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ESCOLA SECUNDÁRIA ANTÓNIO INÁCIO DA CRUZ

REGIME JURÍDICO DE AUTONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DOS


ESTABELECIMENTOS PÚBLICOS DE EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR E DOS
ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO – PARECER E SUGESTÕES

INTRODUÇÃO
1. O Governo colocou em consulta pública um projecto de decreto-lei que altera o regime de
autonomia, administração e gestão das escolas em vigor, introduzido pelo Decreto-Lei nº 115-
A/98, de 4 de Maio, com as alterações da Lei nº 24/99, de 22 de Abril. Na realidade, no que se
refere à organização escolar, o programa do XVII Governo Constitucional enuncia como
prioridades o reforço da participação das famílias e das comunidades na direcção estratégica
dos estabelecimentos de ensino, o favorecimento de lideranças fortes e a criação de um quadro
comum a todas as escolas baseado na colegialidade na direcção estratégica, na participação da
comunidade local e na gestão executiva a cargo de profissionais de educação, admitindo
formas de organização e gestão diferenciadas. O programa do governo destaca ainda o reforço
das capacidades próprias de organização e gestão das escolas num quadro de maior
responsabilização e avaliação.
Independentemente da pertinência dos objectivos e da qualidade das soluções propostas, este
projecto suscitou indignação por parte de muitos actores, em especial os professores, devido à
escassez do prazo atribuído à discussão pública do documento. Na verdade, no momento em
que as escolas estão assoberbadas com acções relacionadas com a (re)definição de estratégias
para a melhoria das aprendizagens dos alunos após a avaliação do 1º período e com a
avaliação de desempenho dos professores, a data de 31 de Janeiro, como termo da discussão
pública, afigura-se exígua. Apesar disso, os órgãos de administração e gestão, as estruturas
intermédias e a comunidade educativa da Escola Secundária António Inácio da Cruz
(Grândola) entenderam não perder esta oportunidade para discutir, aprovar e elaborar este
documento, que traduz a sua apreciação sobre o novo regime e contém um conjunto de
sugestões que, na sua perspectiva, contribuiriam para o melhorar.

APRECIAÇÃO GERAL
2. Importa destacar que o preâmbulo do projecto não identifica os motivos que terão levado o
governo a propor modificações ao regime em vigor, uma vez que não são enunciados
quaisquer problemas relacionados com a aplicação do Decreto-Lei nº 115-A/98 que, de
alguma forma, pudessem explicar (e justificar) as alterações agora propostas. Ora, a única
avaliação efectuada ao regime implementado desde 1998 data de 2001 (disponível em
www.fpce.ul.pt/centros/ceescola) e, que se saiba, este governo não enunciou quaisquer pontos
críticos que estivessem a afectar o funcionamento da escola e as aprendizagens dos alunos
provocados pelo modelo de gestão em vigor. Assim, apenas se podem deduzir eventuais
problemas relacionando-os com os objectivos que o novo regime pretende alcançar: por um
lado, um défice de participação das famílias e da comunidade na vida da escola; por outro,
existência de obstáculos ao aparecimento de lideranças; e, finalmente, insuficiências da
política de descentralização e de autonomia da escola.
O governo acredita que estes supostos problemas podem ser superados através de mudanças
na morfologia da escola, pelo que propõe um conjunto de alterações orgânicas para alcançar os
objectivos previstos no programa de governo.

3. Em primeiro lugar, o governo procura incentivar a participação da família e da comunidade na


vida da escola através do reforço da sua presença no órgão de direcção, onde as famílias, a
autarquia e a comunidade (além dos professores, funcionários e alunos) estão representados
desde 1998. Este órgão, designado até agora Assembleia e que passa a chamar-se Conselho
Geral, vê aumentar as suas competências, visto que, além de escolher o órgão de gestão

