da rodovia Belém-Mosqueiro. A área é de 450 hectares preservados e
150 hectares de florestas regeneradas. Próximo ao PEG existe um condomínio com poucas
construções e várias áreas com mata secundária (Figura 1).

249
Figura 1. Município de Santa Bárbara, Parque Ecológico de Gunma.

2.2. Coleta e análise de dados

As gravações e observações foram realizadas nas adjacências do Parque Ecológico de


Gunma (PEG) e na estrada principal da mata próxima ao Hospital Universitário Bettina Ferro de
Souza (HUBFS) no período de junho de 2007 a outubro de 2009. Para as gravações foram
utilizados os gravadores profissionais Tascam DA-P1, Sony PCM-M1 e Marantz PMD660 e o
microfone Senheiser ME-67.
De posse das gravações realizadas em campo, no Laboratório de Ornitologia e Bioacústica
(LOBio) foi realizada a digitalização das fitas e transferências dos arquivos de som salvos no cartão
de memória do gravador, em seguida a confecção de sonogramas. No sonograma se tem o registro
sonoro em um gráfico com plano melódico, ou seja, com a duração no eixo das abscissas e a
frequência no das ordenadas, a partir do qual é possível medir parâmetros como duração de cada
unidade sonora (nota), duração mais o intervalo até o início da outra, frequência mínima e máxima,
utilizando-se para isso o programa AviSoft SAS Lab Pro 4.3 © Avisoft Bioacoustics 2009, com as
seguintes configurações: FFT-length, 512; frame, 100%; bandwidth, 112 Hz; resolution, 86 Hz,
Hamming window.
Cada nota recebe uma letra de A a Z, reiniciando o alfabeto por casal gravado e um número
cuja contagem é única para a espécie (número absoluto). Duas unidades sonoras são consideradas a
mesma nota somente quando apresentam sobreposição acima de 70% quanto à sua forma no
sonograma. Uma frase é definida como um conjunto de notas consecutivas, desde que o intervalo
entre duas delas não seja superior a cinco vezes a média do intervalo entre as demais. Analisamos
no total 576 notas envolvidas no dueto com os dados de seis casais do PEG. Esses valores foram
analisados nos programas Statistica 7.1 © Statsoft, Inc. 1984-2005 (Análise de Variância) e
Minitab® 15.1.30.0, 2007 (Teste de normalidade). Realizou-se o teste de normalidade Anderson-
Darling com um nível de significância α=5% e foi considerado:
H0: Os dados seguem uma distribuição de probabilidade normal;
H1: Os dados não seguem uma distribuição de probabilidade normal.

250
Posteriormente foi realizada uma análise de variância para cada parâmetro físico do som a ser
analisado (duração, frequências máxima e mínima e ritmo das notas envolvidas no dueto) com um
nível de significância α=5% para verificar se:
H0: A variância dos parâmetros físicos das notas do dueto de diferentes indivíduos é a mesma;
H1: A variância dos parâmetros físicos das notas do dueto de diferentes indivíduos difere entre si.

3. RESULTADOS
O teste de normalidade Anderson-Darling (α=5%) indicou que os parâmatros físicos
duração, ritmo, frequência mínima e frequência máxima (p<0,02) não estão distribuídos
normalmente (Figura 2). Portanto utilizou-se para o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis.
O valor da média da duração das notas do dueto para os quatro casais foi de 258,3 ms (N=
572 Min= 69; Max = 781; Desvio padrão= 86,55). Os valores desse parâmetro não se comportam
conforme uma distribuição normal. As médias para cada casal variaram de 154 ms a 256 ms (Figura
3), apresentando uma diferença global significativa entre elas, segundo teste de Kruskal-Wallis
(G.L= 5; H= 82,29; p= 0,0000).

Médias da duração das notas envolvidas no dueto por casal


450
Duração: KW-H(5;572) = 82.2909; p = 0.0000
400

350

300
Duração (ms)

250

200

150

100

50 Mean
1 2 3 4 5 6 Mean±0.95*SD
Casal
Figura 3. Média da duração das notas envolvidas no dueto e testes não paramétrico de Kruskal-
Wallis.

A variação da faixa de frequência do dueto é de 0,3 a 5,8 kHz, sendo a média da frequência
mínima 1,4 kHz (N=573; Min=0,26; Max=3; Desvio padrão=653,1) e da máxima 2,9 kHz (N=576;
Min=0,31; Max=5,85; Desvio padrão= 1128). Tanto a frequência mínima das notas do canto em
dueto quanto a máxima diferem significativamente entre os casais, segundo teste de Kruskal-Wallis
(Figura 4).
O ritmo dos duetos, ou seja, a quantidade de notas emitidas por segundo apresentou valor
médio de 4,37 (N=543; Min=1,52; Max=200,0; Desvio padrão= 2,15) entre os seis casais
analisados que apresentou diferença média significativa, segundo teste de Kruskal-Wallis (Figura
5).

251
Média das frequência máxima e mínima das notas envolvidas no dueto
4500 Freq min: KW-H(5;573) = 40,527; p = 0,0000001
Freq max: KW-H(5;576) = 86,0247; p = 00,0000

4000

3500

3000
Hz

2500

2000

1500

1000

500
Freq min
1 2 3 4 5 6
Freq max
Casal

Figura 4. Média das frequências máxima e mínima das notas envolvidas no dueto e testes não
paramétrico de Kruskal-Wallis.

Média do ritmo dos duetos


50
Ritmo: KW-H(5;543) = 24,7011; p = 0,0002
40

30
Ritmo (notas/s)

20

10

-10

-20
Mean
1 2 3 4 5 6
Mean±0,95*SD
Casal

Figura 5. Média do ritmo do canto em dueto para seis casais do PEG e testes não paramétrico de
Kruskal-Wallis.

252
4. DISCUSSÃO
O canto em dueto de Thryothorus rufalbus foi descrito por Mennill & Vehrencamp (2005)
como o canto com menor faixa frequência (0.75–3 kHz) entre outras espécies do gênero
Thryothorus, incluindo T. pleurostictus (2–9 kHz), T. nigricapillus (2–6 kHz), T. fasciatoventris (1–
4 kHz), T. leucotis (2–5 kHz), T. ludovicianus (2–6 kHz), T. felix (1–5 kHz), T. modestus (2–8
kHz), T. rutilus (2–6 kHz) e T. sinaloa (1–6 kHz) (Mennill & Vehrencamp apud Brown and Lemon
1979, Farabaugh 1983, Simpson 1984, Morton 1987, Levin 1996, Molles and Vehrencamp 1999,
Mann et al. 2003). Esse fato foi justificado pelos autores como uma adaptação para maximizar a
transmissão de som em estratos baixos de um ambiente com uma vegetação densa. Em T.
genibarbis encontramos uma faixa de frequência de 0,3 a 5,8 kHz, onde o valor mínimo é menor
que de T. rufalbus, contudo o máximo é compatível com a média das demais espécies do gênero. As
especificidades ambientais podem estar atuando diretamente na seleção de uma determinada
frequência mais adequada à propagação, não exclusivamente, mas como uma das inúmeras
variáveis que influenciam nas propriedades físicas do canto de uma espécie, pois apesar de também
ocupar estratos baixos em vegetação densa, o dueto de T. genibarbis diferiu de T. rufalbus.
Nos duetos espontâneos, a sintaxe, ou seja, a ordem de emissão das notas, é conservada entre
os casais: um indivíduo emite as notas ABB e o outro complementa com CD e as repetições dessa
sequência caracteriza um canto em dueto. Ocorre também, com menor frequência, primeiro a
emissão de CD, seguido de ABB (dueto 2). Em outras espécies do gênero Thryothorus que cantam
em dueto também verifica-se a conservação da sintaxe: cada indivíduo emite uma frase com uma
sequência de notas fixas e ambos alternam essas frases para compor o dueto. Em contrapartida, as
espécies do gênero que não cantam em dueto (Thryothorus sinaloa e T. pleurostictus) emitem
apenas uma sequência de notas em seus cantos, sem estrutura fixa de repetição (Mennill &
Vehrencamp apud Brown and Lemon 1979; Molles and Vehrencamp 1999). A ocorrência de frases
complementares com sintaxe conservada e emitidas alternadamente pela fêmea e pelo macho
possivelmente foi a base para a evolução do canto em dueto, permitindo a antecipação de qualquer
um dos membros do par ao som do parceiro (Mennill & Vehrencamp, 2005).
A análise dos parâmetros físicos das notas do dueto: duração das notas, frequência
máxima, frequência mínima e ritmo, indicou que há diferenças significativas entre os duetos dos
casais estudados. Cada casal tem um dueto próprio, ainda que o dueto contenha informações
referentes ao reconhecimento específico. Portanto, os cantos em dueto são estereotipados quanto à
sintaxe e variáveis entre os casais, de forma a permitir a identificação. O código de reconhecimento
específico do dueto é provavelmente a sintaxe e as diferenças entre os casais pode estar codificada
na modulação das notas, contudo serão necessárias mais análises para subsidiar essa hipótese.

5. CONCLUSÃO

O dueto de T. genibarbis conserva sua sintaxe. A ocorrência de frases alternadas, tal como a frase
introdutória, podem ter sido a base para a evolução do canto em dueto, permitindo a antecipação de
um membro do par ao som do parceiro. Ainda que o dueto detenha informações referentes ao
reconhecimento específico, os casais apresentaram diferenças significativas entre eles. Portanto os
cantos em dueto são tanto específicos quanto variáveis entre os casais.

AGRADECIMENTOS

Ao apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (FAPESPA) e do


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Universidade Federal
do Pará e ao Prof. M.Sc. José Gracildo de Carvalho Júnior (UFPA) pela revisão do manuscrito.

253
REFERÊNCIAS

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USP, 2004. p. 145-152.

254
 

SESSÃO 02-B

255
COMPORTAMENTO DE PAINÉIS RANHURADOS E PERFURADOS
INCORPORANDO ESPUMAS SINTÉTICAS

PATRAQUIM, Ricardo1; GODINHO, Luís2; AMADO MENDES, Paulo2; NEVES, Ana3


(1) AMBI Brasil, Brasil; (2) CICC, Dep. Eng. Civil Universidade de Coimbra, Portugal; (3) ITeCons, Coimbra,
Portugal.

RESUMO
O presente trabalho apresenta uma análise experimental do comportamento de painéis absorventes
acústicos compostos, realizados em MDF e incorporando, na sua constituição, espumas sintéticas. O
processo de avaliação do desempenho destas soluções baseia-se no ensaio experimental de amostras de
dimensão reduzida, recorrendo ao método do tubo de impedância para a determinação da absorção
sonora de cada solução. São analisadas diferentes tipologias de painel, considerando painéis perfurados
ou ranhurados, com geometrias não convencionais, nos quais as aberturas são preenchidas com espuma
de poliuretano com célula aberta. É considerada a existência de uma caixa-de-ar de 40 mm no tardoz do
painel, preenchida com o mesmo tipo de espuma ou com a solução tradicionalmente usada nestes
sistemas (lã de rocha). É ainda analisado o efeito da presença de uma tela acústica colada ao tardoz do
painel, procurando perceber se poderá, por um lado, existir uma alteração significativa devido à sua não
inclusão no sistema construtivo, e, por outro, se o seu efeito no desempenho acústico pode ser substituído
pela presença das referidas espumas.

ABSTRACT
In this work, an experimental analysis of the behavior of perforated panels, to be used as acoustic
absorbers, is presented. The panels are made of MDF, and incorporate synthetic foams. The experimental
analysis is conducted making use of laboratorial tests in an impedance tube, determining the sound
absorption coefficients of small circular samples. Different panel typologies are addressed, considering
different linear perforated panels, with non-conventional geometries. Tests are performed considering
that, within the panel itself, the perforation may be filled with open-cell polyurethane foam. Behind the
panel, an air plenum is assumed, with a constant depth of 40 mm, which may be either empty, filled with
the same polyurethane foam used within the panel, or with the traditional material used in these
applications (rock wool). The effect of a non-woven sheet glued to the back of the panel is also analyzed,
trying to verify if its absence introduces significant changes in the sound absorption of the system, and to
understand if this solution may be substituted by the polyurethane foam.
Palavras-chave: Painéis absorventes. Espumas sintéticas. Estudo experimental.

1. INTRODUÇÃO
Os materiais e sistemas absorventes sonoros para espaços fechados são, hoje em dia, soluções de
condicinamento acústico usadas para garantir a existência de ambientes acústicos adequados à
finalidade a que cada espaço se destina. Dentre as várias alterantivas existentes, uma solução
técnica comum é o uso de painéis perfurados, realizados em madeira ou em gesso cartonado,
apresentando estes sistemas um processo de absorção do som complexo, com um
comportamento que combina o de materiais porosos e o de ressoadores acústicos. A perfuração
do painel em conjunto com a caixa-de-ar usualmente existente por trás do revestimento fazem, de
facto, com que o comportamento dominante deste sistema se assemelhe ao de uma grelha de
ressoadores de Helmholtz. Uma descrição detalhada do comportamento destes sistemas pode ser
encontrada em trabalhos de diferentes investigadores, como Ingard e Bolt [1], Morse et al [2],

256
Bolt [3], Ingard [4] ou Crandall [5]. Num trabalho de Patraquim [6], estudou-se
experimentalmente a influência de diversos parâmetros no comportamento destes painéis,
nomeadamente no que respeita à espessura, percentagem de furação ou utilização de materiais
absorventes na caixa-de-ar. Nesse trabalho, a caracterização dos painéis foi efectuada recorrendo
ao método descrito na norma ISO 354, determinando a sua absorção sonora em câmara
reverberante. Recentemente, Godinho et al [7] avaliaram a absorção sonora de diferentes
amostras de painéis perfurados recorrendo ao método do tubo de impedância, seguindo as
disposições das normas ISO 10534-2 e ASTM E 1050. Nesse trabalho foi dado especial ênfase à
avaliação do efeito de uma eventual tela acústica colada no tardoz dos painéis, procurando
verificar, com diferentes telas, qual a real influência que esta pode ter no comportamento global
da solução construtiva. Os autores concluíram que as características da tela colada no tardoz do
painel exercem uma grande influência no comportamento global do sistema, sendo que telas com
maior resistência ao fluxo de ar originam picos de ressonância menos evidentes, enquanto estes
picos são muito pronunciados quando se usam telas com baixa resistência ao fluxo.
Uma grande parte dos trabalhos publicados refere-se à análise de dispositivos perfurados, com
diferentes tipologias, mas em que as aberturas superficiais correspondem a furos discretos
realizados no painel. No entanto, o desenvolvimento de novas geometrias para as aberturas
superficiais, a utilização de diferentes materiais, ou a adopção de soluções não convencionais
têm merecido a atenção de diversos investigadores (veja-se, por exemplo, [8] ou [9]), procurando
definir soluções alternativas com bom desempenho. É também neste âmbito que surge o presente
trabalho, onde se apresenta uma análise experimental do comportamento de painéis absorventes
acústicos compostos, realizados em MDF e incorporando, na sua constituição, espumas
sintéticas. Tal como em [7], o processo de avaliação do desempenho destas soluções baseia-se no
ensaio experimental de amostras de dimensão reduzida, recorrendo ao método do tubo de
impedância para a determinação da absorção sonora de cada solução. São analisadas diferentes
tipologias de painel, considerando sobretudo painéis ranhurados, com geometrias não
convencionais, nos quais as aberturas são preenchidas com espuma de poliuretano com célula
aberta. Em todos os casos, é considerada a existência de uma caixa-de-ar no tardoz do painel,
preenchida com o mesmo tipo de espuma ou com lã-de-rocha, solução esta que é
tradicionalmente usada nestes sistemas. As soluções assim definidas são ainda comparadas com a
solução convencional, fazendo uso de uma tela acústica colada ao tardoz do painel. Procura-se,
neste aspecto, perceber qual a diferença de comportamento acústico do sistema devido à
substituição desta tela por uma espuma de célula aberta.
O trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: em primeiro lugar é apresentado o método
de ensaio, descrevendo-se o equipamento usado; segue-se uma descrição dos vários materiais
usados nos ensaios laboratoriais, bem como a caracterização dos materiais absorventes porosos
utilizados; apresentam-se e discutem-se, depois, os resultados obtidos, procurando compreender
a influência dos vários parâmetros analisados.

2. METODOLOGIA DE ENSAIO E EQUIPAMENTO LABORATORIAL


A determinação experimental do coeficiente de absorção sonora em amostras de dimensão
reduzida foi efectuada recorrendo ao método do tubo de impedância, de acordo com a norma ISO
10534-2, e com a norma americana ASTM E 1050.
Este método consiste na emissão de um ruído de intensidade média, constante ao longo do
espectro de frequências, designado por ruído branco, em ondas planas, com o auxílio de um
amplificador e de um altifalante colocado numa das extremidades do tubo. Quando as ondas
sonoras incidem na amostra dão-se variações de pressão provocadas pela transformação de
alguma da energia sonora incidente em energia mecânica, o que diminui a pressão sonora
reflectida. Estas variações de pressão são determinadas por dois microfones que se encontram em
posições predefinidas. Os sinais dos microfones são processados por um analisador digital e,
depois de tratados, obtêm-se os valores da absorção sonora em função da frequência do som.

257
O tubo de impedância usado foi do tipo 4206 (Figura 1), da marca Brüel & Kjaer,
complementado por um amplificador do tipo 2716C (Brüel & Kjaer), tendo-se recorrido ao
método dos dois microfones para a avaliação da absorção sonora das amostras. Para a aquisição
de sinal, foi utilizado um sistema de aquisição multianalisador Pulse, modelo 3560-C (Brüel &
Kjaer).
Tendo-se recorrido ao método dos dois microfones, proposto na norma internacional ISO 10534-
2, torna-se necessário proceder à definição da posição dos microfones durante o ensaio, uma vez
que o espaçamento entre estes influencia a gama de frequências que pode ser avaliada com rigor.
Neste caso, tendo em conta que, tipicamente, os painéis perfurados apresentam frequências de
ressonância abaixo dos 2000 Hz, e que a frequência mínima de interesse se situa nos 100 Hz,
tomou-se a opção de seleccionar um espaçamento de 50 mm. Tendo em consideração o diâmetro
do tubo e este espaçamento, a gama de frequências passível de ser analisada por este
equipamento está compreendida entre os 68 Hz e os 1992 Hz.
No início de cada série de ensaios foi realizada uma verificação preliminar do sistema, avaliando
o ruído no interior do tubo de impedância com a fonte em funcionamento e desligada. A
diferença entre os níveis sonoros terá que ser igual ou superior a 10dB, para todas as frequências.
Complementarmente, foi realizada a correcção prevista na norma ISO 10534-2, de forma a anular
os erros de fase dos dois microfones, recorrendo a amostras de referência fornecidas pela Brüel &
Kjaer (espumas sintéticas de célula aberta). Para esse efeito, foi registado o sinal com os
microfones numa posição inicial, e invertendo depois o seu posicionamento relativo.
De forma a garantir uma boa estabilidade dos resultados obtidos, foram efectuados testes
preliminares no tubo de impedância, recorrendo a amostras circulares de lã-de-rocha, com uma
densidade de aproximadamente 20 kg/m3 e uma espessura de 40 mm. Estes testes evidenciaram
uma boa estabilidade do método de ensaio em condições de reprodutibilidade, não apresentando
variabilidade significativa dos resultados obtidos entre diferentes provetes da mesma de amostra
para amostra.

Figura 1: Tubo de impedância utilizado nos ensaios.

3. DESCRIÇÃO DAS AMOSTRAS TESTADAS


Foi ensaiado, neste trabalho, um grande número de amostras perfuradas com configurações
distintas. Ilustram-se, na presente comunicação, os resultados obtidos apenas 4 amostras
diferentes, correspondentes a amostras circulares perfuradas em “Valchromat®” (MDF de alta
densidade colorido em toda a sua massa), com um diâmetro de 10 cm e espessura de 16 mm,
com taxas de perfuração e com ranhuras de geometria distintas, conforme ilustrado nas Figuras 2
e 3.

258
Figura 2: Amostras utilizadas.

A espuma utilizada em alguns dos ensaios é uma espuma de poliuretano de célula aberta, de cor
cinza escura, com 25kg/m3 de massa volúmica. Como referência, foi também utilizada, em
alguns ensaios, lã de rocha com 4cm de espessura e uma massa volúmica de 40kg/m3. Para
permitir uma melhor compreensão do comportamento destes dois materiais absorventes sonoros,
na Figura 4 apresentam-se as respectivas curvas de absorção sonora; nesse gráfico pode
observar-se que apresentam desempenhos muito próximos entre si, revelando, ainda assim, a lã
de rocha um desempenho um pouco superior com coeficientes de absorção sonora superiores à
espuma de poliuretano a partir dos 200 Hz.

a) b)
Figura 3: Exemplo da utilização das espumas nas ranhuras. Fotografias das amostras ensaiadas A, B, C e D:
a) vista da parte da frente; b) vista do tardoz.

Figura 4: Absorção sonora (para incidência normal) dos absorventes porosos utilizados.

259
O estudo pretende avaliar a influência da introdução de espumas no interior das ranhuras das
amostras acima apresentadas. Para tal foram realizados, para cada uma das amostras, os ensaios
documentados na Tabela 1.

Tabela 1: Ensaios realizados.


LOCALIZAÇÃO DA ESPUMA AMOSTRAS
# Montagem DESCRIÇÃO TELA LÃ DE ROCHA (4cm)
TARDOZ FRENTE NA CAIXA-DE-AR (4cm) A B C D
Amostras simples (caixa-de-ar vazia e sem qualquer
1 A1 B1 C1 D1
espuma ou véu acústico)
Amostra + véu acústico colado no tardoz (caixa-de-ar
2
vazia e sem qualquer espuma) * A2 B2 C2 D2
Amostra simples + lã de rocha na caixa-de-ar
3
(amostra sem véu acústico nem espumas) * A3 B3 C3 D3
Amostra + véu acústico colado + lã de rocha na caixa-
4 de-ar (sem qualquer espuma) - MONTAGEM * * A4 B4 C4 D4
STANDARD
Amostra + espumas introduzidas nas ranhuras do
5
tardoz (caixa-de ar vazia e sem véu acústico) * A5 B5 C5 D5
Amostra + espumas introduzidas nas ranhuras do
6 tardoz + caixa-de-ar preenchida com espuma (sem * * A6 B6 C6 D6
véu acústico)
Amostra + espuma introduzida nas ranhuras frontais
7
(caixa-de ar vazia e sem véu acústico) * A7 B7 C7 D7
Amostra + espuma introduzida nas ranhuras frontais
8 + caixa-de-ar preenchida com espuma (sem véu * * A8 B8 C8 D8
acústico)
Amostra + espuma introduzida nas ranhuras frontais
9 + caixa-de-ar preenchida com lã de rocha (sem véu * * A9 B9 C9 D9
acústico)

Em todos os ensaios, considerou-se uma caixa-de-ar no tardoz das amostras com uma
profundidade de 40mm, e que poderá ou não ser preenchida com absorvente poroso.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS


Numa primeira análise, a partir dos resultados que se ilustram nas Figuras 5a) e 5b), pretende-se
verificar a influência da geometria e concepção dos painéis ranhurados, através dos ensaios das
amostras A a D, em duas situações de montagem mais “correntes”. Na primeira daquelas figuras,
pode observar-se os resultados para os 4 tipos de painéis ranhurados, com tela acústica colada no
tardoz, sem aplicação de espumas nas ranhuras dos painéis e com a caixa-de-ar vazia (condições
de montagem do tipo 2, referidas na Tabela 1). Globalmente, o comportamento dos vários
painéis apresenta níveis de absorção reduzidos, para baixas frequências, um pico de absorção
pronunciado, centrado nas frequências de 500 a 630Hz, decrescendo depois os níveis de absorção
sonora, na gama de frequências mais elevadas. Nestas condições, observa-se que as amostras A e
B apresentam comportamentos muito semelhantes, em termos de localização da frequência de
ressonância e em termos de amplitude máxima atingida (abaixo de 0.6). As amostras C e D
exibem valores máximos de amplitude do coeficiente de absorção sonora um pouco mais
elevados (ambos, acima de 0.7), contudo, no caso da amostra C, a ressonância encontra-se
centrada numa frequência um pouco inferior às das amostras A, B e D.
Na Figura 5b), ilustram-se os resultados dos ensaios aos mesmos painéis, em condições de
montagem “standard” (indicadas na Tabela 1 como de tipo 4), com aplicação de tela acústica,
sem a inclusão de espumas nas ranhuras dos painéis e com a caixa-de-ar de 40mm integralmente
preenchida por lã de rocha. Neste gráfico, é possível constatar que o preenchimento da caixa-de-
ar com aquele material absorvente conduziu ao aumento do valor máximo de absorção sonora,
para valores próximos da unidade, nas quatro amostras testadas. De igual modo, observa-se uma
tendência para que aquelas ressonâncias ocorram em frequências um pouco mais baixas (cerca de
1/3 de oitava, no caso das amostras C e D), devendo salientar-se o aumento da absorção sonora
(para as amostras A, B e D) na gama de frequências mais elevadas, já expectável ao se adoptar
materiais fibrosos como a lã de rocha.

260
Em ambas as figuras, os resultados exibidos pela amostra C aparentam demonstrar o efeito de
um maior comprimento do trajecto realizado pelas ondas sonoras desde a face exposta do painel
até ao tardoz do painel, onde se encontra a tela acústica e inicia a caixa-de-ar.

a) b)
Figura 5: Resultados dos ensaios em tubo de impedância para as amostras A, B, C e D: a) com véu
acústico colado no tardoz e caixa-de-ar vazia (tipo 2); b) montagem standard, com véu acústico colado
e lã de rocha na caixa-de-ar (tipo 4).

Seguidamente, os resultados de um conjunto de ensaios foram agrupados, em quatro gráficos


(Figuras 6a) a 6d)), de modo a comparar, para cada tipo de amostra, diferentes condições de
aplicação das espumas (nas ranhuras da frente ou nas ranhuras de trás dos painéis) e de
preenchimento da caixa-de-ar (vazia, com espuma ou com lã de rocha), sem aplicação da tela
acústica. Para referência, foram incluídas as curvas de absorção sonora correspondente à
montagem “standard”. Numa análise global, fica bem patente, para cada tipo de amostra, a
aproximação dos resultados correspondentes às condições de montagem dos tipos 4, 6, 8 e 9 (de
acordo com a Tabela 1), em termos de amplitude máxima e da frequência em que ela ocorre.
Para o caso da montagem “standard” observa-se uma ligeira translação da curva para a direita,
em cerca de 1/3 de oitava. Ressalta, assim, a similitude de comportamentos para as situações de
preenchimento da caixa-de-ar com materiais absorventes distintos, uma espuma de poliuretano
de célula aberta e uma lã de rocha. Contudo, é possível diferenciar, de forma clara, o
comportamento correspondente à condição de montagem do tipo 7, em que, não tendo tela
acústica no tardoz, se procede à utilização de espuma nas ranhuras da frente do painel e a caixa-
de-ar não se encontra preenchida com material absorvente. Neste caso, para cada tipo de amostra,
o valor máximo de absorção sonora ocorre de forma mais concentrada na gama de frequências,
numa frequência um pouco superior e sendo a amplitude inferior em relação às restantes
condições de montagem. Ainda assim, a amplitude máxima atingida para esta condição de
montagem atinge valores interessantes, sempre acima de 0.75, sabendo que não existe material
absorvente na caixa-de-ar. O comportamento observado entre as diferentes amostras aparenta
seguir a tendência comentada acima.
Por último, na Figura 7 ilustram-se os resultados para os 4 tipos de painéis ranhurados em
análise, numa situação de montagem que compreende a utilização de espuma nas ranhuras da
parte exposta do painel e a inserção de lã de rocha na caixa-de-ar (montagem do tipo 9, em
consonância com a Tabela 1). Esta montagem poderá ser encarada como alternativa à mais
tradicional (do tipo 4, “standard”), dispensando a aplicação de tela acústica como forma de
protecção face à lã rocha presente na caixa-de-ar. As curvas de absorção sonora são praticamente
coincidentes para as amostras A, B e D, apresentando valores máximos muito próximos da
absorção total das ondas incidentes, na banda de frequência de 1/3 de oitava de 500Hz. Tal como
anteriormente, a amostra C, com taxas de perfuração (da frente e do tardoz) muito semelhantes às

261
da amostra D, exibe um comportamento que se distingue, com uma translação da curva de
absorção no sentido de frequências mais baixas.

a) b)

c) d)
Figura 6: Resultados dos ensaios em tubo de impedância para diferentes condições de montagem, 4,
6, 7, 8 e 9: a) amostra A; b) amostra B; c) amostra C; d) amostra D.

Figura 7: Resultados dos ensaios em tubo de


impedância para as amostras A, B, C e D: com
espuma à frente, sem véu acústico no tardoz e
caixa-de-ar com lã de rocha (tipo 9).

262
5. CONCLUSÕES
A análise apresentada no presente trabalho baseou-se num estudo experimental em tubo de
impedância, recorrendo a amostras de dimensões reduzidas, com o objectivo de caracterizar o
comportamento de painéis absorventes acústicos perfurados ou ranhurados, com incorporação de
espumas sintéticas. Ficou evidenciado que, para que as quatro amostras estudadas tenham uma
elevada absorção sonora, é necessário preencher a cavidade ressonante (caixa-de-ar) com um
material poroso – os resultados obtidos permitem observar uma ligeira vantagem para a lã de
rocha (montagem 5) em relação à espuma PUR (montagem 6).
O trabalho também permitiu evidenciar que não há incremento da absorção sonora com a
utilização de espuma no interior das ranhuras do tardoz das amostras (montagens 5 e 6).
Contudo, a utilização de espuma nas ranhuras frontais permitiu aumentar ligeiramente a absorção
sonora máxima (e reduzir, também ligeiramente, a banda de frequências para a qual esta ocorre –
frequência de ressonância).
O trabalho mostrou ainda que a forma geométrica das perfurações (i.e., o caminho percorrido
pelas ondas sonoras desde a face exposta das amostras até ao tardoz) tem uma influência directa
na absorção sonora dos sistemas. Comparando as amostras C e D, com taxas de perfuração muito
semelhantes, verificou-se que têm frequências de ressonância diferentes, sendo que a amostra
com a perfuração mais “tortuosa” (amostra C) tem uma maior absorção sonora nas frequências
mais baixas e que a amostra com a perfuração mais “directa” (amostra D) tem uma maior
absorção sonora em frequências mais elevadas. Como ambas as amostras têm o mesmo aspecto
(a face exposta ao som incidente é idêntica) o desempenho acústico é predominantemente
determinado pelas perfurações realizadas no tardoz.
Este trabalho será completado, em breve, com ensaios realizados em câmara reverberante, de
acordo com a norma NP EN ISO 354, de forma a confirmar os resultados obtidos em tubo de
impedância.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à empresa “Castelhano & Ferreira, S.A.” e ao “ITeCons - Instituto de
Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Ciências da Construção” o apoio
disponibilizado para a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS
1. Ingard, K.U. and Bolt, R.H. Absorption characteristics of acoustic material with perforated facings, Journal of
the Acoustical Society of America 23, 533-540, 1951.
2. Morse, P.M., Bolt, R.H. and Brown, R.L. Acoustic Impedance and sound absorption, Journal of the Acoustical
Society of America 12-2, 217-227, 1940.
3. Bolt, R.H. On the design of perforated facings for acoustic materials, Journal of the Acoustical Society of
America 19, 917-921, 1947.
4. Ingard, K.U. On the theory and design of acoustic resonators, Journal of the Acoustical Society of America 25,
1037-1062, 1953.
5. Crandall, I.B. Theory of vibrating systems and sound, Van Nostrand, New York, 1926.
6. Patraquim, R. Perforated wooden panels: design and experimental evaluation of solutions, Tese de Mestrado,
Instituto Superior Técnico, Portugal, 2008.
7. Godinho, L., Amado-Mendes, P. Patraquim, R. & Jordão, A.C. (2011) Avaliação do comportamento acústico de
painéis ressonantes incorporando telas acústicas. Tecniacústica, Cáceres, Espanha, Actas em CD-Rom
8. Toyoda, M., Tanaka, M. and Takahashi, D. Reduction of acoustic radiation by perforated board and honeycomb
layer systems, Applied Acoustics 68(1), 71-85, 2007.
9. Sakagami, K., Matsutani, K. and Morimoto, M.Sound absorption of a double-leaf micro-perforated panel with
an air-back cavity and a rigid-back wall: Detailed analysis with a Helmholtz–Kirchhoff integral formulation,
Applied Acoustics 71(5), 411-417, 2010.

263
ESTUDO DA ISOLAÇÃO SONORA DE UM PAINEL À BASE DA CASCA
DO CUPUAÇU

AGUIAR, B. F. R.; MELO, G. S. V.; PEREIRA, L. C. A.; SOEIRO, N. S.


Universidade Federal do Pará.
RESUMO
A poluição sonora no mundo e no Brasil está cada vez mais abrangente, provocando males à saúde da
população. Os materiais no mercado para isolamento acústico, não buscam métodos ecológicos para sua
fabricação. Com a intenção de buscar novos materiais alternativos para isolamento, foi desenvolvida a
pesquisa com a casca do cupuaçu como um possível material de isolamento acústico, no qual foi reciclada e
obtido seu reaproveitamento na construção de um protótipo, onde posteriormente foram feitas medições em
mini câmaras geminadas, para se obter a perda de transmissão do painel, com base nas normas IS0 140.

ABSTRACT
Noise pollution in the world, as well as in Brazil, is increasingly widespread, causing harm to health.
Materials commercially available for sound insulation don’t seek ecological methods for their manufacture.
With the intention to seek new alternative materials for insulation, this research was developed with the shell
of cupuaçu as a soundproofing material, which was recycled and reused in the construction of a prototype,
which later measurements were performed using a mini transmission suite, in order to obtain the
transmission loss of the cupuaçu panel, based on IS0 140.
Palavras-chave: Casca de cupuaçu, perda de transmissão, mini câmaras de transmissão sonora.

1. INTRODUÇÃO
Atualmente, a poluição sonora, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, está cada vez
mais insustentável, uma vez que se constitui não apenas como fonte de incômodo à população, mas
também como um problema de saúde pública, na qual contribui para a perda de qualidade de vida
da população.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a poluição sonora causa efeitos adversos à
saúde, efeitos diretos ou primários (incômodo, interferência na comunicação, etc.) e efeitos
cumulativos ou secundários e terciários (estresse, risco de hipertensão e infartos, etc.), além de
efeitos socioculturais, estéticos e econômicos, através de isolamento social, perda de qualidade
acústica na vizinhança e depreciação do valor dos imóveis (SOUSA, 2004).

Segundo (BISTAFA, 2006), a absorção sonora é obtida através da medição do tempo de


reverberação e, para que seja eficaz, deverão ser utilizados materiais fibrosos ou porosos. Já a
isolação sonora pode ser quantificada através da perda de transmissão de certo material, o qual deve
possuir uma elevada densidade superficial de massa.

Diversos fatores influenciam o resultado acústico de um ambiente. Controlar estes fatores é,


portanto, fundamental quando se trata de espaços com necessidades acústicas específicas. Desta
forma, um bom projeto acústico prevê o isolamento e absorção acústica utilizadas com critérios pré-
estabelecidos, objetivando uma melhor eficiência no resultado final. Para a concretização deste
resultado, deverá ser levado em consideração o desempenho acústico do material utilizado: sua
fixação, posição relativa à fonte de ruído e a facilidade de manutenção, sem que a funcionalidade do
ambiente fique restringida (BASTOS, 2009).

264
Na elaboração de um projeto acústico, podem-se utilizar vários tipos de materiais disponíveis no
mercado, porém, o alto custo destes materiais, em geral, não favorece sua ampla utilização. Neste
âmbito, surge a necessidade de se desenvolverem materiais alternativos que apresentem boas
características acústicas, boa durabilidade e custo reduzido (BASTOS, 2009).

De acordo com Straub (apud PEREIRA, 2009), o desenvolvimento de uma tecnologia ecológica é
uma necessidade para a proteção ambiental em todo o mundo, onde se buscam novos materiais que
sejam ecologicamente corretos. Os beneficiários não são apenas a população e a indústria local, mas
também as florestas tropicais. Também é importante evitar a geração de resíduos agressivos ao
meio ambiente, fazendo com que as peças descartadas não se avolumem em aterros, mas possam ser
recicladas (PEREIRA, 2009).

Objetivando amenizar o grau de poluição sonora atual com responsabilidade ecológica, foram
desenvolvidos ao longo dos últimos anos alguns estudos com materiais alternativos para absorção
sonora, porém, estudos de materiais alternativos para isolação ainda são escassos.

O Pará possui uma estimativa de 30% da produção do cupuaçu na região Norte, onde está
concentrado o maior índice de produção no país. A oferta anual de polpa na região está entre duas
mil e três mil toneladas, das quais 70% são produzidas no Pará, seguido pelo Amazonas, Rondônia
e Acre. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Pará
apresenta o maior número de agricultores dedicados à exploração de cupuaçu, cerca de 67% (O
LIBERAL, 2003).

Pesquisas recentes têm demonstrado a possibilidade de obtenção de novos produtos, ampliando o


leque dos já existentes e contribuindo para o aproveitamento mais eficiente do fruto do cupuaçu.
Das sementes processadas pode-se produzir uma bebida com teor de proteína semelhante ao de um
achocolatado formulado com leite de vaca. A casca de cupuaçu, que normalmente é descartada e
usada como adubo, pode ser aplicada na geração de energia, entre outros (KAMINSKI, 2006).
Assim, o presente trabalho tem como objetivo produzir um protótipo de um painel à base da casca
do cupuaçu, e desenvolver ensaios acústicos de acordo com a norma ISO 140 para obtenção da
perda de transmissão sonora.

2. MATERIAIS E METÓDOS
2.1. Desenvolvimento do painel da casca do cupuaçu
As cascas foram obtidas em uma das feiras de Belém-PA, que após a retirada da polpa do cupuaçu
eram descartadas pelos feirantes. As cascas foram então lavadas, colocadas ao sol e, em seguida,
quebradas até se atingir uma composição granular, tal como apresentado na Fig.1.

Figura 1: Processo de granulação da casca do cupuaçu

265
Com o auxílio de um molde foi projetado um painel com dimensões de 60 x 61,5 x 3 cm (ver Fig.
2). No molde foram misturadas a casca do cupuaçu granulada, a resina fenólica e o endurecedor
compatível. Posteriormente, o painel foi deixado ao ar livre para secagem durante um período de
24h.

Figura 2: Painel da casca do cupuaçu dentro do molde

2.2. Equipamentos de medição e aquisição de dados


Os equipamentos utilizados para as medições de ruído de fundo, tempo de reverberação e perda de
transmissão sonora foram: o Analisador de Sinais, B&K, tipo 3560C (Pulse) e nele foram
conectados os microfones para medições em campo difuso, B&K, tipo 4942, e o amplificador de
potência, B&K, tipo 2719 (ver Fig. 3). Para excitar o sistema foi utilizada a fonte omnidirecional,
B&K, tipo 4296.

Figura 3: Conjunto analisador de sinais de quatro canais B&K, tipo 3560C – Pulse, amplificador de
potência, notebook e microfone de campo difuso, B&K, tipo 4942
Fonte: Guimarães, 2011.

2.3. Ensaio de perda de transmissão


Os ensaios foram realizados em mini câmaras acústicas geminadas, cujo painel à base de casca de
cupuaçu foi inserido entre elas (ver Fig. 4 e 5). As medições para determinação dos níveis sonoros
foram realizadas em seis pontos diferentes para cada câmara, variando-se ainda a altura dos
microfones.

Construídas por Guimarães (2011), as mini câmaras tomam como base as dimensões das câmaras
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com algumas adaptações e na escala de 1:6 das
dimensões reais. Sendo assim, cada mini câmara mede 52 x 52 x 80 cm (LxAxP).

266
Figura 4: Representação das mini câmaras com a disposição dos microfones e da fonte

Figura 5: Partição do painel da casca do cupuaçu acoplada nas mini câmaras

2.3.1 Ensaio dos níveis de ruído de fundo e diferença de pressão sonora nas câmaras
geminadas
Primeiramente, foi necessário medir o nível de ruído de fundo nas mini câmaras, com a finalidade
de verificar valores compatíveis com uma boa relação entre sinal e ruído, ou seja, uma diferença
acima de 15 dB entre o ruído de fundo nas mini câmaras e o ruído gerado para os ensaios.
Posteriormente foram realizadas as medidas de nível de pressão sonora, para obter a diferença de
nível de pressão sonora entre as câmaras. O tempo de medição adotado foi de 10 s, que está em
acordo com a norma ISO 140.

2.3.2 Ensaios do Tempo de Reverberação da Câmara Receptora


Um dos parâmetros para determinação da perda de transmissão (PT) proporcionada pela inserção do
painel de cupuaçu é a determinação do tempo de reverberação da sala receptora, onde foram feitas
medições com seis posições de microfone diferenciadas, dentro das recomendações da norma ISO
354.

267
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Resultados do ensaio dos níveis de ruído de fundo, níveis de pressão sonora (NPS) e tempo
de reverberação na câmara receptora.

Na Tab. 1 podem-se visualizar os valores de ruído de fundo e NPS obtidos em cada mini câmara,
onde os valores para o microfone 1 referem-se à câmara emissora e o microfone 2 à receptora. A
partir destes dados traçou-se o gráfico comparativo entre os NPS’s (ver. Fig. 6).

Tabela 1: Resultado das medições de níveis sonoros com o painel da casca do cupuaçu
Ruído de fundo Nível de pressão sonora
Freq (Hz) Mic 1(Em) (dB) Mic 2(Rec) (dB) Diferença (dB) Mic 1(Em) (dB) Mic 2(Rec) (dB) Diferença (dB)
63 51,92 42,75 9,18 77,86 64,48 13,38
80 38,47 42,75 7,12 77,52 59,04 18,48
100 28,40 28,50 -0,10 76,70 52,16 24,54
125 31,21 30,76 0,45 76,66 50,13 26,53
160 30,28 30,76 -0,15 79,10 58,51 20,59
200 33,64 31,86 1,78 86,61 72,78 13,83
250 31,99 30,63 1,36 82,14 63,53 18,61
315 31,99 31,85 0,12 82,58 62,14 20,44
400 32,60 31,85 1,29 80,75 65,15 15,60
500 31,01 31,33 -0,32 73,01 57,38 15,63
630 31,28 29,20 2,09 76,21 61,93 14,28
800 32,00 30,07 1,93 78,72 64,07 14,66
1000 33,14 31,21 1,93 80,09 61,87 18,22
1250 31,89 30,40 1,49 74,93 54,08 20,85
1600 30,62 29,97 1,49 79,91 56,62 23,29
2000 29,82 29,60 0,22 79,24 55,49 23,76
2500 30,03 29,94 0,09 77,20 52,43 24,77
3150 30,43 30,52 -0,09 76,96 54,23 22,73
4000 31,16 31,30 -0,15 76,78 55,07 21,70
5000 32,07 32,29 -0,22 73,73 51,40 22,34
6300 33,29 33,32 -0,03 73,59 47,11 26,48
8000 34,31 34,39 -0,08 72,44 44,89 27,55

Baixa para média


frequência
média para alta
frequência

Figura 6: Gráfico de resultados do nível de pressão sonora

Pode-se observar na Fig. 7, que o tempo de reverberação da mini câmara receptora é maior nas
médias frequências.

268
Figura 7: Gráfico do resultado do tempo de reverberação na câmara receptora

3.2. Resultado da perda de transmissão (PT)


Diante dos resultados apresentados, com as diferenças de NPS das partições ensaiadas nas mini
câmaras geminadas (emissora e receptora), além dos resultados do tempo médio de reverberação da
câmara receptora, é possível calcular a Perda de Transmissão (PT) da partição da placa da casca do
cupuaçu, através da seguinte equação:

0,161 𝑉2
𝑃𝑇 = 𝐿1 − 𝐿2 + 10 log(𝑆2 ) − 10 𝑙𝑜𝑔 � 𝑇2
� [Eq.01]

Os resultados dos cálculos da PT estão expressos na Tab. 2 e Fig. 8. Observa-se que nas frequências
de 200, 500, 630 e 800 Hz apresentam uma baixa perda de transmissão em relação as demais
frequências, entretanto a maior perda de transmissão é observada nas baixas e altas frequências,
porém os resultados em baixas frequências são pouco confiáveis, devido a escala reduzida da mini
câmara.
Tabela 2: Resultado da perda de transmissão na câmara receptora
Freq (Hz) PT (dB)
100 29,07
125 29,70
160 22,73
200 15,35
250 20,13
315 25,13
400 20,60
500 17,15
630 18,46
800 18,66
1000 23,07
1250 24,65
1600 27,47
2000 27,56
2500 27,19
3150 24,57
4000 23,54
5000 24,48
6300 28,32
8000 29,39

269
Figura 8: Gráfico do resultado da perda de transmissão na câmara receptora

4. CONCLUSÕES
Este artigo apresenta um estudo inicial, porém inovador, sobre o potencial de uso da casca de
cupuaçu como o principal elemento constituinte de paineis para isolação sonora entre ambientes.

A metodologia adotada permitiu a obtenção de um protótipo à base de casca triturada de cupuaçu,


com espessura de apenas 3 cm, o qual permitiu a obtenção de resultados de PT de até 30 dB.

Entretanto, como não se dispunha de um sistema de câmaras para medições de transmissão de ruído
em escala real, foram utilizadas mini câmaras geminadas, desenvolvidas para uso acadêmico e
testes preliminares de materiais para isolação sonora. Desta forma, faz-se necessária a realização de
testes em câmaras padronizadas, para determinação precisa do potencial de isolação sonora do
protótipo desenvolvido.

Em todo caso, os resultados preliminares aqui apresentados se mostraram satisfatórios,


principalmente quando se atenta para a espessura de apenas 3 cm, utilizada na confecção do painel à
base de casca de cupuaçu. Desta forma, é possível estimar que o aumento da espessura elevará os
valores de PT encontrados, de acordo com a lei das massas, em cerca de 5 a 6 dB a cada dobro da
espessura. Finalmente, estima-se que composições na forma de paineis tipo sanduíche, com recheio
de lã de rocha, por exemplo, fornecerão resultados competitivos de isolação sonora, quando
comparados aos materiais comercialmente disponíveis, embora outros estudos ainda sejam
necessários, no que diz respeito a outras propriedades mecânicas e químicas do painel à base de
casca de cupuaçu.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelo auxílio concedido na forma de Bolsa de Pesquisa.

270
REFERÊNCIAS

1. BASTOS. L. P. Desenvolvimento e Caracterização Acústica de painéis multicamadas unifibra, multifibras e


mesclados, fabricados a partir de fibras vegetais. 2009. Dissertação de Mestrado em Engenharia Mecânica -
Universidade Federal do Pará, Belém.
2. BISTAFA, S. R. Acústica aplicada ao controle do ruído. São Paulo: Ed. Edgard Blücher, 2006. 368p.
3. GUIMARÃES. E. V. C. Influência do ruído de tráfego em edifícios e proposta de solução desenvolvida com
auxílio de modelos numéricos. 2011. Dissertação de Mestrado em Engenharia Mecânica - Universidade Federal do
Pará, Belém.
4. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 140. Acoustics – Measurement of
Sound Absorption in Reverberation Rooms. 1997.
5. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 354. Acoustics –Measurement of
Sound Absorption in Reverberation Rooms, 1999.
6. KAMINSKI, P. E. O cupuaçu: Usos e potencial para o desenvolvimento rural na Amazônia. Artigos, Brasil, 2006.
Disponível em: < http://www.agronline.com.br/artigos/artigo.php?id=321>. Acesso em: 28 Jan. 2011.
7. O LIBERAL. Pesquisa comprova rentabilidade do cupuaçu. Notícias, Belém, 2003. Disponível em:
<http://negocios.amazonia.org.br/?fuseaction=noticiaImprimir&id=69757> Acesso em: 20 Jan. 2011.
8. PEREIRA, C. V. A Utilização do caroço co açaí na criação de novos produtos. Biologia - artigos, Brasil, 2009.
Disponível em: <http://www.artigonal.com/biologia-artigos/a-utilizacao-do-caroco-do-acai-na-criacao-de-novos-
produtos 1483115.html>. Acesso em: 1 Fev. 2011.
9. SOUSA. D. S. Instrumentos de Gestão de poluição sonora para a sustentabilidade das cidades brasileiras.
2004. Tese de Doutorado em Engenharia - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

271
CARACTERIZAÇÃO DA ABSORÇÃO SONORA DE
BARREIRAS ACÚSTICAS CORRUGADAS

PAZOS, D. F. P.1; MUSAFIR, R. E.2


Programa de Engenharia Mecânica, COPPE / Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
C.P. 68503, 21941-972, Rio de Janeiro - RJ
(1) dan.pazos@gmail.com, (2) rem@mecanica.ufrj.br

RESUMO
Diversos métodos para a determinação da absorção sonora de barreiras acústicas são conhecidos, contudo
nenhum deles é adequado para a medição in-situ de barreiras corrugadas – as quais são amplamente usadas
para a redução do ruído refletido à frente de suas superfícies. Este artigo apresenta uma investigação
objetivando desenvolver um novo método de medição in-situ para a determinação da absorção sonora de
barreiras com superfície corrugada. A pesquisa é dividida em quatro tarefas principais. O artigo apresenta
cada etapa já realizada, seus resultados preliminares e perspectivas.
ABSTRACT
Many methods for the determination of sound absorption of noise walls are well known, however none of
them is suitable for the in-situ measurement of corrugated barriers – which are widely used to reduce sound
reflection back to the front side of barriers. This paper presents an investigation aimed to develop a new in-
situ measuring method for the determination of the sound absorption of noise walls with corrugated surface.
The research is divided into four main tasks. The paper presents each accomplished step, their preliminary
results and perspectives.
Palavras-chave: Barreiras Acústicas, Reflexão Difusa, Absorção Sonora.

1. INTRODUÇÃO
Barreiras acústicas são comumente aplicadas para reduzir níveis sonoros em receptores localizados
próximos a rodovias e ferrovias. A barreira evita a incidência direta de som sobre esses
observadores, criando uma região de sombra, onde o ruído reduzido propaga-se principalmente
devido à difração nas bordas da barreira. Embora intencionada à redução de ruído, tais barreiras
podem também levar a efeitos negativos sobre observadores localizados em frente da barreira, fora
de sua região de sombra. Superfícies planas refletem o ruído adiante das barreiras e níveis sonoros
mais elevados – até 5 dB – podem ocorrer aí, mesmo que outras barreiras estejam protegendo tal
região – o som refletido tangencia o topo da barreira oposta, diminuindo sua região de sombra
(Fig. 1).

Por outro lado, o uso de superfícies corrugadas em barreiras acústicas pode reduzir
substancialmente tais reflexões indesejadas. Quando uma onda sonora incide sobre uma superfície
corrugada, dependendo da relação entre seu comprimento de onda e a geometria da corrugação,
ocorre reflexão sonora difusa, sendo a energia sonora espalhada em diversas direções à frente da
superfície – não apenas em uma, como no caso de superfícies planas (Fig. 1). Além disso, devido à
própria corrugação, a área de absorção sonora da superfície é aumentada e menos energia sonora é
refletida.

272
Figura 1. Reflexão direta de barreiras planas e a reflexão difusa de barreiras corrugadas.

Embora amplamente utilizadas hoje em dia, o planejamento e a caracterização de barreiras


corrugadas são baseadas, sobretudo, em experiências práticas, o que pode levar a altos custos de
instalação e à ineficiência de tais barreiras. Muitos métodos para a determinação da absorção sonora
de barreiras são bem conhecidos, contudo nenhum deles é adequado para a medição in-situ de
superfícies corrugadas, o que é de grande importância, particularmente quando é requerida a
avaliação da reflexão/absorção de barreiras já instaladas.

O problema da medição in-situ da absorção sonora de barreiras corrugadas deve-se à forte


interferência no campo próximo à superfície, o que leva à focalização do som e, portanto, a valores
de reflexão/absorção inconsistentes – mesmo que corretamente determinados. Portanto, embora
bem aplicados para superfícies planas, os métodos atuais de medição in-situ para a absorção sonora
de barreiras acústicas não funcionam bem para superfícies corrugadas. Além disso, a dificuldade em
eliminar reflexões espúrias no campo afastado é também um desafio a ser superado.

Em vista da problemática levantada, é requerida pesquisa sobre uma caracterização apropriada de


barreiras acústicas com superfície corrugada. Este trabalho relata uma investigação objetivada a
desenvolver um novo método de medição in-situ para a absorção sonora de barreiras com
superfícies corrugadas. O novo método de medição deve permitir uma descrição prática e
representativa de tais barreiras. O artigo descreve a metodologia aplicada e apresenta resultados
preliminares.

2. METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa para o objetivo proposto é dividida em quatro etapas principais:
1. Avaliação dos métodos atuais para a medição da absorção sonora,
2. Modelagem e cálculo do campo sonoro em frente de superficies corrugadas,
3. Desenvolvimento de um novo método de medição in-situ para a absorção sonora de barreiras
corrugadas,
4. Aplicação e comprovação prática do método de medição desenvolvido.

As investigações conduzidas são a seguir apresentadas. Até o momento, foram realizadas a primeira
e a segunda parte do trabalho, sendo que terceira parte já foi iniciada.

3. INVESTIGATIGAÇÕES E RESULTADOS PRELIMINARES


3.1. Avaliação dos métodos atuais para a medição da absorção sonora de barreiras acústicas
Existem diversos métodos de medição da absorção sonora de barreiras acústicas [1]. Os métodos
disponíveis podem ser classificados como laboratoriais normalizados, alternativos e procedimentos
alternativos in-situ. A absorção sonora pode ser também determinada através do respectivo
coeficiente de reflexão, da impedância da superfície e da função de transferência entre dois
microfones de medição.
273
Dois desses métodos são normas laboratoriais bem conhecidas: a medição no tubo de impedância e
a em câmara reverberante. Além desses dois métodos clássicos, há uma variedade de procedimentos
laboratoriais alternativos [1], como por exemplo: Método da Pressão Superficial, Guias de Onda,
Impulso Tonal, Técnicas de Correlação, Análise Cepstral e Técnica de Dois Microfones. Por outro
lado, medições in-situ são principalmente requeridas para se verificar a absorção sonora de barreiras
acústicas já construídas, após longo tempo de instalação. Para este tipo de medições, existem alguns
métodos não normalizados.

O chamado método Adrienne [2] é um procedimento in-situ, que representou um projeto de norma
– DIN CEN/TS 1793-5. Ele é baseado no método de Impulso Tonal, no qual uma fonte envia um
sinal de excitação na direção da barreira, o qual é refletido a um microfone. No método Adrienne,
são utilizados um sinal de excitação MLS (Maximum Length Se quence), para obtenção de boa
relação sinal/ruído, e um dispositivo de medição – um alto-falante e um microfone montados num
tripé, de modo que ambos podem ser movimentados e girados juntos, mantendo sua distância
relativa. Duas medições são realizadas. Na primeira, na qual o dispositivo é voltado para a barreira
a uma distância de 1,25 m de sua superfície (Fig. 2), são medidas a pressão sonora incidente e a
refletida. Na segunda, na qual o dispositivo é voltado contra a barreira, apenas o som incidente é
medido. Através de técnicas de subtração e janelamento, o sinal refletido é separado da primeira
medição e o coeficiente de absorção (α) é determinado (Fig. 2).

Figura 2. Dispositivo de medição e técnicas de processamento do Método Adrienne.

Embora com bons resultados para superfícies planas, quando usado para superfícies corrugadas, o
Método Adrienne fornece resultados incorretos. Devido à reflexão difusa, efeitos de focalização
ocorrem próximo à corrugação e, assim, valores fisicamente inconsistentes são obtidos, como por
exemplo, coeficientes de absorção menores do que 0 (zero), como se fosse refletida mais energia do
que a incide sobre a barreira.

O uso da excitação MLS no Método Adrienne visa a melhorar a relação sinal/ruído, porém isso
requer sinais de entrada (alto-falante) e de saída (microfone) coerentes entre si, o que é conseguido,
por exemplo, a distâncias próximas entre alto-falante, microfone e superfície. Portanto, o uso do
método Adrienne para medições in-situ da absorção sonora em campo afastado de superfícies
corrugadas – onde os efeitos da interferência difusa podem ser negligenciados – é inadequado.

Um método alternativo de medição em campo afastado in-situ já foi formulado e testado [3]. Nesse
método, aqui chamado de “Método da Comparação”, medições são realizadas utilizando excitação
estocástica a alguns metros da barreira (5, 6 e 7 m). Para suprimir reflexões espúrias no campo
afastado, são feitas medições do som refletido de superfícies de referência, cujos coeficientes de
reflexão são conhecidos (superficies altamente refletoras, com α = 0 e absorvedoras, com α = 1),
274
posicionadas sobre parte da superfície corrugada. O coeficiente de absorção é então determinado
através de relações entre as pressões sonoras medidas com e sem as superfícies de referência. Os
valores de absorção determinados por este método mostraram valores consistentes. Contudo, numa
comparação com resultados teóricos, é obtida má concordância para altas e médias frequências, de
modo que a precisão e os limites de aplicação do método devem ser melhorados.

Em vista do atual estado da arte, medições em campo próximo e afastado têm cada uma suas
próprias dificuldades. A medição da absorção sonora de superfícies corrugadas deve ser realizada
em campo afastado, mas ainda há questões metrológicas a serem superadas. Portanto, uma possível
transferência de valores de medição do campo próximo para o afastado deve ser investigada.

3.2. Modelagem e cálculo do campo sonoro em frente de superfícies corrugadas


• Campo Próximo
O método de Holford-Urusovskii [4] fornece a solução exata da reflexão difusa de uma onda sonora
plana incidente sobre uma superfície corrugada. Ele é aplicado para cálculos de campo próximo.

Seja z = ξ(x) uma função periódica que descreve a superfície corrugada (comprimento de
corrugação Λ = 2π/K e profundidade H = 2h) num sistema de coordenadas x-z (Fig. 3). Uma onda
incidente (comprimento de onda λ = 2π/k e freqüência f) propaga-se sobre o plano (x,z) e incide
sobre a superfície corrugada sob o ângulo ϕ0 ao eixo x.

Figura 3. Onda plana incidindo sobre uma superficie corrugada periódica: reflexão difusa.

A peridiocidade da superfície permite afirmar que o campo difuso refletido é também uma função
periódica, sendo descrita por uma soma de ondas planas, que se propagam com amplitudes Rn sob
ângulos específicos ϕn, também chamados de auto-direções da reflexão difusa (Fig. 3):

+∞
p ref ( x, z ) = ∑R
n = −∞
n e i k (α n x +γ n z ) , z > h. [Eq. 1]

Os termos αn e γn referem-se ao cosseno e ao seno do ângulo ϕn, respectivamente:

cos ϕ n = α n = cos ϕ 0 + n λ Λ
, n = 0, ≤1, ≤2, … [Eq. 2]
senϕ n = γ n = 1 − α n
2

A Eq. 2 relaciona a freqüência e o ângulo de incidência da onda com a geometria da corrugação.


Assim, a reflexão difusa ocorre para comprimentos de onda λu < 2Λ. Além disso, ela mostra que
apenas quando γn é um numero real (i.e. |αn| ≤ 1), a onda refletida respectiva propaga-se no campo
afastado, enquanto para γn imaginários (i.e. |αn| > 1), as ondas refletidas são amortecidas
exponencialmente no campo afastado, i.e. tratam-se de ondas evanescentes. Sejam M- e M+ as

275
ordens mínima e máxima n para as quais γn é real. Assim, as ondas refletidas (pout) e evanescentes
(peva) podem ser separadas na Eq. 2:

M+
p out ( x, z ) = ∑ R n e i k (α n x +γ n z )
M− , |αn| ≤ 1. [Eq. 3]
p out ( x, z ) = p ref ( x, z ) − p eva ( x, z )

Para se calcular as amplitudes Rn das ondas refletidas, são determinados primeiramente os


coeficientes de Fourier φm da pressão sonora total na superfície, φ(x) = p(x, ξ(x)). Isto é feito
resolvendo o seguinte sistema de equações:

+∞ Λ
2
φm − ∑ φ m U m, n =
n = −∞
φ ( x)e −i k α m x dx , m = 0, ≤1, ≤2, …
Λ ∫0 inc
[Eq. 4]

onde φinc(x) = pein(x, ξ(x)) = exp[i k(α0 x – γ0 ξ(x))] representa a pressão sonora incidente sobre a
superfície (a amplitude da onda incidente é considerada como unitária, por simplicidade). Se a
superfície é muito rígida (admitância η0 = 0), os elementos Um,n são dados por:

Λ +∞
H 1(1) (k ρ )  ∂ξ ( x )  −i k α τ
U m,n =
1 ik
Λ 2 ∫ {e
−i ( m − n ) K x
⋅ }
∫−∞ ρ ξ ( x + τ ) − ξ ( x) − τ ∂x ⋅ e m ⋅ dτ ⋅ dx [Eq. 5]
0

sendo ρ = [τ 2 + (ξ(x+τ) – ξ(x))2]1/2, τ = x – x’ (distância horizontal entre x e x’, uma posição no


campo e uma qualquer sobre a superfície) e H1(1) a função de Hankel do primeiro tipo de ordem 1.
Já que uma solução analítica não existe, os valores das integrais podem ser estimados por
aproximações numérico-analíticas [5].

Calculando φm até uma ordem m = N, as amplitudes Rn são determinadas como na referência [4]. A
precisão dos resultados é testada pela conservação de energia no campo afastado, onde desvios até
1% são aceitos:

γn
ε= ∑ Rn = 1
2
[Eq. 6]
γ
n reell γ 0

Resultados de cálculos usando o método descrito são aqui apresentados, considerando uma
corrugação senoidal ξ(x) = h cos(K x), com Λ = 0,188 m e h = 0,047 m, freqüência f1 = 2000 Hz e
ângulo de incidência ϕ0 = 90° (Fig. 4).

O campo mostra valores de pressão maiores que 1 (=amplitude da onda incidente), devido a efeitos
de focalização. O padrão de interferência espacial repete-se através do campo refetido, devido à
dimensão infinita da superfície periodicamente corrugada, admitida neste método, produzindo assim
um campo refletido periódico. Desta forma, o método de Holford-Urusovskii não permite o cálculo
de um campo afastado, onde os efeitos de focalização desapareceriam.

276
Figura 4. Campo difuso de uma onda plana incidente sobre uma superficie corrugada.

• Campo Afastado
Para a investigação do campo afastado refletido de barreiras corrugadas, será considerada uma onda
incidente sobre uma superfície periodicamente corrugada, composta por um conjunto de N vigas
idênticas, com largura b e altura H, igualmente espaçadas sobre uma superfície plana (período Λ),
de tal maneira que a largura total da superfície é NΛ (Fig. 5).

Da aproximação de Fraunhofer, a energia refletida (Eout) para o campo afastado é dado por:

E out ~ E in ⋅ SF (ϕ , ϕ 0 , k , b) ⋅ TF (ϕ , ϕ 0 , k , Λ, H ) ⋅ GF (ϕ , ϕ 0 , k , Λ, N ) [Eq. 7]

onde SF, TF e GF são funções analíticas, relacionadas a cada viga sozinha (SF), a interferência
entre a parte superior de cada viga e a superfície plana (TF) e o conjunto de vigas (GF). As funções
são analiticamente determinadas por parâmetros geométricos da superfície (Λ, H), pela frequência
(f) e pelo ângulo de incidência (ϕ0) da onda, além da direção da onda refletida ϕ [6].

Figura 5. Superfície finita periódica.

Sendo a função de conjunto de vigas (GF) dada por

 kΛ
sin  N (cos ϕ o − cos ϕ )
GF (ϕ , ϕ 0 , k , Λ, N ) =  2  [Eq. 8]
k Λ
N sin  (cos ϕ o − cos ϕ )
 2 

277
Deve-se notar que seus máximos ocorrem para sen[kΛ/2 (cosϕ0 – cosϕ)] = 0, i.e. para
ϕmax = ϕn = arc cos (α0 + n λ/Λ)), as mesmas auto-direções do campo próximo, dadas pelo método
de Holford-Urusovskii (Fig. 3). Se a superfície for larga o suficiente em comparação ao
comprimento de onda (NΛ >> λ), GF assume valores próximos de zero, exceto nos seus máximos,
i.e. nas auto-direções ϕn, onde ela é igual à unidade (GF = 1). Desta consideração e da Eq. 7, os
coeficientes de reflexão no campo afastado são dados por:

 SF (ϕ , ϕ 0 , k , b) ⋅ TF (ϕ , ϕ 0 , k , Λ, H ) , cos ϕ = cos ϕ 0 + n λ Λ
R(n, ϕ , ϕ 0 , k , b, H ) ≈  [Eq. 9]
0 , cos ϕ ≠ cos ϕ 0 + n λ Λ

Da Eq. 2 e da Eq. 9, os coeficientes de reflexão no campo afastado (R(n)) de uma superfície


corrugada ampla estão relacionados com as auto-direções das ondas refletidas no campo próximo.
Estando o campo próximo e o afastado assim relacionados, pode ser possível transferir valores
medidos de uma região para a outra, o que deve ser investigado através de medições em laboratório.

3.3. Desenvolvimento de um método de medição in-situ para a absorção sonora de barreiras


corrugadas
Para se determinar experimentalmente as amplitudes Rn das ondas refletidas no campo afastado de
superfícies corrugadas e suas respectivas fases, como descrito pelo Método de Holford-Urusovskii,
pode-se medir o nível de pressão sonora em posições (xj, zj) próximas à superfície, determinando a
respectiva pressão sonora (Fig. 6).

Figure 6. Pontos de medição próximos à barreira corrugada.

Negligenciando o ruído de fundo, tais pressões sonoras medidas pj podem ser decompostas em
pressão incidente pin j e refletida pref j. Medindo a pressão sonora incidente separadamentepode-se
determinar a pressão sonora refletida, subtraindo a incidente das pressões medidas, como no método
Adrienne:

p refj ( x j , z j ) = p j ( x j , z j ) − pinj ( x j , z j ) [Eq. 10]

Aplicando o Método de Holford-Urusovskii, a pressão sonora refletida no campo afastado, pode ser
expressa pela Eq. 3, sendo aqui novamente reproduzida:

M+
p out ( x, z ) = ∑ R n e i k (α n x + γ n z ) , n = M-, ..., M+. [Eq.11]
M−

As fases das ondas sonoras refletidas nessas posições podem ser determinadas por:

Φ j ,n = x j cos ϕ n + z j sin ϕ n , n = M-, ..., M+. [Eq. 12]

278
Realizando J medições suficientes, dadas pelo número de ordens entre M- e M+, cada qual em
diferentes posições próximas à superfície da barreira e longe de seus cantos, pode ser possível
determinar analítica-experimentalmente as amplitudes Rn das ondas refletidas no campo afastado de
superfícies corrugadas, resolvendo um sistema de equações:
ik ( Φ 0 , N u ) ik ( Φ 0 , N u +1 ) ik ( Φ 0 , N o −1 ) ik ( Φ 0 , N o )
0
pref ( x0 , z 0 ) = R N u e + R Nu +1e + ... + R No −1e + R No e
ik ( Φ1, N u ) ik ( Φ1, N u +1 ) ik ( Φ1, N o −1 ) ik ( Φ1, N o )
p1ref ( x1 , z1 ) = R Nu e + R Nu +1e + ... + R No −1e + R No e
. [Eq. 13]
M M M M M
ik ( Φ J , N u ) ik ( Φ J , N u +1 ) ik ( Φ J , N o −1 ) ik ( Φ J , N o )
J
pref ( x J , z J ) = R Nu e + R Nu +1e + ... + R No −1e + R No e

Uma vez determinadas as amplitudes Rn das ondas refletidas, elas podem ser comparadas com os
coeficientes de reflexão no campo afastado, que são facilmente medidos em laboratório. Isto pode
ser a chave para o desenvolvimento de um novo método de medição para a absorção sonora de
barreiras corrugadas.

4. DISCUSSÕES E PERSPECTIVAS
A presente investigação apontou a necessidade de desenvolvimento de um novo método de medição
in-situ para a absorção sonora de barreiras corrugadas. Medições em campo próximo e afastado têm
cada qual suas próprias dificuldades, mas se uma relação entre elas existir, uma transferência dos
resultados de campo próximo para o afastado – onde as medições deveriam ser realizadas – pode ser
possível.

A modelagem e o cálculo do campo próximo e do afastado mostraram uma possível relação entre
eles, através das auto-direções de reflexão difusa. Uma proposta de medição em campo próximo dos
coeficientes de reflexão, baseando-se no Método de Holford-Urusoskii, foi apresentada. Pretende-se
realizar tais medições em câmara anecóica, usando amostras de superfícies corrugadas. Se a relação
entre os coeficientes de reflexão do campo próximo e do campo afastado for verificada, o
desenvolvimento do novo método de medição in-situ para a absorção sonora de barreiras
corrugadas pode ser possível desta forma.

5. AGRADECIMENTOS
Agradecimentos ao Fraunhofer-Institut für Bauphysik (IBP – Instituto Fraunhofer de Física de
Edificações) em Stuttgart – Alemanha, à Deutsche Bundesstiftung Umwelt (DBU – Fundação
Federal Alemã do Meio-Ambiente) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) pelo apoio dado durante esta pesquisa.

REFERÊNCIAS
1. Nocke, C., In-situ Messung der akustischen (Wand-) Impedanz, PhD. Dissertation, Oldenburg University, Shaker-
Verlag, 2000.
2. DIN CEN/TS 1793-5 (Project): 2003. Lärmschutzeinrichtungen an Straßen – Prüfverfahren zur Bestimmung der
akustischen Eigenschaften - Teil 5: Produktspezifische Merkmale; In-situ-Werte der Schallreflexion und der
Luftschalldämmung.
3. Schupp, G., Weber L. and Zhang, Y., Schalldämmung und Schallabsorption von Schallschirmen, die nicht nach
ZTV-Lsw 88 und DIN EN 1793 geprüft werden können, Fraunhofer-IBP Report, Stuttgart, 2002.
4. Holford, R. L. Scattering of Sound Waves at a Periodic, Pressure-Release Surface: an Exact Solution, Journal of the
Acoustical Society of America 70, 1116-1128, 1981.
5. Embrechts J. J. et al, Calculation of the Random-Incidence Scattering Coefficients of a Sine-Shaped Surface, Acta
Acustica united with Acustica 92, 593-603 2006.
6. Meyer E. and Bohn, L., Schallreflexion an Flächen mit periodischer Struktur, Acustica 3, 195-207, 1952.
279
OTIMIZAÇÃO DE UMA CAMADA POROELASTICA PARA AUMENTO DA
ABSORÇÃO

DUARTE, Orion Lima¹; SILVA, Francisco Ilson¹; LEANDRO FILHO, Francisco de Assis¹.

(1) Universidade Federal do Ceará.

RESUMO
Neste trabalho são realizadas simulações visando obter uma melhor eficiência na absorção de camadas
poroelásticas. O objetivo deste trabalho é otimizar essas camadas juntamente com a retirada de material.
Com a discretização e a solução do problema acústico pelo método de elementos finitos a retirada de
material pode ocorrer em lugares específicos de modo que se obtenha uma configuração específica com a
melhor absorção para uma determinada frequência de vibração.

ABSTRACT
In this work simulations are performed to obtain a better efficiency in absorbing layers poroelastics. The
objective of this work is to optimize these layers along with the removal of material. With the solution of the
problem and discretization acoustic the finite element method the removal of material can occur at specific
locations so as to obtain a specific configuration to better absorption for a given vibration frequency.
Palavras-chave: MEF. Painéis absorvedores acústicos. Poroelasticidade.

1. INTRODUÇÃO
Com o aumento das grandes aglomerações de pessoas, o crescimento de pequenas cidades, o
aumento no número de meios de transporte tais como carros, trens e aviões e o desenvolvimento
industrial ouve também o aumento nível de ruído sonoro ao qual as pessoas estão expostas e a
quantidade de lugares onde isso ocorre. E esse acelerado nível de crescimento exige estudos mais
apurados da absorção acústica como forma de atenuação de ruído sonoro, para garantir o conforto
de ambientes onde isto se torne necessário, algo comum em lugares como os já citados acima. Esse
estudo ganha no desenvolvimento computacional um aliado indispensável para sua viabilização,
não só pela evolução dos métodos numéricos, mas também pela evolução das máquinas em si.

As simulações realizadas neste trabalho apontam como deveria ser uma geometria otimizada de
painéis absorvedores acústicos que garanta bons resultados na absorção acústica devido à retirada
de massa em locais específicos dessa geometria, ocasionando assim a formação de câmaras de ar
(elemento acústico) no interior dessa camada poroelástica. A principal finalidade do algoritmo
usado é obter a melhor localização desses locais.

As simulações foram feitas com um código escrito no software Matlab©. Este código organiza os
dados e realiza a otimização, porém a solução das equações é feita em um solver externo chamado
MNS/NOVA (Atalla et al. 2001). O programa resolve as equações para o caso tridimensional, o que
permite que seja feita a substituição local de material poroelástico por domínio acústico.

280
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Fundamentação teórica
Um elemento poroelástico nada mais é do que uma “mistura” entre um elemento fluido e um
elemento sólido. Para a formulação do problema de cálculo da absorção, deve-se ter em mente que
esta possui ligação com os deslocamentos da fase sólida e fluida de um ponto no meio poroelástico
devido à excitação por parte de uma onda de pressão sonora conforme apresentado por Allard
(1993). Contudo, outra formulação pode ser encontrada em Atalla et al. (1998), onde o
deslocamento da fase fluida é substituído pela pressão, e está representada abaixo:

        ! 0 Eq. 1


        ! 0 Eq. 2

Onde os valores sobrescritos com um til representam valores associados com a frequência ω. Para
uma melhor definição de todos os termos apresentados acima os mesmos são apresentados em Ilson
(2003).
A solução desse sistema numericamente pode ser feita através do método de Galerkin da forma
fraca (Reddy, 1993). O volume total é discretizado em pequeno
pequenoss elementos e seus valores de
deslocamento e pressão são representados a seguir:

u$ ! N& 'u( )$ Eq. 3


p$ ! N+ 'p( )$ Eq. 4

Onde e representam as funções de forma para um elemento “e”, {un} e {pn} representam
os valores dos deslocamentos e pressões nodais. Com a formulação integral fraca das equações 1 e
2 e substituindo nela as equações 3 e 4 obtém-se um sistema acoplado da forma:


K ω M C u( F&
 0 1p 2 ! 3 F 6
 -
  ω Q
ω C H
Eq. 5
( 5

As matrizes  , ,  ,   e 
 representam respectivamente as matrizes de massa, rigidez,
acoplamento entre as variáveis de deslocamento e pressão, energia de compressão e energia
cinética. O detalhamento completo dessas matrizes pode ser encontrado no trabalho (Sgard et al.
2002). Os termos e representam o vetor força devido à excitação externa. O resultado deste
sistema permite o cálculo da impedância acústica (Eq.6) e da absorção acústica (Eq.8).

8
Z( !
9:;<=>?;8@<AB> A
Eq. 6

Onde:
< FHD
E
U! ∆p u
:D E
FDD FDD
E
Eq.7

Deste modo, sabendo que ρ0 é a densidade do ar e c0 representa a velocidade de propagação do som


no meio tem-se:

L@EM NM
α!1 K K
L?EM NM
Eq. 8

281
2.2. Implementação computacional
O código utilizado monta um arquivo tipo gvm (Atalla et al. 2001) com os dados do material e
da malha e utiliza um solver externo para calcular tanto a absorção quanto a energia envolvida
no processo. A otimização é realizada com o objetivo de obter a maior absorção acústica
utilizando a retirada de material, o processo de otimização realizado acontece por tentativa e
erro, ou seja, testa todas as configurações e guarda a melhor. Desse modo o calcula-se a absorção
para a malha completa, em seguida ele retira um elemento poroso e substitui por um elemento
acústico e é recalculada a absorção e repete-se essa ação para todos os elementos, com isso,
guarda-se a configuração que possui a melhor absorção e então outro elemento é retirado. O
programa só para de rodar quando é atingida uma relação de massa, que nesse caso foi de 75%
da massa inicial. A otimização acontece para uma determinada frequência a qual também é um
dado de entrada no programa. Isso simula, por exemplo, uma barreira para atenuar o ruído de
uma máquina em um ambiente industrial.

2.3. Geração da malha


Para a realização das simulações, o material escolhido foi lã de rocha, as simulações são
realizadas com uma placa quadrada com aresta de 850 mm e 40 mm de espessura. Foi realizado
um estudo da malha para diferentes configurações, inicialmente foi feito um estudo na variação
do número de nós na face. Esses dados são apresentados na Tab. (1):

Tabela 1: Estudo de malha com variação dos elementos da face para a frequência de 500 Hz.
Nós nos eixos X e Y Nós no eixo Z Total de elementos Total de nós
10 5 324 500
14 5 676 980
15 5 784 1125
16 5 900 1280
20 5 1444 2000
10 11 810 1100
15 10 1764 2250

Posteriormente, realizou-se uma variação no número de nós na espessura da camada de 5 para 10


nós e, devido ao tempo de duração da simulação, foram deixados na face apenas 15 nós. Então,
foi aumentado o número de nós ao longo da espessura para 11, mantendo-se fixo o número de 10
nós em cada um dos eixos da face.

3. RESULTADOS E DISCURSSÕES
3.1. Variação dos elementos da face
As simulações se mostraram eficientes para todas as configurações de malha. O estudo na
convergência da malha aponta que a absorção aumentou para todos os tipos de malha, porém,
não ouve uma convergência na malha com a camada de massa reduzida conforme apresenta a
fig. (1). É importante notar que a absorção inicial (isto é, com a camada sem retirada de massa)
não varia em nenhuma das simulações (inclusive onde há variação de elementos no eixo Z, como
será apresentado mais adiante), o que significa que a malha convergiu já na primeira simulação.

282
Figura 1: Comparação entre os resultados das malhas com 5 nós na espessura (eixo z) e variação no numero de nós
da face.

Como pode ser percebido, os resultados são bastante próximos, porém não chegam a convergir a
valores iguais, isso se dá porque, com a variação do número de nós, cada vez que um elemento é
retirado o sólido resultante tem uma configuração diferente devido ao tamanho diferente do
elemento.
As Fig. 2 e 3 apresentadas abaixo fazem uma boa comparação entre a configuração da malha de
15 nós para a malha de 20 nós. Pode-se observar que na fig. 2 a retirada de material concentrou-
se apenas na região central e nos cantos da camada, observa-se também que a maior parte da
retirada de material ocorreu no interior da camada formando uma superfície que apresenta altos e
baixos, ou seja, não é uma figura plana.

Figura 2: Elementos acústicos e poroelásticos para a malha de 15 nós nos eixos X e Y por 5 nós no eixo Z.

A fig. 3 apresenta uma malha mais refinada que a anterior. Percebe-se que a retirada de material
não foi igual à anterior, porém, quase que totalmente, ocorreu nas mesmas regiões, o que indica
uma tendência de todas as malhas simuladas. Pode-se reparar também que ocorreram retiradas
isoladas em alguns locais entre os cantos, as quais só foram possíveis devido ao maior
refinamento da malha.
283
Figura 3: Elementos acústicos e poroelásticos para a malha de 20 nós nos eixos X e Y por 5 nós no eixo Z.

3.2. Variação dos elementos na espessura


A Fig. 4 representa a comparação entre as malhas com discretização maior na espessura. Pode
ser visto que os resultados para essas malhas não exibem uma enorme discrepância entre os
resultados já mostrados anteriormente, porem vale ressaltar que a malha mais refinada apresenta
melhor absorção.

Figura 4: Comparação entre as malhas com 5 e 11 nós na espessura (eixo z).

Observa-se que as duas curvas estão mais próximas entre si que as curvas mostradas no gráfico
anterior (fig. 1). Isso mostra que a variação do numero de elementos ao longo da espessura não
garantiu uma diferença significativa nos valores da absorção acústica. Avaliando as figuras
seguintes pode-se explicar o motivo disso.

284
Figura 5: Elementos acústicos e poroelásticos para a malha de 10 nós nos eixos X e Y por 5 nós no eixo Z.

A tendência de retirada ocorre nas mesmas regiões já apresentadas anteriormente, porém esta
malha é menos refinada, logo apresenta diferenças consideráveis das malhas mostradas
anteriormente.

Figura 6: Elementos acústicos e poroelásticos para a malha de 10 nós nos eixos X e Y por 11 nós no eixo Z.

Esta malha, pelo alto refinamento na espessura permite pequenas retiradas de material em todas
as regiões, mas a maior retirada continua sendo nos cantos e no centro da camada acústica, pode-
se observar que apesar do alto grau de refinamento da espessura a retirada de elementos acontece
em “pilhas”, ou seja, vários elementos sobrepostos são retirados, quando isso acontece é como se
o fato de ela ser refinada de nada adiantasse. Este é o motivo da pequena diferença de absorção
entre as duas malhas.

3.3. Considerações finais


A analise nos resultados obtidos demonstram que com a otimização de camadas poroelásticas
pode ser atingido um nível bem melhor de absorção do ruído, o que garante uma melhora de até
40% em alguns casos.
Esse método se mostrou bastante eficiente para a otimização da absorção não só na frequência
indicada, mas em quase toda a faixa de frequência calculada, ele mostrou que a introdução de
câmaras de ar em locais específicos (e não aleatórios como as espumas) permite um melhor
controle do som. Essa aplicação, porém, acarreta alguns problemas na fabricação, mas que
podem ser resolvidos com a produção de espumas com matrizes específicas para cada situação a
qual essa espuma vai ser submetida.

4. AGRADECIMENTOS
A Deus, e a FUNCAP pelo apoio fornecido ao projeto.

285
REFERÊNCIAS

1. Allard, J. F. (1993). Propagation of Sound in Porous Media: Modeling Sound Absorbing Materials. Elsevier,
New York.
2. Atalla, N., Panneton, R. & Debergue, P. (1998). A mixed displacement-pressure formulation of poroelastics
materials. Journal of Acoustical Society of America, 104(3): 1444-1452.
3. Atalla, N., Amedin, C. H., Panneton, R., Sgard, F., 2001, Étude numérique et expérimentale de l’absorption
acoustique et de la tranprence acoustique des matériaux poreux hétérogènes en basses fréquences dans le but
d’identifier des solutions à fort potentiel d’applicabilité. IRSST, Montreal.
4. Silva, F. I. (2003). Modelagem e Implementação Computacional da Poroelasticidade Acoplada. (Dissertação)
Mestrado, Unicamp.
5. Reddy, J. N. (1984). An Introduction to the Finite Element Method. MacGraw-Hill, New York.
6. Sgard, F., Dazel, O., Lamarque, C. H. & Atalla, N. (2002). An extension of complex modes for the resolution of
finite-element poroelástico problems. Journal of Sound andVibration 253(2) 421-445.

286
ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS PARÂMETROS DE PROJETO DE
SILENCIADORES REATIVOS DO TIPO HELMHOLTZ

SILVA, Gabriela Cristina Cândido1; NUNES, Maria Alzira de Araújo1


(1) Universidade de Brasília, Faculdade UnB Gama, Área Especial de Indústria Projeção A-UnB, Setor Leste,
72.444-240, Gama-DF, Brasil. E-mail: maanunes@unb.br.

RESUMO
Os silenciadores acústicos reativos se caracterizam geometricamente pela sua construção a qual é constituída
por segmentos de cavidades interconectados, não utilizando portanto materiais acústicos dissipativos
(porosos ou fibrosos). Seu princípio de funcionamento consiste na redução da potência acústica radiada
através das descontinuidades das áreas das seções transversais que constituem o ressonador, as quais refletem
as ondas acústicas de volta à fonte sonora. Este tipo de silenciador é amplamente aplicado nos setores
automotivos e na indústria de modo geral, principalmente em aplicações de HVAC (Sistema de aquecimento,
ventilação e ar-condicionado). Devido à ampla variedade de ressonadores reativos, este trabalho destaca um
tipo específico: o ressonador de Helmholtz, justificado pelas suas vantagens, tais como, baixo custo,
simplicidade de construção e ainda a alta atenuação acústica em frequências discretas. Neste artigo serão
analisados os parâmetros (variáveis) de projeto de um silenciador acústico do tipo Helmholtz e a influência
destes na frequência de máxima atenuação acústica (frequência de ressonânica) do ressonado obtida através
da curva de perda de transmissão (Transmission Loss). Para isto serão utilizadas equações analíticas e
simulações numéricas (Método de Elementos Finitos) para gerar os resultados de interesse. Uma análise de
sensibilidade por meio de planejamento fatorial das variáveis de projeto foi conduzida de modo investigar a
influência dos parâmetros geométricos do silenciador na determinação da frequência de máxima atenuação
da perda de transmissão. Os resultados demonstram que o projeto de um ressonador de Helmholtz não é tão
simples quanto possa parecer e que pequenas variações nos resultados podem levar sua aplicação a
desempenhos desastrosos visto que este é caracterizado por ser um sintonizador de frequencias tonais.

ABSTRACT
The acoustic silencer reactive geometrically characterized by its construction which consists of segments
interconnected cavities, thus not using acoustic dissipative material (porous or fibrous). Its working principle
is to reduce the acoustic power radiated through the discontinuities of the areas of cross sections that make
up the device, which reflect sound waves back to the source. This type of muffler is widely applied in
automotive and industrial sectors in general, primarily for the HVAC system (heating, ventilation and air
conditioning). Due to the wide variety of reactive resonators, this paper highlights a specific type: the
Helmholtz resonator, justified by its advantages such as low cost, simplicity of construction and also the high
attenuation in discrete frequencies. This paper will analyze the parameters (variables) design a silencer
acoustic Helmholtz type and their influence in determining its transmission loss (Transmission Loss). For
this will be used analytical equations and numerical simulations (finite element method) to generate results
of interest. A sensitivity analysis using a factorial design variables of the design was conducted in order to
investigate the influence of the geometrical parameters of the muffler in determining the frequency of
maximum attenuation of the transmission loss. The results demonstrate that the design of a Helmholtz
resonator is not as simple as it seems and that small variations in results may lead to its application to
disastrous performance once its application is used for tonal tuner.
Palavras-chave: Silenciador. Reativo. Helmholtz. Perda de Transmissão. Planejamento Fatorial.

1. INTRODUÇÃO
O ruído gerado por equipamentos tais como ventiladores, sistemas de exaustão, tubulações de fluxos de
ar (conhecidos como sistemas HVAC) e ainda motores de combustão interna são geralmente

287
controlados utilizando silenciadores acústicos, podendo estes ser reativos, dissipativos ou híbridos, uma
vez que estas fontes podem ser caracterizadas pelo ruído tonal de baixa frequência. Este tipo de controle
sonoro se caracteriza por ser uma metodologia clássica, com eficiência largamente comprovada e com
vantagens e desvantagens bem definidas. Já a outra maneira de se controlar acústicamente as fontes
sonoras acima relacionadas é o controle ativo de ruído (CAR), o qual se baseia no cancelamento das
ondas sonoras utilizando-se de dispositivos eletro-mecânicos (sensores e atuadores) e algoritmos de
processamento de dados. Estes último tem sido largamente estudado e pode ser considerado como uma
metodologia nova apesar de seu princípio ser conhecido desde 1930 (BERAENK AND VER, 1992).

As duas metodologias de controle acústico citadas no parágrafo anterior possuem vantagens e


desvantagens quando comparadas com o objetivo em comum de ambas. Desta maneira estas
características devem ser avaliadas e analisadas quanto aos requisitos do projeto em questão. Em geral,
na aplicação prática, os requisitos principais considerados são: baixo custo, alto desempenho e
funcionalidade. Em função destas caraterísticas, os silenciadores reativos se mostra uma opção
adequada para aplicação nos sistemas HVAC, entre outros, principalmente pela sua simplicidade de
construção e projeto quando comparado ao CAR, uma vez que este último exige conhecimento adicional
na área de eletrônica e domínio de técnicas de controle (GUEDES, 2006). Quando os silenciadores
reativos são comparados aos dissipativos, tem-se que o primeiro é mais eficaz em baixas frequências e
com maior aplicabilidade quando se trata de ambientes agressivos, como por exemplo no transporte de
fluxos em altas temperaturas (BISTAFA, 2006).

Diante das vantagens dos silenciadores reativos em atenuar o ruído das fontes sonoras citadas
anteriormente, este trabalho ressalta o projeto destes dispositivos. Dentre as diversas configurações de
um silenciador reativo: ressonadores, câmaras de expansão (simples, dupla ou múltiplas), utilização de
elementos perfurados e/ou ramificados, entre outros, o ressonador de Helmholtz (RH) ganha destaque
pela simplicidade de projeto, o baixo custo e ainda pela não interferência no caminho de transporte do
fluxo, o qual está diretamente relacionado com a perda de carga do sistema e que deve ser um requisito
de projeto importante nas aplicações práticas (BIES AND HANSEN, 1996).

O ressonador de Helmholtz (RH) é um tipo de ressonador de ramificação. Ele consiste basicamente de


um tubo (chamado de pescoço) e uma cavidade. Esta forma característica lhe fornece propriedades de
inertância (indutância) e capacitância respectivamente, responsáveis pela alteração de impedância no
interior do dispositivo, resultando portanto no seu princípio de funcionamento. De acordo com a
analogia eletro-acústica este dispositivo pode ser representado por uma indutância e capacitância em
série (MUNJAL, 1987).

A formulação analítica para o projeto de um ressonador de Helmholtz (determinação da frequência de


ressonância e perda de transmissão) considera apenas os parâmetros geométricos do dispositivo e o
valor da velocidade do som no fluxo considerado, atentando-se para o fato de que a formulação é
desenvolvida sob a consideração de propagação de apenas ondas planas. Neste trabalho estes
parâmetros foram investigados e analisados, mostrando através de simulações numéricas, em especial o
método de elementos finitos, que a forma geométrica da cavidade também é um parâmetro que
influencia no projeto, até então não considerado na formulação analítica.

Com o intuito de realizar uma análise de sensibilidade sobre os parâmetros geométricos considerados,
utilizou-se um planejamento fatorial a partir de resultados numéricos, de modo a se obter os efeitos de
cada um destes nos resultados obtidos. O critério de desempenho acústico utilizado para gerar os
resultados é a perda de transmissão (Transmission Loss) - PT por ser este um parâmetro intrínseco do
silenciador.

2. PERDA DE TRANSMISSÃO (TRANSMISSION LOSS) DO RH


2.1. Método da Matriz de Transferência
A Figura 1 ilustra um Ressonador de Helmholtz, com suas principais dimensões indicadas, instalado em
um duto de comprimento l com as condições de contorno necessárias para determinação da PT.
288
Pescoço

Figura 1: Ressonador de Helmholtz em um duto.

Os critérios de desempenho acústico amplamente utilizados são: perda de inserção (Insertion Loss),
redução do ruído (Noise Reduction) e perda de transmissão (Transmission Loss). Este último é de fácil
aplicação analítica e numérica uma vez que não há necessidade de conhecer a impedância da fonte
sonora bem como a impedância de radiação (BERAENK AND VER, 1992). No entanto é necessário
considerar a terminação do duto oposta à da fonte como sendo anecóica (absorção total). Ressalta-se que
esta condição é totalmente aplicável do ponto de vista de modelos analíticos e numéricos, porém de
difícil obtenção na prática.

A PT é a diferença dos níveis de potência acústica entre as ondas incidentes e transmitidas para a
terminação anecóica. Utilizando o método da matriz de transferência (MUNJAL, 1987) no sistema
apresentado na Fig. 1 tem-se que:

S c
T11  T12  T21  T22
PT  20 log c S [dB] [Eq. 01]
2

onde c é a velocidade do som no fluido considerado em m/s; S é a área da seção transversal do duto
principal em m2 e os termos T11, T12, T21 e T22 são obtidos a partir da matriz de transferência do RH,
dada por (BERAENK AND VER, 1992):

1 0
Tr   1 
1 [Eq. 02]
Z
 r 

onde Zr=Zt + Zc, sendo Zt a impedância do tubo que liga a cavidade do ressonador ao duto (pescoço) e Zc
a impedância da cavidade.

Considerando que o fluxo no interior do duto não possui velocidade (vazão) significativa, ou seja Mach
igual a zero, Zc e Zt podem ser estimadas segundo as Eq. 03 e 04.

c
Zc   j [m.s-1] [Eq. 03]
kVc
ck 2 ck (lt  1,7 rn )
Zt   j [m.s-1] [Eq. 04]
 Sn
289
onde k é o número de onda em rad/m, Vc é o volume da cavidade em m3 , lt é o comprimento do pescoço
em m, Sn é a área da seção transversal do pescoço em m2 e rn é o raio do pescoço em m.

Observa-se na Eq. 04 que o termo lt+1,7rn representa o comprimento efetivo do pescoço (lef), o qual é
composto pelo comprimento lt adicionado de duas parcelas correspondentes a 0,85rn. Cada parcela se
refere à correção de uma das extremidade do pescoço. A extremidade externa é definida como a
conexão do pescoço e o duto principal, e a extremidade interna é definida pela conexão do pescoço e a
cavidade. Uma revisão bibliográfica realizada sobre o assunto mostrou que várias equações para
cômputo do comprimento efetivo foram desenvolvidas ao longo dos anos, cada uma com suas
particularidades na aplicação (ONORATI, 1994; JI, 2005; SING, 2006). No entanto, este será um item a
ser analisado e estudado futuramente como continuidade do desenvolvimento deste trabalho.

A frequência correspondente à máxima atenuação acústica na curva da PT é coincidente com a freq. de


ressonância (fr) do Ressonador de Helmholtz, dada por:

2
c 2rn
fr  [Eq. 05]
2 lef Vc

2.2. Método da Decomposição


Na Figura 2 está ilustrado o método da decomposição (TAO AND SEYBERT, 2003). Este método
considera a onda acústica incidente propagando no duto (entre a fonte sonora e o RH) com intensidade
sonora SAA. Ao passar pelo ressonador, parte desta onda acústica é transmitida com intensidade SCC a
qual propaga até a saída do duto (terminação anecóica). A outra parte da onda incidente é refletida de
volta para a fonte sonora com intensidade sonora SBB devido à mudança de impedância causada pela
presença do filtro acústico.

Figura 2: Método da descomposição.

Pela definição tem-se que a PT é dada por:

S i S AA ( f )
PT  10 log10 [Eq. 06]
S o S CC ( f )

onde SAA(f) é o auto-espectro de potência da pressão sonora incidente, SCC(f) é o auto-espectro de


potência da pressão sonora transmitida, Si e So são as áreas da seção transversal do duto principal antes e
após o ressonador respectivamente, que neste caso são iguais.

Pelo método da decoposição, o auto-espectro da onda incidente, SAA e da onda refletida, SBB são
calculadas pelas Eq. 07 e 08.

S11  S 22  2C12 cos(kl12 )  2Q12 sen(kl12 )


S AA ( f )  [Eq. 07]
4sen 2 (kl12 )

290
S11  S 22  2C12 cos(kl12 )  2Q12 sen(kl12 )
S BB ( f )  [Eq. 08]
4sen 2 (kl12 )

onde S11 e S22 são o auto-espectro da pressão acústica total nos microfones 1 e 2 respectivamente; Q12 e
C12 são as partes real e imaginária do espectro cruzado entre os microfones 1 e 2 respectivamente; k é o
número de onda e l12 é a distância entre os microfones 1 e 2.

3. METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho é constituída de duas etapas. A primeira etapa consiste na estimativa da
perda de transmissão (PT) de diversos modelos de ressonadores de Helmholtz. O objetivo desta etapa é
investigar se a forma geométrica da cavidade do ressonador influencia na estimativa de sua frequência
de ressonância (freq. de máxima atenuação acústica na curva da PT), uma vez que a formulação
analítica, apresentada no item 2.1, não contempla esta variável. A diferença entre os modelos de
ressonadores considerados está no formato geométrico da cavidade, mantendo iguais o volume da
cavidade entre eles, bem como as dimesões do duto principal e do pescoço.

Foram considerados 4 tipos de cavidades: cilíndrica, cúbica, retangular e esférica. O volume adotado
para as todas as cavidade é igual a 0,00181 m3. As demais dimensões (todas no S.I.) dos modelos estão
mostradas na Fig. 3. O comprimento adotado para o duto principal é de 0,2 m. Tanto o duto principal
quanto o pescoço do RH são dutos com seção transversal circular.

Figura 3: Esquema com as dimensões geométricas dos modelos analisados.

A perda de transmissão dos modelo considerados foram determinados analiticamente utilizando-se da


formulação apresentada no item 2.1. Em função das considerações impostas por este equacionamento,
todas as dimensões e faixa de frequência analisada se caracteriza por propagação de ondas planas. Para
estimativa da PT analítica utilizou-se o software Matlab®.

Para fins de comparação com os resultados analíticos, a PT utilizando o método da decomposição


também foi utilizada, uma vez que neste método a forma geométrica da cavidade do RH é levada em
consideração devido aos parâmetros de entrada na estimativa da PT ser as pressões sonoras adquiridas
nos microfones. Para utilização deste método, o sistema duto-RH foi modelado em elementos finitos
(software Ansys®) de acordo com a Fig.2 para obtenção das pressões sonoras nos microfones 1, 2 e 3.
De posse das pressões sonoras estimadas (via MEF), estes dados foram levados para ambiente Matlab®
onde a formulação apresentada no item 2.3 foi computada. Determinando portanto a PT aqui
denominada de numérica. Desta maneira foi possível analisar se a forma geométrica do RH influência
na freq. máxima de atenuação da PT.

A segunda etapa da metodologia é composta por uma análise de sensibilidade dos parâmetros
geométricos necessários para a estimativa da frequência máxima de atenução do RH. O objetivo desta
etapa é analisar a influência direta e cruzada (interação) dos parâmetros de projeto de um RH quando
acoplado a um duto e ainda observar o resultado que a variação destes parâmetros produzem sobre a
resposta, neste caso a PT. Ou seja, há o interesse em descobrir como a resposta (PT) depende dos fatores
considerados, neste caso: raio do pescoço (rn), comprimento do pescoço (lt), raio da cavidade (rc) e
comprimento da cavidade (lc).

291
Como o objetivo é uma investigação preliminar, ou seja, pretende-se saber se determinados fatores tem
(e quanto?) ou não influência sobre a resposta, a técnica adequada para executar este tipo de análise é
denominada de planejamento fatorial (MONTGOMERY, 2001). Para o estudo em questão o
planejamento fatorial considerado é o de dois níveis (24) justificado pela sua simplicidade.

A matriz de planejamento do fatorial 24 foi obtida a partir da combinação de todos os níveis + e -


considerados para um ressonador com cavidade cilíndrica e a resposta, freq. da máx. atenuação da PT,
foi determinada utilizando o modelo numérico como descrito no item 2.2. Os resultados obtidos com a
metodologia descrita serão apresentados no próximo tópico.

4. RESULTADOS
Na Tabela 1 estão mostrados os resultados obtidos na primeira etapa da metodologia. Nela estão
apresentados para cada modelo de ressonador (segunda coluna) o valor da frequência de máxima
atenuação obtida na curva de PT. A Eq. 01 foi utilizada para obtenção dos valores relacionados na
terceira coluna e a Eq. 06 foi utilizada para obter os resultados apresentados na quarta coluna. A
velocidade do som considerada é de 343 m/s. A frequência de ressonância determinada através da Eq.
05 pra todos os modelos listados na Tab. 01 é igual a 157 Hz, a qual coincide com a freq. de máx.
atenuação na PT.
Tabela 1: Frequência de máxima atenuação da PT para os diversos modelos de cavidades.
Dimensões da cavidade Freq. [Hz] Freq. [Hz]
[m] Analítica Numérica
Altura = 0,250
Cilíndrica 157 162
Cavidade do RH
(Vc=0,00181m3)

Diametro = 0,096
Forma da

Cúbica Comp. aresta = 0,122 157 172


Comp. = Larg. = 0,105
Retangular 157 168
Altura = 0,164
Esférica Raio = 0,076 157 166

Observa- se na Tab. 1 que as frequências estimadas a partir do modelo analítico são idênticas para
todos os modelos analisados, conforme já previsto, uma vez que o volume de todas são iguais. Já para o
modelo numérico, tem-se que a frequência encontrada varia em função da forma da cavidade do
ressonador. Podendo esta diferença entre ambas as metodologias chegar a 15 Hz. No entanto, foram
observados também que tanto para o modelo analítico quanto o numérico, a magnitude da máxima
atenuação obtida na PT varia em função da forma da cavidade, obtendo um mínimo de 71 dB (cavidade
cilíndrica) até 95 dB (cavidade esférica). Este fato também era esperado devido ao princípio de
funcionamneto dos silenciadores reativos.

De posse dos resultados obtidos nota-se que o projeto de um RH não pode ser feito apenas utilizando-se
de equações analíticas, necessitando portanto de análises complementares, tais como a apresentada
utilizando método de elementos finitos. Vale ressaltar que a formulação analítica é fortemente baseada
na propagação de onda planas, desta maneira, uma investigação sobre esta condição deve ser feita a fim
de investigar o comportamento da onda sonora na junção do RH e o duto principal, ou seja, verificar se
realmente ocorre propagação de ondas planas nesta posição. Caso negativo, este fato pode ser uma
possível justificativa para a discrepâncias entre os resultados obtidos analiticamente e numericamente.

Em prosseguimento à metodologia adotada, a Tab. 2 apresenta os níveis superior e inferior adotados


para gerar a matriz de planejamento (resposta gerada a partir das simulações numéricas) e assim realizar
o planejamento fatorial 24 visando investigar o efeito dos fatores na resposta de interesse (freq. máx. de
atenuação na PT). A escolha dos níveis dos fatores foi realizada de forma arbitrária, de forma que sua
concepção na prática, em termos de geometria, seja viável.

292
Tabela 2: Fatores e níveis adotados para o planejamento fatorial 24.
Fatores - +
A - Raio do pescoço, m 0,005 0,021
B - Comprimento do pescoço, m 0,015 0,100
C - Raio da cavidade, m 0,030 0,090
D - Comprimento da cavidade, m 0,020 0,130

Na Tabela 3 estão mostrados os efeitos principais e a interação entre eles, incluindo também o valor
médio global da resposta (freq. de máx. atenuação), o qual é uma combinação linear de todas as
observações.
Tabela 3: Efeitos calculados para o planejamento fatorial 24.
Média 406,25
Efeitos principais
A 531,5
B -421,5
C -487,5
D -111,5
Interações de dois fatores
AB -314,5 AC -346,5
AD 9,6 BC 314,5
BD -39,5 CD -27,5
Interações de três fatores
ABC 259,5 ABD -86,5
ACD -88,5 BCD 84,5
Interações de quatro fatores
ABCD 111,5

Analisando a Tab. 3 temos que os efeitos principais possuem valores significativos indicando portanto
que todos são importantes na representação do modelo. Porém observa-se que os efeitos A, B e C são
mais importantes que o efeito D e os efeitos de alta ordem (interações entre fatores) de maneira geral. Já
o efeito D possui importância inferior quando comparado a efeitos de interação tais como AB, AC, BC e
ABC. Observa-se que em nenhum destes efeitos de interação relacionados anteriormente o efeito D é
considerado. De todos os efeitos calculados, o menos significativo é a interação entre os efeitos A e D.
Desta maneira, pode-se concluir que de todos os efeitos principais analisados, e menos significativo, não
descartando sua importância, é o D. Esta mesma conclusão pode ser obtida analisando os valores dos
efeitos de interação. Nota-se então que os dados geométricos do pescoço e a altura da cavidade são
fatores primordiais na determinação da freq. máx. de atenuação na PT.

Como os resultados para geração do planejamento fatorial foram obtidas via simulação numérica, não
houve estimativa dos erros e variância pelo fato das respostas possuírem repetibilidade.

Quando se trata de obter um modelo estatístico espera-se que os coeficientes deste obedeçam uma certa
hierarquia, com os termos de baixa ordem mostrando-se mais importantes que os de ordem mais alta.
No entanto, não é isto que os resultados da Tab. 3 apresentaram. Desta maneira, se investigarmos a
superfície de resposta gerado pelo modelo em questão veremos que pequenas variações nos fatores
causariam variações abruptas na resposta. O efeito de interação entre os quatro fatores nos leva a esta
conclusão, uma vez que seu valor é da mesma ordem que o efeito principal D.

Uma análise por meio de gráficos normais foi conduzida com o intuito de distinguir nos resultados
obtidos aqueles que realmente são significativos, em complemento à análise e discussão já realizada. No
entanto, após traçar o gráfico normal dos 15 valores, o teste de hipótese nula foi rejeitado. Apenas o
efeito AD se apresenta próximo à reta de normalidade, porém seu valor ainda continua sendo
significativo. Conclui-se então que os efeitos considerados no projeto do silenciador são realmente
significativos, cada um com diferentes pesos de importância mas nenhum poderia ser descartado.

293
5.CONCLUSÕES
Neste trabalho foram analisados os parâmetros de projeto de um silenciador acústico do tipo Helmholtz
(RH) e a influência destes na frequência de máxima atenuação acústica (frequência de ressonânica)
obtida com a inserção deste filtro em um duto. Para cômputo da perda de transmissão foram utilizadas
equações analíticas e método numérico (MEF). Uma análise de sensibilidade dos parâmetros em questão
foi conduzida utilizando planejamento fatorial 24.

Ao contrário dos modelos analíticos, os resultados obtidos demonstraram que a frequência de


ressonância do RH é dependente não só dos parâmetros geométricos, mas sim da forma geométrica da
cavidade (cilíndrica, esférica, cúbica ou retangular). A variação nas frequências obtidas foi da ordem de
10 Hz considerando um mesmo volume. Para um filtro caracterizado como sintonizador tonal, esta
variação pode resultar em resultados desastrosos após aplicação prática do mesmo. Já a análise de
sensibilidade mostrou que todos os parâmetros de projeto considerados possuem significância no
resultado obtido, porém cada um com diferentes níveis de importância, mas nenhum poderia ser
descartado do modelo.

REFERÊNCIAS

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York: Wiley, 1992.
2. Bistafa, S. R., Acústica Aplicada ao Controle de Ruído, 1º Ed., 368 p., Ed. Edgard Blucher, São Paulo, 2006.
3. Bies, D.A. and Hansen, C.H., Engineering Noise Control: Theory and Practice, 2ª Ed., E & FN Spon, London,
1996.
4. Guedes, F. P., Controle Ativo e Ruído em dutos de Ventilação: Um experimento para aplicação em Unidades
Offshores, Dissertação de mestrado, COPPE/UFRJ, Engenharia Oceânica, 2006.
5. Ji, Z. L., Acoustic length corrections of a closed cylindrical side-branched tube, Journal of Sound and Vibration,
Vol. 283, pp. 1180-1186, 2005.
6. Montgomery, D.C, Design and Analysis of Experiments, 5ª ed., John Wiley & Sons, 2001.
7. Munjal, M. L., Acoustics of ducts and mufflers with application to exhaust and ventilation system design, John
Wiley & Sons, 1987.
8. Onorati, A., Prediction of the acoustic performance of muffling pipes systems by the method of characteristics,
Journal of Sound and Vibration, Vol. 171, No. 3, pp. 369-395, 1994.
9. Sing, S., Tonal noise attenuation in ducts by optimising adaptive Helmholtz resonators, Dissertation of
Master Degree of Engineering Science, School of Mechanical Engineering, The University of Adelaide,
Australia, 2006.
10. Tao Z, Seybert A. F. “A review of current techniques for measuring muffler transmission loss”. SAE International,
2003.

294
CONTROLE ATIVO DE RUÍDO EM DUTOS COM CURVA
DUBOC, Marilda; SLAMA, Jules G.; MUSAFIR, Ricardo E.;
Programa de Engenharia Mecânica COPPE/UFRJ

RESUMO
Dutos em situações reais apresentam curvas, como no caso de dutos de ar condicionado em plataformas de
petróleo. Neste trabalho são feitos estudos preliminares para desenvolvimento de método de controle ativo de
ruído em dutos com existência de curva, a partir da constatação de que a dificuldade de implementação do
controle ativo de ruído em um duto com curvas reside, sobretudo, no fato de que a reflexão da onda sonora
na curva interfere no microfone de erro. Foi desenvolvido o algoritmo adaptativo LMS (Least Mean Square)
e feitas simulações, utilizando o programa MATLAB, com o ruído coletado em experimento com um duto
com curvas. Os resultados serviram para testar o algoritmo e estabelecer os parâmetros do filtro adaptativo
(passo e o número de coeficientes), mostrando também a necessidade de aumentar a velocidade de
convergência do filtro para ruídos de banda larga. Também é sugerido um melhor posicionamento para o
alto-falante de controle para o caso do duto reto.
ABSTRACT
Pipelines have curves in real situations, such as air conditioning ducts on oil rigs. This work made
preliminary studies for method development of active noise control in ducts with existence of the curve, from
the fact that the difficulty of implementation of active noise control in a duct with curves lies primarily in the
fact that the reflection of sound wave in the curve affects the error microphone.We developed the adaptive
algorithm LMS (Least Mean Square) and made simulations using MATLAB, with the noise collected in an
experiment with a duct with curves.The results served to test the algorithm, and establish the parameters of
the adaptive filter as the step and the number of coefficients, also showing the need to increase the
convergence speed of the filter to broadband noise. It is also suggested a better position for the secondary
source to the case of straight duct.
Palavras-chave: Controle ativo. Ruído. Duto. Curva. Propagação do som.

1. INTRODUÇÃO
O principio do controle ativo de ruído foi introduzido pela patente de PAUL LUEG (NELSON e
ELLIOTT, 1992) nos anos 30, que propôs que o controle do ruído primário, que se propaga em um
duto se dê através da utilização de uma fonte sonora secundária. Porém, só nos anos 50 a ideia foi
retomada com OLSON (NUNES, 1999) que investigou as possibilidades de cancelamento
utilizando técnica de controle por realimentação. Nos anos 70, foram propostas outras
configurações de fontes secundárias, como o dipolo proposto em 1972 por SWINBANKS (NUNES,
1999), e o tripolo, patentiado por ANGELINI et al. (1979).

Porém a implementação do controle ativo de ruído se deu principalmente a partir dos anos 80 com o
aparecimento de algoritmos adaptativos de processamento de sinais. Em 1981, BURGESS
(SOMEK, 2001) sugeriu filtros digitais adaptativos em controle ativo de ruído.

Nos anos 90 NELSON e ELLIOTT (1992) apresentaram extenso trabalho abordando aspectos
acústicos e eletrônicos do controle ativo de ruído tanto em dutos como em outras aplicações, como
em veículos, cabines de avião e em salas. KUO e MORGAN (1996) apresentaram as técnicas de
controle baseadas em filtragem adaptativa - alimentação direta e realimentação.

Em relação ao controle ativo de ruído a maioria das pesquisas se baseia em dutos com terminação
anecóica, nas quais as reflexões no fim do duto podem ser negligenciadas. Visando considerar estas
reflexões, KIDO e ABE (TANG e CHENG, 1998) propuseram colocar a fonte secundária e o
295
microfone de erro na parte exterior do duto, perto da exaustão. Esta configuração foi investigada
por HALL e BERNHARD (TANG e CHENG, 1998) que concluíram que a turbulência na saída do
duto afeta a detecção do ruído pelo microfone de erro, deteriorando o controle.

Em geral o problema de controle ativo em dutos é analisado considerando-se o duto como sendo
reto, porém em sistemas de dutos reais, tais como dutos de ar condicionado, canalizações ou
sistemas de exaustão de máquinas, as curvas fazem parte do sistema, pois estes usualmente
requerem mudanças de direção. Para que o controle ativo se aproxime mais dos casos reais é
interessante estudar o comportamento da propagação do som em duto com a presença de curva.

No item 2, é revisto o caso de um duto reto com uma das extremidades refletora. No item 3 é feita
uma revisão sobre filtros adaptativos e sobre as técnicas de controle ativo de ruído que utilizam
filtros digitais em sua formulação. No item 4 é estudada a influência da curva no controle ativo de
ruído. No item 5 são apresentados resultados de simulação utilizando dados reais; a conclusão do
trabalho é apresentada no item 6.

2-CONTROLE ATIVO DE RUÍDO EM DUTOS QUANDO HÁ REFLEXÃO NA PAREDE


ANTERIOR A FONTE PRIMÁRIA
Considerando o campo sonoro produzido em um duto, por uma fonte primária localizada em D e
uma fonte secundária, localizada em L (fig. 1), quando há reflexão na parede do duto, anterior a
fonte primária é possível considerar o método das imagens para modelar o problema. As reflexões
podem ser representadas por fontes imagens localizadas em –D e em –L.
x=0 x=D x=L

Superfície tendo coeficiente


de reflexão complexo R
qp qs

x=-L x=-D x=0 x=D x=L

Figura 1: representação das fontes primária e secundária e suas fontes imagens num duto, figura baseada em NELSON
& ELLIOTT(1992).

Pelo principio da superposição, o campo sonoro total produzido pelas fontes, num ponto x qualquer,
é igual à pressão resultante da fonte primária e secundaria caso não houvesse reflexão, somada ao
campo sonoro resultante das fontes imagens. Onde a magnitude das fontes imagens é representada
pelo coeficiente de reflexão da superfície R. Desta forma, para , (NELSON e ELLIOTT,1992):

[2.1]

[2.2]

Como o controle ativo de ruído busca levar a zero o campo de pressão, na região posterior a fonte
secundária, fazendo , para ,tem-se (NELSON e ELLIOTT, 1992): [2.3]

Quando o alto-falante é montado na extremidade do duto, o coeficiente de reflexão R representa


a reflexão na própria fonte primaria. Então, fazendo D = 0 e R = 1 (o que corresponde a uma
reflexão total sem mudança de fase), a equação se reduz a:
[2.4]

296
Considerando que L é a posição da fonte secundária, o controle se torna inviável se a fonte
secundária for localizada em pontos onde seja igual a:
,
[2.5]
E, a fonte secundária terá o melhor posicionamento em:
,
[2.6]
3- SISTEMAS DE CONTROLE ATIVO DE RUÍDO
3.1-Filtros digitais
A entrada e a saída de um sistema no tempo discreto podem ser descritas por equações de
recorrência. Filtros FIR (filtros de resposta impulsiva de duração finita) são caracterizados por
equação de recorrência da forma (DINIZ et al, 2004):

M [3.1]
y (n)   bl xn  l 
l 0

A função de transferência é obtida através da relação entre a transformada z da entrada e a


transformada z da saída, que no caso de um filtro FIR, (DINIZ et al, 2004):

[3.2]

onde bl = h(l) é a resposta impulsiva do sistema. Quando o filtro FIR é realizado na forma direta,
os coeficientes multiplicadores são obtidos do próprio polinômio formado pela função de
transferência.

3.2-Filtros adaptativos
Um filtro adaptativo é aquele capaz de alterar seus parâmetros para otimização do desempenho.
Para esta tarefa busca otimizar os coeficientes do filtro, que caracterizam sua função de
transferência, minimizando uma função objetivo. Quando utilizado para a identificação de
sistemas (fig.2), x(n) é entrada do sistema e entrada do filtro adaptativo; d(x) é a saída do sistema
desconhecido (sinal de referência) e y(n) é a saída do filtro adaptativo.

Figura 2: esquema de filtro adaptativo para identificação de sistemas, figura baseada em DINIZ (2008).

A função objetivo neste caso a ser minimizada é a diferença instantânea entre d(x) e y(x),
chamada de erro instantâneo e(n). Enquanto o algoritmo adaptativo procura em cada interação
minimizar o erro, adapta os coeficientes de um Filtro FIR ou IIR (filtro de resposta ao impulso
infinita) para um valor ótimo. Minimizado o erro, a solução ótima será um vetor ótimo de
coeficientes do filtro. A função de transferência do filtro adaptativo se aproxima da função de
transferência do sistema desconhecido e o sistema desconhecido passa a ser identificado pelos
coeficientes do filtro adaptativo.

297
Foi escolhido para este trabalho de simulação o algoritmo LMS (Least Mean Square) pela
robustez, estabilidade, velocidade de convergência e relativa simplicidade computacional, e o
FXLMS (Filtered-XLMS) para implementação do controle ativo de ruído. O LMS tem como
equação de atualização (DINIZ, 2008):
[3.3]

3.3 - Estruturas de controle ativo de ruído


As técnicas mais utilizadas são a técnica por alimentação direta e a técnica da realimentação.
Pode-se utilizar único canal (um sensor, um atuador e um microfone de erro) ou múltiplos canais
(vários sensores e atuadores).
3.3.1 - Controle ativo de ruído por alimentação direta
O sinal captado pelo microfone primário é processado pelo filtro adaptativo para gerar um sinal
de controle a ser emitido pelo alto-falante (fig. 3). Este forma de controle ativo se utiliza do
esquema dos filtros adaptativos para identificação de sistemas. O caminho entre o alto-falante e o
microfone de erro é composto por uma série de equipamentos e dispositivos que introduzem
atrasos e causam instabilidades no sistema. Para corrigir este problema foi derivado o algoritmo
FXLMS (KUO e MORGAN, 1999). Neste algoritmo o caminho secundário é substituído por um
filtro que seria uma estimativa do caminho secundário. Esta estimativa pode ser feita a priori
pelo método da identificação de sistemas.

Figura 3: sistema de controle ativo por alimentação direta

3.3.2- Controle ativo de ruído por realimentação


No sistema de controle ativo de ruído por realimentação é utilizado um único microfone, que
serve para captar o sinal de erro. O sinal captado no microfone de erro é então processado para
gerar um sinal primário, sendo dado pela equação abaixo (KUO e MORGAN, 1999):
^ M 1
x(n)  d (n)  e(n)   s m y (n  m) [3.4]
m 0

4- CONTROLE ATIVO DE RUÍDO EM DUTO COM CURVA


Quando há uma curva que junta dois segmentos um duto (fig.4), a junção entre as diferentes
geometrias funciona como uma descontinuidade (CABELLI, 1979). Parte da energia incidente
será refletida pela descontinuidade dada pela curva.

Figura 4 – duto curvo junto de dois segmentos retos, figura baseada em (CUMINGS, 1974).

