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ALGUMAS coNsIDsRAçóEs SOBRE o Uso
DA. IMAGEM; FOTOGRÁFICA NA
PESQUISA ANTROPOLÓGICA1

Luciana Aguiar Bitfencourí


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O uso da imagem na antropologia se insere em uma ampla dis


š si cussâo sobre o papel da imagem e sua capacidade de registro e de
i representação do conliecimento antropológico. Diante desse debate, 0
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presente trabalho procura analisar as características da imagem fotográ


i fica que possam contribuir significativamente para ampliar a compreen
i são dos processos de simbolização próprios dos universos culturais com
í os quais os antropólogos se defrontam em suas pesquisas de campo.
A antropologia, desde os seus primórdios, preocupa se em uti~
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i lizar meios visuais para representar a realidade social da qual se
ocupa, particularmente na representaçâo gráfica da disposição espa»

F * cNPq/USP.

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cial das comunidades estudadas, das pegas de cultura material ou dos : artefato cultural que congrega os dominios do perceptível, do real tf do
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participantes de um ritualfz A imagem tem contribuido significativa imaginario.
mente para a antropologia na documentação de aspectos visuais da
Na verdade, o realismo atribuido à imagem fotográfica é consc
cultura cujas características transcendem a capacidade de repre qüência de uma interpretaçâo culturalmente orientada4 que, ao conside
sentaçäo da linguagem escritaf Entretanto, mesmo nesse caso, o uso rar apenas o aspecto visual das formas sensíveis, coloca entre parênteses
da linguagem visual não significou. o fiin do privilegio dado à palavra as outras dimensöes que as compöem. Além disso, a suposta universa
como instrumento básico para a apreensão e a compreensão dos fenô lidade da relação entre fotografia e realidade é questionável se conside
menos sociais. .Na verdade, a contribuição dos meios visuais assumiu rarmos que dados de outros universos culturais indicam a possibilidade
um caráter restrito nessa disciplina, em grande parte, como conse do não reconhecimento da imagem fotográfica como análoga ao real.
qiiência de a denominada antropologia visual enfatizar basicamente
Nesse sentido, a fotografia não pode ser pensada apenas como
“a visualização da antropologia”, deixando à deriva a elaboração de
uma técnica objetiva que apreende perfeitamente o mundo sensível,
uma “antropologia do visual.” (Caldarola 1994, p. 67). Essa tendência.
como afirmavam os pensadores do século XIX, nem mesmo como pro
levou as discussöes sobre o uso da imagem em antropologia a concen <
duto arbitrario da interpretação do fotógrafo e dos espectadores. A
trar se nas qualidades da imagem fotográfica que viabilizam o registro ,_
ambigíiidade da imagem fotográfica encontra se na tensão realis
de outros universos culturais.
mo/não realismo inerente a seu processo de criação e ínterpretação
Dessa forma, o uso da imagem em antropologia restringíu se ao (Wright 1992). De fato, a imagem fotográfica produz. uma síntese pecu
aspecto documental da realidade social. Nos trabalhos etnográficos, o liar entre o evento representado e as interpretaçöes construidas sobre
material visual é apresentado como um apéndice do texto escrito, que ele, estando essa correspondência sujeita às convençöes de repre
domina a forma de representação do conhecímento antropológico, ser sentação culturalmente construidas.
vindo para dar autoridade e realismo ao relato etnográfico. A busca pelo
Compreende se, assim, a, importancia do uso da imagem não só
realismo fotográfico e por suas certezas aponta para questöes importan
no campo da pesquisa, mas na própria exposição de seus resultados por
tes no que diz respeito à autenticidade do objeto antropológico. A 'oi

meio do relato etnográfico. A imagem pode e deve ser utilizada como


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mensagem. veiculada pela imagem fotográfica, percebida como uma


uma narrativa visual que informa o relato etnográfico com 11 n1v.~¬^|1m
gra'vaçäo tangível da realidade, torna se a prova material da presença do
autoridade do texto escrito. Mais do que representar fatos visívcis, luis
etnógrafo em campo ~ a evidência de “ter estado lá” ao demonstrar
imagens acrescentam. outros meios de representação à tl«.¬±¬'<'1'i<,_m› vino
que o autor vivenciou e representou a realidade totalizante de outro .Pi