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mediante um procedimento concursal, passa a fiscalizar mais regularmente a acção dos outros
órgãos através de uma comissão permanente e a pronunciar-se sobre os horários da escola. Por
outro lado, o projecto reserva para os representantes dos pais ou encarregados de educação, da
autarquia ou da comunidade a presidência do Conselho Geral, mantém a presença de
representante de pais e encarregados de educação no Conselho Pedagógico e reforça a sua
presença nos conselhos de turma, onde passam a ter dois representantes.
A avaliação realizada em 2001 parece revelar que se verificou algum esvaziamento do papel
da Assembleia, em particular provocado pela “agenda” dos professores, que, em regra, a
consideraram uma “sucursal do Conselho Pedagógico”. Mas, até que ponto este esvaziamento
está relacionado com o défice de participação no órgão de direcção estratégica da escola por
parte dos pais e encarregados de educação, dos autarcas, dos representantes da comunidade e
dos alunos? Não existem, de facto, evidências de uma relação directa entre os dois factores,
nem que as alterações agora propostas possam ser suficientes para melhorar a participação das
famílias e da comunidade na vida da escola. O sucesso deste primeiro objectivo do governo é,
portanto, uma incógnita.

4. Em segundo lugar, o governo procura promover o aparecimento de lideranças fortes na escola,


aparentemente duas: o presidente do Conselho Geral e o director. Quanto ao primeiro, preside
a um órgão que dispõe de um conjunto de competências reforçadas a que aludimos no ponto
anterior. Quanto ao segundo, além do carácter unipessoal do cargo, o diploma reforça-lhe
igualmente as competências ao atribuir-lhe também a presidência do conselho pedagógico,
bem como as competências para elaborar a proposta de projecto educativo de escola, para
elaborar o plano de formação do pessoal e para designar os responsáveis pelos cargos de
gestão intermédia, incluindo os coordenadores de departamento curricular.
Contudo, a literatura sobre liderança tende a afirmar que não há qualquer relação entre a
acumulação de poder formal numa pessoa e a sua emergência como líder. Na realidade, um
líder distingue-se sobretudo pela capacidade para definir, de forma partilhada, objectivos e
metas para a melhoria da sua escola, de comunicar com clareza as suas intenções, de se
comprometer com os membros da comunidade educativa na concretização do projecto de
escola, de reforçar o sistema de relações internas e externas, de partilhar o saber e o
conhecimento, de monitorizar e acompanhar a acção educativa. É este o sentido de uma
liderança “forte” e não o que resulta do articulado do projecto, que remete sobretudo para uma
concentração de poderes, atribuições e competências formais numa pessoa, esperando que daí,
mecanicamente, emerja a liderança.
Por outro lado, os diversos modelos de administração e gestão das escolas em Portugal não
têm constituído obstáculos ao aparecimento de lideranças na escola, como aliás se pode
demonstrar pela avaliação externa realizada pela Inspecção-Geral de Educação, onde o item
da qualidade das lideranças é, em mais de 80% das escolas, apreciado pelos avaliadores como
Bom e Muito Bom.

5. O terceiro objectivo do projecto é o reforço da autonomia das escolas que se exprime pela sua
capacidade de auto-organização e pela transferência de competências. Relativamente à
capacidade de auto-organização, o projecto propõe a criação de um enquadramento mínimo,
fixando algumas estruturas de coordenação de primeiro nível (departamentos curriculares e
conselhos de turma), atribuindo às escolas a faculdade de se organizarem e de criarem as
estruturas de coordenação, supervisão pedagógica ou outras que considerarem adequadas ao
seu projecto educativo. No que diz respeito à transferência de competências, o projecto
mantém o processo de contratualização, iniciado experimentalmente no início do presente ano
lectivo em 22 escolas e agrupamentos.
Porém, contrariamente ao proclamado, o novo regime pouco ou nada acrescenta ao reforço da
autonomia da escola em múltiplos aspectos. Assim, no domínio da auto-organização, não lhe
atribui a possibilidade de escolher o presidente do Conselho Geral entre um qualquer membro

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deste órgão; impõe um órgão de gestão unipessoal, não permitindo a escolha entre este e um
órgão de gestão colegial; a possibilidade actual de definir o número (e a composição) das
estruturas de articulação curricular é substituída pela imposição de quatro departamentos
curriculares; ao carácter electivo dos coordenadores de departamento sucede um processo de
designação dos coordenadores pelo director; finalmente, o Conselho Pedagógico perde a
possibilidade de eleição do seu presidente dado que o director assume as duas presidências.
Quanto à transferência de competências, as do novo regime são idênticas às previstas no
Decreto-Lei nº 115-A/98, o que significa que, em áreas fundamentais como a gestão de
recursos humanos, a legislação continua a circunscrevê-las aos estritos termos legais. Por
outro lado, o processo de contratualização registou, na última década, um profundo atraso, da
responsabilidade da administração educativa. Daí que a análise dos primeiros contratos
recentemente assinados por 22 escolas reforce a ideia de que a construção da autonomia está
ainda numa fase embrionária, se considerarmos o conjunto de atribuições e competências
neles fixadas, decalcadas de diversos diplomas legais, tornando supérfluo qualquer contrato de
autonomia.