298
ROSTAFINSK (1971) destacou a existência de uma onda estacionaria radial ao longo da curva,
na propagação de ondas de baixa frequência. Após a curva, estas vibrações rapidamente são
atenuadas e a onda se propaga então como plana, porém com amplitude reduzida.

Do ponto de vista da metodologia da alimentação direta, a função de transferência modelada


pelo filtro adaptativo considera a contribuição da reflexão na curva, já que modela o sinal através
da captação das ondas que se propagam no duto nas duas direções. Porém esta modelagem
inicialmente é feita antes do sinal da fonte secundária ser emitida. Após a emissão do sinal da
fonte secundária, o sinal de erro, que será o sinal restante, será refletido pela descontinuidade
dada pela curva. Esta reflexão ocasiona um problema de realimentação acústica no microfone de
erro, que poderá causar instabilidades no controle e maior tempo para haver convergência. Desta
forma, é pertinente desenvolver um método para reduzir esta interferência. Um caminho a ser
investigado será a obtenção do coeficiente de reflexão da curva e um passo variável para
aumentar a convergência do filtro, que considere o coeficiente de reflexão ou utilização da
técnica da realimentação.
4.1 - Obtenção do Coeficiente de Reflexão da Curva
Para obtenção do coeficiente de reflexão da curva será adotado o Método de Dois Microfones,
usado para medir as propriedades acústicas de materiais em tubos de impedância. O cálculo do
coeficiente de reflexão em função da freqüência é dado por CHUNG e BLASER, CHU (1986)
como:
[4.1]

onde H12 é a função de transferência acústica das posições dos dois microfones; s é distância
entre os microfones; L é a distância entre o microfone mais afastado e a amostra do material. No
caso da medição do coeficiente da curva, L será a distância entre o microfone e a curva.

5 - RESULTADOS DE SIMULAÇÃO COM DADOS EXPERIMENTAIS


Os dados reais utilizados nas simulações apresentadas neste item foram coletados em
experimento de um duto montado no Lab. de Ensaios Dinâmicos e Análise de Vibração -
LEME/LEDAV do programa de Engenharia Ocêanica da COPPE/UFRJ por LESSA (2010). O
sistema de dutos utilizado no experimento apresenta várias curvas com diferentes ângulos,
derivações e grelhas de modo a se aproximar de um sistema de dutos de ar condicionado real.
Nas simulações foi utilizado o algoritmo LMS desenvolvido no MATLAB, o que foi importante
para testar o algoritmo, identificar a função de transferência entre o microfone primário e o
microfone de erro, e para o estabelecimento do número de coeficientes do filtro e o valor do
passo µ. A saída do filtro adaptativo é obtida com a aplicação de um filtro FIR na forma direta ao
sinal de entrada. O ajuste do número de coeficientes do filtro FIR é importante para que a
modelagem do caminho entre os dois microfones seja mais precisa.

Os equipamentos utilizados foram Pré-amplificador High System Power Amplifier AB-100 R4,
(NCA); Caixa de entrada e saída para os microfones; Alto-falante Mod. RSW 8 – Potência de
160 W RMS (BRAVOX); microfone PCB Piezotronics tipo ICP modelo U106B SN 10231;
microfone PCB Piezotronics tipo ICP modelo U106B SN 10478; placa de aquisição de dados NI
9133 (National Instruments); Notebook com programa LabVIEW; Gerador de audio; Conjunto
Motor e Ventilador Centrífugo, mod. TSS 250 (TRATAR Tratamento de Ar LTDA); vazão 2000
m3/h, ventilador com 48 pás, PE = 15 mm CA, Motor / NBR 7094, 0,5 CV, 220 V; 2,51 A, 1150
rpm (WEG);

Os ruídos foram gerados no início do duto em duas condições:


 Conjunto motor-ventilador centrífugo

299
 alto-falante ligado a um gerador de ondas senoidais

Os sinais nos dois microfones foram captados simultaneamente pelo LabVIEW (frequência de
amostragem 10 kHz). A fig. 4-a mostra a posição dos microfones, onde: 1 - microfone primário;
2 e 3 – diferentes posições para o microfone de erro. A variação apresentada na amplitude do
sinal tonal ao longo do tempo se deve ao fato de que durante o processo de aquisição do sinal, o
ganho no gerador de áudio foi sendo variado. A fig. 5-b mostra o esquema utilizado nas
simulações. O duto tem dimensão transversal de 200 x 250 mm. A freqüência de corte para
ondas planas (Hall,1987) é, , onde A é a maior dimensão tranversal do duto.

a) b)
Figura 5: a) posições para o microfone primario e de erro; b) esquema das simulações de controle ativo de ruído.

5.2 – Resultados para os tons puros; microfone de erro na posição 2


Para a freqüência de 50 Hz, as figs. 6-a e 6-b mostram respectivamente, o ruído primário e o
sinal de referência (captado pelo microfone na posição 2). A fig. 6-c mostra o sinal de entrada e
o erro no processo de adaptação do filtro. O sinal de erro, que representa o ruído restante, tem
amplitude bem menor do que o ruído primário, demonstrando que o filtro adaptativo conseguiu
modelar de forma satisfatória a função de transferência e minimizar o erro. Ajustando por
tentativas, o valor do passo e do número de coeficientes, que resultou numa melhor
convergência, foi de = 0.2 e de 190 coeficientes.

a) b) c)
Fig. 6: a) ruído primário; b) sinal de referência, captado no microfone na posição2; c) ruído primário e erro.

Figura 7: Sinal de erro para diferentes valores de . Da esquerda para a direta, = 0,05; 0,1 0,20; 0,35; 0,4; 0,5.

300
A figura 7 apresenta o sinal de erro obtido para diferentes valores de sendo mantido o número
de coeficientes em 190, para a freqüência de 50 Hz. A menor amplitude encontrada para o sinal
de erro foi para . Para valores a partir de 0,40 o filtro não mais converge.

5.3 – Resultados para tons puros; microfone de erro na posição 3


Ruído primário e o ruído captado pelo microfone de erro na posição 3 (fig.8.13-a), para
freqüência de 80 Hz. O ruído captado após a curva de 1300 tem intensidade menor do que o ruído
primário, mostrando concordância com a teoria exposta no item 4. As figs. 8-b e 8-c mostram o
ruído primário e o erro para 80 Hz (70 coeficientes e ) e para 300 Hz (50 coeficientes, ).

a) b) c)
Figura 8: a) Ruído primário e sinal de referência; b) ruído primário e erro (80 Hz); c) ruído primário e erro (300 Hz).
.
5.3 - Resultados para ruído de banda larga; microfone de erro na posição 2

a) b)
Figura 8: a) espectro do ruído primário, conjunto motor-ventilador; b) espectro do sinal de erro para 30 coeficientes
e para 300 coeficientes, .

Para atenuação do ruído foi necessário aumentar significativamente o número de coeficientes do


filtro, sendo a atenuação principalmente nas freqüências características do motor. A figura 8-a
mostra o espectro do ruído primário. A fig.8b mostra o sinal de erro para a simulação com 30
coeficientes para a simulação com 300 coeficientes, ambos com o passo . O resultado
com o filtro de 300 coeficientes apresentou melhor atenuação, sobretudo nas freqüências muito
baixas. Houve uma melhora na atenuação em torno da freqüência de rotação do motor (19 Hz).

Figura 9: a) função de coerência quadrática, , entre os sinais e captados do ruído do


conjunto motor-ventilador. b) para os sinais captados do tom puro de 50 Hz.

301
Na figura 9-a e b é plotada a função de coerência quadrática , entre os sinais x(n) e d(n), do
ruído do conjunto motor-ventilador e do ruído tonal de 50 Hz, respectivamente. Há alta
coerência nas freqüências que foram bastante atenuadas e a baixa coerência nas outras
freqüências, no caso do ruído de banda larga. O ruído de 50 Hz por sua vez apresenta maior
coerência numa faixa maior de freqüências. Esta maior coerência entre os sinais resultou numa
convergência melhor do filtro LMS para os tons puros.

6 - CONCLUSÃO
As simulações com o duto real com curvas mostraram que o número de coeficientes
multiplicadores deve ser grande para atenuação de ruídos de banda larga, o que traz um custo
maior em tempo de processamento. O ruído captado pelo microfone na posição 3, após a curva,
apresentou intensidade menor demonstrando a existência da reflexão (fig 8 a), que causará
realimentação no microfone de erro. Durante a implementação do controle ativo de ruído, em
cada interação do algoritmo FXLMS é utilizada uma nova amostra do sinal de erro. A
interferência neste sinal ocasionará um tempo maior de convergência para o filtro e possíveis
instabilidades.

Para complementar o estudo do controle ativo em dutos com curva pretende-se reduzir a
interferência da reflexão no microfone de erro através dos seguintes medidas: obtenção do
coeficiente de reflexão da curva; utilização da técnica da realimentação e aumento da velocidade
de convergência do filtro através de µ de tamanho ajustável. Como fator de ajuste se propõe o
estudo da utilização do coeficiente de reflexão da curva.

REFERÊNCIAS

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302
 

SESSÃO 03-B

303
AVALIAÇÃO DE PARÂMETRO SONORO EM SALAS DE AULA:
DIAGNÓSTICO DE QUALIDADE ACÚSTICA

ARAÚJO, Bianca1, CARVALHO, Sheila 2, PINHEIRO, Philippe 3, PINTO, Débora 4.


(1) Professora Doutora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, UFRN, dantasbianca@gmail.com
(2) Arquiteta da UFRN, sheila@ufrnet.br
(3) Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFRN, lippe.pinheiro@gmail.com
(4) Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFRN, deboranpinto@gmail.com

RESUMO
A prática da docência no ensino superior aula requer um ambiente propício, que atenda de forma
satisfatória os requisitos mínimos relacionados à convivência e relações pedagógicas. O espaço físico
aparece como elemento fundamental que emoldura esse ambiente de relações, estreita o relacionamento
entre professor - aluno. Cada sala exige critérios e condições particulares tanto para a comunicação como
para o conforto acústico. Os critérios gerais de definição de acústica de salas estabelecem critérios
objetivos e subjetivos, sendo estes em função da sala e do uso a que se destina. Este trabalho trata de um
diagnóstico da qualidade acústica em salas de aula de Escolas de nível superior A e B, localizadas em
Natal - RN. Para tanto se realizou uma avaliação subjetiva com avaliação pós-ocupação e aplicação de
questionários para investigação do nível de ruído nas salas de aula, a partir da opinião dos usuários
(alunos e professores); um teste de inteligibilidade da palavra falada para identificar o nível de
audibilidade da sala; e uma avaliação objetiva com medição dos parâmetros acústicos a partir da resposta
impulsiva e do tempo de reverberação. Após a investigação constatou-se a inadequação das salas de aula
ao uso, e a significativa perda de audibilidade dos usuários, sendo necessário um tratamento acústico nas
salas de aula, com aplicação de materiais adequados para aumentar a absorção do ruído provocado e
adequar o tempo de reverberação para a palavra falada utilizada pelo professor na explanação dos
conteúdos.

ABSTRACT
The practice of classroom teaching in higher education requires an environment that satisfactorily meets
the minimum requirements related to the coexistence and pedagogical relationships. The physical space
appears as a fundamental element that frames this environment relationships, the close relationship
between the teacher - student. Each room requires specific conditions and for both communication and for
acoustic comfort. The general option for the definition of room acoustics establish objective and
subjective, which are a function of the room and its intended use. This paper deals with a diagnosis of
acoustic quality in the classrooms of schools level A and B, located in Natal - RN. For that we performed
a subjective assessment with post-occupancy evaluation and questionnaires to investigate the noise level
in classrooms, from the views of users (students and teachers), a test of speech intelligibility to identify
the level audibility of the room, and an objective evaluation with measurement of acoustic parameters
from the impulse response and reverberation time. Upon investigation it was found the inadequacy of
classroom use, and significant loss of audibility of users, requiring acoustic treatment in the classroom,
with application of suitable materials to increase the absorption of noise and adjust the time reverb to the
spoken word used by the teacher in the explanation of the contents.
Palavras-chave: Qualidade acústica. Inteligibilidade. Conforto acústico

1. INTRODUÇÃO
Segundo Masetto(2003), o espaço físico e sua organização influenciam no interesse e na
participação nas atividades e refletem as propostas de aprendizagem que se tem em vista. Ao

304
preparar um espaço para vivências pedagógicas, deve-se observar “a aula como espaço que
permita, favoreça e estimule a presença, a discussão, o estudo, a pesquisa, o debate...”.

Cada sala exige critérios e condições particulares tanto para a comunicação como para o conforto
acústico (SANCHO, 1982). Os critérios gerais de definição de acústica de salas estabelecem a
qualidade sonora das mesmas, como os parâmetros acústicos. Podem ser critérios objetivos e
subjetivos, sendo estes em função da sala e do uso a que se destina.

O Tempo de reverberação de um recinto era o único parâmetro acústico e se refere a uma medida
de permanência da energia sonora, uma vez que se há acabado a fonte sonora que à produzia.
Este tempo é o parâmetro que sem dúvida melhor caracteriza a qualidade acústica de um recinto.
(SANCHO, 82). Hoje, parâmetros diferentes podem relacionar o comportamento físico da sala
com diferentes tipos de sensações auditivas. Essas sensações podem ser descritas como, por
exemplo: intensidade, impressão espacial, clareza, brilho, presença, dentre outros (GERGES,
2000).

Como critérios subjetivos, está a Inteligibilidade, que se refere à maior ou menor capacidade de
reconhecimento da palavra falada, num determinado local. A medição do grau de
reconhecimento dos sons resultantes da palavra falada num ambiente qualquer é chamado de
testes de articulação. (SILVA, 2005). Os sons das consoantes são os principais determinantes da
inteligibilidade. Tendo em vista que os sons das vogais é maior que os das consoantes, e também
de maior duração, em uma sala com expressiva presença de reflexões tardias, sons das vogais
tendem a mascarar os sons das consoantes, com perda da inteligibilidade. Daí a necessidade de
se reduzirem significativamente as reflexões tardias em salas destinadas à palavra falada.
(BISTAFA, 2005).

Avaliado o espaço físico e a aplicação de materiais de acabamentos existentes no local, é


necessário sensibilizar os gestores das escolas visando uma melhoria no conforto acústico como
uma ferramenta para haver uma coerência entre a qualidade da prática pedagógica no ensino
superior oferecida e a melhoria dos ambientes construídos.

A partir desta constatação este trabalho visa um olhar investigativo para os parâmetros sonoros
que estão presentes em quatro salas de aulas de duas escolas de nível superior A e B, através do
diagnóstico da qualidade acústica destes ambientes. O objetivo geral da pesquisa é investigar a
qualidade acústica destas salas visando à melhoria da prática pedagógica em Escolas de nível
Superior em Natal – RN.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de uma pesquisa comparativa entre salas de aula de duas universidades. Para tanto se
realizou uma análise subjetiva dos espaços, primeiramente com uma avaliação pós-ocupação e
aplicação de questionários para investigação da qualidade acústica nas salas de aula, a partir da
opinião dos usuários (alunos e professores), além de, em seguida, um teste de inteligibilidade da
palavra falada para identificar o nível de audibilidade das salas. Para complementar o estudo
realizou-se uma avaliação quantitativa com medição dos parâmetros acústicos objetivos a partir
da resposta impulsiva e do tempo de reverberação.

O estudo foi realizado em salas de aula de duas escolas de nível superior existentes em Natal
(RN), aqui denominadas escolas A e B. Foram investigadas 4 salas em cada escola para medição
dos parâmetros acústicos e interrogados no total cerca de 128 alunos e 29 professores. As salas
foram escolhidas aleatoriamente conforme disponibilidade das mesmas, variando a capacidade

305
de 28 cadeiras (sala p2, escola B) a 130 cadeiras (sala 119, escola A), como mostra nas imagem
01 e 02.

Imagem 01: Sala P2, escola B Imagem 02: Sala 119, escola A

O estudo está dividido em três focos. Dois subjetivos relacionados à avaliação qualitativa, que
constam de um teste de inteligibilidade da palavra falada para identificar o nível de audibilidade
das salas e uma avaliação pós-ocupação com aplicação de questionários para identificar o nível
de satisfação dos usuários. E outro objetivo que trata da medição dos Parâmetros acústicos e
avaliação quantitativa dos dados.

2.1. Parâmetros Acústicos


O princípio das medições é identificar os parâmetros objetivos de qualidade acústica da sala real,
a partir da Resposta Impulsiva (RI). As medições foram viabilizadas com o uso do software
Aurora, desenvolvido pelo prof. Ângelo Farina (Itália). A obtenção da Resposta Impulsiva (RI)
foi realizada a partir de três sinais: Balão estourando; Multi MLS Signal; SineSweep (estes dois
últimos emitidos pelo próprio programa de medição). A fonte sonora foi posicionada no meio da
sala e a captação dos sinais foi feita na frente da audiência. Os sinais foram emitidos e captados e
a partir daí os valores dos parâmetros objetivos da resposta impulsiva encontrada.

De forma complementar, foi realizada a medição do tempo de reverberação com um medidor de


nível sonoro, gerado um impulso de estouro de um balão.

Foram realizadas medições em 4 salas de aula da escola A e 4 salas de aula da escola B.

Os equipamentos e materiais utilizados nas medições foram:


 Computador portátil com os Softwares: Adobe Audition; Office (Excel);
 Microfone sem fio;
 Medidor de nível sonoro SOLO da 01 dB com modulo T60
 Impulso sonoro por balões de festa (bexigas).

As medições refletem a condição de “sala vazia”. Os dados obtidos com o sinal MLS (maximum
length sequence) apresentaram distorções, em função da sala em questão ser muito reverberante
(devido às suas superfícies lisas e refletoras), o que foi agravado pela condição de ambiente
vazio.

2.2. O teste de inteligibilidade da palavra falada


O teste de inteligibilidade da palavra falada foi realizado segundo a metodologia utilizada por
Lencastre (1988), na qual é realizado um ditado de palavras e avaliado o índice de acertos. No
entanto em Lencastre (1988) as palavras eram emitidas com equipamento de som e calibradas

306
adequadamente. Contudo, em nossa experiência utilizou-se a leitura de 32 palavras das citadas
pela metodologia, entretanto o ditado foi realizado por um dos componentes do grupo com uma
boa dicção, mas sem prévia preparação do nível de intensidade sonora a ser utilizado.
Entendeu-se ser essencial chamar a atenção para o tipo de resposta pretendida com estes testes,
que corresponde a escrever as palavras tal qual seja ouvida pelo auditor. Foi-lhes prestada a
informação de que as listas que iriam ouvir eram compostas por trinta e duas palavras e que
poderiam conter palavras que não formassem sentido; neste caso, deveriam escrever
rigorosamente os sons ouvidos. Esclareceu-se também que o teste nunca deveria ser
interrompido e que todas as listas eram diferentes.

A lista de palavras escolhidas foi aleatória e a partir da lista da metodologia de Lencastre (1988).
As palavras escolhidas para cada teste foram lidas seqüencialmente, incluídas numa mesma frase
portadora, expressamente selecionada para o efeito:
"Diga …(palavra)…. por favor"

A frase foi lida trinta e duas vezes em cada teste, variando a palavra do meio conforme a
composição da lista de palavras do teste. Como o nível auditivo depende do nível de intensidade
da voz do emissor, da distância entre o emissor e os auditores, e das condições acústicas do
espaço, utilizou-se o espaço da frente das carteiras e caminhou-se para direita e para esquerda na
hora de emitir as palavras como se o professor estivesse proferindo a aula.
No início de cada teste a instalação sonora existente no local era totalmente desativada. Depois
os auditores eram distribuídos por toda a sala e era entregue o material de trabalho:
 As fichas para registro de respostas a cada auditor;
 O questionário para avaliação pós-ocupação.
A leitura do ditado foi feita de forma natural, cada teste teve uma duração média de 10 minutos,
com um discurso continuado, mas ligeiramente pausado de forma a permitir haver tempo
suficiente para a escrita de cada resposta. As palavras não podiam ser repetidas e os alunos não
deveriam filar a resposta do colega.

2.3. Questionários
Quanto à aplicação de questionários foi utilizada a metodologia sugerida por Zwites (2006),
sendo que no caso da avaliação da percepção do ruído nas Escolas de Nível Superior A e B os
questionários foram adaptados e elaborados direcionando-os a cada grupo do trabalho em
questão, professores e alunos.

As perguntas foram desenvolvidas baseadas em diversas pesquisas relativas à percepção de


alunos e professores quanto ao conforto acústico em sala de aula. Os questionários utilizados
foram desenvolvidos a partir de outros trabalhos semelhantes conduzidos por DOCKRELL et al.
(2001), LORO (2003), LOSSO(2003), ENMARKER e BOMAN (2004) e DOCKRELL e
SHIELD (2004).

Aplicaram-se os questionários a 29 professores e 128 alunos das Escolas de Nível Superior A e


B. Entrevistaram-se alunos dos cursos de Design de Interiores, Serviço Social, Engenharia
Ambiental e Gestão Pública, apresentando usuários de idades diversas desde adolescentes com
17 anos até adultos com 65 anos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise da qualidade acústica foi realizada em quatro etapas: medições dos parâmetros
acústicos, medição do tempo de reverberação, aplicação do teste de inteligibilidade da palavra
falada e avaliação pós-ocupação (APO) com aplicação de questionários entre alunos e
professores.

307
3.1. Medições dos parâmetros acústicos
Os parâmetros acústicos foram medidos com o uso do software Aurora. Os dados analisados
foram os de C80, D50, Ts e EDT, segundo as médias nas freqüências de 125hZ a 4000hZ.Os
dados obtidos constam do Quadro 2. Pode-se ressaltar que, quando possível os dados não
captados foram interpolados com os dados de freqüências vizinhas, entretanto quando prevaleceu
a não captação do dado, este foi descartado.

Tabela 1: Dados dos parâmetros acústicos objetivos medidos nas salas

Unidade Sala C80 D50 Ts EDT


209/206 -9.00 16.33 459 9.11
Escola A 120 -8.47 17.35 345 *1
119 -8.39 -7.26 15.47 273.77
T13 -8.69 -5.01 437 *
P3 * 1.99 423 *
Escola B
P2 * 12.68 210.25 1.69
T20 -6.42 17.21 299.49 *
Ideal -3 a 0dB 70% 70ms 1,0s
Fonte: Medições realizadas no local em junho de 2011.

Como mostra o quadro acima os dados obtidos estão mostrando que em geral as salas estão
inadequadas dentro do padrão ideal, ocasionando interferência nos parâmetros acústicos da sala.
Constata-se portanto o alto nível de reverberação do som em todos os ambientes medidos que
ocasiona o rebatimento da palavra falada antes de chegar ao usuário. Este fator acarreta o
desconforto na audição dos indivíduos e na audibilidade da palavra falada.

3.2. Medição do tempo de reverberação


A tabela abaixo apresenta os dados medidos in locco, com o medidor de nível sonoro que possui
o módulo de medição do tempo de reverberação (T60):

Tabela 2: Tempo de reverberação do som/ frequência, medido in locco.

Medido (in locco) Ideal


TR TR TR TR TR TR
Unidade Sala
125 250 500 1000 2000 3150
209/206 7,16 2,04 1,40 1,02 9,60 8,90
Escola A 120 5,78 1,40 1,15 1,02 9,60 1,02
119 2,56 1,79 1,53 1,02 1,15 1,02
0,7
T13 2,56 1,79 1,53 1,53 1,53 1,53
P3 7,90 8,30 9,90 9,60 8,30 7,60
Escola B
P2 9,00 8,90 9,20 8,90 8,60 7,30
T20 1,20 1,53 1,15 1,53 1,40 1,28
Fonte: Medições realizadas no local e simuladas no computador em junho de 2011.

Pode-se observar na tabela acima que os dados medidos no local estão sempre acima do valor
ideal de 0,7, chegando a atingir 9,0 nas medições de todas as freqüências como podemos
observar na sala P2 da escola B. Constata-se, portanto, a urgente necessidade de investimento de
projeto acústico para as salas de aula analisadas visando minimizar os efeitos negativos do alto

*
Dados não detectados pelo equipamento

308
nível de reverberação do som nestes ambientes e melhorar o nível da prática pedagógica nestas
escolas de nível superior.

3.3. Teste de inteligibilidade da palavra falada


No que diz respeito ao teste de inteligibilidade da palavra falada observou-se uma perda média
de 1,6 palavras escritas erradas ou não escritas em um universo de 32 palavras ditadas, o que
equivale a uma perda de 5% de audibilidade das palavras faladas pelo professor em um tempo de
aproximadamente 10 minutos de explanação de conteúdo. Vale salientar que numa aula de 50
minutos o aluno perde cerca de 25% das palavras faladas pelo professor, o que pode ocasionar
uma significativa perda ao final do seu curso. Quanto ao nível de palavras escritas erradas por
sala, constatou-se que a sala 206 foi onde ocorreu o maior índice de perda da palavra falada.

4.4. Aplicação dos questionários


A aplicação dos questionários aos alunos foi realizada nas próprias salas de aula. As questões
foram lidas pelo pesquisador, com tempo necessário entre as perguntas para que os alunos
respondessem com calma cada questão. Quanto aos professores, apresentou-se a proposta da
pesquisa e o objetivo da aplicação de questionários, que foram entregues e preenchidos
individualmente sem auxílio do pesquisador. Os professores responderam a um questionário
diferente do aluno. As respostas aos quesitos foram dadas na forma de escores variando de 0 a 3.
Todos os questionários aplicados aos 29 professores foram validados.

4.4.1. Análise dos questionários - Alunos


Apresenta-se a seguir os resultados dos dados dos 128 alunos, obtidos a partir da aplicação dos
questionários que foram digitalizados numa planilha e elaborados gráficos para computar os
resultados, além de alguns comentários sobre o que foi coletado. Os dados obtidos retratam um
indício da falta de conforto acústico para aqueles que ficam mais afastados do professor,
considerando o barulho da sala de aula em que 50% dos alunos pesquisados preferem sentar no
meio da sala, e cerca de 30% na frente.

Sobre a voz dos professores durante a aula, 77% dos alunos responderam que ouvem bem, mas
há uma perda de 25% da informação falada pelo professor, corroborando a dificuldade existente
causada pelo barulho da sala, 75% dos alunos acham a sala de aula barulhenta.

A respeito de qual o barulho que mais se ouve na sua sala, cerca de 33% dos alunos encontram
problemas na interferência de outras salas no ambiente de estudo e outro 33% define a
interferência na sala com o corredor como o principal causador.

Quanto ao barulho no ambiente doméstico, 75% responderam que suas casas são silenciosas e
25% que são barulhentas devido ao trânsito e/ou seus vizinhos.

Dentre as poucas sugestões (25%) fornecidas pelos pesquisados para melhorar a acústica da sala
constata-se que: é uma questão de educação entre os usuários da sala; é devido ao grande número
de alunos nas salas; e, é também uma questão arquitetônica, que com um tratamento básico da
acústica da sala poderiam diminuir a porcentagem de perda da inteligibilidade na explanação dos
educadores.

4.4.1. Análise dos questionários - Professores


Dentre os professores que responderam o questionário buscou-se uma igualdade de pessoas do
sexo masculino com os do sexo feminino. Constata-se também a predominância de professores
entre 20 e 40 anos, dentre os quais havia três entrevistados com algum tipo de problema auditivo.

309
Os entrevistados responderam as questões com uma escala de valores: nada, pouco, médio e
muito.

Com relação para os ruídos predominantes em sua sala de aula (ruídos provenientes da escola)
a maioria dos professores (88%) alegaram como “muito”o ruído produzido por alunos
conversas no corredor e ruído gerado pela movimentação de pessoas no corredor como os mais
predominantes. Já sobre as situações que os professores acreditam gerar maior interferência na
sala de aula, 51% constatam alto o nível de ruído proveniente dos alunos da própria sala.

Ao serem questionado sobre as atividades em sala de aula que são mais afetadas pelo ruído,
verifica-se que os usuários sentem-se mais afetados durante as aulas expositivas (77%). Já sobre
a influência do ruído sobre o rendimento dos alunos, predomina na a opinião dos professores
que o ruído influencia de médio (49%) o rendimento dos alunos.

A maioria dos professores (79%) alegaram que o maior incomodo causado por ruídos
correspondem a necessidade de elevar o tom de voz e fadiga vocal com os ruídos provenientes
de fora da escola. Nota-se na opinião dos professores uma percepção mais acurada ao
investigar o incômodo causado pelo ruído, visto que vários fatores prejudicam a melhor prática
pedagógica no ambiente de trabalho.

Pode-se concluir com este diagnóstico que a qualidade acústica das salas de aula da Escola de
Nível Superior A e B, em Natal-RN, não atendem satisfatoriamente aos usuários como constata a
avaliação pós-ocupação realizada nesta pesquisa. Quanto à avaliação do nível de inteligibilidade
da palavra falada podemos constatar uma perda média de 1,6 palavras a cada 32 ditadas, por
pessoa e por um tempo de 10 minutos. Esse erro pode alcançar 3 palavras por pessoa nas salas
206 e 209. No que diz respeito aos parâmetros acústicos destaca-se o nível elevado de
reverberação do som ocasionado pela inadequada aplicação dos materiais de revestimento.

4. CONCLUSÕES
A prática da docência no ensino superior agrupa vários elementos subjetivos, relacionados à
convivência e relações pedagógicas. O espaço físico aparece como elemento fundamental que
emoldura esse ambiente de relações, estreita o relacionamento entre professor - aluno. O
desenvolvimento das diversas atividades produzidas em sala de aula requer um ambiente
propício, que atenda de forma satisfatória os requisitos mínimos de conforto acústico.

Mizukami (1986) analisa a relação professor-aluno dentro das abordagens de ensino, aponta
variadas formas de relacionamento e as diversas atuações do docente e discente. A partir do
momento que o principal ambiente a ser ocupado pelos alunos e professores nesse processo não
atende as condições mínimas de conforto acústico, nota-se como consequência um prejuízo no
processo de aprendizagem, assim como nos aspectos psicológicos, visto que os níveis de ruídos
causam diversos desconfortos, irritabilidade assim como problemas vocálicos nos professores.

No que diz respeito aos parâmetros acústicos destaca-se o nível elevado de reverberação do som
ocasionado pela inadequada aplicação dos materiais de revestimento.

Recomenda-se, portanto um tratamento acústico nas salas de aula das Escolas de Nível Superior
A e B, com aplicação de materiais adequados para aumentar a absorção do ruído provocado
pelos usuários e adequação do tempo de reverberação para a palavra falada utilizada pelo
professor na explanação dos conteúdos.

310
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3. GERGES, S. N. Y. (1992). Ruído: Fundamentos e Controle. Santa Catarina: Ed. UFSC, 1992.
4. LENCASTRE, Margarida. A inteligibilidade da palavra em igrejasCatólicas, através de análises de
carácter Objectivo e subjectivo. Dissertação de Mestrado. Porto, 1988.
5. MIZUKAMI, Maria. G.N. Ensino: As abordagens do Processo. São Paulo:EPU, 1986.
6. MASETTO, Marcos T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003.
7. SANCHO, V.M., SENCHERMES A.G. (1982). Curso de Acustica en Arquitectura. Colegio Oficial de
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8. SILVA, Pérides. Acústica Arquitetônica & Condicionamento de ar. 5ed. Belo Horizonte: EDTAL E. T.
Ltda, 2005.
9. ZWIRTES, Daniele. Avaliação do desempenho acústico de salas de aula: estudo de caso nas escolas
estaduais do Paraná.Dissertação de Mestrado. Escola de Nível Superior Federal do Paraná. Curitiba, 2006.

311
ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS DE SALAS PARA
ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA
GAIDA VIERO, Claudia1; PAIXÃO, Dinara2; VERGARA, E. Felipe3; BRUM, Cristhian4.
(1)Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, claudiagaida@hotmail.com; (2) Docente do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, dinaraxp@yahoo.com.br; (3) Docente do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, efvergara@gmail.com; (4)Mestrando do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, crmrbr@gmail.com.

RESUMO
Este trabalho trata do estudo das características acústicas de salas de aula em três escolas de educação
básica da rede estadual de Santa Maria/RS, com tipologias arquitetônicas distintas, destinadas a
atividades escolares de música, visando cumprir as exigências da Lei nº 11.769/2008. Em uma primeira
etapa da pesquisa foram levantadas informações a respeito de dimensões, geometria e materiais das salas
de aula. Posteriormente, as características acústicas destas salas, com e sem a presença de mobília, foram
determinadas a partir de medidas da resposta impulso para determinação de parâmetros acústicos
conforme recomendações da norma ISO 3382, para verificar a sua qualidade acústica e inteligibilidade da
fala. Os resultados da avaliação acústica mostraram que as salas apresentaram tempos de reverberação e
parâmetros acústicos relacionados com a clareza de sons musicais e da fala não adequados para salas
destinadas ao ensino da música. Esta inadequação acústica destes espaços escolares pode comprometer a
qualidade do ensino, acarretando em prejuízos ao processo de ensino-aprendizagem.

ABSTRACT
This paper deals with the study of the acoustics of classrooms for the school music activities aimed at
fulfilling the requirements of Law No. 11.769/2008 in three basic education schools of the state of Santa
Maria/RS, which are distinct architectural typologies. In a first stage of the research were raised
information about dimensions, geometry and materials of the classroom. Subsequently, the acoustic
characteristics of these rooms, with and without the presence of furniture, were determined from
measurements of the impulse response for determination of acoustic parameters according to
recommendations of ISO 3382, to check its quality acoustics and speech intelligibility. The results of
acoustic analysis showed that the rooms had reverberation time and acoustic parameters related to the
clarity of musical sounds and speech is not suitable for rooms for the teaching of music. This inadequacy
of school spaces acoustics can compromise the quality of education, resulting in damage to the process of
teaching and learning.
Palavras-chave: Salas de aula. Ensino de música. Qualidade acústica.

1. INTRODUÇÃO
A aprovação da Lei nº 11.769, de agosto de 2008, dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de
música na educação básica, tornando-o obrigatório a partir de 2012, mas não exclusivo nos
currículos escolares, ou seja, a música pode ser inserida no ensino de arte. (BRASIL, 2008).

A diversificação de modalidades nos conteúdos é um aspecto positivo e indispensável para a


garantia de sucesso e a continuidade do processo de inserção do ensino de música nas escolas.
Isso, porém, torna ainda mais complexa qualquer proposta de adaptação das estruturas físicas dos
espaços escolares existentes, em busca da qualidade sonora do ambiente.

Sabe-se que a qualidade acústica de um ambiente, como por exemplo, uma sala de aula, é
definida por distintos parâmetros acústicos, segundo o tipo de mensagem sonora. Além disso, as
exigências na percepção de uma mensagem oral (palavra falada) ou musical variam de acordo
com a diversidade das fontes sonoras. Outras considerações fundamentais para o controle e a
otimização das condições acústicas de salas de aula são: a intensidade da fonte, o ruído de fundo

312
e a reverberação (BERANEK; VÉR, 2006). Do ponto de vista da audição musical, a qualidade
acústica de uma sala tem como parâmetros fundamentais a clareza, a reverberação e a sua
impressão espacial. (LLINARES; LLOPIS; SANCHO, 1996).

O presente artigo apresenta uma descrição das características arquitetônicas de três salas de aula
destinadas ao ensino da música em escolas de educação básica da rede estadual de Santa
Maria/RS e avalia os parâmetros acústicos derivados da medição da resposta impulso de acordo
com recomendações da norma ISO 3382, tais como: Tempo de Reverberação (TR), Tempo de
Decaimento Inicial (EDT), Clareza (C80), Definição (D50) e Índice de Transmissão da Fala (STI).
Os resultados dessa avaliação possibilitarão, no futuro, a proposta de adequações de projeto
arquitetônico e aplicação de materiais para esse tipo de espaço físico, visando à melhoria de sua
qualidade acústica.

2. ASPECTOS ARQUITETÔNICOS DAS SALAS DE AULA


Para compreender a acústica das salas faz-se necessário o entendimento de alguns fenômenos
físicos, como o Tempo de Reverberação (TR) que é o tempo necessário para que a energia de
uma fonte sonora decaia em 60 dB depois da interrupção da fonte sonora, ele está diretamente
relacionado ao volume da sala e está relacionado às propriedades físicas da mesma. Já o Tempo
de Decaimento Inicial (EDT) é o tempo decorrido até que a energia sonora decaia 10 dB a partir
da interrupção da fonte sonora. É um parâmetro subjetivo, pois descreve a reverberação
percebida pelo ouvinte.
A Clareza (C80) é um parâmetro utilizado para definir a clareza musical de salas dedicadas à
música. Define a inteligibilidade das articulações sonoras. O parâmetro Definição (D50) está
diretamente relacionado à clareza, é utilizado para avaliar o grau de perspicuidade da sala. É a
razão logarítmica entre a energia do intervalo inicial do som e a energia total contida no sinal.

O Índice de Transmissão da Fala (STI) caracteriza a inteligibilidade de uma sala. A palavra é


composta de vogais e consoantes distribuídas ao longo do espectro audível, compreendida entre
500 e 5000 Hertz (Hz). Portanto, quanto a inteligibilidade da fala, pode-se dizer que um som é
inteligível quando se compreende seu significado na comunicação, podendo ser comprometida
pela distância e pelo ruído de fundo.

Para o presente trabalho foram escolhidas três tipologias arquitetônicas significativas, pois essas
caracterizam as construções escolares executadas nos anos 70, 80 e 90 no estado do Rio Grande
do Sul. A escolha foi feita de forma não probabilística, utilizando-se como critério de seleção
para esse estudo, a tipologia do espaço físico da escola, empregando-se a classificação
desenvolvida por Paixão (1997).
A amostra ficou definida por três salas atualmente utilizadas para palestras, eventos e ensaios
musicais, as quais deverão receber as aulas decorrentes do atendimento a Lei nº 11769/08. O
estudo foi desenvolvido nas salas de vídeo das escolas: Escola Estadual de Ensino Médio Dr.
Walter Jobim (projeto Polivalente), Colégio Estadual Professora Edna May Cardoso (projeto
Nova Escola) e Escola Básica Estadual Dr. Paulo Devanier Lauda (projeto CIEP – Centro
Integrado de Educação Pública).

Na Tabela 1 são descritas informações de dimensionamento, volume de ar interior, área total das
superfícies internas (paredes, piso e teto) das salas estudadas.

313
Tabela 1 – Descrição das dimensões das salas estudadas
Dimensão Área Total
Tipologia Volume (m³)
L x C x A (m) (m²)
Polivalente 7,4 x 11,2 x 3,6 297,0 266,8
Nova Escola 4,5 x 6,7 x 2,8 81,4 120,5
CIEP 5,9 x 7,5 x 3,1 137,8 151,7

As salas com projetos arquitetônicos Polivalente, Nova Escola e CIEP possuem os seguintes
materiais no interior do ambiente: tijolo rebocado nas paredes, laje rebocada no teto, porta de
madeira compensada e janelas com vidros simples. O piso das salas da tipologia Polivalente e
Nova Escola é de madeira parquet, sendo que na sala da tipologia CIEP o piso é vinílico.
Os elementos que compõem as salas caracterizando-as como sala mobiliada são os seguintes: a
sala denominada Polivalente possui duas poltronas estofadas em tecido, setenta e sete cadeiras
estofadas em tecido, três mesas, um quadro negro, uma lousa branca e cortina de algodão. A sala
cuja tipologia é Nova Escola conta com quinze cadeiras estofadas em tecido e braço em fórmica,
dezessete cadeiras estofadas em couro sintético, dois balcões de madeira, uma lousa branca,
equipamentos de áudio e vídeo e cortina plástica. A sala do CIEP é composta de sete cadeiras em
madeira, trinta e seis cadeiras estofadas em couro sintético, três mesas, um quadro negro, uma
lousa branca, um armário de madeira, três armários de fórmica, um armário de fórmica com pia
inoxidável, equipamentos de áudio e vídeo, e cortina tipo veneziana em juta.

As Figuras 1 a 3 mostram a distribuição dos materiais e os elementos que caracterizam como


mobiliadas as salas das escolas Polivalente, Nova Escola e CIEP, respectivamente.

Figura 1 – Sala de eventos da Escola Estadual Ensino Médio Dr. Walter Jobim (Polivalente).

Figura 2 – Sala de vídeo do Colégio Estadual Professora Edna May Cardoso (Nova Escola).

314
Figura 3 – Sala de vídeo da Escola Básica Estadual Dr. Paulo Devanier Lauda (CIEP).

3. DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS ACÚSTICOS DAS SALAS DE AULA


A medição da resposta impulso, para a determinação dos parâmetros acústicos das salas de
ensino de música, foi realizada seguindo os procedimentos especificados na norma ISO
3382/2009, para as bandas de oitava entre 125 e 4.000 Hz.

O procedimento de medição considerou duas posições de fonte sonora e cinco posições de


microfones, distribuídos nas salas respeitando as distâncias mínimas previstas em norma,
considerando o tamanho e forma de cada sala em particular. Para cada ponto de medição, foram
feitas três medidas. A posição da fonte distou 1,5 m do seu centro até o piso da sala.

Os equipamentos usados nessas medições acústicas foram uma fonte sonora dodecaedrica
omnidirecional tipo 4292, amplificador de potência tipo 2716, medidor de nível de pressão
sonora tipo 2270, microfone de precisão para incidência aleatória tipo 4189, calibrador acústico
(94 dB, ref. 20 µPa, para 1.000 Hz), todos da Bruel & Kjaer, placa de som Presonus e programa
computacional Dirac para aquisição e análise de dados.

Nesse estudo avaliaram-se duas situações distintas para cada sala de aula de música, sendo uma
primeira a da sala sem mobiliário e num segundo momento a sala ocupada com mobiliário,
conforme descrito no item 2 e mostrado nas figuras 1, 2 e 3, anteriormente apresentadas. Para
atender a condição de salas sem mobiliário, foram retirados todos os móveis e objetos que
existiam no interior das salas.

Para a condição de ocupação com mobiliário, as três salas eram compostas por elementos
comuns como lousa branca, elementos em madeira como mesas, armários ou estantes. As
cadeiras ou poltronas variaram de sala para sala, desde as estofadas em tecido com ou sem braço
em fórmica ou as estofadas em couro sintético. As cortinas variaram conforme o material, em
algodão, em plástico ou juta. As salas pertencentes à escola Polivalente não possuíam
equipamentos de áudio e vídeo fixos na sala, mas as salas dos tipos Nova Escola e CIEP
dispunham de equipamentos completos e fixos na sala para uso em áudio e vídeo. A sala do
CIEP se diferenciou das outras por possuir balcões de fórmica e tampo de pia inoxidável. A
maioria dos materiais citados como mobiliário possuem baixos coeficientes de absorção sonora,
como é o exemplo das cadeiras presentes nas salas estudadas, tanto estofadas ou em madeira,
cujos coeficientes não ultrapassam 0,02 nas bandas analisadas.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Nas Tabelas 2, 3 e 4 são apresentados os valores médios dos parâmetros acústicos obtidos a
partir da medição da resposta impulso em cada sala estudada do tipo Polivalente, Nova Escola e
315
CIEP, respectivamente, sem e com a presença do mobiliário. Nessas tabelas são mostrados os
valores para o Tempo de Reverberação (TR), Tempo de Decaimento Inicial (EDT), Clareza (C80)
e Definição (D50), para as bandas de frequência de oitava entre 125 e 4.000 Hz, incluindo os
correspondentes valores do Índice de Transmissão da Fala (STI). Os parâmetros acústicos
medidos nas salas com mobiliário, para as três escolas de forma individualizada, são exibidos nas
Tabelas 2, 3 e 4 em sombreado de cinza para facilitar a visualização diferenciando-os dos valores
resultantes das medições sem mobiliário.

Tabela 2: Parâmetros acústicos da sala de vídeo do projeto Polivalente, sem e com mobiliário.
Parâmetro Frequência [Hz]
acústico 125 250 500 1.000 2.000 4.000
2,43 2,56 2,27 2,22 2,38 2,22
TR [s]
1,97 1,65 1,30 1,10 1,13 1,10
2,47 2,49 2,27 2,21 2,40 2,20
EDT [s]
2,03 1,76 1,28 1,13 1,14 1,06
-2,18 -2,79 -2,83 -2,51 -2,56 -1,89
C80 [dB]
-0,45 -0,32 0,54 1,65 2,05 2,15
24 21 22 24 25 27
D50 [%]
30 30 34 42 44 44
0,41
STI
0,55

De acordo com a Tabela 2, o Tempo de Reverberação (TR), permanece em torno de 2,35


segundos em média, para todo o espectro analisado, apresentando uma pequena variação nos
valores, quando a sala está sem mobília. Quando mobiliada, o TR diminui para todas as bandas
de frequências e a diferença torna-se superior a 1 segundo para as bandas acima de 500 Hz, como
mostra a Figura 4. Essa figura apresenta as diferenças detectadas para as demais salas.

O Tempo de Decaimento Inicial (EDT) que descreve a reverberação percebida pelo ouvinte
apresenta um comportamento muito similar ao do TR, sem e com a presença de mobília na sala.
A norma ANSI 1 S1260/2010 recomenda que os valores de TR para salas de aula devam
permanecer entre 0,4 e 0,6 segundos. A comparação dos valores de referência com os
determinados para a sala da escola Polivalente leva a constatação de que todos os valores, sem ou
com mobília estão fora das recomendações normativas. A Figura 5 mostra a diferença dos
valores sem e com mobília, em toda a banda de frequências analisada, para o EDT na sala da
escola Polivalente e das demais escolas estudadas.

Para o parâmetro acústico Clareza (C80) os valores variam entre -2,8 e -2,5 dB na faixa de
frequências das bandas de 500 e 1.000 Hz, para a sala de escola Polivalente sem mobília.
Quando os materiais e elementos ocupam a sala de aula os valores do C80 aumentam de forma
que a execução musical na sala se torna mais nítida e definida, principalmente na faixa de
frequências entre 500 e 4.000 Hz, com valores entre 0,5 e 2,2 dB. A Figura 6 mostra a diferença
entre os valores medidos sem e com mobília na sala da escola Polivalente e nas demais escolas.

A clareza da fala, descrita pelo parâmetro Definição (D50), mostrou valores médios em torno de
23,7% e 40% para a sala sem e com mobília, respectivamente, entre 500 e 2.000 Hz. Assim, a
sala de aula se torna mais definida com a presença de mobília, mas os sons da palavra falada
podem ser confusos e indefinidos. A inteligibilidade da fala é caracterizada pelo parâmetro STI,
cujos valores foram 0,41 e 0,55 para sala de aula sem e com mobília correspondentemente. Estes
valores classificariam a sala como fraca (sem mobília) e adequada (com mobília) para o
entendimento da fala, conforme a norma IEC60268-16/03.

Para analisar a tipologia Nova Escola, observam-se os valores apresentados na Tabela 3.


316
Tabela 3: Parâmetros acústicos da sala de vídeo do projeto Nova Escola, sem e com mobiliário.
Parâmetro Frequência [Hz]
acústico 125 250 500 1.000 2.000 4000
1,60 1,44 1,31 1,37 1,50 1,42
TR [s] 1,27 1,06 0,84 0,82 0,91 0,91
1,30 1,32 1,27 1,40 1,53 1,39
EDT [s] 1,09 1,05 0,83 0,87 0,92 0,91
1,91 0,79 1,60 0,80 0,49 1,09
C80 [dB] 2,33 2,96 4,99 4,46 3,74 3,71
42 36 43 37 40 41
D50 [%] 47 50 58 58 53 54
0,51
STI
0,62

O Tempo de Reverberação (TR) apresenta pouca variação nas bandas de frequências analisadas
quando a sala está sem mobília, com os menores valores em média de 1,34 segundos, para as
bandas entre 500 e 1.000 Hz. Os valores de TR são bem menores que o da sala da tipologia
Polivalente, confirmando a relação entre TR e volume, pois essa sala tem um volume três vezes
menor que a analisada. Quando a sala está mobiliada o TR diminui para todas as bandas de
frequências apresentando uma diferença inferior a 0,47 segundos para as bandas entre 125 e 500
Hz. Para as bandas acima de 1.000 Hz a diferença média é de 0,5 segundos, como é possível
constatar na Figura 4. Os valores de EDT, sem e com a presença de mobília na sala, indicam um
comportamento similar ao do TR, comparando-se as Figuras 4 e 5. Mesmo com valores de TR
inferiores nesta sala, os mesmos estão fora dos valores normalizados, sem ou com mobília.
Considerando a Clareza (C80) os valores apresentam grande variação em toda a faixa de
frequência das bandas de 125 e 4.000 Hz, apresentando valor 1,91 dB para 125 Hz e 0,49 dB
para 2.000 Hz, isso para a sala de aula sem mobília. Para a sala ocupada com materiais e
elementos os valores do C80 aumentam alcançando limites recomendados para a banda de 500
Hz, com o valor de 4,99 dB. Esse comportamento contribui para tornar a sala mais adequada para
o ensino da música, tornando-a nítida e definida. Na Figura 6 está apresentada as diferença da
sala sem e com mobília. A clareza da fala (D50) mostrou valores adequados para a sala nas duas
condições de mobiliário, segundo as recomendações da ISO 3382-1/09. Na condição com
mobília os valores são mais altos do que para a sala sem mobília, demonstrando que o mobiliário
pode contribuir para que a palavra falada tenha melhor definição. Seguindo a IEC60268-16/03
para os valores medidos de STI, a inteligibilidade da fala quando sem mobília apresentou valores
adequados de 0,51 e com a mobília a inteligibilidade é boa com valores de 0,62.

Na Tabela 4 são expressos os parâmetros acústicos medidos para a sala da tipologia CIEP.

Tabela 4: Parâmetros acústicos da sala de vídeo do CIEP, sem e com mobiliário.


Parâmetro Frequência [Hz]
acústico 125 250 500 1.000 2.000 4.000
2,01 1,99 2,24 2,39 2,23 1,83
TR [s]
1,77 1,53 1,34 1,46 1,52 1,45
1,52 1,89 2,28 2,40 2,24 1,80
EDT [s]
1,49 1,46 1,36 1,47 1,53 1,45
-0,83 -1,12 -2,10 -2,64 -1,99 -0,81
C80 [dB]
-0,61 -0,04 0,78 0,31 -0,27 0,04
29 26 25 24 26 31
D50 [%]
30 35 37 35 33 34
0,42
STI
0,50

317
Os valores do TR medidos quando a sala do CIEP está sem mobília apresentam pouca variação
nas frequências analisadas, sendo os maiores valores 2,24 e 2,39 segundos entre 500 e 1.000 Hz.
Quando a sala está mobiliada, o TR diminui para todas as bandas de frequências apresentando as
maiores diferenças para as bandas entre 500 e 2.000 Hz – como mostrado na Figura 4 – com os
valores de 0,9, 0,93 e 0,71 segundos, respectivamente. Os valores de EDT, sem e com a presença
de mobília na sala apresentam valores muito parecidos aos valores do TR. Os valores de TR para
a sala do CIEP sem e com mobília estão fora dos valores recomendados pela ANSI 1 S1260/10.
Quando com mobiliário os valores do C80 não aumentam de forma substancial, como pode ser
observado na análise da diferença das duas situações na Figura 6 e, portanto, a sala não pode ser
considerada tão apropriada para o ensino da música quanto à sala da tipologia Nova Escola. A
clareza da fala (D50) mostrou valores inadequados sem mobília, onde só para 4.000 Hz com o
valor de 31% passa a ser adequado, segundo a ISO 3382-1/09. Com mobília os valores de D50
aumentam e permanecem em média em torno de 34%. O STI na sala sem mobília apresentou um
valor de 0,42, considerada fraca, e com a mobília o mesmo índice é adequado com valor de 0,50.

As Figuras 4 e 5 mostram a diferença obtida da condição de sala sem e com mobiliário para os
parâmetros acústicos TR e EDT nas três tipologias: Polivalente, Nova Escola e CIEP.
Comparativamente, a sala do projeto Polivalente apresentou a maior diferença, em todas as
bandas estudadas, tanto no TR como no EDT, quando é colocado o mobiliário, resultando em
uma diminuição da reverberação na sala. No caso da sala da tipologia Nova Escola, a mudança
nestes parâmetros relacionados com a reverberação foi a menor. A sala do CIEP mostrou um
notável aumento na diferença do TR e EDT e uma redução na reverberação entre 500 e 1.000 Hz.

1,4 1,4
1,2 1,2
1 1
EDT [s]

0,8
TR [s]

0,8
0,6 0,6
0,4 0,4
0,2 0,2
0 0
125 250 500 1000 2000 4000 125 250 500 1000 2000 4000
Frequência [Hz] Frequência [Hz]
Polivalente Nova Escola CIEP Polivalente Nova Escola CIEP

Figura 4 – Diferença TR sem e com mobília. Figura 5 – Diferença EDT sem e com mobília.

As Figuras 6 e 7 mostram a diferença entre a sala sem e com mobília, para as três tipologias, dos
parâmetros C80 e D50. As salas da Polivalente e Nova Escola mostram um aumento do C80 e do
D50 acima de 1.000 Hz, tornando-as mais nítidas para a música e para a fala nessas frequências.
5 25
4 20
C80 [dB]

D50 [%]

3 15
2 10
1 5
0 0
125 250 500 1000 2000 4000 125 250 500 1000 2000 4000
Frequência [Hz] Frequência [Hz]
Polivalente Nova Escola CIEP Polivalente Nova Escola CIEP

Figura 6 – Diferença de C80 sem e com mobília. Figura 7 – Diferença de D50 sem e com mobília.

318
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As escolas estaduais estudadas foram projetadas segundo tipologia arquitetônica que atendia as
necessidades da época de suas construções, o que restringe modificações relacionadas ao espaço
físico já construído, embora novas exigências legais, como é o caso da Lei nº 11769/2008, que
insere o ensino da música nas escolas de educação básica do Brasil.

A inadequação acústica em um ambiente destinado ao ensino e estudo da música pode


desencadear problemas no processo de aprendizagem musical, modificando a resposta à audição
musical e à fala, possibilitando adaptações errôneas às condições ambientais.

Os valores dos parâmetros acústicos avaliados demonstraram que as três salas estudadas não são
apropriadas para o desenvolvimento de atividades escolares que envolvam a música e a fala.
Mesmo considerando que as salas, durante o período letivo, serão ocupadas pelos alunos,
mochilas e objetos pessoais, observa-se que as mesmas precisam de tratamento acústico para
adequá-las às condições favoráveis de uso para a execução musical (instrumento, audição de som
com equipamentos sonoros) e para o caso do diálogo do professor/alunos.

Isso reafirma a importância de estudos nesse tema, pois as salas avaliadas desempenham
atualmente um papel especial nas atividades escolares (salas de vídeo). A situação da maioria das
escolas que terão que implantar a nova legislação ainda mais difícil, pois deverão utilizar salas de
aulas comuns para o ensino/aprendizagem de música.

6. AGRADECIMENTOS
Este artigo é resultado de uma etapa do Projeto ABRAMUS (Arquiteturas para um Brasil
Musical), vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesquisadores de Ensino
Superior/Ministério da Cultura (CAPES/MinC), o qual contribui para a inserção do ensino da
música nas escolas de educação básica brasileira, atendendo à Lei nº 11.789 de agosto de 2008.

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Educação)-Universidade Federal de Santa Maria-Santa Maria, 1997.

319
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CONFORTO ACÚSTICO EM SALAS
DE AULA: ESTUDO DE CASO EM ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE
TUCURUÍ

BRITO, Laís Mota1; FERREIRA, Thiago da Silva1; BRAGA, Danilo de Souza2; SOUSA,
Walter dos Santos1; JESUS, Keliene Maria Sousa1; SETUBAL, Fabio Antonio do
Nascimento1;

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(2) Universidade Federal de Pará. Grupo de Vibrações e Acústica, ITEC, Campus Belém, PA.

RESUMO
A poluição sonora nas regiões urbanas é cada vez mais expressiva. Fontes diversas e, principalmente,
aquelas provenientes do tráfego de veículos automotores, são causadoras de níveis de ruído elevados. As
edificações, de forma generalizada, são construídas sem oferecer adequado conforto acústico, e no caso
específico de edificações escolares, esse item é pouco considerado por arquitetos e engenheiros no projeto,
apesar da fundamental importância em função do tipo de atividade desenvolvida nesses ambientes. Em
função do exposto, este trabalho propõe uma contribuição para a área de educação, através da avaliação
acústica de salas de aula no município de Tucuruí. Trata-se de um estudo de caso pioneiro na região sudeste
do Pará sendo analisado com base na avaliação da inteligibilidade da fala por meio da medição do nível de
pressão sonora, analítica – a partir da estimativa do tempo de reverberação, frequências características e
densidade modal, e por fim com base na avaliação numérica obtendo valores do índice de transmissibilidade
da fala, tempo de reverberação e nível de pressão sonora para condições sem ruído de fundo. Após a
obtenção dos resultados, os dados obtidos foram comparados a valores recomendados por normas nacionais e
internacionais, sendo posteriormente apresentadas algumas sugestões para a redução do nível de ruído
intrusivo.

ABSTRACT
Noise pollution in urban areas is increasingly significant. There are various sources, and especially those
from motor vehicle traffic, are causing high noise levels. The building, across the board, are built without
providing adequate acoustic comfort, and in the case of school buildings, this item is considered
by some architects and engineer son the project, despite the fundamental importance depending on the
type of activity performed in these environments. In view of this, this paper proposes a contribution to the
field of education by the acoustic of classrooms in the city of Tucuruí. This is a pioneering case study in
southeastern Pará being assessed based on the evaluation of speech intelligibility by measuring the sound
pressure level, analytical - the estimation of reverberation time, characteristic frequencies and modal
density, and finally based on the numerical evaluation of the obtained values of the
speech transmission index, reverberation time and sound pressure level for conditions without background
noise. After obtaining the results, the data obtained were compared with values recommended by national
and international standards, and subsequently presented some suggestions for reducing the noise intrusive.
Palavras-chave: Acústica. Salas de Aula. Ruído. Inteligibilidade da fala. Análise numérica.

320
1. INTRODUÇÃO
Um ambiente ruidoso dá lugar à fadiga, perda de concentração, nervosismo, reações de estresse,
ansiedade, falta de memória, baixa produtividade, cansaço, irritação, problemas com as relações
humanas, dificuldade na aprendizagem, etc. (WHO, 1999). No âmbito escolar o nível de ruído
influencia diretamente na percepção do aluno, tornando-se, assim, um fator determinante na
concepção de salas de aula, pois ruídos excessivos podem causar danos à saúde de alunos e
professores, além de prejudicar a aprendizagem e a concentração.

Para se garantir uma boa inteligibilidade entre alunos e professores requer-se que certos padrões
acústicos estejam ajustados. Dentre eles podem ser citados: “o nível de ruído de fundo, o tempo de
reverberação, o tempo de decaimento inicial, o som direto, a fração de energia inicial/final e a
relação entre Sinal e Ruído” (BRADLEY, 2002). Esses parâmetros basicamente são influenciados
pela localização da fonte sonora em relação à sala de aula, pelas propriedades físicas dos materiais
empregados nas divisórias, pela geometria interna do ambiente e pelos materiais de revestimento e
suas características (LOSSO et al., 2003).

Portanto, este trabalho tem por finalidade avaliar a qualidade acústica e os níveis de ruído de salas
de aula de uma escola pública da cidade de Tucuruí-PA, visando propor soluções de conforto
acústico para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Nível de pressão sonora
O som percebido pelo ouvido humano é caracterizado pelo nível de pressão sonora (NPS ou Lp),
expresso em dB. O nível de pressão sonora é calculado através da equação
[Eq. 01]

Onde p é a pressão sonora do meio medido em Pa e p0 é a pressão sonora de referência (p0= 2x10-
5
Pa, chamado de limiar de audibilidade).

2.2. Ruído de fundo


O método mais utilizado para avaliar o ruído de fundo de um ambiente é o método NC (Noise
Criteria), curvas de avaliação de ruído. Cada curva NC é definida por um valor de NPS (Nível de
Pressão Sonora) para cada faixa de frequência.

Figura 1: Pontos de medições de NPS externo


Fonte: NBR-10152/87

321
2.3. Tempo de reverberação (TR)
O tempo de reverberação é definido como o intervalo de tempo necessário para o som decair em 60
dB a partir do seu nível inicial. Há mais de 100 anos, o físico Wallace Clement Sabine desenvolveu
a primeira equação para o tempo de reverberação, a qual recebeu o seu sobrenome. A equação de
Sabine é dada por:
[Eq. 02]

Onde V é o volume da sala (m³) e A é a absorção sonora (m²-sabine).


Eyring verificou uma restrição na equação de Sabine, que consiste no fato de que, quando o αsab =
1, ou seja, a absorção do ambiente é total, o TR não é nulo, e propôs a seguinte expressão para o TR
(BISTAFA e BRADLEY, 2000):
[Eq. 03]

Onde S é área total das superfícies (m²) e é a média dos coeficientes de absorção.

2.4. Inteligibilidade da fala


A inteligibilidade de fala é definida como a relação entre palavras faladas e palavras entendidas
expressa em porcentagem. Podendo, então, ser expressa matematicamente em função do valor de
%ALCons (percentual de perda de articulação de consoantes),a partir do conhecimento do tempo de
reverberação TR e da diferença entre os níveis de pressão sonora de campo direto LD e de campo
reverberante LR, assim temos
[Eq. 04]

Onde Q é o fator diretividade da fonte e R é a constante da sala e r é a distancia do ponto


considerado à fonte sonora (m).

3. RESULTADOS E ANÁLISE
Os resultados e análise dos parâmetros acústicos, de cada sala de aula estudada, foram obtidos de
forma experimental, analítica e numérica. As avaliações foram realizadas a partir da comparação
dos resultados com os valores recomendados por Normas Brasileiras e na ausência dessas, pelas
Normas Internacionais.

3.1. Análise experimental


As medições do NPS foram realizadas em cinco pontos diferentes em cada sala de aula, de forma
que se encontram dentro da recomendação da norma NBR 10152/87 que estabelece o mínimo de 3
pontos. As avaliações foram realizadas a partir de medições dos níveis de pressão sonoros
equivalentes, nos turnos manhã e tarde, nas ruas que circundam a escola em questão, num total de
02 medições, conforme a Figura 2, com duração de 15 minutos cada uma. Onde as medições foram
efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2 m do piso e 2 m do limite da escola e de outras
superfícies refletoras, como muros e paredes. Ressalta-se que as medições foram feitas com
ausência de fontes sonoras atípicas, tais como chuva e vento forte.

322
Figura 2: Pontos de medições de NPS externo. Figura 3: Esquema de Medição para Quantificação da
Fonte: Autoria própria. Relação Sinal/Ruído.
Fonte: Autoria própria.

Em conformidade com a Norma NBR-10.151/00 as medições nos ambientes internos foram


efetuadas a uma distância de no mínimo 1 m de quaisquer superfícies, como paredes, teto, pisos e
móveis. Foram medidos cinco pontos distintos em cada sala, sendo 04 (quatro) posicionados nos
cantos da sala 01 (um) no centro. As medições de NPS foram realizadas nas salas de aula 01, 04, e
08 em duas situações: Salas ocupadas com os ventiladores ligados e salas desocupadas com os
ventiladores desligados; sendoo tempo de medição de 3 minutos em cada ponto.

A determinação da relação entre Sinal e Ruído para cada sala de aula foi feita a partir da medição
do nível de pressão sonora, com janela aberta e ventiladores ligados, tendo por objetivo estabelecer
a contribuição da voz do professor em condições normais de ditado de aula, com o medidor a uma
distância de 1 m do professor e 1,20 m do piso, conforme mostrado na Figura 3.
Os valores de NPS obtidos foram para os pontos P1 = 71, 9 dB(A) Ponto P2 = 69,3 dB(A).

Nas Tabelas 1 e 2 são apresentados os dados obtidos em cada ponto de medição e permite verificar
que as 04 salas de aula da escola em estudo não atendem aos limites estabelecidos na Norma NBR
10152-87 para salas de aula que gira em torno de 40 dB(A) e 50 dB(A).

Tabela 1: Dimensão das embarcações Tabela 2: Dimensão das embarcações

Fonte: Autoria própria. Fonte: Autoria própria.

Os resultados com os valores de ruído de fundo podem ser observados nas Figuras 4(a) e 4(b).

(a) (b)

Figura 4:(a)Níveis de Ruído de Fundo Equivalente para as Quatro Salas; (b) Níveis de Ruído de Fundo Equivalente
Máximo para as Quatro Salas.
Fonte: Autoria própria.

323
Uma vez que o medidor de nível de pressão sonora usado permite a determinação do espectro
sonoro, foi possível a obtenção do espectro sonoro em banda de oitava para cada um dos cinco
pontos de medição localizados em cada uma das salas de aula, onde são mostrados os espectros das
salas 01 e 08, conforme mostrado nas Figuras 5 (a) e 5 (b).

(b)
(a)

Figura 5:(a)Espectro em Banda de Oitava para a Sala 01; (b) Espectro em Banda de Oitava para a Sala 08.
Fonte: Autoria própria.

De acordo com a norma NBR 10152/1987 o nível para conforto acústico de ambiente deverá ser
analisado de acordo com o nível de pressão sonora medido em dB(A) ou pela classificação das
curvas NC. Os níveis medidos representam o ruído de fundo do ambiente. O intervalo de valores
para ruído de fundo recomendados pela NBR 10152 em salas de aula segundo a classificação do
NC varia entre 35 a 45. Na Figura 6 (a) e (b) são apresentadas as curvas NC padrão e os valores de
NPS das salas 01 e 08, indicando uma classificação NC 60.

(a) (b)

Figura 6: Avaliação de ruído indicando NC 60 – 65 para as salas 01 e 08.


Fonte: Autoria própria.

3.2. Análise analítica


A seguir são apresentados os resultados e análise dos parâmetros acústicos obtidos analiticamente.
Selecionou-se a sala 05 e 08 para avaliação por amostragem por apresentarem o menor e o maior
nível de pressão sonora, respectivamente. Foram avaliados os parâmetros: tempo de reverberação
(TR), modos e densidade modal.

3.2.1.Tempo de reverberação
O tempo de reverberação de uma sala depende do volume e da absorção dos materiais de
revestimento das suas superfícies. Nas salas de aula avaliadas os materiais utilizados são bem
semelhantes, tanto no que se refere aos materiais de acabamento quanto o mobiliário da sala. Os
volumes das salas 05 e 08 são 164,75 m3 e 269,67 m3, respectivamente. Utilizando a norma
internacional ANSI S12.60 (2002), que estabelece valores de tempo de reverberação para salas de
aula de 4 a 6s para salas com volume menores que 283,00 m³, monta-se a Tabela 3 que apresenta os

324
valores dos tempos de reverberação calculados (analíticos) para as salas de aula em bandas de
frequência, com destaque para o TR na banda de frequência de 500 Hz.

Tabela 3: Tempos de reverberação por bandas de frequência.

Fonte: Autoria própria.

Figura 7: Gráfico Tempo de Reverberação para as Salas 05 e 08.


Fonte: Autoria própria.

3.2.2.Frequência característica e densidade modal


Conforme análise das Figuras 8(a) e 8(b) a seguir, verificou-se que a região de frequência que mais
apresenta problemas (picos de ganho) é a região das baixas frequências, sendo que a sala 08
apresentou mais desconformidade quando comparada à sala 05 devido ter menor dimensões, além
da questão do paralelismo das paredes o que aumenta a densidade modal.

Dessa forma, um dos fatores que impedem uma resposta em frequência plana são os modos
acústicos, onde uma sala com resposta em frequência ideal é aquela em que é possível ouvir todas
as frequências com a mesma intensidade, ou seja, a resposta em frequência deve ser plana.

(a) (b)

Figura 8: Frequências características e densidade modal – (a) Sala 05 e (b) Sala 08.
Fonte: Autoria própria.

3.3. Análise numérica


As salas 05 e 08 foram representada por modelos geométricos, criados na plataforma CAD (Fig. 9),
e convertidos para o formato (.dxf) para possibilitar a importação para o software Odeon. Para cada
superfície foi atribuído um valor de coeficiente de absorção sonora, sendo tais coeficientes
325
fornecidos pelo próprio aplicativo. A potência sonora e o tipo de fonte foram inseridos de maneira a
representar a fala humana, sendo que o modelo numérico se aproxime o máximo possível da
situação real.

Figura 9: Modelos geométricos das Salas 05 e 08 exportados para o Odeon.


Fonte: Autoria própria.

3.3.1. Índice de Inteligibilidade da fala (STI)


Na Figura 10 e 11são mostrados os valores de STI, para a salas 05 e 08, em relação à distância do
receptor à fonte.

Figura 10: Pontos de medições de NPS externo. Figura 11: Esquema de Medição para
Fonte: Autoria própria. Quantificação da Relação Sinal/Ruído.
Fonte: Autoria própria.

3.3.2. Tempo de Reverberação (TR30) – Análise numérica


Na Tabela 4 são apresentados os valores do tempo de reverberação obtidos numericamente.

Tabela 4 – Tempo de Reverberação para sala 05e 08 (numérico).


SALA 05
Frequências (Hz)
TR30 (s) 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000 Média
1,51 1,5 1,53 1,44 1,45 1,4 1,15 1,75 1,47
SALA 08
Frequências (Hz)
TR30 (s) 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000 Média
1,28 1,27 1,33 1,47 1,45 1,42 1,15 0,73 1,26
Fonte: Autoria própria.

326
3.3.3.Nível de pressão sonora
Na Tabela 5 são apresentados os valores de NPS obtidos numericamente.
Tabela 5 – NPS dB(A) (numérico)
SALA 05
Nível de pressão sonora em dB(A)
P1 P2 P3 P4 P5 Média
56,6 56,6 57,2 57,4 61,1 57,78
SALA 05
Nível de pressão sonora em dB(A)
P1 P2 P3 P4 P5 Média
53,4 52,7 53,4 54,0 57,3 57,8
Fonte: Autoria própria.

4. CONCLUSÕES

Os resultados para as salas 04, 05 e 08 mostram que os valores de NPS estão elevados,
consequência de sua localização, já que se encontram aproximadamente a 3 metros de uma
importante avenida com grande fluxo de tráfego, dela separada apenas por um muro.

Na seção 3.2 observa-se que para as salas de aula avaliadas os valores de tempo de reverberação
calculados não atendem as recomendações estabelecidas pela norma internacional ANSI S12.60
(2002). Isso se deve pelas dimensões inadequadas das salas analisadas e também pelos coeficientes
de absorção das superfícies das paredes serem baixos nas baixas frequências.

Observa-se que os resultados numéricos dos níveis de pressão sonora tanto para a sala 05 quanto
para a sala 08 estão acima tanto da recomendação da Norma NBR 10152 (40-50 dB(A)) quanto da
norma internacional ANSI S12.60 (35-40 dB(A)). O maior valor está no ponto P5, o que já era
esperado, pois é o ponto mais próximo da fonte (voz do professor).

REFERÊNCIAS
1. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1987. NBR 10152: Níveis de ruído para conforto acústico.
Rio de Janeiro, Brasil.
2. Bradley, J. S (2002). Optimising sound quality for classrooms. In: XX Encontro da SOBRAC, II Simpósio
Brasileiro de Metrologia em Acústica e Vibrações – SIBRAMA, Rio de Janeiro.
3. Loro, C. L. P (2003). Avaliação acústica de salas de aula – Estudo de caso em salas de aula Padrão 023 da rede
pública. Dissertation (Master's), Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
4. Losso, M. A.; Viveiro, E. B.; Figueiredo, T (2003). Avaliação físico-construtiva de escolas estaduais catarinenses
visando o conforto acústico. In: ENCAC – Encontro Nacional Sobre Conforto Do Ambiente Construído, 7;
Conferência Latino-Americana Sobre Conforto E Desempenho Energético De Edificações, 3, 2003, Curitiba.
Anais. Santa catarina: UFSC. p. 463-470.
5. Murta, V. C., Mattos, V. C., Rossi, M. M (2004). Alterações audiométricas em operadores de tráfego expostos a
ruídos urbanos. Saúde, Ética & Justiça 9 (1/2):19-25.
6. Vallet, M., Karabiber, Z. (1998). Some european policies regarding acoustical comfort in educational
buildings. Noise Control Engineering Journal. v. 50, n. 2, p. 58-62, Mar-Apr.2002. Fahy, F.J. and Walker, J.G.,
Fundamentals of Noise and Vibration, E & FN Spoon, New York.
7. Zannin, P.H.T; Szeremetta, B (2003) . Avaliação da poluição sonora no parque Jardim Botânico de Curitiba,
Paraná, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, abr.

327
AVALIAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA DO CONDICIONAMENTO
ACÚSTICO DE SALAS DE AULA – ESTUDO DE CASO

HORTA, Frederico Catone1; FERRAZ, Rafaela Marchi2; VECCI, Marco Antônio3


(1) Departamento de Engenharia de Estruturas - UFMG; (2) Oppus Acústica Ltda; (3) Departamento de
Engenharia de Estruturas - UFMG

RESUMO
O presente trabalho apresenta uma avaliação objetiva e subjetiva da acústica de salas de aula por meio de
estudo de caso em duas salas da Escola de Engenharia – UFMG, com e sem condicionamento acústico.
Para avaliação objetiva, foram realizadas medições dos descritores acústicos Tempo de Reverberação
(TR30), Tempo de Decaimento Inicial (EDT) e Índice de Transmissão da Fala (STI), e os resultados,
comparados com os valores recomendados em normas e legislações. Para avaliação subjetiva, foram
aplicados questionários e ditados de palavras em voluntários, com posterior avaliação estatística dos
dados coletados. Nesta avaliação, observou-se que o condicionamento acústico da sala de aula em questão
obteve bom desempenho em relação à percepção da fala no ambiente, tanto na avaliação objetiva, quanto
na subjetiva.
ABSTRACT
This paper presents an objective and subjective evaluation for the acoustics of a classroom through a case
study in two rooms at the School of Engineering - UFMG, with and without acoustic treatment. For
objective evaluation, measurements of the acoustic descriptors Reverberation Time (TR30), Initial Decay
Time (EDT) and Speech Transmission Index (STI) were made and the results compared to standards
recommended values. For subjective evaluation, questionnaires were filled out in words and sayings of
volunteers, with subsequent statistical evaluation of the collected data. In this evaluation, it was observed
that the acoustic conditioning of the classroom in question achieved good performance compared to the
speech perception in the room, both in objective and subjective assessment.
Palavras-chave: Salas de aula. Acústica de salas. Avaliação acústica.

1. INTRODUÇÃO
Ambientes como auditórios, teatros e salas de concerto comumente são objeto de estudos no que
se refere ao condicionamento acústico dos mesmos. No ambiente escolar, a deficiência de
qualidade acústica da sala de aula pode gerar baixo rendimento das atividades de ensino devido à
dificuldade de entendimento da fala, além de acarretar problemas de saúde nos professores pela
necessidade que estes terão de elevar a voz (COUBE et al., 1999, p.4-5). O problema central em
questão se caracteriza como falta da inteligibilidade da fala na sala de aula.

Parâmetros objetivos relacionados com o ruído interno e reverberação de uma sala são
primordiais para o estudo da inteligibilidade da sala (COUBE et al., 1999, p.10). Entre eles estão
o Tempo de Reverberação (TR60), Tempo de Decaimento Inicial (EDT) e Índice de Transmissão
da Fala (STI), os quais são considerados no estudo de caso deste trabalho.
O presente trabalho tem por objetivo avaliar a qualidade do condicionamento acústico da sala de
aula 4408 da Escola de Engenharia – UFMG. Para tanto, foram realizadas avaliações objetivas e
subjetivas nesta sala com condicionamento acústico, bem como na sala de aula 3012 da Escola
de Engenharia – UFMG, com geometria semelhante à sala 4408, porém sem condicionamento
acústico.
2. METODOLOGIA

328
2.1. Objeto de Estudo
O objeto de estudo deste trabalho trata-se de duas salas de aula, a 4408, com condicionamento
acústico, e a 3012, sem condicionamento acústico, localizadas nos prédios da nova sede da
Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Estas salas possuem
geometria, sistemas construtivos e mobiliários semelhantes. A Tab. 01 apresenta os materiais, as
áreas das superfícies internas e volume das salas de aula 4408 e 3012.

Tabela 01: Características Físicas das salas de aula 4408 e 3012 da Escola de Engenharia - UFMG.

Sala 4408 Sala 3012


Superfície Descrição/Material (Volume = 184 m3) (Volume = 190 m3)

Área [m2] Área [m2]

Piso Vinílico 54,0 -

Piso Cerâmica - 54,5

Portas Madeira maciça 3,4 (02 portas) 1,7 (01 porta)

Esquadria de vidro e
Janelas 11,8 12,0
alumínio

Teto Forro acústico 35,2 -

Teto Gesso 20,0 -

Teto Alvenaria pintada - 54,5

Parede: fundo Painel acústico 19,8 -

Parede: laterais,
Alvenaria pintada 57,6 (laterais e frontal) 89,7
frontal e fundo
Carteiras Madeira, plástico e tubos
14,5 (29 carteiras) 14,5 (29 carteiras)
escolares metálicos

Área Total = 216 227

2.2. Medição dos Parâmetros acústicos


Nas salas de aula 4408 e 3012 foram realizadas medições dos parâmetros Tempo de
Reverberação (TR60), Tempo de Decaimento Inicial (EDT) e Índice de Transmissão da Fala
(STI). Essas medições ocorreram em dois dias letivos, 30 e 31 de agosto de 2011, com as salas
4408 e 3012 desocupadas.
2.2.1. Equipamentos
Os equipamentos utilizados nas medições acústicas foram: Notebook ASUS; Softwares dBBATI
e dBTRAIT da empresa 01dB – Metravib; Analisador de Freqüência e Integrador Sonoro em
Tempo Real, marca 01dB-Stell, modelo SOLO MVI, número de série 10034, com certificado de
calibração emitido a menos de 01 (um) ano por laboratório reconhecido pela Rede Brasileira de
Calibração; Calibrador de nível de pressão sonora marca 01dB, modelo CAL21, número de série
51231378, com certificado de calibração emitido a menos de 01 (um) ano por laboratório
reconhecido pela Rede Brasileira de Calibração; Termo-Higrômetro, marca Minipa, modelo MT-
242l, número de série MT-2420023015, com certificado de calibração emitido a menos de 01

329
(um) ano por laboratório reconhecido pela Rede Brasileira de Calibração; Balões elásticos (tipo
festa).
2.2.2. Procedimentos
As medições dos descritores acústicos TR30 e EDT, em cada sala de aula, foram realizadas de
acordo com a Norma ISO 3382. As medições do descritor acústico STI foram realizadas
conforme a Norma IEC 60268-16, a qual considera a influência do ruído de fundo e da
reverberação através da função de transferência de modulação, com a fonte sonora (Pulso gerado
por estouro de balões) centrada na sala a 1,5m da lousa. Foram utilizadas 4 posições de
microfone com tripé a 1,2m do piso (P1, P2, P3 e P4) conforme Fig. 01. Em cada posição foram
realizados 3 registros de decaimento sonoro. O cálculo dos descritores acústicos foram efetuados
em banda de oitava pelo software dBBATI para cada um dos 12 sinais acústicos registrados.

P2 P2
P1 P1

Fonte P3 Fonte P3
Sala Sala
3012 4408

P4 P4

Figura 01: Plantas das salas de aula com indicação dos pontos de medição.
2.3. Análise subjetiva
Para o ditado realizado nas salas de aula, devido à indisponibilidade de gravações anecóicas de
voz falada em português, foi necessária a gravação de 20 (vinte) palavras no Laboratório
CEFALA da Escola de Engenharia – UFMG, para se evitar ao máximo ruído e reflexões
indesejáveis neste áudio. A lista destas 20 (vinte) palavras foi retirada do trabalho de Müller et
al., 2002, sendo estas: Lar, Dois, Luz, Gel, Rei, Lá, Sal, Li, Fá, Pré, Ou, Giz, Pó, Ler, Fim, Nu,
Nhá, Ir, Num e Rum. Com o áudio resultante desta gravação reproduziu-se o ditado nas salas de
aula 4408 e 3012. Dessa forma, pôde-se aplicar um questionário de qualidade de salas de aula a
voluntários tanto nas salas 4408 e 3012, onde ouviram o áudio do ditado. Em resumo, o
questionário foi aplicado a dois grupos independentes de acordo com a Tab. 02.

Tabela 02: Descrição dos dois grupos independentes da análise subjetiva.


GRUPO N° de Voluntários Sala de Aula Tipo do Ditado
A 5 3012 Áudio Reproduzido na Sala
B 7 4408 Áudio Reproduzido na Sala

Dentre as perguntas do questionário, o voluntário classifica, em uma escala intervalar de um a


10(dez), (ver Tab. 03) a qualidade da percepção da fala na sala de aula na qual escutou o áudio.
Com os dados coletados aplicou-se o teste estatístico não-paramétrico de Mann-Whitney

330
(SIEGEL, 1975) tanto com a escala intervalar quanto com os dados de n° de acertos no ditado.
Com os resultados deste teste estatístico, pode-se verificar se o condicionamento acústico da sala
4408 promoveu melhoria na inteligibilidade acústica desta sala. Também foi aplicado o “Teste U
de Mann-Whitney” nas comparações entre grupos e escalas de avaliação, que estão apresentadas
na Tab. 04.

Tabela 03: Escala Intervalar da qualidade da percepção da fala.


ESCALA DESCRIÇÃO DA PERCEPÇÃO DA FALA

10 - 9 Percepção muito boa sem qualquer esforço para ouvir

7-8 Percepção boa; compreensão fácil das palavras

5-6 Compreensão é difícil; é necessário algum esforço para ouvir

3-4 Apresenta dificuldade para compreender e reconstruir palavras e sentenças

1-2 Impossível entender, portanto para reconstruir palavras e sentenças

Tabela 04: Arranjo de grupos para os testes estatísticos.


COMPARAÇÃO ENTRE GRUPOS ESCALA DE AVALIAÇÃO
AXB N° de acertos Ditado
AXB Intervalar (Tabela 03)

O “Teste U de Mann-Whitney” aplicado às comparações da Tab. 04 possui os seguintes


parâmetros:
• Nível de Significância = 5% (unilateral).
• Amostra: 02 grupos independentes.
• População da qual pertence os grupos: universitários brasileiros natos de diversas áreas do
conhecimento com acuidade auditiva e faixa etária de 20 a 35 anos.
• Hipóteses testadas:
• H0 = A sala de aula com condicionamento acústico (sala 4408 – grupo B) tem igual
inteligibilidade da palavra que a sala sem condicionamento acústico (sala 3012 – grupo
A);
• H1 = A sala de aula com condicionamento acústico (sala 4408 – grupo B) tem melhor
inteligibilidade da palavra que a sala sem condicionamento acústico (sala 3012 – grupo
A).

331
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Avaliação Objetiva do Condicionamento Acústico da Sala de Aula 4408
Na Fig. 02 a seguir apresentam-se os valores medidos do TR30 nas salas de aula 4408 com
condicionamento acústico e na sala 3012 sem condicionamento acústico. Nesta figura pode-se
verificar que, na banda de oitava de 500Hz, o condicionamento acústico reduziu o TR30 de 3,45s
(sala 3012) para 0,67s (sala 4408). Comparando o valor de TR30 igual a 0,67s da sala 4408 com
os valores recomendados pela Tab. 05, conclui-se que este valor está bem próximo do
recomendado em vários países, o que mostra um bom desempenho do condicionamento acústico
da sala de aula 4408 com relação a este parâmetro. Cabe ressaltar que no Brasil não existe valor
recomendado especificamente de TR60 para salas de aula.

Tempo de Reverberação ‐ Salas 4408 X 3012
4,50
SALA 4408 COM
4,00 CONDICIONAMENTO ACÚSTICO
SALA 3012 SEM
3,50 CONDICIONAMENTO ACÚSTICO
3,00
TR30 [s]

2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
250 500 1 k 2 k 4 k 8 k
Frequências centrais das bandas de oitava [Hz]

FREQUÊNCIA [Hz] 250 500 1k 2k 4k 8k


TR30 [s] sala 4408 com
1,08 0,67 0,64 0,56 0,57 0,46
condicionamento acústico

TR30 [s] sala 3012 sem


4,29 3,45 2,89 2,91 2,52 1,58
condicionamento acústico
Figura 02: Valores medidos de TR30 nas salas 4408 e 3012.

Tabela 05: Valores recomendados para sala de aula de TR60 para a banda de 1/1 oitava de 500Hz em
diversos países e na OMS.
País Norma TR60 [s] Observação
Estados Unidos ASHA 0,4 -
Reino Unido BB 87 0,4 - 0,8 Depende do volume
Portugal Lei 251/87 0,6 -
Estados Unidos ANSI < 0,6 Volume < 283 m3
OMS - 0,6 -
Suíça SAI181/11 0,6 - 1,0 -
Fonte: Adaptado de Vallet (2000), Viveiros et al. (2002) e Karabiber et al. (2003) Apud Ferreira (2006)

Apresentam-se na Fig. 03 os valores medidos do EDT nas salas de aula 4408 com
condicionamento acústico e na sala 3012 sem condicionamento acústico. Nesta figura verifica-se
uma redução substancial do EDT em todas as bandas de oitava na sala 4408 em relação à sala
3012, indicando uma melhor percepção da fala na sala 4408 devido ao seu condicionamento
acústico.

332
Tempo de Decaimento Inicial ‐ Salas 4408 X 3012

7,00
SALA 4408 COM
CONDICIONAMENTO ACÚSTICO
6,00
SALA 3012 SEM CONDICIONAMENTO
5,00 ACÚSTICO

EDT [s]
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
250 500 1 k 2 k 4 k 8 k
Frequências centrais das bandas de oitava [Hz]

FREQUÊNCIA [Hz] 250 500 1k 2k 4k 8k

EDT [s] sala 4408 com


1,07 0,86 0,81 0,70 0,69 0,51
condicionamento acústico

EDT [s] sala 3012 sem


5,96 5,14 4,31 4,18 3,43 2,10
condicionamento acústico
Figura 03: Valores medidos de EDT nas salas 4408 e 3012.

Na Fig. 04 apresentam-se os valores medidos do STI nas salas de aula 4408 com
condicionamento acústico e na sala 3012 sem condicionamento acústico. Comparando estes
valores com a Tab. 06 que relaciona os valores de STI com a qualidade da inteligibilidade da
fala, conclui-se que a sala 3012 possui uma péssima inteligibilidade da fala e a sala 4408 possui
uma boa inteligibilidade da fala. Isto evidencia um bom desempenho do condicionamento
acústico da sala de aula 4408 com relação ao parâmetro STI.

Índice de Transmisão da Fala ‐ Salas 4408 X 3012
1,00
0,90 SALA 4408 COM CONDICIONAMENTO
ACÚSTICO
0,80
0,62 SALA 3012 SEM CONDICIONAMENTO
0,70
ACÚSTICO
0,60
0,50
0,40
0,25
0,30
0,20
0,10
0,00
STI

Figura 04: Valores médios de STI nas salas 4408 e 3012.

Tabela 06: Relação entre os valores de STI e a qualidade da inteligibilidade da fala.


STI 0 - 0,30 0,30 - 0,45 0,45 - 0,60 0,60 - 0,75 0,75 - 1,00
Inteligibilidade Péssima Ruim Aceitável Boa Excelente
Fonte: IEC 60268-16: 2003

333
3.2. Avaliação Subjetiva do Condicionamento Acústico da Sala de Aula 4408
A Fig. 05 apresenta os resultados da avaliação subjetiva das salas 4408 e 3012 através da
comparação entre grupos descritos na Tab. 07 a seguir. Pode-se perceber, a partir dos gráficos
destas figuras, que a sala de aula 4408, com condicionamento acústico, resultou em uma
tendência de ser melhor avaliada na escala intervalar do que a sala de aula 3012, sem
condicionamento acústico. Além disso, claramente percebe-se que a sala 4408 obteve melhores
números de acertos no ditado do que a sala 3012 (ver Fig. 05).

Para melhor ponderar os dados desta avaliação subjetiva apresentados, foram aplicadas as
comparações da Tab. 07 o Teste U de Mann Whitney, o qual testa as duas hipóteses H0 e H1
(descritas no item 2.3) nestas comparações.

A Tab. 07 e a Fig. 05 também apresentam os resultados deste teste estatístico, do qual se pôde
verificar que, em todas as comparações a hipótese aceita foi a H1. Com estes resultados conclui-
se estatisticamente que, com a metodologia adotada, a sala de aula 4408, com condicionamento
acústico, possui melhor inteligibilidade da fala do que a sala de aula 3012 sem condicionamento
acústico.

Tabela 07: Grupos e resultado estatístico da avaliação subjetiva nas salas 4408 e 3012.
COMPARAÇÃO ESCALA DE HIPÓTESE
TIPO DE DITADO Valor U Valor “p”
ENTRE GRUPOS AVALIAÇÃO ACEITA
Reproduzidos nas Intervalar
AXB 6 0,037 H1
Salas Questionário
Reproduzidos nas N° de acertos
AXB 0 0,001 H1
Salas Ditado

Avaliação na escala intervalar do ditado Percentual de acerto do ditado reproduzido


reproduzido nas salas de aula nas salas de aula
5
5
N° de Voluntários

4 Sala 4408 4 Sala 4408


N° de Voluntários

3 Sala 3012 3 Sala 3012

2 2

1 1

0 0
1--2 3--4 5--6 7--8 9--10
0
10

20

30

40

50

60

70

80

90
0

10

Escala Intervalar Acertos no Ditado [%]

Figura 05: Comparação entre os grupos A x B.

Para complementar a avaliação subjetiva da acústica das salas apresentadas, segue a transcrição
dos principais comentários escritos, no questionário de avaliação da qualidade acústica de salas,
pelos voluntários que participaram desta pesquisa.

Sala de Aula 3012 sem condicionamento acústico:


“... som das palavras ecoa na sala.”
“A sala não possui uma boa acústica”
“A acústica é ruim, quando a pessoa fala produz ecos e, se misturado com
conversas de alunos torna-se bastante difícil entender tudo.”
“Propagação de sons acompanhada de eco dificultando o entendimento.”

334
Sala de Aula 4408 com condicionamento acústico:
“Ela está muito boa, é possível escutar muito bem o que falam.”
“A sala permite uma boa percepção da fala.”
“... classifico esta sala como excelente, o interlocutor não teria
dificuldade de se expressar.”
“Parece-me que o formato do teto melhora o silêncio dentro da sala.”

Por estes comentários, pode-se perceber também que a sala de aula 4408 com condicionamento
acústico possui melhor adequação acústica do que a sala 3012 sem condicionamento acústico.
4. CONCLUSÕES
Neste trabalho efetuou-se uma avaliação objetiva e subjetiva do condicionamento acústico de
uma sala de aula, comparando-a com outra sala de aula de geometria similar, porém sem
condicionamento acústico. Nesta avaliação, observou-se que o condicionamento acústico da sala
de aula em questão proporcionou um bom desempenho em relação à percepção da fala no
ambiente, tanto na avaliação objetiva quanto na avaliação subjetiva.
Estes resultados demonstram a necessidade de instalação de sistemas de condicionamento
acústico nas salas de aula, para que as mesmas sejam acusticamente adequadas aos seus usos,
evitando inúmeros inconvenientes como distúrbios de atenção por parte dos alunos, baixa
inteligibilidade da fala do professor e insalubridade relacionada à fala do professor em volume
elevado.
Finalmente, ressalta-se que os resultados apresentados neste trabalho reforçam que um
condicionamento acústico é absolutamente indispensável para que uma sala de aula de fato possa
servir como tal, ao contrário da realidade atual na maioria das escolas brasileiras.

REFERÊNCIAS
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Fechados. Rio de Janeiro, 1992.
2. ANSI S12.60 – 2002. American National Standard Acoustical Performance Criteria, Design Requirements, and
Guidelines for Schools.
3. ANSI S3.5 – 1997 (R2002). Methods for the Calculation of the Speech Intelligibility Index.
4. COUBE, C. Z. V., BEVILACQUA, M. C., FERNANDES, J. C. Cadernos de Audiologia, 4. Ruído em escola.
1999.
5. FERREIRA, A. M. C. Avaliação do Conforto Acústico em Salas de Aula: Estudo de Caso na Universidade
Federal do Paraná. Dissertação de Mestrado, 2006. Universidade Federal do Paraná.
6. INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION. ISO 3382, Measurement of the reverberation time of
rooms with reference to other acoustics parameters. 1997.
7. IEC 60268-16. Objective Rating of Speech Intelligibility by Speech Transmission Index, 2003.
8. MÜLLER, S., NABUCO, M., MASSARANI, P. Medição de Inteligibilidade da Palavra em Duas Escolas
Estaduais do Rio de Janeiro. XX Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica - SOBRAC, 2002.
9. SIEGEL, S. Estatística Não Paramétrica Para Ciências do Comportamento. Artmed, 1975.
10. VECCI, M. A., FERRAZ, R. M., HORTA, F. C. Procedimentos de Avaliação Numérico-Experimental de
Qualidade Acústica de Auditórios. ENTAC 2010.

335
AVALIAÇÃO NUMÉRICA DAS CARACTERÍSTICAS ACÚSTICAS PARA
UMA SALA DE AULA A BORDO DE UMA EMBARCAÇÃO

SOEIRO, Newton Sure; MELO, Gustavo da S. Vieira de; OHANA, Gabriel Jones;
SANTANA, André L. Silva
Grupo de Vibrações e Acústica - Universidade Federal do Pará

RESUMO
Muitas das preocupações com o conforto ocupacional a bordo de embarcações são, de modo geral, ligadas
a sua estabilidade, a suas condições de navegação e a problemas ambientais e sanitários. Um grande
problema encontrado em embarcações, que requer bastante atenção, é o conforto acústico e vibracional.
Este trabalho tem por finalidade a modelagem e simulação numérica por meio de um software comercial,
bem como a avaliação de seus resultados, para o compartimento da sala de aula pertencente à embarcação
AVIM (Aviso de Instrução) para instruções do CIABA (Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar), o
qual, devido ao seu arranjo geométrico, tem problemas com elevados níveis de ruído emitidos
diretamente da praça de máquinas, compartimento este adjacente à sala de aula.

ABSTRACT
Many of the concerns with occupational comfort on board of vessels are generally linked to
their stability, their conditions of navigation and environmental and health problems. A major problem
encountered in vessels, which requires a lot of attention, is the acoustic and vibrational comfort. This
work aims at modeling and numerical simulation using a commercial software, as well as the evaluation
of its results for the housing of the classroom of a vessel used for CIABA (AVIM) instructions,
which due to its geometrical arrangement has problems with high noise levels.
Palavras-chave: Embarcação. Simulação. Níveis de Ruído.

1. INTRODUÇÃO
Embarcações, por definição, são meios de transportes feitos de material metálico, cerâmico,
polimérico, orgânico e da junção desses e outros tipos de matérias, que tenham por finalidade
levar cargas e passageiros por oceanos, mares, rios e lagos. Esta definição caracteriza dois
mercados bem diferentes, o mercado para transporte de passageiros e o mercado para o
transporte de cargas, sejam elas sólidas ou líquidas.
Com o crescente avanço tecnológico e o crescimento populacional no mundo, muitas fontes de
preocupações foram sendo evidenciadas com o passar dos anos. A primeira delas são as
preocupações com o meio ambiente, devido a resíduos e dejetos que uma embarcação pode
transferir de um local de navegação para outro. Uma segunda grande preocupação é com o
conforto quando da permanência de passageiros e tripulantes a bordo, o que vem deixando as
embarcações cada vez mais bem preparadas para o caso de uma condição severa de mar. Existe
ainda uma terceira preocupação, muito observada e controlada nos dias de hoje, o carregamento
de cargas em porões e tanques, o que pode induzir efeitos como os de superfície livre e fazer
com que a embarcação encare condições de instabilidade.
Porém uma grande problemática, fonte de perturbação a passageiros e tripulantes, são os ruídos
excessivos e as vibrações com níveis elevados geradas, principalmente, pelo motor de combustão
principal, grupos geradores e bombas na praça de máquinas de uma embarcação. Este problema

336
tem sido desprezado ou negligenciados em estudos científicos, uma vez que as normas, de modo
geral, não são adequações ou geradas para este fim próprio. Neste trabalho será então analisado o
problema acústico de um compartimento destinado a instruções na embarcação AVIM do
CIABA, sendo o mesmo adjacente à praça de máquinas da embarcação.

2. A EMBARCAÇÃO

2.1. Caracterização da embarcação


O CIABA, situado em Belém do Pará, é uma instituição militar de nível superior, para a
formação de futuros oficiais da marinha mercante, sejam eles para atuarem nos ambientes de
máquinas de uma embarcação ou para dar rumo à navegação da mesma. Para que saibam
enfrentar futuros problemas inerentes a sua profissão, o CIABA possui uma embarcação de
treinamento (Fig. 1), AVIM, com as características principais mostradas na Tabela 1.

Figura 1: Exemplo de Mapa de Ruídos

Tabela 1: Dimensão das embarcações.


Características Principais
Comprimento Total: 19,16 m
Boca Moldada: 6,52 m
Pontal Moldado: 3,47 m
Calado Moldado: 1,56 m

O arranjo interno da embarcação é dividido em 2 (dois) conveses de fácil identificação e uma


coberta, como mostrado na Fig. 2. No convés principal estão os acessórios de atracação e as
aberturas de acesso à coberta, já no convés acima, o convés do passadiço, fica o comando da
embarcação com seus equipamentos de navegação e acima deste tijupá, com as luzes de
navegação. Na coberta fica o paiol do leme, o camarote da tripulação, a praça de máquinas, a
sala de aula e camarote dos alunos e o paiol de amarras.

Figura 2: Divisão do arranjo interno.


337
O AVIM tem em sua praça de máquinas 1 (um) motor Cummins de 450 hp, 3 bombas de 6500
l/h (incêndio, esgoto e água), 2 (dois) geradores de 4 kVA e 4 (quatro) baterias de 12 VVC e 150
Ah. Este compartimento, como pode ser visto na Fig. 2, é adjacente ao compartimento da sala de
aula, onde são passadas instruções sobre a rota de navegação e alguns embasamentos teóricos
que servirão para a prática a bordo (é utilizado também como alojamento para os alunos em caso
de uma viagem mais longa ou em qualquer situação de problema que não possa ser resolvido a
bordo).
Uma vez que a sala de aula é adjacente a um ambiente com múltiplas fontes de ruído, e a
permanência na mesma é de fundamental importância para o engrandecimento do senso
cognitivo do aluno esta passa a ser o objeto de estudo neste trabalho.

2.2. Modelagem da embarcação


Com o levantamento técnico realizado a bordo do AVIM, foi possível delimitar seus principais
compartimentos e estabelecer as suas características principais (dimensões e materiais
empregados em sua construção). O resultado do levantamento geométrico é apresentado nas Fig.
3, Fig. 4 e Fig. 5.

Figura 3: Convés principal e passadiço do AVIM.

Figura 4: Coberta do AVIM.

Figura 5: Vista frontal.


338
A partir da geometria bidimensional das Fig. 3, Fig. 4 e Fig. 5, modelou-se de forma
tridimensional o espaço e arranjo interno da sala de aula (Fig. 6), bem como algumas de suas
principais peculiaridades estruturais, que possam servir de superfícies difusoras em etapas
futuras.

Figura 6: Modelagem tridimensional da sala de aula.

Os materiais empregados na construção da embarcação e suas localizações são mostrados na


Tabela 2. Alguns desses materiais serão futuramente discriminados em uma análise acústica do
compartimento em estudo.
Tabela 2: Materiais empregados na embarcação.
Materiais Localização
Casco
Reforços Estruturais
Aço Naval
Conveses
Coberta
Piso da Sala de Aula
Madeira
Piso do Camarote da Tripulação
Anteparas da Sala de Aula
Compensado Anteparas do Comando
Anteparas do Camarote da Tripulação
Quadro da Sala de Aula
Fórmica
Mesas da Sala de Aula
Cama dos Tripulantes
Espuma D 30
Cama dos Alunos

3. SIMULAÇÃO NUMÉRICA

3.1. Entrada de dados


O primeiro passo da simulação numérica é importar a modelagem tridimensional da sala de aula
para o software Odeon, cujo qual trabalha com um método híbrido de simulação numérica,
mesclando a teoria do traçado de raios e da fonte imagem especular.
Nesta importação o software oferece uma ferramenta para saber se todas as superfícies realmente
foram importadas do software de modelagem e se todas se conectam, sem deixar falhas por onde
raios possam se propagar infinitamente e não serem refletidos, o que causa uma perda de energia
aparente, sendo a energia desses raios completamente desconsiderada para todos os resultados. O
resultado para importação da geometria pode ser visto na Fig. 7 e o teste feito no software para
saber se existe perda de raios pode ser visto na Fig. 8.

339
Figura 7: Modelo da sala de aula no Odeon.

Figura 8: Testes feitos na sala para perda de raios.

Após a importação e verificação do modelo, faz-se o posicionamento dos microfones virtuais


que simularão pessoas (alunos) no ambiente e o posicionamento da fonte virtual (parede da praça
de máquinas), para que assim seja gerados valores de parâmetros acústicos. O posicionamento de
microfones e fonte virtual pode ser visto na Fig. 9.

Figura 9: Posicionamento de fonte (vermelho) e microfones (azul) virtuais.

O passo seguinte ao posicionamento dos microfones virtuais e da fonte virtual é a escolha dos
materiais a serem representados em cada superfície e seus respectivos coeficientes de absorção
sonora por banda de frequência em oitavas, os materiais aplicados a cada superfície do modelo
condizem com os materiais encontrados no ambiente real, esses podem observados na Tabela 3.
Tabela 3: Materiais aplicados às superfícies do modelo (biblioteca do Odeon).
Materiais 63 Hz 125 Hz 250 Hz 500 Hz 1 kHz 2 kHz 4 kHz 8 kHz
Madeira 0,19 0,19 0,14 0,09 0,06 0,06 0,05 0,05
Piso 0,15 0,15 0,11 0,10 0,07 0,06 0,07 0,07
Compensado 0,20 0,20 0,28 0,26 0,09 0,12 0,11 0,11
Laminado 0,04 0,04 0,04 0,07 0,06 0,06 0,07 0,07
Aço 0,40 0,30 0,25 0,20 0,10 0,10 0,15 0,15
Colchão 0,62 0,62 0,72 0,80 0,83 0,84 0,85 0,85
Poliestireno 0,08 0,08 0,04 0,03 0,03 0,02 0,02 0,02
Policarbonato 0,18 0,18 0,06 0,04 0,03 0,02 0,02 0,02

340
Após a aplicação dos materiais em suas respectivas superfícies é necessário aplicar um teste de
convergência dos resultados obtidos na simulação numérica, para que assim seja possível realizar
uma boa simulação com pouco custo computacional e menos tempo de processamento. Os
resultados para convergência de resultados no Odeon foram obtidos com base na modificação do
número de raios emitidos pela fonte, tais resultados são apresentados nos gráficos da Fig. 10.

Figura 10: Resultado para teste de convergência de resultados.

O Odeon divide os níveis de precisão de resultados em 3 (três) categorias, dependendo da


quantidade de raios. O primeiro é o nível de levantamento, com a emissão de aproximadamente
1450 raios, esta quantidade de raios emitidos é pequena, pois o desejável nesta opção é uma
avaliação rápida das condições físicas do modelo. O segundo nível é o da precisão de
engenharia, onde o número mínimo de raios a serem emitidos é de 2907, sendo uma quantidade
razoável e aceitável, onde os resultados são melhorados e exige um pouco mais de
processamento. O ultimo nível é o de precisão, com aproximadamente 14500 raios, o que garante
resultados mais confiáveis, porém com tempo muito elevado de processamento. Observa-se que
a variação nos resultados do teste de convergência é pequeno, e que em alguns pontos oferece
estabilidade como na faixa de 3000 a 5000 raios e na faixa de 12000 a 15000 raios, sendo assim,
optou-se por realizar as simulações numéricas com 4000 raios estando em um padrão aceitável
para projetos de engenharia.
3.2. Resultados da simulação
Para obtenção de resultados confiáveis no software, foi necessário primeiramente calibrar o
modelo numérico com dados obtidos experimentalmente, sendo assim, as posições para os
microfones virtuais não foram escolhidas aleatoriamente, retratando a medição experimental e os
resultados em nível de pressão sonora para elas são muito próximos do real (com erro máximo
de aproximadamente 3%).
Com base no fato acima exposto, pode-se então extrais os resultados para os principais
parâmetros acústicos inerentes a uma sala de aula, são eles: NPS (Fig.11), STI, EDT (Fig.12),
T30 (Fig.12).

Figura 11: Nível de pressão sonora e tempo de decaimento inicial por banda de oitava.

341
Figura 12: Tempo de reverberação e definição por banda de oitava.

4. CONCLUSÕES

Algumas considerações importantes podem ser feitas, com base nos resultados da simulação
numérica exposta no item 3 deste trabalho, as quais são interpretações e sugestões para possíveis
melhorias do que tange o conforto da tripulação a bordo da embarcação.
Segundo NBR10152 (1987) que trata dos níveis de ruídos para conforto acústico, em ambientes,
dentre eles os escolares, a sala de aula deve ter nível de pressão sonora variando entre 40 e 50
dB(A), porém, segundo a Resolução A.468(XII) – IMO (1981), em ambientes de acomodações a
bordo de embarcações o nível de pressão sonora pode variar de 60 a 75 dB(A), sendo assim, o
resultado da simulação numérica ultrapassou os limites acima expostos atingindo nível médio de
95 dB(A), logo a sala de aula é muito ruidosa quando a embarcação está em operação, exigindo
assim uma intervenção para amenizar este efeito, como por exemplo a aplicação de material para
isolante acústico na antepara de conexão do ambiente em estudo com a praça de máquinas,
devido a mesma ser a principal fonte que gera este ruído de fundo elevado, ou ainda, sabendo
que esta antepara transmite ruído devido
Com base ainda no resultado do nível de pressão sonora médio da sala de aula, segundo a NR15
(1990), a qual trata de atividades e operações insalubres, a exposição ao nível de 95 dB(A) dar-
se-á até no máximo 2 h, uma vez que o ruído emitido pelos equipamentos da praça de máquinas
é de caráter contínuo, como exige a referida norma para que o mesmo possa ser avaliado. Essas
duas horas permitem que o instrutor consiga passar pequenas informações, como rota, condições
meteorológicas, sinuosidades da hidrovia e passagem de comando, mas para que isso seja
possível o mesmo deve conseguir ultrapassar o ruído de fundo com intensidade média de 95
dB(A). A distribuição do nível de pressão sonora na sala pode ser visto na Fig. 13.

Figura 13: Distribuição do nível de pressão sonora na sala de aula.

342
Quanto da avaliação do tempo de reverberação, MEHTA (1999) diz que para um ambiente
pequeno o tempo de reverberação deve ser de aproximadamente 0,5 s. Na simulação realizada o
valor máximo do tempo de reverberação é de 0,29 s (Fig. 12), fazendo com que, para este
parâmetro acústico, a sala tenha boa resposta e eficiência. Do ponto de vista subjetivo, para
avaliar do tempo de reverberação utiliza-se o valor de EDT, o qual tem mais significado ao
ouvinte, por ser o tempo de diminuição das dez primeiras unidades do nível de pressão sonora. A
Fig. 14 mostra a distribui do tempo de reverberação (T30) e do tempo de decaimento inicial
(EDT; reverberância) no compartimento em análise.

Figura 14: Distribuição do tempo de reverberação e reverberância na sala de aula.

Para a avaliação do STI (Speech Transmission Index – Índice de Transmissão da Fala), o qual é
um índice de que varia de 0 a 1 e indica o grau de degradação da fala em um ambiente, ou seja,
quanto o ouvinte entende de um discurso, neste compartimento da embarcação o valor do índice
é de 0,87, o que qualifica a sala de aula como um ambiente sem muita degradação da fala. Esta
avaliação é feita com base na geometria da sala e nos materiais que a compões, sendo, portanto,
independente das características intrínsecas da fonte de excitação.
Conclui-se então, que este compartimento proposto como sala de aula, tem boas respostas quanto
aos parâmetros acústicos mais relevantes a um ambiente com finalidade essencial de transmissão
de informação utilizando a fala, porém o nível de ruído gerado na praça de máquinas da
embarcação é um fator preocupante, uma vez que o mesmo chega a níveis causadores de
incômodos ultrapassando os limites estabelecidos em normas técnicas limitando o tempo de
permanência no ambiente.

REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação:
Referências: Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2002a.
2. ____. NBR10520: Informação e documentação: Citações em documentos: Apresentação. Rio de Janeiro:
ABNT, 2002b.
3. Arenas, J.P. (2006). Use of Barriers, in Handbook of Noise and Vibration Control, John Wiley & Sons, New
York.
4. Hallernafy, E.A., Lowder, T.N. & Emeritus, J.J. (1982). Three-dimensional simulation of waves in squeezing
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5. Fahy, F.J. and Walker, J.G., Fundamentals of Noise and Vibration, E & FN Spoon, New York, 1998.

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6. Gerges, S.N.Y., Jordan, R., Thieme, F.A., Bento Coelho, J.L. & Arenas, J.P. (2005). Muffler modeling by
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27(2), pp. 132-140.
7. NP EN ISO 140-4: 2000. Acústica – Medição do Isolamento Sonoro de Edifícios e de Elementos de Construção
- Parte 4: Medição in situ do isolamento sonoro a sons aéreos entre compartimentos.
8. Kim, S. and Singh, R. Vibration Transmission Trough an Isolator Modelled by Continous SystemTheory,
Journal of Sound and Vibration 248(5), 925-953, 2001
9. www.sobrac2012.com.br

344
QUALIDADE ACÚSTICA EM SALAS DE ENSINO DE MÚSICA:
PARÂMETROS ACÚSTICOS PREFERENCIAIS PARA PROFESSORES
DE MÚSICA

CARBONI, Márcio Henrique de Sousa1; SCHMID, Aloísio Leoni2 , ROMANELLI,


Guilherme3, ROCHA, Leticia de Sá4
(1) Universidade Federal do Paraná – Programa de Pós-Graduação em Construção Civil; (2) Universidade
Federal do Paraná – Programa de Pós-Graduação em Construção Civil. (3) Universidade Federal do Paraná
– Programa de Pós-Graduação em Música; (4) Instituto Federal do Paraná- Campo Largo.
RESUMO
Segundo conclusões de Rocha (2010)[1] o fato de não haver um consenso entre professores de música
sobre critérios acústicos preferenciais ocorre, principalmente, por falta de conhecimento de um
vocabulário descritivo das salas e sua acústica. Sendo assim, foram explicados a uma amostra de
professores de música conceitos como: reverberação, calor, brilho, intimismo, timbre e coloração, clareza,
através de um vídeo que tratou da história da música como um apoio para se falar sobre acústica. Essa
capacitação foi feita para que com um embasamento técnico fixado eles pudessem fazer seus julgamentos
ao responderem um questionário. Este artigo visa, portanto, apresentar principalmente o método de
pesquisa utilizado e formas de coleta de dados, já que o trabalho está em desenvolvimento. Os resultados
da survey são preliminares e apresenta-se uma análise sobre os dados de uma amostra de 11 professores.
Apesar de não ser possível fazer inferências estatísticas por serem resultados preliminares e se ter
trabalhado com uma amostra reduzida já é possível estabelecer constatações e expectativas sobre as
preferências dos professores de música. Um dado que já era esperado é a constatação de que a maioria
dos respondentes afirma não lecionar em espaços adequados. Outra constatação importante, não tão
esperada, foi a de que o problema mais frequentemente identificado é a falta de isolamento acústico das
salas que acarreta a constantes perturbações sonoras, como, por exemplo, ruídos de trânsito, de outros
instrumentos lecionados em ambientes contíguos entre outros. Para a sequência do levantamento,
verificando a ocorrência contínua deste agravante pode ser que se descubra que esta questão pode ser
mais relevante que a condição acústica da sala relativa ao tempo de reverberação da mesma.
Palavras-chave: Acústica. Reverberação. Qualidade acústica de salas de aula. Parâmetros acústicos
subjetivos.

ABSTRACT
According to findings of Rocha (2010) [1] the fact that there is a consensus among teachers of music
on acoustic criteria preference is mainly due to lack of knowledge of a descriptive vocabulary of the room
and its acoustics. Thus, we explained to a sample of teachers of music concepts such as reverberation,
warmth, brightness, intimacy, tone and color, clarity, through a video that dealt with the history of
music as an aid to talk about acoustics. This training was designed so that with a technical
background set they could make their judgments when answering a questionnaire. This article therefore
seeks primarily to present the research method used and forms data collection, since the work is in
development. The survey results are preliminary and present an analysis of data from a sample of 11
teachers. Although it is not possible to make statistical inferences to be preliminary results and have
worked with a small sample it is possible to establish findings and expectations about the preferences
of music teachers. A figure that was expected is the finding that most respondents say they do not teach
in the appropriate spaces. Another important finding, not as expected, that was the most frequently
identified problem is the lack of insulation of the room which leads to constant noise pollution,
for example, traffic noise, other instruments taught in adjacent rooms. For the following survey by
checking the continuous occurrence of this aggravating factor can be found that this question might be
more relevant than acoustics condition influenced by reverberation time.
Keywords: Acoustics. Reverberation. Acoustical quality of classrooms. Subjective acoustic parameters.

345
1. INTRODUÇÃO
No momento em que, no Brasil, entra em vigor a lei a Lei Federal 11.769 que retoma a música
como conteúdo obrigatório no ensino básico, os ambientes para a música e a realidade das
escolas vêm à tona como um problema de pesquisa. Como lembrado por Figueiredo (2005)[2] e
por Rocha (2010)[1], Mstislav Rostropovich, renomado violoncelista de nossa época, afirmava
que uma boa sala é tão importante quanto um bom instrumento. Ou seja, salas para música
podem ser uma extensão natural dos instrumentos ou vozes.
Segundo McCue e Talaske (1990)[3], enquanto músicos profissionais podem desenvolver
métodos que compensam parcialmente alguma deficiência do ambiente acústico, estudantes de
música ou jovens músicos ainda não desenvolveram nem uma escuta crítica, nem a técnica para
diagnosticar as dificuldades acústicas ou se ajustar em condições desfavoráveis.
Posto isso, para que haja um ensino de qualidade – não só o de música – são necessários espaços
adequados para o desenvolvimento dessa atividade. Neste trabalho serão discutidas algumas
condições acústicas desejáveis que possibilitem uma prática musical com qualidade nestes
ambientes.
Muitas vezes, salas de aula de graduação em música sequer possuem condições acústicas
desejáveis, como foi concluído por Rocha (2010)[1], analisando salas da EMBAP (Escola de
Música e Belas Artes do Paraná), em Curitiba.
Além disso, existe uma falta de conhecimento na área por parte dos profissionais ligados ao
ensino. Segundo a autora, nem mesmo professores possuem um consenso sobre quais seriam as
condições acústicas ideais para a prática de cada tipo de música, instrumento e/ou canto.
Tomando esses pressupostos, a pesquisa em desenvolvimento tem como objetivo revelar as
preferências de músicos e professores de música sobre condições acústicas de salas voltadas para
o ensino e prática de música.

2. MÉTODO DE PESQUISA

Para alcançar o objetivo do trabalho várias etapas foram seguidas.


Segundo conclusões de Rocha (2010)[1] o fato de não haver um consenso entre professores de
música sobre critérios acústicos preferenciais ocorre, principalmente, por falta de conhecimento
de um vocabulário descritivo das salas e sua acústica. Inicialmente foi necessário estabelecer um
vocabulário e torná-lo familiar a estes atores. Buscou-se seguir o exemplo de Beranek (1962)[4]
que organizou uma série de conceitos para descrever as impressões acústicas dos ouvintes em
um ambiente fechado, o que chamou de parâmetros subjetivos, os quais estão relacionados a
certas características físicas (parâmetros objetivos). Esses conceitos foram apresentados a uma
amostra de professores de música e músicos visando sensibilizá-los, através de palestra e
também por um vídeo com exemplos e explicações, para que com um embasamento técnico
fixado eles pudessem fazer seus julgamentos ao responderem a um questionário.
Um levantamento de opiniões (survey) foi feito através de um questionário on-line que foi
divulgado através de correio eletrônico para aproximadamente 350 professores de música e
músicos de várias localidades do país. Essa amostragem foi eleita por serem os indivíduos que
são diretamente afetados pelas condições acústicas das salas de ensino e prática musical.

2.1. Protocolo de coleta de dados


Com o objetivo de conseguir respostas mais precisas na etapa da coleta de dados dos professores
de música e músicos, foi preparado um material para sua sensibilização. O primeiro autor desse
trabalho preparou uma palestra, que foi apresentada em duas ocasiões na Universidade Federal
346
do Paraná- UFPR, em Curitiba. Nela, foram explicados e exemplificados parâmetros subjetivos
da acústica obtidos através do autor Beranek (1962)[4] como: vivacidade, calor, brilho, nível do
som direto e reverberante, intimismo, clareza, impressão espacial, timbre, retorno, ausência de
eco, qualidade tonal, difusão, mistura, equilíbrio, conjunto, ruído, ataque, uniformidade e
distorção. Como pressuposto do trabalho, julga-se que o tempo de reverberação seria um dos
parâmetros mais relevantes na percepção do ouvinte em uma sala, portanto a ênfase foi dada
neste parâmetro.
Devido a pouca adesão a palestra, optou-se posteriormente pelo seu registro em vídeo digital e
divulgação, com acesso gratuito, na internet. O vídeo tem 45 minutos de duração e uma
mensagem de e-mail foi enviada a 350 professores de música no Brasil, convidando-os a assistir
e responder um questionário anexo.
Para o levantamento das opiniões (survey) da amostragem foi desenvolvida uma ferramenta de
coleta de dados desenvolvida em um site contendo um questionário a respeito das impressões
dos professores sobre uma série de amostras de diferentes ambientes com distintas características
acústicas. Esses exemplos consistem em trechos de músicas executadas com diferentes
instrumentos, como; violino, violoncelo, flauta, piano, violão, oboé e canto, gravados em câmara
anecóica. Posteriormente, foram gerados exemplos com diferentes graus de reverberação que
simulam ambientes acústicos distintos.
Para isso, a partir da gravação anecóica, utilizando o programa Cool Edit Pro, foram geradas as
diferentes reverberações, sendo que, para cada instrumento, originaram-se três exemplos: o
primeiro simulando um ambiente com baixo tempo de reverberação, o segundo com um
intermediário, e o terceiro com um TR elevado.
Para a elaboração do questionário utilizou-se a ferramenta do Google Docs que permite criar
pesquisas do tipo survey. Ela foi escolhida por permitir que as respostas sejam automaticamente
tabuladas, assim que cada indivíduo concluir o questionário, em uma interface virtual parecida
com o programa Excel. A ferramenta é passível de acesso através de qualquer computador e é
restrita ao pesquisador.
Apesar de sua eficiência o Google Docs não permite incluir nele próprio os exemplos de áudio.
Para tornar isso possível essa ferramenta foi inserida em um blog que pode ser visualizado no
endereço <www.abramus.blogspot.com>.