gráfica.
universo social. Dessa forma, o uso da ímagem serve como um recurso
retórico que legitima a veracidade do texto antropológico. Fotografias apresentam o cenário no qual as ativid;ul<~s ditìr ì.1l~;, os
atores sociais e o contexto sociocultural são articulatlos 1 vivir It tu li\i_¬I< rn
Esse fato se deve, em grande parte, às características fundamen $

estudos sobre os detalhes tangíveis rep1*escnlutlo.~; cm |1›l«›¿›_|t.1|i;¦f; qm


tais da imagern fotográfica, que mantém uma forte relação de verossimi
permitem fa elucidaçâo de comunicaçöes não vvrlmisf' lui. ¬ ft mm um oll1.n;,
lliança com seu referente.. Desde seus primórdios, a fotografia foi vista
um sentimento, um sistema de atitudes, ussim mino |||«~|¦: .;|;›_¢=:|: + «Iv vr cs
como um meio objetivo e fatual de comunicação visual, ocasionando
pressöes corporais, faciais, movimentos (kim _ ;z`f 1;) t si; ,:1ilii<'.1tIi›s th u l¿u¿ot¬s
uma transformação significativa nos modos de representação. A foto
espaciais entre pessoas (proxemz'cs) c paltlrtìcs de ttm|¡mr|;11m |||n nlravffs
gmlia surge como uma forma de registro que, ao ser associada à razão,
do tempo (cÍ”¿1'Ome¡f?“ics). Íllìagens fotog1'¿ìÍit'¿1s nfl rulum al l1isl(›1'iu visual de
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distancia. se da imaglnaçâo, dos sonhos e da fantasia (Baudelaire 1980).


uma sociedade, documentam silt11¿,1ç¿"›es, estilos de vìtlu, g±l~slos, ulorcs
Assim, a im agem fotográfica passa a ser percebida com vestigio material
sociais e rituais, e aprofilndain a co1np.1¬ec.1"1sEio du cultura material, sua
de sw tema, característica essa que irá se sobrepor a sua qualidade de
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iconografía e suas transformaçoes ao longo do tempo. Mais ainda, a '*`..'.¡¢.n