6. E há, claro, os actores que perdem com este projecto - os professores, sem dúvida – já que ele
acentua a diminuição do seu poder material e simbólico nas escolas. Assim, os professores
vêem a sua participação no órgão de direcção limitada a, no máximo, 40%; não podem ser
eleitos para presidente deste órgão; a legitimidade resultante da natureza electiva do cargo de
coordenador de departamento curricular desaparece; a possibilidade de afirmar a liderança
pedagógica na escola, através da eleição de um membro não pertencente ao órgão de gestão,
como presidente do conselho pedagógico esfuma-se. Por outro lado, este órgão, que constitui
o espaço de afirmação por excelência do saber profissional dos professores – atente-se nas
suas competências - continua a registar a presença de pais e encarregados de educação e
alunos, embora tenha sido desapossado de algumas competências importantes como a
elaboração do projecto educativo da escola ou do plano de formação de docentes e não
docentes.

7. Dir-se-á que esta diminuição do poder dos professores é mitigada pelo facto de o governo ter
mantido a obrigatoriedade de o director ser um professor, com experiência de gestão e
formação específica em administração escolar, não cedendo a correntes políticas que
defendem que a gestão da escola tem, essencialmente, as mesmas características da gestão de
uma qualquer organização, pelo que não seria necessário um professor ou formação específica
em administração escolar para o desempenho do cargo. Mas, como entender, então, o projecto
de intervenção necessário à candidatura a director, a não ser exactamente na sua dimensão de
intervenção pedagógica, ou seja, aquela que, identificando pontos críticos no processo de
ensino e aprendizagem dos alunos, propõe estratégias e soluções para melhorar as
aprendizagens e os resultados escolares? Daí que o tipo de intervenção expectável por parte do
director configure um perfil de saberes, competências e experiência que apenas os professores
estão em condições de dispor.

8. Por último, not the least, nem sempre o projecto respeita de forma adequada os princípios de
democraticidade e de participação de todos os implicados no processo educativo ou de eleição
democrática dos órgãos de direcção da escola. Tal acontece, por exemplo, a propósito da
constituição do órgão de gestão ou do desenvolvimento da autonomia da escola. Neste
sentido, importa reafirmar, sem ambiguidades, que aqueles princípios orientadores da gestão e
administração das escolas, previstos no artigo 48º da Lei de Bases do Sistema Educativo, se
mantêm em vigor de modo que, em coerência, é fundamental que a orgânica e o
funcionamento da escola continuem a pautar-se pela sua concretização.

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APRECIAÇÃO NA ESPECIALIDADE E SUGESTÕES
9. Artigo 3º - É positivo o reforço da responsabilidade da escola através do princípio da
prestação de contas, bem como o princípio de desenvolvimento de práticas democráticas.
Contudo, verifica-se a ausência da referência à primazia de critérios pedagógicos sobre
administrativos, prevista no nº 3 do artigo 48º da Lei de Bases do Sistema Educativo, pelo que
se afigura imprescindível incluir esta referência.

10. Artigo 4º - Embora não haja alterações substantivas em relação ao Decreto-lei nº 115-A/98, é
positiva a referência à melhoria do sucesso dos alunos e à prevenção do abandono escolar.

11. Artigo 7º - O novo regime introduz a possibilidade de agregação de agrupamentos, o que


significa que o esforço de racionalização da rede escolar ainda não terminou. Contudo, o novo
regime jurídico deve referir expressamente que a iniciativa da administração educativa para a
agregação de agrupamentos deve contar com a aceitação dos órgãos de administração e gestão
dos agrupamentos implicados e da respectiva autarquia.