2.2. Material de sensibilização


Com a característica de ser uma pesquisa ação, a palestra (presencial, e posteriormente na
internet) foi divulgada para professores de música, músicos e também para alunos de música e
professores que não são necessariamente formados nessa expertise, mas que deverão lecionar
conteúdos de música, por exemplo, dentro de sua disciplina de Artes. Essa ação torna-se uma
forma de capacitação desse público, que tem a intenção de ser muito proveitosa, mesmo que a
opinião desses indivíduos não seja considerada no levantamento de dados.
Para tornar a exposição mais atraente aos ouvintes, optou-se por apresentar os vários períodos da
história da música, em ordem cronológica1, apresentando exemplos com vídeos e áudios de
peças significativas de cada época e que auxiliem na explicação do vocabulário descritivos da
acústica de ambientes fechados, que foi inserida no decorrer da apresentação. Estes vídeos
podem ser vistos através do link: <http://youtu.be/sG0Z1SH4cDU>

1
Tomou-se como base norteadora dessa explicação o artigo de SCHMID (2011)[5].

347
O assunto é introduzido com breves citações sobre o que é música (etimologia, visão cultural e
definições mais comuns dos dicionários).
Na sequência, são apresentados vários períodos da música, iniciando pela música medieval. Para
cada período foram expostos trechos sonoros de alguns dos compositores mais representativos de
cada época e através destes teceu-se comentários relativos à acústica de salas caracterizando e
explorando diferenças, por exemplo, entre bons e maus exemplos para que o ouvinte entendesse
cada parâmetro acústico.
Um bom exemplo disto foi sobre a explicação do que seria “reverberação”. Utilizou-se a
composição para órgão chamada Toccata e Fuga em Ré menor de Bach. Ouvindo-a em um
espaço adequado, ou seja, com um longo tempo de reverberação, as longas pausas dos primeiros
compassos fazem sentido, pois são preenchidas pela reverberação dos últimos acordes. Isto
certamente não faria sentido se executada em um local seco (com baixo tempo de reverberação)
onde as pausas pareceriam um exagero do compositor. É válido conferir essa diferença de
execução em um ambiente reverberante e outro seco. Pode-se encontrar tais exemplos na rede
mundial de computadores através dos links, respectivamente:
<http://www.youtube.com/watch?v=JEqPahddpYk> e <http://www.youtube.com/watch?v=B-
kFMwbHRQc&feature=related>.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As análises preliminares consideram uma amostra não estatística de 11 professores de música.
Destes, a maioria leciona dando aulas particulares como autônomos ou em escolas privadas.
Somente dois indivíduos lecionam no ensino superior em faculdades públicas. Todos os
respondentes afirmam ter conhecimento da Lei Federal no 11.768 de 2008 que institui a
obrigatoriedade de conteúdos de música em todo o Ensino Básico.
Quando perguntados sobre quanto acreditavam que a geometria das salas e os materiais
influenciam na acústica de uma sala, todos acreditam que ambos aspectos influenciam de
“muito” a “bastante”. Aproximadamente 80% dão o mesmo peso a geometria e aos materiais. O
restante crê que os materiais de revestimento da sala são um pouco mais relevantes do que a
geometria.
Algumas questões foram feitas de modo a se responder de forma livre. Uma delas era “Qual a
maior dificuldade enfrentada em suas aulas?”. Esta estratégia foi utilizada justamente para tentar
captar as dificuldades mais frequentes sem induzir a uma resposta. Das onze respostas
analisadas, nove citam de alguma forma a falta de isolamento acústico das salas. Ou seja, se
sentem incomodados ou com ruídos externos vindos da rua ou de outros cômodos da construção.
Um exemplo de resposta que evidencia isso é: do ponto de vista das condições da sala, o maior
problema é a falta de isolamento em relação às salas vizinhas. O som dos outros instrumentos
vaza para dentro da sala e impede a percepção de sons formadores, harmônicos, diferenças
sutis de afinação e batimentos. Às vezes impede inclusive que eu escute meus alunos.
Quando perguntados sobre qual a condição acústica da sala de aula em que frequentemente
lecionam, quase metade dos respondentes dizem achá-la ruim e outros 27% afirmam ser
indiferentes, ou seja, não afirmam ser ideal, mas também não acham ruim (Figura 1).

348
Figura 1 – Com relação à qualidade acústica do espaço
Figura 2 - A condição ideal com relação à
em que você costuma lecionar, como você a
reverberação de uma sala de aula para música.
classificaria?
Fonte: O autor
Fonte: O autor

Com o intuito de fazer um paralelo com essas respostas se perguntou como classificariam suas
salas: muito seca (muito pouco reverberante); seca (pouco reverberante); intermediária; viva
(reverberante); muito viva (muito reverberante). Entretanto, não foi possível estabelecer um
paralelo com o pouco número de respostas, mas um comentário interessante pode ser tecido
analisando as respostas de dois professores. Ambos afirmaram que suas salas são vivas
(reverberantes), mas um considera esta condição acústica ruim enquanto outro considera ser
boa. Esta diferença talvez se explique pelo instrumento que cada um ensina. O primeiro leciona
clarineta, um instrumento de grande potência sonora e o fato da sala ser viva pode amplificar o
som do instrumento, e considerando uma sala pequena (12m²) este efeito pode ser considerado
desagradável aos ouvidos. Já o segundo dá aulas de violino e é de conhecimento que para este
instrumento uma sala com certa reverberação produz um som mais bonito e é possível explorar
melhor harmônicos. Portanto, ao final da pesquisa, entende-se que para comparar as opiniões
sobre a qualidade acústica das salas e a classificação sobre a reverberação só poderá ser feita
analisando indivíduos que lecionem o mesmo instrumento.
Outro dado importante obtido foi de que 73% dos respondentes afirmaram que a condição ideal
de uma sala de aula para música com relação a reverberação seria algo intermediário, ou seja,
nem uma sala muito viva nem muito seca. O restante desejaria uma sala viva (Figura 2). Em
seguida foi feita uma questão de resposta livre para que expressassem como seria uma sala ideal.
A maioria mencionou novamente o desejo de uma sala livre de interferências externas (ruídos),
além disso, sobre a reverberação, note-se uma tendência a predileção por salas com um
moderado tempo de reverberação. Uma resposta que representa a maioria é: uma sala com uma
reverberação moderada, que dê um brilho ao som do instrumento, mas não tanto ao ponto de
embolar o som, e que também seja silenciosa.
Isso se confirma analisando outra questão. Diante de três exemplos do mesmo trecho sonoro,
porém sob diferentes tempos de reverberação, aproximadamente 80% da amostra afirmou achar
mais bonito o timbre do instrumento no exemplo 3, que simula uma reverberação intermediária.
Perguntados sobre em qual condição gostariam de lecionar, as respostas foram as mesmas.

349
4. CONCLUSÕES
Apesar de não ser possível fazer inferências estatísticas por serem resultados preliminares e se
ter trabalhado com uma amostra reduzida, já é possível obter pistas e expectativas sobre as
preferências dos professores de música.

Um dado que já era esperado é a constatação de que a maioria da amostra afirma não lecionar em
espaços adequados. Outra constatação importante, não tão esperada, foi a de que o problema
mais frequentemente identificado é a falta de isolamento acústico das salas que acarreta a
constantes perturbações sonoras, como por exemplo ruídos de trânsito, de outros instrumentos
lecionados em ambientes contíguos entre outros. Para a sequência do levantamento, verificando
a ocorrência contínua deste agravante, é possível que tal questão ainda se mostre mais relevante
que a condição acústica da sala relativa ao tempo de reverberação da mesma.

Com a obtenção de subsequentes respostas ao questionário, se espera um maior esclarecimento


das preferências dos professores quanto ao tempo de reverberação. Tal informação será útil para
a obtenção de salas em que o aprendizado de música seja otimizado.

AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa faz parte do projeto ABRAMUS – Arquiteturas para um Brasil Musical – que
recebe patrocínio do programa CAPES-MINC Pró-cultura. Agradecemos a participação,
empenho e apoio de todos os participantes desde programa.

REFERÊNCIAS

1. ROCHA, L. Acústica e educação em música: critérios acústicos preferenciais para sala de ensino e prática
de instrumento e canto. Dissertação para o Programa de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade
Federal do Paraná. Curitiba: UFPR, 2010.

2. FIGUEIREDO, F. L. Parâmetros acústicos subjetivos: Critérios para avaliação da qualidade acústica de


salas de música. Dissertação do curso de Artes na área de Musicologia da Universidade de São Paulo. São
Paulo: USP, 2005.

3. McCUE, E., TALASKE, R. H. Acoustical Design of Music Education Facilities. Nova Iorque: Syracuse,
1990.

4. BERANEK, L. L. Music, acoustics & architecture. New York: Wiley, 1962.


5. SCHMID, Aloísio Leoni. Adequação acústica dos espaços para a música. Seleção de exemplos históricos de
música e arquitetura como apoio à aprendizagem. Arquitextos, São Paulo, 12.135, Vitruvius, jul. 2011.
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.135/4008>. Acessado em:
20.out.2011.

350
 

SESSÃO 05-A

351
ESTUDO PARA READEQUAÇÃO ACÚSTICA DO ANFITEATRO NEY
MARQUES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PARA USO
COMO CINEMA

PAIS, Álvaro Phillipe Tazawa Delmont1; SOARES, Paulo Fernando1; TAMANINI, Carlos
Augusto de Melo1; LISOT, Aline1
(1) Universidade Estadual de Maringá.

RESUMO
As primeiras exibições de cinema datam do final do século XIX e, ao longo da história, os ambientes
destinados a esta arte foram sendo adequados conforme a tecnologia de reprodução de mídia disponível.
O cinema é um ambiente que deve ser projetado para se ouvir com clareza e nitidez a fala e a música. O
presente artigo constitui-se do estudo de readequação acústica do Anfiteatro Ney Marques da
Universidade Estadual de Maringá, cidade de Maringá, Estado do Paraná, no qual é apresentado o
projeto CINUEM. Tal projeto exibe filmes em caráter cinematográfico semanalmente. Para compreensão
da percepção dos usuários quanto ao ambiente foi aplicado um questionário aos participantes do projeto,
de forma avaliar qualitativamente o conforto acústico na sala. Foram monitorados os parâmetros
acústicos tempo de reverberação, tempo de decaimento inicial, clareza, definição, porcentagem de perda
consonantal e ruído de fundo, os quais são pertinentes para avaliação da qualidade acústica do ambiente e
foram comparados com normas nacionais e internacionais. Tais normas nortearam os procedimentos de
medição adotados. Para melhor avaliar o ambiente realizou-se simulação computacional com o software
EASE 4.2®. O modelo tridimensional foi validado de acordo com os parâmetros acústicos obtidos no
monitoramento. Por meio deste estudo verificou-se que o Anfiteatro Ney Marques na situação atual não é
adequado ao uso como cinema. De forma geral, os parâmetros analisados mostram que o ambiente deve
ser readequado acusticamente. Apresentam-se recomendações de modificações que podem ser realizadas
para a devida adequação do ambiente. Além dos parâmetros citados, foi avaliado o isolamento do
ambiente, porém este não será abordado neste artigo.
ABSTRACT
The first movie sections happened in the end of XIX century and throughout history the rooms for this art
have been adapted according to available reproduction technology. The cinema is an environment that
should be designed to listen speech and music with clarity and definition. This paper is part of a study to
the acoustic readjustment of the Amphitheatre Ney Marques of the State University of Maringá, city of
Maringá, Paraná State, in which is presented the project CINUEM. This project shows weekly movies in
cinematic character. To understand the users' perception about the amphitheatre a questionnaire was
applied to the project participants in order to evaluate the sense of acoustic comfort in the room. Were
monitored the acoustic parameters reverberation time, early decay time, clarity, definition, percentage
articulation loss of consonants and background noise, which are relevant for assessing the acoustic
quality of the room. These parameters were compared with national and international standards. These
standards have guided the measurement procedures adopted. To better assess the environment was held
acoustic simulation with the software EASE 4.2®. The three-dimensional model was validated according
to the acoustic parameters obtained in the monitoring. Through this study it was found that the
Amphitheatre Ney Marques in the current situation is not suitable for use as a cinema. In general, the
analyzed parameters show that must be performed the acoustic suitability in the room. Recommendations
are made for changes that can be performed due to the suitability of the environment. Besides the
mentioned parameters, we measured the isolation of the seals of the room, but this will not be discussed
in this paper.

Palavras-chave: Cinemas, Readequação acústica, Simulação acústica de salas.

352
1. INTRODUÇÃO
Desde a Antiguidade espaços como os teatros ao ar livre, os mercados, as praças da Grécia
Antiga têm a característica de aglomerar as pessoas. Estes ambientes possuem uma acústica
diferenciada. O estudo nesta área levou a muitas mudanças, refletidas nos teatros renascentistas e
Catedrais européias. Atualmente o estudo sobre acústica é voltado para salas, buscando sempre a
qualidade sonora (OGASAWARA, 2006).

Para que uma mensagem possa ser transmitida com qualidade ao ouvinte, Long (2006) explica
que o design adotado para o ambiente deve levar em consideração o tamanho, o formato, a
superfície e os materiais constituintes. Estes serão impactantes na propagação sonora,
influenciando a inteligibilidade da fala. O ambiente deve ter o ruído de fundo adequado, não
descaracterizando o som principal. É necessário que o seu volume seja uniforme, a reverberação
apropriada ao uso e o ambiente deve estar corretamente isolado das interferências acústicas do
meio externo.

O cinema é um ambiente que deve ser projetado para se ouvir com clareza e nitidez a fala e a
música e, para isto, necessita-se que a arquitetura espacial e os materiais reflitam a especificidade
da mídia cinematográfica (TAMANINI, 2011).

A qualidade acústica das salas é determinada a partir de técnicas de análise e parâmetros


previstos em normas. Análises de ruído de fundo, Tempo de Reverberação (TR), Tempo de
Decaimento Inicial (EDT), isolamento acústico interno e externo, Clareza (C80), Definição
(D50) e Porcentagem de Perda Consonantal (%ALCons), são formas de caracterizar
acusticamente um ambiente.

Este artigo apresenta uma avaliação do anfiteatro Ney Marques, situado no campus sede da
Universidade Estadual de Maringá - UEM, na cidade de Maringá-PR, o qual não apresenta
características de um ambiente propício à exibição de mídia cinematográfica. Entretanto, o
projeto CINUEM (projeto de exibições e debates sobre filmes) vem utilizando o ambiente para
esta finalidade. O artigo traz, além da avaliação dos parâmetros acústicos do ambiente,
recomendações de projeto para a readequação acústica a fim de atender às necessidades do atual
uso.

2. METODOLOGIA
Apresentam-se a seguir o objeto de estudo e os procedimentos metodológicos adotados para a
caracterização do ambiente estudado e para o estudo da sua readequação acústica.

2.1. Objeto de estudo


O Anfiteatro Ney Marques tem área igual a 498,00 m², volume igual a 899,60 m³ e lotação
máxima de 192 pessoas. A construção tem vedações verticais em alvenaria convencional com
esquadrias em vidro e madeira. A cobertura é de laje maciça em concreto armado. O piso é
cerâmico, sendo que os locais de maior circulação contam com revestimento antiderrapante e o
palco com revestimento em madeira. As poltronas são revestidas com couro sintético.

2.2. Avaliação qualitativa das características acústicas do Anfiteatro Ney Marques


A avaliação qualitativa foi efetuada por meio da aplicação de um questionário aos participantes
do projeto CINUEM e considerou a opinião dos mesmos quanto à percepção da qualidade
acústica do Anfiteatro. As perguntas foram formuladas com base no questionário apresentado por
Losso (2003). O questionário foi aplicado no dia 20/10/2011 por volta das 18h e 40min.

2.3. Determinação do ruído de fundo


A medição foi realizada seguindo os procedimentos descritos na NBR 10151 (2000). Utilizou-se
um medidor de nível de pressão sonora marca 01dB®, modelo Solo SLM. A medição foi

353
realizada próximo ao palco. O tempo de captação do ruído foi de 5 minutos, entre às 19h e 37min
às 19h e 42min do dia 19/09/2011.

Em relação à norma 10151 (2000), as medidas seguiram as distâncias mínimas de 1 metro das
paredes, teto, piso. Entretanto foi realizada, apenas uma medição com maior duração.

2.4. Determinação do tempo de reverberação


O tempo de reverberação foi determinado por meio de um microfone omnidirecional de ½” da
marca Behringer, modelo ECM 8000, conectado ao software Dirac 3.1®. O procedimento seguiu
as recomendações da norma ISO 354 (2003) utilizando o método impulsivo para a medição. Os
impulsos foram obtidos pelo estouro de balões de festa.

Foram adotadas seis posições de receptor e duas posições de fonte. Para cada combinação fonte-
receptor monitoraram-se três decaimentos sonoros. O número total de decaimentos sonoros foi
igual a 36. As medições foram efetuadas no período das 19h às 19h e 35min do dia 19/09/2011.

2.5. Determinação dos parâmetros acústicos EDT, D50, C80 e %ALCons


Os parâmetros acústicos EDT, D50, C80 e %ALCons foram obtidos por meio do software Dirac
3.1® que, através do ruído impulsivo calculou-os juntamente com o TR.

2.6. Modelagem computacional do ambiente


A modelagem computacional 3D do ambiente foi feita em software com plataforma CAD
(AutoCad 2007® da Autodesk). Utilizaram-se como base a planta baixa e dois cortes da
edificação cedidos pela prefeitura do campus da UEM.

Para ser possível a importação do arquivo no software EASE 4.2® aonde foi efetuada a simulação
acústica, foi necessário exportar o arquivo em formato 3D Studio, para a triangulação dos planos.

Já no ambiente do software EASE 4.2®, os materiais de revestimento do ambiente foram


incorporados ao modelo através de busca na biblioteca de materiais do próprio programa, ou
inseridos em sua biblioteca com a absorção específica de cada material.

2.7. Validação do modelo


A validação do modelo foi feita a partir do tempo de reverberação medido no ambiente real.
Conforme Renkus-Heinz (2008) apud Tamanini (2011), na validação de modelos virtuais são
admissíveis pequenos desvios da ordem de 0,1s, não sendo significativos em relação aos
resultados encontrados.

2.8. Estudo de readequação acústica


A partir do modelo validado foi feito o estudo de adaptação do ambiente, variando os materiais
no modelo até encontrar os parâmetros ideais de ruído de fundo, tempo de reverberação, tempo
de decaimento inicial, definição, clareza e porcentagem de perda de articulação consonantal.
Com base nesses resultados listaram-se as principais diretrizes para a elaboração de um projeto
acústico do Anfiteatro Ney Marques.

3. RESULTADOS E ANÁLISES
A seguir apresentam-se os resultados e análises sobre a qualidade acústica do Anfiteatro Ney
Marques.

3.1. Avaliação qualitativa das características acústicas do Anfiteatro Ney Marques


A avaliação qualitativa foi composta por quatro perguntas referentes ao reconhecimento do
ambiente interno no que diz respeito à sensação acústica.

354
A primeira pergunta questionou sobre a qualidade do som percebido no anfiteatro. Mais da
metade dos participantes respondeu que a qualidade é “satisfatória” ou “boa”. O restante
classificou a qualidade do som entre “ruim”, “muito boa” e “excelente”. A segunda pergunta foi
sobre a interferência do sistema de som na qualidade percebida e três quartos dos usuários
responderam que ocorre tal interferência. A terceira pergunta foi sobre a nitidez na compreensão
da fala e mais da metade dos entrevistados respondeu que há nitidez. A quarta pergunta foi sobre
a sensação de “eco” na sala e mais da metade dos respondentes disseram que percebem que o
som “ecoa” pelo ambiente.

3.2. Ruído de fundo


O nível de pressão sonora monitorado foi de 47,7 dB(A), o qual não se enquadra dentro do
permitido pela norma NBR 10152 (1987) que é 35 – 45 dB(A). Tal fato indica que há
necessidade de adequação da sala quanto ao isolamento, estudo este efetuado, mas não abordado
neste artigo.

A norma NBR 10152 (1987) também prevê os níveis de ruído para o conforto acústico por meio
das curvas de avaliação de ruído NC (Noise Criteria). Através destas curvas, pode-se fazer a
avaliação dos níveis de ruído considerando o espectro sonoro. A Figura 1 apresenta o espectro
sonoro monitorado sobreposto às curvas NC.

90
Curva de Avaliação de Ruído
80

Curva
70 medida
Curva 70
Níveis de Pressão Sonora (dB)

Curva 65
60
Curva 60

Curva 55
50
Curva 50

40 Curva 45

Curva 40
30 Curva 35

Curva 30
20
Curva 25

Curva 20
10
63 125 250 500 1000 2000 4000
Frequências (Hz)

Figura 1 - Curvas de avaliação de ruído, inclusive com o dado medido.


Fonte: Adaptado de NBR 10152 (1987)

Segundo a norma NBR 10152 (1986) a curva NC para cinemas deve estar entre as curvas 30 e
35. Contudo, observa-se que a curva NC para o ambiente monitorado é NC 45.

355
3.3. Tempo de reverberação
Na Tabela 1 apresentam-se os valores medidos de TR.
Tabela 1: Valores medidos de Tempo de Reverberação
Frequência (Hz) 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000 16000
T20 (s) 3,34 2,35 1,61 1,68 1,95 2,07 1,94 1,43 1,89

A Associação Brasileira de Cinematografia – ABC – indica limites superiores e inferiores para


tempos de reverberação em salas de cinema, assim como o tempo de reverberação recomendado.
Tais valores são mostrados no gráfico da Figura 2 juntamente com o tempo de reverberação
medido no Anfiteatro Ney Marques.

Figura 2 - Variação do tempo de reverberação por faixas de oitavas


Fonte: Adaptado de NBR 12237 (1992)

Os resultados apresentados na Figura 2 mostram claramente que o tempo de reverberação para o


anfiteatro não se assemelha ao recomendado pela ABC. Os dados mostram uma diferença maior
que o esperado principalmente em frequências baixas e em torno de 1000 a 4000 Hz, onde se
espera que o tempo de reverberação seja aproximadamente constante e igual a 1.

Uma possível causa da variação dos resultados em baixa frequência se deve ao modo como foi
realizada a medição, através do método impulsivo (já que não se dispunha de fonte sonora
omnidirecional para emissão de ruído), onde as baixas frequências são pouco excitadas levando a
um resultado que pode não traduzir a situação real com fidelidade.

3.4. Tempo de decaimento inicial


Na tabela 2 apresentam-se os valores medidos de EDT (tempo de decaimento inicial)
Tabela 2: Valores medidos de EDT
Frequência (Hz) 31,5 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000 16000
EDT (s) 6,47 4,67 3,16 2,27 2,43 2,67 2,85 2,65 1,80 2,21

Para cinemas, o valor ótimo de EDT corresponde à uma média menor que 1 segundo para os
valores obtidos nas frequências de 500Hz, 1kHz e 2kHz . No entanto, para o ambiente em
estudo está média é igual a 2,65 segundos. Valor este acima do ideal para cinemas.

356
3.5. Definição
Na tabela 3 apresentam-se os valores medidos de D50 (definição).
Tabela 3: Valores medidos de D50
Frequência (Hz) 63 125 250 500 1000 2000 4000
D50 (%) 10,3% 21,6% 16,1% 18,8% 14,6% 12,5% 15,4%

O valor ideal para cinemas é uma alta porcentagem de energia chegando ao receptor até
primeiros 50ms. Os valores obtidos mostram que poucas ondas atingem o receptor no tempo
esperado, provocando sons detrimentais no usuário. Estes valores baixos são uma das causas do
alto índice de pessoas que responderam “sim” na questão 4, do questionário de avaliação
subjetiva do Anfiteatro, que avalia se os participantes do projeto percebem algum tipo de eco no
ambiente.

3.6. Clareza
Na tabela 4 apresentam-se os valores medidos de C80 (clareza).
Tabela 4: Valores medidos de C80
Frequência (Hz) 63 125 250 500 1000 2000 4000
C80 (dB) -8,22 -3,74 -4,02 -4,15 -5,39 -6,12 -5,23

A Clareza apresenta bons resultados, os quais são valores baixos, representando boas
características de absorção. Tais valores são provavelmente devidos à geometria do Anfiteatro,
que não apresenta paredes paralelas.

3.7. Porcentagem de perda consonantal


A média dos valores medidos para %ALCons (porcentagem de perda consonantal) é igual a 25,8,
o que caracteriza um som de “ruim” para “pobre”. É fundamental que este parâmetro seja
“ótimo” para o máximo entendimento das falas em cinemas.

3.8. Simulação
A Figura 3 apresenta à esquerda o aspecto do modelo tridimensional elaborado no software
Autocad 2007®e importado no EASE 4.2®, além de no centro e à direita ilustrar a ferramenta
utilizada para inserção das características de absorção sonora dos materiais nas faces do modelo.

Figura 3: Modelo tridimensional e inserção de materiais no modelo

357
A simulação gerou valores de TRSIMULADO, o qual deve ser o mais próximo possível do
TRMEDIDO, que corresponde ao real. A tabela 5 traz o tempo de reverberação medido in loco, o
simulado e o ideal indicado pela norma NBR 12237 (1992).
Tabela 5: Tempos de reverberação medido, simulado e ideal
Tempos de reverberação [s] 125 Hz 250 Hz 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz
Medido 2,35 1,61 1,68 1,95 2,07 1,94
Simulado 2,35 1,61 1,68 1,95 2,07 1,94
Ideal 1,17 1,00 1,00 1,00 1,00 0,83

4.9. Recomendações de Projeto Acústico


Deve-se levar em conta que o principal parâmetro acústico para cinemas é o tempo de
reverberação, por isto as mudanças de materiais efetuadas no ambiente do software EASE 4.2®
foram analisadas quanto à alteração que causavam no tempo de reverberação simulado.

Acredita-se que no caso em foco as modificações para melhoria da acústica podem seguir duas
vias: apenas a mudança da mobília e dos materiais de revestimento ou a mudança dos materiais e
rebaixamento do teto com forro absorsor.

A tabela 6 apresenta combinações dos materiais sugeridos, observando-se a aproximação do


tempo de reverberação do tempo ideal. Tais combinações foram simuladas no software EASE
4.2®.
Tabela 6: Combinações dos materiais e os tempos de reverberação simulados
Tempos de reverberação [s] 125 Hz 250 Hz 500 Hz 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz
Simulado 2,35 1,61 1,68 1,95 2,07 1,94
Ideal 1,17 1,00 1,00 1,00 1,00 0,83
C/ Poltronas estofadas (64,22m²) 1,54 1,41 1,24 1,15 1,19 1,14
C/ Poltrona (64,22m²)+Carpetes(210,21m²) 1,58 1,40 1,18 0,98 0,89 0,85
C/ Poltrona (64,22m²)+Carpetes
(31,59m²)+Painéis (210,21m²) 1,27 1,21 1,08 0,96 0,87 0,82
C/ Poltrona (64,22m²) +Carpetes (31,59m²)
1,26 1,16 1,01 0,88 0,81 0,77
+Cortina (21,51m²)+Painéis (210,21m²)
C/ Poltrona (64,22 m²)+Carpetes (31,59m²)
+Cortina (21,51m²)+Painéis (210,21m²) 0,86 1,01 1,00 0,99 0,92 0,86
+Gesso(148,42m²)

A combinação que mais se aproximou do ideal foi o que agregou as poltronas, as cortinas
pesadas de veludo, os painéis de madeira e as placas de gesso perfuradas, destacada em negrito
na tabela 6, assim como os valores de TR ideal.

5. CONCLUSÃO
O estudo efetuado a cerca da readequação acústica do Anfiteatro Ney Marques para a utilização
como cinema demonstrou que a avaliação qualitativa efetuada pelos usuários do anfiteatro é
correta. Ou seja, há um desconforto acústico, principalmente em se tratando de exibições de
filmes, pois o tempo de reverberação, que é o principal parâmetro em se tratando de cinemas,
está bem acima do ideal, o que provavelmente é causado pela grande quantidade de materiais
reflexivos.

De forma geral, os parâmetros analisados mostram que o ambiente deve ser melhorado, apesar de
apresentar alguma clareza na apresentação de melodias.

358
A mudança das poltronas traria uma sensível diferença para o desempenho acústico, assim como
a mudanças de cortinas e a inserção de ripados de madeira, ou painéis de gesso perfurado que
podem absorver baixas frequências. As combinações de materiais buscam a adequação do tempo
de reverberação do ambiente para todas as frequências.

Outra mudança que pode ser estudada, mas que não foi foco neste trabalho, é a inclusão de um
forro de grelha absorsora, o que diminuiria o volume do ambiente proporcionando também uma
diminuição do tempo de reverberação.

REFERÊNCIAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10151: Acústica – Avaliação do ruído
em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade - Procedimento. Rio de Janeiro, 2000.
2. ______. ABNT NBR 10152: Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro, 1986.
3. ______. ABNT NBR 12237: Projetos e instalações de salas de projeção cinematográfica. Rio de Janeiro, 1992.
4. AUTOCAD. Version 2007®. Autodesk.
5. EASE. Version 4.2®.Acoustic Design Ahnert.
6. DIRAC. Version 5.1®.Brüel&Kjær.
7. ISO.354: Acoustics – Measurement of sound absorption in a reverberation room, 2003.
8. LONG, M. Architectural Acoustics. 1. ed. Burlington: Elsevier Academic Press, 2006.
9. LOSSO, M. A. F.Qualidade acústica de edificações escolares em Santa Catarina: Avaliação e elaboração
de diretrizes para projetos e implantação. 2003. 149f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
10. OGASAWARA, A. P. Avaliação acústica de oito salas destinadas a apresentações teatrais da cidade de
Campinas, SP, através da técnica impulsiva. 2006. 251f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.
11. TAMANINI, C. A. M. Reconstrução acústica das salas de cinema projetadas pelo arquiteto Rino Levi.
2011. 170f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
12. UEM. Regulamento de uso do anfiteatro professor Ney Marques. CER, Maringá, atualização de jul. 2009.
Disponível em: <http://www.cer.uem.br/cms/index.php?option=com_content&task=view&id=38&Itemid
=40>. Acesso em: 19 abr. 2011.

359
INFLUÊNCIA DO TETO DE CONCHA DE ORQUESTRA LEVE E
ARTICULADA NA ACÚSTICA DE SALA DE MÚLTIPLO USO

MAIORINO, Alexandre V.1; BERTOLI, Stelamaris R.2


(1) Faculdade de Engenharia Civil – FEC - UNICAMP; (2) Faculdade de Engenharia Civil – FEC - UNICAMP

RESUMO
Teatros de múltiplo uso vêm se tornando cada vez mais comuns, especialmente fora dos grandes centros
urbanos onde há a necessidade de um único teatro para abrigar diversos tipos de espetáculos. Para
adequar estes espaços à música de concerto, faz-se necessária algumas adaptações acústicas, sendo uma
delas, a inclusão de uma concha de orquestra no palco. As conchas de orquestra têm como finalidade
principal melhorar as condições acústicas no palco para os músicos e maestro. O principal objetivo é
melhorar a sensação de conjunto, fazendo com que os músicos ouçam melhor a si próprios e ao grupo da
orquestra de forma equilibrada. Entretanto a concha não influencia apenas o palco, mas pode também
influenciar no som que chega à plateia. Algumas conchas restringem-se às paredes laterais e de fundo,
outras incluem um teto sobre a orquestra. O objetivo deste trabalho é mostrar a diferença de desempenho
acústico percebido na plateia a partir do uso de uma concha de orquestra de baixa densidade superficial,
na condição com e sem teto. O estudo foi realizado em um teatro de múltiplo uso, no interior de São
Paulo, utilizando uma concha de orquestra com superfície no formato policilíndrico. Os parâmetros
Tempo de Reverberação, Tempo inicial de Decaimento e Clareza foram medidos e analisados conforme a
norma ISO3382-1 (2009). Os resultados mostram que embora a diferença seja pequena, o teto melhora o
desempenho acústico na plateia, aumentando os parâmetros Tempo de Reverberação e tempo Inicial de
Decaimento em alta frequência e diminuindo a Clareza, melhorando a sensação de espacialidade e
conjunto do grupo musical em relação à plateia.

ABSTRACT
The construction of multiple use theatres is becoming more common especially on smaller cities due to
the need to accommodate different kinds of performances at the same space. In order to acoustically
adequate this space to concert music, the inclusion of an orchestra shell becomes necessary. The main
objective of an orchestra shell is to improve the acoustic quality on stage, both for musicians and for the
conductor. The goal is to improve balance of the group allowing musicians to hear themselves and the
orchestra better. However, the orchestra shell can also improve the acoustic quality for the audience.
Some shells only include back and side walls and others also include a ceiling. The objective of this
study is to analyse the difference of the acoustic performance perceived at the audience area of a light
orchestra shell with and without its ceiling. Measurements were done at a multiple use theatre in the
interior of São Paulo, using an orchestra shell with a polycylindrical surface. Measured parameters were
Reverberation Time, Early Decay Time and Clarity index according to ISO3382-1 (2009). Results show
that the ceiling improves the acoustic performance at the audience area, although by a small difference. It
increased the Reverberation Time an Early Decay Time at high frequencies and decreased clarity,
improving spaciousness and group balance to the audience.
Palavras-chave: Concha de orquestra, Desempenho Acústico, Teatro de múltiplo uso

1. INTRODUÇÃO
A construção de teatros para múltiplo uso vem sendo cada vez mais comum não apenas no
Brasil, mas no mundo todo, especialmente fora dos grandes centros urbanos (BARRON, 2003).
Estes lugares normalmente não dispõem de grupos musicais sinfônicos estáveis que justifiquem a

360
construção de salas de concerto ou teatros de ópera. Os teatros de múltiplo uso devem atender
uma grande diversidade de espetáculos, entretanto os requisitos acústicos para cada tipo de
espetáculo são diferentes. Para atender estes requisitos é necessário que o espaço possua
variabilidade acústica visando o melhor desempenho para cada situação. Quanto maior a
adequação acústica, mais propícia a sala estará para abrigar diversas formas de espetáculos
(PASSERI JR., 2008).
No caso do uso de teatros para música de concerto, várias medidas podem ser tomadas no intuito
de adequar suas condições acústicas para este fim. Teatros para múltiplo uso normalmente são
construídos com arco de proscênio e com caixa cênica para abrigar cenários e cortinas utilizadas
em peças teatrais, óperas e balés. Algumas caixas cênicas acabam tendo um volume maior que o
volume da plateia fazendo com que o espaço do palco possa ter um desempenho acústico
diferente e que se propriamente acoplado com a área da plateia, pode beneficiar o desempenho
acústico do espaço como um todo. Em muitos casos a largura do palco é consideravelmente
maior que sua profundidade e para a delimitação do espaço destinado à orquestra utilizam-se
cortinas de tecido pesado. Estas condições são bastante inadequadas para a execução musical e
podem prejudicar consideravelmente o desempenho dos músicos. O melhor procedimento nesses
casos é a utilização de uma concha de orquestra.
O principal objetivo das conchas de orquestra é aumentar o número de primeiras reflexões no
palco e diminuir o tempo entre o som direto e as primeiras reflexões, contribuindo assim para
melhorar a audibilidade do próprio instrumento pelo músico, bem como do grupo orquestral.
Pesquisas apontam que embora a maior mudança seja no palco, as conchas de orquestra podem
melhorar significativamente o desempenho acústico na plateia (BRADLEY, 1996). As conchas
de orquestras podem ser divididas basicamente em duas categorias: conchas de contenção e
conchas articuladas
As conchas de contenção têm como objetivo criar um novo espaço acústico no palco
independente da caixa cênica. São feitas, normalmente, com materiais pesados e espessos com a
finalidade de conter o som, não deixando que ele seja transmitido para os espaços atrás da
concha. Este tipo de concha teve sua origem baseada no palco de algumas salas de concerto
como o palco da Boston Symphony Hall, em Boston, MA. A recomendação é que os materiais
para este tipo de concha tenham densidade superficial superiores a 10 kg/m2. De maneira geral,
as paredes laterais da concha são anguladas assim como o teto, fazendo com que o som possa ser
projetado em direção à plateia. As desvantagens desse tipo de concha de contenção são peso e
custo elevados e as dificuldades de montagem e armazenamento.
Ao contrário das conchas de contenção, as conchas articuladas são normalmente feitas com
materiais leves, com densidade superficial entre 2,5 a 8,0 kg/m2. Este tipo de concha tem como
objetivo aproveitar o espaço da caixa cênica como um ambiente ressonante, melhorando a
sensação de espacialidade no palco. Espaços são deixados atrás das placas da concha para que,
especialmente nas baixas freqüências, possam formar um campo reverberante na caixa cênica. Se
os espaços forem bem acoplados, não só a orquestra percebe um ambiente acústico mais
reverberante e propício, como também a plateia. Em geral, as paredes das conchas articuladas
têm boa reflexão em médias e altas freqüências. Acreditou-se por algum tempo, erroneamente,
que este tipo de concha absorvia baixas frequências. Entretanto, um dos problemas de teatros
com arco de proscênio é que se a altura do arco for baixa, o teto da concha também será baixo, o
que pode ser um problema para o correto acoplamento entre os espaços (JAFFE, 1974). Para as
baixas frequências, uma vez que os espaços entre a plateia e a caixa cênica estejam bem
acoplados, o som irá reverberar na caixa cênica e será projetado de volta à plateia. No entanto, a
falha deste acoplamento pode causar a perda da energia em baixa freqüência.
De maneira geral, recomenda-se que as superfícies das conchas de orquestra sejam irregulares e
possam promover a difusão especialmente em médias e altas freqüências. As vantagens das
conchas articuladas são peso menor, facilidade de montagem e armazenamento, quando
361
comparadas com as conchas de contenção. Outra vantagem é a possibilidade de articulação dos
painéis, que possibilitam a criação de uma variedade de formas e abrigar grupos musicais de
diversos tamanhos e formação.
Em alguns casos, as conchas não possuem teto. Um dos fatores que contribuem para isso é a
dificuldade de armazenamento e montagem. Em outros lugares, mesmo com a possibilidade de
incorporar o teto na concha, existem situações onde a concha não é montada com teto por
solicitação do próprio grupo orquestral.
O uso de painéis no teto de conchas de teatros e salas de concerto é ainda objeto de estudo. Em
alguns casos, estes painéis no teto se mostram muito eficazes em projetar energia sonora para
pontos específicos da plateia, melhorando consideravelmente o desempenho acústico do espaço
(JOHNSON, 1959; KIM et al., 2010). Há também casos de insucesso como o da Philharmonic
Hall em Nova Iorque (BARRON, 2003), mostrando que cada projeto tem as suas necessidades e
que nem sempre os tetos são a melhor solução. Segundo Skalevik (2006), os tetos de conchas
podem trazer benefícios, mas também prejudicar consideravelmente o desempenho acústico de
espaços destinados a música.
O objetivo deste trabalho é mostrar a diferença de desempenho acústico percebido na plateia a partir do
uso de uma concha de orquestra de baixa densidade superficial, na condição com e sem teto.

2. DESENVOLVIMENTO
Para estudar a influência do teto da concha orquestral no comportamento acústico da sala na
região da plateia foi escolhido um teatro de múltiplo uso que é utilizado para apresentações de
orquestra e que permite a montagem da concha com e sem teto. A caracterização acústica do
espaço da plateia foi feita com medidas dos parâmetros acústicos Tempo de Reverberação (TR),
Tempo de Decaimento Inicial (EDT) e Clareza (C80) em função da frequência. Os resultados das
medidas desses parâmetros nas condições de concha com e sem teto foram comparados.

2.1. Caracterização do Teatro


O teatro de múltiplo uso utilizado nesta pesquisa foi o Theatro Municipal de Paulínia.
Inaugurado em 2008, tem capacidade para aproximadamente 1300 pessoas. O teatro tem formato
retangular, com uma leve inclinação entre as paredes laterais, mas não chega a ter o formato de
leque. A plateia é inclinada, com dois níveis de inclinação. A sala apresenta três níveis de
balcões laterais, camarotes centrais e um mezanino inclinado. As poltronas da plateia, camarotes
e mezanino são de madeira, com acento e encosto em espuma revestido de tecido. Os corredores
laterais de acesso à plateia são acarpetados. As paredes laterais e dos balcões são em madeira. O
teto é em gesso. As paredes laterais e do fundo do mezanino, são cobertas com lã de vidro
revestida com tecido e recobertas com ripas de madeira espaçadas. As irregularidades da madeira
podem colaborar na difusão do som, enquanto nas aberturas o som pode ser absorvido pela lã de
vidro. A plateia possui um volume de aproximadamente 13.000m3 e a área total de plateia é de
aproximadamente 930m2. O palco possui 70m2 de área de proscênio. O arco de proscênio possui
15m de largura e 7,5m de altura. A caixa cênica tem um volume de aproximadamente 8.600m3
com uma área útil de palco de aproximadamente 193m2. A caixa cênica é revestida parte de tijolo
aparente e parte em concreto. O piso do palco é em madeira maciça.

2.2.Caracterização da Concha de orquestra


A concha de orquestra completa empregada nesta pesquisa é do tipo concha articulada, formada
por nove painéis verticais. Os painéis foram construídos em madeira de aproximadamente 6mm
de espessura em formato policilíndrico e montados sobre uma estrutura de alumínio. O sistema é
considerado leve, com densidade superficial de aproximadamente 4,5 kg/m2. Cada painel,
totalmente aberto, possui 3,3m de largura e 6,5m de altura. No palco, o sistema de painéis foi
montado em formato trapezoidal, com três torres abertas compondo o fundo da concha. As

362
paredes laterais foram montadas também usando três torres, não paralelas, formando um ângulo
de aproximadamente 18 graus, conforme Figura 1.

Figura 1: Montagem da Concha de Orquestra sem o teto

O teto é formado por três conjuntos de painéis. Cada conjunto é formado por três painéis de
aproximadamente 4m de comprimento por 3m de largura. Os painéis do teto foram construídos
da mesma forma que os painéis verticais usados nas paredes laterais e são também
policilindricos. Foram montados em cima do sistema vertical com uma distância entre 50cm a
70cm entre cada conjunto e angulados em 5 graus direcionando o som para a plateia. Os
conjuntos do teto tem uma altura diferenciada em 30cm entre cada bloco de painel, sendo o
painel traseiro o mais baixo, praticamente encostado nos painéis verticais e cada grupo de painel
seguinte está 30cm mais alto, conforme Figura 2. Em uma das medições, o conjunto do teto foi
totalmente recolhido, deixando o teto da concha completamente aberto para a caixa cênica do
teatro. Com a finalidade de facilitar a citação de cada uma das formas de montagem, será adotada
a seguinte nomenclatura: Para o sistema de concha montado apenas com as paredes verticais sem
o teto presente, será dado o nome de montagem 1. Para o sistema de concha montado com o
painéis verticais e com o teto presente, será dado o nome de montagem 2.

2.3. Medidas dos parâmetros acústicos


Os parâmetros acústicos escolhidos para caracterizar acusticamente o teatro foram o Tempo de
Reverberação (TR), o Tempo de Decaimento Inicial (EDT) e a Clareza (C80). As medidas dos
parâmetros acústicos foram feitas de acordo com a norma ISO 3382-1 (2009). Foram escolhidas
três posições de fonte no palco, sendo a posição da fonte 1 no local onde se encontra o spalla da
orquestra, a posição da fonte 2 na região das madeiras. A posição da fonte 3 ficou na região das
trompas da orquestra, elevada por um praticável, com aproximadamente 60cm de altura em
relação às outras posições. A posição da fonte 1 encontrava-se fora da concha de orquestra
porque normalmente as orquestras preferem se posicionar o mais próximo da plateia, utilizando
todo o proscênio. De maneira geral, com este tipo de montagem, as cordas ficam praticamente
fora do espaço físico da concha, mas não necessariamente fora de sua ação.
Para as posições de medição foram estabelecidos 26 pontos no teatro, sendo 12 pontos na plateia,
2 pontos nos camarotes centrais, 2 pontos em cada nível de balcão lateral, totalizando 6 pontos e
6 pontos no mezanino.

363
Figura 2: Corte lateral da concha com teto

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Tempo de Reverberação


O resultado do tempo de reverberação médio para as duas configurações pode ser visto na Figura
3. As médias foram obtidas pela média aritmética dos resultados das 3 posições de fonte com os
26 pontos de medição no teatro.
O gráfico da Figura 3 mostra uma pequena variação no tempo de reverberação ao ser adicionado
o teto da concha, aumentando em aproximadamente 0,1s o tempo de reverberação em alta
frequência e diminuindo na mesma proporção o tempo de reverberação em baixa frequência. Esta
mesma variação, em alta e baixa frequência com o ponto comum em 500Hz também acontece ao
se analisar as curvas do Tempo de Reverberação de cada fonte no palco separadamente, com
exceção da fonte 1 (Figura 4). Esta tendência de aumentar o Tempo de Reverberação em alta
frequência e diminuir em baixa frequência é maior para a fonte 3, que está totalmente inserida na
caixa cênica. Na fonte 1, que está dentro do espaço acústico do teatro e não da caixa cênica, esta
tendência não se verifica. Ainda no caso da Fonte 1, o Tempo de Reverberação da configuração 2
é maior em todas as bandas de oitava, sendo igual nas bandas de 125Hz e 250Hz, porém a maior
diferença ainda é de 0,1s. Este comportamento mostra que possivelmente há um problema de
acoplamento entre os espaços no que se referem à baixa frequência quando colocado o teto na
concha. A área de acoplamento entre o volume do teatro e a caixa cênica diminui, já que antes,
toda a área do teto era aberta e, a baixa frequência poderia ser projetada na caixa cênica, sofrer
várias reflexões e depois ser projetada para a plateia.
O tempo de reverberação em alta frequência por sua vez, provavelmente aumentou porque o teto,
com seu formato policilíndrico, propicia a difusão em médias e altas frequências. O som reflete
várias vezes dentro da concha, formando um campo reverberante antes de ser projetado à plateia.
A variação do tempo de reverberação encontrada é pequena, em torno de 6%. Pesquisas mostram
que a diferença no limite do observável (JND – Just Noticeable Difference) para o tempo de
reverberação é um pouco contraditória variando de 4% (BRADLEY, 2011) a 30% (MENG et al.,
2006). Boa parte desta variação deve-se ao fato das diferentes fontes sonoras utilizadas para as
pesquisas. Ainda há a necessidade de pesquisas sobre a diferença mínima notável em parâmetros
como o tempo de reverberação utilizando música ou fala como fontes sonoras. Portanto, não se
pode afirmar que esta diferença possa de fato ser notada pela plateia.

364
Figura 3: Comparativo das médias do Tempo de Reverberação com e sem teto na concha
A partir da análise do desvio padrão dos resultados, percebeu-se a necessidade de saber se a
variação das médias pertencia de fato a dois grupos distintos de resultados. Para isto, foi feita
uma análise estatística para todos os parâmetros analisados utilizando-se o Teste t do Estudante
(SCHENCK, 1979).

Figura 4: Comparativo do Tempo de Reverberação em cada uma das fontes, com e sem teto na concha

O teste mostrou que em altas e baixas frequências, há uma certeza maior que 99,95% de que os
resultados do tempo de Reverberação façam parte de grupos distintos e representam diferentes
tendências.

3.2 Tempo Inicial de Decaimento


O gráfico com as médias do Tempo Inicial de Decaimento – EDT em função de frequência pode
ser visto na Figura 5. O comportamento da curva é o mesmo do Tempo de Reverberação,
entretanto a diferença entre os valores com e sem teto na concha chega a 0,2s. Subjetivamente
esta diferença pode ter um impacto maior na percepção de espacialidade da plateia. Pesquisas
apontam que o Tempo Inicial de decaimento é um parâmetro melhor que o Tempo de
Reverberação para a sensação subjetiva de reverberância e que a energia inicial, especialmente
em média e alta frequência é a responsável por isso (KAHLE; JULLIEN, 1994). A mesma
tendência apresentada pelo Tempo de Reverberação em relação à fonte 1 também é observada
em relação ao Tempo Inicial de Decaimento (EDT). Praticamente em todas as bandas de oitava, a

365
adição do teto da concha aumenta em até 0,2s o valor de EDT com exceção da banda 125Hz
onde o valor é praticamente o mesmo.

Figura 5:Comparativo das médias do Tempo de Reverberação com e sem teto na concha

Para as outras posições de fonte, o gráfico de EDT apresenta a mesma tendência da média e
estatisticamente é possível afirmar que em 125Hz, 1000Hz, 2000Hz e 4000Hz, os valores
obtidos fazem parte de populações distintas com pelo menos 99% de certeza. A redução no valor
de EDT em baixa frequência não é significativa para uma sensação de queda em baixa frequência
pelo espectador. Pesquisas apontam que as primeiras reflexões não são importantes para a
sensação de “calor” (warmth) (SCHULTZ, 1965).

3.3 Clareza – C80


O parâmetro C80 que representa a razão entre a energia sonora inicial até 80ms pela energia
sonora final a partir de 80ms dá a sensação subjetiva de clareza do som. O resultado do gráfico
da Figura 6 mostra que os valores de C80 caíram em todas as bandas de oitava.

Figura 6: Comparativo das médias de C80 com e sem teto na concha


Numa análise simples, pode-se pressupor que ao se adicionar o teto da concha de orquestra, o
número de primeiras reflexões aumenta e por isso ocorra um aumento no C80. Entretanto não é
bem isso o que se observa.

366
Isto pode ter acontecido tanto pelo aumento da energia final como pela diminuição da energia
inicial, possivelmente pelas duas coisas. Em altas e médias frequências, com o aumento do TR,
há a possibilidade de um aumento da energia reverberante e por isso a diminuição do C80. No
caso da baixa frequência a possível causa pode ser o Efeito da Profundidade das Poltronas (Dip
Seat Effect) (BRADLEY, 1991), entretanto seria necessária uma análise mais profunda através de
outros parâmetros como G, Gearly e Glate.

4. CONCLUSÕES

Embora a diferença dos valores do tempo de reverberação tenha sido relativamente pequena, os
valores da diferença do tempo inicial de decaimento foram um pouco mais expressivos,
melhorando a sensação de reverberância e espacialidade do ouvinte. A hipótese de que o teto da
concha aumentasse a quantidade de primeiras reflexões e como consequência elevasse o valor de
C80, não aconteceu. A diminuição dos valores de C80 para médias e altas frequências melhora a
sensação de conjunto junto à plateia. Pode-se concluir que o teto de uma concha de orquestra,
pode fazer diferença na percepção acústica da área da plateia.

AGRADECIMENTOS
Agradeço à CAPES pelo apoio financeiro desta pesquisa.
REFERÊNCIAS

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BRADLEY, J. S. Some further investigations of the seat dip effect. The Journal of the Acoustical
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SKALEVIK, M. Orchestra Canopy Arrays - Some significant features. Joint Baltic-Nordic Acoustics
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367
VERIFICAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO DA FONTE SONORA
NOS PARÂMETROS ACÚSTICOS DO AUDITÓRIO DO LEREE/UFPA A
PARTIR DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS E NUMÉRICOS.

PEREIRA, Lucas C. Azevedo; SOEIRO, Newton Sure; MELO, Gustavo da S. Vieira de

Grupo de Vibrações e Acústica / Universidade Federal do Pará (GVA/UFPA)

RESUMO
Busca-se neste trabalho verificar a influência da posição da fonte sonora em alguns parâmetros acústicos
relacionados à inteligibilidade da palavra, sendo estes o tempo de reverberação (T30) e o tempo de
decaimento inicial (EDT), partindo dos resultados experimentais e numéricos obtidos para o auditório
localizado no Laboratório de Energias Renováveis e Eficiência Energética (LEREE/UFPA) situado na
Universidade Federal do Pará. A caracterização acústica de salas depende de parâmetros que
quantifiquem suas propriedades físicas e geométricas em termos numéricos, podendo ser obtidos de modo
experimental ou através de algoritmos utilizando-se softwares de simulação. Neste último caso, uma
correta predição dos fenômenos relativos à propagação sonora tais como a reflexão, absorção, difusão,
difração, etc., é fundamental na obtenção de resultados plausíveis. Portanto, foi realizado um estudo
comparativo do comportamento acústico do auditório com base no campo sonoro gerado por uma fonte
omnidirecional posicionada em dois locais distintos do ambiente. Constatando-se resultados significativos
em determinadas bandas de frequência principalmente na de 1000 Hz.

ABSTRACT
Search in this work to verify the influence of sound position in two acoustical parameter related to speech
intelligibility, i.e., the reverberation time (T30) and the early decay time (EDT), based on the
experimental and numerical results obtained for the auditorium located in the Laboratory of Renewable
Energy and Energy Efficiency (LEREE / UFPA) located at the Federal University of Pará. The acoustical
characterization of rooms depends on parameters which quantify their physical and geometrical properties
in numerical terms, may be obtained experimentally or by means of algorithms using simulation software.
In this final case, a correct prediction of phenomena related to sound propagation such as reflection,
absorption, diffusion, diffraction, etc.., is fundamental to obtain plausible results. Therefore, were
performed a comparative study of the acoustic behavior of the auditorium based on the sound field
generated by an omnidirectional source placed at two different sites of the environment. Verifying
significant results in certain frequency bandwidth, mainly on 1000 Hz.
Palavras-chave: Fonte sonora. Parâmetros acústicos. Simulação.

1. INTRODUÇÃO
O estudo do som em recintos envolve não apenas uma pesquisa sobre como o este se propaga no
meio, mas também investiga sobre como medir o som em determinadas condições, considerando
o efeito que os materiais empregados exercem na absorção e controle deste (Beranek, 1996). O
avanço nos métodos de projeto e previsão acústica de salas tem mostrado que além do tempo de
reverberação, um dos parâmetros acústicos mais importantes, outras ferramentas tem se
mostrado bastante eficazes em relacionar o comportamento físico de um ambiente com os
diferentes tipos de sensações auditivas (Gerges, 2000).

368
Neste sentido, faz-se necessário identificar que fatores podem influenciar nos resultados
experimentais obtidos para um determinado procedimento de medição. Logo, tomando como
base a metodologia explicitada na norma ISO 3382-2, se evidencia neste trabalho o efeito do
campo sonoro produzido em duas posições distintas de fonte, a fim de se obter resultados
plausíveis de tempo de reverberação (T30) e de decaimento inicial (EDT).

2. IMPLICAÇÕES DO CAMPO SONORO NA QUALIDADE ACÚSTICA DE SALAS


A avaliação do público é de grande importância para determinar a qualidade acústica de um
auditório, portanto, o critério subjetivo do campo sonoro é de maior interesse do que a dispersão
de uma única refleção. Para fala, é necessária uma alta definição a qual pode ser quantificada
através de métodos padronizados de ensaio (Wang, 2003).

Embora não haja nenhuma relação entre a definição da fala e a difusão do salão, sabe-se que a
qualidade acústica do som reverberante depende do grau de difusão da superfície e do espaço
disponível adequado, obtendo-se uma resposta completa da reverberação. Este efeito é alcançado
em grande escala quando o som reverberante chega à posição do ouvinte de todas as direções
dando ao receptor uma sensação de imersão no caso da música.

Embora as pessoas reconheçam que a parte inicial do decaimento (EDT) seja mais preferível
para a reverberação subjetiva do que o tempo de reverberação (TR), indicando uma importância
menor da parte tardia do processo de reverberação, especialmente para a reverberância percebida
enquanto uma música é tocada (running reverberance). Geralmente, em cada sala o som
reverberante é formado após múltiplas reflexões se tornando cada vez mais difuso com o tempo.
Quanto maior o TR, mais difuso o campo sonoro vai ser, podendo as eventuais superfícies
irregulares assumir uma importância menor para o benefício da difusão no final do período.

Foi comumente reconhecido que em salas com dupla inclinação na curva de decaimento
evidenciava uma falta de difusão. O decaimento mais lento do declive final é decorrente
provavelmente aos modos que encontram uma menor absorção ou devido a espaços acoplados
com condições mais vivas (reverberante). No entanto, algumas experiências recentes revelaram
com sucesso que o som reverberante mais tardio é afetado por grandes espaços acoplados, o que
diminui a relação da energia precoce-reverberante sem afetar a força e a qualidade do som
precoce (Wang, 2003).

3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Método Experimental
Para medição do tempo de reverberação foi utilizado como base a Norma Internacional ISO
3382, parte 2, de 2008. A qual especifica métodos para medição do tempo de reverberação em
salas comuns, descrevendo os procedimentos, o instrumento necessário, o número de pontos de
medição, e o método para avaliação dos dados e apresentação do relatório de teste. Sendo assim,
dentre as condições requeridas para a medição usando o método precisão dado pela norma,
podemos destacar basicamente:

3.1.1. Condições de medições gerais


A sala deve estar desocupada, entretanto, pode-se considerar a sala como tal quando houver até
duas pessoas no local. Isto se dá em virtude da possibilidade do número de pessoas poder
influenciar fortemente no tempo de reverberação.

369
3.1.2. Equipamentos
Quanto à fonte sonora esta deverá ser o mais omnidirecional possível, assim como os microfones
utilizados, os quais deverão ter preferencialmente um diafragma com diâmetro máximo de 14
mm.

Embora a ISO 3382-2 exponha sobre a posição da fonte no ambiente, no que diz respeito à
altura, tomou-se como base a ISO 3382-1, usando uma altura de 1,5 m em relação ao piso,
enquanto que os microfones foram posicionados a 1,2 m, que representa a altura média do
ouvido de uma pessoa sentada.

Na Tab. (1) estão listados os equipamentos utilizados para geração, medição, coleta e tratamento
dos sinais necessários à obtenção dos parâmetros acústicos do auditório. O sistema de medição
empregado pode ser visualizado na Fig. (1).

Tabela 1: Relação dos equipamentos de medição.

EQUIPAMENTO REFERÊNCIA
Fonte Omnidirecional Type 4296, Brüel & Kjaer
Amplificador de Potência Type 2716, Brüel & Kjaer
Conversor DA/AD (c/ Preamp.) USB DUO, M-AUDIO
Microfone de campo difuso TC25, EARTHWORKS
Notebook MacBook Intel Core 2 Duo T8300-2.40GHz
Software para medições DIRAC 4.0 Type7841, Brüel &Kjaer

Fonte: Pereira, 2012.

Figura 1: Sistema de medição empregado.


Fonte: Pereira, 2012.

3.1.3. Pontos de Medição


Tendo como base o método precisão da norma para medição do tempo de reverberação, são
necessários pelo menos duas posições de fontes e 12 combinações independentes para fonte-
microfone, e obtendo-se o número de três decaimentos em cada posição, quando utilizado o
método do ruído interrompido. Sendo assim, utilizaram-se 02 (duas) posições de fontes e 06
(seis) posições de microfone, para cada posição de fonte, realizando-se o experimento em duas
etapas.

370
O posicionamento dos microfones deve ser feito criteriosamente, observando-se a importância de
não coloca-los muito perto uns dos outros, caso contrário o número de posições independentes
será menor que o número de posições empregadas.

Referente à distância mínima entre microfone e fonte sonora, a fim de se evitar a influência o
som direto, esta distância pode ser calculada com base na Eq. (1) abaixo:

[Eq.01]

Onde, V é o volume em metros cúbicos, c a velocidade do som em metros por segundo, e T uma
estimativa do tempo de reverberação esperado em segundos. Assim, com base na Eq. (1) e
adotando-se como referência um T = 1,50 s, obtemos uma distância mínima de 1,15 m.
Entretanto, foi utilizado o valor mínimo de 2 m, equivalente a um T = 0,50 s aproximadamente.

3.1.4. Procedimento de medição


A faixa de frequência utilizada em medições depende do propósito desta, contudo, tanto para o
método precisão quanto para o método engenharia dado pela ISO 3382-2 a faixa de frequência
deve cobrir pelo menos as bandas de 125 Hz a 4000 Hz em bandas de oitava, ou de 100 Hz a
5000 Hz em bandas de um terço de oitava. Em virtude do software Odeon, utilizado no método
numérico descrito a seguir, analisar apenas em bandas de oitava, os resultados experimentais
obtidos foram extraídos apenas para bandas de oitava de 125 Hz a 8000 Hz e não para as de um
terço de oitava.

A ISO 3382 descreve duas metodologias de medição, a do ruído interrompido e o da resposta


impulsiva, neste trabalho utilizou-se o segundo método, utilizando-se o software comercial Dirac
4.0, da B&K. Este programa utiliza um sinal MLS (Maximum Length Sequence) para obtenção
da resposta impulsiva.

Em cada posição de medição foram obtidos três decaimentos, embora, a incerteza da medição ao
se empregar a resposta impulsiva integrada, apresente uma ordem de magnitude equivalente a 10
médias, obtidas em cada posição pelo método do ruído interrompido, não havendo assim a
necessidade de se realizar médias adicionais para aumentar a precisão da medição estatística em
cada posição.

3.2. Método Numérico


A utilização de métodos numéricos auxilia na determinação exata ou aproximada de problemas
modelados matematicamente, são, portanto ferramentas para obtenção de soluções numéricas.
Estes transportam a realidade física para a linguagem computacional, otimizando a aquisição dos
resultados. Portanto, devem ser analisados detalhadamente a fim de se garantir uma fiel
reprodutibilidade do fenômeno estudado.

É valido ressaltar que alguns cuidados na simulação acústica devem ser observados, pois, além
das precauções quanto à modelagem da propagação sonora no meio, devem-se modelar
adequadamente outros elementos tais como as fontes, os receptores e as superfícies de contorno
da sala para que não haja resultados divergentes (Tenenbaum e Camilo, 2004).

Foi utilizado na modelagem numérica para obtenção, análise e adequação dos parâmetros
acústicos o software Odeon versão Combined 10.0, da B&K. Embora haja a possibilidade de

371
gerar o modelo geométrico do auditório no Odeon preferiu-se importa-lo do programa AutoCad,
cuja geometria foi construída por meio da ferramenta “3d face”.

Após importar o modelo geométrico do auditório para o Odeon foram inseridas as orientações
dos receptores e das fontes bem como as propriedades desta e posteriormente aplicou-se às
superfícies os seus respectivos materiais.

Quanto aos parâmetros de simulação adotados para o modelo numérico, foram informados:

• Temperatura de 25ºC e umidade relativa de 56%, que se referem aos valores medidos
durante a medição experimental;
• 2 posições de fontes, sendo estas do tipo pontuais e omnidirecionais com NWS de 80 dB;
• 6 pontos de microfones (Fig. 2);
• Comprimento da resposta impulsiva de 1500 ms. Este valor corresponde a
aproximadamente a 102% do maior tempo de reverberação conforme recomendação do
Odeon;
• 8910 raios, que corresponde a um parâmetro padrão sugerido pelo Odeon para obtenção de
respostas impulsivas com precisão de engenharia.

03 01
Fonte 01

02
05
Fonte 02
06 04

Figura 2: Localização dos pontos de medição e


das fontes sonoras do modelo inserido no Odeon.
Fonte: Pereira, 2012.

É importante ressaltar que o software sugere valores que podem ser considerados seguros caso
não haja exigências especiais, podendo ser desejável nestes casos, aumentar o número de raios.
Para auxilio do usuário o Odeon disponibiliza três configurações de calculo conforme a
finalidade do estudo, sendo elas: Inspeção (Survey), Engenharia (Engineering) ou Precisão
(Precision). Para a modelagem do Auditório do LEREE/UFPA, foi utilizada a configuração
Engenharia, pois os resultados quando comparados com a configuração Precisão, não
apresentaram divergências significativas.

Para prever a resposta de uma fonte pontual a um receptor o ODEON utiliza um método de
cálculo híbrido, onde as “primeiras reflexões” são calculadas usando uma combinação do
método da Fonte Imagem (Image Source) e o de Traçado de Raios (Ray-tracing) e as reflexões
finais são calculadas através de um processo especial, onde é gerando fontes secundárias que
irradiam energia localmente a partir da superfície das paredes. As respostas de fontes em linha e
de superfície são realizadas utilizando o método especial de traçado de raios. Os cálculos
372
realizados são divididos em um processo de duas etapas uma dependente e outra independente
do receptor (Christensen, 2009).

4. CARACTERIZAÇÃO DO AUDITÓRIO
A estrutura do Laboratório de Energias Renováveis e Eficiência Energética é de concreto armado
com alvenaria de tijolo cerâmico de 6 furos. As paredes internas do Auditório são rebocadas,
emassadas e pintadas com tinta acrílica na cor branco gelo. A cobertura é de telha de barro tipo
plan sobre estrutura de madeira, exceto as circulações que são em policarbonato reflexivo sobre
estrutura metálica.

O auditório possui área de 48 m2 e dois acessos, um voltado para a circulação social e o outro
para o Laboratório de Qualidade de Energia (ver Fig. 3). O forro é em PVC inclinado que gera
uma variação de pé-direito em três níveis, sendo eles: 2,60 m, 3,65 m e 4,80 m. No nível de 4,80
m estão localizados balancins tipo basculante em madeira e vidro simples de 4 mm para entrada
de luz natural.

Abertura

Figura 3: Planta baixa e corte esquemático do Auditório (3), Lab. de Qualidade de Energia
(2) e corredores de acesso (1).
Fonte: Pereira, 2012.

Os acessos são por meio de duas portas, uma de abrir com 1 folha em madeira de lei, medindo
1,00 m x 2,60 m com bandeira tipo basculante em madeira e vidro simples de 4 mm e a outra
medindo 1,00 m x 2,10 sem bandeira. Possui duas janelas de 1,80 m x 1,75 m em madeira de lei
e vidro comum de 4 mm, com 3 folhas pivotantes e bandeira tipo basculante no mesmo material
da janela.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com base na Fig. (4), onde são expostos os valores comparativos do T30 e do EDT para duas
posições de fonte obtidos através de uma média temporal e espacial do auditório do
LEREE/UFPA, podemos constatar uma variação significativa nos valores do T30 (ver Fig. 4a),
nas bandas de 125, 250 e 1000 Hz.

Sabendo-se que o tempo de reverberação relaciona-se com as características físicas do ambiente


e decorre das reflexões oriundas de praticamente todas as superfícies da sala, sendo independente
da geometria desta (ISO 3382-1, 2009; Mehta, et al, 1999), a variação percebida (ver Fig. 4a) pode
ser decorrente, dentre outros fatores, da abertura existente entre o Auditório e o Laboratório de
Qualidade de Energia (ver Fig. 3), cujo acoplamento pode ocasionar numa curva de decaimento
sonoro com dupla inclinação em determinadas bandas de frequência.

373
(a) (b)
Figura 4: Resultados comparativos para o T30 (a) e o EDT (b) medido e o simulado para as duas
posições de fonte.
Fonte: Pereira, 2012.

Diferentemente do T30, ao analizarmos a média temporal e espacial do EDT (ver Fig. 4b)
podemos observar uma tendência entre os valores obtidos tanto para a fonte 01 quanto para a
fonte 02. Ainda, sabendo-se que o tempo de decaimento inicial (EDT) é sensível à geometria,
visto que as reflexões iniciais provêm de superfícies identificáveis do auditório, faz-se necessária
uma análise mais aprofundada para cada ponto de medição.

Assim, nas figuras abaixo vemos o comportamento para cada ponto de medição para os valores
de tempo de reverberação (Fig. 05) e de decaimento inicial (Fig. 06).

(a) (b)
Figura 5: Valores de T30 obtidos em 6 pontos de medição para as posições 01 (a) e 02 (b) da fonte.
Fonte: Pereira, 2012.

374
(a) (b)
Figura 6: Valores de EDT obtidos em 6 pontos de medição para as posições 01 (a) e 2 (b) da fonte.
Fonte: Pereira, 2012.

Dentre os fatores que podem influenciar na variação das medições do EDT, podemos destacar as
características do local onde as fontes e os microfones estão posicionados. A posição 01 da fonte
sonora (ver Fig. 2) sofre grande influência da área de plateia, onde há a presença de cadeira
acolchoadas, enquanto que na posição 02 não há uma influência direta tão significativa.

6. CONCLUSÕES
Com base nos resultados encontrados podemos constatar que o posicionamento da fonte sonora no
auditório do LEREE/UFPA evidencia algumas características não difusas do campo sonoro, podendo
influenciar em vários parâmetros acústicos. Assim, quanto aos parâmetros avaliados, pode-se observar
que a posição da fonte sonora influência com maior intensidade nos valores do T30 do que nos valores do
EDT. Contudo, os resultados obtidos ainda não são totalmente conclusivos, pois se faz necessária uma
avaliação mais criteriosa tomando como base outras posições de fonte e pontos de medição, identificando
ainda outros fatores que venham influenciar nos parâmetros acústicos avaliados.

Propõe-se para estudos posteriores uma análise mais aprofundada na curva de decaimento sonoro para as
bandas de frequência que foram mais influenciadas pelo posicionamento da fonte e nos efeitos causados
pela abertura existente entre o Auditório e o Laboratório de Qualidade de Energia.

REFERÊNCIAS

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3. ISO 3382 – 1: 2009. Acoustics – Measurement of room acoustic parameters – part 1: performance spaces.
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Absorbing Material, Building Acoustics, Vol. 11, No. 1, pp. 39-60.
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implantação computacional e validação experimental. I Seminário Música Ciência Tecnologia: Acústica
Musical, São Paulo, Brasil. 26 de Maio 2011, <http://gsd.ime.usp.br/acmus/publi/ textos/06_gerges.pdf>.
8. Wang, Ji-quing. (2003). Diffusion and Auditorium Acoustics, Building Acoustics, Vol. 10, No. 3, pp. 211-219.

375
SALAS DE CINEMAS PROJETADAS PELO ARQUITETO RINO LEVI:
AVALIAÇÃO ATRAVÉS DA RECONSTRUÇÃO ACÚSTICA

TAMANINI, Carlos Augusto de Melo1; BISTAFA, Sylvio Reynaldo2


(1) Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Bolsista CNPq -
camtamanini@uem.br;
(2) Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Mecânica, POLI, Universidade de São Paulo,
São Paulo/SP - sbistafa@usp.br

RESUMO
Este estudo visou realizar um resgate histórico e, através do método de modelagem acústica, reconstruir
acusticamente as salas de cinema projetadas pelo arquiteto Rino Levi. Utilizando dados mensuráveis e
relatos publicados por Rino e outros autores, modelos foram criados. A partir dos modelos, realizaram-se
comparações e avaliações dos parâmetros acústicos e das respostas, obtidas através de mapas acústicos
gerados por simulações, para verificar as técnicas e soluções empregadas pelo arquiteto. Comprovou-se que
a metodologia desenvolvida pelo arquiteto para a realização do tratamento acústico da sala do cinema é
pertinente e inovadora para a época, entretanto algumas técnicas e soluções, em função dos resultados
apresentados, passam a ser questionadas. A importância de Levi para a acústica no Brasil é incontestável,
mas suas soluções, até divulgadas como muito eficientes, devem ser repensadas e tratadas com critérios para
a correção de possíveis falhas. Finalmente, o contato com essas salas de cinema projetadas por Levi foi
significativo, independente dos resultados, por constatar a sua visão sobre arquitetura, baseada na técnica e
nos princípios científicos, enfatizando um raciocínio projetual que revela a clareza de sua arquitetura.

ABSTRACT
A historical virtual acoustical reconstruction was developed in five movie theaters designed by the architect
Rino Levi from 1936 to 1941, in the cities of São Paulo and Recife, by means of computer simulations. Such
approach was chosen because these movie theatres have been demised or are now used with different
purposes. Rino Levi is recognized as one of the Brazilian greatest architects, and the present work shows that
he was perhaps the first to introduce the scientific results of Sabine in the design of acoustical sensitive
rooms. By means of the original drawings and reports published by Rino Levi and others, geometric models
have been created to carry out the computer simulations. From these models, Reverberation Times and Early
Decay Times were obtained, and maps of speech intelligibility parameters such as C50 and RaSTI
throughout the audiences have been generated. These allowed the evaluation of the acoustical results that
would have been achieved by Rino Levi in these cinemas. Although the approaches employed by Rino Levi
was considered innovative at that time, it is shown that some of his solutions, particularly those related to the
shapes of the internal surfaces and structures, may be questioned by the present day knowledge. Finally,
regardless of the criticisms that can now be made to his approaches in the acoustical design of rooms, the
acoustical reconstruction of the movie theaters designed by Rino Levi was significant, because it has been
possible to get acquainted with his views of architecture, which had been based on technical and scientific
principles, emphasizing a project reasoning that reveals the clarity of his solutions.

Palavras-chave: Acústica Arquitetônica. Cinema. Levi, Rino (1901-1965).

1. INTRODUÇÃO
O cinema é um exemplo de sala que deve ser concebida para se ouvir com clareza e nitidez a fala, a
música e os efeitos de som, caso contrário, será uma sala malsucedida. Considerado “sétima arte”, o
cinema, palavra que é empregada para designar tanto a mídia quanto o local de exibição, necessita

376
de uma arquitetura que acompanhe a evolução técnica e conceitual da mídia cinematográfica,
estabelecendo uma ligação estreita mídia-espaço arquitetônico, tornando-se um espaço único que
reflita a especificidade da mídia cinematográfica.

Uma das principais condicionantes é a acústica e, para analisar as condições de conforto acústico de
uma sala, é necessário compreender a qualidade interna do ambiente e a influência do meio externo.
A qualidade interna do ambiente refere-se em geral à geometria do ambiente, à absorção sonora dos
objetos e superfícies, à potência e localização das fontes sonoras. A influência do meio externo está
associada à existência de fontes de ruído externo e à qualidade do isolamento das superfícies frente
a esse ruído.

Através dessa descrição, torna-se necessária a realização de um resgate histórico nas salas de
cinema projetadas pelo arquiteto Rino Levi, devido à importância dessas para o estudo da acústica
no Brasil, tendo como objetivo, através da reconstrução acústica, identificar e avaliar as soluções
em relação à acústica adotadas nas salas de cinema pelo arquiteto Rino Levi.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1. Reconstrução das salas de cinema
A reconstrução virtual das salas foi fundamental para a realização dos objetivos. Foram realizadas
pesquisas para a obtenção de referências que contribuíssem para a realização dos objetivos
propostos, e foram encontrados poucos trabalhos com as mesmas particularidades.

Destaca-se o estudo “The fall and rise of the Fogg Art Museum Lecture Hall: a forensic study”,
realizado pelos pesquisadores Katz e Wetheril (2007). O estudo apresenta, através do método de
modelagem acústica, a reconstrução acústica da sala de leitura do Museu de Arte Fogg, comparando
os parâmentros acústicos e avaliando a qualidade da sala.

Através dessa referência, a reconstrução das salas de cinema foi obtida após o estudo sobre a vida
do arquiteto Rino Levi. Primeiramente, estudou-se a biografia, apresentando algumas características
do arquiteto, como a sua produção arquitetônica e a sua relação arquitetura/acústica.

A construção do modelo das salas foi realizada no programa Autocad. O Autocad é um software
criado e comercializado pela Autodesk, sendo utilizado para a elaboração de desenhos técnicos
(MIYAMOTO, 2009). Após a construção do modelo, exportou-se para um software de acústica.

Existem diversos softwares de acústica, e a definição de qual seria o ideal para essa pesquisa é
decorrente de um trabalho programado realizado na disciplina Acústica de Salas do doutorado. No
trabalho programado, foram utilizados alguns softwares de acústica, como Catt, Odeon e EASE,
para avaliar um cinema, e as vantagens apresentadas pelo Ease, decidiram a sua escolha. O
programa EASE 4.2 da empresa “Acoustic Design Ahnert” (Alemanha), gentilmente cedido pelo
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá, é um software que
oferece recursos de simulação, cálculos e apresentação de diversos parâmetros acústicos.

As análises no programa são realizadas através do método clássico e do método da resposta


impulsiva. O método clássico permite a verificação do tempo de reverberação para as fórmulas de
Sabine ou Eyring. As fórmulas de Sabine ou Eyring são determinadas a partir do volume e dos
coeficientes de absorção dos modelos. Esse método foi o mesmo utilizado por Levi para a
determinação dos tempos de reverberação das salas de cinema, sendo assim, será adotado nessa
pesquisa (RENKUS-HEINZ Inc., 2008).

377
O método de análise, realizado através da resposta impulsiva, permite a determinação de outros
parâmetros acústicos que avaliam a qualidade acústica das salas, como definição, clareza e
inteligibilidade, entre outros. Esses parâmetros são definidos pela norma ISO 3382.

2.2. Parâmetros acústicos para avaliar a qualidade sonora de salas


O objetivo do projeto acústico de uma sala é a obtenção de boas condições, que são bastante
diversas em função do tipo de atividade realizada nessa sala. Seja para cinema, para teatro, para
música, valores são adotados para cada atividade, visando qualificar e diferenciar uma sala da outra
e determinando se a sala tem ou não boa acústica.

Existem diversos estudos e pesquisas que investigam e apresentam parâmetros que qualificam esses
ambientes. Para as salas de cinemas, os parâmetros restringem-se praticamente ao nível de ruído de
fundo e ao tempo de reverberação.

Entretanto, como foi realizada uma avaliação comparativa, alguns atributos subjetivos relevantes
para as salas de cinemas foram apresentados, como a clareza, a espacialidade e a intensidade
sonora. Esses atributos estão intimamente relacionados com a geometria da sala e com o tratamento
das superfícies.

Esses atributos definem a impressão acústica de um ambiente, qualificando-os. Para qualificar esses
atributos, temos os parâmetros objetivos definidos como índices numéricos mensuráveis,
correlacionados com atributos subjetivos e suficientes para descrever as qualidades acústicas de
ambientes reais ou virtuais (PASSIERI, 2008).

Diversos parâmetros visam avaliar objetivamente a qualidade sonora de uma sala. Serão
apresentados, apenas dois, tempo de reverberação – TR, índice de transmissão da fala, em virtude
do número limitado de páginas do artigo, que auxiliaram para qualificar as salas simuladas.

2.3.1. Tempo de reverberação - TR


O mais conhecido, o mais antigo e o principal parâmetro que permite a caracterização de uma sala é
o tempo de reverberação. Este pode ser definido como o tempo que a energia de um campo sonoro
reverberante estacionário leva a decair 60 dB após a extinção da fonte sonora.Esse parâmetro foi
proposto por Wallace Clement Sabine no início do século XX e, apesar do surgimento de outros
parâmetros, continua sendo o mais importante (PASSIERI, 2008).

O tempo de reverberação ideal para cinemas pode ser fixado seguindo recomendações estabelecidas
por algumas associações e empresas que visam à qualidade técnica das salas de cinema, como a
Associação Brasileira Cinematográfica (ABC) e os sistemas de certificação THX® e Dolby®. Será
empregado o método para a determinação dos valores ideais para o tempo de reverberação
estabelecido pela ABC, em função de ser a recomendação técnica adotada no país.

3. CINEMAS PROJETADOS PELO ARQUITETO


Os modelos sobre as salas foram recuperados para que as suas características acústicas pudessem
ser exploradas novamente. Modelos computacionais foram utilizados para comparar as várias
possibilidades, em busca de uma realidade próxima das salas originais. As informações históricas
encontram-se em forma de documentos de arquitetura, artigos científicos, artigos em jornais, bem
como em entrevistas e fotos, fornecendo ideias sobre as salas de cinema.

Serão apresentados cinco cinemas projetados por Rino Levi. Quatro se encontram na cidade de São
Paulo: Cine Ufa-Palácio, Cine Universo, Cine Piratininga, Cine Ipiranga; somente um localiza-se na

378
cidade de Recife, o Cine Art-Palácio. Os cinemas marcam o início de uma nova fase na produção e
na vida profissional do arquiteto.

O primeiro cinema a ser projetado por Rino Levi foi o Ufa-Palácio, em 1936. Com características
modernas e elaborado estudo de acústica, o projeto tornou-se referência, resultando em uma série de
encargos com o mesmo programa: o Cine Universo (1936), o Cine Art-Palácio de Recife (1937), o
Cine Ipiranga (1941) e o Cine Piratininga (1941). Esses cinemas se tornaram obras de presença
marcante no contexto urbano e cultural da época e de grande importância na construção da
arquitetura moderna no Brasil.

Para Rino Levi, a melhor forma para atender às necessidades acústicas seria a paraboloide: enfatiza,
em todos os projetos, que a parábola, uma abstração matemática, significa a melhor solução de
acústica. Nesse contexto, a parábola, passa a significar a acústica dentro do conjunto do projeto
(ANELLI, 1990). Percebe-se que os cinemas de Rino Levi permitem e exigem um estudo mais
aprofundado do projeto, destacando elementos, neste caso a acústica, que enfatiza o seu raciocínio
projetual e revela a clareza de sua arquitetura. Para isso, foram analisados os projetos das salas de
cinema projetados por Rino Levi.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Atualmente, como já citado, a bibliografia que avalia os aspectos relacionados à correta resolução
acústica de salas de cinemas é conclusiva: os parâmetros Nível de ruído de fundo – NC e tempo de
reverberação – TR são determinantes. No nosso caso, o objetivo é identificar e avaliar as soluções
em relação à acústica adotadas nas salas de cinema pelo arquiteto Rino Levi, respeitando as
características e especificidades para a época em que foram construídas.

Os parâmetros TR e RaSTI são apresentados para duas situações: sala vazia e sala lotada. Esses
parâmetros apresentam critérios que avaliam as salas de cinema. Através dessas comparações,
verifica-se a influência das dimensões entre salas, a relação entre essas dimensões, a relação de
volume por espectador e a geometria de cada sala reconstruída virtualmente.

Através da avaliação dos resultados, é possível comprovar se existe uma relação entre os projetos
do arquiteto Rino Levi para salas de cinema e se as técnicas empregadas contribuíram para os
resultados pretendidos. Apresenta-se primeiramente o TR, utilizando os critérios ABC para a
avaliação das salas; posteriormente são apresentados RaSTI, e a geometria das sala.

4.1. Tempo de Reverberação – TR


Em relação ao Tempo de reverberação – TR, realiza-se a avaliação através dos parâmetros
estabelecidos pela Associacão Brasileira de Cinematografia – ABC para a situação de sala vazia e
sala lotada. Os gráficos de referência ABC (figura 01) mostram o comportamento da sala vazia
(linha azul) e da sala lotada (linha vermelha) das cinco salas projetadas pelo arquiteto Rino Levi.

Verifica-se que as salas apresentaram o mesmo comportamento na situação de sala vazia. Destaca-
se o Cine Ufa-Palácio, que apresentou valores dentro do recomendado a partir de 4.000Hz. Na
situação de sala lotada, os Cines Ufa-Palácio e Ipiranga apresentaram os melhores desempenhos. O
Cine Ufa-Palácio apresentou os valores dos TRs dentro dos limites em praticamente todas as
frequências, exceto para a frequência de 125Hz.

No Cine Ipiranga, os valores dos TRs estão próximos do limite superior para as frequências de 63 a
500Hz e a partir desta encontra-se dentro do limite inferior e recomendado. Os cines Universo, Art
Palácio e Piratininga apresentaram resultados parecidos e acima dos limites superiores e somente
para as altas frequências mostraram resultados dentro dos limites.

379
Figura 01: Enquadramento segundo as prescrições da ABC, dos tempos de reverberação de
cinco cinemas projetados por Levi, nas situações de sala vazia e sala lotada, gerados pelo
programa de simulação EASE, utilizando a fórmula de Eyring

4.2 Inteligibilidade da palavra falada - STI


Os valores estabelecidos para mensurar a inteligibilidade são: 0,6 – 1,00= Muito bom; 0,45 – 0,60=
Bom; 0,3 – 0,45= Pobre e 0 – 0,3= Inaceitável.

A inteligibilidade da palavra falada – RaSTI segue o mesmo comportamento encontrado em relação


ao tempo de reverberação para as situações de ocupação, conforme pode ser visto na figura 02.

Figura 02: Inteligibilidade da Palavra Falada dos cinco cinemas projetados por Levi, nas situações
de sala vazia e sala lotada, gerados pelo programa de simulação

380
Na situação de sala vazia, os valores encontram-se entre 0,37 e 0,60. Destaca-se o Cine Universo,
que apresenta os piores resultados, entre 0,33 e 0,53, com uma concentração entre 0,33 e 0,40 numa
grande área da sala. Novamente o Cine Ufa-Palácio apresenta os melhores resultados, entre 0,40 e
0,70; é o único que apresenta valores considerados bons.

Com o aumento no número de espectadores, a qualidade da sala vai melhorando, bem como,
diretamente, a inteligibilidade, como pode ser visto para a situação de sala lotada (figura 02). Para a
situação de sala lotada, as salas apresentam numa grande área valores acima de 0,45, classificado-as
como bons; entretanto apresentam alguns locais com problemas de inteligibilidade, como o
primeiro balcão do Cine Universo, o balcão do Cine Art Palácio e a plateia e o balcão do Cine
Piratininga.

4.3 Geometria das Salas


A forma de um ambiente não é garantia de um bom desempenho acústico, principalmente se não for
dada a devida atenção aos aspectos relativos à difusão sonora da sala e às reflexões do som dos alto-
falantes, mas é determinante no desempenho da sala. Na figura 03, verifica-se a geometria das salas.

Figura 03: Geometria das salas

A difusão relaciona-se com o desenho dos detalhes no interior da sala, e uma das características das
salas construídas no início do século XX, período do advento da arquitetura moderna, reside no fato
do fim de ornamentos que contribuíam na difusão sonora nas salas construídas até então. O
arquiteto Rino Levi, um dos precursores da arquitetura moderna no Brasil, adere a essa
característica, realizando desenhos limpos e sem ornamentos.

Dos cinemas projetados, o Cine Ufa-Palácio é o que apresenta desenho um pouco mais detalhado;
posteriormente, como o próprio arquiteto enfatiza que as pessoas já estavam mais preparadas, passa
a adotar nos outros cinemas um desenho mais limpo.
Em relação ao formato das salas, verifica-se uma sala em formato retangular; a do Cine Ufa-Palácio
e as outras em formato de leque: Cines Universo, Art Palácio, Ipiranga e Piratininga. As salas em
formato retangular garantem reflexões laterais que proporcionam a impressão subjetiva de
envolvimento e imersão e apresentam um campo sonoro mais difuso (BISTAFA, 2004). Isso é
comprovado no Cine Ufa-Palácio, através das figuras 01, 02, que mostram que o RaSTI,
apresentam os melhores resultados.

381
A ênfase do arquiteto em relação às considerações para o projeto acústico, em relação à geometria
da sala, refere-se à forma paraboloide. A forma utilizada discretamente no Cine Ufa-Palácio é
empregada nos outros projetos para a determinação do desenho da planta, do piso, do teto, do
balcão e de detalhes, como painéis refletores do teto e laterais. A forma paraboloide nos projetos de
Levi é resultado de suas referências: a primeira, do seu professor Piacentini, um dos criadores da
arquitetura de cinemas na Itália; a segunda, do físico Sabine, referência em acústica arquitetônica; a
terceira, de Le Corbusier, referência na arquitetura moderna. Piacentini apresentou o tema acústica e
exemplos que aplicavam os princípios científicos de acústica; Sabine colaborou para o
desenvolvimento do método de projeto de Levi, obtido através do estudo da teoria de acústica
elaborada por ele mesmo e, finalmente, Le Corbusier elaborou o projeto de um auditório utilizando-
se das curvas paraboloides visando a melhor difusão.

5. CONCLUSÕES
A reconstrução acústica das salas de cinema projetadas pelo arquiteto Rino Levi possibilitou o
estudo de um dos personagens mais importante da arquitetura brasileira. Verificou-se a visão de
Levi em relação ao comportamento do profissional arquiteto, que deve ser técnico e artista, ou seja,
conhecer os fenômenos físicos e acompanhar os progressos realizados em todas as áreas que
envolvem a arquitetura. Destaca-se a acústica, que começava a ser estudada por alguns
pesquisadores e já indicavam possibilidades e vasto campo de aplicações dessas teorias.

Essas possibilidades são identificadas nos projetos de Levi, que concebeu uma articulação com a
teoria acústica do pesquisador Sabine numa formalização arquitetônica, criando expressões estéticas
imprevistas como, por exemplo, a forma paraboloide. O conhecimento dessas teorias está inserido
nos projetos do cinema do arquiteto, tornando-se um dos seus grandes diferenciais, pois permitia a
resolução de problemas e a obtenção de projetos que destacam a acústica como a principal
condicionante.

A acústica torna-se protagonista nos seus projetos de cinemas, e as considerações para o


desenvolvimento dos projetos visam a uma qualidade para os espectadores. Essas considerações
baseiam-se na distribuição uniforme do som em todos os pontos da plateia e na inteligibilidade do
som. Nesse contexto, essa pesquisa identificou e avaliou as soluções adotadas em relação à acústica
das salas de cinema projetadas por Levi, através da avalição de alguns parâmetros acústicos.

Os parâmetros acústicos avaliados auxiliaram para a compreensão dos resultados encontrados nas
salas reconstruídas virtualmente. Através da média dos parâmetros avaliados para a frequência de
referência 500Hz, na condição de sala vazia e de sala lotada, gerados pelo programa EASE 4.2,
apresenta-se a relação desses parâmetros nas tabelas 01 e 02.

Tabela 01: Relação entre os parâmetros (média) – 500Hz (Sala Vazia)


EDT (s) RaSTI D50 (%) C80(dB)
Cine Ufa-Palácio 2,76s 0,52 41,05% 0,47dB
Cine Ipiranga 2,83s 0,47 36,05% -0,88dB
Cine Art Palácio 2,96s 0,46 33,97% -1,19dB
Cine Piratininga 3,48s 0,42 29,86% -2,01dB
Cine Universo 3,71s 0,40 23,54% -3,74dB
Tabela 02: Relação entre os parâmetros (média) – 500Hz (Sala Lotada)
EDT (s) RaSTI D50 (%) C80(dB)
Cine Ufa-Palácio 1,87s 0,56 45,66% 1,64dB
Cine Ipiranga 2,38 0,50 41,95% 0,54dB
Cine Art Palácio 2,64s 0,49 40,38% 0,22dB
Cine Piratininga 3,16 0,48 36,86% -0,54dB
Cine Universo 3,07s 0,48 35,34% -0,63dB

382
Nos valores apresentados nas tabelas 01 e 02, verifica-se uma relação entre os resultados de alguns
cinemas. O cine Ufa-Pálacio apresenta comportamento distinto e os melhores resultados nas duas
condições de ocupação. Os outros quatro cinemas podem ser resumidos em dois grupos: os cines
Art Palácio e Ipiranga, num primeiro grupo, apresentando resultados intermediários, e os cines
Universo e Piratininga, num segundo grupo, apresentando os piores resultados.

Através desses resultados, algumas soluções passam a ser questionadas, visando determinar a
influência dessas considerações acústicas nos projetos de sala de cinema projetados por Levi, como
a forma arquitetônica, a difusão e a determinação do tempo de reverberação.

Destaca-se novamente a forma parábola, considerada pelo arquiteto como a mais apropriada para a
difusão do som e a que melhor atende as propriedades acústicas. Diversos pesquisadores
divulgaram essa solução técnica, através de artigos, dissertações e teses, entretanto nunca estudaram
para comprovar a sua eficiência. Nesse estudo, através da comparação de parâmetros acústicos
entre os cinemas projetados pelo arquiteto, avaliou-se que essa solução passa a ser questionada.

Apesar de verificar que algumas soluções não apresentaram um desempenho plenamente


satisfatório, a importância de Levi para a introdução e valorização da acústica no Brasil é
incontestável. O arquiteto torna-se referência e os seus procedimentos projetuais passam a ser
utilizados por diversos arquitetos para a elaboração dos seus projetos, pois para Levi a arquitetura
resulta de uma compreensão racional do programa, ou seja, arquitetura é arte e ciência.

REFERÊNCIAS
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Estadual de Campinas, 1990.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMATOGRAFIA. ABC. Projeto de recomendação técnica ABC:
arquitetura de salas de exibição. Disponível em: <www.ctav.gov.br> Acessado em: 10 fev. 2010.
3. Bistafa, S. R. Difusão sonora em salas: paradigmas do passado e estado da arte. In: I SEMINÁRIO DE MÚSICA,
CIÊNCIA E TECONOLOGIA, 2004. São Paulo. Anais do I Seminário de Música, Ciência e Teconologia. São Paulo,
2004, p.98-129.
4. ISO. 3382: Acoustics – Measurement of room acoustic parameters – Part 1: Performance spaces, 2009.
5. Katz, B. F. G.; Wetherill, E. A. “The fall and rise of the Fogg Art Museum Lecture Hall: a forensic study”.
Acoustics Today, Jul, 2007.
6. Levi, R. Arquitetura é arte e ciência. Revista Óculum, n.3, Campinas, 1993.
7. Miyamoto, R. T. Modelagem tridimensional com geometria construtiva de sólidos (CSG) para projetos de
engenharia e arquitetura em sistemas CAD visando a portabilidade e estabilidade de objetos 3D. 2008. Dissertação
(Mestrado) Departamento de Engenharia Civil – UEM, 2008.
8. Passeri JR, L. Subsídios para o projeto de teatros e auditórios multifuncionais: recursos de variabilidade acústica.
2008. 198f. Tese (Doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2008.
9. RENKUS-HEINZ Inc. EASE 4.2 Tutorial. Ease Software. ADA, Germany, 2008.
10. Sabine, P.E. Acoustics and architectures. New York and London, McGraw-Hill Book Company, Inc., 1932.
11. Sabine, W.C. Collected Pappers on Acoustics. New York and London, McGraw-Hill Book Company, Inc., 1922.
12. Yokota, T.; Sakamoto, S.; Hideki, T. Visualization of sound propagation and scattering in rooms. Acoustic, Science
and Technology, n.23, 2002. Disponível em <www.jstagejst.go.jp>. Acessado em: 10 jan. 2011.

383
AVALIAÇÃO DE INTELIGIBILIDADE EM SALAS DE AULA DO
ENSINO FUNDAMENTAL A PARTIR DAS RESPOSTAS IMPULSIVAS
BIAURICULARES OBTIDAS COM CABEÇA ARTIFICIAL INFANTIL

MELO V.S.G.1; TENENBAUM R.A.2; MUSAFIR R.E.1


Programa de Engenharia Mecânica, COPPE, UFRJ; (2) Pós-Graduação em Modelagem Computacional, IPRJ, UERJ

RESUMO
Este artigo reporta uma nova metodologia para a avaliação de inteligibilidade em salas de aula do Ensino
Fundamental. A inteligibilidade é avaliada a partir do levantamento de respostas impulsivas biauriculares
nas salas, utilizando-se como emissor do sinal sonoro de varredura um orador artificial e como receptor
uma cabeça artificial de dimensões infantis. Testes de articulação são conduzidos em salas de aula
gerando-se listas de monossílabos, para validar a técnica. Os ditados são gravados com a cabeça artificial
infantil. Em laboratório, são geradas, a partir das medições, aurilizações que são, em seguida, testadas em
crianças por meio de fones de ouvido devidamente equalizados. A metodologia utilizada e os principais
resultados obtidos são apresentados e discutidos. Demonstra-se neste trabalho que a partir das respostas
impulsivas biauriculares é possível geral aurilizações realísticas para condução de testes virtuais com um
erro médio inferior a 2%. A técnica proposta prescinde da presença dos alunos em sala de aula.

ABSTRACT
This paper reports a new methodology to assess the word intelligibility of first level classrooms. The
intelligibility is evaluated from the binaural impulse responses measured in the rooms, having as sound
source an artificial speaker emitting a sweep and, as a receiver, a dummy head with anthropometric
dimensions of a child. Articulation tests are conducted in the actual rooms, with lists of monossyllables,
to validate the technique. From the measurements, auralizations are produced and tested by a small group
of children. The main results are presented and discussed. This work demonstrates that it is possible to
generate reliable auralizations, with an average error lower than 2%, without the necessity of the presence
of the students in the classroom.
Palavras-chave: Inteligibilidade. Acústica de salas de aula. Técnicas de medição acústica.

1. INTRODUÇÃO
A capacidade de ouvir é um dos componentes fundamentais da qualidade de vida do ser humano,
que se reflete na sua capacidade produtiva e de aprendizado. Um ambiente ruidoso dá lugar à
fadiga, perda de concentração, nervosismo, reações de estresse, ansiedade, falta de memória,
baixa produtividade, cansaço, irritação, problemas com as relações humanas e, como bem
observam Costa e Querido (2009) e Dreossi e Momensohn-Santos (2005), gera dificuldade de
aprendizagem.

As salas de aula das escolas brasileiras — em particular as das escolas públicas —, sabidamente
não proporcionam as condições ideais para o ensino, no que tange às suas condições acústicas. O
principal fator de qualidade acústica em uma sala e aula é a sua inteligibilidade da palavra que,
grosso modo, traduz a maior ou menor facilidade com que os estudantes podem ouvir e entender
o que diz o professor em aula. É bem conhecido o fato de que a inteligibilidade da palavra em
salas de aula, principalmente naquelas utilizadas para o Ensino Fundamental, é fator

384
preponderante na qualidade e eficácia do aprendizado. Alguns autores consideram que a acústica
da sala de aula seria o principal fator de caráter global responsável pelo assim chamado
analfabetismo funcional, que se caracteriza, como afirma Eniza e Garavelia (2003), pela
inabilidade do aluno em ler e interpretar adequadamente um texto de seu nível escolar.

Diversos autores têm se debruçado sobre essa questão, como Bradley (1986 e 1996), Medrado
(2004) e Melo et al. (2008). Contudo, os estudos realizados sobre o tema nos países do primeiro
mundo concentram-se mais nos aspectos da acústica interna da sala, uma vez que em países de
clima temperado ou frio, a influência do ruído externo sobre a acústica da sala é pequeno, devido
à vedação das janelas. No Brasil, a tradição arquitetônica é de construções com ventilação
natural, com forte influência do ruído externo em seu interior, como observa Müller (2004).

A inteligibilidade da palavra que, como mencionado, é o fator fundamental para o entendimento


do que o professor diz em sala de aula e, em consequência, para o aprendizado, requer, para sua
avaliação, de um oneroso ensaio, com a participação dos alunos, denominado teste de
articulação, criado por French e Steinberg (1947). Um teste de articulação, de forma bastante
resumida, consiste em se apresentar ditados formados por monossílabos que deverão ser
anotados pelos presentes. A correção desse ditado fornecerá um valor médio percentual de
acertos que constituirá a inteligibilidade da palavra na sala. Além da lentidão natural de todo o
procedimento, no caso de salas de aula do Ensino Fundamental, é necessário, ainda, ter a
aprovação por escrito dos responsáveis por cada um dos alunos participantes.

Uma das maneiras alternativas mais confiáveis e diretas de se avaliar a inteligibilidade da


palavra consiste no levantamento das respostas impulsivas biauriculares, com cabeças artificiais,
cujo padrão é o de um adulto (ISO/DIS, 2004), para um conjunto de posições no interior da sala.
Com efeito, o levantamento de respostas impulsivas biauriculares constitui-se em um ensaio que
prescinde da presença de público no ambiente, sendo, além disso, muito mais célere. Contudo, a
audição das crianças tem características bastante distintas das dos adultos, como demonstrado
por Fels e Fingerhuth (2004) e Fels (2008), o que significa que a técnica não seria adequada para
a avaliação de ambientes onde predomina o público infantil.

A título de exemplo, Fels (2008) mostra que as funções de transferência associadas à cabeça
humana (HRTF’s) apresentam notáveis diferenças entre aquelas medidas com cabeças de padrão
normalizado (adulto) e as realizadas com cabeças artificiais de dimensões antropométricas
infantis. A Fig. 1 ilustra as diferenças observadas nas HRTF’s.

Figura 1: Diferença entre as HRTF’s de uma criança e um adulto. Linha contínua, 3 kHz; linha tracejada, 6 kHz
Fonte: Fels, 2008.

385
Este trabalho reporta a utilização de cabeças artificiais de dimensões infantis para a avaliação da
inteligibilidade da palavra em salas de aula do Ensino Fundamental. Toda a metodologia de
ensaio e os resultados obtidos são descritos aqui. Este trabalho apresenta, portanto, uma nova
proposta de metodologia para a avaliação da inteligibilidade da palavra a partir do levantamento
das respostas impulsivas biauriculares, em alguns pontos da sala de aula. Naturalmente, testes de
articulação são conduzidos com o intuito de validar a metodologia aqui desenvolvida.

2. METODOLOGIA
A metodologia compreende as seguintes etapas, cuja descrição sucinta é apresentada a seguir:

1. Preparação de um conjunto de 15 listas de 20 monossílabos cada, a partir de gravações de


226 monossílabos registradas em câmara anecoica, no LAENA, INMETRO;
2. Levantamento da curva de resposta do orador artificial (OA) e respectiva geração da
curva de compensação;
3. Levantamento da resposta dos fones de ouvido e respectiva geração da curva de
compensação;
4. Condução de testes de articulação em salas de aula do Ensino Fundamental, onde quatro
listas anecóicas são apresentadas aos alunos de cada turma, todas emitidas pelo OA
compensado;
5. Emissão, com o OA, de varreduras em frequência (sweeps) devidamente compensadas,
com a presença dos alunos, para o levantamento das respostas impulsivas biauriculares
(RIB’s) na sala de aula para três posições da cabeça artificial infantil (CAI) e respectivas
gravações biauriculares. São emitidas cinco varreduras, de modo a se extrair uma
resposta impulsiva média, para cada posição da CAI, em cada sala ensaiada;
6. É registrado o nível de ruído de fundo presente em cada uma das salas ensaiadas, bem
como a temperatura ambiente e a umidade relativa do ar;
7. Em laboratório, é executada a convolução entre o sinal contendo cada uma das gravações
biauriculares realizadas durante os testes de articulação, com a resposta do fone de
ouvido utilizado. Os resultados serão considerados a seguir como aurilização primária;
8. Ainda em laboratório, os sinais registrados para cada posição da CAI são deconvoluídos
com a varredura de forma a obter-se as respostas impulsivas biauriculares;
9. As respostas impulsivas biauriculares são, então, convoluídas com as listas anecóicas que
foram apresentadas aos alunos daquela sala de aula, de modo a obterem-se as listas tal
como foram ouvidas naquela sala, porém sem o ruído de fundo.
10. Em laboratório, é executado um procedimento que chamaremos aqui de corte, e que
consiste em, a partir das gravações biauriculares registradas durante os testes de
articulação, extrair o ruído de fundo – que corresponde ao sinal sonoro presente no
intervalo entre os monossílabos pronunciados pelo OA;
11. O ruído de fundo extraído na etapa anterior é adicionado aos sinais obtidos no item 10 e o
resultado é convoluído com a resposta do fone de ouvido. O resultado será considerado a
seguir como aurilização secundária;
12. A aurilização primária é reproduzida, através dos fones de ouvido, para algumas crianças
das turmas avaliadas e seus resultados nos testes de articulação virtuais são registrados;
13. O mesmo é feito para a aurilização secundária;
14. Os resultados dos testes de articulação virtuais são comparados com os resultados
originais, conduzidos em sala.

Os equipamentos utilizados nos ensaios, seja nos testes de campo, seja nos testes de laboratório,
foram os seguintes: Laptop Thinkpad, Lenovo, com entrada PCMCIA e equipado com o
software de processamento de sinais Monkey Forest, Four Audio; Placa de comunicação de

386
sinais, RME Hammerfall DSP Cardbus para laptop; Interface de sinais e potência CMF22 Front
End, Four Audio; Orador artificial, ITA; Cabeça artificial infantil com duas cápsulas de
microfone, ITA; Medidor de nível de pressão sonora Solo, 01 dB, tipo 1; Calibrador de nível de
pressão sonora, 01dB; Par de fones de ouvido K271MK II, AKG; Termo higrômetro, Incoterm; e
Complementos (multímetro, cabos para microfone, tripés, transformador de voltagem etc.).

3. ENSAIOS DE CAMPO
Duas escolas públicas com turmas de Ensino Fundamental, uma no município de Nova Friburgo,
RJ e outra no município de Cordeiro, RJ, participaram dos ensaios de campo, num total de 10
salas com turmas entre o terceiro e o sexto anos. Em cada sala de aula, todas essencialmente
retangulares, foram dadas, inicialmente, explicações aos alunos quanto aos testes dos quais eles
participariam. Em seguida, foram executadas quatro listas de vinte monossílabos cada, proferidas
pelo OA. A principal vantagem da utilização do OA é a impossibilidade de leitura labial por
parte dos alunos que estão fazendo os testes de articulação. Foram utilizadas três posições da
CAI que gravou os ditados para a produção da aurilização primária. Também, para as mesmas
posições da CAI foram gravados os sinais da varredura em frequência (sweep), para posterior
processamento e geração da aurilização secundária. Essas gravações biauriculares resultaram de
médias de cinco sweeps, para cada uma das posições da CAI.

3.1 Testes de articulação


A Fig. 2 ilustra o esquema dos testes de articulação. O OA, à direita, emite o sinal sonoro
contendo as listas de monossílabos e a CAI, os registra, enviando os sinais ao computador.

Figura 2: Ilustração dos testes de articulação conduzidos em sala de aula com emissão e gravação simultâneas
Fonte: Müller, 2004.

A Tabela 1 mostra uma parte dos resultados do teste de articulação em uma sala de aula,
indicando as idades dos alunos, o índice de articulação obtido por cada aluno em cada uma das
quatro listas de monossílabos produzidas na sala de aula e as médias para cada aluno e global,
esta última indicando a inteligibilidade geral da sala, nesse caso de 88,39%.

Tabela 1: Resultados de quatro testes de articulação em uma sala com 26 alunos


ALUNOS IDADE POSIÇÃO L06 (%) L07 (%) L08 (%) L13 (%) TOTAL (%)
1 8 1 100 65 85 90 85
2 8 2 90 85 80 85 85
3 9 3 100 90 95 95 95
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
24 9 37 90 90 95 100 93,75
25 11 38 80 85 80 95 85
26 12 39 85 75 65 95 80
Médias (total) 90,19 86,83 84,23 92,31 88,39

A Tabela 2 apresenta o resultado geral dos testes de articulação, considerados neste trabalho,
para quatro salas de aula. Nas salas, a média é de quatro listas e para todos os alunos.

387
Tabela 2: Resultado geral dos testes de articulação conduzidos nas quatro salas de aula consideradas
SALAS 1 2 3 4
Percentuais 85,36 88,39 84,10 89,60

3.2 Gravações biauriculares


Para cada posição da CAI, após o teste de articulação, foram emitidos pelo OA cinco sweeps e
sua média registrada. Em seguida, a CAI é trocada de posição dentro da sala. A Fig. 3 ilustra a
média das gravações biauriculares de um sinal de varredura, para uma sala de aula e uma posição
da cabeça. O processamento a posteriori dessas gravações é descrito na Seção 4.

Figura 3: Média de cinco gravações biauriculares do sweep em uma sala, para uma posição da CAI. Observe que há
duas cores, correspondendo aos dois canais de microfone

3.3 Ruído de fundo


O ruído de fundo foi medido em cada sala, efetuando-se um LAeq com um medidor de nível
sonoro tipo 1, apenas como referência. Contudo, o sinal de ruído que efetivamente interessa
nessa pesquisa é aquele registrado pela CAI durante os testes de articulação. Esse ruído de fundo
pode ser extraído das gravações biauriculares originais. A Fig. 4 ilustra a gravação biauricular de
uma lista durante um teste de articulação. Observe que os picos do sinal correspondem aos
monossílabos emitidos pelo OA, enquanto o restante corresponde ao ruído de fundo presente.

Figura 4: Exemplo de gravação biauricular durante um teste de articulação conduzido em uma sala de aula

4. ENSAIOS EM LABORATÓRIO
Em laboratório é, primeiramente, processada a convolução da resposta impulsiva dos fones de
ouvido AKG com cada uma das gravações biauriculares registradas durante os testes de
articulação. Os arquivos resultantes, contendo a compensação dos fones de ouvido, são
denominados como aurilizações primárias. Esses arquivos têm, basicamente, a função de
verificar a adequação da cabeça artificial infantil para o registro do que é ouvido por uma
criança, por melhor representar as funções de transferência associadas à cabeça infantil.
Em seguida, é gerada a aurilização secundária a partir de um procedimento em quatro etapas:

1. Fazer a deconvolução dos sinais biauriculares gravados nas salas durante a emissão dos
sweeps (médias) com o sinal de varredura enviado ao orador artificial (compensado).
Desse processo de deconvolução resultam as respostas impulsivas biauriculares (RIB’s)
da sala para cada um dos pontos onde é posicionada a CAI.

388
2. Fazer a convolução de cada RIB com cada um dos sinais das listas anecóicas que foram
utilizadas nos testes de articulação naquela sala de aula. O resultado é um sinal que indica
como a lista é ouvida na sala, com sua reverberação, porém sem ruído de fundo.
3. Adicionar aos resultados obtidos no item 2, acima, o ruído de fundo da sala gravado
durante o teste de articulação, obtido segundo o procedimento descrito na Seção 2.
4. Finalmente, fazer a convolução dos sinais obtidos no item 3, acima, com a resposta
impulsiva dos fones de ouvido AKG, gerando, assim, as aurilizações secundárias para
serem testadas nos alunos.

A Fig. 5 mostra o sinal do ruído extraído da gravação biauricular durante um teste de articulação,
por meio do procedimento de corte, descrito sucintamente no item 10 da Seção 2. Esse
procedimento envolve o corte de trechos entre os monossílabos, seguido da aplicação de uma
janela “Tukey” a 95% nesses trechos, de modo a evitar o efeito de “estalos” entre os mesmos e,
por fim, a recomposição dos trechos em um sinal contínuo.

Figura 5: Ruído de fundo extraído da gravação biauricular por meio do procedimento de corte

A Fig. 6 mostra as diversas etapas do procedimento para a geração da aurilização secundária.

a) b)

c) d)

Figura 6: Exemplo das etapas para produzir uma aurilização secundária.


(a) gravação original da varredura na sala. (b) resposta impulsiva da sala. (c) resposta impulsiva convoluída com
uma lista anecoica. (d) o anterior com ruído adicionado

5. RESULTADOS OBTIDOS

5.1 Aurilização primária


Os resultados da aurilização primária são aplicados a um reduzido número de crianças para
verificação da adequação da CAI, como mencionado. Os resultados constam da Tabela 3.

389
Tabela 3: Resultados médios dos testes de articulação aplicados a partir da aurilização primária
Salas 1 2 3 4
Inteligibilidade (%) 85,70 89,20 86,11 87,78

5.2 Aurilização secundária


Em seguida, os resultados da aurilização secundária foram aplicados às mesmas crianças. Nesse
caso o que é apresentado ao aluno é, efetivamente, uma experiência de realidade virtual acústica,
na forma de testes de articulação. O resumo dos resultados consta da Tabela 4.

Tabela 4: Resultados médios dos testes de articulação aplicados a partir da aurilização secundária
Salas 1 2 3 4
Inteligibilidade (%) 86,67 91,00 85,00 87,50

6. ANÁLISE DOS RESULTADOS


O resultado principal do trabalho está resumido na Tabela 5 e na Fig. 7. São comparados os
índices de articulação médios para os testes reais, realizados em campo, os testes de articulação a
partir da aurilização primária e os testes de articulação a partir da aurilização secundária. Na
última coluna da Tabela 5 é indicado o erro médio, e, na forma da Eq. (1), relativo ao índice de
articulação real, dos testes via aurilização secundária.

e = (AS-AI)/AI × 100% [Eq. 01]

Observa-se, na Tabela 5, que o maior erro absoluto foi menor do que 3%, para as Salas 2 e 4,
sendo a média dos erros absolutos inferior a 2%.

Tabela 5: Resultado geral médio dos testes de articulação reais e virtuais


INTELIGIBILIDADE (%)
Testes de Aurilização Aurilização
SALAS Erro Relativo (e)
articulação (AI) primária (AP) secundária (AS)
1 85,36 85,70 86,67 1,53
2 88,39 89,20 91,00 2,95
3 84,1 86,11 85,00 1,07
4 89,6 87,78 87,50 (-) 2,34

Figura 7: Aspecto geral comparativo da inteligibilidade das quatro salas analisadas

7. CONCLUSÕES
Do ponto de vista arquitetônico as salas de aula das escolas avaliadas são distintas, por terem
sido construídas em períodos diversos. A primeira, construída no início do século passado,
apresenta pé direito alto e paredes de alvenaria dobrada e localizada em local de muito
movimento de veículos, no centro de Nova Friburgo, RJ. A segunda, mais moderna, mesmo não
possuindo as características arquitetônicas da primeira, está localizada em um bairro residencial
bastante silencioso. Em relação às esquadrias, ambas realizam as atividades com suas janelas
abertas. Apesar disso ambas apresentam baixo ruído de fundo proveniente de seu entorno e,
consequentemente, os índices de inteligibilidade da palavra encontrados nas salas são excelentes.

390
Com relação à metodologia proposta neste trabalho, que consistiu na avaliação da
inteligibilidade em salas de aula do Ensino Fundamental a partir do levantamento das respostas
impulsivas biauriculares nas salas com cabeças artificiais infantis, há algumas considerações
importantes a fazer. Primeiramente, como de fato crianças em idade escolar apresentam funções
de transferência associadas à cabeça (HRTF’s) bastante diferentes daquelas apresentadas por
adultos, a avaliação da inteligibilidade por via indireta não pode utilizar cabeças artificiais de
adultos, que são as atualmente normalizadas (ISO/DIS, 2004), sob pena de as aurilizações
produzidas não soarem, aos ouvidos de uma criança em torno dos 10 anos de idade, como
realísticas.

Embora o universo de salas estudadas seja ainda pequeno, a utilização da metodologia aqui
apresentada mostrou-se bem confiável, obtendo-se um erro relativo absoluto médio menor do
que 2%. Isso significa que a técnica pode ser aplicada em salas de aula sem a necessidade da
presença dos alunos, bastando para tal que um reduzido número destes se submeta aos testes de
articulação virtuais – a aurilização secundária.

8. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à DIAVI/INMETRO pelo apoio dado à pesquisa experimental. Os autores
também agradecem à FAPERJ pelo apoio financeiro. Finalmente, queremos agradecer às escolas
nas quais foram conduzidos os ensaios de campo, às suas diretorias e, principalmente, aos alunos
das turmas que participaram dos ensaios de campo. Este trabalho é dedicado a eles.

REFERÊNCIAS
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2. Bradley, J.S. (1996). Optimizing the decay range in room acoustics measurements using maximum-lenght-
sequences techniques. J. Audio Eng. Soc., 44: 266–273.
3. Costa, R. e Querido, J.G. (2009). A qualidade acústica ambiental nas salas de aula das escolas públicas, sua
influência no processo ensino-aprendizado e na qualidade de vida do professor. Acústica e Vibrações, 40:
10–20.
4. Dreossi, R.C.F. e Momensohn-Santos, T. (2005). O ruído e sua interferência sobre estudantes em uma sala da
aula: revisão de literatura. Pró-Fono R. Atual. Cient., 17.
5. Eniza, A. e Garavellia, S.L. (2003). Acústica de salas de aula: estudo de caso em duas escolas da rede privada
do DF. Revista da Sociedade Brasileira de Acústica, 31:2-12.
6. Fels, J. and Fingerhuth, S. (2004). Anthropometric data acquisition using photogrammetric techniques to
obtain acoustic head-related transfer functions of children. Proc. of the POSTER 2004 Conference, CTU Praga,
Praga.
7. Fels, J. (2008). From children to adults: How Biauricular Cues and Ear Canal Impedances Grow. PhD Thesis,
RWTH Aachen University, Logos Verlag Berlin, Germany.
8. French, N.R. and Steinberg, J.C. (1947) Factors governing the intelligibility of speech sounds. J. Acoust. Soc.
Am., 19: 90-119.
9. ISO/DIS 11902-2: 2004. Acoustics – determination of Sound immissions from Sound sources placed close to
the ears. Part 2: technique using manikin.
10. Medrado, L.O. (2004). Avaliação da inteligibilidade de salas de aula de graduação na Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado, PEM, COPPE, UFRJ, Rio de Janeiro.
11. Müller, S. (2004). Metrologia aplicada à qualidade acústica de salas de aula — Testes de inteligibilidade e
medições biauriculares em escolas públicas. Relatório técnico INMETRO.
12. Melo V.S.G., Tenenbaum, R.A. e Musafir, R.E. (2008). Inteligibilidade de salas de aula do ensino fundamental
e avaliação de qualidade acústica via respostas bi-auriculares obtidas com cabeças artificiais de pequenas
dimensões. Anais do XXII Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica, Belo Horizonte, MG.

391
RECOMENDAÇÕES PARA MELHORIA DOS PROCEDIMENTOS DE
MEDIÇÃO DE RUÍDO VEICULAR EM CENTROS DE INSPEÇÃO

VILLELA, Ricardo Luis d’Avila


Laboratório de Ensaios Acústicos (Laena/Diavi) - Inmetro.
Av. N. Sra. das Graças, 50 Xerém
22250-020 - Duque de Caxias - RJ – Brasil
rlvillela@inmetro.gov.br

RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise do procedimento vigente de ensaio de medição de ruído emitido por
veículos rodoviários automotores em circulação, descrito no Anexo V da Instrução Normativa IBAMA nº
6, de 8 de junho de 2010. São considerados diversos pontos para melhoria do procedimento, concluindo-
se que a melhor solução consiste em adotar integralmente o método da norma NBR 9714:2000,
aproveitando algumas considerações da ISO 5130:2007.

ABSTRACT
This paper presents an analysis of the existing test procedure for measuring noise emitted by road
vehicles in use, described in Annex V of IBAMA Normative Instruction No. 6, June 8, 2010. Several
points are considered to improve the procedure, concluding that the best solution is to adopt in full the
method of the NBR 9714:2000, taking advantage of some considerations of ISO 5130:2007.
Palavras-chave: Medição de ruído. Inspeção veicular. Instrução Normativa IBAMA nº 6. Poluição
sonora.