“outro”, A fotografia e resultado do olhar do fotografo c seu signìlkado 6
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i análise de registros fotográficos tem permitido a reconstituiçáo da historia conseqüência da interpretaçáo dada pelo espectador. No lrahallio vlno_±=,ni
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i cultural de alguns grupos sociais, bem como um melhor entendimento fico, a imagem fotográfica pode ser utilizada para exprcssm tlwl;1r;1t__~m s
dos processos de mudan.ça social, do impacto do colonialismo e da diná
ii visualmente e para alcançar um entendimento. Ao expicssa r tir t'l¿1¦'at__~t ws,
mica das relaçoes interetnicas. Arquivos de imagens e imagens contempo fotografias são inseridas em uma estrutura de significaçao analilim, lor
ráneas coletadas em pesquisa de campo podem ser utilizados como fontes nando se, assim, uma representação da visão de mundo propria do aulor
que conectam os dados coletados à tradiçäo oral e à memoria dos da imagem. Ao alcançar um entendimento, fotografias servcm como
t
grupos estudados, Assim, o uso da imagem acrescenta novas dimen símbolos intermediarios na pesquisa de campo, requerendo ititeiplitrltiirjous
soes à interpretaçáo da historia cultural, permitindo aprofundar a explícitas e interativas no process o de elaboraçáo da imagem. A combi na
compreensàïo do universo simbólico que se exprime em sistemas de çáo dos modos de interpretação documentário e reflexivoó abre diferentes
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atitudes relacionadas à morte, à riqueza, ao prestigio e ao status social, dimensöes de significados nas quais a imagem fotográfica pode ser anali
pelos quais grupos sociais se definem, identidades se constroem e se sada. Essa abordagem traz uma perspectiva frutífera para o uso de foto
apreendem mentalidades (Geary 1990). grafias como dado etnográfico e novos criterios para a compreensäo de
A contribuiçáo que a imagem traz ao registro etnográfico não se outros e de nossos discursos visuais.
resume, portanto, na valorização da tecnica que gera imagens similares A análise do conteúdo de imagens foto gráficas e um evento social
ao mundo sensivel, mas reside no fato de que essas imagens são produ que depende eminentemente de um conhecimento profundo do contex
tos de uma experiencia liumana. Na realidade, a imagem e os meios ii
to para o qual a imagem superficialmente aponta. Dessa forma, as
visuais, quando utilizados como instrumentos etnográficos, ampliam as dimensöes múltiplas de significados que orientam a interpretação da
condiçoes para o estabelecimento de um diálogo fecunclo com outros imagem depende rn da recomposição do sistema cultural, do contexto
universos culturais. Esse instrumento possui características específicas em que o ato fotográfico ocorreu e das identidades dos sujeitos envolvi
que permite m elucidar as experiencias socials como formas de prática dos naquele evento. Se a análíse da imagem fotográfica desconsidera o
simbólica., Considerando as peculiaridades da imagem fotográfica, o § contexto original de sua criação, seu alcance fica circunscrito aos índices
uso da imagem na pesquisa de campo não pode se ater unicamente a seu incompletos da realidade apresentados pela imagem. No processo de
caráter documentário ou a análise de conteúdo da imagem, deve consi interpretaçáo, o espectador seleciona signos que se ajustam a seus pa
derar especialmente o processo imagetico e o processo de atribuição de “íafe,
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dröes de significaçåio e acrescenta à imagem múltiplos feixes de . ¬~ignili
significados produzzidos pelos atores sociais (Caldarola 1988). Pela aná caçáo que so podem ser percebidos em toda a sua densidadt qummlo ii
lise desses processos, o uso da imagem na pesquisa etnográfica permite imagem literal se alía à imagem simbolica.7 A sobrepositjíio da iiwiisa
elucidar as diferentes estrategias utilizadas na negociaçáo dos sentidos gem simbólica e da mensagem literal permite desveudar o uiiivi 1: ¿o dc
atribuidos às formas simbólicas. significaçáo que informa o conteúdo da imagem c qm tlti smilido as
Nesse trabalho, a interpretação de fotografias etnográficas assume interpretaçöes tecidas pelo espectador. Ao reconstruir ti :iii 11: ;i1_1›,¢ 111 sunt z
duas perspectivas.. O modo documentário considera a informação que bolica representada na imagem, o espectador lrala a iiimgt 111 mmm um
pode ser apreendida por meio da análise de conteúdo da imagem, servin pronunciamento visual e indica, dcssa forma, as onlms t|ì1m›11: «ws de
do como uma fonte de dados sobre outros universos culturais e sobre 0 significaçâo que podem ser atribuidas E1 iniiiigmi.
miilmtto historico no qual a fotografia foi criada. Iá o modo reflexivo de No estuclo da produção alftístictì dc l't't'idos, t'¿1|1t_¬¿it's L' narral'i.Va5
inl±~1'prv†I;açáo considera a fotografia como um meio para elucidar as repre
í! realizados em Roça Grande no vale do rio Ju¡uilinlmnlm cm Minas
st 1|l,|<,_ (ws criadas pelo sujeito cognoscível no trabalho de campo e as
Gerais, a imagemcontribuiu significativamente para a _i11I:t†_17pi¬ct¿1ção das
t sl ¡alt gias d iscursivas usadas na construçáo de um conhecimento sobre o
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metáforas dos tecidos, das cançöes e das narrativas orais. A análise do