12. Artigo 10º - A principal novidade é o facto de o órgão de gestão ser unipessoal, o que, de
facto, constitui perda de autonomia por parte da escola. Por outro lado, o reforço da liderança
não está directamente relacionado com a existência de um órgão unipesssoal ou colegial,
como se referiu. Daí que a opção entre um órgão de gestão unipessoal ou um órgão de gestão
colegial deva constituir uma decisão da escola, a definir no seu Regulamento Interno.

13. Artigo 13º - As competências do órgão de direcção saem reforçadas através da escolha do
Director, do acompanhamento e da fiscalização dos outros órgãos de administração e gestão e
da emissão de parecer sobre os critérios de organização dos horários. No entanto, não se
compreende quer a exclusão da possibilidade de um professor, um representante do pessoal
não docente ou um aluno poderem ser eleitos como presidente do Conselho Geral, quer a
competência de “fiscalização” por não se adequar à separação funcional dos órgãos de
administração e gestão. Daí que se recomende a possibilidade de o Conselho Geral poder
eleger um professor (ou outro membro qualquer) como presidente e a eliminação da
competência de “fiscalização”, embora a comissão permanente do Conselho possa manter-se
para efeitos de acompanhamento da acção educativa da escola.

14. Artigo 16º - A alteração mais significativa decorre da obrigatoriedade de as listas de


professores apresentarem 25% de professores titulares tanto a membros efectivos como a
membros suplentes (nº 3) o que, face ao número de professores com esta categoria, pode ser
de difícil cumprimento. Por outro lado, a presença de professores no Conselho Geral não
decorre da sua posição hierárquica ou situação na carreira docente, mas da sua adesão a um
conjunto de princípios apresentados pela lista da qual faz parte e sufragados pelos eleitores.
Neste sentido, sugere-se a retirada desta obrigatoriedade.

15. Artigo 20º - As competências do órgão de gestão são bastante reforçadas visto que passa a
elaborar o projecto educativo da escola (anteriormente uma competência do Conselho
Pedagógico), a aprovar o plano de formação (também, até ao momento, uma competência do
Conselho Pedagógico) e a designar os coordenadores de estruturas intermédias (os
coordenadores de departamento curricular, por exemplo, eram eleitos). Já se debateu a falta de
relação entre a acumulação de competências numa pessoa e o reforço da liderança na escola.
Assim, é conveniente deixar ao critério da escola a possibilidade de opção no processo de
escolha de coordenadores de departamento curricular ou outras estruturas intermédias entre a
designação pelo director ou a eleição. Por outro lado, é igualmente necessário que, no plano
de formação do pessoal docente, seja, no mínimo, ouvido o Conselho Pedagógico.

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16. Artigo 21º - É fortemente redutor limitar a experiência de gestão a um mandato completo no
exercício de cargos na vigência do Decreto-Lei nº 115-A/98, ignorando a experiência noutros
modelos de gestão da escola pública desde 25 de Abril de 1974. Este constrangimento é tanto
mais inexplicável quanto se aceita como critério de qualificação a experiência de pelo menos
três anos como director ou director pedagógico de estabelecimento de ensino particular e
cooperativo. Além disso, a existência de condições de qualificação dos adjuntos, semelhantes
às do director, são fortemente restritivas em relação à possibilidade de constituição e de
renovação das equipas de gestão.
Por outro lado, um dos pontos críticos do Decreto-Lei nº 172/91, de 10 de Maio, cujo
procedimento de recrutamento para o órgão de gestão era semelhante ao agora proposto por
este projecto, consistiu na frequente contradição entre a seriação efectuada por uma comissão
adhoc e o resultado final da votação no Conselho de Escola, facto que provocou inúmeros
conflitos. Além disso, o Acórdão do Tribunal Constitucional nº 262/2006, a propósito de
solução semelhante intentada pelo governo regional da Madeira, considerou que o concurso
em lugar da eleição se não harmonizava com os princípios de democraticidade e de
participação de todos os implicados na educação previstos no artigo 77º da Constituição da
República e no artigo 48º da Lei de Bases do Sistema Educativo. Ora, este projecto cria um
procedimento concursal prévio à eleição pelo Conselho Geral que configura antes um
processo de selecção e limita a liberdade de escolha do Conselho Geral. Neste sentido,
recomenda-se que:
i) se considere também como experiência de gestão escolar a adquirida nos outros
modelos de gestão escolar em Portugal depois de 1974, ou seja, ao abrigo do Decreto-
Lei nº 769-A/76, de 23 de Outubro, ou do Decreto-Lei nº 172/91, de 10 de Maio;
ii) seja redefinido o perfil dos adjuntos, acrescentando ao número 5 “...preferencialmente
qualificação para o exercício...”;
iii) seja eliminado o procedimento concursal prévio e substituído por um procedimento de
candidatura.