1. INTRODUÇÃO
Dentre as diversas fontes de ruído sonoro presentes no âmbito urbano destacam-se os veículos
rodoviários automotores. Com o natural crescimento das cidades e da densidade populacional
urbana, o aumento do fluxo de veículos automotores nas vias públicas tem aumentado
significativamente, de forma que medidas cada vez mais rigorosas, relativas à regulamentação da
emissão sonora de veículos, tiveram que ser implementadas para evitar a degradação do conforto
acústico da população. Como a responsabilidade pela poluição sonora urbana causada por
veículos automotores pode, em tese, ser do proprietário do veículo, do condutor, da montadora
ou do poder público, cabe a este a tomada de medidas em todos estes âmbitos para controle do
ruído sonoro, atuando também preventivamente. Possíveis causas de transtornos por ruído
podem ter como responsáveis:

 Proprietário do veículo: falta de manutenção adequada do veículo, alteração da


configuração original do veículo (por exemplo, remoção do silencioso).
 Condutor: uso indevido da buzina, condução inadequada para a via e local (por exemplo:
alta velocidade, acelerações bruscas em zonas residenciais).
 Montadora: projeto inapropriado ou defeito de fabricação.
 Poder público (União, Estados e Municípios): falhas no planejamento do conforto
acústico urbano, estabelecimento de níveis máximos admissíveis muito tolerantes,
ausência de tratamento acústico em vias expressas em áreas sensíveis ao ruído,

392
classificação de zoneamento urbano incompatível com as suas características de tráfego,
falta de fiscalização.

A justificativa de um programa específico de controle de ruído para esse meio de transporte, com
ênfase numa fiscalização preventiva, também se deve à dificuldade na identificação nominal do
responsável pelo ruído no momento da emissão, diferentemente do caso da emissão de ruído em
plantas industriais ou relativas ao transporte ferroviário. Essa dificuldade é tal que as
fiscalizações de poluição sonora realizadas pelas secretarias municipais de meio ambiente não
incluem medições de ruído relativas ao trânsito de veículos. Portanto, a atuação do poder
público, tanto na homologação de veículos novos como na inspeção de veículos em circulação é
fundamental, já que intervém no que tange as montadoras e os proprietários de veículos. Para que
seja efetivo, o procedimento de medição de ruído de veículos novos para homologação deve
contemplar, dentre as maneiras como são normalmente conduzidos os veículos no ambiente
urbano, aquela que resulta num maior incômodo sonoro à população. Dessa forma, os fabricantes
de veículos são incentivados a melhorar a qualidade acústica de seus produtos, colaborando no
controle da poluição sonora urbana. No entanto, um programa de controle de ruído veicular que
atue somente na emissão de veículos novos é insuficiente, visto que a preservação da qualidade
sonora original do veículo depende da disposição do proprietário do veículo no cumprimento das
orientações do fabricante, tanto na periodicidade e qualidade do serviço de manutenção como na
reposição de peças genuínas. Portanto, é imprescindível o emprego de um adequado
procedimento de medição de ruído de veículos em uso, que contribuirá numa maior
conscientização da importância do conforto acústico urbano, tolhendo a circulação de veículos
ruidosos.

2. MEDIÇÃO DE RUÍDO DE VEÍCULOS


A norma brasileira aplicada para medição de ruído na homologação de veículos novos é a ABNT
NBR 15145:2004, que baseou-se na norma internacional ISO 362:1998. Essa norma brasileira
especifica um método de medição de ruído emitido por veículos rodoviários automotores em
aceleração (ruído de passagem). Após algumas críticas sobre o método adotado, a norma ISO
362 foi revisada, resultando na ISO 362:2007, que estabelece um novo procedimento de medição
e se fundamenta num estudo mais aprofundado que considera as condições de tráfego urbano
mais representativas e de maior impacto no conforto acústico da população.

No entanto, a implementação do método de medição tanto da norma ABNT NBR 15145:2004


como da ISO 362:2007 para a inspeção de veículos em circulação é uma tarefa complexa. Uma
vez que o nível de emissão sonora de um veículo aprovado na homologação não se encontra
acima do limite máximo admissível, é razoável o estabelecimento de um procedimento de
medição mais simples para inspeção de veículos em circulação voltada para as fontes de ruído
mais relevantes e susceptíveis à intervenção indevida do proprietário (modificações da
configuração original) e à manutenção inadequada do bem. A medição de ruído nas
proximidades da saída do escapamento de gases do veículo na condição parado constitui uma
opção plausível e viável para esses ensaios de inspeção, já que avalia, principalmente, o ruído
proveniente do sistema de escapamento que depende tanto do motor de combustão como do
silencioso. Apesar da contribuição de outras fontes de ruído do veículo não impactarem o
resultado dessa medição, tal como a interação entre pneu e pista de rolamento, uma inspeção
visual de alguns elementos pode ser suficiente. Por exemplo, constatando-se que o ruído de
pneus é relevante dentre as outras fontes de ruído veicular para as condições de tráfego urbano, e
que muitos proprietários de veículos não utilizam pneus correspondentes aos usados na
homologação, a inspeção visual dos pneus na vistoria de veículos deveria ser realizada com esse
intuito. Nesse caso, essa inspeção deverá avaliar se o pneu do veículo vistoriado (por exemplo,
fora-de-estrada) é claramente mais ruidoso do que o usado na homologação (por exemplo, para
asfalto).
393
A norma brasileira atual que prescreve um método de ensaio para medição de ruído nas
proximidades da saída do escapamento de veículos automotores na condição parado é a ABNT
NBR 9714:2000 (baseada na norma internacional ISO 5130:1982). A norma NBR 9714 é
integralmente aplicada na medição de ruído de veículos novos, conforme estabelecido pela
Resolução CONAMA nº 1/93: “A partir de lº de março de 1994, deve ser fornecido ao IBAMA,
em duas vias, o nível de ruído na condição parado, medido nas proximidades do escapamento, de
acordo com NBR-9714, de todos os modelos de veículos produzidos, para fins de fiscalização de
veículos em circulação.” Além disso, quanto ao limite máximo admissível de ruído para veículos
em uso, essa resolução determina: “O nível de ruído do veículo na condição parado é o valor de
referência do veículo novo no processo de verificação. Este valor, acrescido de 3 (três) dB(A),
será o limite máximo de ruído para fiscalização do veículo em circulação.” Essa tolerância de 3
dB(A) foi instituída com intuito de admitir um certo aumento do nível sonoro devido ao desgaste
natural do veículo em uso, quando submetido a um programa de manutenção adequado. Portanto,
para evitar que outros fatores possam comprometer a avaliação da degradação acústica do
veículo provocada pela negligência do proprietário, deve haver uma total correspondência entre
os resultados dos ensaios de veículos novos e usados, consistindo na aplicação da mesma norma
nos ensaios. Além disso, a conveniência da aplicação da norma NBR 9714:2000 nos ensaios de
veículos em uso é evidenciada no próprio texto da norma, já que cita que o método especificado
destina-se a verificar veículos em uso.

3. ANEXO V DA INSTRUÇÃO NORMATIVA IBAMA Nº 6/2010


A Resolução CONAMA nº 418, de 25 de novembro de 2009, é regulamentada pela Instrução
Normativa IBAMA nº 6, de 8 de junho de 2010 (IN 06/2010), que estabelece os requisitos
técnicos para regulamentar os procedimentos para avaliação do estado de manutenção dos
veículos em circulação. O anexo V da Instrução Normativa, Procedimentos para a Medição de
Ruído em Centros de Inspeção, prescreve um método de ensaio para medição do nível de ruído
nas proximidades da saída do escapamento emitido por veículos em uso na condição parado. O
método descrito na Instrução Normativa difere em muitos pontos da norma NBR 9714:2000 pela
qual são determinados os níveis sonoros de referência a partir da medição de veículos novos na
homologação. Portanto, a princípio, não é incontestavelmente assegurada uma comparação
procedente entre os níveis de ruído para avaliação da deterioração acústica de veículos em
circulação. Para garantia de uma avaliação bem fundamentada, os seguintes requisitos devem ser
atendidos na medição do ruído de escapamento de veículos em circulação:

1. Emprego de instrumentos de medição que assegurem credibilidade aos resultados de


medição (instrumentos aprovados em apreciação técnica de modelo) e que sejam
compatíveis com a exatidão requerida.
2. Garantia da rastreabilidade metrológica dos resultados de medição.
3. Ambiente de medição adequado (local, condições meteorológicas e ruído ambiente).
4. Mesmo procedimento de medição e de obtenção de resultados em relação ao de veículos
novos.
5. Consideração da incerteza de medição na interpretação do resultado final.

Entende-se que quando a norma NBR 9714:2000 for omissa em relação a qualquer um dos
requisitos acima, é aconselhável empregar a norma ISO 5130:2007 que é a última revisão da
norma internacional na qual a norma brasileira se baseou. Dessa forma, não haverá contradições
entre as recomendações para a Instrução Normativa e as prescrições da NBR 9714:2000.
Omissões podem ocasionar interpretações equivocadas e procedimentos inadequados,
comprometendo a confiança nos resultados do ensaio.

394
3.1. Instrumentos de medição
O emprego de medidores e calibradores sonoros que satisfaçam normas internacionalmente
reconhecidas pela comunidade científica, avaliados através do processo de aprovação de modelo,
permite o conhecimento do grau de exatidão destes dispositivos e oferece credibilidade ao
ensaio. Além disso, devido ao reconhecimento de certas características do dispositivo, como boa
estabilidade, os resultados de calibrações desses instrumentos em laboratório podem ser
aplicados em medições em campo. Inclusive, é possível avaliar a componente de incerteza da
medição oriunda desses instrumentos.

A NBR 9714:2000 e a IN06/2010 são omissas quanto à norma com a qual os calibradores
sonoros devem estar em conformidade. Nesse caso, a ISO 5130:2007 estabelece que o calibrador
sonoro empregado deve atender aos requisitos da norma internacional IEC 60942, referente à
classe 1. A IN06/2010 no item 3.1 prescreve que as características do medidor de nível sonoro
(MNS) têm que estar de acordo com as normas IEC 651 (nova denominação é IEC 60651),
referente ao tipo 1 ou IEC 61672:2003, referente ao “tipo” 2. No entanto, como a NBR
9714:2000 é anterior à norma IEC 61672:2003, aquela não faz referência a esta, restando recorrer
à determinação da ISO 5130:2007. Nessa norma, é especificado que o MNS deve atender a IEC
61672-1, referente à classe 1. O uso de medidores sonoros classe 2 em vez dos de classe 1 (IEC
61672-1) resulta no aumento da componente de incerteza relativa ao instrumento de medição.
Segundo a ISO 5130:2007, a incerteza do MNS deve ser considerado na avaliação da incerteza
do resultado da medição de ruído, mesmo empregando um medidor classe 1. Portanto, não deve
ser desconsiderado o impacto da incerteza de medidores classe 2 no resultado da medição, de
forma que é recomendável o emprego de MNS de classe 1.

Como o procedimento de medição da IN06/2010 inclui a medição de ruído ambiente e a métrica


considerada mais apropriada para isso é o nível de pressão sonora equivalente ponderado em "A"
(LAeq), no caso do MNS não atender a IEC 61672-1, as características do MNS devem estar de
acordo com a norma IEC 60804, além da IEC 60651. A IEC 60804 trata de requisitos para
aprovação de modelo e testes para verificação periódica relativos à medição do LAeq.

A IN06/2010 estabelece que um equipamento dotado de um software deverá ser utilizado para
realizar o registro e análise estatística dos valores medidos pelo MNS. Entretanto, a Instrução
Normativa não informa os cuidados que devem ser tomados na automatização das medições por
software não desenvolvido pelo fabricante do MNS. Assim, recomenda-se que quando forem
utilizados computadores ou equipamentos para automatização das medições, o fornecedor do
serviço de inspeção deve assegurar que: a versão de software de computador desenvolvida para a
automatização esteja apropriadamente validada, adequada para uso e devidamente documentada,
procedimentos para a proteção de dados estejam implementados e os computadores operem em
condições ambientais adequadas.

3.2. Rastreabilidade metrológica


O fato que o modelo de um instrumento de medição satisfaz exigências regulamentares não é
suficiente para garantia da rastreabilidade metrológica. É necessária a calibração periódica do
MNS e do calibrador sonoro por laboratórios que demonstram competência, capacidade de
medição e rastreabilidade metrológica, por exemplo, por laboratórios pertencentes à RBC (Rede
Brasileira de Calibração). Apesar da IN06/2010 determinar que o MNS deva ser calibrado, ela
não especifica o prazo máximo admissível para calibração. Além disso, a Instrução Normativa é
omissa quanto à necessidade de calibração do calibrador sonoro e em relação ao intervalo
máximo entre calibrações. Como a NBR 9714:2000 também não esclarece esses pontos,
recorrendo ao especificado na ISO 5130:2007, conclui-se que é razoável estabelecer os mesmos
prazos máximos, ou seja, de 24 e 12 meses para calibração do MNS e do calibrador sonoro,
respectivamente.
395
Outra questão é que a IN06/2010 não cita a importância da análise crítica dos certificados de
calibração dos instrumentos. Essa análise consiste em interpretar os resultados da calibração e
verificar se o instrumento foi aprovado segundo os requisitos dos testes de verificação da norma
de calibração. Caso seja reprovado, o instrumento não deve ser utilizado para o ensaio de ruído.

Quanto ao uso dos resultados da calibração do calibrador sonoro, o valor do nível sonoro
utilizado para regulagem do MNS deverá ser o valor do nível gerado pelo calibrador, indicado no
certificado de calibração mais recente do calibrador sonoro, aplicada a devida correção de campo
sonoro, conforme orientações do fabricante do MNS.

3.3. Ambiente de medição


Local de ensaio: Em relação ao local de ensaio a IN06/2010 determina que seus limites devam
distar pelo menos 1,0 m da extremidade do veículo, sem haver a existência de objetos próximos
que possam afetar significativamente a leitura do MNS. Essa prescrição é um tanto subjetiva de
forma que não facilita a identificação de quais objetos poderiam comprometer a exatidão do
resultado do ensaio. Além disso, a Instrução Normativa estabelece 1,0 m como a distância
mínima do microfone de medição a qualquer obstáculo ou observador. A norma NBR 9714:2000
estabelece que as duas distâncias mínimas acima são iguais a 3,0 m, ou seja, é mais cautelosa em
relação a reflexões sonoras em objetos nas proximidades que podem elevar o nível sonoro no
ponto de medição. Porém, a norma NBR também não esclarece quais objetos podem afetar a
leitura do MNS. Dessa maneira, é conveniente adotar o critério da ISO 5130:2007 que determina
que o local de ensaio deverá se encontrar afastado de grandes superfícies refletoras, tais como
veículos estacionados, construções, quadro de avisos, árvores, arbustos, paredes, pessoas, num
raio de pelo menos 3 m de distância do microfone de medição e de qualquer outro ponto do
veículo.

O atendimento às exigências acima é insuficiente para assegurar que o local de ensaio é


adequado. Por exemplo, caso o local de ensaio fosse uma sala com dimensões internas que
atendam as distâncias mínimas prescritas, o resultado do ensaio poderia ficar comprometido.
Considerando essa possibilidade, a ISO 5130:2007 determina que o local de ensaio deverá se
situar em ambiente aberto. Caso isso não seja possível, essa norma permite, como alternativa, a
medição em câmaras semi-anecóicas.

Condições atmosféricas: A IN06/2010 estabelece que as medições não podem ser realizadas em
condições de tempo adversas e que rajadas de vento não devem afetar o resultado da avaliação.
Porém, ela não especifica quais cuidados devem ser tomados para evitar os efeitos nocivos das
rajadas no resultado. A NBR 9714:2000 e a ISO 5130:2007 determinam que a velocidade de
vento limite para a realização do ensaio é 5 m/s. Essas normas consideram o emprego do protetor
de vento (windscreen), porém seu uso não altera o limite fixado para a velocidade de vento. É
uma boa prática o uso do protetor de vento fornecido pelo fabricante do MNS em medições em
ambientes externos sujeitos a lufadas de vento e poeira, já que além de reduzir a influência do
vento na medição, também evita o acúmulo de sujeira no diafragma do microfone.

Ruído ambiente (RA): Considerando que o local de ensaio está sujeito a ruídos intrusivos não-
estacionários, que a proposta da IN06/2010 é minimizar a intervenção do inspetor no ensaio e
que não há qualquer procedimento na instrução normativa que dê autonomia ao inspetor para
desconsiderar indicações espúrias do MNS devido à contribuição do ruído ambiente, é altamente
recomendável a adoção do critério da NBR 9714:2000 para controle dos efeitos do ruído
ambiente no resultado do ensaio. A norma exige que o nível de ruído ambiente (denominado
como ruído de fundo) deva ser, no mínimo, 10 dB(A) menor que os níveis sonoros medidos.
Além disso, a norma estabelece que pelo menos três medições do ruído de escapamento devam
ser efetuadas, uma imediatamente após a outra, e esse conjunto será considerado válido se os
396
seus valores não se encontrarem fora de uma faixa com largura de 2 dB(A). Essa resolução da
norma, além de preservar a integridade dos dados, restringindo o uso de valores discrepantes
(outliers) no cálculo do resultado, reduz a chance de se considerar leituras contaminadas por um
ruído ambiente elevado. As medições do RA imediatamente antes e depois do conjunto de
medições consideradas válidas, juntamente com o critério de validação da norma, fornecem
subsídios para concluir que o nível do RA não se altera significativamente durante as medições
de ruído do escapamento. Portanto, se o nível de RA é considerado adequado (10 dB(A) abaixo)
durante sua medição, é razoável supor que durante as medições de ruído de escapamento o nível
de RA continua sob controle.

O critério da IN06/2010 é bem distinto do da norma. Aquela apenas recomenda que o nível de
ruído ambiente seja, no mínimo, 10 dB(A) menor do que os níveis de ruído de escapamento
medidos durante o ensaio. Essa recomendação não é uma exigência, de forma que a Instrução
Normativa prevê até uma “correção” do resultado quando há uma expressiva contribuição do
RA. Essa “correção” é baseada num parâmetro denominado nível base de ruído ambiente e na
mediana das leituras do MNS na medição do ruído de escapamento. A “correção” consiste em
descontar do nível mediano a contribuição do nível base, quando a diferença entre elas for menor
que 10 e maior que 3 dB(A). O nível base de ruído ambiente, proposta pela IN06/2010, é
definido como o percentil de 20% de todos os níveis mínimos de ruído (6 a 10 medidos com
motor ligado em marcha lenta) juntamente com dois níveis medidos com motor desligado (RA).

O procedimento da IN06/2010 para descarte de valores discrepantes da medição de ruído de


escapamento é bem menos eficiente do que o da norma. A partir de 5, 7 ou 9 medições do ruído
de escapamento é obtida a mediana e se ela e os níveis correspondentes aos valores
imediatamente acima e abaixo se encontrarem na faixa de 2 dB(A) o ensaio é considerado válido.
Por conseguinte, não importa a ordem das leituras, somente que a diferença entre o valor logo
acima e logo abaixo da mediana seja de até 2 dB(A) para que o resultado seja válido. Assim, essa
modificação do critério de descarte de valores discrepantes torna o resultado da medição mais
susceptível ao ruído ambiente.

3.4. Procedimento de medição e de obtenção de resultados


Em relação a este item, os pontos da IN06/2010 que mais se distinguem em relação à NBR
9714:2000 são a tolerância da velocidade angular do motor no início da medição e o critério para
obtenção do resultado da medição do ruído de escapamento.

Tolerância da velocidade angular do motor: A norma brasileira não prescreve uma tolerância
para determinação da faixa em que a velocidade de rotação do motor deva se situar para dar
início a uma medição de ruído de escapamento. Portanto, deve ser verificado se essa tolerância
não é exagerada, correspondendo a um aumento desnecessário da incerteza de medição.

Obtenção do resultado da medição do ruído de escapamento: Além do critério de limite máximo


admissível do ruído ambiente e do método de descarte de valores discrepantes (critério para
validação), tem impacto direto sobre o resultado final, a forma como os valores das leituras de
medição de ruído de escapamento são utilizados para a obtenção do resultado. A norma NBR
9714:2000 estabelece que o resultado do ensaio consiste na média aritmética do conjunto de
medições de ruído de escapamento considerado válido (faixa dos 2 dB(A)), enquanto a
IN06/2010 determina que a mediana dos níveis do ruído de escapamento é o resultado, com ou
sem a aplicação da “correção” de RA, dependendo do valor da diferença entre a mediana e o
nível base de ruído ambiente. Uma análise mais detalhada pode ser realizada avaliando o
exemplo apresentado na tabela abaixo:

397
Tabela 1: Simulação de um ensaio submetido ao método da IN06/2010 com ruído ambiente variando ao longo das
medições.

Nessa simulação, o nível sonoro proveniente exclusivamente do escapamento é sempre igual a


75,0 dB(A), sendo o que varia é o nível do RA de forma gradual, alcançando uma máximo no
meio do ensaio (ver terceira coluna). Uma variação abrupta do nível do RA imediatamente após a
medição de “RA medido 1” é pouco provável, de forma que esse exemplo em que o RA se altera
no meio do ensaio é bem mais provável de acontecer. A sigla RML consiste na medição de ruído
incluindo as contribuições do ruído ambiente e do ruído do escapamento com motor em marcha
lenta (medição prevista na IN06/2010). A variação do valor do nível do RML ao longo do ensaio
ocorre devido ao aumento gradual do nível do RA de forma que pode ser considerado que o nível
de ruído proveniente exclusivamente do escapamento com o motor em marcha lenta é constante.
Conforme o critério da IN06/2010 para validação das leituras do MNS, são realizadas cinco
medições do ruído total do escapamento com o motor do veículo em desaceleração, a partir de
uma rotação determinada, e caso o critério da faixa dos 2 dB(A) não seja atendido, podem ser
realizadas mais duas ou quatro medições. Na simulação foram suficientes sete medições de ruído
total para atendimento ao critério. A mediana dos níveis totais é 79,8 dB(A) e os valores indicado
pelas células verdes da tabela revelam o conjunto que foi validado pelo critério da faixa dos 2
dB(A). Nesse exemplo, a “correção” do RA foi ineficaz de forma que o erro do resultado de
medição é igual a 79,6 – 75,0 = 4,6 dB(A), um valor bem expressivo. Diversos outros exemplos
semelhantes a esse poderiam ser apresentados onde o RA varia significativamente no meio do
ensaio, resultando num erro de medição inaceitável ao se utilizar o critério da Instrução
Normativa. No entanto, caso o critério da NBR 9714:2000 fosse adotado, não seria validado
nenhum conjunto de medições nesse exemplo. Portanto, o critério de validação da norma é mais
robusto quanto à existência de ruídos intrusivos e provê mais confiança ao resultado final do
ensaio, tornando-o menos suscetível a reprovações ou aprovações indevidas de veículos.

3.5. Incerteza de medição na interpretação do resultado final


Segundo o Guia para a Expressão da Incerteza de Medição – GUM: “A incerteza do resultado de
uma medição reflete a falta de conhecimento exato do valor do mensurando. O resultado de uma
398
medição, após correção dos efeitos sistemáticos reconhecidos, é ainda, tão somente uma
estimativa do valor do mensurando por causa da incerteza proveniente dos efeitos aleatórios e da
correção imperfeita do resultado para efeitos sistemáticos.” Portanto, a incerteza é inerente a toda
medição e a sua expressão no resultado da medição fornece subsídios para avaliação da
qualidade do resultado. Conforme o Vocabulário Internacional de Metrologia – VIM, a definição
de incerteza de medição é: “Parâmetro não negativo que caracteriza a dispersão dos valores
atribuídos a um mensurando, com base nas informações utilizadas.” Ou seja, um intervalo com
limite inferior e superior pode ser empregado, para um dado nível da confiança, para expressar
quais valores podem ser razoavelmente atribuídos ao mensurando. Logo, é legítimo considerar
esse intervalo para verificar se, certamente, o limite admissível de ruído foi ultrapassado, não
sendo injusto com o proprietário do veículo devido à inerente limitação do processo de medição.
Esse é o entendimento, por exemplo, na aplicação de multas por excesso de velocidade
verificada por medidores situados em vias públicas, de forma que existe uma margem de
tolerância devido à própria incerteza do resultado de medição.

A ISO 5130:2007 reconhece a influência e significância da incerteza na comparação dos


resultados das medições de veículos novos e em circulação, e declara que o valor da incerteza
expandida do resultado do ensaio é igual a 1,9 dB(A), para um nível da confiança de 80%,
considerando que os requisitos da norma são plenamente atendidos e contemplando a influência
dos instrumentos de medição, local de ensaio, condições atmosféricas, ruído ambiental,
procedimento de medição, etc. Caso seja empregado o método de ensaio da NBR 9714:2000 ou
ISO 5130:2007, é aconselhável considerar o valor da incerteza declarada pela norma
internacional na inspeção de veículos em circulação para evitar reprovações indevidas.

4. CONCLUSÕES
A fiscalização dos níveis de ruído sonoro emitidos por veículos automotores em circulação é
necessária para a eficácia de um programa de controle de poluição sonora ambiental. A
comparação dos níveis de ruído emitidos por veículos novos e usados, de mesmo modelo e ano, é
uma boa estratégia para avaliar se o proprietário do veículo toma os cuidados necessários para
evitar a degradação da qualidade acústica do seu veículo. Medições de ruído nas proximidades
do escapamento de gases de veículos em uso permite essa comparação com uma boa relação
custo-benefício. Portanto, como já existe uma norma brasileira para essa medição, é natural que
ela seja adotada, ainda mais por ser também aplicada nas medições de veículos novos cujos
resultados são tomados como referência. A aplicação do método da NBR 9714:2000 e a
consideração de certos pontos da ISO 5130:2007 permite, inclusive, estimar a incerteza e utilizá-
la para evitar a reprovação indevida de veículos.

REFERÊNCIAS

1. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 362-1: Measurement of noise


emitted by accelerating road vehicles - Engineering method - Part 1: M and N categories. Switzerland: ISO,
2007.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9714: Veículo rodoviário automotor – Ruído
emitido na condição parado. Rio de Janeiro: ABNT, 2000.
3. Instrução Normativa IBAMA nº 6, de 8 de junho de 2010.
4. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 5130: Acoustics – Measurements of
sound pressure level emitted by stationary road vehicles. Switzerland: ISO, 2007.
5. Guia para a Expressão da Incerteza de Medição (GUM). Terceira edição brasileira em língua portuguesa. Rio de
Janeiro: ABNT, INMETRO, 2003.
6. Vocabulário Internacional de Metrologia – Conceitos Fundamentais e Gerais e Termos Associados (VIM) –
Abril/2009 (Versão brasileira da 3a edição do “International Vocabulary of Metrology — Basic and general
concepts and associated terms”).
399
CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA E CONTROLE DE RUÍDO NUMA USINA
HIDRELÉTRICA ATRAVÉS DE MÉTODOS EXPERIMENTAL E
NUMÉRICO

CARDOSO, H. F. S.; LIMA, A. K. F.; MELO, G. S. V.; SOEIRO, N. S.

Grupo de Vibrações e Acústica, FEM – UFPA

RESUMO
O processo produtivo nas usinas hidrelétricas, em geral, se dá em ambientes com elevados níveis de pressão
sonora. Níveis acima de 85 dBA, por exemplo, são facilmente observados nestes espaços. Infelizmente,
constata-se na maioria dos casos que uma parte significativa dos colaboradores envolvidos já desenvolveu
algum tipo de perda auditiva, devido à exposição ao ruído ocupacional. Diante deste quadro, observou-se a
necessidade de se desenvolver uma metodologia para o controle de ruído em ambientes diversos de usinas
hidrelétricas, com base na construção de um modelo computacional, equivalente ao ambiente real, sob o
aspecto acústico. Utilizando um programa computacional comercialmente disponível determinaram-se,
através do método híbrido de raios acústicos e fontes imagem, os níveis de pressão sonora em diversos
pontos do ambiente investigado, na forma de um mapa acústico. O modelo numérico desenvolvido foi
validado, a partir de comparações com o mapa acústico experimental do espaço pesquisado, permitindo a
realização de testes de soluções virtuais de controle de ruído, as quais poderão vir a ser empregadas na
prática.

ABSTRACT
The production process in power plants generally occurs in environments with high sound pressure levels.
Levels above 85 dBA, for example, are easily observed in these spaces. Unfortunately, in most cases a
significant part of the employees involved have already developed some type of hearing loss due to noise
exposure. Thus, there is a need to develop a methodology to control noise in different environments of
hydroelectric plants, based on building a computational model equivalent to the real environment. Using a
commercially available computer program it was determined the sound pressure levels in various parts of the
investigated environment in the form of an acoustic map. The numerical model was validated from
comparisons with experimental results, allowing the testing of virtual solutions for noise control, which
could be implemented in situ.
Palavras-chave: Controle de ruído. Acústica de salas. Simulações numéricas.

1. INTRODUÇÃO
O som se caracteriza por flutuações de pressão em um meio compressível. No entanto, não são
todas as flutuações de pressão que produzem a sensação de audição quando atingem o ouvido
humano. A sensação de som só ocorrerá quando a amplitude destas flutuações e a frequência com
que elas se repetem estiver dentro de determinada faixa de valores (GERGES, 2000).
Desenvolver um estudo acústico de maneira a prever o comportamento do ambiente em relação às
alterações realizadas requer um modelo de simulação. Tal modelo deverá corresponder de maneira
fidedigna à realidade, predizendo se os parâmetros acústicos do ambiente estão, ou não, em acordo
com um padrão de excelência para uma dada finalidade. As equações clássicas da acústica de salas
não permitem a obtenção de soluções exatas quando as salas assumem geometria não retangular, ou
quando certas idealizações não podem ser consideradas (MELO et al., 2007). Portanto, no estudo de

400
salas com geometrias complexas, faz-se uso de métodos numéricos de grande eficácia, como o
método de traçado de raios e de fonte imagem especular (MORAES, 2007), que podem ser
utilizados conjuntamente na forma de um método híbrido, o qual otimiza suas características,
associando a natureza determinística do método da fonte imagem, com algumas características
estatísticas do método de raios acústicos (SOUZA, 1997).
Assim, o presente trabalho aborda a simulação de um ambiente piloto, a saber, o piso das turbinas
de uma usina hidrelétrica de pequeno porte, para o qual foram constatados níveis de ruído de até
99,6 dB(A), provocando desconforto acústico em seus colaboradores, devido à inadequação frente
às normas Brasileiras vigentes (NR-15).
O software comercial utilizado para a realização das simulações de determinação dos parâmetros
acústicos no ambiente modelo foi o Odeon, versão 9.2. Trata-se de um software com grande
aceitação em pesquisas nacionais e internacionais, além de ser o software disponível na
infraestrutura do Grupo de Vibrações e Acústica (GVA) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

2. MÉTODOS NUMÉRICOS
A seguir, são descritas as principais informações a respeito do método híbrido mencionado acima, o
qual representa uma otimização das soluções levadas em considerações para os métodos da fonte
imagem e de traçado de raios, utilizadas para reduzir ainda mais o custo computacional dos
modelos desenvolvidos.

2.1. Método da fonte imagem


Neste método, fontes especulares virtuais são criadas a partir da consideração das superfícies do
ambiente como espelhos, ver Figura 1.

Figura 1: Fontes imagem de primeira ordem

Apesar de estar baseado em uma teoria razoavelmente simples, o que reduz seu custo
computacional, o método híbrido de raios acústicos e fontes imagem possui limitações que podem
demandar um longo tempo de processamento. Tais limitações incluem: teste de visibilidade de
fontes sonoras por parte de receptores de som (como visto na Fig. 2) para salas não retangulares;
presença de objetos na sala e/ou salas muito irregulares, que tornam o modelo complexo por conta
do excesso de superfícies.

401
Figura 2: Teste de visibilidade para salas não retangulares

2.2. Método de traçado de raios


No método de traçado de raios, admite-se a energia emitida pela fonte distribuída em um número
discreto de raios. Dessa forma, cada raio possui a energia emitida pela fonte divida pelo número de
raios emitidos e, cada um, viaja com velocidade equivalente à velocidade do som até colidir com as
superfícies internas à sala. Por meio dos fenômenos da reflexão sonora (difusa ou especular) e
absorção sonora (inclusive do ar), os raios acústicos vão perdendo energia, enquanto viajam da
fonte sonora a um receptor (ver Fig. 3). Quando estes raios não possuem mais níveis significativos
de energia são então desconsiderados, dando início a uma nova seção de lançamento de novos raios.
Para calcular a energia sonora em pontos distintos de uma sala, é distribuída uma malha de
receptores constituída de volume finito que identifica os raios que a cruzam. Determinando o
número de raios que cruza a malha finita de receptores e a contribuição energética de cada um, em
cada ponto, pode-se então determinar o nível de pressão sonora (NPS) correspondente àquela
posição.

Figura 3: Traçado de um raio acústico da fonte sonora (F) ao receptor (R)


Fonte: Raynoise (1993)

3. RUÍDO EM AMBIENTES INDUSTRIAIS


O ruído se tornou uma grande preocupação em ambientes industriais, a partir do momento em que
se elevou o número de trabalhadores com Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR). Esta perda
normalmente é registrada em casos de trabalhadores que não somente tiverem sua exposição a um
nível de ruído intenso, mas também por um longo tempo de exposição.
A fim de se enfrentar o problema, hoje são realizados estudos para controle de ruído em ambientes
industriais, com base em normas regulamentadoras que buscam inibir o excessivo número de
trabalhadores expostos a elevados níveis de ruído e por tempos prolongados.
A norma regulamentadora NR-15, trata de atividades e operações insalubres e estabelece a máxima
exposição diária ao ruído, de acordo com a Tab. 1.

402
Tabela 1: Exposição ao ruído com base na NR-15
Máxima exposição diária
Nível de ruído
permissível
85 8 (horas)
90 4 (horas)
95 2 (horas)
100 1 (hora)
105 30 (minutos)
106 25 (minutos)
108 20 (minutos)
110 15 (minutos)
112 10 (minutos)
114 8 (minutos)
115 7 (minutos)
Fonte: NR-15

4. AMBIENTE INVESTIGADO
O ambiente em questão é o piso das turbinas de uma usina hidrelétrica da CHESF/Regional Paulo
Afonso. O piso das turbinas escolhido para o desenvolvimento deste estudo foi o da usina Paulo
Afonso IV (PA IV), que tem como características importantes o modo e o local em que foi
construída.
A usina em estudo foi construída em meio a um ambiente rochoso, reforçadas com colunas de
concreto. O piso do ambiente também é feito de concreto, além de contar com a presença do
maquinário em geral.

4.1. Parâmetros acústicos


4.1.1. Nível de pressão sonora
O nível de pressão sonora (NPS) é a medida física preferencial para caracterizar a sensação
subjetiva da intensidade dos sons, sendo calculado através do valor eficaz da pressão sonora, Prms,
em comparação ao valor de pressão sonora de referência, P0 (BISTAFA, 2006):
2
⎛P ⎞
NPS = 10 log⎜⎜ rms ⎟⎟ [Eq. 01]
⎝ P0 ⎠

4.1.2. Nível equivalente


Quando se deseja registrar um nível de pressão sonora que represente um valor médio, durante certo
tempo de medição, então deve-se calcular o nível equivalente de ruído, Leq, através da seguinte
expressão:

⎡ 1 T L p (t )10 ⎤
Leq = 10 log ⎢ ∫10 dt ⎥ [Eq. 02]
⎣T 0 ⎦

onde Lp(t) é o nível sonoro no instante t, enquanto T representa o período de medição. Caso o Lp(t)
seja um nível sonoro com ponderação A, então o nível equivalente é representado por LAeq, sendo
expresso em dBA.

4.1.3. Nível de potência sonora


As medições de potência sonora são importantes porque, através desta se pode calcular o nível de
pressão sonora em qualquer posição do ambiente, desde que o tamanho deste ambiente, sua forma e
absorção sonora de suas fronteiras sejam conhecidas. O valor da potência sonora não é função do
meio de propagação já que a potência sonora refere-se à energia emitida pela fonte. O nível de
potência sonora é dado pela equação:

403
⎛W ⎞
NWS = 10 log⎜⎜ ⎟⎟ [Eq. 03]
⎝ W0 ⎠

onde W é a potência sonora em watts e W0 é o valor de potência sonora de referência (igual a 10-12
watt).

4.2. Determinação dos parâmetros acústicos


Em uma fase preliminar de investigação acústica, foram utilizados os equipamentos para medição
de níveis de ruído, apresentados na Fig. 4. Para as medições dos níveis de ruído no interior do piso
das turbinas, utilizou-se um analisador de sinais de quatro canais (Fig. 4a), o qual possui grande
precisão e estabilidade ao longo do tempo, além de funcionar como um analisador em tempo real,
ou seja, quando são realizadas medições em bandas de frequência, todas as bandas são adquiridas
simultaneamente, de modo que as medições se tornam muito mais rápidas e confiáveis.
O microfone utilizado (Fig. 4b) consiste num microfone de precisão científica, com resposta em
frequência praticamente plana ao longo de toda a faixa audível. Trata-se de um microfone de campo
difuso, o qual responde a ondas sonoras que nele incidem, provenientes de todas as direções, com
igual sensibilidade, o que é adequado para medições em ambientes fechados com superfícies
acusticamente refletoras, tal como é o caso do piso das turbinas sob investigação.
Dessa forma, o microfone de campo difuso é conectado ao analisador, o qual é conectado a um
computador (Fig. 4c), onde se encontra o software que controla o analisador. O sistema de
aquisição foi configurado para medir o nível de ruído em bandas de 1/3 de oitava, de 20 a 20.000
Hz, com ponderação linear em frequência e durante um período de 10 s, o que se mostrou
suficiente devido ao caráter estacionário do ruído produzido no interior do ambiente.
Foram medidos ainda os níveis globais com ponderação A, além do espectro do ruído em banda
estreita, de forma simultânea, para cada ponto investigado.

Figura 4: Equipamentos utilizados na investigação experimental: (a) Analisador de Sinais de 04 canais tipo Pulse da
B&K; (b) Microfone de campo difuso de ½” tipo 4942 da B&K; Notebook com software Labshopview para controle
do Analisador Pulse

5. ANÁLISE NUMÉRICA
Nesta etapa do trabalho foi desenvolvida a geometria do piso das turbinas da PA IV em ambiente
computacional, com as características as mais fiéis possíveis, em relação à sala real, utilizando-se
ferramentas de CAD. Dessa forma, construiu-se um modelo numérico com área de piso igual a
descrita em documentos oficiais de posse da empresa, e buscando-se levar em consideração a
presença do maquinário/painéis de controle existentes neste ambiente (ver Fig. 5).

404
Figura 5: Modelo preliminar do Piso da Turbina da PA IV, indicando as fontes sonoras em vermelho e as posições de
microfone, em azul

No modelo apresentado na Figura 5, pode-se observar as principais características da geometria da


sala, estando indicadas, em vermelho, as posições das fontes acústicas, além das posições de
microfones, em azul, localizados aproximadamente nas mesmas posições em que foram realizadas
as medições de níveis de ruído in loco.
Comparando os resultados de NPS experimentais com aqueles fornecidos pelo modelo numérico do
piso das turbinas da PA IV, com fontes sonoras devidamente atribuídas, observa-se que o modelo
alcançou uma excelente concordância com o que se encontra in loco, como mostra a Figura 6.

Figura 6: NPS (dBA) em função do ponto de medição para o Piso da Turbina da PA IV: dados experimentais (X) e
resultados numéricos do modelo validado ( )

405
Valendo ressaltar que os valores na coluna esquerda da Figura 6 variam de 0,5 em 0,5 dB(A),
mostrando a concordância acima citada e estando dentro de uma faixa limite de 3 dB(A). Isso valida
o modelo desenvolvido, permitindo o teste de soluções virtuais de controle de ruído no ambiente
sob estudo, a fim de adequá-lo à NR-15.
Uma vez que os dados numéricos foram validados, haja vista a concordância com os dados obtidos
experimentalmente, pôde-se então dar início à fase de simulações de soluções virtuais de controle
de ruído para tornar o ambiente investigado acusticamente salubre.

5.1. Controle de ruído


Controle de ruído é uma atividade direcionada para a modificação de um campo acústico, de tal
forma a se adequar este último aos objetivos preestabelecidos para o ambiente considerado, não
implicando necessariamente na redução ou limitação do som (CARDOSO, 2008). No entanto,
existem também medidas de controle de ruído que necessariamente não modificam o campo
acústico.
Deve-se, através de medidas tomadas com base nos conhecimentos de acústica e do processo
industrial, tentar-se alcançar um objetivo definido, que muitas vezes não tem a finalidade de
redução de ruído e sim a prevenção da audição das pessoas expostas.
De uma forma geral, o controle de ruído pode ser executado tomando-se as seguintes medidas:
• Controle de Ruído na Fonte;
• Controle de Ruído na Trajetória; e
• Controle de Ruído no Receptor.

5.1.1. Solução 1: absorção sonora nas principais superfícies do ambiente


A primeira solução testada considera a utilização de painéis de absorção sonora de lã de rocha com
100 mm de espessura e 32 kg/m2 de densidade, tal como descrito anteriormente. A Figura 7
apresenta uma vista interna do ambiente referente ao piso da Turbina da PA IV, com várias
superfícies recobertas pelo material de absorção sonora descrito.

Figura 7: Vista interna do piso da Turbina da PA IV

As demais soluções são: 2ª Porta acústica com absorção na saída do poço da turbina, 3ª Vedação da
saída da tubulação de óleo do mancal e 4ª Porta acústica na sala da turbina e vedação da saída da
tubulação de óleo do mancal.
Por motivos de síntese as demais propostas de soluções foram somente citadas e mostradas na
tabela 2 abaixo.
406
Tabela 2: Soluções e valores de níveis sonoros médios para o piso da Turbina da PA IV
Nível
Nível Atual Diferença
Solução Alcançado
dB(A) dB(A)
dB(A)

Absorção sonora nas principais 89 71 18


superfícies do ambiente
Porta acústica com absorção na
89 84 5,0
saída do poço da turbina
Vedação da saída da tubulação
89 86 3,0
de óleo do mancal
Porta acústica na sala da turbina,
absorção no poço da turbina e
89 70 19
vedação da saída da tubulação de
óleo do mancal

6. CONCLUSÕES
Foi proposta neste trabalho uma metodologia para desenvolvimento de medidas de controle de
ruído em um ambiente de geração de energia elétrica, mais especificamente, de uma hidrelétrica.
Tal metodologia conseguiu resultados de medidas de controle de ruído que contribuem para
reduzir o NPS médio dos ambientes pilotos para valores abaixo de 85 dB(A), que é o valor limite
estipulado pela NR-15, para uma jornada de trabalho de 8h por dia. Através da qual cumpriu-se
com os objetivos propostos, como mostrado anteriormente.
De forma resumida, essa metodologia constitui-se numa abordagem numérico-experimental que
consiste em:
• Medições experimentais de nível de pressão sonora;
• Desenvolvimento de mapas acústicos a partir das medições de nível de pressão sonora;
• Reconhecimento das fontes sonoras mais influentes através dos mapas acústicos;
• Caracterização das fontes reconhecidas, como tipo de fonte sonora, localização, aspectos
de frequência, particularidades do ruído gerado e níveis de potência sonora;
• Desenvolvimento de modelos numéricos dos ambientes, utilizando software híbrido de
raios acústicos e fontes imagem e validação a partir de comparações com resultados
experimentais de nível de pressão sonora; e
• Propostas de medidas de controle de ruído baseadas nos modelos numéricos
desenvolvidos.

Todo esse procedimento foi desenvolvido para investigar o campo acústico do piso das turbinas
da Usina Hidrelétrica Paulo Afonso IV, ambiente piloto do estudo. Este ambiente fora escolhidos
com base na análise dos locais da usina com maior número de colaboradores expostos ao ruído.
Tendo, no piso das turbinas, as aberturas das salas das turbinas como principal fonte (porta do
poço e abertura para saída de tubulações de óleo dos mancais).

REFERÊNCIAS
1. Bistafa, S.R., 2006, “Acústica Aplicada ao Controle de Ruído”, Ed. Edgard Blücher, São Paulo, Brasil.
2. Cardoso, H.F.S., 2008, “Desenvolvimento de Enclausuramento Parcial Através de Métodos Numéricos
para Controle de Ruído de Grupos Geradores em uma Usina Termoelétrica da Eletronorte”, Trabalho de
Conclusão de Curso, Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil.
3. Melo, G.S.V., 2002, “Measurement and Prediction of Sound Absorption of Room Surfaces and Contents at
Low Frequencies”, Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.

407
4. Vieira, R.J.A., 2008, “Desenvolvimento de Painéis Confeccionados a Partir de Fibras de Coco para
Controle Acústico de Recintos”, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Pará, Belém, Brasil.
5. Odeon ver 9.2, 2009, “User Manual”, Bruel & Kjaer, Dinamarca.
6. Gerges, S.N.Y., 2000, “Ruído: Fundamentos e Controle”, NR Editora, Florianópolis, Brasil.
7. Raynoise, 1993, “User Manual”, Numerical Integration Technologies, Bélgica.
8. Sousa, M.C.R., 1997, “Previsão do Ruído em Salas por Raios Acústicos e Ensaios Experimentais”,
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.

408
ALGORITMO PARA DETECÇÃO DE FALHAS EM ESTAÇÕES DE
TRABALHO ATRAVÉS DO NÍVEL DE PRESSÃO SONORA

BONIFACIO, Paulo1; GOMES, Márcio H.A.2; PARIZOTTO, Djeferson3, SILVA, João4.


(1) (3) IFSC – Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Joinville;
(2) UNB – Universidade de Brasília – Campus Gama.
(4) Instituto Nokia de Tecnologia – Manaus.

RESUMO
O monitoramento on-line de falhas fornece suporte ao processo de manutenção e predição nos equipamentos
e garante a qualidade necessária aos processos de produção. Este trabalho apresenta o desenvolvimento de
um algoritmo baseado na análise do sinal referente à pressão sonora para o monitoramento de falhas em
estações de trabalho, linhas de produção ou máquinas. O algoritmo foi avaliado em uma bancada de testes,
de forma a simular uma estação de trabalho com uma falha controlada. Os espectros de ruídos foram
coletados utilizando transdutores de pressão (microfone) posicionados em pontos estratégicos da bancada e
processados através de uma métrica chamada aqui de “Índice de Discrepância”. O algoritmo foi
desenvolvido e implementado no software MATLAB e apresentou bons resultados.

ABSTRACT
The on-line monitoring provides support to the maintenance process by predicting the quality on the
processes and products. This paper presents an algorithm for signal analysis of sound pressure signals aiming
the monitoring of workstations or machines. The algorithm was evaluated in laboratory, by the use of a
workstation with a controlled crash. The sound pressure signals were collected by microphones positioned at
a strategic points of the bench and the metric named “Discrepancy Index”, based on spectral analysis. The
algorithm was developed and implemented in MATLAB and has shown satisfactory results.
Palavras-chave: Monitoramento de falhas.

1. INTRODUÇÃO
A correta manutenção preventiva e preditiva das estações de trabalho garante a confiabilidade nas
máquinas e estabilidade no processo. Os sistemas a prova de falha surgem da necessidade em
eliminar desperdícios, sobretudo, na melhoria do produto e da produtividade.
Atualmente, existem diversos métodos de controle de máquinas e processos, os chamados sistemas
a prova de falha. Um desses métodos é a análise de vibrações, que podem ser aplicadas para
determinar se o estado de uma máquina ou elemento de máquina está funcionando em condições
normais e outros para avaliar a integridade de elementos estruturais [1], [3],[4],[5] e [7].
A falha altera os sinais de ruído e vibração das máquinas e com o devido processamento apresentam
variações que podem ser percebidas através da análise do sinal. O diagnóstico on-line pode,
portanto, ser utilizado para monitorar continuamente a condição de um sistema, indicando a
necessidade de manutenção, inspeção e troca de componentes. Em se tratando de uma estação de
trabalho, é necessário entender em tempo real se o processo está ou não conforme, aumentando
dessa forma a eficiência dos processos produtivos [2].
O algoritmo aqui desenvolvido, que através da análise espectral do sinal de pressão sonora,
consegue demonstrar com apenas um número se o sistema encontra-se dentro do padrão ou não. O

409
sinal é capturando próximo da estação de trabalho, através de um transdutor de pressão sonora
(microfone) e o acompanhamento é feito de maneira on-line, realizando análises numéricas que são
comparadas com o ruído do funcionamento padrão.

2. ALGORITMO DESENVOLVIDO E ÍNDICE DE DISCREPÂNCIA


O algoritmo está estruturado conforme indicado na Figura 1. O sinal, ainda no domínio do tempo, é
dividido para cada ciclo de operação. Desta maneira os sinais são particionados e transformados
para o domínio da frequência (FFT). A média é feita com os últimos cinco intervalos e o envelope é
limitado pelo desvio padrão das últimas cinco medições, e, portanto a métrica entra em operação e
aponta os resultados.
A calibração do algoritmo se refere ao número de desvios padrões utilizado para formar o envelope.
Esta calibração é realizada manualmente e deve ser um parâmetro de fácil modificação, pois em um
ambiente real de monitoramento, o operador irá avaliar qual o número de desvios padrões que ele
deseja levar em conta para aquela situação.
A métrica Índice de Discrepância (INDEX) consiste na construção de um algoritmo que gera um
número capaz de avaliar a discrepância dos sinais relativos a comportamentos fora do padrão, isto é,
presumivelmente com falhas. A métrica envolve parâmetros estatísticos, tais como a média e o
desvio padrão e avalia as discrepâncias ao longo de todo o espectro da resposta em freqüência,
como mostrado na Figura 2. Esta é baseada no simples fato de que em um sistema funcionando
dentro de um padrão normal as discrepâncias entre os sinais de pressão sonora são mínimas. Caso
contrário as discrepâncias se mostram significativamente maiores. Desta maneira pode-se calcular
um envelope limitado pela dispersão em torno da média.
A Figura 2 ilustra o cálculo da métrica a partir de respostas em frequência, mostrando como a
discrepância ao longo da curva é transformada em um número. A figura mostra claramente que a
métrica é baseada no cálculo do número de pontos que estão fora do envelope. No caso da Figura
2A, a curva analisada, em azul, está totalmente dentro do envelope, isto indica que o índice de
discrepância é zero. Por outro lado, a Figura 2D mostra uma curva que está totalmente fora do
envelope, sinalizando um INDEX de valor máximo. As Figuras 2B e 2C mostram os casos onde o
INDEX é calculado por discrepâncias pontuais, obedecendo à mesma lógica.

FIGURA 1 – Estrutura do Algoritmo

410
A) Curva em azul contida no envelope - INDEX =0. B) Curva em azul com uma parte fora do envelope.

C) Curva em azul com duas partes fora do envelope. D) Medição com INDEX – Curva completamente fora do
envelope - INDEX = Máximo.

Resposta Média (considerando os N medições)



– .– Desvio padrão (considerando os N medições)

Curva analisada
––
FIGURA 2 – Cálculo do INDEX baseado na análise de respostas em frequência

3. APARATO EXPERIMENTAL
Para a validação do algoritmo foi realizada a aquisição do sinal real em uma bancada de teste que
simula uma estação de trabalho. Para criar este cenário de operação normal e falha, foi utilizado o
laboratório de automação industrial do IF-SC, Campus Joinvile, como mostra a Figura 3 e 4.

411
Foi desenvolvido um circuito eletro-pneumático, conforme mostrado na Figura 5, envolvendo um
cilindro com movimentos alternativos, que em determinado instante simula uma falha. O sistema
funciona através do seguinte esquema:

OPERAÇÃO NORMAL SIMULAÇÃO DE FALHA

Cilindro Movimento Rápido 3 vezes Cilindro Movimento Lento 2 vezes

Cilindro em
movimento
Microfone
alternativo

FIGURA 3 – Detalhe com o microfone

FIGURA 4 – Bancada de Testes com Circuito Eletro-pneumático Montado

412
FIGURA 5 – Diagrama Pneumático

5. INTERFACE GRÁFICA

Todo o desenvolvimento da interface, tem por objetivo a aplicabilidade e a portabilidade,


permitindo o melhor entendimento do processo e dos resultados [6]. Dessa forma, uma primeira
versão foi feita em Malab, que, além de auxiliar nos cálculos e transformações envolvidas no
algoritmo, facilita a construção da interface gráfica. Assim, um programa dedicado faz o
monitoramento com fácil visualização, como mostrada na Figura 6.

FIGURA 6 – Projeto Final da interface

4. RESULTADOS

Uma das medições realizadas na bancada estão mostradas na Figura 7. Entre 1,3 e 2,0 segundos
acontecem falhas, e novamente após 2,9 segundos. O algoritmo aplicado a medição produz o
resultado na Tabela 1. Portanto, o algoritmo aponta exatamente as falhas produzidas na medição,
possibilitando identificar de forma muito clara as falhas produzidas em laboratório.
A Tabela 1 mostra que o sinal começa a ser analisado apenas em 0,6 segundos. Este fato ocorre
devido ao algoritmo necessitar de um intervalo inicial para definir um padrão, aos quais os sinais

413
subseqüentes serão devidamente comparados. A medição requer também o uso de um filtro (anexo
ao algoritmo principal) que descarte os ruídos relativos ao ruído de fundo. Desta maneira, o ruído de
fundo é descartado de forma automática pelo algoritmo.

FIGURA 7 – Gráfico do sinal no tempo medido na bancada de testes com falha conhecida

TABELA 1: Resultado da Métrica Aplicada ao Sinal da Figura 6

MÉTRICA

(256 pontos no intervalo)

Ordem TEMPO (s) INDEX

1 0,6-0,8 55

2 0,8-1,0 10

3 1,0-1,2 16

4 1,2-1,4 211

5 1,4-1,6 256

6 1,6-1,8 256

7 1,8-2,0 256

8 2,0-2,2 49

9 2,2-2,4 73

10 2,4-2,6 74

11 2,6-2,8 41

12 2,8-3,0 146

13 3,0-3,2 255

414
6. CONCLUSÃO

O tema abordado neste estudo surgiu da necessidade de evitar falhas nos equipamentos e
principalmente nos processos produtivos em algumas indústrias de Joinville-SC. A métrica
mostrou-se eficiente na detecção dos momentos de falha. O algoritmo obteve excelentes resultados
em bancada de teste. O mesmo está sendo testado em campo, em algumas indústrias de Joinville-
SC, com as diversas variáveis presentes, tais como: ruído de fundo, mudanças de ritmo de trabalho
e etc. Portanto o algoritmo deve ser melhor avaliado para que seja constatada tal eficiência.

REFERÊNCIAS

[1] Gomes, M. H. A., Bonifácio, P., Giuliani, C.M., Dias, F.M.C., Gomes, J.I., Development of a vibroacoustic system
for non-destructive test in aerospace structures. NVH-SAE Brasil 2008, Florianópolis, 2008.
[2] Dencker, F., Detecção de Falha na Montagem de Compressores Herméticos por Redes Neurais Artificiais,
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Julho de 2002.
[3] Mathew, J e Alfredson, R., “The Condition Monitoring of Rolling Element Bearing Using Vibration Analysis”,
Journal of Vib., Acoust., Stress and Reliab. in Design, 106, 447–453, 1984.
[4] Mesquita, A.L.A, Santiago, D.F.A, Bezerra, R.A., Miranda, U.A., Dias, M., Pederiva, R., Detecção de Falhas em
Rolamentos Usando Transformadas Tempo Freqüência – Comparação com Análise de Envelope, Mecânica
Computaciona Vol. XXI, pp. 1938–1954, Santa Fe-Paraná, Argentina, 2002.
[5] Santiago, Darley Fiácrio de Arruda. Diagnóstico de falhas em máquinas rotativas utilizando transformada de
wavelet e redes neurais artificiais, Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, 2004.
[6] Varella, A.A,.C., Boehler, K., Ambiente de Computação para Desenvolvimento de Sistemas Sofisticados: Curso
Básico de Matlab, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www.ufrrj.br/institutis/ti/deng/varella/downloads/curso%20basico%20matlab.pdf
[7] REIS, Paulo Henrique Vieira dos. Monitoramente e Análise de Vibração em Redutor de Acionamento do Moinho de
Cimento, CCB Cimpor Cimentos do Brasil Ltda. 2006.

415
 

SESSÃO 06-A

416
INVERSÃO DE PARÂMETROS GEOMÉTRICOS DE CANAL ACÚSTICO
SUBMARINO

BARREIRA, Leonardo M.1; SIMÕES, Marcus V.S.1


(1) Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira

RESUMO
Este artigo apresenta os resultados de um experimento de inversão acústica para a determinação de
parâmetros geométricos de um canal acústico submarino. Os parâmetros geométricos utilizados foram
profundidade do projetor acústico; profundidade do hidrofone; e distância entre projetor acústico e
hidrofone. A inversão foi implementada por meio da comparação entre o campo sonoro medido durante o
experimento e o campo sonoro obtido por modelos computacionais que simulam a propagação acústica
submarina. A quantidade de simulações computacionais realizadas para se efetuar a “busca” dos
parâmetros ora invertidos é função direta da quantidade de parâmetros e da resolução com que se define o
vetor de possíveis valores de cada parâmetro. Para otimização da busca de um conjunto de parâmetros
que forneça uma solução adequada ao problema, a partir de um espaço amostral com muitas
possibilidades de combinações, foi utilizada a técnica de algoritmos genéticos. O modelo adotado neste
trabalho foi o Bellhop que implementa o método do traçado de raios gaussianos para o cômputo das
perdas na propagação do som no mar, bem como o instante, amplitude e fase de cada chegada discreta
dos raios no local de recepção. Os dados aqui analisados foram coletados durante a comissão acústica
OAEX’10, ocorrida entre os dias 19 e 22 de novembro de 2010 e inserida no âmbito do projeto Ocean
Acoustic Exploration, que envolveu instituições brasileiras e européias.

ABSTRACT
This article presents the results of an acoustic inversion experiment for an underwater acoustic channel
geometrical parameters determination. The geometrical parameters considered were acoustic projector
depth, hydrophone depth and distance between the acoustic projector and the hydrophone. The parameters
inversion was implemented by comparing the sound field measures during the trials at sea and the sound
field obtained by computer models that simulate the underwater acoustic propagation. The number of
computer simulations carried on in order to perform the parameters search is a function of the desired
number of parameters and the resolution in which one defines the cevtor of possible values for each
parameter. To optimize the search for a set of parameters combinations, the algorithm genetic technique
was applied. The model adopted in this work was the Bellhop, that implements the ray tracing method for
the calculation of transmission loss of sound at sea, as well as time delay, amplitude and phase of each
discrete ray arrival at the receiving point. The data analyzed here were collected during the OAEX’10
acoustic sea trial, occurred between November 19th and 22th 2010 inserted in the frame of the Acoustic
Ocean Exploration project involving Brazilian and European institutions.
Palavras-chave: Acústica Submarina. Inversão Acústica. Processamento de Sinais Acústicos

1. INTRODUÇÃO
A propagação do som no mar pode ser simulada a partir de modelos computacionais que
resolvem um conjunto de equações diferenciais e suas condições de fronteira. Dentre as diversas
soluções numéricas existentes, este trabalho utilizará o modelo de traçado de raios Bellhop [1].
Uma descrição detalhada do assunto pode ser encontrada no trabalho de Jensen et al. [2]. A
solução do problema direto, em acústica submarina, consiste na determinação do sinal que chega
em um determinado local (onde normalmente está localizado o hidrofone) de posse do
conhecimento dos parâmetros ambientais e geométricos, que interagem com a propagação do
som, quais sejam, o perfil de velocidade do som, as características geo-acústicas do fundo
marinho, o campo de ondas na superfície, o campo de correntes oceânicas, profundidade do

417
projetor acústico (fonte), profundidade do hidrofone (receptor), profundidade local e distância
entre fonte e receptor. Na maioria dos casos reais, os parâmetros citados não são homogêneos no
espaço considerado para a transmissão do sinal acústico e, portanto, tais variáveis de entrada
para solução do problema direto não são simples valores, mas compõem vetores que armazenam
a variabilidade do parâmetro no espaço (ou apenas na distância para as simplificações bi-
dimensionais, como a adotada neste trabalho). O problema, de alta complexidade, não admite
soluções analíticas, salvo para situações muito simplificadas. Normalmente, a solução do
problema é realizada por meio de modelos computacionais que utilizam métodos numéricos para
a solução das equações. O problema direto, em acústica submarina, é resolvido na análise do
desempenho de sistemas acústicos, de deteção, comunicação, entre outros, onde se deseja
estimar as características de recepção de um determinado sinal transmitido, num outro local.

Entretanto, em muitas situações, o sinal recebido é conhecido, assim como o transmitido, e o


objetivo da análise do sinal acústico é a determinação dos parâmetros, ambientais ou
geométricos, que influenciaram a propagação do som e, portanto, a forma do sinal recebido. Tais
problemas, em acústica submarina, são denominados problemas inversos. Usualmente, os
problemas inversos são resolvidos com a intensa utilização de modelos computacionais, que
resolvem o problema direto para diferentes combinações de parâmetros de entrada, ambientais e
geométricos. Os resultados dos modelos são, então, comparados com os dados efetivamente
recebidos pelo hidrofone, a fim de se determinar a combinação de parâmetros de entrada
(solução do problema inverso) que forneceu os resultados mais próximos ao sinal recebido no
hidrofone. Entretanto, devido ao grande número de possibilidades possíveis de combinações dos
dados de entrada, o problema inverso adquire grande complexidade – cuja solução usualmente
incorpora algoritmos de otimização, como os algoritmos genéticos, utilizados neste trabalho –,
não só para a determinação das combinações de parâmetros de entrada que fornecem uma saída
próxima ao resultado medido, mas também em função da necessidade de avaliação de que tal
conjunto de parâmetros é possível, numa abordagem realista baseada no conhecimento que se
tem acerca do ambiente em análise [3].

Neste trabalho, um conjunto de dados coletados no mar, durante a comissão acústica OAEX’10,
que ocorreu na costa do município de Arraial do Cabo/RJ, entre os dias 19 e 22 de novembro de
2010, será analisada com o fito de se determinar, com maior precisão, os parâmetros geométricos
da profundidade da fonte, profundidade do receptor e distância entre eles, a fim de se ajustar os
valores inicialmente estimados, sem grande precisão, durante o experimento. A metodologia
aplicada e os dados transmitidos e recebidos serão descritos no item 2, os resultados constam do
item 3. No item 4 estarão as conclusões e considerações finais do trabalho.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. A Comissão OAEX’10
A Comissão OAEX’10, conduzida pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira
(IEAPM), da Marinha do Brasil, contou, ainda, com a participação de pesquisadores da
COPPE/UFRJ, da Universidade do Algarve e da Universidade Livre de Bruxelas. Foram
utilizados dois navios, um “transmissor” e outro “receptor”.

O navio transmissor utilizou uma fonte acústica do modelo Lubell LL 1424HP, com banda de
transmissão de 200 a 9000 Hz e potência máxima de 165 dB. A fonte era arriada pelo navio, com
o auxílio de um equipamento de carga do convés (Fig. 1a), e posicionada a cerca de 8 metros da
superfície, por um cabo de aço fixado num guincho elétrico. A profundidade real da fonte,
entretanto, não era conhecida com precisão, devido aos diversos itens mecânicos dispostos na
linha de sustentação do instrumento, pela inclinação do cabo em função da deriva do navio e,
principalmente, pelo deslocamento vertical de todo o sistema imposto pelo balanço do navio.

418
O navio receptor utilizou um arranjo linear (array) com 8 hidrofones sem pré-amplificadores,
instalados a uma distância, entre si, de 3 m. O hidrofone mais raso foi instalado a 4 m de um
conjunto de pequenas bóias, responsáveis pela flutuabilidade do sistema (Fig. 1b). O hidrofone
mais profundo, portanto, ficava a 25 m da superfície. A opção pelo conjunto de bóias, para
flutuação do sistema, foi uma tentativa de desacolplamento entre o movimento de balanço do
navio e do deslocamento vertical do array. Todavia, considerando que o conjunto de bóias
ocupava cerca de 3 m do comprimento do array, havia uma contrapartida em relação à
imprecisão acerca da posição vertical final dos hidrofones.

a) b) c)

Figura 1: a) Esquerda: fonte acústica utilizada e seu dispositivo de arriamento; b) Centro: arranjo linear de
hidrofones e o conjunto de bóias utilizado para sua flutuação; e c) Direita: posição do navio receptor (azul), a cerca
de 40 m de profundidade; e posição, inicial e final, do navio transmissor (vermelho), a cerca de 90 m de
profundidade. A posição final do navio transmissor está grafada sobre a posição inicial, denotando que a deriva do
navio se deu para “a esquerda” do gráfico, ou seja, no sentido “para oeste”.

Em função da maior dificuldade de lançamento do array, pelas suas dimensões e pelo trabalho
manual de lançamento, o experimento foi conduzido mantendo-se o navio receptor fundeado
(ancorado), em local de profundidade de cerca de 40 m e o navio transmissor, após assumir a
posição prevista para início da transmissão, iniciava uma deriva livre. No caso do experimento
estudado neste trabalho, o local guarnecido pelo navio transmissor apresentava profundidade de
cerca de 95 m, a uma distância de cerca de 13 km do navio receptor. A posição dos dois navios
foi constantemente monitorada por GPS. A Fig. 1c apresenta a posição dos navios durante o
experimento.

2.2. O canal acústico de propagação do som


A área do experimento consiste numa área de especial interesse ao IEAPM, em função da sua
proximidade com o Instituto e do fenômeno da ressurgência, presente na região de Cabo Frio [4]
e que consiste no resfriamento da água do mar em função do soerguimento de águas mais
profundas (e frias) “bombeadas” pelo vento, no chamado transporte de Ekman.
Consequentemente o Insituto possui um considerável conhecimento acerca da batimetria e da
natureza do fundo marinho nessa área. Levantamentos batimétricos com ecobatímetros
multifeixe permitem a confecção de um modelo digital do fundo marinho, com resolução de 50
m. As amostragens geológicas realizadas permitem o uso, nos modelos computacionais de
propagação, de informações imprescindíveis para um bom desempenho dos modelos, haja vista
sua significativa dependência em relação à interação entre o fundo marinho (com seus
parâmetros de velocidade do som no sedimento, densidade, porosidade e impedância) e a onda
sonora que sobre ele incide.

Além disso, a comissão OAEX’10 também contou com um criterioso levantamento


oceanográfico, para determinação do campo de velocidade do som no meio. Tal levantamento
consistiu da realização de mais de 130 perfis verticais de temperatura e salinidade (cujos dados

419
permitem o cálculo do perfil vertical da velocidade do som), numa grade regular distribuída pela
área de interesse da comissão, durante a noite, e nos locais de transmissão e recepção dos sinais
acústicos, durante o dia, concomitantemente aos experimentos.

As informações ambientais acima descritas são utilizadas como dados de entrada do modelo
computacional selecionado, o Bellhop, que é um modelo bi-dimensional (profundidade e
distância) capaz de manipular informações ambientais variáveis com a distância (range
dependent). A Fig. 2b, abaixo, apresenta o campo de velocidade do som e a batimetria, oriundos
do processamento dos dados oceanográficos coletados e inseridos no modelo.

a) b)
Figura 2: a) Esquerda: perdas na propagação, em dB, para o caso do experimento abordado neste trabalho, para
frequência de 750 Hz. As perdas chegam a 80 dB, no local de recepção (extremidade direita do gráfico), a cerca de
13 km de distância da fonte (extremidade esquerda do gráfico), simulada a 8 m de profundidade; e b) Direita:
situação da topografia do fundo marinho (máscara marron da figura) e do campo bi-dimensional da velocidade do
som (em m/s), entre a fonte acústica (distância inicial) e o array de hidrofones (a 13 km da fonte).
Como pode ser observado na Fig. 2b, existe uma grande variação da profundidade entre os locais
de transmissão e de recepção do sinal acústico. É extremamente importante que o modelo
acústico considere a correta morfologia do fundo marinho a fim de produzir resultados
satisfatórios. A propagação do som numa situação de fundo plano possui comportamento
diferente não só pelo diferente número de interações com o fundo, mas também por alterar
significativamente o padrão de interferências, construtivas e destrutivas, entre as ondas
incidentes e refletidas no fundo.

Considerando-se a máxima de que “o som é preguiçoso”, ou seja, que o padrão de refração do


som, no mar, sempre ocorre de forma a “conduzir” a energia sonora para as regiões onde a
velocidade do som é menor, a Fig. 2 também permite observar que o campo de velocidade do
som é bastante heterogêneo, com forte gradiente negativo (diminuição da velocidade do som em
função do aumento da profundidade) o que implica uma forte refração da energia sonora em
direção ao fundo. Esse tipo de situação é associado à presença do fenômeno da ressurgência, em
que águas frias (com menor velocidade do som) penetram junto ao fundo até aflorarem junto à
costa, e faz com que a natureza do fundo marinho exerça grande influência sobre a propagação
do sinal, uma vez que apenas uma porção da energia é refletida por essa fronteira e o som, na sua
propagação em distância (no caso, avançando da esquerda para a direita do gráfico), ao ser
refratado em direção ao fundo, só consegue se propagar com seguidas reflexões com o fundo [5].

2.3. Os sinais transmitidos e recebidos


Os sinais utilizados no experimento consistiram de pulsos com modulação linear em frequência
(LFM), com 2 bandas distintas. O primeiro bloco, chamado de “baixa frequência”, era consistido
de 10 LFMs, de 500 a 1000 Hz, com duração de 1 s e intervalo de 0,5 s entre cada LFM. O
segundo bloco, chamado de “alta frequência”, possuía 20 LFMs, de 1000 a 2000 Hz, com
duração de 0,5 s e intervalo de 0,25 s entre cada LFM. Os dois blocos, portanto, perfaziam um
intervalo total de 15 s.

420
A adoção de sinais LFM justifica-se pela capacidade de explorar o canal acústico em uma banda
definida. Além disso, a função de auto-correlação de um sinal LFM, ao contrário do que ocorre
com os sinais CW (continuous wave), apresenta um pico estreito e bem definido, de especial
interesse para a identificação de chegadas discretas do sinal, com pequenos intervalos entre elas.

Os sinais utilizados no presente estudo foram transmitidos a uma distância significativamente


grande, de 13 km, principalmente considerando-se o fato de os hidrofones não serem pré-
amplificados. Ademais, durante as transmissões, ainda não se tinha uma idéia completa acerca
do campo de velocidade do som, com perfil fortemente negativo. Por esse motivo, o sinal
recebido pelos hidrofones teve baixa intensidade. Após 5 repetições do sinal completo, composto
das LFMs de baixa e alta frequência, o experimento, a tal distância, foi cancelado, e a comissão
prosseguiu, envolvendo menores distâncias entre os navios. No entanto, os dados foram
armazenados, e formam o conjunto analisado neste trabalho. Em função da maior atenuação a
que estão sujeitos, os sinais LFM de alta frequência não foram detetados no receptor. Apenas os
sinais de baixa frequência foram recebidos, envoltos em grande ruído, mas passíveis de serem
aproveitados. Os dados transmitidos a maiores distâncias apresentam um padrão de chegadas
discretas muito melhor definido e, por esse motivo, foram selecionados para o presente estudo. A
Fig. 3, abaixo, mostra o espectograma dos sinais transmitidos (a) e recebidos (b) neste trabalho.

a) b)
Figura 3: a) Esquerda: espectograma dos sinais transmitidos no experimento: LFM de baixa frequência, de 500 a
1000 Hz, com 10 repetições, e LFM de alta frequência, de 1000 a 2000 Hz, com 20 repetições. Os dois blocos
perfazem 15 s de duração, cada; b) Direita: espectograma dos sinais recebidos durante o experimento, com alto nível
de ruído na faixa de interesse (mesmo após filtragem passa-banda), incluindo sinais associados às máquinas do
navio receptor. Apenas o sinal LFM de baixa frequência pode ser observado no sinal recebido.

2.4. Resolução do Problema Direto


Para resolução do problema direto, o Bellhop necessita, como dados de entrada, dos parâmetros
ambientais e geométricos do problema. Desta forma, foram inseridos o campo de velocidade do
som, o relevo submarino, os parâmetros do fundo (velocidade do som no sedimento – ondas
compressivas –, densidade e atenuação), a profundidade da fonte, a profundidade dos hidrofones
e a distância. O programa, então, pode calcular as perdas na propagação ou o padrão de chegadas
do sinal acústico.

A Fig. 2a apresenta o gráfico de perdas na propagação, modo incoerente, para os dados


ambientais preparados. A frequência simulada no gráfico da Fig. 2a é a de 750 Hz, que é a
frequência central da LFM de baixa frequência. Resultado similar foi obtido para a simulação
com frequência de 1500 Hz, centro da LFM de alta frequência.

O gráfico da Fig. 2b permite observar que o forte gradiente negativo do campo de velocidade do
som faz com que, em diversos casos da figura, a energia sonora seja refratada novamente em
direção ao fundo, sem que seja refletida pela superfície. Além disso, o grande número de
reflexões no fundo faz com que a perda de energia durante a transmissão seja bastante
significativa, antevendo um sinal de baixa intensidade, principalmente se considerarmos o alto
nível de ruído ambiental presente em regiões costeiras, especialmente as com costões rochosos,
acrescido do ruído próprio do navio receptor, que, apesar de fundeado e com os motores
principais desligados, permaneceu com seus geradores ligados.
421
Um outro tipo de informação disponibilizado pelo Bellhop é o padrão de chegadas do sinal
acústico transmitido. Para tal, o modelo calcula o tempo gasto por cada raio para percorrer a
distância entre fonte e receptor, levando em conta que as distâncias são diferentes, para cada
percurso possível, bem como a velocidade do som em diferentes regiões por onde o raio passa na
sua trajetória. Assim, o modelo é capaz de fornecer uma tabela com as amplitudes, fases e
atrasos dos raios que chegam ao receptor. Utilizando-se técnicas de IFFT, é possível, então,
montar um sinal, no domínio do tempo, a partir das informações de tempo de chegada fornecidas
pelo modelo. A Fig. 4b mostra, em vermelho, para o caso em tela, o resultado obtido pela
convolução da série temporal calculada pelo modelo com a réplica do sinal transmitido. O local
de recepção, nesse caso, é o sexto hidrofone do array, de cima para baixo, a uma profundidade
estimada em 19 m.

a) b)
Figura 4: a) Esquerda: padrão de chegada dos 5 blocos recebidos. Pode-se observar a estabilidade de algumas
feições e a variabilidade temporal de outras; b) Em azul: o padrão de chegada médio, obtido a partir dos 5 blocos
recebidos; e em vermelho: padrão de chegadas calculado pelo modelo Bellhop, para a frequência de 750 Hz,
profundidade da fonte 8 m, profundidade do hidrofone 19 m e distância 12,92 km.

O gráfico apresenta o padrão de chegadas do sinal. O eixo horizontal representa o tempo, em


milisegundos, transcorrido após a transmissão do sinal, na fonte acústica. Pode-se observar que o
sinal sofre uma dilatação temporal, já que entre a primeira chegada do sinal e a última passam-se
cerca de 200 ms. O sinal com maior amplitude corresponde ao raio que menos vezes refletiu no
fundo marinho, já que cada reflexão implica perda de energia. No gráfico da Fig. 4b, esse sinal,
com amplitude superior às demais chegadas, refletiu 4 vezes na superfície e 10 vezes no fundo (o
menor número de reflexões dentre todos os raios computados pelo modelo).

2.5. Resolução do Problema Inverso


O primeiro passo para resolução do problema inverso é a determinação do padrão de chegadas
do sinal recebido, de fato, durante o experimento. Da mesma forma como foi obtido o padrão de
chegadas derivado do modelo computacional, o sinal recebido é convoluído com uma réplica do
sinal transmitido. Ao “percorrer” o sinal recebido, a réplica do sinal transmitido é correlacionada
com o sinal recebido e, em parcelas da série temporal onde está presente o sinal transmitido, a
correlação resulta alta, assinalando a presença do sinal transmitido na série temporal recebida. A
exemplo do que já foi observado no resultado do modelo computacional, é comum a
identificação do sinal transmitido em diferentes instantes do sinal recebido, em função dos
multipercursos a que o sinal está sujeito durante sua propagação no canal.

Durante o experimento, foram transmitidos 5 blocos com os sinais LFM de baixa e alta
frequência. Cada bloco de baixa frequência continha 10 LFMs e cada bloco de alta frequência,
20 LFMs. No sinal recebido, não foi possível identificar o sinal das LFMs de alta frequência, que
sofreu uma maior atenuação durante sua propagação pelo canal acústico. Apenas as LFMs de
baixa frequência puderam ser identificadas, com intensidade bastante baixa, após filtragem
passa-banda do sinal recebido, como pode ser observado na Fig. 2b, acima. Além disso, apenas
os dados provenientes do hidrofone 6 (de cima para baixo) apresentou dados de razoável

422
qualidade. Todos os demais sinais, provenientes dos outros 7 hidrofones, continham uma
contaminação por sinal de celular, provavelmente induzido a bordo, antes da digitalização do
sinal, que impediu a utilização desses sinais.

O sinal recebido do hidrofone 6 foi, portanto, processado, para determinar o padrão de chegada
das LFMs de baixa frequência. Cada bloco teve as suas 10 repetições do sinal mediadas. A Fig.
4a apresenta as médias obtidas para cada bloco. Algumas feições apresentam-se estáveis nos 5
gráficos da figura. As diferenças entre os gráficos estão associadas a variações nas condições
ambientais. A deriva do navio altera a geometria do problema e o movimento dos navios, tanto o
transmissor quanto o receptor, com as ondas do mar, faz com que tudo permaneça em
movimento (o que não acontece na simulação em modelo computacional). Como o comprimento
de onda de um sinal acústico de 750 Hz é de 2 m, pode-se compreender que pequenas variações
na geometria do problema alteram o padrão de interferências entre os sinais que se propagam no
canal, sucessivamente refletidos pelas fronteiras superior e inferior, alterando a forma com que o
sinal chega ao receptor. É de especial interesse observar que o pico principal do gráfico
correspondente ao bloco 5, na Fig. 4a, vai se transformando, já no bloco 4, em um pico duplo,
até que os picos já estejam totalmente separados no bloco 1. De todo modo, o sinal que será
utilizado para a comparação com o modelo será a média dos sinais obtidos nos 5 blocos, que
consta da Fig. 4b.

Qualitativamente, uma comparação visual entre os gráficos da Fig. 4b e da Fig. 4c, mostram que
a correlação entre o sinal recebido e o sinal modelado não é tão alta quanto desejada.
Quantivamente, tal correlação foi calculada, resultando um coeficiente, r, igual a 0,63, até
razoável. Tal fato decorre da imperfeição dos dados de entrada do modelo, que incorpora erros
em todos os seus parâmetros de entrada, com diferentes graus de impacto no resultado modelado.
Uma das técnicas de se tentar ajustar os parâmetros de entrada do modelo é a inversão acústica.
Alterando-se os valores dos parâmetros, é de se esperar que exista um dado vetor de parâmetros
que ofereça uma saída de alta correlação com os dados medidos. A busca por esse vetor “ideal”
é, todavia, uma tarefa de alta complexidade e intensiva computacionalmente, já que as possíveis
combinações de parâmetros de entrada crescem exponencialmente com o número de parâmetros
utilizados no modelo.

No caso do presente trabalho, será utilizado um espaço de busca tri-dimensional, para o ajuste
dos parâmetros profundidade da fonte, do hidrofone e distância entre ambos. As profundidades
investigadas foram formadas por vetores, com domínios de ±2 m em relação aos valores
adotados inicialmente no modelo (8 e 19 m, respectivamente, para profundidade da fonte e do
hidrofone). Para a distância será utilizado um vetor de 12,5 a 13,2 km.

3. RESULTADOS
Para implementação do problema inverso, o modelo computacional foi utilizado para gerar o
padrão de chegada na posição do hidrofone 6. A solução de todos as combinações possíveis – já
para um problema de busca de 3 variáveis – é muito intensiva computacionalmente e, para
mitigar esse problema, foi utilizado um algoritmo genético, para otimização da busca pelos
parâmetros que solucionam o problema. Uma descrição detalhada do método pode ser
encontrada no trabalho de Goldberg [6]. O algoritmo genético utilizado neste trabalho busca
minimizar uma função, a partir da combinação dos parâmetros de entrada. Nesse caso, foi
definida uma função que consistia no inverso do valor do coeficiente de correlação entre o
padrão de chegada calculado pelo modelo e o obtido a partir dos dados medidos. O resultado
inicial, com os parâmetros “padrão”, mostrados na figura 4b, teve um coeficiente de 0,63.

423
A solução do problema inverso resultou em novos parâmetros de entrada para as 3 varáveis
consideradas. O valor estimado para a profundidade da fonte foi de 6,03 m; para a profundidade
do hidrofone, 19,58 m; e para a distância foi de 12,8 km. Com tais parâmetros o coeficiente de
correlação entre as séries modelada e medida no mar passou para 0,79, um aumento, portanto, de
16%. Um gráfico com os padrões de chegada computados com os dados medidos no mar e com
os calculados pelo modelo, já com os novos parâmetros de entrada, pode ser visualizado na Fig.
5.

Figura 5: Em azul: o padrão de chegada médio, obtido a partir dos 5 blocos recebidos; e em vermelho: padrão de
chegadas calculado pelo modelo Bellhop, para a frequência de 750 Hz, profundidade da fonte 6,03 m, profundidade
do hidrofone 19,58 m e distância 12,8 km.

4. CONCLUSÃO
A inversão acústica é uma poderosa ferramenta para a determinação de parâmetros geométricos e
ambientais que condicionam a propagação do som no mar, já que consegue estimar o valor de
parâmetros em problemas mal-condicionados, em que o número de equações é menor que o de
variáveis. No presente trabalho, a técnica foi aplicada para a inversão de parâmetros geométricos
com significativa melhora no ajuste fino dos parâmetros e, consequentemente, dos resultados. A
mesma técnica pode ser utilizada para a determinação, por inversão acústica, de outros
parâmetros, como os geoacústicos do fundo marinho, a profundidade local e o campo de
velocidade do som que, especialmente, pode ser utilizado para derivar o campo de temperatura
da água do mar, num processo denominado “Tomografia Acústica do Oceano - TAO” [7].

Vale ressaltar, entretanto, que, a despeito do poder de estimação de variáveis associado aos
problemas inversos, o aumento da complexidade dos parâmetros a serem invertidos (como
acontece na TAO, por exemplo), deve ser acompanhado do aumento do número de hidrofones (e
portanto de equações) ou mesmo de fontes acústicas, para que a solução alcançada seja, de fato,
representativa para um maior conjunto de simulações.

REFERÊNCIAS

1. M.B. Porter e H.P. Bucker, “Gaussian beam tracing for computing ocean acoustic fields,” J. Acoust. Soc. Am.
82, p.1349-1359, 1987.
2. Jensen F., Kuperman W., Porter M., and Schmidt H. Computational Ocean Acoustics. AIP Series in Modern
Acoustics and Signal Processing, New York, 1994.
3. Aster R. C., Borchers B. e Thurber C. H. Parameter Estimation and Inverse Problems. International
Geophysics Series, Elsevier Academic Press, Burlington, 2005.
4. Franchito S.H., Rao V.B., Stech J.L., Lorenzzetti, J.A., The effect of coastal upwelling on the sea-breeze
circulation at Cabo Frio, Brazil: a numerical experiment, Ann. Geophisicae 16, 866-881, 1998.
5. Bradley D.L., Tulko T.J., Gregory W.R., Acoustic propagation in shallow water, J. Acoust. Soc. Am. 64, issue
S1, 1978.
6. Goldberg, David E., Genetic Algorithms in Search, Optimization & Machine Learning, Addison-Wesley, 432p.,
1989.
7. Munk W.H., Worcester P., Wunsch C., Ocean Acoustic Tomography. Cambridge Monographs on Mechanics,
Cambridge University Press, New York, 433p., 1995.

424
DESEMPENHO DE UM PROTÓTIPO DE MODEM ACÚSTICO
SUBMARINO EM ÁGUAS MUITO RASAS

XAVIER, F. C.1; DINIZ, C. M.1; BARREIRA, L. M.1; SIMÕES, M. V. S.1; ALBUQUERQUE,


R. N. 1; RIGOGLIO, E. G.1
(1) Instituto de Estudos do mar Almirante Paulo Moreira.
RESUMO
Este trabalho mostra resultados preliminares sobre funcionamento de um modem acústico submarino
desenvolvido no IEAPM, de acordo com um experimento realizado na Enseada dos Anjos em Arraial do
Cabo. Este protótipo de modem utiliza um tipo de modulação na qual a frequência de uma onda portadora é
alterada por um sinal modulante de acordo com valores pré-estabelecidos, permitindo uma maior eficácia nas
transmissões em banda base. O mesmo funciona numa banda de 4kHz (4kHz à 8kHz), sendo ela dividida em
16 sub-bandas e com um espaçamento na freqüência de 250Hz. Cada sub-banda representa um pulso de
10ms que representa 4 bits, sendo cada par de pulsos equivalente a um símbolo. No entanto, para tentar
identificar e corrigir prováveis erros durante a transmissão foi utilizado um algoritmo convolutivo de
correção de erros, que insere bits de redundância de acordo com uma taxa pré-determinada, juntamente com
o decodificador de Viterbi, aumentando o número de bits transmitidos para cada símbolo. Cada transmissão é
iniciada e encerrada por uma onda contínua de 30ms. Na demodulação, o dado recebido é formatado e
sincronizado de acordo com sinais que limitam a transmissão para que em seguida, cada pulso seja
detectado, identificado, analisado e decodificado de modo que haja uma interpretação correta da informação
transmitida.

ABSTRACT
This paper shows preliminary results about the functioning of an underwater acoustic modem developed in
IEAPM in accordance with an experiment conducted in the Enseada dos Anjos in Arraial do Cabo. This
modem prototype uses a type of modulation in which the frequency of a carrier wave is altered by a
modulating signal according to predetermined values, allowing greater efficiency in the baseband
transmissions.This prototype operates in a band of 4 kHz (4 kHz to 8 kHz), it being divided into 16 sub-
bands and with a spacing in the frequency of 250Hz. Each sub-band represents a 10ms pulse that represents
four bits and each pair of pulses is equivalent to a symbol. However, to try to detect and correct probable
errors during the transmission is used an algorithm convolutional of error correction, to insert redundancy
bits in accordance with a predetermined rate, together with the Viterbi decoder, increasing the number of bits
transmitted for each symbol. Each transmission is initiated and terminated by a continuous wave of 30ms.
Finally, in the demodulation, the received data is formatted and synchronized according to signals that limit
the transmission to that then each pulse is detected, identified, analyzed and decoded so that there is a correct
interpretation of the information transmitted.

Palavras-chave: Comunicações Submarinas, FSK, Taxa de erro, Algoritmo de Viterbi.

1. INTRODUÇÃO
Atualmente as comunicações acústicas submarinas são bastante utilizadas em instalações offshore,
onde tem o papel de estabelecer comunicação entre sensores/veículos submarinos e plataformas,
auxiliando em atividades relacionadas à prospecção de petróleo. Neste tipo de aplicação, a
comunicação dá-se, usualmente, em enlaces verticais ao longo da coluna d’água, o que facilita a
transmissão, por diminuir o problema dos multipercursos da propagação do som na água, que é
crítico nas transmissões horizontais.

425
Os modems comerciais já disponíveis no mercado possuem taxas de transmissão relativamente
baixas, limitando a gama de aplicações deste tipo de dispositivo. Além disso, ainda carecem de uma
maior confiabilidade no que concerne ao seu desempenho. Este trabalho apresenta uma análise
preliminar do desempenho de um protótipo de modem, feito no Grupo de Acústica Submarina do
IEAPM, em testes realizados com transmissões horizontais o experimento.

2. METODOLOGIA
2.1. Descrição do experimento
Este experimento teve como objetivo realizar transmissões acústicas, a fim de validar e testar a
acurácia de algumas metodologias utilizadas neste protótipo de modem. Para a realização deste
experimento foi necessário à montagem de um “posto”, para emissão dos sinais, localizado em um
dois píeres do cais da pesca na Enseada dos Anjos. Logo, nestas emissões foi utilizada uma fonte
hidroacústica, que funciona numa faixa de frequência de 200Hz - 9 kHz (+ /-4dB entre 400Hz -
8kHz), tendo ela permanecido a aproximadamente 2,5m do fundo durante todo o experimento, onde
a profundidade máxima local era de 4,5m.

Na recepção dos sinais foram utilizados 2 sensores hidroacústicos que estavam posicionados nas
proximidades do IEAPM. Estes hidrofones, nomeadamente H1 e H2 estavam, respectivamente,
numa profundidade de 4,5 e 6,5 metros, onde a profundidade máxima local era de 7,3m para o
hidrofone H1 e de 5,4m para o hidrofone H2. O hidrofone H1 estava a uma distância de 700m da
fonte e a uma distância de 150m do hidrofone H2, estando o hidrofone H2 600m de distância da
fonte (ver Fig.1).

Figura 1: Geometria do experimento


Fonte: XAVIER, 2011.

2.2. Modulação do sinal


A modulação digital pode ser definida como um sistema que possui duas entradas, a informação
(digital) e a portadora (analógica), e um sinal de saída que é usado para transportar tal
informação numa determinada transmissão. Dentre os tipos de modulação digital existentes, a
modulação por chaveamento de frequência (Frequency Shift Keying - FSK) foi utilizada por
possuir uma boa eficiência na transmissão de dados em banda base, por meio sonoro (OSORIO
et al., 1997). Esta modulação consiste, resumidamente, em mapear cada símbolo a ser
transmitido em um pulso de 10ms de duração na frequência correspondente. Desta forma, uma

426
sequência de dados se transforma em uma série de pulsos que são transmitidos sequencialmente,
seguindo uma codificação em frequências discretas, como ondas sonoras. Esse protótipo de
modem utiliza uma banda de 4kHz(4kHz à 8kHz), sendo ela dividida em 16 sub-bandas, com
espaçamento de 250Hz. Cada sub-banda representa um conjunto de 4 bits, de tal forma que a
frequência mais baixa assume o valor do conjunto de bits [0 0 0 0] e a frequência mais alta, o
valor [1 1 1 1]. Assim, ao transmitir-se uma das 16 frequências pré-definidas, tem-se a
transmissão de 4 bits de uma só vez, caracterizando uma modulação 16-FSK.

Conquanto, cada byte passa por um codificador convolutivo, onde ocorre uma inserção de bits
redundantes e uma reorganização desta nova sequência de acordo com um polinômio
característico que descreva o entrelaçamento desejado. Neste caso, a taxa de código foi de 1/2,
isto é, para cada bit de entrada são criados dois de saída. Porém, antes de serem transmitidos é
usada uma técnica chamada de interleaver, que embaralha estes bits, de tal modo que, se no
caminho do sinal, entre o transmissor e o receptor, houver uma interferência concentrada, ao se
fazer o desembaralhamento, no receptor, os erros ficam mais distribuídos (CLARK & CAIN,
1981). Cada pulso transmitido tem 10ms de duração e pode ter um tempo de guarda entre eles de
10ms ou 50ms, dependendo das condições do meio, de modo que não haja interferência
intersimbólica (inter symbol interference – ISI), causada, principalmente, pela dilação do sinal
no tempo, em função do multicaminhamento a que está sujeito o sinal durante sua propagação
horizontal. O pulso é criado pela multiplicação de um sinal senoidal com a frequência desejada
por uma janela cuja forma é semelhante à de uma onda co-senoidal de meio ciclo. Esta janela é
conhecida como janela de Hanning e suas principais características são: distinção eficiente entre
sinais de baixa amplitude e sinais de alta amplitude que possuam frequências bem próximas, por
meio da supressão de lóbulos secundários, e redução significativa da perda espectral do sinal (ver
Fig. 2).

(a) (b)
Figura 2: Representação para um símbolo, (a) Sinal no domínio do tempo, (b) Espectrograma do sinal
Fonte: XAVIER, 2011.

2.3. Demodulação do sinal


Na demodulação, o sinal recebido é formatado de acordo com pulso de inicio e de fim, com
intuito de otimizar o processamento dos dados recebidos. Assim, apenas a série de dados
recebidos entre os sinais de início e fim de transmissão são retirados da série total de dados
recebidos, sendo separados para o processamento da demodulação. Em seguida, essa porção do
sinal, onde está localizada a informação, é dividida em amostras de 10ms de modo que as
mesmas possam ser utilizadas na identificação das frequências.

427
Na identificação das frequências é feita uma detecção das frequências transmitidas, a partir da
convolução entre as réplicas dos sinais transmitidos e o dado recebido. Para cada janela de 10ms
o sinal recebido é analisado e uma das frequências é detectada. Por exemplo, se a correlação
entre o dado recebido com a réplica do sinal f2 for maior que a correlação deste dado com as
réplicas dos outros sinais, o sinal é f2 é interpretado como sinal transmitido e armazenado num
vetor 1xn. Em seguida, este vetor é subdividido em vetores de 1x16 e desembaralhado de acordo
com o interleaver utilizado na modulação. A partir daí, cada um destes vetores serve de entrada
para o Algoritmo de Viterbi que, por sua vez, possuí ótimo desempenho, baixa complexidade de
hardware e leveza computacional na decodificação de códigos convolutivos . A decisão utilizada
para o decodificador de Viterbi foi a decisão suave (Soft-Decision), sendo este método uma
alternativa ao outro tipo de decisão chamada decisão rígida (Hard-Decision), por permitir que o
decodificador tenha a mesma eficácia que na Hard-Decision em condições em que a relação
sinal/ruído esteja 3dB maior. Logo, estes dados são analisados e interpretados de acordo com um
protocolo pré-definido para a codificação e decodificação dos sinais, que recupera, no receptor, a
sequência de bits transmitida, tendo como resultado o texto ou imagem enviada (PACHECO,
2002).

Neste estudo a informação transmitida pelo modem foi a mesma em todos os momentos do
experimento, tendo as seguintes características: transmissão de texto (este texto continha pelo
menos todas as letras do alfabeto português) contendo 688 bits, com tempo de guarda de 50ms e
duração total aproximada de 11 segundos (ver Fig. 3). A análise preliminar do desempenho do
modem foi feita com base em 6 transmissões deste experimento, tendo em vista que as demais
transmissões não puderam ser aproveitadas devido a um problema na recepção dos dados.

Figura 3: Sinal FSK recebido em um dos hidrofones utilizado neste experimento


Fonte: XAVIER, 2011.

3. RESULTADOS
Na decodificação destes dados foram feitos dois tipos de pré-processamento para a identificação
das frequências, isto é, após a convolução do sinal recebido com a réplica do sinal emitido, o
mesmo foi, em um dos casos, apenas filtrado e, no outro caso, filtrado e normalizado. O intuito
da normalização do sinal e sua filtragem foram bem sucedidos, uma vez que, a normalização fez
com que no momento da comparação entre os sinais para identificação de frequências, esta
ficasse com a mesma ordem de grandeza facilitando a decisão do identificador. Na filtragem, foi

428
utilizado um filtro digital de resposta finita ao impulso (Finite Response Impulse – FIR),
implementado no domínio do tempo que realiza a filtragem através de uma convolução do sinal
de entrada com alguns coeficientes deste filtro (HSU,1995). O mesmo teve um papel importante
no processamento destes dados, pois minimizou grande parte dos ruídos presentes, inclusive os
que estavam na banda de transmissão, diminuindo significativamente as interferências
intersimbólicas.

Nas Tabelas 1 e 2, respectivamente, observa-se a taxa de erro no hidrofone H1 e no hidrofone H2


para as 5 transmissões acústicas analisadas.

Tabela 1: Taxa de erro na recepção dos dados no hidrofone H1


Somente Filtrado Filtrado e Normalizado
Hidrofone H1
Nº bits errados Taxa de erro por bit(%) Nº bits errados Taxa de erro por bit(%)
Transmissão 1 57 16,6 18 5,2
Transmissão 2 72 20,9 16 5.1
Transmissão 3 101 29,4 7 2
Transmissão 4 10 2,9 0 0
Fonte: XAVIER, 2012.

Tabela 2: Taxa de erro na recepção dos dados no hidrofone H2


Somente Filtrado Filtrado e Normalizado
Hidrofone H2
Nº bits errados Taxa de erro por bit(%) Nº bits errados Taxa de erro por bit(%)
Transmissão 5 9 2,6 2 0,3
Transmissão 6 1 0,3 0 0
Fonte: XAVIER, 2012.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sinais de comunicações submarinas ora processados ofereceram um resultado encorajador,
tendo sido obtido demodulação satisfatória, com baixa taxa de erro, a distâncias superiores a
500m. Os resultados obtidos, também, mostraram que o tempo de guarda de 50ms foi suficiente
para evitar a interferência intersimbólica e minimizar os efeitos do multipercurso, isto é, o
mesmo conseguiu evitar os problemas causados pela dilação do sinal que, por sua vez, é
provocado pelas suas sucessivas reflexões nas fronteiras do guia de onda.

Conquanto, futuros trabalhos darão sequência ao ora apresentado, a fim de incrementar o


processamento dos sinais a fim de integrar módulos específicos para o processamento de
multicaminhos, efeito Doppler, compensação dos efeitos do canal, codificação do sinal, a fim de
dotar o sistema de maior robustez e resistência a erros.

Vale ressaltar, que foi observado, neste experimento, que o perfil de velocidade do som e os
demais parâmetros ambientais, no momento das transmissões, têm significativa influência sobre
o desempenho das comunicações acústicas e que deverão ser adequadamente considerados nos
algoritmos de demodulação do sinal de comunicações submarinas.

429
REFERÊNCIAS

1. Clark, G. C. and Cain, J. B. (1981). Error-correction coding for digital communications, Ed. Plenun Press.

2. Medwin, H. and Clay, C. S. (1998). Fundamentals of acoustical oceanography, Ed. Academic Press.

3. Jensen, F. B., Kuperman, W. A. & Porter, M. B. (2011). Computational oceans acoustics, Ed. Springer.

4. Hsu, H.P. (1995). Sinais e Sistemas, Coleção Shaum, Ed. Bookman.

5. Osorio, P., Szczupak, J., Nóbrega, M.V., Yamaoka, A., Pereira, P. e Alves, R. (1997). Um sistema processador
de sinais para comunicação acústico-submarina, Journal of Comunication and Information Systems, Junho, pp.
6-14.

6. Pacheco, R. V. (2002). Projeto Codificador/Decodificador Viterbi Integrado, Dissertação de mestrado,


Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

430
INFLUÊNCIA DO PERFIL DE VELOCIDADE NA DIRECIONALIDADE
DE FONTES PONTUAIS IMERSAS NA CAMADA CISALHANTE

FERREIRA, Raphael de C.1; MUSAFIR, Ricardo E.1; AVITAL, Eldad J.2


(1) Universidade Federal do Rio de Janeiro, C.P. 68503,21941-972, Rio de Janeiro, Brasil. (2) Departamento
de Engenharia, Queen Mary University of London, Londres. Reino Unido.

RESUMO
O presente trabalho investiga o campo sonoro de uma fonte pontual imersa na camada cisalhante de um
escoamento bi-dimensional, subsônico e isotérmico. Foi desenvolvido um programa em FORTRAN a fim
de obter a solução numérica da Equação de Lilley, através do método de diferenças finitas. Para o caso de
uma camada cisalhante com perfil linear de velocidade existe uma solução analítica, que é utilizada para
avaliar a precisão da solução numérica. Caso o perfil não seja linear, não há solução analítica exata e a
análise da influência do perfil de velocidade na direcionalidade de fontes sonoras é realizada a partir do
código proposto. Diversos perfis de velocidade foram simulados, tais como: linear, parabólico, cúbico,
tanh e spline. É mostrada uma breve descrição do método adotado na solução numérica, bem como são
discutidos alguns aspectos que limitam sua utilização para altas frequências.

ABSTRACT
The present paper investigates the sound field of a point source immersed in the shear layer of a two-
dimensional, subsonic and isothermal flow. A code in FORTRAN was developed to obtain the numerical
solution of Lilley's equation using the method of finite differences. For a linear velocity profile, an
analytical solution exists, which is used to assess the precision of the numerical solution. Otherwise, there
is no analytical solution, but the analysis of the influence of velocity profile in the directivity of sound
sources is provided by means of simulation proposed. Various velocity profiles are used in the numerical
scheme, as parabolic, tanh, cubic and spline. A brief description of the method used for the numerical
solution is shown, as well as some aspects that limit their use for the high frequency case.
Palavras-chave: Ruído de Jato. Aeroacústica. Direcionalidade de fontes.

1. INTRODUÇÃO
O fenômeno da geração e propagação do som em um escoamento paralelo cisalhante é descrito
pela Equação de Lilley [1], que para o caso de um escoamento subsônico, permite a previsão
detalhada do campo sonoro de jatos turbulentos. Diversas formas da solução analítica da
Equação de Lilley foram obtidas e discutidas por diversos autores [2,3,4], principalmente na
década de 70. Geralmente, a solução na sua forma fechada são possíveis apenas nos limites de
alta ou baixa freqüência. Para uma camada cisalhante bidimensional com um perfil de
velocidade linear, uma solução válida em toda faixa de freqüência existe, e foi desenvolvida por
Scott [5], tendo como base os trabalhos de Goldstein & Rice [6].

Uma solução numérica da Equação de Lilley, a partir do método de diferenças finitas,


considerando o caso de um escoamento bi-dimensional, é mostrada neste trabalho. Inicialmente,
foi analisado o caso de uma camada cisalhante com perfil linear de velocidade, pois a partir da
solução analítica proposta por Scott, foi possível avaliar o limite em que o método numérico
utilizado é válido. Posteriormente, diversos perfis de velocidade foram simulados a fim de
avaliar o efeito da forma do perfil na direcionalidade de fontes imersas na região da camada
cisalhante. Foi utilizada como excitação uma fonte do tipo monopolo de deslocamento.

431
2. Formulação Teórica

2.1. A Equação de Lilley


As diversas formas da Equação de Lilley, discutidas por MUSAFIR [7], podem ser derivadas
pela combinação da forma isentrópica da equação da continuidade e da equação do momentum.
Os termos decorrentes dessas equações são divididos em uma parte linear e outra não-linear, os
termos não-lineares são considerados fontes equivalentes de som e transferidos para o lado
direito da equação e o lado esquerdo apresenta termos associados à propagação. Para o caso de
um escoamento paralelo e isotérmico, a Equação de Lilley pode ser escrita como

[Eq. 01]

sendo uma variável associada à pressão sonora (usualmente, não-dimensional), é o valor


médio local da velocidade do som, é a velocidade média do escoamento, que é
assumido como sendo puramente axial (ou seja, na direção ), e e
representam as fontes equivalentes de som, associados aos termos nao linerares.
Para o caso de um escoamento bidimensional isotérmico e considerando uma excitação do tipo
monopolo de deslocamento por unidade de volume, com dependência temporal harmônica,
sendo , onde é a densidade média e , representa
a excitação, localizada em , onde é a distância da fonte à região onde , tem-se
que a equação para a Função de Green (análogo a ) pode ser escrita como

[Eq. 02]

Aplicando-se a Transformada Espacial de Fourier na direção , a Eq. [02] é escrita como

[Eq. 03]

onde , , é o parâmetro da transformação realizada e é a transformada de


dividida por .

2.2. Solução Numérica da Equação de Lilley


O método numérico utilizado na resolução da Equação de Lilley baseia-se na aproximação de
derivadas por diferenças finitas, conhecido, portanto, como Método de Diferenças Finitas. A
partir de então, são geradas equações algébricas que, neste caso, envolvem valores para em três
pontos , e , pertencentes ao intervalo de integração.
O domínio computacional para a coordenada transversal ao escoamento é delimitado pelos
pontos e , ambos localizados no campo afastado. Entre esses pontos, existem
segmentos, cada qual com um comprimento característico expresso por
. Os operadores de diferenças finitas utilizados para a primeira e segunda derivadas são

[Eq. 04]

[Eq. 05]

Substituindo as Eqs. [05 e 06] na Eq. [03], vem


[Eq. 06]

sendo , e .

432
Observe que há um problema na Eq. [06] quando e , pois esses pontos envolvem
valores para a transformada da Função de Green que não pertencem ao domínio computacional.
Admite-se, portanto, que os pontos pertencentes à fronteira da grade numérica estão fora da
camada cisalhante, dessa maneira, quando . Sendo assim, pela Eq. [03],
tem-se que a condição de radiação apropriada é expressa como

[Eq. 07]
o que significa que
[Eq. 08]
onde
quando [Eq. 09]

A partir das Eqs. [05 e 08], obtém-se a expressão para , como


[Eq. 10]
A partir das Eqs. [06 e 10], com , vem
[Eq. 11]

O mesmo procedimento foi adotado para o caso de , obtendo


[Eq. 12]
que, pela Eq. [06], vem
[Eq. 13]

O conjunto formado pelas Eqs. [06, 11 e 13] gera a equação matricial


[Eq. 14]
sendo uma matriz tri-diagonal. Note que a Eq.[11] é associada à primeira linha da matriz, a
Eq. [06] às linhas e a Eq. [13] à última linha.
O termo de excitação é determinado por

[Eq. 15]

ou seja, o termo fonte está localizado em .


Para obter a solução da Eq. [14] foi utilizado um método clássico para resolução de equações tri-
diagonais, o algoritmo de Thomas [8]. O valor da pressão em um ponto no campo afastado
formando um ângulo com o eixo é obtido ao se considerar e multiplicar a
solução da Eq. [06] por , sendo a distância entre a fonte e o observador. Essas são
as etapas do procedimento para se obter a Transformada Espacial Inversa de Fourier da Eq. [03].
Na Figura 1, é mostrada, para o caso de uma camada cisalhante com perfil linear de velocidade,
a representação dos pontos da grade que delimitam cada região do escoamento.

433
Região sem
escoamento

Região da Camada
Cisalhante

Região de Escoamento
Uniforme

Figura 1: Especificação dos pontos da grade computacional


é o número de Mach na fonte em , é o número de Mach da fonte em e
é o número de Mach da fonte em . Para melhorar a estabilidade numérica, deve-se
utilizar um domínio computacional adequado para cada simulação. Sugere-se uma grade
computacional que contenha, pelo menos, trinta pontos por comprimento de onda.

3. Resultados
Para avaliar a precisão da solução numérica proposta, algumas comparações com a solução
analítica foram realizadas, considerando o caso de uma camada cisalhante com perfil linear de
velocidade. A Figura 2 mostra tais comparações para o caso de uma direcionalidade não-
dimensional . A solução analítica, implementada em MATLAB, foi
desenvolvida por Scott [5]. A função Gama e as funções parabólicas cilíndricas, presentes na
solução analítica, foram computadas usando um código desenvolvido por Cojocaru [9]. Em
todos os casos, a fonte está localizada no centro da camada cisalhante, isto é, .

a) b)

c)

Figura 2: Comparação entre a solução analítica e numérica para : a) , b) , c)


.

434
d) e)

f)

Figura 2 (continuação): Comparação entre a solução analítica e numérica para e d) , e)


, f) .
De um modo geral, pode-se observar uma concordância razoável entre as duas soluções. Para o
caso de baixos números de Helmholtz ( ), tal concordância é melhor verificada. Entretanto, ao
passo que o número de Helmholtz aumenta, pequenas diferenças entre as soluções surgem,
principalmente, próximo ao pico da direcionalidade. Conforme esperado, observa-se que o pico
da direcionalidade ocorre em ângulos cada vez maiores à medida que o número de Mach
aumenta.
Para investigar o efeito do perfil de velocidade na direcionalidade, os pontos que delimitam a
região cisalhante foram conectados por curvas de diversos tipos: parabólica, cúbica, tangente
hiperbólica e spline. Pode-se observar pela Figura 3, que foi feita a opção por curvas suaves,
próximas à do perfil linear, entretanto, o programador pode utilizar outras formas de curvas.
Maiores detalhes sobre os códigos desenvolvidos, os procedimentos adotados e sobre as
equações para cada perfil são dados por FERREIRA [10].

Figura 3: Perfis de velocidade implementados no código em FORTRAN.

435
Quando o comprimento de onda é da ordem da espessura da camada cisalhante (Figura 4), a
região delimitada por , onde é o ângulo em que o pico ocorre, apresenta diferenças de
até 5 dB, em relação à direcionalidade obtida para o caso de um perfil linear de velocidade.

Figura 4: Direcionalidade de um monopolo de deslocamento para e e .

As simulações realizadas para valores de pequenos (menores que 0,6), não apresentam
diferenças significativas no campo sonoro da fonte para os diversos perfis de velocidade
implementados. Isso é possivelmente devido ao fato de que a espessura da camada cisalhante é
muito menor que o comprimento de onda, de forma que o efeito do perfil de velocidade, nestes
casos, não é significativo. Foi observado, também, que o código desenvolvido para resolver
numericamente a Equação de Lilley é limitado para valores de inferiores a 8,5, pois acima
desse valor, as curvas obtidas apresentam irregularidades, principalmente quando o número de
Mach do escoamento uniforme é maior que 0,4.

4. Conclusão
As soluções numéricas para diversos perfis foram comparadas, a fim de avaliar se a forma exata
do perfil introduz diferenças significativas no campo de fontes acústicas ou se o perfil linear
pode ser satisfatoriamente utilizado.
Pode-se afirmar que, para os casos mostrados neste trabalho, a solução analítica para um perfil
linear de velocidade pode ser satisfatoriamente utilizada, independentemente da forma real do
perfil, haja vista que as diferenças observadas entre os perfis são inferiores a 5dB.

436
Os resultados obtidos neste trabalho contribuem para a melhor compreensão da propagação
sonora através de uma camada cisalhante, sendo útil ao estudo do problema de ruído gerado por
escoamentos turbulentos.
Está sendo realizado um estudo das razões das limitações observadas no código desenvolvido em
FORTRAN, a fim de obter resultados coerentes para o limite de altas frequências.

REFERÊNCIAS

1. LILLEY, G. M., “Sound Generation in shear flow turbulence”, Fluid Dynamics Transactions, pp. 405-420,
1971.
2. GOLDSTEIN, M. E., “The Low Frequency Sound from Multipole Sources in Axissymetric Shear Flows, with
applications to Jet noise”, J. Fluid Mechanics, vol. 70 (Parte III), pp. 595-604, 1975.
3. TESTER, B. J., MORFEY, C. L., “Developments in Jet Noise Modelling – Theoretical Predictions and
Comparisons with Measured Data”, J. Sound and Vibration, vol. 46 (1), pp. 595 – 604, 1975.
4. BALSA, F., “The Far field of high frequency convected singularities in sheared flows, with an application to
jet-noise prediction”, Journal of Fluid Mechanics, vol. 74 (2), pp. 193 – 208, 1976.
5. SCOTT, J. N., “A Far Field Analyses of the Propagation of Sound Waves from Various Point Sources through a
Linear Shear Layer”, Ph.D. dissertation, Ohio State University, USA, 1977.
6. GOLDSTEIN, M.E., RICE, E., ―Effect of shear on duct wall impedance‖, J. Sound & Vibration, 30 (1), pp.
79-84, 1973.
7. MUSAFIR, R. E., "On the source terms in Lilley’s equation", Acta Acustica united with Acustica, 93, pp. 263-
274 (2007).
8. Conte, S.D., and De Boor, C., Elementary Numerical Analysis. McGraw-Hill, New York (1972).
9. COJOCARU, E., disponível em: http://www.mathworks.com/matlabcentral/fileexchang e/22620-parabolic-
cylinder-functions.
10. FERREIRA, Raphael de Carvalho, “Direcionalidade de fontes sonoras em um escoamento unidirecional com
cisalhamento”, Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Mecânica, 2010.

437
Visualização e análise dos modos simétricos
de um escoamento excitado acusticamente

de MORAES, Roberto B.1,2; MUSAFIR, Ricardo E.1; FABRE, Benoît2.


1
Programa de Engenharia Mecânica, COPPE/UFRJ, Brasil.
2
LAM, Laboratoire d’Acoustique Musicale, Université Paris 6, França.

RESUMO
Atualmente a maioria dos modelos para oscilações transversais de escoamentos são baseadas na análise
de instabilidade linear do jato descrita por Rayleigh. Estes modelos apresentam alguns pontos fracos
quando aplicados à modelagem de instrumentos da família da flauta, como as perturbações iniciais
induzidas por velocidades acústicas transversais não serem claramente descritas. Com o objetivo de
compreender melhor o desenvolvimento dessas perturbações e a influência dos modos simétricos na
produção dos tons de borda (edgetones) em instrumentos da família da flauta, foi investigado o
movimento da coluna do jato na presença desses modos, produzidos por perturbações acústicas
transversais geradas por um alto-falante. O comportamento do jato é analisado através da visualização do
escoamento e posterior processamento de imagens.

ABSTRACT
Currently most models for transversal jet oscillations are based on the analysis of linear instability of the
jet described by Rayleigh. Those models have some weaknesses for modeling of flute-like instruments,
since, e.g., the initial perturbations induced by transverse acoustic velocities are not clearly described. In
order to better understand the development of these disturbances, as well as the influence of symmetric
modes in the production of edgetones in flute-like instruments, the motion of the jet column in the
presence of the modes was investigated. The modes were produced by transverse acoustic perturbations
generated by a loudspeaker. The behavior of the jet is analyzed by flow visualization and further image
processing.

Palavras-Chave: Perturbação transversal do escoamento. Modos varicose. Processamento de imagens.


Acústica musical. Visualização de escoamentos.

1. INTRODUÇÃO
Instrumentos da família da flauta compartilham um princípio de funcionamento que consiste na
emissão de um escoamento instável a partir ou de um canal ou dos lábios do instrumentista. O
escoamento flui então na direção de uma borda afiada chamada de “labium”. O campo acústico
devido à presença do ressonador desencadeia a instabilidade do escoamento e, então, o jato
oscila na freqüência do campo acústico. A interação deste escoamento perturbado com a borda
fornece a energia acústica necessária para sustentar a oscilação acústica no tubo (Fabre &
Hirschberg, 2000). Vale ressaltar que a maioria dos modelos para as oscilações do escoamento
nos instrumentos de sopro como as flautas são desenvolvidas em uma teoria linear com base na
abordagem de Rayleigh (1894).

Este trabalho apresenta resultados experimentais sobre a influência da amplitude de excitação


acústica no comportamento do jato, mais especificamente dos modos simétricos (varicose) de
perturbação do mesmo. Estas análises foram realizadas usando uma técnica não invasiva com
base na análise de imagens obtidas na visualização do escoamento obtido pelo método Schlieren
(Merzkirch, 1974). Objetiva-se portanto analisar os modos varicose devido à perturbação
transversal de um escoamento, a fim de se determinar sua influência na geração dos tons de
borda (edgetones) em instrumentos da família da flauta.
438 1
2. OSCILAÇÃO DO JATO
Um escoamento submetido a campo acústico imposto transversalmente oscila na freqüência da
excitação deste. O deslocamento transversal do jato é muito pequeno na saída do tubo, crescendo
lentamente com a distância, até o ponto onde o escoamento “se enrola sobre si mesmo” e então
finalmente quebra-se em vórtices, antes de se tornar totalmente turbulento como mostrado na
Figura 1.

Figura 1 – Escoamento com perturbação acústica transversal do tipo varicose

Dependendo das propriedades de simetria das perturbações em ambas as camadas limites de um


jato plano, a oscilação do jato pode ser senoidal (antissimétrica) ou do tipo varicose (simétrica).
Oscilações senoidais são caracterizadas por um deslocamento transversal do jato, enquanto
oscilações do tipo varicose correspondem a uma oscilação da espessura do jato (Mattingly &
Criminale, 1971).

A oscilação do jato pode ser descrito por dois modelos: o modelo linear (Mattingly & Criminale,
1971) ou o modelo de Holger et al (1977), que considera uma trilha de vórtices (vortex street).
No presente trabalho, o modelo linear será focado.

3. TEORIA LINEAR
Devido à instabilidade intrínseca do jato, a oscilação é amplificada enquanto o escoamento
desenvolve-se à jusante. Em um modelo linear, considera-se uma perturbação descrita pela
função do escoamento (bidimensional) ψ:

ψ ( x, t ) = ϕ ( y )e j (ωt −kx ) [Eq. 1]

onde ϕ é a amplitude complexa de deslocamento, ω a freqüência angular, t é o tempo, k é o


número de onda complexo (k = kr + ki) e x e y são respectivamente as coordenadas horizontal e
vertical. A velocidade de convecção da perturbação corresponde a cp = ω / kr, enquanto que a
amplificação espacial é obtida através do coeficiente ki.

A fim de se calcular a espessura transversal do jato a uma distância x da saída do canal, precisa-
se integrar, ao longo da trajetória da partícula, a partir da saída do canal até sua posição atual, a
velocidade transversal. Esta velocidade transversal é a soma da velocidade acústica e da
velocidade da onda de instabilidade, calculada pela diferenciação da função de escoamento
dϕ / dx (Prandtl & Tietjens, 1934).

É importante ressaltar que o problema da determinação da amplitude da excitação na saída do


canal (x = 0), ou a resposta do jato à perturbação acústica, não possui ainda uma descrição
plenamente adequada para o caso dos modos varicose.

2439
Mattingly & Criminale (1971) partiram da equação de Rayleigh para analisar os modos de
perturbação de um jato oscilante:

[U ' ' ( y )v( y )]


[v' ' ( y ) − k ²v( y )] − =0 [Eq.2]
[U ( y ) − c]

onde U(y) é o perfil de velocidade do escoamento, v(y) é a velocidade da perturbação transversal


e c é a velocidade de fase (complexa), tal que c = ω / k.

Para os modos varicose, as condições iniciais são v(0) = 0 e v'(0) = 1.

3.1. Método Numérico


Segundo Ségoufin et al (2000), para o canal de saída utilizado no presente experimento
(conforme descrito na seção a seguir) – curto com saída chanfrada a 45º, aproxima-se o perfil de
velocidade como de um tipo Bickley (U(y) = U0sech²(y)), conforme mostrado na Figura 2.

Figura 2 – Perfil de velocidade do tipo Beckley

Um método numérico é então utilizado para que sejam determinados os autovalores de k e ω que
melhor resolvem a equação acima.