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conteúdo da imagem fotográfica, juntamente com a análise do processo mentais das estruturas de significados, bem como a maneira como os
mm ético, indicou como os campos culturais e semânticos foram cria
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individuos transformaram. tais estruturas. A documentação do processo
dos, negociados e transformados nas vidas dos individuos e na atuali de produção de tecidos, aliada às discussoes intensivas com os tecelöes
dade de suas experiências.8 e seus espectadores sugería como ideias são transmitidas por meio da
Em Roça Grande, a produção de modos de expressão visual e oral tecelagem e de suas cançóes. O evento fotográfico ajudou a desvendar
e um elemento essencial da vida cotidiana, fornece os meios materiaís e os significados atribuidos pelos tecelöes à produção de tecidos e aos
simbólicos de sobrevivencia daquela comunidade rural. Transformaçóes padröes de desenhos criados, revelando, assim, o mo do como os indivi
so ciais e economicas trazidas pela interação com a sociedade abrangente duos interpretam a dinámica desse processo.
levaram a modificaçóes no sistema de significados que organiza a comu Ao apresentar dados adicionais que não são percebidos pelo etno
nidade. A produção de tecidos, tradicionalmente uma ocupação femini grafo em um primeiro momento, a imagem leva o espectador a interpretar
na, passou a ser também uma atividade desempenhada pelos homens certos eventos que escapam ao olhar do etnógrafo. Ein algumas circuns
da comunidade como uma forma de evitar a migração para os canaviais tâncias, o etnógrafo não apreende o significado total de um evento ou e
de São Paulo. Essa iniciação dos homens em um dominio de trabalho incapaz de aboifdá, lo por meio de perguntas. Em entrevistas nas quais
feminino trouxe transformaçóes significativas nos campos semânticos fotografias são apresentadas e discutidas, temas significativos para o
que organizam os limites simbólicos que diferenciam os géneros. Essas relato etnográfico são levantados. Como uma interlocutora de Roça Gran
transformaçóes proporcionam novas oportunidades para a compreen de coloca: “l #`otog1"afia faz falar, rende uma fofoca.” Nas entrevistas, o
são da relevância das narrativas visuais e orais, na medida em que tais metodo reflexivo de elucidação (Harper 1987) restaura a mutualidade do
transformaçóes afetam a produção de tecidos e cançöes, bem como reconliecimento entre o sujeito da imagem e o contexto original de referén
levam a uma redefiniçáo de conceitos fundamentais que organizam 0 cia da imagem, Nesse sentido, fotografias são utilizadas como modos
grupo. No processo de produção de formas culturais, as pessoas deco interpretativos que t1"¿i7,e11i um refinalnento ao universo construido e
dificam conceitos culturais e adicionam outras linhas de significados. Ao compartilhado pelos sujeitos do encontro et11og1'álr`it1<›. O olhar distante e
criar tecidos, cançóes e narrativas orais, os artesãos recriam sua cultura, descontexlual.iz.:1do da imagein tirada pelo etnógrafo Ó significativamente
redesenham conceitos sociais para lidar com novos desafíos e improvi apropriado pelo sujeito cognoscível e pelo sujeito cognoscente, que cons
sam novas possibilidades de significação. troem mutuamente uma realidade (Bittencourt 1996, p. 25).
Nesse trabalho, as fotografias serviram para documentar o pro No que diz respeito aos metodos fotográficos aplicados na pesquisa,
cesso e os produtos da tecelagem. O uso sistemático de imagens, como foram utilizados o ínventário visual e a investigação colaborativa (Caldarola
uma tecnica que auxilia na coleta de dados, contribuiu para a elaboração 1988). A investigação colaborativa enfatiza a inteipretação de imagens e de
de um inventário do fenómeno social que, constituindo pontos fixos de ideias transmitidas pelos sujeitos da imagem. As pessoas foram estiimiladas
informação, permitiu a reiteração da observação, tornando possivel, não só a interpretar as imagens já elaboradas, como também a dar opinioes
dessa forma, a reavaliação de aspectos que, na situação de campo, sobre o processo de criação de imagens. Nesse nivel, os tecelöes de 1{oi_;a
revelavam se essenciais na recomposição das relaçoes ecológicas, tecno Grande participaram da criação de imagens, da selecão de lemas significa ti
lógicas e socioestruturais do grupo estudado, bem como no desvenda vos, dos detallies de suas representaçoes. As distfussíies sobre as formas de
mento das cosmologias que as sustentam. composição da imagem indicaram que a impo'1'tãncia da trecelageiii encon
tra se no processo de elaboração dos tecidos, especialmente porque a produ
Alem disso, essas fotografias foram usadas posteriormente para
ção dos tecidos coloca em movimento um conjunto de relaçoes sociais por
encorajar os informantes a interpretar as transformaçoes nos processos
meio dos mutiroes de fiar e de tecer. Essa ênfase dada à elabo1“açãrs_› dos
artísticos e na vida social. As discussóes intensas sobre a imagem foto
tecidos foi apontada na interpretação das seguintes fotografias:
gráfica com os artistas e seus espectadores revelaram aspectos funda