17. Artigo 22º - Na linha do acima exposto, recomenda-se que as referências ao procedimento
concursal sejam substituídas por procedimento de candidatura, eliminando a necessidade de
qualquer regulamentação através de portaria e atribuindo à comissão permanente ou à
comissão adhoc a competência para verificar, por cada candidato, a existência e veracidade
dos elementos curriculares apresentados.

18. Artigo 23º - Assumindo a eleição como o único processo de escolha do director, a referência
ao relatório da comissão deve ser retirada.

19. Artigo 24º - É, certamente, questionável que a posse do órgão de gestão seja conferida pelo
director regional de educação, que não teve qualquer papel no seu recrutamento e ainda que o
director possa designar os adjuntos sem que o órgão de direcção da escola seja ouvido. Neste
sentido, sugere-se que a posse do director seja conferida pelo presidente do Conselho Geral e
que o director apresente a proposta de nomeação dos adjuntos ao Conselho Geral para
ratificação.

20. Artigo 25º - Uma vez mais, não se compreende o facto de o director dever solicitar a sua
demissão ao director regional de educação e, simultaneamente, o facto de, em caso de
cessação de funções do director por despacho fundamentado do membro do governo
responsável pela área da educação (nº 6), ser designada uma comissão administrativa para
preparar a abertura de novo procedimento concursal, ignorando o Conselho Geral. Neste
sentido, defende-se que o pedido de demissão do director seja apresentado ao presidente do

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Conselho Geral, a quem deve caber igualmente a iniciativa de desencadear novo procedimento
concursal.

21. Artigo 26º - O Decreto-Lei nº 115-A/98 não estabelece nada a propósito. No entanto, não se
compreende quer a limitação imposta de o director ser professor do quadro da escola para
poder desempenhar serviço lectivo de nomeação dos adjuntos ao Conselho Geral para
ratificação e, muito menos, o disposto no nº 3, que interdita o exercício de quaisquer outras
funções, remuneradas ou não, públicas ou privadas por parte do director. Assim, deve ser
retirada a limitação de pertença ao quadro da escola para o director, caso o entenda, poder ter
serviço lectivo distribuído, bem como a incompatibilidade de exercício de funções privadas ou
públicas não remuneradas que impediria, por exemplo, o director de presidir a uma
colectividade no seu bairro.

22. Artigo 32º - As principais alterações introduzidas pelo novo regime são a diminuição do
número de membros do Conselho Pedagógico, a acumulação da presidência deste órgão pelo
director, a retirada de representante do pessoal não docente e a manutenção de representantes
de pais e encarregados de educação e alunos. Como se referiu, a acumulação do cargo de
presidente do Conselho Pedagógico pelo director traduz-se numa diminuição da autonomia do
órgão. Por outro lado, face ao carácter técnico-pedagógico do Conselho Pedagógico, traduzido
no conjunto das suas competências, este órgão constitui o espaço de afirmação da
profissionalidade docente, pelo que é conveniente reequacionar a presença de pais e
encarregados de educação e alunos. Neste sentido, a decisão quanto à presidência do Conselho
Pedagógico deve caber à escola a qual, no Regulamento Interno, define se pretende um
processo de eleição (o director pode obviamente ser eleito) ou a acumulação de presidências
pelo director. Por outro lado, a composição do conselho pedagógico apenas deve prever
professores, pelo que se sugere retirar a referência à participação de representantes de pais e
encarregados de educação e alunos neste órgão.