O método consiste em escrever a continuidade do momentum e da pressão a cada


descontinuidade de um perfil linear por partes. Para o domínio D, há (D – 1) descontinuidades.
Escrevem-se as equações de continuidade em sua forma matricial e desta forma tem-se 2(D – 1)
equações de continuidade que se aplicam a 2D incógnitas. As condições em ± ∞ removem duas
variáveis, e desta forma passa-se a ter uma matriz quadrada. Os autovalores correspondem então
aos valores de k que zeram o polinômio característico (det(A) – kI = 0) da matriz.

Na Figura 3 é apresentado o gráfico encontrado através deste método numérico que relaciona o
coeficiente de amplificação ki em função do número de Strouhal Str.

Figura 3 – Gráfico obtido numericamente relacionando o coeficiente de amplificação ki com o número de Strouhal

440 3
A análise do gráfico acima permite chegar-se à conclusão que o valor máximo da amplificação
da oscilação de perturbação ocorre em torno de Str = 0,4. De posse deste valor, podemos obter os
valores para a velocidade média do jato Ub, a pressão acústica do escoamento p (média +
flutuação), e a freqüência de oscilação da perturbação transversal f.

Para se achar a velocidade média do jato, Ub, deve-se relacioná-la com o valor nominal da vazão
Q, isto é:
Q
Ub = [Eq. 3]
S
para a pressão acústica na cavidade do canal, usamos a equação de Bernoulli:

p = 1 / 2( ρU b2 ) [Eq. 4]

e por fim, para determinarmos a freqüência de oscilação da perturbação transversal, basta


utilizarmos a própria definição do número de Strouhal:
Ub
f = Str [Eq. 5]
h
onde S é a área da saída do canal (20mm²), ρ é a densidade do gás utilizado (no caso, gás
carbônico, ρCO2 = 1,977kg/m³), e h é a altura da saída do canal (1mm). Alguns valores utilizados
experimentalmente são mostrados na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Valores utilizados experimentalmente


Vazão (l/min) Velocidade média (m/s) Pressão (Pa) Freqüência (Hz)
3,70 3,0 9,4 196
7,41 6,2 37,7 392
11,12 9,3 84,9 592
14,83 12,3 151,0 788

4. ARRANJO EXPERIMENTAL
Os experimentos foram realizados nas instalações do Laboratoire d'Acoustique Musicale da
Université Pierre et Marie Curie - Paris VI, em Paris, França.

O arranjo experimental mostrado na Figura 4 consiste em: um cilindro contendo gás carbônico;
tubos de plástico com 1 cm de diâmetro externo e 0,8 cm de diâmetro interno; um controlador de
escoamento da Brooks (série 5851S); um alto-falante AXX de 4Ω/600W com aproximadamente
32 cm de diâmetro disposto sobre uma bacia de plástico cujo fundo possui uma placa rígida e
plana de gesso (sistema hermeticamente fechado) conectado a um gerador de sinal TTi modelo
TGA 1244 e um amplificador Max500 Power Amplifier da Phonic; um canal de saída com sua
cavidade interior chanfrada e com saída a 45º onde se encontra um sensor de pressão modelo
8507C-1 da Endevco (conectado ao amplificador de sinal Endevco DC Differential Voltage
Amplifier modelo 136), por onde ocorre a saída do escoamento (e sua posterior visualização);
além de câmera digital SensiCam da PCO, luz estroboscópica, jogo de lentes e computadores
para controles e aquisições via software.

4
441
Figura 4 – Arranjo experimental

Um escoamento de gás carbônico é gerado e sua velocidade é ajustada através do controlador de


escoamento da Brooks série 5351S, controlado via software (SmartControl v1.4 da Brooks).
Com base nos valores da Tabela 1, relaciona-se o escoamento de gás carbônico com a velocidade
média nominal do jato, buscando velocidades que correspondam às condições normais de sopro
para flautas (em torno de 7,5 m/s – Fabre & Hirschberg, 2000) e assegura um comportamento
laminar – para os casos apresentados na Tabela 1, o número de Reynolds varia na faixa de
800 < Re < 1700.

O escoamento é então submetido a uma excitação acústica transversal gerada pelo alto-falante,
cuja amplitude é ajustada através do sistema gerador de sinal TTi conjuntamente com o
amplificador da Phonic (e atestada através de um voltímetro aplicado sobre o próprio alto-
falante). Em seguida à excitação acústica, o escoamento é levado através de um tubo de plástico
com 1 cm de diâmetro externo e 0,8 cm de diâmetro interno, com 1 metro de comprimento para a
cavidade do canal, onde então há a saída, cuja altura h é de 1mm.

A Figura 5 mostra três imagens obtidas utilizando o método Schlieren com três amplitudes de
excitação diferentes (para as três, a freqüência de excitação acústica do alto-falante foi de
392Hz). A amplitude da pressão acústica foi variada a partir de 5% da pressão do escoamento até
25% da mesma. Estes valores estão dentro da faixa de 10% observados em flautas reais (Fabre &
Hirschberg, 2000). A pressão acústica total é medida utilizando-se o sensor de pressão 8570C-1
da Endevco localizado dentro da cavidade do canal.

Figura 5 – Três diferentes amplitudes de excitação/perturbação (0,8V, 2,0V e 6,0V, respectivamente)

Imagens em seqüência do escoamento são obtidas com a câmera digital SensiCam da PCO
(obturador em posição rápida) com o tempo de exposição definido para um microssegundo. Uma
vez que as freqüências de oscilação do escoamento são muito mais elevadas do que as fornecidos
por qualquer câmara moderna, e, além disso, deseja-se ser capaz de se obter um número
arbitrário de imagens por ciclo, uma luz estroboscópica é usada. A freqüência da câmara foi
estabelecida em 8 Hz, isto é, 8 fotos por segundo. Ao todo 368 imagens foram tiradas por
seqüência abrangendo vários ciclos de oscilação do jato. As imagens bidimensionais são
capturadas em arquivos do tipo bmp, com tamanho 1280 (colunas) x 1024 (linhas), e 8 bits de
intensidade na escala de cinza (8 bits → 28 = 256 valores, sendo 0 o nível mais escuro e 255 o
mais claro).

442 5
5. PROCESSAMENTO DE IMAGENS
5.1. Método de Schlieren
As alterações na densidade de um fluido provocam variações no índice de refração que podem
ser visualizadas utilizando a técnica de Schlieren. Com uma configuração particular, o gradiente
de densidade na direção perpendicular do plano do escoamento é convertido em diferentes níveis
de intensidade luminosa, fazendo com que o escoamento fique visível (Figuras 1 e 5).

Um escoamento de gás carbônico (CO2) é então utilizado por ter densidade de massa maior que
o do ar (ρCO2 = 1,977 kg/m³, ρar = 1,2 kg/m³). Esta escolha é um compromisso entre ter diferença
suficiente para permitir bons resultados ópticos e estar perto o suficiente para emular o
comportamento encontrado em instrumentos de sopro como a flauta (La Cuadra et al, 2007).

Há necessidade de que as imagens também sejam calibradas, de forma que se tenha uma relação
entre a distância entre os pixels de cada imagem e a distância real existente na mesma,
utilizando-se para tal, imagens de objetos com dimensões conhecidas: uma esfera de diâmetro
(13,49 ± 0,05) mm e um cilindro de diâmetro externo (2,49 ± 0,05) mm, mostrados na Figura 6.

Figura 6 – Calibração das imagens

5.2. Análise dos Dados


A análise dos dados é iniciada considerando-se o gráfico de intensidade de cinza de cada uma
das 1280 colunas de cada uma das 368 imagens para cada ensaio experimental. Na Figura 7
abaixo, é mostrada a coluna 480 da imagem 63 da seqüência do ensaio com freqüência de
oscilação da perturbação de 392Hz e amplitude de excitação acústica de 0,8V no alto-falante. No
gráfico à esquerda, o gráfico de nível de intensidade de cinza, indicando onde estão as partes
mais escuras e mais claras da fotografia do jato; à direita, a mesma imagem em que duas curvas
parabólicas foram ajustadas às partes mais escuras e claras de forma a ter-se uma definição de
intensidade maior que um pixel, assim como buscar diminuir o ruído intrínseco.

392Hz-0.8V - Imagem 63 - Gráfica de Escala de Cinza - Coluna 480


300
Curva de escala de cinza
Parábola ajustada à parte mais escura
Parábola ajustada à parte mais clara
250

200
Nível de cinza

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Linha (1-1024)

Figura 7 – Níveis de intensidade de cinza

6443
O objetivo é, portanto, determinar a espessura do jato em função da distância à saída do canal
para todas as colunas de todas as imagens. Ao final, teremos então a variação da espessura do
jato como função da distância, conforme mostrado na Figura 8 para a imagem 63 supracitada –
para os primeiros 3,5mm onde ocorre o primeiro lóbulo de oscilação. E assim é feito de forma
iterativa para todo o pacote de imagens de um dado ensaio.

Espessura do jato em função da distância (mm)


1

0.95
Espessura (mm)

0.9

0.85

0.8

0.75
0 0.5 1 1.5 2 2.5
Distância para a saída do canal

Figura 8 – Espessura do jato (mm) em função da distância à saída do canal (mm)

Todas as colunas de cada imagem oscilarão em função do tempo, na freqüência da excitação


acústica transversal do alto-falante. Desta forma, para cada coluna, pode-se ajustar uma senóide
nesta mesma freqüência de oscilação:
2πf
1 N −1 − jm
Y ( f ) = ∑ X me fs [Eq. 6]
N i =0
onde N é o número de imagens na seqüência (368 para o presente caso), Xm é a espessura do jato
para uma dada coluna m, f é a freqüência de oscilação e fs é a freqüência de amostragem (que é
uma relação da freqüência do obturador da câmera com a freqüência de oscilação da
perturbação). Um exemplo da amplitude e da fase da oscilação Y(f) são mostradas na Figura 9
(linha pontilhada).

392Hz-0.8V - Amplificação da oscilação do jato em função da distância 392Hz-0.8V - Mudança de Fase


0.22 33
Amplitude da oscilação Fase
0.2 Curva exponential ajustada 32.5 Curva linear ajustada

0.18 32
Amplitude da oscilação (mm)

0.16 31.5
Fase (rad)

0.14 31

0.12 30.5

0.1 30

0.08 29.5

0.06 29

0.04 28.5
0.5 1 1.5 2 2.5 0.5 1 1.5 2 2.5
Distância para a saída do canal (mm) Distância para a saída do canal (mm)

Figura 9 – Curvas de amplitude (à esquerda) e fase (à direita) da oscilação – os pontos representam os dados
obtidos experimentalmente, a cheia, as curvas ajustadas

Na descrição linear (Mattingly & Criminale, 1971), a perturbação é amplificada enquanto o


escoamento desenvolve-se. A partir disto, os dados experimentais podem ser analisados
assumindo a variação da espessura transversal do jato η, da seguinte forma (La Cuadra et al,
2007):

444 7
jω ( t − x / c p )
η ( x, t ) = Re(η0 e k x e
i
) [Eq. 7]

onde η0 representa uma amplitude complexa inicial da oscilação, ki é a taxa de crescimento


espacial, cp é a velocidade de convecção e x é a distância a partir da saída do canal. O modelo
linear descrito pela [Eq. 1], prevê crescimento exponencial descrito para o fator de amplificação
ki, e um decréscimo linear para a velocidade convectiva da perturbação cp. Desta forma, ki pode
ser obtido ajustando-se uma curva exponencial à curva de amplitude da oscilação, enquanto que
a velocidade convectiva cp corresponde à inclinação da curva de fase da oscilação (Figura 9 –
linha cheia).

O procedimento foi então repetido para diversos ensaios e seqüências de imagens – de acordo
com os valores mostrados na Tabela 1. Em todos os casos simulados, os dados mantiveram-se
em conformidade com o modelo teórico apresentado.

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A visualização do escoamento permite uma medição não invasiva, bem como uma identificação
clara do jato como composto de partículas de fluido que saem da saída da cavidade do canal.

Obtivemos através do método desenvolvido resultados muito próximos com os valores teóricos
em termos do fator de amplificação do escoamento e velocidade de convecção para uma gama de
ensaios experimentais. Isto indica que o método é confiável e útil para o posterior estudo da
influência dos modos simétricos de oscilação do jato nos tons de borda (egdetones) dos
instrumentos da família da flauta.

Futuramente, novos experimentos ainda serão necessários para verificar-se a possível


dependência destas observações em relação a uma gama mais larga de coeficientes de Reynolds
e números de Strouhal, assim como a influência de diferentes perfis de velocidade, e o limite de
aplicação do modelo linear.

REFERÊNCIAS

[1] Fabre, B. & Hirschberg, A., “Physical modeling of flue instruments: a review of lumped models”, Acta Acustica, vol. 86, pp.
599–610, 2000.

[2] Fletcher, N. & Thwaites, S., “Wave propagation on a perturbed jet”, Acustica 42 (1979) 323-334.

[3] Holger, D., Wilson, T., & Beavers, G., “Fluid mechanics of the edgetone”, J. Acoust. Soc. Am., vol. 62, no. 5, pp. 1116–
1128, November 1977.

[4] La Cuadra, P., Vergez, C., Fabre, B., “Visualisation and analysis of jet oscillation under transverse acoustic perturbation”,
Journal of Flow Visualization and Image Processing, vol. 14, no. 4, pp. 355-374, 2007.

[5] Mattingly, G. & Criminale, W., “Disturbance characteristics in a plane jet”, Phys. Fluids, vol. 14, no. 11, pp. 2258–2264,
1971.

[6] Merzkirch, W., "Flow Visualization". New-York: Academic Press, 1974.

[7] Prandtl, L. & Tietjens, O.G., "Fundamentals of Hydro and Aeromechanics". New-York: Dover, 1934.

[8] Rayleigh, L., "The Theory of Sound". New-York: Dover, reprint (1945), 1894.

[9] Ségoufin, C., Fabre, B., Verge, M.P., Hirschberg, A. & Wijnands, A.P.J., “Experimental study of the influence of the mouth
geometry on sound production in a recorder-like instrument: Windway length and Chamfers”, Acta Acustica, 86: 599-610,
[2000].

[10] Verge, M.P., Fabre, B., Mahu, W., Hirschberg, A., van Hassel, R., Wijnands, A.P.J., de Vries, J. & Hogendoorn, C., “Jet
formation and jet velocity fluctuations in a flue organ pipe”, J. Acoust. Soc. Amer., vol. 95, no. 2, pp. 1119–1132, 1994.

8
445
FONTE MONOPOLAR IMERSA EM UMA CAMADA CISALHANTE
COM PERFIL QUADRÁTICO DE VELOCIDADE

BARROS, Jeanne D. B.; BARBOSA, Augusto C. C.; CONCORDIDO, Cláudia F. R.

Instituto de Matemática e Estatística – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

RESUMO
O artigo apresenta o estudo do campo sonoro produzido por uma fonte do tipo monopolo imersa em um
fluido uniforme, o qual é descrito por uma camada cisalhante na qual a velocidade do fluido varia de forma
quadrática. A camada é delimitada por duas regiões, uma em que o meio está em repouso e a outra que
apresenta um escoamento uniforme subsônico. Por sua vez, a camada cisalhante está dividida em uma
estreita faixa com perfil linear de velocidade e uma faixa maior, na qual se encontra a fonte, com variação
quadrática de velocidade. O campo de pressão sonora é determinado de forma analítica a partir da
aplicação do método de funções de Green para a solução do sistema de equações diferenciais que rege o
problema.

ABSTRACT
We study the sound field produced by a monopole source inserted in a uniform flow described by a shear
layer with quadratic velocity. The layer is bounded by two regions, one of them the medium is at rest and
the one that presents a uniform subsonic flow. The shear layer is divided into a narrow strip with linear
profile of speed and a broader range, where lies the source, with quadratic variation speed. We calculate
the sound pressure field using a system of differential equations, which is solved analytically by the method
of Green's functions.
Palavras-chave: pressão sonora, fonte monopolar, camada cisalhante.

1. INTRODUÇÃO
O estudo de ruído produzido por aeronaves é um dos temas centrais em aeroacústica,
especialmente no que tange ao controle de ruído ambiental. Entre o jato de ar proveniente da
turbina e o meio circundante existe uma interface em que a velocidade muda abruptamente. Essa
flutuação repentina na velocidade é um dos agentes responsáveis por gerar turbulência no meio e,
além disso, causa difração em parte das ondas sonoras contribuindo para o aumento do nível de
ruído.

A analogia proposta por LIGHTHILL (1952,1954) foi o primeiro modelo bem sucedido no
estudo do jato de ar. Lighthill não considerou a existência de uma interface entre o jato e o meio
circundante em repouso. Contudo é possível analisar a difração de ondas sonoras causada pela
passagem através da interface. Isso é feito pela escolha de um modelo matemático em que a
interface é considerada como:
 Uma descontinuidade do campo de velocidade (“plug-flow” no caso de jatos
circulares);
 Uma camada cisalhante com perfil pré-determinado (“shear-layer”).

446
O primeiro caso, o mais simples deles, foi discutido formalmente por GRAHAM & GRAHAM
(1971) e MANI (1972), que concluíram que o som é amplificado se a fonte está em movimento.
O segundo modelo foi inicialmente estudado por SCOTT (1979), que considerou uma fonte linear
em duas situações: no meio fluido e na camada cisalhante. Posteriormente analisado em tese de
doutorado (BARROS & MUSAFIR, 2002).

Neste trabalho modificamos o perfil de velocidade da camada cisalhante analisada por Barros e
Musafir (2002), da forma que descrevemos a seguir. Consideramos uma camada cisalhante
composta de duas regiões: a primeira é uma faixa estreita em que a velocidade varia linearmente
com a distância; a segunda é uma faixa larga (quando comparada à primeira) com velocidade
quadrática do fluido, na qual uma fonte monopolar está imersa (ver Fig. 1).

Utilizamos a equação da onda para descrever a propagação fora da camada cisalhante. Na


camada, utilizou-se a equação de Lilley para densidade de massa e pressão sonora uniformes. A
formulação de Lilley é mais adequada do que a de Lighthill por no que diz respeito à descrição do
efeito do escoamento na geração de ruído. A desvantagem do uso da equação de Lilley está no
fato de que ela nem sempre possui solução analítica. No entanto, nesse trabalho, obtemos a
solução da equação de Lilley através do formalismo de funções de Green.

Figura 1: Fonte sonora imersa em uma camada cisalhante quadrática

2. DESCRIÇÃO DO MODELO
O problema é analisado no espaço tridimensional, que equivale a um problema de fonte pontual
em um espaço bidimensional. Dessa forma, o problema apresenta simetria espacial em relação a
um dos eixos (eixo-z). Consideramos o meio não viscoso e não condutor, e a velocidade do som
( c0 ) nele constante.

447
O meio fluido é dividido em quatro regiões. Na região 1, correspondente a y  0 , não há
escoamento, isto é, a velocidade do fluido é nula. Na região 2, em que y   L , o escoamento
possui velocidade constante U 0 . A camada cisalhante está dividida em duas faixas: para
 a  y  0 , o escoamento é linear; para  L  y  a , o escoamento tem perfil quadrático. Uma
fonte monopolar está localizada nessa segunda faixa e se movimenta ao longo da reta y=  h (ver
Fig. 1). O comprimento da camada linear é considerado muito menor que o da camada com perfil
quadrático de velocidade (a  L).

Consideramos os campos de pressão sonora p1,p2 ,p3 ,p4 , respectivamente, nas regiões 1, 2 e nas
faixas linear e quadrática da camada cisalhante. A pressão em cada uma das regiões pode ser
escrita na forma

As segundas parcelas de cada campo de pressão em [Eq. 01] são as flutuações de pressão, e são
consideradas muito pequenas em relação às respectivas pressões do meio.

Na faixa linear da camada cisalhante, a velocidade será dada por U ( y)=  aU 0 y / L2 ,


 a  y  0 . Na faixa quadrática da camada cisalhante, a velocidade será dada por
U ( y)=U 0 y 2 / L2 ,  L  y  a .

2.1. Formulação matemática


Os campos sonoros p'1 ,p' 2 ,p'3 ,p' 4 satisfazem as equações que seguem.

Região 1:

Camada cisalhante – faixa linear:

Camada cisalhante – faixa quadrática:

448
Região 2:

onde

e D0 / Dt= / t  U / t é a derivada material linearizada,  é a distribuição delta de Dirac e


m0 é a amplitude da fonte. As equações [Eq. 04] e [Eq. 05] são equações de Lilley, sendo o
termo fonte na segunda dessas equações proveniente do monopolo
it
( D0 / Dt)[m0 ( x) ( y  h)e ] inserido na equação de quantidade de movimento (BARROS &
MUSAFIR, 2002).

As condições de fronteira são campos de pressão e de velocidade contínuos nas três interfaces.
Então as condições de fronteira naturais a serem satisfeitas são:

       
onde v´1  v´1 e1 , v´2  v´2 e1 , v´3  v´3 e1 e v´4  v´4 e1 são as velocidades da partícula nas regiões 1 e 2, e
na camada cisalhante, faixa linear e faixa quadrática, respectivamente. A camada linear é uma imposição
da formulação matemática já que se observou não existência de solução contínua para o problema
formulado com uma única camada cisalhante de perfil quadrático.

3. SOLUÇÃO DO MODELO
Para resolver o sistema de equações diferenciais [Eq. 03] - [Eq. 06] com as condições de fronteira
dadas acima, deve-se considerar que todas as variáveis no problema têm dependência harmônica
no tempo e as reescrevemos usando a transformada de Fourier espacial:

Após aplicar ao sistema de equações, as equações de propagação são dadas por:

449
Região 1:

Camada cisalhante – faixa linear:

Camada cisalhante – faixa quadrática:

Região 2:

onde

e k 0   / c0 ; M 0 , M l e M q são os números de Mach do fluido na região 2 e nas faixas linear e


quadrática da camada cisalhante, respectivamente. A velocidade U 0 é constante na região 2, então
o número de Mach nessa região é M 0  U 0 / c0 . Como o perfil de velocidade na faixa linear da
camada cisalhante é dado por U ( y)=  aU 0 y / L2 , o número de Mach nessa faixa é
M l  aM 0 y / L2 . Por outro lado, na faixa quadrática, M q  M 0 y 2 / L2 , pois U ( y)=U 0 y 2 / L2 .

As soluções de [Eq. 10] e [Eq. 13] são as soluções usuais da equação da onda, fazendo uso da
condição de radiação de Sommerfeld. Entretanto, na camada cisalhante a solução para o campo
de pressão sonora depende sobremaneira do perfil da camada. Na faixa linear obtivemos uma
equação homogênea, cuja solução pode ser encontrada em GOLDSTEIN & RICE (1973) e dada
por

450
onde W é a solução da equação de Weber (ABRAMOWITZ & STEGUN, 1964). A solução da
[Eq. 12] é dada pela soma de uma solução homogênea como em [Eq. 15], trocando M l por M q e
considerando

com uma solução particular. Como em BARROS & MUSAFIR (2002), a [Eq. 12] pode ser
escrita na forma de Sturm-Liouville, e portanto, uma solução particular é obtida através da função
de Green

onde

e o Wronskiano das funções Pw1 e Pw2 (duas soluções l. i. da equação de Weber) é

Assim, a solução na faixa quadrática da camada cisalhante se escreve na forma


P4  c1 P4w1  c2 P4w2  P4 part , onde

4. CONCLUSÃO
A análise da solução de um campo sonoro gerado por uma fonte monopolar em camada
cisalhante quadrática mostra que as condições de continuidade na fronteira geram a necessidade
de uma camada intermediária. Isso se deve à presença de uma potência de y no denominador do

451
Wronskiano, em P4 . A escolha do perfil linear para a faixa intermediária se deve ao fato de
conhecermos (BARROS & MUSAFIR, 2002) a solução contínua na interface ( y  0 ), onde a
solução para perfil quadrático não satisfaz a condição de continuidade.

Para um trabalho futuro é necessário que as condições de fronteira sejam empregadas para se
obter o campo afastado e então considerar a  0.

REFERÊNCIAS

1. Abramowitz, M. e Stegun, I. A, Handbook of Mathematical Functions with Formulas, Graphs, and


Mathematical Tables, National Bureau of Standards Applied Mathematics Series, vol. 55, 1964.
2. Barros, J. D. B. e Musafir, R. E. (2002). Campo Sonoro de Fontes Quadripolares Imersas em uma Camada
Cisalhante Linear, Tese, PEM/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.
3. Goldstein, M. E., Rice, E. J. (1973). Effect of Shear on Duct Wall Impedance. J. Sound & Vibration, vol. 30,
pp. 79-84.
4. Graham, E. W., Graham, B. B. (1971). A Note on Theorical Acoustical Sources in Motion, J. Fluid Mech.,
vol. 49 (3), pp. 481-488.
5. Lighthill, M. J. (1952). On Sound Generated Aerodynamically. I. General Theory. Proc. Royal Soc. A, vol.
211, pp. 564-587.
6. Lighthill, M. J. (1954). On Sound Generated Aerodynamically. II. General Theory, Proc. Royal Soc. A, vol.
222, pp. 1-32.
7. Mani, R. (1976). The Influence of Jet Flow on Jet Noise. Part 1. The Noise of Unheated Jets, J. Fluid Mech.,
vol. 73 (4), pp. 753-778.
8. Scott, J. N. (1979). Propagation of Sound Waves through a Linear Shear Layer, AIAA J., vol. 17 (3), pp. 237-
244.

452
RUÍDO DE SERRA-MÁRMORE OPERANDO EM PLACAS CERÂMICAS

BARBOSA, A. A. R.1; BERTOLI, S. R. 2


(1) Doutorando da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp e Docente do IFSP - adriano@ifsp.edu.br
(2) Física, Professora Livre Docente da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp - rolla@fec.unicamp.br
Caixa Postal 6021- CEP 13083-970 - Campinas, SP

RESUMO
A Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica aponta uma crescente evolução da produção e consumo
de revestimentos cerâmicos no Brasil nos últimos anos. A substituição de outros revestimentos por
cerâmica, devido às suas características funcionais e estéticas, impulsionaram o crescimento da indústria. A
serra-mármore é uma máquina elétrica manual portátil largamente utilizada na Construção Civil em
pequenos cortes e acabamentos em pisos, azulejos, telhas, tijolos e madeiras. Destaca-se pela sua
versatilidade, praticidade, leveza e ergonomia. O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo
comparativo do ruído gerado por máquinas serra-mármore nas operações de corte de placas cerâmicas em
campo aberto e recinto fechado, seu comportamento e as variáveis de interferência nestas atividades. A
metodologia utilizada para o estudo considerou os níveis de ruído gerados nos arredores da fonte de ruído
em pontos pré-definidos, buscando uma relação do ruído gerado nos pontos em áreas externas e internas.
Identificaram-se níveis de ruído globais de 90,5 dB a 1,2 m de distância da fonte em recinto fechado. Para o
campo aberto, mediram-se níveis de 86d B à mesma distância. Medições num raio de 2m da serra-mármore
indicam valores de 86 dB. O comparativo dos espectros sonoros apontam aumento crescente do nível entre
as freqüências de 100 e 4000 Hz variando de 40 a 100 dB. Entre 5000 e 8000 Hz os valores se mantêm
relativamente constante. A direcionalidade da fonte e a influência da distância em relação à fonte são
observadas no ruído avaliado. Os resultados indicaram que os níveis de ruído em recinto fechado e campo
aberto são elevados. Foi possível avaliar quantitativamente o nível de ruído gerado nas operações de corte
com serra-mármore em placas cerâmicas na construção civil e seu comportamento em pontos distribuídos
nos arredores na fonte.
Palavras-chave: Ruído; Serra-Mármore; Placa Cerâmica; Construção Civil.

ABSTRACT
The National Association of Ceramic Tile Manufacturers shows an increasing trend in production and
consumption of ceramic tiles in Brazil in recent years. The substitution of other ceramic coatings due to
their functional and aesthetic characteristics boosted the growth of the industry. The marble saw is a hand-
portable electric machine widely used in construction for cuts and finishes in floors, tiles, roofing tiles,
bricks and wood. It stands out for its versatility, practicality, lightness and ergonomics. The aim of this
paper is to present a comparative study of noise generated by marble saw cutting of ceramic plates in the
open fields and indoors, their behavior and the variables of interference in these activities. The methodology
used for the study considered the noise levels generated in the surroundings of the noise source in pre-
defined, seeking a relationship between the noise generated at the points where external and internal areas.
Were identified overall noise levels of 90.5 dB at 1.2 m distance from the source indoors. For the open field,
were measured levels of 86 dB at the same distance. Measurements within a radius of 2.00 m from marble
saw indicate values of 86 dB. The comparison of the frequency spectrum indicates increasing sound level
between 100 and 4000 Hz ranging from 40 to 100 dB. Between 5000 and 8000 Hz values remain relatively
constant. The directionality of the noise and distance to source values are observed. The results indicated
that noise levels indoors and open fields to show high and to assess quantitatively the level of noise
generated in the cutting operations in marble saw on the construction industry and its surrounding behavior
of points distributed in the source.
Keywords: Noise; Marble Saw; Ceramic Plate; Civil Construction.

453
1. INTRODUÇÃO
A poluição sonora, sua influência sobre o meio ambiente e sobre a qualidade de vida das
pessoas têm sido alvo de várias pesquisas em diversas partes do mundo. Estudos apontam a
construção civil como fator gerador de ruído que incomodam a sociedade. A contribuição das
máquinas e as ferramentas utilizadas nas obras têm influência direta neste processo
(BALLESTEROS et al, 2010). Em função da versatilidade e precisão os equipamentos elétricos são
largamente utilizados em reparos, reformas e obras em geral desde a infra-estrutura até os
acabamentos. Os usos frequente destes facilitadores estão entre as vertentes de melhoria de
qualidade, racionalização dos processos e aplicação de inovações tecnológicas no setor.
O Anuário da Previdência Social Brasileira (2010) aponta um grande número de doenças
ocupacionais no setor da construção civil, por riscos como o ruído, presente no ambiente de trabalho
das obras. Nos dias atuais, o ruído vem sendo tratado com uma questão de Saúde Pública. A questão
ocupacional dos trabalhadores aliada à qualidade de vida e produtividade têm papel de destaque
cada vez maior nas indústrias de manufatura. Dada as condições específicas da mão-de-obra como a
baixa instrução e qualificação, alta rotatividade de funcionários e a variedade das atividades nos
canteiros de obra da construção civil, as ações preventivas ao ruído não acompanham na mesma
evolução dos outros setores industriais. Ainda assim, deve-se destacar que a construção civil é um
dos setores que mais se desenvolveu no Brasil na última década. Os institutos de pesquisa e os
sindicatos de indústrias de construção civil indicam o grande crescimento da indústria da construção
civil nos dias atuais. Alguns dados do setor apontam que a evolução dos empregos gerados no
Brasil no segmento construção civil dobrou na última década (SINDUSCON, 2011).
No Brasil, em relação aos materiais de construção, existe um crescente aumento no uso dos
acabamentos em placas cerâmicas nas edificações residenciais e comerciais, nos seus diversos
padrões construtivos. O consumo brasileiro das placas cerâmicas é mostrado periodicamente em
estudos das vendas do produto para pisos nos últimos anos pela ANFACER (Associação Nacional
dos Fabricantes de Cerâmica). O custo, aparência, durabilidade e versatilidade das placas cerâmicas
são fatores que impulsionam seu uso, frente aos tradicionais granitos, mármores e pedras, que vem
se mostrando cada vez mais escassos e de custos elevados no setor. No cenário dos equipamentos e
ferramentas para uso na construção civil, o baixo custo, a grande disponibilidade e diversidade no
mercado, têm aumentado o uso das ferramentas elétricas manuais na indústria da construção civil. A
serra-mármore, em função da sua leveza, eficiência e operação prática tem sido cada vez mais
utilizada no setor. Para este estudo, a escolha da serra-mármore foi feita considerando sua
versatilidade de uso. Esse tipo de máquina também é utilizado em serviços com diversos materiais
de construção tanto em trabalhos profissionais pesados como em pequenas reformas residenciais.
Para a previsão da condição ruidosa em um ambiente é necessário saber a quantidade de
ruído gerado por uma fonte. Normalmente os fabricantes de equipamentos industriais fornecem
valores de níveis de pressão sonora medidos a uma determinada distância dos equipamentos. Os
níveis de pressão sonora dependem das condições existentes no meio de propagação sonora, bem
como obstáculos encontrados na propagação. O meio pode influenciar na propagação em
decorrência de vários fatores, como temperatura, pressão e a umidade relativa. Além da diretividade
e posição da fonte, outro fato a ser considerado na geração e propagação do ruído é a matéria prima
a ser “trabalhada” na operação dos equipamentos.
O estudo do comportamento e a caracterização dos ruídos ambientais nos canteiros de obras
da construção civil, sejam em áreas internas e externas devido as operações com equipamentos
elétricos, têm importância para o setor. A determinação do ruído gerado por máquinas como a serra-
mármore, em especial, quando em contato com as superfícies de corte dos materiais de construção
contribuem nas ações de controle do ruído em atividades desta natureza para fins ocupacionais e de
conforto ambiental. O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo comparativo do nível de ruído
gerado nas operações de corte de placas cerâmicas com serra-mármore em campo aberto e recinto
fechado.
454
2. AS PLACAS CERÂMICAS E SERRAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Aliado aos processos tradicionais e considerando o mercado competitivo, a construção civil
vem gradativamente incorporando as inovações tecnológicas e a racionalização construtiva em suas
atividades, visando melhorias nos produtos e processos em termos de prazos, custos e qualidade. As
placas cerâmicas e as serras-mármore se incluem neste modelo e vêm sendo cada vez mais
utilizadas nos canteiros de obras.

2.1. Placas Cerâmicas


Cerâmica é uma palavra que vem do grego "Keramikós" e designa o grupo de produtos
resultantes da cocção de argilas a outros componentes. Os materiais cerâmicos compreendem
materiais inorgânicos ou não metálicos de emprego em engenharia (materiais de construção em
engenharia) ou produtos químicos inorgânicos (excetuados os metais e suas ligas), que são
utilizáveis geralmente após tratamento em temperaturas elevadas ( ABNT NBR 13818:1997 ).
De acordo com Costa e Silva (2001), as placas cerâmicas utilizadas para revestimento são
fabricadas a partir de dois tipos de matéria prima naturais para a composição da massa: as argilosas
e não argilosas As matérias primas “não naturais” são utilizadas para os acabamentos vidrados e
corantes. Após a preparação da massa, ela é conformada, através de prensagem ou extrusão, seguida
por queima e aplicação do vidrado, cuja ordem seqüencial depende do processo industrial
empregado.
As placas cerâmicas podem ser esmaltadas ou não-esmaltadas, sendo que o esmalte
corresponde a uma fina cobertura vítrea que impermeabiliza e decora uma das faces da placa. O
esmalte pode ser aplicado no suporte cru, em que a peça sofre uma única queima (monoqueima), ou
aplicado no suporte já queimado sendo realizada uma segunda queima (biqueima). Em relação ao
critério de cor do produto queimado, podem-se dividir os revestimentos cerâmicos em queima
vermelha e queima branca. A cor do produto queimado depende, quase que exclusivamente, do
conteúdo de óxidos colorantes presentes na composição (CONSTANTINO et al, 2006).
A substituição de outros revestimentos (carpetes, madeira, tecidos, vinil, etc.) por cerâmica,
devido às suas características funcionais e estéticas, impulsionou o crescimento da indústria de
revestimentos cerâmicos. A melhoria da qualidade da cerâmica de revestimento esmaltada,
principalmente no que se refere à resistência ao atrito, foi um dos fatores para o crescimento de
produção na indústria, pois passou a ter maior utilização em lugares de grande movimento, como
aeroportos, hotéis, escolas, e hospitais. A crescente evolução da produção, consumo e tipos de
produtos de revestimentos cerâmicos no Brasil, nos últimos anos são apresentados na Figura 1.

(a) (b)

Figura 1: (a) Evolução da produção e vendas de revestimentos cerâmicos no Brasil em 2011. (b) Comparativo dos tipos
de Revestimentos produtos cerâmicos produzidos.
Fonte: ANFACER, 2011.

455
2.2.Serra-Mármore
Segundo a ABNT NBR 15910:2010, a serra-mármore foi especificamente projetada para
cortes de pedras em geral, concretos, alvenarias, materiais vítreos e revestimentos cerâmicos. A
Serra-Mármore é uma máquina elétrica manual portátil, composta por um motor de potência média
de 1400 W, que trabalha com rotação aproximada de 12.000 RPM, em conjunto com um disco
diamantado removível. Destinada a cortes secos ou molhados, retos ou angulares, é largamente
utilizada na construção civil em pequenos cortes e acabamentos de pisos, azulejos, telhas, tijolos e
madeiras. Destaca-se pela sua versatilidade, praticidade, leveza e ergonomia, permitindo seu
aproveitamento nos usos mais diversos em todas as etapas de uma obra.

2.3. Disco Diamantado


O Disco Diamantado é um disco de metal, segmentado ou não, côncavo ou não, com
grânulos cristalizados de diamantes industriais fixados de modo definitivo na sua área de corte
(ABNT NBR 15910:2010). Em consulta aos fabricantes nacionais, em relação aos tipos de disco
diamantado comercializados no mercado e suas respectivas aplicações, tem-se o disco contínuo
que é indicado para corte de cerâmicas, ardósia, azulejos e porcelanatos; o disco segmentado
utilizado em concreto, alvenaria, tijolos e telhas; e, o disco côncavo (ou turbo) com o uso
destinado a mármores, granitos e pedras decorativas. Em relação à suas dimensões, as
características dos discos comercializados no Brasil, se enquadram naquelas recomendadas pelas
normas ABNT NBR 15910:2010 e IEC 60745-1: 2006, conforme as especificações:
• Rotação: 12.000 a 14.000 RPM
• Diâmetro: 110 a 125mm
• Furo central: 20mm
• Espessura da alma do disco: 1,4 a 1,6mm
• Altura do diamante: 6 a 8mm
• Espessura do diamante: 1,8 a 2,2mm

3. MATERIAIS E MÉTODOS
Considerando as Normas aplicáveis, em especial os métodos estabelecidos na ABNT
NBR 13910 e ABNT NBR 7566, adaptadas à simulação de uso das serras, nas suas condições de
carga e operação, a presença do operador faz-se necessária, dificultando a repetibilidade e
reprodutibilidade. Considerando ainda a quantidade do pó gerado, buscou-se neste estudo um
pré-teste inicial de simulação laboral, em campo, para análise comportamento e variáveis de
interferência nas operações desta natureza. A partir desta análise, outros estudos a serem
realizados em câmaras e fontes de referência, auxiliarão na proposição de um método para
determinação dos níveis de ruído gerado em máquinas tipo serra-mármore.
Adotou-se para este trabalho as atividades de corte com a serra-mármore operando em
placas cerâmicas comerciais, através de atividades de corte linear, comumente executadas em
obras no setor da construção civil. A metodologia utilizada para o estudo considerou o ruído
gerado nos arredores da fonte em pontos pré-definidos, buscando uma relação comparativa de
ruído nos pontos nas áreas externa e interna.
Nas operações de corte utilizou-se a Serra-Mármore marca DEWALT modelo DW861BK
e discos diamantados marca WURTH tipo turbo contínuo Modelo 06070 110 6. A escolha das
marcas deram-se de forma aleatória dentro daquelas disponíveis no mercado e frequentemente
utilizada nos canteiros de obras.
Utilizaram-se nas medições de ruído como material de corte, as placas cerâmicas para
piso marca LEF, modelo 3011 A5, PEI 4, tonalidade 210, classificação/lote B27, de dimensões
31x31cm e 0,75cm espessura. A empresa fabricante encontra-se regularmente acreditadas pela

456
ANFACER (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento). Para este
estudo optou-se por utilizar placas cerâmicas vermelhas para piso de marcas mais populares e
comercializadas em grande escala nas empresas do setor no estado de São Paulo. Observou-se
ainda a utilização do mesmo lote de fabricação das placas cerâmicas, a fim de não acrescentar
outras variáveis na interpretação dos resultados de ruído obtidos em campo. As embalagens das
placas cerâmicas utilizadas informam que os produtos apresentam-se em conformidade com as
Normas ISO-13006 (Ceramic tiles: Definitions, classification, characteristics and marking) e
NBR-13818 (Placas cerâmicas para revestimento: Especificação e métodos de ensaios).
Para a realização das medições de ruído utilizou-se o Medidor de Nível de Pressão
Sonora Marca Brüel & Kjäer modelo 2260. Foram medidos os níveis de pressão sonora em
função da freqüência em bandas de 1/3 de oitava entre 100 e 8000Hz.
Em campo aberto, as medições foram realizadas em uma área de estacionamento na
universidade, cujo piso é em terra batida e alguns pontos em grama aparada, os arredores são
planos e sem interferências construtivas. As medições em recinto fechado foram realizadas na
obra de um prédio de salas de aula na fase de alvenaria e acabamentos, nas dependências da
universidade. Medindo 12,00m x 7,00m com pé direito de 3,2m, a sala utilizada possuía estrutura
de pilares e vigas em concreto armado, contra-piso em concreto, laje treliça de concreto e EPS,
paredes em blocos de concreto com vãos nas áreas de esquadrias e com baixo ruído externo.
Para a realização das medições de ruído, adotaram-se os critérios estabelecidos pela
Norma ABNT NBR 10.151 em relação ao afastamento do piso (1,2m) e observando-se ainda
evitar proximidades de quaisquer outras superfícies refletoras como paredes e muros. Utilizou-se
protetor de vento no microfone do medidor. O norte magnético (N.M.) ilustrado na Figura 3
representa o horizonte de visão do operador da serra.
A Figura 2 mostra a serra-mármore utilizada nas operações. Na Figura 3 são ilustrados os
pontos de medição e seu arranjo físico. A Figura 4 mostra fotos das operações de corte realizadas
em recinto fechado e campo aberto:

Figura 2: Serra-Mármore utilizada nas operações.

Figura 3: Arranjo físico das medições

(a) (b)
Figura 4: Operação de Corte em Recinto Fechado (a) e Campo Aberto (b).

457
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As medições de ruído de fundo foram realizadas no ponto P1. Em campo aberto
resultaram em um valor global de nível de pressão sonora de 43,0 dB enquanto que em recinto
fechado o resultado foi de 40,2 dB. Os resultados de nível de pressão sonora em função da
freqüência referentes ao ruído de fundo são ilustrados na Figura 5.

Figura 5: Ruído de Fundo em função da frequência

Nas medidas de ruído em função da freqüência, as diferenças dos níveis sonoros da fonte
comparada com o ruído de fundo mostrou-se acima de 10 dB, indicando que não existe
influência do ruído de fundo nas medições realizadas. A representação comparativa do ruído
gerado pelo corte da cerâmica nos pontos P1 a P8 nas áreas internas (recinto fechado) e externas
(campo aberto) estão na Figura 6.

Figura 6: Representação comparativa dos espectros sonoros nos Pontos P1 a P8

458
Os resultados das medidas de níveis de pressão sonora obtidas em recinto fechado para
todos os pontos são mais elevadas que aqueles obtidos em campo aberto, fenômeno associado ao
efeito do comportamento dos elementos construtivos nas áreas internas devido às reflexões das
ondas sonoras e conseqüente aumento do ruído devido ao campo reverberante.
O comparativo dos espectros sonoros apontam aumento crescente do nível entre as
freqüências de 100 e 4000 Hz, variando de 40 a 100 dB. Entre 5000 e 8000 Hz os valores se
mantêm relativamente constantes.
Observa-se nos resultados de recinto fechado um aumento significativo do nível em
160_Hz e uma queda em 200 Hz. Em campo aberto este comportamento está deslocado de uma
banda de freqüência e o pico acontece em 200 Hz, o que está associado a freqüência fundamental
da serra-mármore que opera em 12.000 RPM. Essa característica de picos altos e baixos nas
freqüências de 160 Hz e 200 Hz para ambiente interno e em 200 Hz e 250Hz para ambientes
externos está associado ao ruído da serra-mármore em operações de corte da placa cerâmica. A
influência dos modos normais de vibração da sala e da densidade espectral não alterou o
comportamento das freqüências, indicando que os picos encontrados nos espectros não estão
associados às dimensões do recinto.

4.2. Análise comparativa do ruído global


Para uma análise geral dos níveis de pressão sonora, obtidos nos diferentes pontos,
calculou-se o nível de pressão sonora global em dB para as condições de recinto fechado
(Interna) e campo aberto (Externa). Os resultados estão ilustrados na Figura 7.

Figura 7: Comparativo da média global de ruído nos pontos

Os valores de níveis sonoros globais mais elevados encontrados nas áreas internas e
externas, respectivamente, estão em P1 e P3, enquanto que os menores valores ocorreram no
ponto P6 em ambas as condições.
Considerando a distância da fonte em relação ao receptor, existem em dois conjuntos
distintos na distribuição de pontos: (a) pontos localizados a um raio de 1,20 m da fonte, ( P1, P3,
P5 e P7); (b) pontos localizados a um raio de raio de 2,00 m da fonte (P2, P4, P6 e P8). Dentre os
valores obtidos nesta classificação os níveis de ruído apresentaram-se com uma distribuição
uniforme no espectro de frequências, com valores relativamente constantes, exceto em P5 e P6
que apresentam os menores valores globais frente aos eixos propostos e localizam-se atrás do
operador e da serra-mármore.
O efeito da direcionalidade da fonte pode ser observado nos pontos P1, P3 e P7 para as
condições Interna e Externa, e estão respectivamente à frente e na lateral esquerda e direita do
operador da serra-mármore.
459
5. CONCLUSÕES
Os resultados apresentados neste estudo permitiram avaliar quantitativamente o nível de
ruído gerado nas operações de corte de placas cerâmicas com serra-mármore para atividades em
campo aberto e em recinto fechado. Verificou-se o comportamento sonoro em pontos
distribuídos nos arredores na fonte.
O comparativo dos espectros sonoros apontam aumento crescente dos níveis entre as
freqüências de 100 e 4000 Hz, variando de 40 a 100 dB. Entre 5000 e 8000 Hz os valores se
mantêm relativamente constante.
Os níveis globais de ruído nas operações com a serra-mármore em placas cerâmicas são
elevados. Os níveis sonoros em recinto fechado são maiores que os de campo aberto.
A direcionalidade da fonte de ruído é um aspecto a ser considerado nos arredores das
operações desta natureza, uma vez que apresentam diferentes comportamentos nos pontos em
campo aberto e em recinto fechado.
A distância interfere diretamente no nível de ruído nas duas condições estudadas,
possibilitando uma possível classificação das regiões ao redor da serra, quanto ao ruído.
O estudo representa uma contribuição para análise do ruído gerado nos canteiro de obras,
considerando as dificuldades na obtenção de valores dos espectros sonoros nas operações de
serra-mármore na literatura nacional.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para um estudo mais amplo do ruído gerado nas operações de serra-mármore na
construção civil propõe-se um estudo envolvendo diferentes serras, operadores, placas cerâmicas
e até outros materiais de construção, sob diferentes recintos em tempos de reverberação distintos,
para o estudo do comportamento do ruído a partir da variação destas condições.
O estudo do ruído gerado por serra-mármore em materiais na construção civil é tema em
andamento na tese de doutorado do autor (1).

REFERÊNCIAS

1. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DE ACIDENTES DO TRABALHO: AEAT 2010 / Ministério do Trabalho e


Emprego – vol. 1 (2010), Brasília: MTE: MPAS, 2010.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 13818:1997 - Placas cerâmicas para
revestimento - Especificação e métodos de ensaios. 78p, 1997.
3. ____. NBR 15910:2010 - Ferramentas elétricas portáteis operadas a motor — Segurança: Requisitos
particulares para serras-mármore. 15p, 2010.
4. ANFACER - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE CERÂMICA PARA REVESTIMENTO.
Números do setor. São Paulo, 2011. Disponível no site http://www.anfacer.com.br. Acesso em 26 de
Dezembro de 2011 à 16h47min.
5. BALLESTEROS, M. J.; FERNÁNDEZ, M. D.; QUINTANA S.; BALLESTEROS, J. A.; GONZÁLEZ I. Noise
emission evolution on construction sites. Measurement for controlling and assessing its impact on the people
and on the environment. Revista Building and Environment, Volume 45, Issue 3, March 2010, Pages 711-717.
Disponível em http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0360132309002054.
6. CONSTANTINO, A. O.; ROSA, S. E. S.; CORRÊA A. R. Panorama do setor de revestimentos cerâmicos.
Revista Revestimentos Cerâmicos ANFACER. Edição Especial - Setembro. 23p. São Paulo, 2006.
7. COSTA E SILVA. A. J. Descolamentos nos revestimentos cerâmicos de fachada na cidade de Recife.
Dissertação (Mestrado). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001.
8. SINDUSCON / FGV PROJETOS. 48ª Sondagem Nacional da Indústria da Construção Civil. São Paulo,
Agosto / 2011. Disponível em www.sindusconsp.com.br. Acesso em 26/12/2011 às 23h21min.

460
EFICIÊNCIA DE PROTETORES AUDITIVOS AO ESPECTRO DE BANDAS
DE OITAVA E AOS NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA CARACTERÍSTICOS
DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUA DA CORSAN - RS

MEDEIROS, Jairo1; GOMES, Herbert2.


(1) DEMEC/UFRGS; (2) DEMEC/UFRGS

RESUMO
Embora a legislação brasileira determine que a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual – EPI´s
deva ser adequada aos riscos e sob indicação do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho - SESMT, em muitos casos, a adoção de protetores auditivos se resume à aquisição
pelo empregador e entrega aos trabalhadores, sem o devido estudo de atenuação que os diversos
equipamentos disponíveis no mercado oferecem. Tal conduta indevida pode tornar inócua a medida de
prevenção adotada, trazendo prejuízos à saúde dos trabalhadores e às próprias empresas que, apesar de
realizarem o investimento, tem aumentado o potencial de passivo trabalhista, relacionado a possíveis ações
de reparação judicial por parte daqueles que perderam a sua audição no ambiente de trabalho, em função da
atenuação insuficiente do protetor auditivo inadequado. Este artigo aborda a necessidade de levantamentos
ambientais bem como da aplicação de critérios e método de seleção apropriados à implantação de protetores
auditivos como medida de controle individual, quando a eliminação dos riscos ou a adoção de medidas
coletivas tornam-se inviáveis. Refere-se também a um estudo de caso no qual foi analisada, através do
método longo, a eficiência de protetores auditivos ao espectro de bandas de oitava e aos níveis de pressão
sonora característicos de um sistema de tratamento de água da CORSAN – RS.

ABSTRACT
Although Brazilian law provides that the acquisition of Personal Protective Equipment – PPE should be
appropriate to the risks and on the advice of the Specialized Safety Engineering and Occupational Health, in
many cases, the adoption of earplugs comes down the acquisition and delivery by the employer to workers
without proper study of the various mitigation equipment available on the market offer. Such misconduct
may render harmless the prevention measures adopted, being detrimental to the health of workers and the
companies themselves, despite making the investment, has increased the potential for labor liabilities, actions
related to possible remedies for those who lost your hearing in the workplace, according to the insufficient
attenuation of hearing protectors inadequate. This paper addresses the need for environmental surveys and
the implementation of criteria and selection method for the deployment of appropriate hearing protectors as a
measures of individual control, while eliminating the risks or the adoption of collective measures become
unviable. It also refers to a case study in which it was addressed through the long method, the
efficiency of hearing protectors to the spectrum and octave band sound pressure levels characteristic
of a system of water treatment CORSAN - RS.
Palavras-chave: Ruído Ocupacional. Protetores Auditivos. Saneamento.

1. INTRODUÇÃO
O ruído ocupacional, gerado por máquinas e processos de produção, acompanha o desenvolvimento
produtivo desde a 1ª Revolução Industrial, que transferiu o domínio do trabalho manual do artesão
ao capital industrial e inseriu este trabalhador no mundo do trabalho em série e industrializado. No
início, não havia nenhuma preocupação com a saúde dos denominados operários, que cumpriam
jornadas estafantes, sem regulamentação alguma e expostos aos mais variados riscos ambientais.
Entretanto, já no ano de 1700, em sua obra “De Morbis Artificum Diatriba” (As Doenças dos

461
Trabalhadores), RAMAZZINI (1700) registrava uma série de doenças relacionadas ao trabalho
entre as quais a perda de audição ocupacional relacionada à atividade dos bronzistas, descrita da
seguinte forma:

“Observamos esses artífices, todos sentados sobre pequenos colchões postos no chão,
trabalhando constantemente encurvados, usando martelos a princípio de madeira, depois de
ferro e batendo o bronze novo, para dar-lhe a ductilidade desejada. Primeiramente, pois, o
contínuo ruído danifica o ouvido, e depois toda a cabeça, tornando-se um pouco surdos e, se
envelhecem no mister, ficam completamente surdos...”

Diante da necessidade de melhoria das condições de trabalho, o Estado interveio nas relações de
trabalho entre capitalistas e operários ou capital e trabalho e desta forma surgiram, no final do
século XIX, as primeiras leis de proteção à integridade física e à saúde dos trabalhadores na Itália.

No Brasil, a regulamentação sobre a saúde e segurança no trabalho ocorreu de forma mais


específica, somente na década de 70, quando o País foi considerado pela Organização Internacional
do Trabalho – OIT, o recordista mundial em acidentes no trabalho, com mais de dois milhões de
ocorrências.

Naquela década, foi sancionada a Lei nº. 6.514/77, regulamentada pela Portaria nº. 3.214/78 do
Ministério do Trabalho e Emprego que determina e orienta todas as ações de saúde e segurança do
trabalho nas empresas públicas ou privadas, que contratam de acordo com a Consolidação das Leis
do Trabalho – CLT. Estão em vigor 35 normas regulamentadoras, dentre as quais a Norma
Regulamentadora NR 1 que determina a atuação do governo e as relações entre trabalhadores e
empregadores no que se refere à saúde e segurança nos ambientes de trabalho; e a NR 06,
Equipamento de Proteção Individual, que determina, por exemplo, a aplicação de equipamentos
de proteção individual, entre os quais o protetor auditivo, como medida temporária de prevenção à
perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional - PAIR, até que medidas de eliminação do risco
sejam implantadas, ou quando da impossibilidade técnica ou econômica fundamentada de
eliminação do risco ou controle na fonte.

No que tange ao risco ruído ocupacional, além da NR 06, a NR 15, em seu anexo 1, determina os
limites de exposição ao ruído contínuo que se respeitados, teoricamente, garantem a manutenção da
saúde auditiva do trabalhador. O anexo I é utilizado como referencial para fins de enquadramento
das atividades laborais em relação ao adicional pecuniário de insalubridade. Entretanto, para fins de
prevenção, recomenda-se a aplicação dos parâmetros da Norma de Higiene Ocupacional - NHO 01
da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho- FUNDACENTRO,
por ser mais restritiva.

O Ministério do Trabalho e Emprego, através da Portaria nº. 19, de 9 de abril de 1998, estabeleceu
diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e o acompanhamento da audição dos trabalhadores
expostos a níveis de pressão sonora elevados. Esta Portaria define como perda auditiva as alterações
dos limiares auditivos, do tipo neurosensorial, decorrente da exposição ocupacional sistemática a
níveis de pressão sonora elevados.

De acordo com a Base de Dados Históricos do Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS,
entre os anos 2000 e 2009, o Brasil registrou 20.946 casos de perda de audição neurosensorial.
Diante deste cenário, a Previdência Social, através da Ordem de Serviço INSS/DAF/DSS nº. 608,
de 05 de agosto de 1998, aprovou uma Norma Técnica sobre a Perda Auditiva Neurossensorial por
Exposição Continuada a Níveis Elevados de Pressão Sonora de Origem Ocupacional. Esta norma
técnica menciona em sua introdução que a PAIR, também conhecida como perda auditiva por

462
exposição ao ruído no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional e disacusia
ocupacional, constitui-se em doença profissional de enorme prevalência em nosso meio tendo se
difundido a numerosos ramos de atividades.

Considerando esse problema, o artigo apresenta a seguinte questão:


- quais os equipamentos são mais indicados em termos de atenuação de ruído contínuo, entre os
modelos de protetores auditivos adotados em um sistema de tratamento de água, abrangendo as
fases de captação, tratamento e manutenção de redes de distribuição?

1.1 Objetivo geral


Avaliar se os tipos de protetores auditivos adotados em um sistema de tratamento de água estão de
acordo com os níveis de pressão sonora contínuos e perfil de bandas de oitava gerados pelas fontes
de ruído.

1.2 Objetivos específicos


- identificar as fontes de ruído contínuo em um sistema de tratamento de água;
- reconhecer, através de um decibelímetro com filtro de bandas de oitava, o nível de pressão sonora
e o espectro de bandas de oitava das fontes de ruído;
- identificar os protetores auditivos adotados no sistema de tratamento de água estudado;
- classificar os modelos de protetores auditivos, conforme dados dos Certificados de Aprovação –
CA, validados pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE;
- avaliar a eficiência de cada modelo de protetor auditivo pelo método conhecido como método
longo.

1.3 Relevância
Além do atendimento a requisitos de legislação, a seleção criteriosa de EPI´s, entre os quais os
protetores auditivos, colaboram com o pensamento de que os trabalhadores de uma organização se
constituem num dos seus principais ativos, para o alcance e manutenção de vantagem em um
mercado competitivo.

Da mesma forma, a aplicação de critérios e metodologia técnica que garanta a eficácia das medidas
de controle individuais adotadas aos riscos existentes, contribui com a responsabilidade social das
empresas, evitando lesões e/ou a geração de pessoas portadoras de deficiências, além de custos
sociais. Somam-se a estes argumentos, a significativa prevalência desta doença, que teve, entre os
anos 2000 e 2009, 20.946 casos registrados na Previdência Social, conforme referido anteriormente.

A dimensão deste custo social e a prevalência da Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional -
PAIR justificam a necessidade legal e ética da adoção criteriosa de medidas eficazes, por parte das
empresas, que garantam a saúde e a integridade auditiva dos trabalhadores.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Tipo e natureza


Esse artigo tem como base o estudo de natureza descritiva no qual se utilizou dos documentos e
informações disponibilizadas pela CORSAN e no estudo de natureza exploratória, através da
observação em campo e do reconhecimento do risco ruído contínuo, através de técnicas e
equipamentos de higiene ocupacional.

463
2.2 Coleta de dados
A coleta de dados baseou-se na observação direta nos locais de trabalho e nos registros fornecidos
pelas medições de ruído realizadas pelo autor com decibelímetro com filtro de bandas de oitava,
fornecido pelo DEMEC-UFRGS.

2.3 Locais de coleta


A coleta de dados ocorreu na Unidade de Saneamento de Cachoeirinha – RS, no período dos meses
de maio, junho e julho de 2011.

2.4 Dados primários


Os dados primários foram obtidos dos registros fornecidos pelas medições de ruído realizados com
decibelímetro com filtro de bandas de oitava e das observações realizadas em campo nos setores de
captação de água bruta, tratamento de água e manutenção de rede.

2.5 Dados secundários


Foram utilizados como fonte de dados secundários os Certificados de Aprovação – CA dos
protetores auditivos utilizados no sistema de tratamento de água estudado, disponíveis na página do
site do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE no sistema de pesquisa de CA: CA 14227, CA
14230, CA 8304, CA 8092, CA 15247,CA 820, CA3378, CA4398, CA 5228.

2.6 Tipo de análise


Análise qualitativa documental e análise quantitativa pelo método recomendado por GERGES
2000, denominado de método longo, considerando as somas logarítmicas das atenuações por bandas
de oitava contidas nos CA dos equipamentos, descontados em dois desvios-padrão e dos registros
das medições de ruído realizadas com decibelímetro com bandas de oitava junto as fontes de ruído.

O Método Longo confronta os níveis de atenuação média de pressão sonora em dB por bandas de
frequências de 1/1 oitava, de 125Hz até 8kHz, fornecidos pelo fabricante do protetor auditivo com
os espectros de bandas de frequência obtidos nos ambientes de trabalho, através de um
decibelímetro com filtro de bandas de 1/1 oitava. Conforme GERGES (2000), este método fornece
o nível total no ouvido protegido por determinado protetor auricular e a atenuação total fornecida
por este equipamento em determinado ambiente de trabalho. Para obter o ruído total a que os
trabalhadores estão expostos se utilizou da soma logarítmica dos NPS nas frequências de 125Hz,
250Hz, 500Hz, 1kHz, 2kHz, 4kHz, 8kHz, através da seguinte fórmula:

PSt= 10 log10 (10(NPS125Hz/10)+10(NPS250Hz/10)+10(NPS500Hz/10)+10(NPS1kHz/10)+


10(NPS2kHz/10) + 10(NPS4kHz/10) +10(NPS8kHz/10)) [Eq. 01]

Para a obtenção da atenuação total de determinado protetor auricular, com 98% de confiança, se
considerou o ruído total subtraído pela soma logarítmica da atenuação média de NPS nas
frequências de 125Hz, 250Hz, 500Hz, 1kHz, 2kHz, 4kHz, 8kHz, descontados de dois desvios
padrão, obtidos no Certificado de Aprovação – CA do EPI.

2.7 Recursos necessários


Foram necessários nesse estudo os seguintes recursos:
- 01 decibelímetro com filtro de bandas de oitava marca. QUEST, modelo 1900, nº. série
OCC011010 pertencente ao Departamento de Engenharia Mecânica da UFRGS;
-01 calibrador externo marca QUEST, modelo OC-20 nº. série QOG080030 pertencente ao
Departamento de Engenharia Mecânica da UFRGS;
-01 tripé com ajuste de altura de até 1,70m para suporte do decibelímetro;

464
2.8 Procedimentos de instrumentação
Para obtenção do espectro sonoro em bandas de 1/1 oitava das fontes de ruído identificadas, foi
utilizado um decibelímetro da marca QUEST, modelo 1900, com filtro de bandas de 1/1 oitava,
calibrado antes de cada medição com calibrador da mesma marca em 94dB. As medições foram
realizadas com o microfone posicionado na altura da zona auditiva com o decibelímetro ajustado
nos seguintes parâmetros:
− circuito de ponderação “A”;
− circuito de resposta lenta;
− critério de referência de 85 dB(A);
− nível limiar de integração de 80 dB(A);
− faixa de medição de 60 a 120 dB(A);
− incremento de duplicidade de dose =3, (q=3);
− indicação de da ocorrência de níveis superiores a 115 dB(A).

2.9 Limitações do estudo


Apesar do método longo ser reconhecido como o mais indicado para avaliar a eficiência da
atenuação de protetores auditivos, trata-se de um modelo probabilístico com intervalo de confiança
de 98%. Já existem no mercado audiodosímetros capazes de inserir um mini microfone na entrada
do canal auditivo juntamente com o protetor auditivo de inserção ou tipo concha, possibilitando a
medição direta da atenuação dos protetores auditivos.

As considerações deste estudo limitam-se apenas ao sistema de tratamento de água da CORSAN no


município de Cachoeirinha, devendo-se evitar generalizações a outros sistemas de tratamento de
água, que devem ser estudados nas suas especificidades.

3. RESULTADOS
Para fins deste estudo os modelos de protetores auditivos foram numerados de 1 a 8 e as fontes de
ruído identificadas do 1 ao 19. Os dados sobre a atenuação dos protetores auditivos foram obtidos
através dos Certificados de Aprovação – CA, disponíveis na página da internet do Ministério do
Trabalho e Emprego, através do sistema de pesquisa de CA.

A aplicação do método longo, envolvendo a atenuação em bandas de oitava de 8 modelos de


protetores auditivos e o espectro bandas de oitava das 19 fontes de ruído identificadas apresentou
os seguintes resultados:

- o Protetor Auditivo nº. 1 apresentou uma média de atenuação esperada de 14,9 dB. Entretanto,
mesmo com o uso deste modelo de equipamento, o método longo demonstrou que o trabalhador
estaria exposto a níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) quando da exposição à fonte nº. 7.
Com o uso deste equipamento, 94,74% do ruído das fontes ficariam abaixo do limite de exposição
para jornada de 8h que é de 85 dB(A). Deste percentual 52,63% ficaria abaixo do nível de ação
recomendado pela NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais que é de 50% da dose para
8h, ou seja 80dB(A);

- o Protetor Auditivo nº. 2 apresentou uma média de atenuação esperada de 10,6 dB. Porém,
mesmo com o uso deste modelo de equipamento, o método longo demonstrou que o trabalhador
estaria exposto a níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) quando da exposição ao ruído
emitido pelas fontes nº. 4, 7, 9, 16, 17, 18 e 19. Com o uso deste equipamento, 52,63% do ruído das
fontes ficariam abaixo do limite de exposição para 8h de 85 dB(A), sendo que deste percentual
42,11% ficaria abaixo do nível de ação.

465
- o Protetor Auditivo Conjugado nº. 3 e 7 apresentou uma média de atenuação esperada de 12,2
dB. Entretanto, mesmo com o uso deste modelo de equipamento, o método longo demonstrou que o
trabalhador estaria exposto a níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) durante a exposição ao
ruído emitido pelas fontes nº. 4, 7, 9, 16, 17, 18, 19. Com o uso deste equipamento 53,16% do
ruído das fontes ficariam abaixo do limite de exposição para 8h de 85 dB(A), sendo que deste
percentual 42,11% ficaria abaixo do nível de ação.

- o Protetor Auditivo nº. 4 apresentou uma média de atenuação esperada de 12,3 dB. Todavia,
mesmo com o uso deste modelo de equipamento, o método longo demonstrou que o trabalhador
estaria exposto a níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) durante a exposição ao ruído
emitido pelas fontes nº. 2, 4, 7, 16, 17, 18, 19. Com o uso deste equipamento 53,16% do ruído das
fontes ficariam abaixo do limite de exposição para 8h de 85 dB(A), sendo que deste percentual
36,84% ficaria abaixo do nível de ação.

- o Protetor Auditivo nº. 5 apresentou uma média de atenuação esperada de 11 dB. Porém, mesmo
com o uso deste modelo de equipamento, o método longo demonstrou que o trabalhador estaria
exposto a níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) durante a exposição ao ruído emitido
pelas fontes nº. 2, 3, 4, 7, 9, 16, 17, 18, 19. Com o uso deste equipamento, 52,63% do ruído das
fontes ficariam abaixo do limite de exposição para 8h de 85 dB(A), sendo que deste percentual
42,11% ficaria abaixo do nível de ação, como ilustra a figura 72.

- o Protetor Auditivo nº. 6 apresentou uma média de atenuação esperada de 11,4 dB. No entanto,
mesmo com o uso deste modelo de equipamento, o método longo demonstrou que o trabalhador
estaria exposto a níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) durante a exposição ao ruído
emitido pelas fontes nº. 2, 4, 7, 9, 16, 17, 18, 19. Com o uso deste equipamento 47,37% do ruído
das fontes ficaria abaixo do limite de exposição para 8h de 85 dB(A), sendo que deste percentual
42,11% ficaria abaixo do nível de ação.

- o Protetor Auditivo nº. 8 apresentou uma média de atenuação esperada de 18,2 dB. Este
equipamento foi o único que pelo método longo garantiria uma exposição a níveis de pressão
sonora inferior a 85 dB(A), em relação ao ruído emitido de todas as fontes identificadas. Com o
uso deste equipamento 100% do ruído das fontes ficaria abaixo do limite de exposição da NR 15,
anexo1 para 8h de jornada que é de 85 dB(A), sendo que deste percentual 68,42% ficaria abaixo
do nível de ação.

4. CONCLUSÕES
A análise da atenuação de ruído de protetores auditivos aos níveis de pressão sonora a aos espectros
de bandas de oitava, característicos das fontes de ruído de um sistema de tratamento de água,
reforça a importância e a necessidade da seleção criteriosa de protetores auditivo, para a garantia do
efetivo resultado na aplicação da medida de controle individual. Neste estudo ficou evidenciada a
diferença de níveis de eficiência de atenuação dos protetores auditivos e que, se não observada,
poderá ocasionar o risco da exposição do trabalhador a níveis superiores ao limite de exposição,
mesmo com o uso do protetor auditivo. Basta, por exemplo, fornecer um protetor auditivo tipo 2 a
um trabalhador exposto a mais de 1h e 55 min à fonte de ruído nº 9. O ruído da fonte 9 que é de
102,1 dB(A) será atenuado em 10,8 dB, resultando em uma exposição de 91,2 dB(A), cujo limite de
exposição diário na NHO 01 é de 1h e 55min.

Como resultado da analise da eficiência, considerando a atenuação dos protetores auditivos pelo
método longo em relação ao total das fontes identificadas, obteve -se a seguinte classificação:
1º - Protetor Auditivo nº. 8, em razão dos níveis de pressão sonora com o protetor abaixo
de 85dB(A) em 100% dos casos;

466
2º - Protetor Auditivo nº. 1, em razão dos níveis de pressão sonora com protetor abaixo de
85dB(A) em 94,74% dos casos;
3º - Protetor Auditivo nº. 4, em função dos níveis de pressão sonora com protetor abaixo de
85dB(A) em 63,16% dos casos;
4º - Protetor Auditivo nº. 3 e 7, em razão dos níveis de pressão sonora com protetor abaixo
de 85dB(A) em 63,16% dos casos;
5º - Protetores Auditivos nº. 2, 5 e 6, em função dos níveis de pressão sonora com protetor
abaixo de 85dB(A) em 52,63% dos casos.

Partindo-se do princípio de que o uso do protetor auditivo deveria manter os níveis de pressão
sonora abaixo de 85 dB(A) para jornada de 8h, conclui-se que apenas o protetor auditivo nº. 8 seria
o recomendado para exposição a 100% das fontes de ruído identificadas . A classificação por fontes
de ruído características de cada grupo homogêneo de exposição também apresentou o protetor
auditivo nº. 8 como a melhor opção, sendo que o protetor auditivo nº. 1 poderia ser um alternativa
nos GHE´s Operadores de Estação Elevatória EBA1 e Auxiliares de Tratamento de Água na ETA.

Mesmo que a aplicação do uso de EPI´s exija alternativas de escolhas aos trabalhadores em relação
a conforto e adaptação, a escolha de apenas um único modelo, o protetor auditivo nº. 8,
comprovadamente eficaz na atenuação de ruído das fontes identificadas, proporcionaria
teoricamente um controle mais facilitado em relação ao gerenciamento da distribuição, manutenção
e validade dos Certificados de Aprovação, pois esses controles se limitariam a apenas um modelo
de equipamento.

É preciso ressaltar que, antes de se adotar o uso de protetores auditivos como medida de controle, é
preciso realizar levantamentos ambientais periódicos abrangendo as situações acústicas
relacionadas a equipamentos, ambientes e processos aos quais os trabalhadores estão expostos. A
partir destes levantamentos deve-se tentar a eliminação do risco. Caso seja inviável tecnicamente a
eliminação do risco, deve-se reduzir o ruído na fonte ou na trajetória e somente em último caso os
protetores auditivos devem ser a solução, mediante seleção criteriosa, tal como o método longo,
recomendado pro GERGES (2000).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BERANEK, Leo L. Noise Reduction. Calofórnia – EUA: Península Pubished, 1991eoc ed, 752 p.

2. BISTAFA, Sylvio R. Acústica aplicada ao controle do ruído. São Paulo: Edgard Blücher, 2006, 1a edição,. 368 p..

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Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União. Brasília, 23 dez. 1977.

8. BRASIL. Portaria nº. 19, de 9 de abril de 1998. Estabelece Diretrizes e Parâmetros Mínimos para a Avaliação e o
Acompanhamento da Audição dos Trabalhadores Expostos a Níveis de Pressão Sonora Elevados. Diário Oficial da

467
União. Brasília, 22 abril 1998.

9. BRASIL. Portaria nº. 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras – NR – do Capítulo V,
Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da
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edição, 118 p..

468
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE DISPOSITIVOS DE
REDUÇÃO DO RUÍDO DO TRÁFEGO

INÁCIO, Octávio1; FREITAS, Elisabete2; RAIMUNDO, Isaac; FONSECA, Ricardo2


(1) InAcoustics – Engenharia Acústica, Vibrações e Ambiente, Lda., Porto, Portugal; (2) Departamento de
Engenharia Civil da Universidade do Minho, Guimarães, Portugal

RESUMO
O desenvolvimento urbano que se verificou em Portugal nas últimas décadas do século 20 foi acompanhado por um
rápido e elevado crescimento do tráfego e, consequentemente, pela construção de vias rodoviárias quer urbanas quer
rurais. A partir do ano 1980, as políticas de controlo do ruído levaram as administrações rodoviárias e os
construtores a aplicarem medidas de mitigação do ruído que passaram sobretudo pela construção de barreiras
acústicas e, em menor grau, pela aplicação de pavimentos com características que produzem menos ruído. Em
ambos os casos, a avaliação do desempenho acústico permite a comparação das especificações de projecto com
dados de desempenho reais e a verificação do mesmo a longo prazo para a devida validação das soluções adoptadas.
Neste trabalho apresentam-se os métodos essenciais para uma gestão eficaz do ruído rodoviário, que permitem
avaliar o ruído de contato pneu-pavimento e o desempenho acústico de dispositivos de redução de ruído do tipo
barreiras acústicas. Apresenta-se ainda um método complementar para a determinação da absorção sonora em
pavimentos rodoviários.
ABSTRACT
The urban development that has occurred in Portugal in the last decades of the 20th century was accompanied by a
fast growth of road traffic and, consequently, by the construction of rural and urban roadways. After 1980, the noise
control policies lead the road administrations and constructors to apply noise mitigation measures, like barriers but
also pavements with noise reduction characteristics. In both cases, the evaluation of the acoustic performance allows
a comparison of the design specifications with real performance data and its verification at the long run for an
adequate validation of the adopted solutions. In this work the essential methods for an effective road noise
management that allow the evaluation of road/tyre noise and of the acoustic performance of noise reduction devices,
such as noise barriers. A method for the determination of the sound absorption in road pavements is also presented.
Palavras-chave: Ruído rodoviário. Desempenho acústico. Pneu/pavimento. Barreiras acústicas.

1. INTRODUÇÃO
Atualmente, os valores limite para o ruído ambiente preconizados na legislação são severos, o
que obriga à procura de soluções inovadoras de redução do ruído rodoviário. Essas soluções
passam pela utilização e desenvolvimento de camadas de desgaste de baixo ruído. Dado que o
ruído resultante do contacto pneu/pavimento é determinante no ruído total produzido pelos
veículos a velocidades superiores a 40-50 km/h para veículos ligeiros (SANDBERG &
EJSMONT, 2002) é fundamental avaliar-se o ruído gerado junto à roda e o que é propagado e
alcança os transeuntes e as edificações. Contudo, a utilização de barreiras acústicas é uma das
medidas mais difundidas para a atenuação de ruído proveniente do tráfego rodoviário e continua
a ser usada massivamente. Ainda assim, a avaliação e verificação do desempenho acústico deste
tipo de estruturas não é feito de forma sistemática e integrada num sistema de gestão, tal como
ainda não acontece com o ruído de contacto pneu-pavimento. Em ambos os casos, a avaliação do
desempenho permite a comparação das especificações de projecto com dados de desempenho
reais e a verificação do mesmo a longo prazo para a devida validação das soluções adoptadas.

2. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO

2.1. Pavimentos rodoviários


A avaliação do ruído de tráfego pode ser feita sob duas vertentes, a ambiental e a do
pneu/pavimento. Na vertente ambiental, o Decreto-Lei n.º 9/2007 de 17 de Janeiro da República
469
Portuguesa, estabelece e articula o novo Regulamento Geral do Ruído com outras normas e/ou
regimes jurídicos portugueses. Na outra vertente, existem vários métodos que têm vindo a ser
utilizados para a comparação do desempenho acústico de superfícies de estradas. De entre os
métodos mais utilizados destacam-se os seguintes (SANDBERG & EJSMONT, 2002):
• Método da proximidade imediata (Close ProXimity method, CPX) (ISO CD 11819-2,
2000);
• Método estatístico de passagem (Statistical Pass-By method, SPB) (ISO 11819-1: 1997); e
• Método da passagem controlada (Controlled Pass-By method, CPB).

2.1.1. Método estatístico de passagem


O método SPB baseia-se na medição dos níveis máximos de pressão sonora, ponderada A, pela
passagem de um número considerável de veículos com significado estatístico de diversas
categorias, num trecho específico da estrada para as velocidades de circulação recomendadas
(ISO 11819-1: 1997).

Para esta medição, o microfone deverá estar localizado a 1,2 m ± 0,1 m acima do plano da faixa
de rodagem e a 7,5 m da linha central da via de tráfego. Assim, a cada passagem individual de
um veículo, o nível sonoro (máximo) e a velocidade do veículo são registados. Os níveis de
ruído dos veículos de cada categoria são adicionados, assumindo determinadas proporções por
categoria, para fornecer um único "índice" que constitua o resultado final. Este índice é
designado por Índice Estatístico de Passagem (SPBI) e pode ser usado na comparação da camada
superficial de pavimentos rodoviários, de modo a que a sua influência no nível de ruído de um
fluxo de tráfego misto possa ser determinada. A variabilidade da composição do tráfego é
frequentemente um entrave à aplicação integral deste método, pelo que muitas vezes se compara
diretamente os níveis de ruído a diferentes níveis de velocidade obtidos em pavimentos
diferentes e considerando uma única categoria de veículos. O método CPB difere do método
SPB apenas no que respeita aos veículos. Neste caso os veículos são selecionados em vez de
serem os de passagem corrente na estrada.

2.1.2. Método da proximidade imediata


A medição do ruído pelo método CPX pode ser realizada de duas formas: (i) utilizando um
atrelado normalizado (puxado por um veículo comum) onde são colocados pneus de ensaio e
pelo menos dois microfones junto do pneu ou, alternativamente, (ii) os microfones são colocados
junto a uma roda do próprio veículo. O esquema de montagem dos microfones deve estar de
acordo com o definido na norma ISO CD 11819-2:2000.

2.1.3. Ensaios complementares: absorção sonora


A absorção do som é influenciada pelas características da superfície do pavimento, tais como a
espessura da camada, a resistividade (que pode ser determinada indiretamente pela
granulometria), a porosidade e a tortuosidade. Além disso, a absorção é influenciada pelo ângulo
de incidência das ondas sonoras sobre a superfície. Para se alcançar a redução máxima de ruído
produzido pelo tráfego é importante ajustar-se as propriedades de absorção de som pela
superfície da estrada com as características da composição de tráfego. A medição da absorção
sonora é fundamental na fase de concepção para otimizar esta característica do material
(BLOKLAND & ROOVERS, 2005) e na fase de exploração para avaliar o desempenho acústico
ao longo do tempo.

2.2. Barreiras acústicas


A Norma Europeia CEN/TS 1793-5:2003, actualmente na versão portuguesa NP 4471:2007, vem
pela primeira vez normalizar um método de ensaio de aplicação aos dispositivos de redução de
ruído do tráfego rodoviário, do tipo barreira acústica. Este método utiliza um sinal de ensaio
MLS (Maximum Length Sequence), gerado por uma fonte sonora, que captado por um
microfone possibilita determinar a resposta global ao impulso entre estes elementos. Este sinal
garante uma boa relação sinal/ruído, uma boa imunidade ao ruído de fundo, através de uma
470
correlação periódica entre o sinal emitido pela fonte e o sinal recebido pelo microfone. É ainda
um método fácil e económico de ser aplicado, sendo o limite inferior da frequência de fiabilidade
a maior limitação: é apenas possível classificar os produtos em toda a gama desde os 100Hz até
aos 5kHz para amostras com dimensões superiores a 4,0x 4,0m2.

2.2.1. Metodologia de avaliação


O ensaio de determinação do isolamento a sons de condução aérea do dispositivo consiste na
emissão de uma onda sonora, a partir de uma fonte direccional colocada num dos lados da
barreira acústica (lado da rodovia), e na recepção da mesma através de um microfone colocado
no outro lado da barreira, em 9 pontos distintos formando a grelha vertical de medição. O
microfone recebe, quer a onda de pressão sonora transmitida, que se propaga através do
dispositivo em ensaio, quer a onda de pressão sonora difractada pelo bordo superior. O
desfasamento no tempo das duas ondas permite, através da aplicação de uma janela temporal,
eliminar a componente difractada. A determinação do isolamento é realizada por comparação do
nível da componente transmitida com o nível de uma onda directa em campo aberto. Esta última
é obtida por repetição da medição sem o dispositivo em ensaio entre a fonte sonora e o
microfone. O índice de isolamento sonoro, calculado através dos espectros de potência das
componentes directa e reflectida, é igual à média logarítmica dos índices de isolamento sonoro
medidos em cada ponto da grelha.

2.2.2. Procedimento de medição e de análise de dados


O procedimento de medição é baseado na relação dos espectros de potência de sinais extraídos
de respostas a impulso amostradas com o mesmo equipamento, no mesmo local e nas mesmas
condições. Uma calibração absoluta da cadeia de medição relativamente ao nível de pressão
sonora não é, portanto, necessária. A fonte sonora deve ser posicionada conforme mostra a
Figura 1. O microfone deve ser colocado subsequentemente nos nove pontos da grelha de
medição conforme mostra a Figura 2. A resposta ao impulso em campo aberto é obtida com a
mesma configuração geométrica de montagem mas sem a presença da barreira. Em barreiras
constituídas por painéis fixados por postes verticais, deverão ser realizadas medições nos nove
pontos da grelha de medição colocada no centro dos painéis mas também colocando a grelha de
medição em frente aos postes.

CORTE TRANSVERSAL ALÇADO

tB

dS (1.00m) dM (0.25m)
s (0.40m) s (0.40m)
hS
hS
s (0.40m)
hB s (0.40m)
s (0.40m) hB
s (0.40m)
hS
hS
lado exposto ao ruído

- PAINÉL FRONTAL DO ALTIFALANTE


- GRELHA DE MEDIÇÃO - GRELHA DE MEDIÇÃO

Figura 1: Geometria de posicionamento da fonte sonora e microfones

A transformação do sinal entre o domínio tempo e o domínio frequência deve ser efetuado
utilizando uma janela temporal, denominada “janela temporal Adrienne”, com as seguintes
especificações: (i) um bordo frontal com metade esquerda em forma de Blackman-Harris e um
comprimento total de 0,50ms; (ii) uma parte plana com um comprimento total máximo de
5,18ms; (iii) um bordo posterior com a metade direita em forma de curva de Blackman-Harris e

471
um comprimento total de 2,22ms. O comprimento total máximo da janela temporal de Adrienne
é de TW ,ADR = 7,90ms .
A introdução dessa janela permite eliminar a componente difractada do sinal, isolando a
componente transmitida. As componentes indesejadas que devem ser mantidas fora da janela
temporal são: (i) as componentes de som difractado pelos bordos do dispositivo de redução de
ruído em ensaio; (ii) as componentes de som reflectido pelo solo, no lado fonte-receptor do
dispositivo de redução de ruído em ensaio. Para a componente direta, o início da parte plana
deve ser colocado 0,20ms antes do pico correspondente à componente direta (ponto marcador) e
termina após 7,40ms.

4 6 8 10 12 14 16 18 205 10 15 20
Tempo [ms] Tempo [ms]

Figura 2: Janela temporal de Adrienne aplicada à função de resposta ao impulso medida (a) em campo aberto e (b)
com a barreira para a posição 5 do microfone.

Para a componente transmitida, o início da parte plana deve ser colocado 0,20ms antes do pico
da correspondente à componente transmitida (ponto marcador) e termina após 7,40ms ou no
começo convencional da difração, consoante o que ocorrer primeiro de entre os dois (a distância
temporal entre o pico relativo à componente transmitida e à componente difratada depende da
altura da barreira) – ver figura 2b). Para barreiras acústicas com uma altura menor que o
comprimento, na generalidade, a componente mais crítica é a difratada pelo bordo superior. O
limite inferior de frequência (fmin), corresponde ao valor mais baixo da frequência que deve ser
utilizado das medições para o cálculo do isolamento sonoro. Este valor depende da largura da
janela temporal de Adrienne, que depende por sua vez da menor dimensão da barreira. Esta
limitação prende-se com a relação dimensional entre os comprimentos de onda e as dimensões
da barreira.

2.2.3. Determinação do Número Único do Isolamento Sonoro Aéreo


A classificação do índice único do isolamento sonoro aéreo para elementos e postes medido in
situ, DLSI, em decibel, é dada por:
⎡ 18 0,1.Li ⎤

⎢ 10 × 10 −0,1.SIi ⎥
⎢ i =m ⎥
DL SI = −10. log ⎢ 18 ⎥ [Eq. 01]

⎢⎣

i =m
10 0,1.Li ⎥
⎥⎦

Onde:
m=4 (número da banda de frequência de um terço de oitava de 200Hz);
s níveis de pressão sonora relativos (dB), de ponderação A, do espectro de ruído de
tráfego normalizado, definido em EN 1793-3: 2007, na banda de frequência de um
terço de oitava, de ordem j .

472
3. CASOS DE ESTUDO
3.1. Avaliação do desempenho acústico de pavimentos
Para a avaliação do desempenho acústica das camadas superficiais dos pavimentos utilizadas em
Portugal foi selecionada uma amostra de 8 tipologias (Tab. 1) localizadas em estradas nacionais.
Tabela 1: Descrição do material que caracteriza a camada superficial do pavimento e sua designação
Descrição do material Designação da camada
Microbetão Betuminoso (MBR7) S1
Mistura Betuminosa Aberta com Borracha (média % de borracha) (MBA BMBm) S2
Mistura Betuminosa Aberta com Betume Modificado com Borracha (MBA BMB12) S3
Mistura Betuminosa Aberta com Betume Modificado com Borracha (MBA BMB10) S4
Betão Betuminoso Denso (BD16) S5, S6
Microaglomerado (McB) S7, S13
Cubos de Granito (CG) S8
Betão Betuminoso Rugoso (BBR12) S12

Para a medição do ruído contacto penu-pavimento foram utilizados dois métodos, o método CPX
e o método CPB. A Figura 3a) mostra a configuração de montagem dos microfones utilizada no
método CPX. Neste caso utilizou-se um atrelado onde o sistema foi adaptado, o que minimiza a
interferência do ruído do motor nas medições efetuadas. O pneu de ensaio utilizado foi o AVON
AV4, de acordo com o recomendado em (MORGAN et al., 2009). A escolha do método CPB,
que para além do ruído gerado junto à roda considera também o efeito do pavimento na sua
propagação. Tem por principal vantagem um maior controlo do ensaio no que respeita às
velocidades praticadas, acelerações/desacelerações indesejadas e estado dos pneus. Por outro
lado, pode não representar totalmente as características do tráfego. Na Fig. 3b) mostra-se a
configuração do ensaio e o equipamento usado. Os veículos selecionados foram 3 veículos
ligeiros considerados representativos da frota portuguesa. Os ensaios foram realizados nos dois
métodos a velocidades compreendidas entre 30 km/h e 100 km/h, com a superfície seca uma vez
que a água altera significativamente o nível de ruído (FREITAS et al., 2009; RAIMUNDO et
al.,2010). A temperatura do ar e da superfíe e a velocidade do vento foram registadas, embora não
tenham sido utilizados para corrigir os valores medidos. Existem algumas indicações para a
correção da temperatura (ANFOSSO-LÉDÉE e PICHAUD, 2007), contudo é ainda necessário
efetuar-se um estudo para as condições portuguesas. Para a medição da absorção, foi usado um
tubo de impedância auto-fabricado com 80 mm de diâmetro, de acordo com o apresentado em
FREITAS et al. (2010). A principal característica deste tubo é a extremidade aberta que é
colocada sobre a superfície a ser avaliada (Fig. 3c)). O coeficiente de absorção é calculado em
função da impedância acústica ao longo de um intervalo de frequência de 250 Hz a 2,5 kHz (1/3
de oitava).

a) b) c)
Figura 3: Detalhes dos ensaios de avaliação do desempenho: a) configuração de montagem dos microfones em
atrelado; b) ensaio pelo método CPB; c) ensaio de absorção em campo

473
3.2. Apresentação e discussão dos resultados da avaliação do desempenho acústico de
pavimentos
3.2.1 Método CPX
Na figura 4 apresenta-se a média do nível de ruído determinado por troços de 10 m determinada
ao longo da extensão considerada (200 m) de parte das secções do estudo. Apesar das diferenças
de idade e de tipologia, as superficies avaliadas não apresentam diferenças assinaláveis, com a
excepção da secção S2, por apresentar valores inferiores a todos os níveis de velocidade. Através
desta metodologia também é possível analisar-se a variaçãodo nível de ruído com a velocidade,
que neste caso é muito semelhante. Contudo, esta informação é relevante na seleção das camadas
superficiais particulartmente em em zonas de tráfego elevado e rápido.

110 S1(MBR7)
Nívelde ruído [dB(A)]

100 S2(MBA BMBm)


90 S3 (MBA BMB12)

80 S4(MBA BMB10)

70 S5(BD16)
S6(BD16)
60
30 40 50 60 70 80 90 S7(McB)
Velocidade [km/h] S12(BBR12)

Figura 4: Níveis de ruído máximos medidos para as velocidades de 30 km/h a 90 km/h

3.2.2 Método CPB


Na figura 5 representa-se os níveis de ruído dos veículos ligeiros para as várias superfícies, para
as velocidades de 30 km/h, 50 km/h, 70 km/h e 90 km/h. Estes valores foram calculados a partir
da reta de regressão do nível de ruído versus logaritmo décimal da velocidade. A qualidade de
ajuste das retas determinadas pode ser considerada excelente, o que se deve ao facto do ensaio
ser controlado. A partir dessa figura pode analisar-se o desempenho relativo de cada tipo de
camada e a sensibilidade de cada uma delas ao aumento da velocidade. Assim, verifica-se que a
superfície em cubos de granito (S8) em quase todas as velocidades, apresenta os maiores níveis
de ruído. Observa-se a seguir um conjunto de camadas, de natureza fechada com níveis de ruído
muito semelhantes. Destacam-se a superfície S2, pelos seus valores reduzidos a todas as
velocidades, sendo caracterizada por uma textura positiva, e a superfície S1 com um desempenho
excelente a velocidades elevadas, sendo caracterizada pela dimensão reduzida dos agregados e
também pela sua textura positiva. Salienta-se que estes resultados evoluem com o tempo devido
à acção do tráfego que altera as características das superfícies, particularmente a textura e a
porosidade (FREITAS, 2012).

83
S1 (MBR7)
80
S2 (MBA BMBm)
77
S3 (MBA BMB12)
74
71 S4 (MBA BMB10)

68 S5 (BD16)

65 S6 (BD16)

62 S7 (McB)
59 S8 (CG)
56 S9 (MBA BMB10)
53 S12 (BBR12)
50 S13 (McB)
30 Km/h 50 km/h 70 km/h 90km/h
v (km/h)

Figura 5: Níveis de ruído máximos estimados para as velocidades de 30 km/h a 90 km/h

474
3.2.3. Absorção sonora
Na Figura 6 apresenta-se em a) o coeficiente de absorção sonora médio, medido de 10 m em
10 m ao longo da secção de ensaio, e em b) o espetro de absorção sonora que mais se aproxima
do valor médio. A maioria dos valores encontra-se abaixo dos 5%,o que corresponde a materiais
reflectores. Destaca-se novamente a superfície S2, cujo coeficiente de absorção médio se
aproxima de 30% e que pontualmente ultrapassa os 40% a cerca de 1100 Hz.
Coeficiente de absorção (%)

30% 45%
S1(MBR7)

Coeficiente de absorção (%)


25% 40%
S2(MBA BMBm)
20% 35%
S3 (MBA BMB12)
30%
15% S4(MBA BMB10)
25%
10% S5(BD16)
20%
S6(BD16)
5% 15%
S7(McB)
0% 10%
S12(BBR12)
S3 (MBA BMB12)
S1(MBR7)

S2(MBA BMBm)

S5(BD16)

S6(BD16)

S7(McB)
S4(MBA BMB10)

S12(BBR12)

S13(McB)
5%
S13(McB)
0%
0 1000 2000 3000
Frequência (Hz) - 1/3 oitava

a) b)
Figura 6: Absorção sonora: a) valor médio ao longo da secção; b) espectro de absorção sonora

3.3. Avaliação do desempenho de barreiras acústicas


Para aplicação do método foram realizadas medições numa barreira acústica de blocos de betão,
aplicada numa auto-estrada, constituída por panos verticais de espessura constante, travados
verticalmente por pilares em bloco afastados de 4,65m. A seleção da barreira para uso nestes
testes foi efetuada considerando essencialmente a facilidade de acesso e a sua representatividade
para o tipo de barreira em causa. Os ensaios foram realizados com recurso a um sinal Sequência
de Máximo Comprimento (MLS) conforme preconizado na norma portuguesa. Para a realização
do ensaio foi utilizado o seguinte equipamento: (i) fonte sonora Bruel & Kjær Sound Source
Type 4224; (ii) microfone omnidireccional e pré-amplificador tipo 1 da BSWA; (iii) placa de
som D-Audio de 2 canais; (iv) computador portátil com software WinMLS e MATLAB. Os
resultados dos ensaios realizados encontram-se ilustrados na figura 6, onde se mostra como
exemplo, uma resposta ao impulso da componente obtida na posição central (posição 5), os
índices de isolamento sonoro (SI), em função da frequência, em bandas de um terço de oitava. O
pós-processamento dos dados foi realizado com base em código MATLAB desenvolvido para
esta investigação. Para uma comparação mais direta com os parâmetros típicos de especificação
de projeto, (GARAI e GUIDORZI, 2000) propõem as seguintes expressões para determinação do
valor do Índice de Redução Sonora (RW) a partir dos valores obtidos de DLSI nos elementos:
DLR = 0,93 ⋅ RW + 0,37 [Eq. 02]
DLSI = 1,18 ⋅ DLR − 0,94 [Eq. 03]
em que DLR é o índice único do isolamento sonoro aéreo medido em laboratório.
45

40

35
SI [dB]

30

25

20

15
4 6 8 10 12 14 16 18 20 100 125 160 200 250 315 400 500 630 800 1000 1250 1600 2000 2500 3150 4000 5000
Tempo [ms] Frequency [Hz]

a) b)
Figura 7: a) Resposta ao impulso da componente transmitida (posição 5) e b) Índice de Isolamento Sonoro SI em
dB, por bandas de 1/3 de oitava
475
De acordo com os resultados obtidos para o índice de isolamento sonoro (SI), utilizando a expressão
[Eq.01] determina-se o número único do isolamento sonoro aéreo: DLSI = 21,4dB. O valor de RW
estima-se com recurso às expressões [Eq. 02] e [Eq. 03]: RW = 20,0dB. Em primeiro lugar importa
evidenciar o fraco índice de isolamento sonoro da barreira de alvenaria. O principal motivo deste valor
prende-se com o facto de esta barreira ser constituída por blocos de pequena dimensão em que as juntas
verticais entre blocos não estão preenchidas por argamassa. Por este motivo a componente transmitida
tem maior facilidade em atravessar a barreira, como se pode comprovar na Fig. 7a) onde a componente
transmitida tem aproximadamente a mesma amplitude da componente difractada.
CONCLUSÕES
Este trabalho apresenta os métodos essenciais para uma gestão eficaz do ruído rodoviário, que permitem
avaliar o ruído de contato pneu-pavimento e o desempenho acústico de dispositivos de redução de ruído.
Apresenta ainda um método complementar para a determinação da absorção sonora em pavimentos
rodoviários. A aplicação destes metodologias permitiu avaliar o desempenho de um conjunto de camadas
de pavimentos de forma relativa, sendo que o método CPX, apesar de se integrar na corrente de tráfego e
por isso de maior interesse no domínio rodoviário, parece ser menos sensível do que o ensaio CPB. Por
sua vez, a metodologia proposta para avaliar o desempenho acústico dos dispositivos de redução de ruído
do tráfego rodoviário conduz a bons resultados. No entanto, a sua aplicação nos locais de instalação das
barreiras pode ser difícil por diversos motivos: condições do terreno e acessibilidades e condições
meteorológicas. A altura reduzida de grande parte das barreiras existente implica um limite inferior de
frequência elevado, isto é, não é possível determinar os valores do isolamento sonoro para as bandas de
frequência mais baixas.
AGRADECIMENTOS
Este estudo foi financiado no âmbito do Programa Operacional Temático Factores de Competitividade
(COMPETE) e comparticipado pelo Fundo Comunitário Europeu FEDER, através dos projetos FCOMP-
01-0124-FEDER-007560 e PEst-OE/ECI/UI4047/2011.

REFERÊNCIAS
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2. BLOKLAND, G. AND ROOVERS, M. (2005). Sustainable Road Surfaces for Traffic Noise Control -
Measurement Methods, D14, SILVIA report M+P-015-02-WP2-14/07/05, European Commission.
3. FREITAS, E., PEREIRA, P., PICADO-SANTOS, L., SANTOS, A. (2009). Traffic Noise Changes Due to
Water on Porous and Dense Asphalt Surfaces. Road Materials and Pavement Design, Vol. 10 Nº3/2009 –July-
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4. FREITAS, E.; RAIMUNDO, I.; INÁCIO, O; PEREIRA, P., (2010). In situ assessment of the normal incidence
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5. FREITAS, E., The effect of time on the contribution of asphalt rubber mixtures to noise abatement. Noise and
Control Engineering Journal, 60 (1), Jan-Feb 2012. DOI: 10.3397/1.3676311.
6. GARAI, M.; GUIDORZI, P. (2000). European Methodology for testing the airborne sound insulation
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7. ISO 11819-1: 1997. Acoustics – Method for measuring the influence of road surfaces on traffic noise – Part 1:
statistical pass-by method.
8. ISO CD 11819-2: 2000. Acoustics – Method for Measuring the Influence of Road Surfaces on Traffic Noise –
Part 1: The Close Proximity Method.
9. MORGAN, P., SANDBERG, U., BLOKLAND, G. (2009). The selection of new reference test tyres for use
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ensaio para determinar o desempenho acústico. Parte 3: Espectro normalizado do ruído do tráfego.
11. Norma Portuguesa NP 4471: 2007 – Dispositivos de redução de ruído de tráfego rodoviário. Método de ensaio
para determinar o desempenho acústico. Características intrínsecas. Valores de reflexão sonora e isolamento
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12. RAIMUNDO, I.; FREITAS, E., INÁCIO, O; PEREIRA, P., (2010). Sound absorption coefficient of wet gap
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13. SANDBERG U., EJSMONT J. (2002). Tire / Road Noise Reference Book, Informex SE – 59040, Kisa, Sweden
(www.informex.info).

476
 

SESSÃO 04-B

477
CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL E CONFORTO ACÚSTICO –
PROCESSO AQUA

RIBEIRO, Diana A.1; MICHALSKI, Ranny L. X. N.2


(1) Universidade Gama Filho; (2) COPPE/UFRJ.

RESUMO
A sustentabilidade na construção civil é um assunto recente que vem crescendo nos últimos anos. De
caráter multidisciplinar, sua aplicação é mensurada através de diversos sistemas de certificação ambiental
em vários países. No Brasil, os sistemas de certificação utilizados são o Processo AQUA (Alta Qualidade
Ambiental), uma adaptação brasileira do sistema de certificação francês Démarche HQE – Haute Qualité
Environnemetale, promovida pela Fundação Vanzolini junto à USP, e a certificação americana LEED
(Leadership in Energy and Environmental Design), realizada pelo Green Building Council Brasil. A
certificação ambiental Processo AQUA inclui o conforto acústico das edificações como premissa de
projeto e como boa prática comportamental dos usuários. Já o processo de certificação ambiental
voluntária LEED não considera o conforto acústico como exigência de projeto, dando preferência à
eficiência no uso dos recursos naturais e à eficiência energética. O presente artigo descreve o Processo
AQUA e sua avaliação de desempenho no que tange ao assunto conforto acústico em edificações
habitacionais.

ABSTRACT
The sustainability in the civil construction is a recent subject that has been growing in the last years. With
a multidisciplinary character, its application is measured through environmental certification systems. In
Brazil, the used certification systems are AQUA Process, a Brazilian adaptation of the French Démarche
HQE – Haute Qualité Environnemetale certification system, promoted by the Vanzolini Foundation
together with USP, and the American LEED (Leadership in Energy and Environmental Design)
certification, carried by the Green Building Council Brazil. The AQUA Process environmental
certification includes the acoustic comfort as a premise of project and as a good users’ practice. But the
voluntary LEED environmental certification does not consider the acoustic comfort as a project
requirement, preferring the efficiency in the use of natural resources and the energy efficiency. The
present article describes AQUA Process and its performance evaluation in what refers to the acoustic
comfort subject in residential buildings.
Palavras-chave: Certificação Ambiental. Conforto Acústico. Sustentabilidade. Processo AQUA.

1. INTRODUÇÃO
A sustentabilidade na construção civil é um assunto recente que vem crescendo nos últimos anos.
De caráter multidisciplinar, sua aplicação é mensurada através de diversos sistemas de
certificação ambiental em vários países. Tais sistemas de certificação contribuem para reduzir o
impacto ambiental nas construções e, em contrapartida, para promover a sustentabilidade. No
Brasil dois sistemas têm sido utilizados: o Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e a
certificação americana LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), cada um com
suas características e normas especificas, obedecendo a critérios de avaliação.

A certificação Processo AQUA é realizada pela Fundação Vanzolini (ligada à USP), enquanto a
certificação LEED, que é realizada nos Estados Unidos pelo United States Green Building
Council, é promovida no Brasil pelo Green Building Council Brasil.
478
A certificação ambiental AQUA inclui o conforto acústico como premissa de projeto e como boa
prática comportamental dos usuários. Já o processo de certificação ambiental voluntária LEED
não considera o conforto acústico das edificações como exigência de projeto, preferindo a
eficiência no uso dos recursos naturais e a eficiência energética.

A seguir será descrito resumidamente o Processo AQUA e sua avaliação de desempenho no que
tange ao assunto conforto acústico em edificações habitacionais.

2. PROCESSO AQUA
2.1. Introdução
O Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) é uma adaptação brasileira do sistema de
certificação francês Démarche HQE – Haute Qualité Environnemetale e é definido como sendo
um processo de gestão de projeto que visa a obter a qualidade ambiental de um empreendimento.
Seus objetivos são controlar os impactos de um empreendimento no ambiente, promover a
economia de recursos e “integrar harmoniosamente num projeto global, estética, conforto e
qualidade de vida”.

A obtenção da certificação do desempenho ambiental de uma construção peloo Processo AQUA


é realizada através da avaliação de critérios de desempenho em três fases de seu
desenvolvimento: programa, concepção (projeto) e realização (obra). Tal certificação engloba
duas vertentes: uma de gestão ambiental e uma de natureza arquitetônica e técnica. Portanto, o
processo AQUA utiliza como referência dois padrões: os requisitos do Sistema de Gestão do
Empreendimento (SGE) e os critérios de desempenho das categorias da Qualidade Ambiental do
Edifício (QAE). O primeiro avalia o sistema de gestão ambiental implementado pelo
empreendedor e o segundo avalia o desempenho arquitetônico e técnico da construção.

Para a certificação de diferentes ambientes, existem ou estão sendo elaborados diferentes


documentos chamados Referenciais Técnicos de Certificação. Estes trazem as exigências que
tanto o Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) como a Qualidade Ambiental do Edifício
(QAE) devem satisfazer para estar em conformidade com a certificação.

2.2. Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE)


O Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) corresponde ao conjunto de elementos que
definem a Qualidade Ambiental visada para o edifício e organizam o empreendimento para obter
desempenho ambiental. Ele assegura a gestão total do projeto e permite controlar o conjunto dos
processos operacionais relacionados à construção durante três fases da avaliação da Qualidade
Ambiental do Edifício: programa, concepção e realização.

O SGE permite que o empreendedor faça escolhas de forma justificada e coerente, dando ao
empreendimento uma dimensão sistêmica. E, embora sua implementação demande certo
investimento, o resultado leva a um empreendimento melhor gerenciado e com maiores chances
de alcançar os objetivos definidos.

As soluções de projeto e de construção devem ser adotadas em função dos aspectos mais
significativos para cada empreendimento, os quais devem considerar os seguintes fatores:
política do empreendedor, exigências legais e regulamentares, análise do entorno, funcionalidade
do edifício, avaliação de custos de investimento e operação, necessidades e expectativas das
partes interessadas, bem como as preocupações ambientais.

479
Cabe a cada empreendedor definir a organização, as competências, o método e a documentação
necessária para alcançar seus objetivos e atender às partes interessadas. Entretanto, é exigência
obrigatória a elaboração de documentos sobre a gestão e sobre o empreendimento, necessários
para a obtenção da certificação. Alguns documentos obrigatórios para certificação de edifícios
habitacionais são: o programa de necessidades, a seleção de projetistas e construtoras, os
documentos de concepção, os documentos contratuais, as atas de reuniões do canteiro de obras, o
manual do proprietário e de áreas comuns e o manual de orientação para finalização e reformas.

O manual do proprietário e de áreas comuns é responsável por transmitir as informações sobre as


características construtivas e particularidades ambientais do empreendimento e informações
sobre as boas práticas comportamentais dos ocupantes e do responsável pela conservação e
manutenção.

No Referencial Técnico de Certificação – Processo AQUA – relativo aos edifícios habitacionais,


o ruído é incluído na categoria de informações aos ocupantes sobre boas práticas
comportamentais e boas práticas relativas aos elementos do empreendimento não relacionados ao
ambiente construído, juntamente com a gestão da energia, água, ar e estocagem de resíduos.

A redução do ruído é considerada uma boa prática comportamental dos ocupantes, que devem:
“Procurar reduzir as fontes de ruído provenientes da própria unidade habitacional (televisor,
aparelhos de som, ferramentas, conversas, etc.).
Respeitar os horários corretos, com relação à vizinhança, com vistas a minimizar os incômodos
causados por certas atividades ruidosas, que algumas vezes têm que ser realizadas.
Embora a unidade habitacional tenha desempenho acústico adequado, procurar não desempenhar
atividades ruidosas, que devem ser realizadas em ambientes externos adequados (uso de
instrumentos musicais ou realização de atividades manuais altamente ruidosas).”
Referencial Técnico de Certificação – Edifícios habitacionais – Processo AQUA (2010)

Isso mostra que o comportamento do usuário tem grande importância assim como o tratamento
acústico dos ambientes construídos.

2.3. Qualidade Ambiental do Edifício (QAE)


A Qualidade Ambiental do Edifício (QAE) é a capacidade do conjunto de suas características
intrínsecas (as do edifício, de seus equipamentos e de seu terreno) de satisfazer as exigências
relacionadas ao controle dos impactos sobre o ambiente externo e à criação de um ambiente
interno confortável e saudável. Ela se exprime por meio de um perfil de catorze categorias (ou
conjuntos de preocupações), ditas categorias de QAE, indicadas na Tabela 1, e agrupadas em
quatro famílias: sítio e construção, gestão, conforto e saúde.

As catorze categorias representam os desafios ambientais de um empreendimento novo ou


reabilitado. As categorias são avaliadas de acordo com três níveis de classificação: Bom (B),
Superior (S) e Excelente (E), com parâmetros específicos estabelecidos em cada Referencial
Técnico de Certificação para diferentes edificações, como: edifícios habitacionais, hotéis,
escritórios, edifícios escolares, etc.

As normas e manuais usados como referência em cada Referencial Técnico de Certificação são
normas brasileiras vigentes correspondentes às categorias de desempenho citadas. Na ausência
de normas ou regulamentação brasileira, os critérios podem se referir, caso apropriado, a normas
e regulamentações internacionais.

480
Tabela 1: Categorias QAE.
Gerenciar os impactos sobre o ambiente exterior Criar um espaço interior sadio e confortável
SÍTIO E CONSTRUÇÃO: CONFORTO:
1) Relação do edifício com o seu entorno 8) Conforto higrotérmico
2) Escolha integrada de produtos, sistemas e processos 9) Conforto acústico
construtivos 10) Conforto visual
3) Canteiro de obras com baixo impacto ambiental 11) Conforto olfativo
GESTÃO: SAÚDE:
4) Gestão da energia 12) Qualidade sanitária dos ambientes
5) Gestão da água 13) Qualidade sanitária do ar
6) Gestão dos resíduos de uso e operação do edifício 14) Qualidade sanitária da água
7) Manutenção - Permanência do desempenho ambiental
Fonte: FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010.

2.4. Etapas da Certificação


A atribuição do certificado Processo AQUA está vinculada à obtenção de um perfil de
desempenho mínimo referente às catorze categorias de QAE. É exigido que pelo menos três
categorias alcancem o nível de desempenho Excelente e no máximo sete categorias alcancem o
nível Bom, devendo as demais alcançar o nível Superior, conforme ilustra a Fig. 1.
Excelente
Mínimo:
3 categorias
Superior

Bom
Máximo:
7 categorias

Figura 1: Exigência mínima para obtenção da certificação Processo AQUA.


Fonte: FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010.

A avaliação do atendimento aos critérios de Certificação é feita por meio de auditorias


presenciais seguidas de análise técnica por auditores capacitados na avaliação do desempenho de
construções sustentáveis e experientes na realidade brasileira. Caso atendidos os critérios do
Referencial Técnico, os certificados são emitidos em até 30 dias pela Fundação Vanzolini, na
conclusão das etapas do empreendimento.

Na fase de programa, o empreendedor deve definir o programa de necessidades e o perfil de


desempenho do empreendimento nas catorze categorias do Processo AQUA. Deve também
assumir o compromisso e assegurar os recursos para obter o perfil programado, e estabelecer o
Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE).

Ao fim da fase de programa, antes da entrada do projeto legal na prefeitura e antes da seleção
dos projetistas, o empreendedor deve avaliar a Qualidade Ambiental do Edifício (QAE), nas
catorze categorias de desempenho e corrigir eventuais desvios. A auditoria de certificação é
agendada mediante solicitação do empreendedor e envio à Fundação Vanzolini de um dossiê
contendo o programa e a avaliação da QAE.

Na fase de concepção (projetos), o empreendedor utiliza o perfil de desempenho programado nas


catorze categorias e os demais elementos do programa como entrada para os projetos. Mantém o
SGE, elabora os projetos e, ao final da concepção, avalia novamente o perfil da QAE, corrigindo
eventuais desvios. Ao final dos projetos, a auditoria de certificação é agendada mediante
solicitação do empreendedor e envio da avaliação da QAE.

481
Na última fase, a de realização (obra), o empreendedor mantém o SGE, realiza a obra, avalia o
perfil da QAE e corrige eventuais desvios. Na entrega da obra, a auditoria é novamente solicitada
pelo empreendedor que envia a avaliação da QAE à Fundação Vanzolini.

A avaliação da QAE consiste em verificar e confrontar se as medidas arquitetônicas e técnicas


satisfazem às exigências do Referencial Técnico utilizado, permitindo alcançar o perfil da QAE
visado, e também se os documentos de concepção e que servirão para a licitação da obra
compreendem todos os elementos, permitindo à empresa construtora executar o projeto. Ao final
das atividades de execução da obra e do balanço do empreendimento, a avaliação da QAE é feita
para assegurar que o empreendimento entregue atinge o perfil de QAE desejado.

Cada avaliação deve ser registrada num documento que apresente as justificativas do
atendimento às preocupações ambientais permitindo alcançar o perfil de QAE visado, para a fase
em questão.

3. DESEMPENHO ACÚSTICO
Os temas ruído e conforto acústico são considerados em três das catorze categorias de
desempenho no Referencial Técnico de Certificação – Edifícios habitacionais – Processo AQUA
(FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010).

Na Categoria 1, “Relação do edifício com o seu entorno”, incômodos sonoros do entorno são
citados como pontos a serem considerados. A Categoria 3, “Canteiro de obras com baixo
impacto ambiental”, considera que incômodos sonoros devem ser limitados através de algumas
providências listadas, como: sensibilização do pessoal do canteiro de obras; planejamento das
atividades ruidosas; ligação à rede elétrica para evitar o uso de gerador; e escolha de processos
construtivos que não exijam o uso de ferramentas e equipamentos ruidosos.

Nas categorias 1 e 3, não são informados critérios objetivos de desempenho, mas a legislação
local deve ser cumprida.

Na Categoria 9, “Conforto acústico”, são três as preocupações incluídas:

1. Conforto acústico entre a unidade habitacional e os outros locais de uma mesma edificação;
2. Conforto acústico entre os cômodos principais e o exterior de uma construção;
3. Conforto acústico entre os ambientes de uso diurno e os de uso noturno de uma mesma
unidade habitacional.

Os parâmetros acústicos de isolamento sonoro considerados na Categoria 9 do Referencial


Técnico são os mesmos estabelecidos na norma brasileira de desempenho de edifícios de até
cinco pavimentos, ABNT NBR 15575.

3.1. Conforto acústico entre a unidade habitacional e os outros locais de uma mesma
edificação
Para a primeira preocupação, os níveis são indicados nas Tabelas 2 e 3.

A Tabela 2 fornece os níveis de desempenho e seus valores para o nível de pressão sonora
ponderado do ruído de impacto L’nT,w em salas de estar ou dormitórios quando o local de emissão
for uma outra sala de estar, um outro dormitório, uma área de serviço, um hall interno, uma
circulação comum ou um local onde exista alguma atividade não residencial.

482
Tabela 2: Exigência para valores de L’nT,w para ruído de impacto.
Exigência Nível
L’nT,w ≤ 80 dB, obtido por meio de dispositivos atenuadores (boas práticas correntes). B
L’nT,w ≤ 70 dB, obtido por meio de dispositivos atenuadores e comprovado por meio de
S
equação matemática ou estudos específicos de acústica.
L’nT,w ≤ 60 dB, obtido por meio de dispositivos atenuadores, comprovado por meio de
equação matemática ou estudos específicos de acústica e efetuadas as medições do ruído
de impacto em campo ao término do empreendimento, conforme a NBR 15575-4,
E
utilizando uma máquina de sapatear.
Se o local da atividade não residencial for um estacionamento, a exigência passa a ser:
L’nT,w < 58 dB.
Fonte: FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010.

Além dos valores de L’nT,w para ruído de impacto indicados na Tabela 2, também são
especificados os valores da diferença padronizada de nível ponderado DnT,w, para medições
realizadas em campo conforme a ISO 140-4, e valores do índice de redução sonora ponderado
Rw, para medições realizadas em laboratório conforme a ISO 140-3, para pisos entre as unidades
habitacionais autônomas e áreas comuns e para paredes divisórias internas, entre unidades
autônomas e entre habitações e áreas comuns, conforme a Tabela 3.

Tabela 3: Exigências para níveis de isolamento sonoro entre a unidade habitacional


e os outros locais de uma mesma edificação de diversos elementos.
Elemento Campo DnT,w (dB) Laboratório Rw (dB) Nível
35 a 39 40 a 44 B
Piso de unidade habitacional, posicionado sobre áreas comuns,
40 a 45 45 a 50 S
como corredores
> 45 > 50 E
Piso separando unidades habitacionais autônomas (piso 40 a 44 45 a 49 B
separando unidades habitacionais posicionadas em pavimentos 45 a 50 50 a 55 S
distintos) > 50 > 55 E
Parede de salas e cozinhas entre uma unidade habitacional e 30 a 34 35 a 39 B
áreas comuns de trânsito eventual, como corredores, halls e 35 a 39 40 a 44 S
escadaria nos pavimentos-tipo ≥ 40 ≥ 45 E
40 a 44 45 a 49 B
Parede de dormitórios entre uma unidade habitacional e
45 a 49 50 a 54 S
corredores, halls e escadaria nos pavimentos-tipo
≥ 50 ≥ 55 E
Parede entre uma unidade habitacional e áreas comuns de 45 a 49 50 a 54 B
permanência de pessoas, atividades de lazer e atividades
esportivas, como home theater, salas de ginástica, salão de 50 a 54 55 a 59 S
festas, salão de jogos, banheiros e vestiários coletivos,
cozinhas e lavanderias coletivas ≥ 55 ≥ 60 E
40 a 44 45 a 49 B
Parede entre unidades habitacionais autônomas (parede de
45 a 49 50 a 54 S
geminação)
≥ 50 ≥ 55 E
Fonte: FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010. ABNT NBR 15575-3 e ABNT NBR 15575-4, 2008.

De acordo com o Referencial Técnico, os critérios do Rw devem ser estimados ou calculados,


respectivamente para os níveis de desempenho Bom e Superior, considerando medidas
arquitetônicas e dispositivos adequados para garantir isolamento sonoro entre a unidade
habitacional e os outros locais de uma mesma edificação, de acordo com os níveis indicados na
Tabela 3.

483
Para alcançar o nível de desempenho Excelente, além do Rw, também deve ser realizada a
medição em campo, e alcançados os valores estabelecidos na Tabela 3, da DnT,w, após o término
do empreendimento, nos ambientes salas de estar e dormitórios, considerados ambientes
sensíveis da edificação.

3.2. Conforto acústico entre os cômodos principais e o exterior de uma construção


Para a segunda preocupação, são duas as exigências:

1. Respeito à normalização técnica e à regulamentação local aplicável, comprovado por estudo


de avaliação acústica abrangendo as disposições construtivas previstas, podendo ter nível Bom,
Superior ou Excelente.

2. Isolamento acústico padrão ponderado frente aos ruídos externos para dormitórios e demais
ambientes de permanência prolongada, para ensaios realizados em campo e em laboratório, com
valores da diferença padronizada de nível a 2 metros da fachada D2m,nT,w e do índice de redução
sonora ponderado Rw, para cada nível, indicados nas Tabelas 4 e 5.

Tabela 4: Exigências para valores de D2m,nT,w + 5 e Rw + 5 para dormitórios.


D2m,nT,w + 5 (dB) Rw + 5 (dB) Nível
30 a 34 35 a 39 B
35 a 39 40 a 44 S
≥ 39 ≥ 45 E
Fonte: FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010. ABNT NBR 15575-4, 2008.

Tabela 5: Exigências para valores de D2m,nT,w + 5 e Rw + 5 para demais ambientes de permanência prolongada.
D2m,nT,w + 5 (dB) Rw + 5 (dB) Nível
25 a 29 30 a 34 B
30 a 34 35 a 39 S
≥ 35 ≥ 39 E
Fonte: FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2010. ABNT NBR 15575-4, 2008.