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Fotografia 1: ”A_t`oto do tecido acabado não e importante. O mais importante e a forma


como o tecìdo e teito. Veja o tear, suas pecas... desde a plantação do algodão... [até ofi1n] ” Fotografia 2: ”fE`.sta e a casa velha. Essa casa tem apenas uma janela, mas abrigou a miro,
3
(Foto: Luciana Bittencourt, 1990) A K
meus filhos, e todos aqueles que vieram me visitar. lila está caindo, mas eu gosto muito
dela, porque foi ncla que eu criei e abriguei meus filhos. Gosto dessa casa como gosto dos
meus filhos.. Alem de Deus, tudo o que eu ten ho e minha casa e meus filhos." (Foto: Antonia
Moreira, 199])
Em Roca Grande, as fotografias forneceram informaçöes visuais
que, aliadas ao contexto cultural, levam a conclusöes importantes sobre
Assim, a imagem fotográfica fixa um fato ocorrido em um momento
a forma e o conteúdo dos tecidos, e o estabelecimento de uma cosmolo lp;

determinado, preservando a imagem das faces, dos lugares, das coisas,


gía das relaçóes significativas nas historias de vida dos tecelöes. Como
das memorias, dos fatos históricos e sociais. Dessa forma, a fot<›_e,1uil'ia
artefatos culturais, tais fotografias contribuem para as exploraçöes do
pode ser percebida como um espellio que possui uma memoria (I lol mes
significado, Fotografias produzidas e mantidas pelos membros da co
1980; Kracauer 1980), Porem, ao preservar um instante no tempo, a
munidade de Roca Grande revelam importantes noçöes que permeiam
imagem aponta não so para uma memoria que lhe e intrínseca, mas
e organizam a experiencia social. A interpretação dos contextos histórico
tambem evoca, especialmente, uma memoria que lhe e externa, a memo
e cultural visiveis nas fotografias contribuiu para a compreensão da
ria do espectadong Ao congelar a fluidez do tempo, a imagem fotográfica
cultura material e de suas transformaçóes no tempo. A imagem fotográ
posiciona o tema da imagem e o espectador em uma dimensão espacial
fica ajuda a elucidar o modo como o processo de transformação social
~†;$: próxima, embora estejam situados em dimensóes temporais diferentes.
foi vivido e interpretado pelos atores sociais. Uma importante caracte Fi :ii
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Assim, a imagem leva o espectador a confrontar se com o então lá
rística da imagem fotográfica situa se na sua capacidade de congelar um
sugerido pela imagem e o aqui agora no qual está situado (Barthes
esquema da realidade que sobrevive à passagem do tempo (Bazin 1980).

204 205

9
l97'7), e o induz a transpor essa descontinuidade por meio da construção
de feixes de significados., Compreende se, assim, a relevancia da inter WW W
pretação de imagens no estudo das transformaçóes sociais. Por meio
dessas interpretaçóes, um mundo de sentidos e criado por descontinui
dades que apontam para o conteúdo da imagem e para os conceitos
fundamentais que organizam a visão de mundo e o etlzos do grupo
estudado, como ilustra a interpretação da fotografia da página anterior.
Outra contribuição importante do uso da imagem na pesquisa
antropologica encontra se na análise do ato fotográfico. O estudo
detalliado do processo de produção de fotografias pode contribuir . 2€ It
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para uma abordagem frutifera da natureza da criação de imagens e da
interpretacão visual.. Na pesquisa de campo realizada em Roca Gran "É 'W'
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de, o envolvimento dos tecelöes no processo de criação de suas pró


prias fotografias ajudou a desvendar a importancia de tecnicas e de
noçöes estéticas sobre a tecelagem. Pelas análises do processo image
tico, pode se constatar que, embora a iniciação dos homens no proces ; __
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de fato, o trabalho dos homens na tecelagem reforça a noção de if*
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unidade familiar. A relação rnetafórica existente entre a prod1.1ção de if...