23. Artigo 33º - O conselho pedagógico perde competências, designadamente a possibilidade de


eleger o presidente entre os seus membros, de elaborar o projecto educativo de escola, cuja
competência transita para o director, de elaborar o plano de formação do pessoal docente e não
docente, que transita igualmente para o director, e de intervir na avaliação de desempenho dos
professores, que o novo regime não identifica. A perda da primeira competência choca com o
proclamado objectivo de atribuir mais competência à escola no domínio da capacidade de
auto-organização. Por outro lado, embora se compreenda a transição da competência de
elaboração do projecto educativo de escola devido à existência do projecto de intervenção na
candidatura ao órgão de gestão, é incompreensível a perda das restantes competências. Assim,
como se referiu, a decisão quanto à presidência do conselho pedagógico deve caber à escola, a
qual, no regulamento interno, define se pretende um processo de eleição ou outra solução. Por
sua vez, a competência de elaboração do plano de formação do pessoal docente deve
permanecer no conselho pedagógico ou haver uma referência explícita à necessidade de
audição deste órgão pelo director, dadas as implicações com o processo ensino aprendizagem
e o desenvolvimento profissional dos docentes. De igual modo, o conselho pedagógico deve
manter competências ao nível da avaliação de desempenho até porque, face ao disposto no
Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro, lhe cabe a elaboração e aprovação dos
instrumentos de registo da avaliação de desempenho e é no seu âmbito que emerge a comissão
de acompanhamento da avaliação de desempenho.

24. Artigo 34º - A redacção parece confusa porque o presidente do conselho pedagógico e o
director são, no regime agora proposto, a mesma pessoa.

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25. Artigo 42º - A imposição central do número de departamentos a criar pela escola (4) constitui
uma perda da autonomia da escola, bem como o facto de o coordenador deixar de ser eleito
para ser designado pelo director. Recorde-se, entretanto, que o Estatuto da Carreira Docente já
tinha limitado a escolha do coordenador entre os professores titulares. Sugere-se, por isso, que
a decisão quanto ao número e composição dos departamentos curriculares continue a
pertencer à escola, bem como a decisão quanto à escolha dos coordenadores de departamento
curricular e de outras estruturas intermédias (por eleição ou por designação pelo director).

26. Artigo 44º - O projecto continua a preferir os professores titulares que, com certeza, não
chegam para as necessidades. Por outro lado, é necessário não esquecer os apoios educativos
e as actividades de enriquecimento e complemento curricular na organização intermédia da
escola, até porque este regime atribui ênfase excessiva a dimensões organizativas de carácter
mais instrumental.

27. Artigo 55º - As alterações agora propostas são o desaparecimento do faseamento do processo
de autonomia e o desaparecimento do princípio de democraticidade. Como se referiu, os
obstáculos ao desenvolvimento da autonomia têm estado, sobretudo, dependentes da vontade
de o governo aprofundar o processo de transferência de competências para a escola e não da
vontade desta para construir a sua autonomia.

CONCLUSÕES
28. As alterações propostas ao actual regime de autonomia, administração e gestão não emergem
de problemas detectados na morfologia da escola, que estivessem a afectar seriamente a
melhoria das aprendizagens dos alunos.

29. As soluções propostas, de uma forma geral, ou não concretizam os objectivos que estão na
sua origem ou dificilmente podem ser relacionadas de modo positivo com a sua concretização.

30. A centralidade que o projecto confere às questões da gestão da escola reforça a ideia,
enganadora, de que o seu défice de autonomia resulta de problemas ao nível da gestão. Ora,
como se demonstrou, este défice é da responsabilidade do estado e da administração
educativa, e foi provocado pela lentidão na transferência de competências e no
desenvolvimento da contratualização.

31. Centrar os esforços de melhoria da escola e das aprendizagens dos alunos na mudança dos
aspectos morfológicos não é decisivo para alcançar estes objectivos. A investigação tem
demonstrado que, depois de uma vaga descentralizadora, as mudanças introduzidas na
organização escolar, esperando que elas repercutissem favoravelmente na sala de aula, onde o
processo de ensino/aprendizagem tem lugar, se revelaram, em regra, infrutíferas. Neste
sentido, é ao nível do que se passa na sala de aula, na melhoria das práticas de ensino e de
aprendizagem que, hoje, se tende a centrar os esforços para melhorar a escola.

32. Finalmente, não resulta positivo para a melhoria das aprendizagens dos alunos e dos
resultados escolares a perda do poder, material e simbólico, por parte dos professores.

Os relatores,
Ângela Cruz
Manuela Marques
Mário Sanches

Discutido e aprovado na reunião extraordinária do Conselho Pedagógico, realizada no dia 17 de


Janeiro de 2008.

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