Os desempenhos Bom e Superior para o parâmetro Rw + 5 podem ser alcançados utilizando


medidas arquitetônicas e dispositivos adequados para garantir isolamento sonoro padrão frente
aos ruídos externos, de acordo com os valores das Tabelas 4 (para dormitórios) e Tabela 5 (para
demais ambientes de permanência prolongada).

Para alcançar o nível de desempenho Excelente, além do parâmetro calculado Rw + 5, também


deve ser realizada a medição em campo após o término do empreendimento, conforme a
ISO 140-5, e alcançados os valores estabelecidos nas Tabelas 4 e 5, de D2m,nT,w + 5, nos
ambientes sensíveis críticos (sala de estar e dormitórios).

3.3. Conforto acústico entre os ambientes de uso diurno e os de uso noturno de uma mesma
unidade habitacional
A terceira e última preocupação possui duas exigências de nível Superior e Excelente.

1. O índice de redução sonora ponderado, Rw, da sala de estar e cozinha em relação a cada um
dos dormitórios deve ser calculado e ser igual ou superior a 38 dB e o isolamento sonoro
ponderado medido em campo após o término da obra, DnT,w, da sala de estar e da cozinha em
relação ao(s) dormitório(s) contíguo(s) deve ser igual ou superior a 33 dB, com exceção dos
dormitórios que se comunicam por abertura livre com a sala de estar. Tal exigência pode ter
nível de desempenho Superior ou Excelente.

484
2. Para unidades habitacionais com dois ou mais dormitórios, o índice de redução sonora
ponderado Rw e a diferença padronizada de nível ponderado DnT,w, da sala de estar em relação a
cada um dos dormitórios, com exceção de um, deve ser igual ou superior a 44 dB e 40 dB,
respectivamente. Tal exigência fornece um nível de desempenho Excelente.

4. CONCLUSÃO
Com base nas exigências e nos valores estabelecidos no Referencial Técnico de Certificação –
Edifícios habitacionais – Processo AQUA (2010), o desempenho acústico é considerado e pode
apresentar níveis de desempenho Bom, Superior ou Excelente. Dessa forma, o conforto acústico
de um empreendimento pode contribuir para que o mesmo receba a certificação ambiental
Processo AQUA, conforme descrito no subitem 2.4.

Numa época em que a construção civil é um mercado que se torna cada dia mais competitivo e
que demanda produtos mais eficientes, com vida útil mais longa e maior valor de mercado, a
sustentabilidade na construção veio para ficar e um empreendimento com a Certificação
Processo AQUA mostra que o mesmo foi programado, projetado e realizado com baixo impacto
ambiental e com melhor desempenho, proporcionando conforto e uma melhor qualidade de vida
aos seus habitantes e à sociedade como um todo.

Embora o investimento inicial tenha um custo adicional para a construção sustentável em relação
a uma construção convencional, a relação custo benefício é favorável, pois o retorno do
investimento adicional ocorre após 2 a 5 anos, através da economia de água, energia,
manutenção e gerenciamento de resíduos. Há também o retorno para a sociedade e o retorno
numa melhor manutenção do valor patrimonial de uma construção certificada Processo AQUA.

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pavimentos – Desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
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Standardization, 1995.
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measurements of airborne sound insulation between rooms, International Organization for Standardization,
1998
4. ISO 140-5, Acoustics – Measurement of sound insulation in buildings and of building elements - Part 5: Field
measurements of airborne sound insulation of façade elements and façades, International Organization for
Standardization, 1998.
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485
LIMIAR DIFERENCIAL DE PERCEPÇÃO: UM ESTUDO SOBRE
RESPOSTAS IMPULSIVAS COM DESLOCAMENTO DO RECEPTOR

MASIERO, Bruno1; BITENCOURT, Raquel2; DIETRICH, Pascal1; CHAMON, Luiz2;


VORLÄNDER; Michael1; BISTAFA, Sylvio2
(1) Institute of Technical Acoustics, RWTH Aachen University, Alemanha;
(2) Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil.

RESUMO
Comparações entre respostas impulsivas medidas em realizações distintas de um mesmo projeto
apresentaram diferenças audíveis. De modo a se certificar que tais diferenças não foram causadas por
influências outras que não as diferenças construtivas ou variação de parâmetros de simulação, o objetivo
deste trabalho foi verificar a influência de fatores como o posicionamento não idêntico de fontes e receptores
sonoros na percepção destas diferenças. Este trabalho descreve um teste subjetivo de escuta realizado para
detectar a mínima diferença perceptível entre respostas impulsivas de receptores deslocados a partir de duas
posições de referência distintas dentro de uma cavidade. Verificou-se que este limiar depende da posição de
referência adotada, com valores de 0,86 cm e 1,5 cm para as duas posições de referência testadas.

ABSTRACT
Audible differences are noticed when comparing impulse responses (IR) measured in distinct realizations of
the same project. In order to ensure that these differences were not caused by influences other than
constructive differences or simulation parameters variation, it is necessary to verify the influence that other
factors, such as non-identical positioning of audio transducers, could have on the perception of these
differences. This paper describes a listening test performed to detect the just-noticeable difference (JND)
between IR simulated with receivers displaced in regard to two reference positions inside a cavity. It was
verified that the JND was dependent on the adopted reference position, with values of 0.86 cm and 1.5 cm
for the two tested reference positions.
Palavras-chave: Limiar diferencial de percepção. Deslocamento de transdutores. Função psicométrica.

1. INTRODUÇÃO
No período de 2009 a 2011, três instituições de pesquisa do Brasil e Alemanha (UFSC, USP e
RWTH) desenvolveram dentro do arcabouço do projeto PROBRAL uma pesquisa conjunta no
tópico de auralização de modelos de transmissão vibroacústica. O objetivo final deste projeto era
quantificar como a auralização de um objeto em projeto varia em relação à resposta acústica
verificada em diversas realizações deste projeto.

Com o objetivo de poder contar com um modelo conceitual de uso genérico para a simulação de
problemas de excitação, transmissão e radiação acústica e que permita a auralização, projetou-se
uma estrutura experimental denominada de Caixa de Auralização (CAixa), para a determinação dos
acoplamentos de impedâncias de diferentes fontes de excitação acústicas e vibroacústicas e as
funções de transferência associadas.

Numa espécie de “round-robin”, as três instituições envolvidas no projeto construíram cada uma a
sua CAixa, que tiveram suas respostas impulsivas medidas em posições pré-definidas por um
mesmo grupo de experimentadores e com o mesmo equipamento de medição (FONSECA et al.,
2010). A idéia de usar o mesmo grupo de pessoas e equipamento para a medição é reduzir ao
máximo a variação nas medidas causadas por esses parâmetros, podendo assim relacionar eventuais
486
diferenças nas medições às diferenças de construção dos três objetos, apesar de esses terem sido
produzidos a partir de um mesmo desenho industrial.

A primeira rodada de medições mostrou diferenças significativas nas medidas, que foram
relacionadas numa primeira instância às diferentes soluções empregadas para a vedação da interface
entre corpo da CAixa e as tampas utilizadas, e na forma de junção entre os painéis das diferentes
CAixas, indicado pela análise do índice de mérito das ressonâncias (FONSECA et al., 2010).

O projeto da CAixa foi então revisto para melhor especificar a interface entre corpo e tampa e o
mesmo material de vedação foi adquirido por todos os membros do projeto para uniformização das
CAixas. Uma nova série de medições foi realizada e pôde-se notar melhora significativa na
conformidade das curvas para freqüências até aproximadamente 2 kHz, que condiz com a região de
comportamento modal da CAixa, caracterizada pela freqüência de Schroeder, neste caso de
aproximadamente 1,9 kHz.

As medições também foram comparadas a simulações realizadas por cada instituição usando
diferentes métodos numéricos (Finite Element Method com os pacotes COMSOL© e VirtualLab©)
e também por meio do cálculo analítico dos modos em uma cavidade simples. O comportamento
das simulações mostrou-se semelhante aos das medições, com boa concordância entre as respostas
para frequências abaixo da frequências de Schroeder (DIETRICH et al., 2010).

Apesar das comparações mostrarem que as curvas medidas eram similares para baixas freqüências,
as diferenças entre os sinais auralizados com as respostas impulsivas (IRs) das diferentes CAixas
medidas e simuladas eram claramente audíveis. Antes de poder relacionar as diferenças na
auralização às diferenças construtivas dos modelos e dos parâmetros de simulação, era necessário
verificar que outros fatores poderiam exercer influência significativa na auralização. Os principais
fatores considerados foram a) o posicionamento não idêntico de fontes e receptores sonoros e b)
diferentes diretividades das fontes sonoras utilizadas.

Este trabalho se concentra no primeiro quesito, quantificando quanto um erro de posicionamento de


um dos transdutores resultará em diferenças perceptíveis entre as IRs medidas ou simuladas. Para
tanto, um teste subjetivo foi realizado para detectar o limiar diferencial de percepção. Este tipo de
teste é indicado devido à dificuldade de se relacionar diretamente nossa experiência auditiva dentro
de uma sala aos níveis de pressão sonora medidos, por se tratar de um fenômeno psicoacústico
relacionado com a reverberação presente no ponto onde o ouvinte se encontra (VORLÄNDER,
2007).

2. TESTE SUBJETIVO
O objetivo deste trabalho é quantificar a influência do posicionamento do microfone na impressão
acústica dentro de uma sala, mais especificamente, quanto se deve deslocar o microfone de modo a
permitir que uma diferença na auralização possa ser percebida. Para tanto, o limiar diferencial de
percepção entre respostas impulsivas simuladas dentro de uma sala foi estimado por meio de testes
subjetivos de escuta.

O teste foi realizado com IRs simuladas para uma fonte sonora fixa e diversas posições de receptor
(microfone). Os sinais foram apresentados sempre em pares, e os jurados deveriam responder se
podiam perceber uma diferença entre os dois sinais apresentados.

Para confirmar se havia diferença entre as IRs simuladas e definir a faixa de distâncias a ser testada,
realizou-se um teste preliminar com um júri técnico de cinco ouvintes. Foram testadas distâncias de
0 a 15 cm em intervalos de 1 cm. Verificou-se que o limiar diferencial de percepção estava próximo

487
de 1 cm e diferenças acima de 10 cm pareciam ser óbvias, sugerindo uma distribuição logarítmica
do erro com a distância.

2.1. Simulação
As respostas impulsivas foram obtidas através de um método analítico (MECHEL, 2008). Este
método calcula a resposta impulsiva entre uma fonte e um receptor em uma sala de geometria
cúbica. Para a CAixa foram usadas as dimensões definidas em projeto de 300 x 500 x 800 mm3.
Definimos o canto inferior, anterior esquerdo como a origem do sistema de referência. A fonte foi
mantida fixa na posição , , 0,15; 0,15; 0,15 cm.

Duas situações foram analisadas independentemente em relação à posição dos receptores. Para a
primeira situação, a posição de referência se encontra no interior da CAixa, em , ,
0,7; 0,4; 0,2 cm. IRs foram calculadas em cinco posições com distâncias de
0,1; 0,5; 1; 5; 10 cm em ambas as direções dos três eixos cartesianos. Para a segunda situação, a
posição de referência se encontra na borda da CAixa, em , , 0,8; 0,5; 0,3 cm. Oito
posições foram calculadas com distância de 0,1; 0,2; 0,4; 0,7; 1,5; 2,5; 5; 10 cm apenas na direção
do interior da CAixa nos três eixos cartesianos. A Figura 1 permite uma melhor visualização dos
pontos.

Figura 1 Diagrama da CAixa simulada com vista de cima do objeto.

2.2. Metodologia
Os sinais foram apresentados aos pares, sendo que o jurado deveria responder se percebia diferença
entre eles, marcando sim ( são diferentes) ou não ( não são diferentes). Esta adaptação da técnica
sim/não foi escolhida considerando a redução da tarefa associada ao tempo de execução, garantindo
assim a qualidade das respostas subjetivas. A técnica 2AFC (Two alternative forced choice), que
também necessita de apenas dois sinais por comparação não caberia neste caso dada a necessidade
de se ter sempre uma âncora para permitir que o jurado comparasse qual dos sinais difere da âncora
(MACMILLAN; CREELMAN, 2005). Esse método implicaria em treinamento do jurado para
reconhecimento do sinal âncora, aumentando assim a duração do teste.

Nas duas situações descritas acima, cada uma das posições vizinhas foi apresentada em par com a
posição de referência. Para cada bloco (direção do deslocamento) também foi apresentado um teste
cujos sinais eram idênticos, que serviu para verificar a atenção e qualidade dos jurados. Isso
resultou em 36 pares para a primeira situação e 27 pares para a segunda situação, totalizando 63
pares a serem testados, dos quais 9 continham sinais idênticos. Cada jurado classificou cada um dos
pares apenas uma vez, em ordem aleatória, mas para o caso de indecisão, foi permitido aos jurados
que escutassem cada par quantas vezes fossem necessárias antes de tomar uma decisão.

Os sinais foram reproduzidos por fones-de-ouvido da marca Sennheiser, modelo PXC 350. O
mesmo sinal foi reproduzido nos dois ouvidos.
488
A pergunta que o jurado deveria responder com sim ou não era: os sons são diferentes? As
respostas dos jurados podem ser classificadas em quatro grupos distintos: 1) o jurado acusa uma
diferença e há diferença entre os sinais; 2) o jurado acusa uma diferença e não há diferença entre os
sinais; 3) o jurado não acusa diferença e há diferença entre os sinais; e 4) o jurado não acusa
diferença e não há diferença entre os sinais. O que se deseja medir é o número de respostas
negativas quando existe uma diferença entre os sinais.

2.3. Estímulo
As respostas impulsivas obtidas por meio de simulação foram convoluídas com pulsos de ruído
gaussiano branco, com energia limitada entre 0 Hz e 16 kHz. Com isso garante-se que toda a faixa
de freqüência audível seja estimulada. Cada ruído teve duração de 800 ms com uma janela inicial
do tipo cosseno elevada com duração de 160 ms e uma janela final também do tipo cosseno elevada
com duração de 160 ms.

Para cada par a ser comparado, os dois pulsos já convoluídos são concatenados com um intervalo
de 1,5 s entre o início de cada pulso, o que garante que a reverberação já tenha decaído em
aproximadamente 50 dB quando do início do novo pulso. Cada par é apresentado duas vezes ao
jurado, sempre na mesma ordem: a) referência b) teste a) referência b) teste.

2.4. Jurados
Os resultados apresentados nesta comunicação foram extraídos da resposta de 22 jurados
convidados para participar nos testes. Todos os jurados expressaram ter boa acuidade auditiva
(nenhum teste audiométrico foi aplicado) e apenas quatro possuíam experiência com testes
acústicos subjetivos. Os jurados levaram de 15 a 20 minutos para completar o teste. Nenhuma
forma de recompensa foi fornecida aos jurados.

Para verificar a qualidade das respostas dadas por cada jurado, verificou-se a taxa de respostas
falso-positivas, i.e., quantas vezes cada jurado classificou os pares idênticos como sendo diferentes.

8
6
7
5
Number of wrong answers

6
Number of subjects

5 4

4
3
3
2
2
1
1

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
1
Number of wrong answers
   
a) b)
Figura 2 a) Histograma de freqüência de respostas falso-positivas. b) Diagrama de caixa da freqüência de incidência de
respostas falso-positivas. (Foram descartados os jurados com cinco ou mais respostas falso-positivas.)

Diferente dos demais pares, os pares de estímulos que continham sinais idênticos possuem uma
resposta correta, a resposta: os sinais NÃO são diferentes. Se um jurado classificarem uma grande
quantidade destes testes de verificação de respostas sim como sendo sinais diferentes, isso é
considerado como um indicativo de que ou o jurado não compreendeu completamente o objetivo
do teste ou que estava distraído ou desatento. Neste caso, estes jurados devem ser excluídos da
análise. A Figura 2 mostra o histograma de respostas falso-positivas.

489
Uma análise interquartil dos dados permite determinar se há jurados cuja média de respostas falso-
positivas é discrepante da média geral. Se este for o caso, as respostas desses jurados devem ser
descartadas. O diagrama de caixa da Figura 2b mostra o resultado de tal análise. Note que são
considerados valores discrepantes aqueles cuja distância para a borda da caixa seja maior que o
comprimento da própria caixa. Esta análise sugere que os jurados que erraram de 5 ou 6 respostas
devem ser desconsiderados do restante da análise.

2.5. Análise de variância (ANOVA)


Apresenta-se a seguir uma análise de variância das respostas dos jurados que não foram excluídos
da amostra deste estudo. A análise de variância é feita baseada na média das respostas de todos os
jurados. As duas posições de referência e são analisadas independentemente.

Para a posição de referência no interior da CAixa, as médias das respostas são resumidas na tabela
abaixo:
Tabela 1 Taxa de discriminação de estímulos auralizados de respostas impulsivas simuladas para cinco descolamentos
em seis direções distintas em relação a uma posição de referência no interior da CAixa.

Taxa de Discriminação [%]


Deslocamento [cm]
-x +x -y +y -z +z
0 5,3 31,6 5,3 5,3 0 15,8
0,1 0 10,5 26,3 5,3 26,3 15,8
0,5 5,3 31,6 10,5 10,5 26,3 5,3
1 15,8 42,1 26,3 42,1 47,4 42,1
5 100 89,5 94,7 89,5 94,7 26,3
10 94,7 100 100 100 10,5 89,5

Esta análise possui um valor F 5,31 16,31; p 10 7 , indicando que a diferença entre as
distâncias testadas é significativa.
Uma análise Post-Hoc do tipo Tukey-Kramer com índice de confiabilidade de 99% permite afirmar
se um erro de posicionamento de microfone superior a 5 cm resulta em um sinal significativamente
diferente do sinal na posição de referência.

1
0.9
0.8
Rate of Discrimination

0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0

0 0.1 0.5 1 5 10
Displacement Error [cm]
Figura 3 O diagrama de caixa resultante da ANOVA para a posição de referência . Este diagrama sugere que as
diferenças entre as médias dos dois últimos grupos são significativamente diferentes da média dos demais grupos. Uma
análise posterior confirmou esta suposição com 99% de confiabilidade.

A mesma análise foi repetida para a posição de referência na borda da CAixa. Os valores das
médias das respostas encontram-se resumidas na Tabela 2.

490
Tabela 2 Taxa de discriminação de estímulos auralizados de respostas impulsivas simuladas para oito descolamentos
em três direções distintas em relação a uma posição de referência na borda da CAixa.

Taxa de Discriminação [%]


Deslocamento [cm]
x y z
0 0 21,1 10,5
0,1 10,5 0 26,3
0,2 15,8 10,5 10,5
0,4 10,5 0 15,8
0,7 26,3 57,9 57,9
1,5 68,4 89,5 73,7
2,5 73,7 89,5 84,2
5 89,5 89,5 84,2
10 78,9 84,2 89,5

Esta análise possui um valor F 8,19 38,45; p 10 9 , indicando que a diferença entre as
distâncias testadas é significativa.
Novamente, uma análise Post-Hoc do tipo Tukey-Kramer com índice de confidência de 99%
permite afirmar que um erro de posicionamento de microfone acima de 0,7 cm resulta em um sinal
significativamente diferente do sinal na posição de referência.
1

0.8
Rate of Discrimination

0.6

0.4

0.2

0 0.1 0.2 0.4 0.7 1.5 2.5 5 10


Displacement Error [cm]
Figura 4 O diagrama de caixa resultante da ANOVA para a posição de referência . Este diagrama sugere que as
diferenças entre as médias dos últimos cinco grupos são significativamente diferente da média dos demais grupos. Uma
análise posterior confirmou esta suposição com 99% de confiabilidade.

2.6. Função Psicométrica


A função psicométrica descreve a relação entre um parâmetro que caracteriza um estímulo físico
qualquer – como, por exemplo, a amplitude de uma onda – e a resposta de uma pessoa (ou um
grupo de pessoas) a este estímulo. Estas curvas são obtidas a partir dos resultados de testes
subjetivos e permitem definir um limiar de percepção do parâmetro em questão. Uma função
psicométrica foi ajustada aos resultados apresentados nas seções anteriores através da ferramenta
PSIGNIFIT (FRÜND et al., 2011).

A aproximação foi feita usando um método Bayesiano, com uma aproximação piloto extraída de
uma aproximação inicial feita com o método de Bootstrap. A curva ajustada é do tipo logística
parametrizada, como descrita a seguir:

1
  , , , , 1 ,  (1)
1

491
onde é a abscissa, sendo os parâmetros a serem ajustados: taxa de falso-positivos , taxa de falso-
negativo , limiar de decisão de 50% ,e inclinação da curva .

A função psicométrica ajustada para os resultados da posição de referência é apresentada na


Figura 5. É importante ressaltar que os dois valores discrepantes indicados pela ANOVA foram
descartados para essa aproximação. A curva psicométrica faz uma estimativa da distribuição da taxa
de discriminação da audibilidade do erro de deslocamento do microfone numa população. O
resultado obtido indica que para o caso da posição de referência no interior da caixa, 50% da
população irá notar diferença entre os estímulos quando o deslocamento for de 1,5 0,2 cm e 75%
da população irá notar diferença entre os estímulos quando o deslocamento for de 2,4 0,3 cm. A
afirmação da seção anterior que considera um deslocamento de 5 cm significantemente diferente da
situação original, pode ser reformulada pela afirmação de que para tal deslocamento, 93% da
população irá perceber uma diferença.

A função psicométrica ajustada para os resultados da posição de referência é apresentada na


Figura 6. Com a posição de referência na borda da caixa, lê-se da curva psicométrica que 50% da
população irá notar diferença entre os estímulos quando o deslocamento for de 0,86 0.08 cm e
75% da população irá notar diferença entre os estímulos quando o deslocamento for de 1,4
0.2 cm.

3. CONCLUSÃO
Esta comunicação procurou determinar o limiar diferença perceptível entre respostas impulsivas
simuladas dentro de uma cavidade. Os testes subjetivos foram realizados com pulsos de ruído
gaussiano branco como sinais de excitação, garantindo assim uma sensibilidade em toda a faixa
audível, além de propiciar variação temporal do estimulo.

1 sigmoid: logistic
core: mw0.1
0.9
nAFC: 1
0.8 Deviance: 39.4642
Rate of Discrimination

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0
0.1 0.2 0.5 1 2 5 10
Displacement Error [cm]

Figura 5 Função psicométrica ajustada para os resultados da posição de referência .

Os limiares para duas posições distintas do microfone na cavidade são consideravelmente


diferentes, indicando uma dependência deste limiar de percepção com a posição do receptor. Uma
análise mais detalhada desta influência se faz necessária. Este estudo foi desenvolvido para uma
única configuração de cavidade, e fornece uma indicação do nível de precisão necessário no
posicionamento de transdutores para comparações de técnicas de auralização e de medições.

492
1 sigmoid: logistic
core: mw0.1
0.9
nAFC: 1
0.8 Deviance: 31.147

Rate of Discrimination
0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0
0.1 0.2 0.5 1 2 5 10
Displacement Error [cm]

Figura 6 Função psicométrica ajustada para os resultados da posição de referência .

É importante ressaltar que os resultados deste trabalho ainda não podem ser generalizados. É válido
argumentar que os jurados muito provavelmente não julgaram a distância entre as IRs, mas sim
algum outro parâmetro contido nestas IRs, muito provavelmente variação na coloração do espectro
ou na estrutura temporal do estímulo, visto que as IRs obtidas eram muito maiores que 50 ms,
equivalente ao tempo de integração do sistema auditivo humano. O fato dos limiares obtidos para as
duas posições de referência serem diferentes reforça esta hipótese.

Pretende-se futuramente determinar qual é a sensação subjetiva evocada pelos jurados para
classificar IRs de pontos vizinhos como distintas. De posse dessa informação novos limiares de
percepção de diferença devem ser determinados. Por fim, se faz necessário desenvolver um método
para estimar objetivamente a sensação subjetiva de diferenças em IRs, permitindo assim estimar
para qualquer tipo de geometria de cavidade o limite de quanto os transdutores podem ser
deslocados, sem que a IR medida por eles apresente diferenças audíveis da posição de referência.

4. AGRADECIMENTOS
Este trabalho conjunto é resultado do projeto PROBRAL, financiado pela Capes pelo lado brasileiro
e pelo DAAD pelo lado alemão. B. S. Masiero é bolsista de doutorado do CNPq – Brasil. As
equipes envolvidas agradecem o Prof. Samir Gerges, por ter iniciado a colaboração entre as
Instituições envolvidas e pelo apoio durante o desenvolvimento dos trabalhos.

REFERÊNCIAS

1. DIETRICH, P.; MASIERO, B. S.; LIEVENS, M. et al. Open transfer path measurement round-robin using a
simplified measurement object. ISMA Conference on Advanced Acoustics and Vibration Engineering. Anais...
Leuven, Belgium: [s.n.]. , 2010
2. FONSECA, W. D.; MASIERO, B. S.; BISTAFA, S. R. et al. Medição de uma Plataforma Acústica Conceitual
Desenvolvida por Diferentes Instituições de Pesquisa. XXIII ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
DE ACÚSTICA. Anais... Salvador, Brasil: [s.n.]. , maio 2010
3. FRÜND, I.; HAENEL, N. V.; WICHMANN, F. A. Inference for psychometric functions in the presence of
nonstationary behavior. Journal of Vision, v. 11, n. 6, 2011.
4. MACMILLAN, N. A.; CREELMAN, C. D. Detection Theory. Mahwah, New Jersey: LAWRENCE ERLBAUM
ASSOCIATES, PUBLISHERS, 2005.
5. MECHEL, F. P. Formulas of Acoustics. [S.l.]: Springer, 2008.
6. VORLÄNDER, M. Auralization: Fundamentals of Acoustics, Modelling, Simulation, Algorithms and
Acoustic Virtual Reality (RWTHedition). [S.l.]: Springer, 2007. p. 335

493
MODELAGEM NUMÉRICA DE UM APARELHO AUDITIVO
UTILIZANDO ELEMENTOS FINITOS

BARBOSA, L. R.1; JORDAN, R. 1; CORDIOLI, J. A. 1


(1) Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC;

RESUMO

Atualmente cerca de 10% da população mundial possui perda auditiva parcial. Os aparelhos auditivos são
projetados para suprir tal deficiência, a qual ocorre em determinadas faixas de frequência sonora, sendo
variável para cada indivíduo. Devido a este fato, tais dispositivos devem ser capazes de amplificar somente as
faixas em que o usuário possui maiores perdas. O princípio de funcionamento dos aparelhos atuais consiste na
captação do sinal sonoro pelo microfone, convertendo-o em um sinal elétrico, que é processado de modo que
haja sua correta amplificação. Após isso, o alto-falante o converte em sinal sonoro (onda de pressão sonora), e
assim se transmite à orelha do usuário. O som captado pelo usuário de um aparelho auditivo depende das
características do alto-falante juntamente com o sistema de transmissão sonora até a membrana timpânica. A
evolução dos aparelhos foi de sistemas puramente acústicos até os modernos sistemas eletroacústicos
miniaturizados com processamento digital de sinais. A redução do seu tamanho provocou limitações
construtivas nos alto-falantes, interferindo nas características do sistema. No estudo proposto foram realizadas
análises (experimental e numérica) de um protótipo BTE (fabricação Amplivox LTDA), visando investigar o
problema de realimentação estrutural ou feedback. Tal fato é investigado através da modelagem numérica com
o uso do método de Elementos Finitos (FEM), o qual subdivide a geometria da estrutura em pequenas partes
de geometria simples, e estas por sua vez formam um conjunto chamado de malha; assim, é possível
solucionar aproximadamente equações diferenciais parciais do conhecido problema, típico de vibrações, de
autovalores (frequências naturais) e autovetores (formas modais) com auxílio de um software comercial.
ABSTRACT
Nowadays 10% of the population suffer from hearing loss. Hearing aids are designed to overcome this deficit,
which occurs in certain ranges of sound frequency and is different for each individual. Due to this, such device
should be able to amplify only the frequencies in which the users have higher losses. These devices are based
on capture the sound signal through the microphone, converting it into an electrical signal which is processed,
so that the necessary amplification is applied. In the sequence, the processed signal goes to the speaker that
produces the acoustic signal (sound pressure wave), transmitted to the user ear. The sound heard by the user of
a hearing aids depend on the characteristics of the audio system between the sound transmission and the
eardrum. Therefore, the signal it's extremely important to characterize these systems to properly process before
being sent to the speaker. The hearing aids evolved from purely acoustic systems to modern miniaturized
electroacoustic with digital signal processing. Systems reduction of their size provoke limitations on speakers
construction, affecting the system characteristics. In the proposed study it was analyzed (experimental and
numerical) a prototype BTE (produced by Amplivox) to investigate the structural feedback. This fact was
studied through numerical modeling by Finite Element Method (FEM), which subdivides the geometry of the
structure into small simple elements, called mesh. It is possible to solve partial differential equations about the
well known typical vibration problem of eigenvalues (natural frequencies) and eigenvectors (mode shapes)
using a commercial software.

Palavras-chave: Onda de pressão sonora. Aparelho auditivo. Método de Elementos Finitos. Vibrações.
Autovalor. Autovetor.

494
1. INTRODUÇÃO
Um aparelho auditivo é constituído dos componentes básicos: alto-falante, microfone,
amplificador, molde (carcaça) e bateria (ver Fig. 1). Como os dois primeiros componentes estão
próximos, é trivial ocorrer a realimentação do sistema, tanto externa quanto internamente
(DILLON, 2001). A primeira realimentação é causada pelo vazamento do som ao longo do
orifício do molde, no qual a onda sonora retorna ao microfone. A finalidade do orifício do molde
seria a redução do efeito de oclusão, embora se torne uma fonte sonora indesejada. Já a segunda
se trata da vibração via estrutura interna do aparelho, sendo a principal fonte o alto-falante, que,
através das vibrações, causa uma pressão sonora próxima à região de entrada do microfone
Levando em conta que o aparelho do tipo Behind-The-Ear apresenta tal problema de
realimentação estrutural, neste trabalho foi investigado o comportamento da carcaça de plástico
ABS (Acronitrila Butadieno Estireno) por análises experimentais e numéricas, comparando os
seus resultados.

Figura 1: Protótipo do aparelho auditivo em corte e posição na orelha. Fonte: Amplivox, 2010.

O problema de realimentação estrutural no protótipo pode ser evitado como por exemplo,
melhorando o material da suspensão de isolamento de vibrações (módulo de elasticidade, fator
de perda, geometria, etc), modificando a estrutura da carcaça plástica para evitar modos de
vibração com amplitudes grandes e próximas à região do microfone, ou acrescentado outro tipo
de material com fator de perda diferente da suspensão, etc.
O Método de Elementos Finitos (FEM) é uma técnica numérica para obtenção de uma solução
aproximada das equações diferenciais parciais de um problema. É de uso rotineiro nas análises
de problemas dinâmicos de estruturas, sendo normalmente utilizado quando o sistema a ser
modelado possui geometria irregular, inviabilizando a solução por métodos analíticos
tradicionais. Este método foi inicialmente desenvolvido para análise de tensões e, atualmente, é
amplamente utilizado na análise de problemas de várias áreas, tais como Vibrações e Acústica.
Nesta área, segundo este método, a estrutura de geometria qualquer é representada por um
conjunto de pequenos elementos de volume, de geometria simples. A união do conjunto
representa aproximadamente a forma geométrica real do sistema. As coordenadas dos vértices de
cada elemento definem os nós da malha de elementos usados no modelo. Ao selecionar o tipo de
elemento, define-se um grupo de equações com o qual se pode resolver a dinâmica do sistema
estudado, considerando as propriedades de massa e rigidez do mesmo. Tais equações permitem,
também, a elaboração de um problema de autovalores e autovetores que, quando solucionado,
fornece as frequências naturais (autovalores) e as suas formas espaciais de vibração
(autovetores). Uma vantagem deste método é a possibilidade de detalhar regiões complexas,
como soldas, junções e reforços em chapas, peças de pequenas dimensões, etc.
Do ponto de vista numérico, utilizando FEM é possível obter as matrizes de rigidez [K] e de
massa [M]. Os vários movimentos (translação e rotação) admitidos no sistema são reunidos no
vetor , ao passo que possíveis forças e momentos aplicados são representados no vetor .

495
Admitindo amortecimento histerético proporcional e movimento harmônico com frequência
angular ω, obtém-se a relação entre forças aplicadas e deslocamentos resultantes:

A matriz receptância [H] é aquela que relaciona os deslocamentos com as forças, portanto deve-
se inverter a Eq. (02), fornecendo:

O procedimento indicado na Eq. (03), com inversão da matriz para cada valor de frequência ω,
implica num custo computacional muito elevado, em virtude do elevado número de variáveis
utilizado no FEM. Normalmente também não se deseja determinar toda a matriz [H]. A solução,
na prática, é realizar uma análise harmônica com FEM, escolhendo um ponto de aplicação da
força e um ponto de resposta, obtendo uma única receptância em cada análise. Do ponto de vista
experimental, o procedimento é análogo, processando-se os sinais de força aplicada e
deslocamento de resposta (ver Eq. (01)). As receptâncias numérica e experimental podem então
ser comparadas para verificar a qualidade do ajuste de propriedades do sistema físico.
No caso da análise modal experimental das carcaças utilizou-se a função de transmissibilidade,
na qual um excitador gera deslocamento de referência (X2), medindo a velocidade da estrutura,
sendo que por integração obtém-se o deslocamento X1 e, por fim tal função.

2. DESENVOLVIMENTO
O trabalho foi realizado em duas etapas: a primeira destinada à caracterização de material com
validação numérica e a segunda para realização de análise modal experimental (carcaças
separadas e unidas), também com validação numérica. Na primeira etapa foram determinadas as
propriedades mecânicas do plástico ABS. Inicialmente foi determinada a densidade relativa,
utilizando o ensaio de picnometria. Já o módulo de elasticidade e o fator de perda foram
determinados com o uso da Norma ASTM E0756-05. O primeiro ensaio é feito com o auxílio de
uma balança de precisão, uma vidraria específica de volume conhecido e o fluido líquido álcool
etílico, obtendo a densidade do material. Já o segundo foi realizado conforme a Fig. 2, a qual
representa a instrumentação utilizada e a cadeia de sinais.

Figura 2: Cadeia de sinais e instrumentação utilizada.

496
Para se determinar o módulo de elasticidade foram necessários corpos-de-prova do tipo viga
homogênea (Fig. 3). Sendo assim, obteve-se uma FRF (Função de Resposta em Frequência),
para faixa de frequência de 0 a 3200 Hz, sendo a excitação pelo impacto do martelo na estrutura
plástica e a resposta medida com um vibrômetro a laser na extremidade livre da peça. Assim,
associam-se as frequências naturais às suas respectivas constantes para que seja calculada a
propriedade em questão. A Eq. (04) tem como variáveis a densidade relativa da amostra (ρ), o
comprimento livre (l), espessura (H), a frequência natural (fn) e a constante adimensional (Cn)
associada ao modo de flexão n, representada abaixo, sendo C1=0,55959, C2=3,5069, C3=9,8194,
etc. Pelo método da banda de 1/2 potência é obtido o fator de perda do material (Eq. (05)), sendo
Δfn a largura da banda e fn a frequência central.

Figura 3: Viga homogênea. Fonte: ASTM E756-05, 2005.

Para o cálculo do módulo de elasticidade (ASTM E756-05, 2005) utiliza-se:

, [Eq. 04]

e o fator de amortecimento (através da banda de meia potência) é obtido com a equação abaixo:

. [Eq. 05]

A análise modal experimental permite identificar os parâmetros (forma de vibração, frequência


natural e coeficiente de amortecimento) dos modos de vibração presentes numa certa faixa de
frequência, a partir de suas respostas (JORDAN, 2002). Dessa maneira, realizou-se para as
carcaças (direita e esquerda) tal procedimento, discretizando a geometria no planoX-Y, fixando a
peça em um shaker e por fim medindo a resposta em cada ponto por um vibrômetro, devido à
excitação de um ruído branco gerado no analisador de sinais PULSE Labshop. A Fig. 4
representa cada lado da estrutura com 44 pontos de medições de cada uma das partes.

Figura 4: Discretização das carcaças direita e esquerda.

A bancada para este experimento apresenta a instrumentação conforme a Fig. 5, em que a cadeia
de sinais se dá a partir do sinal gerado no software, sendo este amplificado para alimentação do
shaker, fazendo vibrar a peça, por fim feita a medição da velocidade de cada ponto, por fim obter
a função transmissibilidade.

497
Figura 5: Cadeia de sinais e fixação da carcaça.

Com todas essas funções medidas, utilizou-se o aplicativo Modal Analysis do software Test.Lab
Rev10B para a obtenção da curva soma característica de tais curvas e, a partir desta, a
identificação dos parâmetros. Por conseguinte, realizou-se com as carcaças unidas o mesmo
procedimento. A Fig. 6 mostra imagens do experimento.

Figura 6: Análise Modal Experimental das carcaças unidas.

Esta análise experimental foi validada numericamente conforme a geometria em questão.


Assim, para efeito de similaridade, a excitação do shaker representa um deslocamento unitário
(dado de entrada) em uma região da estrutura, sendo verificado o deslocamento pontual
(resposta). A Fig. 7 representa os modelos dessa etapa, visto que o elemento adotado é
tetraédrico, SOLID92, apresenta 10 nós com 3 graus de liberdade de translação para cada um. A
análise foi feita pelo método direto, embora o tempo de processamento seja maior comparado
com o método modal.

Figura 7: Malha das carcaças. Fonte: ANSYS 12.1, 2009.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O valor médio para cinco amostras diferentes foi de 1190 kg/m3. Já no caso do módulo de
elasticidade variou entre 0,92 e 1,58 GPa calculado de acordo com o modo de flexão, e o fator de

498
perda  entre 0,007 e 0,01. As possíveis fontes de erros são: não uniformidade da peça,
martelada não perpendicular à amostra, erro de montagem dos corpos-de-prova, repique da
martelada, etc. A análise numérica (Método Direto e Modal) da primeira etapa foi verificada de
acordo com as curvas mobilidade (Fig. 10) para os valores de E=1,46 GPa, ρ=1190 kg/m3,
ν = 0,42 (Poisson) e amortecimento estrutural, η = 0,015. Ainda que mesmo o modo de 1030 Hz
(numérico) não coincida com o experimental, 1169 Hz, ele não é útil, pois é de caráter torcional
de acordo com a análise modal numérica realizada. A segunda curva da Fig. 8 se trata da
coerência dos sinais, velocidade e força, revelando que foi idealmente próximo da unidade.

Figura 8: Comparação das receptâncias experimental e numérica


e função coerência experimental.
A curva soma das funções T(ω) das carcaças unidas pode ser vista na Fig. 9 de 0 a 6400 Hz,
sendo assim obtidos os parâmetros alvo, por fim validando numericamente com as propriedades
ajustadas via algoritmo genético, sendo E = 2,13 GPa, ρ = 1183 kg/m3, ν = 0,42 e η = 0,04.

Figura 9: Curva soma das funções T(ω) das carcaças unidas. Fonte: LMS Test.lab, 2010.

499
Os modos de vibração estão referenciados na Tab. 1 com o desvio percentual calculado entre
eles. O valor médio do amortecimento () foi de 1,67% e o desvio percentual máximo em
relação ao experimental das frequências naturais não ultrapassou 8%, evidenciando bons
resultados conforme a caracterização do material.

Tabela 1: Valores experimentais e numéricos das carcaças unidas

modo fn experimental [Hz] η[%] fn numérico[Hz] Desvio[%]


1 289,801 1,40 274,660 -5,2246
2 475,299 3,65 483,340 1,6918
3 1172,886 1,73 1143,700 -2,4884
4 1470,091 1,16 1459,500 -0,7204
5 1563,011 1,40 1489,300 -4,7160
6 2757,015 1,68 2704,200 -1,9157
7 3635,092 1,46 3572,300 -1,7274
8 4389,276 1,49 4341,500 -1,0885
9 5095,677 1,35 4709,800 -7,5726
10 5901,474 1,34 5529,500 -6,3031

Algumas formas modais podem ser visualizadas na Fig. 10 de maneira comparativa entre
experimental e numérico, com os dados experimentais seguidos das imagens das formas de
vibrar para a frequência natural associada. O segundo modo de vibração experimental não obteve
semelhança com o numérico devido ao seu movimento ser lateral (plano X-Y), o que não
perceptível para a análise, sendo que a direção de excitação anula tal movimento Visto que a
semelhança no espectro de cores para os outros é nítida, embora a magnitude das frequências
naturais apresente desvio relativo considerável, pois se tratando de análise experimental fonte de
erros são inevitáveis, calibração dos transdutores, cabos e conexões, erro de manuseio, fixação
da peça no shaker etc.

Modo 1)

Modo 2)

Modo 3)

Modo 4)

Modo 5)

Figura 10: Comparação de algumas formas modais.

Enfim, a última comparação feita se refere às funções transmissibilidade para o ponto 1 (ver
Fig.11), visto que o amortecimento estrutural considerado foi constante no espectro da
500
frequência. O erro médio entre as curvas foi de aproximadamente 3dB e as ressonâncias
principais ficaram aproximadamente coincidentes. Tal erro foi otimizado o máximo possível de
acordo com o ajuste realizado, sendo que nas altas frequências o desvio é maior. Isto se deve a
discretização da geometria, pois se aumentarmos muito o número de elementos, entretanto
teremos um custo computacional elevado.

Figura 11: Comparação da transmissibilidade do ponto 1.

4. CONCLUSÕES
O uso da Norma ASTM para caracterização do material foi eficiente aliado a validação numérica
do material ABS. Entretanto, ajustes de propriedades tiveram de ser feitos para aproximar as
curvas experimentais e numéricas. As análises modais experimentais e numéricas se mostraram
úteis para conhecer o comportamento da estrutura para efeito de estudo do problema do protótipo
em questão, revelando que o método proposto foi eficiente para a faixa de frequência estudada.
A grande semelhança entre as FRF’s experimentais e numéricas (ver Fig. 11) demonstra que a
modelagem dinâmica das carcaças resultou exitosa. A investigação do problema proposto é
concluída na dissertação que está sendo desenvolvida sobre a realimentação estrutural de um
aparelho auditivo do tipo Behind-The-Ear.

5. AGRADECIMENTOS
À CAPES e à Amplivox pelo apoio financeiro e ao Professor Alberto Luiz Serpa da UNICAMP
pela parceira com o Laboratório de Vibrações e Acústica (LVA) da UFSC.

6. REFERÊNCIAS
1. ASTM E756 - 05. Standard Test Method for Measuring Vibration-Damping Properties of Materials. American
Society for Testing and Materials, 2005.14 p.
2. Chung, K., Challenges and Recent Developments in Hearing Aids, Part I, Speech Understanding in Noise,
Microphone Technologies and Noise Reduction Algorithms, Westminster Publications, Inc., Indiana, 2004
3. Dillon, H., Hearing Aids, Boomerang Press-Sydney, 2001.
4. Jordan, R., Apostila da disciplina de Análise Modal Experimental do Programa de Pós-graduação em
Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina, versão 1a, 2002.

501
USO DA VIBRAÇÃO LOCAL EM MOTRICIDADE OROFACIAL

VALENTIM, Amanda Freitas1 e DUARTE, Maria Lúcia Machado2


(1), (2) PPGMEC/UFMG – Programa de Pós-Graduação em Eng. Mecânica da Universidade Federal de MG;
(2) GRAVISH – Grupo de Acústica e Vibrações em Seres Humanos.
Av. Antônio Carlos, 6627 – Belo Horizonte/MG, 31270-901
1
amandafvalentim@gmail.com , 2 mlduarte@dedalus.lcc.ufmg.br

RESUMO
A motricidade orofacial é a área da Fonoaudiologia que trabalha com o sistema sensório-motor-oral.
Alguns dos aspectos avaliados e tratados nas estruturas deste sistema são a força e sensibilidade.
Nos casos de disfunção temporomandibular, a dor também pode ser um dos sintomas a ser tratado.
O objetivo deste trabalho é apresentar uma revisão de literatura relatando os benefícios da vibração
local na terapia de Motricidade Orofacial, especialmente nos aspectos de força muscular,
sensibilidade e analgesia. Verificou-se que muitos estudos avaliam efeito da vibração no corpo.
Porém, não foi encontrado estudo sobre força muscular e vibração na face. Além disto, não existe
consenso sobre os parâmetros de frequência e amplitude da vibração entre os trabalhos encontrados.
Encontrou-se apenas um estudo sobre limiar de sensibilidade vibratória nos lábios, que verificou
sensibilidade melhor para frequências mais altas. O tema sobre o qual foram encontrados mais
estudos relacionados à vibração na face foi relativa a analgesia, conseguida com freqüências em
torno de 100 Hz.
Palavras-chave: vibração, face, músculos faciais, terapia, Fonoaudiologia

ABSTRACT
Orofacial myology is an area of Speech-Language Pathology that works with stomatognathic
system. Strength and sensibility are some of the aspects usually evaluated on this system. In cases
of temporomandibular dysfunctions, pain can be one of the symptoms treated. The purpose of this
study is to present a literature review showing the benefits of local vibration in orofacial myology
therapy, especially in the aspects of muscle strength, sensibility and analgesia. Many researchers
studied vibration on the body and no study was found relating muscle strength. No consensus
within the studies was found about the frequency and amplitude of vibration parameters. About
sensibility of vibration on the face, there was only one study investigating the lips who found better
sensitivity at high frequencies. The studies relating vibration on the face were more concerned
about analgesia effects, achieved with frequencies around 100 Hz.
Keywords: vibration, face, facial muscle, therapy, speech therapy

1. INTRODUÇÃO
A motricidade orofacial é a especialidade da Fonoaudiologia voltada para o estudo/pesquisa,
prevenção, avaliação, diagnóstico, desenvolvimento, habilitação, aperfeiçoamento e reabilitação dos
aspectos estruturais e funcionais das regiões orofacial e cervical (SBF, 2003).
Estruturas importantes da face são os músculos, que precisam ter força adequada para realizar
corretamente as funções de mastigação, deglutição, respiração e fala. Algumas patologias podem
causar alteração de força ou tônus da musculatura da face, como por exemplo, a respiração oral, a
disfunção neuromotora e outras alterações neurológicas. Além disso, esta diminuição de força pode
estar associada a outras alterações como de fala, mastigação e deglutição.
Como os músculos da face estão ligados uns aos outros e à pele (Tessitore et al., 2008), servem de
sustentação para esta, exercendo papel importante na estética facial.

502
Para correta execução das funções, é necessário também uma boa sensibilidade intra e extraoral. A
sensibilidade da face é dada pelo nervo trigêmio, V par craniano, (Cosenza, 2005) e pode estar
alterada em casos neurológicos ou em casos de lesão do nervo, como por exemplo, em cirurgias
odontológicas.
Além da musculatura, outra importante estrutura do sistema sensório-motor-oral é a articulação
temporomandibular. Esta nos permite realizar os movimentos de abertura e fechamento, além de
protrusão, retrusão e lateralização de mandíbula. Quando ocorre alteração nesta articulação diz-se
que é um quadro de disfunção temporomandibular (DTM). Esta patologia pode levar a alteração dos
movimentos mandibulares, ruídos articulares, dificuldade na realização das funções, sintomas
auditivos (otalgia, zumbido, vertigem) e principalmente a dor (Pereira et al., 2005).
Diante do exposto, o objetivo desta revisão é relatar os benefícios da vibração local na terapia de
Motricidade Orofacial, nos aspectos de força muscular, sensibilidade e analgesia. Espera-se através
deste estudo, mostrar a importância do tema para pesquisas futuras.

2. METODOLOGIA
Foi realizada busca de artigos nas bases de dados Bireme, Pubmed e Google Acadêmico utilizando-
se os seguintes descritores: vibração, face, força muscular, analgesia, sensibilidade, Fonoaudiologia.
O primeiro termo foi cruzado com cada um dos outros e não foi utilizada restrição de ano de
publicação, já que as publicações deste assunto são bem escassas. Foram excluídos da revisão os
artigos que realizaram vibração de corpo inteiro e/ou experimentos em animais. Foram incluídos
apenas artigos nos idiomas português e inglês.
Foi realizada uma busca adicional nas referências bibliográficas de cada artigo, para encontrar
outros materiais relacionados ao tema.
Foram encontrados 70 artigos, dos quais selecionou-se 18 que apresentavam relação com o tema
proposto.

3. REVISÃO DA LITERATURA
Serão relatados a seguir, artigos que estudaram a relação entre vibração e força muscular,
sensibilidade e analgesia.

3.1. Força muscular


A eletromiografia (EMG) é um exame que avalia a função muscular por meio da análise do sinal
elétrico produzido durante a contração muscular (Gomes et al., 2006), por meio do qual se pode
inferir sobre a força. Estudos realizados com musculatura corporal indicaram maior ativação
muscular após a utilização da vibração. Entretanto, diferem bastante sobre os parâmetros da
vibração utilizada para se obter este efeito.
Um trabalho realizado com homens jovens verificou maior ativação muscular com freqüências de
65 a 100 Hz e amplitude de 1,2 mm no tendão do bíceps (Luo et al., 2005); outro também com
participantes do sexo masculino verificou boa ativação muscular do reto femoral com a freqüência
de 30 Hz, sem especificar amplitude (Jackson & Turner, 2003); um terceiro trabalho realizado com
seis homens jovens, não encontrou diferença entre a atividade eletromiográfica do músculo flexor
do cotovelo durante a contração voluntária máxima sem vibração, com vibração de 15 Hz e com
vibração de 20 Hz, ambas com amplitude de 5 mm (Ferreira et al., 2011).
Uma pesquisa com homens normais e com alterações motoras verificou que vibração de 150 Hz e
1,5 mm de amplitude aumenta a excitabilidade dos motoneurônios induzindo a contração do
músculo (Hagbarth, 1973 apud Bishop, 1975). Este último trabalho aponta também que vibração
nos músculos flexores induz a contração dos mesmos e quando a estimulação é no antagonista de
um músculo espástico, verifica-se redução da espasticidade. Foi encontrado, ainda, outro estudo que
indica que freqüência de 100 a 200Hz e amplitude de 1 a 2 mm induz a contração, enquanto

503
freqüências de 20 a 50 Hz inibem a contração e tendem a gerar efeito de relaxamento do músculo
(Turnbull et al., 1982 apud Boscariol et al., 2004).
Não foram encontrados estudos que citam especificamente ganho de força com uso da
vibração na face. Entretanto, um trabalho (Grant 1982, apud Boscariol et al., 2004) relata resultados
indicativos de ganho de força e sensibilidade. Crianças com retardo mental foram submetidas à
vibração durante 1 minuto na região de masseter e ao redor dos lábios, associada à terapia de fala.
Após 8 meses, verificou-se melhora da habilidade em aproximar os lábios, controlar sua projeção e
melhora no controle da deglutição de saliva. O princial problema do estudo é que este não
apresentou as características da vibração utilizada.

3.2. Sensibilidade
O único estudo encontrado sobre a sensibilidade à vibração na face foi realizado apenas em
lábios. Por meio da estimulação vibratória em adultos saudáveis, verificou-se que os limiares de
percepção de vibração na parte central do vermelhão dos lábios foi de aproximadamente 100
micrômetros para a freqüência de 5 Hz, 50 para 10 Hz e 20 para 50 Hz e 150 Hz. A região central
dos lábios apresentou-se mais sensível à vibração, do que as laterais, principalmente para
freqüências baixas (Andreatta e Davidow , 2006).

3.3. Analgesia
Melzack e Wall formularam a teoria Gate Control, também conhecida como teoria da
comporta, que diz que a sensação de dor pode ser reduzida com a ativação de outras fibras nervosas
que conduzem estímulos não-dolorosos (Melzack & Wall, 1965 apud Nanitsos et al., 2009), como a
vibração.
Alguns estudos foram realizados para verificar o efeito da analgesia em várias partes do
corpo. Um deles, realizado com pacientes com dor neurogênica ou musculoesqueletica, aplicou
vibração de 100 Hz por 10 min no local da dor apresentada e verificou alívio da dor em 59% dos
sujeitos (Lundeberg, 1984a). Outra pesquisa avaliou o efeito da vibração em dor provocada por
corrente elétrica no músculo vasto medial de 28 sujeitos saudáveis. Os resultados indicaram que
ocorreu mais analgesia na freqüência de 110 Hz e amplitude de 2 mm com duração de 16 min. Para
70 e 80 Hz, verificou-se respostas menos intensas e para freqüências menores de 40 Hz, não houve
diminuição da dor (Pantaleo et al., 1986).
Outras pesquisas foram realizadas na face, porém mais relacionadas à odontologia. Uma
delas teve como objetivo quantificar o efeito da vibração na percepção de dor durante anestesia
local intraoral. Para isso, 62 adultos foram submetidos à injeção de anestesia com massageador
(HoMedics Atom massager) apoiado na região do arco zigomático ou ramo da mandíbula do lado
ipsilateral à injeção. Foram realizados dois testes, sendo que em uma das vezes o massageador
estava ligado e na outra não. Os sujeitos graduaram a dor por meio de uma escala visual analógica
de 100 mm. Verificou-se diminuição estatisticamente significante da dor quando houve vibração,
sendo de 12,9 mm com vibração e 22,2 mm sem vibração Dezenove por cento (19%) dos pacientes
relataram piora com a vibração e 73% melhora. Os próprios autores apontam algumas limitações do
trabalho: a freqüência da vibração não foi monitorada, e como o massageador funcionava a pilha, a
intensidade pode ter reduzido com o tempo. Além disso, pode ter ocorrido variações na pressão do
massageador contra a face já que cada sujeito fez sua própria estimulação (Nanitsos et al., 2009).
Outro trabalho semelhante foi realizado com o objetivo de verificar o efeito da vibração em
dor de origem dentária. 36 pacientes com dor de dente foram submetidos à vibração de 100 Hz em
várias regiões da face. A estimulação foi realizada com pressão leve (1000 micrômetros de
amplitude) e pressão forte (300 micrômetros). Por meio de uma escala visual analógica, os
participantes avaliaram sua dor antes e depois da vibração. Verificou-se que 12 pacientes
reportaram melhora total, quatro pacientes, de 75% a 100% e apenas 3 não relataram melhora
alguma. Verificou-se também que, para cada sujeito, houve um ponto de aplicação melhor da

504
vibração, que em geral era na mesma hemiface e região da dor, porém a estimulação em alguns
locais gerava piora da dor (Ottoson et al., 1981).
Um estudo na área de dermatologia apontou alguns massageadores elétricos comercialmente
disponíveis que obtiveram resultados no alívio da dor: AcuVibe™, que apresenta dois níveis de
intensidade, um na freqüência de 75 e outro de 95 Hz; Hitachi Magic Wand™ que também
apresenta dois níveis 83 e 100 Hz; Vibrating Fingertip Massager, que se acopla no dedo, semelhante
a um dedal, e vibra na freqüência de 150 Hz (Smith et al., 2004).
Encontrou-se ainda um trabalho realizado com 20 recém nascidos para verificar o efeito da
vibração na diminuição da dor da picada da agulha. Estes receberam vibração de 100 Hz e
amplitude de 1 mm, por 5 segundos no pé, antes da introdução da agulha para coleta de sangue.
Verificou-se que vibração teve efeitos analgésicos nos bebês, principalmente naqueles que já
tinham sido submetidos a uma primeira picada antes da vibração e foram submetidos a uma
segunda após a estimulação (Baba et al., 2010).
O único estudo encontrado com aplicação direta na área de Motricidade Orofacial teve como
objetivo verificar a analgesia gerada pela vibração em pacientes com dor devido à disfunção
temporomandibular (DTM). Para isso, 17 mulheres com DTM foram submetidas à vibração com
um estimulador Cantek em três condições: na freqüências de 20 Hz, na freqüência de 100Hz (ambas
a 200 micrômetros pico) e uma condição controle, na qual o estimulador desligado ficava em
contato com a pele, portanto sem vibração. Utilizou-se também um anel estacionário de 1,8 cm de
diâmetro, que estava ligado por um braço metálico ajustável, a uma mesa que foi mecanicamente
isolada do estimulador vibratório. O vibrador foi posicionado na bochecha direita dos sujeitos,
avançando 1 mm após tocar a superfície da pele. Foi realizada estimulação durante 10 minutos com
cada freqüência, sendo que o vibrador ficava posicionado na pele por 2 minutos antes e após os
testes. As participantes avaliavam a dor quantitativamente por meio de uma escala visual analógica
e coloriam uma figura da face, indicando o local e o nível de dor, antes e depois da estimulação, nas
duas hemifaces. Verificou-se que após a vibração, a melhora na dor, percebida pela avaliação
quantitativa, foi maior para a estimulação de 100 Hz em comparação com a condição controle. Para
a área colorida, verificou-se que tanto a estimulação de 20 Hz, quanto a de 100 Hz obtiveram
resultados melhores que a controle. Observou-se ainda, que não houve diferença entre as faces, ou
seja, houve melhora também na face não estimulada, o que indica que a proximidade do estímulo
com o local da dor não foi necessária. Contudo estes pacientes sofriam de dor crônica, na qual
ocorre uma desregulação central do sistema de controle da dor. A explicação apresentada pelo
artigo para a freqüência de 100 Hz ter sido mais efetiva é que quando a estimulação é intensa o
suficiente para envolver a freqüência, a taxa de disparos das células aferentes irá aumentar como
uma função direta da freqüência vibratória. Sendo assim, haverá uma estimulação elétrica maior
com freqüência maior, fazendo com que interfira mais nos sinais de dor (Roy et al., 2003).
Vários trabalhos apontam o efeito da vibração em analgesia. Um estudo para tentar explicar
este fato, avaliou a aplicação de vibração e estímulo doloroso durante a realização de ressonância
magnética cerebral. Este verificou que quando os sujeitos prestavam mais atenção à vibração,
sentiam menos dor (menor ativação das áreas de dor) e quando voltavam a atenção para o estímulo
doloroso, sentiam mais dor, ou seja, a vibração provoca analgesia por dois fatores, a contra-
estimulação (teoria da comporta) e o desvio da atenção para outro estímulo não-doloroso (Longe et
al., 2001).

4. DISCUSSÃO
Como apresentado no item anterior, foram encontrados vários artigos que relatam ganho de
força muscular com vibração na musculatura do corpo (Luo et al., 2005; Jackson & Turner, 2003;
Bishop, 1975; Turnbull et al., 1982 apud Boscariol et al., 2004), porém não apresentaram
concordância sobre quais são os parâmetros mais adequado de vibração para atingir este objetivo. A
força muscular na face é importante para a correta execução das funções orofaciais. Entretanto, os
músculos faciais, apesar de serem esqueléticos como os do corpo, não possuem fuso muscular,

505
apresentam unidades motoras pequenas (25 fibras por motoneurônio, enquanto a do quadríceps é
150) e são impossíveis de serem contraídos isoladamente devido à proximidade entre eles e à
inserção dos mesmos (Diels, 1995). Sendo assim, as técnicas adequadas para o corpo, não
necessariamente serão eficazes para a face (Coutrin et al., 2008). Como não foram encontrados
estudos específicos sobre o ganho de força com vibração na face, é preciso que as pesquisas
avancem mais nesta área para que se saiba se os efeitos serão os mesmos do corpo.
Em relação à sensibilidade da face, esta pode estar alterada nos casos de cirurgias
odontológicas, nas quais o nervo trigêmio é lesado. Um estudo encontrou que ocorre parestesia
(diminuição da sensibilidade) de lábios em 76% dos casos de cirurgias ortognáticas (Cunningham et
al., 1996). Também pode ocorrer alteração de sensibilidade nos casos neurológicos, como a
disfunção neuromotora, porém esta comumente encontra-se aumentada (hipersensibilidade e
exacerbação dos reflexos) (Giubbina & Assencio-Ferreira, 2002), ao contrário do que ocorre nas
cirurgias orais. Sendo assim, saber o limiar de percepção da vibração na face, principalmente nos
lábios, é importante para que se possa escolher adequadamente a amplitude e freqüência no
momento da estimulação em terapia.
Quanto à analgesia, esta é importante em Motricidade Orofacial principalmente no
atendimento de pacientes com disfunção temporomandibular, que apresentam a dor como um dos
sintomas mais freqüentes (Pereira et al., 2005). Foram encontrados alguns estudos avaliando a
analgesia obtida com vibração na face e verificou-se que esta ocorre principalmente para
freqüências em torno de 100 Hz (Ottoson et al., 1981; Smith et al., 2004; Roy et al., 2003).

5. CONCLUSÃO
Não foram encontrados estudos sobre vibração e força muscular na face e, em relação aos trabalhos
no corpo, não existe consenso sobre os parâmetros de freqüência e amplitude da vibração. Encontrou-se
apenas um estudo sobre limiar de sensibilidade vibratória nos lábios, que verificou sensibilidade melhor para
freqüências mais altas. Os trabalhos que relataram a analgesia como efeito da vibração utilizaram freqüências
em torno de 100 Hz, porém com amplitudes variadas.
Alguns estudos pesquisados não apresentaram os parâmetros da vibração utilizada,
dificultando a comparação dos resultados. É necessário que ocorra maior padronização da forma de
apresentação da metodologia dos estudos, englobando frequência e amplitude da vibração, duração
do estímulo, equipamento utilizado além do detalhamento dos procedimentos e intervenção (Rauch
et al., 2010). Entretanto, diante do que foi analisado, pode-se concluir que o uso de vibração é uma
abordagem promissora. Por isto, este trabalho é importante para salientar sobre a importância de se
estudar mais a fundo este tipo de tratamento.

6. AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao apoio da FAPEMIG (TEC951-09) que tem viabilizado a
linha de pesquisa que este trabalho se encaixa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ANDREATTA, R. D.; DAVIDOW J. H. Mechanical frequency and stimulation-site-related differences in
vibrotactile detection capacity along the lip vermilion in young adults. Clinical Oral Investigations. v. 10, p.
17–22, 2006.
2. BABA L. R.; MCGRATH, J. M.; LIU, J. The efficacy of mechanical vibration analgesia for relief of heel stick
pain in neonates: a novel approach. Journal of Perinatal and Neonatal Nursing. v.24, n. 3, p. 274-283, 2010.
3. BISHOP, B. Vibratory stimulation. Part III. Possible applications of vibration in treatment of motor
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A PAIR E AS RESSONÂNCIAS DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO

ARAÚJO, A.C.S.1, MOURÃO, N.A.L.1, ARAÚJO, F.C.R.S.1, ARAÚJO, A.M.L.2,3


(1) Universidade da Amazônia, Belém, PA; (2) Instituto de Estudos Superiores da Amazônia, Belém, PA; (3) Instituto Federal de Educação Tecnológica do Pará, Belém, PA

RESUMO
A importância da audição e sua preservação é um tema da maior importância, em especial em
trabalhadores expostos a níveis elevados de pressão sonora se faz presente como grave moléstia. A perda
auditiva induzida por níveis elevados de pressão sonora, denominada PAIR, é especialmente
caracterizada por uma atenuação seletiva nas frequências de 3 kHz a 6 kHz denominados de entalhe,
sendo por hipótese decorrente da ressonância do conduto auditivo externo. A física acústica mostra que
dutos semiabertos (como o conduto auditivo externo) apresentam não apenas uma frequência de
ressonância, mas uma sequência de frequências ressonantes múltiplas ímpares inteiras da primeira. Nesta
analise crítica da literatura, considerou-se diversos resultados disponíveis para estabelecer a relação entre
a ressonância do conduto auditivo externo e a presença de não apenas de um, mas de dois entalhes na
PAIR, observado nas audiometrias convencionais e de altas frequências.
Palavras-chave: Ressonância, Conduto Auditivo Externo, PAIR.

1. INTRODUÇÃO
A audição é um sentido que permite ao individuo, perceber e reagir aos sons que o cercam, sendo
fundamental para a comunicação humana.
“A audição, mais que um sentido, é uma parte
integrante de toda nossa vida: nascemos e
morremos numa atmosfera de sons que sempre
carregamos conosco” (SEBASTIAN, 1992)
O aparelho auditivo é responsável pela detecção das ondas sonoras e por sua conversão em sinais
elétricos transmitidos pelos nervos até o cérebro, onde se tornam conscientes e passiveis de
interpretação (BONALDI, 2004 ).
A audição normal requer integridade das orelhas externa, média e interna e qualquer alteração
em uma dessas instâncias pode reduzir a percepção dos sons, determinando uma perda auditiva
(BONALDI, 2004 ). A exposição a elevados níveis de pressão sonora impõe à orelha humana,
riscos que dependem de três fatores: do nível de pressão sonora, do tempo de exposição e da
susceptibilidade individual (MUSIEK, 2001).
A exposição prolongada a níveis elevados de pressão sonora pode levar a alterações mecânicas
na cóclea ou metabólicas nos vasos do Órgão de Corti, especificamente nas células ciliadas
externas causando alterações na membrana, no citoplasma e no núcleo edema, alteração na
permeabilidade e na composição iônica (OLIVEIRA, 2001). Alterações metabólicas, que
resultam em déficit auditivo, e podem acarretar ainda zumbido e tontura, devido à proximidade
da cóclea e órgão vestibular (SILVA e E.A., 1998).
A Perda Auditiva Induzida por Ruído – PAIR – é uma patologia decorrente da exposição a níveis
elevados de pressão sonora (igual ou maior que 75 dBA), observando-se alteração nas
frequências de 4 KHz e/ou 6 KHz, manifestada por um entalhe nessas frequências, no
audiograma, também chamado de “gota acústica” (KWITO, 2001). A PAIR caracteriza-se
(COMITÊ NACIONAL DE RUÍDO E CONSERVAÇÃO AUDITIVA, 1999) por ser geralmente
bilateral com padrões similares, tendo sua progressão cessada com o fim da exposição ao ruído
intenso. A PAIR reflete a morte lenta e gradual das células ciliadas do órgão de Corti da cóclea,

509
e é uma patologia que acomete um número crescente de trabalhadores, acarreta prejuízo ao
processo de comunicação, além de implicações psicossociais que interferem significativamente
na qualidade de vida do indivíduo (MENDES, 1995). É uma doença auditiva crônica e
irreversível, para a qual não existe tratamento eficaz, o que enfatiza a importância da sua
prevenção (FERREIRA JUNIOR, 2002). A PAIR apresenta sintomas auditivos (perda auditiva,
zumbido e dificuldade no entendimento da fala) e não auditivos (transtornos da comunicação, do
sono, neurológicos, vestibulares, digestivos e comportamentais), além de outros efeitos
(transtornos cardiovasculares e hormonais) (MENDES, 1995), (SELIGMAN, 1997).
A Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (BRASIL , 1998) preconiza como critério para a
definição da PAIR, ser uma perda auditiva do tipo sensorioneural, decorrente da exposição
ocupacional sistemática a níveis elevados de pressão sonora. Tendo como características
principais a irreversibilidade e a progressão gradual com o tempo de exposição ao risco.
Geralmente iniciando-se o acometimento dos limiares auditivos em uma ou mais frequências da
faixa de 3 kHz a 6 kHz. Sendo a audiometria de tons puros o procedimento padronizado para
descrever a sensibilidade auditiva. Avalia frequências em múltiplos de oitavas intermediarias
entre 250 Hz a 8 kHz, bem como frequências intermediarias de 1,5 kHz, 3 kHz e 6 kHz.
O colégio americano de medicina ocupacional (AMERICAN COLLEGE OF OCCUPATIONAL
AND ENVIROMENTAL MEDICINE, 2003) destaca que o primeiro sinal da PAIR é um
rebaixamento no limiar audiométrico de 3 kHz, 4 kHz, ou 6 kHz, sendo destacado o fato de que
esta perda auditiva aumenta, quando a exposição está acima de 85 dB (a) por 8 horas diárias,
sendo, a exposição contínua pior do que a intermitente.
Na conferencia da terra (ECO 92) realizado no Rio de Janeiro em 1992, constatou-se a exposição
a níveis elevados de pressão sonora como sendo a terceira maior causa de poluição ambiental,
ficando atrás apenas da poluição da água e do ar (BRASIL, 2007). Em muitos países, o ruído
excessivo é causa de mais de um terço das perdas auditivas.
Para a Organização Internacional do Trabalho (KWITO, 2001) a exposição a níveis elevados de
pressão sonora é a maior causa evitável de perda auditiva permanente em todo o mundo, sendo
prioridade em saúde pública.
A existência de um rebaixamento (entalhe) no limiar audiométrico nas frequências entre 3 kHz e
6 kHz suscita algumas hipóteses:
 Decorre da existência histofisiológica, na zona de audibilidade situada na cóclea,
mais suscetível à ação do ruído (TEMKIN, 1933);
 Resulta de um mecanismo de comprometimento da vascularização à lesão na região
da cóclea correspondente a frequência de 4kHz (LARSEN, 1946);
 É resultado das características de ressonância das orelhas externa e média (MUSIEK,
2001) (CLARK e BOHNE, 1978) (ROYSTER e ROYSTER, 1998).
O sistema auditivo constitui-se de orelha externa, média, orelha interna e vias auditivas centrais
(ZEMLIN, 2000). A orelha externa compreende o pavilhão auricular, o conduto auditivo externo
(CAE) e a face externa da membrana timpânica (MUNHOZ, CAOVILLA, et al., 2000). Tem
como função a amplificação da pressão sonora e localização dos sons. O CAE tem extensão de
aproximadamente 2,8 cm e suas funções básicas são proteção e ressonância sonora, amplificando
sons na faixa de frequência de 1,5 kHz a 7 kHz. O CAE também provê a conexão entre o meio
ambiente e a orelha média, estendendo-se da cavidade da concha até à membrana timpânica.
O CAE é um tubo de paredes lisas, aberto de um lado e fechado do lado oposto, onde uma
extremidade é selada pela membrana timpânica. Não é um tubo reto, pois apresenta algum
estreitamento no seu terço médio, com maior ressonância correspondente a um quarto de
comprimento de onda do som utilizado, frequência de aproximadamente 4 kHz (BONALDI,
2004 ).
O pico de ressonância do CAE ocorre em uma frequência para o qual a comprimento do conduto
é igual a um quarto do comprimento de onda, concluindo que a resposta de ressonância é relativa
ao tamanho do conduto (WIENER e ROSS, 1946).

510
A frequência de ressonância do CAE é em torno de 2,5 kHz a 2,7kHz com amplitude máxima em
torno de 17 dB (SHAW, 1974). Para crianças foram observados picos de ressonância em torno
da frequência de 6 kHz em neonatos, e essa frequência ia decrescendo a medida que as crianças
cresciam até atingir picos de ressonância próximos aos dos adultos (por volta de 2 anos)
(KRÜGER, 1987). Bortholuzzi também ao analisar picos de ressonância em crianças, observou
que nas do sexo masculino a frequência de ressonância é similar à de adultos por volta dos seis
anos, e para o sexo feminino em torno de oito anos. Apresentando picos de ressonância em torno
de 16 dB e frequência em torno de 2.796 Hz (BORTHOLUZZI, 1994). Existe grande
variabilidade entre sujeitos sendo encontrados valores de pico de ressonância no adulto entre 11
dB e 25,5 dB e frequências entre 1,8 kHz e 3,2 kHz (VALENTE, VALENTE e VASS, 1991).
Bortholuzzi e outros verificou um pico de ressonância médio em torno de 17 dB, com valores
entre 9 e 23 dB, com frequência média de 2,9 kHz com valores entre 2,18 kHz e 4,4 kHz, em sua
pesquisa realizada em indivíduos entre 2 e 7 anos de idade (BORTHOLUZZI, ALBERNAZ e
IORIO, 1995).
A coincidência da frequência de ressonância do CAE com a faixa de frequências mais afetadas
sugere ser esta ressonância um fator responsável (ou co-responsável) pela PAIR. Demonstrar
este fato pode, por exemplo, justificar a maior ou menor susceptibilidade individual à PAIR –
normalmente maior ganho na ressonância deverá implicar em maior possibilidade de perda.
Possibilitando detectar ainda mais precocemente uma perda auditiva decorrente da exposição a
níveis elevados de pressão sonora.
Essas conjecturas impeliram este estudo, que visa analisar a provável relação entre a ressonância
do CAE e a perda auditiva em sujeitos expostos a ruído ocupacional.
2. A RESSONÂNCIA DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO
Um sistema elástico possui uma frequência natural de vibração. Ou seja, para um estímulo
simples o sistema irá produzir uma resposta oscilatória, com máximos e mínimos se alternando,
e frequência igual à natural de vibração, atenuada devido às perdas. Quando fornecemos um
estímulo simples para um balanço, por exemplo, este irá se movimentar em movimentos
oscilatórios com frequência de vibração determinada (frequência natural de vibração) e excursão
reduzida a cada ciclo devido às perdas.
Para múltiplos estímulos a resposta é a soma das respostas de cada estímulo. Naturalmente as
respostas individuais podem estar em fase (máximos coincidentes, resposta a resposta), em
oposição de fase (máximos coincidem com mínimos, em respostas alternadas) ou em uma
situação intermediária.
Quando os máximos das respostas são coincidentes, obtemos uma amplificação da resposta
denominada de ressonância. Quando as respostas estão em oposição de fase temos uma
atenuação do sinal, fenômeno denominado de anti-ressonância. Quando desejamos ampliar o
movimento do balanço, por exemplo, fornecemos energia em fase com o seu movimento (logo
após o máximo) – ressonância. Quando desejamos reduzir seu movimento fornecemos energia
em oposição de fase (antes do máximo) – anti-ressonância.
A ressonância ocorre, portanto, quando a frequência do estímulo coincide com a frequência
natural de vibração do sistema. Neste caso, um máximo (ou mínimo) do estímulo periódico
ocorre simultaneamente ao máximo (ou mínimo) da resposta, promovendo uma amplificação da
resposta global do sistema. A atenuação da oscilação livre de um sistema determina o ganho da
ressonância. Sistemas com menores atenuações, na oscilação livre, proporcionam maiores
ganhos na ressonância e sistemas com maiores atenuações, na oscilação livre, resultam em
menores ganhos na ressonância.
Os sistemas elásticos apresentam normalmente várias frequências de ressonâncias, múltiplas da
primeira frequência de ressonância. A coincidência entre os máximos (ou mínimos) do estímulo
pode ocorrer com o primeiro máximo (ou mínimo) da resposta, mas também pode ocorrer com
os demais máximos (ou mínimos). No balanço, por exemplo, pode-se aplicar o estímulo a cada

511
máximo (primeira ressonância) ou a cada dois máximos (segunda ressonância) e assim
sucessivamente.
Quando a excitação é composta de várias frequências, teremos naturalmente, a amplificação
seletiva de cada uma das frequências de ressonância do sistema.
Um tubo semiaberto, como o CAE, é caracterizado por ter umas das extremidades aberta e a
outra fechada. Estes tubos apresentam um conjunto infinito de frequências de ressonâncias,
múltiplas inteiras ímpares da frequência fundamental. A primeira frequência de ressonância (Fo)
ocorre na frequência para a qual o comprimento do duto é igual à quarta parte do comprimento
de onda (BISTAFA, 2006), dada por:
[Eq. 1]
4

Sendo v a velocidade de propagação da onda e L é o comprimento do tubo.


Considerando um CAE (tubo semiaberto) com comprimento de 2,4286 cm e a velocidade do
som de 340 m/s temos a primeira frequência de ressonância em 3500 Hz. As demais frequências
de ressonância serão de 10500 Hz, 17500 Hz, 24500 Hz e assim sucessivamente. A figura 1
apresenta uma curva de ganho para o tubo semiaberto de 24,286 mm.

Figura 1: Curva de ganho para tubo semiaberto


Fonte: Araújo, 2006.

Na figura 1 observa-se que o tubo semiaberto amplifica seletivamente as frequências múltiplas


inteiras impares da primeira frequência de ressonância. Nestas condições, para um ambiente com
ruído a 85 dBA e ganho do CAE em 3,5 kHz (40 dB) resultará, para esta frequência, um estímulo
total de 125 dBA (85 dBA + 40 dB) capaz de provocar dano coclear. Além disto, para a
frequência de 10,5kHz (ganho de 20 dB) um ruído de 85 dBA resultará um estímulo total de 105
dBA, que poderia também provocar danos cocleares.
Sendo o CAE, um tubo semiaberto, com um conjunto infinito de frequências de ressonâncias
múltiplas inteiras ímpares da primeira, e dependendo das características individuais do CAE,
pode-se admitir de duas a três frequências ressonantes na faixa de frequência da audição. Assim,
o ruído ambiental associado à ressonância do CAE, poderá provocar, não somente um “entalhe”,
mas uma sequência de 2 (ou 3) entalhes em frequências múltiplas inteiras da primeira
ressonância na faixa de audição.
3. RESULTADOS ENCONTRADOS NA LITERATURA
Mehrgardt e Mellert obtiveram a Função de Transferência (ou Curva de Ganho) do CAE,
mostrando duas frequências de ressonância de um conduto de aproximadamente 30 mm de
comprimento (MEHRGARDT e MELLERT, 1977). Sendo verificados ganhos de
aproximadamente 13 dB e 10 dB, nas frequências de aproximadamente 4 kHz e 13 kHz,
respectivamente. Hudde e outros obtiveram a Função de Transferência de Pressão do canal
auditivo, na faixa de 160 Hz a 16 kHz, observando ganhos de 20 dB, em 4 kHz e 12 kHz
aproximadamente (HUDDE, ENGEL e LODWING, 1999).
Nas curvas de igual audibilidade (FLETCHER e MUNSON, 1933), (ROBINSON e DADSON,
1956), entre outras, observa-se uma maior sensibilidade entre 2 kHz e 8 kHz, ou seja, nesta faixa
de frequência é necessário menor nível de pressão para obtermos o mesmo nível de sensação.
Diversos estudos como (ROEDERER, 2002), (SILVIAN e WHITE, 1933), (NEPOMUCENO,
1977), (MENEZES, 2006) fazem referência ao ganho na faixa de 2,5 kHz à 5 kHz, especificando
512
diferentes valores para a frequência correspondente à máxima sensibilidade relacionando-a a
frequência de ressonância do CAE. Divergências quanto ao valor da frequência específica estão
provavelmente relacionadas às variações anatômicas do CAE entre os grupos de indivíduos
estudados.
Outra característica relevante, observada nas curvas de igual audibilidade é a variação do ganho
introduzido entre 8 dB e 15 dB. Considerando que estas são curvas médias, e que as frequências
de ressonância, e os ganhos introduzidos, para cada individuo da população pesquisada, difere
entre si, sendo natural esperar ganhos individuais ainda maiores.
Embora não tenha sido encontrada qualquer referência na literatura consultada, pode-se observar
ainda uma segunda concavidade mais acentuada nas curvas de igual audibilidade nas frequências
em acima de 8 kHz, que pode ser justificada também pela característica de ressonância do CAE,
como sendo resultado da ressonância em 3Fo. O fato é que as ressonâncias dos CAE introduzem
um ganho ampliando a faixa de frequência com maior sensibilidade.
Considerando a PAIR como resultado da ressonância do CAE, e que esta ressonância não é
única, pode-se esperar, também, perdas introduzidas pelas demais ressonâncias do CAE (duplo
ou triplo entalhe).
4. A PAIR E O DUPLO ENTALHE
Um estudo com a análise de audiometrias nas frequências convencionais (AFC) e nas altas
frequências (AAF) de 500 indivíduos foi observado uma redução na acuidade auditiva na
frequência de 6 kHz e na faixa de 11,2 kHz e 14 kHz, concluiu que a AAF é indicador precoce
de perda provocada por ruído ocupacional (SCHWARZE, NOTBOHM e GARTNER, 2005).
Outros estudos (MOTA, 2005) com indivíduos expostos a ruído com limiares normais nas
frequências de 250 Hz a 8 kHz apresentaram tendência a rebaixamento quando testadas nas
frequências de 12 kHz e 16 kHz, sendo maior essa tendência quando já havia alteração na
audiometria. Concluiu que a AAF é um valioso instrumento de avaliação nos casos de exposição
ao ruído, pois informa precocemente uma degeneração nas células ciliadas no órgão de Corti.
Resultados que coincidem com os achados de (NORTHERN, 1972), (HALLMO, 1995),
(BELTRAMI, 1999), (ZEIGELBIOM, 2000).
Outro estudo (PORTO, GAHYVA, et al., 2004) avaliando 60 sujeitos, sendo 30 expostos e 30
não expostos, ao ruído ocupacional, verificou que conforme o aumento da frequência, da idade,
do tempo de exposição, ocorre maior queda da acuidade auditiva. Observou, ainda, uma maior
incidência de perda em 6 kHz e 14 kHz, concluído que a AAF contribui para o diagnóstico
precoce da cortipatias, sendo que estes limiares alteram-se anteriormente às frequências até 8
kHz.
Em estudo (TÜRKKAHRAMAN, GÖK, et al., 2003) com 64 trabalhadores de usinas
hidroelétricas e 30 indivíduos de grupo controle, ao realizar a avaliação audiométrica utilizando
tanto as frequências convencionais quanto as de altas frequências, observaram um aumento
significativo de perdas, nas frequências de 4 kHz–6 kHz e 14 kHz–16 kHz, nos indivíduos
expostos ao ruído. Para os autores a AAF deve ser usada em conjunto com a Audiometria
convencional na detecção e no acompanhamento de pessoas com riscos potenciais para perda de
audição.
Outro estudo (AHMED, DENNIS, et al., 2001) com 187 sujeitos expostos ao ruído industrial e
52 sujeitos de grupo controle, não expostos ao ruído industrial observou maior perda nas
frequências de 4 kHz e 14 kHz. Para os autores a AAF pode ser utilizada como um indicador
para PAIR e trauma acústico, e pode ser ainda mais precoce que a avaliação na audiometria
convencional até 8 kHz, particularmente nos estágios iniciais.
Estudos recentes, como (ALMEIDA e NISHIMORI, 2006) mostram a importância e a
necessidade da realização da avaliação audiométrica nas altas frequências para o diagnóstico de
patologias que acometam a cóclea, em particular da avaliação da PAIR. Além disso, Grzesik e
Pluta avaliando trabalhadores expostos ao ruído ocupacional, na faixa de 500 Hz a 20000 Hz,

513
verificaram que o órgão auditivo humano é mais susceptível ao ruído de altas frequências
(GRZESIK e PLUTA, 1985).
A possibilidade de demonstrar perda auditiva, ainda assintomática, por meio da AAF deveria ser
mais valorizada, especialmente no que diz respeito a monitorizarão de perda auditiva e o
diagnóstico precoce, pois, a perda auditiva em altas frequências, apesar de não acarretar maiores
impactos, sinaliza para a prevenção de lesões cocleares evitáveis e mais graves (PEDALINI,
SANCHEZ, et al., 2000).
5. CONSIDERAÇÕES
Considerando:
 Como hipótese referida por diversos autores como (MUSIEK, 2001), (CLARK e
BOHNE, 1978), (ROYSTER e ROYSTER, 1998) ser a ressonância fator importante
para a ocorrência da PAIR;
 O fato da presença do entalhe que caracteriza a PAIR ser observado na faixa de
frequência de ressonância do CAE;
 A variabilidade nos picos de ressonância entre sujeitos;
 Estudos (BISTAFA, 2006), (MEHRGARDT e MELLERT, 1977) que indicam a
existência de duas frequências de ressonâncias com ganhos da mesma ordem de
grandeza;
 Estudos (GRZESIK e PLUTA, 1985) que mostram uma maior susceptibilidade nas
altas frequências, faixa na qual deve ser obtido o segundo entalhe;
Então um segundo entalhe deve ser observável na frequência três vezes a frequência de
ressonância individual do CAE (visto nas altas frequências) e deve, geralmente, preceder o
primeiro entalhe.
6. CONCLUSÕES
A modelagem do sistema auditivo, contemplando múltiplas frequências de ressonâncias do CAE,
esclarece o duplo entalhe observado, e não justificado, nos estudos realizados pelos diferentes
autores supracitados como (SCHWARZE, NOTBOHM e GARTNER, 2005), (MOTA, 2005),
(NORTHERN, 1972), (HALLMO, 1995), (BELTRAMI, 1999), (ZEIGELBIOM, 2000),
(PORTO, GAHYVA, et al., 2004), (TÜRKKAHRAMAN, GÖK, et al., 2003), (AHMED,
DENNIS, et al., 2001) e (ALMEIDA e NISHIMORI, 2006), pesquisando os limiares auditivos
em audiometria tonal convencional e de altas frequências, em indivíduos expostos a níveis
elevados de pressão sonora.
As demais hipóteses citadas (TEMKIN, 1933), (LARSEN, 1946) para a presença do entalhe
característico da PAIR não contemplam o duplo entalhe, nem justificam o segundo ganho na
curva de igual audibilidade. Sendo a ressonância do CAE a hipótese que justifica estas questões.
Diferenças anatômicas, entre os indivíduos com relação ao CAE, justificam ganhos da
ressonância diferenciados, mais ou menos acentuados, e justificam as susceptibilidades
individuais.
A detecção precoce do entalhe, observado nas altas frequências, é indicativo de um futuro
entalhe a ser observado na audiometria convencional. Neste caso a AAF deve ser realizada para
prever lesões cocleares mais graves, e em especial, nas frequências mais significativas para a
comunicação.
A partir da analise dos estudos citados, podemos deduzir que a ressonância do CAE associada à
exposição prolongada a níveis elevados de pressão sonora, pode contribuir para a implantação da
PAIR, sendo possível ainda prevê-la a partir do achado do entalhe correspondente à 3Fo na
AAF.
Tal afirmação nos impele a sugerir estudos que permitam:
1. Determinar com precisão as frequências de ressonância do CAE;
2. Determinar o ganho introduzido pelo CAE;
3. Elaborar protetores que atenuem, em especial, os ganhos introduzidos.

514
A partir da análise crítica dos estudos realizada em periódicos, livros e do inventário de teses e
monografias, conclui-se que a ressonância do Conduto Auditivo Externo pode contribuir para
estabelecer o entalhe observado na Perda Auditiva Induzida por Ruído. E ainda, que neste caso é
possível prever tal entalhe, a partir da obtenção precoce do entalhe correspondente à frequência
múltipla ímpar inteira da primeira frequência ressonante, encontrável nas frequências avaliadas
pela AAF, evidenciando a necessidade da realização desta avaliação no acompanhamento dos
indivíduos expostos a níveis elevados de pressão sonora.

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516
CORRELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO E PROBLEMAS VOCAIS DE
PROFESSORES

SILVA, Heloisa1; ARAUJO, Francisca2; SOBRINHO, Mario3; ARAUJO, Antonio4;


LOBATO, Elcione5.
(1) Universidade da Amazônia; (2) Universidade da Amazônia; (3) Universidade da Amazônia; (4) Instituto de
Estudos Superiores da Amazônia, Instituto Federal de Educação Tecnológica do Pará; (5) Universidade
Federal do Pará.

RESUMO
Este estudo teve como objetivo estabelecer a correlação entre o ruído produzido interna e
externamente às escolas e as queixas vocais dos professores e, comparar as alterações vocais de
professores expostos a diferentes níveis de ruído urbano. Foi realizado estudo de casos múltiplos,
com abordagem qualitativa e técnica de análise de conteúdo. Foram analisados 20 professores de
duas escolas de ensino fundamental de Belém do Pará, localizadas em vias com diferentes níveis
de ruído, com características construtivas opostas. Conclui-se que há relação direta entre o ruído
externo e o interno e que estes, por sua vez, estão relacionados às condições acústicas internas
das salas de aula que influenciam diretamente no comportamento dos professores quanto ao uso
da voz. Na presença de ruídos intensos os professores ficam menos motivados a conversar com
alunos e em muitos casos comportam-se como surdos.

ABSTRACT
This research aimed to stablish correlation between noise generated internally and externally to
schools and vocal teachers’ complaints and to compare the changes of teachers’ voices that are
exposed to different levels of urban noises. The research was based on the multiple case study,
qualitative approach and content analysis technique. It was collected from twenty teachers from
two primary schools of Belém do Pará city, located in urban areas with diverse levels of noise
and different construction’s patterns. It concluded that there is a direct correlation between
internal and external noise. Noise is related to classroom internal acoustic conditions that in its
turn directly influences on teachers’ behavior in using their voices. Teachers are less motivated
to talk with pupils and in many cases they behave as deaf when intense noises are present.

1. INTRODUÇÃO
A gravidade dos problemas decorrentes da urbanização é de tal monta que a OMS a reconheceu
esta última como fonte de grande parte dos problemas de saúde que as coletividades enfrentam e
reconhecendo sua nocividade passou a tratá-la como um problema de saúde coletiva
(MACHADO, 2004).
O adensamento do trânsito eleva os níveis de ruído e provoca sérios agravos à saúde dos
indivíduos. Pimentel (2000) destacou a perda da capacidade de concentração dos indivíduos
sobre si mesmos, deixando-os agitados e sem capacidade de introspecção.
A análise do nível de contaminação sonora gerada pela comunidade, no centro comercial de
Belém (PA) evidenciou vias com níveis de ruído ambiental intoleráveis, acima do recomendado
pela NBR 10.151 da ABNT em período diurno (MORAES et al., 2003).

517
Em indivíduos que usam a voz profissionalmente as queixas vocais promovem desconforto
maior por interferirem no processo comunicativo e no próprio desempenho profissional. O
impacto que as alterações vocais exercem sobre os professores em seu cotidiano é percebido de
forma diferenciada por aqueles que apresentam quadros disfônicos instalados. Os sintomas
físicos como falta de ar e esforço ao falar são os mais percebidos (PEREIRA, 2004).
Estudo comparativo da prevalência de desordens vocais entre professor realizado por Sala et al.
(2001) evidenciou a prevalência de sintomas vocais maior em professores do que em enfermeiros
e confirmaram forte relação de causa e efeito entre trabalho e desordens vocais. Foram
encontrados sintomas vocais, principalmente durante o trabalho, em quase todos os professores e
na maioria dos enfermeiros, reforçando, desta forma, a relação de causa-efeito entre trabalho e
desordens vocais.

Professores utilizam a voz como principal recurso didático em sala de aula (BEHLAU;
PONTES, 1995) necessitando, portanto, fazer o uso adequado dos recursos vocais de modo a
garantir a compreensão da mensagem emitida. Com freqüência referem dificuldades para lidar
com o ruído em salas de aula. Araújo (2006), ao investigar a qualidade de vida de professores
com queixas vocais, observou que 54% da população pesquisada apresentavam dificuldades no
trabalho por causa da voz, 29,4% necessitava repetir o que falava para ser compreendido; 58,8%
dos professores referiram dificuldade em falar forte ou de ser ouvido em ambientes ruidosos.

2. METODOLOGIA
Realizou-se estudo qualitativo de casos múltiplos, e técnica de análise de conteúdo. Foram
analisados 20 professores de duas escolas de ensino fundamental, de Belém do Pará, localizadas
em vias com diferentes níveis de ruído, com características construtivas opostas.

As medições dos níveis de pressão sonora foram realizadas através do Sonômetro de precisão
NL18 e NA27 e analisados quantitativamente, utilizando-se planilhas Excel e aplicativo
MATLAB. Os dados da observação, questionários e grupo focal foram analisados
qualitativamente através da técnica de análise de conteúdo. Para os níveis de ruído externo foram
considerados os dados gerados pelo Mapa Acústico de Belém - Fase III (MORAES, 2008).

3. RESULTADOS
Os níveis de ruído das vias em que se localizam as duas escolas confirmam os estudos de Eniz
(2004), que mostram que as escolas com maiores níveis de ruído interno localizam-se em vias
com intenso fluxo de veículos e com níveis entre 70 e 100 dB (A) decorrente do tráfego de
aeronaves nas imediações. Nas escolas pesquisadas em Belém o nível de ruído interno foi de 68
dB (A) na escola menos exposta e 75 dB (A) na escola mais exposta. Portanto, nas duas escolas
os níveis de ruído apresentam-se superiores aos recomendados pela NBR 10152 de 40 dB (A).
A comparação dos níveis de ruído das duas escolas mostrou que na mais exposta há,
aproximadamente, 15 dB de ruído acima da menos exposta, na frequencia de 1000 Hz (figura 1).
Um aumento (ou redução) de 1 dB na relação sinal/ruído pode acarretar reduções (ou aumentos)
de até 21% na inteligibilidade de fala, na presença de Ruído Gaussiano Branco, e de 3,5% na
presença de ruído de tráfego urbano (ARAÚJO, 2009).

518
Figura 1: Nível de ruído por frequência nas duas escolas

Fonte:pesquisa de campo.

Na faixa, onde se concentram os sons da fala, o ruído é mais intenso tornando-se competitivo. A
análise espectral indica que as componentes espectrais se superpõem às componentes espectrais
do sinal de fala, portanto, podem efetivamente prejudicar a inteligibilidade de fala (ARAÚJO et
al., 2008), tornando a situação das escolas ainda mais grave.

Na pesquisa de Eniz e Garavelli (2006) as fontes de ruído mais evidenciadas foram de tráfego de
aviões, carros de passeio e propaganda, caminhões, ônibus e bicicletas. As salas de aula
apresentaram níveis de ruído interno entre 81,8 dB e 84,7 dB. A pesquisa de Rinnaldi (2005)
identificou salas de aula com níveis de ruído também acima do tolerável, tendo o trânsito e as
conversas dos alunos como principais fontes geradoras de incômodo.

As condições das escolas analisadas em Belém se assemelham, pois tanto aqui quanto nas outras
cidades, as salas de aula encontram-se fora dos padrões de conforto acústico para as atividades a
que se destinam. Para zonas residenciais urbanas a NBR 10151 estabelece níveis aceitáveis de
ruído urbano de 50 dB (A) no período diurno. Para ambientes internos a NBR 10152 estabelece
níveis de ruído em salas de aula de 55 dB (A).

O uso da voz profissional com a finalidade de troca de informações ou ditado não deve
ultrapassar 65 a 70 dB (1m de distância). Uma pressão sonora vocal de 10 dB, acima do nível de
ruído da sala, possibilita uma compreensão da frase ou seu sentido de 93% a 97%. Na troca de
informações não conhecidas profundamente (exemplo, sala de aula), os níveis de pressão sonora
da voz devem alcançar pelo menos 20 dB acima do ruído de fundo (GRANDJEAN, 1998).
O nível de ruído na escola mais exposta está próximo (63 dB) dos limites de 65-70 dB
preconizados para a utilização profissional da voz (GRANDJEAN, 1998), o que possibilitam
uma relação sinal/ruído máxima de 7 dB (70 dB – 63 dB), portanto abaixo dos níveis
preconizados por Grandjean (1998). Na escola menos exposta a relação sinal/ruído máxima é de
16 dB (70 dB – 54 dB) inadequada, ainda que melhor que a situação da escola pública, para sala
de aula, de acordo com as recomendações do autor.

519
O comportamento vocal dos professores durante a atividade docente sob diferentes níveis de
ruído, de forma objetiva está demonstrado nas figuras 2a e 2b. Para tanto foram medidas a
intensidade da voz de cada professor e a média nas faixas de frequencia de 100 Hz a 10 khz.

Figura 2a: Comportamento vocal dos professores da escola mais exposta.

Fonte:pesquisa de campo.

Figura 2b: Comportamento vocal dos professores da escola menos exposta.

Fonte:pesquisa de campo.

Percebe-se que há uma quase superposição da voz dos professores e do ruído de fundo na escola
mais exposta. Nesta faixa as vozes não foram capazes de alterar o nível equivalente de pressão
sonora (Leq), pois o nível de ruído de fundo está com intensidade similar aos níveis admissíveis
para voz. Para alcançar uma relação sinal/ruído adequada para a inteligibilidade de fala (20 dB),
na presença de ruído com intensidade 63 dB, os professores deveriam falar com intensidades de
83 dB, nível acima dos preconizados para conforto vocal (70 dB), e próximo ao estabelecido (85
dB) para provocar perda auditiva (NR-19).
Os resultados demonstram que os professores perceberam a dificuldade de superar o ruído
mantendo-se na mesma faixa deste. Diante da impossibilidade de serem ouvidos, estes não
elevam a voz para tentar manter a inteligibilidade e efetivar a comunicação dentro das salas de
aula. Assim, parecem se comportar como deficientes auditivos, pois segundo Pinho (1999) os
deficientes auditivos, quando têm consciência da tendência de falar forte, tendem a reverter a

520
situação, produzindo voz com maior freqüência e intensidade fraca. As curvas de igual
audibilidade mostram que há um ganho na sensação auditiva de 40 dB quando se aumenta a
freqüência de 100 Hz para 1000 Hz.

Ao aumentar a freqüência fundamental, o deficiente auditivo aproxima a freqüência fundamental


da voz, em geral com energia significativa de uma região de maior sensibilidade auditiva. Isto
implica em ampliar a sensação auditiva e, conseqüentemente, o feedback auditivo, permitindo
que o deficiente auditivo detecte a presença ou a ausência da própria voz, mesmo que o padrão
seja pouco inteligível. Isto exige uso de mecanismos, tais como aumentar o pitch, loudness e a
velocidade, ou uso de variação melódica intensa que podem levar a alterações de voz (ARAÚJO,
2006).

A tendência ao comportamento similar aos dos indivíduos surdos ficou clara no grupo focal e
durante a observação.

“[...] quando fico muito cansada paro de falar, eles não conseguem escutar mesmo.
Todo mundo acaba falando menos”. (p9)
“[...] não adianta falar alto ou gritar, a gente faz força, fica cansada e a bagunça
continua.” (p7)

Na escola menos exposta a voz dos professores está acima do ruído de fundo. Esta constatação
evidencia que os professores percebem que podem ser ouvidos ao elevarem a intensidade da voz,
pois o nível de ruído de fundo com menor intensidade possibilita níveis de pressão sonora da voz
possíveis para compreensão. Oyarzún et al. (1984) referiram que as alterações vocais de
professores devem-se, muitas vezes, ao abuso vocal realizado em sala pela necessidade de ouvir
e se fazer ouvido em ambientes ruidosos.
Nas figuras 3 e 4 encontram-se as principais queixas referidas pelos professores das duas escolas.

Figura 3: Queixas e sintomas vocais dos professores das duas escolas.

QUEIXAS ESINTOMAS VOCAIS

10
8
6 Escola mais exposta
4 Escola menos exposta
2
0
Necessidade

Rouquidão
irritação na

Sensação

pescoço
de pigarrear
de corpo
estranho

Dor no
garganta
Dor ou

Fonte:pesquisa de campo.

521
Figura 4: Queixas relacionadas ao ruído dos professores das duas escolas.

QUEIXAS RELACIONADAS AO RUÍDO

12
10
8 Escola mais exposta
6
4 Escola menos exposta
2
0
ça

r
ia
to
o

o
ss

la
nc

çã
be

al

fa
re


ns
ita
ca

lar

ao
St

e
Ca
Irr

Fa

l
e

to

o
rd


In
Do

ns
Ca
Fonte:pesquisa de campo.

No que se refere às queixas e aos sintomas vocais de professores, percebe-se que em ambas as
escolas estão relacionadas ao uso da voz em competição com o ruído do ambiente. Esta
ocorrência confirma os relatos dos professores da escola particular que tentam superar o ruído
(figuras 3 e 4).

De acordo com Behlau (2001), o uso de mecanismos para forçar a voz na tentativa de serem
ouvidos, na presença de ruídos mesmo que sejam momentâneos, força os indivíduos a realizar
esforço vocal desnecessário podendo levar à disfonia.

A análise dos questionários revelou que os professores da escola mais exposta percebem os
ruídos gerados pelo trânsito de veículos como os que mais incomodam na sala de aula, seguidos
pelo ruído da rua e da sala de aula. Na escola menos exposta o ruído predominante, foi o gerado
na sala de aula. Poucos referiram o ruído gerado na rua e no trânsito.

Os segmentos que se seguem ilustram a percepção dos mesmos sobre o ruído gerado
externamente às escolas.

“[...] pois a mesma fica em uma avenida com muito movimento...” (p8)
“[...] do trânsito porque o tráfego de trânsito é muito grande...” (p5)

A percepção os professores da escola menos ruidosa confirmam Zwirtes (2006) ao analisar a


percepção dos professores sobre os ruídos presentes nas escolas, concluindo que o ruído de
tráfego foi pouco percebido porque as salas de aula ficavam distantes da via indicando uma
relação direta entre a localização das escolas e das salas de aula e os níveis de ruído percebidos.
A escola mais exposta analisada está situada em área de comércio e serviços que atraem veículos
e pessoas, além de ser importante para o fluxo de ônibus, pois passa por bairros de elevada
densidade demográfica.

522
No caso das escolas pesquisadas, houve predominância de agentes externos na escola mais
ruidosa devido à localização e às características construtivas, o que não ocorreu na escola menos
exposta situada em espaço predominantemente residencial.
Os relatos dos professores da escola mais exposta ao ruído indicaram a necessidade de realizar
alterações no padrão vocal com elevação da intensidade e esforço para serem ouvidos devido aos
ruídos gerados interna e externamente. No entanto, os gráficos 3a e 3b mostraram que a
intensidade da voz dos professores está abaixo do nível de ruído de fundo. Entende-se que estes
comportamentos devem-se ao fato de os professores, da escola mais ruidosa, perceberem, mesmo
inconscientemente, que nestas condições é impossível superá-lo necessitando gritar. Sobre os
motivos que levam o ruído das salas de aula a alterarem suas vozes referiram:

“[...] me força a usar a voz com mais intensidade”. (p7)


“[...] há necessidade de falar mais alto senão eles não escutam, fazem bagunça”. (p1)

Os professores da escola menos exposta indicaram a necessidade de falar mais alto e forçar a voz
para serem ouvidos devido aos ruídos gerados interna e externamente. Sobre os motivos que
levam o ruído das salas de aula a alterarem suas vozes referiram apenas ao ruído interno.. A
busca de conforto ambiental em termos de temperatura aumenta o nível de ruído interno nas
escolas.
“[...] ar condicionado e barulho constante dos alunos”. (p13)
“[...] minha turma é agitada e falante, é preciso elevar a voz”. (p17)

Quando o ruído mais presente é de trânsito de veículos, a situação se agrava devido às variações
na intensidade e duração dos mesmos, pois provoca dispersão e desatenção dos alunos
comprometendo a inteligibilidade de fala e a comunicação com conseqüente elevação de
intensidade vocal.

4.CONCLUSÃO
Houve predominância de queixas vocais em professores da escola mais exposta ao ruído externo.
A percepção dos professores evidenciou que quando o ruído mais presente é o ruído de trânsito
de veículos a situação se agrava. Para preservar a voz, existem professores que agem, consciente
ou inconscientemente, como surdos. Quando percebem que por maior seja a intensidade de sua
voz a mesma não será percebida pelos alunos, professores não se esforçam em falar mais alto do
que o nível de ruído de fundo. A prevalência de queixas vocais na escola mais exposta ao ruído
demonstra que este é mais impactante sobre a voz do que o ruído interno.

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17. SALA, Eeva. et al.. The prevalence of voice disorders among day care teachers compared
with nurses: a questionnaire and clinical study. Journal of voice, 2001, v.15, p. 413-23.
18. VIANELLO, Luciana; ASSUNÇÃO, Ada A; GAMA, Ana C. C. O uso da voz em sala de
aula após adoecimento vocal. VI SEMINÁRIO DA REDESTRADO - Regulação
Educacional e Trabalho Docente. 06 e 07 de novembro de 2006 – UERJ - Rio de Janeiro –
19. ZWIRTES, Daniele P. Z. Avaliação do desempenho acústico de salas de aula: estudo de
caso nas escolas estaduais do Paraná. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
Graduação em Construção Civil, Universidade Federal do Paraná, 2006. Curitiba.

524
CARACTERIZAÇÃO DOS EFEITOS EXTRA-AUDITIVOS PROVOCADOS
PELO RUÍDO NOTURNO

NEGRÃO, Alexandra1; MORAES, Elcione2.


(1) Universidade da Amazônia; (2) Universidade Federal do Pará.

RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar os efeitos extra-auditivos provocados pelo ruído noturno na
população do bairro do Umarizal, na cidade de Belém-Pará. Para tanto foi aplicado um questionário com 21
perguntas, numa amostra de 200 indivíduos de ambos os sexos, na faixa etária entre 18 e 67 anos, residentes
próximo a locais de lazer noturno. A pesquisa foi realizada em duas áreas do bairro, divididas de acordo com
a concentração de locais de entretenimentos, para com isso comparar o nível de incômodo, assim como a
percepção dos efeitos extra-auditivos por parte da população. Os resultados obtidos constataram que 82,5%
da população classificam o ruído noturno como intenso ou muito intenso, 72% sentem incômodo com o
ruído noturno, 76,5 % relacionam os prejuízos à saúde à exposição ao ruído noturno, sendo que os efeitos
extra-auditivos mais citados foram: insônia e irritabilidade (37%), insônia e estresse (29%) e insônia (10%).
Os resultados referentes aos efeitos extra-auditivos mostram que não haver diferença entre as faixas etárias e
sexo, visto que pessoas de toda as idades e ambos os sexos se queixam dos mesmos sintomas extra-auditivos
na mesma proporção.
Palavras-chave: Ruído Noturno. Contaminação Sonora. Efeitos Extra-auditivos.

ABSTRACT
Aim of this paper is analyze the Extra-auditory effects caused by night noise within the population from
Umarizal, in Belém-Pará. A survey containing 21 questions was carried out on 200 people from both sexes,
with ages between 18 e 67, all residents nearby night leisure facilities. The research took place in two
separate areas within the neighborhood, each one chosen due to their density of leisure places, in order to
compare both the level of discomfort and the perception of extra-auditory effects from the local population.
The results show that 82,5% of this population ranks night noise both as loud or too loud, 72% feel
discomfort with night noise, 76,5 % credit their health injuries to exposition to night noise. The (extra-
hearing?) effects most mentioned were: insomnia and irritability (37%), insomnia and stress (29%) and
insomnia (10%). The results from Extra-auditory effects show that there are no difference between sexes and
ages as people from both sexes and within the whole age range complained of the same symptoms the same
amount.
Palavras-chave: Night Noise. Noise Polution. Extra-auditory Effects.

1. INTRODUÇÃO
A população residente em centros urbanos pode ficar física, mental e psicologicamente perturbada
em consequência da poluição sonora, independente do tipo de fonte geradora do ruído. Essas
perturbações geram, entre outros, sintomas extra-auditivos, que na maioria das vezes só serão
associados à presença do ruído quando comprometem a qualidade de vida das pessoas
(NUDELMAN et al, 2001; SALIBA, 2004).
A partir dessas constatações definiu-se os objetivos deste trabalho, nele procura-se caracterizar o
nível de incômodo gerado pelo ruído aos moradores do bairro do Umarizal em Belém no período
noturno. O bairro do Umarizal, no centro de Belém, é o que concentra o maior número de ambiente
de lazer e entretenimento noturno da cidade, e é o campeão de queixas do ruído produzido por esses
estabelecimentos. Assim, viu-se necessário determinar com precisão e ferramenta científica a
dimensão do problema e informar à comunidade local e aos órgãos gestores como a população
percebe a presença do ruído no interior de suas residências e os danos extra-auditivos aos quais
estão vulneráveis.

525
2. ZONA DE ESTUDO
O estudo foi realizado no bairro do Umarizal, nas residências localizadas próximas aos centros de
entretenimentos noturnos. O bairro do Umarizal, atualmente, tem uma das áreas mais valorizadas de
Belém e está sofrendo intensos investimentos imobiliários, o que contribui para caracterizar o bairro
como sendo um grande centro de lazer noturno, com restaurantes, bares, boates, casas de show e
ponto de encontro da população mais jovem da cidade. Esta característica foi determinante para a
escolha do bairro como objeto de estudo deste trabalho, aliado ao fato de ter apresentado elevados
índices de poluição sonora no período diurno, segundo a pesquisa Mapa Acústico de Belém
(MORAES; LARA, 2004).

3. MÉTODO DE ESTUDO
3.1 Amostragem
O trabalho constituiu-se como um estudo de caso simples, com abordagem quantitativa através de
entrevista direta. Contou-se com a participação de 200 moradores do bairro, de ambos os sexos,
sendo 104 do sexo masculino e 96 do sexo feminino, na faixa etária entre 18 e 72 anos. Tomou-se o
cuidado de selecionar pessoas que não estivessem expostos a alto nível de pressão sonora durante o
dia, e que não apresentassem patologias auditivas e neurológicas comprovadas, para não
influenciarem negativamente nas respostas da pesquisa.

3.2. Elaboração do questionário


O questionário foi elaborado a partir de referências de pesquisas realizadas em outros locais e da
literatura específica sobre o tema. O questionário contém 21 perguntas abertas e fechadas e abrange:
a) Identificação do morador: idade, sexo e tempo de moradia; b) Identificação de problemas
auditivos: percepção do indivíduo sobre sua saúde auditiva; c) Percepção do ruído diurno: fontes do
ruído diurno, nível de incômodo, classificação do ruído, percepção da relação entre ruído e tempo
de moradia; d) Percepção do ruído noturno: classificação do ruído noturno, nível de incômodo,
percepção de ruídos agradáveis e desagradáveis, influência do ruído noturno sobre as atividades de
vida diária, relação entre ruído noturno e problemas de saúde, com ênfase nos efeitos extra-
auditivos. O questionário foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade da Amazônia (Unama).

3.3. Identificação dos centros de entretenimento noturnos, seleção das residências e contato
com os moradores
O bairro do Umarizal contém 36 locais de entretenimento, entre bares, restaurantes, boates, casas de
show e lojas de conveniência. O locais se distribuem de forma heterogênea pelo bairro, e por este
motivo, estabeleceu-se duas zonas específicas para o estudo, uma contém 28 (zona 1) e a outra área
apenas 8 locais de entretenimento noturno (zona 2). Foi diagnosticada uma significativa diferença
entre as duas zonas, no que se refere ao acúmulo de pessoas nas calçadas, aumento e concentração
do tráfego de veículos e a utilização de músicas eletrônicas e/ou ao vivo dentro e fora dos recintos.
A partir daí foram selecionadas as residências multifamiliares e unifamiliares próximas a esses
locais. No primeiro momento, foram entregues 600 cartas explicativas sobre o projeto juntamente
com a cópia do questionário, posteriormente foi feito o agendamento da visita para a entrevista.
Dentre os 600 questionários distribuídos, 243 foram respondidos e devolvidos, sendo que 43 foram
excluídos por estarem fora dos critérios de seleção. Participaram do estudo 119 moradores da zona
1 e 81 moradores da zona 2.

3.4. Análises Estatísticas


Foram utilizados para o cruzamento dos dados testes estatísticos: teste Qui Quadrado: coeficiente de
Correlação de Spearman; teste G; e o teste de Kruskal-Wallis que é comparável a ANOVA (Um
critério).

526
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1. Perfil da população
A tabela 1 abaixo demonstra que, dos 200 entrevistados, 34 (17%) estão na faixa etária entre 48 e
54 anos, 30 (15%) entre 42 e 48 anos, 28 (14%) entre 54 e 60 anos, 27 (13,5%) entre 24 e 30 anos,
23 (11,5%) entre 60 e 66 anos, 21 (10,5%) entre 36 e 42 anos, 18 (9,0%) entre 30 e 36 anos, 14
(7,0%) entre 18 e 24 anos e apenas 5 (2,5%) entre 66 e 72 anos. Quanto ao tempo de moradia, 71
(35,5%) residem no mesmo local no período entre 7 e 10 anos, 60 (30%) no período entre 10 e 13
anos, 24 (12%), no período entre 4 e 7 anos, 23 (11,5%), no período entre 13 e 16 anos, 19 (9,5%)
no período entre 1 e 4 anos e 3 (1,5%), no período entre 16 e 19 anos.

Tabela 1: Dimensão das embarcações


Faixa etária Frequência Percentual
18 – 24 14 7.0
24 – 30 27 13.5
30 – 36 18 9.0
36 – 42 21 10.5
42 – 48 30 15.0
48 – 54 34 17.0
54 – 60 28 14.0
60 – 66 23 11.5
66 – 72 5 2.5
Total 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

4.2. Idade e incômodo com o ruído


O teste estatístico correlação de Spearman correlaciona as duas ou mais variáveis e apresenta
uma relação altamente significativa entre as duas variáveis pesquisadas. O valor negativo
demostra que a relação se dá de maneira inversa, ou seja, quanto maior a idade, menor o nível do
incômodo causado pelo ruído, como demonstra a tabela 2.

Tabela 2 - Cruzamento entre Idade e Incômodo com o ruído noturno.


Idade Incômodo com o ruído noturno Total %
Sim % Não %
18 – 24 11 5.5 3 1.5 14 7
24 – 30 27 13.5 0 0 27 13.5
30 – 36 18 9 0 0 18 9
36 – 42 20 10 1 0.5 21 10.5
42 – 48 13 6.5 17 8.5 30 15
48 – 54 6 3 28 14 34 17
54 – 60 3 1.5 25 12.5 28 14
60 – 66 3 1.5 20 10 23 11.5
66 – 72 2 1 3 1.5 5 2.5
Total 144 72 56 28 200 100
Correlação de Spearman rs = - 0,397; p < 0.0001 (Altamente Significativo)
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.
56 (28%) dos entrevistados afirmam não sentir incômodo com o ruído noturno, entretanto, dos
144 (72%) que sentem esse incômodo, 27 (13,5%) estão na faixa etária entre 24 e 30 anos, 20
(10%) entre 36 e 42 anos, 18 (9%) entre 30 e 36 anos, 13 (6,5%) entre 42 e 48 anos e 11 (5,5%)
entre 18 e 24 anos. Nas faixas etárias entre 48 e 72 anos, o percentual de incômodo foi baixo. Por
outro lado, dos 56 (28%) que afirmam não sentir incômodo com o ruído noturno, os maiores
percentuais encontram-se na faixa etária entre 42 e 72 anos, sendo 28 (14%), entre 48 e 54 anos,
25 (12,5%) entre 54 e 60 anos, 20 (10%) entre 60 e 66 anos, 17 (8,5%) entre 42 e 48 anos e 3
(1,5%) entre 66 e 72 anos. Nas faixas etárias entre 18 e 42 anos, os percentuais foram baixos.

527
Constata-se, portanto, que o incômodo com o ruído noturno foi maior nas faixas etárias entre 18
e 42 anos, diminuindo o nível de incômodo com o avançar da idade.
A literatura relata que os jovens apresentam um nível de tolerância maior que os mais idosos, em
função dos mesmos estarem em contato com o ruído de forma mais constante, principalmente se
forem associados aos momentos de lazer. Esta tolerância ao ruído tem relação com um dos
fatores psicofisiológicos, que é o nível de percepção do ruído, sendo maior em pessoas mais
jovens. Como os momentos de lazer são compreendidos como agradáveis e prazerosos pela
população de menor faixa etária, a tendência é existir uma acomodação a este tipo de ruído,
caracterizando os outros como desagradáveis (GERGES, 2000; PIMENTEL-SOUZA, 2000;
KWITKO, 2001; ZANNIN et al, 2002). Por outro lado, Nudelman et al (2001) e Saliba (2004)
afirmam que a diminuição da percepção do ruído por parte da população de maior faixa etária
pode estar relacionada às queixas de problemas auditivos. Pessoas mais idosas geralmente
apresentam as maiores queixas, como diminuição na acuidade auditiva, acarretando uma
dificuldade na classificação do ruído como incômodo ou não incômodo.

4.3. Percepção do nível de ruído


Com base na Tabela 3 nota-se que 183 (91,5%) referem morar em local ruidoso e destes, 96
(48%) classificam o ruído como muito intenso e 85 (42,5%), como intenso e apenas 2 (1%)
como pouco intenso. Dos 17 (8,5%) que referem não morar em local ruidoso, 15 (7,5%)
classificam o ruído como sendo pouco intenso e 2 (1%), como intenso. O resultado descrito
como Altamente Significativo, onde p < 0,0001, caracteriza uma relação entre as duas variáveis.
Desta forma, a percepção que o morador tem sobre o local ser ou não ruidoso influencia na
maneira como este morador classifica o ruído em pouco intenso, intenso ou muito intenso. O
nível de tolerância ao ruído, assim como aspectos psicofisiológicos das pessoas expostas a ele,
também são importantes fatores para diferenciar o que seja um ruído pouco intenso, intenso ou
muito intenso (GERGES, 2000; NUDELMANN et al, 2001; KWITKO, 2001; FREITAS, 2006).

Tabela 3 – Cruzamento entre morar em local ruidoso e classificação do ruído


Intensidade Você mora em local ruidoso? Total %
Sim % Não %
Pouco intenso 2 1 15 7.5 17 8.5
Intenso 85 42.5 2 1 87 43.5
Muito intenso 96 48 0 0 96 48
Total 183 91.5 17 8.5 200 100.0
G = 79,0501  p < 0,0001 (Altamente Significativo)
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

4.4. Aumento do ruído com o tempo de moradia


De acordo com a Tabela 4 abaixo, 173 entrevistados referem que o ruído aumentou com o tempo
de moradia, 47 (23,5%) deles delimitam o tráfego rodado e pessoas conversando nas calçadas,
como o ruído que mais aumentou com o tempo; 44 (22%) referem apenas o tráfego rodado; 33
(16,5%) a música ambiente; 32 (16%) a música ambiente juntamente com o tráfego rodado e 17
(8,5%) a buzina de automóveis como o ruído que mais aumentou com o tempo de moradia.

Tabela 4- Tipo de ruído que aumentou com o tempo de moradia no local


Tipo de ruído Frequência Percentual
Tráfego rodado e pessoas conversando 47 23.5
Tráfego rodado 44 22.0
Música ambiente 33 16.5
Tráfego rodado e música ambiente 32 16.0
Buzina de automóvel 17 8.5
Nenhum 27 13.5
Total 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

528
4.5. Tipo de ruído mais desagradável
60 (30%) dos entrevistados afirmam que todos os ruídos são considerados desagradáveis, 42
(21%) classificam o ruído de tráfego rodado o mais desagradável, 33 (16,5%) consideram o
ruído do tráfego rodado e o ruídos das construções, 23 (11,5%) os ruídos de construção e os
produzidos pelos vizinhos, 21 (10,5%) os de buzina de automóvel, 14 (7,0%) os de música
ambiente e os produzidos pelos vizinhos e 7 (3,5%) os de tráfego rodado e música ambiente.
Embora 124 (62%) entrevistados afirmam não haver ruído agradável, apenas 60 (30%)
classificam todos os ruídos como desagradáveis (Tabela 5).