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Foto grat`ia 3: "lio tentei tirar uma foto da casa toda, como ela foi mostrada na foto.” (Foto:
tecidos e o espaço domestico se expressa nos motivos que ornamen Helio l ierreira dos Santos, 1991)
tam os tecidos e nas noçóes que organizam sua produção Porem, essa
relação se evidencia particularmente nas fotografias criadas pelos
artesãos que escolheram imagens de suas casas e dos seus tecidos droes dos tecidos; 2) a figura feminina foi incluida como sigiiilnaiile
como os temas principais para representar seu modo de vida e sua , principal do conceito de grupo domestico; 3) a imagem niio estaria
visão de mundo. Entre as imagens, uma fotografia relaciona esses completa se uma peca tecida pelo artesão não estivesse presente. /\
temas de forma peculiar. imagem do tecido aponta metaforicamente para a train.: dos lagos
A mensagem fundamental expressa por essa fotografia não se familiares.. Todos esses elementos compöem a imagem de “toda ia
situa unicamente no seu conteúdo ou na interpretação da imagem 'a _
casa”, como coloca o fotógrafo. A participação dos homens na proilu
dada pelo autor, mas, sobretudo, no processo de composição da ima çâo de tecido aponta para suas Contribtiicöes na m;1m|Ii~ni__'.|o da uni
gern e na lógica da negociação entre o fotógrafo e os protagonistas da H dade domestica não só como produtores das filims de ;|I_; ,odao oa roca
imagem.. Essa fotografia foi tirada por um tecelão que pediu a ajuda ou como assistentes no acabamenlo da lei u~|a_i=,i iii, nms lamlii' m como
de sua mae para compor a imagem.” Ambos concordaram que al foto t participantes ativos do processo de leceij, o que juslillit ii i li giliiiiar a
deveria mostrar a casa, a dona da casa e a colcha tecida pelo fotógrafo. J;
presença deles na produção de tecidos. A inlerjwri laeiio de oulra foto
Porlanlo, três ideias fundamentais foram articuladas no processo de grafia tirada por uma artesã confirma os conceilos al rilioidos à lecela
= 1 _'¢_

producão da imagem: 1) a imagem da casa foi tirada, após varias gem. e à mulher como elementos fundamentais na manutcnção da
tentativas_, no mesmo enquadramento das casas desenhadas nos pa il fi
unidade familiar.
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206 207
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universo da experiència em que foram concebidas (Berger e Mohr N82).


Assumindo que a criação de imagens é um produto social de um modo
negociado de ver e ser visto, as imagens fotográficas fuiicionam «omo
molduras referenciais em que a realidade social e 0 contexto cullu ral sao
' _ __ compartilhados (Bittencourt 1996). Como resultado de um evento que
\'“\> %m\>< *Méx fornece dados etnográficos fecundos, essas imagens, em um segundo
M" mesa@ momento, tornam se instrumentos da interpretaçáo do etnógrafo e são
...x..

inseridas em construçöes analíticas.