Tabela 5- Tipo de ruído desagradável no local de moradia


Tipo de ruído desagradável Frequência Percentual
Todos os ruídos 60 30.5
Tráfego rodado 42 21.0
Trafego rodado e ruído de construção 33 16.5
Ruído de construção e vizinhos 23 11.5
Buzina de automóvel 21 10.5
Música ambiente e ruído de vizinhos 14 7.0
Trafego rodado e música ambiente 7 3.5
Total 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

4.6. Ruído noturno


Foi perguntado aos entrevistados se consideram que moram em um lugar ruidoso e que período
consideram mais incomodados com o ruído. 183 participantes consideram morar em local
ruidoso, destes, 111 (55%) referem o período noturno como sendo o mais ruidoso, 47 (23,5%)
relatam ser o período da manhã o mais ruidoso, enquanto que 25 (12,5%) referem a tarde como o
período do dia mais ruidoso.

Tabela 6- Classificação do ruído noturno Tabela 7- Nível de incômodo com o ruído noturno
Classificação Frequência Percentual Nível de incmodo Frequência Percentual
Pouco intenso 35 17.5 Pouco 25 12.5
Intenso 80 40.0 Muito 119 59.5
Muito intenso 85 42.5 Em branco 56 28.0
Total 200 100 Total 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009. Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

A Tabela 6 demonstra que 85 (42,5%) dos entrevistados classificam o ruído como muito intenso;
80 (40%), como intenso e 35 (17,5%) como pouco intenso. Neste caso, mesmo havendo
indivíduos que classificam o ruído noturno como intenso ou muito intenso 56 (28%) declara não
sentir incômodo com este nível de ruído. A Tabela 7 mostra que 144 (72%) sentem-se
incomodado com o ruído noturno, destes, 119 (59,5%) classificam o nível de muito incômodo e
25 (12,5%) referem sentir pouco incômodo com o ruído. Isto significa que o incômodo com o
ruído, assim como a maneira como o indivíduo classifica o ruído, independem de sua
intensidade, e sim de fatores intrínsecos ao indivíduo (PIMENTEL-SOUZA, 2000; GERGES,
2000; PAZ, FERREIRA,ZANNIN, 2005).

4.7. Atividades atrapalhadas pelo ruído noturno


Como mostra a Tabela 8 abaixo, das 137 (68,5%) pessoas que afirmam ser prejudicial o ruído
noturno nas atividades de vida diária, 37 (18,5%) afirmam como mais prejudicadas as atividades
de assistir televisão e dormir, 34 (17,0%) de ler e dormir, 32 (16,0%) de trabalhar em casa e
dormir, 9 (4,5%) de estudar e dormir, 8 (4%) de assistir televisão, 7 (3,5%) de dormir, 6 (3,0%)
de trabalhar em casa e 2 (1,0%) de ouvir música e de estudar. Observa-se que cada indivíduo
apresentou mais de uma queixa de prejuízos às atividades de vida diária, relacionados à

529
exposição ao ruído noturno. Quantificando os dados em números absolutos constata-se que
algumas atividades são mais prejudiciais que outras: dormir (119); assistir televisão (45);
trabalhar (38); ler (34) e estudar (11).

Tabela 8- Atividades que são atrapalhadas pelo ruído noturno


Atividades atrapalhadas Frequência Percentual
Assistir televisão e dormir 37 18.5
Ler e dormir 34 17.0
Trabalhar e dormir 32 16.0
Estudar e dormir 9 4.5
Assistir televisão 8 4.0
Dormir 7 3.5
Trabalhar 6 3.0
Ouvir música 2 1.0
Estudar 2 1.0
Não atrapalha 63 31.5
Total 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

4.8. Atitude de proteção do incômodo com o ruído


A Tabela 9 mostra que 51 (25,5%) dos entrevistados afirmam fecham as janelas para impedir ou
minimizar o incômodo causado pelo ruído noturno; 44 (22%) fecham as janelas e ligam o ar
condicionado; 38 (19%) aumentam o volume da televisão; 28 (14%) tentam se adaptar ao ruído;
20 (10,0%) não tomam qualquer atitude para impedir o ruído; e 19 (9,5%) pessoas saem de casa
como forma de evitar o incômodo.

Tabela 9- Atitudes para impedir ou minimizar o incômodo causado pelo ruído noturno
Atitudes para minimizar incômodo Frequência Percentual
Fechar as janelas 51 25.5
Fechar as janelas e ligar o ar condicionado 44 22.0
Aumentar o volume da televisão 38 19.0
Tentar se adaptar ao ruído 28 14.0
Sair de casa 19 9.5
Nada 20 10.0
Total 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

4.9. Ruído noturno e prejuízo à saúde


O resultado do teste Qui Quadrado indica que as duas variáveis estudadas se correlacionam de
maneira significativa. Desta forma, dos 85 (42,5%) entrevistados que classificam o ruído como
muito intenso, 69 (34%) afirmam sentir prejuízos à saúde, enquanto que 16 (8%) não sentem que
o ruído prejudique a saúde. Da mesma maneira, dos 80 (40%) que classificaram o ruído como
intenso, 64 (32%) sentem prejuízos à saúde, enquanto que 16 (8%), não sentem prejuízos à
saúde. 35 (17,5%) indivíduos classificam o ruído como pouco intenso, 20 (10%) destes sentem
que este prejudica a saúde, ao passo que 15 (7,5%) não referem prejuízos à saúde (Tabela 10).

Tabela 10- Cruzamento entre classificação do ruído noturno e prejuízo à saúde


Classificação Prejuízo à saúde Total %
ruído noturno Sim % Não %
Pouco intenso 20 10.0 15 7.5 35 17.5
Intenso 64 32.0 16 80. 80 40.0
Muito intenso 69 34.5 16 8.0 85 42.5
Total 153 76.5 47 23.5 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

530
5.0. Efeitos extra-auditivos da exposição ao ruído
A Tabela 11 ilustra que 74 (37%) identificam como efeitos extra-auditivos em consequência da
exposição ao ruído noturno a irritabilidade e a insônia; 58 (29,0%) a insônia e o estresse; 20
(10,0%) a insônia; 14 (7,0%) a cefaleia; 13 (6,5%) a irritabilidade; 12 (6,0%) a cefaléia e o
cansaço; 4 (2,0%) a insônia e a ansiedade; 3 ( 1,5%) o nervosismo e 2 (1,0%) a irritabilidade e a
cefaléia. Em número absolutos: 156 entrevistados manifestam insônia; 87 irritabilidade; 58
estresse; 28 cefaléia; 12 cansaço; 4 ansiedade e 3 nervosismo.

Tabela 10- Cruzamento entre classificação do ruído noturno e prejuízo à saúde


O que o ruído causa? Frequência Percentual
Irritabilidade e insônia 74 37.0
Insônia e estresse 58 29.0
Insônia 20 10.0
Cefaléia 14 7.0
Irritabilidade 13 6.5
Cefaléia e cansaço 12 6.0
Insônia e ansiedade 4 2.0
Nervosismo 3 1.5
Irritabilidade e cefaléia 2 1.0
Total 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

O teste Qui quadrado (Tabela 12), aponta o cruzamento como Altamente Significativo, o que
indica que a percepção que o indivíduo tem sobre se o ruído traz prejuízos à saúde e influencia
na identificação dos efeitos extra-auditivos.

Tabela 11- Cruzamento entre classificação do ruído noturno e prejuízo à saúde


O que o ruído causa Prejuízo à saúde do incômodo com o ruído noturno Total %
Sim % Não %
Irritabilidade 5 2.5 8 4 13 6.5
Cefaléia 4 2 10 5 14 7
Insônia 11 5.5 9 4.5 20 10
Insônia e estresse 56 28 2 1 58 29
Irritabilidade e insônia 60 30 14 7 74 37
Cefaléia e cansaço 11 5.5 1 0.5 12 6
Insônia e ansiedade 3 1.5 1 0.5 4 2
Irritabilidade e cefaléia 1 0.5 1 0.5 2 1
Nervosismo 2 1 1 0.5 3 1.5
Total 153 76.5 47 23.5 200 100
Fonte: NEGRÃO, A. 2009.

Ainda com base na Tabela 11 observa-se que 153 (76,5%) afirmam sentir que o ruído noturno
prejudica a sua saúde e destes 60 (30%) associam esse prejuízo ao aparecimento de insônia e
irritabilidade; 56 (28%) associam à insônia e estresse; 11 (5,5%) à insônia, cefaléia e cansaço; 5
(2,5%) à irritabilidade; 4 (2%) à cefaléia; 2 (1%) ao nervosismo e apenas 1 (0,5%) à
irritabilidade e à cefaléia. Mesmo havendo 47 (23%) que afirmam não sentirem que o ruído
noturno prejudica sua saúde, apresentam efeitos extra-auditivos associados ao ruído. Destaca-se
a irritabilidade, em 14 (7%) participantes, e a cefaléia em 10 (5%) participantes. Estudos
comprovam que as pessoas expostas a ruídos constantes apresentam queixas e sintomas
associados a este tipo de moléstia, mesmo que muitos dos sintomas sejam de origens distintas.
(FERREIRA JÚNIOR, 1998), (OITICICA et al, 1998), (PIMENTEL-SOUZA, 2000), (CARAM,
2001), (ZANNIN et al, 2002), (FREITAS, 2006).

531
CONCLUSÃO

O crescente e desordenado desenvolvimento do bairro nas últimas décadas repercute nos


altos índices sonoros percebidos pela população local. Os moradores notam que o ruído noturno
está aumentando com o tempo, principalmente em áreas próximas às avenidas principais do
bairro. Tanto os moradores das áreas próximas aos aglomerados de locais de entretenimento
noturno quanto os que residem longe delas registram o mesmo nível de incômodo e apresentam
as mesmas queixas de sintomas extra-auditivos. Esses efeitos surgem como consequência do
estresse que afeta a população, em função da constante exposição ao ruído produzido pelo
tráfego de veículos e pela música ambiente das casas noturnas. Estes dados indicam que os
sintomas extra-auditivos surgem mesmo quando o desconforto e o incômodo com o ruído são
menores, não estando diretamente associados à intensidade do ruído.
Fatores psicofisiológicos tais como: nível de percepção, nível de estresse, tempo de exposição e
condições biológicas, que são intrínsecos e individuais, determinam o grau de tolerância ao
ruído. O estresse com o desconforto acústico afeta a saúde física e mental das pessoas
entrevistadas, pois repercute negativamente em sua qualidade de vida. Os resultados deste estudo
comprovam que pesquisas sobre os efeitos do ruído urbano são necessários, para que medidas de
prevenção e controle sejam tomadas por parte da população afetada e pelos órgãos de gestão
competentes.

REFERÊNCIAS
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trabalhador ao ruído. In: Encontro Nacional sobre Conforto no Ambiente Construído, 6., 2001, São Pedro.
Anais... São Pedro: ENCAC, 11-14 de nov., 2001.
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3. FREITAS, A.P.M. Estudo do impacto ambiental causado pelo aumento da poluição sonora em áreas
próximas aos centros de lazer noturno na cidade de Santa Maria – RS. 2006. Dissertação - Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006.
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Pública. 2002. Disponível em: <www.fsp.usp.br/rsp>. Acesso em: 13 jan. 2008.

532
NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO SONORA DEVIDO À UTILIZAÇÃO DE
APARELHOS DE MÚSICA INDIVIDUAIS

FREITAS, Mayra Santos de1; GARAVELLI, Sérgio Luiz1; CARVALHO JR, Edson
Benício1; MAROJA, Armando de Mendonça3.
(1) Universidade Católica de Brasília (UCB); (2) Universidade de Brasília (UnB)

RESUMO
Os efeitos da exposição a níveis elevados de ruídos, por longos períodos, são conhecidos, porém os
relacionados às atividades de lazer como ouvir música em aparelhos portáteis foram poucos estudados. A
sociedade ainda não está ciente de que as atividades de lazer podem ser fonte de ruído ambiental
perigoso. Com a popularização dos aparelhos portáteis de música, o problema se agravou, já que os fones
de ouvido potencializam os níveis sonoros, por estarem em contato direto com o aparelho auditivo. Neste
trabalho, o principal objetivo foi avaliar os níveis de pressão sonora (NPS) durante o uso dos aparelhos de
música portáteis, considerando o ruído do ambiente em que o pesquisado se encontrava. A pesquisa foi
realizada com 200 voluntários, preferencialmente jovens, já que estes são os que poderão ter maiores
prejuízos futuros, pelo maior tempo de exposição, e pelo fato de não procurarem se proteger. No
momento da pesquisa, além da análise dos NPS e do ruído de fundo (RF), também foi aplicado um
questionário. Os resultados mostram os hábitos de utilização destes dispositivos pelos jovens e seus
comportamentos de risco, indicando que a maioria escuta música em seus aparelhos portáteis com volume
elevado por longos períodos. Pela análise dos possíveis danos induzidos pelo uso destes aparelhos, pode-
se verificar que a norma europeia é a mais rígida do que as brasileiras, colocando mais da metade dos
pesquisados dentre de uma área de risco para perda da audição.

ABSTRACT
The effects of exposure to high levels of noise for long periods are known, but those related to leisure
activities like listening to music on portable devices have been little studied. The society is not aware that
recreational activities can be dangerous source of environmental noise. With the spread of portable music
players, the problem has increased dramatically, because the earbuds potentiate the sound levels, being in
direct contact with the auditory canal. In this study, the objective was to evaluate the sound pressure
levels (SPL) for the use of portable music players, considering the noise environment where the
investigated stood. The survey was conducted with 200 volunteers, usually young, since these are the
ones who may have greater future losses, for exposure time, and because they do not seek to protect
themselves. At the moment of study, we analyzed the SPL and the ambient noise levels (ANL), along
with the application of a questionnaire. The results come down listening habits of music playing devices
by the young and their risky behaviors, indicating that most listen to music on their portable devices at
high volume for long periods. Through the analysis the possible damage induced by the use of these
devices, we can see that Europe is more severe than the Brazilian norms, adding more than half of
respondents within an area at risk for hearing loss.
Palavras-chave: Níveis de Exposição Sonora. Adolescentes, MP3, Ruídos, Perda Auditiva.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos ocorreu uma extraordinária popularização dos aparelhos portáteis de músicas,
principalmente os celulares. Na onda deste crescimento a exposição de jovens e adolescentes a
música em volume elevado aumentou consideravelmente e na mesma proporção os riscos de
danos à saúde (KASPER, 2006; VOGEL et al., 2008). Os efeitos do ruído ambiental na audição

533
ainda são mais reconhecidos como um risco ocupacional entre adultos do que como problema de
saúde pública entre crianças (NISKAR et al., 2001; VOGEL et al., 2011). Contudo, assim como
a perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional, a perda auditiva induzida pelo uso de aparelhos
de música portáteis está evoluindo para significativos problemas de saúde social e pública
atingindo jovens em diversos países, incluindo o Brasil. Porém, a sociedade ainda não está ciente
das muitas atividades não ocupacionais que podem ser fontes de ruído ambiental perigoso para
pessoas de todas as idades (VOGEL et al., 2011).

O Comitê SCENIHR (Scientific Committee on Emerging and Newly Identified Health Risks), que
trata sobre questões relativas aos riscos emergentes ou recém identificados para a saúde da
população, situado em Bruxelas, aplicou uma metodologia de avaliação de risco à saúde da
exposição ao ruído de dispositivos de música portáteis, que avalia se existe relação casual entre a
exposição e efeitos adversos à saúde. Considerando comportamento de risco a utilização por
mais de 1 hora diária destes aparelhos com um NPS igual ou superior a 89 dB(A).

Na literatura especializada, há vários trabalhos relacionando a exposição de jovens a níveis


elevados de pressão sonora provocada por música e perdas auditivas. Vogel e colaboradores
publicaram recentemente uma revisão e artigos sobre o assunto (VOGEL et al., 2008; 2009 e
2011). Outros trabalhos que relacionam perdas auditivas e a exposição a ruídos causados por
música podem ser destacados como os realizados pelos pesquisadores: Peng et al. (2007);
Williams (2005) e Comitê SCENIHR (2011). No Brasil, apesar de nossos jovens estarem
expostos ao mesmo tipo de agente, estudos neste sentido ainda são raros.

Especialistas da área afirmam que além dos jovens e de seus pais, os fabricantes dos aparelhos e
fones de ouvido e as autoridades também devem se envolver e se responsabilizar pela realização
de ações de proteção de saúde ambiental, procurando criar mais segurança aos usuários e tomar
medidas para proteger a juventude contra os perigos de ouvir música com fones de ouvido com
volume elevado (VOGEL et al., Maio 2009).

Em 1994, um estudo (NISKAR et al., 2001) comprovou, através de testes de audiometria, que as
crianças já estavam sendo afetadas com mudanças no limiar de audição devido ao excesso de
exposição a ruído. O estudo em questão indicava a necessidade de haver programas de triagem
audiométrica em crianças de idade escolar e campanhas adequadas de conservação auditiva.

Vogel e colaboradores (2010) realizaram um estudo que teve como objetivo investigar a teoria
da motivação de proteção baseada em construções, bem como a força das considerações de
consequências futuras e os hábitos como correlatos de risco entre adolescentes que utilizam MP3
players. O estudo encontrou algumas limitações, principalmente pelo fato de ter contado apenas
com o auto relato dos adolescentes. Não sendo realizadas medidas dos níveis de volume real a
que os pesquisados foram expostos, utilizando apenas os níveis de som encontrados na literatura
relacionada.
Para avaliar os possíveis danos à saúde física, mental e a audição que a utilização de tais
equipamentos pode causar, se faz necessário medir os níveis de pressão sonora a que os usuários
estão expostos. Porém, esta medida não é uma tarefa simples e deve ser feita onde o pesquisado
se encontra, já que pode depender do ruído ambiente.

Uma das principais causas de problemas auditivos em todo mundo é a exposição ao ruído
excessivo. A Diretiva Europeia 2003/10/CE para ruído, estabeleceu o limite equivalente de
exposição ao ruído de 80 dB(A) por oito horas diárias, cinco dias por semana, como sendo um
limite que previne as perdas auditivas. Cada vez mais está surgindo um alto risco de deficiência

534
auditiva fora do local de trabalho, com: o uso leitores de música pessoais (MP3’s), ida frequente
a shows, bares, assistindo esportes barulhentos, enfim, se expondo há ambientes barulhentos.
Estas fontes de ruído de lazer geram sons dentro de uma ampla frequência e faixas de nível de
pressão. Os sons que veem da música podem ser considerados tão perigosos para a audição
quanto o ruído industrial (SCENIHR, 2011).

Enquanto o ruído ocupacional vem diminuindo, estima-se que o número de jovens com
exposição ao ruído não ocupacional só vem crescendo. Fatores como: um aumento da qualidade
dos aparelhos de música portáteis; diminuição de preços; um aumento na venda destes aparelhos;
aparelhos celulares com a função de reprodução de música; tudo isto vem gerando uma
tendência para um risco crescente devido ao uso de fones de ouvido, quando o uso é inadequado
(SCENIHR, 2011).

Outro fator que está envolvido na avaliação do risco potencial, além do nível de intensidade, é o
tempo de exposição. Nível de exposição ao som superior a 80 dB(A) é considerado risco
potencial se a exposição a esse nível continua durante 8 horas por dia, cinco dias por semana por
dezenas de anos. A cada duplicação do nível de exposição (+3 dB), deve-se reduzir pela metade
o tempo de exposição. Segundo o Comitê SCENIHR (2011), o tipo de música e o ambiente
pouco influenciam os níveis de exposição.

A população de risco devido ao uso de aparelhos de música portáteis está crescendo e os


aparelhos possibilitam o uso em níveis de som cada vez mais altos. Pesquisadores apontam suas
preocupações em relação à falta de dados relacionados ao tema, como: as características dos
aparelhos, os atuais padrões de uso, duração, nível de saída, exposição de usuários a várias fontes
de som ao mesmo tempo em que escutam música em altos níveis; a contribuição de sons em
volumes elevados para a perda auditiva e zumbido, assim cognitivos (atenção, percepção,
memória, raciocínio, imaginação) e déficits de atenção em crianças e jovens; estudos de longo
prazo através de medidas mais sensíveis de deficiência auditiva para avaliar os impactos do uso
dos dispositivos de música portáteis, e identificar os subgrupos com maior potencial de risco
(como crianças, usuários que trabalham ou estudam em locais ruidosos, subgrupos genéticos ou
ambientais); uma base biológica da susceptibilidade individual ao ruído e aos benefícios dos
tratamentos farmacológicos; e se o uso excessivo leva a perda cognitiva e déficits de atenção
permanentes e irreversíveis após a interrupção do ruído (SCENIHR, 2011).

1.1. LEGISLAÇÕES
As normas e legislações que tratam do ruído em ambientes de trabalho estabelecem limites que
tentam enquadrar o risco de perda de audição dentro de limites admissíveis, reconhecendo, no
entanto que alguns indivíduos terão perda auditiva mesma em ambientes suavemente ruidosos, já
que algumas pessoas são mais suscetíveis do que outras à perda de audição provocada por ruído
(BISTAFA, 2006). Como não existem normas especificas para o ruído em situações de lazer, os
regulamentos e limites que se aplicam aos locais de trabalho poderão ser utilizados, pois eles
tratam sobre os níveis de exposição e duração em que o som tem um efeito negativo, como o de
leitores de música pessoais (SCENIHR, 2011).

A norma que regulamenta o ruído em ambientes de trabalho no Brasil é a NR-15 (Norma


Regulamentadora do Ministério do Trabalho), que regulamenta as atividades e operações
insalubres. Adotando 85 dB(A) como nível-critério para a jornada de trabalho de 8 horas, e 5 dB
como o fator de conversão ou de troca (q) (BISTAFA, 2006; NR-15, 2008). O fator de conversão
corresponde a relação entre o nível de ruído e a duração da exposição a este ruído, expressando o
aumento em dB(A) que leva a duplicidade do risco de lesão auditiva para um determinado tempo
de exposição (SANTOS, 1999). Outra norma que também se aplica à exposição ocupacional é a

535
NHO 01 (Norma de Higiene Ocupacional), que adota o mesmo limite de exposição diária que a
NR-15, porém é mais rígida em relação ao fator de troca (q), adotando 3 dB como incremento de
duplicidade de dose (NHO 01, 2001).

Os padrões internacionais (ISO 1999:1990) recomendam o nível de pressão sonora equivalente


de 85 dB(A) como o limite de exposição ao ruído ocupacional. Porém, este limite não garante a
segurança para o sistema auditivo dos trabalhadores (Comitê SCENIHR, 2011).

Na União Europeia, existem duas Diretivas do Parlamento Europeu e do Conselho que


regulamentam o ruído: a Diretiva 2002/49/CE relativa à avaliação e gestão do ruído ambiente; e
a Diretiva 2003/10/CE relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde em matéria de
exposição dos trabalhadores aos riscos devidos aos agentes físicos (ruído). A Diretiva
2003/10/CE apresenta um valor de exposição de 80 dB(A) para Leq,8hs, recomendando três níveis
de ação para ambientes profissionais, dependendo do nível de ruído equivalente a 8 horas de
trabalho por dia. Com fator de troca (q) de 3 dB; reduzindo o tempo de exposição para metade do
tempo para cada aumento de 3 dB(A) no nível de exposição (SCENIHR, 2011).

115
NR-15 (q=5 dB) NHO 01 (q=3 dB) Diretiva 2003/10/CE (q=3 dB)
110
Níveis de Pressão Sonora (dB)

105

100

95

90

85

80
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420 450 480
Máxima Exposição Permissível (min)

Figura 1: Máxima exposição diária permissível em função dos NPS


(adaptação das normas NR-15, NHO 01 e Directiva 2003/10/CE)

A Figura 1 expressa a máxima exposição diária permissível sem protetor auditivo em função dos
níveis de pressão, fazendo uma adaptação das normas NR-15, NHO 01 e Diretiva 2003/10/CE.
Observa-se pelo gráfico, que a NR-15, apesar de ser a mais atual, é a menos restritiva em relação
à permissividade do tempo de exposição em função dos níveis de pressão sonora. Segundo
Bistafa (2006) e de acordo com a legislação, quando o tempo de exposição e o nível de ruído
assumem valores até aqueles tolerados, a maioria da população não adquirirá perda auditiva
induzida por ruído (PAIR).

2. DESENVOLVIMENTO
O presente estudo teve como objetivo a analisar os níveis de pressão sonora (NPS) devido à
utilização de aparelhos de música individuais (MP3 players). Os objetivos específicos foram: a
verificação da existência de correlação entre os NPS e o ruído de fundo (RF) no momento da
536
exposição; a correlação entre os NPS e a idade dos usuários; a correlação entre os NPS e tempo
de exposição, analisando o risco de perda auditiva devido à utilização destes dispositivos.

2.1 COLETA DOS DADOS


A pesquisa foi realizada com 200 jovens, com idades que foram de 11 a 25 anos. A preferência
pelos jovens foi pelo fato destes estarem na faixa de maior risco, que poderão ter maiores
prejuízos futuros, principalmente pelo maior tempo de exposição diária e cumulativa. O
adaptador, Figura 2, foi utilizado para as medições dos NPS dos dispositivos de música.

Figura 2: Protótipo do adaptador

A coleta dos dados foi realizada nos locais em que os pesquisados se encontravam, como escolas
(dentro e fora), bibliotecas, paradas de ônibus e na rua. Nos locais de medição foram feitas
análises dos NPS emitidos pelos aparelhos portáteis e também o RF, todas as medidas foram
realizadas em bandas de oitava frequência. Para a medição, utilizou-se o medidor de nível de
pressão sonora Solo da 01dB, devidamente calibrado, com tripé e protetor de vento. Os
parâmetros avaliados foram coletados em resposta rápida (fast) a cada 1 segundo, no modo de
compensação A. As medidas tiveram duração de 1 minuto para a música emitida pelos aparelhos
portáteis e de 3 minutos para o ruído de fundo. Juntamente com as medidas acústicas foi aplicado
o questionário de pesquisa.

2.2 ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA


A elaboração do questionário foi realizada pelo Grupo de Pesquisa da UCB. O questionário foi
uma adaptação dos apresentados por Williams (2005) e Vogel (2009). O processo de elaboração
e adaptação do questionário teve várias versões, antes de finalizado, aplicou-se um teste de
validação com a participação de 20 voluntários.

O questionário apresentou questões sobre idade, sexo, média de anos de utilização destes
aparelhos, tempo médio de utilização diária, locais que mais costuma ouvir música, questões de
percepção auditiva e análise dos NPS e RF.

2.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS


Os dados do questionário foram tabulados no software Microsoft Excel e analisados com o
software estatístico SPSS. Para avaliar a possibilidade de perda auditiva foi considerado o tempo
médio diário e o nível de exposição diária, foram adotados como referência aos limites das
normas NR 15, NHO 01 e Diretiva 2003/10/CE. Para avaliar a possível relação entre as variáveis
quantitativas, foi realizada a correlação de Pearson (r) resultando em uma matriz de correlações.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através das análises dos 200 questionários aplicados, encontrou-se uma média dos níveis de
pressão sonora (NPS) de 90,4 dB(A) com desvio-padrão de 11,0 dB(A); o menor valor
encontrado foi de 62,9 dB(A) e o maior de 116,3 dB(A). Os NPS foram superiores a 85 dB(A)

537
no momento da pesquisa em 74% dos aparelhos, e 37 pesquisados estavam utilizando seus níveis
superiores a 100 dB(A). Quanto aos valores de ruído de fundo (RF) encontrados no momento da
pesquisa, a média foi de 69,5 dB(A) com desvio-padrão de 9,5 dB(A); valor mínimo de 49,4
dB(A) e valor máximo de 92,3 dB(A).

Dos pesquisados 51% eram do sexo feminino e 49% do sexo masculino. Em relação à idade dos
entrevistados, 8% possuem entre 10 e 15 anos; 61% entre 16 e 20 anos, 25% entre 21 e 25 anos,
o restante (5%) possui mais de 25 anos, estando fora da faixa inicial da pesquisa.

Dos pesquisados 5% estão cursando o Ensino Fundamental, 42% o Ensino Médio, 41% o Ensino
Superior e o restante 5% ou tinham terminado o Ensino Fundamental (2%) ou o Ensino Médio
(3%).

Quanto à análise dos resultados obtidos na Tabela 1, podem-se verificar alguns hábitos de uso
dos aparelhos de música portáteis. Observar-se que atualmente o celular é o dispositivo mais
utilizado para ouvir música (51%). Em relação à média de horas de uso por dia, a maioria dos
pesquisados (40%) costuma utilizar estes dispositivos entre 1 e 3 horas por dia. Quanto aos anos
de utilização, 29% utiliza estes aparelhos entre uma faixa de 3 e 5 anos. Os locais que os
pesquisados mais costumam usar aparelhos com fone de ouvido são em suas próprias casas
(57%), no trânsito (48%), e nas escolas (43%). E afirmaram que utilizam o volume em nível
igual (55%) ou mais alto (35%) ao que foi verificado no momento da pesquisa.

Tabela 1- Hábitos de uso dos aparelhos de música individuais


QUESTÃO 01 MP3/MP4 Discman iPod Celular Outros
Aparelho mais utilizado para ouvir música. 16,5% - 15,5% 51,0% 15,5%
QUESTÃO 02 <1 Entre 1 e 3 Entre 3 e 5 Entre 5 e 8 >8
Em média, quantas horas de uso por dia? 23,0% 40,0% 21,5% 7,5% 6,0%
QUESTÃO 03 <1 Entre 1 e 3 Entre 3 e 5 Entre 5 e 8 >8
Há quantos anos você usa esses aparelhos? 11,5% 23,5% 29,0% 20,5% 14,5%
QUESTÃO 04 Escola Trabalho Casa Trânsito Academia
Em qual(is) local(is) você costuma usar o aparelho? 42,5% 10,5% 57% 47,5% 22,0%
QUESTÃO 05 Mais baixo Igual Mais alto
Você costuma usar o volume mais baixo, igual ou mais alto que o atual? 7,5% 54,5% 35,0%

A Tabela 2 traz uma análise subjetiva da percepção de cada pesquisado quanto aos possíveis
problemas relacionados ao ruído.

Tabela 2- Percepção de possíveis problemas relacionados ao ruído


Quase Às Quase
Nunca Sempre
nunca vezes sempre
1. Você consegue se concentrar mesmo com outros sons à sua volta? 4,0% 5,5% 41,5% 32,5% 16,5%
2. Ouvir música te ajuda a manter a atenção e a concentração? 11,5% 11,5% 35,0% 25,5% 15,0%
3. Para você, é fácil ignorar barulho ao seu redor? 13,5% 15,5% 34,5% 25,0% 10,5%
4. Costuma ouvir zumbidos? 42,0% 33,0% 17,0% 2,5% 4,5%
5. Sente dificuldades de audição? 53,0% 22,0% 19,0% 3,5% 1,5%
6. Coloca o volume da TV ou do rádio mais alto que o resto da sua família? 32,0% 27,5% 22,5% 8,0% 10,0%
7. Pede que as pessoas repitam o que disseram? 11,5% 26,0% 35,0% 11,0% 6,5%

Cerca de 90% dos pesquisados, afirmaram que conseguem se concentrar mesmo com outros sons
à sua volta, pelo menos às vezes. Ouvir música também ajuda a manter a atenção e a
concentração, de 76% dos pesquisados, algumas vezes ou até todo o tempo. Cerca de 60% dos
pesquisados conseguem ignorar barulhos ao seu redor, às vezes ou quase sempre, enquanto que
uns 30% não conseguem ignorar nunca ou quase nunca o mesmo tipo de barulho. Dos

538
pesquisados, 75% afirmaram que nunca ou quase nunca costumam ouvir zumbidos ou sentem
dificuldade de audição, isso pode se justificar pelo fato da maioria dos pesquisados ainda não
terem ultrapassado os 20 anos, e provavelmente ainda não foram afetados por estes sintomas ou
não os percebem ainda. Dos pesquisados 82% afirmaram nunca colocar o volume da TV mais
alto que o resto da família ou só algumas vezes. Mesmo afirmando que não sentem dificuldades
de audição, apenas 12% dos pesquisados nunca pedem que as pessoas repitam o que disseram.

Para uma estimativa dos possíveis danos causados pelo ruído seria indicado uma avaliação
audiológica para a confirmação da existência ou não de alterações auditivas.

Na Tabela 3, pode-se observar que a escola é o local onde metade dos pesquisados passa a maior
parte do dia. Quanto à percepção de barulho, na maioria das vezes, estes locais, são pouco
barulhentos (32%) ou moderadamente barulhentos (29%).

Tabela 3- Local onde passa a maior parte do dia


QUESTÃO 01 Escola Casa Trabalho Outros
Onde você passa a maior parte do dia? 50,0% 21,0% 17,5% 11,5%
QUESTÃO 02 Silencioso Pouco Moderadamente Muito Extremamente
barulhento barulhento barulhento barulhento
Você considera este local: 10,5% 31,5% 29,0% 14,5% 8,0%

Para fazer uma análise dos possíveis danos induzidos pelo uso de aparelhos portáteis de música
adaptou-se uma tabela de comportamento de risco sugerido pela Scientific Committee on
Emerging and Newly Identified Health Risks (SENIHR, 2011), considerando comportamento de
risco utilizando como base os limites fornecidos pelas normas brasileiras NR-15 e NHO 01 e a
europeia Diretiva 2003/10/CE, de acordo com o tempo de exposição diário e os NPS utilizados
no momento da pesquisa.

A Tabela 4 apresenta os resultados da comparação, demonstrando que a norma europeia é mais


restritiva em relação aos limites que as normas brasileiras. De acordo com a Diretiva europeia,
64,5% dos pesquisados estariam dentro da área de risco para uma possível perda auditiva
induzida pelo uso de fones de ouvido, enquanto que na NR-15 apenas 39% dos mesmos
pesquisados estariam dentro da área de risco.

Tabela 4 - Comparação entre as normas vigentes


Legislação Diretiva 2003/10/CE NHO 01 NR-15
Frequência % Frequência % Frequência %
Há risco 129 64,5 103 51,5 78 39,0
Não há risco 68 34,0 94 47,0 119 59,5

Estudos semelhantes (NISKAR et al., 2001; VOGEL et al., Maio 2009; VOGEL et al., 2009; e VOGEL
et al., 2010) afirmam que a exposição prolongada à música alta pode provocar perda de audição, e que
os jovens são cada vez mais expostos a música em alto volume por causa dos aparelhos de música
portáteis. Eles comprovam que os jovens estão mais propensos a se envolverem em comportamentos de
risco do que comportamentos que busquem a proteção, como ouvir música em volumes elevados e deixar
de usar os limitadores de ruído presentes em alguns dispositivos. Na análise das correlações realizadas
através do SPSS, não foram observadas correlações significativas entre as variáveis.

3. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A pesquisa identificou que a maioria dos jovens escuta música em seus aparelhos portáteis com volume
elevado por longos períodos. O celular é atualmente o disposto mais utilizado para ouvir música com a
utilização de fones de ouvido.

539
Os pesquisados costumam usar estes aparelhos com mais frequência em casas, no trânsito e nas escolas.

O estou mostrou que os hábitos de utilização de aparelhos de música individuais pelos jovens pesquisados
estão expostos a um comportamento de risco, com possíveis danos à saúde auditiva destes indivíduos.
Mostrando que este é um problema de saúde pública.

AGRADECIMENTOS
A Jeane Marques, que me ajudou nos primeiros testes, à Nathália Rodrigues de Sousa, que participou da elaboração
do questionário e da aplicação de uma boa parte deles, e ao Hugo de Brito Lisboa. Ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Universidade Católica de Brasília e a Fundação de Apoio à
Pesquisa do DF, pelo apoio financeiro.

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540
 

SESSÃO 05-B

541
RUÍDO AMBIENTAL EM CIDADES DE MÉDIO PORTE: ESTUDO DOS
CASOS DAS CIDADES DE SÃO CARLOS E BAURU – SP

GIUNTA, Mariene Benutti; SOUZA, Léa Cristina Lucas de; VIVIANI, Eliane.
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos - SP.

RESUMO
Este artigo aborda questões da poluição sonora nas cidades de médio porte, verificando os níveis de pressão
sonora em frações urbanas em duas cidades do interior paulista: São Carlos e Bauru. Dados sonoros e de
tráfego em horários de picos, em dias típicos das cidades, foram levantados, assim como as características
físicas dos locais, tais como altura das edificações e uso e ocupação do solo. Foram encontrados níveis de
pressão sonora equivalente (LAeq) acima dos níveis de aceitabilidade do ruído em comunidades indicados
pela norma da ABNT NBR 10.151 em todos os pontos coletados do município de São Carlos, e na maioria
dos pontos coletados em Bauru.

ABSTRACT
This paper is about issues of noise pollution in medium sized cities, checking sound pressure levels, in two
urban cities in the interior of São Paulo: São Carlos and Bauru. Data sound and traffic in peak hours were
verified on a typical day, as well as physical characteristics of places such as height of buildings and land use
and soil. It was registered equivalent sound pressure levels (LAeq) above the levels of acceptability of noise
in communities indicated by the ABNT NBR 10151 at all points of São Carlos and in most points collected
in Bauru.
Palavras-chave: Conforto Acústico. Poluição sonora. Ruído Ambiental.

1. INTRODUÇÃO
O aumento considerável de veículos nos centros urbanos trouxe não apenas o problema do baixo
nível de mobilidade urbana, congestionamentos e poluição do ar, mas também um problema
invisível, porém de grande incômodo para a população: a poluição sonora.

Essa problemática não é apenas característica de cidades grandes, pois as cidades de médio porte já
convivem diariamente com essa dificuldade. Costa e Lourenço (2010), por exemplo, apontaram que
na cidade de Sorocaba, apenas 7,3% da área estudada ficou abaixo de 60 dB(A).

Diversas pesquisas apontam que um dos maiores responsáveis pela poluição sonora no meio urbano
é o tráfego de veículos, causando não apenas a degradação do meio ambiente, mas podendo trazer
diversos danos à saúde do homem (NUNES, 1999, ZANNIN et al., 2002, WHO, 2009, LIMA E
MORAES, 2011, CARVALHO, et al., 2011).

Em 1999, a Organização Mundial da Saúde publicou recomendações sobre os níveis de ruído nas
comunidades. Aquelas recomendações alertam também sobre os impactos negativos do ruído na
saúde e bem-estar do homem, como por exemplo: stress, irritabilidade, cefaléia, interferência na
comunicação, distúrbio do sono, efeitos cardiovasculares e danos auditivos e etc. (WHO, 1999;
FRANÇA, et al, 2010; MAROJA E GARAVELLI, 2011).

542
A Comunidade Europeia tem sido modelo para o planejamento acústico em suas cidades, com a
Diretiva de Ruído Ambiental 2002/49/EC, que obriga os membros da União Europeia a produzirem
mapas estratégicos de ruído para todas as aglomerações com mais de 250.000 habitantes, além de
exigir planos de ações e revisões quinquenais (EU, 2002).

No Brasil, em geral, não há instrumentos efetivamente aplicados em escala nacional para a melhoria
do ambiente sonoro no meio urbano. No entanto, para a normatização e recomendações sobre níveis
de ruídos nos ambientes externas e internos, utilizam-se como referências as NBR 10.152 e NBR
10.151, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1987; 2000). Apesar da existência
dessas recomendações, as cidades brasileiras ainda carecem de ferramentas elementares, como a
criação de uma base de dados acústicos e monitoramento do ruído. Esses são aspectos que podem
evidenciar a importância do quadro sonoro das cidades para toda a comunidade e para os órgãos
responsáveis.

Sobre essa questão, as cidades de médio e pequeno porte assumem um papel fundamental. Essas
apresentam um potencial mais propício ao tratamento preventivo dos ruídos do que as grandes
cidades, possibilitando melhores condições para que índices mais adequados de qualidade de vida
urbana sejam atingidos.

Com objetivo de caracterizar o nível de ruído ambiental que hoje ocorre em algumas cidades de
porte médio do interior paulista, dando início a um banco de dados acústicos voltados ao
planejamento urbano, essa pesquisa estuda duas frações em cidades distintas: São Carlos e Bauru.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
A cidade de São Carlos, localizada no centro do estado de São Paulo (figura 1) apresenta população
de 221.950 habitantes (IBGE, 2010). A área delimitada para o estudo foi o Centro. Trata-se de uma
zona de grande diversidade de uso e ocupação do solo, havendo residências, comércios e serviços,
contando ainda com um hospital particular e diversas escolas de ensino fundamental, médio,
cursinhos e berçários. Nessa fração são encontradas edificações térreas e edifícios de até 18
pavimentos.

A cidade de Bauru localiza-se no centro-oeste do estado (figura 1) apresenta população de 343.937


habitantes (IBGE, 2010). Nela, a área estudada foi o bairro Vila Cidade Universitária. Trata-se de
zona determinada como de uso misto, predominantemente residencial, porém contendo outros usos
como comércios e serviços. A área ainda se localiza entre o Shopping Center da cidade, a USP e o
antigo aeroporto. Possui diversidade construtiva em relação à verticalidade das edificações,
contendo desde casas térreas a edifícios de 18 pavimentos.

543
Figura 1: Localização geográfica da cidade de São Carlos e Bauru.
2.2. Metodologia
A pesquisa baseou-se em três etapas principais: levantamento de dados, tratamento de dados e
análise.

Para a primeira fase da pesquisa, realizaram-se os levantamentos. Dentro da fração urbana


estudada foram selecionados 48 pontos de referência para a cidade de São Carlos e 40 pontos
para Bauru. Neles foram coletados dados de níveis de pressão sonora, contagem e composição
do tráfego, dados sobre o uso e ocupação do solo, altura dos edifícios, tipo de pavimento das
vias, massa de vegetação representativa e topografia.

Na cidade de São Carlos, utilizou-se o medidor de pressão sonora da marca Brüel & Kjær, tipo
Hand-Held Analyser 2250-L. Na cidade de Bauru, usou-se o modelo DEC 5020 da marca
Instrument para a coleta de dados sonoros, ambos classificados como tipo 1 de precisão. Para
minimizar interferências causadas por ventos, foi acoplado um protetor de vento ao microfone
nos dois levantamentos.

Os aparelhos foram configurados com as especificações para medições externas de ruído


ambiental, utilizando a ponderação A, em tempo de resposta lenta (Slow). Foram medidos os
níveis de pressão sonora equivalente (LAeq) para ambas as cidades e, no caso de São Carlos,
também foi possível registrar os níveis estatísticos L10 e L90.

As campanhas de medição aconteceram em horários considerados de pico em três períodos,


sendo eles: o período da manhã (das 7h às 8h), inicio da tarde (das 12h às 13h) e fim da tarde
(das 18h às 19h). As medições ocorreram em dias típicos da semana (terça, quarta e quinta),
durante 5 minutos em cada ponto e afastadas 2,0 m de paredes e 1,2 m do chão.

As contagens de número de veículos aconteceram simultaneamente com as coletas de dados de


níveis de ruído e a composição do tráfego foi separada por veículos leves (veículos de passeio),
motocicletas, e veículos pesados (caminhões e ônibus). Para os demais levantamentos foram
feitas visitas ao local, auxiliadas por plantas cadastrais da prefeitura, bem como consulta ao
Google Earth.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados dos dados coletados de todos os pontos são apresentados para os três períodos de
medição. Embora haja áreas escolar e hospitalar dentro dessa região, o zoneamento da cidade
considera a área de São Carlos como de uso misto, com vocação comercial e administrativa,
sendo então o nível de aceitabilidade de ruído para ambientes externos, segundo a NBR 10.151,
de 60 dB(A) para os períodos estudados (diurno) e 55 dB(A) para o período noturno.

Na cidade de Bauru, a área estudada é de uso misto, predominantemente residencial. Nela os


níveis de aceitabilidade segundo a norma são de 55 dB(A) para o período estudados (diurno) e
50 dB(A) para o período noturno.

Os dados coletados de nível de pressão sonora equivalente (LAeq), L10 e L90 estão
representados nas figuras 2, 3 e 4 para a cidade de São Carlos, enquanto as figuras 5, 6 e 7
caracterizam o quadro de Bauru.

Para o período da manhã, na cidade de São Carlos verificou-se o valor mínimo de 60 dB(A) no
ponto 2 e o valor máximo de 80 dB(A) no ponto 33, medidos em LAeq. Nota-se que o ruído de

544
fundo (L90) fica em torno de 50 a 65 dB(A), com alguns pontos caracterizando níveis acima do
limite aceito pela norma.
110
Níveis de pressão sonora [dB(A)]
100
90
MOTOCICLETAS (unidade)
80
Veículos (unid.)

70 PESADO (unidade)
60 LEVE (unidade)
50
40 ABNT [dB(A)]
30 LAeq [dB(A)]
20
LA10 [dB(A)]
10
0 LA90 [dB(A)]
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47

Pontos

Figura 2: Dados de níveis de pressão sonora e tráfego para o período da manhã de São Carlos.

Para o período de início da tarde tem-se como valor mínimo 60 dB(A) no ponto 3 e valor
máximo 76 dB(A) no ponto 33, medidos em LAeq. A faixa de ruído de fundo fica em torno de
45 a 65 dB(A).

140
130
120
Níveis de pressão sonora [dB(A)]

110
100 MOTOCICLETAS (unidades)
Veículos (unid.)

90
PESADO (unidades)
80
70 LEVE (unidades)
60 ABNT [dB(A)]
50
LAeq [dB(A)]
40
30 LA10 [dB(A)]
20 LA90 [dB(A)]
10
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47
Pontos

Figura 3: Dados de níveis de pressão sonora e tráfego para o período de início da tarde de São Carlos.

O período do fim da tarde tem como valor mínimo 62 dB(A) no ponto 6 e máximo 76 dB(A) no
ponto 34. Os resultados se aproximaram dos resultados anteriores por terem características
semelhantes em relação ao fluxo de veículos por se tratarem de horários de picos. Todos os
pontos medidos em LAeq também ficaram acima do limite aceitável.

545
180
160
Níveis de pressão sonora [dB(A)]
140
MOTOCICLETAS (unidades)
120
Veículos (unid.)

PESADO (unidades)
100
LEVE (unidades)
80
ABNT [dB(A)]
60 Laeq [dB(A)]
40 LA10 [dB(A)]
20 LA90 [dB(A)]
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47
Pontos

Figura 4: Dados de níveis de pressão sonora e tráfego para o período do fim da tarde de São Carlos.

Nos períodos coletados na cidade de São Carlos, a maioria dos pontos ficaram acima do limite
indicado pelas normas vigentes. Isso faz com que muitos moradores, estudantes (grande parte da
população flutuante da cidade) e trabalhadores fiquem expostos a níveis de ruído elevados
durante vários períodos do dia.

Nota-se, a partir dos dados, que o ruído de fundo (L90) nos três períodos estudados estão em
torno de 45 a 65 dB(A), ou seja, muitos pontos já estão acima do nível aceitável em função do
ruído dos arredores.

Considerando a diferença entre L10 e L90 como indicador do incômodo do ruído, verificou-se
que em São Carlos, o período de início da tarde (12 às 13h) foi o período considerado de maior
incômodo, sendo o do fim da tarde o de menor incômodo causado.

Embora o ruído gerado no período do início da tarde seja o de maior incômodo, esse período foi
considerado aquele de ruído menos intenso em relação aos outros períodos. Já o período da
manhã demonstrou-se com ruídos mais elevados em mais pontos, caracterizando assim o pior
período entre aqueles estudados em LAeq.

Uma das causas dos níveis excessivos encontrados é o intenso tráfego urbano nessa área central
da cidade. Nota-se nos gráficos uma relação não apenas com a quantidade total de veículos, mas
principalmente com a composição desse tráfego, onde a quantidade de motocicletas, caminhões e
ônibus fazem com que o ruído se intensifique.

Porém, os dados não podem ser explicados apenas pela correlação entre fluxo de veículos,
composição e intensidade sonora, pois as superfícies urbanas têm fator de influência nessa
propagação sonora, fazendo com que o som seja intensificado ou amenizado de acordo com seu
entorno.

Na cidade Bauru, para o período da manhã, o menor valor registrado foi de 52 B(A) no ponto 23
e 72dB(A) no ponto 7.

546
80

Níveis de pressâo sonora [dB(A)]


75
70
65
60
55
Veículos (unid.)

50
45
40 Veículos (unidades)
35
30 LAeq - manhã [dB(A)]
25
20 ABNT [dB(A)]
15
10
5
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Pontos

Figura 5: Níveis de pressão sonora no período da manhã na cidade de Bauru.

Para o período de início da tarde, o menor valor encontrado foi de 48 dB(A) no ponto 13 e o
maior valor foi 74 dB(A) no ponto 24.

80
75
Níveis de pressâo sonora [dB(A)]

70
65
60
55
Veículos (unid.)

50
45
40 Veículos (unidades)
35
30 LAeq - Inicio da tarde [dB(A)]
25
20 ABNT [dB(A)]
15
10
5
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Pontos

Figura 6: Níveis de pressão sonora no período de início da tarde na cidade de Bauru.

O período do entardecer se caracteriza com valores de 54 dB(A) no ponto 2 e 75dB(A) no ponto


4. Nesse caso, todos os pontos se mostraram no limite ou acima dos limites aceitáveis.

547
80
75

Níveis de pressâo sonora [dB(A)]


70
65
60
55
Veículos (unid.)

50
45
40 Veículos (unidades)
35
30 LAeq - Fim da tarde [dB(A)]
25
ABNT [dB(A)]
20
15
10
5
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Pontos

Figura 7: Níveis de pressão sonora no período do fim da tarde na cidade de Bauru.

O quadro de Bauru demonstrou que este período é o considerado de maior ruído na maioria dos
pontos levantados, e o período do início da tarde se mantém com os menores valores.

No levantamento de Bauru a composição do tráfego não foi levantada, pois a área possui um
fluxo de veículos menos intenso e mais homogêneo em relação aos tipos de veículos, por se
tratar de uma área residencial. Além da área não ser cortada por nenhuma via arterial, embora
seja circundada por duas, algumas dessas ruas são classificadas como coletoras, fazendo com que
o fluxo de veículos seja um pouco mais intenso em relação às outras vias e servindo de ligação
entre aquelas avenidas. Por isso, ao contrário do que se esperaria para uma área
predominantemente residencial, o ambiente se mostrou com ruídos excessivos em quase toda a
área, com forte relação com a quantidade de veículos em muitos pontos.

Além das superfícies urbanas, outro fator que influencia o ambiente sonoro é o uso e ocupação
do solo. Pontos em que há comércios e serviços tendem a emitir ruídos do próprio
estabelecimento, influenciando também no entorno.

4. CONCLUSÕES
Embora dentro das residências esses ruídos sejam atenuados por barreiras como muros, taludes e
paredes, os pedestres, usuários de transporte público ou os próprios motoristas estão expostos a
níveis de ruído excessivos ao estar no ambiente externo. Mesmo o desempenho nos ambientes
internos também pode estar prejudicado, havendo necessidade de serem utilizadas soluções de
fachadas que permitam melhor conforto ao usuário.

Os resultados confirmam a necessidade de controle e planejamento acústico nas cidades. A


análise de ruído no meio urbano deveria ser considerada juntamente com o planejamento das
cidades, pois soluções para essa problemática em cidades já consolidadas se tornam complexas e
dispendiosas, sendo a melhor solução a ação preventiva desse quadro.

Além dos levantamentos dos níveis de ruído, se faz necessária a criação de todo o mapeamento
destes e a base de dados completa de todo o território das cidades, compreendendo o
monitoramento contínuo sistematizado. Isso colaboraria para a criação de uma base sólida para a
aplicação de planos de ações que mitiguem o problema em áreas mais críticas e previna em áreas

548
possíveis de conflitos. Além disso, é importante também que se faça possível a divulgação para a
comunidade, como indicado pela Diretiva Europeia.

Apesar do problema apresentado por essa pesquisa não ser uma novidade, investigações dessa
natureza ainda são necessárias devido à carência de base de dados sobre o tema. As cidades
brasileiras ainda hoje não apresentam nenhum tipo de projeto para o monitoramento das
condições acústicas, demonstrando um atraso em relação a países mais desenvolvidos.

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549
ANÁLISE DE ACÚSTICA URBANA NO BAIRRO DE LAGOA NOVA,
NATAL/RN

ARAÚJO, Bianca1; CORTÊS, Marina2; DUARTE, Ana Beatriz3; PINTO, Débora4;


(1) Professora Doutora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, UFRN, dantasbianca@gmail.com
(2) Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, FAU/UFRJ, marinameco@hotmail.com
(3) Graduanda do Programa de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFRN, abeatrizduarte@hotmail.com
(4) Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFRN, deboranpinto@gmail.com

RESUMO
A tendência de crescimento das grandes cidades faz com que o nível de som perturbador se torne cada
vez mais imponente, degradando a qualidade do meio ambiente e provocando danos visíveis aos seres
humanos e para a cidade. O mapeamento de ruído é uma importante ferramenta de planejamento urbano
que apresenta uma informação visual do comportamento acústico de uma área geográfica, em um
determinado momento. Um analise bioclimática do espaço urbano, de forma a embasar uma análise de
ruído ambiental pode ser uma ferramenta importante para um mapeamento acústico. Desta forma, este
trabalho visa uma análise de ruído ambiental no bairro de Lagoa Nova em Natal/Brazil, tendo em vista
que o bairro em estudo está passando atualmente por grandes mudanças por causa da construção do novo
estádio para a Copa do Mundo de 2014. Para isso, foi aplicada a metodologia de Katzchner (1997) que,
dentre outros fatores propõe uma análise dos mapas de uso do solo, hierarquia viária (recobrimento do
solo), gabarito das edificações, áreas verdes e topografia, sendo acrescentado a este a análise dos níveis de
ruído. Como resultado foi elaborado um mapa em que se destacaram as áreas críticas, sensíveis e estáveis,
ou seja, quais as áreas que precisam de maior atenção, com intervenções em que também se pense em
medidas de atenuação sonora. As medições em campo revelaram também que os níveis de ruído estão
acima do recomendado pela norma, na maioria dos pontos medidos e com a tendência de saturação do
fluxo de veículos dessas principais avenidas irá agravar a qualidade de vida da população do bairro.

ABSTRACT
The growing trend of big cities makes the disturbing sound level becomes ever more impressive,
degrading the quality of the environment and causing visible damage to humans and to the city. The noise
mapping is an important tool of urban planning that presents visual information of the acoustic behavior
of a geographical area in a given time. A bioclimatic analysis of urban space in order to support an
analysis of environmental noise can be an important tool for an acoustic mapping. Thus, this study aims
at analysis of environmental noise in the neighborhood of Lagoa Nova, Natal / Brazil in order to study the
neighborhood is currently undergoing major changes because of the construction of the new stadium for
the World Cup 2014. For this, we applied the methodology of Katzchner (1997) that, among other factors
presents an analysis of maps of land use, road hierarchy (soil covering), feedback from buildings, green
areas and topography, being added to this analysis noise levels. As a result we designed a map that
highlights the critical areas, sensitive and stable, which areas need more attention, with interventions that
also consider measures to mitigate noise. The field measurements also revealed that noise levels are
above the recommended standard, the majority of measured points and the tendency of saturation of the
main traffic flow of these avenues will worsen the quality of life of the neighborhood.
Palavras-chave: Conforto acústico urbano. Ruído. Ensino.

550
1. INTRODUÇÃO
A poluição sonora provoca uma degradação na qualidade do meio ambiente e se apresenta como
um dos problemas ambientais mais frequentes nas grandes cidades. Vários estudos mostram os
malefícios que a exposição ao ruído pode trazer ao ser humano, interferindo diretamente na
saúde psicológica e fisiológica. Na escala urbana é uma das principais causas de desvalorização
de residências localizadas em zonas centrais, podendo modificar até mesmo a organização da
cidade, interferindo na sua distribuição e no seu crescimento (MARCELO, 2006).

São inúmeras as fontes sonoras como os aviões, trens, veículos, construções, indústrias,
comércios e serviços. O ruído gerado pelo trânsito é o mais comum e com o desenvolvimento do
setor se tornou o maior problema para o conforto acústico urbano. A intensidade do som
resultante do tráfego viário depende de vários fatores como: tipo, qualidade e velocidade dos
veículos; qualidade da pavimentação; características dos pneus dos carros e fluxo do tráfego,
com aceleração e desaceleração (MOTA, 1981). Vale ressaltar também que o ruído de tráfego é
composto pela sobreposição de ruídos de muitos veículos, além das distintas condições dos
mesmos (MENDEZ, 1994). Percebe-se, além disto, que a variação do nível sonoro das vias está
relacionada não só com a questão dos veículos, mas também com a morfologia urbana.

O que se observa, em geral, é que o excesso de ruído urbano está associado à explosão
demográfica das cidades, juntamente com a falta de uma política urbana e de aplicação de
normas que controlem os níveis de emissão de ruído de tráfego (SANCHO; SENCHERMES,
1982). Desta forma, o mapeamento de ruído é uma importante ferramenta de planejamento
urbano que apresenta uma informação visual do comportamento acústico de uma área
geográfica, em um determinado momento (PINTO; MORENO, 2008). Consiste na medição do
nível de ruído nas ruas, ajudando a identificar áreas com níveis sonoros acima dos permitidos,
bem como as fontes emissoras. Com os mapas também é possível se pensar em diferentes
cenários futuros e prever o impacto de novas estruturas e atividades no local estudado. Assim,
apresenta a possibilidade de construção de um plano de ação para controle do ruído e ajuda no
estabelecimento de legislações, promovendo uma melhoraria na qualidade de vida das pessoas.

Desta forma, este trabalho objetiva realizar uma análise do ruído urbano em uma porção da
cidade de Natal/RN, de forma a diagnosticar o espaço do ponto de vista acústico aliando
ferramentas de análise bioclimática urbana. Para o estudo teste no bairro central de Lagoa Nova
na cidade de Natal-RN, foram realizadas medições em alguns pontos, identificando zonas dentro
e fora dos limites aceitáveis e mostrando quais são as áreas mais críticas, que precisam de
medidas de atenuação sonora. Além disto, cabe destacar que o bairro escolhido está passando
atualmente por grandes mudanças devido à construção do novo estádio para a Copa do Mundo
de 2014. Assim, será possível futuramente verificar se melhorou e o que mudou com as reformas
no local.

2. ÁREA DE ESTUDO
O bairro escolhido para o desenvolvimento da pesquisa é Lagoa Nova, localizado na região
administrativa sul da cidade de Natal-RN (ver Fig. 1 e 2).

551
Lagoa
Nova

Figura 2: Mapa da zona sul de Natal com destaque para


Figura 1: Mapa de Natal com regiões administrativas. o bairro de Lagoa Nova.
Fonte: SEMURB (2008), modificado. Fonte: SEMURB (2008), modificado.

Lagoa Nova começou a se desenvolver no início da década de 60, com a criação de conjuntos
habitacionais que deram impulso à aglomeração. Está situado na “zona adensável” da cidade e é
predominantemente residencial, apresentando um total de 73,23% de imóveis residenciais
(SEMURB, 2008). Possui três avenidas de grande importância para a cidade, que ao longo delas
o comércio e serviço são as atividades principais - Av. Senador Salgado Filho, Av. Prudente de
Morais e Av. Bernardo Vieira. (ver Fig. 3). No bairro está localizada a Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, porém por ser uma área atípica para as análises, foi retirado do estudo.
Abrigava também o antigo estádio de futebol, o João Machado (Machadão), que acabou de ser
demolido juntamente com o ginásio Machadinho, para a construção do novo estádio (Arena das
Dunas) para a Copa do Mundo de 2014. O entorno do estádio apresenta uma área de intenso
tráfego e com tendência a saturação viária, com a proximidade das duas avenidas de maior fluxo
da cidade, a Av. Senador Salgado Filho e a Av. Prudente de Morais (ver Fig. 4).

Figura 3: Mapa uso do solo - Lagoa Nova.


Fonte: MACEDO, 2005, modificado. Figura 4: Mapa hierarquia de vias - Lagoa Nova.

552
3. MATERIAIS E MÉTODOS
As medições de ruído de tráfego foram
realizadas em 82 pontos do bairro. Todas
as 5 vias arteriais e as 13 coletoras foram
medidas, entretanto, para as vias locais se
apresentaram selecionadas aquelas situadas
nos centros da malha (ver Fig. 5). Durante
esse período também foi contabilizado o
fluxo de veículos.

As medições foram planejadas para terem a


duração de 05 minutos. Além disto, foram
feitas entre os horários das 14:00h às
16:00h, nos dias de semana típicos, sem
interferências de chuvas e padrão normal
de trânsito. Este horário foi escolhido
baseado em um estudo da Secretaria de
Urbanismo do Rio grande do Norte. (SIN-
RN, 2008)

Figura 5. Mapa com localização dos pontos de


medição.
Este estudo mostra, através de uma análise do volume de tráfego, em todas as horas do dia,
durante um período de medição considerável na Av. Senador Salgado Filho, que este período
possui características de tráfego mais estáveis e duradouras, o que auxiliaria na exeqüibilidade
das medições.

O medidor utilizado para os registros/medições da pressão sonora foi o Medidor de Nível Sonoro
da marca 01dB, modelo SOLO SLM, Tipo 2. O equipamento possui recursos de medição de
nível de pressão sonora equivalentes (LAeq), conforme a IEC 60804, medições paralelas de nível
de pressão sonora (com 1 ponderação temporal): Start / Stop, 30-140 dBA em um único range.
Possui ainda filtro de bandas de oitavas (1/1) em tempo real (16Hz-16kHz) - média, mínimo,
máximo, e filtro de bandas de oitavas (1/3) em tempo real (12,5Hz-20kHz) - média, mínimo,
máximo.

O medidor de nível sonoro foi posicionado, segundo a NBR 10151(2000), a 1,2m do chão e a 2m
das edificações, quando possível- em direção aos ventos dominantes, para não criar barreira. Nos
canteiros o aparelho foi posicionado no seu alinhamento para captar o ruído nos dois sentidos da
via. Já nas calçadas foi colocado perpendicularmente à via. As medições foram realizadas
sempre nas áreas entre os semáforos para evitar a aceleração ou desaceleração dos veículos. Nas
vias que possuíam grande comprimento, foram feitos mais de um ponto de medição, de forma
que cada ponto localizasse no máximo 500 metros um do outro.

Foram registrados os dados de LAeq - Nível de Pressão Sonoro Equivalente (freqüência em


bandas de oitava). Os níveis de pressão sonoras foram medidos na escala A, expressa em dB (A)
e utilizou-se a indicação de resposta lenta do medidor, conforme as Normas Técnicas adotadas.
O equipamento está aferido dentro dos padrões requeridos para o ensaio, em função do
Certificado de Calibração e tempo de aquisição do mesmo.

553
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por Natal possuir legislação municipal menos restritivas do que as normas federais para controle
do ruído, foi utilizada a norma ABNT NBR 10151/2000, que dispõe sobre a medição e avaliação
dos níveis de sons urbanos, estabelecendo níveis de ruído aceitáveis para áreas específicas de
ocupação. No caso do bairro estudado, considerando que é uma área mista, predominantemente
residencial, o Nível Critério de Avaliação (NCA) para ambientes externos é de 55dB(A) no
período diurno. Porém, apenas seis dos pontos medidos se apresentaram dentro dos índices
exigidos pela norma (ver Fig. 6).

Figura 6. Gráfico da quantidade de pontos medidos dentro e fora do nível aceitável pela ABNT NBR 10151/2000.

Em relação à contagem dos veículos, percebe-se que as avenidas arteriais são as mais
movimentadas e possuem também uma maior presença de edifícios comerciais e de serviços,
conseqüentemente são as vias com maiores níveis de ruído. A avenida com maior fluxo de
veículos é a Senador Salgado Filho, registrando uma média de 586 veículos contabilizados
durante os 5 minutos de medição e nos 3 pontos selecionados. É a única via do bairro em que o
Laeq é acima de 76dB(A) em toda a sua extensão (ver Fig. 7).

Figura 7. Análise de ruído com a quantidade de veículos em cada ponto de medição.

554
No Plano Diretor de Transporte Metropolitano da Região Metropolitana do Natal-RN –
PDTM/RMN (SIN-RN, 2008) mostra que a frota de veículos na cidade subiu de 100.988 em
2001 para 139.731 em 2007. Verificou-se, também, que o crescimento das viagens por transporte
coletivo será de 36% e de 74% por transporte individual até o ano de 2027. Este fenômeno
certamente trará maiores impactos no sistema viário e a previsão é que o tempo dentro do
veículo aumente e a velocidade diminua devido à falta de estrutura urbana que não suporta o
crescimento da cidade. Além dos veículos e população local, valores de pico irão surgir com
eventos, como é no caso da copa de futebol FIFA em 2014.

No PDTM/RMN (2008) também foi realizado um estudo em que estimaram as demandas de


viagens futuras para o transporte coletivo e individual nos anos de 2012, 2017 e 2027. A figura 8
apresenta o carregamento apenas dos transportes individuais, destacando Lagoa Nova, em 2012 e
2027, no horário de pico da manhã, caso seja utilizado a “Alternativa Nada a Fazer”. Esta
alternativa não prevê intervenções físicas no sistema viário e administra o crescimento da
demanda de transporte coletivo, consistindo basicamente na manutenção e continuidade da
configuração da rede em termos físicos e tecnológicos. O bairro de Lagoa Nova está localizado
numa zona de intenso tráfego e já apresenta muitos pontos instáveis e alguns saturados,
agravando a situação em 2027 (ver Fig. 8).

Figura 8: Carregamento de transportes individuais – “Nada a Fazer”, 2012 e 2027, respectivamente, no horário de
pico da manhã.
Fonte: SIN-RN, 2008, modificado.

Percebe-se, assim, que os níveis de ruído estão acima do recomendado pela norma, na maioria
dos pontos medidos e com a tendência de saturação do fluxo de veículos dessas principais
avenidas irá piorar a qualidade de vida da população do bairro.
Para embasar a análise da área, foi aplicada a metodologia de análise bioclimática urbana de
Katzchner (1997) que, dentre outros fatores propõe uma análise dos mapas de uso do solo,
hierarquia viária (recobrimento do solo), gabarito das edificações, áreas verdes e topografia,
sendo acrescentado a este a análise dos níveis de ruído realizada. Desta forma, foi elaborado um
mapa em que se destacaram as áreas críticas, sensíveis e estáveis, ou seja, quais as áreas que
precisam de maior atenção, com intervenções em que também se pense em medidas de atenuação
sonora (ver Fig. 9).

555
Figura 9. Mapa das áreas críticas, sensíveis e estáveis.

5. CONCLUSÕES
Com as questões referentes à acústica do espaço urbano, parece que foi assumida a premissa de
que nas cidades, devido à necessidade do tráfego de veículos, o ruído é inevitável e que nada
pode ser feito. Porém, diversos estudos demonstram que existem instrumentos de traçado urbano
e barreiras acústicas com enorme potencial para reduzir o impacto sonoro no meio urbano.

Através de uma análise do espaço urbano, notadamente do ponto de vista acústico, pode-se
identificar os principais componentes que influenciam no ruído urbano, verificar as fontes
sonoras, detectar quais áreas precisa de tratamento e o que pode ser feito para melhorar a
qualidade sonora do ambiente construído.

Neste trabalho, mesmo sendo aplicada uma metodologia simples, foi possível realizar de forma
prática e rápida, um diagnóstico do espaço urbano, com bons resultados para uma primeira
impressão geral da área, do ponto de vista acústico embasado em dados de análise bioclimática
urbana.

Em relação ao estudo em Lagoa Nova foi possível perceber que a maioria dos pontos onde foram
realizadas as medições apresentou níveis acima do aceitável pela ABNT NBR 10151(2000),
medidos fora do horário de pico de movimentação dos veículos, que é a principal fonte sonora do
bairro. Percebe-se, desta forma, que as vias arteriais carecem de uma série de tratamento para
uma melhoria da qualidade acústica da região. Conclui-se, ainda, que a ferramenta de mapa de
ruído tende a ser extremamente interessante para o mercado imobiliário e para a Prefeitura, a
qual poderia utilizar para criar ou rever suas leis de zoneamento e uso do solo.

556
AGRADECIMENTOS
A equipe de bolsistas da pesquisa de poluição sonora pelo levantamento de dados a campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: Avaliação do nível do ruído
em áreas habitadas visando o conforto da comunidade. Rio de Janeiro, 2000.
2. Katzchner, l. Urban climate studies as tools for urban planning and architecture. In: Encontro Nacional sobre
Conforto no Ambiente Construído, IV, 1997, Slavador. Anais... Slavador, p. 49-58. 1997
3. MACEDO, Maria Eleonora Silva. Análise da interferência da legislação urbanística no crescimento do
bairro de Lagoa Nova: planos diretores de 1974, 1984, 1994. Dissertação (mestrado). Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Natal, 2005.
4. MARCELO, C. B. Sons e Formas: As barreiras acústicas na atenuação do ruído na cidade. Dissertação de
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2006.
5. MÉNDEZ, et AL. Acustica Arquitectonica. Universidade Del Museo Social Argentino. Buenos Aires, 1994.
6. SEUTÔNIO, Mota. Planejamento Urbano e Preservação Ambiental. Fortaleza, CE: PROEDI UFC, 1981.

7. PINTO, Fernando A. N. C.; MORENO, Maysa D. Mapa de ruido de barrios densamente poblados: Ejemplo
de Copacabana, Rio de Janeiro – Brasil. VI Congresso Iberoamericano de Acústica - FIA 2008. Buenos Aires,
2008.
8. SANCHO, V. Mestre; SENCHERMES, A. Garcia. Curso de ACUSTICA. 1983.
9. SIN /RN - SECRETARIA DE INFRA-ESTRUTURA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Plano
Diretor de Transporte Metropolitano da Região Metropolitana do Natal-RN. Natal, 2008.
10. SEMURB - SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E URBANISMO. Conheça melhor o seu
bairro: Lagoa Nova. Natal, 2008.

557
ESTUDO DA PAISAGEM SONORA DO JARDIM BOTÂNICO BOSQUE
RODRIGUES ALVES EM BELÉM-PA

COELHO, T.C.C.¹;LOBO SOARES, A.C.¹; BENTO COELHO, J.L.²; COSTA, F.M.¹


(1) Museu Paraense Emílio Goeldi, Brasil; (2) CAPS, Instituto Superior Técnico, UTL, Lisboa, Portugal.

RESUMO
O Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves está inserido em uma complexa malha urbana de Belém, Pará,
Brasil, onde o tráfego rodoviário e o uso do solo em seu entorno podem estar agredindo a qualidade acústica
de seus diversos ambientes internos. Visando estudar a paisagem sonora do Bosque, os autores identificaram
as fontes sonoras naturais e derivadas de atividades humanas; mediram os níveis sonoros (LAeq) em 22
pontos internos e externos; analisaram os usos dos espaços de recreação, educação e lazer; entrevistaram
visitantes e funcionários; e compararam os resultados obtidos com as leis e normas nacionais e municipais
que regulam o ruído urbano. Os resultados obtidos confirmam que em todo o perímetro do Bosque os níveis
sonoros normalizados estão excedidos, comprometendo a qualidade do ambiente interno do Bosque.
Também se concluiu que este comprometimento foi pouco percebido pelos usuários entrevistados do
Bosque.

ABSTRACT
The Botanical Garden Bosque Rodrigues Alves is embedded in a complex urban area of Belem, Para, Brazil,
where the surrounding road traffic and land use may be disturbing the acoustic quality of its various
environments. In order to study the Bosque’s soundscape, the authors identified the contributing sound
sources derived from natural and human activities; measured the sound pressure levels (LAeq) at 22 points
inside and outside; analyzed the land uses for recreation, education and leisure purposes; interviewed
visitors and employees; and compared the results with the applying national regulations and municipal urban
noise ordinances. The results of this study confirm that in the entire Bosque’s perimeter the sound level
limits are exceeded, thus compromising the quality of the inner sound environment and the activities inside.
It was further concluded that this compromise was not fully perceived by some respondents, users of the
Bosque.
Palavras-chave: Amazônia, Belém, Parque urbano, Paisagem Sonora, Ambiente sonoro, Ruído.

1. INTRODUÇÃO
O Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves (Bosque) é formado por um fragmento de floresta
preservado em uma quadra de 15ha no bairro do Marco, na cidade de Belém, norte do Brasil. Foi
criado como espaço de lazer em 1881, marcando o que até então era o limite da cidade. Sua
configuração interna foi definida em 1903: subdividido em quatro quadrantes, que abrigam viveiros
de animais, monumentos como grutas, cascatas e lagos, além de uma flora diversificada formada
por árvores nativas e exóticas. Hoje, está inserido em uma malha urbana complexa, cuja ocupação
do solo tem se mostrado prejudicial e cada vez mais impactante a sua conservação.

O Bosque, que é administrado pela prefeitura de Belém, ganhou o status de “Jardim Botânico” no
ano de 2003, passando a integrar uma importante rede nacional e internacional de espaços de
preservação natural e histórica, a Botanic Gardens Conservation International (BGCI). A
conservação das suas características naturais, bem como a oferta de opções de educação fazem com

558
que seja bastante procurado pela população estudantil, durante a semana e, principalmente, nos
finais de semana pelo público em geral, em busca de lazer.

O Bosque é circundado por importantes vias de transporte rodoviário: Av. Almirante Barroso, Tv.
Lomas Valentinas, Av. Rômulo Maiorana e Tv. Perebebuí. O mapa acústico da cidade de Belém,
indica que no seu entorno os níveis sonoros (LAeq) encontravam-se, no período de 2002 a 2004,
entre 65dB(A) e 75dB(A) (MORAES; LARA, 2004). Um dos objetivos deste estudo consiste em
identificar se o fluxo intenso de veículos nestas vias e a ocupação do solo no entorno do Bosque
comprometem a sua qualidade ambiental e, por conseguinte, as atividades que são desenvolvidas
em seu interior.

A fim de caracterizar a paisagem sonora do Bosque, tendo como referência Leis municipais,
Normas Brasileiras e recomendações do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA),
entrevistaram-se visitantes e funcionários, e identificaram-se e mediram-se os sons naturais e os
derivados de atividades humanas em seu interior (Figura 1) e exterior, como por exemplo, sons de
pássaros, insetos, fontes de água, serviços de manutenção, obras, vendedores ambulantes, tráfego
rodoviário e aéreo. Os resultados são apresentados a seguir.

Figura 1: Espaços onde se concentram visitantes no interior do Bosque.


Fonte: Lobo Soares, 2011.

2. DESENVOLVIMENTO

Para melhor caracterizar as áreas verdes de interesse público, o Plano Diretor de Belém enquadra o
Bosque em dois zoneamentos, o de Ambiente Urbano (ZAU6, setor II) e o Especial de Interesse
Ambiental, este último por ter como função a conservação das características ambientais da cidade e
oferecer espaços destinados ao lazer da população (BELÉM, 2008). A NBR 10.151 define para área
mista predominantemente residencial, como a ZAU6, valores máximos de LAeq de 55dB(A) diurno
e 50dB(A) noturno (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000)

O Bosque é circundado por gradil de ferro sobre um muro de 0.80m, com exceção do pórtico de
entrada principal de visitantes, situado na Av. Almirante Barroso (Figura 2). Possui outros dois
acessos, restritos a funcionários e aos veículos destes e de manutenção.

Figura 2: Pórtico de entrada principal, gradil de ferro de proteção e estacionamento de carros de


Funcionários no interior do Bosque.
Fonte: Lobo Soares, 2011.

Visando identificar as fontes sonoras e os níveis sonoros presentes no Bosque e seu entorno, foram
escolhidos sete pontos (7) externos, a partir da circulação de transporte rodoviário, e quinze (15)

559
pontos de concentração de visitantes e funcionários nas vias internas. Nos pontos externos, partiu-se
do princípio de que o Bosque, como outras áreas verdes semelhantes envolvidas pela malha urbana
das grandes cidades brasileiras, sofre o impacto do tráfego rodoviário, constituído de motocicletas,
carros de passeio, caminhões, ônibus e vans, além de “sirenes de ambulâncias, bombeiros e polícia,
“carros sons” de publicidade, carros com sons automotivos em alto volume, fogos de artifício, obras
públicas e privadas” (LOBO SOARES, 2009, p. 136) (Figura 3).

Figura 3: Imagem de satélite (Google Maps) com posicionamento dos pontos de medição.
Fonte: Google Maps com desenho de Coelho T.C.C., 2012.

O trabalho de campo foi realizado em três momentos de novembro de 2011. Nos dias e pontos de
medição da Tabela 1 identificaram-se os componentes da paisagem sonora (i); mediram-se os níveis
de pressão sonora (ii), contaram-se os veículos nos pontos externos ao Bosque (iii), e entrevistaram-
se visitantes e funcionários do Bosque (iv).

Tabela 1: Pontos de medição no trabalho de campo.


Data Tempo Pontos
(em minutos)
17/nov 85 1 a 16
20/nov 90 1 a 4; 6; 7; 9 a 12; 14; 16 a 22
21/nov 60 1; 2; 4; 6; 16 a 22

i) Para cada um dos vinte e dois pontos de medição, foram realizadas anotações sobre os sons
percebidos no intervalo de cinco minutos. Considerou-se a audição humana como um filtro
semântico inigualável, capaz de separar as diversas fontes sonoras de um ambiente, mesmo
misturadas (BOUBEZARI; BENTO COELHO, 2005). A identificação das fontes sonoras
através da audição humana é capaz de distinguir os componentes da paisagem sonora ao passo
que a intensidade desses componentes é mensurada no sonômetro, no mesmo intervalo de
tempo.

Registraram-se como fontes sonoras: tráfego rodoviário e aéreo; materiais e equipamentos


utilizados no Bosque e/ou no seu entorno; construções, obras e reformas; sons da natureza e de
atividades sociais.

560
ii) Visando a análise quantitativa da paisagem sonora do Bosque, foram medidos os valores de
LAeq nos mesmos dias, pontos e horários em que foi realizado o procedimento (i). Considerou-
se a recomendação da Norma Brasileira de Ruído (NBR-10151) em que os equipamentos de
medição dos níveis de pressão sonora devem estar preponderados em malha “A” (GERGES,
2001). A calibração do equipamento foi realizada previamente em laboratório.

iii) Para a compreensão dos resultados de medição de LAeq, realizou-se a contagem de veículos,
nos seguintes pontos: Av. Almirante Barroso (16); Tv. Lomas Valentinas (17 e 18); Av.
Rômulo Maiorana (19 e 20) e Tv. Perebebuí (21 e 22), com a classificação de Motos, Leves,
Pesados e Vans. Os veículos nestas vias foram contados com o uso do aparelho manual Veeder
Root, concomitantemente ao processo (i) e (ii).

iv) Aplicou-se aos frequentadores do Bosque um questionário composto de perguntas abertas com
o objetivo de constatar como estes percebem a paisagem sonora do Bosque.

Na primeira visita ao campo determinaram-se os pontos internos de interesse, tendo sido excluídos
das demais medições os pontos 5, 8, 13 e 15, por não apresentarem número relevante de visitantes
e/ou diferença de LAeq em relação aos pontos externos próximos a eles.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Tabela 2 sintetiza os resultados das medições de LAeq internas e externas ao Bosque:

Tabela 2: síntese dos resultados de LAeq no Bosque, por ponto de medição.


Lei Municipal LAeq Lei Municipal LAeq
Ponto Ponto
7990/2000 dB(A) 7990/2000 dB(A)
1 55 65,8 16 55 76,4
2 55 63,2 17 55 74,5
3 55 61,8 18 55 71,7
4 55 65,5 19 55 74,3
Pontos Externos
Pontos Internos

6 55 62,6 20 55 65,3
7 55 58,1 21 55 71,3
9 55 57,6 22 55 65,1
10 55 57,9
11 55 56,3
12 55 52,7
14 55 57,4
15 55 52,6

Os valores de LAeq obtidos nas medições dos pontos internos refletem as atividades (educação,
lazer e comércio) que se desenvolvem próximas a eles e, ainda, são influenciados pelo tráfego
gerado nas avenidas de entorno. Utilizou-se como parâmetro de conforto acústico o nível de pressão
sonora (LAeq) definido na legislação sobre o controle da poluição sonora no município de Belém
(BELÉM, 2000) e na resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2001).

Obtiveram-se apenas dois resultados dentro das recomendações legais para a zona em que o Bosque
está inserido, fundamentando a hipótese de que mesmo os pontos mais centrais estão sujeitos aos
altos níveis de pressão sonora de fontes externas. As características destes dois pontos são
semelhantes: no 15 não há visitação, o acesso público é proibido, além de situar-se próximo à Av.

561
Rômulo Maiorana e à Tv. Lomas Valentinas. O 12 localiza-se em espaço pouco frequentado pelos
visitantes, próximo à quarentena de animais, à Av. Rômulo Maiorana e à Tv. Perebebuí.

Algumas características do Bosque contribuem para que o ruído seja perceptível em toda a sua
extensão: o gradil que o cerca; as trilhas de visitação que se transformam, com ajuda do vento, em
vetores de propagação de ruído; e a vegetação de sub-bosque que não atua como barreira acústica.

Algumas atividades desenvolvidas no entorno do Bosque revelaram-se determinantes nos valores


obtidos de LAeq tais como: construção civil privada na Tv. Enéas Pinheiro, perpendicular a Av.
Almirante Barroso; o Aeroporto Brigadeiro Protásio de Oliveria, situado a duas quadras do Bosque,
que opera com aeronaves de aviação geral não regular de pequeno porte (EMPRESA BRASILEIRA
DE INFRA-ESTRUTURA AEROPORTUÁRIA, 2012); e o ginásio da Universidade do Estado do
Pará, na Tv. Perebebuí, alugado regularmente a atividades de esporte, cultos religiosos e shows,
conforme informou a administração do Bosque.

No que se refere à caracterização da paisagem sonora do Bosque, identificaram-se fontes sonoras


distintas, provenientes de: tráfego rodoviário, tráfego aéreo, uso de materiais e equipamentos na
conservação do Bosque, construção civil, da natureza e atividades recreativas, educativas e de lazer.
A contribuição destas fontes é determinante à composição da paisagem sonora que envolve os
espaços de convivência, lazer e educação do Bosque, cujos níveis sonoros são normalizados pela lei
municipal 7990/2000 e pelo CONAMA em 55dB(A) no período diurno e 50dB(A) no período
noturno, para a área predominantemente residencial em que o Bosque está inserido.

3.1. Fontes sonoras


Os sons da natureza mais significativos são emitidos pelas aves em viveiros, com destaque para
Jandaia Verdadeira (Aratinga jandaya), Periquitão Maracanã (Aratinga leocophtalma), Papagaio do
Mangue (Amazona amazonica) e Maitaca-de-Cabeça-Azul (Pionus menstruus). As demais
contribuições sonoras naturais à paisagem do Bosque vêm de pequenos pássaros urbanos, de insetos
(cigarras e grilos) cujas espécies não foram identificadas e dos Macacos-de-cheiro (Saquinus
sciureus) que circulam livremente nas copas das árvores.

Identificaram-se quatro fontes de água do tempo da implantação do Bosque no século XXI, cujos
sons foram percebidos e registrados, a saber: Lago do Peixe Boi (3), Cascata (4), Monumento dos
Intendentes (10), e Lago das Princesas (14) (Figura 4).

Figura 4: Fontes de água localizadas nos pontos 3, 4, 10 e 14 do Bosque.


Fonte: Lobos Soares, 2011.

A influência dos sons de natureza correspondentes às fontes de água e as aves em viveiros,


localizados em pontos fixos do Bosque, encontra-se registrada respectivamente nas Figuras 5 e 6.

As atividades recreativas e de lazer ocorrem com maior intensidade nos finais de semana e as
educativas, constituídas de visitas escolares programadas, durante a semana. Predomina o público
infantil tanto durante a semana como nos finais de semana, o qual contribui com suas falas e gritos
para a paisagem sonora do Bosque.

562
Figuras 5 e 6: Área de influência dos sons das fontes de água e dos animais em viveiros.
Fonte: Coelho, 2011.

Os pontos de medição 3, 5, 6, 7, 9, e 10 foram posicionados nos espaços de recreação e educação.


Os principais contribuintes para os resultados de LAeq foram os sons de brinquedos tipo teco-teco
nos pontos (9), (10) e (16), e de crianças brincando em gangorras, escorregas e balanços em parque
infantil no ponto (6) (Figura 7).

Figura 7: Brinquedo “Teco-teco” e parque infantil.


Fonte: Lobo Soares, 2011.

Registrou-se a presença de equipamentos de ar-refrigerado na Brinquedoteca (7), na Quarentena de


animais (12), no Chalé de ferro (1) e na administração (11). Outros equipamentos de manutenção
como motosserra (usada na poda de árvores), trator (usado na limpeza), compressor de água (para
lavagem de calçadas) e carros de passeio (usados no transporte de cargas em atividades
sócio/educativas) contribuem para a paisagem sonora do Bosque. O uso destes é mais intenso às
segundas-feiras, quando o Bosque não é aberto à visitação pública. A influência dos sons de
atividades recreativas e de lazer, e dos aparelhos de ar-refrigerado, encontra-se registrada
respectivamente nas Figuras 8 e 9.

Figura 8 e 9: Área de influência dos sons de atividades recreativas e de lazer; e de aparelhos de


ar-Refrigerado.
Fonte: Coelho, 2011.

563
A influência dos sons das fontes de água, animais em viveiros, atividades recreativas e aparelhos de
ar-refrigerado, representada na Figuras 10, demonstra que só os pontos 12 e 15 estão dentro dos
parâmetros legais.

Figura 10 - Mapa das fontes sonoras de água, viveiros, recreação e equipamentos; e a soma
destes com o tráfego rodoviário.
Fonte: Coelho, 2011.

3.2. Análise qualitativa


Foram aplicados 63 questionários visando obter informações sobre o perfil de utilização do Bosque
(freqüência de visita, tempo de permanência, sexo, idade, escolaridade e bairro de origem), e
percepção ambiental e sonora de visitantes e funcionários.Quanto aos aspectos mais agradáveis do
Bosque, destacaram-se o clima (19,1%); o silêncio e a tranqüilidade (16%); os animais (15%); a
vegetação (12,8%); e “tudo” (16,6%), expressão que, juntamente com natureza (6,4%), demonstra a
percepção do ambiente como um todo.

Quanto aos sons identificados nas entrevistas, o de pássaros, com destaque às Araras em viveiros
(38,5%), e do tráfego rodoviário (13,7%) foram os mais recorrentes, seguidos pelos sons do vento
nas árvores (9,4%) e dos macacos, cigarras e crianças (6%). 96,8% dos entrevistados confirmaram
que a qualidade sonora muda a partir do momento em que se entra no Bosque. Apesar disto, muitos
entrevistados não souberam indicar em que aspecto essa mudança ocorre, ignorando a existência de
fontes ruidosas no entorno do Bosque como o tráfego rodoviário, obras de construção civil e a
decolagem de aviões em aeroporto próximo. Os funcionários se mostraram mais sensíveis ao som
do tráfego rodoviário, porém quando questionados se a intensidade deste tipo de som lhes
incomodava, as respostas foram todas negativas.

Apesar dos resultados de LAeq terem confirmado o comprometimento da maioria dos espaços do
Bosque quanto ao conforto acústico, 74% dos entrevistados não se sentem incomodados com a
intensidade dos sons, considerada normal por 54% dos entrevistados. Com exceção de uma minoria
(10%) que se referiu aos gritos de crianças e das pessoas de forma negativa, 90% dos entrevistados
disse que não existem sons desagradáveis no Bosque. Houve alusão significativa (42%) ao tráfego
rodoviário do entorno do Bosque como um som negativo.

4. CONCLUSÕES
Constatou-se que a maioria dos pontos de medição no Bosque excederam 55dB(A), nível
recomendado para o período diurno pela Lei Municipal e pelo CONAMA. Os locais mais
prejudicados estão situados na periferia do Bosque, devido à influência do tráfego rodoviário,
porém, obtiveram-se níveis de LAeq elevados também naqueles pontos situados mais ao centro. Este
resultado demonstra que enquanto o ruído de tráfego rodoviário reduz no centro do Bosque, devido
ao afastamento da fonte, aumenta a influência dos sons recreativos do parque infantil (6), da
brinquedoteca (7), do lago central (14) e da fonte do Monumento aos Intendentes (10).

564
Os níveis de pressão sonora mais elevados, um pouco acima de 65 dB(A), estão nos pontos (1) e
(4), localizados próximos à Av. Almirante Barroso, confirmando que desta via provém a maior
contribuição à paisagem sonora do Bosque. No entanto, nas respostas aos questionários, apenas uma
minoria de 20% dos entrevistados se apercebeu do tráfego rodoviário nas vias do entorno, sendo que
destes, a maioria é composta de funcionários que passam oito ou mais horas diárias no Bosque.
Apesar dos funcionários terem se mostrado mais sensíveis ao som do tráfego rodoviário, quando
questionados se a intensidade deste tipo de som lhes incomodava, as respostas foram todas
negativas, revelando que a sua percepção valoriza as componentes sonoras naturais e agradáveis do
interior do parque.Observou-se que, além dos sons do tráfego rodoviário e dos intrínsecos ao
Bosque, integram sua paisagem os sons das obras de construção civil e decolagem dos aviões no
aeroporto próximo. No entanto, estas fontes não foram percebidas pelos funcionários e visitantes em
nenhum dos locais de entrevista. Sem medições noturnas, não se registrou a contribuição dos
eventos realizados no ginásio da Universidade do Estado do Pará, localizado próximo ao ponto (1).

Algumas características arquitetônicas, como a grade de proteção e o desenho paisagístico do


bosque sensibilizam ainda mais seus espaços. A primeira por apresentar permeabilidade acústica
total, e a segunda por facilitar a penetração dos ventos dominantes e do ruído do entorno. A frase a
seguir, de um dos visitamtes do Bosque, resume a percepção destes sobre a sua paisagem sonora:
“Eu queria este som lá em casa, com esta calma, estes passarinhos, este lago com estes peixes”.

5. AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de
bolsas de Iniciação Científica; à Direção do Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves, pelo apoio
ao trabalho de campo; ao Grupo de Vibrações e Acústica da UFPA, pelo empréstimo do sonômetro;
e ao Museu Paraense Emílio Goeldi pela infraestrutura de apoio a este estudo.

REFERÊNCIAS
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR-10151: Acústica - Avaliação do ruído em
área habitada, visando o conforto da comunidade. Procedimento. Rio de Janeiro. 2000.
2. Belém. Lei n. 7.990, de 10 de janeiro de 2000. Dispõe sobre o controle e o combate à poluição sonora no âmbito do
Município de Belém. Disponível em:
http://www.belem.pa.gov.br/semaj/app/Sistema/view_lei.php?id_lei=773. Acesso em: 14 dez. 2011.
3. _____. Lei n. 8.655, de 30 de julho de 2008. Dispõe sobre o Plano Diretor do Município de Belém e dá outras
providências. Disponível em:
<http://www.belem.pa.gov.br/planodiretor/Plano_diretor_atual/Lei_N865508_plano_diretor.pdf > Acesso em: 10
nov. 2011.
4. Boubezari, M; Bento Coelho, J. L. A Method For the Assessment of Sounds as Perceived Separately From Their
Background. TecniAcustica, 36º Congreso Nacional de Acústica y Encuentro Ibérico de Acústica, Terrassa,
Barcelona 2005.
5. Brasil. Resolução CONAMA nº 01 de 08/03/1990. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, dispõe
sobre critério e padrões de emissão de ruídos, das atividades industriais. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res90/res0190.html>. Acesso em: 10 nov. 2011.
6. Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – Infraero. Disponível em
http://www.infraero.gov.br/index.php/br/aeroportos/para/aeroporto-de-belem-brigadeiro-protasio-de-oliveira.html.
Acesso em: 02 jan. 2012.
7. Gerges, Samir N. Y. Efeitos do Ruído e de Vibrações no Homem. In: Revista Semestral da SOBRAC. 27, p.18-32,
jul. 2001.
8. Lobo Soares, A.C. Impactos da Urbanização Sobre Parques Públicos: Estudo de caso do Parque Zoobotânico do
Museu Paraense Emílio Goeldi, 2009. Dissertação (mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano),
Universidade da Amazônia
9. Moraes, E.; Lara, N., “Mapa acústico de Belém”, Relatório de Pesquisa, Universidade da Amazônia, [1 CD-ROM]
(2004).

565
LEVANTAMENTO DOS NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA EM ESPAÇOS
PÚBLICOS DE LAZER DA ÁREA CENTRAL DE SANTA MARIA – RS.

Brum, C. M.1; Gaida Viero, C. R. ²; Alves, A.³; Kemerich, P. D. C.4; Dorneles Filho, L. F. 5
(1) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – UFSM, crmrbr@gmail.com; (2) Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – UFSM, claudiagaida@hotmail.com; (3) Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – UFSM, alessandro1979@gmail.com; (4) Docente de Graduação
do Curso de Engenharia Ambiental UFSM/CESNORS, pdkc@pop.com.br; (5) Bolsista de Graduação em
Engenharia Acústica – UFSM, dornelesfilho@gmail.com.

RESUMO
Os espaços públicos de lazer se constituem num importante elo entre o poder público e a comunidade,
essenciais para eventos e acontecimentos de importância social e histórica. Este trabalho teve como
objetivo analisar a poluição sonora dos espaços públicos de lazer da cidade de Santa Maria – RS baseado
no levantamento dos níveis de pressão sonora (NPS) nas áreas centrais. Essas áreas se constituem em sete
espaços denominados: Praça Saldanha Marinho, Parque Itaimbé, Praça Sarturnino de Brito, Praça Roque
Gonzáles, Canteiros Central da Avenida Rio Branco, Praça Cristóvão Colombo e Largo Maçônico. Os
espaços foram selecionados por serem situados na área central da cidade de Santa Maria – RS de acordo
com o Plano Diretor local. O presente estudo e seus resultados servirão de subsídios aos órgãos gestores
municipais, para as ações de planejamento e gestão destes espaços destinados à população. Análise
realizada mostrou entre outras considerações, que as esquinas desses espaços, foram os pontos de
medição que apresentaram os maiores níveis de pressão sonora, especialmente as que estão no trecho de
maior tráfego de veículos durante o início do período noturno.

Palavras-chave: Ruído Ambiental, Acústica Ambiental, Poluição Sonora.

ABSTRACT
The public spaces of leisure constitute an important link between the government and the community,
essential for events and events of social and historical importance. This study aimed to analyze the noise
pollution of public spaces for leisure in the city of Santa Maria - RS-based survey of sound pressure
levels (SPL) in the central areas. These areas are called in seven areas: Square Saldanha Marinho, Itaimbé
Park, Plaza de Brito Sarturnino Square, Roque Gonzales, flowerbeds Central on Avenue Rio Branco,
Square Columbus and Masonic Square. The areas were selected because they are located in the
downtown area of Santa Maria - RS according to the Master Plan site. This study and its results will be
grants to local governing bodies, for the actions of planning and management of these spaces to the
population. Analysis showed among other considerations, that the corners of these spaces were the points
of measurement that showed the highest sound pressure levels, especially those in greatest stretch of
vehicular traffic during the early night.

Keywords: Environmental Noise, Environmental Acoustics, Noise Pollution.

1. INTRODUÇÃO
No atual cenário de desenvolvimento urbano, a problemática ambiental tem se tornado um
assunto de importância para a vida das pessoas. Assim, os espaços públicos de lazer tornaram-se
os principais ícones de defesa do meio ambiente pela sua degradação, e pelo exíguo espaço que
lhes é destinado nos centros urbanos. A proposta deste estudo é de analisar detalhadamente os
espaços públicos centrais da cidade de Santa Maria – RS sob o ponto de vista do ruído
ambiental.

566
Com base no tema exposto, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar a poluição
sonora dos espaços públicos de lazer da cidade de Santa Maria – RS, sendo necessário para isso,
avaliar os níveis de pressão sonora (NPS) destes espaços e verificar a adequação dos dados
coletados com as normativas existentes (Código de Posturas local; NBR 10151/2000).

2. ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER


As cidades têm como premissa composições com espaços construídos e composições de espaços
não construídos, criando um sistema integrado que une o aglomerado urbano. Existem tipologias
e nomenclaturas estabelecidas para os espaços não construídos: Espaços livres, espaços vazios,
espaços intersticiais, espaços abertos, espaços colocados, espaços verdes, espaços coletivos,
espaços neutros, espaços públicos (ROMERO, 2001).

Estes tratamentos são reflexos da evolução das atribuições e das funções dos espaços exteriores.
A estrutura principal do sistema de espaços públicos abertos na cidade é dividida, de forma geral,
em duas categorias: Ruas e Avenidas (destinadas à circulação de pedestre e veículos) e Praças e
Parques (locais projetados para convivência e permanência). Aqui se aborda o espaço “Praça”, e
consequentemente aos aspectos de ruído urbano no contexto da cidade.

A cidade de Santa Maria – RS caracteriza-se por um modelo tradicional de ocupação urbana, isto
é, o uso da malha ortogonal fechada, quadras pequenas e praças delimitadas por vias e
edificações. Da urbanística moderna, foi herdada a separação de funções por zoneamento (zonas
residenciais, zonas industriais e zonas para serviços) de um modo significativo, como em muitas
cidades brasileiras. As Praças são delimitadas por ruas e emolduradas por edificações, remetendo
ao modelo tradicional de cidade.

Porém, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição sonora consiste
atualmente, no tipo de poluição que atinge ao maior número de pessoas no planeta depois da
poluição do ar e da água. Com isso, essa poluição não é somente no ambiente em si, sendo um
problema não visual aos olhos das pessoas. Afetando diretamente estes espaços públicos de lazer
nos centros urbanos das cidades.

De acordo com o documento da Comunidade Européia – Green Paper registra-se que 20% da
população do continente europeu, cerca de 80 milhões de pessoas, estão expostas a níveis de
ruído que causam perturbações ao sono, incômodos às pessoas e efeitos adversos na saúde
humana. Estes dados demonstram o quão são preocupantes os danos que o ruído ambiental
causa, diminuindo gradativamente o bem estar e a qualidade de vida dos usuários no entorno
destes espaços públicos.

Mas no momento que são citados esses espaços percebe-se a separação e a caracterização que
estes espaços devem possuir dentro do contexto urbano, por exemplo: O canteiro central de
avenida com equipamentos de lazer não é praça porque ele tem primazia perante os objetivos de
trânsito. O terreiro também não é praça por se configura como um espaço reduzido, muitas vezes
residual, e não ter uma intencionalidade de desenho no traçado urbano como praça, já que são
espaços formados por um, dois ou três terrenos do loteamento.

O parque se diferencia da praça em dois pontos: na dimensão e na referência à natureza.


Enquanto o parque tem como objetivo aproximar o homem da paisagem natural, sendo
necessários grandes espaços cobertos de vegetação, a praça tem primazia na sua função social,
de encontros e acontecimentos sociais, onde o verde pode ou não estar presente.

567
O Código de Posturas de Santa Maria - RS (2002) regula os níveis de pressão sonora aceitáveis
para o município, proibindo qualquer ruído que ultrapasse os níveis máximos permitidos. Esse
código regula os níveis permitidos de emissão conforme as Zonas de Utilização da cidade.

3. METODOLOGIA
Inicialmente fez-se necessário uma investigação para identificar dados geográficos da cidade de
Santa Maria – RS e localizar os possíveis pontos que definissem os espaços públicos de lazer que
pudessem melhor caracterizar este estudo, ficando definida uma amostra de sete locais,
selecionadas por serem pontos localizados na área central da cidade de acordo com o Plano
Diretor local.

O município de Santa Maria localiza-se na porção central do Rio Grande do Sul, e apresenta uma
população de 268.969 habitantes, distribuída em uma área de 1.780 Km² (IBGE, 2000),
pertencente à Microrregião Geográfica de Santa Maria. A área de estudo compreende a faixa
denominada bairro centro da área urbana de Santa Maria.

O levantamento realizou-se em sete espaços públicos de lazer correspondendo a uma área total
de 69.794,44 m², sendo a amostra definida pelos seguintes espaços: Praça Saldanha Marinho,
Parque Itaimbé, Praça Sarturnino de Brito, Praça Roque Gonzáles, Canteiros Central da Avenida
Rio Branco, Praça Cristóvão Colombo e Largo Maçônico (figura 1), conforme tipologia definida
como: Parque; praça, largo e terreiro.

Figura 1 - Localização dos sete espaços públicos de lazer estudados.


Fonte: Brum, 2010.
Legenda:
1 Praça Saldanha Marinho; 2 Parque Itaimbé; 3 Praça Sarturnino de Brito; 4 Praça Roque Gonzáles; 5
Canteiros Centrais da Av. Rio Branco; 6 Praça Cristóvão Colombo; 7 Largo Maçônico.

Os registros referentes aos sete espaços públicos de lazer analisados foram obtidos através de
buscas em órgãos municipais como a Prefeitura Municipal de Santa Maria – RS (PMSM), mais
especificamente o Escritório da Cidade (EC).

Obteve-se, portanto, cadastros, projetos técnicos e uma listagem dos locais com aprovações
legais dos espaços destinados. Cabe observar que não existe um registro organizado destas áreas
no órgão citado acima. Foram feitas visitas in loco nas áreas cadastradas para atualização e
complementação dos dados existentes, organizados e descritos a seguir.

A Praça Saldanha Marinho compreende em um espaço aberto localizado no entroncamento da


Avenida Rio Branco com a Rua Venâncio Aires caracterizada pela importância cultural, histórica
e posição central que possui além de ser um importante núcleo comercial, possui uma área de
5.270,00 m² (figura 2).

568
Figura 2 – Praça Saldanha Marinho.

O Parque Itaimbé, localizado no bairro central de Santa Maria, circundado pelos bairros Menino
Jesus (na parte central), Nossa Senhora das Dores (extremo sul) e bairro Itararé (extremo norte),
possui uma área de 47.615,00 m² (figura 3).

Figura 3 – Parque Itaimbé.

A Praça Sarturnino de Brito, localizada no centro de Santa Maria, possui uma área de 3.927,00
m², Praça de passagem no centro de Santa Maria tem relevante importância na qualidade de vida
do centro urbano, é aberto e cercado pela estrutura viária, espaço acolhedor, principalmente aos
jovens durante a noite e utilizado boa parte do dia apenas como passagem (figura 4).

Figura 4 – Praça Sarturnino de Brito.

A Praça Roque Gonzáles localizada ao lado do Hospital de Caridade de Santa Maria, apresenta
uma área de 3.405,95 m² possui uma pracinha de brinquedo com canteiros delimitados e é quase
toda impermeabilizada. É de fácil acesso, pois a mesma liga várias ruas e pontos comerciais
(figura 5).

569
Figura 5 – Praça Roque Gonzales.

Os Canteiros Centrais da Avenida Rio Branco, localizados ao centro da Avenida Rio Branco,
possui uma área de 7.768,93 m², de fácil acesso e é parcialmente impermeabilizada (figura 6).

Figura 6 – Canteiros centrais da Av. Rio Branco.

No espaço denominado Praça Cristóvão Colombo, popularmente conhecida como Praça do


Maneco, devido a sua localização ao lado da Escola Estadual Manoel Ribas, possui 1.616,50 m²,
utilizada principalmente por alunos da Escola Estadual Manoel Ribas tem destacada importância
cultural na cidade (figura 7).

Figura 7 – Praça Cristóvão Colombo.

O Largo Maçônico, que é o menor espaço público dos espaços analisados possui uma área de
191,06 m², aberto e limitado pelas vias, tendo como principal referência, a proximidade com
avenida medianeira.

Figura 8 – Largo Maçônico.


570
A Norma NBR 10151/2000 recomenda que as medições devam ser efetuadas com medidor de
nível de pressão sonora, como especificado na IEC 60651/1979 – Especificação para
Sonômetros. As medições do nível de pressão sonora devem ser feitas com ponderação “A” e
tempo de integração rápido (fast). O nível de pressão sonora deve ser medido no local e hora de
ocorrência do incômodo.

As medições do NPS e os respectivos equipamentos utilizados foram os seguintes:


INSTRUTHERM, medidor de nível de pressão sonora portátil – Modelo DEC-470, pelo qual
possui certificado de calibração número 11452.A-06.05. Os períodos de medições foram durante
o turno da tarde e o turno da noite, antes de 22 horas, limite apontado pela norma
NBR10151/2000 e Tempo de integração fast (125 ms).

As medições foram realizadas a uma distância de 1,2 metros acima do solo e, no mínimo, a 1,5
metros de superfícies refletoras, como paredes, muros ou carrocerias de automóveis, atendendo
as prerrogativas normativas (NBR 10151/2000).

A análise dos valores medidos do NPS (dB(A)) foi realizada através de levantamento
bibliográfico utilizado para fundamentar essa temática, realizada pesquisa de especialização
realizada em Santa Maria (BRUM, 2010). A discussão destes resultados analisados teve como
base teórica as recomendações constantes no Código de Posturas do município de Santa Maria,
RS (2002) e na norma NBR 10151/2000.

O Código de Posturas do município de Santa Maria, RS/2002, apresenta os valores máximos


permitidos para o NPS em dB (A), considerando para os horários a classificação: diurno,
compreendido entre 07h e 19h; vespertino, compreendido entre 19h e 22h; e noturno,
compreendido entre 22h e 07h. O mesmo Código faz o enquadramento das áreas da cidade em
Zonas e com isso permite a análise dos valores, conforme tabela 1.

Tabela 1 - Níveis de pressão sonora máxima permitida em dB (A) pelo Código de Posturas local.

Zonas Diurno Vespertin Noturno


de Uso (dB(A)) o (dB(A))
(dB(A))
ZR1; 55 50 45
ZA; CC
ZR2 60 55 55

ZR3; 65 60 55
ZR4
ZI
70 60 60

Fonte: Site PMSM, 2011.

Legenda: CC - Centro cívico; ZA - Zona Agrícola; ZI - Zona industrial (estritamente); ZR1 - Zona
residencial (estritamente); ZR2 - Zona residencial/comercial; ZR3 - Zona residencial/industrial; ZR4 - Zona
comercial/industrial.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O resultado das medições do NPS (dB (A)) realizadas nos espaço públicos de lazer selecionados
para este estudo é apresentado na tabela 2 com as respectivas datas e os respectivos horários,
realizada uma medição em cada espaço, na seguinte ordem: praça Saldanha Marinho, parque

571
Itaimbé, praça Sarturnino de Brito, praça Roque Gonzáles, Canteiros centrais da Avenida. Rio
Branco, Praça Cristóvão Colombo e Largo Maçônico.

Tabela 2 – Níveis de pressão sonora, em dB (A), nos locais de avaliação

Espaço Período dB (A)


Diurno 68
Praça Saldanha Marinho
Noturno 60

Diurno 54
Parque Itaimbé
Noturno 53

Diurno 62
Praça Sarturnino de Brito
Noturno 71

Diurno 67
Praça Roque Gonzáles
Noturno 66

Diurno 66
Canteiros centrais Av. Rio Branco
Noturno 66

Diurno 64
Praça Cristóvão Colombo
Noturno 58

Diurno 68
Largo Maçônico
Noturno 77

Fonte: Brum, 2010.


Legenda:

Valores permitidos
Valores acima do permitido
Valores preocupantes

Os níveis de pressão sonora existentes estão parcialmente de acordo com a norma NBR
10151/2000, sendo que o principal foco do ruído é provido pelos veículos que trafegam nas ruas
que delimitam estes ambientes, onde certamente nos horários de grande movimento o nível de
pressão sonora é mais elevado por causa do aumento do número de carros. Um foco com um
nível de pressão sonora um pouco maior é encontrado nas redondezas de playgrounds, no
entanto, estas áreas ainda estão dentro dos parâmetros recomendados pela norma.

Neste trabalho, verificou-se que a norma NBR 10151/2000 recomenda para área estritamente
residencial urbana ou de hospitais e de escolas valores de 50 dB (A) para o período diurno e 45
para o período noturno. Na Praça Roque Gonzales, em frente ao Hospital de Caridade de Santa
Maria/RS, foram obtidos níveis de pressão sonora que variaram entre 66 dB (A) e 67 dB (A),
verificando-se que estes valores estão acima do permitido em norma.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

572
Neste estudo, percebe-se que os locais públicos de lazer da cidade de Santa Maria – RS não
apresentam uma condição acústica desejável, de acordo com as recomendações do Código de
Postura do município de Santa Maria e da norma NBR 10151/2000. Constatou-se que a maioria
espaços públicos de lazer possuem níveis de pressão sonora acima do que recomenda a norma
NBR 10151/2000 e o Código de Postura local.

As esquinas próximas aos espaços analisados foram os pontos de medição que apresentaram os
maiores níveis de ruído, especialmente as que estão no trecho de maior tráfego de veículos. O
centro dos espaços possui um nível de pressão sonora equivalente ao círculo interno (local
intermediário entre o centro e as esquinas), mostrando que a distância entre este local e as
esquinas já é suficiente para amenizar o nível de pressão sonora proveniente dos carros.

A preocupação maior fica concentrada na Praça Roque Gonzáles, localizada próxima a um dos
maiores hospitais da cidade, onde os valores de NPS ficaram acima do permitido.

REFERÊNCIAS

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151. Acústica – Avaliação do ruído em áreas
habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento, 2000.
2. BRUM, C. M. Adequação dos Espaços Públicos de Lazer da Área Central de Santa Maria – RS.
Monografia – Curso de Especialização em Gestão Ambiental. Centro Universitário Francisco UNIFRA. Santa
Maria. 2010.
3. COMISSÃO ELETROTÉCNICA INTERNACIONAL. IEC 60651. Sound Level Meters, 1979.
4. DIVISÃO TERRITORIAL DO BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (1 de julho de
2008). Disponível em <http://www.ibge.gov.br/>. Acessado em 11 de janeiro de 2012.
5. PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA MARIA. Código de Posturas, 2002. Disponível em:
<http://www.santamaria.rs.gov.br/>. Acessado em 24 de dezembro de 2011.
6. ROMERO, Marta Adriana Bustos. A arquitetura bioclimática do espaço público. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2001.

573
IMPACTOS DO RUÍDO AMBIENTAL EM EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS NO
BAIRRO DE PONTA VERDE EM MACEIÓ-AL: ESTUDO DE CASO

PENEDO, R. C. T.; OITICICA, M. L. G. da R.

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal de Alagoas

RESUMO
A crescente verticalização das moradias e consequente adensamento de bairros nobres da planície litorânea
de Maceió, capital de Alagoas, tem gerado diversos problemas aos moradores da região, dos quais se pode
destacar o desconforto acústico resultante de ruídos ambientais, com destaque para aqueles provenientes das
construções de edifícios e do tráfego de veículos. O objetivo deste trabalho é avaliar as interferências que
ruídos ambientais provocam em um apartamento de classe média alta no bairro de Ponta Verde em Maceió.
Os moradores alegam que os ruídos das obras de reforma e de construção de novos prédios no entorno, assim
como os do fluxo de veículos cada vez maior, geram incômodo durante o dia, tornando desconfortável a
permanência em determinados ambientes em tal período. Como metodologia aplicada medições do nível de
pressão sonora foram realizadas em um dormitório de um apartamento de classe média alta do bairro que
recebe grandes interferências do ruído externo. Observou-se que as queixas dos moradores são pertinentes,
pois os valores registrados no ambiente analisado são superiores aos limites das normas, evidenciando a
necessidade de medidas para evitar maiores problemas para a população. Este artigo tem a intenção de seus
dados servirem de base para um trabalho mais aprofundado que contribua, não só, para a melhoria acústica
do objeto em estudo, como também para incluir de forma mais eficaz a problemática da poluição sonora no
planejamento urbano do município.
Palavras chave: Edifícios residenciais. Verticalização. Ruído ambiental. Poluição sonora.

ABSTRACT
The housing verticalization is growing and so the density in the noble districts by the coast of Maceió, the
capital of Alagoas, and, as a result, the ones who live in those areas suffer with several problems. We can
point as an example the acoustic discomfort caused by ambient noise, especially those from the construction
and renovation of buildings and the ones that come from vehicle traffic. The aim of this paper is to evaluate
the interferences that environmental noises cause in an apartment of upper middle class in the district of
Ponta Verde in Maceió. The building’s inhabitants complain about the noise from the constructions and also
from the vehicles during the day, that make staying in certain environments uncomfortable during this
period. As a methodology, measurements of sound pressure level were carried out in a bedroom of an upper
middle class apartment in Ponta Verde that receives great interference of external noise. The residents'
complaints were confirmed by the measurement results, since the values obtained in the bedroom were above
the limits of the standards, showing the need for solutions to avoid further problems to the population. This
article intends to serve as a basis for further work that will contribute not only to improve acoustics in
the object under study, but also to include more effectively the problem of noise pollution in the urban
planning of the municipality.
Keywords: Residential buildings. Verticalization. Ambient noise. Noise pollution.

1. INTRODUÇÃO
O município de Maceió, capital do estado de Alagoas, vem passando por um processo de intensa
verticalização das habitações, principalmente na orla marítima, como no bairro de Ponta Verde, por

574
exemplo. O Plano Diretor do município (PMM, 2005) classificou esse bairro como integrante da
Macrozona de Adensamento Controlado da planície litorânea, determinando como uma das
diretrizes a verticalização compatibilizada com o conforto ambiental.

Isso, aliado ao aquecimento da indústria da construção civil, gerou uma intensa verticalização das
habitações no bairro, com novas construções em alguns terrenos até então baldios, além da
substituição de casas e prédios de até quatro pavimentos por outros mais altos e com maior
quantidade de unidades habitacionais. Tal fenômeno gerou ainda o crescimento da frota de carros
que circulam pela região, resultando em maiores ruídos de tráfego. Esse processo ainda está muito
evidente atualmente e pode ser constatado pelo grande número de obras em execução no bairro.

Segundo Brito (2011), ruído ambiental é o resultado de um conjunto de ruídos provenientes de


todas as fontes sonoras da vizinhança próxima ou longínqua de um lugar de referência, e apresenta
relação complexa com o incômodo gerado à saúde pública, já que cada indivíduo responde de forma
diversa aos níveis de ruído. O tráfego de veículos e as atividades da construção civil são
considerados as principais fontes de ruído ambiental (MAROJA, 2011).

Os ruídos na vizinhança de obras podem ser divididos em impactos de curto prazo, aqueles gerados
pelos equipamentos durante a fase de construção, e de longo prazo, os que estão associados ao ruído
do tráfego futuro gerado pelo empreendimento em funcionamento (MAROJA, 2011). Já os ruídos
do tráfego, de acordo com Sandeberg (1987 apud QUADROS, 2004, p.33), são provenientes da
força de tração unitária do veículo e da interação entre pneu e via. No primeiro caso, os sons são
gerados pelo motor e outros componentes do automóvel, já no segundo, a intensidade dos ruídos
tem relação direta com a velocidade do veículo, a rugosidade do pavimento e o tipo de pneu
(MURGEL, 1998, apud QUADROS, 2004, p.33).

Assim, os ruídos ambientais que estão cada vez mais intensos na região fazem com que a Ponta
Verde, bairro de alto padrão, com o metro quadrado construído mais caro da cidade, acabe se
tornando desconfortável para seus moradores, principalmente os que vivem nos novos edifícios, já
que eles estão sendo construídos com materiais de vedação cada vez mais permeáveis aos ruídos,
tanto os ambientais, quanto os provenientes dos vizinhos de prédio. Isso se deve, entre outras
coisas, à carência de legislação municipal para regulamentar os níveis aceitáveis de ruído nos
ambientes, sejam eles internos ou externos. Essa limitação é feita, por exemplo, pelas normas da
ABNT, NBR 10151 e NBR10152. A primeira determina os métodos de medição de ruído, fixando
as condições para a avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades (ABNT, 1987a). Já a
segunda fixa os níveis de ruído compatíveis com o conforto acústico em ambientes diversos, como
para os dormitórios e as salas das residências, por exemplo (ABNT, 1987b).

Tal situação merece um estudo aprofundado que possa embasar uma futura legislação municipal
para regular a situação e contribuir para a redução da poluição sonora e, consequentemente,
melhorar a condição de conforto dos moradores.

Este artigo consiste em um estudo de caso que avalia os ruídos ambientais que atuam sobre um
edifício de classe média alta de um bairro nobre do município de Maceió, quantificando-os e
fazendo uma análise perante os limites estabelecidos pelas normas.

2. OBJETIVO
O trabalho teve como objetivo principal avaliar as interferências que ruídos ambientais provocam
em um apartamento de classe média alta no bairro de Ponta Verde em Maceió, capital do estado de
Alagoas. Como objetivo específico, pretende-se quantificar e analisar o nível de pressão sonora em

575
um dos quartos nos horários de maior incidência de ruído externos, mais precisamente daqueles
provenientes do tráfego e da construção civil.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Objeto de estudo
Esse trabalho teve como estudo de caso um apartamento de classe média alta localizado no bairro
de Ponta Verde em Maceió, capital do estado de Alagoas. O imóvel avaliado possui três quartos e a
sala de estar voltados para Norte e outro quarto para Sul. (Figura 1). Para as medições foi
selecionado um dos apartamentos (Apto. 402) que está localizado na parte central do quarto andar
de um edifício de oito pavimentos, sendo cada um com três unidades habitacionais, em um total de
vinte e quatro apartamentos. Este edifício encontra-se localizado no bairro de Ponta Verde, bairro
predominantemente residencial, tendo na sua circunvizinhança alguns hotéis e bancos. Observou-se
também na vizinhança a presença de vários canteiros de obra. A característica das vias de trafego é
de paralelepípedo.

Figura 1 – Vista aérea mostrando o objeto de estudo e seu entorno


Fonte: Google Earth (2011)

As queixas dos moradores do edifício analisado são constantes no que diz respeito aos ruídos das
duas obras do entorno e do tráfego que, apesar de não ser intenso, gera desconforto já que a via é de
paralelepípedo, o que intensifica os sons da passagem dos veículos. Por isso, optou-se por avaliar
um dos ambientes do apartamento mais freqüentados nos períodos de maior ruído ambiental, que
corresponde ao horário comercial durante a semana: o quarto da idosa (Figura 2).

576
Figura 2 – Planta baixa do apartamento indicando a localização do quarto da idosa
Fonte: Arquivo pessoal (2011)

O quarto da idosa fica na fachada Norte e a sua parede voltada para o exterior possui peitoril de 90
cm e janela em alumínio com vidro do tipo de correr com três folhas, que ocupa toda a largura da
parede. O ambiente é voltado para uma via local em paralelepípedo, um terreno baldio, que está
sendo usado como canteiro de obras para a reforma de um edifício que fica em frente, alguns
edifícios, e a praia. A idosa costuma ficar no quarto descansando com a janela aberta pela manhã e
logo após o almoço.