_ _' Pode se, assim, concluir que o uso de meios visuais de repre
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sentaçáo desvenda 0 processo de comunicaçáo de idéias que forma a
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base do encontro etnográfico. Se a antropologia busca estabelecer um
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diálogo com o “outro”, essa disciplina depende de métodos que tornem
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_ possível a dinamica negociação de sentidos inerente ao confronto de
experiencias humanas. O processo imagético abre, nesse sentido, um
meio de comunicaçáo entre os sujeitos da investigaçáo etnográfìca ao
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criar um processo interativo que dá acesso a outras possíbilidades de
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, significaçãio dos fenómenos sociais e ao ampliar 0 universo do discurso
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.Fotografia 4: “Este cr o tear de onde tiro o susteino da ininha casa. Para que os meus l`iJ.hos
não sintam frio, não passern necessidade e näo tenham que vírar bóia~fria... para que a J
Notas
gente viva junto." (Foto: Terezinha Rodrigues Siqueira, 1991)
1. As questöes teóricas e metodológicas levantadas por este trabalho foram disculidas
em Bittencourt (1994, 1996). Esta pesquisa foi financiada pela Capes, pela L`Íor|u~II
Graduate School e pelo Mario Einaudi Center for International Studies. /Xgnirlt t¿o a
`* r
Dessa. forma, as fotografias servem como símbolos intermediários x
,___ .is.L
3*
=.'f.__,=:_:' ._ Maria Lucia Montes e a Sylvia Caiuby Novaes pelas sugestöes feitas ao tralmlho 1 a
da investigaçáo etnográfica, requerendo interpretaçöes explícitas e inte › ¦ ¬¬
lnës de Castro pela ampliaçáo das fotografias.
rativas do processo de criaçáo da imagem e do contexto no qual o 2 As imagens pictóricas e fotográficas estiveram sempre presentes na pt ±+qiii:;.1 .miro
pológica, seja nas prímeiras incursöes de mìssionárìos e funcionáriofi «|1 iv fi ili l.n:;m1
significado da imagem se encontra.. Mais ainda, a imagem fotográfica
dados para os antropólogos de gabinete, seja na pesquisa de eam| ›o, mn . .i 1.1 ri mu |›
pode ser considerada como ”descriçáo densa”, em que a distinção entre ção moderna proposta por Bronislaw Malinowski. Esse asmiiilo Ii ›i !|'.|I.u lo ¡it ir
dados, análise e teoria desaparece (Geertz 1973; Caldarola 1988). Por Edwards (1992).
meio de eventos iimagéticos, os sujeitos do encontro etnográfico recriarn 3. Para maiores detalhes sobre esse assunto, ver Mead (lU7.'ì).
uma realidade negociada cuja congruência é estabelecida por um lago 4. Esse equacionamento entre a percepção do mundo 1. a ¡wi n ¡›i__ .io «las Ii ›|o;›_mi`ias se
significativo entre as experiências vividas e 0 universo da representaçáo. ínsere também na hístóría social e Cultural das p1*¿ìliifa.s 0 (las ii Ir' i.|r¬ qm' o rollslìluí
ram. A redescoberta da perspectiva no Renascìmenlo e a iiivt ut_'ao da f`otogral'ia sao
Se o encontro etnográfico consiste em um relato de experiências vividas dois eventos associados à história das ideias e a Iiislória dr um olliar que domina as
e coinlnartilhadas, foto grafias como ¿meios e produtos dessa experiència representaçöes imagéticas e pictóricas do Ucidenle. Para uma «list 11:¬*.~¬ ;"ii› tletalhada
tornecein pronunciamentos visuais dos atores sociais e do etnógrafo ao if sobre esse aspecto, ver Aumont (1993) e Wright (1092,).
recriar um universo de sentido. Só assim as imagens são reinseridas no 5. A imagem fotográfica é uma fonte de detalhes visuais e, como tal, a análise de
conteúdo tem contribuido para a pesquisa do significado e da estrutura da açáo

208 209
humana. Para maiores detalhes sobre esse assunto, ver Collier (1982a, l982b, 1987a, CHEATWOOD, D., e STASZ, C. “Visual sociology”. Bm: Wagner, ]. (org,), op. cit.,
l987b),: Danforth e Tsiaras (1982),: Bateson e Mead (1942).
(1982), pp. 261 269.
6. Para urna díscussáo mais detalhada sobre o assunto, ver Geary (1990).
COLLÍER, ]. e COLLIER, M. “Evaluating visual data”. Em: Wagner, _). (org,), op.
7. Os conceitos de mensagem literal e cultural utilizados neste ensaio se baseiam nos
caí, 1982a, pp. 161 169,
conceitos propostos por Roland Barthes (1977).
8. Outro método de investigaçáo também utilizado nesse trabalho foi o método de __, “Visual anthropology”. Em: Wagner, J. (org), op. cit., 198210, pp. 271 281.
coleta de historias de vida, que permitiu compreender o processo de transforrnação _ ___. Visual autiiropology. Albuquerque: University of Mexico Press, 1986.
dos significados ocorridos no processo artístico cultural, tendo em vista que essa
DANFORTH, l.,.M. e TSIARAS, A. Death rituals of rural Greece, Princeton: Prince
modificação foi vivida pelos individuos que criam os eventos sociais.
ton University Press, 1982.
9. Para maiores detalhes sobre esse assunto, ver Baudelaire (1980), Moreira Leite (1993)
e Sontag (1973). ECO, Umberto. “”Critique of the image”. Em: Burgin, V. (org.). Thinking photo”
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