3.2 Método
As medições foram realizadas no dia 13 de dezembro de 2011 das 10:00 até as 10:15. Foram
medidos os níveis de pressão sonora em três pontos dentro do ambiente, conforme orientações da
norma NBR 10151 (ABNT, 1987a). Cada medição teve a duração de dois minutos. O aparelho foi
posicionado a 1m da parede onde fica a cama, variando-se apenas a distância em relação à janela
aberta: no P1 1m, no P2 1,5m e no P3 2,0m (Figura 3). Em todas as situações o aparelho foi
posicionado a 1,2m de altura em relação ao piso.

577
Figura 3 – Planta baixa do quarto da idosa indicando os pontos de medição
Fonte: Arquivo pessoal (2011)

O município não possui legislação específica sobre padrões de emissões de ruído, por isso serão
adotados apenas os limites estabelecidos na NBR 10152 (ABNT, 1987b) que determina que, para
residências, o nível de pressão sonora aceitável para dormitórios é de 45dB(A) e na curva de
critério, entre 30 dB e 40 dB.

Para as medições foi utilizado o medidor de nível de pressão sonora modelo Solo, CAL 21/ CAL02
da 01dB, com calibração validada de acordo com a Norma da International Electrotechnical
Commission, IEC 60942 (2003).

4. RESULTADOS
Para analisar os resultados encontrados na medição, optou-se por dois métodos: através de tabelas e
a partir do gráfico das curvas de critério.

4.1 – Tabelas
Os resultados encontrados dos Níveis de Pressão Sonora foram agrupados em uma tabela (Tabela
1). Nela foram colocados os valores obtidos em cada ponto para cada uma das freqüências da banda
de oitava, desde 63Hz até 8000Hz. Em seguida foi feita a conversão de cada um dos valores para a
escala dB(A), que consiste na redução do nível de pressão sonora para as baixas freqüências para
compensar a sensibilidade do ouvido humano (MEHTA, 1999). O passo seguinte foi calcular o
valor médio dos três pontos para cada freqüência, tanto em dB quanto em dB(A). Por fim, foi feito
o cálculo do nível sonoro global em dB e em dB(A) através da seguinte fórmula:

Lpn
LPtotal = 10 log ∑( 10 10
)                                                                    [Eq. 01]
i

onde, para este estudo:


Lptotal é o nível de pressão sonora global
Lpn é o nível de pressão sonora médio para as frequências de 63Hz a 8000Hz.

578
Tabela 1 – Resultados das medições feitas no quarto da idosa separados por freqüência de banda de oitava e por ponto
de medição
QUARTO DA IDOSA
Valores no Nível de Pressão Sonora em dB e dB(A)
Média Média
P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1, P2 e P3 P1, P2 e P3
f (Hz) (dB) (dB) (dB) (dB(A)) (dB(A)) (dB(A)) (dB) (dB(A)
63 72,5 72,2 64,1 46,5 46,2 38,1 69,60 43,60
125 67,2 66,4 57,6 51,2 50,4 41,6 63,73 47,73
250 59,8 58,2 49,3 50,8 49,2 40,3 55,77 46,77
500 53 51,5 45,4 50 48,5 42,4 49,97 46,97
1000 50,7 48,2 45,3 50,7 48,2 45,3 48,07 48,07
2000 49 50,4 42,2 50 51,4 43,2 47,20 48,20
4000 49,9 47,6 36,9 50,9 48,6 37,9 44,80 45,80
8000 46,6 42,6 35,3 45,6 41,6 34,3 41,50 40,50
GLOBAL 70,8 55,5

O aparelho de medição forneceu ainda os níveis de pressão sonora equivalente (Leq) e o máximo
nível de ruído medido (Lmax) para cada ponto de medição no quarto (Tabela 2).

Tabela 2 – Níveis de pressão sonora equivalente e máximo encontrados no quarto da idosa


QUARTO DA IDOSA
P1 P2 P3
Leq (dBA) 57,4 50,1 58,5
Lmax (dB) 104,5 91,2 103,6

4.2 – Curvas de critério


Foi feita ainda a análise dos resultados através das Curvas de Critério de Ruído Balanceadas,
conhecidas como Curvas NCB, que, de acordo com a norma NBR 10152 (ABNT, 1987b), permite
identificar as bandas de freqüência mais significativa e que precisam de correção.

Os valores médios do nível de pressão sonora, separados por freqüência, dos três pontos medidos
foram colocados nas Curvas de Critério (Figura 4), as quais mostram ainda as faixas ideais para
cada situação. Com isso, observou-se que para o quarto a curva correspondente é a NCB 55.

579
Figura 4 – Curva de critério com os valores médios obtidos no quarto da idosa segundo a NBR 10152(1987)

5. CONCLUSÕES
O crescimento das cidades tem privado seus moradores de um grande prazer que é a tranqüilidade
do lar. Muitos maceioenses sonham em adquirir um apartamento no bairro da Ponta Verde, área
nobre da capital alagoana, pelas opções de conforto que acreditam que irão encontrar lá. Para isso,
aceitam pagar valores muito mais altos do que pagariam em outras regiões da cidade. Porém, os
apartamentos nessa área estão ficando cada vez mais desconfortáveis acusticamente.

Esse artigo mostrou, através dos resultados das medições, que os níveis de pressão sonora no
interior dessa habitação estão bem acima dos limites das normas, podendo gerar uma série de
problemas aos moradores.

As reclamações dos moradores sobre a irritação provocada pelos ruídos das máquinas e das
atividades das obras do entorno, assim como os gerados pelo fluxo de carro na rua de
paralelepípedo foram confirmadas. Foi constatado que, no quarto da idosa, tais fontes são as
principais causadoras do ruído ambiental que gera o desconforto aos usuários no horário comercial,
período em que tal ambiente é bastante freqüentado.

O desconforto ficou comprovado com o registro de ruídos superiores a 100dB, enquanto o limite
previsto pela NBR 10152 (ABNT, 1987b) é de 40dB. Tal valor foi superado em todas as medições,
para todas as freqüências, inclusive nos níveis de pressão sonora global e equivalente.

Os resultados mostram a necessidade de medidas para reduzir o desconforto gerado pelos ruídos
ambientais, permitindo que a idosa possa descansar quando desejar sem o incômodo gerado pelas
fontes sonoras do entorno. Tais propostas de melhorias podem ser objeto de trabalhos futuros mais
aprofundados que podem contribuir inclusive para o planejamento urbano do município no que diz
respeito à poluição sonora.

580
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ABNT . ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: Avaliação do Ruído em Áreas
Habitadas Visando o Conforto da Comunidade. Rio de Janeiro: ABNT, 2000.
2. ______. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152: Níveis de ruído para conforto
acústico. Rio de Janeiro: ABNT, 1987b.
3. BRITO, E. L. de; NOGUEIRA, M. C. J. A.; PINTO, M. de L.; CALLEJAS, I. J. A.; FRANCO, F. M.;
DURANTE, L. C.. Ruído ambiental em região de ocupação mista com enfoque no desconforto em edifício
residencial: estudo de caso. XI Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído e VII Encontro Latino
Americano de Conforto no Ambiente Construído. Búzios, RJ, 2011.
4. FERNANDES, J. C. Ruído Ambiental. Vibranews – portal da acústica. Jan. 2010. Disponível em:
<http://www.vibranews.com.br/artigos_det.php?id=23>. Acesso em: 24 fev. 2012.
5. MAROJA, A. de M.; GARAVELLI, S. L.. Emissão de ruídos de uma obra na construção civil. XI Encontro
Nacional de Conforto no Ambiente Construído e VII Encontro Latino Americano de Conforto no Ambiente
Construído. Búzios, RJ, 2011.
6. MEHTA, M.; JOHNSON, J.; ROCAFORT, J.. Architectural acoustics: principles and design. Prentice-Hall, Inc,
1999.
7. MURGEL, E. Medidas de Controle de Ruídos em Rodovias. 18º Encontro da Sociedade Brasileira de
Acústica – SOBRAC, Florianópolis, p. 267-270, 1998.
8. PMM. PREFEITURA MUNICIPAL DE MACEIÓ. Lei Municipal Nº 5593 de 08 de fevereiro de 2007. Institui o
Código de Urbanismo e Edificações do município de Maceió, estabelece o zoneamento da cidade de acordo com
os parâmetros de macrozoneamento do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (Lei Municipal n. 5.486, de
30 de dezembro de 2005) e dá outras providências.
9. PMM. PREFEITURA MUNICIPAL DE MACEIÓ. Lei Municipal Nº 5486 de 30 de dezembro de 2005. Institui
o Plano Diretor do município de Maceió, estabelece diretrizes gerais de política de desenvolvimento urbano e
dá outras providencias.
10. QUADROS, F. de S.. Avaliação do ruído ambiental gerado por veículo de utilidade pública estudo de caso:
caminhão de coleta de resíduos domiciliar. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica, Universidade
Federal do Paraná). Curitiba, 2004.
11. SANDBERG, H. R. Quality: missing ingredient of engineering engagements. Journal of Professional Issues
in Engineering, v.113, n.3, p.216-20, July 198.

581
AVALIAÇÃO DO INCÔMODO SONORO DA LINHA VERMELHA NO
BAIRRO DE SÃO CRISTÓVÃO, RIO DE JANEIRO.

NIEMEYER, M. Lygia1; CORTÊS, Marina2


(1)
Arquiteta, Professora, PROARQ/ FAU/ UFRJ, lygianiemeyer@gmail.com;
(2)
Arquiteta, Mestranda, PROARQ/ FAU/ UFRJ, marinameco@hotmail.com

RESUMO
Na maioria das grandes cidades brasileiras, e o Rio de Janeiro não é uma exceção, a opção preferencial
pelos meios de transporte rodoviário tem levado à construção de vias expressas, túneis e viadutos como
solução para os problemas de mobilidade urbana. Na prática, tais intervenções têm se mostrado
ambientalmente agressivas, principalmente quanto implantadas em tecido urbano consolidado. Uma
destas vias expressas é a chamada Linha Vermelha, cujas pistas elevadas cruzam o bairro de São
Cristóvão através das ruas Bela e Figueira de Melo. O objetivo do presente trabalho é apresentar o estudo
do impacto sonoro representado pelo tráfego da Linha Vermelha, sobre os pedestres e usuários dos
edifícios no entorno das vias, através da comparação dos níveis de pressão sonora registrados em campo
aos parâmetros de conforto e salubridade acústica. Discute também a necessidade de metodologias e
parâmetros objetivos de avaliação previsional aplicáveis não apenas aos Estudos de Impacto Ambiental,
exigidos para implantação de grandes estruturas viárias e outras atividades geradoras de ruído, como
também em alterações na legislação urbanística que impliquem em mudanças significativas na morfologia
do tecido urbano.

Palavras-chave: incômodo sonoro, ruído, poluição sonora.

ABSTRACT
In most of the major Brazilian cities, and Rio de Janeiro is not an exception, the preferential option by
road transport means has resulted in the construction of highways, tunnels and viaducts as a solution to
solve the problems of urban mobility. These interventions have been often harmful, especially when
performed in consolidated urban context. The called Linha Vermelha is one of these highways whose
viaducts cross the São Cristóvão neighborhood through Bela and Figueira de Melo streets. The aim of this
paper is to present the study of the noise impact caused by road traffic on the Linha Vermelha highway,
considering the pedestrians and users of the buildings surrounding the streets through the comparison of
the sound pressure levels measured in the field to the parameters of acoustical comfort and healthiness.
It's also discussed the need for methodologies and objective parameters of assessment, applied not only to
the Environmental Impact Studies, mandatory for construction of major road structures and other
activities that generate noise but also to the implementation of urban legislation that result in significant
changes in the morphology of the urban fabric.

Key-words: sound annoyance, noise, noise pollution

1. INTRODUÇÃO
Os centros urbanos de países em desenvolvimento têm crescido muito rapidamente nas últimas
décadas. Atualmente, 85% da população brasileira vive em áreas urbanas, sendo 30% distribuída
entre as oito maiores regiões metropolitanas (IBGE, 2010). Entretanto, a maior parte das vezes,
este crescimento não tem sido acompanhado por um planejamento urbano efetivo e infra-
estrutura adequada que garanta a qualidade de vida para sua população (ASSIS, 2006).

582
Uma das principais conseqüências do crescimento desordenado das cidades é o aumento da
poluição sonora, que expõe a população a níveis nocivos de ruído ambiental, causando danos
significativos (distúrbios do sono, danos auditivos, perda de concentração) (WHO, 2003). No
Brasil, o tráfego de veículos é a maior fonte de ruído urbano. Entretanto, impulsionada pela má
qualidade dos transportes públicos, a frota de veículos particulares tem crescido a taxas
superiores ao aumento da população (IBGE, 2010).

A construção de túneis e viadutos tem sido adotada como solução imediata para os problemas de
mobilidade urbana, quase sempre sem avaliação prévia ou medidas mitigadoras do impacto
ambiental (bloqueio visual, interferência na insolação e ventilação, exposição de fachadas a
calor, poluição e ruído emitidos pelos veículos automotores (NIEMEYER, 2010). Como o
projeto de vias expressas envolve, além de aspectos puramente técnicos, questões econômicas e
políticas, no Rio de Janeiro algumas dessas “cirurgias” foram particularmente agressivas.

O traçado da Auto Estrada Lagoa Barra foi definido após longo período de discussão. Na
solução adotada, a via expressa atravessa o Conjunto Habitacional Marques de São Vicente
(Figura 1), provocando uma lesão irreversível no projeto de Afonso Eduardo Reidy e,
evidentemente, comprometendo a saúde dos moradores. Na Zona Norte da cidade, os alunos do
Colégio Estadual Olinto da Gama Botelho sofrem com o ruído do tráfego sobre a Linha
Amarela, cujas pistas obstruíram a fachada principal do edifício (Figura 2). (NIEMEYER et al,
2006).

Figura 1: Auto-estrada Lagoa Barra Figura 2: Linha Amarela bloqueia


atravessa o CHMSV na Gávea/ RJ fachada do CEOGB/ Pilares/ RJ

A Diretiva 2002/49/EC deu aos países da Comunidade Européia um instrumento fundamental


para a gestão do ruído urbano. Os mapas de ruído estratégico, exigidos para cidades com mais de
250.000 habitantes e para implantação de estruturas de tráfego de grande porte consistem na
distribuição espacial de níveis sonoros baseados em cenários futuros. A simulação permite a
comparação, ainda na fase de projeto, do desempenho acústico de diferentes soluções projetuais
e da viabilidade técnica e econômica de medidas mitigadoras de impacto.

Apesar de não exigido pela legislação, no contexto das universidades e centros de pesquisa
brasileiros, a cartografia sonora tem sido utilizada para avaliação acústica de várias cidades. A
maioria destes estudos tem em comum o fato de terem verificado níveis sonoros muito acima
dos limites recomendados pela legislação brasileira e pela OMS.

Esta situação, de certa forma, pode ser esperada em um contexto urbano denso e consolidado
como o do bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro (PINTO E MARDONES, 2007) ou mesmo
em centros metropolitanos regionais como Belém (MORAES et al, 2009) e Salvador
(BARRETO e FREITAS, 2008). Mas certamente é motivo de preocupação quando verificada em
cidades recém planejadas como Águas Claras (GARAVELLI et al, 2010) ou bairros residenciais
de cidades de médio porte, como Bauru (SOUZA, 2006).

583
Os Estudos de Impacto Ambiental e de Vizinhança, exigidos para implantação de
empreendimentos potencialmente nocivos ao meio ambiente, devem conter, entre outros itens: a
análise do aumento da densidade populacional, alterações no padrão de uso do solo, geração de
tráfego e demanda por transporte publico. Apesar da influencia de alguns destes indicadores
sobre o ambiente sonoro, o texto não define metodologias para avaliação de impacto sonoro.

A referência para avaliação de ruído ambiental no Brasil é a norma NBR 10151 - Avaliação do
Ruído em Áreas Habitadas Visando o Conforto da Comunidade que estabelece Critérios para
avaliação de Ruído ambiental, relacionado as uso do solo. Entretanto, os procedimentos
estabelecidos pela norma são baseados na conformidade entre o ruído emitido e os níveis
critério, ou seja, para atividades em funcionamento. Documentos de avaliação previsional, como
mapas de ruído, não são exigidos nem mesmo para a construção de infra-estruturas viárias de
grande porte, como rodovias ou viadutos.

2. A PASSAGEM DA LINHA VERMELHA PELO BAIRRO DE SÃO CRISTÓVÃO


2.1. Descrição da área de estudo
A ocupação inicial do bairro remonta ao século XVI, quando padres jesuítas construíram uma
pequena ermida, junto ao caminho de São Cristóvão. Em 1808, a sede de uma das chácaras da
região – a Quinta da Boa Vista - foi doada ao Príncipe Regente D. João, que dela fez sua
residência de verão. Em curto espaço de tempo, a acanhada vila de pescadores foi ocupada,
transformando-se no aristocrático arrabalde de São Cristóvão Imperial. Com o fim da monarquia,
o bairro entrou decadência. Refletindo as modificações por que passava o resto da cidade,
mudaram o perfil social de sua ocupação, a natureza de seu tráfego e a forma e a função de seus
edifícios.

No inicio da década de 1990, a construção da Linha Vermelha (RJ-071) marcou de forma


definitiva a paisagem do bairro. A via expressa que liga a Baixada Fluminense ao Centro e é um
dos principais acessos para o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro tem cerca de vinte e um
quilômetros de extensão e um fluxo médio diário de 142.000 veículos (SMTR, 2012). Suas
pistas elevadas cortam o bairro passando pela Rua Bela, Campo de São Cristóvão e Rua Figueira
de Melo (Figura 3).

Figura 3: À esquerda: indicação da passagem da LV através de São Cristóvão. À direita: acima e no meio,
a passagem da LV pela Rua Figueira de Melo, abaixo a entrada da LV na Rua Figueira de Melo a partir do
Campo de São Cristóvão

584
As ruas Bela e Figueira de Melo apresentam características morfológicas e de uso bastante
semelhantes. As calçadas são estreitas, com as fachadas muito próximas das vias de tráfego.
Apesar da presença de alguns edifícios de até seis pavimentos, predominam as construções
térreas e os sobrados. O uso do pavimento superior dos sobrados como habitação, muito comum
nestas ruas antes da implantação da Linha Vermelha, é bastante raro. Atualmente, o tipo de uso
mais presente é o de comércio e serviços, principalmente garagens, depósitos, oficinas
mecânicas, lojas de acessórios para veículos e artefatos de borracha. Em alguns trechos,
principalmente da Rua Bela verifica-se o abandono de muitos imóveis.

Com exceção do Campo de São Cristóvão, ocupado por edifício de grande porte e de algumas
construções mais recentes, o padrão de ocupação dominante nas ruas estudadas é típico dos
primeiros bairros cariocas. As lojas e sobrados ocupam praticamente toda a área disponível, sem
afastamento nas laterais e na testada do lote. A ventilação e iluminação dos compartimentos são
realizadas principalmente através dos vãos da fachada principal, complementadas por poços de
ventilação ou clarabóias. Na área estudada, como proteção contra o ruído, muitas das edificações
optaram pela vedação completa dos vãos da fachada frontal e uso de ar condicionado. Entretanto,
a tipologia dominante do comércio local ainda são lojas abertas direta e permanentemente para a
calçada, expondo os trabalhadores ao ruído (e ao calor e poluentes) emitido pelos veículos.

2.2. Medição de níveis sonoros


Em função do uso predominantemente comercial e de serviços dos edifícios, as medições
apresentadas neste artigo foram realizadas durante o dia. Foi utilizado um Medidor de Nível de
Pressão Sonora marca Larson Davies, modelo 831, na curva de ponderação (A), em resposta
rápida (fast). De acordo com as recomendações da NBR-10.151 (ABNT, 2000) o equipamento
foi posicionado 1,20 metros acima do solo e afastado, no mínimo, 1,50 metros de fachadas,
muros ou outras superfícies refletoras.

Para efeito de comparação com os parâmetros da legislação foram medidos os níveis de ruído
equivalente (LAeq) por períodos de 5 minutos. De acordo com a lei 3268 (PCRJ, 2001) o nível
critério para avaliação de áreas externas em Zonas de Uso Misto (Rua Bela) e Zonas de
Comércio e Serviços (Campo de São Cristóvão e Rua Figueira de Melo) é de 65 dB(A) para o
período diurno. Para avaliar a flutuação do ruído no tempo foram também registrados os valores
máximos e mínimos (Lmax, Lmin) e índices estatísticos (L10 e L90) ocorridos no período.
Simultaneamente às medições, foi realizada a contagem dos veículos que trafegavam nas vias
(nível da calçada). Na figura 4, o mapa com a localização dos pontos de medição e na tabela 1,
os resultados.

Figura 4: Mapa dos locais de medição: (1) a (4) na Rua Bela, (5) no Campo de São Cristóvão e (6) a (9) na Rua
Figueira de Melo. Fonte: Autoras sobre imagem do Google Earth

585
Tabela 1: Resultado das medições
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Hora 14h43min 15h00min 15h28min 15h50min 16h05min 16h23min 16h45min 17h05min 17h10min
Veículos leves/ pesados 58/ 9 57/ 7 54/ 1 53/ 4 90/ 17 55/ 12 61/ 9 78/ 13 44/ 15
Total de veículos 67 64 55 57 107 67 70 91 59
LAeq 81,5 73,1 75,0 75,8 74,8 78,7 79,7 80,8 81,3
Lmax 89,2 78,0 85,9 85,3 81,5 94,9 88,6 94,4 95,1
L10 83,9 74,8 77,1 77,6 76,9 80,9 81,9 82,1 83,2
L90 77,9 68,4 70,6 72,4 71,6 74,1 76,5 77,2 76,5
Lmin 74,3 67,3 66,9 68,6 69,3 70,2 73,5 69,2 73,2

Embora todos os locais medidos tenham em comum o fato apresentarem níveis de ruído muito
elevados, superiores aos NCA de 65 dB(A) permitido pela legislação, a comparação entre os
valores de LAeq (Figura 5) e o numero de veículos durante o período de medição (Figura 6),
permite destacar a influencia da morfologia do campo sonoro nos resultados.

90
80
70
60
dB(A)

50
40
30
20
10
0

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 5: Níveis de LAeq por local de medição. A linha tracejada indica o NCA

120

100

80
VEÍCULOS

PESADOS
60
LEVES
40

20

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 6: Contagem de veículos durante o período de medição

Na medição realizada no Campo de São Cristóvão (5), em que o campo sonoro é mais aberto,
foram registrados, simultaneamente, o maior numero de veículos e o menor LAeq. Ressalte-se
que a medição foi realizada no canteiro central, abaixo das pistas do viaduto, com a contribuição
das reflexões sobre a face inferior das pistas (Figura 7).

586
Por outro lado, os locais que apresentam os maiores níveis de pressão sonora correspondem aos
pontos de estrangulamento, onde, em muitas situações, a estrutura dos viadutos encosta nos
edifícios (Figura 8). Correspondem também às áreas em que a deterioração do espaço urbano
fica mais evidente.

Figura 7: Local (5) no Campo de São Cristóvão Figura 8: Local (1) na Rua Bela

Apesar do fluxo de veículos no nível das ruas ser extremamente descontínuo, os níveis de ruído
apresentam pouca variação no tempo (Figura 9). Embora a diferença entre os valores de Lmax e
Lmin reflita a relação veículos leves e pesados, a diferença entre L10 e L90 é sempre pequena,
em decorrência do campo sonoro reverberante estabelecido pela “cobertura” das ruas e pela
contribuição do tráfego, intenso e permanente, de veículos sobre as pistas da Linha Vermelha.

30
25 25
25
22
19
20
17
15
dB(A)

15 Lmax-Lmin
15 12 L10 - L90
11
10
6 6 7 7 7
5 5 5 5
5

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 9: Variação do ruído no tempo

O trecho da Rua Figueira de Melo, localizado junto ao Campo de São Cristóvão é o que
apresenta a maior concentração de lojas e o mais intenso fluxo de pedestres. Para avaliar a
influencia do ruído externo sobre os usuários, especialmente funcionários que permanecem no
local durante todo o dia, foram realizadas medições em duas lojas, localizadas em frente aos
locais (6) e (7). A loja em frente ao local (6), que apresenta recuo em relação às construções
mais antigas, está afastada cerca de 10,0 metros do meio fio. Já a fachada da loja do local (7),
que fica em um dos pontos de “estrangulamento”, dista apenas 2,50 metros do meio fio. Os
resultados das medições estão na figura 10.

Neste caso, embora a loja (7) esteja mais exposta ao ruído, as características da fachada e até
mesmo os produtos expostos atuam para reduzir o ruído junto ao balcão. De qualquer forma, os
níveis de ruído estão muito acima dos limites de conforto e salubridade acústica. De acordo com
a NR17 (MT, 1978) para as atividades que não apresentam equivalência ou correlação com
aquelas relacionadas na NBR 10152, o nível máximo de ruído aceitável para efeito de conforto
será de até 65 dB (A).

587
LOJA (6) LOJA (7)
85
83

79,7

79,2
78,7
81

77,6

77,1
79

76,1
77
75
73
71
69
67
65
RUA FACHADA BALCÃO

Figura 10: A esquerda, fachada da loja (6), no meio resultado das medições, à direita fachada da loja (7).

2.3. O PEU de São Cristóvão:


O Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro (1992) estabelece a obrigatoriedade da execução de
Projetos de Estruturação Urbana (PEUs) com o objetivo de nortear o desenvolvimento físico-
urbanístico de um conjunto de bairros vizinhos e com características semelhantes. As questões
tratadas por estes projetos - hierarquia de vias, definição de intensidades de uso e ocupação do
solo e determinação de áreas para equipamentos urbanos – são fundamentais para a qualidade
ambiental do espaço urbano. O PEU de São Cristóvão instituído pela lei Complementar n0 73
(2004) abrange também os bairros de Benfica, Mangueira e Vasco da Gama.

No texto da lei está incluída a previsão de restrições à implantação de atividades que venham a
causar impactos no sistema viário (atividades atrativas de veículos leves e de carga, pólos
geradores de tráfego) ou impactos no meio ambiente (atividades incômodas ou nocivas e
empreendimentos potencialmente modificadores do meio ambiente). Entretanto, entre os anexos
do PEU, existe um mapa de gabaritos (figura 11) com a previsão de edifícios de até 12
pavimentos, ocupação que certamente seria potencialmente geradora de muitos dos impactos
acima mencionados.

Figura 11: Mapa de Gabaritos e IAT instituídos pelo PEU. Fonte: PCRJ/ SMU, 2004

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil, em função de particularidades climáticas, o controle da poluição sonora assume
especial importância para a qualidade do ambiente urbano, como um todo. Ao contrário de zonas
temperadas e frias, onde a entanqueidade do edifício, necessária contra as baixas temperaturas,
atua como proteção acústica, em climas quentes a ventilação natural nos edifícios é necessária
para redução do calor e da umidade. Nas cidades brasileiras persiste também a tradição de
utilização dos espaços ao ar livre, públicos e privados, como local de interação social e lazer.
Neste contexto, as populações ficam mais expostas às condições acústicas do entorno.

588
Em duas décadas de funcionamento, a Linha Vermelha tornou-se um dos principais eixos viários
da cidade. Entretanto, é inegável que sua implantação é responsável não apenas pela poluição
sonora, mas também pela deterioração de outros indicadores de qualidade ambiental
(temperatura, poluição atmosférica e visual) e pela degradação física de sua área de influência. O
elevado custo exigido para redução de danos em situações já estabelecidas aponta para a
necessidade de incluir metodologias objetivas de avaliação de cenários futuros, não apenas aos
estudos de impacto ambiental e de vizinhança, mas também às alterações da legislação que
impliquem em alterações significativas na morfologia urbana. O uso de programas de cartografia
sonora, por exemplo, permite que a simulação de desempenho de diferentes alternativas
projetuais e de medidas mitigadoras seja realizado durante o processo de planejamento. Apesar
dos avanços científicos verificados no campo da acústica ambiental urbana, percebe-se ainda um
descompasso entre o estado da arte das pesquisas e as práticas de gestão da poluição sonora.

REFERÊNCIAS
1. Assis, E. S. (2006) Aplicações da climatologia urbana no planejamento da cidade: revisão dos estudos
brasileiros. Revista de Urbanismo e Arquitetura. V.10. P. 20-25.
2. Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000). NBR-10151: Acústica: Avaliação do Ruído em Áreas
Habitadas Visando o Conforto da Comunidade: Procedimento. Rio de Janeiro.
3. Barretto, D. M. e Freitas, I. M. D. P. (2008) Importância de mapas de ruído na análise do planejamento dos
transportes, Anais do XXII Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica. Belo Horizonte, 26-29.
4. Directiva 2002/49/EC do Parlamento Europeu e do Conselho, de Junho de 2002, Official Journal of the
European Communities, p.12-25, 2000.
5. Garavelli, S. L., Moraes, a. C. M., Nascimento, J. R. R., Nascimento, p. H. D. P., Maroja, a. M. Mapa de Ruído
como Ferramenta de Gestão da Poluição Sonora: Estudo de Caso de Águas Claras - DF. In: Actas do 4º
Congresso Luso-Brasileiro para o Planejamento Urbano, Regional, Integrado e Sustentável. Faro, Portugal,
outubro 2010.
6. IBGE (2010), Censo 2010. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br.
7. Ministério Do Trabalho e Emprego (1978). NR 17. Ergonomia, Segurança e Medicina do Trabalho.
8. Moraes, E.; Simon, F.; Guimarães, L.. Mapa de Prediccion del Ruido Ambiente en Belém/ Brasil (2009). In:
Anais do X Encontro Nacional e VI Encontro Latino Americano de Conforto no Ambiente Construído. Natal,
Brasil.
9. Niemeyer, M. L. A. (2010) Conforto Acústico em Ruas do Bairro de São Cristóvão, Rio De Janeiro/ Brasil. In:
Actas do 4º Congresso Luso-Brasileiro para o Planejamento Urbano, Regional, Integrado e Sustentável. Faro,
Portugal.
10. Niemeyer, M. L. A., Santos, M. J., Malafaia, C. (2007) De D. João VI à Linha Vermelha: Reflexões Sobre A
Trajetória Do Bairro De São Cristóvão Imperial. In: 200 Anos da Chegada da Família Real Portuguesa ao
Brasil. Rio de Janeiro.
11. Pinto, F.; Mardones, M.(2009). Noise mapping of densely populated neighborhoods: example of Copacabana,
Rio de Janeiro – Brazil. Environmental Monitoring and Assessment. Vol. 155, 309-318.2009.
12. Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Lei 3268 (2001). Da Proteção contra Ruído.
13. Secretaria Municipal de Urbanismo do Rio de Janeiro. Lei Complementar n0 16 (1992). Plano Diretor Decenal
da Cidade do Rio de Janeiro.
14. ___________________. Lei Complementar n0 73 (2004). Projeto de Estruturação Urbana de São Cristóvão.
15. Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro (2012). Estatísticas de volume de tráfego. Disponível
em: http://www. http://www.rio.rj.gov.br/web/smtr/exibeconteudo?article-id=149831.
16. Souza, L. C. L. (2006) Mapeamento Térmico e Acústico de um Bairro Residencial para Fins de planejamento
Urbano. In: Actas do 2º Congresso Luso-Brasileiro para o Planejamento Urbano, Regional, Integrado e
Sustentável. Braga, Portugal.
17. WHO (2003). World Health Report 2003 − Shaping the future. Geneva, World Health Organization.

Agradecimentos a CAPES pela bolsa de mestrado concedida à Marina Medeiros Cortês.

589
PLANO DE MONITORAMENTO DE RUÍDO DE UM PARQUE EÓLICO

BARRETTO, Débora1,2; FERREIRA, Marcelo2 ; SOUZA, Danilo3; PAVANELLO, Livia4.


(1) UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura; (2) Audium – Áudio e Acústica; (3) PPGAU-
UFBA – Universidade Federal da Bahia; (4) UFSM – Universidade Federal de Santa Maria.

RESUMO
Energia Eólica é aquela que provém dos ventos e pode ser definida como energia cinética do ar em
movimento, a qual o homem pode aproveitar para realização de trabalho útil. Essa fonte de energia permite
geração de eletricidade utilizando turbinas eólicas (ou aerogeradores). O conjunto de aerogeradores forma
um Parque Eólico e o conjunto de parques forma uma Fazenda Eólica. Na atualidade, a indústria da energia
eólica cresce no mundo com taxas em torno de 25% e regiões do interior da Bahia possuem um grande
potencial nesse sentido. Entretanto a presença de aerogeradores ocasiona uma potencial mudança na
paisagem sonora local e por isso seu impacto ambiental deve ser rigorosamente controlado e estudado para
avaliar a necessidade de se minimizar os efeitos nas proximidades de núcleos habitacionais. Este trabalho
apresenta a metodologia de monitoramento de ruído para a implantação do Complexo Eólico Sento Sé no
município de Sento Sé/BA em três fases distintas: Pré-implantação, Implantação e Operação dos parques.

ABSTRACT
Eolic energy comes from the wind and it can be defined by the cinetic energy of the air´s motion, from wich
man can employ for useful work. Eolic energy allows the generation of electricity by utilizing eolic turbines
or aerogenerators. A group of wind turbines is known as an Eolic Park and a group of them, Wind Farm.
Nowadays, the industry of eolic energy grows, worldwide, at the rate of 25% per year and Bahia has a big
potencial. However, the presence of aerogenerators couses a potential change on a given soundscape and
therefore its impacts should be rigorsly controlled and studied to assess the necessity for minimizing its
effects at the proximities of inhabited areas. This article presents a methodoly for assembling a Sound
Monitoring Plan for the allocation of the Eolic Complex of Sento Sé in the city of Sento Sé (state of Bahia,
Brazil) in three distinct stages: Pre-construction, Construction and Operation of the Eolic Parks.
Palavras-chave: Parque eólico. Impacto ambiental. Energia eólica. Monitoramento sonoro.

1. INTRODUÇÃO
Os parques que compõem a Fazenda Eólica Brennand encontram-se entre as áreas de ventos mais
adequadas a essa tipologia de empreendimento do estado da Bahia, conforme informações
disponíveis no Atlas do Potencial Eólico da Bahia (COELBA, 2001), Atlas do Potencial Eólico
Brasileiro (AMARANTE et al., 2001) e resultado de mapeamento de mesoescala. Três Parques
Eólicos compõem o Complexo Sento Sé: Parque Eólico de Pedra Branca, Parque Eólico São Pedro
e Parque Eólico Sete Gamaleiras.
Apesar da vantagem de ser considerada uma forma de geração de “energia limpa”, a presença de
aerogeradores ocasiona impactos sonoros no local onde se insere, principalmente pelo fato de
funcionar initerruptamente. Na fase de implantação, como toda obra de grande porte, um parque
eólico necessita de grande mobilização de maquinário e diversos equipamentos, que são, em sua
maioria, ruidosos. A presença desses elementos, assim como o surgimento de tráfego, antes
inexistente, de veículos pesados, modifica significativamente o ambiente sonoro. Durante a
operação, de forma generalizada, os ruídos emitidos por aerogeradores variam entre 35 e 45dB(A),
a distâncias entre zonas habitadas e o aerogerador cerca de 300 metros, quando o vento sopra na
direção do rotor para o receptor (CUSTÓDIO, 2010). Sendo assim, é fundamental a existência de
um Plano de Monitoramento do Impacto Sonoro do Parque Eólico a ser implantado.

590
O plano deve avaliar esse impacto e definir métodos de monitoramento em três fases distintas: Fase
de Pré-implantação, Implantação/Construção e Fase de Operação do Parque.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Considerações gerais
Wallace (2011) define som ambiente como a soma total dos sons próximos e distantes do local de
medição tanto antes, quanto durante a construção de um Parque Eólico, como depois, em seu
período operacional. Define, também, que o ruído de fundo é a parcela de sons desconsiderando-se
a contribuição do Parque Eólico. Nesse sentido pode-se afirmar que quando a paisagem sonora se
altera permanentemente, modifica-se também o ruído ambiental.
Segundo Hessler (2011), as medições do ruído proveniente de turbinas aerogeradoras de energia são
diferenciadas das demais medições de equipamentos geradores de energia por que devem
necessariamente ocorrer na presença de ventos favoráveis, com velocidade de vento mínima para o
funcionamento destes equipamentos e para que funcionem a 100% de sua capacidade de geração.
Salienta-se que em situações em que o vento sopre do ponto de medição em direção à turbina, os
níveis de ruído decrescem significativamente, reduzindo os valores registrados em até 10dB
(EWEA, 1997; GIPE, 1995).
Mateos e outros (2011) aponta a inexistência de normativas e legislações específicas que
contemplem parâmetros básicos para estudos de impacto ambiental do ruído de Parques Eólicos,
mas o estudo considera fundamental conhecer os receptores
característicos das zonas onde serão implantados os 8m/s
aerogeradores e defende a construção de mapas de ruídos para
as situações atual e futura.
Condições meteorológicas consideradas adversas, como a
presença de ventos fortes durante o período de medição,
dificultam a real captação dos valores de nível de ruído
ambiental. Tais problemas podem ser decorrentes da parcela
de “pseudo” ruído induzido pelo vento no microfone, pelo
ruído residual (sob condições ambientais normais), de fundo
Figura 01a – NPS de aerogeradores em
(sons induzidos pelo vento, excluindo o ruído proveniente da função da velocidade do vento. Fonte:
fonte sonora estudada) que pode ser amplificado pelo regime adaptado de HESSLER, 2011.
de ventos (intensidade e direção dos ventos em relação à
posição do microfone), pelo comportamento aerodinâmico dos
elementos construídos ou naturais nas proximidades dos
equipamentos de medição e pelo nível de potência sonora
diferenciado dos aerogeradores sujeitos a diferentes valores de
velocidade do vento (Figura 01a).
Segundo Hessler, também, faz-se necessário utilizar sempre
nas medições com vento fortes um protetor (Wind screen)
especial para o microfone, sendo recomendável a utilização de
maiores diâmetros. Estudos comparativos (Figura 01b) em
túneis de vento para medições realizadas com o mesmo
equipamento sujeito a idênticas condições de vento, com Figura 01b – “pseudo” nível de ruído
protetores de mesma porosidade, porém com diâmetros medido pelo mesmo microfone sob dois
diferentes (60,00mm VS. 175,00mm), obtém-se um melhor tamanhos de Wind screen. Fonte:
HESSLER, 2011.
resultado utilizando-se o protetor de maior dimensão, podendo
a diferença no resultado alcançar 10dB.

591
Menge (2011) constatou que o espectro de
ruído produzido por um aerogerador não
apresenta aspectos tonais específicos.
Comparou-se o L90 de duas medições de
ruído, em condições de vento similares,
realizadas no período noturno (período mais
silencioso) com o aerogerador ligado e
desligado. O gráfico da Figura 02 aponta que
o equipamento analisado contribui para um
incremento de ruído quase uniforme em todas Figura 02 – L90 em bandas de oitava para duas medições
as bandas de frequência, exceto para as altas. noturnas (período mais silencioso) com o aerogerador ligado
(vermelho) e desligado (azul). Fonte: MENGE, 2011.
Em seus estudos, Menge (2011), também
constatou que as emissões sonoras de baixa frequência de uma turbina aerogeradora não atingem
níveis audíveis de ruído. No entanto, os níveis de ruído deste equipamento são suficientes para
causar vibrações perceptíveis em esquadrias das edificações.
Sabe-se da influência do ruído na fauna, mas este aspecto não será objeto de estudo desse trabalho.
O plano de monitoramento de ruídos de um Parque Eólico tem por objetivo garantir, através de
medições in situ, que os impactos sonoros não ultrapassarão os valores de Nível de Pressão Sonora
(NPS) estipulados pelas normas vigentes.
2.2. Caracterização das Fontes de Ruído
2.2.1. FASE DE IMPLANTAÇÃO
O ruído na construção civil proporciona danos à saúde do trabalhador, especialmente pelo fato de
existir na quase totalidade das atividades executadas em um canteiro de obras (RODRIGUES et al.,
2009). A fase de implantação do Parque Eólico dura no mínimo um ano e para essa etapa são
consideradas como principais fontes de ruído: tratores (média 100dBA); bate-estacas (média
100dBA); explosivos (média 85-100dBA, perfuração de rochas; 70-140dBA, detonação dos
explosivos; e 65-85dBA, remoção do material); serra circular (média 105dBA).
2.2.2. FASE DE OPERAÇÃO
Os impactos sonoros da fase de operação do Parque Eólico provêm principalmente dos
aerogeradores e são classificados como: Mecânicos - resultantes das engrenagens de transmissão e
da alta velocidade nos geradores; e/ou Aerodinâmicos - resultante do atrito dos ventos através das
pás (DUARTE et al., 2006). Conforme observado na Figura 03a, os aerogeradores são constituídos,
basicamente pela torre, rotor, nacele e pelas pás. A origem do ruído mecânico é a caixa de
engrenagens, pois a vibração destas, devido às suas altas rotações (1000-1500rpm), é transmitida
para as paredes da nacele, onde são fixadas. A transmissão do ruído mecânico também pode ser
decorrente do contato da torre com a nacele. O ruído aerodinâmico é o som provocado pelas pás do
rotor ao passar pelas torres. Esse ruído é diretamente influenciado pela velocidade do vento que
incide sobre a turbina eólica, principalmente nas pontas destas. Quanto maior for a velocidade de
rotação, maior será o som produzido pelas pás até estabilizar em uma determinada velocidade do
vento de acordo com cada equipamento (Figura 01a). Os aerogeradores adotados no Complexo
Eólico Sento Sé, são:

• Parque Pedra Branca: Turbinas Vestas Wind, 6 unidades modelo V100 de 2MW e 6
unidades modelo V90 de 3MW;
• Parque São Pedro do Lago: Turbinas Vestas Wind, 4 unidades modelo V100 de 2MW e 9
unidades modelo V90 de 3MW;
• Parque Sete Gameleiras: Turbinas Vestas Wind, 15 unidades modelo V100 de 2MW.

592
2
1

2 4

1) NACELE
2) PÁS
3) ROTOR
4) TORRE DE SUSTENTAÇÃO
Figura 03b – Imagens de Parques Eólicos em zona rural.
Figura 03a – Desenho esquemático de uma turbina eólica Fonte: http://www.espacoturismo.com/atracoes-
moderna. Fonte: CBEE / UFPE. 2000. Disponível em: turisticas/parque-eolico
www.eolica.com.br. (adaptado).

O ruído proveniente da componente mecânica predomina em aerogeradores com diâmetros de pás


de até 20m, enquanto que nos de diâmetros superiores é o ruído proveniente da componente
aerodinâmica que prevalece (MENDES et al., 2000). Na situação estudada, as pás dos
equipamentos possuem comprimento médio de 40,3m, prevalecendo, portanto, o ruído
aerodinâmico. De acordo com Grubb e Meyer (1993), para que a energia eólica seja considerada
tecnicamente aproveitável, é necessário que sua densidade seja maior ou igual a 500W/m², a uma
altura de 50m, o que requer uma velocidade mínima do vento de 7 a 8m/s. A Tabela 01 apresenta os
Níves de Potência Sonora (NWS) dos equipamentos de acordo com a velocidade do vento.
Analisando-se a Tabela 01, também Tabela 01: Nível de Potência Sonora dos equipamentos adotados
é perceptível que, sob velocidade de Nível de Potência Sonora à altura do “Hub”
Tipo de Equipamento Vestas V90-3.0MW Vestas V100-2.0MW
vento de 8m/s, os aerogeradores Altura do “Hub” 80m 105m 80m 95m
alcaçam picos de NWS e a partir LwA@4m/s (10m acima do solo) [dBA] 97.9 98.2 96.2 96.6
Velocidade do vento (m/s) 5.6 5.7 5.6 5.7
desse ponto, o nível de emissão LwA@6m/s (10m acima do solo) [dBA] 104.2 105.0 103.9 104.4
sonora destes praticamente Velocidade do vento (m/s) 8.4 8.6 8.4 8.6
LwA@8m/s (10m acima
estabiliza. Dessa forma, conclui-se Velocidade do vento (m/s)do solo) [dBA] 107.0 107.0 105.0 105.0
11.1 11.5 11.2 11.5
que 107dB(A) para Vestas V90 e LwA@10m/s (10m acima do solo) [dBA] 105.6 105.3 105.0 105.0
105dB(A) para Vestas V100 são os Velocidade do vento (m/s) 13.9 14.3 13.9 14.3
LwA@12m/s (10m acima do solo) [dBA] 105.3 105.4 105.0 105.0
valores máximos de Potência Sonora Velocidade do vento (m/s) 16.7 17.2 16.7 17.2
para estes equipamentos. Fonte: Dados fornecidos pelo fabricante.

2.3. Níveis aceitáveis de ruído


2.3.1. FASE PRÉ-IMPLANTAÇÃO
Antes da fase de implantação e operação dos parques eólicos, deverá ser caracterizada a paisagem
sonora existente, mas como a vizinhança dos parques já pode estar exposta a valores acima dos
regulamentados, faz-se necessário, também, a comparação dos valores de ruído medidos com as
normas NBR 10.151 e NBR 10.152.
2.3.2. FASE DE IMPLANTAÇÃO
A Norma Regulamentadora NR-15 - Atividades e Operações Insalubres (BRASIL, 1977) dispõe
limites de tolerância ao ruído contínuo ou intermitente em ambientes de trabalho. De acordo com
esta norma, admite-se como limite de tolerância o valor de 85dB(A) em períodos de tempo de, no
máximo, 8 horas de exposição contínua e não é permitida exposição a níveis de ruído acima de
115dB(A) para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos (por Equipamentos de
593
Proteção Individual - EPI´s). A norma de higiene ocupacional NHO-01 (MTE, 2001) tem por
objetivo esclarecer critérios e procedimentos para a avaliação ocupacional em quaisquer situações
de trabalho e nesse caso, aplica-se no Complexo Eólico tanto na fase de Implantação, quanto na
Operação. Além de promover a saúde e bem-estar dos trabalhadores é necessário também manter o
ruído a níveis confortáveis na vizinhança dos Parques. Sendo assim, ressalta-se a importância da
observância aos parâmetros definidos pelas normas NBR 10.151 e NBR 10.152.
2.3.3. FASE DE OPERAÇÃO
Atualmente a situação de controle de emissão de ruído no Brasil deve atender a Resolução 001 do
CONAMA (BRASIL, 1990), que estabelece que são prejudiciais à saúde os ruídos superiores aos
determinados pela NBR 10.152 e aos apresentados na NBR 10.151. Este último documento
estabelece um método de avaliação de ruídos, baseado na comparação entre o nível de ruído medido
em campo (LAeq) e o Nível Critério de Avaliação NCA. O critério de ruído ou nível-limite depende
da zona onde se localiza o empreendimento e considerando-se a classificação “Áreas de Sítios e
Fazendas” para o local de implantação dos aerogeradores, define 40dB(A) no período “Diurno”, e
35dB(A) no período “Noturno”. No momento da elaboração da Metodologia não estavam definidas
as posições dos aerogeradores nem a proximidade entre os mesmos, constando apenas a quantidade
destes em cada Parque, visto que isso seria fruto de um projeto específico a ser desenvolvido
posteriormente. Por conta disso, não há como avaliar a composição sonora do conjunto.
Considerando-se os valores de NWS fornecidos na Tabela 01, para cada aerogerador
individualmente, elaborou-se a Tabela 02 que aplica o cálculo de propagação sonora para distâncias
estratégicas, utilizando-se os valores mais altos de NWS para cada equipamento.
Tabela 02: NPS dos aerogeradores
Vestas V90-3.0MW Vestas V100-2.0MW
Distância (m)
80m (8m/s) 105m (8m/s) 80m (8m/s) 95m (8m/s)
NWS NPS – dB(A) NWS NPS – dB(A) NWS NPS – dB(A) NWS NPS – dB(A)
100 107 56 107 56 105 54 105 54
200 107 50 107 50 105 48 105 48
300 107 46 107 46 105 44 105 44
1.100 107 35 107 35 105 33 105 33

Outro método de análise é a comparação dos níveis de ruído medidos nos cômodos receptores com
os valores de conforto para ambientes internos da NBR 10.152. Sendo nesse caso “Residências” a
tipologia de ambientes predominantemente encontrados nas adjacências dos Parques eólicos. Os
valores permitidos internamente não pode ultrapassar 45dB(A) para dormitorios e 50dB(A) para
sala de estar. Observando-se a Tabela 02 e a Figura 04, constata-se que o afastamento de 300m,
atenderia aos parâmetros da 10.152, ou seja, pode ser considerada como uma “distância de
segurança” para áreas residenciais. No entanto, apenas em distâncias a partir de 1.100m os
requisitos da 10.151 seriam cumpridos. Essas contradições da normatização brasileira complicam as
análises provenientes dos monitoramentos. Também é necessário o controle da exposição ao ruído
dos funcionários do parque, atendendo aos parâmetros estabelecidos pela NR-15.

Figura 04: Queda do NPS pela distância para aerogeradores do tipo Vestas V90 e V100

3. RESULTADOS e DISCUSSÕES
Como resultado desse trabalho, apresenta-se os procedimentos de monitoramento em três fases:
Pré-implantação, Implantação e Operação do Parque, considerando os níveis aceitáveis de ruído em
cada fase e as metodologias específicas que deverão ser adotadas para as medições.

594
Os procedimentos básicos de medição devem atender as especificações da NBR 10.151. As
medições deverão ser efetuadas utilizando medidor de pressão sonora que atenda às especificações
da IEC 60.651. Recomenda-se que o equipamento possua recursos para medição do LAeq e registre
os valores em pelo menos bandas de oitavas (31,5Hz - 8 KHz). O microfone do medidor deverá
estar equipado com protetor de vento reforçado.
3.1. Metodologia de monitoramento – Fase de Pré-implantação
Caso as condições meteorológicas permitam, o Parque Eólico funcionará continuamente, ou seja,
24h por dia. Por isso, recomenda-se que as medições de Ruído Ambiente, anteriores ao
funcionamento do parque, sejam realizadas nos períodos diurno (7-18h) e noturno (18-7h). Esse
parâmetro pode ser modificado pelas autoridades locais de acordo aos hábitos da população.
Os pontos de medição devem ser escolhidos em função da proximidade de fontes sonoras e
considerando a situação e a influência dos futuros aerogeneradores, visto que na Fase de Operação
serão efetuadas medições nos mesmos locais. As medições serão registradas em sessões compostas
por três pontos cada, afastados pelo menos 10m entre si, nos limites do parque, considerados os
mais críticos em relação à localização das futuras turbinas eólicas, ou seja, os locais que
posteriormente, provavelmente, apresentarão os maiores NPS. Por se tratar de uma situação onde
existe pouca variação dos níveis sonoros, o tempo de medição na Fase de Pré-implantação deverá
ser de no mínimo 15 minutos, sendo esse tempo suficiente para coletar dados que expressem com
mais fidelidade a realidade. Devem ser registradas também as médias da velocidade e de direção do
vento nas proximidades dos aerogeradores durante o período das medições, permitindo
comparações com os dados coletados posteriormente, durante o funcionamento dos aerogeradores.
No entanto, é possível que situações específicas demandem um maior tempo de medição. Apesar de
situarem-se na região Nordeste, os parques serão implantados distantes do litoral, locais em que as
diferenças entre o verão e o inverno são consideráveis. Portanto, as medições devem ser realizadas
nessas estações do ano, já que as variáveis climáticas como umidade e direção do vento influenciam
na propagação do ruído. Faz-se necessária a realização de mapeamento acústico e para melhor
avaliar o impacto deste empreendimento, deve-se confrontar o mapemaneto da situação atual com o
da Fase Operacional.
3.2. Metodologia de monitoramento - Fase de Implantação
O zoneamento do canteiro de obras deve observar a tipologia dos equipamentos utilizados e,
conseqüentemente, os níveis e padrões de ruídos produzidos por estes. Dessa forma, será possível
comparar os níveis de ruído de cada zona com os valores máximos permitidos. É importante
também que se avalie o acréscimo dos níveis de ruído provocado pelo aumento do tráfego,
especialmente de veículos pesados, no local do canteiro de obras e adjascências. Essa avaliação
poderá ser efetuada segundo padrões estabelecidos na NBR 10.151.
Em cada zona, deverão ser realizadas medições com o analisador localizado o mais próximo
possível do ouvido dos operários, a fim de averiguar como o ruído é percebido por eles e o nível de
exposição ao ruído de acordo com os valores previstos pela NR-15. A frequência e o tempo das
medições serão determinados de acordo com o planejamento das obras e recomenda-se que todas as
medições e avaliações referentes à saúde ocupacional sejam organizadas e coordenadas por um
profissional específico desta área. Para as avaliações relativas à vizinhança sugerem-se medições
apenas diurnas, a menos que as obras se estendam até a noite. Como nessa Fase, os equipamentos
emissores de ruído podem ser considerados “fontes móveis”, não é necessário realizar medições nos
mesmos locais das avaliações do ruído ambiental das demais fases. Nesse caso, sugerem-se
medições realizadas nas proximidades das máquinas, para identificar e caracterizar as fontes
causadoras do ruído. Essas avaliações irão possibilitar a adoção de medidas mitigatórias.

595
3.3. Metodologia de monitoramento - Fase de Operação
As medições devem seguir as condições estabelecidas na NBR 10.151 e deverão ser realizadas
apenas com os aerogeradores em funcionamento, por se tratar de uma condição permanente à
vizinhança. Para cada zona residencial vizinha ou conglomerado urbano serão escolhidos um
mínimo de três pontos afastados pelo menos 10m entre si, nos limites do parque. Serão critérios de
escolha, as menores distâncias horizontais e verticais entre o ponto e o rotor, considerando-se os
fatores de diretividade dos aerogeradores estudados. As medições desta fase devem incorporar os
mesmos pontos que os da fase de Pré-implantação, de modo que os resultados das medições possam
ser comparados em condições similares, pois serão registradas também as médias da velocidade e
de direção do vento nas proximidades dos aerogeradores em ambas as fases (Pré-implantação e
Operação). Cabe ressaltar que outro ponto crítico, não necessariamente o mais próximo do
aerogerador, poderá ser escolhido pelo avaliador e sua escolha está condicionada às diversas
influências, como, por exemplo, a topografia ou a direção do vento, caberá ao avaliador apontar
esse local e justificar sua escolha.
São necessárias medições em períodos
distintos, que considerem três regimes de
funcionamento das máquinas (velocidade
do ar mínima para o funcionamento dos
aeorogeradores, velocidade que caracterize
maior NWS e velocidade superior às
demais e que ainda permita o
funcionamento a 100% da capacidade dos
aerogeradores) dependendo também da
estação do ano (verão e inverno). Para
obter-se um parâmetro mais preciso deve-
se realizar pelo menos três sessões de
medições para cada estação. O plano de
monitoramento prevê medições durante os
períodos diurno e noturno. O tempo de
medição por ponto será de no mínimo
15min. As medições externas devem ter Figura 05: Pontos sugeridos de medição de NPS
seu ponto de medição a cerca de 2m dos limites do Parque e afastado aproximadamente a 1,20m do
piso. Condições adversas justificam diferentes situações medidas. Em ambientes internos, essas
deverão ser efetuadas a uma distância mínima de 1m de quaisquer superfícies refletoras e com as
janelas abertas. A Figura 05 apresenta um esquema indicativo de pontos de medição nas áreas
próximas a conglomerados urbanos. Faz-se necessário para conhecimento do impacto espacializado,
o Mapeamento Acústico do Parque Eólico e suas imediações. A análise comparativa do ruído
existente no local antes e depois do funcionamento dos aerogeradores deve ser efetuada para
identificar possíveis desconformidades.

4. CONCLUSÕES
Tanto o movimento de máquinas e veículos na execução de serviços relativos à implantação dos
parques eólicos, quanto o funcionamento dos aerogeradores durante a Fase de Operação, provocam
ruídos que podem causar desconforto às pessoas. Para avaliar a mudança da paisagem sonora e suas
interferências, a existência de um Plano de Monitoramento de ruídos dos parques eólicos é
essencial. O plano apresentado apresenta métodos e procedimentos de medições de ruídos em todas
as fases envolvidas e nesse processo a elaboração de mapas de ruídos nas fases Pré-implantação e
Operação é fundamental. O trabalho de monitoramento resultará em Relatórios que, quando
finalizados, contribuirão para o conhecimento do impacto sonoro de parques eólicos sobre
aglomerados populacionais, fornecendo informações para orientar na especificação de medidas
mitigatórias, além de contribuir na implantação de parques similares.
596
Como o ruído também influencia a fauna, recomenda-se também a elaboração de um plano de
monitoramento específico para salvaguardar o meio biótico. A fase de implantação poderá tanto
impactar os funcionários quanto à população residente nas áreas adjacentes. Na fase de operações
calculou-se a distância de 300m como um valor de segurança entre os aerogeradores e a vizinhança
residencial mais próxima, pois atende a NBR 10.152 (45dB). Esse é um valor generalizado, mas em
determinadas situações estudos específicos serão necessários. É importante ressaltar também a
incompatibilidade entre as normas vigentes e sugere-se a elaboração de normas específicas para
zonas que receberem a permissão do meio ambiente para construir essa tipologia de
empreendimento. Como o Brasil é carente de estudos dessa natureza sugere-se que a cada novo
Parque Eólico a metodologia possa ser aprimorada e adequada a nova realidade, pois deve ser
exequível e economicamente viável.

5. REFERÊNCIAS
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2. ABNT. NBR nº 10152 Níveis de ruído para conforto acústico, 1987.
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em: <http://www.cresesb.cepel.br/atlas_eolico_brasil/atlas-web.htm>. Acesso em: 29 nov. 2010.
4. BENTO COELHO, J. L.; ALARCÃO, D. Noise mapping and noise abatement plans in large cities in
Portugal. In: INTER-NOISE, Rio de Janeiro, 2005.
5. BRASIL, CONAMA. Resolução n° 001. Dispõe sobre critérios de padrões de emissão de ruídos decorrentes
de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, 1990.
6. BRASIL, Norma Regulamentadora (NR-15) – Atividades e Operações Insalubres, Capítulo V, Título II, da
CLT, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho, 1977.
7. COELBA. Atlas do Potencial Eólico do Estado da Bahia. Disponível em <www.coelba.com.br>. Acesso em: 7
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Parques Eólicos na realidade do Rio Grande do Sul. 2006. NUTEMA-PUCRS.
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11. GIPE, P. Wind Energy Comes of Age, John Wiley & Sons, Inc., USA, New York, 1995.
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14. MATEOS, M. Á. M.; ANCELA, J. L. C.; ABASCAL, N. C.; MOLINA, R. H. Análisis de la efectividad de los
estudios acústicos sobre parques de aerogeneradores en Andalucía. In: 42º TecniAcustica, Caceres, ES, 2011.
15. MENDES, L.; COSTA, M.; PEDREIRA, M. J. A Energia Eólica e o Meio Ambiente. Alfragide: Instituto do
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19. WALLACE JR., C. F. Wind turbine noise modeling and verification: two case studies – Mars Hill and Stetson
Mountain I, Maine. In: Noise-Con, Portland, EUA, 2011.

597
ANÁLISE DAS PRINCIPAIS MÉTRICAS UTILIZADAS NO ZONEAMENTO
ACÚSTICO DE ÁREAS PRÓXIMAS A AERÓDROMOS

CARVALHO JR, Edson Benício1, GARAVELLI, Sérgio Luiz2, SMOZINSKI, Felipe Vivian3
(1) Laboratório de Física Aplicada ao Meio Ambiente - Universidade Católica de Brasília, Programa de Pós-gradução
em Transportes - Universidade de Brasília (2) Laboratório de Física Aplicada ao Meio Ambiente - Universidade
Católica de Brasília, Mestrado em Planejamento e Gestão Ambiental - Universidade Católica de Brasília (3) Curso de
Engenharia Ambiental - Universidade Católica de Brasília

RESUMO
O presente estudo teve por objetivo geral verificar possíveis contradições entre as várias normas que
abordam o ruído aeroviário no Brasil. Para tanto, investigou-se as metodologias e recomendações previstas
nas normas e portarias: NBR 10.151, NBR 10.856, NBR 11.415, NBR 12.859, NBR 13.368 e portaria nº
1.141/GM5/87. Também se analisou a resolução CONAMA nº 01/1990. Da análise dessas normas, conclui-
se que a portaria 1.141/GM5 (1987) e as normas NBR’s 11.415, 10.856 e 12.859 constituem-se o melhor
arcabouço teórico e metodológico a ser adotado para estudos relacionados a ruído aeronáutico, atualmente,
no Brasil. Também se constata, da comparação do conjunto de normas específicas para ruído aeronáutico,
com a legislação ambiental, uma incompatibilidade relacionada aos limites sonoros permitidos para áreas
próximas a aeródromos. Da comparação com normas de outros países, conclui-se que seria importante a
realização de estudos com as métricas NEF (Noise Exposure Forecast), SEL (Sound Expusere Level) e Leq,den
(Indicador do nível de pressão sonora dia-fim-de-tarde-noite) no contexto brasileiro.

ABSTRACT
This study aimed to assess possible contradictions between the various standards that address air
transportation noise in Brazil. An investigation was made into the methodologies and recommendations
provided in the rules and ordinances: NBR 10.151, NBR 10.856, 11.415 NBR, NBR 12.859, NBR 13.368
and Ordinance nº. 1.141/GM5/87. The CONAMA Resolution 01/1990. After the analysis of these
documents, it was concluded that the ordinance 1.141/GM5 (1987) and the NBR's 11.415, 10.856 and 12.859
constitute the best theoretical framework and methodology to be used for studies related to aircraft noise at
present in Brazil. However, of specific standards for aircraft noise, in relation to noise limits allowed for
areas close to airfields. Comparison with standards from other countries, indicate the importance of
conducting studies with the metrics NEF (Noise Exposure Forecast), SEL (Sound Exposure Level) and Leq,den
(Indicator of the level of sound pressure day, evening and night) in the Brazilian context.
Palavras-chave: Ruído aeronáutico, Índice Ponderado de Ruído, Nível de Incômodo Sonoro, Normas
Técnicas, Comunidades.

1. INTRODUÇÃO
A procura por transporte aéreo cresce fortemente no Brasil. O tráfego aéreo doméstico brasileiro
aumentou 42,89% em fevereiro de 2010 na comparação com o mesmo mês de 2009 – o maior
crescimento desde setembro de 2003, quando os dados começaram a ser computados. Os voos para
o exterior também aumentaram em fevereiro – alta de 14,4% na comparação com o mesmo mês do
ano passado. Somados os meses de janeiro e fevereiro de 2010, a demanda por transporte aéreo
entre as companhias brasileiras que fazem voos regulares já acumula crescimento de 36,5% no
segmento doméstico e de 13,7% no internacional (ANAC, 2011).

Essa demanda é acompanhada de impactos ao meio ambiente e uma das principais externalidades
negativas é o ruído aeronáutico, que já é um dos distúrbios mais comumente relatados em áreas
residenciais. Isso deve-se ao fato da operação de uma aeronave gerar barulho facilmente
598
identificável e que frequentemente impacta o meio ambiente com energia sonora excessiva
(GROUP, 2003 apud CARVALHO JR, E.B e GARAVELLI, S., 2010). Para a Organização
Mundial de Saúde (OMS) o ruído é o terceiro tipo de poluição que mais afeta as pessoas (WHO,
2001). No Brasil e no mundo, estudos têm indicado um crescimento considerável no número de
reclamações por parte da população em relação ao ruído gerado nos grandes centros urbanos
(CARVALHO Jr., 2008).

A indústria da aviação é o setor de transporte que tem continuamente implementado melhoria de


performance ambiental, mas as constantes melhorias tecnológicas não acompanham o incremento
de emissões devido ao crescimento do tráfego aéreo. As melhorias tecnológicas em emissões
crescem 3% ao ano enquanto que o tráfego aéreo cresce 5% ao ano (CORDINA 2005 apud
BASTOS, BAUM e DIAS, 2007).

O incômodo, causado pelo ruído aeronáutico às comunidades próximas a aeroportos, configura-se


em um dos principais impactos causados por operações aeroviárias. Dessa forma, surge à
necessidade de se ter normas e legislações capazes de garantir uma metodologia confiável e precisa
a respeito da determinação dos impactos do ruído aeroviário no ambiente e na qualidade de vida das
comunidades residentes próximos a aeroportos.

Com o intuito de melhor entender as metodologias e as métricas de avaliação do ruído aeronáutico o


presente estudo parte de ampla revisão bibliográfica em artigos, normas e legislações. O objetivo
geral foi o de verificar possíveis contradições entre as várias normas que abordam o ruído
aeroviário no Brasil. Por objetivos secundários foi determinado: analisar as normas brasileiras e
internacionais relacionadas ao ruído aeroviário, realizar pesquisa a respeito das principais métricas
adotadas no mundo para avaliação do ruído aeronáutico e comparar a métrica acústica utilizada no
Brasil, com as métricas utilizadas em outros países.

Para tanto, investigou-se as metodologias e recomendações previstas nas normas e portarias


brasileiras, a destacar: NBR 10.151, NBR 10.856, NBR 11.415, NBR 12.859, NBR 13.368 e
portaria nº 1.141/GM5/87 e resolução CONAMA nº 01/1990 que considera a poluição sonora uma
fonte de deterioração da qualidade de vida. As normas internacionais analisadas correspondem aos
Estados Unidos, Canadá e Comunidade Européia.

2. MÉTRICAS ACÚSTICAS
2.1 Leq (Nível de pressão sonora equivalente)
O nível contínuo equivalente é o som produzido durante um dado período de tempo medido com
equipamento adequado e calibrado com filtro de frequências na ponderação A. Nível de pressão
sonora equivalente, Leq, em dB(A), é calculado de acordo com NBR 10.151 (ABNT, 2000) pela
equação:

1 T
p (t ) 2 
Leq = 10 × log10 
T

0
p02
dt 

[Eq. 1]

Onde T é a duração do período de referência (tempo total de medida); P(t) é a pressão sonora
instantânea; P0 é pressão sonora de referência (2,0 × 10-5 N/m2). A Equação 1 mostra que o nível
equivalente é representado por um valor constante que durante o mesmo tempo T, resultaria na
mesma energia acústica produzida pelos valores instantâneos variáveis de pressão sonora.

599
2.2 Nível de Ruído Percebido (PNL) e Nível de Ruído Percebido com Correção de Tom
(PNLT)
Segundo a NBR 11.415 (ABNT, 1990), o PNL é o resultado do cálculo dos contornos de igual
índice de ruidosidade, de frequências de banda larga e tipos de ruído produzidos por aeronaves, a
pistão ou a jato, no pouso e decolagem convencionais. No cálculo, consideram-se um campo sonoro
difuso e a inexistência de irregularidades pronunciadas no espectro. É expresso pela equação 2.

PNL = 40 + (10 log N / log 2 ) PNdB [Eq. 2]

Onde, N expressa a ruidosidade total em noys. O noy é uma grandeza psicoacústica desenvolvida
para mensurar objetivamente o incômodo do ruído e expressa a ruidosidade percebida. A
ruidosidade percebida de um tom puro (som em uma única frequência) em 1 kHz, com nível de
pressão sonora de 40 dB, equivale a 1 noy. Ruídos de 2, 4, 10 ou 20 noys são considerados com
tendo ruidosidade percebida 2, 4, 10 ou 20 vezes maior que 1 noy. Portanto, o noy expressa a
sensação subjetiva de incômodo do ruído em uma escala linear (BISTAFA, 2006). Sendo assim, o
noy é a unidade percebida de um ruído cujo PNL é de 40 PNdB (ABNT, 1990). Ressalta-se que
campo sonoro difuso e o campo acústico no qual a energia por unidade de volume tem o mesmo
valor em todos os pontos e onde a intensidade acústica é a mesma em todas as direções (ABNT,
1990).

Caso o espectro apresente tons puros expressivos, um refinamento adicional do método consiste na
correção para cada valor do PNL obtido. Isso requer que se identifiquem picos relativamente
elevados nos espectros medidos, aplicando-se correções conforme regras estabelecidas na norma
ISO 3891. Nos piores casos, essa correção poderá ser de até + 7dB. O resultado é conhecido como
nível de ruído percebido com correção de tom (PNLT) (BISTAFA, 2006). Dessa forma, o PNLT é a
correção do nível de ruído percebido, acrescido de um fator de correção de tom, quando existe
ocorrência de irregularidades espectrais (ABNT, 1990). É definido da seguinte forma (ABNT,
1990):

PNLT = ( PNL + C ) PNdB [Eq. 3]

Onde, C indica a correção do tom.

2.3 Nível Efetivo de Ruído Percebido (EPNL - Effective Perceived Noise Level)
O EPNL é calculado integrando-se o registro de PNLT no intervalo de tempo durante o qual este
esteve até 10 dB abaixo do valor máximo, sendo resultado normalizado pelo intervalo de tempo de
referência de 10s. A ideia por trás da normalização com o valor de 10s é penalizar aqueles aviões
que fazem muito ruído durante muito tempo, considerando-se também que 10s é um tempo razoável
para um sobrevôo típico (BISTAFA, 2006).

Basicamente o EPNL avalia três propriedades: nível de pressão sonora, distribuição de frequência e
variação do tempo (ABNT, 1990). O EPNL é representado, conforme a NBR 11.415 (ABNT,
1990), pela equação 4.

1 t [( PNLT ( t ) / 10 ] [Eq. 4]
10 ∫0
EPNL = (10 log . 10 dt ) EPNdB

Onde, PNLT (t) é o nível de ruído percebido com correção de tom em um instante t.

2.4 Nível de ruído previsto (NEF – Noise Exposure Forecast)

600
O NEF tem por base o EPNL e tem sido usado pelo Departamento de Habitação e Desenvolvimento
Urbano dos Estados Unidos (HUD) e pelo Departamento de Transportes do Canadá (Transport
Canada) para zoneamento do ruído no entorno de aeroportos. Esse zoneamento é elaborado em
termos de curvas isofônicas, sendo o NEF a grandeza que caracteriza as curvas. É somado a todos
os tipos de aeronaves e todos os trajetos de vôo e é definido pela equação 5 (LEVESQUE, 1994 e
BRADLEY, J.S, 1996).

NEF = EPNL + 10 × log( N d + 16, 7.N n ) − 88 [Eq. 5]

Onde EPNL é a média do EPNL de sobrevôo das aeronaves, Nd e Nn representam o número do


tempo correspondente ao período diurno e ao noturno, respectivamente. Destaca-se que as curvas
isofônicas representam a união de pontos com a mesma avaliação numérica, ou nível de ruído, no
entorno de um aeroporto. Leva-se em consideração a possibilidade de se obter os níveis de
incômodo, para um determinado período, um dia, por exemplo, obtendo-se um conjunto de
contornos, ou curvas, de igual nível de incômodo (NUNES e SATTLER, 2004). Por meio dessas
curvas, pode-se avaliar a extensão do impacto sonoro produzido pelo aeroporto, além de analisar
quantitativamente os efeitos de soluções imaginadas. Dessa forma, pode-se elaborar uma política de
ocupação do solo, que harmonize a convivência entre o aeroporto e a comunidade servida (IAC,
1981).

2.5 Índice Ponderado de Ruído (IPR)


No Decreto nº. 89.431, de 8 de março de 1984, nível de incômodo sonoro é definido como a medida
em IPR (Índice Ponderado de Ruído), cumulativa, em escala logarítmica, do incômodo causado
pelo ruído gerado pela operação de aeronaves em um aeroporto. Esse decreto dispõe sobre o Plano
Básico de Zoneamento de Ruído (PBZR) e Planos Específicos de Zoneamento de Ruído (PEZR) a
que se refere o Código Brasileiro do Ar.

Poucos anos depois, o IPR é adotado na portaria nº. 1.141/GM5 de 1987, e até 28 de setembro de
2011(ver item 3.6) era o método oficial adotado pelo Brasil para o cálculo do incômodo produzido
por aeronaves, tendo como referência os contornos IPR 75 e 65 dB(A) para as curvas isofônicas
(curvas de igual nível de incômodo sonoro) utilizadas no PBZR.

As NBR’s 11.415 (ABNT, 1990) e NBR 12.859 (ABNT, 1993) definem o IPR por meio da equação
(6):

IPR(i , j ,k ) = EPNL( i , j ,k ) + 10 log⋅ p (k ) ⋅ n( i , j ,k ) − 68 [Eq. 6]

Onde, n (i , j ,k ) é o número dessas aeronaves, p(k) é o fator de ponderação em função do período do


dia: p(1) = 1 para o período diurno e p(2) = 10 para o período noturno (ABNT, 1990 e ABNT,
1993). Aqui chama-se a atenção para os pesos diferenciados entre voos diurnos e noturnos. Deve-se
considerar que período diurno é de 7 h às 22 h e período noturno de 22 h às 7 h.

Após 1994 a fórmula matemática foi aprimorada com o objetivo de permitir medições diretas em
campo, e encontra-se descrito no Airport Planning Manual. É definido como sendo o nível médio
de ruído, ponderado na escala “A”, para um período de 24h, aplicando-se um acréscimo de 10
dB(A) nos níveis de ruído que ocorrem no período noturno (ICAO, 2002 apud VALIM, 2006).
Obter o valor desse índice contribui com o entendimento das possíveis reações das comunidades
afetadas pelo ruído aeroviário. A fórmula aprimorada é determinada pela expressão 7.

601
1  Ld ( Ln +10)
 [Eq. 7]
IPR = 10 × log   15 × 10 + 9 × 10 10  
10

 24   

Nesta expressão, o número 24 corresponde às horas medidas, 15 ao período diurno e 9 ao noturno,


sendo que o período noturno deve começar depois das 22h e não deve terminar antes das 7h do dia
seguinte. Como se verifica a seguir, o IPR tornou-se equivalente Ldn ou DNL (Day Night Level).

2.6 Ldn (Day Night Level)


O Ldn é uma medida cumulativa da energia total do som, geralmente compilada em uma base anual,
e representa uma média logarítmica dos níveis sonoros no local durante um período de 24 horas,
com uma penalização de 10 dB adicionado a todos os sons que ocorram durante o horário noturno
(22:00 - 7h00). A pena de 10 dB representa a intromissão do ruído adicionado à noite, pois os níveis
de som ambiente durante as horas noturnas são, tipicamente cerca de 10 dB inferiores aos níveis
medidos durante o dia, e por causa da irritação associada a distúrbios do sono (FAA, 2011).

De acordo com a NBR 11.415 (ABNT, 1990), o nível de incômodo sonoro medido pelo método Ldn
é determinado pelo Leq para 24h, sendo que no período das 22:00h às 07:00h, somam-se 10 dB a
todos os níveis medidos. É definido da seguinte forma:

1  Ld ( Ln +10)
 [Eq. 7]
Ldn = 10 × log   15 × 10 10 + 9 × 10 10  
 24   

Onde o número 24 corresponde às horas medidas, 15 ao período diurno e 9 ao noturno, sendo que o
período noturno deve começar depois das 22h e não deve terminar antes das 7h do dia seguinte.

2.7 Leq,den (indicador do nível de pressão sonora dia-fim-de-tarde-noite)


A Diretiva Européia 2002/49/EC indica os parâmetros Leq,den (indicador do nível de pressão sonora
dia-fim-de-tarde-noite) e Leq,noite (indicador do nível de pressão sonora noturno) como indicadores
de longo prazo. O Leq,den é definido pela equação:

1  LAeq ,dia LAeq ,ent + 5 LAeq ,noite +10



Leq , den = 10 × log10   12 × 10 10 + 4 × 10 10 + 8 × 10 10   [Eq. 8]
 24   

O Leq,dia é o nível de pressão sonora equivalente e contínua referente a um período corresponde às


12h avaliado entre 07h e 19h, medido com o filtro de frequências na ponderação A; Leq,ent é o nível
de pressão sonora equivalente e contínua referente a um período corresponde às 4h avaliado entre
19h e 23h (entardecer), medido com o filtro de frequências na ponderação A; Leq,noite é o nível de
pressão sonora equivalente e contínua referente a um período corresponde às 10h avaliado entre 23h
e 07h, medido com o filtro de frequências na ponderação A.

Essa equação mostra que o indicador Leq,den representa o nível de pressão sonora médio nas 24h do
dia, com a aplicação de uma ponderação diferenciada para os ruídos emitidos durante o período do
anoitecer/entardecer (correção + 5 dB) e da noite (correção + 10 dB).

2.8 SEL – Nível de exposição sonora (Sound Exposere Level)


Vários grupos de pesquisa consideram o SEL como o melhor método para caracterizar o ruído
ambiente nas vizinhanças de um aeroporto. Representa a soma de todos os níveis de pressão sonora
dentro de um intervalo de interesse, ou seja, SEL é um valor que indica o nível constante, de
duração de 1 segundo, que tem igual quantidade de energia que o nível equivalente do ruído

602
medido. Este é um índice útil para calcular os níveis sonoros que resultam de qualquer combinação
de fontes sonoras (MORAES, E. e N. LARA, 2003).

O SEL não representa o nível sonoro percebido em determinado momento diretamente, mas provê a
medida líquida de energia do evento acústico inteiro (EUROPEAN COMMISSION WORKING
GROUP, 2010). Pode representado por:

SEL = Leq + 10×log10 (t) [Eq. 9]

3. NORMAS, PORTARIAS E LEGISLAÇÕES – NACIONAIS E INTERNACIONAIS


3.1 Portaria Nº 1.141/GM5/87
A portaria 1.141/GM5 de 1987 estabelece o Plano de Zoneamento de Ruído (PZR) com o intuito de
controlar o uso e ocupação do solo nos arredores dos aeroportos, visto que os níveis sonoros nestas
áreas são bastante altos (AZEVEDO e ORTIGOZA, 2008).

Os ruídos gerados pela operação aeroportuária são estabelecidos pelo Plano de Zoneamento de
Ruído (PZR), que é um documento normativo do Comando da Aeronáutica, estabelecendo
restrições de uso do solo, constituídas pelo PBZR que definem as áreas de impacto do ruído
aeronáutico. Essas áreas podem ser visualizadas na Figura 1 onde: Área 1 – Interior à curva de nível
de ruído 1, onde o nível de incômodo sonoro é potencialmente nocivo aos circundantes, podendo
ocasionar problemas fisiológicos, devido às exposições prolongadas, sendo o IPR de 75 dB(A);
Área 2 – Área do Plano de Zoneamento de Ruído, compreendida entre as curvas de nível de ruído l
e 2 com valores médios do IPR entre 65 dB(A) e 75 dB(A), onde são registrados níveis de
incômodo sonoro moderado; Área 3 – Área do Plano de Zoneamento de Ruído, exterior à curva de
ruído de nível 2, onde normalmente não são registrados níveis de incômodo sonoro significativos
com o valor do IPR sendo inferior a 65 dB(A).

Figura 1: Áreas de Impacto PBZR – Portaria 1.141/GM5/87

3.2 NBR 12.859/1993


Analisa os níveis de incômodo sonoro e fixa condições para gerar curvas isofônicas em áreas
sujeitas ao ruído gerado por operações aeronáuticas. O método de avaliação do incômodo sonoro é
calculado pelo Índice Ponderado de Ruído (IPR). A Tabela 1, relaciona os valores de IPR conforme
a reação da comunidade.
Tabela 1: Relação entre IPR e a reação das comunidades
Valor do IPR Reação da Comunidade exposta a este nível de incômodo
Menor que 53 IPR Nenhuma reclamação é esperada. Ambiente pouco ruidoso
É esperado grande volume de reclamações por parte dos
Entre 53 IPR E 60 IPR
residentes. Ambiente medianamente ruidoso
São esperadas reclamações generalizadas por parte dos
Maior que 60 IPR residentes. É possível ação comunitária em prol da redução do
nível de ruído
Fonte: NBR 12.859/1993

603
3.3 NBR 10.856/89
A NBR 10.856/89 (ABNT) determina o nível efetivo de ruído percebido “Effective Perceived Noise
Level” (EPNL), nas medições de ruído de sobrevoo de aeronaves. O EPNL analisa as três
propriedades básicas do ruído: nível de pressão sonora, distribuição de freqüência e variação no
tempo.

3.4 NBR 13.368/95


A NBR 13.368/95 (ABNT, 1995) prescreve o método para monitoramento de ruídos gerados por
aeronaves que verifica a existência do impacto sonoro gerado pelo ruído aeronáutico (Lra) em
relação ao ruído de fundo (Lrf), conforme a Tabela 2.

Tabela 2: Impacto sonoro gerado pelo Lra em relação ao Lrf


Impacto sonoro Lra - Lrf (dB)
Desprezível <3
Significativo >3
Fonte: NBR 13368/1995

O valor encontrado para a pressão sonora equivalente (Leq) durante as medições deve ser
comparado com os valores da Tabela 3, visando à avaliação do incômodo gerado pelas operações
aeroportuárias.

Tabela 3: Avaliação do incômodo gerado pelas operações aeroportuárias


Reclamações esperadas Diurno Noturno
Sem reação ou queixa esporádicas Leq < 65 Leq < 55
Queixas generalizadas - Possíveis ações da
75 > Leq > 65 65 > Leq > 55
comunidade
Ações comunitárias vigorosas Leq > 75 Leq > 65
Fonte: NBR 13.368/1995

3.5 NBR 11.415/1990


A NBR 11.415/1990, estabelece termos e grandezas empregados no ruído aeronáutico e descreve a
quantidade máxima de exposição diária permissível dos níveis de ruído que uma pessoa está sujeita,
onde o tempo máximo de exposição para um ruído de 85 dB(A) é de 8 horas diárias e para um ruído
de 115 dB(A) é de 7 minutos diários.

3.6 Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) n°°. 161 – Planos de Zoneamento de
Ruídos de Aeródromos (PZR)
A lei n°. 11.812, de 2005, cria a Agência de Aviação Civil (ANAC) e lhe atribui competência para
gradativamente, substituir a regulamentação em vigor por regulamentos, normas e demais regras
emitidas pela ANAC, regulando o ruído aeronáutico. A edição de novos requisitos para os Planos
de Zoneamento de Ruído se justifica pela necessidade de atualizar a legislação complementar, em
nível federal, que contemple o uso do solo nos aspectos referentes aos Planos de Zoneamento de
Ruído (ANAC, 2012).

Assim, no dia 28 de setembro de 2011, a ANAC aprovou a Resolução n°. 202 como o título de
“Planos de Zoneamento de Ruídos de Aeródromos” estabelece, para os operadores de aeródromos,
os requisitos de elaboração e aplicação do Plano de Zoneamento de Ruído – PZR e define critérios
técnicos aplicáveis na análise de questões relacionadas ao ruído aeronáutico na aviação civil.

Essa resolução define um PZR como um documento que tem como objetivo representar
geograficamente a área de impacto do ruído aeronáutico decorrente das operações nos aeródromos
e, aliado ao ordenamento adequado das atividades situadas nessas áreas, ser o instrumento que

604
possibilita preservar o desenvolvimento dos aeródromos em harmonia com as comunidades
localizadas em seu entorno (Resolução n°. 202 - ANAC, 2011).

Também estabelece que as curvas de ruído que compõem o PEZR (Plano Específico de
Zoneamento de Ruído) deverão ser calculadas por meio de programa computacional que utilize
metodologia matemática apropriada para a geração de curvas, na métrica Ldn , considerando como
período noturno, o período compreendido entre 22h e 07h do horário local. Essa resolução ainda
define que:

(a) O operador de aeródromo deve utilizar o critério apresentado a seguir para definir a
obrigatoriedade de aplicação de um PEZR: (1) para aeródromos com média anual de movimento de
aeronaves dos últimos 3 (três) anos superior a 7.000 (sete mil), deve ser aplicado um PEZR (2) para
os demais aeródromos, é facultado ao operador de aeródromo escolher o tipo de plano a ser
elaborado, Plano Básico de Zoneamento de Ruído – PBZR ou PEZR.
(b) A ANAC poderá solicitar a elaboração de um PEZR a qualquer aeródromo. Ressalta-se que o
PBZR possui curvas de ruído de 75 e 65.

3.7 Legislação Ambiental - Resolução CONAMA n. 001/1990 e NBR 10.151


A resolução dispõe sobre a emissão de ruídos, em decorrência de qualquer atividade industrial,
comercial, social ou recreativa, inclusive as de propaganda política. Para a resolução ter efeito de
aplicabilidade, as medições deverão ser efetuadas conforme a NBR 10.151 (ABNT) que fixa os
níveis de ruído superiores que são prejudiciais à saúde e estabelece condições exigíveis para a
avaliação da aceitabilidade do ruído em áreas habitadas, visando o conforto das comunidades e
especifica um método para a medição de ruído. O método de avaliação envolve as medições do
nível de pressão sonora equivalente (Leq), ponderados em dB(A). Estabelece níveis de ruídos em
seis áreas distintas, sendo cinco áreas urbanas e uma área rural.

3.8 Experiências Internacionais (Canadá, Estados Unidos e Comunidade Européia)


O Departamento de Transportes do Canadá (Transport Canada) utiliza o NEF para fornecer uma
medida do ruído das aeronaves nas proximidades dos aeroportos. O principal objetivo da utilização
do NEF, é colaborar com os planejadores de aviação e os responsáveis pelo desenvolvimento das
áreas adjacentes aos aeroportos, para implementar práticas de zoneamento inteligente e gerenciar
adequadamente o uso do solo nas imediações dos aeroportos. Além disso, essa métrica permite
prever a resposta de uma comunidade ao ruído das aeronaves. Se o nível de NEF é maior que 35, as
queixas tendem a ser elevados. Qualquer valor acima de 25 é susceptível de produzir algum nível de
aborrecimento (TC, 2011a).

O grande número de cálculos matemáticos necessários para a construção de curvas isofônicas com o
NEF, requer o uso de técnicas computacionais para a elaboração de mapas. Assim, a determinação
das curvas de ruído, com o uso do NEF, é estritamente um procedimento de cálculo numérico. Desta
forma, técnicas de modelagem computacionais fornecem o único meio prático de construção dessas
curvas (TC, 2011b).

O Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos (HUD) utiliza o


NEF e o Ldn para monitoramento do ruído. O documento intitulado Noise Guidebook foi preparado
para servir de referência básica para o pessoal de campo do HUD, que são responsáveis pela
implementação das políticas relacionadas à ruídos do Departamento (HUD, 2011). Para análise de
ruído aeroviário o Federal Aviation Regulation (FAR) determina o Day Night Level - Nível de ruído
médio (Ldn), como a métrica primária do FAA (Federal Aviation Administration) para medir a
exposição cumulativa do indivíduo à energia sonora resultante de atividades aéreas. Dessa forma, os
principais orgãos do governo americano relacionados ao monitoramento de ruído trabalham com o

605
NEF e o Ldn.

Na Comunidade Européia, a Diretiva 2002/49/CE, recomenda, no Anexo II, aos Estados -


Membros, que não dispõem de métodos de cálculo nacionais ou que pretendem mudar o método de
cálculo, a utilização das métricas Leq,den e Ln para o ruído gerado pelo setor industrial, pelas
aeronaves e pelo tráfego rodoviário e ferroviário.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Tabela 4 resume as principais características das normas e legislações analisadas nesse trabalho.
Percebe-se, então, que a ABNT recomenda quatro normas para ruído aeronáutico: NBR
10.856/1989, NBR 11.415/ 1990, NBR 12.859/1993 e NBR 13.368/1995. A NBR 11.415 somente
define os termos e grandezas empregados na área de ruído aeronáutico.

Tabela 4: Tabela resumo das principais normas e lesgislações aboradadas no artigo


Normas e
Ano Aplicação Métrica Acústica Observações
Legislações
Dispõe sobre Zonas de Proteção e Aprova Essa norma define o IPR como sendo
o Plano Básico de Zona de Proteção de uma unidade de avaliação de incômodo
Aeródromos, o Plano Básico de sonoro calculada a partir dos dados
Portaria n. Dezembro Zoneamento de Ruído, o Plano Básico de operacionais do aeródromo e das
IPR
1141/GM5 de 1987 Zona de Proteção de Helipontos e o Plano aeronaves que o utilizam. Não faz
de Zona de Proteção de Auxílios à referência a nenhuma norma específica,
Navegação Aérea e dá outras providências. mas essa definição do IPR é a mesma da
NBR 11.415/1990.
Esta Norma fixa as condições exigíveis para
a determinação do nível efetivo de ruído
Agosto de
NBR 10.856 percebido “Effective Perceived Noise EPNL
1989
Level” (EPNL), nas medições de ruído de
sobrevôo de aeronaves.
Esta norma define os termos e grandezas Define: IPR, Ldn, Também define vários conceitos
Novembro empregados na área de ruído aeronáutico Leq, NEF, EPNL, utilizados na pesquisa em acústica.
NBR 11.415
de 1990 CNR, CNEL,
WECPNL etc.
Esta Norma fixa as condições exigíveis para Na aplicação desta Norma é necessário
gerar curvas isofônicas e analisar os níveis consultar: NBR 10.856 e NBR 11.415
Maio de
NBR 12.859 de incômodo sonoro em função das áreas IPR
1993
sujeitas ao ruído gerado por operações
aeronáuticas.
Esta Norma prescreve o método para a Na aplicação desta Norma é necessário
monitoração de ruído gerado por aeronaves. consultar: NBR 10.268 (Ruído nas
Maio de
NBR 13368 Leq dependências dos terminais de
1995
passageiros aeroportuários), NBR
11.415, IEC 225 e IEC 651
Dispõe sobre a emissão de ruídos, em Reporta-se à NBR 10.151
Resolução Março de decorrência de qualquer atividade
Conama n. 001 1990 industrial, comercial, social ou recreativa,
inclusive as de propaganda política.
Avalia o ruído em áreas habitadas visando O método de avaliação envolve as
o conforto da comunidade. medições do nível de pressão sonora
Junho de equivalente (Leq), ponderados em
NBR 10.151 Leq dB(A). Estabelece níveis de ruídos em
2000
seis áreas distintas, sendo cinco áreas
urbanas e uma área rural.
Planos de Zoneamento de Ruídos de Estabelece os requisitos de elaboração e
Resolução Aeródromos (PZR) aplicação do PZR e define critérios
Setembro
ANAC n. 202 / Ldn (DNL) técnicos aplicáveis na análise de
de 2011
RBAC n. 161 questões relacionadas ao ruído
aeronáutico na aviação civil.

606
A NBR 12.859/1993 define procedimentos para a avaliação do impacto sonoro gerado pelo ruído
aeroportuário e utiliza como métrica principal o IPR. Já a NBR 10.856 fixa as condições exigíveis
para a determinação do nível efetivo de ruído percebido - EPNL (Effective Perceived Noise Level),
nas medições de ruído de aeronaves.

A NBR 13.368/1995 prescreve o método para monitoração de ruídos gerados por aeronaves que
verifica a existência do impacto sonoro gerado pelo ruído aeronáutico (Lra) em relação ao ruído de
fundo (Lrf).

Em consonância com a portaria 1.141/GM5 (1987) tem-se a NBR 12.859 de 1993, que analisa os
níveis de incômodo sonoro e fixa condições para gerar curvas isofônicas em áreas sujeitas ao ruído
gerado por operações aeronáuticas.

Ressalta-se que a portaria 1.141/GM5 (1987) e as normas NBR’s 11.415, 10.856 e 12.859 se
complementam e indicam a métrica e a metodologia para se verificar o nível de incômodo sonoro
em áreas adjacentes a aeroportos bem como o método de zoneamento urbano e sonoro a ser seguido
para a implantação de um aeródromo. No entanto, a NBR 13.368, de 1995, propõem para
monitoração medir os valores do nível de ruído equivalente contínuo (Leq), por um período mínimo
de 1 h, sem interrupção, durante o período considerado mais crítico. Também expressa uma tabela
onde estabelece a avaliação do incômodo gerado pelas operações aeroportuárias tomando como
referência o Leq. Aqui verifica-se uma incoerência metodológica entre a portaria 1.141/GM5 (1987)
e NBR 12.859 com a NBR 10.856.

A métrica IPR é indicada para um período de medição de 24h e o Leq, na NBR 13.368, somente
para 1 hora de medição. A Resolução CONAMA nº. 1 de 1990 é uma norma ambiental e reporta-se
à NBR 10.151, que utiliza como principal métrica o Leq e fixa as condições exigíveis para avaliação
da aceitabilidade do ruído em comunidades. Os níveis de critério estabelecidos nessa norma são
obtidos por meio do cálculo do Leq assim como o estabelecido na NBR 13.368. Entretanto, a NBR
10.151 não estabelece um tempo de medição de uma hora e apresenta limites de níveis de pressão
sonora para áreas residenciais, em ambientes urbanos, mais restritivos aos propostos pela NBR
13.368.

No trabalho de Carvalho Jr. E. e Garavelli. S (2010) compararam-se os limites estabelecidos na


NBR 10.151 com os impostos na portaria 1.141/GM5 (1987) e na norma NBR 12.859. Dessa
comparação, tem-se que para atender a legislação ambiental, o IPR, da isofônica 2, deveria variar de
43, em áreas de sítios e fazendas, a 70 em áreas predominantemente industriais. Três áreas de uso
misto (residenciais e comerciais) e uma área de uso estritamente residencial foram analisadas.
Calculou-se o IPR com os valores do Leq estabelecidos na NBR 10.151 e como resultado verificou-
se que em todas as áreas, os valores do IPR apontavam para uma possível reação por parte dos
moradores, pois segundo a NBR 12.859 para um IPR superior a 60 dB(A) são esperadas
reclamações generalizadas por parte dos residentes sendo possível ação comunitária em prol da
redução do nível de ruído (CARVALHO JR. E. e GARAVELLI. S., 2010).

O Departamento de Transporte do Canadá estabelece o uso do NEF em suas normas de avaliação do


ambiente sonoro. Ocorre a mesma recomendação no Departamento de Habitação e
Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos que também indica o uso do Ldn. O FAA também
estabelece o Ldn para avaliação do ruído aeronáutico em zonas próximas a aeródromos. Ressalta-se,
que nesses países não utiliza-se somente o Ldn, mas também o NEF como métrica para a elaboração
de mapas acústicos. A Transport Canada recomenda que edificações residenciais somente são
permitidas em áreas próximas a aeroportos se os níveis de ruído forem iguais a um NEF de 30 ou
menos. Isto é aproximadamente equivalente a um Ldn 61 e é um pouco menor que o Ldn 65 limite

607
nos EUA. Ressalta-se que regiões que apresentem Ldn acima de 75 são indequadas para o uso
residencial. Isso ocorre também no Brasil, onde o limite estabelecido para o Ldn é de 65 dB(A) para
a área III.

Entretanto, cabe chamar a atenção para a utilização da métrica Ldn proposta pelo FAA, Transport
Canada e pelo Brasil a partir do ano passado. O estudo realizado por Heleno (2010) constatou que o
Ldn não seria uma boa métrica para o zoneamento, já que esta métrica deve ser baseada nas
atividades diurnas e noturnas. O efeito causado pelo ruído durante o dia ou durante a noite influi de
maneira diferente na realização de atividades cotidianas. Assim, o uso do Ldn para o zoneamento
aeroportuário pode conduzir a resultados diferentes dos níveis sonoros diurnos e noturnos
dependendo do número de operações do aeroporto no período diurno e noturno (HELENO, 2010).

Os estudos de Carvalho Jr. e Garavelli, S. (2010) e Rocha e Slama (2008) também apontam para
existência de conflitos entre a métrica proposta na NBR 10.151 e a métrica Ldn. A métrica Ldn é uma
métrica calculada para um período de 24horas enquanto que as métricas na NBR 10.151 são
calculadas sobre os períodos diurno e noturno. No trabalho de Carvalho Jr, E., Garavelli, S. e
Maroja, A. (2012) verificou-se que a percepção de incômodo sonoro, por ruído aeroviário, melhor
se correlaciona com os limites indicados na NBR 10.151.

Sendo assim, não existe uma relação biunívoca entre as duas famílias de métricas. Para um mesmo
valor de Ldn , encontra-se diversos valores de Ld e Ln dependendo do aeroporto. Além disso, existem
basicamente três grandes conflitos entre o PZR, regulamentado pela Portaria 1.141, e os critérios de
zoneamento definidos pela NBR 10.151: as métricas divergentes, o número de áreas estabelecidas
em cada um dos zoneamentos e os níveis de ruído considerados (ROCHA e SLAMA, 2008).

Já a Comunidade Européia utiliza o Leq,den. Essa métrica é um indicador do nível de ruído global ao
longo do período dia/entardecer/noite, utilizado para qualificar o desconforto associado à exposição
ao ruído. O Ln é um indicador do nível sonoro durante a noite, que qualifica as perturbações do
sono. Os indicadores de ruído Lden e Ln são utilizados para estabelecer os mapas de ruído
estratégicos.

O SEL é utilizado para medir o ruído associado a eventos individuais e é muito utilizado para
dimensionar a interferência no sono ocasionada pelo ruído aeronáutico. A Federal Interagency
Committe on Aviation Noise (FICAN, 1997) usa o SEL para prever o percentual de pessoas que
iriam sofrer distúrbios no sono decorrentes da passagem de uma aeronave. O SEL também é usado
na Comunidade Européia, no período noturno, para avaliação dos possíveis picos de ruídos
advindos da passagem de aeronaves.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do presente trabalho, conclui-se que existem divergências entre as normas e portarias estudadas,
principalmente com relação à métrica acústica a ser utilizada para monitoração e caracterização do
nível de incômodo sonoro gerado por tráfego aéreo. A portaria 1.141/GM5 (1987) e as normas
NBR’s 11.415, 10.856 e 12.859 se complementam e indicam a métrica IPR para a elaboração de
curvas isofônicas.

No entanto, o IPR foi atualizado em 1994 tornando-se uma métrica equivalente ao Ldn. Somente em
2011 a Resolução ANAC nº. 202 estabeleceu, para os operadores de aeródromos, os requisitos de
elaboração e aplicação do PZR definindo critérios para o adequado ordenamento das atividades
situadas em áreas próximas a aeroportos. Essa resolução pretende tornar o PZR um instrumento que
possibilite o desenvolvimento dos aeródromos em harmonia com as comunidades localizadas em
seu entorno. Além disso, estabelece que as curvas de ruído devam ser calculadas por meio de

608
programa computacional com uso da métrica Ldn. Dessa forma, não faz mais sentido em se utilizar a
nomenclatura IPR e sugere-se que trabalhos futuros reportem-se sempre a essa nova resolução.

Comparando as normas brasileiras com as estabelecidas no Canadá, EUA e Comunidade Européia,


verifica-se uma adequação quanto à metrica Ldn, mas esses outros países utilizam métricas
complementares como o NEF e o SEL na América do Norte e o Leq,den na Europa. No sentido de
melhor entender os impactos ao ambiente sonoro de regiões próximas a aeródromos, seria
importante a realização de estudos com as métricas NEF, SEL e Leq,den no contexto brasileiro. Os
resultados desses estudos, podem apontar para a necessidade de se utilizar alguma dessas métricas
no auxílio ao planejamento do uso e ocupação do solo em áreas circunvizinhas a aeroportos bem
como no monitoramento do ruído aeroviário.

REFERÊNCIAS
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em 01 nov. 2011.

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610
BASES PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM ENSAIO
INTERLABORATORIAL DE LABORATORIOS DE ACUSTICA

DE FRIAS, Juan1;
(1) ProAcustica – Associação Brasileira para a Qualidade Acústica.

RESUMO

Este artigo mostra as bases para a organização de um ensaio interlaboratorial de proficiência para
laboratórios de acústica em edificação para obter medida em campo de isolamento a ruído a aéreo entre
locais (ISO 140-4) e isolamento a ruído de impacto (ISO 140-7).
O fornecedor desses ensaios deve cumprir os requisitos de gestão e técnicos da norma NBR ISO IEC 17043,
que inclui diversos aspectos relacionados com o planejamento do teste, preparação e manutenção dos itens
de ensaio, documentação para os participantes, tratamento estatístico e avaliação do desempenho.

ABSTRACT
This paper shows a basis for the development of an interlaboratory proficiency test for building acoustics
laboratories, in the tests of airborne sound insulation between adjoining rooms (ISO 140-4) and impact sound
insulation (ISO 140-7).
The provider of these tests should comply the management and technical requirements of the standard NBR
ISO IEC 17043, which includes various aspects involving the test planning, preparation and maintenance of
the test items, documentation for participants, statistics and performance assessment

Palavras-chave: interaboratorial, proficiência, desempenho, ensaio, qualidade, NBR ISO IEC 17043, ISO
140-2

1. INTRODUÇÃO
Um ensaio interlaboratorial é aquele em que vários laboratórios, com suas próprias metodologias de
medida, pessoal e aparelhos, medem o mesmo item. Os objetivos dos ensaios interlaboratoriais são
principalmente:
• Avaliar a exatidão ou comparabilidade dos métodos de ensaio (ensaio colaborativo);
• Avaliar a competência técnica dos laboratórios para realizar ensaios (ensaio de proficiência)
e realizar o seguimento continuo do desempenho;
• Identificar problemas e poder desenvolver possíveis soluções;
• Proporcionar confiança adicional para os clientes.

Os ensaios de proficiência são um caso especifico dos ensaios interlaboratoriais, mediante os quais
se avalia o desempenho dos diferentes laboratórios participantes, sendo a participação periódica um
requisito obrigado em qualquer setor de laboratórios desenvolvido como ferramenta de controle da
qualidade.

611
2. OS ENSAIOS INTERLABORATORIAIS NA NORMALIZAÇÃO
Os procedimentos e requisitos para realizar ensaios interlaboratoriais estão obtidos em diversas
normas internacionais como as normas gerais de qualidade, as de tratamento estatístico, ou
procedimentos específicos de aplicação a metodologias de ensaios concretos como pode ser os de
isolamento acústico em edificações.

2.1. Normas de qualidade


O objetivo principal dos exercícios interlaboratoriais e fornecer aos laboratórios uma ferramenta de
controle de qualidade, que permite comparar seus resultados com os de outros laboratórios
similares, controlar a evolução dos resultados no tempo, detectar tendências e considerar ações
preventivas ou corretivas se precisar.

A norma NBR ISO/IEC 17025 Requisitos gerais para competência de laboratórios de ensaio e
calibração, no item 5.9. explicita que “O laboratório deve ter procedimentos de controle da
qualidade para realizar o seguimento da validade dos ensaios e as calibrações realizadas”, e dentro
desses controles mencionados pela norma para a avaliação da qualidade estão à participação nos
exercícios de intercomparação.

Por outra lado, a participação dos laboratórios em exercícios de intercomparação é uma ferramenta
fundamental para avaliar a competência técnica dos laboratórios, pelo que a ILAC tem
desenvolvido políticas nessa linha e que devem ser seguidas por as entidades regulamentadoras de
acordos multilaterais como a Imetro, e seu cumprimento será avaliado por as auditorias feitas por
essas entidades.

A norma NBR ISOIEC 17043 Avaliação de conformidade — Requisitos gerais para ensaios de
proficiência estabelecem os requisitos gerais para os fornecedores de ensaios de proficiência
podendo acreditar do mesmo jeito que se acredita um laboratório de ensaios.

2.2. Normas de métodos de cálculo estatístico para ensaios interlaboratoriais


O desenho estatístico é uma parte muito importante dos ensaios interlaboratoriais e também
possui normas internacionais gerais para sua realização. As normas principais são a ISO 13528
Statistical methods for use in proficiency testing in interlaboratory comparisons, focada nos
métodos de calculo para a avaliação do desempenho dos laboratórios (ensaios de proficiência) e
as ISO 5725-1 Accuracy (trueness and precission) of measurement methods and results. Part 1:
General principles and definitions e ISO 5725-2 Accuracy (trueness and precission) of
measurement methods and results. Part 2: Repeatability and reproducibility, mais direcionada
aos ensaios interlaboratoriais com o propósito de calcular a veracidade e precisão de um método
de ensaio.

2.3. Normas de metodologias para ensaios interlaboratoriais específicos


Algumas normas, como a ISO 140-2 e a ISO WD 12009-1, incluem aplicações específicas dos
métodos de calculo e tratamentos estatísticos do item 2.2., aplicadas a ensaios específicos como
são neste caso os ensaios de isolamento acústico a ruído aéreo e de impactos para medições em
laboratório e em campo.

3. REQUISITOS DOS FORNECEDORES DE ENSAIOS DE PROFICIENCIA


Uma das aplicações mais importante dos ensaios interlaboratorio são os ensaios de proficiência
que servem para avaliar o desempenho de um laboratório, detectar possíveis não conformidades
ou incidências e programar as ações preventivas ou corretivas necessárias. A participação

612
periódica em este tipo de testes e um requisito para todos os laboratórios que operem segundo a
sistemática da NBR ISSO IEC 17025.

A norma NBR ISO IEC 17043 estabelece os requisitos para os fornecedores dos ensaios de
proficiência. Do mesmo jeito que a ISSO 17025, define uns Requisitos de Gestão e uns
Requisitos Técnicos.

3.1. Requisitos de gestão


São praticamente idênticos aos requisitos que se fixam para os laboratórios, destacando itens
como, definição da organização da empresa e organograma, sistema de gestão da documentação,
pedidos, ofertas e contratos, terceirização, reclamações, contato com o cliente, trabalhos não
conformes, ações corretivas ou preventivas, e auditorias.

3.2. Requisitos técnicos


3.2.1. Qualificação do fornecedor
Deve ser autorizado uma equipe especifico para escolher os itens que serão ensaiados por os
laboratórios, planejar os programas dos ensaios, utilização do equipamento necessário, realização
dos testes de estabilidade e homogeneidade, preparação e manutenção de itens, processar os
dados, realização das análises estatísticas, avaliação do desempenho dos participantes, fornecer
opiniões e interpretações e realizar e autorizar os relatórios de resultados.

3.2.2. Equipes, instalações y meio ambiente.


O fornecedor dos ensaios interlaboratoriais deve dispor das instalações para a realização de
testes. Para o caso de testes de isolamento acústico a ruído aéreo entre recintos (ISO 140-4 e ISO
10052) e isolamento acústico a ruído de impactos (ISO 140-7 e ISO 10052), serão necessárias
instalações com dois quartos separados por uma parede e dois quartos separados por uma laje. É
preferível que cada item de ensaio seja o mais representativo possível da situação real, assim será
ótimo que as dimensões e elementos construtivos sejam similares aos utilizados em
empreendimentos reais onde o laboratório normalmente trabalhe.

Todos os laboratórios participantes devem ensaiar em diferentes dias e o prazo de realização dos
testes vai depender do numero de participantes e de sua disponibilidade, sendo o melhor que seja
o mais curto possível.

A base de uma intercomparação é que o item ensaiado permaneça inalterável em suas


propriedades acústicas durante todo o processo de forma que as únicas diferencias entre os
resultados devam-se as metodologias, pessoal e instrumentação empregadas por cada laboratório.

Para isso, o fornecedor deverá identificar as condições ambientais que podem afetar os ensaios
(p.e. ruído exterior de chuva, temperatura, umidade, etc.), avaliar sua influencia e assegurar que
durante a realização dos testes não impactará as condições. Além disso, o fornecedor deve
assegurar que as propriedades acústicas dos itens não se alterem durante o período dos ensaios.
Esse requisito normalmente não e critico em mostras para isolamento acústico (paredes, lajes) já
que mantém suas propriedades estáveis por muito tempo, mas e recomendável uma inspeção
visual em cada teste e um ensaio de verificação no inicio, intermédio e final do processo.

3.2.3. Planejamento dos programas interlaboratoriais


O planejamento dos programas é um dos itens que não pode ser terceirizado por um fornecedor.
A partir do conteúdo do programa serão realizadas a oferta comercia da intercomparação que
serão enviadas aos potenciais clientes.

613
Entre outras coisas, o programa devera incluir:
3.2.4.1 Requisitos para os participantes:
Deveram-se fixar uns requisitos obrigatórios para que os participantes possam cumprir, como
podem ser dispor de aparelhos calibrados metrologicamente, que satisfaçam os requisitos das
normas de ensaio, que sejam laboratórios acreditados, que tenham declarada sua incerteza, etc.

3.2.4.2. Trabalhos terceirizados o materiais fornecidos


O fornecedor devera contemplar aqueles serviços e materiais que serão fornecidos por terceiros.
Terceirizações típicas são o aluguel das instalações onde estarão as os itens (mostras) que
deveram ser testadas pelos laboratórios participantes, assim como a contratação de um
laboratório para realizar os ensaios que garantam a homogeneidade e estabilidade dos itens
durante o tempo de duração do ensaio interlaboratorial. Outros trabalhos como o tratamento
estatístico também podem ser terceirizados.

3.2.4.3. Seleção dos mensurandos


Aqui deverá se incluir os tipos de mensurandos dos itens a ensaiar, por exemplo, dois recintos
separados por uma parede de 10 cm de concreto revestido de gesso, assim como os parâmetros a
medir por os participantes. Por exemplo Dnt em bandas de terços de oitava entre 100 e 3150 Hz
e valor global DnT,w. Devera-se proporcionar um valor estimado do desempenho do item, que
pode ser um intervalo, por exemplo, Dnt,w entre 35 e 45 dB.

3.2.4.4. Definir as fontes potenciais de erros


Como podem ser possíveis ruídos de fundo que influíam na medição (p.e. chuva, atividades
próximas), e as ações a serem tomada no casso de se produzir alguma, assim como assegurar as
condições de teste para todos os laboratórios (p.e. janelas e portas fechadas, etc.).

3.2.4.5. Precauções razoáveis para evitar confabulação dos participantes


Deve-se evitar que os participantes compartam informação sobre os resultados, já que isso
invalidaria o ensaio para obter conclusões cientificas por conta de uma diminuição artificial da
repetibilidade o que causaria prejuízos para o resto de participantes que não compartilharam
dados. De qualquer jeito o fornecedor não e responsável de isso mais tem que inserir medidas
disponíveis dentro da viabilidade do programa.

3.2.4.6. Informação a distribuir entre os participantes


No inicio, será uma oferta de participação com os dados básicos do programa (custo, prazos,
parâmetros a medir, lugar de realização, dados que terá o relatório final, etc.). Uma vez
confirmada à participação, serão enviados uns procedimentos com as instruções para realizar
cada teste, um formulário de ensaio para preencher com dados como técnico que realizou os
ensaios, aparelhos usados, dadas, metodologia (numero de pontos de medida, numero de caídas
de tempo de reverberação, etc.), e outro formulário para preencher com os resultados do teste.
Este formulário pode também incluir resultados intermediários como podem ser níveis em
emissão, em recepção, ruído de fundo ou tempo de reverberação em bandas de oitava.

3.2.4.7. Metodologia de avaliação estadística a utilizar


O procedimento estatístico começa com o método para determinar qual é o numero mínimo de
laboratórios que devem participar no ensaio, assim como o numero de testes que deve realizar
cada laboratório participante.

A norma ISO 13525 inclui procedimentos para estimar o número mínimo de testes a realizar por
cada laboratório, que será função da desviação estandard de repetibilidade (intralaboratorio) que

614
deveria se conhecer. O numero de laboratórios, esta influído por a incerteza do valor verdadeiro
e deveria ser suficiente para que não seja muito elevada.

Porem, a norma ISO 140-2 já inclui umas diretrizes para calcular o mínimo numero de
laboratórios e de testes que tem que fazer cada um para o caso de ensaios de isolamento acústico
segundo ISO 140-4 e ISO 140-7, obtidas de experiências de vários exercícios interlaboratoriais:

p(n-1)>32 [Eq. 01]

Onde:
p e o número de laboratórios
n o número de ensaios a realizar por cada laboratório

Estatisticamente p deve ser igual o maior que 8 e o mínimo numero de ensaios n deve ser como
mínimo 5, pelo que esse serão as condições mínimas para a viabilidade do exercício.

Valores promedios en bandas y globales


LAB06
86,0
84,0 LAB11
82,0 LAB12
80,0 LAB14
78,0
LAB16
76,0
LAB21
74,0
72,0 LAB22

70,0 LAB24
68,0 LAB25
66,0 LAB26
64,0
LAB02
62,0
LAB13
60,0
58,0 LAB17
56,0 LAB18
54,0 LAB27
52,0 LAB28
50,0
LAB30
48,0
LAB32
46,0
44,0 LAB39
42,0 LAB41
40,0 Promedio
100Hz

125Hz

160Hz

200Hz

250Hz

315Hz

400Hz

500Hz

630Hz

800Hz

1000Hz

1250Hz

1600Hz

2000Hz

2500Hz

3150Hz

4000Hz

5000Hz

DnTw (1)

DnTA (1)

DnTw (2)

DnTA (2)

Media Robusta x*

Figura 1: Exemplo de resultados dos laboratórios participantes


Fonte: AECOR –Associação Espanhola para a Qualidade Acústica

Para os ensaios de proficiência existem dois dados principais que devem se obter. O valor
verdadeiro e a desviação estandar, com um método próprio para sua determinação.

O valor verdadeiro pode se obter por vários métodos como, por exemplo, valores aceitados,
materiais padrões, laboratórios de referencia, o consenso dos participantes. Como em isolamento
acústico não temos nenhum dos três primeiros, temos que optar por usar o método de consenso
onde o valor verdadeiro se obtém dos resultados de todos os laboratórios participantes, aplicando
um procedimento baseado em critérios de mediana estatística, de jeito que os resultados
discrepantes não influíam no valor.

Para a desviação estandard em ensaios de isolamento acústico podemos usar dados de referencias
bibliográficas, dados existentes de exercícios interlaboratoriais anteriores ou dados obtidos dos
resultados do mesmo exercício.

615
Também, a ISO 13525 permite calcular a incertteza do valor verdadeiro obtido.

Valor asignado (x) +/- desviación estándar del ejercicio (σp)


88,0
86,0
84,0
82,0
80,0
78,0
76,0
74,0
72,0
70,0
68,0
66,0
dB/dBA

64,0
62,0
60,0
58,0
56,0
54,0
52,0
50,0
48,0
46,0
44,0
42,0
40,0
1000Hz

1250Hz

1600Hz

2000Hz

2500Hz

3150Hz

4000Hz

5000Hz
100Hz

125Hz

160Hz

200Hz

250Hz

315Hz

400Hz

500Hz

630Hz

800Hz

DnTw (1)

DnTw (2)
DnTA (1)

DnTA (2)
Frecuencia

Figura 2: Exemplo de valor verdadeiro e desviação estandard


Fonte: AECOR –Associação Espanhola para a Qualidade Acústica

3.2.4.8. Avaliação do desempenho dos laboratórios


A ISO 13525 oferece vários métodos de avaliação do desempenho acústico dos laboratórios
participantes num exercício de intercomparação. Este e outro dos itens que o fornecedor não
pode subcontratar.

Para acústica, o parâmetro mais usado para avaliação do desempenho e o parâmetro Z-Score
calculado mediante a seguinte expressão:

Z=|x-X|/ σp [Eq. 01]

Onde:
x e o resultado médio do laboratório
X e o valor verdadeiro obtido por consenso
σp e a desviação estándar

O critério para a avaliação do desempenho do laboratório segundo o parâmetro Z-Score e o


seguinte:
|Z|≤2 Satisfatório
2<|Z|≤3 Questionável (alerta, recomendação pesquisar)
|Z|>3 No satisfatório (obrigatório fazer uma ação corretiva)

616
Z-SCORE - DnTA (2)

4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
LAB06

LAB11

LAB12

LAB14

LAB16

LAB21

LAB22

LAB24

LAB25

LAB26

LAB02

LAB13

LAB17

LAB18

LAB27

LAB28

LAB30

LAB32

LAB39

LAB41
-0,5
-1,0
-1,5
-2,0
-2,5
-3,0
-3,5
-4,0
-4,5

Figura 3: Exemplo de valores Z-Score


Fonte: AECOR –Associação Espanhola para a Qualidade Acústica

4. COCLUSOES

O desenvolvimento da área de acústica na edificação além da aplicação dos requisitos acústicos


da NBR 15575 irá demandar um aumento dos ensaios de isolamento acústico dos edifícios.

A participação em ensaios interlaboratoriais é uma ferramenta básica para o controle de


qualidade dos laboratórios já que permite detectar e corrigir possíveis erros mediante a
comparação com os valores de outros laboratórios, que de outra forma não seria possível
detectar.

Os ensaios interlaboratoriais colaborativos vão permitir conhecer a incerteza dos resultados de


isolamento acústico em Brasil, proporcionando informação para uma melhora da precisão de
seus resultados.

Um dos objetivos da Comissão de Edificação da ProAcustica é desenvolver para os anos 2012-


2013 um ensaio nacional interlaboratorio de acústica na edificação nos alcances de medida de
isolamento a ruído aéreo entre locais (ISO 140-4) e isolamento a ruído de impacto (ISO 140-7).

REFERÊNCIAS
1. UNE-EN ISO/IEC 17043:2010. Evaluación de la conformidad. Requisitos generales para los ensayos de
aptitud.
2. UNE EN ISO 140-4:1999. Acústica. Medición del aislamiento acústico en los edificios y de los elementos de
construcción. Parte 4: Medición “in situ” del aislamiento a ruído aéreo entre locales.
3. UNE EN ISO 717-1:1997. Acústica. Evaluación del aislamiento acústico en los edificios y de los elementos de
construcción. Parte 1: Aislamiento a ruído aéreo.
4. G-ENAC-14 Rev. 1 Septiembre 2008. Guía sobre la participación en programas de intercomparaciones.
5. ISO 13528:2005. Statistical methods for use in proficiency testing by interlaboratory comparisons.
6. UNE EN 20140-2:1993. Acústica. Medición del aislamiento acústico en los edificios y de los elementos de
edificación. Parte 2: Determinación, verificación y aplicación de datos de precisión.

617
7. UNE 82009-1: 1999. Exactitud (veracidad y precisión) de resultados y métodos de medición. Parte 1. Principios
generales y definiciones.
8. UNE 82009-2:1999. Exactitud (veracidad y precisión) de resultados y métodos de medición. Parte 2. Método
básico para la determinación de la repetibilidad y la reproducibilidad de un método de medición normalizado.
9. ISO WD 12999-1. Determination and application of uncertainties in building acoustics. Part 1 Sound
insulation.

618

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